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Entrevista
PALAVRA DO PROVINCIALMaria,MÃE DO REDENTOR E DISCÍPULA MISSIONÁRIA! Caros leitores e leitoras do AKIKOLÁ, Família Redentorista.
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No mês de maio nos lembramos daquela que é o grande exemplo de Mãe e de Mulher: Nossa Senhora. Maria ocupa um lugar especial na história da Salvação pois Deus quis utilizar-se dela para fazer com que seu Divino Filho chegasse até nós:
“Quando chegou à plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher... para que recebêssemos a adoção de filhos”
(Gl 4,4-5).
Constantemente, na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que, por meio dela, chegue a Salvação: dáse uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado, é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído. Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida dos cristãos. Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (Lc 1 – 2) e no fim (Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos
homens (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3).
Portanto, não podemos excluir Maria da nossa espiritualidade e da nossa vivência cristã, pois, onde Maria se torna ausente, também Cristo se torna irreal e abstrato. Em qualquer lugar da cristandade onde apareça Maria, cada coisa abstrata, cada forma vazia, assim como cada obstáculo desaparece e cada alma é imediatamente tocada pelo mundo celestial. Peçamos a Intercessão de Maria para que a cada dia possamos servir o seu Divino Filho e a sua Igreja. Que as celebrações marianas nos ajudem a buscar o Cristo Senhor como nosso Salvador e para quem Maria nos aponta e manda que nos dirijamos e, levados pelo carinho filial, depositemos em Maria, nossa mãe, a nossa oração, o nosso pedido, para que possamos em tudo fazer a vontade do Pai que está nos céus. Nesta nossa peregrinação, temos Maria que nos acompanha com amor materno e nos ajuda a viver mais ainda com o Seu divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pe. Nelson Antonio Linhares, C.Ss.R.
padrenelsonantonio pe.nelsonantonio
ENTREVISTA COM Laura Miana Carvalho Muniz
O CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL
Laura Miana Carvalho Muniz
Juiz de Fora - MG O isolamento social decorrente da pandemia afetou a rotina de muitas pessoas e trouxe um cenário de incertezas, ansiedade e medo, impactando na vida emocional e psíquica de cada uma delas. É fundamental discutirmos esses efeitos para que possamos nos cuidar e cuidar daqueles que amamos. Nesta entrevista, a psicóloga Laura Miana Carvalho Muniz, Missionária Leiga Redentorista da Unidade Glória/Juiz de Fora (MG) há 5 anos, esclarece pontos importantes e dá dicas para cuidar da saúde mental.
13 de Maio - 1731 - Fundação da Ordem do Santíssimo Redentor (O.Ss.R.), Irmãs Redentoristas, em Scala, na Itália.
Como você percebe que a saúde mental está sendo entendida pela sociedade neste tempo de isolamento social?
Muitas pessoas viam a saúde mental como algo secundário. Outras encaravam essas questões como banalidade ou como algo supérfluo que poderia ser deixado de lado para se priorizar o trabalho, compromissos sociais, entre outros.
Entretanto, a pandemia escancarou uma demanda que há muito andava escondida: mostrou a todos nós a importância de estarmos saudáveis, não apenas de corpo, mas também de mente.
Essa mudança de ótica vem com a o medo da doença e a nova rotina causada pelo necessário distanciamento social. Acabamos ficando sozinhos com a gente mesmo e isso pode ser bastante incômodo se você não está acostumado a olhar para si. Muitas pessoas não dispõem de artifícios para conviver com seus próprios pensamentos. E por isso, a função dos profissionais de saúde mental passou a ser compreendida como suporte para esse processo pela jornada da condição humana.
A pandemia tem desencadeado muitos distúrbios psicológicos e de comportamento nas pessoas. Como lidar com esse desequilíbrio emocional?
Todo esse conturbado contexto potencializou anseios e angústias que já existiam, como que adormecidos, nas pessoas. A incerteza aflora inseguranças que muitas vezes as pessoas já tinham em seu íntimo. Em geral, muitos são os sintomas e transtornos propriamente ditos que podem despertar em um contexto tão cheio de medos. Temos visto se multiplicarem sintomas como transtornos de ansiedade e depressão e até alguns mais complexos como o pânico, a agorafobia (medo de locais abertos), o transtorno obsessivo compulsivo e a fobia social.
O necessário isolamento em casa nos mantém mais tempo próximos aos familiares fazendo com que alguns problemas relacionais há muito ignorados possam vir à tona. Por sua vez, o medo e a insegurança generalizados da pandemia encontram em cada um de nós nossos anseios próprios, gerando assim problemas muito singulares.
Quando esses contextos e situações nos causam mal a ponto de perdermos o ritmo de nossas vidas, quando passamos a não controlar com plena consciência nossos atos e nos vemos prejudicados e desmotivados em nosso dia a dia por quaisquer motivos, o ideal é buscar ajuda. Não existe motivo para enfrentarmos sozinhos algo que, de um jeito ou de outro, está impactando a todos nós. O desequilíbrio emocional pode ser resolvido de vários modos e nenhum deles exclui o outro. E vejo que o suporte profissional de psicólogos e psiquiatras pode auxiliar muito no acolhimento de nossos anseios sem julgamentos. Buscar ajuda é um ótimo caminho.
“Maria é o porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos.” Santo Afonso
De que forma a espiritualidade pode ajudar neste contexto?
Buscamos sempre dar sentido às nossas questões existenciais e respostas àquilo que nos é fundamental na vida. A busca pelo sagrado por meio da espiritualidade nos possibilita transcender numa dimensão íntima que nos conforta, nos dá segurança e ajuda a enxergar melhor as situações.
Em tempos de pandemia, a espiritualidade vem em nosso auxílio, principalmente por estarmos passando por um momento onde o sentido dos acontecimentos se esvai com tamanha facilidade e nada parece ter lógica. O exercício da espiritualidade pode contribuir na convicção de que existe algo maior, responsável por nós diretamente. Esses sentimentos nos ajudam a lidar com os acontecimentos de forma mais tranquila, confiante e atenuando situações de estresse e ansiedade.
Qual é a contribuição da vida comunitária e da convivência fraterna para a saúde mental de um religioso?
A colaboração é uma característica inerente ao humano. É na fraternidade sincera, na vida comunitária, reconhecendo o outro como fonte para o meu desenvolvimento e eu a dele que podemos abrir um caminho produtivo na direção da paz e da felicidade.
Falo do serviço desinteressado, da amorosidade verdadeira pelo próximo, sempre respeitando a dignidade de sua existência. Junto a isso, a vivência comunitária estabelece laços de união de todos que convivem num mesmo teto, num mesmo grupo social, num mesmo ambiente de trabalho, numa mesma sociedade como membros responsáveis pela sua organização e funcionamento.
As práticas que vão nessa direção podem auxiliar bastante a saúde mental das pessoas. Possuir uma vida comunitária voltada para a fraternidade é um exercício de altruísmo constante que pode fazer o indivíduo encontrar a sua paz enquanto auxilia o próximo a fazer o mesmo. O exercício do altruísmo nos ajuda a afastar pensamentos ansiosos e até depressivos, encontrando serenidade e paz em nossos próprios atos.
Que hábitos podem ser cultivados para promover o autocuidado e o bem-estar?
Para além do clichê, é preciso também gostar de si mesmo. Praticá-lo como ato no mundo, com ações que reafirmem isso consigo mesmo a todo instante.
O autocuidado passa por ações corriqueiras sobre as quais nem refletimos tanto, como a higiene pessoal, alimentação saudável e prática de atividades físicas. São atos importantes de carinho e amor próprio.
Juntamente ao cuidado com o corpo, é preciso alinhavar e reforçar nossos laços sociais. É muito importante a busca pelo contato com aquelas pessoas que nos fazem bem pela fé, positividade e esperança. Perceber que não é só de proximidade física que vivemos socialmente, mas sim de proximidade emocional. Em tempos de pandemia, estar presente nem sempre significa estar no mesmo espaço físico, mas pela intensidade dos afetos.
Por fim, a promoção do bem-estar e do autocuidado demanda autoconhecimento. Buscar formas de pensar mais sobre si, de se conhecer mais, conhecer a sua vida e tudo que a rodeia. Resgatar memórias, lembranças, ouvir boa música, fazer uma boa leitura, ter uma revigorante noite de sono. Tudo isso também nos ajuda a olhar para dentro de nós mesmos e nos depararmos com nossas qualidades, mas também nossos defeitos e desafios. E até, quem sabe, possamos atuar em alguns deles. Brenda Melo
Jornalista