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Memória Agradecida
Mas a verdade é que a morte toca mais do que o corpo, toca o ser do homem, quando está longe de sua fonte, de sua origem: Deus. O homem por si mesmo não pode se salvar e só Deus, como responde o profeta, sabe como e tem o poder para dar vida e vida plena (Rm 3, 23; 5, 12). E é o que Ele faz: “vou fazer entrar em vós o sopro da vida para vos fazer reviver” (Ez 37, 5).
Alma, anima
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A palavra alma vem do latim anima e significa exatamente isso: sopro, ar, origem da vida. “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7). Por sua vez, a palavra hebraica referente ao Espírito Santo é Ruah, que significa vento, sopro, hálito. Portanto, o Espírito Santo é aquele que dá vida, é o hálito que dá vigor ao nosso ser, muito além da vida física, que um dia cessará.
Corpos sem alma são um campo infinito de ossos secos, mas a história bíblica não termina aí. Voltemos ao texto do Profeta Ezequiel. O Senhor disse a Ezequiel: “Profetiza ao espírito, disse-me o Senhor, profetiza, filho do homem, e dirige-te ao espírito: eis o que diz o Senhor Javé: vem, espírito, dos quatro cantos do céu, sopra sobre esses mortos para que revivam” (Ez 37, 9). Na ressurreição de Jesus, todos revivemos e nos tornamos herdeiros, pelo Batismo, dessa maravilhosa promessa. Assim, a dádiva do Espírito manifestada por Jesus, no momento de sua morte, ao entregar seu espírito ao Pai (Lc 23, 46), tornou-se, agora, efusão em Pentecostes.
A alma da Igreja
Santo Agostinho afirma: “Aquilo que o nosso espírito, a saber, a nossa alma, é para os nossos membros, o mesmo é o Espírito Santo para os membros de Cristo, para o Corpo de Cristo que é a Igreja”. Não é, pois, algo individual, ainda que seja pessoal; não estamos isolados, como os membros do corpo não podem reivindicar vida própria (1Cor 12, 15-27).
Não há, portanto, Igreja sem o Espírito Santo, assim como não existe um ser humano sem alma. Não há vida cristã, possível, da forma como foi desejada por Jesus, fora da Igreja, assim como um membro não pode sobreviver fora do corpo ou um ramo fora da árvore (Jo 15, 5). Imagine um ramo argumentando com a árvore que não precisa de sua seiva ou o vaso de barro querendo ser independente do oleiro (Jr 18, 6). Ao invés disso, alegre-se porque o Espírito Santo que anima a Igreja inteira é o mesmo Espírito que nutre sua vida interior. Isso é dádiva, motivo de profunda alegria na alma do cristão.
Termino com as palavras do Papa emérito, Bento XVI: “O Espírito Santo é a alma da Igreja. Sem Ele a que ela se reduziria? Seria certamente um grande movimento histórico, uma complexa e sólida instituição social, talvez uma forma de agência humanitária. E, na verdade, é assim que a veem quantos a consideram fora de uma ótica de fé. Em realidade, porém, em sua verdadeira natureza e também em sua autêntica presença histórica, a Igreja é incessantemente plasmada e guiada pelo Espírito Santo de seu Senhor. É um corpo vivo, cuja vitalidade é justamente fruto do invisível Espírito divino” (Pentecostes de 2009).
Dom José Gonçalves da Costa
(1914 - 2001)
Nesse mês de maio falaremos sobre D. José Gonçalves da Costa, C.Ss.R., o primeiro Provincial brasileiro da Província do Rio. Nascido em 27 de abril de 1914, em Belo Horizonte (MG), D. Gonçalves foi batizado no dia 12 de junho do mesmo ano, na Igreja de São José, pelo Pe. Antônio Grijpink, marcando assim, seu primeiro contato com os Missionários Redentoristas.
Seu pai, João Gonçalves da Costa, era fazendeiro, industrial e comerciante. Mesmo com uma grande rotina de viagens, não deixava de retornar para a casa aos domingos para assistir a Santa Missa, ainda que isso pudesse atrapalhar seus negócios. A mãe, Amélia Alves Martins, dedicou-se a educar todos os seus doze filhos para Deus.
Dom Gonçalves não pensou imediatamente em ser um sacerdote. Chegou a se ocupar dos negócios de sua família. Contudo, aos poucos, foi lhe crescendo o interesse pela vida religiosa. Algo que se confirmou em 1926, quando seguiu para o Seminário Redentorista de Congonhas (MG). Em 1933, fez sua Profissão Religiosa e foi ordenado sacerdote por Dom José Carlos de Aguirre em 1938. Na Congregação Redentorista atuou como professor, missionário, pároco, reitor, ecônomo provincial, construtor, diretor da Casa de Retiros São José e Superior Provincial, sendo o primeiro brasileiro da Província do Rio a ocupar este cargo.
Os seus trabalhos como Provincial foram breves. Assumiu o cargo em 1961, mas logo em 1962 foi nomeado como bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, quando também tornou-se Secretário Geral da CNBB. Em 1969 foi nomeado Bispo da Diocese de Presidente Prudente. E no ano de 1975, assumiu a Arquidiocese de Niterói, local onde atuou até 1990.
Sempre muito perseverante e zeloso em seus trabalhos, no ano de 1996, D. Gonçalves foi diagnosticado com Parkinson e Alzheimer. No ano seguinte, foi residir na Comunidade Redentorista de São José, em Belo Horizonte, onde permaneceu até sua morte em 19 de junho do ano de 2001.
Rafael Bertante
Arquivo Provincial