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Entrevista - Dom Vicente

ENTREVISTA COM Dom Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.

“A caridade jamais acabará”

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(1 Cor 13, 8)

Dom Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.

Belo Horizonte - MG Assumir o projeto de Deus, respondendo com amor cada passo desafiador que a vida lhe apresenta no caminho, atento às feridas do povo sofrido. Este é o compromisso que o Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, Dom Vicente Ferreira, C.Ss.R., assumiu em sua vocação, ao aceitar o chamado do Redentor, e que norteia atualmente seu ministério episcopal. O legado de Santo Afonso o inspira e encoraja a enfrentar assuntos comple-

“O segredo da santidade é: ‘Fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz” Santo Afonso Maria de Ligório

xos e a assumir a Ecologia Integral como marca mais recente de sua trajetória na vida da Igreja. Ao completar 25 anos de sacerdócio, no dia 16 de novembro, Dom Vicente compartilha com os leitores do Akikolá um pouco de sua história vocacional e deixa um recado: em nome de Deus, continuemos combatendo toda e qualquer forma de preconceito, violência e injustiça!

Conte-nos sobre seu chamado vocacional e a escolha pela Congregação Redentorista!

Sou natural do pequeno distrito de Araraí, em Alegre (ES). Nasci no dia 27/10/1970. Cresci numa família de pequenos agricultores. Três coisas marcaram, fortemente, minha infância e adolescência. Os trabalhos na lavoura, os estudos primários e a caminhada da Igreja. Fui envolvido pelas dinâmicas dos círculos bíblicos, pelas rezas em família e pelas celebrações na Igreja. Ouvindo a Rádio Aparecida, único meio de comunicação que tínhamos, senti o primeiro despertar vocacional, com o anúncio “venha ser Missionário Redentorista, para levar o evangelho aos mais pobres e abandonados”. A partir desse momento, comecei a falar que queria ser padre e fiz o acompanhamento com os Redentoristas da Província do Rio. Lembro-me que meus pais deram muito apoio e até chegamos a procurar o padre da Paróquia de Alegre, mas as correspondências com o Secretariado Vocacional Redentorista, Campos/RJ e Juiz de Fora/MG, apesar das distâncias, foram muito eficientes. Ou seja, para um garoto pobre da roça, ter respostas de suas cartas, morando tão distante das cidades, não deixou de ser entendido como sinal de acolhida. E isso me animou muito. A partir daí, fiz todo o acompanhamento e processo de formação redentorista, sendo ordenado em 16/11/1996, na Matriz Nossa Senhora da Penha, em Alegre (ES).

O senhor assumiu três gestões consecutivas como Superior da Província do Rio, além de outras responsabilidades.

Como foi esse tempo atuando como Missionário Redentorista na Província?

Logo depois de ordenado, passei um curto período como Promotor Vocacional, em Belo Horizonte. Foi uma opção que a Província tinha acabado de fazer. Não havia ninguém destacado, exclusivamente, para esse trabalho. Foi uma aventurada inaugural. Logo depois, passei 5 anos em Coronel Fabriciano (MG), como formador do SPES, ajudando também nos trabalhos pastorais e da Rádio Educadora. Depois de 3 anos como formador da CVSA, fase do Ensino Médio, fui eleito Provincial por três mandatos consecutivos. Função que desempenhei de 2005 até final de 2014. Foi um período de muito aprendizado e responsabilidade. Era relativamente novo e estava substituindo grandes padres como Pe. Dalton Barros de Almeida. O que me ajudou muito foi a forma corresponsável de exercer meu encargo. Ou seja, os conselhos, equipes de formadores, de párocos, de missionários, de leigos redentoristas, de administração me ajudaram muito. Essa comunhão sinodal, maneira de caminhar juntos, marcou meu ministério. Destaco também toda a excelente bagagem formativa que recebi na Província do Rio, o que criou em mim um coração aprendiz da vida e dos livros. Por isso que, mesmo ocupando um encargo de tantos compromissos, de viagens pelo Brasil e pelo

“A Eucaristia não é só garantia do amor de Jesus Cristo, mas é também garantia do Paraíso que ele nos quer dar” Santo Afonso Maria de Ligório

ENTREVISTA

mundo, consegui me organizar e fazer um longo processo de estudos. Foi nesse tempo que fiz mestrado e doutorado na Universidade Federal de Juiz de Fora. Quando fui nomeado bispo, em 2017, era formador dos estudantes de Teologia, em Belo Horizonte, e tinha terminado um estágio pós-doutoral em Teologia, na FAJE.

Qual marca Redentorista mais evidente o senhor carrega consigo e que o encoraja a ser solidário e tão atuante nas questões políticas e socioambientais, a favor do povo sofrido?

Santo Afonso inspira muito minha vida. Seu legado intelectual, artístico, pastoral e espiritual. O êxodo que ele viveu do Centro para a periferia, sempre me chamou a atenção. Deixou seus confortos em Nápoles para ir viver em Scala, próximo dos cabreiros. Eu não consigo entender a gigantesca obra desse Doutor da Igreja sem vê-lo profundamente unido ao povo simples. Seus pensamentos nasceram dos territórios onde seus pés pisaram. Esse cristianismo encarnado, imerso nas feridas dos pobres e da terra, encoraja-me a enfrentar pautas tão complexas, hoje. Essas questões socioambientais, aprofundadas pelo magistério do Papa Francisco, interpelam minha pessoa e meu ministério episcopal todos os dias. A Ecologia Integral marca, de alguma forma, um itinerário de conversão em minha vida. Não tenho dúvidas de que ela é a profecia dos novos tempos.

Quais são as suas atribuições atuais como Bispo Auxiliar de Belo Horizonte?

Sou responsável pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, no Vale do Paraopeba, cuja sede está em Brumadinho. Lugar de contínua missão. Acompanho, bem de perto, as comunidades atingidas pela tragédia/crime da Vale, com o rompimento da Barragem da Mina do Córrego do Feijão, que matou 272 pessoas e destruiu a bacia do Paraopeba. Essa realidade, apesar de ser local, revela nossos dramas globais. Por isso, tenho participado de muitos encontros, redes nacionais e internacionais. Também sou animador do Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental, Secretariado Arquidiocesano de Juventude, Secretariado de Vida Consagrada Religiosa. Coordeno a Comissão Missionária e o GT de Ecologia Integral e Mineração do Regional Leste 2 e sou membro das Comissões de Ecologia Integral e Cultura e Educação da CNBB.

Deixe um recado aos leitores do Akikolá! “Copiosa Apud Eum Redemptio!”. Como batizados, seguimos um projeto de vida lindo que é o de Jesus Cristo. Considero como elemento mais importante desse caminho o mandamento do amor. Por isso escolhi como lema de meu ministério episcopal “A caridade jamais acabará” (1 Cor 13, 8). Em cada opção de vida que fazemos, vale a pena viver inspirados por esse amor. Ele é dom maravilhoso de Deus que merece nossa resposta em cada época de nossa vida. É muito bom quando a gente se doa pela causa do Reinado de Deus, ainda mais em nossos dias, nessa transição de época. Gratidão, equipe do Akilolá e caros leitores, pela oração e amizade. Continuemos combatendo toda e qualquer forma de preconceito, de violência, de injustiça, em nome do Deus da vida. E que Maria, nosso Perpétuo Socorro, ampare-nos sobretudo quando enfrentamos os perigos de nossa missão.

Brenda Melo Jornalista

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