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Espiritualidade Redentorista

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Necropolítica II: uma possível leitura cristã

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Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.Ss.R.

Roma | Itália Continuamos neste mês a refletir sobre o conceito de necropolítica, proposto pelo filósofo camaronês Achile Mbembe, e muito utilizado nos últimos meses para ler e criticar a maneira como alguns governos e empresas têm gerido os recursos durante o triste e duro período de pandemia pelo qual ainda estamos passando.

Uma leitura cristã possível

Neste breve artigo, não é meu interesse fazer uma leitura definitiva e pormenorizada da questão. Isto serviria para alguém que se dedicasse em escrever uma tese doutoral sobre o assunto, ou

até mesmo um livro. Basta-me, somente, elencar alguns elementos que, em minha opinião, se aproximam, e muito, à nossa fé cristã.

A primeira coisa que devemos nos recordar é que o conceito não nasce em contexto religioso ou teológico. É explicitamente de base sociológica e tem como foco de observação e leitura as sociedades africanas no período póscolonização moderna, ou seja, aqueles países que se viram colônias europeias no período seguinte ao fim da Primeira Guerra Mundial.

Tendo presente estes pressupostos, podemos ir à reflexão cristã, partindo de um dos elementos básicos da moral cristã: o direito inalienável à vida. Quando falamos sobre “vida” em contexto cristão, não nos retemos somente ao movimento biológico, ou seja, a vida biológica de um corpo. Ainda que este inalienável direito de preservação da vida biológica esteja sempre presente, garantindo sua dignidade até seu fim natural, o horizonte se coloca muito mais amplo porque estamos falando da dignidade global do “vivo”, isto é, seu direito a um desenvolvimento digno em todas as suas potencialidades.

As ideias apresentadas pelo professor Mbembe se aproximam a esta visão de base cristã quando essas expõem a raiz de alguns movimentos político-econômicos que tolhem de determinada parcela de povo (raça, classe social...) seus direitos básicos à sobrevivência digna, em vantagem daquele que está à frente seja dos meios de produção, seja dos grupos econômicos e políticos, enfim, daqueles que querem à sua vantagem a manutenção do atual estado das coisas para assegurar o exercício do poder. Neste sentido realmente se cria um exército de “morto-vivos” sociais, pessoas sem voz e sem vez, colocados à margem de um determinado sistema social.

Pessoalmente adiciono o complicador que vem do fato de que tal postura, em algumas vezes, tende a se tornar uma espécie de “cultura”, tornando-se complexa na medida em que se estende no tempo e se torna, de modo muito sutil, uma forma de raciocinar aparentemente “normal” que alcança diversos extratos sociais, muitas vezes sem ligação direta com os manutentores do sistema social originante. Alguns exemplos:

1) Aqui na Itália, no momento auge da pandemia, começaram a faltar remédios e insumos essenciais para o processo de intubação para o tratamento da SARS-Covid. A pergunta desconcertante que surge em meio à situação era: “Devemos tratar os mais idosos e pessoas com comorbidades, ou seja, com maior probabilidade de morte e já não mais produtores e consumidores diretos, ou devemos destinar tais recursos aos mais jovens? 2) Acertadas as sérias acusações levantadas pela CPI da Pandemia realizada no Brasil, vemos a tentativa de superfaturação na compra de insumos e de vacinas por determinados entes públicos e o uso de sistemas de saúde privados para a realização de determinadas “pesquisas” não consensuais tendo em vista justificar o uso de medicamentos de eficácia refutada ou questionada pela OMS, tantos outros Institutos sérios e até mesmo pelos laboratórios fabricantes de tais substâncias.

3) Em contexto mais amplo, dentro daquilo que poderíamos chamar de bioética ecológica cristã, quem decide e como sobre a manutenção do atual modo de utilização dos recursos naturais que, cientificamente comprovado, estão levando à morte do Criado?

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