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Espiritualidade Redentorista

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ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA

A opção preferencial pelos pobres: uma realidade imprescindível da fé

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Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.Ss.R.

Roma | Itália Nestes últimos meses, tenho me dedicado à reflexão sobre este tema de modo especial. O contexto mundial de pandemia evidenciou graves problemas sociais, uma vez que tantos perderam seus empregos e passaram a viver situações difíceis de limitação, tantas vezes tendo a própria vida e a de seus caros colocadas em risco. Estranhamente, o discurso de diversos líderes políticos tem se centrado cada vez mais na afirmação narcísica que busca a tentativa de sustentação de certo estado de poder, prejudicando, muitas vezes, a busca do bem-comum.

Para começar a discussão, proponho este mês uma breve retomada dos termos bíblicos aplicados à pobreza, principalmente em sua base hebraica, e sua grande importância teológico-espiritual. Retornar à base nos possibilitará na posterior reflexão pessoal reconhecer na

grande tradição cristã a importância do tema, principalmente na vida dos grandes homens e mulheres de nossa fé, bem como nos documentos magisteriais. No hebraico e no grego bíblicos:

O hebraico bíblico conhece cinco termos que foram traduzidos para o nosso português como pobre e pobreza: rash, ebjôn, dal, aní e, derivado da mesma raiz, anaw. Os três primeiros termos apontam para a pobreza material, para o homem e a mulher que vivem em situação de miséria, ou seja, a quem falta o básico para a sobrevivência.

A força dos vocábulos aponta sempre para uma situação de humilhação, ou seja, para um absurdo causado que rompe com a “ordem da criação”. Trata-se, portanto, de uma ferida profunda na dignidade humana, muitas vezes causada, imposta ou agravada pela corrupção humana, que vai contra à vontade do Criador, que ama e quer a vida de sua criatura.

Os últimos dois termos correlatos, aní e anaw, embora algumas poucas vezes signifique a pobreza material, em sua força semântica aponta para a postura de pobreza/humildade diante de Deus. O seu plural, anawín, vem aplicado ao povo de Deus, como aqueles que colocam sua esperança somente no Criador. Ou seja, uma experiência que nasce do peso da humilhação dos exílios, onde toda a confiança humana cai, restando somente as mãos de Deus para se agarrar e confiar. Dinheiro, cavalos, armas, tanques... nada permanece e vale a pena; neles não se pode confiar. Uma experiência de dor e humilhação que faz com que Israel construa sua identidade onde a única esperança se encontra no Senhor.

Já o grego bíblico encontrará basicamente uma palavra que abarcará todos estes sentidos acima descritos: ptokós. A especificidade deste termo está em descrever não alguém que, mesmo desprovido de bens ainda, com o seu trabalho, pode viver, mas justamente por enquadrar aquele que não possui o mínimo para sua subsistência.

Principalmente daquilo que apreendemos do hebraico, podemos individuar duas modalidades de pobreza descritas pelos termos: uma material, um absurdo moral, e uma espiritual, como descrição do povo de Deus. A relação entre as duas modalidades:

Os dois sentidos demarcados anteriormente não funcionam de modo separado. Muito pelo contrário, são “dois movimentos da mesma ópera”. No momento em que a pobreza material, a miséria, vem evidenciada negativamente como um escândalo, um absurdo, uma ruptura na ordem da criação, positivamente se extrai a dignidade de todo ser-humano como ser criado e amado por seu Criador. Longe das lógicas em voga atualmente, todos têm direito à vida e a uma vida digna.

A pobreza que chamamos anteriormente de espiritual, por sua vez, se encontra alicerçada sobre aquela referida dignidade de criatura que, esvaziada de tudo o que é vão, é esperança somente em Deus e reconhecimento da dignidade de outros: assim como eu, filho amado, sou digno de uma vida boa, meu irmão, o outro humano em qualquer lugar do mundo, é também digno.

A pobreza como absurdo moral nasce do coração soberbo de onde saem os assassínios, mentiras, corrupções...

O texto continua:

Nossa reflexão continuará no próximo mês, trazendo a beleza contida nos documentos dos Sínodos dos bispos latino-americanos de Puebla e Medelín.

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