Opinião Socialista Nº572

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Nº572

De 19 de junho a 3 de julho de 2019 Ano 22 (11) 9.4101-1917

PSTU Nacional

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GREVE GERAL 14J

O PRIMEIRO PASSO VAMOS PARAR O BRASIL DE NOVO E OCUPAR BRASÍLIA

São José dos Campos (SP)

Belo Horizonte (MG)

ACORDÃO

Fortaleza (CE)

ATAQUE

Reforma da Previdência do Congresso vai fazer você trabalhar até morrer .

Congresso, governo, patronal e banqueiros juntos para acabar com as aposentadorias

PÁGINA 6

PÁGINA 7

Rio de Janeiro (RJ)

A REVOLTA CONTRA A LGBTFOBIA

50 anos da Rebelião de Stonewall PÁGINA 10

ESPORTE

Futebol é coisa de mulher! PÁGINA 14

Revolta dos Malês: resistência contra a escravidão PÁGINAS 12 E 13


Opinião Socialista

páginadois Base de Alcântara e a soberania

CHARGE

No dia 15 de abril o governo do Maranhão promoveu o seminário “Base de Alcântara: Próximos Passos”. O tema debatido foi o acordo de salvaguardas (que protege as tecnologias das partes) assinado entre os governos Trump e Bolsonaro que permite o lançamento, a partir da Base de Alcântara, de foguetes e satélites que contenham algum componente tecnológico dos Estados Unidos. A principal “estrela” do evento foi o atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes(PSL). O evento aconteceu sem a participação dos territórios quilombolas que poderão ser atingidos, com aproximadamente 2700 famílias. Favorável ao acordo, o governador Flávio Dino (PCdoB), em nenhum momento citou as 312 famílias pertencentes às comunidades tradicionais quilombolas de Alcântara que, na inauguração da base em 1983, foram expulsas de suas ter-

Falou Besteira E eu ‘conclomo’… ‘canclomo’… conclamo ao povo argentino que Deus abençoe a todos eles BOLSONARO, se enrolando em mais um discurso sem sentido ao lado do presidente argentino Maurício Macri.

CAÇA-PALAVRAS

Seleções campeãs da Copa do Mundo de futebol feminino

19/06/2019

As palavras deste caça palavras estão escondidas na horizontal e vertical, sem palavras ao contrário.

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que é um grave atentado à soberania brasileira pois a região vai se tornar um entreposto para os lançamentos, sob o controle dos EUA. É...parece que o Flávio Dino e o Bolsonaro concordam com Trump. Para eles “America first!” (América em primeiro!).

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JAPÃO NORUEGA

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A tomada do PT “Temos que nos livrar [agora] da tomada de três pinos, das urnas eletrônicas inauditáveis e do acordo ortográfico”. Essa declaração foi feita por Filipe Garcia Martins, assessor internacional de Bolsonaro, em sua conta no Twitter, no dia 6 de abril. Para a turma do Bolsonaro a tomada de três pinos é a “tomada do PT”, segundo os assessores do presidente. “A sociedade brasileira, com toda legitimidade, rejeitou a to-

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ras para 7 agrovilas. No seminário chegou a comparar o território a ser concedido aos EUA a um box de uma equipe da Fórmula 1, onde ninguém pode entrar para ver o que está sendo feito. Defendeu, na realidade, um território estadunidense no Maranhão, o

Seleções campeãs da Copa do Mundo de futebol feminino - Imprimir Caça Palavras

Seleções campeãs da Copa do Mundo de futebol feminino

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SUÉCIA

mada de três pinos”, diz o secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos Alexandre da Costa, que tem impulsio-

RESPOSTA: Alemanha, China, Japão, Suécia, Brasil, Estados Unidos, Noruega.

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nado as discussões. Em meio a tanta declaração estapafúrdia, o desemprego no país atinge oficialmente 13,1 milhões de pessoas e a previsão é de que a pobreza atinja 43,5 milhões de brasileiros. Enquanto isso, a Fundação Getúlio Vargas mostrou em pesquisa que nos últimos sete anos a renda do estrato mais rico da sociedade brasileira aumentou 8,5% e a dos mais pobres caiu 14%.


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Vamos parar o Brasil de Onovo show antidemocrático e ocupar Brasília da democracia dos ricos A A ELEIÇÕES 2018

Greve Geral de 14J foi forte, embora diferente greve divisão entre os dedacima de 2017. Existiram desigualcontinua. A maior parte da dades burguesia no que se refere à paralisação. (grandes empreEm alguns estados, os transportes sários, banqueiros e ruralistas) se pararam.por EmAlckmin. outros, estes pararam definiram Outra parou simplesmente não te parcialmente apoia Bolsonaro. Há ainda uma pararam. Em algumas regiões, parte com Marina, outra com Lula a operária parou epor 24 horas. ou classe com quem ele apoiar outra com Em outras, paralisou parcialmente Ciro Gomes. ou parou. eleitoral começa A não campanha As manifestações foram para valer a partir de agora. Elageneenralizadas e muito maiores em contra a maioria do povo e da que classe 2017. Em muitos estados, os atos trabalhadora indignada, desanimamaiores do que os de 15 de da.foram Uma grande percentagem aponta maio. Porém teve um impacto difepara abstenção, voto nulo e indecirente da greve de 2017 por algumas sos. Não é para menos. Os governos, Este governo, em atérazões. hoje, mantiveram umaestando desigualcrise e com popularidade em queda, dade social indecente, na qual seis não chegou no mesmo grau bilionários têmainda a mesma renda que impopularidade e ingovernabili100demilhões de pessoas. dade de Temer. A imprensa, mesmo Os debates na TV têm a participatendo contradições com o governo, ção de apenas 8 dos 13 candidatos à está favor Os da demais reformasão da vetados, PrevidênPresidência. cia e fez uma cobertura tímida entre eles a candidata do PSTU, Vera,da Greve que Geral. E a oposição parlamena única defende um programa tar, por meio dos seus governadores, socialista nestas eleições. deu forçadea Rodrigo Maianão e aopara ConA falta democracia gresso para apresentar um acordão no veto à participação nos debates. A e levar adiante tramitação de uma desigualdade está atambém na divisão reforma da Previdência, do proposta tempo dede TV. Enquanto Alckmin na Comissão Especial da Câmara, (PSDB) terá quase cinco minutos de não éde a de R$ 1 etrilhão de PauTV,que o MDB, Temer Meirelles, e lo terão Guedes, masdois é deminutos R$ 900 bilhões o PT quase cada. – o que está de bom tamanho para os banqueiros e para o próprio BolEDITORIAL sonaro (leia na página 7). Maia prevê aprovar o relatório sobre a reforma na Comissão Especial para levá-la a debate e futura votação emdeplenário. Mas, seservirem é possível Além as eleições não e provável aprovarem talos relatório para um debate real entre diferen-na Comissão Especial, eles não têm astes projetos para o país e imporem segurados os 308 votos necessários uma enorme desigualdade, a enoraprovação no plenário. mepara maioria dos candidatos não diz Depois do 14J, os dirigentes dos toda a verdade sobre suas propostas partidos de oposição declararam que para o povo. vão votar contra relatório na as CoExceto Vera, do oPSTU, todas missão Especial. Os trabalhadores, demais candidaturas apresentam proinclusive os dos que limites são do PT, PCdoB postas dentro do do sistema ou do PDT, que estão na luta capitalista e da atual localização aqui do embaixo, precisam exigirdo que os goBrasil na divisão mundial trabae as cúpulas de seus parlho,vernadores imposta pelos monopólios intertidos e também das centrais sindinacionais e pelos países ricos, com nãoUnidos façam jogo duplo. Não dá os cais Estados à frente. para ficar na trincheira da aprovaO Brasil está sendo recolonizado. ção da reforma e estar na trincheiVem sofrendo uma desindustrialira da luta. especializando-se na zação relativa, A trincheira da negociação exportação de produtos básicos deno Congresso é para ajudar o goverbaixa tecnologia: produtos agrícolas, no, os banqueiros e a patronal da indústria extrativa e energia. Em a aprovarem uma propostaoque vai plena era da nanotecnologia, Brasil retirar direitos dos pobres para é competitivo em produção de carne. dar aos ricos. Nós podemos derVende óleo cru e importa derivados. rotar a reforma da Previdência, Vende ferro e importa trilho de trem. mas para isso é preciso estar na

Já Vera, do PSTU, só seis segundos. O que define tudo é a grana. A coligação de Alckmin vai receber R$ 800 milhões só do fundo eleitoral. O MDB e o PT, R$ 200 milhões cada. trincheira da luta Isso não chega nemcontra perto adoreforque ma e enfrentar o acordão do Conos candidatos vão gastar. Meirelles gresso e odo governo. pode botar próprio bolso R$ 70 Bolsonaro não chegou naPartido estação milhões. Amoedo, do velho da impopularidade de Temer, Novo, tem um patrimônio de R$ mas 425 está enfraquecendo e játorrar não tem milhões e disse que vai R$ 7o apoio da Contudo,éapesar milhões domaioria. bolso. Bolsonaro outro dasnão brigas entre os de cima e com que gasta pouco com robôs na o governo, a burguesia, a grande internet, viagens e campanha apoiaos chefesdonos do Congresso damídia, por ruralistas, de redes edeo STF estão favoráveis à reforma eà lojas, como Flávio Rocha da Riachueentrega do país. Por isso, a grande lo e o dono da Centauro. mídia amplificou governistas A verdade é queosasatos mudanças na de 26 de maio e buscou dar a sob eles legislação eleitoral foram feitas um caráter da Previdênmedida por pró-reforma este Congresso corrupcia, enquanto não repercutiu o 14J à to para manter no poder os mesmos altura da sua força. Da mesma forma, movimentos ultraliberais como, MBL e Vem Pra Rua, hoje desgarrados de Bolsonaro e ausentes dos atos do 26M, agora chamam atos em defesa de Moro e da reforma. Apoiam, deofato, De tudo queBolsonaro-Guedeso Brasil produz, -Rodrigo Maia. 70% são controlados por empresas No que se refere ao ataque à sobemultinacionais que remetem boa parrania, o governo teve ajuda do STF, te do lucro que obtêm aqui para fora. que aprovou a venda sem licitação Os grandes empresários brasileiros de subsidiárias das estatais, espe(donos de bancos, indústrias, redes de cialmente dacomunicação Petrobras. Ose abutres lojas, meios de terras), para o desmonte Petro31partem famílias bilionárias, sãodasóciosbras e para as privatizações, como -menores das multinacionais. Cada a dos Correios. dia vivem mais de rendas dos altos à perda de base de apoio jurosPerante da dívida pública. que está sofrendo, Bolsonaro responA nossa classe trabalhadora recede com mais agressividade a todas be um dos salários mais baixos do as questões. a situação. mundo. Hoje,Isso até polariza na indústria noso ministro Civil, soDemitiu salário já é inferiorda aoCasa da China. general Santos Cruz, além de ouO país é a oitava economia do muntros dois militares e os presidentes do, mas está em 175º lugar em desida Funaisocial. e dos Correios. O primeiro gualdade O saneamento não para entregar à sanha dos ruralistas chega nem à metade da população. as terras para Sem falar indígenas; na saúde eo segundo na educação acelerar a privatização dos Correios. que estão à míngua e cada vez mais Demitiu também o Presidente do privatizadas. BNDES, Joaquim Levy, Os candidatos que estãoex-Bradesaí, exceto co e ex-ministro de Dilma Vera, não dizem como vão Rousseff. garantir Ele foi substituído um amigo de emprego, melhores por salários, educaEduardo Bolsonaro, ligado ao Ban-

que estão aí. Enquanto temos desemprego recorde e precarização do trabalho, a maioria das candidaturas faz promessas vazias para o povo. Elas esco Pactual. Um playboy arruaceitão mesmo comprometidas com o ro que arrombou o condomínio em mercado e com suas reformas contra mora para fazer uma festinha aque classe trabalhadora. com os amigos entre eles, o filho Não vamos –mudar a vida com de Bolsonaro. Sua missão é rapinar eleições de cartas marcadas. Menos o BNDES. ainda com uma nova ditadura. Só poAo tempoque emestá que aí endudemos mesmo mudar tudo com rece,rebelião Bolsonaro vê diminuir a sua uma operária e popular, com basegoverno de apoio. Cai sua popularidaum e uma democracia nosde, dos e seus A sa, de problemas baixo, em aumentam. que possamos economia continua retrocedendo, governar em conselhos populares.e o desemprego aumentando. Isso au-a A campanha do PSTU estará menta oda descontentamento serviço organização dos popular de baixo e deixa descontente atéprojeto. setoresPreda e da construção desse burguesia. cisamos que você nos ajude nessa Outro flanco são as denúncias campanha. sobre o ministro Sergio Moro, considerado um herói por integrantes do governo, que pode perder a aura de combate à corrupção. De todos esses problemas, porém, o mais importante, é que os trabalhadores e a juventude entração e saúde públicas, gratuitas e de ram em cena, os atosdizem dos dias qualidade. Pelocom contrário, que 15 einvestir 30 de maio comtudo a Greve vão maise em isso.GePoral do 14J. É preciso seguir rém nenhum deles diz quenas vairuas suse exigirodas cúpulas das centrais e pender pagamento da dívida, que dos partidos de oposição que não consome 40% do Orçamento, ou que entrem nesse no Congresvai proibir queacordão as multinacionais reso para ajudar aprova a da metam dinheiro para fora,reforma muito mePrevidência. nos que vão estatizar e colocar sob Precisamos mostrar aos trabalhacontrole dos trabalhadores as princidores que a proposta do Congresso pais empresas e colocar a economia é muito ruim. Precisamos para funcionar em prol daconstruir maioria. umMesmo dia nacional luta, com novos com de diferenças entre atos rua nos estados em julho si, osde demais candidatos estão ene pressionar deputados, senadores tre 50 tons de capitalismo e cone governadores. fazer uma dicionados peloVamos sistema. Não tenova greve geral e ocupar Brasília. rão margem para mudar nada de Na luta, vamos a reforsubstancial para osderrotar de baixo. Pelo ma e os planos de Bolsonaro, abrincontrário, ao governar no sistema do ode caminho verdadeira dos cima, para farãouma o que a crise transformação social: organizar capitalista exige para aumentaroso de baixo paraexplorar derrubar os de cima, lucro deles: mais, tirar construir um governo socialista dos nossos direitos e entregar o país. trabalhadores, baseado em conseO Brasil precisa de um projeto lhos populares, para fazer os ricos socialista! pagarem pela crise.

50 tons de capitalismo dependente


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Nacional • Opinião Socialista

VAZA JATO

Diálogos mostram que Moro é seletivo e fez conluio para não investigar corruptos Todos os políticos e empresários envolvidos em corrupção devem ser presos e ter seus bens confiscados VIVENDO COM CORRUPTOS

DA REDAÇÃO

A

s revelações do The Intercept Brasil, divulgadas numa série de reportagens, revelam diálogos mantidos pela força-tarefa da Lava Jato, principalmente entre seu chefe, Deltan Dallagnol, e o então juiz Sérgio Moro, entre 2015 e 2018. Os diálogos mostram como Moro e os integrantes do Ministério Público Federal (MPF) combinaram estratégias de investigação e compartilharam informações nos processos relacionados ao PT. Pouco depois dessa notícia, tanto o MPF quanto o agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, divulgaram nota em que condenam as reportagens, atacam os jornalistas responsáveis pela publicação do vazamento e dizem que os diálogos expostos não têm nenhuma ilegalidade. Na prática, confessam que o conteúdo publicado por The Intercept é verdadeiro e, também grave, apontam para uma perseguição à liberdade de imprensa. Agora, o ex-juiz mudou a versão e negou os diálogos atribuídos a ele. As reportagens mostram o que o PSTU sempre denunciou: a Lava Jato e Sérgio Moro não são imparciais, são seletivos e não merecem nenhuma confiança da classe trabalhadora. A operação pertence à Justiça burguesa, que é injusta por si só e não vai prender todos os corruptos e corruptores, muito menos confiscar seus bens frutos do roubo. São seletivos, fazem parte dos de cima, desse Estado que todos os dias prende e arrebenta os pobres na periferia. Eles não são neutros e não merecem aplausos.

CAI A MÁSCARA A reportagem do The Intercept tira a máscara cínica de Sérgio Moro, que tenta catapultar sua carreira política em torno de sua figura de juiz pretensamente imparcial, inimigo dos corruptos, praticamente um

Moro tem bandidos de estimação

super-herói como defende o governo Bolsonaro. Lembramos que Moro aceitou entrar no governo Bolsonaro, que antes de assumir já estava atolado em denúncias de corrupção, inclusive com o envolvimento direto com milicianos. Um governo que defende ditadura e torturadores já revela bem o seu caráter.

LIVRANDO A CARA DO PSDB Em novas mensagens vazadas de diálogos entre Moro e Dallagnol, o ex-juiz se mostra preocupado a respeito de uma investigação sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tratava de um caixa dois eleitoral pago pela Odebrecht na década de 1990. Moro afirma que os indícios de irregulari-

dades envolvendo o tucano lhe pareciam “muito fracos”. Sugere que o suposto crime já estaria “mais do que prescrito”. Depois, Moro escreve a Dallagnol: “Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante.” Ora, todo mundo sabe que o governo FHC foi marcado por inúmeros escândalos de corrupção. Mesmo outros procuradores da Lava Jato, em diálogos revelados por The Intercept, insistem sobre a necessidade de investigar e-mails a respeito de doações feitas pela empreiteira ao Instituto do ex-presidente (iFHC). Um deles mostrava que a Odebrecht havia feito pagamentos mensais ao iFHC que somavam R$ 975 mil entre dezembro de 2011 e de 2012. “E ai???? Querem mais

baton na cueca?”, diz um dos procuradores após apresentar os e-mails do iFHC num grupo do Telegram. Mas nenhuma investigação contra o ex-presidente foi adiante. Como sempre dissemos, Sérgio Moro está longe de ser imparcial, abafou investigações do PSDB, como mostram as mensagens, e deixou muitos outros corruptos de fora das investigações. Um exemplo claro é Aécio Neves, que estaria preso há muito tempo se não fosse a proteção que recebe da Justiça. Isso fica claro em outras revelações do The Intercept. Em um diálogo com Dallagnol, Moro defende que 70% dos grandes corruptos sejam sequer investigados.

Moro aparecia como alguém que estava combatendo os crimes de colarinho branco, quando os escândalos de corrupção levavam à prisão de vários políticos do PMDB, do PT e outros. Diante dessa situação, o PT defendia impunidade para os de cima. O ex-juiz hoje convive muito bem com um governo que tem entre seus membros pessoas como o filho do presidente Bolsonaro, denunciado não só por corrupção, mas também por envolvimento com milícias, ou seja, máfias, organizações criminosas que não apenas roubam como assassinam adversários políticos. São organizações suspeitas de terem assassinado a vereadora Marielle Franco do PSOL. Os diálogos revelados por The Intercept mostram que é insustentável a permanência de Sérgio Moro como ministro da Justiça e que, no mínimo, ele deveria renunciar. Todos os processos que tenham passado por Moro e Dallagnol devem ser revistos, seja para corrigir alguma injustiça, se houver, seja para abrir investigação sobre os nomes dos 70% dos corruptos (e corruptores) que eles confessam ter abafado. Todos os políticos e empresários envolvidos em corrupção devem ser presos e ter seus bens confiscados. É preciso também exigir o fim de todas as ameaças e intimidações contra The Intercept e os jornalistas que vêm sendo atacados.


REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Opinião Socialista •

Nacional

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NEGOCIANDO A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Traição dos governadores do PT e do PCdoB BERNARDO CERDEIRA DE SÃO PAULO (SP)

H

oje existe no país uma grande aliança nacional das classes exploradoras para roubar cerca de R$ 1 trilhão dos trabalhadores com a reforma da Previdência. Essa frente reúne desde Bolsonaro, que apresentou o projeto, passando pela maioria do Congresso e pelos meios de comunicação, até os grandes banqueiros e empresários, que serão os maiores beneficiados com o roubo. A novidade da semana passada é que os governadores dos estados, incluindo os governadores do PT e do PCdoB, declararam seu apoio à reforma. Colocaram condições mínimas como a não retirada do benefício para idosos carentes ou enfermos (BPC); a manutenção das regras de aposentadoria rural; e a retirada da proposta de adotar o sistema de capitalização. Não por acaso, foram as mesmas mudanças que o relator da reforma no Congresso apresentou na Comissão Especial que analisa o projeto. Está claro que é um acordão.

CINISMO O cinismo dessa gente é tanto que todos afirmam que agora o que será retirado dos trabalhadores, ou seja, o assalto,

Reunião entre governadores e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados

não será mais de R$ 1,2 trilhão. Será “apenas” de R$ 800 bilhões! Como se essa redução mudasse muita coisa e não significasse enormes sacrifícios para milhões que vão morrer sem conseguir se aposentar ou não conseguirão se sustentar com um mínimo de dignidade.

VERGONHOSO O verdadeiro escândalo para todos os que lutam contra essa reforma é a traição dos governadores Rui Costa, da Bahia, Wellington Dias, do Piauí, e Camilo Santana, do Ceará, que são do PT, e Flávio Dino, do Mara-

nhão, que é do PCdoB. Justamente na semana em que os trabalhadores preparavam uma importante Greve Geral para lutar pela derrota do projeto, os governadores do PT e do PCdoB saem a público para apoiar a reforma. É uma posição consciente contra os trabalhadores e de apoio ao governo e aos exploradores. Uma vergonha!

CONTRADIÇÃO Está colocada uma contradição: o PT e o PCdoB têm uma posição oficial contra a reforma, e a CUT e a CTB, centrais sindicais que esses partidos di-

rigem, estiveram desde o princípio entre as organizações que convocaram a Greve Geral. No entanto, os governadores, que dispõem de grande poder e ocupam uma posição das mais destacadas nesses partidos, passaram a aliar-se com Bolsonaro, Maia, os banqueiros e a Rede Globo para aprovar a reforma. O PT e o PCdoB se fingiram de mortos e não disseram uma palavra sobre o assunto. Mas não adianta tentar varrer para debaixo do tapete uma traição deste tamanho. Se esses partidos se pronunciarem contra o projeto apresentado na Câmara

pelo relator, terão de colocar-se também contra os governadores que o apoiam. Nesse caso, em algum momento, vão ter de tomar alguma atitude contra os governadores dos seus partidos ou terão de prestar contas a seus militantes e simpatizantes que estão lutando nas ruas contra a reforma. Seria melhor tomar posição o mais rápido possível e diferenciar-se categoricamente dos governadores. Caso contrário, qualquer pessoa chegará à conclusão de que também estão preparando o caminho para negociar a reforma.

ESTRATÉGIA

Administrar o capitalismo leva a isso A posição assumida pelos governadores do PT e do PCdoB choca pela desfaçatez com que assumiram o lado dos capitalistas e dos banqueiros para fazer com que os trabalhadores paguem pela crise. No entanto, não podemos deixar de assinalar que é coerente com a estratégia desses partidos. Já faz tempo que os grandes partidos da esquerda no Brasil,

principalmente o PT, têm uma estratégia de administrar o capitalismo procurando introduzir melhoras nesse sistema. Por isso, têm como objetivo central ganhar eleições e ampliar sua força no Estado. O problema é que o Estado tem um caráter de classe e é controlado pela burguesia. Uma vez ocupando cargos no Estado capitalista, os partidos reformistas são obriga-

dos a administrá-lo dentro das regras estabelecidas pela classe dominante e não em favor dos trabalhadores. Por isso, terminaram se envolvendo na corrupção inerente ao Estado capitalista. Por isso, também reprimem as greves dos trabalhadores como recentemente fizeram Rui Costa, no caso dos professores e funcionários públicos das universidades

estaduais da Bahia, e Wellington Dias contra os funcionários públicos estaduais. Porém há um problema mais profundo: o capitalismo afunda cada vez mais numa crise mundial, e o Brasil é um dos pontos mais avançados dessa crise. Nesse quadro, a estratégia de administrar o capitalismo se transforma na estratégia de administrar a cri-

se capitalista. Isso explica por que os governadores do PT têm de adotar uma política neoliberal de ajuste fiscal, privatizações e outras medidas como a repressão aos trabalhadores que resistem. Dessa maneira, não se diferenciam em nada de qualquer governo burguês e só prolongam a agonia do capitalismo em vez impulsionar a luta por destruí-lo.


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Nacional • Opinião Socialista

ACORDÃO

Congresso joga junto com o governo para aprovar a reforma O caminho para derrotar a reforma da Previdência é a luta e as ruas, não negociação no Congresso DA REDAÇÃO

N

o último 14 de junho tivemos um importante dia de Greve Geral, com a paralisação de várias categorias e fortes protestos em diversas regiões do país (leia nas páginas 8 e 9). Isso ocorre em meio a uma grave crise no governo, com a queda de ministros e o enfrentamento de vários setores aninhados no Planalto. E, apesar disso, o Congresso Nacional está tocando a reforma da Previdência, que avança na Câmara. Por que isso ocorre? Apesar de toda a divisão, brigas e bate-cabeça entre o próprio governo e o que seria a sua base no Congresso Nacional, há uma ampla unidade da burguesia, dos banqueiros, da imprensa e do imperialismo em aprovar a reforma da Previdência. Essa é a prioridade absoluta do Congresso Nacional, a fim de jogar a crise nas costas dos trabalhadores e aprofundar a guerra social contra os pobres. Essa é a razão pela qual nossa Greve Geral e repúdio à reforma quase que não se refletem lá. Por isso que, diante de toda a crise em torno do governo, o pre-

Manifestação em Mauá. Abauxo, passeata em São Bernardo do Campo (SP)

sidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que “blindaria” a

reforma, e esse bando de deputados picaretas vem avançando

em sua aprovação. Enquanto fechávamos essa edição, o relatório

da reforma era discutido na Comissão Especial da Câmara, e é bem possível que já tenha sido aprovada por lá enquanto você lê essa página. Nada garante, porém, que ela seja aprovada no plenário, onde precisa do apoio de 308 dos 513 deputados, pelo contrário. Nesse jogo, o governo blefa dizendo que faltam poucos votos na Câmara para aprovar a reforma. Querem passar a falsa sensação de que a medida já está praticamente aprovada. Mas isso está longe da realidade. A maioria do povo permanece contrária à destruição da Previdência, apesar da campanha massiva da imprensa e dos R$ 37 milhões despejados por Bolsonaro na propaganda de fake news em favor da reforma. E quanto mais as pessoas se inteiram sobre a reforma, faz conta e vê o quanto vai perder, mais contra fica. E o dia 14 mostrou que, se há unidade em cima em favor da reforma, por baixo há disposição de luta de sobra para barrá-la. Após o dia 14, vamos mobilizar nos estados, pressionar em cada base de cada deputado para força-lo a votar contra essa reforma.

JOGO DUPLO

Não se pode estar com um pé em cada canoa Os partidos de oposição (PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB) divulgaram nota denunciando os ataques que a reforma do Congresso Nacional trazem. À imprensa, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, afirmou que a oposição votaria contra a reforma na Comissão Especial. No entanto, os governadores do PT, PCdoB, PDT e PSB não só são a favor da reforma, como atuam ativamente para virar os votos dos deputados na Câmara (leia na página 5).

Governadores como Rui Costa e Wellington Dias, do PT da Bahia e do Piauí, vem encabeçando um movimento para aprovar a reforma no Congresso, e também para incluir estados e municípios. Seus partidos, porém, se calam diante disso. Como é possível ser contra a reforma enquanto seus governadores defendem e atuam pela sua aprovação? Esse jogo duplo só enfraquece a nossa luta, não é possível estar dos dois lados da trincheira ao mesmo tempo.

UNIFICAR EMBAIXO Só a luta e a mobilização podem barrar essa reforma. A proposta apresentada pelo relator tucano significa um duro ataque às aposentadorias e aos mais pobres (leia na página 7). É preciso lutar para derrotar a reforma de conjunto e não cair na esparrela da negociação. Negociar significa abrir mão de direitos e da aposentadoria. Não existe uma opção “menos pior”. Qualquer reforma significará um roubo da nossa aposentadoria em favor dos banqueiros.

Não é hora de vacilar neste momento. A fala do dirigente da Força Sindical, João Carlos Gonçalvez, o Juruna, na Folha de S. Paulo em pleno dia de greve geral, só ajuda o governo. Ele defendeu a atuação dos governadores pró-reforma. “Os governadores pegaram reivindicações das centrais e conseguiram garantir mudanças”, disse. Já o presidente da UGT, Ricardo Patah, foi pelo mesmo caminho dizendo que “a sensação geral é de que [a reforma]

não é tão ruim quanto já foi”. Em nome de quem falam isso? Certamente não dos trabalhadores, nem dos que compõem a própria base dessas centrais. As direções dos partidos de oposição e das centrais sindicais deveriam abandonar qualquer ambiguidade em relação à reforma, rechaçá-la de conjunto e se unir ao fortalecimento da trincheira dos trabalhadores, preparando desde já a continuidade da mobilização em defesa das nossas aposentadorias.


Opinião Socialista

CENTRAIS

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NÃO SE DEIXE ENGANAR

Reforma da Previdência do Congresso vai fazer você trabalhar até morrer Reforma que está no Congresso Nacional mantém ataques às aposentadorias e aos mais pobres DA REDAÇÃO

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proposta de reforma da Previdência apresentada pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) à Comissão Especial da Câmara continua sendo um duro ataque à Previdência e ao direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores. A nova versão da reforma tira alguns “bodes da sala”, como o BPC (Benefício

de Prestação Continuada), a capitalização e alguns ataques à aposentadoria rural, mas deixa o restante. A reforma como um todo é, na verdade, um grande bode. Bem parecida com a reforma que Temer tentou aprovar em 2017 ou a que Dilma queria fazer no anterior. Estão mantidas a idade mínima de 65 anos e o aumento do tempo mínimo de contribuição para 20 anos (no caso dos homens), além da redução da

base de cálculo dos benefícios e aposentadoria integral só com 40 anos de pagamento ao INSS. Ou seja, apesar do discurso do governo, continua sendo uma reforma que, caso aprovada, vai excluir do sistema previdenciário grande parte dos trabalhadores e fazer com que os que conseguirem se aposentar recebam muito menos. Uma mentira alardeada pelos deputados e os articuladores dessa reforma é que a nova pro-

posta retira os ataques aos miseráveis. Estão lá, por exemplo, o ataque aos rurais, à pensão por morte e ao abono salarial, benefícios dos quais dependem milhões de trabalhadores, justamente os mais pobres. A versão de reforma apresentada na comissão da Câmara reduz a suposta economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos, como previa o projeto original do ministro da Economia, Paulo Guedes, para algo

em torno de R$ 900 bilhões. Outra parte virá do desvio de 40% do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que deveria justamente custear benefícios como seguro-desemprego ou abono salarial, mas que vai para os banqueiros. Os mesmos bancos terão um pequeno aumento no imposto que, além de ser um troco perto do que vão ganhar com a reforma, podem muito bem repassar à população.

SAIBA MAIS

O QUE MUDA COM A REFORMA DO CONGRESSO IDADE MÍNIMA • 65 HOMENS • 62 MULHERES Como é hoje: O trabalhador pode se aposentar por tempo de contribuição (35 anos homens e 30 anos mulheres). Com a reforma, passa a ser obrigatória a idade mínima, prejudicando quem começa a trabalhar mais cedo.

40 ANOS PARA APOSENTADORIA INTEGRAL A reforma mantém os 40 anos de contribuição para a aposentadoria integral.

TEMPO MÍNIMO DE CONTRIBUIÇÃO

RURAIS: TROCA TEMPO DE SERVIÇO POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO, E AUMENTA PARA 20 ANOS PARA HOMENS

Como é hoje: Homens e mulheres podem se aposentar por idade tendo 15 anos de contribuição. Com a reforma, os homens precisarão contribuir por no mínimo 20. Mais de 60% dos que se aposentam por idade hoje não conseguem chegar a isso.

Como é hoje: É necessário ter completado a idade mínima (60 anos para homens e 55 para mulheres) e ter comprovado 15 anos de trabalho. A reforma troca a comprovação de tempo de serviço por tempo de contribuição e aumenta esse tempo para 20 anos no caso dos homens.

• 20 HOMENS • 15 MULHERES

REDUÇÃO DAS APOSENTADORIAS Como é hoje: Ao se aposentar por idade com tempo mínimo de contribuição (que hoje é de 15 anos e vai passar para 20), o trabalhador recebe 85% do salário benefício. Com a reforma, vai receber só 60%.

FIM DO ABONO PARA QUEM GANHA 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

Como é hoje: Tem direito ao abono (equivalente a um salário do mês ao ano) o trabalhador que recebe até 2 salários mínimos. Com a reforma, só tem direito a receber o trabalhador de baixa renda (quem recebe até R$ 1.364).

AUMENTO DA IDADE MÍNIMA PARA PROFESSORES Aumenta a idade no setor público dos atuais 55 anos para os homens e 50 para mulheres para, respectivamente, 60 e 57 anos. VEJA

O QUANTO VOCÊ VAI PERDER COM A REFORMA VEJAMOS ESTE EXEMPLO: Um trabalhador com 65 anos e 20 de contribuição com média salarial de R$ 2.240,90 Hoje ele receberia de aposentadoria 90% de sua média (fora os 20% menores salários) ou R$ 2.016,81 Com a reforma vai receber 60% da média de todos os seus salários, que daria R$ 1.139 OU SEJA, A REFORMA VAI TIRAR

R$ 877,16 Fonte: Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários)


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CENTRAIS

GREVE GERAL

Paralisações, cortes de estrad DA REDAÇÃO

O

14 de junho, dia de Greve Geral contra a reforma da Previdência e os cortes na educação e em defesa dos empregos, convocado pelas dez centrais sindicais, foi marcado por paralisações, bloqueios de estradas e manifestações por todo o país. Destacaram-se os profissionais da educação e a juventude, que pararam em todo o Brasil, e os trabalhadores dos transportes, que cruzaram os braços em pelo menos 19 capitais e várias cidades pelo interior. Em São Paulo, os metroviários contrariaram uma liminar arbitrária da Justiça e seguraram a greve, a despeito da traição do sindicato dos condutores, que furou a greve na véspera. Petroleiros e bancários também fizeram uma forte paralisação, assim como metalúrgicos, que pararam parcial ou totalmente, em regiões como Vale do Paraíba, ABC Paulista e Paraná. O movimento popular fechou avenidas, estradas e pontes. Os demais servidores públicos e os trabalhadores do campo também se mobilizaram fortemente nesse dia.

GRANDES PROTESTOS Se a parte da manhã foi marcada por paralisações e cortes de estradas, à tarde houve grandes protestos em várias partes do país. Alguns deles foram maiores do que a Greve Geral de 28 de abril de 2017. Em Belo Horizonte, pelo menos 100 mil pessoas foram às ruas num ato que há muito não se via. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife, ocorreram grandes manifestações. “Essa reforma é indigna e não passará. Assim como

a Greve Geral [de 2017] derrotou a reforma de Temer, essa Greve Geral dá o pontapé para derrotar a reforma de Bolsonaro, Mourão e esse Congresso de picaretas”, afirmou Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, durante a manifestação realizada no final do dia em São Paulo.

UMA GREVE FORTE, MAS DIFERENTE DE 2017 O dia 14 foi forte em todo o país apesar de a imprensa e o governo tentarem fazer parecer que foi fraco. No entanto, foi uma greve geral diferente da de 2017, quando a classe operária se colocou à frente e se impôs, de fato, um clima de feriado, com as cidades praticamente esvaziadas. Isso por duas razões: o fato de o governo, apesar do forte desgaste, ainda nutrir o apoio de 30%, baixo para um início de governo, mas maior que o então moribundo governo Temer, gerando polarização. Outro importante fator foi o papel cumprido pelas principais direções das grandes centrais sindicais ou de categorias importantes como os transportes em várias regiões. Enquanto as direções das grandes centrais não jogaram o peso que poderiam jogar, tanto na preparação quanto na própria Greve Geral, outras direções atuaram para puxar para trás, como rodoviários em São Paulo, que desmontaram a greve. Mas o 14J mostrou a capacidade de mobilização e a disposição de luta dos trabalhadores para derrotar a reforma da Previdência e a política econômica desse governo. Apontou o caminho das lutas para, a partir da crise do governo e a divisão no Congresso apesar do acordão, barrar a reforma nas lutas.

Salvador (BA).

Manifestação em Belo Horizonte (MG). Foto: Mídia Ninja

Protesto em Natal (RN).

Ato no Rio de Janeiro. Foto: Ricardo Soares

Manifestantes fecharm rodovia em Brasília

Manifestação de trabalhadores ruais em Fortaliza (CE). Foto: Mídia Ninja

Santa Maria (RS). Foto: Rodrigo Barrenech


Opinião Socialista

CENTRAIS

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das e protestos marcam o 14J

a.

hea

PRÓXIMOS PASSOS

Intensificar a mobilização contra a reforma

São José dos Campos (SP).

Após esse vitorioso dia de greve e mobilizações, é hora de preparar a continuidade da luta. “É muito importante discutir os próximos passos, temos que aumentar a pressão não só sobre o governo Bolsonaro, mas também sobre o Congresso Nacional”, disse o presidente nacional do PSTU, Zé Maria. Passado o 14J, é hora de reafirmar o rechaço a qualquer negociação sobre nossos direitos e nossa aposentadoria, desautorizando qualquer movimentação que venha por aí. O relatório apresentado pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) e a atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já mostraram que, se o governo não consegue se impor e

cumprir as ordens de seus patrões banqueiros, o Congresso Nacional vai tentar fazer esse papel sujo. Nesse sentido, é preciso fazer como propõe a CSP-Conlutas: rechaçar toda a reforma e preparar desde já os próximos passos. A derrota da reforma da Previdência se dará nas ruas. Durante reunião das centrais sindicais no dia 18 de junho, a CSP-Conlutas apresentou uma proposta de continuidade da mobilização: protestos nos estados aumentando a pressão na base de cada deputado no próximo período, uma grande marcha a Brasília para o próximo mês e a preparação de uma nova greve geral, ainda maior e mais forte que a do dia 14 de junho.

VAMOS À LUTA

Propostas apresentadas pela CSP-Conlutas às demais centrais DIA 12 DE JULHO

• Manifestações nos estados e regiões, fortalecendo o ato em Brasília convocado pela juventude • Grande marcha a Brasília • Novo dia de greve geral

Zé Maria no ato em São Paulo (SP). Foto: Tácito Chimato

VIOLÊNCIA

Não à repressão

A repressão policial marcou vários atos no 14J. Em São Paulo, a Polícia Militar atacou a manifestação na Avenida Paulista com bombas de gás lacrimogêneo e deteve 11 pessoas, dez estudantes e um funcionário da USP. No Rio de Janeiro, a PM reprimiu o ato que seMetroviáruis de São Paulo. Foto: CSP-Conlutas

guia da Avenida Presidente Vargas, com bombas e tiros de bala de borracha, detendo dois manifestantes. Em Porto Alegre, também houve repressão da Brigada Militar. Mais cedo, a cavalaria da capital gaúcha já havia reprimido um piquete em frente à empresa Carris.


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Opressões • Opinião Socialista

LGBT

50 anos da revolta de Stonewall DIA DO ORGULHO LGBT

DA REDAÇÃO

A privatização das Paradas

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m 1969, os atos homossexuais eram considerados crime em quase todo os Estados Unidos. Homossexuais, bissexuais e pessoas trans eram proibidas de assumir cargos no serviço público. Não tinham acesso à saúde e à educação pública. Eram considerados doentes e pervertidos. No dia 28 de junho de 1969, os homossexuais que frequentavam um bar chamado Stonewall Inn, em Nova Iorque, cansados da repressão que sofriam nas constantes batidas policiais, partiram para o confronto com a polícia e tomaram as ruas por quatro dias, armando barricadas e resistindo à violência do Estado. Nessa luta, quem esteve à frente foram principalmente as mulheres lésbicas, as travestis negras e os gays imigrantes. Esse é um dado interessante que atualmente a burguesia tenta esconder. Mostra que a revolta de Stonewall, além de ser contra a violência policial, foi também contra toda a opressão e exploração que LGBTs pobres, negros e imigrantes sofriam cotidianamente. A revolta de Stonewall teve uma repercussão tão grande que causou efervescência no mundo todo. No ano seguinte, em 28 de junho de 1970, foi organizada a primeira Parada LGBT, com mais de 10 mil pessoas, nos Estados Unidos. A partir de então, o dia 28 de junho passou a ser o dia do Orgulho Gay, e o exemplo foi seguido em diversos países. Nesse dia, os homossexuais afirmam sua história de resistência e combate à homofobia. Com isso, surgiram as famosas paradas e o movimento LGBT atual, que impôs transformações à sociedade, derrubou leis anti-homossexuais e conquistou alguns direitos em diversos países.

LGBTS NO BRASIL O Brasil é um dos países que mais mata LGBTs em todo o mundo. A violência lgbtfóbica, a falta de emprego, a marginalização e a falta de políti-

cas públicas, além do risco de estupros corretivos e de expulsão de casa, são uma perversa rotina. Todos os governos são coniventes com essa situação e usaram os direitos das LGBTs como moeda de troca durante as eleições. O governo homofóbico de Bolsonaro trava um combate ideológico à população LGBT. Já disse que “prefere ter um filho morto a um homossexual”. Seu objetivo é fomentar o preconceito, dividir a classe trabalhadora e aprofundar seus ataques contra os nossos direitos. Os ataques que o governo prepara, como a reforma da Previdência, atingem os mais vulneráveis, como as LGBTs que ocupam os postos mais precários e, por isso, serão as mais afetadas. Recentemente, como fruto da luta histórica das LGBTs, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou a favor da criminalização da homofobia. Bolsonaro criticou o STF e disse que a medida poderia prejudicar os gays, impedindo as empresas de contratá-los. A criminalização da homofobia é importante sem dúvida,

mas sabemos que o Brasil tem uma larga tradição de leis que não saem do papel. É a sociedade capitalista que oprime e explora todos os trabalhadores todo dia em troca de lucro para um punhado de empresários, banqueiros e latifundiários. A homofobia está diretamente ligada a esses mecanismos. Nesse sistema, os oprimidos são forçados a trabalhar sob condições de superexploração. Por essa razão, as LGBTs são marginalizadas de forma permanente, ocupam os trabalhos mais precários, como nos salões de beleza ou nas empresas terceirizadas de telemarketing, sofrem mais assédio e exploração e convivem o tempo todo com a ameaça do desemprego. Só o fim de toda opressão vai acabar com a homofobia. Mas isso só é possível com o fim do capitalismo, um sistema baseado na opressão, e com a construção de uma sociedade socialista, sem oprimidos e sem opressores. As lições de Stonewall nos apontam esse caminho, o da luta e da mobilização ao lado dos trabalhadores e da juventude.

O dia 28 de junho sempre foi tradicionalmente um dia de luta, o Dia do Orgulho LGBT. Ir a uma parada LGBT sempre foi um dia em que travestis, transexuais, lésbicas e gays saíam de seus armários para dizer que, além de existir, estavam ali para resistir e lutar contra o preconceito e a discriminação. Infelizmente, a maioria das LGBTs desconhece sua própria história. Isso é assim porque no capitalismo muito interessa à burguesia e aos seus governos domesticar o movimento. Mercantilizá-lo é ainda melhor. A partir do crescimento das Paradas e da apropriação do espaço de luta pelo mercado pink, com os carros de som de boates, por exemplo, a maioria delas, como a de São Paulo, deixou de acontecer no dia 28 de junho e passou a ser realizada no feriado prolongado de Corpus Christi. Formalmente, a edição vai comemorar 50 anos de Sto-

newall. Contudo, a privatização da Parada mostra como o evento está bem distante do espírito da revolta de meio século atrás. Em São Paulo, a parada será patrocinada pela rede de lanchonetes Burger King. Em 2011, a rede foi condenada a pagar US$ 3,5 milhões a um casal gay vítima de homofobia por funcionários de uma de suas lojas no estado de Nova Jersey, EUA. Os governos estadual e municipal também se apropriaram do evento transformando-o numa grande festa, tornando sem efeito as reivindicações e a denúncia da realidade cotidiana sofrida pelas LGBTs. A expectativa da Prefeitura de São Paulo é que a Parada movimente mais de R$ 288 milhões, valor estimado no ano passado. Nas Paradas, além da música, deveríamos fazer ecoar as reivindicações e a indignação contra a homofobia.


Opinião Socialista •

Internacional

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CHINA

Hong Kong vai às ruas contra ditadura chinesa PRIMAVERA CHINESA

30 anos do massacre de Tiananmen

MARCOS MARGARIDO DE CAMPINAS (SP)

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epois de uma semana de mobilizações gigantescas contra o projeto de lei de extradição, a governadora de Hong Kong, Carrie Lam, retirou o projeto no dia 15 de junho. Porém milhões voltaram às ruas no dia seguinte, rejeitando seu pedido de desculpas e fazendo novas reivindicações. O movimento, que pede a renúncia de Lam, não é apenas contra o governo da cidade, mas, principalmente, contra a ditadura chinesa.

O QUE É A LEI DE EXTRADIÇÃO A lei de extradição permite que qualquer suspeito por crimes preso em Hong Kong possa ser enviado para outros países, como China e Taiwan, para ser

julgado lá. A origem da lei, segundo o governo, é a necessidade de extraditar um suspeito de assassinato para Taiwan, onde cometeu o crime. Porém a lei pode abrir as portas para a extradição de opositores políticos, dirigentes sindicais e políticos, inclusive estrangeiros, para a China, onde seriam julgados sem nenhuma garantia legal e enviados para as prisões e campos de concentração chineses. Além disso, desde 2013, o governo chinês pressiona Hong Kong para aprovar uma lei de segurança nacional contra subversão, sedição, secessão e traição. Hong Kong é parte da China, mas tem algumas garantias democráticas por ser um território semiautônomo, com governo próprio, embora não eleito em eleições diretas. Por isso, há

uma rejeição enorme à aprovação dessas leis, que colocariam Hong Kong nas mãos da ditadura chinesa e seriam uma brecha para o endurecimento do regime. Por isso, cerca de dois milhões saíram às ruas depois que a governadora anunciou a retirada provisória do projeto de lei. As massas exigem o cancelamento permanente do projeto, investigação e punição dos policiais envolvidos na repressão, libertação dos manifestantes e que os protestos não sejam considerados ilegais, o que acarretaria longos anos de prisão a quem fosse julgado. A primeira vitória foi conquistada, mas o movimento precisa continuar até a revogação completa da lei, a renúncia da governadora e a realização de eleições diretas para o governo.

Os protestos em Hong Kong ocorreram uma semana depois de uma manifestação de 500 mil pessoas no centro da cidade para relembrar os 30 anos do massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em Beijing, feito pelo Partido Comunista da China (PCCh) em 1989. Em 1989, a China vivia uma crise econômica brutal, com milhões de camponeses perdendo suas terras devido à privatização do campo. Enquanto isso, os dirigentes do PCCh enriqueciam aos olhos de todos devido à corrupção desenfreada que existia no governo. O movimento foi iniciado pelos estudantes da Universidade de Beijing, que começaram a ocupar a Praça Tiananmen, transformando-a no centro de organização política dos protestos, por onde passa-

vam cerca de 1 a 2 milhões de pessoas diariamente. No auge do movimento, entre 17 e 22 de maio, várias categorias entraram em greve e começaram a surgir os primeiros sindicatos independentes, como a Federação Operária Autônoma de Beijing, algo que o regime não podia admitir. Em 4 de junho, tanques invadiram a praça, e a repressão atingiu todo o país, causando um número desconhecido de mortos. Muitos fugiram para Hong Kong, onde o movimento das mães dos mortos e desaparecidos de Tiananmen é ativo até hoje. A ditadura conseguiu derrotar o movimento e avançar sua política de restauração capitalista, fazendo da China o que ficou conhecido como a “fábrica do mundo”, à custa da superexploração sem limites de sua jovem classe operária.

O QUE É A CHINA

Comunista ou capitalista? Até hoje, existe uma grande confusão entre os trabalhadores de todo o mundo sobre o que é a China. Afinal, ela é governada por um partido comunista com mãos de ferro, que não titubeia em mandar à prisão qualquer um que faça oposição. Por isso, a imprensa se aproveita para dizer que lá existe comunismo e, por isso, não existe democra-

cia, isto é, igualam comunismo a ditadura contra a população. Porém isso não é verdade. Em 1959, houve uma revolução socialista que expulsou patrões e exploradores e conquistou a propriedade coletiva das fábricas, dos bancos e da terra. Entretanto, o PCCh impediu que os trabalhadores formassem seus conselhos

para organizar a produção e governar, levando à decadência da construção socialista. No fim da década de 1970, o PCCh iniciou uma política de acabar com as conquistas da revolução. A classe capitalista, que havia sido expulsa, voltou a ser dona do país, aumentando ainda mais a exploração sobre os trabalhadores. Era o fim

da construção do comunismo. O que causa confusão é que a propriedade coletiva foi extinta pelo próprio PCCh, que hoje é comunista só no nome, pois está recheado de milionários que se dizem comunistas para melhor explorar os trabalhadores chineses. Por isso, os protestos em Hong Kong são tão importan-

tes. Uma vitória lá pode reacender a luta dos operários chineses contra o governo de Xi Jinping, o ditador de turno, e derrubar a maior ditadura capitalista do mundo, reabrindo as portas para a conquista do verdadeiro socialismo, em que os trabalhadores vão governar por meio de suas organizações revolucionárias.


ESPECIAL • Opinião Socialista

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A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

A REVOLTA DOS MALÊS

O levante dos escravos muçulmanos na Bahia POR WILSON H. SILVA, DE SÃO PAULO (SP)

E

ra madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. Centenas de negros escravizados da religião muçulmana da cidade de Salvador protagonizaram uma das mais importantes rebeliões contra o sistema escravista: a Revolta dos Malês, por assim serem conhecidos os negros muçulmanos que a organizaram. A data foi escolhida cuidadosamente pelos líderes da revolta. Segundo o calendário católico, era o dia de comemoração da festa de Nossa Senhora da Guia e fazia parte das festividades do Bonfim. Para os malês, contudo, essa data correspondia a uma das festas do fim do mês do Ramadã no calendário islâmico: “A rebelião foi planejada para acontecer num momento especialíssimo do calendário religioso muçulmano, na verdade o mais importante: o mês do Ramadã. [...] Para confirmar estas informações, fiz a conversão do dia 25 de janeiro de 1835 da era de Cristo para o calendário muçulmano, e resultou o esperado: 25 de Ramadã A.H. 1250”, explica o historiador João José Reis. Salvador, como capital da província, contabilizava uma população de cerca de 60 mil habitantes. Para os padrões da época, era um grande contingente. Desse total, calcula-se que aproximadamente 35% eram escravos, grande parte eram africanos vindos de territórios onde predominava o islamismo. Havia muitos escravos de outras etnias, crioulos (negros nascidos no Brasil), mestiços escravizados e um percentual de negros livres, representando para a cidade um percentual de aproximadamente 75% de afrodescendentes.

SITUAÇÃO PECULIAR A predominância de escravos muçulmanos em Salvador lhe dava algumas características

diferentes em relação às outras cidades no que diz respeito à exploração da escravidão. Além de alfabetizados (condição importante para que os negros lessem e interpretassem o Alcorão), era comum o chamado escravo de ganho, ou seja, escravos urbanos que desempenhavam alguma atividade que rendesse alguma espécie de remuneração: lavradores, remadores, domésticos, pedreiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros, armeiros, barbeiros, vendedores ambulantes, carregadores de cadeira, entre outras atividades. A maior parte dos valores arrecadados pelo escravo era obrigatoriamente repassada ao senhor. Outra parte ficava com o escravo, que juntava uma certa quantia e, depois de alguns anos, possibilitava a compra da alforria. Dessa forma, podia-se encontrar com mais facilidade negros livres e, com algumas exceções, negros bem-sucedidos em negócios. O importante é que se havia, por um lado, uma possiblidade de ascensão social de alguns negros, havia também por parte destes um compromisso em ajudar outros escravos. Foram muitos os casos em que negros livres conseguiam juntar dinheiro para comprar a alforria de outros escravos. Os líderes nagôs eram os escravos Ahuna, Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu, Aprígio, Pai Inácio e Gustard. Também nagô era o liberto Manuel Calafate. Os outros eram o escravo tapa Luís Sanim e o liberto hauçá Elesbão do Carmo ou Dandará, que negociava com fumo. Mesmo a revolta sendo facilmente esmagada, devido a uma traição ocorrida um dia antes, há registros da participação de até 1.500 negros. Em números de mortos, estima-se cerca de 60 negros e 10 homens das forças policiais.

Negros mandinga, da Ágrica Ocidental

Mansa Mussa retratado num atlas catalão de 1375. O texto do mapa diz: “Este senhor negro é chamado Mussa Mali, senhor dos negros da Guiné. Tão abundante é o ouro que foi achado no seu país que ele é o mais rico e nobre rei em toda a terra”. Era dessa região que os escravos muçulmanos eram trazidos para o Brasil.

Gravura de um local de oração islâmica.

UM MOVIMENTO POLÍTICO Sobre os objetivos dos revoltosos e a participação dos negros na revolta, o historiador João José Reis explica: “Que fique bem claro: os negros nascidos no Brasil, e por isso chamados crioulos, não participaram da revolta, que foi feita exclusivamente por africanos. Por isso, se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Talvez a Bahia se transformasse num país islâmico ortodoxo, talvez num país onde as outras religiões predominantes entre os africanos e crioulos (o candomblé e o catolicismo) fossem toleradas. De toda maneira a revolta não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um movimento político, no sentido de que tomar o governo constituía um dos principais objetivos dos rebeldes.” Para o historiador, o movimento que teve apoio fundamental de africanos não muçulmanos, a revolta foi totalmente planejada, organizada e implementada pelos muçulmanos. A razão para isso ia além da questão de raça. Para os revoltosos que se reuniam em casa de negros libertos, senzalas urbanas etc., era importante que quem estivesse envolvido soubesse ler e escrever, privilégio esse que os escravos crioulos não tinham. Obviamente, o fato da não presença de escravos nascidos no Brasil nesse processo revoltoso está ligado à dificuldade que os mesmos tinham em se organizar e se integrar ao restante da comunidade negra da cidade, principalmente por causa da forte repressão e da língua estrangeira que dificultava, mas não impedia uma grande rede de solidariedade e de aliança entre negros africanos e negros nascidos no Brasil.


Opinião Socialista •

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

ESPECIAL

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INTIFADA NORDESTINA

Luta étnico-religiosa ou luta pelo poder? Apesar de ter sido uma revolta que durou poucas horas e que resultou numa grande onda de execuções, prisões e deportações dos principais líderes, a Revolta dos Malês é considerada um dos mais importantes levantes negros da América Latina. Uma rebelião que João José Reis colocou no mesmo nível de uma intifada em pleno nordeste colonial brasileiro. Intifada é uma palavra árabe que significa rebelião. É o nome popular que representa as insurreições do povo palestino contra os massacres promovidos pelo Estado de Israel. Na revolta, ficou nítido, desde o início, nas primeiras reuniões dos líderes, que o objetivo era “dominar as terras”. Sabiam os escravos protagonistas do levante que a religião seria um fator importante de recrutamento

Gravura de negros praticantes do islã

e de convencimento para entrar na luta. Nos documentos encontrados pelos historiadores, entre eles um manifesto assinado pelas lideranças e distribuído no dia anterior ao levante, não havia qualquer discurso sobre a

imposição da religião islâmica. Os escravos conviviam perfeitamente com africanos de outras religiões. O fator agregador era de fato a tomada do poder. Não se tratou, portanto, de uma Guerra Santa, mas sim de

SAIBA

O LEGADO DA REVOLTA

Uma luta de raça e classe

A revolução escrava no Haiti (1791-1804), o início da organização dos trabalhadores e operários na Europa, a quilombagem característica dos escravos brasileiros podem ser considerados fatores fundamentais que influenciaram o levante muçulmano em Salvador de 1835. Entretanto, tudo isso seria insuficiente se não colocássemos como condicionante a consci-

uma luta dos malês contra o sistema escravista e contra os senhores, libertando os escravos de Salvador e do Recôncavo Baiano. “A Bahia destacou-se como uma das regiões mais agitadas do país. Entre 1820 e 1840, a província foi palco de um conflito anticolonial,

revoltas militares, motins portugueses, quebra-quebras e saques populares, rebeliões liberais e federalistas, com laivos republicanos, e levante de escravos”, descreve Reis. A população de Salvador vivia uma situação de absoluta penúria. Calcula-se que 90% da população vivia na pobreza. Mesmo entre a população branca, a situação era extremamente grave. “Os 10% mais ricos controlavam 66,9% da riqueza, enquanto os 30% mais pobres obtinham apenas 1,1%. É dentro desse contexto que se dá a rebelião muçulmana”, afirma Reis. A concentração de renda era escandalosa, e a ostentação, característica das elites, fazia crescer o sentimento de indignação e o ódio, que serviam de combustível para os negros se organizarem.

ência de classe estabelecida e a luta contra o sistema escravista desde as primeiras reuniões das lideranças que conspiravam contra os senhores. Libertar os escravos e tomar as terras. Derrubar a estrutura capitalista do período regencial, que sustentava o luxo de uma elite arcaica e parasita, mas que jogava dezenas de milhares de baianos na fome e na miséria.

Nesse sentido, a Revolta dos Malês foi mais que uma revolta de negros religiosos. Foi muito mais que isso. Significou uma lição para os negros de que era possível confiar em sua força organizativa, juntar-se aos oprimidos e derrubar o sistema. Esse foi o grande legado deixado pelos malês. Uma luta de raça e classe.

MAIS

Quem foi Luiza Mahin Esta africana guerreira teve importante papel na Revolta dos Malês. Pertencente à etnia jeje, alguns afirmam que ela foi transportada para o Brasil como escrava; outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830, deu à luz um filho, Luís Gama, que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista e escreveria as seguintes palavras sobre sua mãe: “Sou filho natural de uma negra africana livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.” Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa se tornou quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em SalvaPARA

LER Rebelião escrava no Brasil João José Reis

dor em meados do século 19, dentre elas a chamada Grande Insurreição de 1835. Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo governo da província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África. PRÓXIMO LANÇAMENTO

ÁFRICA R$2 0 Colonialismo, genocídio e reparação

Adriana Gomes dos Santos (Org.) Antonio Fernandes Neto Hertz Dias

www.editorasundermann.com.br


Esporte • Opinião Socialista

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SELEÇÃO FEMININA

Futebol é coisa de mulher! Para aquelas que escolheram o esporte, a luta contra o machismo é diária FORMALIDADE

GABRIELA HIPÓLITO DE BELÉM (PA)

Futebol nos estados

O

ano é 1983. Depois de 40 anos proibido, o futebol de mulheres é regulamentado no Brasil. A proibição, que datava de 1941, na verdade estava em gestação décadas antes, quando surgiu o futebol. Sendo um esporte trazido pela Inglaterra e praticado pelas elites, não só as mulheres como também os trabalhadores eram coagidos a não praticá-lo. Outra rejeição explícita era a participação das pessoas negras nos clubes. Nos anos 30, no entanto, começou a regulamentação rumo à profissionalização dos homens no futebol. Na contramão desse processo, já durante os anos 1920, o futebol de mulheres passou a ser atração de circo e de todo e qualquer espaço que não o caracterizasse como esporte.

JOGO DE FUTEBOL FEMININO EM 1941 Proibido na era Vargas e com legislação endurecida a partir da ditadura militar, jogar futebol sendo mulher era caso de polícia. Mesmo com toda essa repressão, as mulheres não pararam de jogar. Fato curioso é que a própria Polícia Militar tinha seu time de futebol entre as mulheres. Outro fator que impedia o avanço da modalidade era a repressão cultural ao esporte, que julgava pejorativamente a participação das mulheres nos ambientes familiares e de trabalho. Com a pressão internacional para o avanço da modalidade (que também foi impedida por décadas em países como Inglaterra, Alemanha e França), o Brasil regulamentou, mas só passou a ter sua primeira seleção de mulheres em 1988. De 1991 até hoje, o Brasil esteve em todas as edições do Mundial. Mas, ao contrário do futebol dos homens, o reconhecimento à modalidade ainda está longe de ser satisfatório no país. Em tempos de Mundial aberto em rede nacional, ao ver nossa seleção jogando de igual para igual com grandes equipes do mundo, pode

Se em nível nacional a seleção brasileira sempre ouviu que só existe porque “o masculino a sustenta”, a modalidade nos estados ainda é tratada como amadora, tendo poucas equipes organizadas e estruturadas. Hoje, para todo clube da série A do futebol brasileiro é exigido a criação das equipes de mulheres. Essa

definição também não garante a profissionalização, ou seja, que as mulheres possam ter o futebol como única profissão. Essa definição, longe de ser um pioneirismo da CBF, na verdade responde às exigências internacionais para os times profissionais dos homens, prevendo punições caso não sejam cumpridas.

ESPORTE

Uma atividade emancipadora

Com o gol sobre a Itália na Copa do Mundo feminina, Marta se tornou a maior artilheira da história das Copas. Agora com 17 gols, ela superou o alemão Miroslav Klose. Nas partidas da Seleção, Marta optou por jogar sem patrocínio para usar uma chuteira com símbolo de uma campanha pela igualdade de gênero.

deixar parecer que não existe um abismo entre homens e mulheres. Mas ele está aí.

O ABISMO DA DESIGUALDADE Se os salários são sabidamente incomparáveis entre o futebol para homens e para mulheres, coisas mais básicas, como o próprio uniforme, este ano apresentam uma versão inédita. Isso mesmo, no país do futebol a seleção das mulheres jogava com sobras de material e design dos homens. Esses pequenos “detalhes” são só a ponta de um iceberg de desigualdade. MOVIMENTO Em 2017, Cristiane, já estrela do time ao lado de Marta e Formiga, decidiu abandonar a

seleção brasileira após a primeira técnica mulher ser demitida. Tempo recorde se comparado aos homens, todos com no mínimo um ano de trabalho. O movimento começado por Cristiane levou ao total de cinco jogadoras fora da seleção em sinal de protesto. Naquele momento, reivindicavam condições de trabalho dignas e mais visibilidade para o futebol feito por elas. O protesto iniciado por Cristiane teve eco. Alguns elementos estruturais foram alterados, e melhores condições, estabelecidas. No ano passado, a jogadora resolveu ceder aos inúmeros pedidos de volta à seleção e justificou a decisão com as mudanças que ela considera insuficientes, mas importantes.

Defender a liberdade das mulheres para praticar qualquer atividade esportiva, principalmente aquelas que a sociedade recrimina ou até mesmo proíbe, é também uma luta por igualdade de direitos. No capitalismo, tudo que pode dar lucro se transforma em produto. É assim também no futebol. Se hoje a modalidade está tendo mais investimentos, principalmente pela luta de todas as mulheres que ousaram jogar bola e serem reconhecidas no passado, as grandes empresas as veem como um investimento promissor e um mercado imenso a ser gerado. O esporte, o lazer em geral e a cultura são direitos dos seres humanos por excelência. As atividades humanas que desenvolvem corpo, mente e criatividade são aquelas que caracterizam nossa essência. Além disso, a co-

operação, o trabalho em equipe e a confraternização que podem e devem ser características do esporte, são também uma forma de construir seres mais humanos. Numa sociedade igualitária, longe da busca pelos doentios limites do corpo e da competição (que lesiona e mata muitos atletas), deixando de lado as diferenças de sexo e gênero, o esporte pode ser direito de todos, assim como a formação científica e artística.

SAIBA

MAIS LIVRO

Mulheres Impedidas: a proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo Giovana Capucim e Silva

FILME

Geração Peneiras Disponível no YouTube


Opinião Socialista

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mural

PASSE LIVRE PARA DESMATAR

LIBERDADE PARA DANIEL RUÍZ!

O efeito Bolsonaro Preso político argentino será e o desmatamento candidato a deputado da Amazônia

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados preliminares mostrando que o ano de 2018 registrou um novo aumento de desmatamento na região amazônica. No total, foram desmatados 7.900 quilômetros quadrados. Em 2017, o instituto havia registado um desmatamento de 6.947 quilômetros quadrados. Em 2019, o desmatamento poderá ser ainda maior. Dados mais recentes mostram que a maior floresta tropical do mundo perdeu 739 quilômetros quadrados durante os 31 dias de maio de 2019, o equivalente a dois campos de futebol a cada minuto. A isso, somam-se as áreas de alerta de desmatamento e degradação na Amazônia Legal, que somaram 1.055,3 quilômetros quadrados no mês de abril de 2019 segundo os dados do Inpe. Possivelmente, até o final de julho, a Amazônia terá perdido mais de 10 mil quilômetros quadrados, somando os dados deste ano e de 2018. Isso é aproximadamente a extensão territorial de um país como o Líbano. A partir deste mês, as queimadas e as derrubadas da floresta vão intensificar-se, pois é o período conhecido como verão amazônico, que vai até outubro, marcado pela estiagem.

Desde 2012, foi registrada a tendência de crescimento do desmatamento. Entre aquele ano e 2018, houve um aumento de 73 % do desmatamento na Amazônia, totalizando mais de 44 mil quilômetros quadrados. O aumento do desmatamento é consequência direta do avanço do agronegócio sobre a Amazônia legal. Ou seja, é efeito direto da semirreprimarização da economia brasileira, da desindustrialização parcial das últimas décadas. Ao mesmo tempo, o país se tornou um grande produtor de produtos primários para o mercado externo. Com o governo Bolsonaro e seu projeto de recolonização total do país, essa tendência vai aumentar. O aumento do desmatamento registrado em 2019 já é consequência do passe livre dado pelo seu governo para extração ilegal de madeira e para a ampliação da agricultura e da mineração. Até metade de maio, por exemplo, o Ibama emitiu 35% menos multas que no mesmo período do ano passado. Como se não bastasse, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, determinou que o Ibama informasse com antecedência onde serão suas operações, o que facilitará enormemente a fuga de agressores ambientais.

Preso por simplesmente participar de uma manifestação contra a reforma da Previdência, o ativista Daniel Ruíz será candidato a deputado pela Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT, na sigla em espanhol), uma frente formada pelos partidos de esquerda PO, PTS, Esquerda Socialista, MST, Poder Popular, Convergência Socialista e o PSTU argentino. Membro do PSTU, Daniel Ruíz, é um preso político do governo de Mauricio Macri que está há mais de oito meses detido. Natural de Comodoro Rivadavia, centro petroleiro da Patagônia argentina, foi ativista do movimento piqueteiro que congregava trabalhadores desempregados organizados do país. Depois, trabalhou num frigorífico e na construção civil. Após trabalhar como petroleiro, tornou-se um reconhecido dirigente da categoria, comprometido na construção de uma nova direção sindical antipatronal e antiburocrática. Em 18 de dezembro de 2017, Daniel participou em Buenos Aires, juntamente com seu partido, da grande mobilização que enfrentou reforma da Pre-

vidência proposta por Macri. A manifestação foi brutalmente reprimida. Cinco manifestantes perderam um olho e centenas de outros foram presos. Em 12 de setembro de 2018, foi preso em sua casa por ter participado dessa mobilização. Na campanha eleitoral, Daniel Ruíz vai apresentar um programa socialista, anti-im-

perialista e anticapitalista e, obviamente, vai denunciar as prisões políticas realizadas pelo governo argentino. No Brasil, a campanha pela libertação de Daniel Ruíz esteve presente em várias mobilizações durante a Greve Geral do dia 14. Vários ativistas levaram faixas e cartazes exigindo a sua libertação.

COMENDO LIXO

43,5 milhões de brasileiros vivem na pobreza A cena foi gravada por uma jovem estudante de jornalismo na noite do dia 11 de junho. Parece a Venezuela, mas não é. Um grupo de pessoas, moradores do bairro de São Benedito, em Olinda (PE), cercam um caminhão de lixo para pegar restos de alimentos descartados por um supermercado. Os garis ficam paralisados, enquanto as pessoas se aproximam do veículo no momento em que o caminhão parou em frente ao estabelecimento. A comida foi colocada em sacos plásticos.

A cena é um sinal do aumento da pobreza no Brasil. O número de pessoas que vivem na pobreza subiu 7,3 milhões desde 2014, atingindo 21% da população, ou 43,5 milhões de

brasileiros. Em 2014, o total de brasileiros que viviam na pobreza era de 36,2 milhões (17,9%). Os dados são de um relatório do Banco Mundial divulgado em abril.


Partido • Opinião Socialista

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REVOLUCIONÁRIO E SOCIALISTA!

PSTU faz 25 anos DA REDAÇÃO

O

PSTU está fazendo 25 anos neste mês. Porém são mais de 45 anos de história se contarmos as organizações que o antecederam, como a Liga Operária e a Convergência Socialista. O partido sempre teve uma trajetória coerente de luta pela revolução socialista. O objetivo do PSTU é acabar com o capitalismo e construir uma sociedade socialista, na qual os trabalhadores possam controlar a produção econômica e o poder político por meio de conselhos populares. É o contrário do que defendem o PT e outros partidos de esquerda, como o PSOL, que acreditam que o capitalismo pode ser reformado. Os capitalistas dizem que o socialismo é uma utopia. Mas utópico é tentar humanizar o capitalismo. É impossível ter justiça social, soberania e bem-estar dos povos dentro de um sistema baseado na exploração. Os capitalistas não vacilam em massacrar os explorados para defender suas riquezas e seus lucros. O capitalismo também se utiliza do preconceito e da opressão para dividir a classe trabalhadora e melhor explorá-la. Por isso,

os revolucionários combatem o machismo, o racismo, a lgbtfobia, a perseguição aos imigrantes e aos povos indígenas. Lutamos para unir a classe e acabar com o capitalismo.

SOCIALISMO Os capitalistas dizem que o socialismo foi aquilo que fracassou na ex-União Soviética ou aquilo que existe na China e na Venezuela. Isso é uma grande mentira. A URSS não passava de uma ditadura burocrática que surgiu após a contrarrevolução stalinista. Foi essa mesma burocracia que restaurou o capitalismo 70 anos depois da Revolução Russa.

Já a China e a Venezuela são dois países capitalistas, onde os trabalhadores são superexplorados para garantir os lucros das grandes empresas. Tudo controlado pela mão de ferro das ditaduras que existem nesses dois países. O socialismo não tem nada a ver com isso. Socialismo é quando a riqueza produzida por todos os trabalhadores é utilizada por eles para satisfazer as necessidades do conjunto do povo, dedicando esses recursos à educação, à saúde, à investigação científica e ao bem-estar geral. No socialismo, há um novo tipo de Estado, baseado em conselhos populares, organizados em locais

de trabalho, moradia e estudo. Assim, todo trabalhador poderá participar da vida política do país, definir as prioridades de um plano econômico, controlar e gerir fábricas e escolas. Tudo isso é bem diferente da atual democracia capitalista que, na verdade, é uma ditadura dos ricos contra os pobres.

PRECISAMOS FAZER UMA REVOLUÇÃO Para construir o socialismo e acabar com esse sistema, é preciso uma revolução socialista que exproprie os banqueiros e demais ca-

25 ANOS DEPOIS

José Luís e Rosa Sundermann, presentes! Em junho, completam-se 25 anos do assassinato dos militantes do PSTU José Luís e Rosa Sundermann. No dia 12 de junho de 1994, os dois foram assassinados em São Carlos (SP). As autoridades policiais não apontaram um só suspeito pelo crime. Uma impunidade comum aos assassinatos de lutadores sociais. Os dois eram militantes do recém-criado PSTU e atuavam nas lutas da região, enfrentando grupos políticos e oligarquias, como a dos usineiros de açúcar. Em 1990 e 1993, haviam dirigido as greves dos cortadores de cana da região.

José Luís era dirigente do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São Carlos e da Fasubra. Rosa era dirigente da Convergência Socialista (corrente que deu origem ao PSTU) na região e havia sido eleita para a direção do PSTU no congresso de fundação do partido, uma semana antes de seu assassinato. O crime foi cometido com indícios claros de crime encomendado, usual pelos ruralistas. Esse tipo de perfil se encaixa com o de fazendeiros, latifundiários e agentes da repressão do Estado, que atuam em regiões do país onde o conflito armado e a im-

punidade de mandantes de crimes são comuns. Hoje, José Luís e Rosa nos lembram da luta contra a impunidade e a perseguição aos movimentos sociais e ativistas. Mas, para além da indignação que o caso traz, a memória desses lutadores nos inspira, ainda hoje, na luta pelo socialismo e pela construção de um partido revolucionário junto aos operários e aos setores mais explorados da classe trabalhadora. José Luís e Rosa: presentes!

pitalistas e instaure uma economia organizada de maneira coletiva, controlada democraticamente pelos trabalhadores e voltada às necessidades da maioria. Essa é a tarefa de um partido revolucionário como o PSTU. Um partido revolucionário procura impulsionar a organização, a luta e a confiança dos trabalhadores em suas próprias forças para governarem. Por isso, alertamos sobre a armadilha da conciliação de classes, como fez por anos o PT em seus governos, que sempre leva à derrota e à desmoralização dos trabalhadores. A luta pelo socialismo também é internacional, pois o sistema capitalista que existe em todo o mundo conduz a humanidade à destruição. Assim, o partido revolucionário também tem de ser parte de uma organização internacional. O PSTU e a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI) lutam pelo fim do capitalismo em decadência, que gera desemprego, fome, miséria, guerras, violência, destruição do planeta.


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