Opinião Socialista Nº580

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Nº580

De 23 de outubro a 6 de novembro de 2019 Ano 22

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UM RECADO AOS CAPITALISTAS CHILE

talismo MP por racismo em a ver vice de Bolsonaro no mocracia Campanha denuncia Página 16

VERA E HERTZ

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Ano 21 agosto de 2018 De 16 a 29 de

Nº 560

NORDESTE

O óleo derramado e a omissão criminosa de Bolsonaro PÁGINA 16

REBELIÕES SE ESPALHAM PELO MUNDO EQUADOR

IRAQUE

BRIGA DE BANDIDO

Partido Só Laranja (PSL) aumenta crise de Bolsonaro PÁGINA 4

HAITI

HONG KONG

CATALUNHA

LÍBANO


Opinião Socialista

páginadois

Câncer curado com pesquisa pública

CHARGE

Falou Besteira Somos que nem mulher traída, apanha, mas mesmo assim volta ao aconchego DELEGADO WALDIR (PSL-GO), exlíder do PSL na Câmara ao tentar colocar panos quentes na briga com a família Bolsonaro dentro do partido. O deputado conseguiu expressar numa mesma frase seu fisiologismo, hipocrisia e machismo. 23/10/2019

Países e cidades com rebeliões populares - Imprimir Caça Palavras

Países e cidades com rebeliões populares CAÇA-PALAVRAS

Países e cidades com rebeliões populares

As palavras deste caça palavras estão escondidas na horizontal, vertical e diagonal, sem palavras ao contrário.

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A recente onda de revoltas e insurreições no mundo tem gerado cenas interessantes. No Chile, um vídeo mostra o momento

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em que um manifestante corre com uma enorme TV provavelmente fruto de um saque. Outro manifestante toma o aparelho

RESPOSTA: CAtalunha, Chile, Equador, Haiti, Hong Kong, e iraque.

Expediente Editora Sundermann. CNPJ 06.021.557/0001-95 / Atividade Principal 47.61-0-01. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica

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Nos EUA, esse tratamento pode ultrapassar os 475 mil dólares. Aqui, a pesquisa foi possibilitada pelo financiamento da Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa).

“Baby Shark” nos protestos do Líbano

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paciente, que são “ensinadas” a combater o câncer. Depois de um mês de tratamento, o servidor obteve alta do hospital “virtualmente curado”, já que a cura definitiva só é considerada após cinco anos da remissão do câncer.

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Um caso recente mostrou a importância dos fundos públicos de pesquisa, os mesmos que o governo Bolsonaro e o ministro Weintraub querem acabar. O servidor aposentado Vamberto Castro, de Belo Horizonte, estava com câncer em estágio terminal, dependendo de doses diárias de morfina para aguentar as dores da doença. Incluído numa pesquisa inédita da América Latina, Vamberto foi a Ribeirão Preto, interior de São Paulo, para se submeter a uma terapia genética realizada pelo Centro de Terapia Celular do Hospital das Clínicas. A técnica, chamada de “CART-Cell”, consiste na manipulação de células do próprio sistema imunológico do

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de suas mãos e o joga numa fogueira que ardia no meio de uma avenida. Outra cena vem do Líbano. Um carro com uma criança fica preso em meio a um dos protestos que tomou conta de Beirute nos últimos dias. A mãe ao volante pede aos manifestantes que não façam muito barulho para não assustar o filho. Os manifestantes, então, passam a cantar o sucesso infantil “Baby Shark” em coro, para a criança, com direito até a coreografia.


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Editorial

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A onda é rebelião D

epois do levante popular que tomou o Equador contra os planos de ajuste, assistimos a outro ainda mais forte e profundo no Chile. Os trabalhadores e o povo chileno se rebelaram contra décadas de neoliberalismo, de ataque aos direitos, privatização da Previdência, destruição dos serviços públicos e entrega do país. O modelo que deteriorou as condições de vida do povo chileno é o mesmo que Bolsonaro e Guedes querem aplicar no Brasil. O modelo do povo Chileno rebelando-se nas ruas é o que a classe trabalhadora e o povo do Brasil devem seguir. O sistema capitalista em crise desata uma guerra social contra os de baixo para aumentar o lucro dos monopólios e do 1% de bilionários. Aumenta a desigualdade, o desemprego, a miséria, a exploração, a barbárie, a destruição do meio ambiente e a opressão de jovens, indígenas, mulheres, refugiados, LGBTs e nacionalidades oprimidas. O capitalismo e os capitalistas buscam lucro: explorar, concentrar e acumular dinheiro. Rebeliões estão atravessando o mundo: Hong Kong, Iraque, Líbano, Barcelona, Equador, Haiti, Chile. A isso se soma uma greve geral convocada na Colômbia. Essa e outras ondas que virão com mais força são expressão da polarização da luta de classes, da profunda crise do sistema capitalista mundial, dos seus planos de rapina e exploração. O 1% de bilionários está cada dia mais rico, enquanto os pobres e as camadas médias do proletariado, e mesmo os pequenos proprietários, estão cada vez mais pobres. Em meio à crise mundial, a localização de fornecedora de matérias-primas da América Latina obedece à pilhagem imperialista. Nos anos 2000, rebeliões tomaram vários países. Governos de colaboração de classes assumiram depois e surfaram um ciclo de crescimento econômico. No boom das commodities, a entrega gerava migalhas para os muito pobres. Ainda assim, desterrava-se indígenas e quilombolas, encarcerava-se em massa e exercia-se o controle social pela repressão e pelo genocídio. Basta ver os números dos assassinatos da juventude pobre e negra das periferias brasileiras nos governos Lula/ Dilma ou a tragédia de Belo Monte, projeto da ditadura militar ressuscitado pelo PT. Esses governos aplicaram o plano dos ricos, que ficaram mais ricos,

mas nunca diminuíram a desigualdade. Nesse rico e injusto país chamado Brasil, metade da população não tem sequer saneamento básico depois de 14 anos de governos do PT. Foram governos de falsas esperanças, produziram uma montanha de desilusões. Bolsonaro é ainda muito pior. A ordem é “dia do fogo”, queimar floresta e assassinar indígenas, ribeirinhos e povos da floresta. É autoritário e reacionário, assumiu para radicalizar o projeto liberal de submissão ao imperialismo, de entrega e exploração dos sucessivos governos, depois do fiasco em que acabou a ditadura (corrupta) militar. Ele vem para espoliar e reprimir.

NOVAS ONDAS As correntes profundas da luta de classes se movem a partir da crise do sistema, desestabilizam o capitalismo, balançam e destroçam regimes e governos. Por isso a luta de classes se polariza: os de cima apelam para a violência, o autoritarismo, a repressão; os de baixo se rebelam, vão perdendo o medo e ganhando coragem. Os revolucionários não são surfistas, são navegantes. Às vezes, surfam as ondas; outras, nadam contra a corrente. Não são impressionistas. Não são reféns das ondas e não querem acabar sempre na praia. Não olham apenas a superfície. O importante é saber para o que nos preparamos. Essas ondas são ensaios. Trazem ensinamentos. São menos ingênuas e pacíficas do que as dos anos 2000. Os de baixo já não confiam no reformismo eleitoral – profetas da estabilidade e da ordem capitalista com um pouco de distribuição de renda. São rebeliões pós-ciclo de governos de colaboração de classes. Diante dessa crise monumental do sistema capitalista, governos autoritários como de Bolsonaro e Guedes promovem desemprego, rebaixam salários, retiram direitos,

destroem o meio ambiente (em dez meses, tivemos Brumadinho, Amazônia em chamas e agora o óleo no litoral nordestino), entregam o país, privatizam as estatais. Os que se opõem ao governo de Bolsonaro, Piñera, Lenín-Moreno e cia. têm dois caminhos: como navegantes, trabalhar com a estratégia da revolução socialista, dispostos à unidade para lutar, apresentando um projeto para mudar o sistema, para que os trabalhadores e o povo pobre governem em conselhos populares; ou trabalhar com a estratégia eleitoral, de manutenção e administração do sistema junto com setores supostamente progressistas ou democráticos da classe dominante, ou seja, um projeto reacionário, que revive o passado em piores condições, com menos direitos, com maior desigualdade. A proposta de frente ampla (do PT, PSOL, PDT etc.) é o projeto de governar com o 1% de ricos e manter esse sistema. Nós defendemos um projeto socialista, cujo norte é a revolução. É para este momento que os ativistas devem se preparar, de maneira independente da burguesia, munidos de um programa socialista. Uma revolução para garantir pleno emprego, salário, terra, demarcação e regularização das terras indígenas e quilombolas, nenhuma privatização, reestatização das estatais privatizadas sob controle dos trabalhadores e das comunidades nas quais elas operam. É preciso suspender o pagamento da dívida aos banqueiros e estatizar, sem indenizar, os bancos (universalizando, com esse dinheiro, a educação, a saúde pública, o saneamento básico, a moradia). Os corruptos e os corruptores devem ser presos e todos os seus bens, confiscados. Para aplicar esse programa e construir uma sociedade igualitária, justa e fraterna e preservar o meio ambiente, os trabalhadores precisam governar em conselhos populares.


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Nacional • Opinião Socialista

PARTIDO DE BOLSONARO

Racha no PSL: briga de bandidos aprofunda crise DIEGO CRUZ DA REDAÇÃO

A

crise que ameaça implodir o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos, e respingar para todos os lados, mostra muito mais do que uma briga para colocar as mãos no fundo partidário de mais de R$ 400 milhões da sigla. O arranca-rabo com direito a baixarias e trocas diárias de impropérios foi desencadeado por uma tentativa desesperada de Bolsonaro e família de se afastarem de mais um escândalo de corrupção. O estopim foi a reportagem publicada pela Folha de S.Paulo no dia 6 de outubro revelando indícios de que o laranjal do PSL em Minas Gerais irrigou não só as candidaturas do partido no estado, mas a do próprio Bolsonaro. Um depoimento à Polícia Federal e uma planilha apreendida numa

Cúpula do PSL

gráfica mostram um esquema de candidaturas laranjas que financiavam as campanhas de Bolsonaro e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. A insistência de Bolsonaro em manter o ministro, cujo assessor chegou a ser preso por conta desse esquema, já sugeria que o pre-

sidente tinha medo do que poderia aparecer e que o melhor seria abafar tudo. As novas revelações, porém, o convenceram de que a sujeira apareceria mais cedo ou mais tarde e era preciso se distanciar do PSL, restringindo a corrupção ao partido. Bolsonaro e o presidente do

QUADRILHA

FÁBRICA DE FAKE NEWS

Na porta do inferno, não há inocentes

Delegado Waldir, do PSL.

O que a imprensa vem chamando de “racha no PSL”, na verdade é uma briga de bandidos, milicianos e corruptos, por grana e para se safarem dos escândalos que já apareceram ou que vão aparecer ainda. Porém essa briga mostra ao povo a real

PSL, Luciano Bivar, começaram a trocar farpas pela imprensa. Bivar “está queimado pra caramba lá e vai queimar meu filme também”, disse Bolsonaro a jornalistas. Por coincidência, pouco tempo depois, a Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão nos endereços do chefão do PSL. A ação

provocou uma escalada na crise e no racha do partido, cujos parlamentares se dividiram em dois: os bolsonaristas e os fiéis a Bivar. Uma gravação em que Bolsonaro aparece orientando deputados a destituírem o então líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO), acirrou mais ainda os ânimos. A resposta veio em outra gravação, desta vez com a voz do próprio deputado: “Eu vou implodir o presidente, aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação dele. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades gritando o nome desse vagabundo.” A conversa foi gravada escondida e divulgada por outro deputado do PSL, Daniel Silveira, do Rio, aquele mesmo que quebrou a placa da Marielle na campanha do Witzel. Tudo “gente boa”.

cara desse governo, que se elegeu com dinheiro da corrupção, e do partido que reuniu uma verdadeira quadrilha para apoiar Bolsonaro e se eleger. É um degrau a mais na crise política, no principal partido que servia como base do

governo, o que deve dificultar ainda mais a vida de Bolsonaro no futuro. E mais ainda, o caráter de gangue do PSL dá um elemento explosivo à disputa. O Delegado Waldir pode soltar a tal gravação de Bolsonaro. Ou o deputado Daniel Silveira, ameaçado por processo no Conselho de Ética pelo próprio PSL pela gravação clandestina no gabinete de Waldir, pode cumprir a ameaça que fez: “Garanto que não estão acostumados com alguém como eu. Tenho muita coisa para foder o parlamento inteiro. Eu vou bagunçar o coreto de todo mundo, vou sacudir o Brasil.” Bolsonaro atua como um bombeiro tentando estancar o vazamento de uma represa com o dedo. Faz acordão com Toffoli para salvar o filho Flávio. Agora, tenta separar-se do partido e dos esquemas que o elegeram. Resta saber quando a água vai transbordar.

A milícia digital de Bolsonaro

Que Bolsonaro construiu sua vida política e seu patrimônio na base da corrupção, usou caixa 2 na campanha e mantém uma rede profissional para espalhar fake news pode não ser novidade para ninguém. Mas a bagunça no PSL está revelando detalhes desse esquema. Em entrevista ao UOL, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro têm funcionários para alimentar uma rede com 1.500 perfis falsos em redes

sociais, uma milícia digital para defender o governo e atacar opositores. Trata-se de gente paga dos gabinetes dos filhos de Bolsonaro e, mais ainda, funcionários que atuariam dentro do próprio Palácio do Planalto. “Os cérebros do processo estão ligados e tem gente do gabinete do Eduardo, do Carlos e do Flávio – além de um grupo que fica produzindo material lá dentro do Palácio mesmo, dentro do Palácio do Planalto”, afirmou a deputada.


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Nacional

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AUMENTO DA DESIGULDADE

Dados do IBGE mostram que você está pagando pela crise capitalista RACISMO REVELADO

ÉRIKA ANDREASSY DO ILAESE

O

Brasil, que já é um dos países mais desiguais do mundo, conseguiu ver a concentração de renda aumentar ainda mais. Segundo o IBGE, em 2018, o 1% da população mais bem remunerada recebeu cerca de 34 vezes mais que os 50% mais pobres, maior patamar desde 2012, quando o órgão passou a medir os dados. Enquanto o ganho médio do setor mais abastado foi estimado em R$ 27.744 mensais, a renda dos mais pobres ficou em R$ 820, ou seja, mais da metade da população teve rendimento menor que um salário mínimo por mês em 2018, sendo que 5% ou cerca de 10 milhões de pessoas, tiveram ingresso de apenas R$ 153 reais.

Trabalhador branco recebe salário 75% maior do que negros

Esses dados indicam de forma nítida aquilo que há muito tempo vimos denunciando. Quem paga a conta da crise capitalista é a classe trabalhadora. Não é coincidência que esse aumento da desigualdade ocorra em meio a uma enorme

taxa de desemprego e precarização cada vez maior das relações de trabalho. O Brasil possui hoje 12,6 milhões de desempregados e outros 38,8 milhões de trabalhadores no mercado informal, um recorde.

O IBGE revela ainda o abismo que separa negros e brancos no país e como o mercado de trabalho brasileiro reflete o racismo. No ano passado, os brancos recebiam, em média, R$ 2.897, enquanto pretos e pardos tinham rendimentos de R$ 1.636 e R$ 1.659 respectivamente. Isso significa que o valor recebido por um trabalhador branco foi 77% a mais do que pretos e 74% maior do salário recebido uma pessoa parda segundo os critérios de raça do IBGE.

Se é verdade que a desigualdade salarial entre homens e mulheres caiu, o rendimento dos homens c on t i nu a s e n do 2 6,9% maior que o das mulheres, sendo que no caso das mulheres negras, a combinação de racismo com machismo tem como consequência, além de índices de desemprego e desalento maiores, também os menores rendimentos, que representam pouco mais de 40% do rendimento do homem branco.

RICOS + RICOS

VAI FICAR PIOR

Reforma da Previdência vai O que dizem os dados do IBGE aumentar desigualdade A pesquisa do IBGE apurou que a participação de aposentadoria e pensão vem ganhando importância na composição do rendimento médio das famílias. Embora a maior fonte de renda ainda seja o trabalho (72,4%), o peso das aposentadorias e pensões subiu de 19,9% para 20,5% entre 2017 e 2018. Entre as famílias mais pobres esse peso é ainda maior, 28,8%. As aposentadorias e pensões, programas sociais e bolsas de estudo, por um lado, e os rendimentos não monetários, que são as aquisições que as famílias não precisaram pagar e vão desde uma doação recebida a um remédio retirado no posto de saúde, respondem por quase 60% da renda das famílias que ganham até 2 salários mínimos. São quase 25% das famílias brasileiras ou 16,5 milhões de lares

nos quais vivem 44,8 milhões de pessoas cuja renda dependem majoritariamente desses recursos. A reforma da Previdência de Bolsonaro, aprovada pelo Senado no dia 22 de outubro, deve agravar ainda mais a desigualdade, na medida em que

os mais pobres serão os mais impactados. Ao mesmo tempo, a proposta de reforma administrativa que o governo quer implementar também representa um enorme ataque, pois vai rebaixar salários, promover terceirizações e piorar os serviços à população.

Esses dados demonstram de maneira evidente quem paga a conta da crise capitalista. Aliás a pergunta é: crise para quem? Vale destacar que esses dados só podem vir a público pelo trabalho do IBGE que o governo Bolsonaro tanto crítica e ataca. Se um setor da burguesia tenta a todo custo manipular dados e informações a seu favor, para outro setor burguês que hoje está no governo, as informações sequer devem existir, como se esconder a verdade pudesse apagá-la em definitivo. Contudo, vale destacar que embora que os dados do IBGE sejam importantes, eles se baseiam principalmente na renda do trabalho e quase não levam em conta ganhos financeiros ou provenientes das grandes fortunas. Portanto, medem sobretudo as mudanças no interior da classe trabalhadora, ainda

que englobem um setor muito abastado. Nesse sentido, o relatório da Oxfam “A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras”, publicado em 2017, é mais preciso. De acordo com ele, seis bilionários brasileiros concentram uma riqueza equivalente ao patrimônio da metade mais pobre da população do país. Essa desigualdade crescente entre ricos e pobres, entre os que produzem a riqueza e os que se apropriam dela, é o que está na base das explosões sociais que tomam conta da América Latina e do mundo. É preciso seguir o exemplo do povo equatoriano e chileno e dizer não à exploração e à opressão, derrotar nas lutas e nas ruas Bolsonaro e seu projeto de semiescravidão e construir uma alternativa socialista dos trabalhadores.


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Opinião Socialista

CENTRAIS

OLHA A ONDA

Rebeliões populares sacodem o mundo DA REDAÇÃO

U

ma onda de rebeliões populares percorre o mundo. Nas últimas semanas, trabalhadores, mulheres, jovens, aposentados, indígenas e camponeses de lugares como Equador, Líbano, Hong Kong, Catalunha, Chile e Haiti saíram às ruas em protestos radicalizados, enfrentando governos e regimes e chocando-se com o sistema capitalista. Há muitas diferenças entre as manifestações e entre os motivos que levaram o povo às ruas em cada lugar. Entre as reivindicações, estão a renúncia de presidentes, a luta contra pacotes de austeridade que atacam os direitos dos trabalhadores e as lutas por liberdades democráticas e por autodeterminação. Há também traços em comum nos levantes. Existe uma

fúria contra a desigualdade, o atual produto do sistema capitalista, que aprofunda o ataque às condições de vida da classe trabalhadora e do povo, penaliza os pobres pela crise, destrói empregos, serviços públicos e meio ambiente. No Equador e no Chile, por exemplo, existe um levante contra o FMI, as privatizações e o neoliberalismo. Essas insurreições fazem a burguesia tremer e mandam um recado explícito aos governos. Também foram manifestações espontâneas em sua maioria, que atropelaram as direções tradicionais do movimento de massas. Centrais sindicais burocráticas, partidos reformistas, ex-presidentes supostamente de esquerda que não conseguiram conter a explosão do movimento. Por outro lado, há uma resposta brutal dos governos de plantão. Eles lançaram uma violenta repressão contra os

protestos, o que resultou em prisão e mortes. Porém, diferentemente dos levantes que precederam o boom das matérias-primas e os governos de colaboração de classes na América Latina, o movimento de massas está enfrentando a repressão. Isso está ocorrendo também em Hong Kong, em Barcelona, no Líbano. Muito distante de uma onda reacionária, essas insurreições indicam um aprofundamento da polarização da luta de classes na América Latina e no mundo, que se choca com os planos de ajuste dos governos. São ensaios. É preciso preparar-se para novas insurreições e construir um programa e uma ferramenta que possa levar esse processo em direção à superação desse sistema falido, à uma revolução socialista. Nas páginas a seguir, vamos analisar alguns desses protestos.

Hong Kong.

CHILE

Rebelião popular contra 30 anos de neoliberalismo O Chile é, sem dúvida, um dos processos mais avançados da América Latina. O país vive um levante popular desde o dia 18 de outubro, quando o governo anunciou um aumento de 30 pesos na passagem dos ônibus e do metrô de Santiago, capital do país, cerca de 4 centavos de dólar. Um valor irrisório, se não fosse só a ponta do iceberg (leia ao lado). Protestos foram convocados para as estações de metrô, mas o governo enviou tropas para reprimir e fechou muitas delas. Isso gerou mobilizações espontâneas em várias partes da cidade e começaram os protestos e os confrontos com a polícia. Barricadas foram levantadas, e a polícia não conseguiu mais controlar as manifestações.

O governo de Sabastian Piñera decretou estado de emergência, colocou tropas do exército na rua e impôs toque de recolher para reprimir os protestos. Porém a resposta do governo corrupto e empresarial aumentou a fúria

popular. A intervenção das Forças Armadas jogou ainda mais lenha na fogueira, pois há uma enorme raiva contra as Forças Armadas em razão da ditadura Pinochet – que deixou milhares de torturados, assassinados e de-

saparecidos. A maioria dos militares envolvidos nesses casos nunca foi punida. Os protestos seguiram ainda mais radicalizados. Edifícios do McDonald’s, supermercados, estações de metrô e o prédio da Enel (empre-

sa de energia privatizada) e do principal jornal burguês do país, El Mercurio, foram incendiados. A luta já havia se expandido para outras cidades. Em Valparaíso, o povo foi às ruas, e o Sindicato dos Estivadores Portuários enviou um comunicado chamando a organização de uma greve geral para derrubar os ajustes de Piñera. Depois foi a vez dos operários mineiros. Trabalhadores da maior mina privada do Chile, a Mina Escondida, paralisaram suas atividades e chamaram a greve geral. Depois de três dias do estado de emergência, com militares nas ruas e 15 mortos, o governo foi obrigado a revogar o aumento da passagem. Contudo, os protestos continuavam até o fechamento desta edição.


Opinião Socialista

ESPECIAL

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PRIVATIZAÇÕES

Bolsonaro quer entregar Petrobras aos amigos de Trump: não vamos deixar! NAZARENO GODEIRO DO ILAESE

meio ambiente, impedir crimes como o de Brumadinho (MG) e do óleo nas praias do Nordeste e impedir a corrupção.

A

privatização da Petrobras é parte de um grande projeto de privatização de outras estatais valiosíssimas, como Eletrobrás, Casa da Moeda, Correios, empresas de água, luz e saneamento básico, entre outras. É preciso lutar contra as privatizações, a entrega do patrimônio nacional aos amigos de Trump por Bolsonaro. É necessário reestatizar as estatais que foram privatizadas, como a Vale

por exemplo. É preciso também colocar essas empresas sob controle dos trabalhadores e das co-

munidades nas quais elas operam. Essa é a única maneira de defender a soberania do país e o

PRIVATIZAR A PETROBRAS É ROUBO A privatização de Petrobras é o caminho para roubar toda riqueza recém-descoberta. O Brasil é rico em petróleo, é o segundo maior produtor de energia hidrelétrica do mundo, possui a maior reserva de água doce do planeta e tem grandes reservas de minério. É também o maior produtor de biocombustíveis.

É o conjunto dessa riqueza, estratégica para o futuro imediato, que está levando os Estados Unidos (junto com França, Alemanha e Japão) a acelerar o saque e a pilhagem, isto é, a recolonização do Brasil. Essa grande descoberta de petróleo foi realizada pela Petrobras, com tecnologia desenvolvida no Brasil, para extrair óleo a 7 mil metros de profundidade. Só foi possível com investimentos bilionários feitos pelo Estado brasileiro, o que tornou a Petrobras a empresa mais eficiente do mundo em águas profundas.

PAPEL

A riqueza da Petrobras e o desenvolvimento do Brasil No pré-sal brasileiro, há cerca de 200 bilhões de barris de óleo, tornando o país a terceira maior reserva do mundo, depois da Venezuela e da Arábia Saudita. INVESTIMENTOS ANUAIS DA PETROBRAS ENTRE 1965 E 2018 EM BILHÕES DE DÓLARES, ATUALIZADOS PARA 2018

RESERVAS MUNDIAIS DE PETRÓLEO 2018

Fonte: BP Statistical Review of World Energy

60

1º Venezuela: 298,3 2º Arábia Saudita: 265,9

50

3º Brasil*: 200,0 4º Canadá: 174,3

40

5º Irã: 157,0 6º Iraque: 150,0

30

7º Kuwait: 101,5 8º Emirados Árabes: 97,8

20

9º Rússia: 93,0 10º Líbia: 48,5

10

2017

2013

2007

2001

1995

1989

1983

1977

11º Estados Unidos: 44,2 1971

três fábricas de fertilizantes e cinco unidades de produção de biodiesel. Em 2018, a Petrobras pagou R$ 182 bilhões em royalties e impostos federais, estaduais e municipais, o que representa 2,7% do PIB. Pagou R$ 32 bilhões em salários e benefícios e R$ 93 bilhões a bancos, empresários e acionistas. Exatamente por cumprir este papel de indutora do desenvolvimento industrial do país, a Petrobras foi escolhida para ser saqueada e destruída. No gráfico, ao lado é possível ver a queda dos investimentos na empresa. De uma média anual de US$ 50 bilhões em investimentos, caiu para US$ 13 bilhões em 2018. Isso levou à estagnação e à depressão da indústria brasileira. Na cadeia da indústria petroquímica, perderam-se 2,5 milhões de empregos nos últimos anos.

1965

A riqueza, escondida abaixo do fundo do mar, tem um valor de US$ 14 trilhões, equivalente à soma de oito anos de produção de riqueza por todos os trabalhadores brasileiros. O desenvolvimento do Brasil depende diretamente da Petrobras, já que ela sozinha é responsável por 6,5% do PIB, e o ramo do petróleo como um todo chega a 13% do PIB. A Petrobras atua na exploração e produção de petróleo e gás com 7 mil poços e 130 plataformas e sondas. Atua no transporte de combustível com 7 mil quilômetros de oleodutos e 9 mil quilômetros de gasodutos, com uma frota de 166 navios próprios e fretados, com 47 terminais de armazenamento, 14 refinarias e mais de 7 mil postos de abastecimento. Tem 23 unidades de processamento de gás e 20 usinas termelétricas. Participa em cinco empresas petroquímicas, tem

*Estudos científicos realizados pelos professores da UERJ, em 2015, verificaram que existem cerca de 200 bilhões de barris recuperáveis no pré-sal brasileiro.


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ESPECIAL O TAMANHO DA ENTREGA

“O maior programa de privatização do mundo”

C

om essa frase, reproduzida no jornal O Estado de S. Paulo de 23 de agosto de 2019, Salim Mattar, o secretário de privatizações do governo Bolsonaro, expôs as intenções do seu governo: “Temos ainda 130 estatais a vender. Já vendemos este ano seis: Pasadena, Distribuidora do Paraguai, TAG, BR Distribuidora, Stratu e BBTur.” Segundo o Bradesco, banco interessado no negócio, as privatizações podem render R$ 500 bilhões, dos quais R$ 220 bilhões “podem ser levantados nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro”. Eles querem privatizar, além da Petrobras, a Eletrobrás, os Correios, empresas de água e luz, entre outras.

O QUE JÁ FOI VENDIDO Para alcançar valores tão estratosféricos, o governo tem que arrancar com a privatização da Petrobras e subsidiárias. A tabela abaixo mostra o que já foi vendido e o que está proposto para venda. Todas estas vendas de ativos são feitas sem licitação, a maioria delas adquiridas por multinacionais a preço desprezível. Por exemplo, a venda da NTS (gasodutos do Sudeste, com 2 mil quilômetros) e da TAG (gasodutos do Norte-Nordeste, com 4,5 mil quilômetros) rendeu ao governo R$ 39 bilhões. Agora, a Petrobras pagará mais de R$ 5 bilhões por ano de aluguel desses gasodutos, sem falar que o lucro líquido dessas empresas, em três ou quatro anos, vai cobrir o

valor pago pelas multinacionais Brookfield e Engie. O controle da BR Distribuidora, que detém 40% do mercado de combustíveis do Brasil, com mais de 7 mil postos e faturamento de R$ 100 bilhões por ano, foi vendido por R$ 8,6 bilhões a investidores estrangeiros. Porém a BR Distribuidora lucrou R$ 3,2 bilhões em 2018, ou seja, em menos de três anos, os compradores da empresa receberão o total investido na sua compra. Com isso, dominarão o terceiro maior mercado de combustíveis do mundo. Em 10 de outubro, na 16ª rodada de licitações, foram leiloados grandes blocos na Bacia de Campos. Chevron, BP e Repsol e outras, pagaram R$ 8,9 bilhões, isto é, 2% do valor real dos campos de petróleo.

O QUE JÁ FOI VENDIDO POR TEMER E BOLSONARO BR Distribuidora Transportadora Associada de Gás (TAG) Nova Transportadora do Sudeste (NTS) Petroquímica Suape (PE) Usina de Biocombustível Belém Bioenergia Brasil (AM) Usina de Biocombustível Guarani (sete plantas em SP e uma na África) Termelétricas Celso Furtado e Rômulo Almeida (BA) Participações em campos do pré-sal: Carcará, Tartaruga Verde, Iara e Lapa 34 campos terrestres 10 concessões nas Bacias de Campos e Santos 7 sondas de perfuração

QUEREM VENDER TUDO

Crime com data marcada Outro grande crime contra o patrimônio nacional está sendo preparado para 9 de novembro. O governo pretende leiloar áreas descobertas pela Petrobras, com garantia de existência de petróleo, na Cessão Onerosa, áreas de Atapu, Búzios, Itapu e Sépia, com reservas estimadas em 21 bilhões de barris, com valor estimado em R$ 6 trilhões, em que arrecadará R$ 106 bilhões segundo o governo. Mais uma vez, toda nossa riqueza será alienada ao capital internacional por 1,7% do valor real. Hoje, as multinacionais do petróleo detêm 27% da produção de petróleo no Brasil. Com os cinco leilões realizados desde 2013, a Petrobras ficou com 41% do total de volume recuperável de petróleo, enquanto as multinacionais ficaram com 59% de toda a riqueza do pré-sal.

Portanto, já se leiloou cerca de 30% das reservas do pré-sal, alienou-se o controle da distribuição de combustíveis com a venda da BR Distribuidora. Isso significa que a Petrobras poderá transformar-se numa empresa média, subsidiária das grandes multinacionais petrolíferas, fornecedora de óleo cru aos países imperialistas. O objetivo é transformar a Petrobras de empresa que hoje integra todo o circuito produtivo do petróleo (a exploração, o refino e a comercialização) numa empresa exportadora de óleo cru e importadora de derivados. Bolsonaro quer concluir esse processo vendendo refinarias, campos de petróleo e entre 60% e 70% de toda a riqueza do pré-sal brasileiro, em que as multinacionais paga-

rão cerca de 1% ou 2% do valor desses campos. Fica óbvio quem manda neste governo: banqueiros nacionais e internacionais, o cartel do petróleo internacional, comandado pelos Estados Unidos e suas multinacionais. Tudo isso foi validado pelo STF, que autorizou a venda de ativos da Petrobras sem licitação nem discussão em nenhum parlamento ou com a sociedade. Contudo, 70% da população brasileira estão contra a privatização da Petrobras, e 78% são contra a participação de capital estrangeiro na Petrobras segundo pesquisa do Datafolha. Essa é a vontade da maioria da população brasileira, que deve prevalecer e ser imposta a partir de uma ampla campanha de mobilização de todo o povo brasileiro.

O QUE ESTÁ SENDO PRIVATIZADO 8 refinarias, que representam a metade da capacidade das refinarias brasileiras 2.226 quilômetros de dutos 13 terminais 70 campos de petróleo em mar e em terra Fábricas de fertilizantes da Araucária Nitrogenados (PR) e da UFN-III (MS) Liquigás Usinas de biocombustíveis de Candeias (BA) e Montes Claros (MG) Termelétrica do Amazonas Grandes áreas da Cessão Onerosa, no pré-sal, de Atapu, Búzios, Itapu e Sépia Áreas do pré-sal da Bacia de Campos, Santos e novas descobertas no litoral do Nordeste, em especial em Sergipe e Alagoas.


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ESPECIAL

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FAKE NEWS

As mentiras de Bolsonaro para privatizar a Petrobras O

presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, disse no relatório anual de 2018 que a empresa está “muito aquém do desejável” e que “opera com prejuízo até que consiga remunerar o capital empregado em suas operações”. Trocando em miúdos, o governo diz que a Petrobras tem custos elevados e baixa produtividade. É mais fake news de Bolsonaro. A Petrobras é a empresa mais rentável de todas as petroleiras, a que mais cresce nos últimos sete anos e que tem a maior taxa de lucro entre todas. Dentre as sete principais empresas, a Petrobras tem a maior taxa de lucro, com o dobro ou o triplo da taxa de lucro das grandes multinacionais do petróleo (veja gráfico). Isso quer dizer que a Petrobras é uma forte concorrente das multinacionais e poderia

TAXA DE LUCRO DAS PETROLEIRAS 60%

51,3%

50% 40%

42,3%

40,1% 28,3%

30%

26,4%

27,3%

2013

2014

45,7%

20% 10% 2012

ExxonMobil Chevron

tomar parte considerável do mercado mundial dessas empresas. Além dos altos índices de rentabilidade, a Petrobras tem cerca de R$ 100 bilhões de lucro bruto todo ano e tem um custo médio de extração de petróleo de US$ 10,70 por

Shell BP

2015 Equinor Total

2016

2017

PETROBRAS

barril, enquanto as petrolíferas extraem com valor médio de US$ 15 o barril. Fica óbvio que o governo Bolsonaro faz mais uma campanha de fake news para entregar a Petrobras ao seu ídolo Donald Trump.

2018

Fontes: AEPET

Outra fake news usada para vender toda a distribuição e o refino da Petrobras é de que tem que vender logo a riqueza do pré-sal, pois dentro de pouco tempo o petróleo deixará de ter importância, ultrapassado pelas novas alternativas de energia renová-

vel. Além disso, o presidente da Petrobras disse que a exploração, produção e exportação de óleo cru é mais lucrativa que o setor de refino e comercialização de combustíveis. Essa visão é falsa porque o petróleo e seus derivados ainda são a principal fonte de energia da humanidade, e esse quadro vai se manter nos próximos 50 anos. Por outro lado, o grosso do lucro da Petrobras e das grandes empresas não se origina na exploração e produção de óleo e sim no refino e na comercialização dos combustíveis. É por isso que a Petrobras está sendo esquartejada, porque é uma grande concorrente das multinacionais e poderia tomar o mercado de todas as seis grandes empresas multinacionais. Por isso ela não pode sobreviver. Bolsonaro atua como capataz do cartel internacional do petróleo, dominado pelos Estados Unidos.

PETROLEIROS

Trabalhadores produzem a riqueza da Petrobras Um trabalhador da Petrobras somente rendeu, em 2018, mais de R$ 2,6 milhões. Em 2018, esse mesmo trabalhador, numa jornada de oito horas, trabalhou de graça para a Petrobras 5 horas e 48 minutos. Tamanha produtividade ocorre mesmo depois da enorme onda de demissões que se abateu sobre a categoria. Entre 2013 e 2019, foram demitidos 23.012 trabalhadores diretos (27% dos funcionários) e 248 mil terceirizados (69% da mão de obra terceirizada). No total, foram demitidos 270 mil funcionários, o que corresponde a 60% da mão de obra da empresa. Nenhuma empresa do mundo sofreu um ataque tão violento. Esta exploração e ataque aos petroleiros diretos e ter-

ceirizados matou, em acidente de trabalho, mais de um petroleiro por mês. Entre 1995 e 2018, morreram 357 operários em acidentes de trabalho nas instalações da Petrobras. Mesmo diante dessa assombrosa situação, a direção da Petrobras quer cortar direitos dos trabalhadores, dizendo que representam um alto custo para a empresa.

RIQUEZA VAI PARA AS MÃOS DE ESTRANGEIROS Nos últimos anos, a Petrobras foi semiprivatizada e semidesnacionalizada. Os donos da Petrobras hoje são grandes acionistas privados, a maioria estrangeiros (57% do total do capital social). A União detém apenas 43%. Os grandes acio-

nistas são o BNY Mellon, BNP Paribas, Credit Suisse, Citibank, HSBC, JP Morgan, Santander e BlackRock (associado com o Barclays). Os maiores bancos dos Estados Unidos (Bank of America, JP Morgan Chase, Citigroup) e da Europa (Deutsche Bank, BNP e Barclays) são donos das quatro grandes petroleiras: Exxon-Mobil, Royal Dutch Shell, BP e Chevron. Por sua vez, esses grandes bancos e petroleiras são controlados pelas famílias Rockfeller e Rothschild. São as duas famílias mais ricas do capitalismo mundial. Por meio dos grandes acionistas estrangeiros da Petrobras, essas duas famílias estão controlando não só o petróleo brasileiro: estão também dominando a Petrobras.


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ESPECIAL BALANÇO

O resultado das privatizações no Brasil

O

governo Bolsonaro diz que a privatização das estatais vai equilibrar as contas, pagar a dívida pública e, com isso, os preços dos produtos baixarão. Essas mesmas ideias foram usadas por Collor e FHC para privatizar as estatais entre 1990 e 2000. Foram privatizadas siderúrgicas, empresas telefônicas, elétricas, de mineração, aviação civil, comercial e de defesa, empresas ferroviárias e bancos estaduais. A venda de todas essas empresas rendeu US$ 88 bilhões. É tão evidente a mentira dessas privatizações, que só o lucro da Vale entre 2000 e 2017 (US$ 86 bilhões) se equiparou ao total arrecadado. Quanto à dívida, que era de R$ 300 bilhões, converteu-se

em R$ 6 trilhões em 2019, depois de o país ter pago R$ 4,7 trilhões entre 1994 e 2018. Os

preços dos produtos não baixaram, e os monopólios estatais se transformaram em mono-

OPÇÃO IMPERIALISTA

PT também privatizou Com a descoberta do pré-sal em 2008, Lula poderia ter optado por recuperar a Petrobras para um controle 100% estatal. Essa era a única forma de utilizar a maior descoberta de petróleo do século para reconstruir a indústria brasileira. Porém ele optou por explorar o pré-sal em associação com o cartel internacional do petróleo no regime de partilha. Apesar de deixar 30% a 40% da renda petroleira no Brasil, esse regime permite que a maior parte da riqueza do pré-sal seja adquirida por estrangeiros, como ocorreu com o leilão de Libra, realizado por Dilma em 2013. Na ocasião, 40% ficou com a Petrobras e 60% com as multinacionais. Foi também com Dilma que se iniciaram os piores ataques à Petrobras, como a demissão de 60% dos trabalhadores da empresa. Houve diminuição drástica dos investimentos, e a venda

de ativos iniciou em 2015, no Plano de Negócios 2015-2019, confeccionado por Graça Foster e aplicado por Aldemir Bendini, que previa vender ativos além de cortar direitos dos trabalhadores. Entre 2013 e 2016, a Petrobras, sob a direção do PT, se desfez de ativos (desinvestimento) no valor de R$ 34 bilhões. Esse plano, inclusive, previa regular o preço dos combustíveis pelo preço do petróleo no mercado internacional, orientação mantida por Temer e Bolsonaro. Ao optar por gerir a Petrobras sem recuperar o monopólio esta-

tal do petróleo, o PT resolveu explorar o pré-sal em aliança com os Estados Unidos. Essa decisão levou, naturalmente, à perda da soberania nacional e ao enfrentamento com os trabalhadores petroleiros. Isso ficou evidente no final de 2015, quando o plano esboçava a transformação da Petrobras em empresa que apenas exportaria óleo cru. Essa decisão resultou na suspensão da construção das refinarias do Ceará e do Maranhão e na paralisação das obras do Comperj e da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

pólios privados que determinam o preço dos produtos ao seu bel prazer.

Além disso, as privatizações resultaram em demissão em massa e precarização das condições de trabalho via terceirizações. E o pior: privatização foi sinal de desnacionalização da economia brasileira, já que cerca de 60% está dominada por multinacionais. As privatizações orientaram a economia do país para o retorno colonial do Brasil a produtor de alimentos, matérias-primas e energia para a exportação e a destruição da indústria brasileira. A privatização aprofundou a destruição do meio ambiente, na medida em que as empresas privadas se interessam apenas pelo lucro, sem ligar para a destruição ambiental. O maior exemplo é a ruptura das barragens da Vale em Mariana (MG) e Brumadinho (MG).

TODOS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO

Apoiar a luta dos petroleiros Nos próximos dias, os petroleiros do Brasil estarão mobilizados em defesa dos seus direitos e contra a privatização da Petrobras. Todo o povo brasileiro deve aproveitar para levar o apoio e a solidariedade a essa luta, porque é uma luta de todos, em especial da classe trabalhadora. Os petroleiros sozinhos não têm como vencer a burguesia e o imperialismo. A Petrobras 100% estatal é vital para o Brasil alcançar a recuperação. Assim, permitirá contratar centenas de milhares de

trabalhadores de forma direta, com todos os direitos. Toda a classe trabalhadora brasileira deve aproveitar a greve e a mobilização dos petroleiros para iniciar uma grande campanha de mobilização em defesa da Petrobras e das suas riquezas. Só a classe trabalhadora pode salvar o país. Vamos organizar nossa classe para lutar por um governo socialista dos trabalhadores, para governar de forma direta, em conselhos populares.


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CENTRAIS

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PONTA DO ICEBERG

O suposto oásis de modernidade e estabilidade da América Latina DAVID ESPINOSA DE SANTIAGO (CHILE)

OUTRA SOCIEDADE

O

Chile foi sempre vendido como um exemplo de modernidade e estabilidade social. Foi um dos laboratórios do que se conhece como neoliberalismo. Na ditadura de Pinochet, todo o plano econômico dos neoliberais foi implementado desde fins da década de 1970. A maioria dos serviços públicos foi privatizada. As universidades públicas são todas pagas. No Chile, uma mensalidade numa universidade pública pode custar mais do que numa universidade privada. Os salários das famílias são muito baixos, mais de 50% da população vive com menos de um salário mínimo. A maioria não tem dinheiro para pagar as mensalidades. Isso gerou um enorme endividamento dos estudantes e de suas famílias. A saúde pública também é paga. Não existe um SUS, e os hospitais públicos são caóticos, todos os anos morrem milhares de pessoas nas filas de espera. Quem tem dinheiro para pagar um plano de saúde privado acaba comprometendo grande parte de sua renda nisso. Os direitos trabalhistas foram destruídos pela ditadura. A jornada de trabalho é de 45 horas, as férias são de 15 dias, os trabalhadores têm meia hora de almoço. A maioria dos sindicatos não têm nenhum poder de negociação, já que dentro de uma mesma empresa é permitida a existência de muitos sindicatos do mesmo setor (dentro de uma mina, por exemplo, podem existir 20 ou 30 sindicatos). O governo Bolsonaro quer fazer o mesmo no Brasil com o PL 171. O resultado é que os patrões fazem o que querem, pois enfraquece a possibilidade de reação dos trabalhadores. Uma das heranças mais nefastas da ditadura é o sistema de aposentadorias. Todo o sistema é privado. A aposentado-

Capitalismo não serve mais

ria dos trabalhadores é administrada pelas Administradoras dos Fundos de Pensão (AFPs). São empresas privadas que utilizam a enorme quantidade de recursos que é descontada todos os meses dos salários dos trabalhadores para lucrar. O dinheiro das aposentadorias é utilizado para financiar os negócios dos próprios empresários, comprar ações de empresas etc. Os próprios donos das AFPs, que também são donos de muitas outras empresas, bancos, seguradoras, etc., utilizam esse dinheiro para financiar, com baixíssimas taxas de juros, seus outros negócios. É uma mina de ouro. Esse é o modelo de capitalização individual que Bolsonaro

e Paulo Guedes quiseram implementar já com essa reforma da Previdência no Brasil. Trata-se de destruir o sistema público (INSS) para que as empresas privadas administrem o dinheiro acumulado pelos trabalhadores. A lógica das AFPs é nefasta. Essa enorme soma de recursos é investida no mercado. Se há ganhos, isso fica para os acionistas das AFPs, se há perdas, esse dinheiro é retirado da aposentadoria dos trabalhadores. E o pior, a maioria dos trabalhadores se aposenta com menos de 30% do que recebia antes. Isso explica, em grande parte, o enorme aumento do número de suicídios de idosos na última década. Nos últimos anos, milhões de

chilenos saíram às ruas contra as AFPs, defendendo a volta de um sistema público de aposentadorias. A resposta dos governos (reformistas de “esquerda” e de direita) foi fazer promessas e não mudar nenhuma vírgula. Nas principais empresas do país, a exploração é brutal. O Chile é o maior produtor de cobre do mundo. Os mineiros, com um longo histórico de lutas, e suas famílias, sofrem todos os dias as consequências mais nefastas da mineração – doenças pulmonares (como a silicose), doenças musculares, psicológicas etc. Muitos mineiros trabalham longe de suas casas, em turnos de 10/10 (10 dias de trabalho, 10 de descanso), o que os leva a ter uma dinâmica familiar muito difícil e penosa. A situação do principal povo originário, os mapuches, é dramática. Há séculos esse povo resiste às ofensivas dos empresários e do Estado para tomar suas terras, que se concentram principalmente na região sul (a mais fértil) do país. Há séculos há uma verdadeira guerra contra os mapuches. Como se vê, o aumento da passagem foi apenas a faísca que incendiou o país. Na verdade, a explosão do vulcão social chileno mostrou que esse sistema não serve mais.

“Já está claro que as mobilizações não são apenas pelos de 30 pesos da passagem, é sobre a superlotação nos hospitais, sobre os milhares de mortos enquanto estão em listas de espera, sobre o aumento da luz, sobre aposentadoria indigna. Claramente essa sociedade capitalista não serve mais”, diz a nota do Movimento de Esquerda dos Trabalhadores (MIT, na sigla em espanhol), organização irmã do PSTU, filiada à LIT-QI. O MIT defende a formação de assembleias populares para organizar as lutas nos locais de moradias e de trabalho para preparar e garantir uma greve geral. O movimento chama o “Fora Piñera” e exige a saída imediata dos militares das ruas. Também chama os soldados a romperem com seus comandantes e a se juntarem à rebelião popular. “Precisamos organizar um caminho para conquistar uma sociedade oposta ao capitalista decadente. Os empresários têm seus partidos para organizar e atacar nossos direitos. Os trabalhadores precisam de uma organização igual ou superior. Para isso, precisamos construir um partido que tenha um projeto de sociedade, e esse que projeto seja ordenado pela necessidade de uma revolução socialista que coloque a classe trabalhadora e operária no poder.”


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CENTRAIS

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NO MEIO DA REBELIÃO

“O inimigo perigoso de Piñera é o povo na rua” DAVID ESPINOSA DE SANTIAGO (CHILE)

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o domingo, 20 de outubro, à noite, a rebelião popular já tomava quase todas as cidades. O presidente Sebastián Piñera, disse em seu discurso: “estamos [suponho que o governo e os empresários] em guerra contra um inimigo poderoso, que está disposto a usar a violência sem nenhum limite.” Acertou. O inimigo é perigoso, é o povo revoltado. Também no domingo à noite, as federações e sindicatos mineiros das principais minas do país anunciavam a intenção de entrar em greve. O Chile é um país mineiro, o maior produtor de cobre do mundo. Sem cobre, grande parte da economia não se move, não há dinheiro para o governo nem para as Forças Armadas, já que a maior parte dos recursos dos militares vem da estatal Codelco. A entrada dos mineiros pode mudar o cenário. A rebelião social urbana pode ser combatida com polícia e exército, mas como obrigar os mineiros, que produzem a maior riqueza do país, a trabalharem?

SEGUNDA-FEIRA (21 DE OUTUBRO) Em Santiago, a segunda-feira amanheceu relativamente pacífica, em clima de feriado. Muitas lojas e empresas ficaram fechadas, e os poucos supermercados abertos tinham filas e entrada controlada pela polícia. Os protestos começaram ao meio-dia. Milhares de pessoas se aglomeraram nas estações de metrô das periferias para ir ao centro. Às dezesseis horas, centenas de milhares de pessoas já se concentravam nas duas praças. Nas ruas em volta à Plaza Italia, vários grupos enfrentavam a polícia. Nessas enormes manifestações, as bandeiras de organizações políticas são minoria. Há muitas pessoas com cartazes.

Paralisação de trabalhadores portuários no Chile.

O “Fora Piñera” já é de massas. Outro cântico divertido e que agita a multidão é o “El que no salta es paco!” (Quem não pula é policial). Durante a enorme manifestação da Plaza Italia, um grupo de mais de 2 mil manifestantes se dirigiu à parte rica da cidade. Muitas batucadas, grupos musicais, famílias, crianças. Isso não significa que não houve bombas de gás lacrimogênio, jatos de água etc. O toque de recolher chegou às vinte horas. Após as

vinte horas, os militares começaram a repressão em todos os lugares em que havia concentração, mandando as pessoas para casa. Os conflitos duraram algumas horas antes de as pessoas dispersarem. No resto do país, os conflitos continuaram. Milhares de jovens enfrentaram a polícia durante todo o dia e, em algumas cidades, o exército. Em Valparaíso e em outras 20 cidades, os portuários entraram em greve contra o estado de emergência. No ano passado, os portuários de Valparaíso protagonizaram uma das mais importantes greves do país, com grandes enfrentamentos com a polícia. Alguns setores de caminhoneiros também pararam. Aqui, o gás lacrimogênio não vem só das bombas, mas também misturado com a água que jorra dos Guanacos, como são chamados de modo popular os tanques lança-águas. Guanaco é o nome de uma espécie de lhama que vive nos Andes e cospe nas pessoas quando estas se aproximam, daí o nome. A noite foi violenta, em especial na periferia. Longe da multidão, a polícia e os militares matam, atropelam e espancam pessoas que andam pelas ruas. Na segunda-feira, já eram 15 mortos, 4 oficialmente reconhecidos como assassinados pela polícia ou por militares. São 2.643 presos, várias denúncias de abuso sexual e centenas de feridos. Em sua declaração, o governo teve de mudar seu discurso. Já não falou mais em “guerra”, mas em ser duro contra os delinquentes. O inimigo perigoso de Piñera é o povo na rua. O governo chama todos os partidos a fazer um grande pacto nacional. O Parlamento aprovou a diminuição do preço da passagem em regime de urgência. Ninguém comemorava. As pessoas nem se lembravam que o Parlamento existia e que a luta tinha iniciado pelo preço da passagem.


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CENTRAIS

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EQUADOR

Dez dias de rebelião popular F

oram dez dias de insurreição heroica do povo equatoriano, liderada pelo movimento indígena e pelos camponeses. A fagulha que fez estourar a rebelião foi um decreto do governo de Lenín Moreno que eliminou o subsídio da gasolina e do diesel como parte de uma série de exigências do FMI para receber um empréstimo. Todas as rodovias foram bloqueadas. O movimento indígena tomou as províncias de Napo, Bolívar, Tungurahua, Chimborazo, Pastaza, Morona Santiago e Cañar. A produção do petróleo foi paralisada e houve uma crise de abastecimento. Os jovens se uniram à revolta. Os bairros promoveram panelaços noturnos que, em muitos casos, foram acompanhados de grandes mobilizações. O auge dos protestos foi no dia 12 de outubro, quando uma multidão tomou a Casa de Cultura Equatoriana e desafiou o toque de recolher. No dia 14 de outubro, o governo foi obrigado a recuar e revogou a medida. A repressão foi brutal e resultou em sete mor-

tos, mais de mil feridos, mais de 1.200 presos políticos. Apesar da total militarização e repressão nas principais cidades, do estado de exceção e do toque de recolher, a luta conseguiu conquistar sua reivindicação. Esse riquíssimo processo dirigido pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), no qual os traba-

lhadores das cidades se uniram de forma espontânea, clamava por muito mais, incluindo o “Fora Lenín Moreno e o FMI”. Apesar disso, a Conaie estabeleceu desde o início apenas dois objetivos: derrotar o decreto dos combustíveis e destituir os ministros responsáveis pela brutal repressão policial. Outro aspecto que impossi-

CATALUNHA

bilitou a queda do governo foi a falta de unidade dos diferentes setores em luta. O Movimento ao Socialismo (MAS), partido irmão do PSTU, insistiu na necessidade de unir o movimento indígena com o movimento sindical e popular no Parlamento dos Povos, mas isso não se concretizou. As direções majoritárias do movimento sindical desempenharam

um papel nefasto ao não organizar suas bases para entrar na luta, e foram totalmente superadas por isso. A maioria dos trabalhadores se organizaram por si nos bairros para lutar. Da mesma forma, Jaime Vargas, presidente da Conaie, expressou de forma explítica na mesa de negociação qual é a estratégia da organização. Os irmãos indígenas buscam espaços com relativa autonomia para as nacionalidades indígenas dentro do Estado. Isso deve ser apoiado, mas garantir essa conquista dentro do capitalismo é impossível. A vitória da insurreição popular debilitou o governo. Uma situação revolucionária se abriu no país. Derrotado nas ruas e com um Estado com altíssimo grau de endividamento (46% do PIB), o governo buscará outras medidas para aplicar o tarifaço e a reforma trabalhista, exigências do FMI. Porém o povo vai se manter vigilante sobre os ataques e precisa saber que continua colocada a necessidade de derrubar o atual governo repressivo e criminoso do FMI.

LÍBANO

Liberdade dos presos políticos Não é só pelo e direito à autodeterminação WhatsApp Há anos que o Estado Espanhol e o regime monárquico têm reprimido todas as formas de resistência e dissidência contra qualquer discurso social, político ou cultural que os questione. Nos últimos anos, o povo catalão esteve no centro das atenções dessa repressão, pois a luta pelo direito à autodeterminação e o referendo de 1° de outubro de 2017 questionaram a integridade do regime do Estado Espanhol. Nove líderes separatistas da Catalunha foram condenados, no último dia 14, a penas de 9 a 13 anos de prisão. Em setembro, sete militantes separatistas foram presos e acusados sem nenhuma base

jurídica de serem membros de um grupo terrorista. O crescimento da repressão promovida pelo Estado também resultou no fechamento de sites, inspeções policiais contínuas e confisco de materiais. A prisão de líderes catalães independentistas motivou atos

de protestos em todo o país. A repressão foi brutal, e centenas de ativistas foram presos. A onda de manifestações chegou ao quinto dia com greve geral e manifestação unificada em Barcelona exigindo a liberdade dos presos políticos catalães e o direito à autodeterminação.

No dia 22 de outubro, os libaneses realizaram uma greve geral contra as medidas econômicas impostas pelo governo. A faísca que detonou a rebelião foi a cobrança de uma taxa sobre o uso do WhatsApp, que serviria para o governo pagar sua imensa dívida pública. No pacotão de ataques do primeiro-ministro Saah Hariri, havia ainda a diminuição dos salários de funcionários públicos e a privatização de setores estratégicos da economia, como telecomunicações e eletricidade. Pelo menos 25% da população vive abaixo da linha da pobreza.

Um tremendo mal-estar acumulado por anos veio à tona. A partir do dia 17, o país foi tomado protestos diários. Aos gritos de “revolução” e “o povo quer a queda do regime”, milhares pessoas invadiram o centro da capital Beirute. Todos na rua, não importa a religião, exigindo o fim do atual governo. Há anos o país é administrado com a partilha do Estado pelas diferentes facções religiosas. O saque corrupto dos recursos financeiros estatais pelos grupos religiosos e a altíssima dívida fez com que o governo jogasse a crise sobre o povo.


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POLÊMICA

Frente Ampla ou Frente Única Classista? BERNARDO CERDEIRA DE SÃO PAILO

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esde o início do governo Bolsonaro, diversos setores de esquerda vêm propondo uma frente ampla em defesa do estado de direito. A ideia dessa frente é a de uma aliança de classes entre partidos de esquerda reformistas, organizações do movimento sindical e popular e setores ditos progressistas da burguesia. Essa frente ampla não esconde que prepara uma aliança eleitoral para 2020, com o objetivo de transformar-se depois na tentativa de retomar o governo do país em 2022 e repetir, de forma maquiada, os governos do PT em aliança com partidos de direita. Não é à toa que o programa dessa frente é a defesa do estado de direito, isto é, a defesa do Estado burguês com algumas reformas que, na teoria, promovam uma melhor distribuição de renda. É um programa aceitável por esses setores burgueses progressistas. A maioria das pessoas se perguntará: o que tem isso de mal? Não seria um avanço ter uma melhor distribuição de renda, principalmente na situação atual de desemprego, ataques do governo aos nossos direitos democráticos e trabalhistas e queda da renda média das famílias? O problema é que esses governos não resolvem a penúria da classe trabalhadora e do povo pobre. O sistema capitalista não pode permitir uma distribuição de renda sustentável. Como é um sistema baseado na necessidade de taxas de lucro crescentes, obriga a burguesia a concentrar capitais para sobreviver à concorrência. Isso só se faz à custa de uma exploração cada vez maior dos trabalhadores. Por isso, todas as reformas não duram muito. Logo são atacadas, enfraquecidas ou eliminadas. Reformas feitas pelos governos Lula e Dilma, como o Bolsa Família, o ProUni e outras, fes-

tejadas como grandes avanços, foram ou estão sendo retiradas pelos governos seguintes. Por isso, uma frente ampla com um programa reformista não resolve os problemas fundamentais dos trabalhadores e oprimidos. Muitos podem dizer ainda: e daí? Pelo menos vamos ter algumas melhoras durante algum tempo. Infelizmente, não é assim. Este período de pequenas melhorias prepara uma desgraça muito maior. Isso acontece porque as reformas só podem ser promovidas em momentos de crescimento econômico, como aconteceu durante os governos Lula. Mas o capitalismo é um sistema que sofre crises inevitáveis, chamadas cíclicas, porque é um sistema de crescimento sem controle, baseado na propriedade individual em que cada burguês concorre com os demais.

Quando a taxa de lucro cai e as crises vêm, a burguesia não só elimina as reformas, como rebaixa salários e retira todos os direitos para poder elevar seus lucros quando a economia voltar a crescer. Isso é o que está acontecendo agora no Brasil.

RETROCESSO NA CONSCIÊNCIA DE CLASSE Não é só pelos ataques econômicos que o quadro piora. Também pela situação política. A aliança com partidos burgueses traz as piores práticas de corrupção e degeneração do Estado burguês para os partidos de esquerda reformista e para os sindicatos. Essa corrupção provoca repúdio entre os trabalhadores e abala o crédito em suas organizações políticas e sindicais e, em última análise, em sua própria capacidade de encontrar uma saída a sua situação. Mas não só.

Os partidos oportunistas de esquerda convencem os trabalhadores a depositar confiança no setor burguês supostamente bem-intencionado. Pior ainda, os levam a acreditar que, ao votar em governos de aliança com esse setor, podem melhorar a sua situação sem precisar lutar. Essa ilusão na burguesia progressista é um veneno para a classe porque a leva a confiar nos seus maiores inimigos. Isso foi o pior crime dos governos do PT. Hoje vemos desorganização e a confusão na classe trabalhadora, que votou em Bolsonaro e não consegue superar a traição e a falta de ação das direções das centrais sindicais para derrotar a reforma da Previdência e as reformas trabalhistas.

RECONSTRUIR A CONFIANÇA DA CLASSE Isso não significa que não se possa fazer alianças pontu-

ais com setores burgueses, mas em pontos específicos, como a defesa desta ou daquela liberdade democrática ameaçada, tais como a luta contra a censura ou pela liberdade de imprensa. Porém a tarefa mais importante é reconstruir a confiança da classe trabalhadora em si mesma e em sua capacidade de luta, independente da burguesia. É preciso, mais que nunca, uma ampla unidade para lutar. Estamos totalmente a favor de uma frente, mas não uma frente ampla com setores burgueses, que condicione e amarre o movimento a um programa burguês, e sim uma frente única formada pelas organizações da classe trabalhadora e dos setores populares para lutar em defesa dos seus direitos e das liberdades democráticas.


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mural Entreguismo descarado

E nqu a nto fe ch áva mos essa edição, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estava prestes a colocar para votar na Câmara dos Deputa-

dos a entrega da base aérea de Alcântara, no Maranhão, colocando em r isco cerca de 800 famílias quilombolas que moram na região. Maia, assim descumpre um

acordo com os quilombolas e o Ministério Público para realizar uma consulta pública aos povos originários da região sobre a medida. Rodr igo Maia pisou no acordo com o MP e os quilombolas por pressão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e a bancada do Maranhão, incluindo aí, óbvio, o PCdoB. Para não restar dúvida, o próprio partido divulgou nota pública defendendo o acordo. Nela, o PCdoB afirma de forma vergonhosa que o acordo “não trata de soberania”. “É um acordo comercial que pode impulsionar o programa aeroespacial brasileiro”, diz. Não diz que, por exemplo, os EUA de Trump terão total controle sobre a área, determinando inclusive quem pode ou não entrar. O PCdoB, assim, ataca de forma brutal os povos quilombolas e trai desavergon hada mente a sobera n ia, colocando-se ao lado de Bolsonaro para ficar de joelhos a Trump.

Pau nos pobres Segundo matéria do jornal O Globo, a equipe econômica do governo estaria estudando uma forma de cobrar impostos dos trabalhadores de aplicativos de internet como Uber. Segundo o IBGE, são mais de 24,2 milhões de trabalhadores por conta própria no país, desses pelo menos 4 milhões tem como fonte de renda aplicativos. Reunidas, essas empresas são o maior empregador do Brasil, em geral grandes multinacionais que lucram bilhões se aproveitando da crise e do desemprego, oferecendo um subemprego precarizado e uma renda miserável. Ao invés de ta xa r essas g ra ndes empresa s e pro teger os t raba l hadores, a

equipe econômica de Paulo Guedes quer é taxar os traba l hadores, dá pa ra acred ita r? A ideia é enquad rá-

Farra dos cartões

Imagine você ter um cartão de crédito mágico para gastar R$ 20 mil por dia com o que quiser, sem nem prestar contas. Pois isso existe, o problema é que é só para Bolsonaro. E quem paga, somos nós. Entre fevereiro e setembro, a Presidência gastou R$ 4,6 milhões com os tais cartões corporativos. São cartões que o governo usa para cobrir os gastos rotineiros do presidente. Pense numa rotina com diárias de R$ 20 mil. Foi o

maior valor gasto desde 2014. A farra com o cartão foi tão grande que o Ministério Público pediu ao TCU (Tribunal de Contas da União) abertura de processo para investigar esses gastos. Foram mais de 2700 transações efetuadas nesse período. Como é tudo secreto, só dá para imaginar com o que Bolsonaro gastou. E você, o que acha que o presidente comprou com seu dinheiro para dar essa conta milionária?

Copa dos refugiados

-los n a c obra nç a do I mposto de Renda, pega ndo os dados do fat u ra mento com as empresas.

Nesse dia 20 ocorreu em São Paulo, no tradicional Pacaembu, a final da Copa dos Refugiados, o campeonato que reúne atletas imigrantes e que teve este ano

sua sexta edição. O campeonato reuniu 16 equipes de diferentes nacionalidades. A final rolou entre o Congo e o Níger, tendo o Congo como o grande campeão.


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VAZAMENTO

Mar de óleo e o descaso criminoso de Bolsonaro garantam seu sustento e de suas famílias. Para esses trabalhadores, é urgente a liberação do seguro-defeso – benefício que é concedido ao pescador artesanal que fica impedido de realizar a pesca em situações como essa – para que possam sobreviver. Além disso, o vazamento pode arruinar o turismo no Nordeste neste verão.

JEFERSON CHOMA DA REDAÇÃO

O

Brasil assiste a mais um grande desastre ambiental acompanhado pela total irresponsabilidade criminosa do governo Bolsonaro. Há quase 60 dias, manchas de óleo se espalham por quase toda costa do Nordeste. As primeiras reportadas foram vistas na Paraíba em 30 de agosto, nas cidades de Conde e Pitimbu. Não se sabe qual é a origem do óleo. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, maior agência de pesquisa dos oceanos, afirma não ter conseguido rastrear a mancha, pois o óleo tem mais densidade, é mais pesado. Isso significa que ele afunda e navega numa camada inferior do oceano, tornando difícil a identificação de sua origem por imagem de satélite. Já pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estimaram que o vazamento pode ter ocorrido numa região entre 600 e 700 quilômetros de distância da costa, na altura dos estados

SOS - O descaso de Bolsonaro é tamanho que voluntários pedem luvas para recolher óleo de uma praia em PE

de Sergipe e Alagoas. Desse modo, o óleo teria sido trazido à costa do Nordeste pela corrente oceânica sul-equatoriana, que se divide ao chegar na costa brasileira (ver mapa), e atingiu 77 cidades até o dia 18 de outubro. Os pesquisadores da universidade estimam também que o dia do vazamento foi por volta de 14 de junho.

IMPACTOS Além de causar um impacto ambiental enorme, afetando a fauna e a flora marítima, as manchas de óleo que atingem o litoral nordestino poderão restringir o trabalho de até 144

CORRENTE NORTE DO BRASIL CORRENTE SUL EQUATORIAL (Central)

CORRENTE SUL EQUATORIAL (Sul)

CORRENTE DO BRASIL

mil pescadores e marisqueiros dos nove estados da região. A

contaminação dos peixes impede que esses trabalhadores

TAMBORES DA SHELL Tambores de óleo com o logotipo da petroleira Shell surgiram na costa da Bahia e do Sergipe. A Marinha afirmou que não é possível concluir se tambores têm relação com a mancha de óleo. No entanto, uma análise realizada pela Universidade Federal do Sergipe concluiu que o óleo vazado dos barris encontrados no litoral do estado tem a mesma origem das manchas encontradas nas praias. Uma das hipóteses é que o vazamento do óleo tenha sido resultado da limpeza de tanques ou navios. Os tambores teriam sido utilizados para isso. Também suspeita-se das hipóteses de naufrágio, vazamento acidental e vazamento criminoso.

CRIMINOSO

Bolsonaro ignora vazamento Independentemente da origem do vazamento, assim como aconteceu com as queimadas na Amazônia, a atitude de Bolsonaro foi criminosa. A completa incapacidade de reação do governo foi tamanha que, em Sergipe, foi preciso uma determinação judicial para que fosse protegida a foz dos rios São Francisco, Sergipe, Vaza Barris, Real, entre outros. O governo sabia do vazamento desde agosto, mas nada fez. Até o dia 22 de setembro, quase 60 dias após o vazamento, o governo não havia decla-

rado situação de emergência e sequer havia acionado seu próprio plano de contenção. O Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), criado em 2013, é previsto em lei e estabelece como deveria ser a resposta do governo a esse tipo de situação. O problema é que vários órgãos que integravam o PNC foram extintos por Bolsonaro na sua cruzada contra o meio ambiente e de desmonte do Ibama. Existe também um conjunto de leis, normas e protoco-

los que o governo é obrigado a acionar em casos desse tipo, como a Lei 9.966, sobre o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo. Além disso, a maior parte das bacias nordestinas estão mapeadas, o que ajuda na identificação da sensibilidade ambiental que deve ser protegida, os recursos biológicos sensíveis ao óleo. Nada disso foi utilizado pelo governo criminoso de Bolsonaro. Havia tempo e condições para acionar essas medidas, o que reduziria os impac-

tos ambientais causados pelo vazamento e impediria que o óleo atingisse mais de dois mil quilômetros da costa. O que é ainda pior, Bolsonaro tentou tirar proveito político do desastre culpando a Venezuela, depois que análises feitas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) indicaram que o óleo poderia ser venezuelano. Contudo, é impossível que a origem do vazamento tenho sido essa. De acordo com o sentido das correntes marítimas e do regime de ventos dominantes da região nordeste, o óleo teria

que ter nadado contra a corrente para chegar até o Brasil. A extensão do desastre – que poderá aumentar nos próximos dias – é de responsabilidade total do governo. O pior é que vazamentos desse tipo poderão virar rotina se o governo conseguir privatizar o pré-sal e a Petrobras num megaleilão do petróleo (leia o Especial). Basta lembrar o caso da mineradora Vale para saber que a chamada iniciativa privada só se interessa pelo lucro e não tem nenhum compromisso com a vida e com o meio ambiente.


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