Opinião Socialista Nº573

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Nº573

De 3 a 18 de julho de 2019 Ano 22 (11) 9.4101-1917

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA: NEGOCIAÇÃO É TRAIÇÃO! ISSO É ROUBO!

VAMOS DERROTAR ESSA REFORMA NA LUTA DIA 12 VAMOS OCUPAR BRASÍLIA!

O VENENO ESTÁ NA MESA

Bolsonaro libera 239 novos agrotóxicos PÁGINA 6

MERCOSUL & UNIÃO EUROPEIA

Acordo vai transformar Brasil em colônia PÁGINA 5 A Revolução dos Farrapos no sul do país PÁGINAS 10 E 11


Opinião Socialista

páginadois

Morreu um lutador!

CHARGE

Falou Besteira E vai ter cervejada em homenagem ao Doria se a Fórmula 1 ficar em São Paulo OSCAR MARONI MARONI, bolsonarista e dono de prostíbulo em São Paulo. Recentemente, brigou com o presidente, que deseja enviar a F1 para o Rio de Janeiro. Já Dória é o governador de São Paulo, também conhecido por protagonizar uma orgia sexual, num vídeo que viralizou na internet.

CAÇA-PALAVRAS

03/07/2019

Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Comandante Clemente, foi o homem que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o Destacamento de Operações de Informações (DOI) de São Paulo nunca conseguiram prender. Clemente foi o último chefe militar da Ação Libertadora Nacional (ALN), a organização fundada por Carlos Marighella, e morreu aos 69 anos, no último dia 29. Foi um combatente contra a ditadura que arriscou a vida em uma luta desigual contra os militares. “Carlos Eugênio é um homem notável. Lutou com muita coragem contra a Ditadura. Junto com valiosos companheiros, dedicou sua juventude, arriscando a vida na luta armada”, escreveu em uma rede social sua irmã Belela Sarmento Coelho da Paz,

militante do PSTU. Clemente nunca escondeu suas histórias. Suas memórias da guerrilha foram publicadas em dois livros que escreveu: “Viagem à Luta Armada” e “Nas Trilhas da

de julho julho é o do Rock. Procure 10 bandas de Rock and Roll DiaDia1313de éDia o Dia do Rock. 10 bandas deescondidas Rocknaand Rollvertical e diagonal, sem palavras ao AsProcure palavras deste caça palavras estão horizontal, contrário.

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“Podia não ter acontecido, né? Falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento mundial”. Essa foi a explicação do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Pre-

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RESPOSTA: ACDC, Beatles, Ira, Kiss, Led Zeppelin, Mutantes, Queen, Ramones, Sepultura, Titãs

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sidência, general Augusto Heleno sobre a prisão de um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) com 39 quilos de cocaína dentro de um avião da equipe presidencial. Sergio Moro, ministro

Expediente Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. CNPJ 73.282.907/0001-64 / Atividade Principal 91.92-8-00. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica

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Opinião Socialista é uma publicação quinzenal do

ALN”, ambos publicados nos anos 1990. Em que pese nossas diferenças, reconhecemos o seu valor, sua coragem e a sinceridade de seus esforços. Carlos Eugênio, PRESENTE!

Falta de sorte

Dia 13 de julho é o Dia do Rock. Procure 10 bandas de Rock and Roll - Imprimir Caça Palavras

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da Justiça e Segurança Pública, se apressou em afirmar que caso de prisão de um militar por tráfico é uma ‘ínfima exceção’. Mais uma mentira do ministro. O tráfico de drogas é o segundo crime mais comum analisado pela Justiça Militar da União, segundo os dados do Centro de Estudos Judiciários da Justiça Militar. Representa 11,03% de todos os casos, ficando atrás apenas do crime de deserção (33,6%). O número de militares das Forças Armadas condenados por crimes envolvendo a posse ou o porte de drogas aumentou pelo menos 706% entre 2010 e 2017. Como se vê, os dados mostram que não há nada de “ínfimo” sobre o caso.


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Negociar a reforma da OPrevidência show antidemocrático é traição da democracia dos ricos B A ELEIÇÕES 2018

olsonaro, o Congresso, banqueiros, empresários e a divisão entre os de cima grande mídia repetem duas continua. A maior parte da fake news: dizem(grandes que se nãoemprefor feita burguesia uma banqueiros reforma na Previdência o Brasários, e ruralistas) se sil vai quebrar e que a reforma ataca definiram por Alckmin. Outra pare protegeHá osainda mais pobres. te privilégios apoia Bolsonaro. uma Ao mesmo tempo, a campanha parte com Marina, outra com Lula de esclarecimento sobre a reforma ou com quem ele apoiar e outra com entre a população é inferior à necesCiro Gomes. sidade e à capacidade real que teriam A campanha eleitoral começa centrais sindicais, sindicatos, demais para valer a partir de agora. Ela enorganizações partidos contra a maioriaedo povo ededaoposição. classe Exceto a CSP-Conlutas e o trabalhadora indignada, desanimaque têm colocado toda sua da.PSTU, Uma grande percentagem aponta força na campanha contra a repara abstenção, voto nulo e indeciforma, as cúpulas das outras censos. Não é para menos. Os governos, os partidos de oposição (PT, atétrais hoje,emantiveram uma desigualPCdoB, PDT, PSB) trabalham com dade social indecente, na qual seis a estratégia da reforbilionários têmdea negociação mesma renda que e não com o objetivo de derrotá100ma milhões de pessoas. -la é possível Osglobalmente. debates na TVPorém têm a participaderrotar a reforma, e o Brasil ção de apenas 8 dos 13 candidatosnão à vai quebrar ela forsão derrotada. Presidência. Osse demais vetados, entre eles a candidata do PSTU, Vera, NEGOCIAÇÃO AJUDAum BOLSONAROa única que defende programa GUEDES-MAIA socialista nestas eleições. A classe trabalhadoranão e a juvenA falta de democracia para tude entraram em cena. O 15M,A o no veto à participação nos debates. 30M e o 14J, em defesa na dadivisão aposendesigualdade está também daTV. educação e doAlckmin emprego, do tadoria, tempo de Enquanto foram fortes. Evidenciaram a queda (PSDB) terá quase cinco minutos de de popularidade do governo, mostraTV, o MDB, de Temer e Meirelles, e ram o caminho para derrotar a reo PT terão quase dois minutos cada. forma, aproveitando as crises entre os de cima. Mas é preciso apostar EDITORIAL tudo na luta e não em negociação no Congresso. Muitas vezes, numa luta, somos obrigados a negociar algo que não é bom questão de servirem correlação Alémpor deuma as eleições não deum forças. Nãoreal é oentre casoos dessa reforpara debate diferenma. Entrar nessa luta negociando, tes projetos para o país e imporem de enorme cara, umdesigualdade, suposto “menos pior” uma a enore não buscando a derrota da reforme maioria dos candidatos não diz maa éverdade ajudar sobre Bolsonaro-Guedes-Rotoda suas propostas drigo Maia. para o povo. Negociar, caso,todas é ajudar Exceto Vera, nesse do PSTU, as a aprovar uma reforma que parte demais candidaturas apresentamé procentral de um nepostas dentro dosprofundo limites doataque sistema oliberal aos trabalhadores e de um capitalista e da atual localização do plano entregamundial e de rapina país. Brasil nade divisão do do trabaÉ isso que estão fazendo os goverlho, imposta pelos monopólios internadoresedo PT, PCdoB, PSB ecom PDT. nacionais pelos países ricos, Apoiam a reforma, exigindo alteraos Estados Unidos à frente. ções pontuais, que não mudam sua O Brasil está sendo recolonizado. essência. As mesmas que defendem Vem sofrendo uma desindustrialio DEM e o PSDB, como a questão zação relativa, especializando-se na do Benefício de Prestação Continuaexportação de produtos básicos de da (BPC), aposentadoria rural e não baixa tecnologia: produtos agrícolas, proposta da inclusão indústriatemporária extrativa eda energia. Emde capitalização de Guedes. plena era da nanotecnologia, o Brasil Está emem marcha um acordão é competitivo produção de carne.no Congresso, do qual participam Vende óleo cru e importa derivados.os partidos oposição e também Vende ferro de e importa trilho de trem.as cúpulas das principais centrais. Mes-

Já Vera, do PSTU, só seis segundos. mo vezes isso encoO que que por define tudo é afique grana. A berto, acaba havendo uma divisão coligação de Alckmin vai receber R$ de milhões tarefas, pois nem os partidos 800 só do fundo eleitoral.deO sautorizam os governadores, nem MDB e o PT, R$ 200 milhões cada. as centrais enfrentam os partidos. Isso não chega nem perto do que Os governadores querem que o os candidatos vão gastar. Meirelles Congresso inclua os estados munipode botar do próprio bolsoeR$ 70 cípios na reforma, retirando direitos milhões. Amoedo, do velho Partido dos professores e demais servidores Novo, tem um patrimônio de R$ 425 estaduais e municipais. essência, milhões e disse que vaiEm torrar R$ 7 defendem uma reforma que ataca milhões do bolso. Bolsonaro é outro profundamente milhões de trabaque não gasta pouco com robôs na lhadores e servidores públicos para internet, viagens e campanha apoiabanqueiros. daenriquecer por ruralistas, donos de redes de As propostas que fazem têm a lojas, como Flávio Rocha da Riachuemesma lógica capitalista, predatólo e o dono da Centauro. ria, privatistaé que e liberal de BolsonaA verdade as mudanças na ro, Rodrigo Maia e Guedes: querem legislação eleitoral foram feitas sob a fatia maior do Congresso dinheiro das privamedida por este corruptizações do Pré-sal e liberação para to para manter no poder os mesmos os estados comprometerem receitas futuras com a dívida. Prometem à Rodrigo Maia conseguir alguns votos para garantir os 308 votos necessários, mesmo permitindo que PT e PCdoB formalmente votem contra para bemona foto. produz, A classe De aparecer tudo o que Brasil trabalhadora e a base por destas centrais 70% são controlados empresas e partidos, que estão na luta, multinacionais que remetem boapreciparexigir todos abandonem tesam do lucro queque obtêm aqui para fora. teatro eempresários venham construir a luta Osesse grandes brasileiros para valer para derrotar a reforma. (donos de bancos, indústrias, redes de verdade é que os governadolojas,Ameios de comunicação e terras), res do PT e do PCdoB esão os sóciosdemais 31 famílias bilionárias, governadores de oposição aplicam -menores das multinacionais. Cada planos ajuste nãodos diferem dia vivemdemais de que rendas altos em nada dos que praticam o DEM juros da dívida pública. ouAonossa PSDB. classe trabalhadora rece-

que estão aí. emEnquanto média, pela Previdência atual temos desemprego rese aposentaria com R$ 2.016. Coma corde e precarização do trabalho, a reforma, vaicandidaturas se aposentar com R$ maioria das faz pro1.139. Ou seja, vai ter um confisco messas vazias para o povo. Elas esde R$ 877,16comprometidas na sua aposentadoria. tão mesmo com o Esse dinheiro não vai gerar emmercado e com suas reformas contra para banqueiro através aprego. classeVai trabalhadora. da Não falsavamos dívida mudar pública.aUma vidadívicom da ilegal que não é nossa, que é um eleições de cartas marcadas. Menos mero com mecanismo de ditadura. roubar dinheiainda uma nova Só poro público. demos mudar tudo que está aí com dívida leva quase 50%com de umaEssa rebelião operária e popular, tudo o que o país arrecada e eles um governo e uma democracia nosquerem ainda mais. Querem tirar sa, dos de baixo, em que possamos R$ 1 trilhão das aposentadorias. Isso governar em conselhos populares. vaiAquebrar também inúmeros pe-a campanha do PSTU estará quenos da empresários e pequenas ciserviço organização dos de baixo dades Brasil afora. e da construção desse projeto. PreNão bastasse isso, querem cisamos que você nos ajudeentrenessa gar a Petrobras, todas as estatais, as campanha. riquezas do subsolo, a Amazônia, as terras indígenas e os quilombolas para multinacionais. No caso da Petrobras, as multinacionais podem até fechar refinarias para nos forçar a importar combustível. Vamos vender eóleo crupúblicas, e comprargratuitas derivados. ção saúde e de

50 tons de capitalismo dependente

be um dos salários mais baixos do ABAIXOHoje, A REFORMA O PLANOnosmundo. até na Eindústria ECONÔMICO DO GOVERNO so salário já é inferior ao da China. O éplano de economia Bolsonaro-GuedesO país a oitava do mun-Maia, do qual a reforma é umdesidos do, mas está em 175º lugar em pilares, ésocial. o que vai quebrar o Brasil. gualdade O saneamento não A reforma não ataca privilégios. chega nem à metade da população. Ataca os pobres e remediados para Sem falar na saúde e na educação favorecer os ricos, inclusive o próprio que estão à míngua e cada vez mais Bolsonaro, que ganha nada menos privatizadas. que 74 mil por OsR$ candidatos quemês. estão aí, exceto Já um trabalhador que tenha 65 Vera, não dizem como vão garantir anos, por exemplo, e contribuiu por emprego, melhores salários, educa20 anos sobre R$ 2.240,90 de salário

qualidade. Pelo contrário, dizem que OCUPAR BRASÍLIA, FAZER NOVA vão investir mais em tudo isso. PoGREVE GERAL E TOMAR AS rém nenhum deles diz queRUAS vai susÉ tarefa de todo ativista chamar a pender o pagamento da dívida, que unidade para lutar contra a reforma, consome 40% do Orçamento, ou que o desemprego, na educação vai proibir que os ascortes multinacionais ree as privatizações. Vamos a Brasília metam dinheiro para fora, muito mee àsque ruasvão no dia 12 de julho! Vamos nos estatizar e colocar sob cobrar que as cúpulas das centrais controle dos trabalhadores as princinão empresas aceitem eenão participem do pais colocar a economia acordão em torno relatório debapara funcionar emdoprol da maioria. tidoMesmo no Congresso. A luta unificada com diferenças entre pode a reforma. estão ensi, os derrotar demais candidatos Essa luta abrirá caminho para a tre 50 tons de capitalismo e conclasse trabalhadora construir uma dicionados pelo sistema. Não tealternativa a esse Abaixo rão margem paragoverno. mudar nada de o plano Bolsonaro-Guedes-Maia! Os substancial para os de baixo. Pelo ricos é queao devem pagarno pela crise! contrário, governar sistema Chega de Bolsonaro-Mourão! Vados de cima, farão o que a crise mos construir uma alternativa so-o capitalista exige para aumentar cialista e dos trabalhadores! Lula lucro deles: explorar mais, tirar tambémdireitos não é solução! nossos e entregar o país. Operários e povo pobre no O Brasil precisa de um projeto poder para governar por consesocialista! lhos populares!


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Nacional • Opinião Socialista

COCAÍNA NO AVIÃO DA FAB

Militar traficante da comitiva de Bolsonaro mostra hipocrisia da ‘guerra às drogas’ DA REDAÇÃO

A

prisão de Manoel Silva Rodrigues, o sargento da Aeronáutica que integrava a comitiva presidencial de Bolsonaro, com 39 quilos de cocaína, no aeroporto de Sevilha, na Espanha, expõe toda a hipocrisia da chamada “guerra às drogas”, que tem como alvos exclusivos a população jovem e negra das periferias. O militar foi detido, no último dia 25, quando o avião em que viajava, da Força Aérea Brasileira (FAB), fez escala na Espanha, a caminho do Japão. O avião estava acompanhando a viagem oficial do presidente Bolsonaro para a reunião do G-20. Após a prisão, Bolsonaro, que vinha logo em seguida, alterou sua rota e pousou em Lisboa. A droga teria sido encontrada na bagagem de mão do militar detido e, segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, o sargento traficante voltaria da viagem no mesmo avião que Bolsonaro.

REAÇÃO A reação de Bolsonaro foi protocolar, através de uma curta mensagem no twitter. Bem diferente, por exemplo, da “moção de congratulações” que, na época em que era deputado, enviou ao presidente da Indonésia, quando o governo daquele país confirmou a execução de Marco Archer, brasileiro preso ao tentar entrar no arquipélago com 13 kg de cocaína. Archer foi fuzilado em 2015. “Caso no Brasil este mesmo crime fosse punido com pena de morte muitas vidas de inocentes seriam poupadas”, diz trecho da carta de Bolsonaro, que parabeniza o presidente indonésio. PENA DE MORTE O que Bolsonaro não diz é que a pena de morte para o tráfico de drogas já existe, sim, no Brasil. Mas não para os milicianos que integram seu governo e círculo pessoal, nem para os grandes traficantes. Mas, com certeza, para a população pobre, sobretudo jovens e negros que, sem empregos ou perspectiva de

futuro, são empurrados para o crime. E, diante da justificativa da “guerra às drogas”, são abatidos aos montes pela polícia.

Sargento Silva Rodrigues, detido em Sevilha com 39Kg de cocaína

DESCULPAS ESFARRAPADAS No Brasil, a repressão ao tráfico é usada como desculpa para reprimir o povo pobre que vive nos morros e favelas, esculachar a população, matar e encarcerar em massa. O país tem a terceira maior população carcerária do mundo, com mais de 726 mil presos, segundo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Quase metade deles sequer foi a julgamento, nem mesmo na primeira instância. Mais da metade destes presos são jovens, de 18 a 29 anos. E 64% são negros. Situação que o governo Bolsonaro quer aprofundar com, por exemplo, o pacote “anticrime” de Sérgio Moro, que libera a polícia para matar sem qualquer chance de punição. Ou, ainda, a política armamentista de Bolsonaro, cujo objetivo é o de armar a classe média e os milicianos.

NUNCA FOI CONTRA AS DROGAS

Guerra é contra os pobres e a população negra Não é a primeira vez que a FAB se envolve em tráfico internacional de drogas. Em 1999, um avião da Força Aérea foi interceptado quando transportava 33 quilos de cocaína para França. E vale lembrar a música do raper Sabotage, que, no ano 2000, já denunciava: “Quem tá no erro sabe/cocaína no avião da FAB”. Enfim, é público e notório que o tráfico só existe porque há o grande traficante com tentáculos em praticamente todas áreas do Estado: na polícia, na Justiça… e nas Forças Armadas. A quantidade e a tranquilidade com que o sargento carregava a droga mostra a certeza de impunidade e a cumplicidade dos órgãos de Estado. Só foi preso por conta da polícia espanhola ou por “falta de sorte”, como hipocritamente declarou

o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Alguém se lembra do helicóptero apreendido com 450 quilos de pasta de coca em uma fazenda da família Perrella, em Minas, aliada de Aécio Neves (PSDB)? Ninguém foi preso. A “justiça” fez vistas grossas e ficou tudo por isso mesmo. Mais um exemplo de que a política de repressão contra o tráfico de drogas nunca foi, de fato, contra as drogas. É uma guerra contra os pobres e a população negra desse país. Fora isso, é apenas discurso hipócrita de quem tem culpa no cartório. Por isso é urgente descriminalizar as drogas, desmilitarizar a Polícia Militar e acabar com o genocídio e o encarceramento da população negra, jovem e periférica.


Opinião Socialista •

Nacional

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MERCOSUL E UNIÃO EUROPEIA

Um passo a mais para virar colônia RICARDO AYALA DE SÃO PAULO (SP)

O

acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), anunciado com rojões e banda de música por Bolsonaro e festejado pela imprensa, reafirma a submissão do país aos grandes grupos econômicos internacionais. E aprofunda o papel do Mercosul e do Brasil como colônias fornecedoras de recursos naturais para o mercado mundial. A imprensa e o governo dizem que o tratado vai permitir ao Brasil ter acesso a um mercado de 750 milhões de pessoas. Isso é uma mentira para vender a subordinação do país. Por esse critério, o Brasil deveria fazer um

Ernesto Araujo, o chanceler brasileiro anti-globalização, e Federica Moherini, representante da União Europeia.

acordo de livre comércio era com a China, que tem quase dois bilhões de habitantes. Dizer que o Brasil terá “acesso a um mercado” não

passa de uma bobagem, pois quem exporta e importa não é o Brasil, mas, sim, as multinacionais instaladas aqui, e associadas a empresas brasilei-

ras. Essa gente não está nem aí para o Brasil. O que querem é aumentar seus lucros. O sonho de consumo dos exportadores de carne, frango, açúcar, soja e outros produtos que dependem de terra abundante e barata é ter acesso ao mercado europeu. Mas havia dois grandes obstáculos para este “acordo de livre comércio”. Pra começar, os camponeses europeus, particularmente os da França, mantinham uma forte mobilização contra o aumento da importação agrícola, na medida em que cada país da UE tem reservada uma determinada cota de produção. Para isso, recebem subsídios para impedir a queda dos preços dos produtos agrícolas. Um

acordo comercial levaria esses camponeses à ruína. Além disso, um segundo obstáculo é o fato de que, atualmente, a importação de produtos agrícolas na UE tem uma clausula de prioridade para com as ex-colônias européias, na África e Ásia. Com a saída da Inglaterra da UE e a guerra comercial de Trump contra a China, o anúncio do acordo reafirma a UE como a defensora do “livre comércio” contra o “protecionista Trump”. Mas muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte, uma vez que o acordo ainda precisará ser aprovado pelo parlamento dos 28 países que compõe a UE e pelos parlamentos regionais da Bélgica.

VIRANDO COLÔNIA

Consequências do acordo Hoje, as mercadorias do chamado “agronegócio” do Mercosul entram na UE limitadas por cotas. Ou seja, há um limite para a compra de produtos agrícolas (menos a soja) e carnes. O acordo prevê o fim destas cotas de importação e a eliminação gradual das tarifas. Este era o principal alvo dos últimos governos brasileiros na negociação, desde FHC, passando pelos governos petistas, até Bolsonaro. Já o setor industrial instalado no Brasil não tem nada a ganhar com esta história, pois não tem a mínima condição de concorrer com as indústrias europeias. Em troca da promessa de abrir o mercado da UE ao agronegócio do Mercosul, as tarifas dos produtos industrializados, mercadorias que entram como componentes para a produção industrial, como autopeças, também teriam uma redução de tarifas até a tarifa zero. Ocorre que as indústrias instaladas aqui importam a maioria dos componentes que utilizam. Um exemplo é setor produtor de mercadorias de alta e média tecnologia. Em 2016, o setor foi responsável por 33% da produção industrial brasileira e foi responsável por 70,8% da importação

SAIBA

MAIS

O que é o Mercosul?

total de bens. Mas, para produzir isso, teve que importar 71% de insumos e componentes.

MAIS DESEMPREGO Caso a tarifa zero para os insumos industriais entre em vigor, empresas com sede na União Européia, como Volkswagen, Renault, dentre outras, poderão importar livremente a maioria dos componentes. O resultado é que só irão montar, aqui, o produto final. Isso faz com que a maioria dos empregos do setor industrial, que paga os salários mais altos, deixaria simplesmente de existir. Mas os carros produzidos

aqui podem ser exportados para Europa? Não podem, pois têm menos avanços tecnológicos incorporados e não preenchem as normas de emissão de gases estufa. Eles continuaram a ser vendidos nos países do Mercosul, como ocorre hoje. Já para o agronegócio, o acordo será um bom negócio, pois amplia as exportações de matérias primas. Para as multinacionais europeias instaladas aqui, o acordo também será ótimo. Além disso, o acordo será mortal para o carro-chefe de toda produção industrial capitalista: a indústria de bens de capital,

que fabrica máquinas e equipamentos e que exige uma força de trabalho com nível técnico e salários maiores. Esse setor vai ser substituido pelas importações. É tudo isto que pode explicar o porquê, do ponto de vista da burguesia, das reformas Trabalhista e da Previdência. Os empresários querem aumentar a exploração dos trabalhadores; transformar o Brasil em uma grande colônia que exporta soja, cana e minérios; destruir os empregos que exigem mais investimentos na educação e pagar salários ainda mais baixos. Bem-vindos ao século 19.

Fundado em 1991, o Mercosul é uma espécie de plataforma de exportações para as multinacionais. Cerca de 95% do comércio entre os países do Mercosul são realizados completamente livres de barreiras tarifárias. Atualmente, o Mercosul é formado por cinco membros plenos: Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela (que está suspensa do bloco desde dezembro de 2016) e cinco países associados: Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.


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Campo • Opinião Socialista

AGROTÓXICOS

Mais veneno na nossa comida JEFERSON CHOMA DA REDAÇÃO

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unca, em um prazo tão curto, se liberou tanto agrotóxico no país quanto no primeiro semestre de 2019. Até 24 de julho, o governo Bolsonaro liberou um total de 239 agrotóxicos no mercado brasileiro. Há, ainda, 538 novos pedidos de registro acatados pelo governo. São verdadeiras bombas químicas, altamente tóxicas, despejadas sobre nossas cabeças. E o pior é que muitos desses venenos já estão proibidos mundo a fora: 31% não foram liberadas na União Europeia.

CAMPEÃO DO VENENO O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. É como se cada brasileiro consumisse uma média de 5,2 litros de venenos por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de refrigerante, ou a 14 latas de cerveja. Entre 2000 até 2014, houve um aumento de 135% no consumo de agrotóxico no país. O Brasil permite a presença de 5 mil vezes mais glifosato (um herbicida altamente tóxico) na água do que os países da União Europeia. Esse consumo explosivo acompanhou a tendência da evolução do agronegócio. A lavoura de soja, que ocupa 33,2 milhões de hectares (isso é 11 vezes maior do que todo o território da Bélgica), consome, sozi-

nha, 52% de todo o agrotóxico vendido no país. Estes dados alarmantes constam do atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, de Larissa Mies Bombardi, pesquisadora de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo. O atlas mostra que, entre 2007 a 2014, houve 25 mil intoxicações por agrotóxicos no Brasil – em média de oito intoxicações diárias. Mas o número total de pessoas contaminadas pode ser bem maior “uma vez que para cada caso, outros 50 não foram notificados”, explica Bombardi.

SOB O CONTROLE DOS MONOPÓLIOS CAPITALISTAS A chamada “revolução verde” – expressão criada nos anos 1960 – intensificou a produção e o uso de fertilizantes químicos e de diversas versões de agrotóxicos. Esse processo representou uma modernização dos meios de produção na agricultura, viabilizada por financiamentos de pesquisas e inovação tecnológica feitas pelas grandes empresas associadas com os Estados nacionais. Todo esse processo sempre foi controlado por grandes monopólios capitalistas, especialmente no que refere aos agrotóxicos. Hoje apenas quatro transnacionais controlam esse mercado: a Monsanto/ Bayer; a Corteva (fusão da Dow e DuPont); a Syngenta/ChemChina e a Basf.

Nas últimas décadas, surgiu uma nova geração de agrotóxicos, agora associada às sementes geneticamente transformadas. Os transgênicos nada mais são do que plantas desenvolvidas para resistirem a grandes quantidades de agrotóxicos. A promessa era o aumento da produtividade e o maior controle de pragas, o que acabou se revelando, como veremos, em uma sórdida armadilha.

SUJEIÇÃO DA PRODUÇÃO As transnacionais atuam na comercialização e no processamento industrial, controlando os mecanismos de sujeição dos produtores agrícolas. O agricultor que faz a opção pelas sementes transgênicas fica refém de uma poderosa ordem econômica ditada pelas transnacionais. Por exemplo, o plantio de soja transgênica obriga a utilização de um tipo específico de inseticida, que só é fabricado pela empresa que produz as sementes. Assim, as multinacionais impõem o preço que quiserem aos produtos fabricados exclusivamente por elas. Esse modelo, diferentemente do que os governos – de FHC, passando pelo PT, até Bolsonaro – defendem não é um fator de desenvolvimento para Brasil. Pelo contrário, fortalece o latifúndio e faz o país retroceder à condição de colônia, como exportador de produtos primários.

LIXÃO DE VENENO

Recolonização e agrotóxicos

Tereza Cristina, Ministra da Agricultura de Bolsonaro.

O Brasil tem se tornado um mercado lucrativo para os agrotóxicos que são cada vez mais restringidos nos centros do capitalismo mundial, o que reforça ainda mais o processo de recolonização em que nosso país já vive. Nessa perspectiva, o papel do Estado na ampliação do uso dos agrotóxicos foi essencial. Desde 2004, país promulgou leis que isentam os agrotóxicos de impostos. Só em 2018, o Brasil deixou de arrecadar pelo menos R$ 2,07 bilhões com essas isenção fiscais. Os dados foram apresentados numa audiência pública sobre Isenção Fiscal de Agrotóxicos, realizada em Brasília, no último dia 27. “A divisão internacional do trabalho tem se configurado também como uma divisão internacional socioambiental do trabalho”, sustenta Bombardi. Isso significa que, além de ampliar a privatização das estatais, entregar nosso petróleo e pagar a dívida pública com metade do nosso orçamento, o país vai se tornar um lixão tóxico, produzido pelas grandes transnacionais.

IMPACTOS NA SAÚDE É um equívoco imaginar que o uso de agrotóxicos afeta apenas agricultores ou trabalhadores rurais. Dados do Ministério da Saúde mostram que um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de uma em cada quatro cidades do Brasil, entre 2014 e 2017.

Tudo isso é consequência de um país que desnaturalizou a produção de alimentos, como sustenta Bombardi. Para a pesquisadora, a versão de que o país exporta alimento para o mundo é mera aparência, pois, na verdade, o Brasil produz commodities. “Mercadorias padronizadas internacionalmente que podem ser estocadas e podem ser vendidas num futuro próximo ou distante”, explica. Tudo ao gosto dos grandes monopólios. SAIBA

MAIS

LIVRO

Atlas: Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia Larissa Mies Bombardi

FILME

O veneno está na mesa Dir.: Silvio Tender


Opinião Socialista

CENTRAIS

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA

É roubo das aposentadorias e dos pobres

Nova versão da reforma do Congresso tira R$ 1 trilhão do bolso dos trabalhadores para os banqueiros DA REDAÇÃO

E

nquanto fechávamos esta edição, a Comissão Especial da Câmara sobre a reforma da Previdência votava o relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP). A votação ocorria após dias de

SAIBA MAIS

impasse no Congresso em torno à liberação de R$ 10 milhões extras aos deputados em emendas, a inclusão dos estados na reforma como querem os governadores, inclusive os do PT e do PCdoB, e alterações nas regras de transição de categorias com força de pressão entre os parlamentares, como os policiais. O

governo espera aprovar a reforma em plenário ainda em julho, o que não está garantido. O relatório que a Câmara comandada por Rodrigo Maia (DEM-RJ) vota mantém os principais ataques do projeto original do ministro da Economia, Paulo Guedes. A economia esperada com o projeto é de R$ 1,071

trilhão em dez anos. Desses, R$ 688,1 bilhões sairão de trabalhadores do INSS. A reforma acaba com a aposentadoria por tempo de contribuição, impõe idade mínima e, principalmente, reduz em muito as aposentadorias dos mais pobres. Ainda tira da Constituição as regras para se aposentar.

Ao contrário do que dizem as fake news de Bolsonaro, a reforma não vai acabar com o desemprego e a crise. Vai aprofundar a guerra social contra os mais pobres, ampliar a miséria e o desemprego. Confira os principais ataques da reforma.

O QUE MUDA COM A REFORMA DO CONGRESSO

IDADE MÍNIMA • 65 HOMENS • 62 MULHERES

Como é hoje: O trabalhador pode se aposentar por tempo de contribuição (35 anos homens e 30 mulheres). Com a reforma, passa a ser obrigatória a idade mínima, prejudicando quem começa a trabalhar mais cedo.

TEMPO MÍNIMO DE CONTRIBUIÇÃO • 20 HOMENS • 15 MULHERES

Como é hoje: Homens e mulheres podem se aposentar por idade tendo 15 anos de contribuição. Com a reforma, os homens precisarão contribuir por no mínimo 20. Mais de 60% dos que se aposentam por idade hoje não conseguem chegar a isso.

REDUÇÃO DAS APOSENTADORIAS Como é hoje: Ao se aposentar por idade com o tempo mínimo de contribuição, o trabalhador recebe 85% do salário benefício. Com a reforma, vai receber só 60%. Depois do tempo mínimo (20 anos homens, e 15 anos mulheres), aumenta 2% a cada ano de contribuição.

40 ANOS PARA APOSENTADORIA INTEGRAL A reforma mantém os 40 anos de contribuição para a aposentadoria integral.

DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO Como é hoje: As regras dos servidores e dos trabalhadores do INSS são definidas pela Constituição, o que obriga que sejam alterados só por PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que, por sua vez, exige a aprovação de 3/5 do Congresso. Com a reforma, as regras para se aposentar passam a ser definidas por lei ordinária, o que precisa só de maioria simples. Ou seja, facilita novos ataques e abre brecha para que a capitalização seja imposta mais à frente.

REDUÇÃO DA PENSÃO POR MORTE Como é hoje: A pensão é de 100% do valor do benefício do assegurado. Com a reforma, esse valor passa a 60% do benefício do pensionista sem filhos, mais 10% por dependente. É um duro ataque principalmente às mulheres trabalhadoras mais pobres.

FIM DO ABONO PARA QUEM GANHA 2 SALÁRIOS MÍNIMOS Como é hoje: Tem direito ao abono (equivalente a um salário do mês ao ano), o trabalhador que recebe até 2 salários mínimos. Com a reforma, só tem direito a receber o trabalhador “de baixa renda”, quem recebe até R$ 1.364. VEJA

O QUANTO VOCÊ VAI PERDER COM A REFORMA VEJAMOS ESTE EXEMPLO:

Um trabalhador com 65 anos e 20 de contribuição com média salarial de R$ 2.240,90 Hoje ele receberia de aposentadoria 90% de sua média (fora os 20% menores salários), ou R$ 2.016,81 Com a reforma vai receber 60% da média de todos os seus salários, que daria R$ 1.139 OU SEJA, A REFORMA VAI TIRAR

R$ 877,16

FIM DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO Exemplo: Uma mulher trabalhadora com 56 anos de idade e 30 de contribuição poderia se aposentar hoje com 100% da média de contribuições (fórmula 86/96). Com a reforma: Ela só vai se aposentar com 62 anos e só com 66 anos para ter o benefício integral (40 anos de contribuição) e ainda com uma média rebaixada.

Fonte: Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários)

ATAQUE AO BPC A nova versão ataca o BPC (Benefício de Prestação Continuada) ao alterar o critério para a sua concessão. Hoje, pode reivindicar o benefício o idoso em situação de vulnerabilidade. A PEC criva o critério de renda per capta de no máximo 1/4 do salário mínimo.

Fonte: Dieese

QUEM VAI PAGAR PELA REFORMA

TOTAL: R$ 1,071 TRILHÃO DE ONDE VEM R$1 TRILHÃO?

R$ 688,1 bilhões do INSS (R$ 406 bilhões pelo fim da aposentadoria por tempo de contribuição; R$ 130 bilhões da pensão por morte)

R$ 136 bilhões dos servidores

R$ 76,4 bilhões do abono salarial

R$ 33,3 bilhões do BPC


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Opinião Socialista

CENTRAIS

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Não temos o que negociar: é h em defesa das nossas aposent Não ao acordão! É preciso derrotar, na luta, a reforma da Previdência de conjunto

TIREM AS MÃOS DO NOSSO FUTURO

DA REDAÇÃO

A

reforma da Previdência continua sendo a prioridade número um do governo Bolsonaro, dos banqueiros, dos grandes empresários e do Congresso Nacional. Para aprová-la, o governo não mede esforços, ou melhor, dinheiro. Acabou de anunciar uma nova liberação de R$ 10 milhões extras em emendas parlamentares a cada deputado que votar “sim” no plenário. A promessa é simples: R$ 10 milhões agora mais R$ 10 milhões depois da votação. As pretensões do governo, porém, vêm tropeçando na crise entre os de cima e, também, na mobilização dos trabalhadores, que fizeram um forte dia de paralisações e atos no dia 14 de junho. E tropeça também em sua própria crise. Deputados hesitam em se vender sem ter em mãos o pagamento prometido por Bolsonaro pelo trabalho sujo. As negociatas entre os bandidos, o toma-lá-dá-cá de cargos e grana, a pressão de categorias nas bases dos deputados, tudo isso vem atravancando a velocidade da reforma.

BRIGAS À PARTE, UM GRANDE ACORDO ENTRE OS DE CIMA Apesar de desacordos pontuais entre o governo e o Congresso Nacional, e entre o próprio PSL, partido de Bolsonaro, existe um grande acordão entre eles: aprovar a reforma da Previdência e destruir o sistema de Seguridade Social em nosso país. É uma medida que faz parte de um projeto mais amplo de jogar os efeitos da crise nas costas dos trabalhadores. Isso inclui o aprofundamento da reforma trabalhista e o aumento da exploração, a entrega das estatais como a Petrobras

Não vamos aceitar que negociem nossa aposentadoria e a Embraer, de nossos recursos naturais e da Amazônia aos EUA, a exploração das terras indígenas e quilombolas à custa do extermínio dos povos originários. Trata-se, enfim, de aprofundar a pobreza e a miséria, assim como a entrega do país às grandes empresas e aos banqueiros internacionais. Embora grande parte da imprensa se esforce em passar a ideia de que a reforma já está praticamente aprovada, essa lógica do “fato consumado” não é verdadeira. Apesar de abrir os cofres, o governo ainda não tem os 308 votos na Câmara. Sua popularidade vem sofrendo um forte desgaste, já sendo

o presidente mais rechaçado num início de mandato desde pelo menos a redemocratização. Isso é resultado tanto da economia em frangalhos e do aumento do desemprego e da crise social, agravado pela guerra social contra os pobres, quanto dos sucessivos escândalos de corrupção, como o carro Queiroz, o laranjal do PSL e agora até tráfico de cocaína pelo próprio avião presidencial. Agora é o momento de aproveitar essa crise entre os de cima, intensificar a luta contra a reforma da Previdência e não aceitar qualquer tipo de negociação de nossos direitos e nossa de aposentadoria.

QUEM GANHA E QUEM PERDE COM A REFORMA PERDEM

OS TRABALHADORES DO INSS: R$ 715 bilhões de R$ 1,2 trilhões vêm do Regime Geral da Previdência. Mais de 70% da “economia” da reforma.

GANHAM BANQUEIROS: lucram com aposentadoria privada e com a dívida. POLÍTICOS: R$ 3 bilhões em emendas parlamentares, além da manutenção de todos os privilégios. GRANDES EMPRESÁRIOS: pagam menos ao INSS, rebaixam salários com o aumento da precarização e lucram mais.

Enquanto os trabalhadores organizam a resistência contra a reforma, fazem paralisações e atos em defesa das aposentadorias, os governadores do PT e do PCdoB articulam sua aprovação à reforma no Congresso Nacional. O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, comanda o time dos governadores do Nordeste em defesa da reforma. Para atacar as aposentadorias e os direitos dos próprios servidores dos estados e municípios, os governadores, incluindo os do PT, do PCdoB, do PDT e do PSB, querem que a reforma seja aprovada e estendida aos seus servidores. Em nome de aplicar o ajuste fiscal em seus estados, os governadores apoiam a reforma que vai aprofundar a legião de pobres e miseráveis em suas próprias bases. Mais que isso, diante da retirada do modelo de capitalização de Paulo Guedes da reforma, querem aprovar uma medida de “securitização da dívida”, o PLP 459, que, sob a justificativa de aliviar a crise fiscal dos estados, vai representar um desvio bilionário dos cofres públicos e aprofundar ainda mais essa crise. Essa medida vai funcionar como uma espécie de empréstimo consignado: com a desculpa de adiantar a arrecadação, os estados (mas também municípios e a própria União) se endividam, e o pagamento aos investidores, com os ju-

ros, sairão direto da arrecadação. É dinheiro livre direto para os banqueiros.

NÃO HÁ “MAL MENOR” As direções de centrais como a UGT e a Força Sindical, incluindo o deputado Paulinho (SD-SP), negociam a reforma no Congresso Nacional ao invés de repudiá-la por completo. Não existe “mal menor” nessa reforma, ela de conjunto ataca a aposentadoria dos trabalhadores para beneficiar os banqueiros. Já a CUT e a CTB, dirigidas respectivamente pelo PT e pelo PCdoB, calam-se diante da posição vergonhosa dos governadores de seus partidos. Vira, assim, uma divisão de tarefas e não se coloca o peso necessário nas lutas. Negociar é ajudar o governo, o Congresso e os banqueiros a implementarem esse projeto e travarem a guerra social contra os trabalhadores e os mais pobres. E enfraquece nossa mobilização aqui embaixo. Não podemos aceitar que negociem nossa aposentadoria. Também não podemos comprar a tese de que a reforma é necessária e que a Previdência vai quebrar se não for aprovada. É preciso que as bases do PT, do PCdoB e das centrais sindicais, que estiveram na organização do dia 14 e fizeram piquetes e manifestações, cobrem de seus governos e direções que rompam qualquer tipo de tentativa de acordo que coloque nossos direitos na mesa.


Opinião Socialista

CENTRAIS

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hora de partir para cima, tadorias VAMOS PARA CIMA!

Não sair das ruas: Fazer nova greve geral e ocupar Brasília Apesar de a imprensa ter se esforçado para esconder ao máximo o dia 14 de junho, os trabalhadores saíram fortalecidos e com maior disposição de luta. Temos que aproveitar esse período de recesso para fazer manifestações nos estados e pressionar os deputados a votarem contra a reforma da Previdência. Expor publica-

mente cada parlamentar que se comprometer a votar nesse projeto dos banqueiros, fazendo cartazes, compartilhando nas redes sociais e o que mais for preciso. As centrais sindicais definiram uma grande manifestação em Brasília para o próximo dia 12 de julho, aproveitando um ato marcado pelos

estudantes e trabalhadores da Educação contra os cortes do governo na área. As centrais precisam jogar peso nessa mobilização. Em seguida, o dia 13 de agosto foi definido como dia nacional de luta a partir de um dia de paralisação chamado pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação).

PLANO DOS TRABALHADORES

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Não à reforma da Previdência

O governo quer tirar quase R$ 1 trilhão dos trabalhadores, sendo que isso é menos do que pagamos a cada ano aos banqueiros na falsa dívida.

Revogação da reforma trabalhista e fim das terceirizações Ao invés de criar empregos, a reforma trabalhista trouxe mais desemprego, precarização e salários mais baixos.

Emprego e salário dignos para todos Temos hoje, no país, 70 milhões de pessoas desempregadas, subempregadas em bicos ou procurando emprego para sobreviver. O salário mínimo é de fome, R$ 998, sendo que pela própria Constituição deveria ser R$ 4.277.

Não pagar a falsa dívida pública A cada ano se paga mais de 40% do Orçamento da União na mal chamada dívida pública. É mais de R$ 1 trilhão a cada ano. É uma forma de corrupção legalizada que perpetua a pobreza em favor da riqueza de 1% de pessoas.

Fim das isenções às grandes empresas e aos bancos; cobrar as dívidas Bancos e grandes empresas deixaram de pagar R$ 4 trilhões nos últimos 15 anos. É um verdadeiro bolsa-empresário e bolsabanqueiro. Eles também devem R$ 450 bilhões ao INSS, mais que o rombo que dizem ter.

Precisamos ocupar Brasí lia e fazer uma nova greve ge ra l, m a i s for te que a de 14 de ju n ho. Va mos construir por bai xo e exigir dos sindicatos, centrais e ent idades do mov i mento que organizem essa luta para derrotar a reforma e o plano econômico de Bolsonaro e Paulo Guedes.

CALENDÁRIO

12 DE JULHO: Ato em Brasília contra a reforma e os cortes na Educação 16 DE JULHO: Reunião das centrais para definir as próximas ações 13 DE AGOSTO: Entrega do abaixo-assinado ao Congresso e dia nacional de luta

CHEGA DE BOLSONARO, MOURÃO E MAIA. LULA NÃO É SOLUÇÃO

Governo socialista dos trabalhadores baseado em conselhos populares O governo Bolsonaro e o Congresso Nacional comandado por Rodrigo Maia têm um projeto para o país: aumentar a exploração, a pobreza e a miséria, além de entregar todo o país ao imperialismo. É preciso derrotar não só a reforma, mas esse projeto que unifica os de cima, que beneficia 1% de gente rica em troca da miséria de 99%.

Mas só isso não é suficiente. Diante da crise, o capitalismo tem uma só receita: atacar as nossas condições de vida. Por isso, o projeto de conciliação de classes do PT é o caminho para novas derrotas. Só vamos mudar de fato essa situação se botarmos abaixo esse sistema e construirmos, na luta, um governo socialista dos trabalhadores, baseado em conselhos populares.


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ESPECIAL • Opinião Socialista

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

1835 A 1845

A Revolução Farroupilha POR PABLO BIONDI, DE SÃO PAULO (SP)

A

O CONTEXTO HISTÓRICO De 1831 a 1840, o Brasil viveu sob o período das regências. D. Pedro I havia abdicado do trono. Seu sucessor era menor de idade e estava impedido de assumir o poder. Enquanto D. Pedro II não atingia a maioridade, o país foi governado provisoriamente por juntas de governo chamadas regências. O período das regências foi crucial na formação do Estado brasileiro, na medida em que ele foi marcado por uma forte repressão às rebeliões populares, pelo fortalecimento do poder central e pela defesa da integridade do território nacional. No caso da Guerra dos Farrapos, a pos-

chamada Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma rebelião que aconteceu no Rio Grande do Sul, na época província de São Pedro, contra o governo central. Durou de 1835 a 1845, durante o conturbado período regencial. Esse movimento foi a mais longa e mais desafiadora insurreição militar do país durante a época do Império (1822-1889). Foi o mais próximo que tivemos de uma revolução burguesa. Um movimento dirigido pelos proprietários de terra sulistas contra o governo regencial, que incorporou setores populares e os traiu ao final do processo, temendo uma revolução negra no Brasil, tal como havia ocorrido no Haiti.

PERFIL

Como eram as classes dominantes na região sul

No período colonial, a região sul do Brasil cumpria um papel de abastecimento de gado para as demais províncias do país, sobretudo para Minas Gerais. Formou-se uma classe dominante de latifundiários dedicados à pecuária que se ligava intimamente à administração colonial portuguesa, a qual estimulava a ocupação do território com grandes fazendas e concedia amplos poderes aos fazendeiros, inclusive o de serem chefes dos seus próprios bandos armados. Os fazendeiros eram chamados de “estancieiros”, pois

as fazendas eram chamadas de estâncias. Uma parte deles, porém, era chamada de “charqueadores” por conta da produção de charque (carne seca e salgada). O charque passou a ser produzido em escala maior para abastecer o contingente crescente de escravos no país, sobretudo em Minas Gerais. Tratava-se de um negócio lucrativo para os charqueadores, tanto que eles passar a incrementar sua produção com o uso de mão de obra escrava. No terreno ideológico, os estancieiros assimilaram os ideais e o discurso das revoluções burguesas em sua luta contra o governo central. Reivindicavam um governo a serviço dos proprietários, um governo que respeitasse a propriedade privada como um direito absoluto e inviolável. Também defendiam a limitação do poder estatal, seja por meio de uma constituição liberal, seja por meio de uma organização federativa do Estado – e não centralista, como era o caso no império brasileiro.

tura do governo foi de impor a autoridade central sobre a província rebelde e de impedir o êxito de um movimento que, se fosse bem sucedido, poderia desencadear a fragmentação do país em várias repúblicas controladas pelas classes dominantes locais. É i mpor ta nte obser va r que, originalmente, o movimento farroupilha não tinha pretensões separatistas. As classes dominantes gaúchas foram levadas a isso pela força dos acontecimentos. Seu principal objetivo, que foi atendido ao final em negociações com o governo, era resguardar seus interesses econômicos na produção agropecuária.

ESTOPIM

As causas da rebelião

A Guerra dos Farrapos combinava questões internas com questões externas. Como forma de aproximar o Uruguai e fazer dele um aliado contra a Argentina nas rivalidades regionais, o Brasil passou a facilitar a entrada do charque uruguaio e a taxar o charque e o couro produzidos na região sul. Essa política de tributação foi um dos motivos da revolta dos fazendeiros sulistas contra o Império. No século 19, particularmente depois da independência, houve uma mudança no eixo econômico do país, o que tam-

bém causou um deslocamento nas frações de classe dominantes. O café se tornou o principal produto, de sorte que a diminuição relativa do papel da mineração enfraqueceu econômica e politicamente os estancieiros, que dependiam dela. Além disso, a independência iniciou o processo de formação do Estado brasileiro, que enfraqueceu a autonomia provincial do período anterior e criou fortes tensões entre as oligarquias regionais e o poder central. Naquela época, o poder central indicava presidentes de pro-

víncia que não contavam com a aprovação dos fazendeiros sulistas. A assembleia provincial, na qual se organizavam os estancieiros, passou a ter um caráter meramente consultivo. Em 1834, tentando amenizar as tensões, a regência permitiu que as províncias tivessem deliberações efetivas, mas elas não poderiam legislar sobre impostos, e essa era justamente a questão que tocava mais diretamente os interesses dos estancieiros. Suas reivindicações eram as seguintes: tarifas sobre carne e couro que protegessem os negócios do Sul e maior autonomia política para as províncias. Aliás, vale ressaltar que a proposta original da rebelião farroupilha era afirmar uma autonomia nos marcos de uma vinculação ao Império. Bento Gonçalves, chefe do movimento, reafirmava sua lealdade à coroa brasileira, pontuando apenas que se fazia necessária uma rebelião para defender as liberdades (ou melhor, propriedades) dos gaúchos e para evitar que a região sul se tornasse uma colônia da administração imperial.


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A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

ESPECIAL

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A LUTA

O desenvolvimento político e militar da rebelião Não tendo suas reivindicações atendidas, os farroupilhas iniciaram uma ação armada sob a liderança de Bento Gonçalves em 1835, depondo o governo local. O Império reagiu duramente, impondo uma importante derrota militar aos estancieiros em 1836, na batalha de Passo do Rosário. No mesmo ano, porém, os rebeldes venceram a batalha do Seival e se fortaleceram. Diante da intransigência e da repressão da autoridade central, os farroupilhas proclamaram a República Rio-Grandense, que viria a ser chamada de República do Piratini posteriormente. Essa nova república propunha-se a unir por laços federativos todas as outras províncias dispostas a romper com o centralismo imperial e aderir ao modelo do federalismo republicano. A fundação de uma república foi uma espécie de radicalização do movimento. A República do Piratini seguia com vários elementos que eram fundamentais à ordem monárquica brasileira, tais como a escravidão e o voto censitário. Mesmo assim, ampliou-se o nível de enfrentamento com o império, sobretudo porque os

Lanceiro negro. Pintura de Juan Manuel Blanes.

farroupilhas, no curso da guerra, buscaram alastrar a rebelião para outras províncias. Em 1839, sob o comando de Davi Canabarro e Giuseppe Garibaldi (mercenário italiano atuante em vários processos revolucionários), a rebelião farroupilha incorporou a província de San-

Anita e Giuseppe Garibaldi, lideranças da Revoluçnao Farroupilha.

ta Catarina, fundando a República Catarinense. Diante do avanço do movimento separatista, o governo regencial percebeu que a ação militar não estava bastando. Por isso, apostou na política. Nomeou Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, para

RECONCILIAÇÃO E TRAIÇÃO Lima e Silva articulou o fim da rebelião com Canabarro, e este passou a costurar um acordo com outros dirigentes farrouPARA

O ACORDO

O desfecho da guerra Em 1845, o governo central e os rebeldes assinaram a Paz de Ponche Verde. O movimento separatista foi dissolvido, e os estancieiros reconheceram a ordem monárquica. Eles foram atendidos em muitas de suas reivindicações: obtiveram o direito de escolher o presidente da província, o perdão pela rebelião contra a monarquia e a garantia de sua propriedade privada. Depois de uma luta de dez anos, os farroupilhas

realizar negociações de paz em separado com Davi Canabarro, um dos líderes rebeldes.

pilhas. No entanto, havia nas lideranças alguns setores que tinham dúvidas sobre a reconciliação com o governo. Mais do que isso, a rebelião havia despertado forças populares que não seriam contidas facilmente. Em seu esforço de guerra, os estancieiros prometeram liberdade aos escravos que lutassem. Essa promessa permitiu a incorporação de um importante contingente militar composto por negros na cavalaria e na infantaria, o que trouxe um traço popular ao movimento, que seria traído por sua direção. Para convencer os dirigentes hesitantes e afastar a ameaça dos negros, que estavam armados durante a rebelião e podiam voltar suas armas contra seus exploradores, Canabarro combinou uma derrota militar com as forças monárquicas. Foi o episódio da batalha de Porongos, travada em 1844. Canabarro enviou os soldados negros ao front de batalha, mas os enviou desarmados para que fossem aniquilados. Com uma só manobra, ele afastou o fantasma da rebelião negra e pressionou os líderes farroupilhas a fazerem um acordo depois de grandes baixas no exército.

abriram mão da insurreição contra o governo e da bandeira republicana em troca de concessões mínimas e do extermínio dos escravos envolvidos na luta. No tocante a eles, aliás, a promessa foi cumprida para 5%. Os outros 95% foram massacrados na batalha de Porongos. Foi assim que os estancieiros honraram sua palavra. A Guerra dos Farrapos foi uma aventura de pecuaristas que abandonaram

suas aspirações republicanas para selar um acordo com o governo imperial e destruir o perigo representado pelos negros que hav ia m pa r t icipado dos combates. Pode-se dizer, então, que foi uma espécie de revolução burguesa abortada, sabotada por seus próprios dirigentes, que revela toda a covardia e o racismo que se fazem presentes nas raízes da burguesia brasileira.

LER

Uma certa revolução farroupilha Sandra Pesavento

As lutas do povo brasileiro Julio Chiavenato

Conciliação e reforma no Brasil José Honório Rodrigues PARA

ASSISTIR

A revolução farroupilha Dir.: Sandra Jatahy Pasavento

Netto perde sua alma (2001) Tabajara Ruas e Beto Souza.

ERRATA

O artigo “O levante dos escravos mulçumanos na Bahia”, publicado na edição 572, é de autoria de Wilson H. Silva e Walter Bernardino.


Internacional • Opinião Socialista

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CRISE MIGRATÓRIA

A imagem da barbárie capitalista JENIN SEVILLA ROJA DA CIDADE DO MÉXICO

A

imagem é forte e ganhou o mundo. Óscar Martínez e sua filha Valeria estão caídos, mortos, às margens do Rio Bravo, que separa os Estados Unidos (EUA) e do México. A imagem sugere que o pai morreu tentando protegê-la da força da água. Os dois eram de El Salvador e estavam tentando migrar para os EUA. A tragédia inflamou o rechaço às políticas anti-imigrantes do governo norte-americano e colocaram em evidência a colaboração do atual governo mexicano com Trump.

MÉXICO VIROU MURO O longo drama migratório não abarca só mexicanos que tiveram seus meios de vida prejudicados pela competição com os mega-empreendimentos norte-americanos, surgidos principalmente com o Tratado de Livre Comércio (NAFTA); mas, também, todos aqueles que tentam fugir da pobreza que assola a América Latina. Se nas gestões neoliberais passadas, o México era um funil; no governo atual (igualmente neoliberal, mas envergonhada e mentirosa), de Andrés Manuel López Obrador (AMLO), o México virou o próprio muro. Os problemas na América Central têm sido tão fortes que nem os países mais estáveis da região, como a Costa Rica, conseguem absorver totalmente os migrantes. Por isso, as carava-

Óscar e Valeria Martinez, morreram afogados ao tentarem atravessar o Rio Bravo na divisa EUA-México.

nas que vimos no ano passado (e que, aliás, sempre existiram) desataram a sangria, revelando um êxodo que pode ser comparado com o que temos assistido no norte da África, rumo a Europa.

CHANTAGEM IMPERIALISTA Trump aproveitou o novo Tratado de Livre Comércio com o México (ainda não assinado) para fazer mais uma ameaça: ou o México detém a migração ou serão aplicados novos impostos para a exportação dos produtos mexicanos fundamentais. Diante disto, o secretário de Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, anunciou que o novo organismo de segurança, a “Guarda Nacional” (que aprofunda o processo de militarização do país),

funcionaria em ambas fronteiras para deter os migrantes. E ainda disse que México se responsabilizaria pelos migrantes à espera dos trâmites migratórios nos EUA e que o país daria refúgio à boa parte dos centro-americanos. O acordo foi considerado uma enorme vitória pelo governo do partido Movimento da Regeneração Nacional (MORENA). Contudo, nenhum traficante foi preso. E o que temos visto é a Guarda Nacional separando pais de seus filhos em operativos violentos e centros de detenção de migrantes abarrotados e sem as mínimas condições de higiene, o que faz com que migrantes cheguem a incendiar os locais, como única saída para poder seguir viagem.

CAPITALISMO

A TRAVESSIA O trágico destino de Óscar e Valeria foi o auge de uma viagem marcada por sofrimentos. Os migrantes são alvo de sequestros, seja para pedir resgate às suas famílias, seja para vendê-los ao tráfico de pessoas. Sete em cada dez mulheres migrantes são estupradas no caminho, tanto é assim que os próprios atravessadores aconselham que elas carreguem uma pílula do dia seguinte para não engravidar. Os vínculos entre o Estado e a delinquência organizada são tão fortes que representantes de ambas partes podem ser vistos extorquindo os migrantes. Por fim, vencer os desafios geográficos da fronteira norte e os “vigilantes” (milicianos norte-americanos

que patrulham a fronteira) dispostos a disparar para matar não são coisas tão fáceis para quem já enfrentou tanta barbárie. Ainda assim, o governo de AMLO declara que México segue de cabeça erguida. Insiste na boa amizade com os EUA e diz que seguirá dialogando com Trump. O que eles tentam é convencer a população de que o Plano de Desenvolvimento do Sudeste Mexicano e Triangulo Norte Centro-Americano é a melhor forma para acabar com o problema. A grande sacada desse projeto é dinamizar o Tratado de Livre Comércio entre México e a América Central, a partir de investimentos e da interligação da infraestrutura desses países, o que ajudaria, sobretudo, os capitalistas dos EUA.

EUA GANHA SEMPRE Por trás da suposta jogada diplomática do governo mexicano, Trump ganha de todas as formas. Ganha porque, diante de seu eleitorado, está cumprindo suas ameaças de campanha e faz o México se curvar diante de suas chantagens migratórias. Ganha com um tratado de livre comércio ainda mais favorável para seu país. Ganha ao receber um fluxo menor de pedidos de refúgio e asilo. E ganha, ainda, com o grande leilão que aconteceu em Merida, sul mexicano, onde as câmaras de comércio dos EUA e do México já começaram a dividir as fatias da grande Zona Franca que se planeja abrir, lá, com mão de obra dos migrantes.

Não podemos nos acostumar com a barbárie Na semana em que pai e filha morreram afogados no Rio Bravo, mais nove pessoas tiveram o mesmo triste fim. Toda semana são mais e mais casos, o que faz com que seja cada vez mais doloroso lembrar de todos os nomes, rostos e histórias. Há semanas atrás, a imagem da barbárie era a de uma mãe haitiana, implorando aos jornalistas leite para seu bebê. Houve

também os primeiros mexicanos deportados por Trump, que se jogaram da ponte assim que pisaram no México. E tivemos, ainda, os casos da menina guatemalteca que morreu nas mãos da imigração dos EUA e de outra criança, que morreu nas mãos das instituições mexicanas. Não podemos nos acostumar com este absurdo! Enquanto deixar pessoas se afogarem for a lei,

incendiar centros de detenção para migrantes deve ser a ordem. É preciso organizar os migrantes, reconhecendo que eles são parte da classe trabalhadora. Este é um dever de todos que lutam por um mundo socialista. Ninguém é ilegal! Fronteiras abertas já! Que os capitalistas paguem pela crise! Um mundo socialista é necessário e possível.


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Internacional

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IRÃ

Estados Unidos contra o Irã FABIO BOSCO DE CAMPINAS (SP)

N

o dia 20 de junho, um míssil iraniano derrubou um avião de espionagem americano não tripulado no valor de US$ 130 milhões que havia invadido seu espaço aéreo. Um dia depois, o presidente americano, Donald Trump, decidiu bombardear três bases iranianas, mas recuou dez minutos antes do início da operação. Ele alegou que tomou conhecimento que até 150 iranianos poderiam ser mortos na operação. O próprio jornal New York Times, em editorial de 21 de junho, estranhou que Trump tenha suspendido uma decisão para evitar mortes, já que todos os dias imigrantes latinos morrem na fronteira com os EUA e bombas americanas são lançadas contra a população iemenita. Esse conflito foi precedido pela ampliação da presença militar americana na região e por pequenas explosões em quatro

navios petroleiros próximos ao estreito de Hormuz, uma passagem marítima pela qual atravessam 30% das exportações mundiais de petróleo. Os governos israelense e saudita pressionam os EUA para iniciarem uma agressão militar ao Irã sob qualquer pretexto. Dentro do governo americano, o secretário de Estado Mike Pompeo e o conselheiro de segurança nacional John Bolton são porta-vozes dessa postura belicista que, mesmo sem qualquer ação armada, beneficia diretamente a indústria armamentista e petrolífera americana. Sob o efeito da ameaça de guerra, as vendas de armamentos para Arábia Saudita, Emirados Árabes e Jordânia se ampliaram, além da venda para o próprio governo americano. O clima de guerra também eleva o preço do petróleo. Isso favorece as empresas petrolíferas em geral e viabiliza economicamente a prospecção de petróleo a partir do xisto dentro dos Estados Unidos.

CAZAQUISTÃO RÚSSIA

GEORGIA ARMÊNIA TURQUIA

UZBEQUISTÃO

MAR CÁSPIo

MASHHAD TEERÃ

IRÃ

ARÁBIA SAUDITA

AFEGANISTÃO

PAQUISTÃO

KUWAIT GOLFO PERSA QaTAR EMIRADOS ÁRABES Oman

deroso satélite regional americano ao lado do Estado de Israel e da Arábia Saudita. Após a revolução, o Irã fez vários acordos com os EUA, como a compra de armas nos anos 1980 (Irã-Contras) ou, ainda, o apoio aos governos títeres no Afeganistão e no Iraque, impostos pelo exército americano. Em outros momentos, esteve em dissidência, como na questão nuclear e na agressão saudita contra o Iêmen.

Hassan Rouhani, presidente do Irã

As sanções econômicas contra o Irã foram retomadas por Trump em 2018, ao anunciar a ruptura com o acordo nuclear com o Irã. O caráter abrangente dessas sanções tem efeito mais devastador para a economia iraniana e para a população trabalhadora que uma guerra. Desde seu anúncio, as exportações de petróleo estão em queda, o desemprego aumentou, a in-

flação atingiu 50% ao ano e faltam medicamentos e outros produtos importados. Desde 1980, o governo americano, isoladamente ou em conjunto com os governos europeus e a ONU, aplica sanções contra o Irã. Isso se deve ao fato de a revolução iraniana de 1979 ter mudado a relação com os EUA. Em 1953, um golpe de Estado patrocinado pelo MI6 britânico e pela CIA tornou o Irã um po-

O IRÃ É UM PAÍS CAPITALISTA DEPENDENTE As sanções econômicas foram mais duras entre 2010 e 2015, quando levaram ao colapso da moeda iraniana, o Riyal, em 2012, e desde 2018, sob Trump. Apesar das sanções econômicas serem vendidas como alternativas supostamente mais humanas ou mais inteligentes que a agressão militar, a experiência mostra que, enquanto a população trabalhadora é duramente atingida, os regimes ditatoriais, como o iraniano, se fortalecem internamente. Se as sanções fossem eficazes para impedir a proliferação de armas nucleares, não haveria casos como a Coreia do Norte.

A questão das armas nucleares

TURCOMENISTÃO

ISFAHAN

A guerra já começou

ARMAMENTO

ARZEBAIJãO

IRAQUE

SANÇÕES

Os trabalhadores e as trabalhadoras em todo o mundo repudiam as armas nucleares e de destruição em massa após várias atrocidades como as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945, e as armas químicas usadas contra a população na guerra do Vietnã. Até mesmo a utilização da energia nuclear é objeto de debate. Essa poderosa tecnologia, nas mãos de grupos econômicos ou governos capitalistas, pode levar a novos desastres como os de Three Mile Island, nos EUA, Chernobyl, na anti-

ga União Soviética, ou, mais recentemente, em Fukushima no Japão. A luta contra as armas nucleares começa pelo desarmamento do arsenal dos Estados Unidos, principal produtor e único país a lançar bombas atômicas para fins militares. Enquanto isso não ocorre, é direito de qualquer país semicolonial ou dependente desenvolver armas, inclusive nucleares, para sua defesa. O Irã está ameaçado por duas potências nucleares: os Estados Unidos e o Estado de Israel, que possui um grande

arsenal de bombas nucleares (cerca de 300 ogivas segundo alguns especialistas). É seu direito se defender. • Fora Trump! • Pelo fim das sanções contra o Irã! • Pela retirada de todas as tropas e bases militares americanas da região! • Pelo fim de todo o apoio econômico, diplomático e militar para o Estado de Israel! • Todo apoio ao povo trabalhador iraniano em sua luta pelo fim da ditadura! • Todo apoio às revoluções árabes!


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Opressões • Opinião Socialista

LGBT

É preciso resgatar o espírito de Stonewall WILSON H. SILVA, DA SEC. NACIONAL DE FORMAÇÃO

N

o dia 23 de junho, aconteceu em São Paulo aquela que é considerada a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo, reunindo cerca de 3 milhões de pessoas. É um fato que precisa e merece ser celebrado como expressão de décadas de lutas travadas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos (LGBTs) e, neste momento em particular, como demonstração de resistência aos discursos fundamentalistas e ultraconservadores que correm país afora. Contudo, é impossível falar da Parada de São Paulo sem apontar seus muitos problemas que, este ano, ficaram ainda mais evidentes diante do tema oficial, divulgado pela Associação do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT), ONG que se apropriou e privatizou o evento: “50 anos de Stonewall: nossas conquistas e nosso orgulho de ser LGBT+”.

MERCANTILIZAÇÃO E ALIANÇAS ESPÚRIAS Há tempos, a APOGLBT tem submetido a Parada à lógica do mercado. Isso já deu abertura pra situações esdrúxulas, como a expulsão do carro de som da CSP-Conlutas pela polícia, em 2008, ou a presença de uma coluna patrocinada pelo consulado do Estado sionista de Israel, cujo regime de apartheid é um insulto contra qualquer um que sofra com a opressão. Este ano, foi até pior no que se refere às relações promíscuas da associação com as empresas e os poderes do Estado, deplorável no que se refere ao cinquentenário de Stonewall e, também, ao atual momento político. Em aberto antagonismo com a radicalidade e o significado político da Rebelião de 1969, a Parada de São Paulo foi pensada para ser um desfile do mercado LGBT, o “pink money”. Os 19 trios elétri-

cos tiveram como patrocinadores empresas como Burger King, Amstel, Uber, Avon, Accor Hotels, Philip Morris e Calvin Klein. No campo institucional, a grana veio direto da prefeitura da capital, dirigida por Bruno Covas (PSDB), e do governo do estado de São Paulo, que tem à frente o tucano bolsonarista João Doria. Ao transformar a prefeitura e o governo do estado em parceiros, a APOGLBT converte gente e instituições que sempre foram coniventes com a lgbtfobia, quando não agentes diretos, em pretensos aliados. O que esse povo quer de fato é lucrar com a Parada que hoje é responsável pela ocupação de quase 100% da rede hoteleira da cidade, ficando atrás apenas da Fórmula 1. Lucros cada vez maiores, como demonstra o relatório divulgado pela Prefeitura de São Paulo, segundo o qual a Parada movimentou R$ 403 milhões, 40% a mais que os R$ 288 milhões de 2018.

DESPOLITIZAÇÃO A transformação da Parada num evento de mercado tem como uma de suas piores consequências sua completa despolitização, mesmo num ano em que muitos dos que tomaram as ruas estavam ali para também extravasar sua fúria contra um presidente que recomenda a surra como “cura gay” e a morte como alternativa para quem tiver um filho ou filha LGBT. Isso foi percebido até pela grande empresa. Um artigo da Folha de S. Paulo dizia: “O governo Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de críticas por parte do público que tomou a avenida Paulista. No entanto, em um evento com trios patrocinados e com celebridades, o protesto acabou sendo diluído pelo clima de festa ao longo da tarde.” Nada contra a festa. Irreverência, dançar nas ruas, se beijar e se acarinhar em espaços públicos sempre foram formas de expressão da rebeldia das

LGBTs contra o preconceito e estiveram no centro da Revolta de Stonewall. O problema é quando até mesmo o sentido contestador da festa vira poeira e de nada serve para fortalecer as LGBTs durante o resto do ano no país onde a cada 23 horas um de nós é assassinado.

RESGATAR STONEWALL A situação criada pela APOGLBT foi particularmente lamentável diante dos 50 anos de Stonewall, uma revolta marcada pela radicalidade nos métodos de luta, escracho dos poderosos e ódio à ordem vigente. Mas é preciso lembrar que, para além dos gritos contra o governo, a reforma da Previdência e a lgbtfobia em geral, que explodiam entre uma música e outra, também houve iniciativas concretas de resgate do espírito de Stonewall. Este ano, o PSTU, o Coletivo LGBT Comunista (PCB), setores do PSOL, entidades vinculadas à CSP-Conlutas, o Rebeldia, den-

tre outras entidades e setores independentes organizaram um bloco denominado “LGBTs contra Bolsonaro”, que realizou um ato na esquina da Paulista com a Augusta, na manhã da Parada. O panfleto distribuído pelo bloco defendia a necessidade de fazer da Parada um instrumento para barrar retrocessos e ataques como “o fim da Previdência social; os ataques de toda espécie ao direito do trabalho; o desmonte da educação superior e básica; o desmonte da saúde, principalmente nas políticas de tratamento/prevenção ao HIV/AIDS; o pacote anticrime de Moro, que cria um novo patamar no extermínio da população negra; o Escola Sem Partido e a perseguição do debate de gênero e sexualidade no ambiente escolar”. Para nós, do PSTU, iniciativas como essa são fundamentais não só para fazer jus àquilo que foi Stonewall, mas também pelas reais necessidades do povo LGBT. Estamos entre aqueles e aquelas que acreditam que para celebrar o Orgulho LGBT só há um caminho: a luta. Um caminho que estava nos corações e mentes daqueles que organizaram a primeira Parada, em 1970, em Nova Iorque, como se pode ler no manifesto do Gay Liberation Front (Frente de Libertação Gay), criado no calor das lutas de Stonewall: “Nós somos um grupo revolucionário de homens e mulheres, formado com a compreensão de que a completa liberdade sexual, para todas as pessoas, não pode chegar até que as atuais instituições sociais sejam abolidas. Nós rejeitamos a tentativa da sociedade de nos impor papéis sexuais e definições sobre nossa natureza. (...) Ao mesmo tempo, nós estamos criando novas formas e relações sociais; isto é, relações de irmandade, cooperação, amor humano e sexualidade desinibida. Babylon [o Capital] nos forçou a nos comprometermos com uma coisa... a revolução.”


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mural

ITÁLIA

Capitã é presa por salvar imigrantes

No dia 9 de junho, na Itália, foi presa a jovem capitã alemã Carola Rackete, que comanda o barco de uma ONG holandesa cuja missão é salvar pessoas que estão à deriva no mar, fugindo de seus países. Carola foi presa porque não atendeu à ordem da Guarda Marítima italiana e atracou no porto de

Lampedusa para deixar 40 pessoas que estavam em sério risco de saúde. Todos eram migrantes, negros e africanos. “A comandante Carola não tinha outra opção”, disse Giorgia Linardi, porta-voz da ONG Sea Watch Italia, ao jornal La Repubblica, acrescentando que “durante 36 horas tinha

declarado estado de necessidade, que as autoridades italianas haviam ignorado”. Carola Rackete podia seguir com o barco no mar e deixar as pessoas morrerem. Ou desobedecer às ordens dos italianos e atracar. Foi isso que ela fez. Agora, ela responde pela acusação de “resistência e violência contra um navio de guerra”. O ultradireitista Matteo Salvini, chefe do Governo italiano e amigo de Bolsonaro, disse que Rackete teve um “comportamento criminoso e que pôs em risco a vida dos agentes da Guarda di Finanza” (polícia alfandegária). O capitalismo é assim: a capitã está presa simplesmente porque ousou salvar a vida de gente negra, africana e pobre. Serena, Carola caminhou para a prisão. Pode pegar até 12 anos de cadeia. Mas ela não está só. Virou símbolo da luta contra a política migratória de Salvini. Somos todos Carola!!!.

MBL

Vereador quer internar mulheres que pensem em abortar Um vereador de São Paulo ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday (DEM-SP), apresentou um Projeto Lei na Câmara Municipal que restringe a prática de abortos autorizados pela atual legislação brasileira (em caso de anencefalia do feto, estupro e quando a gestação representa grave risco à vida da mãe). Se o PL for aprovado, as mulheres que desejarem realizar o procedimento em São Paulo deverão conseguir um alvará judicial. Se a gestante conseguir a autorização para o procedimento, ela ainda terá que ser submetida a uma consulta psicológica na qual o profissional tentará dissuadi-la. Mas isso não é tudo. O PL também prevê a possibilidade de

internação psiquiátrica caso as “condições sociais e psicológicas da gestante indiquem propensão ao abortamento ilegal”. Em bom português, quando as mulheres pensem em abortar. O projeto estapafúrdio trata o aborto como caso de polícia. Acontece que a criminalização do aborto no Brasil não impede que o procedimento seja reali-

zado. Só condena mulheres pobres, principalmente as negras, à morte. Hoje, no país, quatro mulheres morrem por dia por realizar aborto em clínicas clandestinas, verdadeiros açougues. Com as mulheres ricas a história é outra. Elas se utilizam das clínicas particulares, viajam até o exterior e pagam fortunas para ter um procedimento seguro. A descriminalização do aborto é, portanto, uma questão de saúde pública. Mas Holiday não está nem aí pra isso. É um criminoso que explora o drama de milhares de mulheres pobres, a maioria negra, como ele, e joga para um eleitorado ultraconservador e desinformado. Tudo pra manter sua “boquinha” como político.

CUMPLICIDADE

Milton Nascimento optou pelo apartheid

Após se silenciar e ignorar todos os apelos de centenas de organizações e pessoas solidárias ao povo palestino, da América Latina à Europa, e, inclusive, uma carta de Roger Waters, do Pink Floyd, o cantor Milton Nascimento optou pelo apartheid sionista de Israel e realizou seu show em Tel Aviv, no último dia 30. Pior, tomou uma atitude ainda mais indigna: tentou justificar sua opção. Disse que foi convidado por “um brasileiro” e que “brasileiros que vivem em Israel” vão ver seu show e não deveriam ser privados de sua arte. Também disse que o show “não tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense”. Os tais “brasileiros que vivem em Israel”, conforme disse Milton, não são os cidadãos palestinos, privados de sua arte e de seu território. “Escrevi para você dizendo claramente que se quisesse ver seu show não poderia – Israel negou minha entrada duas vezes. E pasme: também tenho nacionalidade brasileira. A diferença é que minha origem não é a deles, é palestina, como filha de um refugiado arrancado de sua terra

violentamente aos 13 anos de idade, na limpeza étnica”, explicou Soraya Misleh, ativista palestina-brasileira, em mensagem enviada ao cantor. Por outro lado, o Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) – organização que lidera campanhas de boicote a Israel – já havia explicado que não se trata de um governo, mas de um Estado de apartheid, racista, colonial e de ocupação: o Estado de Israel. A cidade de Tel Aviv, por exemplo, foi construída sobre oito vilarejos de pescadores destruídos pela colonização e pela limpeza étnica sionista. Lamentavelmente, a trajetória de Milton está definitivamente maculada pela decisão de ser cúmplice, sim, do apartheid israelense. Ele também ignorou os apelos do arcebisbo sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz, que apoia a campanha de boicote a Israel, e explicou que apresentar-se em Tel-Aviv é errado, “assim como dissemos que era inapropriado para artistas internacionais tocarem na África do Sul durante o apartheid, em uma sociedade fundada em leis discriminatórias e exclusividade racial”.


Cultura • Opinião Socialista

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SUA MAJESTADE

O centenário de Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo MATHEUS DRUMMOND DE SALVADOR (BA)

O

s festejos juninos animam todo o Nordeste. É a força da cultura de um povo e de um lugar. Muitos contribuíram para que esta cultura popular ganhasse a dimensão que tem hoje. Sem dúvida nenhuma, Luiz Gonzaga foi o tribuno maior, mas foi José Gomes Filho (1919 – 1982), artisticamente conhecido como Jackson do Pandeiro (nome que ele próprio adotou, ainda na adolescência, em homenagem a Jack Perry, um famoso mocinho dos filmes de faroeste), quem abriu caminho para as festas e o universo lúdico da cultura nordestina. Negro, pobre, analfabeto, autodidata, filho de uma cantora de Coco, Jackson do Pandeiro nasceu há quase um século, em 31 de agosto de 1919, na cidade de Alagoa Grande, Paraíba, e, no decorrer da vida, fez do baião, do xote, do xaxado, do coco, do arrasta-pé, do repente e da quadrilha os ritmos que os conduziria ao mundo artístico. Foi engraxate e padeiro, mas, aos 17 anos, largou tudo, passando a se dedicar somente à música. Nos anos de 1940, mudou-se para João Pessoa (PB), onde tocava nas boates e cabarés. Suas apresentações faziam sucesso e foi contratado pela Rádio Tabajara, na capital da Paraíba, para tocar na orquestra da emissora sob a regência do maestro Nozinho que, mais tarde, levou Jackson do Pandeiro para Rádio Jornal do Commercio, no Recife. Mas foi somente aos 35 anos de idade, em 1953, que Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso, um coco no qual ele convida a comadre Sebastiana para cantar e xaxar na Paraíba (“Sebastiana”, composição de Rosil Cavalcanti).

“SANFONEIRO DE BOCA” Franzino, Jackson do Pandeiro era um gigante no palco. Gingava, cantava e brincava com os ritmos. Sua genialidade chamou a atenção da indústria cinematográfica. Entre 1958 e 1962, apa-

receu cantando e dançando em pelo menos oito filmes nacionais, como “Cara boca, Etelvina” (1959), ao lado de Dercy Gonçalves e Zezé Macedo. Br i nc ava com as músicas, transformava a estrutura das frases, quebrava a lógica das estrofes e as reconstruía sobre o compasso original. Tudo isso de forma super natural, so-

mente com a voz e o pandeiro. Seu sonho de menino era ter uma sanfona. A pobreza não permitiu, mas, contudo, não sufocou seu talento. Jackson se tornou um exímio “sanfoneiro de boca”, imitando o som do instrumento com tamanha precisão que podia, assim, mostrar aos músicos o que queria que eles executassem.

CONQUISTANDO O BRASIL Tanto talento não poderia ter ficado restrito ao Nordeste. Jackson do Pandeiro mudou-se para o Rio de Janeiro em meados de 1950 e, de lá, conquistou o Brasil. Estourou na Rádio Nacional e emplacou um sucesso seguido de outro, com músicas que tomaram as paradas de sucesso, como “O Canto da Ema”, “Chiclete com Banana” e “Um a Um”. Na TV Tupi, entre 1954 e 1958, apresentou programas musicais nos quais, além de apresentar seu próprio repertório, revelava novos artistas. Sua fama de “multi-músico” era mais do que justa. No Rio, passou também a compor e a cantar marchas e sambas, sem abandonar os ritmos de suas origens, chegando, no meio de tantos bambas, a emplacar sambas-enredo em escolas como a Império Serrano.

Além disso, foi diretor artístico do primeiro disco de Bezerra da Silva, “O Rei do Coco”, lançado em 1976, no qual, ainda, participou de todas faixas como instrumentista. Não é à toa que ficou conhecido como o rei do ritmo. Jackson do Pandeiro foi um grande entusiasta da cultura popular, particularmente a do Nordeste. Sem dúvida nenhuma ele e Luiz Gonzaga promoveram a nacionalização das canções e gêneros populares nordestinos. Jackson nos deixou em 10 de julho de 1982, em função de uma embolia pulmonar, logo depois de realizar uma apresentação em Brasília. Tinha 62 anos e estava em plena atividade. Pode-se dizer que morreu cantando e divulgando a cultura do seu povo e do seu lugar. Por isso merece todas as homenagens por seu centenário.

Dificilmente surgirá outro como ele

“Esse Esse artista tinha uma característica de divisão métrica dentro da música que é inato. Nem ele conseguia explicar. Pegava uma frase melódica, com tempo e marcação definidos e saia quebrando isso o tempo todo. Ás vezes adiantando, às vezes atrasando, mas sempre, ao final, coincidindo com os acordes da música. Essa brincadeira que o Jackson fazia com a voz e com as músicas é

algo realmente impressionante. O grau de sofisticação, a técnica que ele usava e ao mesmo tempo a intuição, que é aquela coisa natural que vinha espontaneamente e nunca se repetiu e provavelmente nunca se repetirá porque dificilmente surgirá outro como ele”. A afirmação é do jornalista Fernando Moura, que ao lado do também jornalista Antônio Vicente, lançou em 2001, pela Editora 34, a biografia do músico, intitulada “Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo”, que apresenta a vida e a obra do músico. Vale a pena conhecer.

PARA

LER Jackson do Pandeiro, o rei do ritmo Antônio Vicente e Fernando Moura, Editora 34, 2001

Jackson do Pandeiro em Quadrinhos Roteiro de Fernando Moura, com ilustrações de Megaron Xavier, Editora Patmos, 2015


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