Nº575
De 8 a 21 de agosto de 2019 Ano 22 (11) 9.4101-1917
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DERROTAR PROJETO DE DITADURA E SEMIESCRAVIDÃO DE BOLSONARO
DIA 13
Vamos às ruas em defesa da educação e das aposentadorias
PÁGINA 7
INTERNACIONAL
Acordo de Itaipu é um tratado colonial PÁGINAS 10 E 11
Canudos: a guerra dos sertanejos contra a república PÁGINAS 12 E 13
Opinião Socialista
páginadois
2
Boca de Ouro
CHARGE
Falou Besteira Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira BOLSONARO em mais uma de suas fake news. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), aproximadamente 5 milhões de pessoas passam fome no Brasil.
A Câmara dos Deputados pagou ao deputado Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP) R$ 157 mil referentes a um tratamento dentário. O parlamentar argumentou que precisava corrigir um problema de articulação na mandíbula e reconstruir o sorriso com coroas e implantes na boca. O pedido de reembolso chegou a ser rejeitado pela equipe técnica da Câmara sob a alegação de incompatibilidade entre os valores apresentados e os problemas na descrição de parte dos procedimentos. Fe-
liciano recorreu da decisão e, com a ajudinha da Mesa Diretora formada por sete parlamentares, acabou recebendo
Famiglia Bol$onaro A família Bol$onaro é formada por um bando de mafiosos que enriqueceu na política. Desde 1991, quando Jair Bolsonaro assumiu seu primeiro mandato como deputado e deu início à trajetória da família na política, ele e seus três filhos (Flávio, Carlos e Eduardo) empregaram 102 familiares e parentes em diversos cargos segundo levantamento
Expediente Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. CNPJ 73.282.907/0001-64 / Atividade Principal 91.92-8-00. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica
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a grana. O deputado boca-de-ouro alegou que é político e pregador: “Minha boca é minha ferramenta.”
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do jornal O Globo publicado no último dia 4. A investigação aponta que vários desses familiares sequer trabalharam de fato nos cargos para os quais foram indicados. É óbvio que a boquina aumentou no governo federal. Um dos filhos de Bolsonaro vai inclusive ocupar um cargo de embaixador nos Estados Unidos. É a gestão “traz parente”.
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Construir uma alternativa Odeshow antidemocrático classe e socialista ELEIÇÕES 2018
da democracia dos ricos Q A
uando fechávamos esta edição, a Câmara divisão entre osdos deDeputacima dos votava a reforma da da Precontinua. A maior parte vidência em 2º turno. Agora, deve burguesia (grandes empreseguir para o Senado. sários, banqueiros e ruralistas) se Bolsonaro subiu no cavalo definiram por Alckmin. Outra desde para aprovação da reforma em 1º uma turno, te apoia Bolsonaro. Há ainda desatando uma escalada de ataques parte com Marina, outra com Lula às liberdades democráticas, à sobeou com quem ele apoiar e outra com rania do país, à ciência, à cultura e Ciro Gomes. às condições vida da classe traA campanhadeeleitoral começa balhadora e do povo pobre. para valer a partir de agora. Ela encontraOaprojeto maioriaautoritário do povo edo dagoverno classe Bolsonaro-Guedes-Mourão está além trabalhadora indignada, desanimalimites e de mera retórica. Isso da.dos Uma grande percentagem aponta exige, sem nenhuma dúvida, toda para abstenção, voto nulo e indeci- a contra suas investidas autosos.unidade Não é para menos. Os governos, ritárias e em defesa das liberdades até hoje, mantiveram uma desigualdemocráticas. dade social indecente, na qual seis Porémtêm issoapor si só érenda insuficienbilionários mesma que O projeto 100te.milhões deautoritário pessoas. de Bolsonaro não está separado capitalisOs debates na TV da têmcrise a participata e da guerra social, do desmanteção de apenas 8 dos 13 candidatos à lamento dos públicos e da Presidência. Os serviços demais são vetados, entrega do país que o sistema capientre eles a candidata do PSTU, Vera, talistaque decadente Bolsonaro a única defendeexige. um programa é, ao mesmo tempo, a expressão e socialista nestas eleições. aApossibilidade de resposta da classe falta de democracia não para frente à nos longa decadênno dominante veto à participação debates. A cia e processo de reversão colonial desigualdade está também na divisão nas Enquanto últimas décadas eà do ocorridos tempo de TV. Alckmin profunda crise do capitalismo (PSDB) terá quase cinco minutos deno e nodemundo. TV,Brasil o MDB, Temer e Meirelles, e O governo autoritário e cada. projeto o PT terão quase dois minutos capitalista e pró-imperialista ultraliberal de Bolsonaro-Mourão-GuedesEDITORIAL -Rodrigo Maia se complementam e formam uma dobradinha. A verdadeira guerra social da burguesia contra os trabalhadores para aumentar seus sair da não criseservirem capitalisAlémlucros de as eeleições ta um se expressa naentre crueldade do depara debate real os diferensemprego, nas reformas trabalhista tes projetos para o país e imporem e previdenciária, que significam um uma enorme desigualdade, a enorgolpe brutal na classe trabalhadome maioria dos candidatos não diz ra.aIsso vai traçando um mapa de toda verdade sobre suas propostas barbárie para o povo.e devastação, com os ataques ao Vera, meio ambiente, estímulo Exceto do PSTU, otodas as ao genocídio indígena, quilombola demais candidaturas apresentam proe dadentro juventude negra do e pobre eo postas dos limites sistema desmantelamento da educação, capitalista e da atual localização doda saúde dos serviços públicos. BolBrasil na edivisão mundial do trabasonaro, com sua reverência à ditalho, imposta pelos monopólios interdura, expressa impulsiona barnacionais e pelos epaíses ricos, acom bárie capitalista e a polarização da os Estados Unidos à frente. luta de classes. O Brasil está sendo recolonizado. A classe uma dominante, como exVem sofrendo desindustrialipressou bemespecializando-se um dos donos do Itaú, zação relativa, na está considerando excelente a políexportação de produtos básicos de ticatecnologia: econômica.produtos Por isso minimiza baixa agrícolas, a autoritária do governo, porque da cara indústria extrativa e energia. Em lhe é funcional. plena era da nanotecnologia, o Brasil Quanto em mais desemprego, fome é competitivo produção de carne. e miséria, mais lucram grandes emVende óleo cru e importa derivados. presários e banqueiros, mais ricos Vende ferro e importa trilho de trem. e felizes ficam os grandes investido-
Já Vera, do PSTU, só seis segundos. O que define tudo é a grana. A coligação de Alckmin vai receber R$ 800 milhões só do fundo eleitoral. O MDB e o PT, R$ 200 milhões cada. Isso não chega nem perto do que o 1% da população queMeirelles enche os osres, candidatos vão gastar. bolsos comdo a crise. O governo corta pode botar próprio bolso R$ 70 verbas da educação e apresenta um milhões. Amoedo, do velho Partido projeto deum privatização do de ensino suNovo, tem patrimônio R$ 425 perior, colocando as universidades milhões e disse que vai torrar R$ 7 sob controle da Bolsa de Valores. A milhões do bolso. Bolsonaro é outro ganância dessa gentecom não robôs tem limique não gasta pouco na tes: querem a Petrobras e todo o peinternet, viagens e campanha apoiaa Amazônia paradeo redes garimpo datróleo, por ruralistas, donos de e a criação de gado e soja, mesmo lojas, como Flávio Rocha da Riachuetenham que arrebenloque e o para donoisso da Centauro. tarAos povos édaque floresta. verdade as mudanças na Esse projeto de devastação legislação eleitoral foram feitase barsob bárie capitalista precisa sercorrupderromedida por este Congresso derrotá-lo, é preciso contotado. paraPara manter no poder os mesmos trapô-lo a um projeto dos trabalhadores, uma alternativa socialista à crise e ao capitalismo. Não dá para defender uma saída de “mal menor”, de entrega negociada de direitos ou do país ou de reformas mais desidratadas da mesma enDe tudoque, o que o Brasilforma, produz, tregam 70% são direitos. controlados por empresas Os partidos oposição multinacionais quederemetem boaparlaparmentar se conciliam com a política te do lucro que obtêm aqui para fora. de Rodrigo Maia-Paulo Oseconômica grandes empresários brasileiros Guedes-Bolsonaro e se opõem de (donos de bancos, indústrias, redes de fatomeios apenas autoritarismo do golojas, deao comunicação e terras), verno. No que se diferenciam no 31 famílias bilionárias, são sóciosprojeto econômico, defendem uma -menores das multinacionais. Cada impossível voltade aorendas passado recente. dia vivem mais dos altos Ao mesmo passado que nos trouxe juros da dívida pública. aonde hojeclasse estamos. Operam, assim, A nossa trabalhadora receapostando as fichas em be um dos salários maisfuturas baixoseleido ções e no desgaste governo noscom mundo. Hoje, até nado indústria ataques este faz à soossalário já violentos é inferior que ao da China. classe. Daí o corpo mole nas mobiO país é a oitava economia do munlizações. Daí a puxada de tapete na do, mas está em 175º lugar em desicontinuidade daOluta depois donão 14J gualdade social. saneamento pelas cúpulas das centrais sindicais chega nem à metade da população. (à exceção CSP-Conlutas) ou nas Sem falar nadasaúde e na educação negociações dos governadores de que estão à míngua e cada vez mais oposição (PT, PCdoB, PSB, PDT) em privatizadas. torno da reforma Previdência, Os candidatos queda estão aí, exceto além da defesa de uma frente amVera, não dizem como vão garantir pla visando a defesa do status quo. emprego, melhores salários, educaEsse tipo de estratégia constrói
que estão aí. Enquanto temos desemprego recorde e precarização do trabalho, a maioria das candidaturas faz promessas vazias para o povo. Elas estão mesmo comprometidas com o derrotas,eimpotência, desesperanmercado com suas reformas contra e é o que permite que Bolsonaro açaclasse trabalhadora. suba no vamos cavalo. mudar a vida com Não É preciso construir uma alternaeleições de cartas marcadas. Menos tiva independente dos trabalhadores ainda com uma nova ditadura. Só poa partirmudar da base. demos tudoUma que alternativa está aí com socialista, operária e popular. uma rebelião operária e popular,Uma com alternativa resolva as necessidaum governoque e uma democracia nosdesdos da classe trabalhadora, do povo sa, de baixo, em que possamos pobre, que defenda a Amazônia, os governar em conselhos populares. indígenas, os quilombolas, as muA campanha do PSTU estará a lheres, os as LGBTs, a sobeserviço danegros, organização dos de baixo rania e que faça com que os capitae da construção desse projeto. Prelistas paguem pela crise. Um projeto cisamos que você nos ajude nessa que lute para colocar os operários e campanha. o povo pobre no poder. Devemos unir e mesmo exigir a unidade de todos para lutar. Mas precisamos também construir uma alternativa de organização para lutar até o final, de maneira independente da burguesia, possa superar as orgação e saúdeque públicas, gratuitas e de nizações burocráticas que dizem negociam qualidade. Pelo contrário, que direitos e não se dispõem ir além vão investir mais em tudoaisso. Podo capitalismo. A CSP-Conlutas um rém nenhum deles diz que vaié suspolo, um ponto de apoio para isso. pender o pagamento da dívida, que Contudo precisamos também de consome 40% do Orçamento, ou que uma alternativa demultinacionais organização polítivai proibir que as reca que defenda o socialismo e a revometam dinheiro para fora, muito melução. O PSTU está empenhado nisso. nos que vão estatizar e colocar sob Apesar do golpe sobre os trabacontrole dos trabalhadores as princilhadores que significa pais empresas e colocaraaaprovação economia da reforma da Previdência Câmapara funcionar em prol dana maioria. ra, Mesmo é precisocom entender que essa luta diferenças entre ainda não terminou. E, mais imporsi, os demais candidatos estão entante, baixo está gestando-se um tre 50por tons de capitalismo e conbarril de pólvora. dicionados pelo sistema. Não tepreciso para construir e unificar rão Émargem mudar nada de as lutas, empara defesa da baixo. educação, substancial os de Pelo das aposentadorias, do emprego, da contrário, ao governar no sistema Amazônia e dos indígenas, das lidos de cima, farão o que a crise berdades democráticas, da soberacapitalista exige para aumentar o nia, contra seu projeto lucro deles:Bolsonaro explorare mais, tirar de semiescravidão. nossos direitos e entregar o país. Vamos as ruas no dia 13! O Brasiltomar precisa de um projeto Vamos defender a necessidade socialista! da Greve Geral!
50 tons de capitalismo dependente
Nacional • Opinião Socialista
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INSULTO A QUEM LUTOU POR LIBERDADE
Bolsonaro, cúmplice da ditadura LUCIANA CANDIDO DA REDAÇÃO
B
olsonaro conseguiu ultrapassar todos os limites. Dirigindo-se ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, disse: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer saber.” O pai de Felipe, Fernando Santa Cruz, foi morto pelo regime militar. O fato é reconhecido em atestado de óbito emitido pelo próprio governo, que diz que Fernando morreu “em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro.” Também está registrado em documentos da Aeronáutica e do Exército.
Fernando Santa Cruz, em primeiro plano, à direita.
Para Bolsonaro, esses documentos são balela. Não bastando a crueldade e a empatia de um psicopata, disse que não falou nada de mais, que Fernando fora morto por
seus companheiros da Ação Popular Marxista-Leninista (AP), organização da qual o jovem fazia parte e que Bolsonaro classificou como terrorista e sanguinária.
A INVENÇÃO DA HISTÓRIA Fernando Santa Cruz desapareceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1974. Documentos da Comissão Nacional da Verdade dizem que seu corpo provavelmente foi incinerado numa usina em Campos de Goitacazes (RJ). Os testemunhos são de agentes do próprio regime militar. É uma desonestidade chamar a AP de terrorista. Foram bravos militantes que resistiram à repressão armada. A AP sequer foi da guerrilha. Assim como a Liga Operária, que deu origem à Convergência Socialista e, depois, ao PSTU, optou pela atuação junto às massas estudantis e aos trabalhadores. O trabalho mais sanguinário da AP provavelmente era distribuir panfletos.
FALSIFICADOR DA HISTÓRIA
As balelas de Bolsonaro Na sequência de absurdos, Bolsonaro trocou quatro dos sete membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos por assessores do seu partido (PSL) e militares. O motivo? “Mudou o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita, ponto final”, disse ele.
Já havia problemas quanto aos recursos destinados ao órgão. Agora, há membros abertamente a favor do regime militar. Um dos novos integrantes, Filipe Barros, defendeu a comemoração do golpe de 1964. “Como é que você pode deixar que a memória da luta contra o regime militar esteja nas mãos
JÁ BASTA!
daqueles que concordam com a tortura?”, questiona Luís Carlos Prates, o Mancha, da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, metalúrgico e anistiado político da Convergência Socialista. Bolsonaro pôs em marcha um conjunto de ações que inclui calúnia, falsificação da história, medidas autoritárias
e ameaças para exibir um projeto de ditadura que, por ora, representa apenas sua vontade. “Essas declarações do Bolsonaro são parte de uma escalada autoritária que tem como objetivo apagar a memória da ditadura e apagar a própria existência da ditadura”, alerta Mancha.
NA MIRA DA DITADURA
Tem que frear o presidente O alvo foi sempre a
Bolsonaro está se sentindo muito à vontade instigando ódio por aí, mandando e desmandando, atacando trabalhadores e oprimidos. Passou da hora de dar um basta nisso.
Assim como na ditadura, os trabalhadores estão sendo chamados a lutar. Por um lado, é preciso a mais ampla unidade entre todos que defendem as liberdades democráticas. Não se pode permitir um milímetro de retrocesso. Por outro lado, os trabalhadores e a população pobre, em particular a classe operária, precisam resgatar as lições das grandes lutas que puseram fim à ditadura. Só com muita mobilização será possível derrotar o governo e seu projeto autoritário e de ataques aos direitos.
classe operária
A ditadura teve como principal alvo a classe operária, desde 1964. Num primeiro momento, o objetivo era frear as organizações que cresciam no governo João Goulart. Uma das primeiras ações dos golpistas foi a intervenção nos sindicatos. Isso favoreceu o surgimento de uma resistência semiclandestina nas fábricas. Esse movimento só foi barrado com o AI-5, em 1968. No final dos anos 1970 e início dos 1980, os operários voltaram à cena. Partindo das fábricas do ABC paulista, uma onda
de greves se espalhou país afora. Naquele momento, já aconteciam manifestações de massa, principalmente de estudantes. Com a classe trabalhadora em movimento, a ditadura teve seu fim decretado. Os trabalhadores foram perseguidos, ficaram desempregados, foram obrigados a se mudar. Havia uma lista compartilhada entre as empresas. O trabalhador que tivesse seu nome nessa lista dificilmente arrumaria emprego em algum lugar.
REPARAÇÃO
Obrigação do Estado LUÍS CARLOS PRATES “MANCHA”, DE SÃO JOSÉ DO CAMPOS (SP)
Em agosto, a Lei da A n i s t i a c omple t a 4 0 anos. A lei foi promulgada no Congresso Nacional por uma diferença de apenas quatro votos. É uma anistia que dá margem a uma interpretação de que se pode anistiar também os torturadores. Por causa dessa interpretação, o Brasil se transformou no país da impunidade para os militares. Ao mesmo tempo, nenhum governo, incluindo os do PT, garantiu a abertura dos arquivos da ditadura. Diferentemente de outros países da América Latina, aqui não houve punição. Isso permite que hoje surja um Bolsonaro defendendo o regime militar. É hora de retomar a luta pela anistia, exigir a reparação aos presos, aos perseguidos políticos e punição aos torturadores. Bolsonaro tem que ser enfrentado com mobilização e unidade de todos os setores que lutam pelas liberdades democráticas, em particular da classe trabalhadora.
Opinião Socialista •
Nacional
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NÃO NOS INTIMIDARÃO!
Contra as ameaças de Bolsonaro às liberdades democráticas CAPITALISMO
A escalada autoritária de um sistema podre
JOSÉ EDUARDO BRAUNSCHWEIGER DO RIO DE JANEIRO (RJ)
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mbalado pela aprovação em 1º turno da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro desferiu uma série de ataques contra os direitos e as liberdades democráticas nas últimas semanas. Seu tom é bastante preocupante, sobretudo porque vivemos num regime democrático e não numa ditadura como ele tanto reverencia. As críticas aos nordestinos e os ataques a jornalistas, ambientalistas, indígenas e vítimas da ditadura militar feitos por Bolsonaro representam ofensas aos direitos e às garantias fundamentais presentes na Constituição e devem ser repudiados de forma dura.
PORTARIA 666 A “liberdade de imprensa” e o “sigilo da fonte” estão estabelecidos constitucionalmente. Por isso, é ilegal a medida do ministro Sérgio Moro que, mediante a Portaria 666, instituiu a “expulsão de estrangeiros”. É evidente, nesse caso, a ameaça à Glenn Greenwald, jornalista do The Intercept responsável por uma série de reportagens que denunciam graves irregularidades e corrupção no Poder Judiciário.
DITADURA MILITAR O respeito à dignidade da pessoa humana, que compreende também o respeito à memória dos mortos, das vítimas da ditadura, foi duramente vilipendiado por Bolsonaro, que num rompante provocou o presidente da OAB ao dizer que contaria para ele o que havia ocorrido com seu pai, Fernando Santa Cruz, desaparecido e morto durante a ditadura, fato já reconhecido pelo Estado brasileiro. INDÍGENAS Outra, entre tantas medidas que mereceram repúdio, foi a reedição, numa mesma legislatura, de Medida Provisória que transferia a demarcação de terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura, o que já havia sido rejeitado pelo Congresso. O Supremo Tribunal Federal, em decisão unânime, derrotou novamente Bolsonaro. Os ataques de Bolsonaro aos direitos e às liberdades democráticas são verdadeiros disparates, que não alteram o regime político, mas não minimizam a gravidade das mesmas. Assim, mais que nunca reafirmamos que na luta contra a exploração e as opressões não abrimos mão de direitos e liberdades democráticas, partes fundamentais do programa e da luta pela revolução socialista no Brasil.
Os arroubos de Bolsonaro são a expressão mais grotesca de um regime e de um sistema capitalista no qual a burguesia nunca garantiu plena democracia para todos. Na verdade, para a população negra e pobre da periferia, para mulheres e jovens pobres, nunca existiu o Estado democrático de direito. São essas pessoas as maiores vítimas do autoritarismo e da violência.
ESCALADA AUTORITÁRIA A redemocratização do país, duramente conquistada pela luta dos trabalhadores, não levou à apuração dos crimes da ditadura, que permanecem impunes até hoje. Diferente de outros países, como Argentina, onde os militares foram julgados e condenados. Os governos que se sucederam desde então não pouparam medidas autoritárias, a começar pela edição de múltiplas Medidas Provisórias. Não esquecemos o massacre de sem-terra em Eldorado de Carajás (PA), ocorrido duran-
te o governo FHC, e a compra de votos para a aprovação da sua reeleição. Temos de lembrar a ocupação do Haiti, que iniciou no governo Lula e durou 13, cujo primeiro-comandante foi o general Augusto Heleno, atual chefe do Gabinete de Segurança da Presidência. Essa ocupação militar, além de oprimir o povo haitiano, serviu à chamada “guerra às drogas” no Brasil (guerra aos pobres, na verdade) e a um encarceramento em massa de pobres, negros e jovens. O resultado é 40% da população carcerária sem um devido processo legal e sem garantias de ampla defesa, pessoas que sequer foram julgadas e morrem nas cadeias, como no recente massacre de Altamira (PA). A Lei Antiterrorismo, sancionada por Dilma Rousseff em 2016, também foi um ataque à democracia ao permitir a criminalização dos movimentos sociais. Basta ver o julgamento e a condenação dos 23 ativistas do Rio de Janeiro por lutarem
contra o superfaturamento das obras da Copa e das Olimpíadas.
LICENÇA PARA MATAR Tudo isso deu margem para o “Pacote do Moro”, que é totalmente ineficaz para o combate ao crime, mas muito efetivo para atacar mais ainda os pobres e os negros. São medidas que, na prática, legalizam a “licença para matar” em situação de “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. Mesmo antes da sua aprovação, já tem significado um crescimento desenfreado dos autos de resistência. Estamos em meio à maior crise de nossa história. O sistema capitalista em que vivemos aprofunda a entrega de nossas riquezas, destrói o meio ambiente, ataca conquistas e direitos econômicos, sociais e democráticos. A única forma de garantir melhores condições de vida e trabalho para todos, direitos e liberdades democráticas é construindo uma nova sociedade socialista, na qual o poder político e econômico esteja nas mãos da classe trabalhadora e dos oprimidos.
ABI REALIZA
Ato em solidariedade ao The Intercept Brasil Em 30 de julho, foi realizado o “Ato em Solidariedade a Glenn Greenwald e ao The Intercept Brasil”, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. O ato contou com a presença de trabalhadores, ativistas e militantes dos movimentos socia is, pa r t idos políticos, artistas, jornalistas e intelectuais. Diversos oradores foram int ransigentes na defesa da liber-
dade de i mprensa. Cy ro Garcia, presidente do PSTU-RJ, destacou: “Essa escalada autoritária não co-
meçou agora, mas infelizmente desde antes, com a famigerada Lei Antiterrorismo do governo Dilma.”
Nacional • Opinião Socialista
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13 DE AGOSTO
Vamos às ruas contra Bolsonaro, em defesa da educação, do emprego e da aposentadoria DESEMPREGO, PRECARIZAÇÃO E PREVIDÊNCIA A reforma da Previdência só vai enriquecer os grandes empresários e atingirá em cheio os trabalhadores e a juventude trabalhadora. Não vamos conseguir nos aposentar nunca. Aos jovens, restarão empregos precários, informais e sem direitos. Hoje, a taxa de desemprego na juventude já chega a 25%. É por isso que, junto com a luta em defesa da educação, é importantíssimo que esteja a luta contra a reforma e em defesa do emprego!
MANDI COELHO E MARINA CINTRA, DA REBELDIA
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ia 13 de agosto é dia nacional de luta contra os ataques à educação e em defesa da educação pública. Esse dia foi convocado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e já conta com a convocatória de diversos movimentos sociais, entidades e partidos. É muito importante construirmos grandes protestos e mobilizações para derrotar os cortes na educação e os projetos de privatização de Bolsonaro e para mandar um recado para o Congresso Nacional corrupto que aprovou a reforma da Previdência.
ATAQUES À EDUCAÇÃO Bolsonaro anunciou um corte de 30% de verbas nas universidades federais dizendo que o dinheiro seria necessário para investir na educação básica. Isso é uma mentira deslavada. Bolsonaro também cortou R$ 2,4 bilhões da educação básica e chantageou dizendo que se a reforma da Previdência não fosse aprovada, mais cortes seriam realizados. Mais trapaças de um governo que só sabe mentir e quer destruir a educação pública.
QUEM NEGOCIA, TRAI!, faixa em manifestão no dia 6 de agosto, em São Paulo
Porém o governo anunciou um novo corte de R$ 348 milhões na educação, totalizando R$ 6,2 bilhões em cortes. Também anunciou, no início do segundo semestre, um projeto chamado “Future-se”. Se aprovado, esse projeto significará a privatização das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), desobrigando o Estado de investir nessas instituições.
O “Future-se” visa criar um fundo patrimonial, no qual seria investido dinheiro público e privado para a educação superior. Esse fundo será gerido pelo mercado financeiro, ou seja, os institutos e as universidades federais serão controlados pelo mercado financeiro. O “Future-se” também propõe parcerias público-privadas, o que significa, por exemplo, que a universidade, assim
como os estádios de futebol, poderá ter o nome da empresa: Universidade Itaú, Universidade Bradesco etc. Sem falar que esse projeto possibilita a cobrança de mensalidades nas universidades, pois seria uma das formas de captação de recursos. Por tudo isso, o projeto tem sido chamado de “Fature-se”, uma vez que só vai beneficiar os capitalistas.
REPRESSÃO AUMENTA É preciso dizer ainda que também vemos uma forte repressão às lutas dos estudantes, com Bolsonaro fazendo sempre declarações de apoio à ditadura e à repressão. Além disso, aumenta a política de polícia nas escolas nos estados. É o caso de São Paulo, com João Dória (PSDB), que anunciou mais militarização, falando que seria uma forma de “medida de segurança”. É assim também no Paraná, com Ratinho Júnior (PSD) e seu projeto Escola Segura. Sabemos muito bem que o que ele quer é controlar cada vez mais a luta dos estudantes e reprimir.
SAÍDA
O Brasil precisa de uma revolução socialista Bolsonaro é aliado dos grandes empresários e das milícias. É corrupto e inimigo da juventude e dos trabalhadores. É por isso que devemos confiar na luta dos trabalhadores e dos estudantes para barrar tudo isso, como fizemos no dia 15 e 30 de maio e depois no dia 14 de junho. No dia 13 de agosto,
precisamos realizar protestos ainda mais fortes. As centrais sindicais e os partidos devem comprometer-se em construir uma nova greve geral no país, em defesa da educação, do emprego e contra a reforma da Previdência. É preciso dar um basta em Bolsonaro e Mourão e colocar
para fora o ministro da educação. Também precisamos refletir que o projeto que foi apresentado pelo PT durante os 13 anos de governo não é a solução para os problemas da juventude e dos trabalhadores. No governo da Dilma, por exemplo, foram cortados mais de R$ 10 bilhões da educação.
Além disso, precisamos lembrar que todos esses ataques estão diretamente ligados ao sistema capitalista, que tem como único objetivo garantir os lucros de uma minoria da população (menos de 1%), que são os grandes empresários e os patrões. O capitalismo explora e oprime
a juventude e os trabalhadores todos os dias no Brasil e no mundo. Precisamos saber que nunca teremos nossos direitos garantidos e nunca haverá melhorias em nossas vidas dentro do capitalismo. Por isso, defendemos que o Brasil e o mundo precisam de uma revolução socialista!
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Veja o que foi aprovado na Câmara Enquanto fechávamos esta edição, a Câmara aprovava a reforma da Previdência em 2º turno. Agora, a PEC 06/2019 vai para o Senado, onde também precisa passar por votação em dois turnos. O governo articulava um projeto para liberar mais R$ 3 bilhões em emendas para garantir os votos dos deputados mercenários. NA LUTA
SAIBA MAIS IDADE MÍNIMA Como é hoje: Não há idade mínima. O trabalhador pode aposentar-se com 35 anos de contribuição no caso dos homens e 30 no das mulheres. Com a reforma: Idade mínima de 65 anos no caso dos homens e 62 no das mulheres. Quem já tiver mais de 35 anos de contribuição vai precisar esperar completar a idade mínima, prejudicando quem precisou começar a trabalhar cedo.
PENSÃO POR MORTE Como é hoje: Valor da pensão é integral. Com a reforma: Cai para 60% do benefício mais 10% por dependente. Caso a beneficiária tenha outro tipo de renda ou algum filho trabalhe, a pensão pode ficar abaixo do salário mínimo.
ABONO DO PIS Como é hoje: Tem direito a um abono igual a um salário mínimo quem recebe até 2 salários mínimos.
CÁLCULO DAS APOSENTADORIAS PARTE 1 Como é hoje: Benefício é calculado sobre a média dos 80% maiores salários de contribuição. Com a reforma: Cálculo recai sobre a média de todos os salários, gerando uma perda que pode ir de 10% a 18%.
CÁLCULO DAS APOSENTADORIAS PARTE 2 Como é hoje: Aos 65 anos os homens, e aos 60 as mulheres, com 15 de contribuição, é possível se aposentar com 85% do salário benefício. Com a reforma: Com 15 anos de contribuição, o benefício será de somente 60%. Aumenta 2% a cada ano (após 15 de contribuição no caso das mulheres e 20 no dos homens), chegando a 100% com 35 anos de contribuição as mulheres (aos 62 anos de idade) e 40 anos os homens (aos 65 anos de idade). O tempo de mínimo de contribuição sobe para 20 anos para os homens que entrarem no INSS após a promulgação da reforma.
Com a reforma: Tem direito só quem ganha até R$ 1.364,43.
DEIXAR DE CORPO MOLE
Direções precisam convocar luta contra o governo e seu projeto Enquanto os deputados aprovavam a reforma na Câmara, só a CSP-Conlutas convocava protestos contra esse ataque às aposentadorias. As direções das demais centrais continuam fazendo corpo mole e apostando nas negociações. Esse é o caminho para a derrota.
É preciso unir as lutas e as bandeiras dos diversos setores, dos estudantes aos trabalhadores e desempregados, e ir às ruas contra a reforma, os cortes na Educação, o desemprego e esse projeto de barbárie, entrega e guerra social desse governo.
CSP-Conlutas foi às ruas contra a reforma e os cortes na Educação e pelas liberdades democráticas No dia 6 de agosto, a CSP-Conlutas chamou um dia nacional de mobilização contra a reforma. Em várias partes do país, houve protestos, manifestações e panfletagens, alertando os trabalhadores e o povo sobre os ataques às aposentadorias. Ocorreram atos em capitais como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), São Luís (MA) e Belém (PA). “A CSP-Conlutas não desistiu da luta contra a reforma da Previdência e chamamos os trabalhadores de todas categorias para reagirem contra esses ataques aos nossos direitos”, defende o dirigente da central, Luís Carlos Prates, o Mancha.
SÃO PAULO Em São Paulo, ocorreram panfletagens e assembleias. No final do dia, um ato reuniu cerca de mil manifestantes na Avenida Paulista. Numa ação truculenta, a PM impediu o funcionamento do carro de som, mas a mobilização ocorreu mesmo assim. SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) O Sindicato dos Metalúrgicos realizou assembleias em fábricas como a TI Automotive, JC Hitachi, Ericsson, além da Armco, em Jacareí. Trabalhadores da Tarkett, base do sindicato dos Químicos, também realizou assembleia. Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO Houve assembleia nas bases de petroleiros do Sindipetro-RJ. Na capital carioca,
ocorreu um ato ao final do dia na escadaria da Câmara Municipal, na Cinelândia. Belo Horizonte
BELO HORIZONTE (MG) Ocorreram assembleias em empresas de São João Del Rei desde o dia anterior. Profissionais da Educação realizaram um ato convocado pelo Sind-Rede, filiado à CSP-Conlutas. Fortaleza
FORTALEZA (CE) Após panfletagens nos bairros da periferia, ocorreu um ato no Terminal do Siqueira. ARACAJU (SE) Ocorreu ato em frente à Petrobras.
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Bolsonaro defende ditadura e entrega do país PATRIOTISMO FAKE
DA REDAÇÃO
Desde que assumiu, Bolsonaro mostrou a que veio. Ao mesmo tempo em que exibe sua vergonhosa submissão a Trump e aos EUA, indicando sua intenção de entregar todo o patrimônio nacional ao grande capital estrangeiro, quer aumentar a exploração e a retirada de
direitos aqui. Para isso, beneficia banqueiros, grandes empresários e latifundiários, mesmo que tenha de impor uma semiescravidão. A serviço desse projeto, Bolsonaro mostra todo o seu viés autoritário, investindo contra as liberdades democráticas, tanto no discurso quanto em medidas repressivas.
O QUE ELE QUER
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Governo promove guerra social e barbárie
iante da crise econômica e social, a saída do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional corrupto é aumentar ainda mais a guerra social contra os trabalhadores e os mais pobres, principalmente os mais oprimidos, como os negros, as mulheres, os indígenas e os quilombolas. A reforma da Previdência que está sendo votada no Congresso vai retirar o direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores, condenando os pobres à miséria absoluta. Ataca as pensões das viúvas pobres e quem recebe menos com o fim do abono do PIS. Transfere quase R$ 1 trilhão do bolso dos trabalhadores e dos pobres aos banqueiros.
TRABALHO ESCRAVO A reforma trabalhista, por sua vez, vem aumentando a precarização e a pobreza. Enqua nto Bolsona ro quer “flexibilizar” as regras contra o trabalho escravo, reduz em 90% as normas de segurança do trabalho e reclama do que chama de “excesso de direitos” no Brasil. Chegou a anunciar que trabalharia
Bolsonaro quer entregar o país a Trump Bolsonaro foi eleito com um discurso pretensamente patriótico e nacionalista – “Brasil acima de tudo”, dizia. Mas, na Presidência, bate continência para a bandeira dos EUA e pratica um entreguismo nunca visto. Deu sinal verde à venda da Embraer à norte-americana Boeing: uma das únicas empresas no país que produzem tecnologia de ponta foi entregue aos EUA. Outro crime foi a venda da BR Distribuidora por R$ 8,5 bilhões. A lucrativa e estratégica subsidiária da Petrobras lucrou mais de R$ 3 bilhões só em 2018. Ou seja, foi vendida a preço de banana. Da mesma forma, o governo está vendendo as refinarias. A Eletrobras também está sendo entregue ao capital internacional, e os Correios estão na mira. Há também o subsolo. Bolsonaro quer seu filho como embaixador nos EUA para abrir a Amazônia e as terras indígenas ao garimpo, às mineradoras e a “investimentos” do capital internacional, colocando
em risco a floresta e liberando o genocídio indígena. O projeto de Bolsonaro e de Paulo Guedes é entregar todas as riquezas e o patrimônio nacional aos banqueiros estrangeiros e a Trump. Ao Brasil, restaria o papel de fornecedor de matérias-primas como soja, ferro e carne. Uma volta à condição de mera colônia. Na campanha, Bolsonaro disse que amava o Brasil. Na Presidência, como declarou à imprensa, se mostra mesmo “apaixonado” por Trump.
A CARA DESSE GOVERNO
pelo fim da multa de 40% sobre o FGTS para as demissões por justa causa.
DESEMPREGO Aos 13 milhões de desempregados oficiais segundo o IBGE, ou aos quase 30 milhões de pessoas sem empregos, ou aos 35 milhões de informais, e àqueles que “criticam o patrão”, Bolsonaro disse que deveriam empreender “para ver como é barra pesada ser em-
presário no Brasil”. Ou seja, para Bolsonaro, quem tem a vida difícil não é o trabalhador que sobrevive com um salário de fome ou está desempregado, mas o empresário. Bolsonaro quer devolver as terras desapropriadas de quem foi flagrado usando trabalho escravo. Esse é o projeto de Bolsonaro: aprofundar a barbárie do capitalismo, cuja degradação condena milhões à pobreza e à miséria.
Corrupção e nepotismo Senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP) empregava laranjas no seu gabinete. Fabrício Queiroz, laranja do senador, movimentou R$ 3 milhões em 3 anos. Flávio Bolsonaro empregava mãe e mulher de miliciano em seu gabinete.
Bolsonaro e família empregaram 102 familiares ao longo da carreira política. Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Bolsonaro, indicado a embaixador dos EUA
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para impor semiescravidão PROJETO DE DITADOR
Ataque às liberdades democráticas para aumentar a exploração Após a aprovação da reforma da Previdência em 1º turno na Câmara, Bolsonaro se sentiu fortalecido para investir contra as liberdades democráticas. É um conjunto de absurdos, entre declarações e medidas concretas, que precisa ser combatido de forma dura. Vejamos algumas medidas: Mentiu sobre o pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, executado de forma bárbara nos porões da ditadura quando Felipe tinha apenas dois anos. Atacou fatos históricos reconhecidos para caluniar as vítimas da ditadura e, como mais uma provocação, mudou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, colocando membros que defendem torturadores. Sergio Moro baixou a Portaria 666 cujo alvo é o jornalista fundador do site The Intercept. A medida permite a deportação instantânea de qualquer estrangeiro que o governo reconheça
Propostas socialistas neles!
como “perigoso” sem precisar de justificativa. Demitiu o diretor do Inpe, o físico Ricardo Galvão, e sinalizou a adoção de censura para impedir a divulgação dos dados sobre o desmatamento na Amazônia. Defendeu os garimpeiros no caso da invasão das terras dos indígenas Wajãpi, no Amapá. Garimpeiros armados invadiram o território e assassinaram um cacique. Bolsonaro disse ainda que vai liberar o garimpo nas áreas indígenas. Em Manaus, a Polícia Rodoviária Federal invadiu o sindicato dos professores em que era realizada uma reunião preparatória de um ato por ocasião da visita de Bolsonaro à região. Em São Paulo, a PM invadiu um encontro de mulheres do PSOL. Também em São Paulo, um torcedor do Corinthians foi agredido com violência e detido pela PM por xingar Bolsonaro.
SISTEMA PODRE
Isso é o capitalismo Essa barbárie é a expressão do capitalismo. A pobreza e a miséria significam os lucros dos banqueiros como disse o diretor do Itaú, Candido Bracher: “Quando tem fator de produção [trabalhadores no olho da rua] sobran-
CONTRA A CRISE CAPITALISTA
do tanto, significa que podemos crescer sem pressões inflacionárias”, disse. Ele vai além, diz que o alto desemprego “deixa a situação macroeconômica do Brasil tão boa quanto nunca vi na minha carreira”.
A esse projeto de devastação e barbárie capitalista, devemos contrapor um projeto dos trabalhadores, uma alternativa socialista à crise e ao capitalismo. Não dá para ficar nessa de negociar menos direitos ou mal menor. É necessário e possível termos um país com pleno emprego. Basta reduzir a jornada de trabalho sem diminuir os salários. Revogar a reforma trabalhista e implementar um plano de obras públicas que resolva,
ao mesmo tempo, o problema do emprego, da moradia, do saneamento básico e demais questões que afligem a vida do povo e dos trabalhadores. Precisamos, ainda, de um salário mínimo que a própria Constituição assegura (segundo o Dieese, deveria ser de R$ 4 mil). Precisamos de educação e saúde públicas gratuitas e de qualidade. Aposentadorias dignas para todos e, para isso, temos de impedir a reforma da Previ-
dência. Precisamos de reforma agrária, de demarcação das terras indígenas e quilombolas. Nada disso é possível sem suspender o pagamento da falsa e mal chamada dívida pública, essa corrupção institucionalizada que drena nossos recursos para os banqueiros. É preciso também reestatizar as estatais que foram privatizadas e coloca-las sob o controle dos trabalhadores e não de políticos corruptos; estatizar o sistema financeiro, também sob controle dos trabalhadores, e proibir as remessas de lucros ao exterior. Precisamos lutar para colocar os operários e o povo pobre no poder, para que governem em conselhos populares, garantam uma verdadeira democracia e uma sociedade socialista, igualitária, justa e fraterna. Uma sociedade sem exploração, sem machismo e violência contra as mulheres, sem racismo, sem lgbtfobia. Precisamos de um governo socialista dos trabalhadores que governe por conselhos populares.
NÃO VAMOS VIRAR COLÔNIA
Derrotar o projeto autoritário e contra os trabalhadores nas ruas e nas lutas A única forma de derrotar esse projeto de guerra social de Bolsonaro é com mobilização e organização operária e popular. Os trabalhadores, a juventude, os setores populares e o povo pobre precisam unir suas lutas e bandeiras. É um erro separar a luta pela educação da luta contra a reforma da Previdência. Da mesma forma, fazer corpo mole na luta contra a reforma da Previdência, que
está passando sem uma resposta à altura, fortalece Bolsonaro e seus ataques às liberdades democráticas. Defender explicitamente a reforma e ainda a inclusão de estados e municípios nela, como têm feito os governadores do PT, do PCdoB e de toda a oposição, é atacar os trabalhadores e, por consequência, fortalecer Bolsonaro e sua escalada autoritária. Vamos derrotar o governo Bolsonaro nas ruas e nas lu-
tas. É necessária uma greve geral contra a reforma da Previdência, em defesa da Educação, do emprego e das liberdades democráticas, contra as privatizações, pela revogação da reforma trabalhista e em defesa da Amazônia, dos povos indígenas, dos quilombolas, das mulheres, dos negros e negras e das LGBTs. Vamos tomar as ruas! Chega de Bolsonaro, Guedes e Mourão! Ditadura nunca mais!
Internacional • Opinião Socialista
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Um tratado colonial JUAN VILLAMAYOR DE ASSUNÇÃO (PARAGUAI)
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ma enorme crise política explodiu no Paraguai. O motivo foi a realização de um acordo secreto entre o país e o Brasil a respeito de distribuição de energia. O acordo foi firmado no dia 24 de maio, mas seu
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conteúdo só se tornou público no final de julho. O acordo estabelecia um preço para a energia para os próximos quatro anos, o que seria muito desfavorável ao Paraguai. Até 2022, se esse ato fosse aplicado, o Paraguai perderia US$ 350 milhões. Uma conta que certamente seria transferida para os consumidores do país por meio de tarifas.
COISAS SOBRE
O tratado foi o estopim para que a oposição pedisse o impeachment do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, e do vice-presidente, Hugo Velázquez. Eles são acusados de traição à pátria. Estão sendo realizados vários protestos e atos em defesa da soberania do país. Quatro membros do alto escalão do governo paraguaio já renunciaram aos cargos após a divulgação do acordo.
ITAIPU
Itaipu nasceu de uma invasão militar brasileira
Quando a hidroelétrica de Itaipu foi construída, foi considerada a maior do mundo. Mas o que você não sabe é que a hidroelétrica foi feita sobre território paraguaio roubado pelo Brasil em 1965. Desde 1955, o Brasil estudou o potencial hidrelétrico da área dos Saltos do Guairá (também conhecida como Sete Quedas). O Paraguai era governado pela ditadura militar, comandada pelo general Alfredo Stroessner, um personagem absolutamente servil para os EUA. Em junho de 1965, sob a ditadura militar, o Brasil invadiu Puerto Renato e uma zona de 20 quilômetros com a falsa alegação de que o território estava em disputa desde a Guerra do Paraguai (1864-1870). Para legalizar a invasão militar brasileira, o Tratado de Foz do Iguaçu foi assinado com a mediação norte-americana em 22 de junho de 1966. Por esse protocolo, as duas ditaduras concordaram em construir uma futura represa hidrelétrica na área e aproveitar seu potencial energético. Dessa forma, os Saltos do Guairá, ocupados por tropas brasileiras, seriam considerados uma espécie de comunidade de bens entre os dois países, uma vez que a construção de Itaipu pressupunha a inundação de toda a área. As tropas brasileiras só se retiraram em 1982, quando o território estava submerso. Mais isso não é tudo. No Tratado de Itaipu de 1973, foi estabelecido o poder de invasão militar pelos estados signatários. Em diversas ocasiões, o Brasil realizou
exercícios militares e simulou a captura da usina hidrelétrica, sendo o mais conhecido deles em 2009.
Construção de Itaipu, 1978.
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Para tentar salvar Mario Abdo Benítez de um impeachement, seu aliado Bolsonaro e a embaixada dos EUA intervieram anulando o acordo secreto. Ou seja, a luta popular e a pressão de vários setores sociais conquistaram uma importante vitória parcial. As mobilizações continuam e pedem a queda do governo.
No entanto, o acordo também colocou em evidência um tratado colonial absolutamente desconhecido pelos t raba lhadores brasileiros. Mas a culpa disso é da burguesia brasileira e da grande imprensa que sempre ocultaram dos trabalhadores uma histórica relação de opressão do Brasil com seu país vizinho. Vejamos por que.
QUE VOCÊ NÃO SABIA
Brasil compra energia paraguaia a preço de banana
O tratado de 1966 dizia que a energia produzida pela futura hidrelétrica corresponderia a cada país partes iguais. No entanto, no caso de uma delas não consumir toda a sua parte, deveria oferecê-la, de preferência, ao seu parceiro por um preço justo. Porém o tratado de 1973, entre as ditaduras militares sanguinárias e corruptas, anulou o acordo de 1966 e impôs o chamado direito de aquisição, isto é, a transferência compulsória da energia não utilizada por um dos países para outro, não a um preço de mercado, mas a um preço pré-fixado. Entre 1984 e 2017, o Brasil utilizou 93% do total de energia produzida por Itaipu, enquanto o Paraguai usou apenas 7%. De acordo com o tratado de 1973, o Paraguai é obrigado a ceder os 43% restantes ao Brasil. Ou seja, o Paraguai não pode vender ou exportar sua própria energia para outros países, pois é obrigado a transferi-la para o Brasil por meio da empresa Eletrobras. Em troca dessa atribuição, o Brasil compensa o Paraguai com um valor fixo. Esse valor sofreu alguns ajustes nesses 50 anos, mas dados recentes indicam que a quantia que o Paraguai recebe do Brasil como compensação é de US$ 9,4 por megawatt/ hora de energia produzida, enquanto o preço de mercado é de cerca de US$ 120! Não é necessário ser especialista em nada para entender a enorme injustiça cometida contra a soberania do Paraguai de usar seus próprios recursos energéticos. Há um fato que é ainda pior: entre 1984 e 2017, o Paraguai recebeu uma média de US$
2,8 (por algo que vale pelo menos US$ 120) por megawatt/hora transferido para o Brasil. Como nomear algo assim com outra palavra que não seja pilhagem? Esse saque faz com que o Paraguai recebesse apenas US$ 350 milhões por ano. Se pudesse dispor livremente de sua energia e negociá-la a preço de mercado, o país receberia aproximadamente US$ 3 bilhões por ano! Não vamos nos enganar. Você, trabalhador brasileiro, também está sendo roubado pelos executivos de seu país em Itaipu e por seus governos. Uma energia que a Eletrobras compra por US$ 9,4 do Paraguai é revendida por US$ 206 por megawatt/hora para o consumo residencial no Brasil!
Opinião Socialista •
Internacional
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contra o Paraguai 3
Quem saiu lucrando com isso?
Certamente não foi o trabalhador brasileiro. Esse esquema beneficiou, principalmente, a indústria do ABC paulista, como as multinacionais automotivas, algumas empresas contratadas ligadas às ditaduras militares de ambos os países, bancos brasileiros e imperialistas, bem como um punhado de empresários e autoridades paraguaias – muitos deles militares ou civis ligados a Stroessner – conhecidos como os “barões de Itaipu”.
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BRASIL E PARAGUAI
Unir forças dos trabalhadores contra o tratado
A dívida da Itaipu é injusta e impagável
O orçamento inicial para a construção de Itaipu foi de US$ 3,5 bilhões. Mas num ciclo infernal de corrupção e superfaturamento, o custo final da usina chegou a US$ 26,9 bilhões. Esse custo superfaturado se tornou dívida. Uma dívida que, em grande medida, é paga pelos paraguaios e brasileiros em nossas contas de luz, que incorporam o seu pagamento. Essa dívida já foi paga várias vezes. Porém as contas de Itaipu não podem ser auditadas, porque ela é considerada binacional, isto é, legalmente não está sujeita aos governos ou parlamentos de nenhum dos dois países. Não se sabe quanto essa dívida vale hoje, mas alguns estudos a estimam em torno de US$ 80 bilhões. Também se assume que 55% das receitas recebidas pela hidrelétrica são usados para pagar essa dívida. Para se ter uma ideia, com esse valor estratosférico, três represas como a Itaipu poderiam ser construídas. No caso do Paraguai é pior. Embora o Brasil use 93% da energia produzida e o Paraguai apenas 7%, a dívida é paga pela metade. É como se na fila do supermercado houvesse uma pessoa com um carrinho cheio de mercadoria e atrás houvesse outra pessoa que só comprasse um chocolate e, quando chegasse a hora de pagar, o primeiro diz ao segundo: “E aí, que tal a gente pagar meio a meio?” No caso do Paraguai, o principal credor é a Eletrobras, que detém 96% da dívida. Na realidade, os credores são os grandes bancos imperialistas, que foram os que realmente colocaram o dinheiro inicial para o trabalho e, a partir daí, especularam sobre a dívida. O Paraguai, que segundo a imprensa brasileira “só coloca a água”, paga anualmente US$ 2
bilhões pela dívida de Itaipu, o que sangra a economia do país. Se o Paraguai pudesse vender livremente sua própria energia (o que significaria renda de quase US$ 3 bilhões) e, além disso, deixar de pagar a dívida (US$ 2 bilhões por ano), o país poderia ter pelo menos US$ 5 bilhões ao ano. Esse valor é aproximadamente 36% do Orçamento paraguaio para 2019. Um dinheiro que poderia garantir o desenvolvimento econômico, social e cultural do país.
O ano de 2023 será fundamental para a classe trabalhadora do Paraguai e do Brasil. É o ano em que se completam 50 anos do tratado que poderá ser revisto e renegociado. O povo paraguaio não deve confiar em nenhum governo, sindicato ou diplomacia em seu país, uma vez que sua classe dominante e seus gerentes sempre demonstraram uma posição ultrajante de capitulação aos interesses do Brasil. A única solução fundamental é anular o tratado por meio de lutas diretas nas ruas. Isso se faz por meio da mobilização operária e popular, não apenas da classe trabalhadora paraguaia, mas também da poderosa classe trabalhadora e dos setores explorados do Brasil, que também são vítimas da corrupção e das barganhas mafiosas de Itaipu. Tanto o tratado de 1973 quanto a dívida fazem parte de um instrumento de pilhagem e dominação colonial do Paraguai por um punhado de burgueses brasileiros e mediante esse mecanismo perverso de empresas e bancos imperialistas. É por isso que nunca devemos esquecer da velha frase de Karl Marx: “Um povo que oprime o outro não pode ser livre.” A classe trabalhadora brasileira deve entender que a Itaipu não é um problema paraguaio, mas uma questão que a afeta diretamente, nas cobranças injustas de energia e prin-
cipalmente porque é um tratado colonial contra um irmão e um povo pobre historicamente ultrajado. Trabalhadoras e trabalhadores brasileiros! É necessário unir forças com a classe trabalhadora e os outros setores explorados e oprimidos do Paraguai! LEIA
MAIS Carta aberta de um paraguaio para a classe trabalhadora brasileira em Itaipu
Declaração conjunta do PSTU e do PT Paraguaio
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ESPECIAL • Opinião Socialista
A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O
POVO BRASILEIRO
CANUDOS (1896-1897)
A luta dos sertanejos pelo paraíso na terra POR NAZARENO GODEIRO, DE NATAL (RN), E DEYVIS BARROS, DE FORTALEZA (CE)
N
a época em que surgiu Canudos, havia pouco tempo que o imperador Dom Pedro II tinha caído. Agora o Brasil era uma República. Ela nasceu sob o controle militar dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, economicamente dominada por latifundiários de São Paulo e de Minas Gerais, que cultivavam café. Em 1894, um de seus representantes, Prudente de Moraes, foi eleito presidente. No Nordeste, os coronéis seguiram mandando. No Império e no começo da República, aconteceram muitas revoltas e revoluções. Todas foram derrotadas com uma crueldade muito grande. Os negros, após muita luta, foram libertados da escravidão e, como não se fez reforma agrária, viviam em condições às vezes piores que na época da escravidão. No fim do século 19, o Nordeste passava por uma grave crise, devido à queda da produção de açúcar. A maior parte dos sertanejos vivia na miséria, agravada a partir de 1877 pela seca, uma das maiores da história. Centenas de milhares morreram.
O CONSELHEIRO Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, nasceu no começo de 1828, em Quixeramobim, no Ceará. Filho de um pequeno comerciante, desde cedo conheceu as injustiças dos coronéis e a miséria dos sertões. Seu pai, apesar de analfabeto, dava muito valor à educação do filho. Antônio estudou numa escola importante da região, na qual aprendeu latim, francês, geografia e aritmética. Herdou do pai um gosto particular por construção. Por volta de 1865, Antônio começou sua peregrinação pelos sertões, o que lhe tornaria famoso entre os sertanejos. O que o tornava diferente de todos os outros pregadores da época, e mais popular até que os padres,
com a nova cidade independente e com a constante migração de pessoas para lá.
UMA SOCIEDADE DIFERENTE O que chamava tanto a atenção em Canudos não era somente os discursos cativantes do Conselheiro. No meio de toda injustiça, pobreza e violência dos ricos no Sertão, Canudos era uma sociedade diferente. Não existiam ricos nem pobres. Todos que chegavam deixavam a maior parte dos seus pertences na entrada para serem usados por todos. Tudo era produzido e distribuído de forma coletiva pelos camponeses. As terras, os animais e as ferramentas eram propriedade de todos. Todos trabalhavam, homens e mulheres. Era uma sociedade pobre, mas não existia fome. Diferentemente do resto do sertão, os filhos dos pobres estudavam. O Conselheiro fundou duas escolas em Canudos. Existia uma cadeia, mas ela estava sempre vazia. A principal punição que havia era a expulsão, e todos temiam tal castigo.
Litografia do arraial de Canudos
Canudo, 2 de outubro de 1897. Foto: Flavio de Barros / Acervo Museu da República /Instituto Moreira Salles
era que Conselheiro não passava a mão nas injustiças dos coronéis e do governo e defendia um mundo melhor aqui mesmo na terra.
CANUDOS, A TERRA PROMETIDA NO SERTÃO Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o sé-
culo 18 às margens do rio Vaza-Barris. Após um confronto com a polícia por ter protestado contra a cobrança de impostos, Conselheiro saiu em sua peregrinação em busca da sua terra prometida. Encontrou um vilarejo e, com sua chegada, em 1893, o povoado passou a crescer de forma vertiginosa, chegando a ter 25 mil
habitantes e mais de 5 mil casas. Só havia uma rua em Canudos e se iniciou a construção de uma igreja nova, que era uma verdadeira fortaleza, com paredes de um metro de espessura. Rapidamente, Canudos se transformou numa cidade. A imprensa, o clero e os latifundiários da região se incomodavam
Representação de Antônio Conselheiro em Cordéis
Opinião Socialista •
A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O
POVO BRASILEIRO
LIVRES
As mulheres e os negros no povoado Canudos era uma sociedade muito mais avançada que a República no que diz respeito aos direitos das mulheres e dos negros. Muitos direitos que as mulheres tinham em Canudos demoraram décadas para serem conquistados na República. Em Canudos, casava-se quem queria, e as mulheres que preferissem ficar solteiras não podiam ser condenadas caso
vivessem livremente. A prostituição e o estupro eram terminantemente proibidos. Em Canudos, elas tinham o direito e o dever de trabalhar. Muitas cumpriram um papel importante na administração e na guerra de Canudos. A abolição da escravidão no Brasil não veio acompanhada de nenhuma medida para integrar os negros à sociedade. Ao
contrário, eles foram privados da terra e do trabalho. O Conselheiro sempre lutou contra a escravidão e, após a abolição, não só recebeu os negros em condições de iguais em Canudos, como também permitiu que muitos cumprissem um papel de primeira linha no arraial. Metade da população de Canudos era composta por negros e negras.
A GUERRA
Em luta contra o exército A guerra contra Canudos começou por conta da intriga de um juiz que Conselheiro havia enfrentado anos antes. Ele espalhou o boato de que Conselheiro invadiria Juazeiro e saquearia o comércio. O governo mandou 100 soldados dirigidos por um tenente para defender Juazeiro. Mas os canudenses nunca atacaram. Depois de um tempo, o tenente, para não voltar de mãos abanando, resolveu atacar Canudos. Em Uauá, perto de Canudos, foram surpreendidos pelo grupo de Conselheiro. Desesperados, os soldados atiraram para todos os lados. A luta durou cerca de cinco horas. Depois, os sertanejos recuaram. Porém o recuo não significava a vitória do exército. Eles não podiam mais avançar. Estavam sem munição e com fome. Tiveram de marchar quatro dias de baixo de sol até Juazeiro.
SEGUNDA EXPEDIÇÃO A segunda expedição militar foi formada por 600 soldados armados até os dentes com metralhadoras e canhões. Os oficiais esperavam uma viagem fácil, mas tiveram de caminhar cerca de 60 quilômetros no árido sertão. A 12 quilômetros de Canudos, a comida acabou. A partir dali, iniciou-se uma guerra para a qual eles não estavam preparados. Na Lagoa do Cipó, houve uma batalha terrível, e o local foi rebatizado como Lagoa de Sangue. As tropas governistas
espantaram os conselheiristas, mas não tinham mais como avançar. Nova derrota governista. Os conselheiristas tomaram as armas do exército, que teve de fugir do local da batalha.
O CORONEL “CORTA-CABEÇAS” A terceira expedição foi comandada pelo coronel Antônio Moreira César, conhecido por sua brutalidade, que lhe valeu o apelido de “Corta-Cabeças”. Foram 1,6 mil soldados, quatro canhões e inúmeras metralhadoras. Quando chegou à entrada de Canudos, deu ordem para invadir. Foi um grande erro. Os becos entre as casas formavam um verdadeiro labirinto e fizeram os soldados se dispersarem em pequenos grupos que eram atacados por todos os lados. Moreira Cesar tentou descer com seu cavalo para animar os soldados e foi atingido por dois tiros e morreu. Foi substituído pelo coronel Tamarindo, que também foi atingido por um tiro. As tropas do governo saíram do arraial numa fuga desesperada. O FIM DE CANUDOS A quarta expedição foi organizada diretamente pelo ministro da Guerra e contou com cerca de 6 mil soldados, canhões e 700 toneladas de munição. Trezentos seguidores de Conselheiro conseguiram deter mais de 2,5 mil soldados por vários dias, provocando cerca de mil baixas nas forças do governo.
Com táticas guerrilheiras, os conselheiristas cercaram a primeira coluna. A segunda coluna foi obrigada a recuar para se juntar à primeira e evitar uma nova derrota. Mesmo as duas juntas, porém, não conseguiam atacar e entraram numa armadilha. Tiveram de pedir reforço, que chegou em alguns dias com mais 3 mil soldados. Porém só conseguiram derrotá-la em outubro, quase seis meses após o início da quarta expedição.
O ÓDIO CONTRA OS SERTANEJOS Mais de 20 mil conselheiristas foram assassinados. Após a vitória do exército, aconteceu mais um espetáculo de ódio e crueldade. Algo típico da burguesia brasileira, que sempre puniu com rigor os pobres que se rebelavam. O 300 canudenses que sobraram vivos da guerra, a maioria mulheres, velhos e crianças, receberam garantias de que não seriam mortos. Porém, logo após a rendição, todos os homens foram degolados, enquanto mulheres e crianças foram sequestradas e viraram escravas sexuais de oficiais e políticos. O corpo de Conselheiro, que havia morrido alguns dias antes, foi desenterrado e sua cabeça, arrancada. Canudos foi totalmente aniquilada para que não houvesse vestígios daquele povo lutador.
ESPECIAL
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LIÇÕES DE CANUDOS
Uma guerra camponesa contra o latifúndio
24º Batalhão de Infataria, que combateu em Canudos
Canudos foi imortalizada na memória popular e nas artes. Foi uma guerra camponesa pela terra, dirigida por negros, indígenas e camponeses pobres, contra os coronéis e a burguesia. Canudos se parece muito com as guerras camponesas da Alemanha do século 16, analisadas por Friedrich Engels em seu livro As Guerras Camponesas na Alemanha, no qual retrata a luta política e religiosa da época como luta de classe. A República realizou uma grande campanha de desinformação no Rio de Janeiro e em São Paulo, dizendo que a revolta era monarquista. Isso jogou a opinião pública da época contra os revoltosos, taxados de bárbaros e fanáticos. A questão da terra é central para entender a revolta. A República, na época, havia transferido terras devolutas do Estado para as provinciais, o que reforçou as oligarquias lo-
cais, uma vez que as terras foram distribuídas para as mãos de coronéis, políticos e ricos especuladores que sustentavam a República. Isso resultou na expropriação de uma infinidade de camponeses pobres que viviam nessas terras devolutas na condição de posseiros. Por isso, muitos camponeses expropriados passaram a ver a República como coisa do diabo e a culparam por sua desgraça. Canudos representou uma ameaça ao grande latifúndio porque demostrou que parte da população poderia viver sem ele e impediu que essa força de trabalho fosse explorada nas grandes fazendas de gado. Nossa tarefa é manter viva a luta de Antônio Conselheiro, Pajeú, Maria Rita e tantos outros por uma sociedade sem exploradores nem explorados. Porém agora dirigida de forma democrática pelos trabalhadores, organizados em conselhos populares.
PARA
LER A Guerra Social de Canudos Edmundo Moniz
Os Sertões Euclides da Cunha
A Guerra do Fim do Mundo Mario Vargas Llosa PARA
ASSISTIR A guerra de Canudos (1996) Direção: Sérgio Rezende
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Nacional • Opinião Socialista
BOLSONARO
Contra indígenas, a favor da garimpagem CAPACHO
JEFERSON CHOMA DA REDEÇÃO
“É
intenção minha regulamentar o garimpo, legalizar o garimpo.” Essa foi umas das declarações de Bolsonaro sobre o ataque de garimpeiros contra a etnia Wajãpi, no Amapá, que resultou na morte de um cacique. Emyra Wajãpi, de 68 anos, foi morto a facadas quando garimpeiros atacaram a aldeia Mariry. Segundo o relato dos indígenas, o ataque foi realizado com metralhadoras inclusive. Antes dessa declaração criminosa, porém, Bolsonaro disse duvidar do ataque. “Não tem nenhum indício forte de que esse índio foi assassinado lá”, falou. No dia seguinte, o corpo do cacique foi transferido para o IML de Macapá. O ataque foi nitidamente motivado pela campanha de Bolsonaro contra os povos originários e a demarcação de terras, em apoio a latifundiários, garimpeiros e mineradoras.
O VIL METAL O território dos Wajãpi está sobreposto à chamada Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área com alto potencial de ouro e outros metais preciosos, que fica entre o Pará e o Amapá e tem 46.450 quilômetros quadrados, uma área um pouco maior do que a Dinamarca.
OCORRÊNCIA MINERAL
GUIANA FRANCESA
AMAPÁ TI WAJÃPI
PARÁ MACAPÁ
RENCA
Em 2017, Temer publicou um decreto extinguindo a Renca, o que causou indignação no Brasil e no exterior. A Renca foi criada em 1984 e funcionava como um tipo de “blindagem de proteção” para que as unidades de conservação dessa área não fossem devastadas. Atualmente, a área da Renca se sobrepõe a dois Territó-
rios Indígenas, quatro Unidades de Conservação de Uso Sustentável e duas Unidades de Conservação de Preservação Integral. O decreto de Temer que extinguia a reserva tinha como objetivo abrir a área para a exploração por parte de empresas privadas de mineração. Pressionado, Temer foi obrigado a revogar o decreto.
Bolsonaro quer entregar a Amazônia para Trump “Quando estive agora com Trump, conversei com ele que quero abrir para ele explorar a região amazônica em parceria”, disse Bolsonaro numa entrevista à emissora de rádio Jovem Pan, em 8 de abril. É exata mente isso que está por trás dos seus ataques aos povos indígenas. A Renca onde fica a Terra Indígena Wajãpi é rica em ouro, que já é explorado por garimpos clandestinos. Há também reservas com potencial para exploração de titânio, fosfato e tentalita, um mineral composto de nióbio e tântalo. Toda essa história mostra que há um plano das grandes corporações capitalistas, associadas ao Estado corrupto, para converter a Amazônia num imenso fornecedor de matérias-primas (minerais, petróleo, gás, madeira, carne etc.) ao mercado mundial.
ATAQUES AO INPE É pelo mesmo motivo que Bolsonaro atacou o Instituto de Pesquisa Espacial (Inpe), um dos mais impor tantes inst itutos de pesquisa do país. Seu objetivo é esconder do público os dados que
comprovam o aumento do desmatamento da Amazônia. Dados preliminares de satélites do Inpe demonstram que mais de 1.000km² da floresta tropical foram derrubados na primeira quinzena de julho, um aumento de 68% em relação a julho do ano passado. Após a divulgação dos dados, Bolsonaro simplesmente exonerou o diretor do órgão, Ricardo Galvão. A intenção do governo é tirar o Inpe de cena. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já declarou que pretende trocar o Inpe por uma empresa privada para monitorar o desmatamento da A ma zônia. Lembrando que Salles é réu na Justiça de São Paulo por ter fraudado mapas para diminuir áreas de conservação ambiental e beneficiar amigos empresários quando ocupava a Secretaria do Meio Ambiente do Estado. Essa é a corja que pretende entregar nossas riquezas, a biodiversidade amazônica (ainda desconhecida e pouco estudada) e a tecnologia desenvolvida arduamente no país por alguns sacos de soja.
“NUNCA VÃO NOS DERRUBAR”
Autodemarcação: exemplo a ser seguido Bolsonaro tem um compromisso evidente de entregar a Amazônia para a exploração do grande capital. Já disse que não vai dar um centímetro de terra indígena demarcada. Por essa razão, infelizmente, o recente ataque aos Wajãpi provavelmente não será o último.
Diante desse quadro, resta aos povos originários o caminho da autodemarcação e da organização da autodefesa para defenderem suas vidas e seu território. Nos anos 1980, os Wajãpi foram os primeiros povos originários da Amazônia a fazerem autodemarcação dos seus pró-
prios territórios. Enfrentaram garimpeiros e mineradoras e tiveram seu território demarcado em 1996. A autodemarcação e as retomadas são exemplos que hoje são seguidos por outras etnias da região, como os Munduruku e os Guarani Kaoiwá.
Recentemente, os Munduruku realizaram uma expedição em seu território ancestral, localizado no Alto Tapajós e no Rio Teles Pires, expulsando grupos de madeireiros. No comunicado público, eles afirmam: “Somos capazes de cuidar e proteger o nosso ter-
ritório para nossos filhos e as futuras gerações. Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir, porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. (…) Por isso, sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar”.
Opinião Socialista
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mural ABSURDO
Damares diz que estupro de meninas é por falta de calcinha A ministra Damares Alves, da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, gravou um vídeo dizendo que o abuso e a exploração sexual que sofrem as meninas localizadas na Ilha de Marajó, no Pará, acontecem porque elas não usariam calcinhas. “Especialistas falaram para nós que as meninas seriam abusadas porque elas não têm calcinhas, não usam calcinhas, porque são muito pobres”, disse. “Por que o Ministério não faz uma campanha para levar calcinhas para lá? Conseguimos um monte”, falou Damares. E completou: “Mas por que levar calcinha para lá? Essa calcinha vai acabar. Nós temos que levar uma fábrica de calcinhas para a Ilha de Marajó.” A fala absurda de Damares suscita várias perguntas: Quem seriam os especialistas que teriam afirmado esse absurdo? Uma fábrica de calci-
nhas resolveria o problema do abuso e da exploração sexual num lugar carente, onde meninas são aliciadas sexualmente em troca de dinheiro, comida e até óleo diesel? É por conta da pobreza e da miséria em que vivem as famílias que a região virou rota do turismo e da exploração sexual. O abuso e a exploração sexual são frutos da cultura do
estupro e do machismo estruturado na sociedade capitalista. É resultado de uma política de ganância e lucros dos governos e empresários que só olham para a região de Marajó no sentido de arrancar todos os recursos sem deixar quase nada para o seu povo. Isso gera vários tipos de violência, inclusive a sexual, que atinge as mais vulneráveis.
FULEIRO
Bolsonaro faz declarações racistas contra nordestinos
Depois de chamar governadores do Nordeste de “paraíbas”, Bolsonaro fez uma nova agressão aos brasileiros que moram no Nordeste. Como não poderia ser de outro modo, o presidente fuleiro foi ainda mais nojento. Em transmissão ao vivo no último dia 18, com o ministro
da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, Bolsonaro perguntou se o ministro tinha parentes no Nordeste. “Você tem algum parente pau-de-arara?”, perguntou Bolsonaro. O ministro respondeu que tem família no Piauí e no Rio Grande do Norte. Bolsonaro respondeu: “Com esta cabeça
aí, tu não nega não”. Ele foi às gargalhadas ao reforçar o estereótipo de que nordestinos têm cabeça maior do que o restante da população. O ministro Tarcísio Freitas aparece visivelmente constrangido no vídeo. As declarações de Bolsonaro causaram uma onda de indignação. Artistas, intelectuais, políticos e muitas outras pessoas repudiaram o presidente. “Bolsonaro, você não nos engana. Lembra que ele já mandou nordestino comer capim? Você é preconceituoso, racista e xenofóbico”, disse Hertz Dias, maranhense e ex-candidato a vice-presidente pelo PSTU. “Respeite o Nordeste e sua cultura. Você vai aprender isso por bem ou por mal”, disse Vera, mulher, negra e nordestina, que foi candidata a presidente pelo PSTU nas últimas eleições.
BOLSONARISMO ARGENTINO
Campanha suja de Macri contra perseguidos políticos argentinos Nas últimas semanas, o governo argentino de Mauricio Macri e a grande imprensa argentina têm atacado Sebastián Romero e Daniel Ruiz. Romero, apelidado de “Gordo del Mortero”, transformou-se num símbolo da luta contra a reforma da Previdência, aprovada em dezembro de 2017, após uma dura repressão desatada pelo governo contra manifestantes. Desde então, ele é alvo de uma caçada atroz por parte das forças repressores de Macri. Por todos os meios, tentam capturá-lo para exibi-lo como exemplo do que acontece com quem vai à luta contra os planos de ajuste. Durante a última semana, em sintonia com a campanha eleitoral bolsonarista do macrismo, essa campanha suja se aprofundou. A grande mídia tem chamado Romero de terrorista e chegaram a colocar o preço de 1 milhão de pesos por sua cabeça. Também o colocaram na lista dos mais pro-
curados junto a assassinos e estupradores a fim de demonizá-lo. Já a família de Daniel Ruiz, também militante do PSTU-Argentina, tem sido vítima de uma campanha suja. Na madrugada do último dia 2, a casa de Ruiz foi invadida em mais uma provocação por parte das forças repressivas e suas máfias. Daniel está preso há mais de dez meses sem julgamento nem condenação. Seu crime foi simplesmente participar das manifestações contra a reforma da Previdência. A campanha internacional por sua liberdade tem reunido centenas de apoios de políticos, sindicalistas e representantes dos Direitos Humanos. Daniel Ruiz é hoje candidato a deputado nacional pela Frente de Esquerda – Unidade. É preciso pôr fim a toda perseguição contra os dois ativistas. Fim das perseguições a Sebastián Romero e liberdade imediata para Daniel Ruiz!
Daniel Ruiz (acima) e Sebástian Romero.
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Cultura • Opinião Socialista
LUIZ GONZAGA
30 anos sem o Rei do Baião tro ABC, o do Sertão. Reclamou da terra que ardia e da falta d’água que fez até mesmo a Asa Branca ir embora, como faziam homens e mulheres com o coração partido que se mudavam para léguas de distância, à espera de a chuva cair de novo para um dia retornar. E, em meio às dores, cantou as festas populares e pedia para olhar o balão multicor que enfeitava o céu nas noites de São João.
MATHEUS DRUMMOND DE SALVADOR (BA)
A
sanfona mais famosa do Brasil silenciou-se no dia 2 de agosto de 1989. Luiz Gonzaga morreu vítima de uma parada cardiorrespiratória em Recife (PE), aos 76 anos, mas deixou um legado inestimável para a música brasileira, em especial, para a música do Nordeste. Ele conquistou o Brasil com um ritmo genuinamente nordestino, cantando músicas que falam da aridez do Sertão, da seca, da dor da partida, mas também dos amores, das alegrias e da força de um povo pobre, trabalhador e cheio de esperanças.
CONTO CANTADO Luiz Gonzaga traduziu em forma de canções comportamentos de um povo e colocou o Brasil inteiro para dançar um Forró de Cabo a Rabo, ao som de uma sanfona, da zambumba e do triângulo. Em Xote das Meninas, mostrou que a flor do mandacaru anuncia que vai chover no Sertão e que as meninas deixam as bonecas de lado quando o amor chega no coração. O importante papel social das mulheres parteiras é destaque em música que podemos classificar como um conto cantado, no qual é narrado desde o galope da égua (piriri piriri piriri) ao fechar de uma cancela (pá), quando recebe a ordem de Capitão Barbino para ir buscar Samarica Parteira, pois Juvita estava “com dô de menino”. OUTRO ABC Em suas canções, o alfabeto foi reescrito e tivemos de aprender ou-
Cartaz comemorativo dos 100 anos do nascimento de Luiz Gonzaga (2012). Arte de Francisco Daniel A. Moreira.
“ANDAR POR ESSE PAÍS” Assim, com essa identidade marcante, Luiz Gonzaga se tornou o cantador cuja vida foi andar por esse país. Cantava para multidões em praças públicas e em grandes espaços para shows. Sua sanfona cruzou o Brasil de Norte a Sul. Sem dúvida, foi um cantor do povo. Contudo, Luiz Gonzaga cometeu seus deslizes. Apesar de afirmar que como sanfoneiro, fazia política com a sanfona e que suas músicas eram protestos e advertências para que os governantes olhassem para o Nordeste, teve uma política de paz e amor com os generais do regime militar. Uma das desavenças entre Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha era justamente a relação que o pai tinha com os militares. Enquanto o filho usava a música para questionar a ditadura, Gonzaga tinha uma relação amistosa com ela. Documentos dos serviços de informação e relatos de autoridades daquele período revelam quão distintos foram os tratamentos. Enquanto Gonzaguinha foi censurado, Gonzagão buscava apoio do governo militar para Exu, cidade onde nasceu em Pernambuco. PARA
VIDA DE VIAJANTE
“Cantei o povo do Sertão”
A carreira de Gonzagão teve muitas quedas e renascimentos. Gilberto Gil e Caetano Veloso regravaram suas canções e colocam o Rei do Baião novamente nos holofotes no início da década de 1970. De volta ao Sertão, para o pé de serra onde deixou ficar seu coração, começou a organizar o Parque “Aza” Branca, onde está localizado o Museu do Gonzagão, voltou aos pal-
cos e ganhou destaque na mídia com o memorável show A Vida do Viajante, ao lado do seu filho Gonzaguinha. O espetáculo foi um momento de reconciliação entre os dois.
LEGADO Não se pode negar o legado de Gonzagão. Foram 627 músicas gravadas em 266 discos, sendo 53 de sua autoria, 243 em parcerias e 331 de outros
autores/compositores. Suas obras foram gravadas em japonês, inglês, francês, espanhol, coreano e até rapanui, idioma oficial da Ilha de Páscoa, na Polinésia. É um dos cantores mais regravados por outros artistas brasileiros. Em sua última aparição no show realizado em 6 de junho de 1989, no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, disse emocionado que
ASSISTIR
Gonzaga de Pai pra Filho (2012) queria ser lembrado como “o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor”. Esse feito não podemos negar. O Brasil passou a ter consciência do que é o Sertão com sua música. Gonzagão falou dos problemas de sua terra e das carências da sua gente.
Direção: Breno Silveira Roteiro: Patricia Andrade PARA
LER Vida do Viajante: a Saga de Luiz Gonzaga Dominique Dreyfus Editora 34