Opinião Socialista Nº578

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Nº578

De 17 de setembro a 1 de outubro de 2019 Ano 22

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JORNADA E GREVE MUNDIAL PELO CLIMA

CAPITALISMO LEVA AO COLAPSO SOCIAL E DO MEIO AMBIENTE Burguesia prefere salvar os bancos do que o Planeta

CINEMA

Bacurau e a violência nossa de todos os dias PÁGINA 16

POLÊMICA

A luta por liberdades democráticas, frentes e unidade de ação PÁGINAS 6 E 7

Contestado: camponeses em guerra contra o Exército

PÁGINAS 12 E 13


Opinião Socialista

páginadois

2

Capitão América e a revolução

CHARGE

Falou Besteira Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... CARLOSBOLSONARO, vereador do PSC-RJ

CAÇA-PALAVRAS

Escritores brasileiros

A edição especial de quadrinhos “Marvel Comics #1000”, que saiu nos Estados Unidos para comemorar 80 anos de gibis da editora, foi marcada por censura. O caso atingiu um dos ícones da Marvel, o Capitão América. Na edição especial, havia uma carta narrada pelo próprio super-herói, escrita pelo roteirista Mark Waid. Na primeira versão do texto, o Capitão América diz: “Perguntam-me como é

possível amar um país com tantas falhas. Às vezes é difícil. O sistema não é justo. Tratamos alguns dos nossos de modo abominável.” Depois, ele diz

Desacelerando a ciência O principal projeto de pesquisa científica do Brasil, o Sirius, não ficará pronto até o fim de 2020 conforme previsto. O Sirius é um acelerador de partículas síncrotron. Com esse tipo de luz, o aparelho é capaz de analisar partículas atômicas em alta resolução. A ferramenta será usada para entender a estrutura atômica, cujo propósito das colisões é conhecer as propriedades de partículas elementares da matéria. Segundo os desenvolvedores do

Sirius, isso pode ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos, no aprimoramento de materiais usados na construção civil, na exploração de petróleo e em várias outras áreas. No entanto, o Sirius vem sofrendo as

RESPOSTA: Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Lima Barreto, Guimarães Rosa

Expediente Editora Sundermann. CNPJ 06.021.557/0001-95 / Atividade Principal 47.61-0-01. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica

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Opinião Socialista é uma publicação quinzenal da

que consertar a América é trabalho “difícil e sangrento”, que isso só acontecerá quando as pessoas saírem às ruas “clamando por revolução”. O texto foi censurado pelo atual presidente da Marvel, Isaac Perlmutter, amigo do presidente estadunidense Donald Trump. Perlmutter teria prometido doações de quase R$ 1,4 milhão para a campanha de Trump à reeleição em 2020.

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consequências do corte de verba do governo Bolsonaro. Dos R$ 255,1 milhões de repasses previstos para 2019, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) recebeu R$ 75 milhões até setembro, menos de 30% do previsto. O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, numa tentativa de dividir a comunidade científica, disse que havia possibilidade de utilizar recursos das obras para o pagamento de bolsas do CNPq.


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Editorial

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Unidade para derrotar Bolsonaro já! Frente estratégica com a burguesia para 2022 não!

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governo reacionário e ultraliberal de Bolsonaro precisa e pode ser derrotado. Nesse sentido, toda a unidade de ação e frentes únicas para lutar contra esse governo e seu projeto, bem como em defesa das liberdades democráticas, são uma necessidade e um dever. Assim, inclusive depois do desmonte da greve geral e da traição na luta da Previdência, está se abrindo uma nova possibilidade de enfrentar o projeto de entrega e semiescravidão de Bolsonaro-Mourão-Guedes que não pode ser desperdiçada. Esse governo, em meio a crises e contradições crescentes, vem para a ofensiva com privatizações, retirada de direitos e reforma administrativa. É necessário e possível unir batalhões pesados da classe trabalhadora, como petroleiros, trabalhadores dos Correios e das universidades, aglutinar parte de metalúrgicos em campanhas salariais, além de unir indígenas, quilombolas e outros setores. Uma greve unificada e ações de rua podem botar esse governo nas cordas e impedir a privatização da Petrobras e dos Correios e salvar as universidades (leia mais nas páginas 10 e 11). Não é possível que mais uma oportunidade fique pelo caminho por falta de empenho e por negociações mesquinhas das direções que não sabemos nem de que tipo são. Essa unidade – necessária e para ontem – é deixada para lá em função de alianças eleitorais e frentes espúrias que visam as eleições.

UNIDADE PARA LUTAR CONTRA BOLSONARO JÁ! Unidade para lutar é uma coisa. Frentes amplas eleitorais para, de fato, impedir as lutas, manter a exploração e as mazelas do capitalismo, é outra. Da mesma maneira, defesa das liberdades democráticas é uma coisa, defesa da democracia burguesa e do Estado (capitalista) de direito é outra coisa. Há uma estratégia comum que une PT, PDT, PCdoB, PSB e a direção do PSOL: a formação de uma frente ampla eleitoral, um campo burguês de colaboração de classes o mais amplo possível em torno

de um programa democrático burguês, capitalista, com alguma preocupação com crescimento econômico além do puro ajuste fiscal de Paulo Guedes, para disputar como oposição contra o campo burguês de Bolsonaro e seus ex-aliados. Há uma diferença tática entre eles sobre quem deve encabeçar tal frente, mas ambos setores se enquadram numa “esquerda da ordem”. Propõem-se a repetir um governo burguês de conciliação de classes (como foram os governos do PT) para governar o capitalismo semicolonizado brasileiro. Em diferentes graus, preconizam uma política inteiramente capitalista. Toda a narrativa do PT sobre a história recente do país é uma mistificação para vender a defesa da volta a um passado supostamente exemplar. É uma simplificação que exclui o próprio PT de qualquer responsabilidade e participação no processo de crise, decadência e submissão ao imperialismo. O PT, com essa história de “golpe”, quer ocultar o seu papel na desconstrução da consciência de classe, na aprovação de leis repressivas contra o movimento, no aprofundamento do modelo de encarceramento em massa de pobres e negros, na manutenção do apartheid existente no país (o verdadeiro Estado de exceção existe nas periferias das grandes cidades) e da sua grande parcela de responsabilidade na ascensão de um governo como o de Bolsonaro. A democracia burguesa e o regime da chamada “Nova República” estão em frangalhos porque não dão conta das contradições e da crise do sistema nem do próprio apodrecimento das instituições do Estado. Os distintos governos da

Nova República têm cada dia mais elementos autoritários, antidemocráticos, repressivos e corruptos, expressão da decadência do país e do próprio Estado. Bolsonaro é ao mesmo tempo resultado e agente da barbárie, desse processo de apodrecimento e crise do sistema. Frente a esse governo, a política do PT, do PCdoB, do PDT é deixar sangrar para que o pessoal “dê valor ao PT”, nas palavras de Lula. O PT quer duas coisas: a) que Bolsonaro faça o trabalho sujo das reformas da Previdência, trabalhista, da privatização de parcela expressiva da Petrobras e de outras estatais; b) disputar as eleições com Bolsonaro daqui a três anos para voltar a governar o capitalismo brasileiro. A Frente do PCdoB e de Ciro Gomes quer a mesma coisa: apoia a entrega de Alcântara, negocia e deixa fazer a reforma da Previdência e deixa retirar direitos. Depois, fazem uma frente incorporando burgueses e trabalhadores para gerir o capitalismo. Falam das “Diretas”, mas as diretas foram uma frente de unidade de ação para mobilizar, não uma frente eleitoral. Precisamos de unidade de ação e de frente única para alavancar uma mobilização unificada para derrotar nas ruas Bolsonaro-Mourão-Guedes e seu projeto e construir um projeto alternativo, socialista, dos trabalhadores para o país. O projeto do PT, do PCdoB e do PDT, além de estrategicamente não resolver nenhum dos problemas mínimos que afligem a classe trabalhadora e o povo pobre do nosso país, paralisa e tira o potencial das lutas, flertando perigosamente com o mesmo caminho que permitiu a eleição de Bolsonaro.


Nacional • Opinião Socialista

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Barrar o avanço autorit É preciso defender as liberdades democráticas diante do projeto de ditadura, exploração e entrega do país de Bolsonaro DIEGO CRUZ DA REDAÇÃO

O que está por trás dos ataques às liberdades democráticas

O

vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, o “02” do clã Bolsonaro, deu a senha no último dia 9 de setembro. “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”, escreveu em seu Twitter. Espécie de porta-voz não oficial do pai nas redes sociais e estrategista de sua política de comunicação, em alguns poucos caracteres Carlos Bolsonaro resumiu a estratégia da família: uma ditadura. O próprio presidente já havia deixado as indiretas de lado numa entrevista à Folha de S.Paulo dias antes quando, ao reclamar de uma suposta perseguição por parte da imprensa, disse: “Se eu levantar a borduna, todo mundo vai atrás de mim e eu não fiz isso ainda.” A expressão, algo como “chutar o balde”, é uma evidente ameaça de Bolsonaro pai às liberdades democráticas, mas, numa época em que barbaridades são ditas aos borbotões todos os dias, passou meio despercebido. A verdade é que não é surpresa para ninguém que Bolsonaro e família sempre defenderam a ditadura militar, os torturadores, a expulsão ou o fuzilamento de opositores e coisas do gênero. Algo que não encontra respaldo na ampla maioria de seus eleitores. Foi por isso que muitos acreditaram que, uma vez eleito, Bolsonaro seria domesticado, deixando as bravatas na campanha eleitoral. Porém quase dez meses de governo mostraram que Bolsonaro e o seu clã só não arruinaram por completo as liberdades democráticas devido à correlação de forças.

DERROTAR O PROJETO AUTORITÁRIO DE BOLSONARO Após a aprovação da reforma da Previdência na Câ-

mara, conquistada com a liberação de R$ 4 bilhões em emendas parlamentares, Bolsonaro se sentiu fortalecido para colocar as manguinhas de fora. Endureceu seu discurso pró-ditadura, os ataques à oposição, a censura no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Seu ministro Sérgio Moro baixou a Portaria 666, que prevê deportações sumárias e arbitrárias, entre outras medidas, como a intervenção na Comissão de Desaparecidos e a censura na Agência Nacional do Cinema (Ancine). Isso mostra que o limite de Bolsonaro para avançar sobre as liberdades democráticas é até onde ele conseguir ir, usando a tática do “se co-

lar, colou”. Coerente com isso, vai normalizando a defesa da ditadura e a revisão da história quando, por exemplo, atacou o pai do atual presidente da OAB, Fernando Santa Cruz. Por isso, a luta contra seu projeto econômico é também uma luta em defesa das liberdades democráticas. Cada ataque que ele consegue impor, é um passo de seu projeto autoritário. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que lutamos contra a guerra social imposta aos pobres e aos trabalhadores, é fundamental denunciar os atentados às liberdades democráticas, impedindo que se banalizem. O projeto de ditadura, exploração e entrega de Bolsonaro pode e deve ser derrotado.

O recente avanço autoritário de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que expressa uma concepção e um projeto político de país, reflete um desgaste e uma forte crise do próprio governo. As denúncias de corrupção e as investigações que se abatem contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), fazem com que o presidente invista contra o comando da Polícia Federal, tentando colocar um nome de sua confiança que passe um pano nessa história. Da mesma forma, ele já desmontou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), justo o órgão responsável por revelar as movimentações suspeitas na conta do filho. Já atacou também a Receita Federal e acaba de colocar um aliado na Procuradoria Geral da República (PGR), que é responsável por, entre outras coisas, fazer denúncias contra o presidente. Um acordão com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, garantiu a suspensão das investigações contra Flávio. Está tudo dominado para que a roubalheira do clã Bolsonaro permaneça impune, assim como as perigosas ligações com as milícias. Isso, porém, não passa em brancas nuvens. A crise na PF coloca o cada vez mais desmoralizado Sérgio Moro num cai-não-cai. O acordão com o STF, por sua vez, tem

como contrapartida a não realização da chamada “CPI da Lava Toga” contra membros do Judiciário. O problema é que isso é uma das principais bandeiras do setor “lavajatista” da base do governo, e a disposição dos Bolsonaro em enterrá-la já provoca fraturas importantes. A contradição entre o discurso contra a corrupção e a prática corrupta já cobra sua fatura do governo.

ATACAR LIBERDADES DEMOCRÁTICAS PARA ATACAR DIREITOS Um sentido do avanço de Bolsonaro sobre as instituições e o seu aparelhamento é mais banal: quer apenas se safar. Outro é mais político e de projeto, é simplesmente o de aprofundar seus ataques aos trabalhadores e ao povo pobre e a entrega do país ao imperialismo. Faz parte desse projeto, por exemplo, o ataque aos sindicatos, como a MP que proibiu o desconto em folha dos filiados mesmo com autorização. Agora, quer acabar com a unicidade sindical para promover sindicatos patronais nas bases e impedir a organização e a resistência à sua política. As perseguições dentro das estatais, como na Petrobras, têm esse mesmo sentido, porém agora também com o objetivo de privatizá-las. A censura ao Inpe, a demissão de seu presidente,


Opinião Socialista •

Nacional

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tário de Bolsonaro já! Defender a “democracia” ou as “liberdades democráticas”? O Estado capitalista é sempre uma ditadura da burguesia, ou seja, é a vontade de uma minoria sobre a ampla maioria da população. Em alguns momentos, utiliza uma ditadura aberta, ou seja, sem nenhuma liberdade democrática, com o Congresso fechado, sem direito a qualquer tipo de oposição, manifestação, greve, direito de expressão etc., como foi o regime militar no Brasil. Em outros, toma a forma de uma “democracia” dos ricos, com liberdades restritas em que há direito de organização, ma-

nifestação e protesto, mas que não deixa de ser uma ditadura burguesa que exclui grande parte da população até desses direitos mínimos. Nas favelas, nos morros e nas periferias, por exemplo, existem execuções sumárias e torturas como nas piores ditaduras. Nesse contexto, as liberdades democráticas são importantes na medida em que permitem uma maior organização da classe trabalhadora para lutar ou liberdade de expressão. Permite que os sindicatos, os partidos, os movimentos sociais se orga-

nizem. Numa ditadura, como a que defende Bolsonaro ou as que existem em Cuba, na China ou na Venezuela, isso é impossível ou muito mais difícil. Contudo, na medida em que somos a favor das liberdades democráticas de forma intransigente, não defendemos essa democracia dos ricos que está aí. Não nos misturamos aos que querem manter e perpetuar esse regime e esse sistema decadente, corrupto e de exploração, que é o que as pessoas entendem e que, de fato, é o que está por trás do termo “democracia”.

ILUSÕES

Só com o socialismo teremos uma verdadeira democracia

a perseguição ao Ibama, ao ICMbio e até às ONGs visam abrir o caminho da Amazônia às mineradoras dos Estados Unidos, às grandes madeireiras e ao agronegócio. Por esse mesmo caminho, vai o discurso contra os indígenas, legitimando e motivando o genocídio esses povos e quilombolas. Se um projeto autoritário de país não é consenso entre a burguesia ou é até bem minoritário, ela fecha os olhos

aos arranques ditatoriais de Bolsonaro em prol das reformas e de uma política econômica que lhe permita ganhar dinheiro aos tubos. Foi o que o presidente do Itaú, Candido Bracher, declarou de forma escancarada, em entrevista à Folha de S.Paulo, ao dizer que “o avanço das reformas não tem sido influenciado pelas turbulências políticas” e que a situação do Brasil está “tão boa quanto nunca vi na minha carreira”.

Ao defender o Estado de direito burguês, partidos como o PT e o PCdoB não só alimentam as ilusões na democracia burguesa como, pior ainda, fortalecem suas instituições reacionárias como o Judiciário, o Congresso corrupto e as cúpulas das Forças Armadas. Nós, ao contrário, defendemos as liberdades democráticas conquistadas pelos trabalhadores e pelo povo, mas não defendemos esse Estado (capitalista) de direito. Há apenas uma exceção: quando estamos diante de um golpe militar defendemos, de armas nas mãos se for preciso, a democracia burguesa, já que as ditaduras eliminam até as mínimas liberdades democráticas. Ambos são regimes políticos burgueses, mas a democracia burguesa é mais favorável aos trabalhadores porque permite liberdades formais. Porém hoje, apesar dos

ataques do governo, não estamos na iminência de um golpe militar. A defesa do Estado de direito não é a máxima expressão da luta contra as ameaças autoritárias de Bolsonaro. Ao contrário, introduz uma visão programática burguesa que só divide e enfraquece a luta pelas liberdades democráticas. Impede e amarra a mobilização dos trabalhadores e do povo, o

caminho mais seguro para derrotar Bolsonaro e seu projeto de ditadura. Impede que os trabalhadores desenvolvam um projeto estratégico de luta por uma nova sociedade. As Frentes estratégicas com a burguesia são o abandono da luta para construir outro tipo de sociedade e obrigam os trabalhadores a aceitar sem luta os planos de entrega do país de que os capitalistas precisam.


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Nacional • Opinião Socialista

POLÊMICA

A luta por liberdades democráti BERNARDO CERDEIRA DA SÃO PAULO (SP)

tos para a sociedade, definições e alianças.

as últimas semanas, aconteceram atos e manifestações no Largo São Francisco, em São Paulo, contra os ataques às liberdades democráticas e em defesa do site The Intercept Brasil. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, também houve manifestação contra a censura à história em quadrinhos Os Vingadores – A Cruzada das Crianças, na qual dois personagens homens se beijam. Essas manifestações em geral foram positivas e mostram a reação política às medidas mais autoritárias de Bolsonaro. Não há dúvida que Bolsonaro tem um projeto autoritário: defende a ditadura militar, a tortura, a censura, a discriminação a mulheres, negros, indígenas e LGBTs e a impunidade para os policiais que praticam execuções. Enfrentar e derrotar esse projeto defendendo as liberdades democráticas é uma tarefa urgente das organizações de trabalhadores, estudantes e de todos os setores populares e democráticos. No entanto, há profundas diferenças em como fazê-lo, com que táticas e com que programa. UNIDADE É PARA A AÇÃO Comecemos pelo problema da unidade. Para derrotar o projeto autoritário, sem dúvida é necessária uma ampla unidade de todos os setores. O problema é: unidade como e para quê? Em primeiro lugar, é preciso uma unidade para a ação, para a luta, para a mobilização po-

Boulos (PSOL), Haddad (PT) e Flávio Dino (PCdoB-MA). Abaixo: Lula (PT), Manuela (PCdoB) e Freixo (PSOL-RJ)

COLABORAÇÃO DE CLASSE A proposta de uma frente eleitoral entre partidos de esquerda e partidos burgueses, por exemplo, como as alianças que o PT fez nos seus 13 anos de governo, é um projeto de colaboração de classes para governar para os capitalistas e realizar algumas reformas no sistema. A prática dos governos petistas mostrou que o resultado desse projeto foi prolongar a agonia do capitalismo e os sofrimentos da classe trabalhadora, que acabam pagando por suas crises como está acontecendo agora.

pular com o objetivo de defender as liberdades democráticas. Para deter o ataque do governo é preciso ir às ruas. Todo manifesto ou ato deve ser concluído com um chamado à organização e à preparação de mobilizações populares. Em segundo lugar, é preciso

POLÍTICA ERRADA Não concordamos em repetir o projeto eleitoral do PT e do PCdoB, que também é o do PSOL, ainda que com algumas diferenças. Nas eleições, vamos defender um programa e um projeto socialista e de independência de classe. Assim como nós, outros setores defenderão outros projetos. Mas isso não impede que estejamos juntos na luta em defesa das liberdades democráticas. Portanto, a proposta de colocar um sinal de igual entre uma frente de luta em defesa das liberdades democráticas e uma frente eleitoral é uma política sectária, estreita, porque afasta os setores que não estão de acordo com a proposta eleitoral. No fundo, atua contra a unidade para lutar. Faz, nesse sentido, algo oposto do que fez a campanha pelas Diretas Já contra a ditadura.

N

definir se é uma unidade para a ação, como propomos, ou se é uma unidade eleitoral para 2020 e, sobretudo, 2022, como já defendem várias forças políticas. Alguns setores respondem a isso dizendo que não se deve opor uma coisa à outra, que não seriam incompatíveis. Na verda-

de, são sim. A unidade para lutar pode e deve ser feita entre todos os que defendem as liberdades democráticas, em cima de pontos concretos e específicos. Já as frentes eleitorais, mesmo que sejam táticas, têm uma relação direta com os programas e as estratégias, pois refletem proje-

NÃO É A MESMA COISA

Liberdades democráticas e Estado de Direito Há outra diferença com o programa que devemos levantar contra o governo. O PT, o PCdoB e alguns setores ditos democráticos colocam um sinal de igual entre dois conceitos diferentes: liberdades democráticas e Estado de direito. O centro da política desses partidos é a defesa do Estado de direito. Não concordamos.

O QUE SÃO LIBERDADES DEMOCRÁTICAS As liberdades democráticas são principalmente a liberdade de expressão, de manifestação e de organização, ou seja, a liberdade de imprensa e de manifestações artísticas e culturais sem censura; a liberdade de organização de sindicatos,

associações e partidos políticos; a liberdade de realizar manifestações públicas livremente. Essas liberdades são conquistas das revoluções, cuja máxima expressão foi a Revolução Francesa, em 1789, que não por acaso levantava o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

No Brasil, essas mesmas liberdades foram conquistadas depois de vinte anos de luta e resistência à ditadura militar e são a base que permite a organização e a luta contra esse governo repressivo e explorador. Portanto, defendemos as liberdades democráticas contra todas as tentativas de destruí-las ou cerceá-las.

ESTADO DE DIREITO O chamado Estado de direito é o Estado de uma classe social, a burguesia, que consolidou o seu poder e moldou o Estado capitalista para exercer a sua dominação. É o que chamamos democracia burguesa. Desde o princípio, a democracia burguesa abriga uma enorme contradição: suas cons-


Opinião Socialista •

Nacional

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ticas, frentes e unidade de ação tituições e leis pretendem expressar valores democráticos, mas a organização da sociedade capitalista está baseada na necessidade de manter ou aumentar os lucros do capital. Isso só é possível aumentando a exploração dos trabalhadores e dos setores oprimidos, o que provoca brutais crises econômicas e uma desigualdade crescente. A única maneira que a burguesia tem para impor essa exploração crescente é reprimindo os trabalhadores e os oprimidos, atacando seus direitos e as liberdades democráticas para impedir que eles resistam. Isso é ainda mais agudo quando se trata de um país pobre, tremendamente desigual e em uma situação de crise econômica e social, como é o caso do Brasil. Por isso, quando não consegue mais governar enganando com a democracia dos ricos, a burguesia apela a ditaduras puras e simples para preservar o sistema capitalista.

NADA DEMOCRÁTICO O Estado de direito, uma das formas de garantir a di-

tadura da burguesia e do capital, reveste-se, portanto, de uma democracia de caráter formal: as leis são democráticas no papel, mas na prática o Estado é discriminador e repressivo. Nossa Constituição afirma, por exemplo, que todos são iguais perante a lei, mas isso é um escárnio com os setores pobres. Os ricos quase nunca vão para a cadeia. Quando isso acontece, recebem os benefícios de delações premiadas e a possibilidade de cumprir a pena em prisão domiciliar gozando da fortuna roubada. Com os pobres ocorre o contrário. Pela lei, todos têm direito a um julgamento justo e, se condenados, têm direito a preservar sua vida e sua dignidade na prisão. No entanto, segundo o Conselho Nacional de Justiça, 41,5% dos presos no país sequer foram julgados. Sobre “preservar a vida e a dignidade” em nossas prisões, é só lembrar dos shows de horrores nos massacres dos presídios para ver que isso é falso.

Indígenas e quilombolas têm o direito à sua terra garantido na Constituição, mas sofrem invasão de madeireiros, garimpeiros e fazendeiros e o Estado não garante seu direito. Nas fábricas, nenhum trabalhador pode manifestar-se sem risco de perder o emprego. Existe uma ditadura dentro das empresas. O direito de organização e manifestação é formal.

Rafael Braga, preso por ter um desinfetante na bolsa.

VIOLÊNCIA CONTRA O POVO A lei diz que a pena de morte não existe no Brasil, mas é óbvio que não é verdade. A polícia executa criminosos e inocentes a seu bel-prazer e tem uma licença informal para fazê-lo. Só a PM do Rio de Janeiro matou mais de 800 pes-

soas este ano, entre elas um pedreiro que estava trabalhando e várias crianças indo para a escola. O genocídio contra a população negra nas favelas é uma política de Estado para manter o povo pobre aterrorizado e sem forças para lutar por seus direitos.

UMA FARSA Tudo isso mostra que o Estado de direito é uma farsa. O Estado burguês é um Estado repressor de trabalhadores e pobres, cuja função principal é defender a propriedade privada dos ricos e poderosos. Um programa dos trabalhadores vai muito além da democracia burguesa tanto em relação ao Estado quanto ao regime político. Nosso objetivo é um Estado operário com uma democracia operária baseada em conselhos populares que acabe com essa contradição entre a democracia formal e o poder econômico.

ILUSÕES

Defender liberdades democráticas e não o Estado capitalista Ao defender o Estado de direito burguês, partidos como o PT e o PCdoB não só alimentam as ilusões na democracia burguesa como, pior ainda, fortalecem suas instituições reacionárias como o Judiciário, o Congresso corrupto e as cúpulas das Forças Armadas. Nós, ao contrário, defendemos as liberdades democráticas conquistadas pelos trabalhadores e pelo povo, mas não defendemos esse Estado (capitalista) de direito. Há apenas uma exceção: quando estamos diante de um golpe militar defendemos, de armas nas mãos se for preciso, a democracia burguesa, já que as ditaduras eliminam até as mínimas liberdades de- Desde o impeachment de Dilma, PT, PCdoB e companhia insistem na “defesa da democracia” mocráticas. Ambos são regimes políticos burgueses, mas favorável aos trabalhadores mais. Porém hoje, apesar dos mos na iminência de um gola democracia burguesa é mais porque permite liberdades for- ataques do governo, não esta- pe militar.

A defesa do Estado de direito não é a máxima expressão da luta contra as ameaças autoritárias de Bolsonaro. Ao contrário, introduz uma visão programática burguesa que só divide e enfraquece a luta pelas liberdades democráticas. Impede e amarra a mobilização dos trabalhadores e do povo, o caminho mais seguro para derrotar Bolsonaro e seu projeto de ditadura. Impede que os trabalhadores desenvolvam um projeto estratégico de luta por uma nova sociedade. As Frentes estratégicas com a burguesia são o abandono da luta para construir outro tipo de sociedade e obrigam os trabalhadores a aceitar sem luta os planos de entrega do país de que os capitalistas precisam.


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Opinião Socialista

CENTRAIS

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Capitalismo condena humani E

ra Vale em Brumadinho (MG). Quase 400 pessoas morreram. Vilarejos, plantações e rios foram destruídos e contaminados pela lama tóxica. Em agosto, a fumaça das queimadas da floresta amazônica chegou até as cidades do Sudeste e do Sul do país num alerta dramático sobre o que se passa na maior floresta tropical do mundo. Os incêndios continuam a consumir a Amazônia e outros biomas, como a Mata Atlântica, o Cerrado e o Pantanal. Enquanto isso, o governo Bolsonaro desmonta toda a estrutura de fiscalização ambiental do país, tenta calar o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão que monitora o desmata-

JEFERSON CHOMA A REDAÇÃO

ntre os dias 20 e 27 de setembro, acontecerá a jornada mundial sobre as mudanças climáticas. Serão realizadas várias atividades e protestos socioambientais em resposta à destruição do meio ambiente, ao aquecimento global e aos ataques concretos realizados pelos governos capitalistas mundo afora e também contra Bolsonaro e sua política devastadora. Motivos não faltam para ir às ruas. A crise climática é inegável e tem consequências drásticas para a humanidade. Os sucessivos governos no mundo e as multinacionais demonstram

No Brasil, no início do ano, assistimos chocados à ruptura de uma represa da minerado-

que o capitalismo destrói o planeta, pois para eles os lucros estão acima de tudo.

mento amazônico, e incentiva a invasão de terras indígenas e unidades de conservação. Infelizmente, para muitos, a luta contra a destruição do meio ambiente ainda parece ser algo muito abstrato e distante de sua realidade. Isso é um engano perigoso. A destruição da natureza pelo capitalismo tem a ver diretamente com a sobrevivência da humanidade. As mudanças climáticas podem diminuir a produção de alimentos e a disponibilidade de água, promover o surgimento de novas doenças e epidemias e forçar a migração de milhões de pessoas. Estamos realmente à beira de um colapso ecológico de consequências profundas para toda a civilização.

O QUE É

Mudanças Climáticas são bem reais 12

1,0

1o

0,8

8

0,6 0,4

6

0,2

4

0

cimento térmico da Terra, essencial para fazer com que o planeta tenha condições ideais para a sobrevivência dos seres vivos. No entanto, como o gráficos mostra, há um aumento das emissões de CO2 desde a revolução industrial, que causou o aumento da temperatura do planeta. Foi a partir dessa época que o capitalismo passou a utilizar combustíveis fosseis (petróleo, gás e carvão) em larga escala para mover

2015

2010

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Temperatura

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1890

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2

Temperatura emg raus Celccius

AQUECIMENTO GLOBAL E EMISSÕES DE CO² - 1880-2015 Bilhões de toneladas de carbono por ano

Há indícios científicos muito fortes que atestam o aquecimento global. Não se trata de uma opinião de um grupo de pessoas, mas de medições cientificas e observações concretas realizadas por pesquisadores e institutos científicos importantes. Nosso planeta é como um sistema vivo em que os componentes físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados e formam um complexo sistema que mantém as condições climáticas e de vida. Por exemplo, se houvesse mais oxigênio na Terra, a vida seria bem diferente da que conhecemos. Provavelmente, não haveria humanos caminhando pela crosta. Se quase não existissem gases como dióxido de carbono (CO2) ou o gás metano (CH4), a Terra com certeza seria bem mais fria e teria sua superfície quase toda coberta por gelo. Os chamados gases do efeito estufa (como o CO2 e o CH4) funcionam como um cobertor que mantém o aque-

Emissão de CO²

sua indústria e construir sua civilização. O derretimento de geleiras é medido de forma científica por institutos de pesquisas, mas já é algo concreto para muita gente. Na cordilheira dos Andes, comunidades indígenas e camponesas já sofrem com o desaparecimento de geleiras que são essenciais para o fornecimento de água. Picos nevados como o Chacaltaya, na Bolívia, ou o Kilimanjaro, na Tanzânia, na

prática, perderam suas espessas camadas de neve que antes os cobriam. Os oceanos são os maiores absorvedores de CO2 – absorvem um terço do total. O excesso desse gás, porém, tem levado a um processo de acidificação que pode acabar com os corais, base de toda a vida marinha. O aquecimento dos oceanos também significa a mudança de um complexo sistema de correntes que são fundamentais para manter o cli-

ma como conhecemos. Além disso, provoca o degelo das calotas polares e a elevação dos oceanos, ameaçando as cidades costeiras. Mas a elevação da presença de CO2 não seria algo natural, independente da ação humana? De fato, uma maior emissão de CO2 pode ocorrer de forma natural, como por exemplo com o aumento das atividades de vulcões. Contudo, não foi isso que ocorreu. As atividades vulcânicas dos últimos 150 anos são consideradas pequenas e insuficientes para alterar o clima do planeta. Aliás, segundo os cientistas, desde a segunda metade do século 20 são registradas as maiores temperatura dos últimos 11 mil anos, ou seja, durante toda a época geológica do Holoceno. As mudanças climáticas são uma realidade para mais de 90% dos cientistas e são produto da ação humana nos últimos 150 anos. De modo mais preciso, do sistema capitalista e da queima de combustíveis fósseis para mover a indústria. Para detê-las, é preciso superar esse sistema.


Opinião Socialista

CENTRAIS

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idade à catástrofe ambiental CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE

Capitalismo e a destruição do meio ambiente As mudanças climáticas são apenas um dos problemas ambientais que o capitalismo produz. Elas se somam à depredação e à destruição de grandes territórios nas mãos de empresas de energia, mineração e madeireiras, à enorme poluição de rios e mares e à urbanização selvagem de áreas inteiras. O capitalismo é totalmente insustentável do ponto de vista ambiental. O ciclo de produção do capital é guiado pela necessidade do lucro, do consumo mais rápido e cada vez maior dos recursos naturais. Isso leva à destruição da natureza, pois a apropriação contínua dos recursos não é compatível com o tempo necessário para a recomposição dos ciclos naturais. Esse desequilíbrio é chamado por Marx de “falha metabólica”. A ideia é simples. Em todas as sociedades humanas, existe uma interação entre o trabalho humano e a natureza modificada por ele, o que resulta numa troca de energia e de materiais

entre os seres humanos e seu meio ambiente natural, condição necessária para a existência da civilização. Outras civilizações do passado mantinham essa relação mais ou menos equilibrada. No capitalismo, não foi assim. Segundo Marx, “destruindo as circunstâncias desse metabolismo, ela [a produção capitalista] impede sua restauração sistemática como uma lei reguladora da produção social de maneira apropriada ao pleno desenvolvimento da raça humana”. “Todo desenvolvimento técnico na agricultura para aumentar a fertilidade do solo, exemplifica Marx, significa, mais adiante, a ruína das fontes naturais dessa fertilidade. Essa exploração da natureza caminha junto com a exploração do trabalhador. “A produção capitalista, em consequência, só desenvolve a técnica e o grau de combinação do processo social de produção solapando simultaneamente as fontes originais de toda riqueza: o solo

e o trabalhador”, explica Marx em O Capital. Nem as melhorias tecnológicas no capitalismo são uma solução. Quando uma empresa capitalista obtém maior eficiência, ela utiliza para produzir quantidades mais baratas ou maiores, para maximizar seus lucros. Isso significa mais exploração da natureza e dos trabalhadores. O capitalismo nunca vai deixar de ganhar mais por consumir menos recursos. Se uma empresa capitalista faz isso, ela é devorada por outra empresa que usaria a melhoria rápido para afastá-la do mercado. Por isso, soluções reformistas para resolver a crise ambiental estão fadadas ao fracasso. Isso explica também o fracasso de todos os acordos ambientais internacionais que visam a diminuição de CO2 para conter o aquecimento global. Os líderes de 195 países sequer conseguem conter o aumento da temperatura média do planeta a menos de 2°C até 2100 como prevê o Acordo de Paris.

POR TRÁS DO OBSCURANTISMO

Bolsonaro e Trump negam aquecimento global O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é conhecido por negar a existência do aquecimento global, apesar de todas as pesquisas realizadas por institutos do seu país, como a Nasa, o Noaa e até o Departamento de Agricultura. Mas o que esperar de um presidente que defende o movimento antivacina? Na verdade, o que Trump quer esconder com seu discurso é o fato de que os EUA é o maior emissor de CO2 do mundo, ao lado da China. Diminuir as emissões significa menos lucros para as empresas estadunidenses. Por outro lado, Trump é aliado da indústria petroleira e

por isso decidiu abrir o Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Ártico, no Alasca, aos exploradores de petróleo e gás. Bolsonaro segue o seu mestre. Por isso integrantes do governo também negam o aquecimento global, como fazem seus filhos e o diplomata Ernesto Araújo. Recentemente, o diplomata disse que os dados de satélite divulgados sobre o aumento das queimadas na Amazônia não diferenciam “fogueiras de acampamento” de “grandes incêndios”. Se nos EUA a maior emissão de CO2 tem como origem a indústria, no Brasil, mais de 70% das emissões estão relacio-

nados a queimadas, aberturas de pastagem e criação extensiva de gado (46% de desmatamento, seguido por 24% de emissões das atividades agropecuárias). Isso é mais uma amostra do caráter colonial da economia brasileira. O governo de Bolsonaro nega o aquecimento global para transformar a Amazônia em pasto e área de mineração para as multinacionais. Seu nacionalismo fake news esconde seu objetivo maior, já dito por ele: transformar o país numa colônia de Trump e abrir a Amazônia para a exploração norte-americana.

Socialismo e meio ambiente

A luta em defesa da água, dos solos e dos sistemas ecológicos precisa ser acompanhada da estratégia de superar o sistema capitalista e apontar para construção de uma sociedade socialista, na qual a classe trabalhadora tenha poder político e econômico. Dizer que a culpa da situação atual é do “comportamento humano” em geral ou dos hábitos de consumo individual é mascarar a realidade. A mudança climática tem culpados com nome e sobrenome. Apenas 100 grandes empresas são responsáveis por 70% das emissões globais desde 1988 segundo a Climate Accountability Institute (CAI – Instituto de Responsabilidade Climática). O capitalismo cria um modo de vida para maximizar o uso de bens e fatores produtivos que repercute na disposição de meios de vida. Cria padrões de consumo para vender mercadorias. Mudanças individuais de consumo não são suficientes e não vão alterar o sistema. Mudanças do modo de vida e dos hábitos só são realizáveis quando se muda por completo as relações sociais. A luta pelo meio ambiente é uma luta pela superação do capitalismo e pela cons-

trução de uma sociedade socialista que ponha fim à exploração irracional e à pilhagem do planeta. Uma sociedade socialista, baseada na propriedade social dos meios de produção, que promova uma revolução das forças produtivas, ou seja, que avance a criação de novas tecnologias voltadas para o bem-estar da humanidade e realize um planejamento econômico que possa restaurar a unidade entre humanos e natureza. Nas palavras de Engels: “Os fatos nos lembram a cada passo que não reinamos sobre a Natureza como um conquistador reina sobre um povo estrangeiro, ou seja, como alguém que esteja fora da Natureza, mas que pertencemos a ela (…) todo nosso domínio sobre ela reside na vantagem que possuímos, sobre outras criaturas, de conhecermos as suas leis e de podermos usar esse conhecimento judiciosamente (…). Quanto mais avança esse conhecimento, mais os homens não só se sentirão, mas saberão que fazem parte de uma unidade com a natureza, e mais se tornará insustentável a ideia absurda e contranatural de oposição entre espírito e matéria, entre homem e Natureza” (A Dialética da Natureza).


Movimento • Opinião Socialista

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Unificar as lutas contra as pri direitos e pela Educação DA REDAÇÃO

CORREIOS

O

governo Bolsonaro enfrenta um processo de crise. Sua popularidade é a pior da história de um presidente em início de mandato, cada vez mais desgastado pelos sucessivos ataques como a reforma da Previdência, os casos de corrupção e as tentativas de abafá-las, em meio a uma crise econômica que não dá sinais de terminar. O plano de Bolsonaro-Mourão e Guedes para a crise é aumentar ainda mais os ataques e a guerra social contra os trabalhadores e os mais pobres, e dentro disso a entrega do país aos EUA e ao grande capital estrangeiro. Por isso, vem aplicando um brutal ajuste fiscal e cortes, e anunciou uma nova rodada de privatizações, e dentro das estatais, cortes de direitos e mais precarização. Tenta ainda acabar com o reajuste do salário mínimo pela inflação, reduzindo ainda mais o seu valor. Os trabalhadores, porém, vem demonstrando disposição de luta. Os trabalhadores dos Correios realizaram uma greve nacional e forçaram uma negociação no TST, mantendo-se em estado de greve, que pode voltar a qualquer momento. Os petroleiros vêm realizando expressivas assembleias e têm condições de parar caso a empresa insista em rebaixar direitos e vender a estatal. Os alunos da Universidade Federal de Santa Catarina aprovaram greve contra os cortes e o projeto privatista do governo “Future-se” vem sendo derrotado nas instituições federais. Mas é preciso unificar todos os setores em luta, começando pelos trabalhadores dos Correios, petroleiros, trabalhadores da Educação, estudantes, elet r icitá r ios, em defesa dos direitos, dos salários, dos acordos cole-

Trabalhadores dos Correios fazem primeira greve nacional contra Bolsonaro

Em todo o país petroleiros se mobilizam contra os ataques à Petrobrás

Assembleia de estudantes da UFSC contra o Future-se.

tivos, pela educação e contra as privatizações. É preciso construir a unidade já a partir dos trabalhadores e setores em luta e, a partir daí, incorporar indígenas, quilombolas, as campanhas salariais em curso, como metalúrgicos, os servidores públicos federais, etc.

Esses batalhões pesados da classe trabalhadora unificados podem encurralar esse governo e impor uma derrota aos seus planos de privatização e semiescravidão. Mas é preciso que os sindicatos unifiquem as lutas e enfrentem corajosamente o governo e as direções entreguistas dessas empresas.

Os trabalhadores dos Correios deflagraram greve no dia 10 de setembro, após meses de impasse nas negociações com a direção da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos). O governo e a direção da empresa insistem em impor uma série de ataques ao acordo coletivo dos trabalhadores, numa estratégia montada para facilitar a privatização da empresa, prioridade absoluta definida por Bolsonaro e Paulo Guedes. Pela primeira vez, os 36 sindicatos da categoria entraram em greve simultaneamente, com massiva adesão em todo o país. Foi a primeira categoria a fazer uma greve nacional contra o governo Bolsonaro. A força da paralisação obrigou a empresa a recuar e entrar com dissídio no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Pressionado pela força da mobilização, a Justiça propôs a suspensão da

greve e a manutenção de todas as cláusulas do acordo coletivo até o julgamento no próximo dia 2 de outubro. Nas assembleias realizadas no dia 17, os trabalhadores dos Correios decidiram suspender a paralisação, mas mantendo o estado de greve até o dia do julgamento. “Os trabalhadores dos Correios de todo o país fizeram uma demonstração de luta muito importante, mostramos pra sociedade, pra empresa e pro governo que esses guerreiros não abrem mão de seus direitos”, afirma o dirigente da Fentect e integrante da CSP-Conlutas-SP Geraldinho Rodrigues. “Se precisarmos, vamos voltar à greve pois não vamos aceitar privatização e nem retirada de direitos”, reafirmou. É preciso buscarmos a unidade com petroleiros e demais setores, porque juntos somos mais fortes.


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Movimento

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ivatizações, a retirada de EDUCAÇÃO

É preciso uma Greve Geral da Educação já! Estudantes e trabalhadores juntos em defesa da Educação, das estatais e da Amazônia combinaram a luta do movimento estudantil com a greve dos profissionais da Educação gerando uma das maiores manifestações dos últimos anos. Agora temos que transformar nossa indignação em uma onda grevista como nunca. Essa greve deve ser preparada já para extrapolar para toda a educação e também se combinar com a luta de todas as categorias.

JÚLIO ANSELMO DO REBELDIA, JUVENTUDE DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

Os estudantes da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estão mostrando o caminho: luta e a greve. Após os estudantes terem aprovado greve, os professores e funcionários se preparam para engrossar o movimento. É preciso parar todas as universidades, estudantes e trabalhadores juntos. Se não há condição da universidade funcionar, temos que parar e não ficar estudando e trabalhando em condições deploráveis. A situação nas universidades públicas é degradante. Vários reitores estão colocando como possibilidade real o fechamento das universidades pela falta de recursos. A diminuição de serviços prestados já está em vigor na maioria delas. É insustentável garantir o funcionamento mínimo das instituições federais de ensino sem a mínima verba para tal.

As bolsas e a pesquisa científica no Brasil sofrem o mesmíssimo problema. Ninguém sabe se amanhã terá condição para continuar sua pesquisa diante dos sucessivos cortes de verbas e de bolsas. O governo cortou 5613 bolsas da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Com a repercussão negativa da medida, voltou atrás e reverteu o corte de

3182 bolsas. No total, já foram cortadas só na CAPES 8629 bolsas o que significa 9% do total. Para o ano que vem, o quadro é ainda mais desolador com possibilidade de perda de mais de 80% das verbas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A resposta a esta situação dramática foram as grandiosas manifestações de maio onde se

BOLSONARO ESTÁ DESTRUINDO A EDUCAÇÃO PÚBLICA! CHEGA DE BOLSONARO E MOURÃO! O governo Bolsonaro quer destruir a educação pública. Basta ver que no ano que vem o corte na educação será de 17% das verbas de acordo com a proposta que o governo enviou para o congresso. Para infraestrutura de creches e escolas públicas, a proposta é retirar 230,1 milhões dos R$ 500 milhões, ou seja, mais da metade das verbas. Ainda há o plano de Bolsonaro de militarização das esco-

las. Querem que 10% das escolas sejam militares. Longe de resolver o problema da educação essa medida vai agravar, até porque é preciso investimentos, democracia e liberdade, e não autoritarismo nas escolas. Isto é parte de toda uma política de intromissão ideológica conservadora na universidades e escolas. Uma cruzada obscurantista contra a ciência, as conquistas democráticas dos estudantes e trabalhadores e contra o direito a educação. Seu alvo prioritário são as universidades. Por isso o projeto “Future-se”, que visa ampliar a privatização, desobrigar o investimento público e colocar o Ensino Superior público submetido à Organizações Sociais, precarizando desde o trabalho docente até a própria administração. A luta em defesa da educação e contra a retirada de direitos tem que se o pontapé que faça com que este governo vá ao chão. Para defender a Educação pública, a Amazônia e nossos direitos.

PETROLEIROS

Petroleiros em luta contra a privatização e a retirada de direitos Em sua estratégia de desmonte e privatização da Petrobrás, a direção da empresa e o governo vem tentando dividir a categoria, derrotar os petroleiros e impor um rebaixado acordo coletivo. Tudo para garantir os lucros dos grandes acionistas estrangeiros da empresa. Só no 2º trimestre do ano, a Petrobrás declarou lucro líquido de quase R$ 19 bilhões, mas

contraditoriamente a isso, quer impor uma série de retrocessos históricos aos petroleiros, como imposição de acordos individuais, PDA (Procedimento de Demissão por Acordo), PDV (Programa de Desligamento Voluntário), entre outros ataques, indicando seu objetivo de impor demissões em massa junto ao processo de vendas de ativo da estatal.

Para isso, impuseram uma política sistemática de assédio, perseguição e censura, um tiro que acabou saindo pela culatra. Os petroleiros responderam com assembleias massivas pelo país em que rejeitaram a proposta da empresa e indicaram greve. A mobilização fez a empresa recuar, e pedir mediação no Tribunal Superior do Trabalho (TST), enquanto pede uma “trégua” aos

petroleiros. No entanto, essa foi uma tática para ganhar tempo, ao mesmo tempo em que continua os ataques à categoria. Enquanto fechávamos essa edição, estava prestes a ocorrer uma reunião no TST. A direção da Petrobrás, porém, já declarou que não avançaria em nada no que já havia proposto. “É hora de preparar a categoria para a greve, unificando com os

setores que estão em luta, como os Correios e a educação, os trabalhadores das estatais que estão ameaçadas de privatização, como a Eletrobrás, e também com os caminhoneiros e todos os que serão atingidos por essa política da Petrobrás que só beneficia os acionistas estrangeiros”, afirma o diretor do Sindipetro-RJ e militante do PSTU, Eduardo Henrique.


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ESPECIAL • Opinião Socialista

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

GUERRA DO CONTESTADO (1912 –1916)

Camponeses em guerra contra o Exército POR JEFERSON CHOMA, DA REDAÇÃO

“Nóis não tem direito de terra, tudo é para as gente da Oropa” - Bilhete encontrado nas roupas de um sertanejo morto no Contestado

P

ouco lembrada, a Guerra do Contestado já foi chamada de “guerra invisível”. E não é para menos. O conflito guarda suas semelhanças com Canudos (1893-1897), mas ocorreu em plena região Sul do Brasil. Durou cinco anos e foi totalmente invisibilizada pelas elites dominantes do “Sul

Maravilha” e seus historiadores. Por isso classificaram os rebeldes como fanáticos, bárbaros e bandidos, e ocultaram as causas reais que levaram à eclosão da revolta: o roubo, o assassinato e a expropriação. Mas que guerra foi essa que mobilizou pelo menos 9 mil soldados do Exército, ou 80% do seu efetivo na época, e terminou numa carnificina que vitimou entre 10 mil e 15 mil pessoas? O primeiro passo é entender os conflitos sociais que levaram à revolta.

A imagem símbolo desta série é uma foto dos rebeldes do Contestado. É notável a presença de negros e mestiços entre os combatentes.

A QUESTÃO AGRÁRIA

Sob a dominação dos coronéis Com uma área de mais de 25 mil quilômetros quadrados, a região do Contestado era coberta por uma intocada floresta de araucárias e levava esse nome porque havia uma contestação entre os estados do Paraná e Santa Catarina sobre a quem pertencia esse território. Os coronéis eram grandes proprietários de terra da região. Eram também chefes políticos de um município ou região e possuíam uma complexa rede de clientela com políticos, proprietários de terra e burguesia local. Muitos pequenos lavradores viviam como agregados nas terras dos coronéis. Podiam ocupar a terra, cultivar sua lavoura e criar seus animais, desde que submetidos ao poder pessoal dos coronéis.

CAMPONESES DO CONTESTADO Contudo, o crescimento das famílias dos agregados aos poucos os obrigou a saírem das grandes fazendas. Formaram uma espécie de excedente populacional que não

servia mais aos fazendeiros. A solução para esses camponeses foi a ocupação gradual das terras devolutas, de propriedade do Estado imperial. Diferentemente dos coronéis, eles não detinham títulos de propriedade da terra. A proclamação da República, em 1889, mudou abruptamente essa situação. As terras devolutas passaram para a jurisdição

dos estados e, desse modo, logo chegaram às mãos dos coronéis, de especuladores e das oligarquias estaduais, reforçando os esquemas de troca de favores entre políticos e coronéis. Da noite para o dia, o camponês posseiro que cultivava sua lavoura nessas terras passou a ser visto como invasor, e jagunços foram mobilizados para expulsá-lo.

FARQHARD

A ferrovia do demônio Para agravar a situação, em 1911 se iniciaram as obras da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande. A concessão da ferrovia foi dada pelo governo brasileiro ao empresário norte-americano Percival Farqhard, em meio a escandalosas denúncias de corrupção. Farqhard era um capitalista muito favorecido pela República. Dono da Rio Light, da Companhia Telefônica Brasileira e de quase todas as ferrovias do Brasil, ficou conhecido pela construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré na Amazônia. A ferrovia cruzaria Santa Catarina e passaria pelo coração do Contestado. Farqhard não levou apenas a concessão da estrada. De lambuja, também ganhou a propriedade das terras que estivessem dentro de uma faixa de 15 quilômetros ao lado de cada margem da estrada. Além disso, Farqhard comprou 18 mil quilômetros quadrados de terras na área e criou uma das

maiores madeireiras do mundo, a Southern Brazil Lumber & Colonization Company, responsável por uma das maiores catástrofes ecológicas do país. Estima-se que a Lumber, em seus 40 anos de vida, retirou 15 milhões de araucárias e um número incalculável de imbuias milenares que cobriam a região. Tudo isso piorou a situação dos camponeses. Outros posseiros foram expulsos da sua terra e se aliaram a vários trabalhadores que ficaram desempregados após a construção da ferrovia. A região era uma bomba prestes a explodir.


Opinião Socialista •

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

ESPECIAL

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RELIGIÃO

Catolicismo rústico e messianismo Na região do Contestado havia uma tradição de movimentos messiânicos, em geral liderados por monges que não tinham nenhuma relação oficial com a Igreja Católica. Cabe notar que o surgimento desse tipo de movimento está relacionado à ausência quase total de representantes oficiais da Igreja nessa imensa área. Nesse vácuo, surgiu o chamado catolicismo rústico, uma forma de religiosidade popular

desenvolvida em comunidades rurais, baseada em festas coletivas, danças e rezas, sem, por-

tanto, a participação de representantes oficiais da Igreja. Os monges eram um dos símbolos desse movimento. Muitos deles passaram pelo Contestado ao longo do século 19. Eram homens desapegados dos bens materiais, consideravam o dinheiro coisa da “besta-fera”, dedicavam-se a benzeduras e a ministrar ervas medicinais à população pobre. Um dos mais famosos foi João Maria. Dizia,

COMBATES

A explosão da Guerra Santa Enquanto os lavradores eram continuamente expulsos de suas terras, o séquito de José Maria aumentava. Uma guarda especial foi criada em torno do monge, conhecida como os Doze Pares de França, inspirada em lendas medievais sobre Carlos Magno (742-814), antigo imperador do Sacro Império Romano. Em sua explicação religiosa do mundo, os sertanejos acreditavam que o ano em que se completariam mil anos da morte de Carlos Magno seria marcado pelo retorno do rei português Dom Sebastião – nascido em 1554, que ascendeu ao trono aos três anos de idade e desapareceu em batalha no ano de 1578. Desde fins do século 16, havia uma lenda popular sobre o retorno desse rei como um novo messias. Essa crença teria consequências na guerra e na tenacidade demonstrada pelos combatentes sertanejos, como veremos adiante.

O PRIMEIRO COMBATE Em agosto de 1912, José Maria foi a uma tradicional festa religiosa do Bom Jesus, em Taquaruçu (SC). A festa acabou, mas milhares de sertanejos permaneceram na localidade. Preocupado com a aglomeração, um poderoso coronel local alertou as autoridades policiais do Paraná e disse que a “monarquia havia sido proclamada nos sertões”. Rapidamente a força policial se deslocou até Taquaruçu para reprimir o monge e seus seguidores com violência. Os sertanejos, contudo, preferiram retirar-se a enfrentar a repressão. Mesmo

assim, João Gualberto, o comandante da expedição policial, resolveu sair no encalço do monge. Na madrugada do dia 22 de agosto, o arrogante coronel iniciou o ataque aos sertanejos com o claro propósito de exterminá-los. Hábeis manejadores da garrucha e do facão, os sertanejos, contudo, surpreenderam as tropas oficiais. No combate, José Maria e João Gualbertoforam mortos, mas a vitória foi dos sertanejos. A guerra santa havia começado.

OUTRAS BATALHAS Muitas batalhas se seguiram contra as tropas do Exército. Em dezembro de 1913, os sertanejos chegaram a Taquaruçu vindos de toda a região. Ali construíram um povoado santo onde viviam sob um igualitarismo religioso. Muitos outros povoados santos foram criados na região. Enquanto alguns sertanejos se destacavam como chefes militares, as comunidades eram lideradas pelas “meninas virgens”, jovens que diziam receber mensagens do falecido monge. No dia 3 de fevereiro de 1914, 750 soldados chegaram à região e bombardearam Taquaruçu, vitimando sobretudo mulheres e idosos. A maioria dos moradores, porém, havia se retirado para Caraguatá, outro povoado santo criado pelos sertanejos. Em março, o Exército investiu contra o povoado, mas sofreu uma derrota humilhante. Os sertanejos utilizaram táticas de guerrilha, conheciam muito bem a mata e eram há-

beis manejadores do facão e da garrucha. Quando os soldados conseguiam vê-los já era tarde demais. Não conseguiam utilizar as baionetas e eram massacrados pelos rebeldes. Entre 1912 e 1914 haviam sido enviadas seis expedições com tropas do Exército. Todas fracassaram. Cada vitória dos sertanejos instigava ainda mais o seu fervor religioso. Estavam convencidos de que eram invencíveis, pois sua guerra era santa. Também não temiam a morte, pois acreditavam que ressuscitariam no exército encantado de Dom Sebastião. Em setembro de 1914 chegou à região o general Setembrino de Carvalho, que tomou tarefa de esmagar a revolta. A primeira coisa que fez foi interromper o abastecimento de víveres dos revoltosos, cercando totalmente a região. Em seguida, organizou quatro colunas que cercariam os principais redutos dos sertanejos. O mais importante deles era Santa Maria, localizado num desfiladeiro e cercado por florestas densas de araucárias, imbuias e cedros. A resistência dos caboclos foi pouco a pouco quebrada pela fome. Em fevereiro de 1915, o Exército iniciou um ataque a Santa Maria. Só em 3 de abril, as tropas realizaram o assalto final. Adeodato, o último líder do movimento, fugiu com as tropas no seu encalço e ficou meses escondendo-se pelas matas. Em agosto de 1916 foi capturado, fato que pôs fim à Guerra do Contestado.

entre outras coisas, que a República “era coisa do demônio, enquanto a monarquia era da ordem de Deus”. É importante lembrar que a República era o regime identificado pelos sertanejos como aquele que estava aniquilando suas vidas, expulsando-os da terra para entregá-la aos coronéis e capitalistas em geral. O período da monarquia, ao contrário, era visto por eles como aquele em

que podiam ocupar novas terras sem serem importunados. Em 1908 João Maria desapareceu sem deixar rastros. Logo em seguida, surgiu outro monge, José Maria, que era identificado pelos sertanejos como a reencarnação do velho monge. Não tardou muito para que ele arregimentasse uma legião de seguidores que, aos poucos, incomodaram muitos coronéis.

CONCLUSÃO

Uma guerra camponesa contra a república dos coronéis A Guerra do Contestado foi uma revolta de camponeses pobres que foram expropriados das suas terras pela República. O roubo e o avanço da sanha capitalista aniquilou completamente suas formas tradicionais de viver. O messianismo e a ideologia religiosa foram as maneiras como eles explicavam a desagregação daquele mundo e ofereceram os fundamentos para organizar a lutar contra as injustiças sociais. O imenso atraso cultural das camadas populares, a supremacia da religião em quase todas as atividades da vida cultural (uma herança dos tempos coloniais), o mais completo isolamento daquela região do restante do país, tudo isso explica o surgimento do messianismo como um fenômeno social no Contestado. Entretanto, ser ia um imenso equívoco considerar

aquela guerra como um mero produto do “fanatismo religioso”, como querem fazer acreditar os historiadores das classes dominantes. De certo modo, o Contestado guarda semelhanças com as revoltas camponesas da Alemanha do século 16. Ao estudá-las, Engels defendia que essas revoltas deveriam ser vistas como lutas entre as classes sociais, embora tenham sido travadas sob o signo religioso. Dizia, assim, que as necessidades e demandas das diferentes classes “foram escondidas sob o manto religioso”. Os rebeldes do Contestado sabiam contra quem estavam lutando: a República dos coronéis. A seu modo, apenas queriam libertar o seu povo do mal e criar um lugar de paz e de prosperidade. Por isso sua luta deve ser lembrada por todos os oprimidos.

PARA

LER Errantes do novo século Douglas Teixeira Monteiro

Contestado: a guerra do novo mundo Antonio Pedro Tota PARA

ASSISTIR A Guerra dos Pelados Direção: Sylvio Back – 1970


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Movimento • Opinião Socialista

CONGRESSO DA CSP-CONLUTAS

Unificar todos os lutadores contra os ataques de Bolsonaro-Mourão ATNÁGORAS LOPES DE SÃO PAULO (SP)

N

o momento em fechávamos esta edição, já tinham sido realizadas mais de 600 assembleias de base que elegeram 1.700 delegados e delegadas ao 4º Congresso Nacional da CSP-Conlutas. As assembleias são momentos privilegiados para debater com os trabalhadores das diversas categorias a política da CSP-Conlutas e seu papel nas lutas, principalmente nesta conjuntura de tantos ataques à classe trabalhadora pelo governo de ultradireita de Jair Bolsonaro-Mourão. O congresso ocorrerá entre os dias 3 e 6 de outubro em Vinhedo (SP). O evento vai atrair diversos setores que vão além das fileiras da central e que resistem aos ataques de Bolsonaro-Mourão contra a Previdên-

cia, aos direitos trabalhistas e às liberdades democráticas. O governo quer transformar

o país numa colônia dos Estados Unidos e impor um regime de ditadura e semiescravidão.

ONDE OS LUTADORES SE ENCONTRAM

Quem vai ao congresso da CSP-Conlutas Operários metalúrgicos e químicos de São Pulo, do Rio Grande Sul, bem como trabalhadores e trabalhadoras da indústria da mineração e operários da construção civil do Ceará, do Pará e de Roraima estarão firmes no congresso. Os petroleiros que estão em processo de luta contra a privatização da Petrobras terão uma delegação com mais de 50 pessoas. Também estarão presentes organizações de luta por emprego, como o SOS Emprego do Rio de Janeiro e de Sergipe. O movimento popular vai estar em peso. O Movimento População em Situação de Rua de Goiás já confirmou sua participação. O Luta Popular vai trazer seus ativistas e lideranças para debater e organizar a luta pelo direito à moradia no país.

Dezenas de entidades camponesas, dos estados de Sergipe, Ceará, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo também já realizaram suas assembleias e elegeram suas representações. A delegação camponesa pode passar dos 200 delegados. Além disso, mais de 100 delgados dos movimentos urbanos de luta por território e moradia também já elegeram seus representantes. Delegações das populações indígenas Tremembé e Guarani, além da Coordenação de Quilombos de Sergipe e quilombolas representando outras comunidades originárias pelo país afora se juntarão. Tudo isso reafirma o compromisso da CSP-Conlutas em ser uma entidade que promova as lutas do movimento sindical e popular da classe trabalhadora.

A educação também participará. Dezenas de jovens estudantes, mais de 200 trabalhadoras e trabalhadores do ensino básico, vindos de quase todo o país, irão se somar aos cerca de 200 funcionários públicos federais, docentes das universidades e das esferas estaduais e municipais. Em tempos em que Bolsonaro ataca mulheres, negros e LGBTs, o congresso não poderia deixar de contar com uma expressiva participação dos representantes de movimentos de lutas contra as opressões. Rea f i r ma ndo seu compromisso internacionalista, pois a classe trabalhadora é uma só em todo o planeta, o congresso vai contar com a presenta de uma delegação internacional de mais de 10 países.

Por isso promove a destruição da Amazônia, quer vender as estatais brasileiras como Petrobras,

Correios e Eletrobrás e ataca as universidades públicas e a pesquisa cientifica no país. É por isso também que ameaça povos indígenas, quilombolas e camponeses e se alia a fazendeiros e jagunços do agronegócio para expulsá-los de suas terras e persegue LGBTs, promove o racismo, o machismo e a censura. Está na hora de nos levantarmos contra tudo isso. O congresso da CSP-Conlutas vai reunir aqueles que estão resistindo aos ataques do governo e propor a unificação da classe trabalhadora para derrotar o projeto de recolonização e de ditadura do governo. Não dá para vacilar neste momento. É preciso impulsionar a unidade de todos estes setores para construir uma grande greve geral no país e uma nova sociedade socialista governada pelos trabalhadores.

CONFIRA

PROGRAMAÇÃO DO CONGRESSO DIA 3 5h – Reabertura do credenciamento

14h30 às 17h30 – Grupo de Trabalho “Os desafios do movimento sindical e popular”

9h às 10h30 – Abertura oficial

17h30 às 19h30 – Reuniões Setoriais

10h30 às 11h30 – Leitura e aprovação do Regimento 11h30 às 13h – Apresentação de todas as contribuições 14h30 às 17h – Painel de conjuntura nacional e internacional 17h às 19h30 – Grupos de trabalho sobre conjuntura e plano de ação

DIA 5 9h às 10h30 – Saudação das delegações internacionais 10h30 às 13h – Plenária de deliberação sobre conjuntura e plano de ação 13h – Encerramento do credenciamento

DIA 5 9h às 12h30 – Ato político “Indígenas e Quilombolas e a destruição do meio ambiente” 14h às 17h – Plenária de deliberação “Os desafios do movimento sindical e popular” 17h às 18h30 – Painel sobre a luta contra as opressões

DIA 6 10h às 12h30 – Apresentação dos relatórios dos setoriais – Estatuto 12h30 – Encerramento


Opinião Socialista

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mural NÃO VALE NADA

NO FREEZER

Vale quer roubar terras das comunidades

Depois de levar pânico aos moradores de Barão de Cocais (MG), a mineradora Vale se organiza para usar áreas expropriadas recentemente e expandir empreendimentos que estavam paralisados na última década. É o caso do Projeto Apolo, arquivado em 2012. Outras comunidades vizinhas, como André do Mato Dentro e Cruz dos Peixotos, localizadas na zona rural de Santa Bárbara (MG), também podem ser alvo da cobiça da mineradora. Quem denuncia a ação da Vale

são os próprios moradores, que foram retirados de suas casas pela empresa em fevereiro deste ano. A alegação é que barragens e taludes poderiam romper-se a qualquer momento. A Vale conseguiu autorização na Justiça para colocar mais de 300 trabalhadores a trabalhar na região abaixo da mina de Gongo Soco para a construção de obras de contenção. De acordo com a mineradora, na área seriam feitas intervenções “imediatas de terraplenagem, contenções com telas metálicas e blocos de pedra,

no sentido de reduzir a velocidade, dispersão de energia e contenção do avanço dos resíduos através dos corpos d’água”. Moradores denunciam o Projeto Apolo, que seria a segunda maior jazida de minério de ferro do mundo. Acreditam que o projeto executado às pressas pela Vale seja, na verdade, uma estratégia da mineradora para conseguir expropriar sem muitos custos um território que já era desejado por ela. O Projeto Apolo foi barrado pelos movimentos populares em 2012. Na época, foi denunciado e protocolado pelo Ministério Público. O minério extraído em Minas hoje tem menos qualidade para exportação do que o minério do Pará. A própria Vale chama essa região de Minas Gerais de “segunda Carajás”, seria a segunda maior jazida de minério de ferro no mundo, sendo Carajás a primeira. O Projeto Apolo seria instalado em cima de um aquífero que alimenta o Rio das Velhas, que, por sua vez, abastece Belo Horizonte.

Bolsonaro estuda congelar o salário mínimo O governo Bolsonaro pretende retirar da Constituição Federal a previsão de correção do salário mínimo pela inflação. A ideia é que, em momentos de desequilíbrio fiscal, haja condições de congelar mesmo os aumentos nominais (ou seja, dar a variação da inflação) da remuneração por alguns anos. A proposta de Orçamento

para o ano de 2020, porém, prevê aumento do salário mínimo dos atuais R$ 998 para R$ 1.039 a partir de janeiro do ano que vem levando em conta a variação da inflação. Há quem defenda, no entanto, não dar nem mesmo a inflação como reposição salarial para abrir espaço no Orçamento para despesas de custeio da máquina pública e investimentos.

UM ANO DE PRISÃO

Liberdade já para Daniel Ruiz No dia 12 de setembro, data em que a prisão do petroleiro Daniel Ruiz pelo governo de Mauricio Macri, da Argentina, completou um ano, vários atos ao redor do mundo denunciaram sua prisão ilegal e exigiram sua libertação. Convocado pela Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Luta, tiveram participação decisiva da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) e de seus partidos. Os protestos aconteceram na Argentina e nos consulados do país em várias partes do mundo, como no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades), Costa Rica, Chile, Colômbia, El Salvador, México, Portugal, Estado Espanhol (Madri e Catalunha) e Bélgica.

Ato em São Paulo, em frente ao Consulado Argentino, pela liberdade de Daniel Ruiz

Reconhecido lutador da região de Chubut, Ruiz foi preso em 12 de setembro de 2018 na perseguição do governo Macri contra movimentos sociais, perseguição que se volta também

contra Sebastián Romero, que ficou conhecido como o “gordo do morteiro” nas mobilizações contra a reforma previdenciária no final de 2017, assim como outros lutadores.

A luta contra a reforma da Previdência foi marcada pela brutal repressão policial e desatou uma onda de prisões e perseguições contra ativistas no país. Daniel Ruiz está há um ano em

prisão preventiva, e todos os recursos de sua defesa estavam sendo ignorados pela Justiça do país, alinhada ao governo Macri. Sequer uma data de julgamento havia sido marcada. As acusações que pesam contra ele são de “intimidação pública e atentado à autoridade”, numa evidente tentativa de intimidação para transformar Daniel num exemplo para outros lutadores. Após Daniel Ruiz ter anunciado uma greve de fome no dia 10 e após a jornada internacional de lutas do dia 12, a Justiça argentina foi obrigada a se reunir com uma comissão de advogados de diferentes países e oficializar a data do julgamento, que foi marcado para 2 de outubro.


Cultura • Opinião Socialista

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CINEMA

Bacurau e a violência nossa de todos os dias WILSON HONÓRIO DA SILVA, DA SECRETARIA DE FORMAÇÃO DO PSTU

CONTÉM SPOILER

O

longa-metragem dirigido Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é o que podemos chamar de “experiência cinematográfica”. Para apreciar Bacurau, é preciso vê-lo muito além daquilo que em geral prende a atenção no cinema, é preciso mergulhar em suas camadas, que são muitas. O enredo tem início com a chegada de Teresa (Bárbara Colen) ao povoado de Bacurau, para o funeral de Dona Carmelita (Lia de Itamaracá), a matriarca do vilarejo. O enterro é sucedido por uma descoberta desconcertante: a cidade sumiu do mapa, e começam a surgir cadáveres por todos os lados. Os celulares silenciaram, e drones (com jeito de discos voadores de filmes dos anos 1950) pairam sobre a cabeça dos moradores. Uma situação que leva a uma inevitável conclusão: Bacurau está sob ataque. O mistério sobre os autores do ataque não é mantido por muito tempo. Logo somos apresentados a um grupo de “gringos” que está na região promovendo um “safári humano”, no qual cada corpo abatido conta pontos. Para o povo, não há muita margem de manobra. É deixar-se abater ou resistir. Bacurau, felizmente, é uma terra de sertanejos, de negros e indígenas, de mulheres porretas e trans libertas. Enfim, de gente que nunca se deixa abater fácil. A força, beleza e importância do filme, reconhecidas por milhares que já assistiram ao filme, os prêmios que ganhou (como o do Júri em Cannes, na França, e de melhor filme nos festivais de Munique e Lima) e os elogios nas redes sociais e na imprensa brotam de coisas que extrapolam a história contada, os personagens fantásticos (defendidos de forma visceral por uma excepcional trupe de artistas) e o trabalho competente da equipe técnica dirigida pelos pernam-

bucanos que já nos brindaram com outros trabalhos excelentes como O som ao redor (2013) e Aquarius (2016). Bacurau é genial não por ser perfeito ou um marco na história do cinema, mas por conseguir escancarar (inclusive na forma como o filme é construído) a insanidade do mundo em que vivemos, e faz isso prestando uma curiosa homenagem à chamada sétima arte.

REVELADORES ESTRANHAMENTOS Dizer que Bacurau é um filme “estranho” é um lugar-comum, mas é necessário. Muito da esquisitice brota da interessantíssima mescla de influências culturais, estilos e gêneros cinematográficos com os quais o filme dialoga. Uma das músicas-tema, “Réquiem para Matraga”, composta por Geraldo Vandré em 1965, conecta-se com o filme A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, um dos marcos do cinema nacional. Acumulam-se, também, citações aos cangaceiros criados por Glauber Rocha em filmes como Deus e o diabo na terra do sol (1964) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969); ao que foi pro-

duzido por movimentos artísticos e culturais dos anos 19601970, como o Cinema Novo, o Cinema Marginal e o Tropicalismo; a obras como Os condenados da Terra (1961), do psiquiatra e militante revolucionário negro Frantz Fanon; ao sadismo demencial dos soldados que massacram e são massacrados no Vietnam em Apocalypse Now (Coppola, 1979). As primeiras cenas de Bacurau, localizado num futuro próximo, já colocam os espectadores num estado de estranhamento fundamental para embarcar numa viagem que, apesar de fincada na realidade do mundo em que vivemos, é tecida com contornos surrealistas, ou seja, para além da realidade. É assim que, tal como ETs chegando ao planeta, a câmera nos conduz do espaço sideral à aridez do sertão, nos jogando dentro de um carro-pipa que sai atropelando caixões no meio do agreste. Aí estão sintetizados alguns temas vistos no decorrer do filme: dos poderes invisíveis que tentam manipular o destino da humanidade (prestem atenção, por exemplo, na história dos fones de ouvido que comandam a milícia assassina) à carência absoluta com a qual a maioria é

obrigada a conviver, atingindo seu ápice na explosão de violência e morte transformadas num jogo.

A VIOLÊNCIA NOSSA DE TODOS OS DIAS Há quem defenda que a violência que toma conta da tela é um exagero ou um convite à lógica do “olho por olho, dente por dente”. Para além do resignado pacifismo que se esconde por trás desse tipo de argumento, seus defensores menosprezam o que a gangue formada pelo alemão Michel (Udo Kier) e seus comparsas estadunidenses e britânicos, com seus aliados locais, representa. Alvos de tão brancos, são a personificação dos mesmos que promoveram alguns dos maiores e mais brutais crimes contra a humanidade. São os Bolsonaro, os Trump, os Macri e Macron mundo afora. Só se pode elogiar uma das opções estéticas mais interessantes dos diretores: a diferença que se estabelece na representação da violência que atinge os opressores e a que vitima os oprimidos. UM PRESENTE PRÓXIMO... Kleber e Juliano começaram a escrever o roteiro há dez anos. O filme estava pronto antes de

Bolsonaro chegar ao Planalto. Coincidência? Não! O nome disso é Arte no sentido mais profundo do termo: a capacidade de dar forma àquilo que está pairando no ar, cutucando corações e mentes. No enredo, o futuro próximo no qual a história se passa ecoa tanto um passado não tão distante quanto um presente que parece ter sido aprisionado e estar sendo abatido de forma violenta dia após dia. Por isso mesmo, Bacurau é um filme necessário. Necessário pela história que conta e pela forma como o faz. Por ser expressão de como o cinema (uma das vítimas preferenciais do governo miliciano brasileiro) pode levar-nos a refletir sobre o mundo e nos ajudar a combater a lógica mercenária de um sistema em crise. Necessário por expor sem rodeios a violência que caracteriza um sistema cujas vítimas mais frequentes são os direitos mais básicos e as liberdades democráticas mínimas. Uma violência que precisa ser detida. Neste sentido, é bom que os que odeiam Bacurau tenham entendido o recado. O futuro, mais ou menos próximo, nos pertence.


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