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DE UM CURSO A UM DISCURSO VOLUME 1 | 2016 PUBLICAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA
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DE UM CURSO A UM DISCURSO VOLUME 1 | NÚMERO 1 | 2016 PUBLICAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA
©2016 by Centro Universitário Newton Paiva VOLUME 1 | 2016
EXPEDIENTE PRESIDENTE DO GRUPO SPLICE: Antônio Roberto Beldi REITOR: João Paulo Beldi DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO: Cláudio Geraldo Amorim de Sousa SECRETÁRIA GERAL: Jacqueline Guimarães Ribeiro COORDENADORA DO CURSO DE PSICOLOGIA: Andréia Barbosa Faria ORGANIZAÇÃO Andréia Barbosa Faria CONSELHO EDITORIAL Alex Fernandes Magalhães Andréia Barbosa de Faria Danielle Curi Fabrício Junio Rocha Ribeiro Fernando Dório Anastácio Margaret Pires do Couto Mônica Freitas Ferreira Riviane Borghesi Bravo APOIO TÉCNICO Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva | http://npa.newtonpaiva.br/npa Editora de Arte| Projeto Gráfico| Diagramação: Helô Costa - Registro Profissional: 127/MG Colaboração: Pedro de Paula (estagiário do curso de Jornalismo)
CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA Av. Presidente Carlos Luz, 800 - Caiçara | Av. Silva Lobo, 1730 - Grajaú Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil
EDITORIAL Nesse ano de 2016 reeditamos a REVISTA DO CURSO DE PSICOLOGIA que tem como objetivo tornar público, por meio da escrita e formalização científica, o saber produzido pelos alunos a partir das diferentes práticas de estágios. Reeditar a Revista DE UM CURSO A UM DISCURSO representa tanto recuperar a história do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva que completa 5 anos, como fazer avançar suas concepções, modo de funcionamento e articulação das diferentes teorias psicológicas com a realidade. A produção acadêmica que aqui se faz presente acompanha a multiplicidade e diversidade dos “saberes” e “fazeres” próprios de nosso campo de conhecimento em consonância com a pluralidade dos modos de apresentação do sofrimento subjetivo do homem contemporâneo. Essa diversidade retrata também o percurso teórico de nossos alunos que encontram-se em momentos diferentes de sua formação. Assim, o trabalho realizado nos estágios em instituições diversas e na Clínica de Psicologia é ordenado por meio da escrita, possibilitando transmitir o percurso de um Curso na forma de um discurso. Essa ordenação nos permite verificar as diferentes possibilidades para a formação do psicólogo, ao mesmo tempo em que possibilita, por meio dos Núcleos Psicoterapêutico, de Políticas de Saúde e de Gestão, a ampliação do nosso compromisso diário: a prestação de serviços à comunidade e a formação de um profissional eticamente orientado. Comissão Editorial
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SUMÁRIO ENTrE PArEDEs vIrTuAIs: As coNsEQuÊNcIAs PEssoAIs DE rElAcIoNAmENTos mEDIADos Em rEDEs socIAIs Elen cristina Pedrosa e Homero Nunes Pereira .................................................................................................................................................7-8
cAso FélIX Fábio Iannini de castro, Paula curi moura e mônica Freitas Ferreira Novaes ............................................................................................... 9-12
A ImPorTÂNcIA Do PsIcoDIAGNÓsTIco NA coNDuÇÃo clÍNIcA: cAso JoÃo Juliana caroline mazzetto e mônica Freitas Ferreira Novaes ......................................................................................................................... 13-15
o AcomPANHAmENTo TErAPÊuTIco: rElATo DE umA BrEvE EXPErIÊNcIA Juliano césar soares lopes e riviane Borghesi Bravo ................................................................................................................................ 17-18
A AGrEssIvIDADE como rEsPosTA Ao FANTAsmA mATErNo leila silva lemes e margaret Pires do couto ............................................................................................................................................... 19-20
As FAsEs DE umA coNsulTorIA Em GEsTÃo DE PEssoAs sheyla rosane de Almeida santos e lisa Antunes cordeiro ........................................................................................................................ 21-26
o cAso E.: A AGrEssIvIDADE como rEsPosTA Ao ouTro PATErNo maria laura soares costa e Danielle curi ..................................................................................................................................................... 27-28
A ElEIÇÃo Do PAcIENTE IDENTIFIcADo como mEcANIsmo HomEosTáTIco FAmIlIAr sabrina Pereira cruz e marina reis Botelho ................................................................................................................................................... 29-30
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ENTRE PAREDES VIRTUAIS: AS CONSEQUÊNCIAS PESSOAIS DE RELACIONAMENTOS MEDIADOS EM REDES SOCIAIS ELEN CRISTINA PEDROSA¹ HOMERO NUNES PEREIRA²
RESUMO: Partindo da peça teatral “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre, este estudo lança luz sobre os relacionamentos mediados por redes sociais. Buscamos a possibilidade de compreender como estas relações refletem na vida e constituição do sujeito e como ele vem se apresentando na sociedade diante desta nova configuração. As redes sociais estão redefinindo a maneira de viver em sociedade, amplificando e pluralizando os relacionamentos. Elas abrem inúmeras possibilidades às relações e dilatam a ideia de liberdade, mas ao mesmo tempo, criam a dependência de estar conectados e inseridos no mundo 24 horas por dia, evidenciando uma nova visão sobre o conceito de inferno de Sartre. PALAVRAS CHAVE: Existencialismo. Redes sociais. Relacionamentos.
INTRODUÇÃO Na contemporaneidade somos marcados pelo avanço tecnológico e por grandes trocas de informações em redes, nos seus mais amplos aspectos. As redes sociais –mediadas pela tecnologia informacional – representam um poderoso meio de comunicação que aponta para novas formas de interação e relacionamento, constituindo uma verdadeira revolução no século XXI. Neste sentido, surgem importantes questões sobre como a inserção nas redes afeta a vida contemporânea e sobre as consequências pessoais que os relacionamentos mediados por redes sociais podem acarretar. Hoje, a circulação no ciberespaço e a atividade digital se tornou obrigatória para muitos de nós. Todos estamos embarcados nas tecnologias da informação, de diversas formas. Muitas vezes, por exemplo, o mundo virtual é usado pelas pessoas como um interposto/escudo nas relações, que passam a ser mediadas por algum aparato tecnológico, e torna-se necessário se adaptar a essa nova maneira de integrar e interagir neste “admirável mundo novo”. Assim, este artigo propõe uma reflexão sobre as consequências que o uso das redes sociais traz para as relações sociais. Buscamos uma melhor compreensão da qualidade dessas relações mediadas, como elas refletem na vida do sujeito e na sua constituição no mundo, e de que forma os indivíduos se apresentam em seu cotidiano por meio delas. ENTRE PAREDES VIRTUAIS A peça teatral de Jean Paul Sartre, “Entre Quatro Paredes”, escrita em 1944, é conhecida pela famosa frase, “O inferno são os outros” dita pelo personagem Garcin, um dos protagonistas da trama. A história coloca três personagens em um inferno problemático, onde são obrigados a conviver sem nada que possa refletir a própria imagem, a não ser os olhos dos que estão naquele ambien-
te. Confinados, sem espelhos, eles são obrigados a se ver através dos olhos dos outros. Expostos em suas falhas, os três acabam chegando à conclusão formulada por Garcin: o inferno são os outros. No entanto, ao permanecerem juntos naquele ambiente, um a um, reconhecia que o inferno seria cada um deles. A filosofia existencialista, defendida por Sartre, responsabiliza o indivíduo na escolha do caminho que melhor lhe orienta sobre a importância dos sentimentos na vida das pessoas. Ele cita: aquele que me olha é sempre o meu carrasco. Na obra Entre Quatro Paredes, apesar do indivíduo desejar ser refletido na melhor forma, os olhos dos outros, ignoram este desejo e os enxergam em profundidade, da forma como o indivíduo não gostaria. Ele cita: “o inferno são os outros” numa alusão à sua própria imagem refletida nos olhos de quem os observa. Um conceito fundamental para este estudo é o “ser no mundo”; quanto um processo de se constituir no mundo. O homem é livre para fazer suas escolhas e estas o definem, atuam na constituição do seu ser, na sua forma de viver. As escolhas, neste sentido, configuram a sua essência e a forma como a sua relação com o outro se dá no mundo. Sem as paredes do inferno de Sartre, as redes sociais têm paredes virtuais múltiplas. Assim como em Entre Quatro Paredes – lugar difícil de conviver com o olhar do outro, de perceber o reflexo da própria imagem entre paredes fechadas –, na vida online nos deparamos com outras paredes, móveis, que abrem e fecham, que direcionam novas possibilidades aos relacionamentos e que, ao mesmo tempo, criam a necessidade de estar inteiramente conectado e atualizado o tempo todo, dentro de uma nova maneira de estar inserido no mundo. Como diria Bauman (2011), as pessoas têm dificuldade em ficar sozinhas, consigo mesmas, sem a presença do outro, e usu-
1 Psicóloga graduada no Centro Universitário Newton Paiva, desde 2015, e-mail: elenpedrosa89@gmail.com 2 Jornalista, historiador, mestre em Sociologia, professor Centro Universitário Newton Paiva desde 2004, email: homeronp@yahoo.com.br
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ENTRE PAREDES VIRTUAIS: as consequências pessoais de relacionamentos mediados em redes sociais ELEN CRISTINA PEDROSA | HOMERO NUNES PEREIRA
fruem das redes sociais como uma forma de espantar a solidão, o medo tenebroso da solitude. Sendo que, da mesma maneira em que o contato foi efetuado, ele pode ser desfeito em frações de segundos, se aquela situação não lhe agrada, sem cerimônias. Mas, em contraponto, também se estabelece uma maior dificuldade e resistência em manter ou criar laços de comunicação no mundo offline, no contato face a face. O que se perde, é a intimidade, a durabilidade e a profundidade dos laços humanos. O espelho são os outros? As redes sociais são espelhos que distorcem as imagens? Ou os cliques? Pelas redes sociais se definem vários perfis, nos quais são configuradas identidades, formas de editar os “eus” de acordo com o desejo de ser visto de determinada maneira. Um jogo de imagens, reflexos daquilo que se pensa ser bom aos olhos dos outros, o que “eu” gostaria que o outro notasse de “mim”. Há um objeto real e uma imagem, mas há também a ilusão de acreditar que há algo atrás do espelho, criando em nós a sensação de que a imagem refletida está à frente do espelho, e não atrás. Imagens projetadas nas redes sociais, que demonstram o simulacro (como diria Baudrillard) de ser o que lhe convêm naquele determinado momento, criando perfis para os outros e para si mesmo. Para Sartre, “o inferno são os outros”... E para nós, o que é o
atuações, meios para influenciar as impressões, para mostrar algo de si no convívio social. Lugar onde é possível responder de forma múltipla e variável às diversas expectativas da vida social, aos anseios de aceitação, aos crivos dos olhos dos outros. Contudo, se as redes sociais de fato abrem inúmeras possibilidades, também erguem paredes virtuais, barreiras que se interpõem às relações humanas. Se a imagem refletida nos olhos dos outros eram parte do inferno descrito “entre as quatro paredes” de Sartre, também as imagens propagadas em rede, ideias e identidades fluidas, refletem dificuldades e desafios às relações contemporâneas. Assim, ainda podemos pensar como Sartre, que somos seres livres, seres de escolhas, responsáveis por nossas ações diante do outro e do mundo... mas também nos vemos diante de novos desafios, que nos dão a sensação de estarmos amarrados e interlaçados, presos numa teia (web) de interdependência, divididos e somados entre dois mundos, online e offline. Vidas plurais, identidades, relações sociais que se configuram em diferentes contextos, de mudanças constantes e incertezas. A expansão das redes sociais redefine, hoje, a maneira de viver em sociedade (interação, posturas, valores e formas de comunicação), modificando as noções de tempo e espaço, amplificando e pluralizando as relações.
inferno hoje? São infernos. Esta própria noção se expande nas redes sociais. Os outros e a falta dos outros. Um dos infernos possíveis é não estar “conectado”, perder o contato, não receber atualizações, não conferir as notificações, offline no aplicativo de trocas de mensagens. Fora do mundo ou, pior, presente demais no mundo aqui fora. É também um inferno ter que encarar os outros presencialmente, face a face, olhos nos olhos. Assumir compromissos, sustentar posições, enfrentar as relações sociais e as exigências do contato, no tempo e no espaço social. É mais fácil fugir de tudo isso quando a tecnologia permite. No lado oposto, o inferno também é ter que ficar o tempo todo atualizando as coisas, postando, garimpando sinais positivos de que os outros sabem da sua existência. Uma necessidade de autoafirmação, de construção da identidade a partir do reconhecimento, de modo fluido e inconstante. Neste sentido, mais um de tantos infernos é não possuir popularidade, não ser seguido pelas pessoas no Instagram, não receber likes nas postagens do Facebook, não ser “curtido”. Passar despercebido, ser ignorado, desprezado. Isso tudo representa a solidão, novas formas de solidão: as pessoas quando passam por esses tipos de situações se sentem sozinhas, excluídas e isoladas do mundo. Desprezadas. De acordo com Goffman (1985) todo homem, dentro da sociedade, apresenta-se diante das pessoas representando vários papéis, tentando definir a situação e manipular as impressões que possam ter dele. As redes sociais, hoje, se tornaram o palco destas
REFERÊNCIAS BAUMAN Zygmunt. 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 2. ed. Vozes, 1989. MAIA, Paulo Leandro. O conceito de homem na visão de Sartre. Disponível em: http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/ edicoes-01-a-10/edicao-09/194-o-conceito-de-homem-na-visao-desartre. Acesso em: 03 de maio de 2015. OLIVEIRA, Carolina Mendes Campos. A psicanálise existencial de Jean Paul Sartre na peça “Entre Quatro Paredes”: O jogo de espelhos do encontro com o outro. Disponível em: http://www.existencialismo.uerj.br/pdf/CarolinaCampos.pdf. Acesso em 16 de maio de 2015. PARK, Robert Ezra, Race and Culture (Glencoe, III.: The Free Press, 1950), p. 249, apud GOFFMAN, Erving. A Representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes, 1989. SARTRE, Jean Paul. Entre Quatro Paredes. Disponível em: http:// www.casadeteatropoa.com.br/textos/mural/Entre_Quatro_Paredes_-_Jean_Pa.pdf. Acesso em: 16 de maio de 2015.
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CASO FÉLIX FÁBIO IANNINI DE CASTRO1 PAULA CURI MOURA2 MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES3
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o atendimento e condução de um caso clínico atendido na abordagem cognitivo comportamental (TCC), realizado por dois alunos do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Inicialmente serão abordados alguns dados relevantes da queixa apresentada pelo paciente e em seguida estende-se para a condução do caso e intervenções realizadas. PALAVRAS CHAVE: Terapia cognitiva, Terapia comportamental, formação de psicoterapeuta, caso clínico.
Félix (nome fictício) possuía 15 anos quando iniciou os atendimentos de psicoterapia na clínica escola do curso de Psicologia do
pressões dos terapeutas e intervenções utilizadas.
Centro Universitário Newton Paiva. Atualmente, os pais são separados. O paciente mora com a mãe, a madrinha e os avós maternos. Cresceu sob os cuidados da avó, para que a mãe, cuja profissão é de professora, pudesse trabalhar. Por esse motivo, não passava muito tempo com a mãe. Seus pais nunca viveram juntos. Félix cresceu próximo à família materna, mantendo pouco contato com o pai. Embora não frequentasse muito a casa do pai, o relacionamento entre eles sempre foi positivo e sem atritos. Está cursando o primeiro ano do ensino médio e realiza algumas atividades, além das obrigações escolares, como aulas de futebol, inglês e violão. O texto a seguir traz fragmentos do caso clínico de Félix. Descreve, detalhadamente, as questões trabalhadas no processo terapêutico, apresentando falas originais dos terapeutas e do paciente, que serão discutidas e articuladas com os pressupostos da terapia cognitiva e comportamental (TCC). A TCC é uma abordagem terapêutica que vai trabalhar essencialmente com as interpretações e avaliações cognitivas que o indivíduo faz das situações. Segundo Serra (2006 – 2007, p.9): Nossas respostas emocionais e comportamentais, bem como nossa motivação, não são influenciadas diretamente por situações, mas sim pela forma como processamos essas situações, em outras palavras pelas interpretações que fazemos dessas situações, por nossa representação dessas situações, ou pelo significado que atribuímos a elas.
ESTRUTURAÇÃO DOS ATENDIMENTOS Na TCC os atendimentos são usualmente estruturados em quatro momentos. O primeiro momento foca nas estratégias de intervenção e identificação das queixas e crenças do cliente. (SERRA, 2006 - 2007, p.9). Na segunda fase, o terapeuta concentra os esforços na criação e fortalecimento do vínculo com o cliente. O vínculo é fundamental para que o cliente possa se engajar no processo terapêutico, colaborativamente, com o clínico. Nessa etapa, inicia-se algumas intervenções com foco funcional, ou seja, motivar e auxiliar o cliente a desenvolver estratégias e habilidades para lidar com a problemática apresentada. (SERRA, 2006 - 2007, p.9). Na terceira fase, é enfatizado as crenças disfuncionais do cliente, isto é, crenças que possuem relação direta com os comportamentos, queixa do cliente, problemas, dificuldades e sofrimentos. Nesse momento do processo terapêutico, as intervenções visam modificar essas crenças, promovendo assim uma reestruturação cognitiva. (SERRA, 2006 - 2007, p.9). Os atendimentos na quarta, e última fase são focados em promover uma generalização dos ganhos terapêuticos. O objetivo é que o cliente consiga utilizar o aprendizado obtido na terapia, em várias outras áreas e situações de sua vida. Além disso, busca-se também dar manutenção aos ganhos terapêuticos, prevenindo recaídas. (SERRA, 2006 - 2007, p.9). Abaixo segue a estruturação dos atendimentos, que não seguiu completamente o modelo apresentado acima, devido ao curto período de atendimentos.
Nesse relato serão descritas demandas trazidas pela avó do paciente no decorrer do processo, as dificuldades encontradas, im-
1 Artigo apresentado ao curso de Psicologia do Instituo de Ciências Biológicas e da Saúde do Centro Universitário Newton Paiva, com requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Psicologia. ¹Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: fabioiannini@live.com 2 Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: paulacurimoura@yahoo.com.br 3 Orientadora do artigo, Psicóloga Clínica. Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico IEC – PUC Minas, Mestre em Psicologia Desenvolvimento Humano – UFMG. Professora de Avaliação Psicológica e Desenvolvimento Humano do Centro Universitário Newton Paiva.
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CASO FÉLIX FÁBIO IANNINI DE CASTRO | PAULA CURI MOURA | MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES
SESSÃO
Procedimentos
1º a 3º Sessão Avaliação Inicial
Anamnese com avó do paciente. Entrevista com avó e paciente juntos, discussão e alinhamento das queixas apresentadas.
4º a 6º Sessão Atendimento psicoterapêutico/intervenções
Identificação de comportamentos e crenças disfuncionais. Psicoeducação, usando registro de pensamentos, sentimentos e comportamentos.
7º Sessão Fechamento dos atendimentos do semestre
Resumo das sessões terapêuticas. Continuidade das atividades de registro. Encaminhamento para continuidade dos atendimentos no semestre seguinte.
AVALIAÇÃO INICIAL Avó do paciente busca o atendimento na clínica escola de psicologia, porque o neto apresenta padrão comportamental de roubar dinheiro dos seus familiares. Ela afirma que não é para o uso de drogas e sim para comprar guloseimas e balas. Teme que esse comportamento do neto se mantenha e passe a ocorrer em ambientes extrafamiliares. Avó relata já ter conversado com o neto sobre seu comportamento, mas que o mesmo continua pegando dinheiro sem permissão e ao ser questionado no que diz respeito a esse fato, afirma com convicção não ter sido ele quem pegou o dinheiro. A avó fala que buscou todas as formas de ajuda para Félix. Como participa ativamente da igreja, procurou ajuda, inclusive, um grupo de jovens dentro da instituição e assim, por ele já estar tratando o lado espiritual, acredita que precise também de ajuda psicológica. O neto certifica a queixa descrita pela avó. Sua postura, durante os atendimentos, é sempre de distanciamento dos terapeutas, pronuncia-se muito pouco, apresentado discurso monossilábico frente aos questionamentos realizados. Não manifesta nenhuma queixa ou questionamento, parece estar indo a clínica por obrigação de comparecer aos atendimentos, não implicando muito no processo. INTERVENÇÃO A princípio buscou-se estabelecer vínculo com paciente e explorar um pouco seu cotidiano, não realizando nenhum confronto. No decorrer dos atendimentos, foi possível observar que o cliente apresentava comportamentos de fuga/esquiva sempre que os terapeutas tocavam na queixa principal de furto de dinheiro em casa. O que pode ser analisado em alguns fragmentos dos atendimentos expostos a seguir: T1.: Quando você precisa de dinheiro, expõe essa situação aos seus familiares e os pede o dinheiro? C1.: Sim.
Questiona-o então sobre a finalidade desse dinheiro: T2.: Qual o uso você faz desse dinheiro? C2.: Às vezes, para ir ao cinema com algum amigo. Nesse momento é exposto para Félix que a avó trouxe a queixa de que ele pega dinheiro em casa sem pedir permissão, o que é confirmado por Félix. T3.: Sua avó conversa com você sobre esse fato? C3.: Sim. T4.: Como são essas conversas? C4.: Minha avó pede para que eu não faça mais isso e diz para mim rezar. T5.: Como você se sente quando sua avó conversa com você sobre isso? C5.: Sinto alívio. T6.: Então Félix, gostaria de compreender melhor depois de tudo o que conversamos. Por qual motivo você pega dinheiro sem pedir? C6.: Ah, eu uso. Esqueci. Em atendimento posterior, buscou-se trabalhar com o cliente a análise das consequências do seu comportamento, investigando seus sentimentos: T8.: Como você se sente ao pegar dinheiro sem pedir? C7.: Sinto me arrependido sempre que faço isso. Sinto vontade de pegar o dinheiro e, sempre após ter pego, me arrependo. T9.: Como é essa vontade de pegar dinheiro? C8.: Não sei explicar. T10.: Como seus familiares, avó e mãe, reagem quando você pega dinheiro? C9.: Elas ficam tristes e nervosas. Não gosto de vê-las assim. T11.: Você analisa a situação, pensa antes de tomar essa atitude? C10.: Somente depois que já aconteceu. Os terapeutas então fazem um fechamento da sessão, solicitando ao paciente a realização do seguinte registro quando sentisse vontade em pegar o dinheiro.
SITUAÇÃO
PENSAMENTOS/SENTIMENTOS
REFLEXÃO/CONSEQUÊNCIAS
Especifique a situação, contexto, em que você sentiu vontade de pegar o dinheiro.
Faça uma breve reflexão e anote seus pensamentos e sentimentos nesse momento.
Refletir sobre as consequências de realizar a ação.
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CASO FÉLIX FÁBIO IANNINI DE CASTRO | PAULA CURI MOURA | MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES
Registros do paciente: SITUAÇÃO 1 - “Eu parei para pensar e lembrei que eu pegando dinheiro da minha família, eu estaria magoando eles e que isso não me daria nada de bom. Vi que eu estaria tirando uma coisa da minha família que eles poderão precisar”. SITUAÇÃO 2 – “De novo parei para pensar antes e vi que eu estaria tirando uma coisa da minha família que eles poderão precisar. ” SITUAÇÃO 3 - “Mais uma vez parei para pensar antes, e vi que eu pegando o dinheiro, eu estaria pegando uma coisa que a pessoa acha que está no lugar, mas quando precisar vai ficar sem poder comprar algo de necessidade”.
DIAGRAMA DE CONCEITUAÇÃO COGNITIVA HISTÓRIA DE VIDA Mora junto com avó, avô, mãe e madrinha. Foi criado pela avó, pois a mãe trabalhava o dia todo. Filho de mãe solteira, possui pouco contato com pai, mas tem bom relacionamento. Apresenta bom relacionamento familiar, exceto pela queixa apresentada de furto de dinheiro na casa. DADOS RELEVANTES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA É portador de epilepsia, faz acompanhamento com neurologista há três anos e usa o seguinte psicotrópico: Oxcarbazepina. Pouco contato com o pai, mas sempre com bom relacionamento.
CRENÇAS CENTRAIS Entende que furtar é errado. CRENÇAS CONDICIONAIS Se eu contar para que uso o dinheiro serei punido; Se eu pegar dinheiro sem pedir estarei magoando meus familiares; Pegando dinheiro estou tirando algo da minha família que eles podem precisar ESTRATÉGIAS COMPENSATÓRIAS Nego e falo que não fui eu quem pegou o dinheiro, frequento os grupos da igreja, rezo e vou a psicoterapia, como pedido pela minha avó. Comportamento de fuga e esquiva para não ser responsabilizado pelos seus atos. SITUAÇÃO 1 Sozinho em casa, pegar dinheiro escondido
SITUAÇÃO 2 Avó ausente, escondido
PENSAMENTO AUTOMÁTICO (PA) Vou magoar minha família, não me dará nada de bom
PENSAMENTO AUTOMÁTICO (PA) Estou pegando algo que eles podem precisar
PENSAMENTO AUTOMÁTICO (PA) Se eu pegar o dinheiro, ele pode fazer falta para comprar algo de necessidade
SIGNIFICADO DO (PA) Brigas, críticas, punição
SIGNIFICADO DO (PA) O que faço é errado
SIGNIFICADO DO (PA) Preocupação, injustiça
Tristeza, medo
Preocupação, culpa
Frustração
COMPORTAMENTO Não pegar o dinheiro
COMPORTAMENTO Não pegar o dinheiro
COMPORTAMENTO Não pegar o dinheiro
pegar
dinheiro
SITUAÇÃO 3 Possibilidade de pegar dinheiro sem ninguém ver
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CASO FÉLIX FÁBIO IANNINI DE CASTRO | PAULA CURI MOURA | MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES
O caso clínico exposto acima foi conduzido por dois alunos do estágio supervisionado IV. No total foram sete atendimentos realizados, intercalados com algumas faltas do cliente por motivos de saúde da sua avó. O objetivo do caso apresentado é mostrar um pouco o modelo de atendimento e análise da abordagem cognitivo comportamental (TCC), cujos pressupostos teóricos são baseados no modelo cognitivo de Aron Beck e no modelo comportamental de Skinner. A intervenção realizada de solicitar que o paciente registre as situações, pensamentos e sentimentos quando a vontade de pegar dinheiro aparece, permite que ele comece a identificar em quais situações isso acontece e ter maior controle das possíveis consequências do seu comportamento na sua vida e relações familiares. Porém, vale ressaltar que foram realizados poucos atendimentos, o que impediu uma maior exploração do caso e a realização de uma análise mais detalhada. Ao término do semestre verificou-se a necessidade da continuidade dos atendimentos ao paciente, dessa forma, foi aconselhado, para o cliente, a retomada para novos atendimentos no semestre seguinte.
tando alguns comportamentos de fuga/esquiva no que diz respeito a demanda inicial, observou-se, durante a condução do caso, que o cliente vai gradativamente aderindo ao processo, principalmente quando inicia os registros solicitados. No entanto, verificou-se a necessidade da realização de uma análise mais profunda e detalhada do caso, que possibilite maior compreensão das demais questões que permeiam o comportamento manifesto pelo cliente. É provável que existam questões relativas à sua demanda que não foram passíveis de serem identificadas e trabalhadas devido ao curto período de tempo dos atendimentos, o que justifica o encaminhamento do mesmo para continuidade do processo terapêutico no semestre seguinte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar do cliente manifestar resistência ao processo, estabe-
SERRA, Ana Maria. Estudo da terapia cognitiva: Um novo conceito em psicoterapia. São Paulo: Criarp, 2006 – 2007. 129 p.
REFERÊNCIAS BARRETO, Tania Maria da Cunha Doutel; ZANIN, Carla Rodrigues; DOMINGOS, Neide Aparecida Micelli. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno explosivo intermitente: relato de caso. Revista brasileira de terapias cognitivas. São José do Rio Preto, v.5, n.1, p.62-76, jun. 2009.
lecendo uma relação mais distanciada dos terapeutas e apresen-
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A IMPORTÂNCIA DO PSICODIAGNÓSTICO NA CONDUÇÃO CLÍNICA: CASO JOÃO JULIANA CAROLINE MAZZETTO¹ MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES²
RESUMO: Este estudo de caso foi elaborado a partir da prática em Avaliação Psicológica realizada na Clínica Escola do curso de Psicologia da Newton Paiva. O Psicodiagnóstico foi estruturado em oito encontros sendo divididos da seguinte forma: dois encontros de entrevista inicial com os pais e a família, um encontro de anamnese com a mãe e, em grande parte, a realização da Hora do Jogo Diagnóstico, que possibilita observar o comportamento da criança. Além disto, cinco encontros para aplicação de testes, sendo estes compostos pela aplicação do HTP (House-Tree-Person), que avalia aspectos da personalidade e dinâmica familiar, a aplicação da técnica do Desenho de Família, que avalia aspectos da dinâmica familiar, o teste WISC-IV (Escala Weschler de Inteligência para Crianças – 4ª versão) que avalia inteligência fluida, cristalizada e habilidades cognitivas e o teste ESI (Escala de Stress Infantil) que avalia o nível de estresse apresentado no momento. Ao final chegou-se a hipótese diagnóstica de regressão, insegurança, ansiedade e Síndrome do X-Frágil. PALAVRAS-CHAVE: psicodiagnóstico, caso clínico, testes psicológicos.
1 INTRODUÇÃO O Psicodiagnóstico é utilizado por psicólogos para avaliar potencialidades e dificuldades do sujeito. Geralmente, ocorre no contexto clinico, e pode ter como foco a identificação ou a exclusão de uma hipótese diagnóstica (Cunha, 2007). Vale ressaltar que há uma diferença entre psicodiagnóstico e psicometria, pois, para Cunha (2007, p.23), o psicometrista “[...] tende a valorizar os aspectos técnicos da testagem, enquanto, no psicodiagnóstico, há a utilização de testes e outras estratégias [...]”. Foram utilizadas técnicas projetivas, aplicadas por meio dos testes HTP e Desenho de família. Para Fensterseifer & Werlang (2008, apud MIGUEL, 2014, p98), As técnicas projetivas se caracterizam pela apresentação de estímulos pouco estruturados, o que permite uma ampla variedade de respostas, maior foco nos aspectos qualitativos do desempenho e uma maior interação do psicólogo com o avaliando. Os testes objetivos -também conhecidos como psicométricos- utilizados foram WISC-IV e ESI. Estes testes, de acordo com Pasquali (2001, p26), [...] fazem a suposição de que os traços que eles medem são dimensões, isto é, atributos que possuem diferentes magnitudes, grandezas essas que se expressam através de números.
O paciente de 14 anos foi encaminhado por outro supervisor de práticas clínicas da abordagem existencial que já acompanhava o caso há seis meses e viu a necessidade da realização do psicodiagnóstico, cujo objetivo era orientar a condução clínica. O psicodiagnóstico foi realizado em dupla, por alunas do 7º período do curso de Psicologia, e ocorreu durante o primeiro semestre de 2016. 2 ENTREVISTA INICIAL E ANAMNESE Também conhecida como entrevista clínica, esta é parte importante do processo do psicodiagnóstico, pois, através dela, são colhidos os dados principais do caso, como a queixa principal, que possibilitam investigar outros aspectos relevantes a serem observados durante o processo (TAVARES, 2007.). A entrevista foi realizada com os pais de João, com a senhora Bianca e com o senhor Vitor João, na qual foi apresentada a queixa inicial de que João teria um provável retardo, além de momentos de agressividade e dificuldades escolares. Foi esclarecido pela mãe que João possui idade óssea de uma criança de nove anos de idade, e, por isso, apresentava um retardo no desenvolvimento. Mesmo tendo sido acompanhado por diversos médicos, não foi relatado alguma alteração biológica ou genética, sendo João, de acordo com a mãe, “um menino normal” (SIC). Os momentos de agressividade são relatados pela mãe como respostas agressivas que João tem, nos quais ele grita e xinga. João vive com a mãe, com dois irmãos mais velhos e com o
1 Artigo apresentado ao curso de Psicologia do Instituo de Ciências Biológicas e da Saúde do Centro Universitário Newton Paiva, referente à prática de Avaliação Psicológica II. ¹ Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: jcmazzetto@gmail.com 2 Orientadora do artigo, Psicóloga Clínica. Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico IEC – PUC Minas, Mestre em Psicologia Desenvolvimento Humano – UFMG. Professora de Avaliação Psicológica e Desenvolvimento Humano do Centro Universitário Newton Paiva.
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padrasto. O paciente visita o pai em alguns finais de semana, mas, de acordo com pai, o menino não gosta destas visitas. Os pais relatam que João é muito querido por todos, ganha presentes dos três irmãos (dois por parte materna e um por parte paterna), e todos os amigos da escola gostam dele. Durante o período da tarde, ele fica com a avó materna. Bianca relata ser superprotetora, ter dado banho em João até seus 10 anos de idade, fazer tudo por ele e de não estar pronta para deixá-lo fazer as coisas sozinho, sem precisar mandá-lo fazer. Ela se refere a ele diversas vezes como “Joãozinho”. João se relaciona e brinca apenas com crianças com idade aproximada de oito anos, que possuem mais ou menos a mesma altura que ele. A mãe de João ressalta que durante o desenvolvimento infantil, ele apresentou diversas dificuldades de desenvolvimento, nasceu com fontanela aberta, orelhas presas, pé virado e não desenvolvia como o esperado, demorou a andar e falar. Fez diversos exames em que não foram detectados nada. Há cerca de um ano e meio, passou a dormir sozinho - antes dormia na cama com a mãe - e, ainda algumas vezes, dorme com ela. Os pais relatam que ele não sofre nenhum tipo de bulling no ambiente escolar. Como hobbies, gosta de assistir televisão com a mãe nos finais de semana, andar de bicicleta com sua prima e jogar vídeo game. 3 COMPORTAMENTOS FRENTE AOS TESTES Como já citado anteriormente, foram utilizadas técnicas projetivas e objetivas, além da hora do jogo diagnóstico. As técnicas projetivas propiciam ao avaliador maior oportunidade de observar os comportamentos do cliente por serem mais “livres” e geralmente apresentarem menos resistência do paciente. (SILVA, 2008, cap.10). O Jogo Diagnóstico “[...] consiste em uma entrevista diagnóstica que tem como base o brincar livre e espontâneo da criança.” (ARAÚJO, 2007, pg.135) Na primeira entrevista com João, foi utilizado o jogo Cara-acara, indicado para crianças a partir de seis anos de idade. Este jogo consiste em adivinhar o personagem do adversário através de perguntas sobre características físicas. João não conhecia o jogo, então, foram lidas as regras, assim como estavam escritas na caixa, porém, durante a partida, ele não compreendeu como se joga. O modo de explicar as regras foi alterado, e novamente durante a partida não foi compreendido, logo, foi explicado a ele, o jogo em uma linguagem mais infantilizada, e, como já estava próximo do termino da sessão, ao encerrar a terceira partida, João diz: “Ah, agora eu tava começando a entender”. O primeiro teste a ser utilizado foi o HTP, que engloba aspectos da vida familiar e doméstica, através do desenho da casa, aspectos da personalidade e do self através do desenho da árvore e o desenho da pessoa, que apresenta uma visão de si mesmo e sua relação com o ambiente (SILVA, 2008, cap. 13). Antes mesmo de serem dadas todas as instruções do teste, João interrompe a fala das alunas, dizendo “Não sei desenhar, não gosto”, porém, realiza a tarefa. Ele realiza todos os desenhos de forma rápida, sem muita implicação, o período de latência mais curto foi de um segundo para a árvore e, o mais longo, de seis segundos para a casa. O tempo para completar o desenho ficou entre seis segundos para a árvore e quarenta e quatro segundos para o primeiro desenho da pessoa. Foi solicitado que João fizesse dois desenhos de pessoas, pois seu primeiro desenho foi de uma figura feminina. No terceiro encontro com João, foi aplicada a Técnica do De-
senho de Família, no qual é solicitado ao cliente que desenhe uma família, seja ela real ou imaginária. Ele apresentou pouca implicação na realização da tarefa, bem como comportamentos similares à aplicação do HTP. Em seguida à aplicação do Desenho de Família, foi realizada novamente a hora do jogo diagnóstico, utilizando o jogo de damas, o qual o paciente havia dito saber e gostar de jogar. Foi solicitado que ele explicasse as regras do jogo para as alunas, no entanto, ele criou regras que não existiam no jogo e durante as partidas, esquecia-se dessas regras, não capturava as peças, mesmo quando colocadas propositalmente para ele pegá-las, ele retrocedia e procurava outra peça com a qual pudesse jogar. Nos dois encontros seguidos, foi aplicado o teste WISC-IV, que avalia a inteligência de crianças e adolescentes, entre seis e dezesseis anos. Durante a aplicação dos subtestes, João apresentou muita dificuldade de entendimento das tarefas e não conseguiu completar a maior parte. Nos subtestes que consistiam em respostas do paciente, João dava respostas aleatórias, com poucas inferências ou, após um momento longo de silêncio, dava respostas que não se aproximavam da pergunta. No segundo encontro, foi observado que João se apresentava mais retraído, se encolhendo na cadeira ao ponto de apoiar sua cabeça na mesa. Neste momento, foi encerrado o teste e por esse motivo não foram aplicados todos os subtestes. Em um dos encontros, João manifesta seu gosto por jogar UNO, um jogo de cartas. Isso se comprova quando disponibilizamos o jogo, e ele não só ensina todas as regras corretamente como também ganha diversas vezes. Por último, foi aplicada a Escala de Stress Infantil – ESI. Apesar da dificuldade de entender alguns itens, João o realizou sem maiores empecilhos. 4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos no psicodiagnóstico reforçam o que foi observado nos primeiros encontros: de que João é um adolescente infantilizado, com comportamentos de ansiedade e insegurança, agindo de forma regressiva frente a relacionamentos, o que acarreta em um comportamento de agressividade verbal, introversão, rejeição e necessidade de aceitação imediata. Estes comportamentos também se repetem na dinâmica familiar, devido a um ambiente superprotetor e de grande supressão. Também foram observadas significativas dificuldades cognitivas nos aspectos da compreensão verbal (ICV 63), organização perceptual (IOP 55), memória operacional (IMO 49) e velocidade de processamento (IVP 68), que podem ocorrer à baixa estimulação adequada de suas habilidades cognitivas. Além disso, durante o estudo de transtornos do neurodesenvolvimento, na disciplina de Neurociências, foi observado que o paciente possui características associadas à Síndrome do X-Frágil que, Além do comprometimento intelectual, outros sinais podem contribuir para o diagnóstico clínico da SXF, tais como dismorfismos faciais (face alongada e mandíbula proeminente), anomalias de pavilhão auricular (grandes e /ou em abano), além de macrorquidia (aumento do volume testicular), que não são obrigatórios e costumam se tornar mais evidentes a partir da puberdade (VRIES et al, 1998 apud YONAMINE & SILVA, 2002, p982) Devido a isso, João foi encaminhado para a psicoterapia, para o neurologista e geneticista para avaliação das dificuldades específicas e da hipótese de Síndrome do X-Frágil, além do encaminhamen-
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to para o reforço escolar. A mãe foi encaminhada para psicoterapia no intuito de aprender a lidar com o crescimento de seu filho, que, apesar de seu tamanho, é um adolescente. O psicodiagnóstico se mostra de extrema importância na pratica clínica, pois auxilia o profissional da Psicologia a dar direção ao tratamento, seja seguindo a hipótese diagnóstica levantada ou refutando-a. REFERÊNCIAS ARAUJO, M. de F. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica. Psicologia: Teoria e Prática. São Paulo, v. 9, n. 2, p. 126-141, dez. 2007 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872007000200008. Acesso em 05 nov. 2016. CUNHA, J. A. Fundamentos do Psicodiagnostico. In: CUNHA, J. A. [et al], Psicodiagnóstico-V, 5. ed. rev. e ampl. – Livro Eletrônico. – Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 2.
PASQUALI, L. Testes Psicológicos: conceitos, história, tipos e usos. In: PASQUALI, L. Técnicas de Exame Psicológico – TEP: manual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. Cap. 1. SILVA, M. C. V. M. Técnicas projetivas gráficas e desenho infantil. In: VILLEMOR-AMARAL, A. E. & WERLANG, B. S. G. [org.]. Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap.10. SILVA, M. C. V. M. A técnica da casa-árvore pessoa (HTP) de John Buck. In: VILLEMOR-AMARAL, A. E. & WERLANG, B. S. G. [org.]. Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap.13 TAVARES, M. A Entrevista Clínica. In: CUNHA, J. A. [et al], Psicodiagnóstico-V, 5. ed. rev. e ampl. – Livro Eletrônico. – Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 5.
MIGUEL, F. K. Mitos e verdades no ensino de técnicas projetivas. Psico-USF, Itatiba, v. 19, n. 1, p. 97-106, abr. 2014. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
YONAMINE, S. M.; SILVA, A. A. da. Características da comunicação em indivíduos com a síndrome do X frágil. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo , v. 60, n. 4, p. 981-985, dez. 2002 . Disponível em <http://www.scielo. br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2002000600018
82712014000100010 Acesso em 27 out. 2016.
&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 08 nov. 2016.
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O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO: RELATO DE UMA BREVE EXPERIÊNCIA JULIANO CÉSAR SOARES LOPES1 RIVIANE BORGHESI BRAVO2
RESUMO: O Acompanhamento Terapêutico (AT) é um campo de trabalho da Psicologia que tem crescido significativamente e ganhado espaço em diversos ambientes. Ao mesmo tempo em que esse crescimento tem contribuído para a formação do psicólogo, principalmente os analistas do comportamento, tem beneficiado os casos que demandam a saída da clínica tradicional. Encontramos também um contexto em que é preciso ser reestruturado devido às novas condições sociais. O modelo a ser seguido no trabalho de AT perpassa por técnicas diferentes, conforme o contexto e o caso atendido. O planejamento dessa atuação tem como foco diferenciar os ambientes, nos quais AT está inserido, pois o estabelecimento da rotina é fundamental para o desenvolvimento dos processos e suas metas, assim como o controle das variáveis que norteiam a intervenção e a avaliação dos resultados. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo trazer uma visão crítica da atuação do AT, seus métodos de trabalho, os cuidados durante todas as atividades, a relação com os participantes envolvidos, a análise final, até a verificação de novos caminhos e seu encerramento. Como forma de visualizar na prática, o artigo irá apresentar um caso de um adolescente que apresentava dificuldades de aprendizagem escolar, além do desajustamento social e familiar. O relato dessa experiência irá auxiliar alunos e profissionais a utilizar ferramentas compatíveis com a demanda de cada caso e promover maior consistência no trabalho do psicólogo como AT. PALAVRAS-CHAVE: Acompanhamento Terapêutico; Ambiente Extraconsultório; Análise do Comportamento.
INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo apresentar o relato da experiência com o Acompanhamento Terapêutico (A.T.) escolar na Análise do Comportamento realizado durante o estágio curricular do curso de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Os estágios aconteceram nas dependências de uma instituição de ensino básico particular de Belo Horizonte, situada na região sul da cidade, no período de 15/09/15 até 03/11/15. Todos os atendimentos aconteceram uma vez por semana, por duas horas e tiveram por finalidade a observação, a coleta de dados e as intervenções voltadas ao A.T. e seu cliente como forma de modelar novos comportamentos em prol dos estudos e maior qualidade nas relações sociais junto aos colegas e professores da escola. O A.T. escolar tem como foco auxiliar nas demandas da própria instituição, principalmente no empenho e na participação das atividades, além do comportamento adequado para favorecer relações saudáveis e produtivas neste ambiente. O CASO ENCAMINHADO PARA A.T. O adolescente A. de 13 anos foi apresentado ao estagiário, primeiramente por meio da pasta com todos os registros do aluno, onde havia uma investigação sobre o seu diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e a hipótese de alterações da personalidade indicada em avaliações médicas, além do seu histórico escolar e familiar.
Filho adotivo e com uma relação conflituosa com os pais, A. não interagia e nem produzia em seu ambiente escolar. Aparentava boa compreensão verbal e com facilidade de assimilação do conteúdo apresentado em sala pelos professores, mas seu desinteresse e apatia pelo conhecimento escolar eram evidentes. O primeiro dia foi uma visita técnica à instituição escolar, leitura da pasta e observação geral da sala a qual o adolescente frequentava. Neste primeiro momento, já foi possível observar o isolamento do aluno no fundo da sala, sem contato com outros colegas e de cabeça baixa. O segundo foi o momento do primeiro contato direto com o aluno e tinha como objetivo adquirir informações sobre sua rotina na escola, conversar sobre seu dia a dia, estabelecendo uma relação terapêutica inicial. O objetivo foi identificar os primeiros elementos comportamentais de A. e com eles ir observando os eliciadores de respostas determinadas pelo meio. No terceiro dia com A. o objetivo foi identificar comportamentos que deveriam ser trabalhados para melhorar sua produtividade em sala. De fato, o adolescente apresentou várias esquivas para evitar o contato com a atividade proposta pelo professor, o que incluía um verbal manipulador para ganhar tempo junto do A.T. e chegar a hora do intervalo. Com isso, conseguia sair da atividade mais rápido. O quarto encontro foi o de contato mais investigativo sobre os elementos funcionais do comportamento de esquiva de A. O objetivo foi discriminar apenas os comportamentos de A. que eram
1 Aluno de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Graduada em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutoranda pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais
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O ACOMPANHMENTO TERAPÊUTICO:relato de uma breve experiência JULIANO CÉSAR SOARES LOPES | RIVIANE BORGHESI BRAVO
propícios a serem reforçados de forma diferencial e os que deveriam ser modelados. O quinto momento foi para realizar algumas intervenções pontuais, evitando cobranças de realização das atividades, já que o objetivo era suscitar em A. a necessidade de se esforçar para produzir de forma mais intrínseca. O adolescente chegou a mostrar seus trabalhos artísticos e iniciou uma atividade ao lado do AT de forma espontânea. No sexto dia observou-se que A. se portava com certa tranquilidade em relação ao contato do A.T. e conversava sobre suas relações sociais estabelecidas naquela sala, como conflitos com seus colegas e professores, demonstrando ter um ciclo de poucas amizades. O sétimo e último encontro foi o encerramento do estágio em que foram feitos alguns apontamentos sobre a sua iniciativa em mostrar suas atividades e, também, realizá-las de forma adequada, reforçando sua atitude autônoma e positiva. ANÁLISE FUNCIONAL DO CASO A. apresentou comportamentos muito evidentes de manipulação ao longo de todo o A.T. para se esquivar das atividades escolares que eram aversivas. E quanto mais atenção a este comportamento, como cobrar ou punir, mais parecia aumentar a frequência de tentar sair da atividade por meio de mentiras, saídas da sala ou início de conversas com colegas, atitudes comuns nos comportamentos sob controle de contingência aversivas. (SIDMAN, 2009). A. estava bastante condicionado. Ou melhor, respaldado pelos comportamentos reforçadores para controlar o ambiente e evitar as atividades aversivas da escola. Skinner (1970) explica sobre a Análise Funcional através do conceito das contingências para verificar a relação entre a ocasião na qual ocorreu a resposta, o comportamento apresentado e os eventos reforçadores. Sob esse aspecto, o ambiente para A. promovia comportamentos de esquiva. A. sempre demonstrava estar alheio ao ambiente escolar e imerso em suas próprias estórias verbais. Ao mesmo tempo em que estavam presentes essas esquivas, A. tentava manipular suas intenções para com os professores, com o A.T. e com outras pessoas da escola, pois procurava pelas contingências conhecidas de reforço. O comportamento de A. incitava a obtenção de elementos para uma compreensão do estabelecimento de relações entre variáveis funcionais. Algumas dessas eram causais, outras, correlacionais, algumas controláveis ou modificáveis, outras não. Mas o fundamental era observar e identificar essas variáveis em processo de ação no meio em que A. estava, mantendo comportamentos que o ajudavam a se livrar das atividades. (BRAGA & VANDEBERGHE, 2006). Essa análise perpassa pela probabilidade de que A. poderia ter determinado comportamento e dele atuar para receber seus
reforçadores. Este é um tipo de comportamento clinicamente relevante a ser trabalhado durante uma intervenção comportamental. (KOHLENBERG, 1991). A. começou a apresentar um comportamento que poderia ser um indicador de que sua esquiva estava menos presente, quando ele passou a cumprimentar com o simples toque de mãos, iniciar a atividade de forma espontânea e diminuir os verbais de mentira e de manipulação na presença do A.T. Nesse ponto em que A. estava, mostrava-se disposto a estabelecer algum tipo de comportamento que fosse mais adequado para buscar atenção e afeto. Aparentemente, A. não discriminava diferentes reforçadores para mudar seu comportamento, pois as suas questões de desamparo emocional estavam além da escola e eram parte de um processo complexo de estrutura familiar. (WEBER, 2008). INTERVENÇÕES REALIZADAS E SEUS RESULTADOS Durante as intervenções, o foco foi modelar em A. o comportamento da motivação para que fizesse suas atividades escolares pelo reforço positivo. A. se mostrou reticente no início, mas mantinha um breve período de interesse em uma única disciplina: História. Assim, foi estimulado ao contato maior com o ambiente escolar através de seu interesse pela disciplina. Nos primeiros encontros manteve o interesse, ao menos, por alguns minutos em sua atividade escolar de forma espontânea. Depois passou a fazer atividades de outras matérias, e o A.T. o estimulava através do contato, sugerindo-lhe fazer determinado exercício, mas sempre de uma forma que não lhe parecesse cobrança. A. se sentiu à vontade e mostrava sua produção que era, imediatamente, valorizada. Desse modo, percebe-se o quanto o A.T., em um ambiente escolar, pode beneficiar os alunos, direcionando comportamentos engajados na produtividade e, principalmente, tornando o contexto escolar menos aversivo. REFERÊNCIAS BRAGA, Gasparina Louredo; VANDEBERGHE. Luc. A abrangência e função da relação terapêutica na terapia comportamental. Campinas: Estudos de Psicologia, v. 23, n. 3, p. 307-14, 2006. KOHLENBERG, Robert J. FAP – Psicoterapia Analítica Funcional: criando relações terapêuticas intensas e curativas. Santo André: Grassi, 1991. SIDMAN, Murray. Coerção e suas implicações. São Paulo: Livro Pleno, 2009. SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Ed. UnB/ FUNBEC, 1970. WEBER, Lídia; SOEJIMA, Carolina Santos. O que leva a uma mãe a abandonar um filho? Curitiba: Alethea, v. 28, p. 174-87, 2008.
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A AGRESSIVIDADE COMO RESPOSTA AO FANTASMA MATERNO LEILA SILVA LEMES1 MARGARET PIRES DO COUTO2
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar a partir de um estudo de caso: a agressividade como resposta ao fantasma materno. Para tanto, utiliza-se como base teórica a conceituação de Freud e Laran a fim de elucidar a construção do caso clínico de uma criança de seis anos, atendida durante experiência de estágio realizado em clínica-escola. PALAVRAS CHAVE: agressividade, fantasma materno, psicanalise.
Maria chega à Clínica de Psicologia em outubro de 2015 com a hipótese, levantada pela mãe, de um possível autismo. Segundo relatos maternos durante a sessão de acolhimento, a criança é extremamente agressiva. Maria tem seis anos. Na escola, apresenta problemas no laço social. O que levou a mãe a procurar atendimento psicológico foi um episódio de agressividade em que Maria quebrara toda a sala de aula. A história da mãe é atravessada por violência doméstica. Durante o primeiro casamento, sofria agressões e, após a separação, encontra-se com Reinaldo (pai de Maria), com quem se casa. A história de agressões se repete. Quando indagada sobre as condições da vinda da criança ao mundo, a mãe relata que não dormia durante a gravidez e que tinha muita ansiedade. O casal planejou antecipadamente a vinda da criança, realizando um plano de saúde com um ano de antecedência para que a gravidez não encontrasse problemas. Reinaldo, pai de Maria, perdera a primeira esposa no parto e também compartilhava das expectativas de ter uma nova vida e uma nova família. Após três anos de convivência, o casal se separou pelo histórico de brigas e hoje tem uma relação mediada pela justiça por meio de uma medida protetiva. Durante os primeiros atendimentos, a criança se coloca em uma posição inicial bastante confrontadora, não responde às perguntas e solicita que os questionamentos cessem. Em um dos atendimentos, Maria ensina à estagiária como intervir. Na recepção, ela afirma: “Não vou entrar”. A estagiária pergunta mais uma vez se ela quer entrar ou não. Ela diz com voz agressiva e em tom forte: “Vou entrar, mas vou sair quando eu quiser”. Ao entrar na sala, a estagiária retoma sua fala: “Maria, você disse que só sairia quando quisesse. Muito bem! Você entendeu o tratamento, se lembra de que eu te disse que esse é o seu lugar,
você pode entrar e sair quando quiser!”. A partir dessa sessão, Maria começa a desenvolver brincadeiras em que a estagiária poderia ser a filha, a aluna, posições que tinham sempre a ver com aquela que mente. O tratamento começou a girar em torno da dialetização da certeza que Maria tinha e dessa posição tirana e agressiva de diretora, mãe, professora que sempre pune as mentiras. Sob supervisão, buscamos interrogar seu desejo. Ela relatou que gosta dos EUA e que gostaria de ir até lá e de falar inglês. Trabalhamos a hipótese de que esse seu interesse por uma língua estrangeira poderia nos indicar uma possível tentativa de separação da língua materna. Maria dá ordens, grita em tom tirano, tento dialetizar sem confronto: Maria: _“Não bata o pé assim”. Estagiária: _“Ah, eu vou bater ele aqui por que ele está cansado sabe, pra ver se para de doer o meu pé”. Durante os atendimentos, Maria tenta localizar-se na partilha dos sexos, interrogando objetos de menina e de menino. Na recepção, ela observa que a estagiária chega com um amigo da faculdade e interroga: “Você tem amigo menino?”. Em atendimento com a estagiária, a mãe relata: “Esperei muito essa menina; na barriga, eu pedia pra ela nascer logo todo dia”. O amor da mãe é comovente, no entanto nada mais é do que o investimento libidinal da mesma na criança. Trata-se de um amor infantil, renascido do narcisismo, que acaba colocando a criança como objeto. Freud (1914) nos ensina: Se prestarmos atenção à atitude de pais afetuosos para com os filhos, temos de reconhecer que ela é uma revivescência e reprodução de seu próprio narcisismo, que há muito abandonaram. Essa supervalorização, que já reconhecemos como um estigma narcisista no caso da escolha objetal, domina sua atitude emocional Assim
1 Aluna do 10º período do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG. Psicanalista. Membro da Escola Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais.
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A agressividade como resposta ao fantasma materno LEILA SILVA LEMES | MARGARET PIRES DO COUTO
eles se acham sob a compulsão de atribuir todas as perfeições ao filho e ocultar todas as deficiências dele. (FREUD, 1914, p.26). “Maria é um anjo de verdade, Leila!”, diz a mãe. Durante esse semestre, nas sessões com a estagiária, a criança conta a história de sua cachorrinha que melhorou e parou de bater nos irmãos, porém continua bagunceira. Maria está há sete meses sem apresentar nenhum episódio de agressividade. A mãe afirma que a criança escreve na pequena lousa do quarto: “Se mamãe morrer, eu quero morrer junto”. Durante uma das sessões, Maria me conta que sonhou com a morte da mãe. Em atendimento posterior com a mãe, a mesma começa um movimento de localização da própria história. “O que eu não quero é perder Maria como perdi minhas duas outras garotas”. Ao se separar do primeiro marido, ela acabou deixando as crianças com a família paterna. A mãe de Maria relata que não sente amor pela própria mãe por ter sido abandonada pela mesma. “Não quero me separar dela em nenhum momento, tenho vontade de dormir colado com ela”. Em uma das sessões, Maria parece devolver as questões da mãe: sonha com a morte da mesma numa tentativa de localizar a mãe na própria historia e dizer a ela que não irá responder ao seu fantasma. A solução é matar a mãe. Em um desenho que faz para estagiária, afirma: “Leila não tenha medo Maria”, sem pontuações na frases ela parece dizer a si mesma, ou seja, reconforta se por seus medos. Sua mãe nos parece uma mulher que está às voltas com o
feminino e que precisa, conforme nos ensina Miller em “A criança entre a mulher e a mãe” (1998), não estar dissuadida de encontrar o siginificante do seu desejo no corpo do homem. A separação de ambas parece complicada justamente porque essa mãe abriu mão de ser mulher e, machucada pela relação conturbada com os homens, tenta localizar a criança enquanto seu objeto libidinal. “Maria pra mim é a certeza de que algo deu certo”. É fundamental que essa mãe deseje algo além dessa criança. Maria parece sinalizar, à sua maneira, que essas são questões da mãe e não suas, parece “matá-la”, porque, no tratamento, tem encontrado o lugar para fazer emergir seu desejo. Brincando de mamãe e filhinha, sinaliza: “Mamãe, você não pode morrer, temos muito a fazer juntas”. “Ok, filhinha, não irei morrer, temos a fazer juntas e separadas, não é mesmo?”. REFERÊNCIAS Ferreira, Tânia. A escrita da clínica: psicanálise com crianças. Autêntica Editora, 1999. Freud, Sigmund. “Sobre as teorias sexuais infantis.” Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud (1908): 211. Miller, Jacques-Alain. “A criança entre a mulher e a mãe”. (1998). Freud, Sigmund. “Sobre o narcisismo: uma introdução” (1914). Obras completas 14 (1996).
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AS FASES DE UMA CONSULTORIA EM GESTÃO DE PESSOAS SHEYLA ROSANE DE ALMEIDA SANTOS LISA ANTUNES CORDEIRO2
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal estabelecer uma articulação entre a teoria e a prática da consultoria empresarial. Para o desenvolvimento da pesquisa seguiu-se a orientação metodológica das cinco fases da consultoria descritas por Block (2001) e aplicado o questionário de clima como ferramenta de diagnóstico organizacional. A partir dos dados coletados e analisados foram planejadas estratégias de intervenção de uma consultoria em gestão de pessoas visando o desenvolvimento organizacional de um curso pré-vestibular. PALAVRAS-CHAVE: Consultoria empresarial. Diagnóstico Organizacional. Clima Organizacional.
1. CONSULTORIA EMPRESARIAL Devido a constantes mudanças sociais, políticas e econômicas aos quais as organizações são submetidas, a consultoria empresarial consolidou sua atuação como um dos segmentos de prestação de serviços que mais cresce no mundo. A consultoria empresarial atua como uma ação de suporte aos gestores e o consultor atua como um orientador capaz de balizar a tomada de decisão gerencial, alavancar o negócio, dirimir erros, planejar o desenvolvimento organizacional, diagnosticar falhas e perdas, reorganizar processos, implantar inovações, etc. De acordo com Oliveira (1999, p.21) A consultoria empresarial é um processo interativo de um agente de mudanças externo à empresa, o qual assume responsabilidade de auxiliar os executivos e profissionais da referida empresa na tomada de decisões. Sendo assim, um consultor é uma pessoa que está em posição de exercer alguma influência sobre um indivíduo, um grupo ou organização (BLOCK, 2001). Porém, o consultor não tem o controle direto sobre a situação, ou seja, ele não irá controlar a realização ou implantação de uma mudança organizacional de forma direta. Ele tem um papel educativo, orientador. Cabe aos gestores da empresa a tomada de decisão e implantação das ações sugeridas pelo consultor. Pode-se considerar essa uma das premissas para a atuação de um consultor. De acordo com Oliveira (1999, p.23) [...] embora o consultor não tenha controle direto da situação, ele não deve colocar-se como profissional que não tem responsabilidade pelos resultados da implementação do projeto idealizado, estruturado e desenvolvido sob sua responsabilidade. Como um agente de mudanças externo à empresa, o consultor tem seu papel limitado pelo tipo de contrato de trabalho. Oliveira (1999, p.21) observa que o consultor [...] não só está de fora do sistema considerado, mas também da empresa como um todo. Ele é contratado por um período de tempo predeterminado, para consolidar um projeto ou auxiliar a empresa na resolução de um problema ou na mudança de uma situação.
A definição do tipo de trabalho a ser desenvolvido pelo consultor para a empresa-cliente precisa ser esclarecido já na primeira fase da consultoria, pois determinará as fases subsequentes. Por meio do alinhamento de expectativas e da clareza de objetivos no serviço prestado, o consultor definirá, de acordo com Oliveira (1999), o tipo de trabalho e de atuação que irá conduzir com determinado cliente, facilitando o estabelecimento do seu produto de consultoria, ou seja, a forma como irá atuar. Para que isso ocorra de modo eficiente e eficaz, o trabalho de consultoria deve seguir algumas etapas e definições. Para tanto, se faz necessário que em cada parte do processo, a consultoria seja competente na hora da sua execução. As etapas de uma consultoria seguem a seguinte ordem, de acordo com Block (2001): 1. A primeira fase é chamada de “entrada e contrato” em que se faz a elaboração de um projeto de trabalho, visando à criação de metas de acordo com a demanda do cliente e com a investigação do problema vigente. Essa fase prioriza a primeira reunião de negociação dos serviços de consultoria, o alinhamento de objetivos, expectativas e interesses. 2. A segunda fase da consultoria consiste na “coleta de dados e diagnóstico”, em que os consultores irão definir as ferramentas de diagnóstico que irão utilizar para a coleta de dados e posterior análise. 3. Na terceira fase, denominada “feedback e decisão de agir”, o consultor irá apresentar de forma clara os resultados da análise dos dados coletados, sendo também uma etapa de planejamento, estabelecimento de metas finais para o projeto e escolha das melhores formas de ação ou mudança. 4. A quarta fase, consiste no “engajamento e implementação”, em que tudo o que foi planejado e estabelecido como meta é colocado em prática, sendo aqui o envolvimento do consultor dependente de cada organização.
1. Professora do Centro Universitário Newton Paiva – sheylaalmeida3@hotmail.com 2. Aluna do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva
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5. Quando se inicia uma avaliação do que ocorreu durante o engajamento e a implementação do projeto, começa a última fase, denominada como “extensão, reciclagem ou término”, em que há uma tomada de decisão, no sentido de estabelecer se o trabalho irá parar ou se irá se estender para outros segmentos da organização. Para que um trabalho de consultoria seja realizado com sucesso é preciso que ambos os lados, tanto o cliente (a empresa) como os consultores, trabalhe em harmonia, saibam realizar um projeto de trabalho bem definido e focado em mudanças e melhorias para a organização. É importante ressaltar que, para que uma consultoria seja bem sucedida, o consultor deve buscar técnicas e procedimentos eficazes, de acordo com cada cultura organizacional. Sendo assim, o trabalho da consultoria e dos seus consultores, é causar impacto naqueles que desejam ter mais controle de seu negócio (BLOCK 2001), ou seja, o verdadeiro trabalho da consultoria é auxiliar os seus clientes no próprio senso de controle da sua organização, assim como objetivando uma mudança em algum quadro que visivelmente não está funcionando bem, contribuindo para o desenvolvimento das pessoas e da organização como um todo. 2. METODOLOGIA O presente estudo caracteriza-se metodologicamente como um estudo de caso que permite ao pesquisador uma abordagem em ciências sociais como “uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real” (YIN, 2005). Tal metodologia de pesquisa “consiste no estudo profundo e exaustivo de “um ou poucos” objetos, de modo a permitir seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 2002) no caso, a empresa objeto da consultoria aplicada. Por sua característica e “capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas e observações” (YIN, 2005), o estudo de caso pode se articular e depender de outros métodos de pesquisa na fase de coleta de dados. Nesta pesquisa, foram utilizadas como ferramenta de Diagnóstico Organizacional da consultoria realizada, além da observação e entrevistas rotineiras, a aplicação de um questionário estruturado de pesquisa de clima organizacional. Portanto, tal pesquisa utilizou-se de métodos quantitativos e qualitativos na fase de coleta de dados. A análise de tais dados foi realizada de modo qualitativo, considerando-se as variáveis subjetivas da investigação. 3. O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSULTORIA EM UM CURSO PRÉVESTIBULAR O estudo de caso pretendeu investigar a aplicação da teoria à prática da consultoria organizacional ao articular as cinco fases da consultoria definidas por Block (2001), em uma consultoria realizada em um curso pré-vestibular, na cidade de Belo Horizonte, MG, no ano de 2012. 3.1 - 1ª Fase: Entrada e contrato Assim como descrito por Block (2001) esta primeira fase visou à elaboração do projeto de trabalho, com metas de acordo com a demanda da empresa. A referida consultoria foi desenvolvida no “Curso Pré-Vestibular Melhor” (nome fictício) que atua no ensino preparatório para o vestibular. Formado a partir de uma sociedade entre oito professores e dois administradores, conta atualmente com 3 unidades: Centro, Cidade Nova e Savassi, esta última com outro nome fantasia.
A consultoria relato do presente estudo concentrou-se na unidade Centro que conta atualmente com 8 professores que não fazem parte da sociedade e mais 17 funcionários administrativos, sendo: 1 Coordenadora Administrativa 1 Coordenadora Financeira 1 Assistente Administrativa 5 Recepcionistas 2 Assistentes de biblioteca 3 Porteiros 3 Auxiliares de serviços gerais 1 Encarregado de manutenção A empresa não possui Planejamento Estratégico, assim como não possui uma declaração de missão, visão e valor. Também não possui organograma estruturado com a divisão dos departamentos. Os dez sócios não estão presentes na gestão do dia a dia da empresa, a atuação destes é na tomada de decisões estratégicas. A função de gestão de pessoas da organização fica sob a responsabilidade da Coordenadora Administrativa. O “Pré-vestibular Melhor” não possui um órgão ou departamento estruturado de Gestão de Pessoas. Dessa forma, não há uma política de Gestão de Pessoas clara e documentada. Não há também, uma descrição clara dos cargos administrativos e nem uma clara distribuição de tarefas e funções na empresa, podendo ocorrer desvio de funções e retrabalho. A remuneração dos funcionários administrativos é fixa e baseada no piso salarial de cada categoria. Quanto à seleção de novos funcionários, é realizada através de entrevistas feitas pela Coordenadora Administrativa, de modo informal e pouco técnico. Atualmente os gestores consideram muito baixo os índices de turnover e absenteísmo na empresa, apesar de não serem mensurados. Os funcionários administrativos não recebem nenhum tipo de treinamento formal para a execução de suas tarefas, apesar da empresa considerá-los importantes e necessários, principalmente aqueles voltados para o atendimento ao cliente. Não há nenhuma política de benefícios estruturada, entretanto a empresa concede bolsa de estudo de 40% em cursos de graduação, sem critérios claros para selecionar os bolsistas contemplados. Também não há na empresa uma política de Gestão de Pessoas voltada para a gestão do clima organizacional. Após algumas entrevistas e observações percebeu-se que o relacionamento interpessoal na empresa é considerado bom e de modo geral o clima entre os funcionários é positivo, apesar de pontuais conflitos internos. A Coordenadora Administrativa relata as diversas dificuldades em exercer a liderança na empresa, porém não há grande dificuldade dos funcionários em acatar ordens. Na empresa não há também, um processo estruturado para avaliar o desempenho dos funcionários. Quando necessário, a Coordenadora Administrativa realiza feedbacks. A partir desse primeiro contato foi identificada a necessidade de pesquisar mais a fundo a percepção dos colaboradores sobre seu ambiente de trabalho via aplicação de um questionário de clima organizacional. Além do diagnóstico de clima organizacional, as entrevistas e observações preliminares apontaram para a necessidade de se estruturar algumas ferramentas de Gestão de Pessoas para dar suporte à tomada de decisão gerencial.
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3.2 – 2ª Fase: Coleta de dados e diagnósticos O Objetivo central dessa fase é a análise acerca do problema, propondo métodos e identificando quais profissionais estariam envolvidos para a resolução do problema. Sendo assim, utilizou-se como instrumento a aplicação de um questionário de pesquisa de clima organizacional, com o intuito de conhecer a percepção compartilhada pelos funcionários, em relação às políticas, práticas e procedimentos da empresa. A pesquisa de clima, de acordo com Luz (2003, p.54), É um trabalho cuidadoso que busca detectar as imperfeições existentes na relação empresa x empregado, com o objetivo de corrigi-las. Revela o grau de satisfação dos empregados, em um determinado momento. Indica tendência de comportamento dos empregados, como, por exemplo, a sua predisposição para apoiar ou rejeitar determinados projetos a serem promovidos pelas empresas. Identifica problemas reais e potenciais, permitindo sua prevenção através da adoção de determinadas políticas de pessoal. Para os empregados ela representa, também, uma oportunidade para que expressem seus pensamentos e sentimentos em relação à empresa. Ainda segundo o mesmo autor “Administrar o clima passou a ser uma ação estratégica para todas as organizações, especialmente para aquelas que se dizem comprometidas com a gestão pela qualidade” (LUZ, 2003, pg. 14). A aplicação do questionário de clima se restringiu às áreas de portaria, serviços gerais, recepção e biblioteca, concentrando-se na gestão de pessoas do corpo administrativo-operacional, totalizando 13 respondentes. Após a aplicação da pesquisa de clima organizacional na empresa constatou-se os seguintes resultados: Todos os funcionários (13) consideram a empresa um bom lugar para trabalhar e relatam que a mesma recebe e conhece as opiniões e contribuições de seus funcionários. De um modo geral, 12 funcionários consideram que sempre (8) ou quase sempre (4) recebem, na empresa, as informações sobre as decisões que afetam os seus trabalhos e que sempre (10) ou quase sempre (2) a empresa favorece a integração, o bom relacionamento e a comunicação entre os funcionários. Também de um modo geral, 11 funcionários consideram que sempre (9) ou quase sempre (2) são respeitados, independente dos cargos que ocupam e que sempre (8) ou quase sempre (3) os conflitos são bem resolvidos na empresa. Em relação aos trabalhos desenvolvidos, todos os funcionários (13) consideram que sempre (12) ou quase sempre (1) têm disponíveis as ferramentas necessárias ao bom desenvolvimento do trabalho e a maioria dos funcionários (11) consideram que sempre (8) ou quase sempre (3) a estrutura física do setor de trabalho é adequada. Além disso, todos os funcionários (13) relatam que sempre (11) ou quase sempre (2) obtêm com facilidade as informações necessárias para o desempenho da função e que sempre (9) ou quase sempre (4) recebem de forma clara e objetiva as orientações necessárias para realização o trabalho. Em relação ao superior imediato (Coordenadora Administrativa), todos os funcionários (13) responderam que sempre (12) ou quase sempre (1) ela encontra-se disponível, e que sempre (10) ou quase sempre (3) ela reconhece a realização do trabalho e sempre (11) ou quase sempre (2) também reconhece os esforços dos funcionários para fazê-lo bem.
De um modo geral 11 funcionários responderam que sempre (9) ou quase sempre (2) têm conhecimento sobre o resultado do trabalho esperado pelo superior imediato e que sempre (9) ou quase sempre (2) estão satisfeitos com o volume/quantidade de trabalho que possuem. Ainda 9 funcionários responderam que sempre (6) ou quase sempre (3) é satisfatória a organização e subdivisão das tarefas entre eles. Em relação ao clima vivenciado pela equipe de trabalho, grande parte dos funcionários (9) responderam que o considera bom, assim como, 12 funcionários responderam que sempre (7) ou quase sempre (5) mantêm bom relacionamento com os colegas de trabalho. A maioria dos funcionários (10) considera que sempre (6) ou quase sempre (4) há honestidade e ética dos funcionários no exercício da função. Além disso, 11 funcionários responderam que sempre há o esforço e colaboração dos funcionários para o crescimento e desenvolvimento da empresa. Apesar de o clima organizacional ser considerado positivo e satisfatório para os funcionários, devem-se levar em consideração alguns aspectos: Grande parte dos funcionários (7) responderam que nunca (5) ou raramente (2) percebem a oportunidade de crescimento e melhoria como pessoas, oferecido pela empresa. Tal aspecto foi descrito nas questões abertas do questionário: Pergunta: “Como você se imagina daqui a dois anos?” As respostas foram: “Na empresa a qual eu trabalho cada vez crescer mais...”. “Eu imagino eu já fazendo estágio na minha área em uma empresa pequena que não seja no pré-vestibular”. “Atuando na área onde estou me preparando para entrar e ganhando o justo pelos meus esforços”. “As coisas melhores do que estão”. Algumas respostas evidenciam o foco na carreira, quando perguntados sobre as expectativas quanto ao futuro: “Com meu curso concluído, exercendo minha profissão”. “Uma pessoa mais capacitada e com mais sabedoria, para resolver com mais clareza os assuntos”. “Cursando curso superior, e casado; cursando o ensino superior e estável financeiramente”. Ainda em relação à mesma pergunta, observa-se que somente um funcionário demonstrou que pretende continuar na empresa: “Daqui a dois anos pretendo continuar trabalhando na empresa devido a bom funcionamento”. Tal diagnóstico revelou-se elementar para subsidiar um projeto de intervenção e fundamentar ações estratégicas na área de Gestão de Pessoas da organização. 3.3 - 3ª Fase: Feedback e decisão de agir Esta fase objetivou a apresentação, de forma clara e objetiva dos resultados da pesquisa a todos os funcionários, para que posteriormente fosse possível o estabelecimento de metas finais para o projeto e a escolha das melhores estratégias de intervenção de acordo com a cultura organizacional. Após o feedback dos resultados da pesquisa de clima com a Coordenadora Administrativa da empresa, foram citados alguns planos de ação a serem realizados posteriormente. Por meio dos dados coletados e das informações geradas, foi possível perceber alguns aspectos que precisam ser incrementa-
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dos, com o intuito da permanente melhoria do clima organizacional, otimização de processos gerenciais e promoção do desenvolvimento contínuo da organização. Seguem as sugestões incrementais da consultoria prestada em Gestão de Pessoas: - Busca de uma consultoria especializada para desenvolver o Planejamento Estratégico da organização, para uma tomada de decisão consistente e fundamentada por parte dos sócios. - Definição da Missão, Visão e Valores que irão orientar as ações estratégicas na organização. - Elaboração do organograma da empresa para uma clara definição departamental. - Elaboração da descrição de cargos para a definição de tarefas e funções.
possibilitem a aprovação dos nossos alunos nos vestibulares mais concorridos do país”. A Visão é aquilo que retrata um estado futuro desejado pela organização, ou seja, representa o que a empresa prospera a longo prazo à partir da sua Missão (PORTO, 2008) e tendo como pressuposto que a Visão é algo alinhado aos Valores da organização, servindo como inspiradora e impulsionadora, estimulando a criatividade e a ação, criou-se para o “Curso Pré-Vestibular Melhor” a seguinte declaração de visão: “Ser referência de ensino no estado de Minas Gerais, gerando reconhecimento e valor na área educacional e conquistando o melhor índice de aprovação nos vestibulares”. Os valores organizacionais, segundo Luz (2003, p. 34) representam a importância que as organizações dão a determinadas coisas, como, por exemplo, certos comportamentos ou posicionamentos: ética; trabalho em equipe; justiça; transparência; inovação etc. Os valores balizam e demonstram claramente quais as prioridades que uma empresa procura seguir no cumprimento de seus objetivos.
- Desenvolver um processo de seleção por competências para novos funcionários. - Realização de treinamentos constantes com o corpo administrativooperacional que visem à qualidade no atendimento ao cliente e o alinhamento destes com os valores organizacionais. - Desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação de desempenho que propicie o acompanhamento e feedbacks formais sobre o desempenho de cada funcionário, para o alinhamento de expectativas e minimização de erros. Tais sugestões incrementais são consideradas básicas e extremamente necessárias para o desenvolvimento organizacional e possibilitará futuramente, novas intervenções incrementais.
Para os Valores do “Pré-Vestibular Melhor” foram descritos: - Motivação e engajamento constante de nossos alunos e colaboradores. - Ampliação do negócio no âmbito educacional. - Inovação nas diversas áreas do conhecimento. - Superação de expectativas do mercado atual. 3.4.2 Organograma empresarial Sabe-se que o organograma é de grande importância para a organização, sendo este utilizado para representar as relações hierárquicas dentro da empresa, representando a distribuição de setores, unidades e a comunicação entre eles. Segue abaixo o organograma elaborado para o “Pré-Vestibular Melhor”:
3.4 - 4ª Fase: Engajamento e implementação Após a identificação das necessidades da organização, foi conquistado nesta quarta fase, o engajamento da Coordenadora Administrativa na execução das ações propostas, que estavam sob sua autonomia decisória. Dentre as ações realizadas tem-se: 3.4.1 Declaração de Missão, Visão e Valor: Ao verificar que a empresa não possuía de forma estruturada a sua definição de Missão, Visão e Valores, estes foram elaborados juntamente com a Coordenadora Administrativa. Portanto, ao estabelecer a Missão, Visão e Valor da empresa, é possível entender o quanto estes são requisitos indispensáveis em uma organização. Porto (2008, p.7) afirma que [...] qualquer organização, independentemente de tamanho ou setor econômico de atuação, quer seja pública ou privada, implantando ou não um sistema da qualidade, necessita compreender qual é sua missão e estabelecer, a partir desta, visões sucessivas que, continuamente, a estimulem a romper com padrões atuais de desempenho. A Missão de uma organização deve definir a razão de sua existência (PORTO, 2008). Partindo desse pressuposto, chegou-se a conclusão de que a Missão do “Curso Pré-Vestibular Melhor” deveria ser entendida como: “Transmitir conteúdo e conhecimentos que
3.4.3 Descrição dos cargos Fez-se necessário o desenho e a descrição dos cargos admi-
nistrativos da empresa, visando à distribuição de tarefas e funções, evitando assim, conflitos e retrabalhos. A criação de um padrão das funções a serem executadas em cada cargo serviu de base para o plano de treinamento, a avaliação de desempenho e um processo estruturado para a seleção de novos funcionários. A descrição dos cargos foi realizada em conjunto com a Coordenadora Administrativa da empresa.
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3.4.4 Processo de seleção por competência Foi desenvolvido um roteiro estruturado de entrevista por competências para cada cargo, de acordo com a descrição do mesmo. Este processo de seleção por competências visa auxiliar a Coordenadora Administrativa nos futuros processos seletivos da empresa, objetivando uma maior assertividade na escolha de novos funcionários.
- Ampliar o programa de treinamento contínuo dos funcionários administrativos;
3.4.5 Treinamento e desenvolvimento O programa de treinamento e desenvolvimento dos funcionários administrativo-operacionais foi formulado a partir da descrição dos cargos e do resultado da pesquisa de clima organizacional. O programa teve como objetivo aprimorar o desempenho dos funcionários, possibilitando um melhor atendimento das expectativas da empresa em relação às suas tarefas, funções, atitudes e, principalmente, quanto à melhoria no atendimento ao cliente. A metodologia utilizada foi diversificada entre conteúdo expositivo, debates e dinâmicas vivenciais para que incorporassem a nova realidade organizacional. Ao final do processo foi aplicada a avaliação de reação do treinamento, considerada positiva pelos participantes.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização da consultoria em Gestão de Pessoas no “Curso Pré-Vestibular Melhor” foi possível identificar a importância das fases de uma consultoria descritas por Block (2001) para a sistematização do trabalho do consultor e acompanhamento pela empresa-cliente. Com este estudo foi possível identificar a aplicação prática das teorias e modelos de diagnóstico organizacional utilizados na consultoria empresarial, como a pesquisa de clima organizacional, observações e entrevistas. O estudo de caso como metodologia de pesquisa possui limitações em relação ao fato de seus resultados serem restritos ao universo pesquisado, neste caso, de acordo com a cultura organizacional da empresa em questão. Porém, ficou explícita a eficiência e eficácia de tais métodos aplicados à consultoria, como meio de identificar vulnerabilidades nos processos de gestão.
3.4.6 Avaliação de desempenho A implementação de um modelo estruturado de Avaliação de Desempenho se fez necessária a partir da descrição dos cargos e do treinamento realizado, com o objetivo de acompanhar o desempenho dos funcionários no trabalho e oferecer-lhes um feedback formal que possibilitará um alinhamento de expectativas e produtividade entre empresa e funcionários. 3.5 – 5ª Fase: Extensão, reciclagem ou término Ao final da consultoria foi possível identificar novas demandas para a extensão do trabalho iniciado, como sugestão:
- Executar um Programa de Desenvolvimento de Líderes para melhorar a assertividade dos coordenadores e diretores nos processos de tomada de decisão.
Ao longo do processo ficou evidente a relevância da consultoria para o desenvolvimento organizacional, ao apontar a necessidade de se estruturar os processos de Gestão de Pessoas para um melhor desempenho organizacional. REFERÊNCIAS BLOCK, Peter. Consultoria o desafio da liberdade: Um guia para colocar em prática todo seu conhecimento. 2.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas, 2002. LUZ, Ricardo S. Gestão do Clima Organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
- Contratar uma consultoria especializada para desenvolver o Planejamento Estratégico da organização; - Estruturar um departamento de Gestão de Pessoas que atenda a todas as unidades e promova um alinhamento de processos e da cultura organizacional; - Estruturar uma política de Gestão de Pessoas, que implemente novos sistemas como o plano de cargos e salários, programa de qualidade de vida no trabalho, gestão do clima organizacional, critérios para promoção e concessão de bolsas de estudo, etc. - Reestruturar a adequar o espaço físico, melhorando o layout e a estética do ambiente;
OLIVEIRA, Djalma de Pinho R. de. Manual de consultoria empresarial: Conceitos Metodologia Práticas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. PORTO, Marcelo Antoniazzi. Missão e visão organizacional: Orientação para a sua concepção. Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008. YIN, R. K. Estudo de caso. 2a ed. São Paulo: Sage, 2005.
- Padronizar o atendimento ao cliente criando um “Procedimento Operacional Padrão – POP”;
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O CASO E.: A AGRESSIVIDADE COMO RESPOSTA AO OUTRO PATERNO MARIA LAURA SOARES COSTA1 DANIELLE CURI2
RESUMO: O caso E. trata de um adolescente encaminhado por seu pai para atendimento psicológico na clínica de Psicologia da Newton Paiva. Seguindo o aconselhamento de um psiquiatra, o pai de E. procura atendimento psicológico para o filho quando E. começa a apresentar um comportamento agressivo, posteriormente à perda de um amigo. PALAVRAS-CHAVE: Agressividade. Outro. Pai.
RELATO DO CASO No total, foram dez encontros com E., um adolescente de 16 anos de idade, e o tema mais abordado em seus atendimentos foi sua relação com o pai. No primeiro atendimento, realizado com o pai de E., este relata que procurou a clínica de Psicologia da Newton Paiva porque estava muito preocupado com o filho, que vinha apresentando um comportamento agressivo em casa. Segundo seu relato, ele precisava dormir de porta trancada, pois o filho queria matá-lo. O pai conta ainda que E. quebrava objetos quando estava nervoso e que também atirava esses objetos em sua direção. O pai informou que o filho passara por um psiquiatra e que este havia receitado medicação para ansiedade e aconselhado o pai a procurar atendimento psicológico para o adolescente. O primeiro atendimento com E. foi bastante difícil, uma vez que ele chorava muito e dizia que iria suicidar. Desde o início, tentei tranquilizá-lo e pedi a ele que me contasse os motivos que o levavam àqueles pensamentos. E. me fala sobre seus problemas com o pai, afirmando que a relação entre eles estava péssima. Ele conta sobre as agressões físicas e verbais, sobre a falta de diálogo e o quão insuportável estava a convivência diária com o pai. Ao questioná-lo sobre uma possível tentativa de sua parte em busca de um melhor relacionamento com o pai, E. diz que não consegue, pois o pai não o compreende. Acrescenta que o pai era rejeitado por todos, inclusive pela família, devido a várias coisas que aconteceram no passado, e que o pai era muito difícil. E. relata que, por causa disso, ele sofria as consequências dentro de casa, uma vez que o pai “descontava” nele. Além disso, E. fala de sua falta de socialização, reclamando de não ter amigos e vida social. Diz que nem com a família tinha muito contato (tios, primos, avós, etc.), pois ninguém o procurava e, quando ele tentava um contato, não era bem recebido. Neste momento, E. apresenta certa dificuldade para articular as palavras e afirma que isso se dá exatamente por este motivo, pela falta de socialização. Relata ainda que um dos seus únicos e melhores amigos suicidou no final de 2015 e que isso seria motivo para ele fazer o mesmo. Nesse primeiro atendimento, E. apresentou-se bastante desesperado e várias vezes me pediu para marcar um atendimento em família, pois desejava sair da casa de seu pai e ir morar com os
tios. Explicou que não teria como viver com a mãe – residente de outra cidade –, porque ela mesma disse a E. que já morava com as duas filhas (apenas as mulheres) em uma casa pequena, de apenas dois cômodos. Ainda na mesma sessão, E. contou que não estava indo bem na escola, que não conseguia prestar atenção na aula e que, em casa, não estudava, pois não conseguia se concentrar e só pensava em suicidar. Contou que havia tomado o remédio receitado pelo psiquiatra apenas durante uma semana, pois o medicamento estava causando efeitos colaterais. E. afirmou ainda se interessar pelo espiritismo e acreditar em vidas passadas. Acreditava que o que estava vivendo poderia ser devido a algo que acontecera em outras vidas. Afirmou também que via a auréola em cada pessoa, a luz que cada um tem em torno de si, e que tinha influência de espíritos em sua vida. Além disso, disse ter vontade de mudar o país e de criar uma máquina de rejuvenescimento. Em supervisão, orientou-se que eu atendesse E. novamente e uma sessão foi marcada para o dia seguinte. E. apresentou-se mais tranquilo, mas repetiu muitas coisas que já havia dito no primeiro atendimento, principalmente acerca de sua relação com o pai. Relatou que, em várias tentativas de diálogo com o pai, este não correspondia, não queria saber de conversar; em contrapartida, sempre que E. estava “quieto”, “na dele”, tentando estudar ou pensando em seu quarto, o pai ficava “de cima”, vigiando e querendo saber tudo que ele estava fazendo. E. enfatizou o fato de o pai pressioná-lo e cobrar que estudasse, de estar sempre querendo protegê-lo demais e, assim, o impedir de viver. Disse várias vezes que não via sua vida “indo para frente”, que se via no futuro como o pai: sem amigos, sem ninguém e sem nada para fazer. Relatou ainda que tinha muita vontade de estudar, trabalhar, ter sua própria casa e me pedia a todo o momento para ajudá-lo. Várias vezes em que tentei encerrar o atendimento por causa do horário E. me interrompia, pedindo minha opinião sobre o que deveria fazer, além de me fazer perguntas sobre questões pessoais como, por exemplo, sobre minha estrutura familiar – se eu tinha pais e irmãos que moravam comigo. E. afirmava que esse era um sonho seu, pois sentia falta de uma família.
1 Aluna do 8º período do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professora supervisora do estágio do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva.
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O CASO E.: A AGRESSIVIDADE COMO RESPOSTA AO OUTRO PATERNO MARIA LAURA SOARES COSTA | DANIELLE CURI
A partir do terceiro atendimento, E. se apresenta bem mais tranquilo, relatando que estava se sentindo melhor, que havia tirado os pensamentos ruins da cabeça e que sua relação com o pai havia melhorado. É importante ressaltar que o discurso de E. muda radicalmente a partir daqui. E. diz que está planejando várias coisas, como fazer academia, inglês, teatro, etc. Além disso, disse que tinha melhorado bastante na escola, que estava conseguindo concentrar e estudar. Agradece-me o tempo todo e afirma que eu estava fazendo muito bem a ele. Com os seguidos atendimentos, foi possível notar que E. já estava falando menos. Dizia estar “sem novidades” e afirmava que sua relação com o pai havia melhorado e que as agressões, principalmente as físicas, haviam acabado. Continuava contando sobre seus planos para o futuro e acrescentou que estava namorando e saindo com a namorada e amigos. No decorrer dos atendimentos com E., a estagiária que atendia o pai do adolescente também na clínica de Psicologia da Newton Paiva procura a professora/supervisora do caso para conversar, pois o pai ainda se mostrava desesperado e continuava afirmando não saber mais o que fazer com o filho. A partir disso, marco um horário com o pai de E. a fim de investigar mais sobre a relação pai e filho. Em atendimento com o pai, este reafirma que a relação com o
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO E. Nos atendimentos iniciais, E. se apresenta bastante angustiado e com ideias suicidas. A partir do terceiro atendimento, ou seja, em um curto período de tratamento, seu discurso muda radicalmente. Além de se interessar por questões pessoais da estagiária, o adolescente traz para a sessão, em sua fala, planos futuros e o início de um relacionamento amoroso, embora o pai de E. desminta suas afirmações. Podemos dizer algo acerca dos efeitos da transferência no caso E.? A que a transferência estaria respondendo? A psicanálise, desde Freud, considera a transferência essencial para o processo analítico. Lacan (1964/2008) fez da transferência um dos quatros conceitos fundamentais da psicanálise e, em seu Seminário, livro 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955/2009), o autor inscreveu a transferência numa relação entre o sujeito e o Outro. O pai de E. tem a guarda do filho, mas, no momento em que E. atinge a adolescência, devido ao início de seu comportamento agressivo, pensa em colocar o filho para adoção. A mãe rejeita a presença do único filho homem, mas mantêm sob sua guarda as duas filhas. A casa é pequena demais e só há espaço para as mulheres. Em psicanálise, o primeiro impasse na teoria freudiana sobre o pai pode ser localizado no Édipo, tal como formulado pelo autor
filho ainda estava péssima e que as agressões por parte de E., tanto físicas quanto verbais, continuavam. Dizia não saber mais o que fazer, pois o filho estava com sérios problemas psicológicos. Não o respeitava e fazia somente o que queria, além de persegui-lo dentro de casa o tempo todo. Questionei-o sobre a relação de E. com a mãe e ele disse que também estava ruim, que ela dispensava o filho sempre que ele ia visitá-la, pois E. também não a respeitava. O pai relatou ainda que já havia procurado ajuda no Conselho Tutelar e que até pensara em entregar o filho para adoção, uma vez que a mãe também não queria sua guarda. Além disso, desmentiu o fato do filho estar namorando e disse que havia marcado um horário para E. com o psiquiatra, pois ele precisava de remédios. Falou também que queria fazer um atendimento em conjunto com o filho, para “mostrar a verdade”. Posteriormente, os atendimentos de E. foram encerrados devido ao período de férias. No semestre seguinte, diante de uma incompatibilidade de horários, o adolescente é encaminhado para outra estagiária. E. disponibiliza um horário para os atendimentos, mas não comparece às sessões. O pai de E. exige que o atendimento do filho seja no mesmo horário que o de suas sessões e diz que o horário que o filho havia disponibilizado não seria viável, pois o adolescente ainda estaria na escola. Mais uma vez, já com a nova estagiária, uma incompatibilidade de horários é alegada por eles e a consequente necessidade de reencaminhar sua ficha. No contato de um terceiro estagiário com o pai para a retomada do atendimento com E., ele diz que encerraria os tratamentos dele e de seu filho e que ambos passariam a ser atendidos pela prefeitura, pois lá não haveria interrupção dos atendimentos no período das férias.
em 1900. Nesse primeiro momento de sua teorização sobre o pai, Freud considera que “a tristeza de um filho pela morte do pai não consegue suprimir sua satisfação por ter finalmente conquistado sua liberdade” (FREUD, 1900/1969, p. 284). Já em 1900, Freud não só apontava a ambivalência da criança em relação à figura paterna, como nos mostrava que o pai, sendo causa do sofrimento, é culpado. Logo, se esta vivência edípica, na sua relação com o pai, assim como na sua relação com a mãe, não for simbolizada pela criança, ela não cessa de retornar sob a forma de angústia. Inicialmente, é assim que E. se apresenta. Angustiado, tentando a todo custo fazer uma separação do pai. Na ausência de um terceiro que possa mediar a relação entre E. e o Outro paterno, o adolescente responde com agressividade. Por outro lado, na relação transferencial com a estagiária, E. faz planos futuros que o colocam em um outro lugar, ou seja, em uma outra posição diante do Outro. Infelizmente, diante da demora em retomar os atendimentos com o adolescente, o pai de E., que tem o mesmo nome do filho, opta por transferir o tratamento de ambos para um lugar onde os atendimentos não tiram férias. REFERÊNCIAS FREUD, Sigmund. Interpretação dos sonhos. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. 793 p. LACAN, Jacques. O seminário, livro 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 382 p. LACAN, Jacques. O seminário, livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 277 p.
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A ELEIÇÃO DO PACIENTE IDENTIFICADO COMO MECANISMO HOMEOSTÁTICO FAMILIAR1 SABRINA PEREIRA CRUZ2 MARINA REIS BOTELHO3
RESUMO: Neste artigo pretende-se elencar conceitos básicos da teoria sistêmica, como Paciente Identificado (PI) e homeostase familiar, com o intuito de discutir a eleição do PI como possível regulador e/ou causador de equilíbrio em um sistema familiar adoecido. Para embasar esta discussão foram utilizados conceitos acerca da abordagem estrutural de Salvador Minuchin e o conceito de triangulação de Murray Bowen, ambos, autores sistêmicos. Além desta discussão, objetiva-se com este trabalho fornecer material científico sobre a temática, que possa incentivar novas pesquisas sobre o tema e contribuir para a formação de novos terapeutas sistêmicos e/ou agregar novos conhecimentos para o exercício profissional. PALAVRA-CHAVE: Sistemas familiares. Paciente Identificado. Homeostase.
A Abordagem Sistêmica como um subcampo da Psicologia tem como objeto de estudo os sistemas e a inter-relação entre seus membros ou até mesmo a inter-relação de um sistema com outro. Dentre os sistemas em que o indivíduo é inserido desde o seu nascimento até sua morte, é possível classificar o sistema familiar como o primeiro, no qual o indivíduo se tornará membro e pertencido. A homeostase4 do sistema familiar proporciona uma relativa estabilidade e/ou equilíbrio emocional aos membros do sistema. Isto é, diante de tensões que afetam os membros da família, o sistema tem a capacidade de se autogerir, favorecendo assim seu equilíbrio. É possível dizer que a eleição inconsciente do Paciente Identificado (PI) no sistema familiar é um mecanismo homeostático, pois, esta eleição ocorre quando o sistema está em conflito, fragilizado e necessita urgentemente identificar o causador do desequilíbrio, ou seja, identificar o problema a ser tratado. O PI projeta no ambiente em forma de sintomas algumas das tensões e conflitos do sistema familiar, o que pode ser disfuncional ou funcional para a dinâmica familiar. Para a abordagem estrutural de Salvador Minuchin a família como sistema irá defender-se das diversas condições e/ou situações de conflito (externo ou interno ao sistema), visando sua estabilidade, isto é, tentará de todos os modos evitar a disfuncionalidade do sistema. Quando o sistema se depara com um conflito, automaticamente e inconscientemente ele elegerá o Paciente Identificado (PI). Minuchin (1994, apud ELKAIM, 1998) expõe que a partir do momento em que o sistema familiar apresenta um sintoma, significa que
influências internas e/ou externas causaram tensões emocionais em algum membro ou subsistema. Isto é, o nível de diferenciação e as fronteiras não estão claras. O PI neste cenário, surge no momento que é necessário promover uma ação no sistema familiar que possibilite clarificar as fronteiras perante a seus membros. Ele surge em resposta a falta de diferenciação individual, de padrões comportamentais, de definições de papeis e de organização hierárquica. Bowen (1982, apud ELKAIM, 1998) compreendeu a família como uma combinação de sistemas emocionais e de relação. Isso significa que os membros do sistema acreditam estar interligados emocionalmente entre si, a ponto de um membro influenciar diretamente o outro. Diante disso, em sua teoria sobre os sistemas familiares o teórico elencou oito conceitos básicos acerca do sistema emocional humano, sendo a Diferenciação do Self (ego/eu) e Ansiedade (que origina o processo de triangulação) as duas variáveis principais que direcionaram os demais, denominados como: o Processo Emocional da Família Nuclear; o Processo de Projeção Familiar; a Posição entre Irmãos; o Processo de Transmissão Multigeracional; o Rompimento Emocional; e o Processo Emocional na Sociedade (ELKAIM, 1998). Diante de toda obra produzida por Bowen interessa-se aqui pelo conceito de Triangulação (originado da ansiedade crônica5), no qual Andolfi (1996) explica ser uma estrutura de relação do sistema composta por três pessoas ou três elementos, sendo o triângulo uma forma de se descrever a natureza da dinâmica das relações familiares.
1 Trabalho apresentado ao curso de Psicologia do Centro Universitário Newton. 2 Acadêmica em Psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva. Belo Horizonte – Minas Gerais. E-mail: sabrinapc_psi@hotmail.com 3 Professora Marina Reis Botelho - Psicóloga Clínica graduada pela PUC - MG, com formação em Psicoterapia Familiar, Casal e Individual e especialização em Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais. É professora de Terapia Sistêmica Familiar no Centro Universitário Newton Paiva. E-mail: mreisbotelho@yahoo.com.br 4 A homeostase é um processo auto-regulador que mantém a estabilidade do sistema e protege-o de desvios e mudanças. Em termos familiares, refere-se a tendência da família em manter um certo padrão de relacionamento e empreender operações para impedir que haja mudanças nesse padrão de relacionamento já estabelecido (NICHOLS, SCHWARTZ, 2009). 5 A ansiedade crônica pode ser vista como um tipo de organização ou sintonia orgânica que se manifesta sob a forma de sensibilidade, de reação e de resposta de índole comportamental.
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A eleição do paciente identificado como mecanismo homeostático familiar SABRINA PEREIRA CRUZ | MARINA REIS BOTELHO
A triangulação surge como uma resposta à ansiedade do sistema. Bowen (1982, apud CERVENY, 2007) irá introduzir o conceito de triângulo como a base da estrutura de todo o sistema emocional humano. Cerveny (2007, p.163) expõe que “quando a tensão emocional entre duas pessoas supera o limite do possível, cria-se uma triangulação com uma terceira pessoa, o que irá permitir que a tensão se desloque e se dilua dentro do triângulo.” Bowen (1982) afirmou que os problemas entre duas pessoas poderiam facilmente e/ ou automaticamente ser resolvidos quando estivessem contidos em um sistema de três, além disso, todos os envolvidos em um triângulo podem integrar novos triângulos independentes, isso possibilita ao indivíduo deslocar-se de um triângulo para o outro quando a tensão em um determinado triângulo aumentar. CONSIDERAÇÕES FINAIS O que foge de uma suposta ordenação sempre é classificado como algo a ser tratado, que precisa urgentemente ser reorganizado. Este trabalho surgiu diante da necessidade de dizer que o que desequilibra, pode estar equilibrando. Em um primeiro momento parecem duas ideias contrárias, entretanto, baseando-se em pressupostos teóricos é possível, sim, ratificar está ideia. A abordagem estrutural, como metodologia utilizada para responder à problemática do trabalho, evidenciou que a eleição do PI pode ser um mecanismo homeostático familiar, porém, devemos ser cautelosos nesta afirmação. Vale ressaltar que de acordo com Nichols e Schwartz (2009) a homeostase é um processo auto-regulador que mantém a estabilidade do sistema e protege-o de desvios e mudanças. Nesta perspectiva, quando o sistema família elege o PI, o próprio sistema percebe que “algo” no funcionamento da dinâmica familiar não está operando corretamente. Deste modo, a identificação do PI cria um movimento interno no sistema, que busca imediatamente a estabilização, ou seja, o que inicialmente é disfuncional (PI) para o sistema familiar, pode simultaneamente
ser funcional. Esta afirmativa se justifica pelo fato do PI mobilizar todos os membros do sistema a redefinir seus papeis e clarificar suas fronteiras. Além disso, diante do que foi apresentado sobre o conceito de triangulação de Murray Bowen (1982) é possível ratificar a hipótese da eleição do paciente identificado (PI) como mecanismo homeostático familiar, uma vez que ficou claro por meio de todo arcabouço teórico pesquisado, que a eleição do PI pode ser funcional para a dinâmica familiar. Visto que o PI pode ser qualquer membro componente do sistema, e ele como exemplificado neste artigo, pode diminuir a tensão entre dois componentes do grupo, favorecendo assim a capacidade do sistema de manter certo padrão de relacionamento e empreender operações para impedir que haja mudanças nesse padrão de relacionamento já estabelecido, em outras palavras, a capacidade do sistema em se auto-regular e manter seu equilíbrio funcional. REFERÊNCIAS ANDOLFI, Maurizio. A terapia familiar: um enfoque interacional. Psy, 1996 241 p. CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira (Org.). A família em movimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. 226 p. ELKAIM, Mony. Panorama das terapias familiares. São Paulo. Summus, 1998. MINUCHIN, Salvador; FISHMAN, H. Charles. Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990 285 p. NICHOLS, Michael P.; SCHWARTZ, Richard C. Terapia Familiar: conceitos e métodos. Artmed, 2009. 524 p.
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