PÓS EM REVISTA | N. 13 | 2016/2

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ISSN 2176 7785

PÓS EM REVISTA

publicação do Centro Universitário Newton Paiva

N.13 | 2016/2



ISSn 2176 7785

PÓS EM REVISTA pUBLICAÇÃO DO CEnTRO UnIVERSITÁRIO nEWTOn pAIVA n.13 | 2016/2 EDITOR Roberto Fonseca Bertolla Júnior


© 2016, by Editor © 2016, by Centro Universitário Newton Paiva BELO HORIZONTE 2017

INC PÓS em Revista [Periódico]: Publicação do Centro Universitário Newton Paiva / Editor Roberto Fonseca Bertolla Junior. – Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva, 2017. n. 13, 2ª semestre 2016 ISSN 2176 7785 1 Generalidade. 2. Administração. 3. Engenharia. I. Junior, Roberto Fonseca Bertolla. II. Centro Universitário Newton Paiva. III. Título.

CDU: 001.891

(Ficha catalográfica elaborada pelo Núcleo de Bibliotecas do Centro Universitário Newton)

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EDITORIAL A revista “Pós em Revista” é uma publicação multidisciplinar, coordenada pela Pós Graduação do Centro Universitário Newton Paiva. É editada em versão eletrônica, sendo dirigida a pesquisadores, professores, profissionais e estudantes de cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário Newton Paiva e da comunidade acadêmica externa. Poderão ser publicados trabalhos originais, revisões de literatura, comunicações breves, relato de casos, artigos de atualização, cartas, resenhas e desenvolvimento de técnicas ou metodologias nas áreas do conhecimento relacionadas às Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e Engenharias, Ciências Sociais e Humanas. O Conselho Editorial da Pós em Revista é composto por Professores do Centro Universitário Newton Paiva e Professores de outras Instituições. A Pós em Revista está incluída no sistema QUALIS de qualificação de periódicos, elaborado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). No sistema QUALIS, atualizado em 2014, a revista obteve a qualificação “C” nas áreas de Direito, Psicologia, Educação, Filosofia/Teologia, e classificação “B5” na área de Ciência Política e Relações Internacionais.

Prof. Roberto Fonseca Bertolla Junior Coordenador Geral da Pós Graduação do Centro Universitário Newton Paiva

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expediente ESTRUTURA FORMAL DA INSTITUIÇÃO Presidente do Grupo Splice: Antônio Roberto Beldi Reitor: João Paulo Beldi Diretor Administrativo e Financeiro: Cláudio Geraldo Amorim de Sousa DIRETOR ACADÊMICO: Celso de Oliveira Braga Secretária Geral: Denise de Lourdes Oliveira

Corpo Editorial EDITOR Roberto Fonseca Bertolla Júnior Área de conhecimento- Ciências Sociais Aplicadas Márcio Oliveira Flávio Silva Belquior Área de conhecimento- Ciências da Saúde Andreia Barbosa de Faria Gerdal Roberto de Sousa Área de conhecimento- Ciências da Engenharia Urias Eduardo Bistene Cordeiro

apoio técnico Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton pAIVA http://npa.newtonpaiva.br/npa Editora de Arte e Projeto Gráfico: Helô Costa - Registro Profissional: 127/MG

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SUMÁRIO CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS INBOUND MARKETING PARA O VAREJO: a chave para atração e retenção de clientes ................................................................7-14 Karine Aguiar e Flávio Bastos O Endomarketing como uma alternativa para a Gestão de Relacionamento com os Colaboradores .........................14-18 Cecília Galvão Fonseca e Rogério Tobias

CIÊNCIAS EXATAS FACHADAS AERADAS EM PEDRA NATURAL: comparativo do desempenho com o método da placa aderida e fixada ao substrato ...................................................................................................................19-26 Ana Luiza Abu Kamel Moura Araujo, Danielle Saranh Galdino Duarte, Débora Betti Ornelles, Paulo Lucas Nogueira Jota e Tereza Cristina Miranda de Magalhães IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES DE VOGAIS EM REGISTROS ACÚSTICOS: análise por componentes cepstrais e redes neurais .......................................................................................................................27-35 Adelino Pinheiro Silva, Flávio Lúcio de Souza e Vinícius Rodrigo May RECORTE DAS FRICATIVAS /S/ E /Z/ EM REGISTROS ACÚSTICOS POR INFERÊNCIA BAYESIANA ................................................................36-45 Adelino Pinheiro Silva, Daniel Gonçalves Gomes, Elizângela Mara Rodrigues de Oliveira e Nathália Amorim Zolini AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS NANOCERÂMICOS NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE PLACAS AUTOMOBILÍSTICAS DE AÇO-CARBONO .......................................................................................................................................46-54 Aline Rodrigues Benfica, Adenilson Vieira de Souza, Camila Rodrigues Benfica, Rafael Aganetti Duarte e Marcos Vinicius Ribeiro

PSICOLOGIA PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DE FILHOS EM CASAIS HOMOAFETIVOS .................................................................................................... 55-59 Danielle Curi e Flávia Cristina de Souza Vieira A MULHER DIVORCIADA E O SENTIDO DE VIDA: uma perspectiva fenomenológico existencial ..................................................60-65 Fernando Dório Anastácio e Déborah Christine de Paula CLIMA ORGANIZACIONAL: satisfação das pessoas no ambiente de trabalho ...............................................................................66-72 Franciele Silva Araújo, Letícia Magela de Almeida e Sheyla Rosane de Almeida Santos

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INBOUND MARKETING PARA O VAREJO: a chave para atração e retenção de clientes Karine Aguiar1 Flávio Bastos2

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo sobre a importância do Inbound Marketing para atração e retenção de clientes, mediante as constantes mudanças tecnológicas, mercadológicas, estratégicas e de consumo. São apresentados considerações de estudiosos em relação ao novo consumidor, que atualmente pesquisa pelo que quer antes de efetuar a compra o que obriga as empresas a usarem de estratégias mais direcionadas para o aumento do relacionamento entre marca e cliente. Para tanto, são apresentadas as novas abordagens de marketing on-line, destacando estratégias mais direcionadas e voltadas ao atual cenário mercadológico, conhecida como inbound marketing. Para tal se identificam os componentes básicos da estratégia. São apresentadas diferenciações entre o marketing tradicional e o “novo marketing”. São abordadas considerações sobre a necessidade das organizações priorizarem o relacionamento com os seus consumidores, passando pela definição do papel do marketing mais estratégico, visando um maior reforço de marca. Por fim, tem se pesquisa de estudo de caso, realizada em uma grande varejista no segmento de materiais de acabamentos para construção e reforma com o intuito de identificar graus de maturidade da cúpula diretora em relação à importância do inbound marketing para melhoria estratégica das ações de marketing, tendo em sua resolução a compreensão de maturidade mediana. Palavras-chave: Varejo. Outbound Marketing. Inbound Marketing. Autoridade.

1 INTRODUÇÃO Com o passar dos anos a internet foi se solidificando cada vez mais e atualmente tomou grandes proporções na rotina diária das pessoas. Esse novo universo propiciou o nascimento das novas abordagens de marketing on-line, com estratégias mais direcionadas e voltadas ao atual cenário mercadológico (BLOOM, HAYES, KOTLER, 2002). Segundo Bloom, Hayes e Kotler (2002) o crescimento da rede, principal fomentador para utilização da internet, é muito mais veloz que o crescimento populacional. A internet está em ampla ascensão e a cada dia alcança números maiores. Segundo dados do IBGE de 2015, atualmente, metade dos brasileiros estão conectados à internet (EXAME, 2015). Vaz (2008) relata que a solução para alcançar a grande massa está nas estratégias online. O novo consumidor agora pesquisa pelo que quer, antes de definir sua escolha ou efetuar uma compra (BLOOM, HAYES, KOTLER, 2002). O fato mais importante a ser entendido pelos profissionais do mercado sobre o papel da internet é que não há como voltar atrás. Como foi dito no relatório da e-Marketer, publicado em 1999: “A rede está modificando fundamentalmente as expectativas dos clientes relativas à conveniência à velocidade, à capacidade de comparação, à prestação de serviços e ao preço (BLOOM;HAYES;KOTLER, 2002, p.440). O marketing mudou e o principal impulsionador é a própria mudança no comportamento de compra do consumidor atual (VAZ, 2008). Bloom, Hayes e Kotler (2002) também salientam que o antigo marketing que trabalhava apenas com ações massivas, hoje vem se modificando para uma linguagem mais direcionada e voltada para um público estrategicamente definido. Kotler (2010) reforça a ideia de um marketing mais atual, com estratégias mais direcionadas para o aumento do relacionamento entre marca e cliente. O mercado está mais exigente, continuamente vem forçando as empresas a buscarem canais diversificados, com um pensamento mais atual, visando obter vantagens competitivas (KOTLER, 2010). A evolução do marketing digital, para o “novo marketing”, con-

siste na estratégia chamada de Inbound Marketing, estratégia que surgiu nos Estados Unidos e a cada dia vem ganhando mais força no Brasil (EXAME, 2016). A principal base para a tática deste “novo marketing” consiste na atração de púbico alvo por meio da personalização de conteúdo, cujo objetivo é encantar as pessoas, compreender os estágios principais de compras, no qual consiste em ser encontrado na busca de informações pelo cliente, substanciar o consumidor com informações relevantes, para assim converter em vendas no momento ideal (EXAME, 2016). Essa pesquisa tem por objetivo demonstrar a importância do Inbound Marketing para atração e retenção de clientes, mediante as constantes mudanças mercadológicas, tecnológicas, estratégicas e de consumo que serão tratadas ao longo do presente artigo. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Inbound Marketing Há componentes básicos do Inbound Marketing: O primeiro aborda a busca do consumidor por informações na rede. Anderson (2006) descreve o uso de táticas para melhor impulsionamento dos web sites empresariais nos mecanismos de buscas do Google, que recebe o nome de Search Engine Optimization (SEO), que efetivamente mede a relevância das páginas, posicionando nas primeiras opções de sua listagem, os melhores sites considerados pela hierarquia de informações. O segundo componente que estrutura o Inbound Marketing abrange todo o marketing de conteúdo como também o buzz das redes sociais que agregam alto valor aos produtos e serviços diretamente oferecidos ao cliente, dando valor maior aos relacionamentos construídos entre empresa e consumidor (KOTLER, 2010). Kotler (2010) explana que as redes sociais possibilitam que os consumidores se expressem e colaborem entre si, “na era da participação, as pessoas criam e consomem noticias, ideias e entretenimento. A nova onda da tecnologia transforma as pessoas de consumidores em prosumidores” (KOTLER, 2010, p.18). O termo prosumidor é formado pela junção das palavras “consumidor” e “produtor”, visto que “os compradores on-line não são

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apenas consumidores, eles criam cada vez mais informações sobre os produtos” (BLOOM; HAYES; KOTLER, 2002, p.443). Os consumidores têm buscado cada vez uma maior maleabilidade para escolhas, se preocupam mais com o que dizem sobre determinada marca, e a opinião de outras pessoas comuns como ele tem soado como forte argumento para decisão final. A empresa não dá mais o aval final na decisão de compra do consumidor é ele que exerce o poder da escolha. A internet o muniu com todas as ferramentas de pesquisa e forneceu elementos para exercer esse poder, a era do “vender” deu lugar à do auxiliar a “comprar” (VAZ, 2008) A internet atribuiu alto valor à informação: o consumidor que realiza suas pesquisas na rede, é ele quem decide as informações de marketing que quer receber, os serviços que contratará, os produtos que serão comprados e quais serão as condições para tal. Consequentemente, o consumidor on-line é quem tem o controle de maior parcela da interação, dessa maneira, cabe às empresas traçarem as melhores estratégias para se tornarem verdadeiras autoridades no assunto, buscando alcançar as melhores formas de atração e retenção de clientes (BLOOM; HAYES; KOTLER 2002). 2.2 Outbound Marketing vs.Inbound Marketing O marketing tradicional é explicitado na literatura como “marketing antigo”, “marketing de interrupção” ou “outbound marketing”. Diferentemente do Inbound Marketing, é a marca que é ativa no processo de prospecção de clientes, e não o conteúdo produzido por ela (VAZ, 2008). Segundo Vaz (2008), no marketing de interrupção são encontradas ações tais como: comerciais em jornais, televisão, rádio, internet, telemarketing, mala direta, flyers e links patrocinados. “Marketing de interrupção é o que você sofre ao ver um filme, ter o conteúdo periodicamente interrompido por propagandas que você não pediu para ver e que atrapalham o fluxo da informação que está adquirindo” (VAZ, 2008, p.18). O termo outbound marketing é por vezes tratado como “marketing de interrupção”, devido a sua estratégia se basear na interrupção do cotidiano do cliente. Seu embasamento está na busca por clientes, frequentemente por meio da promoção de produtos e serviços por intermédio dos esforços publicitários, promocionais e de venda pessoal (VAZ, 2008). Inbound marketing é a estratégia que tem como objetivo ofertar ao público-alvo o que eles buscam, evitando o uso de mensagens não solicitadas e interruptivas. O objetivo final por vezes é a conversão em vendas e o aumento da receita, entretanto, o foco não está no produto, mas sim nos clientes (HUBSPOT, 2016). Miller (2015) esclarece que o outbound marketing pode ser entendido como a uma rede de pesca visando pescar o maior número possível de pessoas. Em contramão, o inbound marketing pode ser entendido como um anzol que com uma isca certa, destina-se a atrair indivíduos fundamentados em seus gostos e em sua interação para com a marca. O inbound marketing desde 2006 vem se conceituando o método mais eficaz para fazer negócios online. Em vez dos antigos métodos de compra de anúncios, compra de listas de e-mail, e pagar por leads, o inbound concentra na criação de um conteúdo com melhor qualidade, na busca para que as pessoas considerem sua empresa e produto, quando realmente estiverem buscando. Ao ter um conteúdo alinhado com o interesse dos clientes, a empresa irá naturalmente atrair um maior tráfego, para posteriormente converter em vendas (HUBSPOT, 2016). A internet e o púbico mudaram e é de suma importância que o marketing acompanhe esta evolução, transformando o tradicional “outbound marketing” em “inbound marketing”, buscando ser encon-

trado pelo público em vez tentar encontrá-lo (MILLER, 2015). Vaz (2008) reitera que marketing interruptivo dará lugar ao marketing de permissão e de relacionamento, a imagem dá lugar ao conteúdo, a comunicação única da marca dá lugar ao diálogo, o marketing de massa ao de relacionamento com consumidor, as informações obscuras da instituição, a transparência absoluta, a marca cede o lugar ao consumidor e o spam ao viral (VAZ, 2008). De acordo com Keller e Machado (2006) não se deve mais praticar o marketing interruptivo, com as famigeradas campanhas de mídia massiva, por meio de mala direta, comerciais em rádio e televisão etc. Os consumidores gostam de receber mensagens de marketing, mas as mensagens para quais deram permissão. Quanto mais saturado o consumidor estiver com as mensagens interruptivas, mais lucrativo e assertivo será o marketing de permissão ou inbound marketing.

Fonte: KOTLER (2010)

Kotler (2010) reforça que o outbound marketing terá cada vez menos a ver com as campanhas horizontais, unidirecionalmente orquestradas pelas empresas, resultando sim em formas co-criativas e participação seletiva em múltiplas conversações tidas no mercado. 2.3 Entender o Inbound Marketing para reforço de marca Nos últimos anos o marketing mudou drasticamente a medida que as corporações enfrentavam os efeitos da ‘nova economia’ e da globalização. Tais mudanças nos cenários econômicos, tecnológicos, político-legal e sociocultural forçaram os profissionais de marketing a adotarem abordagens mais estratégicas e inovadoras (KELLER e MACHADO,2006). Os profissionais de marketing cada vez mais vêm abandonando as práticas de marketing massivas que fortaleceram marcas poderosas nas décadas de 1950, 1960 e 1970 para implementar novas abordagens (KELLER E MACHADO, 2006). Nos últimos anos os profissionais de marketing estruturaram e aprimoraram um modelo para edificar marcas e as vender em larga escala. Tendo estratégias antiquadas como guia, as empresas desenvolveram produtos com uma proposta de valor e um modelo de comunicação ‘de cima para baixo’, a empresa, que sabia tudo, e comercializava os produtos via pontos-de-venda de massa e anúncios de alta frequência de veiculação (KELLER E MACHADO, 2006). Surpreendentemente os profissionais de marketing de primeira linha acreditam no retorno às práticas de marketing de mais de um século atrás, nas quais o dono do armazém era o agente pessoal de compras, e a revenda era tanto uma marca como um companheiro confiável, o proprietário conhecia seus clientes plenamente, sabendo gostos e costumes. E tais estratégias se tornarão modelos das lojas e marcas futuras, no mundo real e na internet (KELLER E MACHADO, 2006). A rápida expansão da internet trouxe para o primeiro plano a necessidade no marketing individualizado. Muitos afirmam que a nova economia celebra o poder do consumidor individual (KELLER E MACHADO, 2006).

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Keller e Machado (2006) retratam na figura 2 abaixo, as principais forças para o cliente e as empresas neste novo cenário da era da internet:

Figura 2 - Novo cenário da era da internet

Fonte: Keller e Machado (2006)

Seguindo essa premissa o novo marketing deve divulgar um produto, não apenas promovendo suas características ou benefícios, mas sim incorporando experiências únicas e diferenciadas ao consumidor. Não se deve vender algo, mas expressar como a marca pode agregar para a vida do cliente (AAKER, 1998). “Tudo isso faz com que os consumidores não se orientem mais por conhecerem características de produtos, mas, sim, por se identificarem, com marcas, suas promessas e expectativas” (TOMIYA, 2010, p. 23). “Em diversas campanhas de comunicação, o que se busca não é simplesmente uma ativação imediata e venda, mas a construção de uma imagem de longo prazo” (TOMIYA, 2010, p. 75). Aaker (1996) enfatiza que esses diferenciais competitivos geram expectativas de lucros futuros para a empresa. Os novos profissionais de marketing devem focar suas estratégias para considerações como vendas, índices e conversão, determinação de públicos alvos e criação de valor para as marcas. Deve se entender completamente o consumidor, desenvolvendo posicionamentos inteligentes voltados para resultados (KELLER E MACHADO, 2006). O papel das marcas na sociedade de consumo atual é de transmitir um aval de qualidade e orientar os consumidores nesse novo cenário (AAKER, 1998).Tomiya (2010) reitera que as marcas hoje fazem parte do dia a dia do seu público estratégico e seus atributos influenciam diretamente no processo de decisão e muitas vezes acabam gerando padrões de referência de qualidade no cotidiano. Além da representatividade que já possuem, as marcas com novos posicionamentos acabam se diferenciando de seus concorrentes, tendo públicos estratégicos e leais, desta forma criam um maior valor da marca perante ao mercado (TOMIYA, 2010). Aaker (1996, p. 124) endossa que “(...) o valor de uma marca para uma empresa depende de uma base de clientes fiéis que garante um fluxo de vendas e lucros futuros”. “A realidade é que os executivos de marketing da nova economia estão cada vez mais adotando novas abordagens e atualizando as antigas, sob pena de simplesmente não sobreviverem no ambiente do marketing de hoje” (KELLER e MACHADO, 2006, p. 126). As novas abordagens devem transcender o próprio produto ou serviço, tendo em vista a criação de vínculos mais fortes entre marca e consumidor. Com as novas abordagens de marketing as empresas tentam sobrepujar o simples processo de compra, proporcionando uma experiência de marca mais holística, personalizada, criando vínculos maiores entre o consumidor e a marca (KELLER E MACHADO, 2006). Marcas fortes possuem grande assimilação no coração e na mente de seus consumidores. Marcas bem sucedidas possuem alto

poder perante seu público, tal poder advêm de irem diretamente ao encontro das expectativas de seu público, representando diretamente o cumprimento do que foi anteriormente oferecido (AAKER, 1998). “O fato é que a experiência não se limita ao momento em que se efetua a compra, mas, sim, a tudo que ele se relaciona” (TOMIYA, 2010, p. 25). Keller e Machado (2006) corroboram que o conhecimento de marca é a chave para a criação de brandequity3, uma vez que gera respostas diferenciadas que impulsionam e que podem ser caracterizadas em termos de dois componentes: lembrança e imagem de marca. O cliente pode definir a imagem da marca baseado nas diversas interações e associações que teve com ela, as associações podem assumir várias formas e refletir características ou aspectos independentes da marca em si (AAKER, 1996). Lembranças espontâneas de uma marca podem ser geradas, quando um produto específico é oferecido ao consumidor e ele recorda toda a vivência com a marca (KELLER E MACHADO, 2006). “Marcas fortes são construídas por meio de sua experiência total, ou seja, de um histórico consistente de promessas e entrega” (TOMIYA, 2010, p. 25). Marcas fortes, sempre buscam superar as próprias promessas, entregando mais do que foi prometido, assim cada consumidor criará verdadeiros mitos deduzindo que alguém naquela empresa pensa diretamente na melhor solução para seu problema, consequentemente ele sempre terá a melhor solução ao buscar por aquela marca (TOMIYA, 2010). 3 METODOLOGIA Cada procedimento apresenta pontos positivos e negativos, não de modo absoluto, mas com relação a seu problema de apuração. Portanto, um método não deve ser considerado certo ou errado e sim mais ou menos adequado ao fim que se pretende alcançar (VERGARA, 2005). As abordagens metodológicas podem ser tanto qualitativas, com uso de métodos como, estudo de caso, focus grupos, etc, ou quantitativas, com aplicação de metódos como, survey, experimento, etc, sua aplicação deve estar associada aos objetivos de pesquisa (MALTHORA, 2001). Gil (2002) explana que as pesquisas descritivas têm como objetivo fundamental o detalhamento de características de certos fenômenos ou população, por conseguinte, indicação de relações e variáveis, desta forma, tal análise se mostra a mais adequada para o fim proposto neste artigo. “Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental etc” (GIL, 2002, p. 42). Gil (2002) também explana que fazem parte deste grupo às pesquisas que tem como objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. Seguindo a afirmação de Malthora (2001), na qual não há necessidade de eleger apenas um método, o atual estudo também irá se fundamentar nas pesquisas aplicadas, que objetivam gerar conhecimentos para aplicações práticas, dirigidas para solução de problemas específicos (GIL, 2002). Gil (2002) relata que, descrever características, indicar relações e variáveis faz parte da finalidade principal das pesquisas descritivas. Entre seus procedimentos técnicos utilizados estão incluídos entrevistas não padronizadas, levantamentos bibliográficos e documentais e estudos de caso. Em função da natureza empírica da amostra, entende-se para essa pesquisa o estudo de caso como o método mais adequado para se descortinarem as evidências buscadas. Segundo Gil (2002) o estudo de caso é caracterizado, em função de seu profundo e minuncioso estudo de um ou de poucos objetos, desta maneira permite obter um amplo e detalhado conhecimento. O estudo de caso é um estudo em-

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pírico que busca analisar um fenômeno atual em meio seu contexto de realidade, quando as delimitações entre o objeto de estudo e o contexto não são totalmente demarcadas e no qual fazem uso de varias formas de evidência (GIL, 2002). Vergara (2005), ressalta que o estudo de caso vem sendo muito utilizado por pesquisadores sociais, com a intenção de servir a pesquisas com diferentes propósitos, como exemplo, case de uma empresa, tendo em vista a explicação ou a busca de elementos que possam estabelecer relações entre o seu sucesso ou fracasso. Segundo Santos (1999) para a pesquisa descritiva um dos mais indicados e úteis métodos é a pesquisa com o método survey, em função da busca de informações ser diretamente com o grupo de interesse, seguindo tal alegação se propõe pesquisar as informações diretamente com a hierarquia empresarial da unidade de análise. A survey pode ser exteriorizada como a obtenção de informações sobre ações, opniões ou caracteristicas de grupos especificos de pessoas, por meio de um interrogação direta, o instrumento de pesquisa normalmente utilizado é o questionário (SANTOS, 1999). Em outras palavras, esse método pode ser definido como um tipo de pesquisa de opinião de caráter quantitativo, cuja coleta de dados é realizada por meio de questionários estruturados (GIL, 2002). Os questionários estruturados, de acordo com Gil (2002), são formados por questões fechadas, ou seja, todos os entrevistados serão submetidos às mesmas perguntas e às mesmas alternativas de respostas, previamente definidas. Para a unidade de análise se tem uma grande varejista no segmento de materiais de acabamentos para construção e reforma, com mais de 50 anos de tradição. Atualmente a empresa Santa Cruz Acabamentos, se encontra em um cenário no qual todas suas ações de marketing têm sido combatidas diretamente por seus concorrentes e as inovações do marketing estratégico soam como possíveis alternativas de destaque no mercado e para atração e retenção de seus clientes. Para a presente pesquisa, o método survey se mostra o mais indicado, mediante a busca em verificar a maturidade de conhecimento da empresa em relação aos 3 pilares do inbound marketing, sendo eles; táticas para melhor impulsionamento dos websites, marketing de conteúdo e o buzz das redes sociais. Santos (1999) afirma que o método survey busca responder questões do tipo “o que?”, “por que?”, “como?” e “quanto?”, o foco principal é saber “o que está acontecendo” ou “como e por que está acontecendo”. Santos (1999) afirma que o ambiente natural é a melhor situação para estudar o objeto de interesse, à vista disso, o instrumento de pesquisa utilizado será um questionário estruturado com dezoito afirmativas respectivamente posicionadas na escala likert4 de quatro pontos, que mostrará qual o grau de concordância e/ou discordância do usuário em relação ao objeto de estudo. A coleta de dados será realizada com a hierarquia da empresa, na qual será entrevistada a cúpula diretora, totalizando quatro diretores da empresa e o único presidente, que vem a ser também o proprietário da loja varejista. Para melhor entendimento da análise dos resultados, definiu-se buscar três graus de maturidade da cúpula diretora em relação à importância do inbound marketing para melhoria estratégica das ações de marketing, sendo eles: 1 - Reconhece a importância do inbound marketing e trabalham as práticas para tanto (Acima de 440 pontos); 2 – Reconhecem a importância, mas não estão estruturados para trabalharem as práticas (entre 240 e 440 pontos); 3 - Não reconhecem a importância do inbound (abaixo de 240 pontos).

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Como forma de avaliar o impacto direto nas deliberações quanto às estratégias de comunicação online e offline e o potencial dano que essa definição de comunicação exerce sobre a atração e retenção de clientes para a Loja Varejista, foi entrevistada a sua cúpula diretora. Tal escolha se deu, devido à aprovação direta que os mesmos constantemente realizam. Foram entrevistados quatro diretores e o presidente/proprietário. Dentre os três entrevistados com maior pontuação se encontram os diretores com a faixa etária entre 30 e 35 anos, tendo as atuações correlacionadas com a área de comunicação e marketing, sendo eles responsáveis diretos pelas áreas de compras, comercial e recursos humanos. O diretor geral e o presidente/proprietário estão na faixa etária acima de 55 anos, e na pontuação total obtiveram a mais baixa somatória em relação aos demais. Acredita-se que a correlação direta com a área de comunicação e marketing e a menor faixa etária da maioria dos entrevistados, possa ter tendenciado diretamente uma maior pontuação nos testes, em função das redes sociais serem um assunto fortemente abordado por pessoas entre 18 a 34 anos (TECMUNDO, 2016).

Figura 3 – Análise entre questões relacionadas às redes sociais e a maior pontuação entre entrevistados O diagrama da maturidade empresarial encontra-se mediano, representando o reconhecimento da importância da estratégia de inbound, mas a não estruturação para trabalharem tais práticas. A pontuação total dos entrevistados chegou a 369 pontos. Tal classificação foi obtida com base na pontuação em seis pontos nas respostas assertivas, três pontos nas parciais e pontuação zerada para respostas erradas. O maior valor possível a ser pontuado individualmente seria 108 pontos acertando todas afirmativas, porém as maiores pontuações encontradas foram 84 pontos e a menor com 36 pontos.

Figura 4 – Análise da pontuação individual de cada entrevistado Comparando as menores pontuações obtidas com as afirmativas chaves para uma estratégia correlacionada aos três pilares do inbound marketing, percebe-se que quando se exige um maior conhecimento para tal, a pontuação da diretoria para o enunciado, em grande maioria é zerada ou permanece parcial. Como exemplo, temse a afirmação “Para ser encontrada online facilmente a empresa deve ter um site constantemente atualizado”, nenhum diretor assinalou a

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resposta correta. Quando assunto abordado foi em relação ao SEO, trazendo a afirmativa “Para um trabalho de branding digital não é tão importante primar pelo SEO”, obteve-se apenas uma resposta correta. Em seguida abordando o tema marketing de conteúdo com a afirmativa “Marketing de conteúdo recebe esse nome em função das inúmeras mensagens midiáticas enviadas aos consumidores”, constatou-se a confusão entre relacionar o conteúdo direcionado, com as diversas mensagens interruptivas e não desejadas recebidas pelos consumidores na rede. Para tal afirmativa, tivemos duas pontuações zeradas e uma parcial. Em relação às redes sociais a afirmativa número 5 obteve uma baixa pontuação. O enunciado trata diretamente da maior interação que a internet propiciou entre empresa e consumidor e da atuação direta dele como gerador de informações. Neste quesito, obteve-se duas pontuações zeradas e uma parcial. A afirmativa proposta foi “Com o advento das novas mídias as empresas que detém maior parcela da interação com seus consumidores, em contramão eles permanecem como receptores passivos da mensagem”. Após análise realizada entende-se que a diretoria se encontra com um perfil mediano em relação ao conhecimento da estratégia de inbound marketing, a compreensão foi baixa quando se relacionava aos 3 pilares do inbound, em um panorama geral as questões direcionadas ao marketing de conteúdo tiveram quatro das seis afirmativas com a pontuação abaixo de 15 pontos, em relação ao SEO a média de pontos foi de 16,5 pontos e quando se tratou diretamente da estratégia de inbound marketing percebeu certa incompreensão para tal. A baixa compreensão percebida mediante aos resultados do estudo, aponta pouca destreza para o gerenciamento desta estratégia, não creditando conhecimento técnico para tal, a ponto de realizarem definições baseadas somente em conhecimentos subjetivos relacionados ao assunto. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista os aspectos observados concluí-se que o Inbound Marketing é de exímia importância para atração e retenção de clientes, tendo em relação principal as constantes mudanças tecnológicas, mercadológicas, estratégicas e de consumo. Desde 2006 o inbound marketing tem se conceituado como o método mais eficaz para fazer negócios online. O consumidor mudou, ele agora pesquisa pelo que quer, antes de definir sua compra, o que exige das empresas novas abordagens de marketing, com estratégias mais direcionadas e voltadas ao atual mercado, tais direcionamentos tendem para o aumento do relacionamento

entre marca e cliente, visando obtenção de vantagens competitivas. Os componentes básicos do inbound marketing substanciam as empresas para atração do púbico alvo por meio da personalização de conteúdo, cujo objetivo primordial é o de encantamento, compreendendo os estágios principais de compras e por fim consiste em ser encontrado na busca de informações pelo cliente, substanciar o consumidor com informações relevantes, para assim converter em vendas no momento ideal. As empresas devem dar maior atenção para o buzz das redes sociais, considerando esse novo cliente que cada vez cria mais informações sobre produtos e influencia diretamente sua rede de contatos. Se tornam inaceitáveis estratégias de marketing que visam apenas a venda, deve-se auxiliar o momento da compra, desde o início da ideia até a sua concretização. As empresas devem buscar se tornarem autoridades nos assuntos de interesse, para assim alcançarem as melhores formas de atração e retenção de clientes. Concluí-se que o modelo antigo de marketing o outbound marketing, vem caindo em desuso, dando lugar ao novo marketing, que surpreendentemente advêm do retorno de práticas antigas, na qual os donos de armazéns tinham total conhecimento pelos gostos e costumes de seus clientes. As marcas precisam visar o consumidor e não mais apenas o produto em si, deve-se entender completamente este consumidor e desenvolver posicionamentos estratégicos voltados para resultados. É importante sobrepujar o simples processo de compra, ofertando uma experiência maior e personalizada, criando vínculos absolutos entre consumidor e empresa. Não se deve mais realizar práticas de marketing interruptivo, na qual se classificam as famosas campanhas massivas, como por exemplo, métodos de compra de anúncios, compra de listas de e-mail, e pagar por leads, comunicações invasivas para quais o consumidor não deu nenhuma permissão. Por fim, tendo em mente o estudo de caso analisado entende-se que a diretoria da unidade de análise, possui conhecimento técnico restrito para definir ou gerenciar as ações voltadas para essa nova estratégia, tendo em vista o pouco conhecimento científico para tal. Sugere-se um maior aprofundamento no tema e acompanhamento de equipe especializada para melhor posicionamento da estratégia e efetiva concretização de resultados satisfatórios e concisos. Contudo, considera-se que para alcançar uma conclusão baseada em resultados numéricos é necessário prosseguir com a investigação. Nesse sentido sugere-se o acompanhamento direto dos resultados ligados aos retornos de crescimento que o inbound marketing trará para a revenda, sendo eles de fortalecimento de marca e aumento vendas.

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NOTAS DE FIM

REFERÊNCIAS AAKER, David. Criando e administrando marcas de sucesso. São Paulo: Futura, 1996.

1 Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda e Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Marketing

AAKER, David. Marcas: brandequity gerenciando o valor da marca. São Paulo: Negócio, 1998.

BLOOM, Paul. HAYES, Thomas.eKOTLER, Philip. Marketing de serviços profissionais. São Paulo: Manole Ltda, 2002.

2 Graduação em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (conclusão em 2000), Pós-Gradução em Marketing pelo Centro Universitário Newton Paiva (conclusão em 2004) e mestrado em Sistemas de Informação e Gestão Conhecimento pela Universidade FUMEC (conclusão em 2015). Professor da Pós-Graduação do Centro Universitário Newton Paiva. Tem experiência na área de Comunicação, Inovação e Tecnologia em Mobilidade Urbana.

DINO, A evolução do marketing digital e a nova tendência mundial: o inbound marketing. Disponível em:http://exame.abril.com.br/negocios/dino/a-evolucaodo-marketing-digital-e-a-nova-tendencia-mundial-o-inbound-marketing-shtml/. Acesso em: 28 out 2016.

3 Segundo Aaker (1998) o conjunto de ativos e passivos ligados a uma marca formam o brandequity, como por exemplo, nome e símbolo, somando ou se subtraindo do valor proporcionado por um produto ou serviço aos consumidores de uma empresa e/ou para a marca em si.

DINO, Entenda como o Inbound Marketing aumenta os resultados nas empresas. Disponível em: http://exame.abril.com.br/negocios/dino/entenda-como-o -inbound-marketing-aumenta-os-resultados-nas-empresas-shtml/. Acesso em: 29 out 2016.

4 Escala de mensuração com cinco categoria de respostas, variando de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”, que exige que os participantes indiquem um grau de concordância ou de discordância com cada uma de várias afirmações relacionadas aos objetos de estímulo. (MALHOTRA, 2001)

ANDERSON ,Chris.ACauda Longa. Rio De Janeiro: Elsevier, 2006.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GODIN, Seth. Permission marketing: turningstrangersintofriends, andfriendsintocustomers. Nova York: Simon & Schuster, 1999. HubSpot.TheInboundMethodology. Disponível inbound-marketing. Acesso em: 29 out 2016.

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O Endomarketing como uma alternativa para a Gestão de Relacionamento com os Colaboradores Cecília Galvão Fonseca1 Rogério Tobias2

RESUMO: O avanço dos meios de comunicação, bem como o crescimento do acesso à rede mundial de computadores, exprime um cenário onde a conectividade e a informação tornaram-se uma realidade eminente aos processos corporativos. No entanto, observa-se ainda, pontos críticos de desempenho das organizações que demonstram lacunas diretamente proporcionadas por ruídos ou até mesmo a inexistência de comunicação interna. Por meio desta contraditória constatação, o Endomarketing apresenta-se como uma resposta concreta para as corporações diante do atual cenário social e econômico global. Ao propor que as ações de marketing sejam também direcionadas ao público interno da empresa, o endomarketing demonstra uma nova visão centrada na humanização e valorização dos processos, voltada para o engajamento e bem-estar dos colaboradores. O endomarketing apresenta o desafio em motivar, valorizar e proporcionar o sentimento de pertencimento do público interno para, em seguida, alcançar o público externo. Este artigo pretende apresentar uma análise conceitual sobre o endomarketing, apresentando alternativas viáveis à gestão do relacionamento que promovem a motivação pessoal e, sequentemente, a excelência no desempenho, alta produtividade e resultados mais satisfatórios. Palavras-chave: Endomarketing, Gestão de Relacionamento (ERM), Branding Interno, Marketing Integral, Gestão do conhecimento.

1. INTRODUÇÃO O cenário atual permite identificar que as organizações focadas principalmente em produção e publicidade, muitas vezes demonstram-se inflexíveis em sua gestão e operação. Onde os processos administrativos são realizados de forma independente, fazendo com que os diversos departamentos não se movam para a busca de uma integração do processo produtivo, bem como os objetivos gerais do negócio, influenciando diretamente no resultado final. Outro cenário exposto são as empresas focadas na comunicação como uma fuga às suas falhas, criando, assim, um acervo vasto de propagandas institucionais que, em muito adorna e entretêm o ambiente organizacional, mas sequer atinge o principal objetivo da empresa que é o de informar, sensibilizar e promover a real participação do público interno nas diversas áreas da corporação. Na última década, o Endomarketing passou a fazer parte das estratégias empresariais. Apontado como um conceito recente e revelado há pouco mais de três décadas, está em constante evolução e desenvolvimento. Na literatura, ainda encontram-se poucas referências, e o campo de estudo afigura-se muito recente. Entretanto, esta nova proposta de gestão tem se difundido entre as organizações como um fator importante e decisivo nos resultados corporativos. Uma gestão focada nas relações pessoais pode ser entendida como um dos maiores desafios organizacionais atuais, onde a empresa busca atingir o seu objetivo certificando-se que todos os colaboradores estão comprometidos com os resultados do negócio. Deste modo, a presença do Endomarketing é validada como primordial, tanto no que refere ao seu estudo teórico/conceitual quanto à sua prática habitual para que promova, assim, um avanço positivo nas relações dentro das organizações, gerando maior rentabilidade, comprometimento e produtividade. Com o objetivo de destacar estratégias viáveis e eficientes através das ferramentas apresentadas por meio do Endomarketing, este artigo apresenta uma reflexão sobre a conceituação, usabilidade e aplicação deste conceito no ambiente corporativo. O desenvolvimento deste estudo pretende investigar como o Endomarketing pode auxiliar na gestão de relacionamentos nas corporações, além de destacar na literatura disponível, os principais

entendimentos acerca dos conceitos de Endomarketing e Endobranding associados à gestão de relacionamento (ERM - Employer Relationship Managment). 2 DESENVOLVIMENTO “Um serviço eficaz requer pessoas que compreendam a ideia”. Grönroos (1993) 2.1 Endomarketing O Endomarketing, também apresentado como Marketing Interno, surgiu como uma denominação que conceitua o marketing voltado para os colaboradores das organizações. Segundo Bekin (2006, p. 47): O endomarketing são as ações gerenciadas de marketing, eticamente dirigidas ao público interno (funcionários) das organizações e empresas focadas no lucro, das organizações não lucrativas e governamentais e das do terceiro setor, observando condutas de responsabilidade comunitária e ambiental. Portanto, o endomarketing apresenta-se como um instrumento da alta gestão, utilizado para garantir o bom desempenho da empresa de forma integral. O autor acrescenta ainda que o conceito de Endomarketing consiste em ações de marketing dirigidas para o público interno da empresa ou organização. Sua finalidade é promover entre os funcionários e os departamentos os valores destinados a servir o cliente (BEKIN 2006, p. 47). O Endomarketing requer que todos os colaboradores da organização estejam envolvidos efetivamente em todos os processos do negócio, fazendo com que os departamentos reconheçam a importância de todas as funções e ações e que estas sejam focadas e orientadas para o cliente. Deste modo, o Endomarketing é torna-se um componente de fusão entre o cliente, o produto/serviço e o colaborador, permitindo assim que o funcionário se apresente como um parceiro da organização, comprometido de forma integral com a missão, visão e valores.

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Por meio deste cenário apresentado pelo autor observa-se que é conquistada uma maior identificação colaborador/organização e, sucessivamente, a um maior resultado e sucesso empresarial. A ideia do marketing voltado para o público interno é apresentada ainda por Kotler (2003, p. 40), onde afirma que este é uma tarefa bem sucedida de contratar, treinar e motivar funcionários hábeis que desejam atender bem aos consumidores. A prática administrativa orientada para Endomarketing permite que os colaboradores compreendam a missão e os valores do negócio, assegurando um entendimento maior da importância de todo o processo de relacionamento com o cliente externo. Este entendimento, por sua vez, permite uma maior segurança e motivação dos colaboradores para acolher todas as necessidades e expectativas do cliente, garantindo a absoluta satisfação do consumidor. As primeiras definições de Marketing Interno são apresentadas como uma ideologia de gerenciamento que considera os colaboradores como clientes internos, onde o produto está fortemente orientado para o reconhecimento dos funcionários, motivação e para a valorização, permitindo, assim, um maior engajamento e participação integral do colaborador nos processos empresariais. Bekin (2006) afirma ainda que o sucesso da implantação do endomarketing depende 10% do próprio programa ou plano. O gerenciamento e a execução ficam com a responsabilidade dos 90% restantes. Considerando que as atividades de marketing ainda são muitas vezes apontadas como uma consequência necessária do produto e não o contrário, como deveria ser. Sendo esta uma herança da produção em massa, com sua noção estreita de que o lucro vem essencialmente da alta produção a baixo custo. Na década de 90, a relação entre organizações e seus stakeholders modificaram, passando a ser a capacitação de pessoal o recurso mais capaz de compor um diferencial competitivo para qualquer tipo de organização. O contexto global contemporâneo apresenta, para as organizações, um novo posicionamento estratégico. Se outrora, as ações estavam limitadas ao produto, marketing e gestão, por ora percebe-se que a modernidade exige novas alternativas. Reconhecendo esta realidade, o Endomarketing sugere uma alternativa que permite às organizações ouvirem seus clientes internos, preocupando-se com o seu real bem-estar. Com o passar dos anos, foi constatado que a comunicação direta e focada apenas em anunciar o produto, tornou-se obsoleta e, por vezes, até mesmo ineficaz. Certificando, que, para tornar a comunicação eficiente, é necessário torná-la interativa e antiparalela onde, tão essencial quanto comunicar, é garantir que a informação seja transmitida e assimilada integralmente. Desta forma, irá atingir a todos os públicos interessados. Portanto, contempla-se a informação como um dos principais instrumentos para identificar as exigências e os desejos dos clientes, sejam internos ou externos. O Endomarketing visa remover os obstáculos para que todos possam olhar na mesma direção e tenham uma visão compartilhada da empresa em todos os seus itens, como gerenciamento, serviços, produtos, mercado entre outros (BRUM,1998). A autora afirma também que o propósito do Endomarketing é vender uma boa imagem da empresa aos seus funcionários. Garantindo assim, um sentimento de pertencimento e realização. Tal afirmação oportuniza a identificação de outro conceito diretamente relacionado ao Endomarketing: o Branding Interno. Proposto o exemplo de atuação da Fiat3 automóveis/Brasil que, de acordo com a política de Endomarketing, o colaborador deve ser tratado da mesma forma e com a mesma atenção que o cliente externo. Os clientes que fazem os primeiros testes-drives em seus lançamentos são seus colaboradores, recorrendo à proposta essencial

do Endomarketing: a participação e integralização no processo de conhecimento e lançamento do produto. Os funcionários são beneficiados por esta e outras ações e, em contrapartida, a empresa é beneficiada com melhores resultados. Há ainda outros exemplos em que a empresa oferece festas de bodas de aniversário, casamento e debutantes para seus colaboradores, dispondo ainda de uma plataforma tecnológica que auxilia na comunicação interna. Assim, o que se vê de fato são algumas organizações assumindo a responsabilidade de satisfazer seu cliente interno. Outro exemplo de sucesso relacionado às práticas do endomarketing e apresentado por BRUM (2012)4 pode ser identificado através do processo de reestruturação da comunicação interna da empresa MRS Logística5. A MRS Logística é uma operadora ferroviária de carga que administra uma malha de 1.643 quilômetros nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e está entre as maiores ferrovias de carga do mundo. A autora relata que o desenvolvimento deste processo foi realizado inicialmente por meio de um diagnóstico de endomarketing cujo objetivo era verificar um novo processo de comunicação com os colaboradores, promovendo o interesse pela informação e despertando o orgulho de pertencer. É explicado ainda que, como resultado, foi criado um Planejamento de Endomarketing, com diversas ações ao longo do ano. Este modelo de reestruturação da comunicação interna, apresentado pela MRS Logística permite identificar que a perspectiva do Endomarketing, como nível estratégico da empresa, é um dos pontos fundamentais que auxiliam para uma gestão eficiente do conhecimento. Ao apresentar os resultados, a autora cita ainda que, em menos de um ano, os índices de satisfação e de felicidade no trabalho, medidos na pesquisa “As Melhores Empresas para Você Trabalhar”, das revistas Você S/A e Exame, aumentaram em média sete pontos percentuais. Através da reflexão deste estudo de caso apresentado por Brum (2012), percebe-se que, ao propor a elaboração de um diagnóstico detalhado para gerar o plano de trabalho que considera as reais necessidades da organização, torna-se possível a execução de ações fundamentadas em dados reais que irão permitir práticas cotidianas assertivas em busca de uma maior motivação e adequação do colaborador às suas tarefas e responsabilidades funcionais. Para Brum (1998), devem ser considerados a valorização da cultura organizacional; o marketing interno como processo educativo; instrumentos que encantem o público interno; transparência e veracidade das informações e impacto visual. Assim, considera-se que, sem a devida motivação, as organizações não podem contar com colaboradores produtivos e motivados por maiores que sejam os benefícios e, com isso, não são atingidos os resultados operacionais esperados. Portanto, considera-se que a motivação tornou-se um dos principais ativos das empresas, sendo preciso implantar a cultura da realização e do reconhecimento simultaneamente à identificação entre colaborador e empresa. 2.2 Branding Interno Mediante o conceito de Endobranding, Burgess (2013) 5 que, se uma marca não pode se comunicar internamente, então ela não pode se comunicar externamente. Portanto, segundo o autor, certifica-se que não se torna viável a um negócio consolidar a sua identidade de marca de forma eficiente se, primeiramente, os seus colaboradores não acreditam nela. O desafio está em transmitir ao colaborador este sentimento de relevância do papel em que assume na empresa, sentimento este que só poderá ser estimulado se houver conhecimento, aceitação e en-

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cantamento do colaborador pelo que é produzido ou realizado. Para isso, é preciso que a empresa apresente de forma clara e cultive em sua cultura organizacional aspectos coerentes aos seus objetivos, sua missão, visão e valores, a fim de promover uma maior identificação e sentimento de pertencimento à marca que, juntamente a uma política de valorização profissional, irão criar mecanismos de fidelização. Kotler e Keller (2003) definem ações de branding interno como atividades e processos que ajudam a informar e inspirar os funcionários. Ao considerar que os princípios do branding permeiam o gerenciamento eficiente da marca, os autores sugerem novas estratégias de inserção, incentivos e ações motivacionais para os colaboradores, a fim de apoderar de uma eficiente gestão da marca voltada para o cliente interno. Couto (2004), afirma que a ideia é transformar os colaboradores em embaixadores da marca, defensores das metas e dos objetivos da empresa, envolvê-los em processos inspiracionais e motivacionais. O modelo de gestão apresentado por meio do endobranding pode ser observado na empresa Starbucks,6 exemplificando um caso de sucesso onde os colaboradores são cativados pela marca. Partindo da premissa de que o colaborador deve ser o maior comprador da marca, a multinacional apresenta uma estratégia eficiente em relação ao posicionamento para os colaboradores. A Starbucks é a multinacional com a maior cadeia de cafeterias do mundo. Com sede em Seattle nos EUA, possui mais de 15 mil lojas. Apresenta uma política focada nos colaboradores, que são chamados de partners (parceiros) onde pretendem ir além de estarem apenas em mais um emprego, mas sim, vivenciando uma paixão. Ao apresentar o colaborador como “parceiro”, a organização permite ao funcionário associação direta com a identidade de marca bem como uma maior aceitação, submetendo-o ao sentimento de pertencimento e identificação. Tal posicionamento é difundido de forma espontânea e outorga maior compromisso em realizar as suas tarefas com excelência. Por este exemplo, pode-se afirmar que os mecanismos desta organização ao optar pelo endobranding como ferramenta chave para atingir o alto desempenho, geram um compromisso direto do funcionário com o sucesso do negócio. Desta forma, são atingidos melhores níveis de desempenho que são refletidos nos resultados de vendas e, consequentemente, no sucesso da marca. Outros aspectos favoráveis resultantes de uma boa gestão de relacionamento e promoção do endobranding apontados no exemplo citado são a maior retenção de talentos, quedas significativas nas taxas de turnover garantidas por meio da realização e valorização profissional. Podendo ainda, ser difundida à sociedade como exemplo de uma cultura organizacional atraente que desperta absoluto interesse dos profissionais de outras organizações para migrar de suas empresas atuais, por meio do desejo em servir a marca na qual ele se reconhece mais. Um outro modelo de sucesso relacionado ao endomarketing e ao endobranding pode ser apresentado por meio da experiência realizada pelo Restaurante Fellini7, localizado no Rio de Janeiro. Neste restaurante, os proprietários participam diariamente das operações, sendo uma empresa familiar, com gestão participativa. Há alguns anos, a gestão do restaurante é dividida com os funcionários a fim de melhorar os resultados das operações. Para isso, criou um comitê que discute em reuniões quinzenais tudo o que acontece no restaurante. Nestas reuniões, os colaboradores opinam sobre diversos temas relevantes ao cotidiano da empresa. A missão desta empresa está na satisfação dos clientes internos, dispondo de uma equipe permanentemente treinada e altamente motivada. Através da sua visão, apresenta que é possível ter uma operação em que todos possam se sentir vencedores. O restaurante

oferece ainda diferentes formas de reconhecimento, sendo a principal o elogio e o agradecimento verbal. É concedida premiação em dinheiro para reconhecimento da qualidade no trabalho realizado bem como o cumprimento ou superação de metas entre outras formas de bonificação e notáveis premiações. Tal política assegura uma rotatividade mínima de pessoal diminuindo de forma significativa as taxas de turnover, principal desafio das empresas contemporâneas. A empresa conta com diversos prêmios no que refere à gestão de pessoas. Sendo citada como um dos melhores lugares para se trabalhar e também como modelo de gestão tais como: “Empresa vencedora do prêmio Gestão com Pessoas” em 2009”, concedido pela ABRH- -RJ, prêmio “O modelo de gestão” concedido pelo Procon Nacional em 2008 e “ Great Place to Work” representado pela revista Época. As ferramentas do endomarketing constituem como o treinamento e o desenvolvimento, a comunicação interna e externa plena, a liderança visionária, o fluxo de informações técnicas, entre outras (REQUENA, 2003). Estas e outras alternativas, como a criação de eventos e ações promocionais internas, concursos culturais, campanhas de metas, resgate e preservação da história e memória da empresa, permitem que a motivação esteja presente na realidade cotidiana das organizações por meio de um maior engajamento do colaborador com a marca. 3. CONCLUSÃO O endomarketing como modelo de gestão define-se como estratégias focadas em gerenciar primordialmente os aspectos pertinentes aos colaboradores, transformando-se em uma alternativa contemporânea a fim de assegurar o bom desempenho e alcançar melhores resultados. A implantação do endomarketing demanda uma mudança da cultura organizacional, o que requer um amplo e minucioso trabalho que correlaciona o objetivo de ser do negócio, missão, valores e políticas com as atitudes e posturas cotidianas. Mediante a proposta de alinhar todos os processos corporativos e por meio da integralização das equipes e departamentos, este modelo de gestão conta com ferramentas que permitem aos clientes internos sejam classificados como principais admiradores da marca. O Endomarketing conta ainda com uma infinidade de instrumentos e estratégias que podem ser empregadas de acordo com a realidade de cada organização. Perante aos exemplos citados neste artigo e outros, observa-se que desenvolver planejamentos de endomarketing dispondo do endrobanding são ações viáveis e que permitem que as organizações alavanquem bons resultados. Embora, na atualidade, ainda haja um grande número de organizações que apresentam uma postura contrária às defendidas pelo endomarketing, identifica-se o número crescente de organizações que reconsideraram o papel do colaborador dentro de todo processo produtivo. Onde este é percebido e reconhecido como executor essencial ao sucesso do negócio, independente de cargo ou nível hierárquico. Assim, para o desenvolvimento do plano de endomarketing faz-se necessário um plano de atuação que agregue de forma sinérgica com todo o universo que envolve a organização, o profissional e o mercado. Referências ANDRADE, V. Calazans, J. A influência do Branding Interno no Planejamento de Ações. Congresso de administração sociedade e inovação. Universidade Federal Fluminense, Niterói. p.4 – 8, 2015. BEKIN, Saul Faingaus. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo: Prentice Hall, 2006. xv, 186p.

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BRUM, Analisa de Medeiros. Endomarketing de A a Z: como alinhar o pensamento das pessoas à estratégia da empresa. São Paulo: Integrare, 2010. 255 p. BRUM, Analisa de Medeiros. Endomarketing: estratégias de comunicacão interna para empresas que buscam a qualidade e a competitividade. 2. ed. Porto Alegre: Ortiz, 1994 138p. BRUM, Analisa de Medeiros. Sorria, você trabalha aqui!: 500 insights para endomarketing. São Paulo: Integrare, 2012. 224p. BURGESS, Cheryl. Branding From The Inside Out. CMO.com. 23 abr. 2013. Disponível em: <http://www.cmo.com/articles/2013/4/21/branding_from_the_ in.html>. Acesso em: 26 jan.2017. CENTRAL DE CASES, SPM. Starbucks Disponível em: <https://casesdesucesso.files.wordpress.com/2008/07/starbucks.pdf.> Acesso em 20 jan.2017. COUTO, A. Como transformar colaboradores em embaixadores da marca. Comunicação Empresarial, São Paulo, 2004. GRÖNROOS, Christian. Marketing: Gerenciamento e Serviços. 4 ed. São Paulo: Campus, 1993. 424p. INKOTTE, A. Endomarketing: Elementos para a construção de um marco teórico. 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2000. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing: a bíblia do marketing. 12.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010xii, 750 p. MARIANA MELISSA, 3 empresas e boas estratégias de endomarketing. Disponível em: <http://www.ideiademarketing.com.br/2012/02/22/3-empresascom-o-endomarketing-no-dna/> Acesso em 20 jan.2017. REQUENA, I. B. Endomarketing elas, as pessoas. Revista Cientifica de Administração, volume 1, nº1, junho/setembro 2003 RODRIGO SIQUEIRA, Restaurante Fellini: Gestão com pessoas. Disponível em <http://www2.espm.br/sites/default/files/restaurante_fellini.pdf>. Acesso em 20 jan. 2017

NOTAS DE FIM 1 Acadêmica do curso de MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getulio Vargas. Graduação em Turismo, bacharelanda em Administração e MBA Gestão da Comunicação e Marketing pelo Centro Universitário Newton Paiva. 2 Graduação em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Newton Paiva. Pós-Graduação em Marketing, CEPEDERH - UNA. Mestre em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. 3 Disponível em: http://www.ideiademarketing.com.br/2012/02/22/3-empresascom-o-endomarketing-no-dna/> 4 Disponível em: http://www.yannismarketing.com.br/4-exemplos-de-acoes-de -endomarketing-utilizadas-por-grandes-empresas/ > 5 Disponível em: http://www.cmo.com/features/articles/2013/4/21/branding_ from_the_in.html#gs.ZL1Tsa0> 6 Disponível em: https://casesdesucesso.files.wordpress.com/2008/07/starbucks.pdf. Acesso em 20 jan. 2017 7 Disponível em http://www2.espm.br/sites/default/files/restaurante_fellini.pdf . >

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FACHADAS AERADAS EM PEDRA NATURAL: comparativo do desempenho com o método da placa aderida e fixada ao substrato Ana Luiza Abu Kamel Moura Araujo1 Danielle Saranh Galdino Duarte2 Débora Betti Ornelles3 Paulo Lucas Nogueira Jota4 Tereza Cristina Miranda de Magalhães 5

RESUMO: A fachada constitui as faces de uma edificação e é responsável pela primeira impressão da construção. Além da estética, ela possui a função de isolamento higrotérmico, acústico e proteção contra impactos, podendo ser revestida de vários materiais. No presente estudo foram comparados dois métodos de fixação de fachadas em pedras graníticas: as fachadas aderidas ao substrato e as aeradas. O primeiro possui, entre o substrato e o revestimento, camadas de chapisco, emboço ou massa única e argamassa colante; e o segundo, que está em ascensão no mercado nacional, também conhecido como fachada ventilada ou respirante, é uma técnica onde se origina uma ventilação natural entre a base e o revestimento causada pelo afastamento físico destes, substituindo o uso de materiais argamassados por insertes metálicos. Essas dispõem de um bom desempenho térmico, contribuem para a redução de cargas do condicionamento de ar e função estética, sendo uma proposta inovadora no quesito social e ambiental. Através deste estudo observou-se a distinção entre esses dois métodos de fachadas em pedras de granito, bem como o desenvolvimento de uma análise detalhada tendo como base a execução, as características, o custo, prazo de execução e as propriedades/desempenho destes métodos construtivos. Após o comparativo entre os dois métodos, notou-se que, apesar do custo do método aerado ser superior devido à mão de obra especializada e escassa, há uma diminuição do tempo de execução da obra, refletindo diretamente no orçamento total da construção. Palavras chaves: Fachada aerada. Fachada ventilada. Fachada argamassada.

INTRODUÇÃO A fachada é responsável pelo primeiro impacto da construção, sendo que a valorização do edifício está diretamente ligada a ela. Além de invólucro, é também sua função o isolamento higrotérmico e acústico (CAUSS, 2014; MENDES, 2009) 6. Ela pode ser revestida de vários materiais, como pinturas, madeiras, cerâmicas ou pedras, sendo este último, especificamente de granito, destaque do presente artigo. Esses revestimentos têm como principal função a proteção da estrutura do edifício, não permitindo a exposição às intempéries, além da comodidade visual (YAZIGI, 2011). Convencionalmente, entre o substrato e o revestimento, aplicam-se as camadas de chapisco, emboço ou massa única, argamassa colante, e em seguida o revestimento final (SALGADO, 2008; YAZIGI, 2011). Com o avanço das tecnologias das construções, têm-se como tendência mercadológica as fachadas aeradas. Essas fachadas são caracterizadas por seu revestimento em pedra não estar em contato direto com o substrato, ou seja, há uma câmara de ar intermediária (PRIETO, VÁSQUEZ, 2013)7. Diferentemente, as fachadas com revestimentos aderidos e fixados são aquelas que estão em contato direto com o substrato. A fachada aerada é um método de fachada que dispensa o uso de materiais argamassados para assentar os revestimentos de pedras naturais, contribuindo desta forma para a preservação ambiental do nosso planeta, por reduzir a quantidade de emissão do gás carbônico (CO2) na produção do cimento (JOHN, 2009) 8, dentre diversas vantagens. Ao invés disso, insertes metálicos são fixados no substrato e também no revestimento (LOTURCO, 2006)9. Por não estar em contato diretamente com a parede, as aeradas

dispõem de um bom desempenho térmico, contribuem para a redução de cargas do condicionamento de ar, além da função estética (MOURA, 2009)10. Para enfatizar a distinção entre esses dois métodos de fachadas em pedra granítica, desenvolveu-se um estudo detalhado descrevendo cada um destes, tornando como base a execução, as características, o custo, prazo de execução e as propriedades, ou seja, o desempenho destes métodos construtivos, objetivando discutir qual o mais efetivo e vantajoso. FACHADAS COM REVESTIMENTOS EM GRANITO “Fachadas com placas de rocha são revestimentos com rochas naturais, aplicadas sobre a parede e a estrutura” (PINI, 2008, p.217). O granito é uma rocha classificada como ígnea (ou eruptivas), formada pela consolidação do magma de origem vulcânica (PINTO; RIBEIRO; STARLING, 2011). Segundo os mesmos autores, as rochas são muito utilizadas como acabamento e proteção devido ao seu aspecto rústico, sua alta resistência ao atrito e sua variedade de cores, texturas e tamanhos, além da durabilidade incontestável. Antes de iniciar o processo de execução de uma fachada, seja ela argamassada e fixada ou aerada, é necessário que a base (ou substrato) esteja livre de impurezas, eflorescências, pregos e arames (YAZIGI, 2011). O cuidado com a colocação de ambos os métodos deve ser feito de maneira cautelosa, pois como a placa de granito é um material de produção artesanal, é comum a variação da espessura das peças (SALGADO, 2008). No caso do método feito através de argamassa, é necessário que as condições climáticas estejam favoráveis, evitando a execução nos dias de chuvas, ventos fortes ou sol intenso (SALGADO, 2008).

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Fachada argamassada e aderida ao substrato Com a base limpa, toda superfície destinada a receber revestimento de argamassa de areia deverá ser chapiscada. No caso de concreto, é necessário que esta superfície seja primeiramente apicoada antes do chapisco. Sendo alvenaria, é necessário que após o chapisco seja aplicada também o emboço, e assim, a fixação da pedra com auxílio da argamassa colante, respeitando as juntas e procedendo-se ao posterior rejuntamento (PINTO; RIBEIRO; STARLING, 2011; YAZIGI, 2011). As juntas são preenchidas por uma argamassa com o intuito de proteger contra infiltrações indesejáveis (SALGADO, 2008) (Figura 1).

nerologica e coloração. Também deve-se pensar em fatores além da fachada, como muros de arrimos e pilares, que, por muitas vezes, não possuem a impermeabilização necessária, ocorrendo infiltração que, consequentemente, percorrerá até as pedras (IAMAQUTI, 2001)12. Esta patologia interfere principalmente no quesito estético da fachada, deixando-a com aspecto de doente e desvalorizando-a. Fissuras e Trincas

Esta imperfeição está presente em muitas das fachadas, podendo sua causa ter diversas origens. A mais recorrente advém da presença de juntas de dilatação com espessura inferior ao necessário para suportar as variações térmicas que ocorrem durante o dia, havendo choque entre as placas. Também podem surgir do transporte inadequado das peças e do assentamento impróprios delas, onde a interface entre o acabamento e a camada de fixação são descontínuas. Quando estes erros forem recorrentes, é possível que haja o fissuramento do granito (IAMAQUTI, 2001). Mancha nas argamassas

FIGURA 1 - Placa de granito fixada através de argamassa ao substrato Fonte: www.brasil.geradordeprecos.info

Patologias mais comuns Patologia, na engenharia civil, pode ser entendida como anomalias ou defeitos que prejudicam o desempenho da construção (AZEVEDO, 2011). Dentre as patologias existentes, serão apresentadas as mais comuns em fachadas aderidas. Descolamento em Placas

O descolamento das placas é um problema recorrente quando se trata de falhas da construção. Geralmente, estão ligadas a uma falta de aderência entre as camadas dos revestimentos e à base (BAUER, 2008). Um dos fatores que agravam a ocorrência deste tipo de patologia é a existência de tensões correspondentes às grandes variações de temperatura. Também, quando as argamassas de cimento e areia possuem grande quantidade de aglomerantes, são passíveis de retração, causando tração entre a base e o revestimento (BAUER, 2008)

Nos assentamentos de fachadas fixas ao substrato, é muito comum a presença de manchas, fissuramento e descolamento, muitas vezes causados pela argamassa utilizada. Esta má aplicação pode ser causada pelo excesso de água utilizada para elaboração da massa, que resultam em manchas escuras de aspectos molhados, ocorrendo o fenômeno migratório da água, conhecido como exsudação, onde a água penetra através dos poros das pedras, de baixo para cima (IAMAQUTI, 2001). Também pode ser causada pelas impurezas contidas no ferro da areia e cimento, que são transportadas durante o processo de evaporação da água da argamassa, que ao penetrar pelos poros podem causar manchas de diversas colorações (IAMAQUTI, 2001). Outro fator, conforme o mesmo autor, é o transporte de carbonatos para a superfície da pedra, sob forma de eflorescência. Fachadas Aeradas A fachada aerada é uma técnica em que se origina uma ventilação natural entre o substrato e o revestimento, causada pelo afastamento físico destes (GAIL, 2015)13. Devido a este afastamento, não são necessárias as aplicações de emboço, reboco e argamassa para a fixação do revestimento, sendo estes implantados através de insertes metálicos (JOHN, 2009).

Eflorescência

A ocorrência de eflorescência geralmente é causada em lugares em que não foram utilizadas cautelas quanto à impermeabilização, ocorrendo infiltrações (FIORITO, 1994, apud RHOD 2011). Ao evaporar, a água deposita os sais na superfície do substrato, formados pela dissolução do cimento e da cal (ATLAS) 11. Dificilmente estas manchas, geralmente esbranquiçadas, conseguem ser retiradas das peças, pois depois de formada a solução e esta diluída em água, elas são penetradas nos poros da pedra Manchas nos revestimentos

As manchas em uma fachada aderida podem advir de várias maneiras como das eflorescências, manchas d’água, manchas devido ao uso e bolor (FIORITO, 1994, apud RHOD 2011). Quando se trata de umidade, esta pode ser recorrente devido às caracteristicas da rocha escolhida para envolver a edificação. Deve-se levar em conta a porosidade, permeabilidade, constituição mi-

FIGURA 2 - Fachada aerada fixada por insertes metálicos Fonte: http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/144/fachadasrespirantes-fachadas-ventiladas-combinam funcoes-esteticascom-bom-287636-1.aspx

Como toda tecnologia inovadora, as fachadas respirantes possuem um investimento elevado, devendo ser considerado não somente o custo, mas sim todas as vantagens a longo prazo, bem como o seu curto tempo de execução e a eximissão de muitos funcionários e equipamentos (MOURA, 2009).

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Com insertes metálicos

ambientais (MOURA 2009).

O inserte metálico é uma peça utilizada nas fachadas ventiladas para a fixação do revestimento. Este objeto é ancorado ao substrato, devendo suportar o peso do granito, bem como a ação de fatores externos, como o vento. Apenas o inserte não garante que a fachada seja classificada como aerada, devendo ela apresentar também as demais características (LOTURCO, 2006). O formato de cada peça depende do local que ela estará aplicada, bem como o efeito estético que ela quer proporcionar à estrutura. Nos revestimentos de vigas, travamento e fechamentos de placas geralmente possuem a forma específica (LOTURCO, 2006). Segundo o mesmo autor, além do tipo de insert utilizado, é necessário que o aço do artefato esteja de acordo com a normativa, que prevê aço inoxidável austenítico da série 300, aço carbono galvanizado a fogo ou aliminio. Nas fachadas aeradas, é necessário que haja um projeto prevendo a localidade, formato e material de inserte que será utilizado. Geralmente, o projeto de fachadas já prevê onde estarão as vigas que serão anexadas os itens, pois para a aplicação destes é necessário que seja em algum elemento estrutural, não podendo ser fixado diretamente na alvenaria. Com o ajuste dos projetos estrutural e arquitetônico, são definidos os tamanhos das pedras de granito, quantidade e ancoragem de insertes (LOTURCO, 2006). Com perfis metálicos O perfil metálico é uma peça utilizada no sistema de fachada aerada para fixar o revestimento ao restante da estrutura do edifício. Este sistema de perfis permite que vários tipos de revestimentos sejam dispostos em sua armação, ainda que o seu desenvolvimento tenha se consolidado para o arranjo de pedras naturais. (VEDOVELLO, 2012)14. Com junta aberta O sistema com junta aberta origina uma camada de ar entre o revestimento e o substrato, proporcionando uma ventilação natural. A esta ocorrência dá-se o nome de efeito chaminé, que pode ser explicado pela diferença de pressão existente na camada, onde o ar quente se aloja na parte superior enquanto o ar fresco é sugado para camada. Este processo é renovado continuamente, desencadeando no conforto térmico da edificação (MOURA, 2009).. Com junta fechada As juntas fechadas são aquelas que não permitem o efeito chaminé dentro da câmara de ar. A vedação destas impede que a água da chuva penetre no interior do sistema. Para que haja um bom resultado em sua aplicação, o seu dimensionamento deve ser projetado de maneira correta, considerando-se fatores estéticos, de desempenho e

Patologias mais comuns A fachada aerada, assim como a fachada aderida, apresenta manifestações patológicas por diversos fatores aos quais se expõe. Estas causas interferem diretamente na estética e utilidade da edificação, que pode ficar comprometida se não for diagnosticada corretamente. Os principais tipos de degradações existentes, são: - Oxidação dos elementos de fixação - Quebra ou fissuras de revestimento externo - Proliferação de microorganismos - Infiltrações na câmara de ar

DADOS DE PRODUTIVIDADE Para obtenção de resultados e comparativos, foi-se elaborado um orçamento para uma fachada em pano cego (sem vãos) de 100 m² (10x10m) e um planejamento para as mesmas condições, a fim de se obter valores relacionados ao custo e tempo. Também foi composto um quadro comparativo com as vantagens e desvantagens em relação ao desempenho (qualidade, patologia, resíduos, custo e tempo) da fachada argamassada em granito e a fachada aerada nas mesmas condições, possibilitando observar qual de fato é mais satisfatório. Foi elaborado um orçamento utilizando-se como fonte as composições do SINAPI (sistema nacional de pesquisa de custos e índices da construção civil) adotado pela Caixa Econômica Federal, para estimativa de custo das composições unitárias. Foram adaptados os dados pelos autores de acordo com as necessidades dos serviços e considerou-se apenas o custo direto para uma análise menos detalhada. Na fase de planejamento, para método comparativo de tempo, considerou-se apenas a etapa da obra referente ao revestimento externo, com as características escolhidas pelos autores, a fim de facilitar o estudo. O escopo desta etapa do trabalho é a elaboração do revestimento externo de uma fachada de dimensões de 10 m x 10 m, livre de vãos, utilizando de todas as normativas brasileiras, para os dois tipos de fachadas, a fim de se chegar em um quantitativo de tempo. A elaboração do planejamento foi baseada no orçamento realizado pelos autores. ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS Orçamento das fachadas Abaixo tabelas contendo o orçamento das fachadas aerada e argamassada:

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TABELA 1 - Fachada do tipo Argamassada

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

TABELA 2 - Fachada do tipo Aerada

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

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Relação mão de obra x material

TABELA 3 - Relação entre mão de obra e material

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

GRÁFICO 1 - Comparativo entre Fachadas argamassada e aerada

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

A partir do gráfico 1 comparativo da mão de obra e dos materiais, entre os dois tipos de fachadas estudadas foi possível realizar uma análise mais detalhada de custo entre elas. Pode-se concluir que

a mão de obra da fachada aerada representa um aumento significativo, totalizando 58,27% superior à fachada argamassada enquanto o material tem um valor de 9,39 % superior na mesma comparação.

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Planejamento Planejamento da Fachada Aerada TABELA 4 - Planejamento da fachada aerada

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

Planejamento da Fachada Argamassada TABELA 05 - Planejamento da fachada argamassada

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

Após a realização do planejamento da fachada argamassada, percebe-se que o projeto terá a duração de 24 dias trabalhados, ou seja, úteis. Também, através desta análise, foi possível prever que ela possui todas as atividades críticas. Em planejamento, entende-se como atividades críticas ou caminho crítico, aquelas etapas que podem comprometer todo o planejamento, já que dependem delas serem findadas nas datas corretas para o prazo final ser obedecido, devendo ser sempre programadas com cautelas. No exemplo mostrado, o emboço tem como predecessora o chapisco, e a colocação de pedras o emboço. Isto significa que uma etapa só pode ser realizada após a conclusão da anterior e espera dos prazos de cura conforme refe-

rências de normas técnicas. Para a determinação da duração das etapas, foi-se utilizado a tabela do SINAPI/2014, onde, na composição de preços, está descrito a produtividade do funcionário. Com isto, foi possível prever a data de início e término da obra. O Planejamento da Fachada Aerada foi baseado em dados fornecidos pela empresa GRAN-PROMETAL, através de entrevista semiestruturada. Como este tipo de método dispensa todas as etapas de chapisco, emboço e argamassa colante, o tempo de execução é consideravelmente reduzido, apresentando apenas a necessidade de oito dias trabalhados para a realização da mesma área, representando uma redução de 1/3 de dias.

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VANTAGENS E DESVANTAGENS TABELA 6 - Comparativo entre fachadas

Fonte: Desenvolvido pelos autores, 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se diversas vantagens deste sistema de fachada em relação ao método da placa aderida e fixada ao substrato. Dentre os principais pontos positivos, a racionalização do tempo de execução e a redução de materiais utilizados se destacam, devido a presença de um projeto de fachada que evita cortes e perda de materiais. Como fator desfavorável pode-se destacar o fato da implantação da fachada ventilada possuir um custo bem mais elevado, devido à mão de obra especializada e a utilização de materiais específicos para sua instalação –insertes metálicos –, o que dificulta a sua utilização em empreendimentos que demandem pouco capital. Um dos fatores que influenciou a grande diferença de custo perante as duas fachadas foi observado no item da mão de obra especializada, devido esta ainda ser escassa, sendo esta uma barreira a ser vencida. A partir do momento que o método aerado começar a ser mais conhecido e habitual, consequentemente formarão mais profissionais especializados e logo deixará de ser um método novo, reduzindo assim o seu custo final. Em suma, pode-se concluir que o método de fachada aerada ainda é de elevado custo no Brasil e apesar de sua rápida execução frente à fachada tradicional, a sua implantação se torna vantajosa apenas em grandes obras, onde o tempo gasto na execução da fachada supera o custo elevado frente à fachada argamassada com pedra aderida ao substrato.

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NOTAS DE FIM 1 Graduanda em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Newton Paiva – email: luizakamel@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/9898223173146171. 2 Graduanda em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Newton Paiva – email: daniellesaranhgd@yahoo.com.br. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/3110763344558848 3 Graduanda em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Newton Paiva – email: deboraornelles@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/1650546910468296 4 Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Newton Paiva – email: paulolucasnj@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/2612187354653618 5 Professora orientadora.- Engenheira Civil, M.Sc. – e-mail: terezacristinamagalhaes@yahoo.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5637629646440167

6 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/106/artigo287059-1.aspx 7 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/106/artigo287059-1.aspx 8 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/106/artigo287059-1.aspx 9 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/106/artigo287059-1.aspx 10 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/144/fachadas-respirantes-fachadas-ventiladas-combinam-funcoes-esteticas-com-bom-287636-1.aspx 11 http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/106/artigo287059-1.aspx 12 http://icposgrados.weebly.com/uploads/8/6/0/0/860075/h.pdf 13 http://www.lojagail.com.br/fachada-ventilada-28/u 14 http://www.poli.usp.br/pt/comunicacao/agenda/dissertacoes-de-mestrado/ details/670-gestao-de-projetos-de-fachadas.html

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IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES DE VOGAIS EM REGISTROS ACÚSTICOS: análise por componentes cepstrais e redes neurais Adelino Pinheiro Silva Flávio Lúcio de Souza Vinícius Rodrigo May

Resumo: Os estudos referentes à biometria vocal são as principais fontes motivadoras desta pesquisa acadêmica. A identificação de vogais presentes em registros acústicos do português brasileiro é o primeiro passo na proposta de técnicas alternativas de identificação de locutores, permitindo consolidar informações referentes a condução da fala, em especial, para falantes perceptualmente próximos. A partir de amostras de corpus, trechos de áudios foram isolados e analisados com intuito de encontrar características acústicas capazes de caracterizar as vogais do português brasileiro em posição tônica. A etapa final de classificação proposta foi por meio de redes neurais artificiais. Palavras-chave: Análise de Voz e Fala. Identificação de Vogais. Redes neurais Artificiais. Análise Cepstral. Reconhecimento de Padrões.

1 - Introdução Plataformas que oferecem suporte aos comandos de voz já são realidade; os atuais dispositivos eletrônicos são prova disso. Entretanto, o reconhecimento de padrões de voz e de fala em registros acústicos é uma tecnologia ainda em desenvolvimento, sendo empregada em diferentes áreas desde o entretenimento, passando por aplicações de segurança, avaliação de saúde e sistemas de telefonia. Maiores avanços mostram-se possíveis; interfaces interativas são essenciais para aproximarem, ainda mais, homens e máquinas. O reconhecimento biométrico por comandos de voz e de fala faz parte dessa tecnologia em ascensão. Estudos realizados à cerca deste tema proporcionam integração com diversos ramos do conhecimento e, prova disto é a quantidade significativa de áreas multidisciplinares envolvidas no processo, como por exemplo a fonética, a microeletrônica e o processamento de sinais (CAMBELL, 2009; TOGNERI; PULLELLA, 2011) As técnicas à serem apresentadas neste trabalho, visam fazer parte de uma tarefa maior que é a implementação de um sistema de identificação de locutor. Tais técnicas, baseadas em redes neurais artificiais (RNA), mais especificamente o Perceptron Multi Camadas (MLP - Multi Layer Perceptron), são os modelos de reconhecimento de padrões de base para este estudo. O objetivo do presente estudo é realizar a classificação, reconhecimento e análise de padrões acústicos em vogais cardinais do português brasileiro, em posição tônica, buscando identificar padrões capazes de recortar as vogais dos trecho de áudio. Para esta tarefa realizou-se: levantamento de corpus de falantes do português, com aleatorização de gênero e idade, utilizando protocolo padronizado; análise e identificação dos trechos de áudio de interesse e implementar redes neurais com base nas características relevantes para separação dos grupos de vogais.

2 - Princípios da Produção da Voz e Fala O processo de comunicação inicia-se no cérebro falante por um processo linguístico de geração do significado através de palavras e frases, em seguida um comando fisiológico ativa o trato vocal para gerar os sinais acústicos, que consistem em flutuações da pressão de ar que são geradas pelas pregas vocais são moduladas pelo trato vocal e irradiadas pela boca. A mensagem gerada é transmitida através de um canal de comunicação, como o ar por exemplo, até o ouvinte. A mensagem é detectada pelo ouvido, a flutuação de pressão no ar presente na mensagem transmitida é interpretada pelo cérebro do ouvinte. A figura 1 a seguir ilustra de forma resumida o processo de comunicação por um canal com ruído interferente. Nos estudos dos processos de comunicação é importante ainda definir o conceito de linguagem como a base de transmissão de significado através de sinais, sons, gestos, ou marcas entendidas dentro de um grupo ou comunidade (PIERANGELO; GIULIANI, 2007). Com o passar dos tempos a humanidade esforçou-se para comunicar-se através de grandes distâncias, utilizando diferentes linguagens como batidas de tambores, sinais de fogo ou os telégrafos, ótico de Chappe e elétrico de Morse (GLEICK, 2013). A transmissão elétrica dos registros acústicos ocorreu a partir dos desenvolvimentos de Bell que realizou estudos dos mecanismos da fala e da audição para aprimorar o processo de comunicação por voz em longas distâncias. Inicialmente as telecomunicações eram realizadas preservando a forma de onda acústica, entretanto, o desenvolvimento de técnicas matemáticas de análise e processamento de sinais permitiu realizar a codificação da onda acústica alcançar longas distâncias com mais eficiência (GLEICK, 2013).

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Figura 1 – Processo de comunicação. Fonte: Elaborada pelos autores.

2.1 - Sons da Fala A fala é um resultado dos movimentos realizados pelos órgãos do aparelho respiratório e digestivo do nosso organismo. Flanagan (2013) acrescenta que: Os sons da fala sonora são produzidos por ação de vibração das pregas vocais. Produção de som desta maneira é chamado fonação. Qualitativamente, a ação das pregas vocais é muito parecido com o bater de uma bandeira, ou a vibração da palheta em um instrumento de sopro. (FLANAGAN, 2013, p. 17) Então os sons da fala propriamente dito é a propagação do som modelado pelo trato vocal e que é identificado pela percepção humana no seu processo de recepção. Silva (2007) esclarece através de exemplo que os sons da fala: Constituem o primeiro aspecto que chama a nossa atenção quando depara-se com uma língua qualquer ou com um dialeto de nossa própria língua, diferente daquele que falamos. Seja por sons cuja pronuncia varia, relativamente a nossa própria pronuncia, seja por sons “diferentes” daqueles de nossa língua e que existem numa língua estrangei-

ra que nos propomos a aprender, seja ainda por diferenças na prosódia, que fazem uma língua ou um dialeto parecerem mais ou menos “cantados” do que nossa língua ou nosso dialeto. (SILVA, 2007, p. 5) O estudo dos sons da fala se divide em duas partes, sendo uma parte ligada a área da fonética e a outra na área da fonologia. Fonética é o estudo dos sons como entidades físico-articulatórias do aparelho fonador. Sendo seu objetivo descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas (CALLOU, 1990), ou seja, a fonética tem como objetivo identificar todo mecanismo que é envolvido pelo organismo na produção e recepção dos sons da fala. A Fonologia é o estudo de diferenças fônicas (intencionais e distintivas) que geram significados e suas relações entre os elementos e condições de diferenciação que combinados podem formar morfemas, palavras e frases (CALLOU, 1990). A representação das duas abordagens no estudo dos sons segue a codificação proposta pela Associação Fonética Internacional (IPA - International Phonetic Association).

Figura 2 - Representação acústico-articulatória das vogais com relação ao quadrilátero vocálico do português brasileiro em com relação ao diagrama da IPA. Fonte: RUSSO; BEHLAU, (1993, p. 36).

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2.2 - Vogais As vogais são sons produzidos com o estreitamento da cavidade oral devido à aproximação do corpo da língua e do palato sem que haja fricção de ar. As vogais se opõem às consoantes por 1) serem acusticamente sons periódicos complexos; 2) constituírem núcleo de sílaba e sobre elas poder incidir acento de tom e/ou intensidade (CALLOU,1990). Descrevem-se as vogais, do ponto de vista articulatório nos seguintes aspectos: posição da língua em termos de sua altura, sendo baixa ou alta; posição da língua em termos anterior/posterior; e arredondamento ou não dos lábios. A altura da língua refere-se a sua posição durante a articulação. A altura representa a posição vertical ocupada pela língua na cavidade oral. Existe um ponto alto, mais próximo do céu da boca, em oposição a um ponto baixo, mais próximo do maxilar, existindo ainda posições verticais intermediárias. Segundo Silva (2007), na descrição das vogais do português deve-se considerar quatro níveis básicos de altura, que referem-se também na abertura do maxilar (lábios) como sendo (LADEFOGED; JOHNSON, 2014): fechada (alta), meio-fechada (média-alta), meio-aberta (média-baixa), aberta (baixa). Em relação a anterioridade e posterioridade da língua, pode-se dizer que é um parâmetro que avalia sua posição horizontal durante a articulação de vogais. Ladefoged e Johnson (2014), divide-se a cavidade bucal em três posições horizontais, a primeira localizada a frente, ou anterior, da cavidade oral, próximo aos lábios; a segunda localizada na parte final, ou posterior, da cavidade oral, próximo ao véu palatino; e a terceira, cavidade central, entre estas duas partes. Silva (2007) e Ladefoged (2014) concordam que durante a articulação de uma vogal lábios podem estar entendidos (distensos ou estriados) ou podem estar arredondados. A tabela 1 ilustra o arredondamento ou não dos lábios em relação à altura da língua (ou abertura dos lábios) na articulação das vogais. Para que se pudesse fazer comparações entre as vogais de diferentes dialetos, foram determinados pontos ideais de articulação de vogais, que servem como referência para a localização no espaço articulatório, estabelecidos a partir de seus limites. Essas vogais são chamadas de cardeais e, em princípio, não pertencem a nenhum dialeto específico. (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2015, p. 32) De acordo com Abercrombie et al. (1967) uma vogal cardeal é: um ponto de referência fixo e imutável estabelecido dentro do limite da área vocálica, ao qual qualquer outro som vocálico pode ser relacionado diretamente. Um conjunto destes pontos de referência constitui um sistema de vogais cardeais e qualquer vogal em qualquer língua pode ser "identificada"neste sistema. (ABERCROMBIE et al., 1967, p. 151). Na padronização de vogais cardeais, define-se pontos de referência para descrevê-las e classificá-las. Esses pontos são determinados de acordo com os três parâmetros anteriormente explicado (altura da língua, anterioridade e posterioridade da língua e arredondamento ou não dos lábios) e em cada ponto localiza-se uma vogal específica, formando na ligação desses pontos um tipo de figura geométrica na forma de trapézio, como é mostrada na figura 3.

Tratando-se da língua do português brasileiro, uma vogal sempre compõe uma sílaba e essa vogal em termos fonéticos ocorre em uma intensidade sonora mais elevada que as outras letras que formam a sílaba, tornando-se então o núcleo, que para efeitos práticos, ajuda na sua identificação por meios de análise de frequência. As quantidades de vogais no português brasileiro são refinadas em relação ao modelo internacional em um total de quinze tipos de vogais, dividindo entre dez orais (entre tensas e frouxas) e cinco nasais. Na figura 4 está representado o diagrama tridimensional em forma de trapézio que mostra a relação dos parâmetros articulatórios do trato vocal (alta ou baixa, anterior ou posterior, arredondado ou não arredondado) indicando as posições das vogais em determinados pontos do diagrama, caracterizando dessa maneira, na padronização de vogais cardeais do português brasileiro.

Figura 4 - Representação do diagrama tridimensional das vogais cardeais orais. Fonte: elaborado pelos autores, adaptado de (SILVA, 1999, p. 5)

Na articulação dos sons da fala, além das propriedades já apresentadas, é possível enumerar algumas características secundárias que também qualificam uma vogal, principalmente em relação a outros sons da fala, sendo elas: a duração, desvozeamento, nasalização e tensão. 3 - Reconhecimento de Padrões de Vogais em Registros Acústicos 3.1 - Componentes Cepstrais O trabalho de Silva (2015) apresenta o cepstrum como a transformada inversa de Fourier do logaritmo da magnitude espectral do sinal, conforme a definição inicial de (BORGERT; HEALY; TUKEY, 1963). Esta abordagem foi utilizada para detecção de reflexões e ecos em um sinal e permite extrair do sinal analisado suas componentes reflexivas. Para Zwetsch et al. (2006) temos a seguinte aplicação para o cepstrum: A análise cepstral do sinal de voz permite trabalhar com o sinal da glote (excitação) e do trato vocal (ressonância) separadamente, pelas suas propriedades homomórficas, separando das características do filtro do trato vocal da sequência de excitação, o que facilita o estudo das alterações das pregas vocais. Dentro das propriedades matemáticas envolvidas no processo, salienta-se principalmente as transformadas de Fourier e funções logarítmicas que resultará em uma função chamada cepstral ou cepstro, responsável pela dissociação do sinal de voz. (ZWETSCH et al., 2006, p. 110). Em outra abordagem realizada por Oppenheim Alan; Schafer (2010) define o ceptrum discreto como a transformada inversa de Fourier (IFT) do logaritmo do módulo da transformada de Fourier de tempo discreto (DTFT) de um sinal, e o cepstrum complexo como a IFT do logaritmo da DTFT.

Figura 3 – Diagrama das Vogais Cardeais, Associação Internacional de Fonética. Fonte: Seara; Nunes; Lazzarotto-Volcão (2015, p. 30 e 31)

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O cepstrum real, que é a parte real do cepstrum complexo, permite o desacoplamento das amplitudes dos modelos fonte-filtro, sendo com y[n] a correlação do sinal x[n] com o filtro h[n], tem-se a seguinte relação cepstral (CHILDERS; SKINNER; KEMERAIT,1977):

Em seguida, tomando o logaritmo e em seguida a transformada inversa de Fourier:

3.2 - Redes Neurais Artificiais O modelo das redes neurais artificiais (RNA) foi baseado e, ainda é estudado, tendo como referência as redes neurais biológicas. O cérebro humano, resumidamente, é o responsável por gerir as funções do corpo, mesmo aquelas que são involuntárias ao homem. Esta gerência só é possível devida existência dos neurônios, células ramificadas, presentes no encéfalo, na medula espinhal e nos nervos, cuja função é transmitir sinais elétricos provenientes dos receptores sensoriais e enviar sinais para o controle de atividade orgânica. O corpo humano possui grande quantidade de neurônios que se interligam formando diferentes padrões de acordo com os impulsos nervosos à serem transmitidos e, na tentativa de modelar essa circuitaria é que foram desenvolvidos os primeiros modelos das redes neurais artificiais.

Figura 5 – Comparação entre o neurônio biológico e o modelo de neurônio artificial. Fonte: Elaborado pelos autores.

O primeiro modelo de neurônio artificial foi proposto por McCulloch e Pitts (1943) e foi baseado nas estruturas físicas do neurônio biológico. A figura 4 faz um comparativo entre um neurônio biológico e o neurônio artificial proposto na época. 3.2.1 - Perceptron

O perceptron é um modelo matemático de sinapse humana, de múltiplos neurônios (Barreto 2002), o modelo de multicamadas, contemplando além das camadas de entarda e saída, adequa-se em processos de sistemas linearmente separáveis. A interconexão das entradas à camada de saída por pelo menos uma camada de neurônios intermediária, tipicamente denominada de camada oculta, remove a limitação do perceptron e amplia o leque de problemas solucionados por estas redes. Definido um vetor de entradas x = [x0, x1, x2, x3, ..., xN ] e saídas y = [y0, y1, y2, ..., yN], uma rede neural multicamadas realiza um mapeamento y = f(w,x), da entrada x na primeira camada a saída y, ponderada pelos pesos sinápticos w. As redes multicamadas são, portanto, ferramentas poderosas, e dado um número suficiente de neurônios elas conseguem

aproximar qualquer função contínua e linear por partes. (SILVA, 2004) Mas como o perceptron só tem viabilidade em processos linearmente separáveis, foi necessário e proposto métodos para melhoria dessa aplicação, esses métodos se basearam em algoritmos de aprendizado relacionando a topologia da rede e o aspecto do problema. Dessa forma de acordo com Silva (2004), Existem diversas maneiras de se classificar uma rede neural artificial. Uma das mais importantes é a classificação pelo processo ou algoritmo de aprendizado empregado para treiná-la, que pode ser supervisionado ou não supervisionado. No aprendizado supervisionado a rede recebe uma série de padrões ou vetores de entradas associada a resposta ou saída desejada. O erro gerado entre a saída desejada e a saída gerada pela rede é utilizada para alterar os parâmetros internos (ou pesos sinápticos) da mesma de modo a aproximar sua resposta a saída desejada. Este procedimento é repetido até o fim da etapa de treinamento ou até que o erro entre a saída geradas a resposta desejada seja inferior a um limiar predefinido. O processo de treinamento ou aprendizado supervisionado de uma rede neural consiste, essencialmente, em minimizar o erro entre a saída da rede para um determinado padrão de entrada (SILVA, 2004). As técnicas ultimamente mais utiliza das para implementação de algoritmos em processos supervisionados que facilita o reconhecimento de padrões são: backpropagation, feedforward. O algoritmo backpropagation tornou-se possível a resolução de problemas em sistemas não linearmente separáveis. Segundo Barreto (2002), o método de aprendizado backpropagation pode ser aplicado a qualquer rede que usufrui de uma função de ativação diferencial e aprendizado supervisionado. Durante a fase de treinamento, os sinais/padrões de entrada são apresentados a rede artificial em uma determinada ordem. Cada padrão de treinamento é propagado adiante, camada após camada, até a produção do sinal/padrão de saída. A saída computada pela rede é então comparada com uma saída desejada. Esta comparação irá gerar um valor que determinará o erro. Este erro será utilizado como uma realimentação para as conexões, que resultará no ajuste dos pesos sinápticos de cada camada num sentido oposto à propagação dos sinais de treinamento. Os acoplamentos retrógrados somente existirão na fase de treinamento, considerando que as conexões adiante (sentido entrada e saída) serão usadas durante a fase de treinamento e uso da rede. Fazendo o uso do backpropagation, as camadas ocultas terão os seus pesos ajustados de acordo com as camadas subsequentes, i.e, com as camadas seguintes. Deste modo, os erros computados na camada de saída serão usados para ajustar os pesos entre a última camada escondida ou oculta com a camada de saída. Assim, o erro calculado de uma camada escondida será usado para ajustar os pesos da camada oculta anterior. Este processo será repetido até que a primeira camada oculta seja ajustada. Desta forma, os erros serão retropropagados camada a camada com as devidas correções. Rotina esta que será realizada de uma maneira repetitiva, ajustando os pesos das respectivas camadas. O processo é repetido por um número determinado de vezes para cada padrão de dados durante o treinamento até que o erro total da saída tenha convergido a um valor mínimo, ou até que algum limite predeterminado de iterações tenha sido completado. (BARRETO, 2002.) Portanto, a técnica que implementa o algoritmo backpropagation para Tissot, Camargo e Pozo (2012), é um método baseado no gradiente descendente, o que significa que este algoritmo não garante encontrar um mínimo global e pode estagnar em soluções de mínimos locais, onde ficaria preso indefinidamente. Contudo, é muito popular e amplamente utilizado no treinamento de RNAs.

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4 - Análises Resultados 4.1 - Análise Exploratória dos parâmetros acústicos Anterior a implementação do sistema de classificação por redes neurais os autores presentam na presente seção uma análise estatística do comportamento das características extraídas a partir da análise cepstral. Partindo do conhecimento prévio que o valor das frequências de ressonância do trato vocal, obtidas pela análise dos formantes, apresentam evidências acústicas da vogal presente no registro de áudio (PETERSON; BARNEY, 1952) foi elaborado o processamento dos registros de voz conforme os passos a seguir: Os registros de voz, gravados em uma frequência de amostragem de 8 kHz e 16 bits de profundidade, contendo palavras isoladas foi delimitado no tempo indicando os trechos que continham vogais de acordo com a codificação anteriormente citada; - Em seguida o áudio foi dividido em quadros (frames), cada frame contendo 20ms (160 amostras) separados por 10ms; - De cada quadro foi extraído o cepstrum que possuía um tamanho, excluindo a redundância, de 80 amostras; - Cada quadro foi elencado como uma amostra de áudio de dimensão 80, sendo cada dimensão classificada como um índice cepstral que varia no tempo de acordo com a variação dos quadros;

- Os quadros pertencentes a trechos com as diferentes vogais cardinais orais foram agrupados em suas respectivas classes (clusters) e o restante do áudio foi agrupado em uma classe denominada "demais sons"e indicada pelo sinal -". Realizando a análise estatística dos índices cepstrais, ou seja, avaliando o comporta mento da magnitude cepstral de cada índice para cada classe temos suas densidades de probabilidade estimadas. A estimação de densidade de probabilidade não paramétrica é realizada pela ponderação de uma função de núcleo. Silverman (1986) e Scott(2015) mostram que a densidade de probabilidade estimada f(x) é definida da forma:

Onde N é o número de amostras da variável aleatória e h o intervalo do domínio de x que a função kernel K(x) abrange. Para o caso em que a função K(x) é uma distribuição uniforme com h constante, f(x) será o histograma das N amostras. A figura 5 apresenta a distribuição de probabilidade de alguns índices cepstrais, neste caso os índices que apresentaram melhor separabilidade entre as vogais. Como esperado os índices cepstrais de menor ordem permitem uma distinção melhor das classes de vogais.

Figura 6 – Distribuição estimada dos componentes cepstrais. Fonte: Elaborado pelos autores.

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Os gráficos foram traçados de acordo com as componentes responsáveis por mostrar determinadas características das vogais do português brasileiro. A intenção é analisar se existe alguma relação entre uma determinada componente e sua respectiva informação grá-

fica, que auxiliem a distinção entre as vogais, na qual uma componente pode servir de complemento à outra. Um resumo qualitativo da capacidade de distinção dos principais incides cepstrais é apresentado na tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Tabela de classificação subjetiva da capacidade de distinção dos índices Cepstrais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para verificar o agrupamento das características extraídas de cada amostra os autores optaram por utilizar a distância Euclidiana (DUDA; HART; STORK, 2004), entre as médias das características de cada indivíduo, conforme as equações a seguir. Onde D é a dimensionalidade das classes, e neste caso D = 24.

em seu eixo das abcissas a taxa de falso positivo e no eixo das ordenadas a taxa de verdadeiro positivo. Na análise da curva ROC, quanto mais próxima a curva passar do ponto (0,1) melhor será a distinção da classe desejada. Nota-se na figura 19 performance um pouco abaixo de 85% para o /u/ e para os demais sons e de pelo menos 90% nas demais classes.

Figura 07 – Distância Euclidiana entre as Vogais. Fonte: Elaborado pelos autores.

4.2 - Separação de Vogais Utilizando Redes Neurais A topologia da rede neural escolhida para a separação de vogais foi a perceptron, com uma camada de entrada com dez neurônios ativados por uma função tangencial e um neurônio de saída. Foram selecionadas como características de entrada os primeiros 24 índices cepstrais. Para cada classe de vogais e para os demais sons a serem classificados uma rede neural distinta foi treinada, utilizando a técnica backpropagation com gradiente conjugado escalonado, para separar uma determinada classe das demais. Para verificar a performance de cada rede neural, tem-se a curva ROC (Receiver Operating Characteristic) da figura 8. A curva ROC apresenta a performance indicando

Figura 08 – Característica de Operação do Receptor (ROC). Fonte: Elaborado pelos autores.

A distribuição do erro quadrático médio de classificação, apresentados na figuras 09 e 10 mostram que os classificadores possuem a maioria das ocorrências centradas em zero, com exceção do classificador projetado para separa as vogais dos demais sons, que apresentou espalhamento.

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Figura 09 – Distribuição do erro de classificação. Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 10 – Distribuição do erro de classificação. Fonte: Elaborado pelos autores.

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Entretanto, analisando as matrizes de confusão da tabela 2 é possível explorar algumas características importantes dos classificadores que são um pouco mais difíceis de visualizar. A matriz de confusão apresenta basicamente a distinção entre duas classes, nas colunas são apresentados os valores reais e conhecidos e nas linhas os valores classificados. Na tabela 2, na diagonal principal apresentam as amostras que são de um determinado grupo e foram classificadas corretamente, sendo eles o verdadeiro positivo e o verdadeiro negativo. Na contra diagonal tem-se os grupos que foram classificados de forma incorreta, sendo eles o falsos positivo e o falso negativo. Nestas células da tabela o valor em negrito é o numero de amostras e o valor abaixo a percentagem de dentre o total de amostras que aquela célula representa. Na primeira célula da terceira coluna de cada matriz, é possível encontrar valores da precisão (em negrito) e a taxa de detecção falsa,

a precisão é a relação entre o número de verdadeiros positivos pelo número de classificações positivas enquanto a taxa de detecção falsa é a relação entre o número de falsos positivos pelo número de classificações positivas. Na segunda célula abaixo tem-se a taxa de omissão falsa (em negrito) e o valor de predição negativa. O primeiro relaciona o numero de falsos negativos pelo número de classificações negativas, enquanto o segundo relaciona o numero de verdadeiro negativos pelo número de classificações negativas. Na primeira célula horizontal da terceira linha, tem-se os valores da sensibilidade (em negrito), e a taxa de falso negativo. A sensibilidade é a relação entre o numero de verdadeiros positivos pelo número de valores positivos, enquanto a taxa de falso negativo é a relação entre o número de falsos negativos pela número de valores realmente positivos.

Tabela 2 – Matriz de confusão das redes neurais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na segunda célula horizontal de cor azul, tem-se os valores da taxa de falso positivo e a especificidade (em negrito). A taxa de falso positivo é a relação entre o numero de falso positivos pelo número de valores negativo, enquanto a especificidade é a relação entre o número de verdadeiros negativos pela número de valores realmente negativos. Por fim, na célula da terceira linha e terceira coluna tem-se a acurácia (em negrito) que é a soma da taxa de verdadeiro positivo e verdadeiro negativo enquanto a imprecisão é a soma das taxa de falso positivo e falso negativo. Em relação aos valores obtidos na tabela 4 é importante apontar que a detecção de vogais por redes neurais apresenta uma acurácia elevada, com valores acima de 95% para as vogais específicas e acima de 84% para separação genérica de vogais. Entretanto as taxas de omissão falsa é acima de 79% apenas para a vogal /a/ e para a distinção de vogais. Também vale a pena

citar a especificidade que possui a com a maioria dos valores abaixo de 80%, a a sensibilidade com valores elevados e a precisão, que no caso da vogal /u/ foi em torno de 10%. 5 - Conclusão O presente trabalho apresentou resultados satisfatórios, uma vez que todos objetivos apresentados foram cumpridos. Vale ressaltar a importância de uma análise prévia dos registros acústicos pois, deste ponto em diante além de confirmar-se a possibilidade da separação de vogais de registros de áudio também obteve-se um esboço dos resultados que viriam ao utilizar-se uma modelagem adequada, no caso optou-se pelas RNA’s. Após estabelecer as diretrizes, utilizou-se da técnica de extração do Cepstrum dos registros gravados. Isto propiciou a correta separação dos dados, sendo fator essencial para o treinamento das redes neurais artificiais, pois além de qualificar os parâmetros de entrada da

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rede, as componentes do Cepstrum possibilitou identificar o grau de dificuldade de separação de determinada vogal de outra e/ou demais sons, cujo resultado foi exposto em uma matriz representando a distância euclidiana entre as classes (vogais e demais sons). Utilizando-se de todos estes precursores foi implementada uma rede neural artificial, do tipo perceptron multi-camadas, que após o devido treinamento, foi capaz de identificar vogais imersas em quaisquer trechos de áudios e classificá-las com bom percentual de acerto. Os resultados da rede foram normalizados e traduzidos em percentuais e, por intermédio da matriz de Confusão se tornou possível analisá -los de forma clara e objetiva. Desta forma, através dos estudos realizados, foi possível identificar, mapear e separar qualquer uma das vogais cardeais que estejam presentes em registros acústicos, independente do falante; abrindo caminho para implementações futuras que auxiliem a identificação do indivíduo por meio da biometria vocal. Ficam como propostas para a continuidade a exploração mais profunda da técnica de detecção de vogais utilizando redes neurais, utilizando técnicas de classificação cruzada; enriquecer o conjunto de vocábulos do corpus visando aprimorar o poder de aprendizado das redes neurais; e explorar mais características, em especial vocais presentes em contexto de fala contínua; Referencias

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NOTAS DE FIM 1 - Adelino Pinheiro Silva: é bacharel (2004) e mestre (2007) em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais, e capacitado (2009) em Fonética Forense junto a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Membro efetivo da Associação de Criminalística do Estado de Minas Gerais - ACEMG. Atualmente cursa o Doutorado no CEFALA/UFMG (Centro de Estudos da Fala, Acústica, Linguagem e música) atua na Seção de Engenharia Legal no Instituto de Criminalística de Minas Gerais, onde realiza exames técnicos e pesquisas, leciona no Centro Universitário Newton Paiva e na Academia de Polícia Civil. E-mail: adelinocpp@gmail.com. 2 - Flávio Lúcio de Souza: é bacharel (2016) em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário Newton Paiva. Atualmente trabalha na Maxtrack Industrial LTDA com análise e reparo de equipamentos eletrônicos. E-mail: souza.f.l@hotmail. com. 3 - Vinícius Rodrigo May: é bacharel (2016) em Engenharia de Controle & Automação pelo Centro Universitário Newton Paiva. Atualmente trabalha na Maxtrack Industrial LTDA com automação de testes voltados à Sistemas Embarcados; Atua também como free-lancer, na criação de sistemas embarcados, desenvolvendo tanto o Hardware (printed circuit board) quanto o Firmware (utilizando-se da linguagem C-ANSI). E-mail: viniciusmay23@gmail.com.

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RECORTE DAS FRICATIVAS /S/ E /Z/ EM REGISTROS ACÚSTICOS POR INFERÊNCIA BAYESIANA Adelino Pinheiro Silva1 Daniel Gonçalves Gomes2 Elizângela Mara Rodrigues de Oliveira3 Nathália Amorim Zolini4

Resumo: Na sociedade contemporânea é cada vez maior a interação entre o homem e a máquina, oferecendo inúmeras possibilidades de exploração. A rápida informatização dos processos propicia à comunicação realizada através da fala torna-se uma alternativa viável para a melhoria desta interface e rápida adequação dos envolvidos na interação homem-máquina. Neste contexto, presente estudo tem como objetivo a composição de corpus coletado por procedimento padronizado para estudo de classificação das fricativas /s/ e /z/ em contexto de palavras. O texto introduz ainda ao leitor conceitos básicos na produção e análise de fala, tanto do ponto de vista descritivo, acústico e estatístico. Palavras-chave: Análise de Voz e Fala. Identificação de Vogais. Redes neurais Artificiais. Análise Cepstral. Reconhecimento de Padrões.

1 - Introdução Na sociedade contemporânea é cada vez maior a interação entre o homem e a máquina. Com o advento das mais avançadas de tecnologias, esta comunicação tem se tornado cada vez melhor, entretanto mais dependente e complexa. Diante deste contexto, a comunicação homem-máquina ainda oferece inúmeras possibilidades de exploração, e devido à informatização dos processos e à difícil adequação dos envolvidos, a comunicação realizada através da fala torna-se uma alternativa viável para a melhoria e expansão desta interface. Editores de textos e softwares por comando de voz são uma realidade, embora necessitem aperfeiçoamento. O reconhecimento por comando de voz funciona, porém não é completamente robusto, devido a particularidades como gírias, chavões e regionalismos. Desta forma estes sistemas de reconhecimento de elementos de fala ainda possuem potencial de melhoria, tornando-se assim um vasto campo a ser explorado (MÜLLER, 2002), em especial como uma etapa do processo de identificação de falantes baseadas em características de alto nível (REYNOLDS et al., 2003). Muitas empresas de tecnologia investem em técnicas de decodificação e quantificação de sinal da locução, sempre com o objetivo de preservar a informação de voz e fala e, em consequência,

seu reconhecimento. A partir desta perspectiva o presente trabalho irá propor a identificação de padrões simbilantes em registros acústicos. Inicialmente será realizado a composição de um corpus, coletado por procedimento padronizado, e a partir deste foram separadas as fricativas /s/ e e /z/ de contexto de palavras e posteriormente analisado padrões acústicos, utilizando uma combinação de de técnicas de reconhecimento de fala por padrões estatísticos e métodos quantitativos para codificação de sinais. 2 - Fisiologia do Trato Vocal O discurso é o produto acústico final de movimentos voluntários, formalizados dos aparelhos respiratório e mastigatórios. O comportamento motor da produção da fala é adquirido, desenvolvido, controlado e mantido pela realimentação (feedback) acústica do mecanismo de audição e pela realimentação (feedback) sinestésica da musculatura da fala. A informação oriunda destes sentidos é organizada e coordenada pelo Sistema Nervoso Central e usados para conduzir a função da fala (FLANAGAN, 2013). Qualquer prejuízo ao mecanismo de controle, normalmente degrada o desempenho do aparelho vocal o que atrapalha o processo natural de comunicação, como apresentado pela figura 1.

Figura 1 – Processo de comunicação. Fonte: Elaborado pelos autores, adaptado de Flanagan (2013).

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A função de inalação, que expande a caixa torácica, provoca a redução da pressão de ar dos pulmões criando a movimentação de uma corrente de ar (fluxo) através de narinas, cavidade nasal, véu palatino e traqueia. O ar é normalmente expelido pela mesma via. No processo de alimentação, a mastigação ocorre na cavidade oral, quando o alimento é ingerido as estruturas na entrada da traqueia são alocadas sob a epiglote que protege a abertura das pregas vocais e evita que o bolo alimentar vá para a traqueia. No mesmo movimento a epiglote proporciona a passagem do bolo alimentar para o esófago, que encontra-se fixo contra a parede de trás da garganta, e para o estômago (FLANAGAN, 2013). O trato vocal é um tubo acústico não uniforme, com área de secção transversal altura, largura e índices de perdas e reverberação variáveis. Em um homem adulto o tubo vocal tem cerca de 17 centímetros de comprimento e é deformado em corte transversal pelo movimento

das articulações; ou seja, os lábios, mandíbula, língua e véu. O trato vocal tem início pela constrição das pregas vocais na parte superior da traqueia. e é terminado pelos lábios. (FLANAGAN, 2013). O trato nasal constitui um caminho auxiliar para a transmissão de som que começa no véu e termina nas narinas. No homem adulto a cavidade tem um comprimento de cerca de 12 cm e divide-se sobre uma parte da sua extensão da frente para trás por meio do septo nasal. O acoplamento acústico entre as vias nasais e vocais é controlado pelo tamanho da abertura no véu palatino. Em tal caso, o som pode ser irradiado a partir da boca e narinas. Em geral, o acoplamento nasal pode influenciar substancialmente o caráter do som irradiado a partir da boca. Para a produção de sons não nasais o véu fica firmemente acima e veda efetivamente a entrada para a cavidade nasal (FLANAGAN, 2013). A figura 2 apresenta um diagrama esquemático dos principais elementos fisiológicos do trato vocal.

Figura 2 – Diagrama esquemático do mecanismo vocal humano. Fonte: Elaborado pelos autores, adaptada 123RF ID 11713021, de Flanagan (2013).

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A fonte de energia para a produção da fala está nas musculaturas torácicas e abdominais. O ar é expelido pela contração da caixa torácica e o aumento da pressão pulmonar. A produção dos sons das vogais no mais suave nível requer uma pressão pulmão de 4 cm H20 (aproximadamente 392,3 Pa). Para sons agudos muito altos, por outro lado, as pressões são de cerca de 20 cm H20 ou mais (FLANAGAN, 2013). O ar é forçado a partir dos pulmões, que passa através da traqueia para a faringe. A parte superior da traqueia é composta pela laringe. A estrutura cartilaginosa que abriga dois lábios de ligamento e músculo é denominada prega vocal. O orifício como uma fenda entre as pregas é chamado de glote. As estruturas protuberantes, salientes, posterior e acima das pregas, são as cartilagens aritenoides. Estas cartilagens apoiam as pregas e facilitam o ajuste da tensão. As principais cartilagens que não compõe o trato vocal são a tireoide e a cricoide posterior (FLANAGAN, 2013).

3 - Consoantes Fricativas Um segmento consonantal é determinado pelo som gerado devido a obstrução total ou parcial das correntes de ar nas cavidades supraglotais, podendo esta ser fricativas ou não. Em contrapartida o segmento vocálico não apresenta nenhuma obstrução ou fricção (SILVA, 2007). Classifica-se um som consonantal em ralação a diferentes fatores, sendo eles: o estado da glote; a nasalidade; a posição dos articuladores ativos; e a maneira ou modo de Articulação. O estado da glote pode ser denominado vozeado quando as pregas vocais vibram no momento da produção de um determinado som. Isto ocorre devido a passagem de ar que ocasiona uma aproximação dos músculos estriados que formam a glote, gerando assim a vibração. Caso contrário, quando não há vibração, ou seja, os músculos que compõe a glote estão totalmente separados durante a passagem do ar, é denominado estado de glote desvozeado (figura 3).

Figura 3 - O estado da glote em segmentos vozeados (direita) e desvozeados (esquerda). Fonte: Elaborado pelos autores, adaptada de Osborne (2016) e Silva (2007, p. 28).

Segundo Silva (2007), um segmento oral ou nasal é determinado pela posição do véu palatino, e este pode ser acompanhado juntamente com a posição da úvula. Dependendo desta posição, durante a pronúncia de uma vogal, determinamos se o som será oral ou nasal. Se durante a fala a úvula estiver levantada, não permitindo a passagem de ar à cavidade nasal e consequentemente impedindo a ressonância nesta cavidade, produzindo um som oral. Entretanto, se a úvula estiver abaixada e o ar penetrar na cavidade nasal gerando uma ressonância, produzindo um som nasal. Denomina-se articuladores ativos, estruturas que se movimentam durante a fala, sendo elas: lábio inferior, língua, véu palatino e as pregas vocais. Os articuladores passivos são lábios superior, os dentes superiores e o céu da boca que se divide em alvéolos, palato duro, véu palatino e úvula. Para se definir o lugar da articulação é necessário observar a posição dos articuladores ativos em relação aos passivos. Mediante ao proposto estudo, os lugares da articulação mais importantes são labio-dental, dental e alveolar. Labiodental tem como articulador ativo o lábio inferior e o articulador passivo os dentes incisivos superiores (Exemplos: faca, vaca). O alveolar possui como articulador ativo o ápice ou lâmina da língua e como articulador passivo os alvéolos (Exemplos: sapa, zapata). Consoantes alveolares de diferenciam de consoantes dentais apenas com relação ao articulador passivo (SILVA, 2007). Pode-se também classificar os encontros consonantais quanto à maneira ou modo de articulação. O presente estudo irá abordar de maneia mais detalhada à maneira fricativa, determinadas pela aproximação dos articuladores durante a passagem central do ar, acarretan-

do em uma fricção. Para que ocorra esta fricção, a corrente de ar não pode ser totalmente obstruída, deve ocorrer passagem parcial deste ar. A denominação fricção é correlata do fenômeno de movimento turbulento do ar que flui pelo trato vocal. O símbolo fonético [f] é classificado como fricativa labiodental desvozeada, sendo este uniforme em todos os dialetos do português brasileiro. Um exemplo ortográfico é a palavra faca, cuja transcrição fonética é [‘faka]. O símbolo fonético v é classificado como fricativa labiodental vozeada, sendo este uniforme em todos os dialetos do português brasileiro. Um exemplo ortográfico é a palavra vaca, cuja transcrição fonética é [‘vaka]. O símbolo fonético [s] é classificado como fricativa alveolar desvozeada, sendo este uniforme em início de sílaba em todos os dialetos do português brasileiro podendo ocorrer com a articulação alveolar ou dental, havendo marca de variação dialetal em final de sílaba. Um exemplo ortográfico é a palavra caça, cuja transcrição fonética é [‘kasa]. O símbolo fonético [z] é classificado como fricativa alveolar vozeada, sendo este uniforme em início de sílaba em todos os dialetos do português brasileiro podendo ocorrer com a articulação alveolar ou dental, havendo marca de variação dialetal em final de sílaba. Um exemplo ortográfico é a palavra casa, cuja transcrição fonética é [‘kaza] (SILVA, 2007). A tabela a seguir apresenta a classificação das consoantes, com mecanismo de ar pulmonar, de acordo com o International Phonetic Alphabet (IPA - Alfabeto Fonético Internacional). A tabela classifica as consoantes de acordo com modo de articulação, ponto de articulação e vozeamento.

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Tabela 1 – Tabela de consoantes (mecanismo de corrente de ar pulmonar)

Fonte: IPA (International Phonetic Alphabet), 2005.

4 - Análise por componentes Me-Cepstrais Na abordagem realizada por Oppenheim e Schafer (2010), define-se o cepstrum discreto como a transformada inversa de Fourier (IFT - Inverse Fourrier Transform) do logaritmo do módulo da transformada de Fourier de tempo discreto (DTFT - Discrete Time Fourrier Transform) de um sinal. Em contra partida, o calculo do cepstrum complexo omite a etapa de extração do módulo da transformada de Fourrier, e é definido apenas como a IFT do logaritmo da DTFT, ficando respectivamente definidos como as equações a seguir.

é uma escala logarítmica perceptual definida por Stevens, Volkmann e Newman (1937), que tem por objetivo manter os tons de frequência equidistantes tomando como referência 40 dB acima do limite de percepção humana em 1000 Hz. Observando-se a anatomia da cóclea humana (figura 4) é possível constata-se que a sensibilidade da membrana basilar as frequências audíveis segue uma escala logarítmica. Entretanto, a transformação da escala linear de frequência para a escala mel não é única, sendo a fórmula mais popular definida por O’shaughnessy (1987) pela equação:

Assim como o cepstrum complexo, o cepstrum real permite o desacoplamento das amplitudes dos modelos fonte-filtro, sendo com y[n] a correlação do sinal x[n] com o filtro h[n], tem-se a seguinte relação cepstral:

Com base nestes conceitos, os componentes mel cepstrais de um sinal são definidos a partir da soma da potência cepstral de uma faixa espectral dentro da escala mel. Em termos práticos para obter-se um componente mel-cepstral de um sinal é realizado o somatório da potência cepstral, no domínio da quefrência, de um sinal filtrado em uma determinada faixa de acordo com a escala mel. A componente mel cepstral (MFCC - Mel Frequency Component Cepstrum) pode ser definida como a potência cepstral de uma faixa de frequência na escala mel. Uma das abordagens mais difundidas é descrita por Togneri e Pullella (2011). Cada uma das K componentes mel cepstrais será calculada, em cada quadro de N pontos, a partir de uma faixa espectral obtida pela aplicação de um filtro centralizado em uma frequência na escala mel (geralmente triangular) sobre o módulo da transformada de Fourier (figura 4). Em seguida é calculado o logaritmo do espectro filtrado e a transformada discreta cosseno do tipo 2 (DCT-II - Discrete Cosine Transform - type II), conforme etapas de cálculo apresentadas na figura 5.

Em seguida, tomando o logaritmo e em seguida a transformada inversa de Fourrier:

A transformada de Fourier transforma o domínio do sinal do tempo para frequência, a transformação cepstral alterara do domínio do tempo para o domínio da quefrência, tal nomenclatura (e outras similares) foram propostas no trabalho de Borgert, Healy e Tukey (1963). A escala mel, com nome derivado da palavra melodia (melody),

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Figura 4 - Diagrama da distribuição perceptual de frequências na cóclea e do banco de filtros para obtenção dos componentes mel-cepstrais. Fonte: Elaborado pelos autores e adaptado de Stevens, Volkmann e Newman (1937) e Togneri e Pullella (2011).

Figura 5 – Etapas na obtenção dos componentes mel-cepstrais. Fonte: Elaborada pelos autores, adaptada de Togneri e Pullella (2011).

Tendo como |X(ejω)| o módulo da transformada de Fourier do quadro x[n] calculado utilizando a janela espectral de Hanning e Hn(ejω ) o n-ésimo dos K filtros na escala mel, obtém-se Sn como:

Para um valor de x fixo, a função,

indica a verossimilhança de cada um dos possíveis valores de θ Assim, cada coeficientes mel cepstrais é obtido pela transformada discreta cosseno da forma:

5 - Inferência Bayesiana e Modelo de Mistura de Gaussianas Na estatística, é sempre necessária uma informação sobre uma quantidade de interesse θ. Entretanto na grande maioria das vezes esse valor é desconhecido e a intensidade desta incerteza pode assumir diferentes graus. O Teorema de Bayes veio na tentativa de reduzir este desconhecimento utilizando de modelos probabilísticos (EHLERS, 2007). Considerando uma quantidade de interesse desconhecida θ e resumindo em termos probabilísticos p(θ), sabe-se que é possível aumentar a informação ao observar-se uma quantidade aleatória X. De acordo com a teoria Bayesiana tem-se uma regra utilizada para quantificar o aumento da informação,

enquanto que p(θ) indica a distribuição a priori de θ. Fazendo a combinação dessas duas indicações obtêm-se a distribuição a posteriori de θ , determinada por p(θ|x). Assim, o teorema de base é representado por,

Denomina-se de distribuição a posteriori ou preditiva, a distribuição esperada para a observação x, dado θ. Logo,

Segundo Ehlers (2007), um grande interesse neste processo é a previsão do mesmo em pontos não observados do tempo ou espaço. Ou seja, ao se observar X = x será feita uma previsão de uma quantidade Y , que também estará relacionada a θ e pode ser resumida probabilisticamente como p(y|x,θ). Tal distribuição preditiva pode ser obtida através de:

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Portanto, quando ocorre uma independência condicional entre X e Y , dado θ obtém-se:

Só é possível atribuir uma previsão se Y for uma quantidade observável. Muitas das vezes a expressão acima não apresenta uma solução analítica, tornando necessária a utilização de métodos de aproximação.

Note-se então que as distribuições a priori e a posteriori são relativas àquela observação que está sendo considerada no momento, ou seja, p(θ|x) é a posteriori de θ em relação a X, mas a priori de θ em relação a Y (EHLERS, 2007).

O modelo de mistura de gaussianas (GMM - Gaussian Mixture Model) visa aproximar uma função de densidade de probabilidade de uma variável aleatória pela soma ponderada de funções de distribuição normal. Dada um função de densidade de probabilidade normal N(x|μ,Σ) de uma dimensão, definida e expandida para n dimensões da forma:

Por exemplo, se considerarmos uma massa de dados conforme distribuída na figura 6 a seguir, em sequência pode-se obter o seu modelo de misturas de gaussianas de uma massa de dados multidimensional. A figura 7 apresenta o calculo da GMM como uma rede.

Figura 6 – Histograma de dados e Modelo de Gaussianas Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 7 - Rede do Modelo de Mistura de Gaussianas Fonte: Elaborada pelos autores.

Desta forma, temos para uma determinada massa de dados x, o modelo θ que define a mistura de gaussianas e é composto por θ, sendo que a probabilidade de um vetor de dados x ter sido gerado pelo modelo θ é dado por:

Uma propriedade da função de densidade de probabilidade é que a área sobre a função é unitária, desta forma, integrando o modelo de misturas de gaussianas tem-se que:

A expectância, também conhecido como esperança matemática

ou valor esperado de uma variável aleatória é a soma das probabilidades de cada possibilidade de saída da experiência multiplicada pelo seu valor. O algoritmo de maximização da expectância (EM - expectation–maximization) é um método iterativo para encontrar máxima verossimilhança (ML - maximum likelihood) de parâmetros em modelos estatísticos, onde o modelo depende variáveis latentes não observadas. A etapas do algoritmo EM alternam entre os passos de cálculo da expectância (passo E), onde utiliza-se uma função para o calculo da log-verossimilhança que é avaliada a partir do modelo presente; e um passo de maximização (passo M), que calcula os parâmetros que maximizam a log-verossimilhança até obter-se o modelo de máxima verossimilhança. O algoritmo EM foi sugerido a primeira vez por Dempster A.P.; Laird (1977) entretanto, as analises de convergência do algoritmo só foram sanadas posteriormente por Wu (1983). O algoritmo consiste em maximizar a verossimilhança entre um modelo de mistura de gaussianas θ e um conjunto de dados X = { x0,x1,..., xT}. Se considerarmos, por simplificação, que os dados xi são independentes entre si (REYNOLDS D. A.; ROSE, 1995), a probabilidade de observação do conjunto X dados o modelo θ é:

A log-verossimilhança L{X|θ} pode ser obtida combinando o logaritmo, na forma:

Desta forma a ideia básica do algoritmo de maximização da verossimilhança consiste em obter, a partir de um modelo inicial θi um

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novo modelo θ i+1 onde L{X|θi+1} ≥ L{X|θi}. O novo modelo é obtido a partir do modelo atual e o processo se repete até atingir um limiar de convergência. Para o calculo no modelo i + 1 são utilizadas as condições descritas por (MCLACHLAN G.J.; BASFORD, 1988), que resultam nas equações a seguir, garantem o incremento monotônico do modelo:

6 - Análise Exploratória dos Resultados Inicialmente foram coletados registros acústicos de seis locutores e através do software Praat, foi possível realizar a separação dos mesmos em quadros, onde foram identificadas as fricativas e separadas em três gabaritos, /s/, /z/ e “demais sons”. Posteriormente os gabaritos foram utilizados para agrupar os MFCC’s de cada classe de som. A extração das MFCC’s foi realizada com 24 componentes, onde cada quadro possuía tamanho de 20 ms e o passo entre quadros adjacentes de 10 ms. Portanto, para cada componentes obtémse um vetor que permite avaliar a capacidade de distinção de cada componente mel-cepstral. Para realizar tal distinção, avaliando o comportamento da magnitude do MFCC de cada índice para cada classe temos suas densidades de probabilidade estimadas. A estimação de densidade de probabilidade não paramétrica é realizada pela ponderação de uma função de núcleo. Silverman (1986) e Scott (2015) mostram que a densidade de probabilidade estimada f(x) é definida da forma:

A probabilidade da mistura i dado o vetor de dados xt e o modelo de mistura de gaussianas θ pode ser calculado como: EQUAÇÃO 20, arquivo: “Equacao_20_300dpi_Larg_16cm.jpg” Entretanto, no algoritmo de maximização da expectância, a escolha tamanho G do modelo e de suas configurações iniciais θ0 podem ser fatores críticos de sua convergência, e não existem boas escolhas capazes de garantir um bom modelo inicial. Este fato motiva que técnicas alternativas de busca da máxima log-verossimilhança possam ser discutidos para contornar estes problemas.

Onde N é o número de amostras da variável aleatória e h o intervalo do domínio de x que a função kernel K(x) abrange. Para o caso em que a função K(x) é uma distribuição uniforme com h constante, f(x) será o histograma das N amostras. As figuras 16 apresentam as densidade estimadas dos MFCC’s de índice 1 a 24. Tais componentes foram selecionadas devido ao fato de apresentarem uma maior separação entre as consoantes fricativas do restante sonoro.

Figura 8 – Densidade de probabilidade estimadas de algumas MFCC’s. Fonte: Elaborada pelos autores.

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A figura 8 a seguir apresenta o traçado das componentes, com o intuito de se obter informações específicas das consoantes fricativas (/s/ ou /z/). Ou seja, através do gráfico analisou-se a capacidade das característica de distinguir entre as fricativas alvo do presente estudo e restante material sonoro. As componentes apresentadas na figura 8 contribuem para distinguir, as consoantes fricativas /s/ ou /z/ do restante. Nota-se que existem áreas de intercessão entre as curvas, entretanto, na composição de várias dimensões a separação pode ficar mais evidente. Na tentativa de agrupar as consoantes fricativas /s/, /z/ e o restante foram calculadas as distâncias Euclidianas (DUDA; HART; STORK, 2004), entre as médias das características de cada indivíduo, conforme as equações a seguir.

Onde D é a dimensionalidade das classes, e neste caso D = 24. Os resultados para os cenários acima descritos são apresentados respectivamente nas figuras abaixo. O traçado da distância euclidiana representa uma matriz (figura 10), onde as cores representam as distâncias em que as consoan-

tes fricativas /s/, estão da /z/, do restante e dela mesma e vice-versa. Sendo que o branco indica a menor distância possível e a cor branca a maior distância. Portanto, ao relacionar a fricativa /z/ com a fricativa /s/, identificamos a cor escura, ou seja, distância pequena. De acordo com as figuras acima, percebe-se que ao cruzar a fricativa /z/ com o resto e o resto com a fricativa /z/, obtêm-se no ponto de encontro cor próxima ao branco, indicativo de uma distância longa. Isto mostra que é possível fazer uma separação eficiente destes grupos. Em contrapartida, ao cruzar as fricativas s com o resto e o resto com a fricativa s, esta distância reduz, indicando que a separação destes grupo tornou-se um pouco mais complexa. Após avaliar a capacidade de distinção entre as fricativas /s/, /z/ e os demais sinais sonoros a etapa natural é a parametrização das funções densidade de probabilidade por modelos de misturas de gaussianas para o calculo da probabilidade a posteriori de uma determinada amostra ser ou não oriunda de uma determinada classe. A figura 9 a seguir apresenta as etapas para avaliação de uma amostra (quadro) de áudio é uma das fricativas /s/ ou /z/, primeiro extraindo as MFCC’s, em seguida parametrizando por GMM’s e por fim aplicando o teorema de Bayes.

Figura 9 – Etapas para utilização do MFCC e GMM na separação das fricativas. Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 10 – Distância Euclidiana e probabilidade a posteriori. Fonte: Elaborada pelos autores.

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Tabela 1 – Tabela com o erro de estimação por GMM.

Fonte: Elaborada pelos autores.

As três classes (“demais sons”, s/ e /z/) foram separadas e para as amostras disponíveis de cada classe foram levantados os Modelos de Mistura de Gaussianas (GMM’s) contendo 7 distribuições Gaussianas, de dimensionalidade 24, e matriz de covariância diagonal. A pré separação dos modelos de misturas foi realizada utilizando o algoritmo C-médias e o ajuste pela maximização da expectância. Obtidos os GMM’s a partir dos dados de cada classe foi calculada a probabilidade a posteriori dos conjuntos de dados pertencerem a cada classe conforme apresenta a figura 10. Em seguida cada quadro de componentes cepstrais foi submetida a cada modelo de classe e avaliada a probabilidade máxima a posteriori (MAP – maximum a posteriori), a classe que apresentasse o MAP foi escolhida e comparada com sua classe de origem para avaliar o erro de estimação estatística que é apresentado na tabela 2. Nota-se que os resultados apresentam acerto de classificação acima de 93%, de forma que o desempenho, baseado apenas na informação estatística apresentou resultados muito significativos. Tal resultado é importante do ponto de vista da robustez estatística, entretanto avaliando o posicionamento das ocorrências notou-se que algumas ocorrem nas adjacências das fricativas enquanto outras ocorrências apareceram em ambientes de ausência de fala. Esta observação indica que um refinamento mais preciso, principalmente na indicação de presença ou ausência de atividade de voz, deve ser utilizada em complementação ao presente trabalho. 7 - Conclusões A metodologia utilizada, utilizando inferência Bayesiana e GMM mostrou-se eficaz na separação das três classes de sons (“demais sons” /s/ e /z/) se combinadas com métodos computacionais para a maximização da expectância, que confiram a máxima verossimilhança entre o modelo e a massa de dados observados. Tal fato foi confirmado através da estimativa de erro percentual calculado pela probabilidade de distribuição a posteriori, onde a fricativa /z/ apresentou menor índice, seguido pelos “demais sons” e pela fricativa /s/. Observando-se nas três classes um índice de acerto percentual acima de 93 %. É importante frisar, todavia, que os resultados encontrados devem ser ponderados, pois ainda existe possibilidade de melhorias. Mais estudos, realizados com maior controle experimental e com diferentes contextos ainda precisam ser realizados. Além disso, é importante aumentar a amostra, e parear também os resultados por idade, sexo e naturalidade. Para a continuidade do presente trabalho os autores propõe explorar os padrões dos demais sons fricativos mais comumente encontradas, incluindo os sons das africadas; realizar o recorte em relação a

presença de vibração das pregas vocais (vozeamento), aprofundando os estudos em detecção de atividade de voz e em contextos articulatórios contínuos. Os autores apontam ainda que as possibilidades no estudo de sons da fala é extremamente amplo, possibilitando uma vasta gama de recortes e casos particulares capazes apontar padrões matemáticos que contribuem para o entendimento e desenvolvimento de sistemas baseados no suporte por voz e fala. REFERÊNCIAS BOGERT, B. P.; HEALY, M. J.; TUKEY, J. W. The quefrency alanysis of time series for echoes: Cepstrum, pseudo-autocovariance, cross-cepstrum and saphe cracking. In: CHAPTER. Proceedings of the symposium on time series analysis. [S.l.], 1963. v. 15, p. 209–243. DEMPSTER A.P.; LAIRD, N. R. D. Maximum likelihood from incomplete data via the em algorithm. Journal of the Royal Statistical Society, Vol. 1, p. 1–38, 1977. DUDA, R. O.; HART, P. E.; STORK, D. G. Pattern classification. [S.l.]: John Wiley & Sons., 2004. EHLERS, R. S. Análise de séries temporais. Laboratório de Estatística e Geoinformação. Universidade Federal do Paraná, 2007. FLANAGAN, J. L. Speech analysis synthesis and perception. [S.l.]: Springer Science & Business Media, 2013. v. 3. MCLACHLAN G.J.; BASFORD, K. Mixture Models: Inference and Applications to Clustering. [S.l.]: Dekker, 1988. MÜLLER, D. N. Compreensão da linguagem falada. Porto Alegre: PPGC-UFRGS, 2002. OPPENHEIM, A.; SCHAFER, R. Discrete-Time Signal Processing. [S.l.]: Pearson, 2010. OSBORNE HEAD & NECK Institute, http://www.voicedoctorla.com/voice-disorders/vocal-nodules-nodes/, acessado em 11/05/2016. O’SHAUGHNESSY, D. Speech communication: human and machine. [S.l.]: Universities press, 1987. REYNOLDS, D. et al. Beyond cepstra: exploiting high-level information in speaker recognition. In: CITESEER. Proceedings of the Workshop on Multimodal User Authentication. [S.l.], 2003. p. 223–229. SCOTT, D. W. Multivariate density estimation: theory, practice, and visualization. [S.l.]: John Wiley & Sons, 2015. SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. [S.l.]: Contexto, 2007.

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Autores 1 - Adelino Pinheiro Silva: é bacharel (2004) e mestre (2007) em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais, e capacitado (2009) em Fonética Forense junto a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Membro efetivo da Associação de Criminalística do Estado de Minas Gerais - ACEMG. Atualmente cursa o Doutorado no CEFALA/UFMG (Centro de Estudos da Fala, Acústica, Linguagem e Música) atua na Seção Técnica de Engenharia Legal no Instituto de Criminalística de Minas Gerais, onde realiza exames técnicos e pesquisas, leciona no Centro Universitário Newton Paiva e na Academia de Polícia Civil. E-mail: adelinocpp@gmail.com. 2 - Daniel Gonçalves Gomes: é técnico em Eletrônica (2010) pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG, atualmente é graduando em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário Newton Paiva, é estagiário em Engenharia Elétrica na Philips Medical Systems. 3 - Elizângela Mara Rodrigues de Oliveira: é técnica em Processamento de Dados (2004) pelo CENTEC e atualmente é graduanda em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário Newton Paiva, atualmente estagiária em Engenharia Elétrica na PRODABEL. 4 - Nathália Amorim Zolini: é bacharel em Fisioterapia (2009) pelo Centro Universitário Newton Paiva e atualmente é graduanda em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário Newton Paiva, possui experiência na elaboração da documentação de engenharia em projeto e

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AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS NANOCERÂMICOS NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE PLACAS AUTOMOBILÍSTICAS DE AÇO-CARBONO Aline Rodrigues Benfica1 Adenilson Vieira de Souza2 Camila Rodrigues Benfica3 Rafael Aganetti Duarte4 Marcos Vinicius Ribeiro5

RESUMO: O revestimento de fosfato é o tratamento de superfície mais utilizado na indústria automobilística para proteção anticorrosiva. O principal objetivo é a formação de uma película protetora capaz de proporcionar uma melhor aderência da tinta para aumentar a resistência ao desgaste do metal. Nos últimos anos este método tem recebido inúmeras críticas devido a utilização de metais tóxicos e geração de efluentes. O revestimento nanocerâmico que utiliza compostos básicos de zircônio é uma alternativa ainda pouco explorada pela indústria. Neste trabalho avaliou-se a eficiência na resistência a corrosão de placas de aço-carbono comparando-se os revestimentos de fostato e nanocerâmicos. Em laboratório industrial foram realizados ensaios de caracterização visual; resistência ao impacto; adesão; resistência à imersão a água e resistência a corrosão em névoa salina. Os resultados indicaram que as placas apresentaram melhor resistência à corrosão com revestimento nanocerâmico. Uma vantagem da nova tecnologia é realização do processo a frio, o que possibilita economia de energia e redução de custos. Palavras-Chave: Resistência à corrosão. Nanocerâmico. Fosfato. Placas metálicas.

INTRODUÇÃO Nanotecnologia O prefixo “nano” tem origem grega e significa “anão” e reflete bem o mundo da Nanotecnologia que engloba todo tipo de desenvolvimento tecnológico dentro de uma escala variando entre 0,1 e 100 nanômetros (1nm = 10-9 m). Nesta escala, um material passa a se comportar com base na física quântica, que difere em vários pontos da física clássica. As propriedades térmicas, ópticas, magnéticas e elétricas podem ser atingidas quando certos materiais são submetidos à miniaturização em nanopartículas, mantendo-se a mesma composição química (TOMA, 2005). De uma maneira geral, os principais benefícios do avanço da Nanotecnologia são o controle das características desejáveis nos materiais; otimização do uso de recursos naturais; menor impacto ambiental dos processos produtivos; desenvolvimento de fármacos com menores efeitos colaterais; aumento da capacidade de processamento de sistemas computacionais (ZAPAROLLI, 2005). O desenvolvimento da nanociência apresenta alguns fatos históricos importantes como o desenvolvimento da microscopia eletrônica de varredura (1931) e de tunelamento (1981); a descoberta das moléculas de fulereno (1985) e nanotubos de carbono (1991). Em termos de divulgação dos conhecimentos desta nova área temos a publicação do livro “Engines of Creation - The Coming Era of Nanotechnology” de autoria do professor Eric Dexler do Massachusetts Institute of Technology em 1986 (ZAPAROLLI, 2005). Roupa impermeável resistente e da mesma textura do algodão e eliminadora de suor; vidros para automóveis e óculos mais resistentes ao risco e com antirreflexo; televisores que aumentam o contraste; equipamentos esportivos leves e resistentes; cosméticos com aplica-

ção mais profunda na pele; revestimentos protetores superiores aos convencionais, dentre outros, são exemplos de produtos nanotecnológicos comercializados em nível mundial (TOMA, 2005). Na área de tratamento de superfície, diversos estudos estão sendo realizados objetivando o desenvolvimento de tratamentos que apresentem propriedades superiores às obtidas pelo processo convencional da fosfatização. Esta nova tecnologia destaca-se pelo fato de concentrar-se em escala nanométrica, sendo estes materiais classificados como nanomateriais e os processos conhecidos usualmente como nanotecnologia. O desenvolvimento deste tipo de tratamento encontra-se em fase inicial, sendo que seu êxito depende da possibilidade de controle das variáveis de produção e estabilidade do processo, assim como a garantia de que as propriedades provenientes do tratamento de superfície sejam constantes, além de custos aceitáveis para a indústria automotiva, um dos maiores consumidores deste tipo de tratamento (ZARO, 2010). Nanotecnologias Aplicadas ao Tratamento Superficial Devido às restrições ambientais impostas pela legislação, a indústria automobilística tem buscado novas tecnologias alternativas referentes à sua linha de pintura, visando à geração de menores quantidades de resíduos e reduções significativas do uso de recursos naturais. A nanotecnologia aparece neste contexto, como uma alternativa ao processo de fosfatização, através da aplicação de um filme nanométrico de material cerâmico sobre substratos metálicos, isentos de metais pesados e componentes orgânicos. Podemos destacar dois tipos de tecnologias nanocerâmicos, uma que utiliza produtos à base de oxilanos, formando sobre o substrato uma nanocamada inorgânica que necessita de uma posterior etapa de secagem e outro baseado em oxifluoreto de zircônio, for-

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mando uma camada de conversão óxido metálico/ oxifluoreto de zircônio, que não necessita de secagem (TESTA, 2005). Comparando-se o uso de nanotecnologia em relação à fosfatização, podemos destacar as seguintes vantagens: - Menor consumo de energia, visto que na maioria de seus estágios, opera-se a temperatura ambiente; - Baixíssima formação de lama; - Menor número de estágio e custo de manutenção; - Baixo consumo de água; - É isenta de fosfato, Ni e Mn. No que diz respeito à resistência à corrosão, a nanotecnologia apresenta características semelhantes ou levemente inferiores às apresentadas pela fosfatização. Em recente trabalho, Bossardi (2007)

realizou ensaios eletroquímicos em aço pintado, com pré-tratamento à base de fosfato e nanotecnologia. Em meio ácido, Bossardi (2007) verificou que o aço pintado com pré-tratamento à base de nanotecnologia apresentou resistência à corrosão ligeiramente superior ao aço pintado com pré-tratamento à base de fosfato. Tratamento de Superfície com Nanocerâmico Segundo Bossardi (2007), essa nova geração de tratamentos superficiais nanotecnológicos foi descoberta recentemente para substituir os processos de convencias que utilizavam fosfatos. O processo que utiliza nanocerâmicos está livre de metais pesados e tem como característica a fina camada formada, cuja espessura do filme formado é de escala nanométrica, como mostrada na Figura 1:

Figura 1 - Morfologia das camadas nanocerâmica e de fosfato de ferro sobre o aço Fonte: TESTA, 2005 Entre os revestimentos desenvolvidos para substituir a fosfatização e banhos livre de cromo, os banhos nanocerâmicos baseados em zircônio e/ou titânio tiveram grande aceitação. Os banhos usados são normalmente uma solução aquosa de fluoretos de boro, sílica, titânio

ou zircônio, conforme evidenciado na Figura 2. O banho pode conter polímeros orgânicos para uma maior proteção à corrosão. Além disso, uma pequena quantidade de hexafluor pode ser adicionada para aumentar a dissolução do filme de óxido formado (ZARO, 2010).

Figura 2 - Mecanismo de formação da camada nanocerâmica Fonte: REIS, 2005 pÓS EM REVISTA DO CEnTRO UnIVERSITÁRIO nEWTOn pAIVA 2016/2 - nÚMERO 13 - ISSn 2176 7785 | 47


A incorporação de nanopartículas cerâmicas em tintas oferece uma melhor qualidade nas tintas comercializadas. Durante o processo de pintura, as nanopartículas flutuam livremente na tinta, de tal forma que quando as peças são colocadas em altas temperaturas para o processo de cura da tinta, as redes cruzadas de nanopartículas formam uma densa rede ao contrário das longas cadeias moleculares formadas na pintura convencional, conforme evidenciado na Figura 3. Isso permite ao verniz uma proteção mais

eficaz à peça contra o desgaste. O revestimento nanoestruturado assume, após sua deposição e secagem, boa resistência a corrosão se comparado com fosfato de ferro convencional, além de uma camada fina e uniforme, conferindo outras características especiais no recebimento de camada de tinta como: aderência, flexibilidade e ausência de efeito revelador de fundo.

Figura 3 - Micrografias comparativas da morfologia da camada nanocerâmica Fonte: Baldin, 2013 Baseado em uma combinação com metais tais como ferro e/ou titânio e/ou zircônio, o revestimento nanocerâmico é produzido rapidamente e a película depositada é obtida dentro de 20 e 30 segundos. A camada de conversão nanocerâmica é aplicada em um processo multi-estágio. Um processo típico inclui uma etapa de desengraxe alcalino, 2 lavagens, o banho cerâmico e uma última lavagem com água deionizada seguida da secagem. O processo nanocerâmico de conversão é, consequentemente, mais curto que os processos de fosfatização (DRONIOU et al., 2005). Os benefícios da utilização desta nova tecnologia estão no âmbito ambiental, econômico e social. Em termos ambientais a nova conversão é isenta de metais pesados, isento de fósforo, proporciona redução significativa de lodos e limpeza e o banho não precisa ser descartado somente adicionando reforços. Na questão econômica pode-se ressaltar que o produto trabalha em temperatura ambiente, tempo de tratamento reduzido, redução no custo de tratamento de efluentes e baixo investimento inicial. Em termos sociais podem-se levar em consideração os aspectos anteriores como significativos para toda a sociedade (TESTA, 2005). Segundo Zaparolli (2005), a principal vantagem é que o processo nanocerâmico permite a substituição dos fosfatos de ferro e zinco, utilizados há mais de 150 anos em processos de pré-tratamentos de metais, mas que exige elevados gastos em tratamento dos efluentes resultantes do processo. No Brasil, mais de 40 empresas já realizam testes com esta tecnologia, enquanto na Europa o ritmo de adesão ao tratamento superficial por nanotecnologia é de uma linha de produção a cada semana, dentre as quais se destacam algumas do setor de linha branca. Além da substituição do fosfato de ferro, que exige elevados gastos em tratamento dos efluentes resultantes do processo, o tratamento com esta nova tecnologia é realizado a frio e apresenta um desempenho à corrosão superior de cerca de 95% quando comparado aos processos convencionais à base de fosfato (BEZERRA et al, 2007). Materiais O material utilizado para a produção dos corpos-de-prova (CPs)

foram chapas em aço carbono de acordo com a NBR ABNT 1008:2003, e chapas revestidas de zinco por imersão a quente (galvanizadas) com gramatura de 60 g/m² (7,5 µm) em ambos os lados, apresentando espessura de 0,8 mm e com dimensões de 200 mm X 100 mm baseada na NBR ABNT 7008:2003, que foram fosfatizadas e revestidas com nanocerâmico. A quantidade de corpos-de-prova utilizados foram de 10 CPs, sendo 5 CPs do revestimento nanocerâmico e 5 com o revestimento fosfatizado, sendo que todos revestidos com uma tinta Poliéster Liso PCT 1N, para que então seja possível avaliar a influência do recobrimento no processo de pintura. A seguir, descreve-se o procedimento experimental adotado em cada dos testes realizados para avaliação da eficiência dos revestimentos em estudo. 3.2 Métodos 3.2.1 Caracterização Visual

As superfícies do aço carbono devem ser uniformes e estar livres de impurezas, áreas sem revestimento, bolhas, de fluxo e qualquer outro defeito. As superfícies das amostras devem estar isentas de oxidação e impurezas que dificultem a remoção na etapa de desengraxe. 3.2.2 Resistência ao Impacto

Os ensaios de impacto obedeceram à norma ITA 50454:2012 – Item 2.5.3.3. O ensaio utilizou o equipamento para impacto Erichsen ® GMBH modelo 226, conforme mostra a Figura 4 formado por um êmbolo de massa 2,0 Kg, com uma guia rígida podendo alcançar altura máxima de 80 cm com escala de 5 cm e um pino de impacto com ponta esférica de 20 mm de diâmetro. Para o ensaio, a chapa foi posicionada na base do aparelho e presa com o auxílio da rosca de fixação. A altura do peso foi regulada para 20 cm, soltou-se então a alavanca que prende o peso, deixando-o cair livremente, com um peso de 2 kg. O corpo de prova foi retirado e verificado logo em seguida. Neste ensaio a interpretação é feita relacionando à altura, em polegadas, em que se visualizam ranhuras, trincas ou defeitos na camada de tinta.

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Figura 4 - F i g u r a esquemática do equipamento para ensaio de resistência ao impacto ERICHSEN GMBH® 226 Fonte: Elaborado pelos autores 3.2.3 Adesão

O teste seguiu a metodologia descrita pela Norma NBR ABNT 11.003:1990 (adaptada para a Norma ITA 50461:2005 – Item 2.5.4.1). Para realizar o teste, cortou-se o filme da superfície com estilete, usando pressão suficiente para chegar ao substrato metálico, repetindo o procedimento mais 12 vezes, cruzando os primeiros em um ângulo de 90º. Desse modo, formou-se uma grade de 24 quadrados com 1 mm de distância um risco do outro. Em seguida, foi colocada uma fita adesiva filamentosa da marca 3M sobre a área quadriculada. A fita foi pressionada contra o substrato metálico para garantir

um bom contato com o filme. Aguardou-se cerca de 90 segundos e uma das extremidades da fita foi puxada rapidamente. A área ensaiada foi avaliada segundo a especificação, não sendo admitido destaque do estrato de verniz da superfície quadriculada, mas somente tendo a remoção das rebarbas das margens dos quadrados. O grau de aderência é dado pela inspeção e comparação com a classificação conforme NBR ABNT 1.003:1990 apresentado na Figura 5 e Tabela 1. O ensaio descrito acima foi executado nas condições a novo, imersão em água 24 horas à 60 ± 2°C mais imersão em água 48 horas à 40 ± 2°C

Figura 5 - Grau de aderência Fonte: NBR ABNT 1003:1990 PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2016/2 - NÚMERO 13 - ISSN 2176 7785 | 49


Tabela 1 - Classificação dos resultados de testes de aderência Fonte: NBR ABNT 1003:1990 CLASSIFICAÇÃO

DESCRIÇÃO

5B

As extremidades dos cortes estão completamente lisas, polidas. Nenhuma das superfícies dos quadrados foi destacada. Pequenas partes da tinta são destacadas nas intersecções dos cortes. Cerca de 5 % da área quadriculada foi afetada. Pequenas partes da tinta são destacadas ao longo das extremidades e nas intersecções dos cortes. A área afetada varia de 5 a 15 % da área quadriculada. A tinta destacou-se ao longo das extremidades e em partes dos quadrados. A área afetada foi de 15 a 35 % da área quadriculada. A tinta destacou ao longo das extremidades dos cortes em grandes tiras e todos os quadrados foram afetados. A área afetada foi de 35 a 65 % da área quadriculada. Escamação e descolamento a níveis superiores aos obtidos pelo grau 1B. A área afetada é maior que 65 % da área quadriculada.

4B 3B 2B 1B 0B

3.2.4 Resistência imersão à Água

Neste ensaio, foi possível determinar a resistência dos tratamentos nanocerâmicos e fosfatizadas à imersão em água nas temperaturas de 60ºC a 24 horas conjugado com mais 40ºC a 48 horas. O ensaio foi realizado de acordo com a ASTM D870-02, em que duas chapas de cada pré-tratmento estudados foram submetidos a esse teste. A área ensaiada foi avaliada segundo a especificação, não sendo admitido destaque do estrato de verniz da superfície quadriculada, mas somente tendo a remoção das rebarbas das margens dos quadrados, após o teste de aderência. A avaliação foi baseada em observações visuais como produtos de corrosão e mudança de coloração no decorrer do ensaio. 3.2.5 Resistência à corrosão em névoa salina

Neste experimento foram testados 4 CPs das 2 formas de prétratamento com a pintura eletrostática (poliéster), sendo 2 com o revestimento nanocerâmico e 2 com o fosfatizado. O ensaio foi realizado conforme ASTM B117:2009 (adaptadas para a Norma ITA 50180:2011 Item 2.5.6.1) dentro dos seguintes parâmetros: temperatura 35°C, taxa de coleta média para área de coleta horizontal de 80 cm² de 1,5 mL/h, concentração de NaCl (na solução coletada) de 50 ± 5 g/L, pH (solução coletada) de 6,5 a 7,2, com duração de 48 horas, intervalo entre avaliações de 48 horas. E por se tratar de chapas fosfatizadas e nanocerâmicos, este ensaio tem duração de 500 horas em névoa salina,

respeitando as condições descritas anteriormente. Após a saída das chapas do salt-spray, as mesmas são avaliadas não sendo permitidos focos de corrosão na superfície da chapa, exceto 1 cm das bordas. É tolerado uma propagação de corrosão visível após destaque com a fita adesiva filamentosa da marca 3M, ≤ 2 mm na região adjacente a incisão. RESULTADOS 4.1 Caracterização Visual Na Figura 6 é possível observar o aspecto das chapas de aço carbono após serem submetidas a 2 revestimentos distintos. A chapa fosfatizada apresenta o aspecto acinzentado característico do tratamento de fosfatização, em que visualizamos que a mesma já possui um processo de corrosão mesmo após o processo de tratamento; a chapa com o tratamento com o nanocerâmico, ao invés de apresentar uma camada cinza e cristalina produzida pela fosfatização, apresenta uma camada dourada, brilhante e mais uniforme. É interessante ressaltar que a chapa fosfatizada apresenta uma característica visual totalmente diferente da nanocerâmica, onde a fosfatizada apresenta camadas “abertas” o que facilita o processo de corrosão. Já a chapa com o processo nanocerâmico possui uma camada mais uniforme, impedindo assim o processo corrosivo e a Figura 7 apresenta as chapas tratadas e pintadas com tinta em pó preta lisa.

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Início de Corrosão

Figura 6 - Aspecto das chapas de aço carbono após serem revestidas com o fosfato e nanocerâmico Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 7 - Aspecto das chapas de aço carbono após serem revestidas com o fosfato e nanocerâmico pintadas com tinta a pó preta lisa. Fonte: Elaborado pelos autores

4.2 Ensaios de Resistência Mecânica Os ensaios mecânicos de impacto e aderência foram realizados com a finalidade de verificar a ancoragem fixação da tinta nos tratamentos estudados neste trabalho. Os corpos-de-prova, após passarem pelos tratamentos estudados, foram pintados com tinta a pó preta poliéster lisa. Abaixo segue a discussão dos resultados dos ensaios realizados neste trabalho:

4.2.1 Resistência ao Impacto

Os resultados obtidos após o ensaio de impacto também demonstram um excelente desempenho em todos os casos, ou seja, não houve aparecimento de rachaduras ou destacamento do filme de tinta. A Figura 11 apresenta o aspecto da amostra pré-tratada com fosfato e nanocerâmico, onde estão demarcadas as regiões submetidas ao ensaio de impacto, e este comportamento foi obtido com os dois tratamentos, apresentando excelente ancoragem entre o tratamento de superfície e a pintura.

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Sem desplacamento e trincas

Sem desplacamento e trincas

Figura 8 - Aspecto das chapas de aço carbono após serem revestidas com fosfato e nanocerâmico, pintadas com tinta a pó preta lisa e submetidas a teste de impacto com 2kg. Fonte: Elaborado pelos autores 4.2.2 Teste de Adesão

O teste de aderência tem o objetivo de verificar a adesão da tinta no substrato de aço com cada pré-tratamento estudado. Todos os corpos-de-prova obtiveram grau zero de acordo com a NBR ABNT

(a)

11003:1990, o que demonstra uma ótima adesão da tinta no substrato. A Figura 9 apresenta o aspecto da amostra tratada com fosfato, nanocerâmico e pintada. Independente do tratamento, o comportamento foi o mesmo, conforme Figura 10.

(a)

(b)

Figura 9 - (a) Imagens da adesão para aço- carbono fosfatizado e pintado, (b) aço carbono com nanocerâmico e pintado após o ensaio de aderência. Fonte: Elaborado pelos autores (a)

Sem desplacamento

Sem desplacamento

Figura 10 - Teste de Adesão em chapas revestidas com fosfato e nanocerâmico Fonte: Elaborado pelos autores 52 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2016/2 - NÚMERO 13 - ISSN 2176 7785


4.2.3 Resistência a Água

A Figura 11 mostra os resultados obtidos durante a exposição das amostras tratadas submetidas ao ensaio de imersão em água destilada. Com 24 horas de exposição a 60ºC não foi possível observar pontos de corrosão vermelha na amostra fosfatizada e também na amostra tratada com nanocerâmico. Nas chapas tratadas com nano-

cerâmico, com 48 horas a 40ºC não houve aparecimento de corrosão ou blisters, e o mesmo ocorreu com a chapa fosfatizada. Portanto, os dois tratamentos se mostraram eficientes a essas condições, e não apresentou desplacamento após a imersão por 24 horas a 60ºC mais 48 horas a 40ºC.

Sem desplacamento

Sem desplacamento

(a) Figura 11 - Teste de resistência a água por 24 horas a 60ºC e depois por 48 horas a 40ºC, em chapas revestidas com fosfato e nanocerâmico. Fonte: Elaborado pelos autores

4.2.4 Resistência a Corrosão a Névoa Salina

No ensaio de exposição à névoa salina das chapas tratadas e pintadas com tinta em pó poliéster lisa na cor preta, sendo que a partir das 48 horas de exposição, começaram a aparecer alguns pontos de corroSem desplacamento são vermelha no corte e formação de blisters, conforme pode ser observado na Figura 12. Esse comportamento se manteve até 312 horas, no caso da chapa fosfatizada, ou seja, com 13 dias de exposição a névoa. As chapas tratadas com nanocerâmicos não apresentaram corrosão no corte com exposição a névoa e sem o aparecimento de blisters. (a)

Princípio de corrosão e formação de blisters.

O teste evidencia que o processo nanocerâmico torna o material mais resistente, justamente por formar uma camada nanométrica que faz com que suas moléculas fiquem mais unidas e não deixando lacunas para futuras corrosões. Já o material submetido ao processo de fosfatizaSem desplacamento ção apresenta camada micrométrica, sendo mais ampla deixando assim espaço entre os interstícios de sua formação de camada. Desta forma, o processo anticorrosivo é facilitado se comparado com o processo nanocerâmico que possui um recobrimento de melhor qualidade.

Ausência de corrosão e de formação de blisters.

Figura 12 - Teste de Salt-Spray evidenciando a formação de blisters e corrosão mais acentuada na chapa fosfatizada, e na chapa com nanocerâmica apresentando corrosão mais branda e sem formação de blisters. Fonte: Elaborado pelos autores

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho realizou-se um estudo comparativo entre 2 tipos de tratamento de superfície distintos: nanocerâmico e fosfatização, avaliando-se o efeito de ambos tratamentos na resistência à corrosão de placas metálicas de aço-carbono utilizadas na indústria automobilística. Com os resultados obtidos, conclui-se que o tratamento nanocerâmico utilizado no pré-tratamento da pintura automotiva desempenhou, na maioria das análises, um efeito importante na inibição da corrosão das placas. Alguns dias antes de aplicação da tinta poliéster, a placa fosfatizada já apresentou início do processo corrosivo, devido a formação da camada de fosfato ser mais aberta (escala micrométrica) enquanto a camada do processo nanocerâmico ser mais fechada (escala nanométrica). No teste realizado de Salt-Spray a 500 horas, a placa com processo de fosfatização apresentou processo de corrosão com 312 horas através do aparecimento dos blisters. Enquanto a placa com processo nanocerâmico resistiu ao teste sem a formação de blisters, se mostrando um processo mais eficiente. O engenheiro químico é o profissional que atua melhorando os processos industriais na busca de redução de custos, eficiência no uso de recursos naturais e aplicação de medidas que melhorem o desempenho ambiental. A corrosão é um dos maiores desafios tecnológicos da indústria automobilística, o que foi percebido neste trabalho através da aplicação de diversos conhecimentos aprendidos durante a graduação. AGRADECIMENTOS A Fernando Sanches Plana (Baja Acessórios Ltda) por permitir a realização dos experimentos do trabalho no laboratório da empresa e a Profa. Vanderlea Martins da Rocha pela orientação metodológica deste trabalho de conclusão do curso em Engenharia Química.

NBR ABNT 11003:1990 - Tintas. Determinação da aderência. NBR ABNT 1008:2003 - Chapas e bobinas de aço revestidas com zinco. NBR ABNT 7008:2003 - Chapas e bobinas de aço revestidas com zinco ou com liga zinco-ferro pelo processo contínuo de imersão a quente

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NORMA FCA ITA 50180 - Item 2.5.6.1. Prova de corrosão. Itália, 2007. NORMA ITA 50453 - Item 2.5.3.2. Prova Tipo 1E-Coat - Prova de estiramento da tinta com aparelhos de mandril cônico. Itália, 2000. NORMA ITA 50454 - Item 2.5.3.3. Prova Tipo 1E-Coat - Prova de estiramento da tinta com aparelhos de mandril cônico. Itália, 2012. NORMA FCA ITA 50461 - Item 2.5.4.1. Prova de adesão de revestimento inorgânico e orgânico mediante a quadratura. Itália, 2005. NORMA FCA ITA 50488/01 - Item 2.5.3.4.1. Resistência à golpes de pedra de tintas, esmaltes, revestimentos de proteção. Itália, 2013. NORMA FCA ITA 50488/01 - Item 2.5.3.4.2. Resistência à golpes de pedra de tintas, esmaltes, revestimentos de proteção. Itália, 2013. NORMA FCA ITA 50488/01 - Item 2.5.3.4.3. Resistência à golpes de pedra de tintas, esmaltes, revestimentos de proteção. Itália, 2013. Norma FCA ITA 50493/04 - Determinação da resistência à propagação da bolha de corrosão sotto pellicolare (Scabem Door). Itália, 2011. NORMA ITA 50754 - Item 2.3.3.1 - Determinação do peso de camadas de fosfato sobre substratos de aço e/ou suportes zincados. Itália, 1989.

NOTA DE FIM 1-Graduanda em Engenharia Química. alinerodriguesbenfica@gmail.com 2-Graduando em Engenharia Química. dequimico@yahoo.com.br

6. REFERÊNCIAS TOMA, Henrique Eisi. A nanotecnologia das moléculas. Química Nova na Escola, 21, 1-7, 2005. ZAPAROLLI, Domingos. Tratamento de superfície: nanotecnologia substitui fosfatização. Química e Derivados, 12-22, jun/2005. ZARO, Gustavo. Revestimento nanocerâmico a base de Zr e Zr/Ti como pré-tratamento em aço galvanizado. Trabalho de Diplomação (Engenharia de Materiais). UFRGS, Porto Alegre/RS, 75f., 2010.

3-Graduanda em Engenharia Química. kmilabenfica@gmail.com 4-Graduando em Engenharia Química. rafael.ad93@gmail.com 5-Técnico em Química Industrial, Licenciado em Química, Especialista em Engenharia Sanitária e Tecnologia Ambiental e Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Minas. Professor Adjunto do Centro Universitário Newton Paiva. E-mail: mvribeiro@ymail.com

TESTA, Adbemar. Camadas de conversão nanocerâmicas. Tratamento de Superfície, 130(25), 38-43, 2005. BOSSARDI, Kelly. Nanotecnologia aplicada a tratamentos superficiais para o aço carbono 1020 como alternativa ao fosfato de zinco. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais). UFRGS, Porto Alegre/RS, 87p., 2007.

BALDIN, Estela Knopp Kerstner. Pré-tratamento do aço-carbono AISI 1010 com revestimentos nanocerâmicos para pintura eletrostática a base de resina poliéster. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais). UFRGS, Porto Alegre/RS, 82p., 2013. DRONIOU, Patrick; WILLIAN, Fristad; JENG-LI, Liang. Nanoceramic-based conversion coating: ecological and economic benefits position process as a viable alternative to phosphating systems. Metal Finishing, 103(12), 41-43, 2005. BEZERRA, Marcelo Barreto Pereira; SPINOLA, Adriana Tahereh Pereira; HEEMAN, Adriano. Identificação de processos alternativos mais limpos de tratamento de superfície metálicas para a indústria de linha branca. In: Anais do XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Foz do Iguaçu/ PR, 1-9, 2007.

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PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DE FILHOS EM CASAIS HOMOAFETIVOS Danielle Curi 1 Flávia Cristina de Souza Vieira 2

RESUMO: Com a intenção de compreender como o relacionamento dos pais com seus filhos, dentro da família, influencia no processo de desenvolvimento de constituição do sujeito, discorreremos sobre o conceito psicanalítico de identificação. Inicialmente, uma breve exposição sobre o conceito de família ao longo do tempo foi apresentada e alguns questionamentos, impasses e dificuldades encontrados pelas famílias homoafetivas foram levantados. Posteriormente, com a utilização de alguns conceitos freudianos e lacanianos, buscou-se compreender como acontece o processo de identificação do sujeito para então iniciarmos uma discussão sobre qual é o papel da família nesse período de desenvolvimento da criança, e se a sexualidade dos pais poderia interferir no processo de identificação de seus filhos. Palavra-chave: Identificação. Psicanálise. Famílias homoafetivas.

INTRODUÇÃO O conceito de família, como o conhecemos hoje, é uma construção social. Na Roma antiga, por exemplo, a família era designada como aquela que tinha a figura do chefe. Esse detinha a obediência dos que estavam sob sua tutela e eram considerados sua família. Esse grupo familiar era composto pelos agregados, servos, escravos e certamente por uma esposa e crianças, cuja a origem biológica era indiferente para o chefe. Já na Idade Média o conceito de família foi influenciado pela Igreja e o Direito Canônico, que passam a ver a família a partir do casamento, da união entre duas pessoas e não apenas pela liderança de um pai/chefe (ZAMBRANO, 2006). Com o passar dos anos e as mudanças por eles provocadas, a família começa a ser reconhecida como “centro de estruturação da sociedade”, sendo o lugar que detinha o poder político e econômico. Sob a influência da Revolução de 1792, na França, houve a separação da Igreja e do Estado, criando-se o Estado laico e, a partir dessa mudança, o casamento, antes visto como um sacramento, passa a ser um estado civil. Nessa época foi criando o Código Napoleônico que relacionava a filiação ao casamento, tendo como finalidade o fortalecimento dos vínculos entre mãe, pai e criança (ZAMBRANO, 2006). A partir do século XX, mais exatamente na década de 70, há a transição da família patriarcal, aquela que reúne familiares de diversos graus de parentesco (tias/tios, avós, primos, etc.), para as famílias nucleares constituídas por um casal e seus filhos. Essa mudança foi influenciada pela urbanização, processo em que os grandes grupos familiares que viviam e trabalhavam juntos em áreas rurais se separam em pequenos grupos ao mudarem-se para os centros urbanos. Já a década de 80 é marcada pela lei do divórcio e consequentemente pelas novas configurações familiares, como as famílias recompostas onde os filhos do antigo casamente se integram aos da nova união (UZIEL, 2002; OUTEIRAL, 2007). Com o passar dos anos e as constantes evoluções sociais, como a entrada definitiva da mulher no mercado de trabalho e sua independência financeira, métodos mais eficazes de contracepção, a constante busca pela igualdade de gêneros, as novas tecnologias reprodutivas, chegamos ao século XXI, período que se faz notável a diversificação das novas configurações familiares como, por exemplo, as monoparentais, em que apenas um dos pais é responsável

pela criação do filho, e as homoafetivas, formadas por um casal do mesmo sexo, podendo ter filhos adotivos ou biológicos, decorrentes de relacionamentos heterossexuais anteriores, inseminação artificial ou barriga de aluguel, prática não legalizada no Brasil (UZIEL, 2002; OUTEIRAL, 2007). Com esse pequeno apanhado histórico sobre a família, pôde-se notar que as mudanças de costumes, crenças, da economia e tradições proporcionaram à família a oportunidade de se reinventar, prática que vem possibilitando sua sobrevivência ao longo dos séculos. Embora os membros da família tenham se adequado a tais mudanças, a extinção da família ainda é vista como uma possibilidade e uma ameaça (PASSOS, POLAK, 2004). Em 2013 iniciou-se uma discussão sobre o conceito de família, quando foi proposto na Câmara dos Deputados o projeto de Lei nº 6.583/2013 denominado “Estatuto da Família” onde, em seu 2◦ artigo, a família é definida como um núcleo social formado através do casamento ou união estável de um homem e uma mulher, sendo estendido a seus pais e descendentes (Câmara dos Deputados, 2013. Informação eletrônica3). No dia 24 de setembro de 2015, o projeto de Lei nº 6.583/2013 foi votado e aprovado na Câmara dos Deputados. Dessa forma, qualquer instituição que não se enquadre a tal lei não será considerada família e, por consequência, não terá direito a receber assistência e os benefícios públicos destinados ao núcleo familiar. Na contramão daqueles que lutam para que a “família tradicional” seja o modelo ideal a ser seguido por toda sociedade, a família homoafetiva vem conquistando vitórias na reivindicação e reconhecimento dos seus direitos. Em 2013 o Conselho Nacional de Justiça aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. E em maio de 2015 a ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia Antunes Rocha, reconheceu o direito à adoção por casais homoafetivos. A ministra afirma que “o conceito de família não pode ser restrito por se tratar de casais formados por pessoas do mesmo sexo”, e completa dizendo que “famílias do mesmo sexo são consideradas sim, entidades familiares, asseguradas pela constituição” (AGENCIA PT, informação eletrônica4). Dentre as novas configurações familiares a homoafetiva é aquela onde casais do mesmo sexo - duas mulheres ou dois homens constituem uma união estável fundada no afeto. Uma vez que não se enquadra ao projeto de lei proposto na Câmara dos Deputados, esta seria diretamente afetada. Com sua exclusão do Estatuto da Família,

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os pares homoafetivos perderiam o direito a adoção como casais e, caso desejassem adotar uma criança ou adolescente, teriam que fazer a adoção como solteiro, privando, assim, o direito do filho de ser reconhecido por ambos os pais. As famílias homoafetivas vêm lutando pelo seu reconhecimento e são questionadas por parte da sociedade quanto à educação, à transmissão de valores, à segurança física e mental, os modelos materno e paterno e à influência na orientação sexual dos filhos. Um possível motivo para tantos questionamentos referentes ao conceito de família se deve ao conservadorismo decorrente de culturas religiosas tradicionalistas, que não reconhecem como família aquelas que não se enquadram no modelo tradicional nuclear-monogâmica-heteronormativo (ZAMBRANO, 2006). Mas afinal, o que é família? Por que ela é importante para o processo de constituição e identificação do sujeito? A relação homossexual dos pais traria consequências para a criança? Como se dariam as funções simbólicas materna e paterna em tais relações? Pensando nestes questionamentos e afim de aprofundá-los, o presente trabalho pretende, através de pesquisa de revisão bibliográfica das obras de Freud e Lacan, e leitura de artigos acadêmicos, abordar o processo de desenvolvimento e construção subjetiva do sujeito dentro do grupo familiar. Busca a compreensão do processo de identificação da criança a partir da teoria psicanalítica e a problematização da construção da identificação de filhos de casais homoafetivos.

A família é considerada, ainda hoje, a principal unidade de desenvolvimento do ser humano, responsável pela formação subjetiva do sujeito. Nos escritos freudianos (1924/1976) o Édipo é a principal referência à família e o modo pelo qual a criança passa por esse processo é determinante nas suas primeiras identificações e sua identificação sexual, que não é predeterminada como o sexo biológico, mas que deve ser construída e assumida pelo sujeito com o declínio do Édipo. Para a psicanálise, a identificação é um traço que possibilita a construção de uma cadeia de significantes, inaugurando o ideal do eu (STENNER, 2004). Sendo a identificação de fundamental importância no processo de subjetivação e humanização do sujeito (ZAMBRANO, 2006), uma vez que ela é conhecida pela psicanálise como responsável pelos laços emocionais entre os sujeitos (FREUD, 1922/1996). Segundo Freud (1922/1996), a identificação é um laço emocional do sujeito com outra pessoa. Esse processo de identificar-se com alguém é sempre parcial e limitado. O sujeito introjeta ao seu eu apenas traços da pessoa tomada como modelo ideal. Esse processo

intensidade entre a identificação materna ou paterna responsável pela disposição sexual do sujeito. Freud (1923/1925) afirma que as primeiras identificações são adquiridas muito cedo, em uma infância muito precoce, e seus efeitos são gerais e duradouros. Essa primeira identificação com os pais nos leva a origem do Ideal do Eu, onde o bebê se identificaria com o filho idealizado pelos pais. Essa identificação não seria resultado de um investimento objetal, pois não haveria ainda a distinção entre os sexos e a vivência da falta do pênis, e sim uma identificação direta. Buscaremos esclarecer o que aqui chamamos de identificação direta. Na infância ainda precoce a primeira forma de identificação do Eu é através da introjeção do objeto externo. Assim o Eu “engole” o objeto para absorvê-lo e integrá-lo ao seu interior, redimensionando a libido retirada do objeto para dentro de si. Portanto, a energia libidinal do Eu será investida no seu eu primitivo, processo nomeado por Freud de narcisismo primário (FREUD, 1914/1916) As escolhas de objeto referentes ao primeiro período sexual são relacionadas a pai e mãe. Freud (1923/1925) descreve essas relações a partir da natureza triangular da situação edípica e a bissexualidade constitucional do indivíduo. De maneira simplificada, a primeira relação amorosa ocorreria no menino em idade ainda precoce, quando esse desenvolveria uma catexia objetal pela mãe, tendo início no seio materno, objeto de amor condicionado ao prazer sexual e associado à satisfação de necessidades fisiológicas. Nesse momento o menino identificaria-se ao pai. As duas relações coexistiriam por um tempo, mas após a intensificação dos desejos sexuais do menino pela mãe, o pai passaria a ser visto como um obstáculo, o que daria início ao complexo de Édipo (FREUD, 1923/1925). O complexo de Édipo no menino, de acordo com Freud (1923/1925), seria resultado da ambivalência em relação ao pai e à relação objetal com a mãe, onde o desejo de tomar o lugar do pai na relação com a mãe faz com que a identificação com ele tome um caráter de hostilidade, com desejo de eliminação. Como resultado há o abandono da mãe como objeto de amor, podendo identificar-se a ela ou aumentar a identificação com o pai. Já na menina esse processo acontece de forma diferente. A menina também tem a mãe como primeiro objeto de amor. No entanto, precisa trocar seu objeto de amor originário – mãe, transferi-lo ao pai e identificar-se à mãe. Esse processo de mudança de objeto primário se dá com a descoberta da castração e a entrada da menina no complexo de Édipo. Assim, a menina atinge o complexo positivo depois de ter passado pelo complexo negativo, onde tem o pai como rival e deseja a mãe como objeto de amor (FREUD, 1927/1931). Em ambos os sexos pode ocorrer a inversão do complexo de

de identificação é apresentado de três maneiras na obra freudiana “Psicologia de grupo e analise do ego” (1921/1996), no texto intitulado “Identificação” (1922/1996). De acordo com o autor, na primeira, a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto; na segunda, a identificação se torna sucedânea para uma vinculação de objeto libidinal por meio da introjeção do objeto ao eu; e na terceira, a identificação pode surgir de um sentimento de simpatia por uma pessoa que não é tida como objeto de pulsão sexual. Em “O Ego e o Id” (1923/1925) Freud fala sobre o conceito de identificação a partir do declínio do complexo de Édipo, que resultaria em quatro tendências a produzir uma identificação paterna e uma identificação materna onde “a identificação paterna preservará a relação de objeto com a mãe que pertence ao complexo positivo e, ao mesmo tempo, substituiria a relação de objeto com o pai, que pertencia ao complexo invertido” (FREUD, 1923/1925. p.48). Ainda segundo o autor, o mesmo aconteceria na identificação materna. Então, seria a

Édipo, assim o menino que toma a mãe como objeto de seus investimentos libidinais passaria a identificar-se a ela e a destinar tais investimentos libidinais ao pai. No caso da menina, ela se identificaria à masculinidade do pai e destinaria seus investimentos amorosos à figura da mãe. Nos escritos freudianos (1923/1925) essa inversão é explicada a partir da lógica da bissexualidade infantil. Ao aprofundarmos os estudos sobre o tema encontramos o complexo de Édipo mais completo e sua duplicidade positivo e negativo referentes à bissexualidade original da infância. Portanto, o complexo de Édipo simples é uma simplificação do processo, não sendo o mais frequente. Devido à essa duplicidade, pode-se entender que o menino, além de ter uma relação ambivalente com o pai e tomar a mãe como objeto de sua escolha amorosa, também desempenha um comportamento feminino para com o pai e um sentimento de hostilidade e ciúmes com a mãe. Essa duplicidade referente à bissexualidade também pode ser observada no caso da menina, que poderá ter

DESENVOLVIMENTO: IDENTIFICAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO EU

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uma relação ambivalente com a mãe, tomando-a como objeto de seu desejo e identificando-se a ela (FREUD, 1923/1925). A dissolução do complexo de Édipo resultará em quatro tendências – completo positivo (normal) e negativo (invertido); simples positivo (normal) e negativo (invertido), que se agruparão e delas resultará uma identificação com a mãe ou o fortalecimento da identificação com o pai. A intensidade relativa à ambas identificações é que influenciará na predominância de uma ou outra disposição sexual (FREUD, 1923/1925). Com a dissolução do complexo de Édipo a criança abandona seus investimentos objetais e passa a identificar-se com eles. De acordo com Freud, “tal substituição participa enormemente na configuração do Eu e contribui de modo essencial para formar o que se denomina seu caráter” (FREUD, 1923/1925, p.35). Portanto, mediante a necessidade de abandonar um objeto sexual, o Eu introjeta em si características do objeto abandonado para forçar o Isso a abandoná-lo. A partir disso podemos entender que “o caráter do Eu é um precipitado dos investimentos objetais abandonados” (FREUD, 1923/1925, p.36). Lacan, a partir dos escritos freudianos, retomará a questão da identificação no “Seminário, livro 9. A Identificação” (1961-1962/ 2003), usando os conceitos de identificação simbólica e identificação imaginária para falar do processo de constituição do sujeito e os efeitos que os significantes exercem sobre ele. Para entender o conceito de identificação lacaniano primeiramente é necessário compreender o conceito de traço unário, uma vez que é esse conceito que marcará a diferença entre Freud e Lacan (SOUZA, DANZIATO, 2014). A noção de traço unário lacaniana se origina do conceito de traço único apresentado por Freud em seu texto sobre a identificação (1922/1996). Nesse texto freudiano a identificação é parcial e referente à introjeção de um traço do objeto tomado como modelo ao Eu. Lacan transforma o termo freudiano “único” em “unário” para introduzir a concepção de “um” que marca a diferença do conceito de identificação simbólica e imaginária em sua teoria (RINALDI, 2008). Não temos a intenção de aprofundar a teoria lacaniana neste momento. Embora ela tenha muito a contribuir com o presente trabalho, iremos apenas citar alguns de seus conceitos afim de esclarecer de forma breve a questão da identificação. Para entendermos como o significante marca o sujeito em sua singularidade no processo de identificação, distinguiremos o conceito lacaniano de identificação simbólica e imaginária para então entramos no conceito de nome próprio e suas contribuições para a identificação do sujeito. Com o propósito de discutir a relação entre o Eu e o Outro, Lacan (1949/1966), no texto intitulado “O estádio do espelho como formador

inserido no campo de linguagem (SOUZA, DANZIATO, 2014). Enquanto na identificação imaginária o sujeito tem a falsa ideia de fechamento de sentido, de completude, na identificação simbólica ele encontrará uma abertura para as significações, que o possibilitará buscar novos significantes a que se identificar. Dessa forma, a caracterização do sujeito vem de suas identificações aos significantes e nomeações dados pelo Outro. Portanto, podemos pensar nos papéis e funções desempenhados dentro da família como sendo determinados a partir dos significantes dados por seus membros. Assim, como exposto por Couto (2012, p.86), “pai, mãe e criança são apreendidos a partir de seus lugares significantes. É em relação a esses significantes, a essa constelação significante ofertada na família, que o sujeito se posicionará”. Caminhando para nossa finalização, podemos entender que na psicanálise a identificação é tida como parcial e limitada. Dessa forma, a criança se identificará com traços da pessoa tomada como objeto de identificação, podendo tomar como modelo algumas de suas características. Esse processo de identificar-se é iniciado em idade bem precoce e acompanha o sujeito constantemente em sua constituição. Ao pensarmos no processo de identificação do filho de um casal homoafetivo podemos nos recordar dos escritos freudianos (1923/1925) nos quais é dito que as primeiras identificações da criança não são resultado de um investimento objetal, porque ainda não há a diferenciação dos sexos. Deste modo, a relação homossexual dos pais não traria qualquer consequência para a criança, uma vez que a diferenciação dos sexos não se faz necessária nesse momento. Em um segundo momento, o sujeito/criança introjeta ao seu Eu um traço da pessoa tomada como modelo de identificação. Dessa forma podemos pensar na influência que o par parental homossexual poderia ter na constituição da subjetividade de seus filhos, uma vez que não há diferença na anatomia genital do par parental. Afim de tentar esclarecer tal questão, apontaremos o conceito de família na perspectiva lacaniana segundo Santiago e Santiago apout Couto (2012, p.77) [...] a família, para a psicanálise de orientação lacaniana, não está formada pelos pais e filhos (relação de filiação), e sim pelo Significante Nome do Pai [...] e Desejo da Mãe. Para a psicanálise, a família se constitui como uma estrutura simbólica, que exige a função pai como agente da castração, e de uma função mãe que, ao ter um interesse particularizado pela criança, aliena-a ao seu desejo. Ela constitui-se assim como o lugar do Outro Simbólico, que ao presidir a existência do sujeito, oferece a ele uma constelação de significantes que o permite incluir-se na ordem simbólica.

da função do eu tal como nos é revelada na experiência psicanalítica” propõe a teoria do estádio do espelho afim de problematizar sobre a constituição do sujeito a partir da imagem refletida no espelho. É a partir da imagem dual - mãe/bebê - refletida no espelho, que a criança poderá fazer sua primeira identificação com o que é o esboço de uma imagem ideal. Ideal à medida que é através da imago criada pelo olhar do outro materno que esse traço de desejo se constitui em um corpo. Essa identificação imaginária com o corpo unificado dá a criança a falsa ideia de completude, dando consistência ao seu corpo fragmentado, o que possibilita a formação do eu (SOUZA, DANZIATO, 2014). Assim, como há uma alienação do sujeito à imagem ideal na identificação imaginária, será através da alienação que o sujeito se identificará ao significante unário – nome próprio – que tem como função representá-lo no campo do Outro, uma vez que o nome é a marca do desejo do Outro, o qual o sujeito precisa se alienar para então ser

No caso de casais homossexuais as funções simbólicas também serão desempenhadas de acordo com as características pessoais de cada um dos pares. Como exemplo pensemos em uma família formada por dois pais: um deles poderá desempenhar de forma mais evidente o papel de autoridade, enquanto o outro se identificaria mais com o papel da função dita materna. A criança identificaria-se às funções exercidas pelo par parental e também às pessoas de seu convívio, uma vez que as identificações não se restringem somente aos pais, sendo estendidas a qualquer pessoa que faça parte da vida cotidiana da criança. Assim, a diferenciação sexual, marca do Complexo de Édipo, não seria prejudicada, uma vez que o enigma da criança a respeito de sua origem permanece e sua busca por respostas a conduzirá às teorias sexuais infantis e a elaboração do seu romance familiar. Couto (2012, p.87), em seu texto “As novas organizações familiares e a articulação entre o semblante e o real da família” afirma que, “qualquer

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que seja seu modo de procriação, a criança se tornará autora de sua existência, o intérprete singular de seu próprio desejo de existir”. CONSIDERAÇÕES FINAIS São vários os questionamentos feitos aos casais homoafetivos em relação à família. Entre eles temos: o da capacidade de procriação e, assim, da conservação da espécie; o de como seriam exercidos os papéis sociais de pai e mãe ou masculino e feminino; o das consequências que filhos de casais homoafetivos poderiam ter em relação à diferenciação dos sexos e às suas identificações. Tais questionamentos não se justificam uma vez que os avanços da ciência possibilitam a esses casais gerar filhos biológicos a partir da inseminação artificial. Além disso, os casais homossexuais também têm a alternativa da adoção, podendo estender seus laços afetivos àquelas crianças que foram abandonadas por seus pais biológicos. Os avanços da ciência também possibilitaram dissociar, no nascimento, a parentalidade e o biológico, o que tem distanciado cada vez mais a ideia de função materna e paterna ligadas a pai e mãe biológicos. Dentro das novas configurações familiares, essas funções são desempenhadas por outras pessoas, - avós, irmãos e casais homoafetivos - não se concentrando apenas nos pais biológicos. A autoridade paterna foi deslocada e abriu espaço para a igualdade de homens e mulheres, de filhos e pais, produzindo assim uma pluralização e rompendo com a forma clássica do complexo de Édipo (COUTO, 2012). A família não precisa mais se encaixar nos moldes rígidos de família ideal. A liberdade sexual possibilitou aos “diferentes” criarem novos arranjos e laços amorosos e sexuais na instituição família. Com a reinvenção da família, a função materna não é mais atribuída à mulher como obrigação, assim como a paterna atribuída ao homem. Nos casais homoafetivos por exemplo, essas funções são distribuídas de acordo com as características pessoais de cada um, cabendo ao sujeito a distribuição dos nomes pai e mãe de acordo com a constituição da sua família. É a partir das identificações e da transmissão do desejo a que o sujeito é submetido que podemos pensar na estrutura simbólica exercida pela família (COUTO, 2012). Pensando nisso, acreditamos ser importante esclarecer que dentro da família homoafetiva a função do “terceiro”, ou seja, daquele que irá barrar o desejo incestuoso mãe/ bebê será exercida pelo companheiro do pai ou da mãe. O fator fundamental não é o sexo do parceiro, mas sim a constatação por parte da criança de que há outra pessoa por quem a mãe/pai sente desejo. Após esse esclarecimento sobre o processo de identificação do sujeito e a evolução da família, objetivamos esclarecer que as famílias homoafetivas não constituem ameaça à existência da instituição família. Assim como a orientação sexual do casal parental não traria consequências à constituição do sujeito por meio das identificações, uma vez que essas são de caráter parcial e limitado e não se restringem apenas ao par parental. Dessa forma, os filhos de casais homoafetivos poderão se identificar com um traço da característica de seus pais e/ou com um traço da característica de terceiros, como irmãos, tios, avós, vizinhos e amigos ao longo de sua construção subjetiva e formação de identidade. REFERÊNCIAS AGENCIA PT. STP reconhece direito de adoção por casais homoafetivos. Agencia PT de notícias. 20 de março de 2015. Disponível em: <http://www. pt.org.br/stf-reconhece-direito-de-adocao-por-casais-homoafetivos/> Acesso em 25 de maio de 2015. BRASIL. PL 6583/2013, de 16 de outubro de 2013. Câmara dos Deputados. Dispõe sobre o Estatuto da Família e de outras providências. São

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NOTAS DE FIM 1 Psicóloga. Psicanalista. Mestre em Psicanálise pela Universidade Federal de São João del Rei e Especialista em Psicanálise pelo Centro Universitário Fumec. Professora Adjunta no Centro Universitário Newton Paiva. 2 Graduanda do quinto ano do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. 3 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=597005 4 http://www.pt.org.br/stf-reconhece-direito-de-adocao-por-casais-homoafetivos

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A MULHER DIVORCIADA E O SENTIDO DE VIDA: uma perspectiva fenomenológico existencial Fernando Dório Anastácio1 Déborah Christine de Paula2

RESUMO: O presente artigo procura descrever, por meio de um percurso histórico, a construção da identidade da mulher dentro do casamento. Busca-se compreender qual o impacto causado pela dissolução deste laço social na percepção do sentido de vida da mulher em situação de divórcio, entendendo esta instituição como um componente constitutivo da construção e visão de projeto de vida da mulher. A análise e as considerações acerca do sentido de vida buscam aprofundar a percepção e compreensão acerca do valor existencial de cada vivência, pois o sentido é individual e a própria motivação primária. O caminho percorrido, por meio da revisão bibliográfica, proporcionou um recorte histórico e uma percepção a partir da teoria fenomenológico existencial, acerca do casamento e do processo de divórcio que marcam o encontro da mulher divorciada na pós-modernidade com a angústia diante da finitude. Palavras chaves: Mulher divorciada. Sentido de vida. Pós - modernidade.

INTRODUÇÃO A história da conjugalidade oferece-nos o cenário para a compreensão do significado da instituição familiar na construção do sentido de vida da mulher divorciada na pós-modernidade. A apreensão deste fenômeno, a partir da perspectiva fenomenológico existencial, busca abarcar, por meio do seu percurso sociohistórico, o impacto causado pelo rompimento desse laço social, compreendendo, pois, que esta instituição possui o status de ser um componente constitutivo da visão de projeto de mundo desta mulher. Torna-se importante destacar que para a perspectiva fenomenológico existencial não há a diferenciação de gênero. Leva-se em consideração a visão de homem em sua totalidade ressaltando suas características humanas. No entanto, abre-se uma possibilidade para a análise desta questão quando se considera o ser em seu contexto biopsicossocial. Para realizar a análise proposta no objetivo deste artigo levar-se-á em consideração a historicidade dessa mulher com base no ser ontológico, proposto pela doutrina existencialista. Para atingir este objetivo, foi realizada uma revisão de literatura, com a finalidade de delinear este percurso no qual se encontram conceitos de família construídos a partir do conceito de instituições dentro de um sistema social, Desde então, “esta instituição passou a ser alvo de cuidados e proteção tanto por meio das leis como por meio da sociedade, visando à manutenção de costumes e tradições.” (CASABÍUS, 2004). Foram utilizados artigos científicos pesquisados nas bases de dados Scielo e BVS, obras de referência dentro da abordagem teórica fenomenológico existencial, artigos de periódicos, a Bíblia, o Código Civil Brasileiro (Lei do Divórcio), bem como o Manual de Normatização Newton 2014. Constata-se a partir desta pesquisa que há uma escassez de referencial teórico sobre este assunto, ou seja, a mulher divorciada e o sentido de vida a partir da abordagem fenomenológico existencial e, portanto, será feita uma tentativa de construção de algo novo que abarque os objetivos inicialmente traçados. Encontram-se, tanto na literatura laica como na religiosa, as mesmas questões em torno do casamento, pois essa instituição é vista como elemento de equilíbrio social, e, dentro dela, o que se exigia, era a ausência de paixões, a obediência e a subordinação da mulher. Esse modelo normativo visava eleger um padrão ideal de mulher para implantação da família e da fé católica. (PRIORE, 1992).

Por outro lado, a perspectiva existencial descreve esta instituição com um tríplice sentido: a procura de unidade, por meio da diferença e complementaridade, a motivação fundamental com a tentativa de realização biopessoal, e, por fim, de um projeto comum de convivência. Encontra-se na cultura ocidental a união dos conceitos sexo, amor, vida conjugal e família em uma proposta de vida a dois idealizada sendo, pois, necessário compreender que esses quatro aspectos da convivência humana são fenômenos vivenciais diferentes. (CASABÍUS, 2004). “Se o casamento implica em uma nova identidade para os cônjuges, o processo de separação e divórcio, por sua vez, determina a desconstrução dessa nova identidade, obrigando o sujeito a uma redefinição.” (FERES, CARNEIRO, 2003, apud ROLIM, WENDLING, 2012, p. 174). Tal análise existencial objetiva “trazer o homem à consciência do seu ser- responsável” perante um sentido de vida. Sendo assim, a angústia diante da finitude não pode ser entendida como adoecimento, mas como expressão do ser humano. Frente a isso, torna-se necessário descrever os valores que caracterizam a busca pelo sentido da vida como: valores criadores, vivenciais e de atitude que levam à apreensão do significado que a vida humana pode atingir. (FRANKL, 1989, p. 55). Ao analisar o problema do sentido de vida, percebe-se que os valores criadores se realizam mediante um fazer, os valores vivenciais se realizam na relação do sujeito com o mundo, mas os valores de atitude se realizam apenas frente ao inalterável e irresistível alcançando, desta forma, a sua plenitude não apenas no criar e gozar, mas também no sofrimento, pois, “no modo como cada um assume estes acontecimentos verifica-se uma série de incalculáveis possibilidades.” (FRANKL, 1989, p. 149). Essas considerações não se baseiam no que se compreende ser uma vida de êxito, mas no que é realmente importante acerca do valor e da dignidade da existência humana, “para logo nos depararmos com uma vivência mais profunda, em que as coisas, para além do êxito ou malogro, independentemente de tudo quanto seja feito, conservam a sua validade”. Percebe-se, portanto que a falta de êxito não significa falta de sentido. Pois o homem realiza criando, experimentando e, também, sofrendo. (FRANKL, 1989, p. 149). Ora, segundo Birman3 (1999, apud Flecha, 2011, p. 29), a pós - modernidade instaurou mudanças profundas e constantes nos padrões organizadores da forma de perceber e de se organizar do homem. Tais mudanças afetam a “ordem tradicional na qual o sujeito

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seria regulado pela longa duração das instituições, bem como pela permanência de seus sistemas de regras, que ofereciam segurança e certeza”. Essas marcas já não existem no homem pós-moderno. Buscar-se-á, pois, entender tais transformações por meio da Fenomenologia que é, etimologicamente, “o estudo ou a ciência do fenômeno” o qual busca a ampliação do campo fenomênico, desta forma, um retorno às coisas mesmas, compreendendo que o fenômeno é a maneira como o sujeito se relaciona ou percebe o significado das coisas ou vivências, atribuindo-lhe sentido. (DARTIGUES, 1992, p. 1). Somente por meio da percepção do fenômeno, o sujeito conhece a realidade externa revelando a intencionalidade da consciência por meio de sua relação com o mundo. Ou seja, o fenômeno é a essência que vai se relevando à consciência, é a forma como o mundo aparece como fenômeno, por meio da redução fenomenológica. Essa consciência “de” alguma coisa apreende o fenômeno nas suas várias possibilidades, pois, por meio da intencionalidade, o sujeito toma consciência de algo que está diretamente relacionado à percepção do sujeito transcendental do objeto transcendente. (DARTIGUES, 1992). Percorrer-se-á, portanto, o caminho para a compreensão das complexas dimensões da existência, descritas a partir da seguinte vivência - a Situação, que contempla o Tempo, o Espaço, o Outro, a Fala e a Obra, pois, possibilitam a apreensão do sentido dentro do próprio fenômeno e permitem tomar consciência de que o Ser de finitude é também Ser de projeto, em uma busca contínua do sentido de vida. (AUGRAS, 1986). Deste modo, é imprescindível pensar a existência como projeto e como a busca de realização, pois ela se caracteriza como sendo uma relação constante consigo mesma e com o mundo, em uma continua criação, um contínuo vir-a-ser. (ERTHAL, 1991). Portanto, o estudo deste fenômeno busca compreender o caminho para a construção do sentido de vida da mulher divorciada na pós-modernidade, e se justifica a partir da percepção do impacto causado pelo rompimento deste laço social e familiar, que marca a relação da mulher com o outro, dentro e fora desta instituição, resgatando o seu lugar de sujeito. Pois, de acordo com Heidegger4 (1962, apud AUGRAS, 1986, p. 56), “só percebo o outro, a partir da consciência de mim mesmo, como ser-no-mundo, e sendo ser-com-outro”. MULHER: UMA CONSTRUÇÃO SOCIOHISTÓRICA “A história da mulher, que tornou visível o que estava esquecido ou mesmo desapercebido” leva-nos ao século XIX, momento em que a mulher tem um espaço cuidadosamente marcado pelas representações e ideais masculinos. O conhecido historiador francês, Michelet5 (1959, apud PRIORE, 1992, p. 12-13), compreendia que “a mulher só teria papel benéfico neste processo, se dentro do casamento e enquanto cumprindo o seu papel de mãe”, pois, ao fugir da esfera privada, ela se tornava um mal, comparado às adúlteras e às feiticeiras. Por sua vez a Demografia histórica considerava a mulher tão somente como uma variável de reprodução, levando em conta apenas os casais, reafirmando o caráter patrilinear da história ao utilizar unicamente os patronímicos masculinos para o senso familiar. “A mulher, na história do Brasil, tem surgido recorrentemente sob a luz de estereótipos, dando-nos enfadada ilusão de imobilidade. Autossacrificada, submissa sexual e materialmente [...].” (PRIORE, 1992, p. 11). A união conjugal sempre esteve presente na história da humanidade, contudo assume contornos e características diferentes de acordo com o contexto “político, social, religioso, cultural e econômico de cada momento histórico.” (ZORDAN, 2010, apud ROLIM; WENDLING, 2012, p. 170). Ora, de acordo com Priore (1992), “o território do feminino na história não é um lugar sereno onde a mulher se locomove sem riscos, e onde o confronto e o conflito não imprimem suas marcas”. A história da

mulher é, antes de tudo, uma história de incompletude marcada por meio do discurso, representações e práticas sociais. Isso pode ser observado no Código Civil, em seu artigo 240, “que atribuíram à mulher casada o direito-dever de assumir o sobrenome do marido”, com o intuito de garantir-lhe identidade e identificação dando-lhe, desta forma, sentido de pertencimento e valoração social. (MONTENEGRO, 1977, p. 20). Tal lei contemporânea encontra seus pares em outras culturas e remete ao relato bíblico do livro de Cânticos, que descreve o pedido feito a uma jovem prometida ao rei Salomão: “coloca-me como um selo sobre o teu coração” ilustrando o uso do sobrenome do marido à tutela a qual a mulher era submetida, pois, tradicionalmente o sobrenome ou patronímico trazia significado e designação de uma família. (CANTARES, 2010, p. 615). No Brasil, o adestramento feminino estava ligado ao processo civilizatório sendo implantado por meio de dois grandes discursos: dos padrões ideais de comportamento e do discurso médico, ambos compactuando para o fortalecimento da ideia de que a função natural da mulher era a procriação. Observa-se, então, a domesticação de mulheres no interior do casamento, o que resultou na fabricação da “santa”, derivada da percepção de sua influência salutar ou perniciosa na família e na sociedade, marcando desta forma, a maternidade e feminilidade dessas mulheres. (PRIORE, 1993). O discurso sobre o uso dos corpos femininos e seus prazeres, imposto, sobretudo a partir da interpretação do livro bíblico de Gênesis (2010, p. 14.), quando da criação da mulher e seu papel no convencimento do homem de ceder à tentação, condenou a mulher a um lugar de subordinação, divinamente castigada, tendo as dores do parto e a submissão ao marido como forma de redenção e, portanto, leva no corpo a marca da luxúria. A única forma, pois, de se redimir seria por meio do casamento. “Deseja-se fechar a mulher na armadura da aparência para que ela não seja a imagem falaciosa de si mesma.” (PRIORE, 1992, p. 17). Falta à mulher, neste período histórico, o ideal para se casar, e a igreja, que despendeu séculos para formar uma mentalidade de contingência e convencimento por meio do discurso da oportunidade de redenção feminina, vê-se às voltas com uma mulher que busca nos tribunais eclesiásticos a solução de conflitos, por meio de processos de divórcio. “Com o fôlego das profundezas, as mulheres irão buscar na pregação religiosa que aparentemente lhes vítima e cerceia os mecanismos de resistência à exploração e ao sofrimento” revelando, neste momento, a outra face da mulher colonial que “são mais filhas de Eva do que de Maria.” (PRIORE, 1992, p. 20). Na pós-modernidade, “a família e toda a estrutura social foram expostas a um árduo processo cultural de redescrição na passagem do sujeito da ordem tradicional para a moderna.” (BIRMAN, 1999, p. 80). Nessa nova ordem social, o casamento passa a ser uma aspiração que busca preencher por um lado, a fantasia de perpetuar uma vida a dois por meio do amor e afetividade e, por outro, a necessidade de pertencimento que dissolva os limites da individualidade, “fundando um grupo que diminua em parte nossa contingência, e proporcione um sentido supra pessoal à nossa vida.” (CASABÍUS, 2004, p. 65). O conflito se revela ao se perceber que as motivações para essa união são, principalmente, ligadas ao desejo de perpetuar uma experiência afetivo-erótica plena. Mas os poucos pontos em comum entre essas duas vivências, tornam esta relação frustrante, pois o amor erótico ou paixão erótica se distingue pelo desejo e a necessidade de posse do objeto que o provoca, ao contrário do amor ou o amor parental, que implica em um relacionamento com o futuro objeto amoroso em busca de valorização, idealização, identificação e desejo. (CASABÍUS, 2004). Jablonski6 (1988, apud FÉRES-CARNEIRO, 2001, p. 87) afirma que “a ambivalência com que a sociedade age em relação ao casa-

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mento, estimulando concomitantemente monogamia/liberdade, vida a dois/individualidade, leva a um estado de confusão de valores e de atitudes que culmina em um grande número de separações e divórcios”. Tal crise, analisada por dados oficiais, aponta para um aumento expressivo dos casos de divórcios no Brasil. Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – (IBGE)7 registrou 243. 224 processos judiciais ou escrituras públicas de divórcios, e as separações totalizaram 67. 623. A partir da aprovação da lei do divórcio, há mais de três décadas, a ruptura desta estrutura deixou de ser o foco das preocupações daqueles que trabalham com esse fenômeno, pois a complexidade envolvida nesse processo, que se desenvolve entre o conflito, a ruptura e os seus desdobramentos, fazem com que o divórcio seja considerado uma crise vital contemporânea. Ao se considerar a complexidade envolvida na dissolução deste laço social, apesar de ser cada vez mais comum, entendese que esse fato é “uma interrupção no ciclo de vida familiar, levando a profundas transformações associadas a mudanças, perdas e ganhos, tanto para os cônjuges quanto para o grupo familiar como um todo.” (ZORDAN, 2010, apud ROLIM; WENDLING, 2012, p. 174). Nas sociedades ocidentais atuais, há menos pressão para a manutenção de “casamentos de fachada”, aceitando-se com maior naturalidade a ruptura das relações e o estabelecimento de novas uniões. Para investigar e compreender este fenômeno na contemporaneidade é necessário levar em consideração tudo que o circunda, lembrando que este não é um caminho linear, sendo, pois, necessário estar aberto para o novo, para a diversidade, pois as pessoas fazem tais escolhas buscando a felicidade ou na tentativa de evitar o sofrimento. (ZORDAN, 2010). Entende-se, portanto, que as separações conjugais são um fenômeno complexo no qual estão envolvidos aspectos pessoais, individuais, mas, também, aspectos contextuais que abrangem desde a família de origem, sua rede social e profissional, os quais são permeados pelas crenças, ideologias, sistemas econômicos e políticos que caracterizam a cultura de determinada sociedade. (ZORDAN, 2010). A MULHER E O SENTIDO DE VIDA O século XX revelou um homem marcado pela história que, mesmo entendendo não ser prisioneiro do seu passado, experimenta dificuldades em encontrar-se no seu mundo. Em um período de grandes transformações, quando os antigos valores e tradições se esvaziam e são abandonados, a busca por significado pessoal, é descrita como “a procura do homem por sua própria identidade.” (MAY, 1980, p. 16). Percorreu-se um longo caminho entre a imagem da mulher historicamente estereotipada, sendo esboçada como um ser imobilizado, sacrificado e submisso sexual e materialmente, até a compreensão de que o casamento, como qualquer outra relação social ou religiosa, não era o caminho para a redenção feminina. Tornar-se-á, portanto, necessário pensar na condição existencial desse ser antropológico, que existe em “alteridade”8 e percepção própria, por meio do encontro com o outro, compreendendo, pois, que a reciprocidade e não a incompletude, é o fator que motiva o encontro entre dois seres. Nessa interação com o outro o eu se dá conta de si, e será por meio desta relação que a personalidade se desenvolverá. Tal princípio de reciprocidade pressupõe a possibilidade de interação das várias dimensões desse ser plural em todos os níveis de consciência existencial, ou seja, mundo externo/ interno. (SEABRA, MUSZKAT, 1985). Assim, tomar-se-á por base a definição da instituição casamento por meio da perspectiva existencial, que a descreve com um tríplice sentido e como proposta de realização dos diversos aspectos da vivência humana em busca de complementaridade, realização e projeto de vida a dois.

Tem-se ciência, portanto, de que as relações estabelecidas em que se deseja o outro por inteiro e se pretende penetrar em sua intimidade por completo tem sérias consequências, pois, “os indivíduos passam a funcionar como reservatório inesgotável de conteúdos psicológicos latentes, e a satisfação da entrega total pode produzir uma sensação de esvaziamento.” (SIMEMEL9, 1950, apud FÉRES-CARNEIRO, 2001, p. 69). Com isso dá-se conta de que estabelecer uma relação não é se apaixonar, pois passar de uma paixão amorosa para um verdadeiro relacionamento significa passar do casal narcísico para a vida a dois. Portanto, ao se confrontar com o fato que o amor não pode livrá-lo de si mesmo e seu companheiro não pode responsabilizar-se por sua miséria interior, salvando o ser angustiado que se “o homem transforma esse castelo em uma prisão, em um lugar onde a busca contínua de reconhecimento do outro aponta para a fragilidade de identidade dentro da relação.” (CORNEAU, 1999, p. 227). A existência assume, dessa forma, características de uma luta dramática, não somente para encontrar, mas, também, para manter a identidade. O homem experimenta o que se chama de “experiência de vazio”, em um círculo vicioso da condição humana, onde a impotência diante de uma perda ou ameaça, converte-se em ansiedade. Essa sensação provém, em geral, da ideia da incapacidade para fazer algo de eficaz a respeito da própria vida e do mundo em que se vive. “[...] este sentir-se despido de significação como indivíduo” é um aspecto psicologicamente decisivo no homem contemporâneo. (MAY, 1980, p. 16). Deparamo-nos, então, com a questão crucial apresentada pela visão de homem existencial que, de acordo com May (1993, p. 53), como um ser emergente em formação: “eu existo neste dado momento no tempo e no espaço, e o meu problema é como me manterei consciente deste fato, e o que deverei fazer quanto a isso”. Desta forma, o homem ou o Dasein10 que “é um ser particular que tem de estar consciente de si mesmo, ser responsável por si mesmo, se pretende tornar-se ele mesmo”, toma consciência de sua condição de ser-aí em uma relação dialética com a finitude, ou seja, a morte. (MAY, 1993, p. 106). Portanto, a frustração diante da finitude de um projeto tem o potencial para permitir que o homem se torne ele mesmo observando as coisas de forma diferente, o que leva à conclusão que “a identidade humana nasce no caos”. Tomando consciência de que as relações com os outros (sejam negativas ou positivas) conservam-no viva e estimula sua criatividade, então, o outro passa a ser mais do que uma comodidade com o qual se deve adequar, eles permitem que verdadeiramente o homem se chegue a si mesmo. (CORNEAU, 1999). Não há como negar que tais “crises existenciais” colocam o homem em situação embaraçosa e desconfortável, mas em movimento. Elas o impulsionam a fazer novas escolhas e tomar novas decisões, que possam conduzi-lo a uma vida genuína e produtiva. O homem não recebe sua existência como uma obra já pronta e acabada, sendo assim, enquanto vive, ele deve ir progressivamente construindo-a, pois, “o indivíduo constrói a sua vida ao “construir-se” impulsionado pela atualização de suas potencialidades pessoais.” (RUDIO, 2001, p. 91). Assim, cada momento encerra milhares de possibilidades, mas só é possível escolher uma delas para realizá-la, condenando todas as outras, simultaneamente, ao não-ser, pois, no passado, têm-se realidades, em vez de possibilidades, e o futuro, em certa medida, depende da decisão que se toma em cada instante, o que torna necessário a descrição das dimensões da existência humana, pois tal vivência possibilita a apreensão do sentido dentro do fenômeno. (FRANKL, 1989). O divórcio, apontado como uma crise existencial e uma interrupção no ciclo de vida familiar as quais levam o homem a profundas transformações e mudanças que o obrigam a se resignificar, também revelam que uma crise é um elemento desencadeador de movimento,

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pois quando uma estrutura social é atravessada por profundas mudanças, “é compreensível que as pessoas sofram ao perceber que os códigos de moral estabelecidos e linhas de pensamento não mais oferecem segurança.” (MAY, 1993, p. 61). A mulher, cuja história e identidade foram marcadas pelas representações e ideais masculinos no século XIX, encontra-se, na pós-modernidade, afetada pela ausência dessa ordem tradicional que regulava o sujeito por meio da longa duração destas instituições. Quando a fragilidade desta estrutura foi revelada, vivenciou-se a angústia existencial diante da finitude. A partir da análise das complexas dimensões da existência, descritas a partir da seguinte vivência - a situação, que contempla o tempo, o espaço, o outro, a fala e a obra, intenciona-se chegar à compreensão da relação estabelecida pela mulher em situação de divórcio com o mundo externo e interno, entendendo, pois, que o modo como experimenta essa vivência, afeta sua forma de ser-no-mundo e de ser-com-outro de maneira saudável ou adoecida. Inicialmente, descrever-se-á o Tempo, pois é o meio pelo qual o homem é observado em sua maior contradição: a tensão entre permanência e transitoriedade, entre o poder e a impotência, a vida e a morte. O homem cria o tempo, mas não o determina e, portanto, o ser-no-mundo só pode permanecer como ser de projeto, assumindo sua temporalidade, transformando-se no ser para frente de si mesmo, pois sua situação é essencialmente ambígua e a estranheza, sentimento desta situação, deve ser compreendida como o fenômeno mais original no plano existencial e ontológico. (AUGRAS, 1986, p. 29). Um fator crucial do tempo em relação à existência reside em que ela emerge, isto é, está sempre em processo, não pode ser definida em termos de pontos estáticos, portanto, os acontecimentos do passado assumem seu significado de acordo com o presente e o futuro. “As experiências humanas mais profundas, como ansiedade, depressão e felicidade, ocorrem mais na dimensão do tempo que na do espaço, pois o tempo é situado no centro do quadro psicológico.” (MAY, 1993, p. 146). Atrelada ao tempo, a finitude se apresenta como um elemento constitutivo do sentido de vida humana, sendo assim, “tem que representar algo que dê sentido à existência e não algo que lhe tire isso”, pois a temporalidade fundamenta o seu caráter irreversível e a responsabilidade do ser diante de sua própria vida e da irrepitibilidade desta experiência em seu caráter único. “Como efeito, é o passado que o salva de ser passageiro, só são passageiras as possibilidades”, e desta forma transformam o instante em eternidade na tentativa de minimizar a angústia frente à inalteralidade do passado. (FRANKL, 1999, p. 109-124). Sequencialmente analisar-se-á a fala ou linguagem descrita por Augras (1986, p. 76) como “pura revelação da situação de um ente”,

missão marital. Esse corpo, cuja imagem e significação foram consideradas pecaminosas, interferiu diretamente na forma como essa mulher vivencia esta dimensão existencial. Entender-se-á, portanto, como as dimensões do espaço são criadas a partir das extensões do corpo, tendo o ser como seu centro. É o ser-aí que se expressa pela corporeidade vivida, sendo, ao mesmo tempo, espaço interno e, também, elemento de comunicação com o exterior, seu limite e fronteira que fazem diferenciação entre o eu e o não-eu. A partir disso, entender-se-á que o mundo humano é essencialmente da coexistência e que o encontro com o outro em uma vivência de alteridade não é justaposição ou complementaridade, mas, sim, presença mesmo sem o outro, pois, o ser no mundo, também é ser com os outros. (AUGRAS, 1986). Por esse viés, se compreende o que motiva o homem em sua busca por reconhecimento e realização, ou seja, a busca da compreensão de si, pois, “o homem não se compreende fora da relação com o mundo e, muito menos, por descrições de ações e comportamentos.” (MAGNABOSCO, 2015, p. 100). Concluir-se-á, que, ao examinar as diversas dimensões do ser, é possível perceber “que o mundo é construído: espaço e tempo são criações do homem, que dispõe da fala para tentar a superação da estranheza. Nesse sentido, pode se dizer que o mundo é obra do homem”, obra de um fazer contínuo que nada mais é do que o próprio processo da vida. Essa obra implícita desperta significado e requer apreciação, contemplação e aprovação, desta forma leva o autor a um encontro com o espectador, em um lugar de coautoria da obra. (AUGRAS, 1986, p. 88). Desta maneira, utilizar-se-á o processo de criação, citado por Augras (1986, p. 90) na qual é feita uma analogia aos mitos descrevendo a vivência – Obra como sendo “um processo tão doloroso, que até deuses devem ser imolados”, pois toda criação requer uma destruição, para que, desta forma possa-se, por fim, apreender o sentido desta vivência de desconstrução e construção contínua de projeto, compreendendo que, é possível à mulher, em situação de divórcio, perceber e tomar consciência de que o ser de finitude é também ser de projeto em uma busca continua do sentido de vida.

já que, ao descrever o mundo o homem retrata a si próprio e, portanto, deve ser considerado como discurso da situação, sendo dessa forma, criação e organização desse mundo. A linguagem antecede o homem, dando-lhe um caráter não somente racional como significado, mas também como simbólico, “a linguagem que primeiro faz acontecer o homem, e o traz para existência.” (HEIDDEGGER, 1950, p. 10). Nesse sentido, compreende-se que “toda palavra intenciona, diz da relação intersubjetiva homem-mundo, sendo que essa palavra não esgota a realidade, mas revela, desvela e manifesta a percepção do ser-aí”. Assim, pode-se afirmar que a palavra diz do sujeito ontológico e singular que estabelece e dá significado e sentido como ser-no-mundo. O homem busca por meio da linguagem, quem o compreenda e o faça compreender o que ainda nos é inaudível. (MAGNABOSCO, 2015, p. 100). O corpo feminino e seus prazeres que, por muito tempo, foram alvo de condenação, sendo considerada uma marca de luxuria, somente encontraram remissão por meio das dores do parto e da sub-

subjetividade da autora por algum tempo. Na tentativa de construir algo singular, percorreu-se um caminho inusitado por meio da história da mulher, e, como resultado, constatou-se a escassez de estudos sobre esse fenômeno atual, mas que, ainda hoje, é pouco explorado pela doutrina existencial. Chegou-se à compreensão de que a autoimagem da mulher divorciada, ao contrário da visão de homem existencial, é o reflexo de uma construção histórica que conduziu gerações a uma vivencia adoecida, afetando a mulher na sua relação consigo e com o outro. A revisão crítica de conceitos acerca do casamento e divórcio foi a metodologia usada para a apreensão deste fenômeno, por meio da abordagem fenomenológico existencial, com o objetivo de ampliar a compreensão dessa vivência a qual coloca o ser ante a angústia da finitude. Diante disso, compreendeu-se que a busca pelo sentido de vida da mulher divorciada se apresenta atada a uma identidade construída e sustentada por meio desses laços sociais, afetando as

CONSIDERAÇÕES FINAIS A história da conjugalidade e o percurso da mulher dentro do casamento proporcionaram o estudo e a reflexão a respeito da imagem idílica dessa instituição e da influência desse sistema social, na percepção de projeto de vida da mulher em situação de divórcio na pós-modernidade. O tema mulher divorciada e o sentido de vida foi e, sem dúvida, continuará sendo o objeto de estudo, que permeará o interesse e a

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escolhas, sua forma de ser-no-mundo, de ser-com-outro e, consequentemente, a sua visão como ser de projeto. Refletir sobre o que autora compreende ser esta instituição e a estrutura alienante no qual ela se transformou, revelou o descompasso entre o ideal socioreligioso e o projeto existencial da mulher. Neste percurso, percebeu-se que os ideais de que o amor pode resolver tudo, compensando o vazio em uma busca permanente pela plenitude resistiram ao tempo e, nesta busca pela plenitude, característica da pós-modernidade, esses ideais sofrem um abalo quando esbarram no traçado irregular da existência humana, considerada essencialmente paradoxal, pois, viver é ser angustiado diante da certeza da finitude. O estudo mais detalhado das diversas dimensões da existência humana foi o ponto de partida para a constatação de que a vivência - a situação, que contempla o tempo, o espaço, o outro, a fala e a obra - revela a situação existencial da mulher que, portanto, torna essencial que ela se relacione de forma saudável com o mundo interno e externo, pois isso é o que a mantém em movimento e em busca do sentido de vida. Torna-se, então, imprescindível para a mulher divorciada que aconteça um retorno à condição na qual ela foi criada, pois o ser de possibilidade (Dasein) traz vida a este terreno árido no qual ela caminha: lugar de percepção obnubilada, que priva a consciência da compreensão de que o ser-para-a-morte também é ser de projeto, lembrando que para o Dasein a finitude não é adoecimento e sim condição do ser-aí, do ser-com-outro e do ser-no-mundo, pois, essa percepção permite que se tenha uma experiência fenomenológica, ao olhar para trás e não enxergar apenas um vale de ossos secos. O sentido de vida é obra construída e vivida e para além de como termina, diz de uma história, e como tal, de um projeto e não de um fracasso. Sendo assim, o fim não pode ser visto como sofrimento, mas como possibilidade, em um constante vir-a-ser. Conclui-se, portanto, que para a mulher em situação de divórcio é condição sinequanon ampliar seu campo fenomênico, para que desta forma tome consciência da sua própria existência, sua finitude e de sua intransferível responsabilidade diante das escolhas, abrindo possibilidade para perceber-se como um ser de projeto, em busca contínua pelo sentido de vida. REFERÊNCIAS AUGRAS, Monique. O Ser da compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico. Petrópolis: Vozes, 1986. 86p. BÍBLIA THOMPSON. BÍBLIA DE REFERÊNCIA THOMPSON: versículos em cadeia temática, Antigo e Novo testamentos/ compilado e traduzido por Frank Charles Thompson; tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora Vida, 2010. 1705p. BIRMAN, Joel. O mal-estar na atualidade: a Psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 300p. BRASIL. Código civil. Artigo 240, 1916. Disponível em: <http://www.jusbrasil. com.br/topicos/11471453/paragrafo-1-artigo-240-da-lei-n-3071-de-01-de-janeiro-de-1916>. Acesso em: 20 out. 2015. CASÁBIUS, Jan. A arte da convivência amorosa: psicologia e tratamento dos conflitos conjugais e familiares. São José dos Campos: Della Bídia Editora. 2004. 166p. CORNEAU, Guy. Será que existe amor feliz? Como as relações pais e filhos condicionam nossas relações. Tradução de Guilherme Teixeira: Campos, 1999.264p. DARTIGUES, André. O que é fenomenologia. Tradução de Maria José J. G. de Almeida. Rio de Janeiro: Eldorado, 1992. 174p. EDWALD. Ariane P. Fenomenologia e Existencialismo: articulando nexos, costurando sentidos. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro, v.8, n.2,

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NOTAS DE FIM 1 Especialista em Psicologia Clínica Existencial e Gestalt-Terapia, professor orientador do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, do Centro Universitário Newton Paiva. nandodorio@yahoo.com.br. 2 Aluna de graduação do 10º Período de Psicologia do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, do Centro Universitário Newton Paiva. deborah_chris7@ hotmail.com. 3 BIRMAN. J. Mal estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. 300. 4 HEIDEGGER, M. L’ être et le temps, 1962. p. 150. 5 MICHELET, Jules. La femme, Paris: Flammarion, 1981. 6 JABLONSKI. B. (1988). A crise do casamento contemporâneo: um estudo psicossocial, Ed. FGV/RJ, Tese de Doutorado, 1988. 7 IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estatísticas do Registro Civil1984-2010; Projeção da População por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 - Revisão 2008; e Censo Demográfico 2010. 8 Alteridade é a qualidade de ser-com-o-outro. Nele a consciência se torna capaz, pela primeira vez, de perceber o outro como a si mesma, ao tempo em que se percebe e ao outro como expressão do todo. (SEABRA, MUSZKAT, 1985, p. 19). 9 SIMMEL, G. (1950). Individual and society. In WOLFF, K (org). The Sociology of George Simmel. New York: The Free Press, 1964. 10 Dasein é a palavra que os terapeutas existenciais, utilizam para o caráter distinto da existência humana, indicando que o homem é o ser que ali se encontra presente e também implica o fato de ter um “espaço”, no sentido de saber que ali está e que pode tomar uma atitude referente a esse fato. (MAY, 1993, p. 106).

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CLIMA ORGANIZACIONAL: satisfação das pessoas no ambiente de trabalho Franciele Silva Araújo1 Letícia Magela de Almeida2 Sheyla Rosane de Almeida Santos3

RESUMO: No mundo contemporâneo é primordial o investimento em práticas empresarias que visem a satisfação do funcionário no ambiente de trabalho. Estudos mostram que o desempenho profissional está significativamente associado a esta satisfação. O presente artigo relata o diagnóstico do clima organizacional realizado na empresa Talin Auto Vidros e propõe ações que podem promover uma melhoria significativa no ambiente de trabalho para que se torne mais saudável e harmônico. A necessidade do estudo surgiu a partir de informações fornecidas pelo gestor relacionadas às atitudes e comportamentos dos colaboradores no dia a dia que comprometiam o ambiente interno da organização. Por meio de pesquisa descritiva e aplicada realizada em campo e apoio de pesquisa bibliográfica, foram avaliadas por método qualitativo as percepções dos colaboradores quanto ao ambiente de trabalho e após a identificação dos pontos que precisam ser melhorados foram sugeridas ações para promover maior satisfação dos colaboradores. Com a adoção das ações propostas a organização aprimora a gestão do clima e consequentemente obtém melhorias na produtividade. Palavras-chave: Clima Organizacional. Pesquisa de Clima. Satisfação no Trabalho.

1 INTRODUÇÃO O setor de autopeças, pressionado pelas mudanças na indústria automobilística, passa por diversos desafios para atender às exigências desse mercado. A maior parte desses desafios possui semelhança com o que já ocorre no cenário mundial, decorrente do acirramento da concorrência, das políticas de compras das montadoras e de seu relacionamento com fornecedores (BNDES, 2000). Apesar de tais entraves, o setor contribui para o crescimento interno e ampliação do mercado externo da indústria automobilística. Segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículo), o resultado de uma pesquisa realizada no setor em 2013 mostrou que no último ano o desempenho do faturamento real consolidado avançou 3,9%, o nível de emprego cresceu 0,6% e a produção industrial das autopeças cresceu 0,7%. As vendas para as montadoras registraram crescimento de 7,2%, e o mercado de reposição, aumento de 3,8. Segundo o jornal Globo Minas, a frota total de veículos da Região Metropolitana de Belo Horizonte foi a que mais cresceu entre dezembro de 2002 a dezembro de 2011, passando de 1,08 milhão de veículos para 2,28 milhões – aumento médio de 8,7% ao ano. Um dos fatores que contribuiu para esta expansão de mercado foi a redução do IPI (Imposto de Produtos Industrializados) o que impactou significativamente para a expansão dos negócios da empresa pesquisada. Tendo em vista esse cenário, a empresa selecionada para o desenvolvimento do presente artigo é a Talin Auto Vidros Ltda., localizada na cidade de Belo Horizonte, que comercializa vidros e acessórios para veículos automotivos, sendo especializada no primeiro. Oferece produtos originais de qualidade, visando a satisfação e fidelização de seus clientes. Realiza ainda, a execução de serviços particulares para seguradoras e em domicílio. A Talin foi fundada em agosto de 2001, por dois irmãos, inicialmente como microempresa. Após cinco anos expandiu seus negócios, incorporando mais dois sócios. Atualmente conta com quatro sócios e, além da matriz, possui três filiais, sendo uma em Belo Horizonte, uma em Betim e outra em Ipatinga, totalizando oitenta colaboradores, dos quais quatorze estão na matriz. Nesse contexto de crescimento, novos desafios são impostos. Um deles é a gestão das pessoas, que deve promover um ambiente

de trabalho saudável e harmônico para a produtividade dos colaboradores. Para tanto, considera-se importante diagnosticar a percepção destes em relação ao ambiente de trabalho, a fim de identificar os aspectos positivos e o que ainda precisa ser aprimorado. É sabido que a concorrência acirrada, a velocidade das mudanças e novos modelos de gestão impactam no dia a dia do trabalhador por meio das metas estabelecidas, estilo de gestão e de tomada de decisão que podem diminuir a satisfação do trabalhador e afetar sua qualidade de vida. Diante disso, “[...] o clima passou a ser uma ação estratégica para todas as organizações, especialmente para aquelas que dizem comprometidas com a gestão pela qualidade.” (LUZ, 2010, p. 10). Chiavenato (2010, p.88), define o clima organizacional como sendo “o ambiente interno existente entre os membros da organização e está intimamente relacionado com o grau de motivação existente”. Diante da importância de se diagnosticar o clima organizacional para obter a qualidade dos serviços por meio da satisfação de seus colaboradores, identificou-se a necessidade de realizar tal pesquisa na referida empresa, com o intuito de responder à seguinte questão: quais ações devem ser adotadas pela na Talin Auto Vidros, para promover um ambiente de trabalho satisfatório? Assim, o objetivo geral deste artigo é diagnosticar o clima organizacional da Talin Auto Vidros e, a partir dos dados coletados, sugerir intervenções que promovam a qualidade do ambiente de trabalho. Sendo assim, espera-se que os seguintes objetivos específicos sejam alcançados: a) avaliar a percepção dos colaboradores quanto ao clima organizacional da empresa; b) identificar e analisar os aspectos positivos e os que precisam ser melhorados; c) sugerir melhorias que possam contribuir para gestão do clima organizacional. Por meio deste estudo pretende-se analisar os fatores que afetam positivamente e negativamente o ambiente organizacional. Estudos de clima são particularmente úteis, porque fornecem um diagnóstico geral da empresa, bem como indicações de

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áreas carentes de uma atenção especial. Não basta sentir que o clima está mau, é preciso identificar onde, porque e como agir para melhorá-lo. (SOUZA, 1982, p.14) Neste sentido, considera-se que para a organização as teorias sobre clima organizacional cooperam para o desenvolvimento e aprimoramento de medidas no ambiente interno, a fim de corrigir problemas que possam originar insatisfação do colaborador e interferir tanto na sua produtividade, quanto no resultado da organização. Além disso, a pesquisa possibilitou às autoras deste estudo o contato direto com a realidade organizacional e a articulação entre teoria e prática permitindo a elaboração do projeto, desenvolvimento de pesquisa científica e competências gerenciais como: comunicação eficaz, planejamento de trabalho e estabelecimento de objetivos. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para aprofundar o estudo sobre clima organizacional faz-se necessária a descrição das teorias que fundamentam este conceito, bem como os argumentos que reforçam a sua importância no contexto das organizações e as ferramentas que possibilitam a sua gestão. 2.1 Clima organizacional A palavra clima se originou do grego klimae, que significa tendência ou inclinação. O clima organizacional não é algo tangível, mas é facilmente percebido pelo comportamento e atitudes dos colaboradores (CAMPELLO e OLIVEIRA, 2008). Diante da pesquisa bibliográfica realizada, obtêm-se várias definições sobre a expressão, entre elas: O estado em que se encontra a empresa ou parte dela em dado momento, estado momentâneo e passível de alteração mesmo em curto espaço de tempo em razão de novas influencias surgidas, e que decorre das decisões e ações pretendidas pela empresa, postas em pratica ou não e ou das reações dos empregados a essas ações ou é perspectiva delas (OLIVEIRA, 2010 p. 92). De acordo com Andrade (2005) o clima organizacional deve ser visto como uma soma das percepções dos indivíduos que trabalham na organização. Valendo-se desse mesmo raciocínio entende-se que o clima organizacional: É uma qualidade relativamente permanente do ambiente interno de uma organização, que distingue uma organização de outra: a) é resultante do comportamento e política dos membros da organização, especialmente da alta administração; b) é percebido pelos membros da organização; c) serve como base para interpretar a situação e d) atua como fonte de pressão para direcionar a atividade (PRITCHARD e KARASIC apud SANTOS,1999, p.29). As buscas das organizações por inovação, produtividade e lucratividade, são constantes porém, diante do mercado concorrido, deve-se observar que o capital humano e alguns fatores inerentes a ele como: remuneração, benefícios, reconhecimento e motivação, estão atrelados ao clima organizacional e refletem diretamente na satisfação das necessidades pessoais dos colaboradores. A insatisfação do funcionário quanto a essas necessidades, provocam frustrações pessoais e afetam o seu desempenho na organização (CHIAVENATO, 2010). Clima é um conceito relacionado aos níveis de satisfação no

trabalho experimentado por um empregado. Trata-se de uma tentativa de avaliar as percepções que a pessoa tem a respeito de elementos ou fatores presentes em seu ambiente de trabalho e que permitem o atendimento de suas necessidades. É uma tendência de percepção favorável ou desfavorável em relação ao trabalho em geral ou, então, em relação a diferentes aspectos ou variáveis que formam o clima na empresa (CODA, 2005, online). Em algumas situações as empresas colaboram para a incapacidade de o indivíduo lidar com as modificações que ocorrem no ambiente interno, proporcionando-lhe um efeito dramático. Nessa situação o clima organizacional pode vir a se tornar um elemento dificultador no envolvimento dos funcionários em programas de gestão de qualidade (GIL, 2011). Exemplificando a abordagem, Luz (2010), aponta que determinadas estratégias como: downsizing, terceirização, fusões e aquisições, adotadas pelas empresas após os anos 90, têm ocasionado redução no quadro de funcionários das empresas. A reação dos funcionários quanto à adoção de novas estratégias pode provocar mudança nas suas atitudes em relação à empresa, pois muitas vezes não produzem da mesma forma como antes, comprometendo não somente o cumprimento de metas, mas principalmente a harmonia do ambiente organizacional. As empresas devem investir em produtos, inovação, mas é importante que elas invistam também na qualidade da prestação de seus serviços que conglomera investimentos em pessoas. O funcionário satisfeito vive melhor, trabalha com motivação e desempenha suas funções corretamente, colaborando para a eficiência nos resultados e desenvolvimento de um ambiente de trabalho agradável. 2.2 Pesquisa de clima organizacional A pesquisa de clima é uma ferramenta utilizada para o diagnóstico do clima organizacional e avalia diversos fatores que interferem na satisfação ou insatisfação do funcionário em relação à empresa. Seu objetivo é obter informações e opiniões dos empregados sobre o que eles pensam a respeito de diversos assuntos, por meio de questionários e entrevistas (OLIVEIRA, 1995). Segundo Gil (2011), as pesquisas sobre o clima organizacional são desenvolvidas sistematicamente pelas empresas para identificar e mensurar as atitudes dos empregados em relação às políticas e práticas da empresa e também as tendências das suas opiniões e atitudes que poderão influenciar em seu comportamento, contribuir para estudos a respeito das deficiências da organização, desenvolver a compreensão das gerências em relação aos pontos de vistas dos empregados e demonstrar interesse da empresa nas opiniões dos empregados para melhorar a qualidade de vida no trabalho. As etapas de uma pesquisa de clima de acordo com Luz (2010) consistem em: a) obtenção da aprovação e do apoio da direção – consiste na aprovação, no apoio e comprometimento com as mudanças. b) planejamento da pesquisa – nessa fase são definidos os objetivos da pesquisa, quem vai conduzir a pesquisa, definição da técnica a ser utilizada, preparação das chefias, identificação dos setores pesquisados e etc.; c) definição dos assuntos a serem pesquisados – nessa etapa são identificados os diferentes aspectos da empresa que podem causar satisfação ou insatisfação dos empregados; d) montagem e validação dos cadernos de pesquisa – nessa fase a empresa vai construir o instrumento da pesquisa. A técnica mais utilizada para realizar a pesquisa de clima é a aplicação de questionários;

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e) parametrização para tabulação das opções de resposta – nesse momento são formulados os parâmetros que permitirão a tabulação eletrônica ou manual dos dados coletados, em conformidade com critérios previamente formulados. f) divulgação da pesquisa – compreende o comprometimento da organização no processo de comunicação para assegurar toda a compreensão dos funcionários quanto aos objetivos da pesquisa, local e forma de aplicação e coleta dos questionários. g) aplicação e coleta da pesquisa – etapa que define se a pesquisa de clima será aplicada pela própria empresa, por consultorias externas ou ambas e a maneira da coleta dos questionários; h) tabulação da pesquisa – nessa fase é realizado o processamento manual ou eletrônico dos dados coletados; i) emissão de relatórios – compreende a emissão de relatórios detalhados apresentando resultados de cada variável; j) divulgação dos resultados da pesquisa . k) definição de planos de ação – consiste na intervenção das causas que estão prejudicando a qualidade do ambiente de trabalho. A pesquisa de clima elaborada e aplicada conforme as etapas detalhadas, contribuem para a confiabilidade das respostas, gerando credibilidade no diagnóstico.

2.3 Diagnóstico e as sugestões proporcionadas pela pesquisa Embora o clima organizacional seja algo subjetivo, ele se materializa nas organizações por meio de alguns indicadores que dão “sinais” sobre a sua qualidade. No dia a dia, podemos encontrar tais vestígios que vão contextualizar se o clima vai bem ou não. Esses indicadores não nos fornecem elementos capazes de detectar as causas que mais estão afetando a empresa, entretanto servem para alertar como algo não está bem, ou ao contrário, quando o clima está muito bom. Podemos citar, conforme Luz (2010), os seguintes indicadores: turnover (rotatividade de pessoal), absenteísmo (excessivo número de faltas), pichações nos banheiros, programa de sugestões, avaliação de desempenho, greves, conflitos interpessoais e interdepartamentais, desperdícios de material e queixas no serviço médico. Diante disso, observa-se que a realização de uma pesquisa de clima envolve um trabalho árduo e cuidadoso, pois busca avaliar o comportamento dos indivíduos num dado espaço de tempo. Luz (2010) considera o clima organizacional como o reflexo do estado de espírito ou do entusiasmo das pessoas que prevalece numa organização, em um determinado período. O QUADRO 1 descreve determinados comportamentos dos funcionários e que variam de acordo com o nível do clima organizacional.

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Esses resultados podem ser mensurados por meio de um diagnóstico organizacional que envolve além da pesquisa de clima, metodologias de observação do ambiente e entrevistas com os funcionários. Essas informações valiosas devem ser analisadas pelos gestores, pois contribuem para adoção de novas práticas ou planos de ações que levarão ao aperfeiçoamento dos pontos positivos e melhorias quanto aos pontos negativos identificados. Nesse contexto, diversas sugestões são propostas a fim de se obter um clima organizacional satisfatório. Uma boa estratégia a ser empregada pelo órgão de RH para melhorar e manter saudável o clima interno consiste em treinar exaustivamente os líderes de equipes para que suas ações positivas e construtivas com os seus colaboradores e suas equipes de trabalho sejam muito mais frequentes do que suas ações negativas e destrutivas (OLIVEIRA, 2010, p.94). Para Robbins (2004) os programas de reconhecimento e envolvimento dos funcionários são atraentes diante das fortes pressões da economia globalizada e altamente competitiva. O sistema de participação, no qual os trabalhadores fazem sugestões sobre melhorias nos processos de trabalho e posteriormente são recompensados através de quantias em dinheiro ou na participação de representantes eleitos pelos trabalhadores nos conselhos de administração das empresas são práticas motivadoras. Portanto, dentre várias sugestões possíveis para promover um clima organizacional favorável, as mais indicadas são aquelas que atendem as necessidades de cada organização em determinado momento. 3 METODOLOGIA Diante dos objetivos propostos, este estudo utilizou o método qualitativo com coleta de dados quantitativos, pois os dados foram coletados e em seguida as respostas foram tabuladas proporcionando a análise da percepção dos funcionários de acordo com os indicadores de clima. Usando como base os preceitos de Vergara (2004), foram considerados dois critérios básicos para classificar a pesquisa: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa foi descritiva e aplicada. Descritiva porque visou descrever percepções, anseios e opiniões dos funcionários sobre o ambiente organizacional. Aplicada porque foi “[...] motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, mais imediatos, ou não” (VERGARA, 2004, p. 47). Quanto aos meios, foi utilizada a pesquisa de campo e como fonte secundária a pesquisa bibliográfica para a fundamentação teórica e análise dos resultados da pesquisa. As investigadoras tiveram como base os indicadores de clima organizacional propostos por Luz (2010) para estabelecer os critérios investigados. O universo da pesquisa foi um grupo de participantes heterogêneo quanto ao nível hierárquico de trabalho, função, estado civil, sexo, escolaridade e tempo de empresa, comtemplando 12 colaboradores da empresa. O instrumento de pesquisa para a coleta de dados foi um questionário estruturado em respostas fechadas, de forma a delinear a percepção dos funcionários sobre o ambiente de trabalho. A utilização do questionário estruturado deveu-se à praticidade e o sigilo que ele proporciona na coleta dos dados. Os dados obtidos foram analisados para identificar os aspectos positivos e os que precisavam ser melhorados no ambiente organizacional. Por último, foram desenvolvidas sugestões que podem contribuir para a gestão do clima organizacional da empresa objeto de estudo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Com o intuito de diagnosticar o clima organizacional da Talin Auto Vidros, foi aplicada uma pesquisa de clima junto aos colaboradores da empresa, a partir do qual foram propostas ações para melhoria do ambiente de trabalho. O questionário de pesquisa de clima organizacional foi aplicado em 12 colaboradores e após a coleta, foi possível analisar os dados. 4.1.1 Gestão

Neste tópico é diagnosticado a gestão da Talin Auto Vidros em relação a qualidade dos serviços oferecidos, comunicação interna, crescimento e desenvolvimento profissional da equipe de colaboradores. Sendo assim, a maioria dos colaboradores (50% quase sempre e 25% sempre) visualiza que a empresa apresenta comprometimento com a qualidade dos produtos e serviços prestados. Indagados sobre se o cliente é devidamente respeitado pela empresa, 42% consideram que sempre, 33% quase sempre e 17% dos colaboradores informaram que raramente isso acontece. Os colaboradores em sua maioria (50%) percebem que sempre há clareza e objetividade nas informações passadas pela empresa, sobre as atividades e funções a desempenhar. Além disso, descreve que sempre (34%) ou quase sempre (50%) a empresa cumpre oficialmente as promessas feitas aos colaboradores. A transparência e confiança das informações apresentadas são sempre percebidas por 75% dos colaboradores. Segundo a percepção dos colaboradores, a empresa está sempre (42%) ou quase sempre (33%) aberta a receber e reconhecer suas opiniões e contribuições. Apenas 17% dos colaboradores afirmaram que raramente a empresa acolhe suas opiniões e contribuições. Sobre as oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, 34% dos colaboradores percebem que sempre possuem tal oportunidade, 33% quase sempre e 25% raramente. Em relação às condições de treinamento/desenvolvimento oferecidas pela empresa, para o aprendizado contínuo, 17% dos colaboradores percebem que sempre recebem, 33% quase sempre, 30% raramente e 8% disseram nunca receberem tal treinamento. Sobre a frequência de fiscalização do uso dos equipamentos de segurança no trabalho, 23% dos colaboradores dizem que quase sempre isso acontece, 16% diz que sempre, mas 46% dizem que raramente são fiscalizados. Diante da percepção dos colaboradores, a empresa apresenta comprometimento com a qualidade dos produtos e serviços prestados, o cliente é devidamente respeitado, sempre há clareza e objetividade nas informações passadas, a empresa cumpre oficialmente as promessas feitas, possui transparência e confiança nas informações apresentadas aos colaboradores e está aberta a receber e reconhecer suas opiniões e contribuições. Também é notado a necessidade de medidas para o aperfeiçoamento nos quesitos: oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, treinamentos e fiscalização quanto ao uso correto dos equipamentos de segurança. 4.1.2 Liderança

A maneira de como é exercida a liderança do gestor da empresa bem como a percepção dos colaboradores é demonstrada através do processo de feedback, credibilidade das informações transmitidas e tomada de decisão. Questionados sobre se recebem retorno (feedback) do gestor sobre o trabalho desenvolvido, 75% dos colaboradores disserem que sempre (50%) ou quase sempre (25%) recebem, enquanto 25% dizem raramente receberem. A confiança nas informações transmitidas pelo gestor foi per-

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cebida por 84% dos colaboradores. A pressão exercida pelo gestor referente ao ritmo de trabalho foi identificada por 75% dos colaboradores (50% sempre e 25% quase sempre), apesar de 17% dizerem que raramente sofrem pressões e 8% nunca. Os colaboradores em sua maioria (84%) reconhecem as decisões corretas apresentadas pelo gestor e também reconhecem o gestor como um bom líder (67% sempre e 17% quase sempre). Assim, os colaboradores percebem de modo positivo o retorno (feedback) do gestor sobre o trabalho desenvolvido, a confiança nas informações transmitidas e consideram corretas as decisões apresentadas pelo gestor, considerando-o como um bom líder. Sobre a pressão exercida pelo gestor referente ao ritmo de trabalho, que foi identificada por 75% dos colaboradores, parece não prejudicar o clima organizacional por fazer parte de sua cultura. 4.1.3 Reconhecimento

Neste momento é apontado o reconhecimento da empresa em relação ao trabalho desenvolvido pelos colaboradores que é demonstrado através de cumprimento de metas, remuneração e benefícios Os dados levantados demonstram que 42% dos colaboradores se sentem sempre reconhecidos e recompensados pelo gestor, devido aos bons resultados e metas cumpridas, 33% quase sempre e 17% raramente. Sobre o reconhecimento no trabalho de modo geral, a maioria (25% sempre e 58% quase sempre) dos colaboradores se sente reconhecida pelo trabalho bem feito. Eles também percebem que há respeito nas relações, independente dos cargos ocupados (59% sempre e 33% quase sempre). Sobre a remuneração, 67 % disseram que quase sempre e 17% disseram que sempre a remuneração corresponde à função exercida. Para 42% dos colaboradores os benefícios oferecidos pela empresa quase sempre atendem suas necessidades, para 33% sempre atendem, porém para 17% raramente atendem. De maneira geral, os processos de reconhecimento, respeito, recompensas e benefícios, são avaliados de modo favorável por grande parte dos colaboradores. 4.1.4 Relacionamento Interpessoal

Neste quesito é feita a análise do relacionamento, convivência entre os colaboradores e a harmonia no ambiente de trabalho. Os colaboradores apontam que quase sempre (67%) e sempre (17%) existem atritos ou insatisfação entre os próprios colaboradores. A harmonia no ambiente de trabalho fica comprometida quando observada por 75% dos colaboradores que dizem que quase sempre ela existe, apenas 8% dizem que sempre existe e 17% consideram que raramente há esta harmonia. Diante do exposto, o relacionamento entre os colaboradores é preocupante e consequentemente compromete a harmonia do ambiente. 4.1.5 Satisfação

A satisfação do colaborador em trabalhar na organização é cor-

roborada nesse tópico através da análise da realização profissional e autonomia de decisões. A satisfação do colaborador em trabalhar na organização foi detectada em 100% dos colaboradores (75% quase sempre satisfeitos e 25% sempre satisfeitos). A maioria (42% sempre e 25% quase sempre) possui sentimento de realização profissional e 83% percebe sua responsabilidade em contribuir para o sucesso organizacional. Sobre sua autonomia, 34% dos colaboradores dizem quase sempre ter liberdade para tomar decisões no seu trabalho, 25% sempre e 25% não possui a mesma autonomia. Para encerrar os dados apurados, 59% (25% sempre e 34% quase sempre) indicariam um amigo/familiar para trabalhar na empresa, enquanto 25% disseram que raramente e 8% nunca indicariam. Portanto, os colaboradores demonstram satisfação em seu trabalho. A maioria possui sentimento de realização profissional e percebe sua responsabilidade em contribuir para o sucesso organizacional. 4.2 Sugestões A análise dos dados coletados proporcionou a identificação tanto de aspectos positivos quanto aspectos que devem ser aperfeiçoados. Como proposta do estudo foram sugeridas medidas que contribuam para gestão do clima organizacional no ambiente de trabalho. Em primeiro lugar, foram vistos alguns pontos de fragilidade que recaem sobre as oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, assim como as condições de treinamento/desenvolvimento oferecidas pela empresa e a fiscalização do uso dos equipamentos de segurança no trabalho. Neste caso, sugere-se à empresa, implantar um plano de carreira para os colaboradores, desenvolver um diagnóstico de necessidades de treinamento que abordará a segurança no trabalho. O processo de feedback pode ser melhorado para os 25% dos colaboradores que descrevem não o receberem, por meio da implantação de um processo formal de avaliação de desempenho. Os 17% de colaboradores que não se sentem reconhecidos e recompensados pelo gestor, pelo bom resultado e metas cumpridas, também podem ser contemplados com a implantação deste processo. Quanto aos colaboradores apontarem a existência de atritos, insatisfação no relacionamento entre os próprios colaboradores, comprometimento da harmonia no ambiente de trabalho e restrição de alguns quanto à autonomia no ambiente de trabalho, entende-se que, com a implantação de um processo formal de feedback, isso possa ser minimizado. Adotar também no processo de treinamento, temas relativos à “Relacionamento Interpessoal no Trabalho” pode potencializar positivamente tais relações. Para melhor compreensão do gestor quanto às questões abordadas e que precisam ser melhoradas ou aperfeiçoadas, é proposto o Plano de Ação 5W2H, conforme QUADRO 2, mostrando os métodos e ferramentas sugeridas, os responsáveis por tais práticas, a duração para implementação e valor aproximado.

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O plano de ação acima tem objetivo de facilitar o processo de elaboração de ações propostas para Talin Auto Vidros, pois explora os principais pontos para desenvolvimento de um projeto o programa. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para promover um ambiente de trabalho satisfatório a Talin deve intervir nas principais causas identificadas pela pesquisa que originam a insatisfação do funcionário. As ações que proporcionam a melhoria do clima organizacional são: treinamentos relacionados à segurança do trabalho e relacionamento interpessoal, programas de crescimento e desenvolvimento profissional e métodos que aperfeiçoam o processo de feedback entre gestor e funcionário. De encontro às expectativas das autoras o estudo apresentou alta importância para a organização, uma vez que desde sua fundação, nunca foi realizado um trabalho direcionado para este assunto, tão presente nos dias atuais. Algumas dificuldades foram encontradas quanto à aplicação da pesquisa e quanto ao sigilo das respostas individuais do questionário tanto por parte do gestor quanto por parte dos funcionários. A empresa não disponibilizou um horário para aplicação da pesquisa para todos os funcionários juntos, foi aplicada individualmente nos intervalos das atividades. O gestor, a principio, autorizou a aplicação da pesquisa desde que pudesse ter acesso às respostas individuais. Após um maior esclarecimento quanto à proposta da pesquisa foi autorizada a aplicação. Os funcionários também se mostraram inseguros quanto ao acesso do gestor às respostas dos questionários respondidos ainda que as investigadoras assegurassem o sigilo das respostas individuais. A origem dos principais problemas que geram insatisfação dos colaboradores e compromete o clima da organização ficou clara para o gestor. Além disso, ele ficou surpreso com o retorno dos pontos positivos apresentado no diagnóstico gerando maior motivação para intervir nas questões que precisam ser melhoradas. As ações propostas pelas autoras foram bem recebidas e segundo gestor, serão implementadas. Para dar continuidade a este estudo e promover a melhoria contínua do clima organizacional sugere-se a aplicação frequente de pesquisa de clima e outras metodologias de diagnóstico, pois o cli-

ma organizacional é mutável e, além disso, a aplicação da pesquisa regular possibilita checar se as intervenções realizadas pela empresa apresentaram resultados. A realização de pesquisa de cultura também é válida, uma vez que algumas causas que interferem no clima são originadas da cultura organizacional. A reestruturação do departamento de RH (Recursos Humanos), ainda que em longo prazo, contribuirá para eficiência da implantação de programas e projetos que promovem um clima organizacional satisfatório, bem como melhorias na gestão de pessoas. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. O. B. AMBRONI, N. Teoria geral da administração: Das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: Makron Books, 2005. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Autopeças: um setor em transformação. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em:<http:// www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/ conhecimento/bnset/rev_set3.pdf >. Acesso em: 04 mar. 2014. BISPO, Carlos Alberto Ferreira. Um novo modelo de pesquisa de clima organizacional. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prod>. Acesso em: 04 abr. 2014. CAMPELLO, M.L.C. OLIVEIRA, J.S.G. Clima organizacional no desempenho das Empresas. Bauru, 2008. Disponível em: < http://www.simpep.feb.unesp. br> Acesso em: 06 abr. 2014. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: o capital humano das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio Janeiro: Elsevier, 2010. CODA, R. O valor do diagnóstico de clima: entrevista concedida a Patrícia Bispo. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Motivacao/Entrevista/4042/o-valor-do-diagnostico-de-clima.html> Acesso em: 06 abr. 2014. GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2011. Grande BH tem maior aumento de frota de veículos por habitante do país. GLOBO MINAS. Disponível em: <http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2012/10/grande-bh-tem-maior-aumento-de-frota-de-veiculos-por-habitante-

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NOTAS DE FIM Estudante do MBA em Gestão, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG - francielearaujoribeiro@hotmail.com.

1

Estudante do MBA em Gestão, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG - leticia.almeidaa@yahoo.com.br.

2

3 Mestre em Administração de Empresas. Orientadora do Artigo e Professora do Curso de Administração e Psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG - sheylaalmeida3@hotmail.com.

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