ISSN 2176 7785
PÓS EM REVISTA Número 5 - 1/2012
Copyright©2012 by Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva Número 5 1/2012
Pós em Revista / Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva, 2012. Disponível na Internet: < http://npa.newtonpaiva.br/pos/> n.1.Semestral ISSN 2176-7785 1. Periódicos. 2. Revista Científica. I. Centro Universitário Newton Paiva CDU 001.891
(Ficha catalográfica elaborada pelo Núcleo de Bibliotecas do Centro Universitário Newton Paiva) 2 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
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ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS HUMANAS Bruno Luciano de Paiva Silva
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS DA SAÚDE Sérgio Fernando de Oliveira Gomes Elias Borges do Nascimento Júnior Marta Marques Gontijo Aguiar Roberta Dias Rodrigues Rocha
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS DA ENGENHARIA Alexandre Souza Lopes
ESTRUTURA FORMAL DA INSTITUIÇÃO
PRESIDENTE DO GRUPO SPLICE Antônio Roberto Beldi
REITOR Luis Carlos de Souza Vieira
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SECRETÁRIA GERAL Dorian Gray Rodrigues Alves
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APOIO TÉCNICO Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva Cinthia Mara da Fonseca Pacheco Emerson Luiz de Castro Eustáquio Trindade Netto Juniele Rabêlo de Almeida Marialice Nogueira Emboava
EDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO Helô Costa - 127/MG DIAGRAMAÇÃO: Fillipe Gibram e Geisiane de Oliveira (estagiários da Central de Produção Jornalística da Newton Paiva - CPJ)
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APRESENTAÇÃO
A Coordenadoria de Pós-graduação, Pesquisa e Educação Corporativa tem o prazer de disponibilizar a Revista Eletrônica Pós em Revista para seus alunos, professores e comunidade acadêmica em geral.
Esta Revista pretende, por meio da mídia eletrônica, divulgar a produção acadêmica e científica do Centro Universitário Newton Paiva, bem como as colaborações que forem enviadas por pesquisadores e profissionais de outras instituições do Brasil e do exterior. Pretende, ainda, divulgar os estudos e as pesquisas desenvolvidas no âmbito de seus programas e ações.
O Conselho Editorial da Revista Eletrônica é composto por Coordenadores dos cursos de Pósgraduação e professores do Centro Universitário Newton Paiva e presidido pelo Coordenador Geral da Pós-graduação, Pesquisa e Educação Corporativa.
A Revista Eletrônica, publicada semestralmente, está aberta à participação da Comunidade Acadêmica da Instituição e às colaborações externas que contribuam para promover o debate de ideias e estimular a pesquisa acadêmica. Coordenador
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SUMÁRIO ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS GESTÃO EMPREENDEDORA PARA O MERCADO AUTOMOTIVO: uma apresentação do Sistema Total Ford de atendimento em concessionárias Deiziane C. Pereira, Elen C. R. S. Mariano, Gessica C. Moreira, Lucas C. Faria, Joice C. Reis, Rafaella M. A. Vimieiro, Eduardo B. Machado .............................................................................................................13 GESTÃO EMPREENDEDORA: um estudo de caso na Auto Mecânica Rômula Ltda. Adriana de Araújo, Amanda Pávilla, Arnaldo Ferreira, Kenia Cristina, Nathalia Miranda, Thaymon Soares, Helbert José de Góes, Laila Maria Hamdan Alvim ................................................................................................19 O VAREJO DE AUTOPEÇAS: uma busca da gestão empreendedora na Aja Diesel André Luís Pereira Vilela, Domingas Paulino de Almeida Francisco, Karina Batista Komine, Karine Nogueira de Barros Freitas, Larissa Lara Tavares, Maurício de Mello Rodrigues, Sibele Pinheiro do Nascimento, Eduardo Bomfim Machado........................................26 REVISTA AUTOCAR: fatores de sucesso e profissionais preparados para a competitividade no setor automotivo Aclízia Cristiane Fragoso, Daniella Barbosa Faglioni, Fernanda Almeida Silva, Gabriella Morena Correia Friche, Laíssa Ribas da Cruz, Taís de Fátima Lima Soares, Eduardo Bomfim Machado........................................................................................................33 DIREITO A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA Mateus de Moura Ferreira...................................................................................................................................................................39 A APLICABILIDADE DA HERMENÊTICA PLURALISTA NA TUTELA DO PATRIMONIO CULTURAL Mateus de Moura Ferreira...................................................................................................................................................................43 DELINEAMENTOS SOBRE O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: em busca de uma definição terminológica Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais, Carolina Senra Nogueira da Silva.....................................................................................46 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66, DE 13 DE JULHO DE 2010: a nova concepção do divórcio e a permanência do instituto da separação Leandro Henrique Simões Goulart, Priscilla Chagas de Moura..........................................................................................................53 MARXISMO E RECONHECIMENTO:as críticas de Axel Honneth à noção de reconhecimento no pensamento de Karl Marx Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais...........................................................................................................................................57 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: uma breve análise na história sobre a saúde do trabalhador Camila Cristina Azevedo Castro Teixeira, Emerson Luiz de Castro ....................................................................................................61 UMA INTRODUÇÃO AO INSTITUTO JURÍDICO INGLÊS DO TRUST Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais............................................................................................................................................67
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA O PERFIL PROFISSIONAL COMPETENTE DEMANDADO PELAS EMPRESAS DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE TRABALHADORES DE BELO HORIZONTE Corina Alves Farinha.............................................................................................................................................................................72 REPORTAGEM: um gênero de mil faces Raquel A. Soares Reis Franco..............................................................................................................................................................75 GESTÃO FINANCEIRA A MONITORAÇÃO DOS FATORES AMBIENTAIS E SEUS REFLEXOS NO AMBIENTE DE MARKETING DAS ORGANIZAÇÕES Aécio Antônio de Oliveira.....................................................................................................................................................................85 PROPOSTA DE UM MÉTODO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA: caminhos para o consumo racional e consciente Aécio Antônio de Oliveira, Rafael Alves Ribeiro, Thiago Galliac Rezende............................................................................................91 INFORMÁTICA CRIPTOGRAFIA DE DADOS NO MICROSOFT SQL SERVER 2008 R2 Rodolfo de Oliveira Martins, Iremar Nunes de Lima............................................................................................................................105 GESTÃO DO CONHECIMENTO: ECM e GED Juliana Costa Silva, Iremar Nunes de Lima ........................................................................................................................................112 OTIMIZADOR DE CONSULTAS EM BANCO DE DADOS Elisa Alvina de Moraes Arcanjo, Iremar Nunes de Lima.....................................................................................................................121 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE ACORDO COM A NORMA ISO/IEC 15504 Marcelo Norte de Oliveira, Iremar Nunes de Lima..............................................................................................................................125 PSCOLOGIA ANTECIPAÇÕES FILOSÓFICAS DE UMA CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO: Paul Rée e a ilusão do livre-arbítrio Marcus Vinícius Fonseca de Garcia...................................................................................................................................................132 AS RELAÇÕES DE TRABALHO COMO FERRAMENTAS PARA DETERMINAR UM SER SOCIAL Alice Vilela, Karina Rabbi, Lidnéia Leite, Luand Carolina, Tamiris Barcelos.......................................................................................137 PUBLICIDADE E PROPAGANDA AÇÃO DE GUERRILHA: uma análise do case SOS Fauna Elevador Daniela Lima, Flávia Crivellari.............................................................................................................................................................149 OS PROCESSOS CRIATIVOS DO RECEPTOR DISCUTIDOS A PARTIR DA PUBLICIDADE E DA POESIA: a produção de um clipe-poema por jovens do PEP Fernanda Carla de Castro..................................................................................................................................................................151 O PLANEJADOR. Algumas considerações práticas. Sônia A Martins Lazzarini....................................................................................................................................................................156
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM AGÊNCIAS DE PROPAGANDA Asley Oliveira de Siqueira, Carla Jacqueline Gonçalves Costa, Patrick Simon Moreira de Oliveira....................................................162 SISTEMA DA INFORMAÇÃO GOOGLE HACKING Alex Sander de Oliveira Toledo, Dayene Ângela de Almeida...............................................................................................................168
METASPLOIT: um cenário de intrusão Alex Sander de Oliveira Toledo, Vinícius Augusto Celestino Souza PERÍCIA FORENSE COMPUTACIONAL: Análise de Malware em Forense computacional utilizando de sistema operacional GNU/ Linux Alex Sander de Oliveira Toledo, Robert de Souza .............................................................................................................................172 SOCIOLOGIA UM NOVO CONCEITO DE ENSINO RELIGIOSO: para uma formação integral do educando Bruno Luciano de Paiva Silva.............................................................................................................................................................182 TURISMO BELO HORIZONTE E OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS Marcella C. Amaral Scotti...................................................................................................................................................................189 SAÚDE ALTERNATIVAS AOS TESTES DE SEGURANÇA DE COSMÉTICOS EM ANIMAIS Sara Marques da Cruz, Lúcia Helena Angelis.....................................................................................................................................195 ANOREXÍGENOS: controle rígido ou proibição de seu uso? Amanda Pauliane Alves Moreira, Elias Borges do Nascimento Júnior...............................................................................................203 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DA ATENÇÃO BÁSICA FRENTE AO CONTROLE DO CÂNCER UTERINO: revisão de literatura Camila Gomes de Paula, Luciene Barra Ribeiro, Maíra Cardoso Pereira, Tatiana Bedran................................................................213 A UTILIZAÇÃO DE ADALIMUMABE E ETANERCEPTE PARA ARTRITE REUMATÓIDE NO SUS: eficácia terapêutica ou pressão judicial? Mariana Ferreira Pinto Vianna Falconetti, Elias Borges do Nascimento Júnior...................................................................................219 CONFORMAÇÕES DO CICLOEXANO: um modelo de estudo no PcModel Anderson Hollerbach Klier.................................................................................................................................................................233 ELETROESTIMULAÇÃO NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO FEMININA: revisão de literatura Drielly Fernanda de Souza, Estela Vieira Santana, Keylla Marques de Araújo, Renata de Oliveira Cangussu...................................240 FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS E O ATENDIMENTO AOS CASOS DE GRIPE: medicamentos de venda livre e o uso racional Natália Vasconcelos Silva de Brito, Elias Borges do Nascimento Júnior...........................................................................................246
ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO POR PCR ARDRA DE Lactobacillus spp. DE GRÃOS DE KEFIR CULTIVADOS EM LEITE OU ÁGUA AÇUCARADA Mário Abatemarco Jr, Marta M. Gontijo Aguiar, Álvaro Cantini Nunes, Elisabeth Neumann, Jacques Robert Nicoli..........................260 KLEBSIELLA PNEUMONIAE CARBAPENEMASE – KPC em Enterobacteriaceae: o desafio das bactérias multirresistentes Érica Ribeiro Cotrim, Roberta D. Rodrigues Rocha, Mônica de F. Ribeiro Ferreira ...........................................................................268 MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES PORTADORES DE ARTRITE REUMATÓIDE Pâmela Oliveira Garcia, Sara Patrícia dos Santos, Santuza Maria Souza de Mendonça ...................................................................276 OS RISCOS DO USO E DO DESCARTE INADEQUADO DE MEDICAMENTOS VENCIDOS: método de análise alternativo para determinação de ácido salicílico em uma amostra de aspirina® vencida. Adriana Nascimento de Sousa, Eliane do Nascimento, Fernanda Boroni, Kyrlah Jerônimo..............................................................283 PADRONIZAÇÃO DOS DESENHOS UTILIZADOS NOS PROCESSOS DE BLISTAGEM Thais Reis Amaral, Linna Beathrice Oliveira Rodrigues, Gisele Assis Castro Goulart ........................................................................299 PESQUISA DE CONTAMINANTES NOS EFLUENTES DA LAGOA DA PAMPULHA: análise comparativa entre os anos de 2007 e 2011 Amanda Ferreira da Silva, Daniela Gonçalves Araújo, Izabella Branco Santos de Morais, Izabella Cristina da Silva, Márcia Santos Hoffman, Marcus Vinicius Vitoriano e Silva, Adriana Nascimento de Sousa.......................................................................................312 PROGRAMA DE CONTROLE DA ESQUISTOSSOME NO DISTRITO DE ANTUNES/MG: análise de dados registrados e avaliação das medidas adotadas Marilda Honória Duarte Costa, Roberta Dias Rodrigues Rocha.......................................................................................................319 TROMBOEMBOLISMO PULMONAR: aspectos gerais e aplicabilidade diagnóstica da dosagem sérica de D-dímero Débora Cristina de Oliveira Cunha, Roberta Dias Rodrigues Rocha.................................................................................................325 UTILIZAÇÃO MEDICINAL DO ÓLEO DE COPAÍBA: aspectos históricos e estudos atuais Aldemir Fernandes Lima, Jesiel Francisco de Jesus Fernandes Martins Lima...................................................................................332 Vírus Influenza A (H1 N1): abordagem revisional Aldemir Fernandes Lima, Jesiel Francisco Martins Lima.....................................................................................................................337
GESTÃO EMPREENDEDORA PARA O MERCADO AUTOMOTIVO: uma apresentação do Sistema Total Ford de atendimento em concessionárias Deiziane C. Pereira* Elen C. R. S. Mariano* Gessica C. Moreira* Lucas C. Faria* Joice C. Reis* Rafaella M. A. Vimieiro* Eduardo B. Machado**
RESUMO: Este artigo apresenta uma análise sobre o tema gestão empreendedora no setor automotivo. Para tanto, analisaram-se os temas abordados em livros e reportagens postadas em sites. Constatou-se que após as crises mundiais ocorridas a partir da década de 1990, a FORD perdeu grande parte do mercado. Para contribuir com a solução do problema, a empresa criou o Sistema Total Ford que possibilitou um atendimento mais rápido e de qualidade. Dentro de uma pesquisa qualitativa, elaborou-se um estudo de caso desse sistema gerencial de atendimento, procurando verificar se o mesmo representa um comportamento empreendedor da empresa. Como resultado da análise, conclui-se que o sistema de atendimento estão muito próximos de questões de empreendedorismo em sua essência. PALAVRAS-CHAVE: Setor automotivo, Ford, empreendedorismo, Sistema Total Ford.
1. INTRODUÇÃO
siderada a terceira melhor montadora do cenário automobilís-
O setor automotivo compreende, além dos automóveis de
tico mundial.
passeio e veículos comerciais leves, caminhões, ônibus e má-
Esse estudo avalia as técnicas gerenciais que permitem
quinas agrícolas. A indústria da mobilidade abrange todo o se-
implantar metas empreendedoras na organização, desta forma
tor envolvido de alguma forma na fabricação de veículos, sejam
foi analisado o Sistema Total Ford que tem como princípios bá-
eles automotores ou não, o que significa um amplo mercado de
sicos a satisfação do cliente e a retenção dos mesmos.
produtos. (DESIGN BRASIL, 2011)
Com base em pesquisas bibliográficas em que autores
Essa complexidade foi estruturada ao longo do século XX,
verificados foram Bernardi (2003), Oliveira (2008), Victor Mir-
sobretudo com a contribuição de Henry Ford que popularizou o
shawka (2004), Gates (1999), entre outros, agregou-se com
automóvel com a linha de produção e montagem que provoca-
pesquisas em sites e documentos da empresa sobre o siste-
ria uma revolução na sociedade mundial. (FORD, 2011)
ma. Buscou-se com isso uma constatação sobre a eficiência
Atualmente a FORD passou por algumas reestruturações
de uma empresa é referência do setor. Assim, pretendeu-se
e crises, segundo seu próprio site (FORD, 2011), mas cresceu
satisfazer a seguinte questão: o Sistema Total Ford é uma ferra-
e evoluiu lado a lado com a indústria automobilística lançando
menta alinhada com aspectos de uma gestão empreendedora?
modelos que marcaram a história. A análise da gestão empreendedora na empresa foi idealizada através do Sistema Total Ford desenvolvido no Brasil com base no conceito “Distribuidor 2000” da Ford alemã, aplicado em vários mercados e implantado como programa piloto em quatro Distribuidores brasilei-
2. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Avaliar se o Sistema Total Ford está alinhado com os preceitos de uma gestão empreendedora.
ros em 1997. Buscando novas soluções e aprimoramento dos processos, visando à melhoria dos padrões de qualidade e a
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
satisfação. Após passar por algumas crises a empresa FORD
•
Pesquisar sobre a empresa Ford.
conseguiu a partir desse processo se restabelecer e hoje é con-
•
Levantar dados sobre contexto e seu desempenho
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no mercado.
ção de intra-empreendedorismo que contribui para que gerentes
•
Pesquisar o conteúdo de gestão empreendedora.
e colaboradores apresentem as mesmas características do que
•
Analisar o Sistema Total Ford sob as considerações da
sócios fundadores.
gestão empreendedora.
Oliveira (2008), afirma que a busca por novos resultados na realidade empresarial conduziu a uma abordagem mais compor-
3. METODOLOGIA
tamental, onde os esforços estiveram concentrados nos proces-
Sendo essa uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa,
sos de mudança e na preparação dos profissionais. Ainda se-
a mesma se serviu de uma pesquisa bibliográfica, tanto eletrôni-
gundo o autor, cada vez mais as organizações apresentam uma
ca quanto física. Um comparativo de componentes conceituais
sustentação de metodologias, técnicas e processos, devidos
foi utilizado para uma análise entre a bibliografia de gestão, ges-
principalmente á necessidade de se ter uma administração base-
tão empreendedora, empreendedorismo e as demais informa-
ada nos indivíduos, já que estes representam o maior foco de co-
ções do Sistema Total Ford de atendimento a clientes.
nhecimento, informação, decisão, ação e avaliação da empresa.
Nesse estudo de caso foi concebido também um histórico
Isso também é percebido em Oliveira e Silva (2006) na sua
da empresa, como forma de favorecimento da compreensão da
fala sobre a Organização Empreendedora, como resultante de
sua situação e das demais informações relacionadas.
uma postura gerencial, um conjunto de sistemas e demais recursos alinhados com essa postura de mercado.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Para Mirshawka (2004), observar as características, as difi-
Parte-se para uma indicação inicial sobre o termo e as de-
culdades e preocupações do empreendedor em saber trabalhar
finições sobre o empreendedorismo, encontrada em Goulart e
com registros e controle de seu negócio, servem para manter e
Papa (2004), que condiciona esse tipo de atividade ou com-
conquistar novos clientes, pois eles são de fundamental impor-
portamento empresarial sob uma ótica de centros culturais, tais
tância para a organização. O autor, no entanto, cita a obrigação
como os Estados Unidos e a França que aprofundaram em pes-
de saber a real necessidade de um determinado gasto para a
quisas na área, gerando primeiros esse corpo de conhecimento
empresa e aprender a usar bem o seu tempo, pois ele deverá re-
utilizado atualmente no campo dos negócios.
pensar imediatamente na necessidade desse aumento de custos
Para autor Bernardi (2003), o empreendimento é abordado
ou dessa mudança para a plena satisfação do cliente. Baseando-
de forma dinâmica e estratégica, em seus princípios fundamen-
se nestas informações ele perceberá que o cliente está em busca
tais e vitais. Os atos de empreender e gerir uma empresa está
de um produto com qualidade e de um preço justo.
sempre sujeitos a riscos e incertezas. As complexidades do am-
O mercado está cada vez mais competitivo e segundo Mir-
biente empresarial pelas demandas e pelas mudanças geram
shawka (2004) para manter os clientes, o empreendedor criativo
profundos desafios e oportunidades.
tem que satisfazer os mesmos plenamente. Pessoas satisfeitas
Em Oliveira e Silva (2006) tem-se que o empresário tem a
dificilmente deixam o lugar onde obtiveram essa satisfação. O
responsabilidade de conhecer, enfrentar e superar, contingên-
empreendedor deve estar sempre um passo á frente de seu con-
cias de mercado constantemente em um procedimento sistema-
corrente em todos os sentidos, novidades, qualidades, serviços,
tizado como Administração Empreendedora, utilizando todas as
entre outros. E a cada dia os clientes estão sendo mais valori-
competências técnicas disponíveis, sobretudo a inovação como
zados dentro das organizações, todos os focos estão voltados
principal instrumento do chamado espírito empreendedor
para eles. Isso faz com que ocorra um relacionamento agradá-
É necessário sempre compreender os limites do empreendedorismo. Tanto pessoais, quando organizacionais. É necessário
vel entre ambas as partes. Eles querem comprar soluções para seus problemas e satisfação de suas necessidades.
que verifique o que há por trás dos resultados positivos, pois eles
Já segundo Gates (1999), os negócios mudam rapida-
propiciam à empresa condições competitivas favoráveis. Deve
mente e há necessidade que as empresas disponibilizem uma
haver um equilíbrio entre a gestão e o empreendimento, através
atenção mais personalizada aos clientes. Para isso as organi-
das ações tomadas de criação, crescimento, manutenção, expan-
zações precisam adotar internamente processos digitais para
são e mudanças de linhas de conduta. (GOULART; PAPA, 2004)
se adaptarem a um ambiente movido pelas necessidades dos
Para as características e funções pessoais do empreende-
clientes e pela concorrência. Esses processos digitais, segundo
dorismo, Robbins (2008) relata sobre a existência de um chama-
esse autor, além de trazerem solução para os problemas dos
do “espírito empreendedor” que alimenta uma atividade criativa
clientes proporcionam um alto desenvolvimento tecnológico e
e dinâmica de conduta empresarial, inclusive com uma orienta-
as empresas que investem nesse meio estão com a chave para
14 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
o sucesso.
um déficit de 5 trilhões de dólares no mercado dos EUA. Para
O que sustenta essa necessidade de aprimoramento de
solucionar o problema o governo injetou dinheiro no mercado e
controle e rapidez nas decisões está relacionado com um espí-
o FED abaixou a taxa de juros. Quando houve essa redução de
rito empreendedor em gerar soluções melhores ou mais efica-
juros, o governo precisou captar dinheiro e investir no mercado
zes aos mercados consumidores. A organização em sustenta
imobiliário, oferecendo bônus hipotecários aos pobres. Com os
e prescinde da mudança, alinha-se com elementos do empre-
ataques terroristas em 2001 nos EUA, a crise se agravou e o
endedorismo e longevidade das empresas. (OLIVEIRA E SILVA,
FED aumentou as taxas de juros. As pessoas não pagaram suas
2006); (PINTO ET AL, 2007)
dividas aos bancos que chegaram à falência e algumas seguradoras de crédito entraram em colapso. A partir de 2006 a Ford anunciou um amplo plano de ca-
4 SETOR AUTOMOTIVO O setor automotivo envolve um amplo mercado de grande
pitalização e reestruturação de suas atividades que incluiria a
importância econômica no Brasil. Ele é representado pela An-
demissão de cerca de 44 mil colaboradores e o fechamento de
favea - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Au-
16 fábricas nos Estados Unidos e Canadá confirmando que os
tomotores e inclui os fabricantes de autopeças e corresponde
problemas da Ford se concentravam no seu berço, a América
a 22% do PIB brasileiro. É um setor que responde direta ou in-
do Norte. Além disso, a empresa dispensou a ajuda governa-
diretamente pelo emprego de 1,3 milhões de pessoas. O Brasil
mental oferecida para suas concorrentes GM e Chrysler. O pro-
tem se destacado no setor automotivo graças ao mercado, a
cesso de capitalização deixou como herança um endividamento
competente produção, a sólida base de engenharia automoti-
próximo dos US$ 25 bilhões e para suprir este endividamento
va. O diferencial competitivo nesse setor ocupa uma posição
grifes como Austin Martin, Land Rover e Jaguar foram passadas
de destaque, pois concentra os maiores investimentos em tec-
adiante, sempre com o intuito de reforçar o caixa. A marca Volvo
nologia e capacitação de profissionais. O processo de design
teve o mesmo destino. Mais enxuta e livre das imposições do
automotivo tem se expandido e aprimorado de modo a atender
governo, a Ford pôde se aproximar rapidamente da GM.
as necessidades de um consumidor cada vez mais exigente.
No Brasil, a Ford, desde o início de suas operações em
Esse processo está ligado ao uso de veículos, a segurança, a
1967, nunca atingiu o primeiro lugar em vendas, competindo
sustentabilidade e a tecnologia. Há uma grande demanda por
diretamente com a GM em busca de sua consolidação em um
tecnologias e por soluções inovadoras que atendam os desafios
terceiro lugar geral. Para isso a Ford tem investido investido em
da mobilidade e da sustentabilidade.
tecnologia, inovação de modelos, aquisições e sistemas de qualidade, como aqui apresentado. (ANFAVEA, 2011)
5 A EVOLUÇÃO DA FORD E A CRISE ECONÔMICA No início do século XX, Henry Ford idealizava construir um
6 CONCORRENTES
meio de transporte fácil de usar e que o trabalhador americano
Concorrência é uma emulação entre comerciantes ou in-
pudesse pagar. Henry Ford não foi o inventor do carro, mas foi
dustriais, que tentam atrair os clientes por meio de, entre outras
um dos primeiros a aprimorar o invento e fazê-lo um produto mais
coisas, melhores preços e qualidade no produto e atendimen-
popular. Pensando em melhorar a locomoção das pessoas e fa-
to. A Fiat, Volkswagen, Chevrolet são algumas empresas que
cilitar o modo de se manusear os carros, Henry Ford idealizou o
competem incessantemente com a Ford. Elas possuem boa
modelo T e o esquema de linha de produção, que por sua vez foi
percepção de mercado, isso fez com que notassem o bom de-
a base para a diminuição do preço e a redução do tempo de pro-
sempenho que a empresa Ford conquistou com o seu Sistema
dução causando aumento dos ganhos. Em 1909 chegou ao Brasil
Total Ford. Dessa forma, as empresas concorrentes adaptaram
o Ford mais antigo de que se tem notícia. Com a primeira Guerra
e melhoraram o processo de acordo com sua organização, ge-
Mundial, paralisou-se a vinda de automóveis europeus para o Bra-
rando mais lucratividade e atraindo novos clientes. Percebendo
sil, aumentando a procura por carros dos EUA e, consequente-
a perda de clientes a Ford atualizou seus processos, como Box
mente, aumentando também o mercado da Ford no Brasil. A partir
Rápido Motorcraft (destinado ao atendimento de serviço cujo
dos anos 1990 a montadora passou por algumas reestruturações
tempo de execução seja igual ou inferior a 2 horas), Agenda
devido ao surgimento de crises que fizeram com que ela perdes-
Ford (agendamento de escolha do cliente do distribuidor, data
se uma grande parte de seu mercado mundial.
e hora de atendimento), Brand Service (desenvolvimento da co-
A partir de 1995 ocorreram algumas crises que mudaram
municação visual e dos processos de atendimento).
drasticamente a economia mundial. Uma dessas crises causou PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 15
7. O SISTEMA TOTAL FORD E SEU PROCESSO
tem) e e-mails semestrais, para relembrá-los de suas revisões e
Seu conceito básico é o foco no cliente, sempre buscando
promoções. Ao estabelecer este primeiro contato o cliente vai à
atender as crescentes necessidades dos mesmos, alinhando-
concessionária, onde, encontrará um atendimento personaliza-
se com a estratégia global adotada pela Ford que consiste em
do por meio de consultoria técnica. Um profissional qualificado
atingir a liderança na qualidade dos produtos e na dedicação
para essa função assume o papel de administrar todo o pro-
ao cliente. Após terem sido realizados pesquisas na Europa, os
cesso de atendimento, da chegada à entrega efetiva do veiculo.
clientes revelaram que o mau tratamento recebido no atendi-
O consultor técnico inspeciona o veiculo com objetivo de
mento, foi o principal motivo para deixarem de utilizar os serviços
identificar falhas visíveis, em seguida prepara um orçamento
das Oficinas dos Distribuidores. O principal motivo para o suces-
prévio e apresenta ao consumidor. Autorizada, a execução do
so do programa será o envolvimento dos principais dirigentes da
serviço será automaticamente enviada uma mensagem ao es-
empresa e as suas crenças, cujas atitudes deverão dar sinais
toque de peças, onde, o funcionário responsável pelo setor irá
evidentes do interesse pela qualidade da prestação de serviços
separar as peças necessárias. Continuando o atendimento, será
como fator de competitividade e sobrevivência.
apresentada ao cliente a equipe especializada e o serviço a ser
De acordo com Pinho (2009), Programa Nacional de Treina-
feito em seu veiculo, além de algumas cortesias da empresa
mento ABRADIF (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford),
como: táxi, cafezinho para ambientação, conversa informal com
o Departamento de Serviço tem um papel decisivo para a satisfa-
o mesmo para deixá-lo familiarizado com a empresa. Seguindo
ção e fidelidade dos clientes á marca e a consequente rentabili-
o processo o consultor técnico ira iniciar a abertura da ordem de
dade do negócio. Esta importância comprova-se pelos seguintes
serviço documento que destacará o trabalho a ser executado,
fatos: os clientes compram, em média, um carro novo a cada 3
inclusive as observações do cliente. Finalizando a primeira fase
anos e meio. Contudo, o carro é levado a revisões de oito em oito
de atendimento o consultor técnico irá determinar para o clien-
meses. Desta forma, a cada contato de venda, correspondem cin-
te o tempo necessário para a finalização do trabalho e ambos,
co contatos de serviços com o cliente, sendo, responsável o De-
cliente e funcionário, irão agendar data e horário de entrega.
partamento de Serviços que determina a opinião do cliente sobre
Ao finalizar o trabalho a ordem de serviço é “fechada”, o
o distribuidor. Esta opinião afeta também o seu grau de satisfação
cliente efetua o pagamento e a nota fiscal é emitida. Antes da
e, em longo prazo, as suas intenções de compra. O outro fato é
entrega do veículo todo o serviço executado é explicado para
que o departamento de serviço bem gerido contribui de forma
o cliente e as peças substituídas são apresentadas. Dois dias
significativa para a rentabilidade do distribuidor.
após a entrega do veículo, funcionários do setor de qualidade do
O programa serviço total Ford oferece as seguintes vanta-
distribuidor entram em contato com o consumidor com o intuito
gens ao distribuidor: aumento do nível de satisfação, lealdade
de esclarecer dúvidas, receber elogios e solicitar nota, de 1 (um)
do cliente e melhor qualidade do serviço; aumento das vendas
à 10 (dez), para o atendimento. As reclamações e a nota forne-
de mão-de-obra, peças e acessórios; maior rentabilidade; au-
cida pelos clientes são de fundamental importância para que a
mento da produtividade e da eficiência da oficina; redução dos
equipe corrija suas falhas prevenindo reclamações e os elogios
retornos de serviço. E é possível proporcionar soluções simples
servem como estímulos para sempre melhorar.
aos clientes que os permite: efetuar o agendamento do atendi-
Com isso, percebe-se que anteriormente não deveria haver
mento, segundo sua conveniência; ser recepcionado de forma
um padrão mínimo ou sistematização da área de atendimento
pessoal e imediata; participar do processo de diagnóstico; evi-
a clientes de oficinas autorizadas. O Sistema Total Ford no seu
tar esperas tanto na chegada quanto na retirada do veiculo; ter
formato aqui apresentado sugere uma necessidade de agregar
conhecimento prévio do preço do reparo; ter o veículo reparado
valor a peças e serviços de assistência técnica, com acréscimos
corretamente na primeira vez; receber o veículo pronto no horá-
de agilidade, cortesia e padronização que podem também se-
rio combinado; obter explicação sobre os serviços realizados e
rem interpretadas como formas de aumentar o faturamento da
os custos envolvidos.
rede com pouco investimento ou imobilização de capital, escas-
Para que o sistema aconteça com aperfeiçoamento é ne-
sos em momentos de crise como o retratado.
cessário que haja alguns recursos facilitadores. No primeiro mo-
Assim, tem-se um diagrama na Figura 01 que representa
mento o cliente agenda o serviço, por meio do site da FORD
esse esforço gerencial de aumento de desempenho em meio
ou pelo atendimento telefônico da concessionária, assim o con-
a um cenário adverso, sugerindo assim uma associação como
sumidor fica ciente do distribuidor mais próximo. Os clientes já
conceitos de empreendedorismo.
fidelizados ao distribuidor recebem SMS (short message sys16 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
8. CONCLUSÃO
de cada funcionário, adequando-se ao ambiente de mercado.
Foi identificado que um ponto fraco da empresa era o mau
Considerando que o consumidor está cada vez mais exi-
atendimento realizado nas oficinas dos distribuidores, fazendo
gente, é necessário que os gestores verifiquem as constantes
com que a Ford perdesse significativamente seus clientes. Por
transformações de mercado e as ameaças que a FORD sofre
isso, uma das principais causas para o sucesso do programa
por meio dos seus concorrentes. Recomenda-se que haja sem-
foi o envolvimento dos principais dirigentes da empresa com o
pre uma pesquisa por parte da empresa com seus clientes para
processo de atendimento.
identificar quais atitudes necessitam de melhoria e quais são as
A empresa precisa estar ciente de suas ameaças (principal-
inovações necessárias a se implantar em seu sistema. Além dis-
mente de seus concorrentes que vem adaptando seu método
so, é necessário investir cada vez mais em tecnologia, em um
de atendimento) sabendo aproveitar as oportunidades que o
serviço eficaz de pós-atendimento, reuniões periódicas, avalia-
mercado lhe proporciona, obtendo produtos e serviços de qua-
ções e feedback contínuos.
lidade e confiança. Para que o Sistema Total Ford se mantenha como uma boa estratégia de atendimento, é necessário que a
Dessa forma ela estará se qualificando para atingir o lugar de melhor montadora do setor automotivo mundial.
empresa sustente um bom relacionamento com seus colaboradores, crie tecnologias gerando novas oportunidades de apren-
REFERÊNCIAS
dizagem para seus funcionários, avalie as necessidades e os
BERNARDI, Luis Antônio. Manual de empreendedorismo e gestão: fundamentos, estratégias e dinâmicas. São Paulo: Atlas, 2003. 314 p.
custos para um desenvolvimento de novos planos de pesquisa. É necessário que a Ford mantenha sempre uma visão ampla e inovadora, pois o mercado demanda produtos de qualidade, que possam satisfazer suas necessidades e desejos. A empresa precisa possuir sempre uma boa estratégia, implantando novos programas, aumentando a demanda (quando for possível) e atraindo novos clientes, dessa maneira, construindo relacionamentos lucrativos. É muito importante que os gestores divulguem a empresa, que mantenham uma estratégia de comunicação, não só com os clientes, mas com os funcionários
CARTA MAIOR: Os Estados Unidos e sua crise. [S.I.]. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar. cfm?materia_id=14882>. Acesso em: 10 out. 2011. Traduzido por FREITAS, Naila / Verso Tradutores, 2011. chave-na-estrategia-global-da-ford,665450,0.htm>. Acesso em: 10 out. 2011. DESIGN BRASIL: Setor automotivo. [SI]:. Disponível em: <http://www. designbrasil.org.br/setoresprodutivos/setor-automotivo?=Automotivo>. Acesso em: 16 out. 2011.
também, visando um bom atendimento. É recomendável que a Ford aprenda sobre os clientes, crie produtos e serviços sob medida para suas necessidades e que distribua serviços com eficiência. É importante verificar também quem são seus clientes potencialmente lucrativos, posicionar valor para o serviço de atendimento, verificar as características
Estadão: Brasil é peça-chave na estratégia global da Ford [S.I.]:– SILVA, Cleide, 2011. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/ impresso,brasil-e-pecaFORD: Sobre a Ford: Apresenta a história da Ford. Disponível em: <http://www.ford.com.br/sobre_ford.asp>. Acesso em: 21 out. 2011
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 17
GATES, Bill. Empresa na velocidade do pensamento: com um sistema nervoso digital. São Paulo: Companhia das letras, 1999. GOULART, Iris Barbosa; PAPA, Sudário Filho: Empreendedorismo e empreendedores, sugestões para a educação. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004 MIRSHAWKA, Victor. Empreender é a solução. 2 ed. São Paulo: DVS Editora, 2004. 298 p. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Administração de processos: conceitos, metodologias e práticas. 3 ed. São Paulo: 7 letras, 2009. 314 p. OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de; SILVA, Edison Aurélio da: Gestão organizacional, descobrindo a chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Editora Saraiva, 2006. PINHO, Claudio. Programa nacional de treinamento Avançado ABRADIF (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford): módulo básico, 2010. 57p. PINHO, Claudio. Programa nacional de treinamento Complementar ABRADIF (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford): módulo complementar, 2009. 52p. PINTO, Éder Paschoal ET AL: Gestão empresarial, casos e conceitos de evolução organizacional. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. ROBBINS, Stephen P.: Administração, mudanças e perspectivas. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
NOTAS DE RODAPÉ *Alunos de Administração de Empresas pelo Centro Universitário Newton Paiva. ** Mestre em Administração de Empresas e membro do corpo docente do Centro Universitário Newton Paiva.
18 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
GESTÃO EMPREENDEDORA: um estudo de caso na Auto Mecânica Rômula Ltda. Adriana de Araújo, Amanda Pávilla Arnaldo Ferreira, Kenia Cristina Nathalia Miranda, Thaymon Soares1 Helbert José de Góes2 Laila Maria Hamdan Alvim3
RESUMO: O presente artigo apresenta o estudo da Gestão Empreendedora realizado na Auto Mecânica Rômulo Ltda. que visou solucionar de maneira eficaz os problemas identificados por meio de conceitos estudados no 4° período de Administração de Empresas do Centro Universitário Newton Paiva e de análise de organogramas, gráficos, planilhas e fluxogramas. A empresa em questão busca gerenciar eficientemente os recursos e pessoas para o bem-estar econômico e social da organização. Assim, um planejamento estratégico aparece como uma importante ferramenta de auxílio ao gestor e tem como objetivo definir o caminho a ser seguido pela organização na busca de sua meta. Para demonstrar a aplicação dessa estratégia de gestão, foi desenvolvido e proposto um plano de ação a ser implantado na empresa, que tem, hoje, vinte funcionários. PALAVRAS-CHAVE: Gestão Empreendedora; Plano de Ação; Atendimento; Planejamento Estratégico.
GESTÃO EMPREENDEDORA
tégias, estrutura, metas e planos de ação para aprimorar a ges-
Atualmente, organizações de diversos setores da economia
tão e aumentar o diferencial competitivo da empresa.
mundial têm-se deparado com um cenário cada vez mais competitivo e exigente. Surge, então, a necessidade de realizar
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
mudanças em políticas adotadas pelas empresas, visando
O planejamento estratégico é um processo gerencial con-
a sua reestruturação no mercado mutável e readaptação às
tínuo que visa tomar decisões, formular objetivos, metas e pro-
novas tendências e exigências de seus stakeholders4. Sobre o
gramas de ação para execução. Um plano estratégico oferece
tema, Bernardi comenta:
uma visão do futuro, porque sua elaboração aumenta a proba-
O desempenho e a competitividade de uma empresa estão
bilidade de a organização estar bem estruturada em relação ao
diretamente relacionados à gestão do empreendimento e às
mercado e suas mudanças. Por isso, embora não garanta o
pessoas envolvidas, quer sejam colaboradores, o empresário,
futuro desejado, o planejamento define objetivos, direciona os
no papel de gerente, quer sejam terceiros que venham a contri-
esforços e recursos e dá um rumo ao empreendimento, o que
buir para a empresa. (BERNARDI, 2003, p.139).
nada tem a ver com previsão ou com futuro garantido, até pela
A partir dessa real necessidade, um novo conceito é estudado e discutido por acadêmicos: a Gestão Empreendedo-
dinâmica, volatilidade e complexidade do contexto empresarial (BERNARDI, 2003. p. 102).
ra, que, ainda segundo Bernardi (2003, p.55), “resume-se em
Para Certo e Peter et al (2007), o planejamento estratégi-
estruturar-se de forma adaptativa e integrativa e enfatizar um
co permite à organização, entre outros processo, formalizar a
comportamento sistêmico, em vez de unicamente competitivo”.
sua intenção de atuação no mercado, favorecendo um alinha-
Gerenciar e empreender é lidar com constantes mudan-
mento entre todos os níveis hierárquicos de uma organização.
ças, riscos e complexidade das necessidades da empresa, o
Em um mercado competitivo, o planejamento é uma das ferra-
que exige do gestor posturas diferenciadas. É vital que, como
mentas utilizadas por um gestor em um processo contínuo de
grande responsável pela trajetória da empresa, o gestor em-
interação entre empresa e ambiente, permitindo que esta se
preendedor deve estar apto a lidar com situações que possam
oriente melhor em relação aos recursos e alcance os objetivos
impedir que os objetivos da organização não acompanhem
pelo estabelecimento de metas e prazos que demonstram sua
as transformações do mercado. Com a variedade de assun-
postura frente ao mercado e as mudanças necessárias a serem
tos, áreas, atividades e funções existentes na gestão de uma
realizadas em relação ao seu posicionamento.
empresa, torna-se primordial a interação entre objetivos, estra-
Abordando a aplicabilidade desses vários conceitos, de-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 19
senvolveu-se um projeto junto à empresa Auto Mecânica Rômulo Ltda, que trabalha com reparação de veículos automotores. O projeto consiste em um estudo analítico da empresa e seus stakeholders para obtenção de informações com as quais se torna possível o estabelecimento de uma meta operacional voltada para princípios de uma gestão empreendedora. SETOR AUTOMOBILÍSTICO Segundo as informações disponíveis no site Correio de Uberlândia5, o mercado brasileiro de automóveis, nos últimos dois anos, experimentou um crescimento surpreendente a despeito até dos temidos efeitos da crise financeira global de 2008. Por esta razão, o ano de 2011 é visto por muitos como o início da adequação. Não que o mercado não vá crescer, mas não deve ter números tão dilatados quanto 2010. Nesse ano, o aumento de vendas aproximou-se de 10% sobre 2009. Já 2011, deve registrar um crescimento de 5,2% sobre 2010, segundo as projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA - 2010). Um índice elogiável para os executivos do setor. “Crescer acima do PIB, que deve aumentar em 4,5%, é algo bastante saudável. Em nenhum outro país, a in-
1. DESCRIÇÃO DA EMPRESA
dústria vai crescer nessas projeções”, afirmou para este veículo
a) Razão Social: Auto Mecânica Rômulo Ltda.
de comunicação Rogério Cesar de Souza, economista chefe do
b) Nome fantasia: AMR
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – IEDI.
c) Ramo de atividade: reparação de veículos automotores
Esses dados são fundamentais para que as empresas possamse projetar no mercado de acordo com a exigência atual.
d) Endereço completo: Rua Leopoldino de Oliveira, nº 481, Bom Jesus, Belo Horizonte – MG e) Número de funcionários: 20 (vinte)
A EMPRESA A Auto Mecânica Rômulo Ltda. é uma organização formal
f) Faturamento anual: não foi informado g) Logomarca: AMR – Auto Mecânica Rômulo
de modelo paternalista, fundada em 16 de outubro de 1990, pelo Sr. José Rômulo da Silva, atual diretor, e recebeu o nome
2. DIAGNÓSTICO DA EMPRESA
fantasia de AMR. Possui sede própria e está situada na região
Inicialmente, para estudo, foram realizadas entrevistas in-
noroeste de Belo Horizonte, em uma rua de fácil acesso, com
formais com o empresário e seus gestores principais, que permi-
espaço de 1200 m². É uma empresa de pequeno porte de So-
tiram a percepção da redução do faturamento da empresa e da
ciedade Limitada, com o objetivo de fazer a reparação de veí-
insatisfação dos clientes. Utilizando roteiros semiestruturados,
culos automotores (lanternagem, pintura e mecânica em geral),
buscou-se conhecer a empresa e suas áreas funcionais, para
especialmente, cooperativas de táxis, seguradoras, associações
depois, ampliar por sobre a dinâmica e o desempenho dessa
e veículos particulares.
organização. Depois, alguns funcionários foram selecionados
Atualmente a organização é composta de 15 colaborado-
para entrevistas de verificação da informação prestada pelo em-
res na manutenção, 4 colaboradores na gerência e 1 diretor, que
presário e seus gestores, mas sem identificação e sem registro
se mantém desde sua fundação. A estrutura organizacional da
formal de respostas que pudessem comprometer o clima orga-
empresa Auto Mecânica Rômulo Ltda é composta por uma dire-
nizacional. Ainda assim, alguns clientes que estavam em um
toria, duas assessorias, três gerências, sendo divididas em ad-
momento de transação com a empresa, em sua sala de espera,
ministrativa/RH, financeira, e de manutenção conforme mostra o
foram sondados para nova verificação de questões levantadas.
organograma a seguir.
Para esses dois casos, o roteiro utilizado foram as respostas do empresário e seus gestores principais. A empresa não apresenta uma boa comunicação com seus
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clientes, pois eles não sabem a quem recorrer para solicitar um
bem como seus efeitos sobre a qualidade dos produtos ofereci-
atendimento, para resolver os problemas e até mesmo para fi-
dos pela empresa. (MIRSHAWKA, 2004).
nalizar o serviço solicitado. Nos dias atuais, o empreendedor
Os problemas encontrados na Auto Mecânica Rômulo Ltda
deveria investir o máximo nos relacionamentos com os clientes,
foram evidenciados no diagrama abaixo e, por meio dele, desen-
buscar informações, saber reconhecer um bom cliente, dar su-
volveu-se um plano de ação e estabeleceram-se as ações neces-
porte e segurança ao serviço solicitado. Conhecer o cliente e
sárias para atingir a meta e as pessoas envolvidas no processo.
oferecer um ótimo serviço significam garantia de sobrevivência para os negócios. Conforme Victor Mirshawka (2004), o objetivo primordial de quem quer a sobrevivência do seu negócio é não
perder nunca bons clientes.
O faturamento da empresa não foi revelado, no entanto,
houve redução considerável no último ano, o que justifica o can-
celamento do parcelamento para que os pagamentos à vista
aumentem o fluxo de caixa em curto prazo. As facilidades de pagamento oferecidas já não são mais as mesmas, e todos os pagamentos são apenas à vista. Os funcionários destacam o receio de demissão em função de algumas despensas recentes resultantes da ociosidade e da redução do número de clientes, outro motivo que, de certa for-
Especificamente, os problemas anotados são:
ma, afasta os atuais e impede a captação de novos.
a) Comunicação Empresarial: falta de feedback, falta de
Apesar de o número de clientes entrevistados ter sido baixo, amostragem não probalística, notou-se uma insatisfação
atendimento inicial, ausência de comunicação entre setores, falta no controle de pós-venda.
na maioria deles. Todos reclamaram que, pouco antes ou logo
b) Planejamento e controle de processos: falta de plane-
após o fim da garantia do serviço, o carro volta a apresentar os
jamento de compras, falta de controle dos serviços prestados,
mesmos problemas. Já no caso dos serviços de pintura e lan-
falta de recursos tecnológicos.
ternagem, a insatisfação ocorre imediatamente após a entrega
c) Análise e gestão de processos: falta de profissionalismo
do veículo. Assim, o cliente precisa dispor de tempo novamente
nos processos administrativos, retrabalho, falta de padronização
para voltar à oficina e ficar sem o carro outra vez por mais dias,
dos procedimentos, processos e rotinas informais.
até a revisão dos serviços. A oficina não tem um setor de aten-
d) Análise de custos: cargos desnecessários devido à es-
dimento e satisfação dos clientes, não existindo o trabalho de
trutura familiar da empresa, gastos com retrabalho de serviços
pós-venda tão importante nos dias atuais.
mal feitos, altos gastos com água e luz e um elevado número de
Acredita-se que, com isso, os custos com retrabalho acon-
clientes inativos.
teçam e estejam prejudicando o faturamento anual da empresa. O retrabalho, muitas vezes, pode não incidir custos com mate-
3 PLANO DE AÇÃO
rial, mas o gasto da hora do funcionário deve ser contabilizado,
Como se trata de uma empresa de prestação de servi-
pois este deixa de realizar outro serviço referente ao carro de
ços, o primeiro passo a ser dado para melhorias na qualidade
outro novo cliente. Por isso, definiu-se a meta estratégia de dimi-
dos serviços prestados é oferecer cursos de capacitação e/ou
nuir os gastos da empresa em 10% com retrabalhos em função
atualização para cada funcionário. Modernizar equipamentos e
da falta de controle de qualidade. Em seguida, evidenciaram-se
ferramentas também é fundamental para aprimorar a qualidade
os problemas que a organização apresenta e sua contribuição
de todo serviço prestado garantindo a satisfação dos clientes
para o impedimento do alcance dela.
e fazendo com este voltem a utilizar os serviços da empresa e
A ferramenta utilizada para controlar e apresentar o diag-
ainda a indicá-la para seu networking.
nóstico é o Diagrama Causa e Efeito que evidencia os proble-
Os problemas e as possíveis soluções propostas para Auto
mas e suas respectivas áreas. O diagrama, também conhecido
Mecânica Rômulo Ltda. estão discriminados no plano de ação
como Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe), é uma ferra-
que se define como “documento que estabelece as práticas, os
menta gráfica que permite estruturar hierarquicamente as cau-
recursos, os métodos, os responsáveis, a prioridade e a sequ-
sas de determinado problema ou oportunidade de melhoria,
ência das atividades operacionais da organização”6. Esse plano
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 21
denomina-se Plano de Ação 5W2H e o nome é devido à primeira
ações passem a ser executadas. Esse plano de ação foi elabo-
letra das palavras inglesas: What (O quê), Who (Quem), When
rado pelos alunos pesquisadores e apresentado aos gestores
(Quando), Where (Onde), Why (Por quê), How (Como), How
como resultado direto de recomendações para a organização
Much (Quanto custa). Após serem definidas todas as etapas, o
estudada. O quadro seguinte exemplifica o 5W2H da empresa
plano deve ficar em local visível por toda a equipe para que as
Auto Mecânica Rômulo Ltda.
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4. Implementação do projeto
diferenciado no seu segmento, diminuindo os 10% de prejuízo
Como a organização nunca tenha realizado ou organizado
definidos pela meta estratégica.
um planejamento estratégico, optou-se, inicialmente, pela utili-
A partir desse momento, com a execução das novas me-
zação do plano de ação proposto que é parte integrante de um
didas propostas, será possível desenvolver um trabalho que
planejamento integrado. Essa opção foi proposta ao empresá-
gere satisfação para clientes e funcionários, atingindo o obje-
rio, devido a sua descrença nessa ferramenta por convicções
tivo da Organização.
próprias. Entende-se que, se houver uma adesão ao plano de ação, bem como verificação para seus resultados frente aos
REFERÊNCIAS
principais problemas abordados, abre-se caminho para futuras
ANFAVEA: Anuário 2010. Disponível em <www.anfavea.com.br> . Aceso em 12-09-2011.
abordagens mais consistentes e complexas. As atividades citadas no plano de ação necessitam de ordenação. A técnica utilizada para ordenar tais atividades denomina-se Diagrama de Barra ou Diagrama de Gantt de processos e rotinas informais. O Diagrama de Gantt é um gráfico usado para ilustrar o avanço das diferentes etapas de um projeto. Os intervalos de tempo representam o início e o fim de cada fase, eles aparecem em barras coloridas sobre o eixo horizontal do gráfico. (PRADO, 204). Em seguida, apresenta-se o Diagrama de Gantt com as atividades ordenadas.
BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de empreendedorismo e gestão. São Paulo: Atlas 2003. CERTO, Samuel C. ; PETER, J.P.; et al. Administração estratégica, planejamento e implantação de estratégias. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2010. MIRSHAWKA, Victor. Empreender é a solução. 2 ed. São Paulo: DVS Editora, 2004. PRADO, Darci Santos do. Planejamento e Controle de Projetos. 6 ed. Nova Lima: INDG, 2004. 284 p.
CONCLUSÃO Um dos maiores desafios de uma organização é identificar a necessidade de mudar e/ou adaptar sua gestão às exigências do mercado e, para isso, é necessário que a empresa possua gestores empreendedores que sejam capazes de identificar e aproveitar oportunidades a favor do desenvolvimento organizacional.
SISNEMA.Disponível em:<shttp://sisnema.com.br/Materias/idmat015891.htm > Acesso em 19 out. 2011. CORREIO DE UBELÂNDIA. Disponível em:<http://www.correiodeuberlandia.com.br/veiculos/setor-automotivo-brasileiro-deve-crescerem-2011/ > Acesso em 21 out. 2011.
A empresa Auto Mecânica Rômulo Ltda possui um grande potencial de crescimento, mas precisa rever seus processos para adaptação ao mercado, pois se sabe que o fato de observar e avaliar as oportunidades que surgem é fundamental no momento de fazer a diferença dentro das organizações. Diante das possibilidades, cabe às pessoas saber aproveitá-las da melhor forma possível
DICIONÁRIO DO MARKETING. Disponível em:<http://www.portaldomarketing.com.br/Dicionario_de_Marketing/P.htm> Acesso em: 23 out. 2011.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Alunos do quarto período do curso de Administração de Empresas
e no momento oportuno. Ter a percepção de saber o momento propício para se adequar às novas mudanças, verificando qual deve ser o foco do negócio para se atingirem as metas faz com que a organização esteja sempre ativa no mundo dos negócios. Este estudo de caso teve por objetivo desenvolver e aplicar conceitos à organização analisada, apresentando novas diretri-
2 Professor Tutor 3 Professora Orientadora 4 Qualquer pessoa ou entidade que afeta ou é afetada pelas atividades de uma empresa.
zes a serem seguidas, acompanhando as constantes mudanças de Mercado que auxiliarão no cumprimento da meta traçada. Para que a Auto Mecânica Rômulo Ltda consiga consolidar o plano de ação proposto, é primordial que todos os funcionários estejam envolvidos com as novas mudanças sugeridas. É necessário que todos estejam de acordo com a política a ser
5<http://www.correiodeuberlandia.com.br/veiculos/setor-automotivobrasileiro-deve-crescer-em-2011/ > Acesso em 21 out. 2011. 6< http :// www . portaldomarketing . com . br /D icionario _ de _ Marketing/P.htm > Acesso em: 23 out. 2011.
adotada pela empresa, pois, se não estiverem totalmente comprometidos, a organização não atingirá o principal objetivo, que é ser considerada como uma empresa que presta um serviço PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 25
O VAREJO DE AUTOPEÇAS: uma busca da gestão empreendedora na Aja Diesel André Luís Pereira Vilela1 Domingas Paulino de Almeida Francisco Karina Batista Komine Karine Nogueira de Barros Freitas Larissa Lara Tavares Mauricio de Mello Rodrigues Sibele Pinheiro do Nascimento Eduardo Bomfim Machado2
RESUMO: O presente artigo é consequência do estudo de caso realizado na AJA Diesel, uma empresa de pequeno porte do ramo peças automotivas. Por meio de pesquisas realizadas acerca do tema central, Gestão Empreendedora, objetivos foram traçados a fim de se chegar a um resultado satisfatório sobre a atual capacidade da empresa em continuar sua trajetória empreendedora verificada quando da sua inauguração, bem como potenciais propostas que solucionem as deficiências encontradas. Dessa forma, procurou-se resolver a questão norteadora sobre quais seriam as potencialidades e deficiências da AJA Diesel em sua gestão que estariam relacionadas com uma orientação de intra empreendedorismo? Os resultados encontrados estão apresentados ao final na seção de recomendações, após a apresentação dessa organizações suas características. PALAVRAS-CHAVE: empreendedorismo; gestão empreendedora; intra empreendedorismo.
INTRODUÇÃO
vender aos antigos clientes são, por exemplo, comprar peças
Para SINDIPEÇAS, (2011b) o varejo de peças automotivas
importadas que tenham um preço melhor que as peças nacio-
para a linha pesada tem tido uma grande demanda, porém, de
nais, vender itens de outras marcas, abrir filiais em locais que
um ano para o outro, a quantidade de caminhões fabricados e
possam atender melhor aos clientes e melhorar o atendimento
licenciados tem sofrido grande variação, o que trouxe bastante
e agilidade na entrega.
insegurança aos mercados que dependem deste crescimen-
Tal contexto e movimentações do setor foram úteis para
to. Para conseguir resistir a essa instabilidade, as empresas
pesquisa e análise da empresa AJA Diesel em sua trajetória de
distribuidoras de peças, que vendem por atacado, passaram
fundação e manutenção em um mercado que requer dinamismo.
a vender suas mercadorias diretamente aos frotistas, fábricas, oficinas e empresas de caminhões e ônibus, ou seja, ocupando
MERCADO NACIONAL DO SETOR DE AUTOPEÇAS
o mercado e prejudicando as vendas dos varejistas.
Quanto ao mercado de autopeças, especificamente, ob-
Essa situação está, cada vez mais, se generalizando e fa-
serva-se uma movimentação competitiva direcionando, a partir
zendo com que o atacado satisfaça os clientes com preços mui-
de 1980, uma redução da sua produção e investimentos, não
to mais atrativos, pois, pelo fato dos fabricantes de peças não
conseguindo, assim, competir com as importações que come-
venderem seus produtos diretamente ao varejo, fica complicado
çavam a aumentar.
disputar com os preços do atacado, que acaba conquistando
Dessa forma, na década de 1990, grande parte das em-
os clientes que compram em maior quantidade, deixando aos
presas brasileiras desse sub setor passou a ser controlada por
varejistas a menor parcela do mercado. De um modo geral, os
companhias estrangeiras, o que proporcionou às indústrias
negócios da maioria dos varejistas ganharam em volume de ven-
uma nova e moderna estrutura, ganhando status internacional
das, mas o faturamento diminuiu, pois passaram a fazer muitas
e exportando seus produtos para todos os continentes. Quan-
vendas de peças de pequeno valor. (ANFAVEA, 2011)
to às montadoras, observou-se uma abertura econômica que
Assim o SINDIPEÇAS, 2011a indica algumas soluções que
impeliu a um novo patamar de competitividade e inovação, se
o varejo encontrou para tentar recuperar o prejuízo e voltar a
aproveitando também dessa nova estrutura de fornecimento.
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(ABIPEÇAS, 2011)
sarial da organização em função com o tema. Em uma aborda-
Ainda pelo site da ABIPEÇAS, 2011, nos anos 2000, a indústria de autopeças continuou a expandir, havendo um aumento
gem qualitativa, definiu-se por conveniência um único objeto de estudo, que é a própria organização apresentada. (YIN, 2000)
na rentabilidade média, faturamento, investimentos e número de
Para essa construção foram utilizadas pesquisas bibliográfi-
colaboradores, porém, o setor ainda possui três grandes obs-
cas e pesquisas de campo, com métodos de entrevista e obser-
táculos: manter o volume de exportação, estimular a demanda
vação direta. Para a consecução do primeiro objetivo específico,
doméstica e aguardar acordos comerciais do MERCOSUL com
além de uma pesquisa bibliografia eletrônica junto a base de
outros blocos econômicos.
dados da ANFAVEA, procurou-se identificar variáveis de desem-
Segundo pesquisa publicada, em outubro de 2011, pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores – SINDIPEÇAS tem-se que:
penho acerca dos fornecedores e concorrentes diretos dessa organização. As entrevistas utilizadas foram organizadas e sistematiza-
No acumulado dos oito meses de 2011, em relação ao
das através de roteiros semi-estruturados que foram obtidos a
mesmo período de 2010, o faturamento real avançou
partir da bibliografia de empreendedorismo e de temas associa-
11,1%. Na comparação entre agosto e julho, a expansão
dos a clientes, concorrentes e fornecedores.
foi de 4,9%. Ainda de acordo com os dados da pesquisa, em agosto, o faturamento foi distribuído entre vendas
EMPREENDEDORISMO
para montadoras, que ficaram com 69,3%; exportações,
Depois de uma caracterização do que venha a ser empre-
13,2%; mercado de reposição, 12,0%; e vendas entre
endedorismo apresentada por Goulart e Papa, (2004), parte-se
empresas do setor, com 5,5%. (SINDIPEÇAS, 2011a)
para uma percepção mais acurada do que venha a ser uma capacidade empreendedora. Essa constatação vem sido analisa-
Esse é o contexto em que se insere a organização, na sua
da como algo relacionado à criação de novas riquezas, ideias
busca pela manutenção de uma posição competitiva, ou ainda,
ou à capacidade de gerir o próprio empreendimento, através,
um eventual crescimento do seu porte, acompanhando os nú-
principalmente de 11 tipos de características gerenciais apre-
meros desse setor.
sentadas por Oliveira e Silva (2006). Segundo os autores supracitados, a capacidade empreendedora é uma abordagem à administração que define como
OBJETIVOS
pode ser executada uma exploração de oportunidades, independentemente dos recursos que se tem à mão.
OBJETIVO GERAL Analisar o atual cenário da empresa AJA Diesel em um es-
O empreendedor é aquele que, inicia algo novo, que vê o
tudo de caso como forma de sustentar um direcionamento que
que ninguém vê. É aquele que sai da área do sonho, do dese-
amplie suas ações para gestão empreendedora.
jo, e parte para a ação. Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões, e acima de tudo, é um realizador que produz novas idéias através da congruência entre
OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar a situação atual do mercado em que a empresa está inserida.
criatividade e imaginação. Segundo Bierley e Muzika (2001, p. XIII), os empreendedores são:
Pesquisar junto aos funcionários e gestores, quais são as
Indivíduos que organizam, operam e assumem os ris-
principais características da empresa, focando nos pontos for-
cos associados com um empreendimento que criaram,
tes e fracos.
visando à concretização de uma oportunidade que eles
Construir um estudo de caso caracterizando a atual gestão da empresa.
e outros identificaram. O processo empreendedor é dirigido à realização do valor associado com as oportuni-
Buscar soluções para que a empresa tenha um melhor fun-
dades de negócios.
cionamento interno, refletindo, positivamente, no âmbito externo. Corroborando com essa orientação, Oliveira e Silva (2006) METODOLOGIA
apresentam 11 características de um empreendedor, que po-
Como se trata de um estudo de caso elaborado para uma
dem ser verificadas em maior ou menor grau em líderes, gesto-
abordagem do tema Gestão Empreendedora, o presente artigo
res ou empresários, ou ainda, se verificar um arranjo da maioria
procurará de maneira descritiva apresentar a realidade empre-
delas presentes nas atitudes e habilidades desses indivíduos.
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Segundo Bernardi (2003), liderar e empreender são “lidar com a mudança e a inovação, portanto com o risco, e gerenciar
promover os principais objetivos das organizações independe da alteração que vier a ocorrer.
é lidar com a complexidade, o que exige do empreendedor pos-
Há algumas práticas de gestão empreendedora que as
turas diferenciadas, por vezes conflitantes, como faces diferen-
organizações devem buscar e tentar introduzi-las em seu coti-
tes de uma mesma moeda.”
diano. Conforme Drucker (2010) as práticas são por meio da
Para esse autor, o empreendedor tem como característica
avaliação do ambiente e externo a procura de oportunidades,
básica o espírito criativo e pesquisador, pois tem uma visão do
ouvir os colaboradores de maneira que se alcancem os objeti-
futuro, está constantemente buscando soluções e métodos de
vos propostos e gerar o objetivo empreendedor em toda organi-
inovação de seu produto ou serviço sempre com o intuito de zação. Além de basear-se na política de remuneração variável, satisfazer as necessidades das pessoas.
na gestão de conhecimentos, na cultura da inovação, na tecno-
Contudo, é necessário para o “espírito” empreendedor de
logia da informação (TI), na liderança com cultura de execução,
modo estratégico, segundo Drucker (1998); Robbins (2008),
na gestão por competências, no planejamento estratégico e no
que exista diferenciais, como, “inovação é a função específica
intra empreendedorismo.3
do empreendedorismo, seja em um negócio existente, em uma
A gestão empreendedora é encontrada em todos os seg-
instituição pública de serviços”. De modo que as inovações es-
mentos, e em todos os setores, mas ela só existe se agir de
tejam presentes em todos os processos e áreas da empresa
forma que a organização consiga contagiar todos seus integran-
criando novos recursos.
tes para que ocorra o desenvolvimento da mesma, vindo a se
Toda organização existe para alcançar objetivos sendo
diferenciar diante do mercado e da concorrência.
esses diretos ou não, e para isto é necessário uma “linha de comando padrão” (STONER; FREEMAN, 1999), no que a hierarquia se deve iniciar de cima para baixo, ou seja, começando do
DESCRIÇÃO DA EMPRESA HISTÓRICO
escalão mais alto ao mais baixo, de modo que se envolvam di-
A AJA Diesel Comércio de Peças e Acessórios Ltda. é uma
retamente para com a realização dos mesmos. E segundo Chia-
pequena empresa privada. Foi fundada em 16 de abril de 2009,
venato (2004) linha significa a autoridade de comando e de ação
pelos sócios, Aline Nogueira de Barros Freitas e Alziro Paula de
que decorre da posição hierárquica ocupada, o que confirma a
Freitas e está localizada em Jardim Gramacho – Duque de Ca-
participação, pois insere na ação.
xias, que fica aproximadamente a 3 Km do centro de Duque de
Tanto Robbins (2008), quanto Oliveira e Silva (2006) apre-
Caxias/RJ.
sentam matizes de organizações que se estruturam a partir de
Os sócios, em busca de condições trabalhistas melhores,
determinadas diretrizes e operações. Assim, desde organiza-
aproveitaram seu vasto conhecimento no mercado e o sonho de
ções consideradas, por exemplo, Burocráticas, Coercitivas, Uti-
se tornarem empreendedores, disponibilizaram os recursos que
litárias, ou Normativas, tem-se um registro histórico da evolução
possuíam e arrecadaram fundos para o processo de iniciação
do dinamismo das estruturas funcionais em torno de ganhos
da AJA Diesel buscando atender aos clientes com seriedade e
de competitivos, de acordo com condicionantes externos, tanto
competência, de maneira ágil, reduzindo ao máximo o tempo de
oportunidades, quanto ameaças.
espera pelo produto, por meio do atendimento eficiente e em um
Em se associando procedimentos de deliberação e empo-
ambiente agradável.
werment de funcionários, observa-se um alinhamento entre essa
A visão do empreendedor tem de ser voltada ao mercado,
postura organizacional com temas de intra empreendorismo in-
analisando três ângulos distintos: O consumidor, o concorren-
dicados por Bernardi (2003), o que recai sobre o entendimento
te e o fornecedor. Saber o perfil da clientela que deseja atingir,
que empresas assim classificadas tendem a ser mais ágeis do
quais suas necessidades, que produtos esperam receber.
que empresas com estruturas mais rígidas como as verificadas no passado.
A) MISSÃO
Assim, as empresas podem buscar processos dinâmicos
Atender ao cliente com seriedade e competência, de maneira
que surgem a partir dos seguintes princípios “planejamento or-
ágil, reduzindo ao máximo o tempo de espera pelo produto, por
ganização, liderança (e outros processos de gestão de pesso-
meio de um atendimento eficiente e em um ambiente agradável.
as), execução e controle” (Maximiano, 2009). De modo que consigam se adaptar às diversas mudanças do ambiente atual, em seu cenário e demanda, a partir de práticas e condutas que irão
B) VISÃO Reconhecimento do grupo perante o setor automotivo, sen-
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do um referencial em qualidade, competência no atendimento e
Situada numa Rodovia com fluxo intenso de veículos, princi-
no segmento de pequena empresa baseada na ética, profissio-
palmente por ônibus e caminhões, onde existem vários condo-
nalismo e responsabilidade social, agregando valor ao cliente.
mínios, com várias empresas de transportes de cargas, o que facilita seu acesso e também por localizar-se dentro de um posto de gasolina, onde existe uma rotatividade grande de pessoas no
C) DADOS DA EMPRESA Razão Social: AJA Diesel Comércio de Peças e Acessórios Ltda.
local, tornando-se estrategicamente bem posicionada. A empresa dispõe de uma sócia-gerente, um sócio, uma
Nome Fantasia: AJA Diesel.
auxiliar de escritório, um vendedor de balcão, um motorista de
CNPJ: 10.800.687/0001-01.
automóvel e um motociclista.
Inscrição Estadual: 78.738.502.
Dessa estrutura física e em se considerando a localização,
Endereço: Rod. Washington Luiz, 1616 – Jardim Gramacho.
existem oportunidades a serem observadas pelo fluxo de usuá-
Duque de Caxias - Rio de Janeiro.
rios e pelo mercado local a ser explorado com serviços de entre-
CEP: 25085-009.
ga e reposição de estoques de oficinas. Porém, dessa estrutura
Telefone/Fax: (21) 2775-0143.
percebe-se uma limitação operacional pelo tamanho e comple-
Endereço Eletrônico: ajadiesel@ig.com.br
xidade que podem determinar um porte empresarial reduzido. Outro fator a ser considerado é a similaridade de ofertas existentes nesse mercado que acarreta uma rivalidade entre as empre-
D) LOGOTIPO
sas desse setor em função da padronização de peças advinda da indústria, direcionando assim, uma necessidade constante de busca de custos operacionais menores e tentativas de diferenciação via serviços agregados. O que de certa forma constitui um desafio empresarial que, ora se vê pressionado em desagregar valor de operações onerosas, e ora oferecer atividades aos seus clientes que geram custos adicionais ao orçamento empresarial.
E) DEFINIÇÕES DO NEGÓCIO A atividade da AJA Diesel é o varejo de peças e acessórios para ônibus e caminhões de diversos portes, sendo seu
REFERÊNCIAS COMERCIAIS
público alvo, empresas prestadoras de serviços e oficinas me-
Os produtos da AJA Diesel são fornecidos, principalmen-
cânicas que realizam consertos e manutenção preventiva, assim
te, por CBA Diesel Comercial Automotiva Ltda., Comdip Comer-
desempenhando o serviço para os clientes finais, ou seja, os
cial Distribuidora de Peças Ltda., Rochester Auto Importadora
proprietários dos veículos.
S.A., Zanelli Diesel Distribuidor de Peças Ltda., Sama Autopeças
Abaixo será apresentado o Desenho da estrutura Organizacional da empresa AJA Diesel:
Distribuidora Automotiva S.A e Junta Lima Indústria e Comércio de Auto Peças Ltda. e tem como principais clientes, Fort Blind Comércio de Peças e Manutenção Ltda., Hortigil Hortifruti S/A, Unigranrio Universidade do Grande Rio, Rodo Jumbo Transportes Rodoviários Ltda. e MTD Transportes Ltda., destacando-se perante a Mirostar Distribuidora e Comercio de Peças Auto., Ramar de Caxias Comercio Varejista de Auto Peças Ltda., Multimarcas Peças Diesel Ltda., e Petro Parts Peças e Serviços Diesel Ltda., seus principais concorrentes. PROBLEMÁTICA A AJA Diesel em seu segundo ano de atividade, enfren-
DIAGNÓSTICO DA EMPRESA
ta problemas pertinentes às organizações que se consolidam
A AJA Diesel apresenta um estabelecimento com 160m²,
após sua abertura, passando pelo período crítico de abertura
uma estrutura com recepção com balcão para atendimento ao cliente, uma sala para o caixa, uma sala para a gerência, e o restante do espaço para o estoque.
e início de atividades. As bases empreendedoras de criação e concepção do negócio, bem como escolha de local, fornecedores e demais
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 29
questões comerciais, parecem agora serem insuficientes para
prometida pela baixa qualidade das informações gerenciais e
sustentar a consolidação e o crescimento da organização.
do seu controle, o que demonstra que a empresa necessita de
Novas demandas gerenciais, conflitos internos e aprimoramento de know how demanda evolução de uma mentalidade em-
novas diretrizes nesse sentido para continuar sua trajetória empresarial de consolidação.
preendedora. Mas que ao mesmo tempo impulsione a organização para um futuro empresarial consistente, sem contrariar sua essência original que comprovou sua eficácia no momento adequado.
CONCLUSÃO O presente artigo foi consequência do estudo realizado na
Portanto, percebe-se a necessidade de uma verificação:
AJA Diesel Ltda., uma empresa do ramo peças automotivas. Foi
existem componentes dentro do cenário empresarial da AJA
feita uma análise e que constatou alguns problemas em rela-
Diesel que sustentem e direcionem uma necessidade ampliação
ção às bases do empreendedorismo evidenciado no histórico
de suas ações para uma estão empreendedora?
e discurso dos seus sócios com o seu ambiente interno e externo. E por meio de pesquisas realizadas acerca do tema central,
EMPREENDEDORISMO NA AJA DIESEL
Gestão Empreendedora, os objetivos traçados foram atingidos
Pode-se observar que a empresa AJA Diesel, possui inter-
direcionando a seção seguinte desse artigo com temas para
namente algumas características empreendedoras, relatadas
uma futura intervenção na capacidade de gerar eficiência em
pelos seus sócios, dentre elas ressalta-se o sendo se oportuni-
sua gestão, a fim de se chegar a um resultado de consolidação
dade e o espírito criativo dos gestores, que deixaram de sonhar
da empresa em seu mercado.
e partiram para a realização do sonho.
A empresa dentro de uma nova perspectiva, com iniciativas
Mediante suas novas ideias, desenvolveram uma capacidade
empreendedoras redirecionadas para novas áreas da adminis-
para gerir o próprio negócio, assumiram os riscos disponíveis e se
tração e controle. O que possibilita contornar as dificuldades e
responsabilizaram de forma criativa pela inovação para levar o ne-
obstáculos encontrados na trajetória, e levar a frente seu sonho,
gócio adiante. Desde então, a empresa vem adquirindo a confiança
agora embasado em planejamentos e pesquisas, tornando-se
e satisfação dos clientes devido ao melhor atendimento e propor-
diferenciada de seus concorrentes, mostranto-se mais compe-
cionando qualidade dos produtos e ambiente organizacional.
titiva e inovadora.
Ainda obteve-se uma postura positiva em relação aos ges-
Os limites dessa pesquisa residem na dificuldade de obten-
tores em colocar sua ideia original em prática, mesmo não sen-
ção de dados sobre o real potencial de mercado da região indi-
do portadores de grandes recursos, mas de conhecimentos, ex-
cada, cabendo aqui ressalvas quanto a fala dos gestores que foi
periencias e técnicas administrativas, principalmente do próprio
utilizada como ponto de partida para essa verificação.
segmento (varejo de peças automotivas).
Outro limite está relacionado com o número de funcionários
A empresa, apesar de possuir algumas atitudes empreen-
que participaram diretamente da coleta de dados interna e da
dedoras, ainda apresenta deficiências internas e externas, as
não consulta dos principais clientes citados, sobre o desempe-
quais influenciam negativamente no crescimento da mesma.
nho da empresa, o que poderia contrapor a uma fala mais dire-
Uma agilidade necessária para atender a clientes que per-
cionada dos gestores em omissão de algum fato mais crítico.
dem negócios enquanto reparam seus veículos pressiona não
Contudo, percebe-se uma abertura para empresas desse setor
as bases de empreendedorismo da empresa e sua força idea-
e com porte análogos ao da AJA Diesel que possam ser pesquisa-
lizadora, mas acarretam numa desorganização operacional ve-
das para efeitiva veirificação da sua condição intra empreendedora.
rificada basicamente num controle decentralizado entre RH, comercial e financeiro. São sistemas de informação independentes que perdem sua eficiência ao serem coordenados.
RECOMENDAÇÕES FINAIS Após as análises dos dados encontrados, tanto na biblio-
Em se verificando uma agilidade maior de concorrentes lo-
grafia, quanto os apresentados pela organização, indica-se que
cais que possam oferecer os mesmos produtos, em um tempo
novos procedimentos administrativos podem ser implementados
de resposta menor e com custos menores de processamento
como forma direta de reforço a uma atitude intra empreendedora.
de pedidos e entrega, pode-se considerar que a empresa sofre
Treinamento de funcionários para a melhor qualidade no
uma ameaça diretamente relacionada com sua principal defici-
atendimento, e padronização na execução de tarefas, assim
ência gerencial.
como desenvolvimento de planos de carreira e bonificação para
A qualidade da gestão empreendedora até aqui verificada na empresa e na explanação dos seus sócios está sendo com-
proporcionar motivação ao funcionário. Investir em inovações tecnológicas, visto que o software
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não comporta mais as operações realizadas na loja. Incentivar o fluxo de informação sobre novas oportunidades de negócio entre os funcionários de vendas e compras. Manter reuniões sistematizadas com o intuito de troca de experiências e informações do setor. Premiar funcionários com novos projetos e ideias viáveis de novos negócios para a empresa. A AJA Diesel ainda está proposta a seguir a as seguintes orientações ditas por Chiavenato (2004) que segundo ele são três objetivos que a organização tem de seguir: Conhecer suas operações e avaliar seus pontos fortes e fracos. Para tanto, deve documentar os passos e praticas dos processos de trabalho, definir medidas de desempenho e diagnosticar suas fragilidades. Localizar e conhecer os concorrentes ou organizações líderes do mercado, para poder diferenciar as habilidades, conhecendo seus pontos fortes e fracos e compará-los com seus próprios pontos fortes e fracos. Incorporar o melhor do melhor, adotando os pontos fortes dos concorrentes e, se possível, excedendo-os e ultrapassando-os. Considerando as condições oferecidas pela empresa, foi proposto um projeto de iniciativas empreendedoras visando uma ampliação da sua condição empreendedora e consequentemente atingir melhores condições para competir em sua área de atuação, sobretudo com outras empresas do mesmo porte, na fatia de mercado em que são competitivas. Para preparar o projeto de iniciativas foram-se pesquisadas técnicas gerenciais que permitem implantar metas empreendedoras na organização. Então foi realizado um estudo interno na empresa para conhecer o processo total de produção, sua estrutura, histórico e condições de mercado e também externo para potencializar o alcance de um melhor resultado por meio de estudos em bibliografias sobre o tema central, a fim de basear a pesquisa. REFERÊNCIAS ABIPEÇAS: Associação brasileira da indústria de autopeças: Seção Economia..http://www.sindipecas.org.br/paginas_NETCDM/modelo_detalhe_generico.asp?subtit=&ID_CANAL=17&id=36283 Acessado em 01/11/2011 às 15:32. ANFAVEA: As peças de uma engrenagem. Disponível em: <http:// www.anfavea.com.br/50anos/72.pdf>. Acesso em: 21 out. 2011 às 22:13. BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de empreendedorismo e gestão: fundamentos, estratégias e dinâmicas. São Paulo: Atlas 2003. 314p. BIRLEY, Sui; MUZIKA, Daniel F. Dominando os desafios do empreendedor. São Paulo: Makron Books. 2001. 334p.
CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor: empreendedorismo e viabilização de novas empresas, um guia compreensivo para iniciar e tocar seu próprio negócio. 3.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. xiv, 281p. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 634 p. 7.ed. DRUCKER, Peter Ferdinand. A profissão de administrador. São Paulo: Pioneira, 1998 187 p. DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Cengage Learning, 2010. xviii, 378 p. GOULART, Iris Barbosa; PAPA, Sudário Filho: Empreendedorismo e empreendedores, sugestões para a educação. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004. MAXIMIANO, Antonio César Amaru: Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2009. 404 p. 7. ed. OLHAR FINANCEIRO: Gestão: Empreendedorismo. Disponível em: <http://www.olharfinanceiro.com.br/apostilas/empreendedorismo_ apostila.pdf>. Acesso em 18 out. 2011. OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de; SILVA, Edison Aurélio da: Gestão organizacional, descobrindo uma chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Editora Saraiva, 2006. ROBBINS, Stephen P.: Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Editora Saraiva. 2008. SEBRAE MG - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais. Disponível em: < http://www.sebraemg.com.br >. Acesso em: 22 set. 2011. SINDIPEÇAS: Pista escorregadia, o varejo de peças para a linha pesada sofre com os avanços e os recuos que têm caracterizado os negócios na área. Disponível em: <http://www.sincopecas.org.br/ materias/?COD=1106>. Acesso em: 08 out. 2011a. às 09:15.
_____________:
Relatório da Pesquisa Conjuntural. 2 ed. 2011. Disponível em: <http://www.sindipecas.org.br/arquivos/RPCOUT2011. pdf>. Acesso em: 22 out. 2011b. às 09:22. STONER, James A. F.; FREEMAN, R. Edward. Administração. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1999 533 p. 5ª ed.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Autores: alunos do curso de Administração de Empresas no Centro Universitário Newton Paiva. Endereço eletrônico: adm.newton2010@ hotmail.com.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 31
2 Mestre e professor, leciona a disciplina Analise e Gestão de Processos para o Curso de Administração de Empresas. 3 Termo criado por Gifford Pinchot na década de 80 e relaciona-se com o comportamento empreendedor voltado para dentro das organizações, o que gera inovações e agregação de valor em serviços e produtos,
32 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
REVISTA AUTOCAR: fatores de sucesso e profissionais preparados para a competitividade no setor automotivo Aclízia Cristiane Fragoso1 Daniella Barbosa Faglioni Fernanda Almeida Silva Gabriella Morena Correia Friche Laíssa Ribas da Cruz Taís de Fátima Lima Soares Eduardo Bomfim Machado2
RESUMO: Dentro de uma verificação de oportunidade de mercado e de visão empreendedora o presente artigo busca descrever uma organização do setor automotivo que se especializou na divulgação de informações relativas a esse setor. Seu planejamento de marketing, informações, oportunidades e riscos, com foco principal no setor de Recursos Humanos e na competência em reconhecer e manter os melhores profissionais em conteúdo editorial do mercado mineiro. Indica-se que a política empreendedora da revista Autocar foi retratada, assim como sua situação atual, além de suas estratégias delineadas e seus sistemas administrativos que contribuem para que os objetivos da organização sejam alcançados. A motivação dessa pesquisa está relacionada com a questão: a Revista Autocar sendo uma publicação do setor automotivo possui um gerenciamento alinhado com uma gestão empreendedora? Palavras-chave: Autocar, mercado automotivo, empreendedorismo.
a trazer empresas do setor automobilístico para MG e
INTRODUÇÃO O Brasil se mantém na quarta posição de vendas de automóveis e registra 7% no volume comercializado. Segundo a AN-
ampliando sobremaneira o mercado automotivo em todo o estado. (REVISTA AUTOMOTIVO, 2011)
VFAVEA (2011), o país registrou 3.183.923 veículos produzidos no ano de 2009, enquanto em 2010 somou 3.646.133 unidades.
Acompanhando essa movimentação para novas praças
Segundo a Revista Automotivo (2011), Belo Horizonte
produtivas, a pioneira no mercado, a revista Autocar é a única
tornou-se um dos maiores centros financeiros do Brasil, carac-
em Minas Gerais que aborda temas relacionados à indústria
terizado pela predominância do setor terciário em sua econo-
automotiva, apresentando os lançamentos do mercado. A Re-
mia. Mais de 80% da economia do município se concentra na
vista Autocar busca se destacar no mercado passando para o
prestação de serviços, com destaque para o comércio, servi-
consumidor as mais atualizadas informações do meio automo-
ços financeiros, entre outros. Empresas renomadas no setor
bilistico, diante disso a empresa parece associar o desenvol-
automobilístico favoreceram o mercado estabelecendo gran-
vimento, inovação e ao aproveitamento de oportunidades em
des pólos industriais que foram líderes na produção e vendas
negócios. Já que compete diretamente com grandes publica-
a partir dos anos 1970 no país e expandindo o segmento em
ções em nível nacional, tais como Autosport e Quatro Rodas,
Minas Gerais.
além de fazer frente a estruturas editoriais competitivas como
Segundo a Revista Automotivo (2011), o movimento de ex-
é o caso da Vrumm do Estado de Minas (Diários Associados)
pansão da indústria passou por uma busca por novas áreas
A empresa se insere no ramo editorial e se destaca pela
industriais fora do Estado de São Paulo, o que direcionou al-
qualidade, informações relevantes, preço acessível e possui
gumas empresas em considerar, ora acesso a matéria prima,
completa tabela de preços que apresenta os melhores mode-
ora acesso a exportações como alternativas à concentração e
los para se comprar em cada categoria de veículos. A atual
saturação do setor produtivo em São Paulo.
equipe da revista é composta por 4 profissionais qualificados
A entrada em operação da montadora de veículos e
com curso superior concluído ou em andamento. Além de te-
seu gradativo aumento de produção foi extremamente
rem cursos técnicos de acordo com cada função.
importante para a consolidação do segmento de bens
O presente artigo busca descrever a organização e seu
de capital e de bens de consumo duráveis, ajudando
planejamento de marketing, identificar informações, oportuni-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 33
dades e riscos, com foco principal no setor de Recursos Hu-
EMBASAMENTO TEÓRICO
manos e na competência em reconhecer e manter os melhores
As definições sobre empreendedorismo remetem a uma
profissionais em conteúdo editorial do mercado mineiro.
construção de conhecimento por sobre atividades de abertura
Assim, a execução do artigo apresenta uma oportunidade de
e exploração de oportunidades de negócios em qualquer am-
aprofundamento no assunto proposto, permitindo um maior conhe-
plitude e complexidade. Mais precisamente, observa-se um viés
cimento no contexto automotivo e empreendedor. Procurando evi-
europeu e anglicano direcionando esse corpo de conhecimento
denciar se as condições encontradas dentro da estrutura funcional
desde sua origem, mesmo que haja atividades empresariais em
da Revista estão alinhadas com uma gestão empreendedora.
um contexto histórico e global. (GOULART; PAPA, 2004)
2 - CONTEXTO DE MERCADO
empreendedora é um evento tanto cultural e psicológico, como
Segundo Drucker (1994), o aparecimento da economia A indústria automobilística é um dos setores da economia
econômico ou tecnológico. Inovação e espírito empreendedor
no qual a competição é mais acirrada e as mudanças na estru-
são necessários na sociedade tanto quanto na economia; por-
tura das empresas ocorrem com maior freqüência (CANGÜE et
que eles não constituem “algo radical”, mas “um passo de cada
al, 2007). Segundo Anfavea (2011) o Brasil que se mantém na
vez” focando as oportunidades e necessidades específicas.
quarta posição de vendas de automóveis e registra 7% no volu-
Seguindo ainda a ideia do autor, o que se precisa é de uma
me comercializado, como mostra a FIG. 1, tem-se uma apresen-
sociedade empreendedora, na qual a inovação e o empreende-
tação da distribuição de vendas por estado.
dorismo sejam normais, estáveis e contínuos. Exatamente como a administração se tornou o órgão específico de todas as instituições contemporâneas, a inovação e o empreendedorismo se tornarão uma atividade vital, permanente e integral em nossas organizações, nossa economia, nossa sociedade. Com isso, Oliveira e Silva (2006, p. 118), apresentam fontes de oportunidade para inovação que devem ser sistematizadas pelas organizações que queiram optar por um modelo de administração voltada para o empreendedorismo. São eles: (i) da ocorrência de um fato inesperado; (ii) da incongruência dos fatos; (iii) da necessidade de inovação; (iv) das mudanças estruturais econômicas; (v) das mudanças demográficas; (vi) das mudanças de percepção, disposição e significado e (vii) do co-
Vários fatores criam um interessante mercado potencial para
nhecimento novo.
a venda de automotores no país: o aumento da renda dos brasilei-
Para Mirshawka (2004); Goulart e Papa (2004) os empreende-
ros, a forte expansão do crédito e a maior confiança dos consumi-
dores são aquelas pessoas que, recebendo a mesma informação
dores, com a elevação do nível de emprego. “Existem 18 milhões
que muitos outros indivíduos, enxergam coisas que estes últimos
de famílias no Brasil que têm condições de pagar 20% de entrada
não conseguem vislumbrar. Além de que as empresas e os profis-
e assumir prestações do financiamento de um carro de R$ 25 mil,
sionais precisam desenvolver regularmente seus potenciais criati-
fabricado entre 2005 e 2010.” (ISHIKAWA, 2011)
vos para superar obstáculos e sobreviver no mercado. Mirshawka
Com esses números citados acima, o Brasil consolidou-se
ainda relata que os profissionais que desejam ser empreendedores
na posição de quarto maior mercado de veículos do mundo (atrás
necessitam praticar o pensamento sistêmico, utilizar cada vez mais
de China, Estados Unidos e Japão), atraindo cada vez mais a aten-
a criatividade e estar atentos à nova maneira de fazer negócios
ção de fabricantes de todo o planeta. Por isso, os modelos importa-
fundamentando-se na crescente velocidade da informação.
dos vão alcançar sem dificuldades 20% dos emplacamentos, che-
São consideradas características de um empreendedor
gando perto de 700 mil veículos estrangeiros novos negociados em
segundo Oliveira e Silva (2006 pgs. 119-120): (i) capacidade
2011, contra 630 mil em 2010. (ANFAVEA, 2011)
de assumir riscos; (ii) senso de oportunidade; (iii) liderança;
Tais números corroboram com uma configuração de com-
(iv) flexibilidade; (v) persistência; (vi) visão global; (vii) atualiza-
petitividade e dinamismo de mercado, configurando uma ne-
ção; (viii) organização; (ix) organização; (x) inovação; (xi) cria-
cessidade de, ao mesmo tempo, apresentação de qualidade e
tividade; (xii) objetivos definidos. Em maior ou menor grau, um
dinamismo por parte das organizações que atuam nesse setor.
empreendedor, ou gestor empreendedor possuiria a maioria
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dessas características acima relacionadas.
sistemas de contratação funcional alinhados com diferenciais
Na atualidade, muitos jovens ainda entram na universidade
pessoais, sobretudo os relacionados com liderança e espírito
acreditando que a obtenção de um diploma é um passaporte
de equipe. Para esse autor esses dois componentes básicos
seguro para conseguir um bom emprego. Além do diploma, os
seriam pressupostos de desempenho superior para tais empre-
profissionais devem também ser ensinados a terem competên-
sas que ao mesmo tempo, poderiam alinhar desempenho com
cias próprias para criar oportunidades no mercado, podendo
resultados superiores.
abrir seu próprio negocio e tornando um empreendedor.
Um
Segundo Campos (1996) e Motta (2001) é essencial à orga-
bom empreendedor precisa de autoconhecimento, estar predis-
nização obter líderes na alta administração, sendo estes compro-
posto ao risco, conseguir um bom preparo intelectual, tornar-se
metidos, participantes ativos nos processos e que tenham fé. A
pesquisador dos assuntos do seu negócio e ter sempre uma
focalização da emoção, do entusiasmo e do conhecimento de to-
atitude positiva. Não seria consistente existir um empreendedor
dos os funcionários nos temas estabelecidos é um exercício vital
bem-sucedido que cultive atitude pessimista e destrutiva. Para
para a organização. A partir do aperfeiçoamento contínuo e gra-
uma empresa sobreviver no século XXI, ela deve se mover con-
dativo de todos os envolvidos é que os resultados serão atingidos
tinuamente para não serem alcançada pelos concorrentes, mas
por intermédio da atuação criativa e dedicada dos colaboradores.
ela precisa se mover em direção do cliente, buscando sempre
Esse tipo de comportamento pessoal frente aos desafios de
novas formas de satisfazê-lo. Manter os clientes felizes é a me-
uma organização cria campo de entendimento e apropriação das
lhor defesa contra a concorrência, pois eles ficam leais e com-
atividades empreendedoras pelos próprios gerentes contratados
pram mais. (ENDEAVOR, 2010)
e demais colaboradores dessas organizações. Tal alinhamento
Ainda dentro da ótica da Endeavor (2010), o passo mais importante para começar um planejamento é colocar em prática
de postura e desempenho funcional dá-se o nome de intra empreendedorismo. (GOULART; PAPA, 2004); (ENDEAVOR, 2010)
as prioridades consideradas de maior importância na empresa. Empreendedores deveriam ter conhecimento e uma análise de
METODOLOGIA
mercado em que deseja atuar. É imprescindível um bom plano
Sendo uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, ini-
de negócio que permite ao empreendedor atender adequada-
ciou-se com o uso de pesquisas bibliográficas que direcionaram
mente as necessidades das pessoas que trabalham na empresa
os conceitos acerca de gestão empreendedora.
para que o negócio seja bem sucedido. As empresas devem
Os métodos utilizados constituíram-se de uma abordagem
manter um relacionamento bem estabelecido com seus clientes
organizada e precisa para se obter bons resultados no desenvol-
para saber as suas necessidades e desejos. São os relaciona-
vimento do artigo. Uma pesquisa de campo foi realizada através
mentos que permitem ao empreendedor estabelecer as estraté-
de entrevistas sistematizadas com o responsável e editor-chefe
gias para classificar seus clientes bons e conquistar novos.
da revista Autocar, Sr. Carlos Eduardo Ribeiro da Silva, durante
Mirshawka (2004) relata que empreender com êxito reduz as
as duas primeiras semanas de outubro de 2011. O procedimen-
possibilidades de fracasso de um negócio. Apresentando para
to escolhido possibilitou descrever as estratégias da organiza-
tanto soluções importantes, como técnicas de atendimento ao
ção para manter-se competitiva no setor automobilístico.
cliente e meios de se relacionar com ele, ensinando o empreen-
Após essa coleta de dados, cujos principais aspectos e de-
dedor a lidar com as pessoas. Assim, os funcionários devem es-
mais informações foram levantadas, passou-se para uma orga-
tar sempre atentos e preparados para atender os clientes, pois
nização de informação e análise dos conteúdos obtidos.
dependendo do seu atendimento ele pode afastá-los da empresa ou contribuir para seu sucesso com um bom atendimento, atraindo cada vez mais clientes.
A REVISTA A revista Autocar foi fundada em 1992, pelo jornalista Carlos
Para Pinto et al (2007), existem relações entre formatos
Eduardo Ribeiro da Silva, nascido em Belo Horizonte/MG. Aos
de gestão que estimulem a participação direta dos funcioná-
42 anos de idade, o editor-chefe vem se destacando profissio-
rios nas soluções aos clientes, para isso contrapartidas de
nalmente por ser especializado na área e por aperfeiçoar seus
liderança e empowerment são apresentadas como forma de
conhecimentos e habilidades neste setor. Conta com profissio-
sustentar esse modelo de desempenho.
nais da área de comunicação, tais como diretores, jornalistas,
Na fala de Robbins (2008) e Araújo (2001), percebe-se uma
redatores, consultores técnicos, designers, fotógrafos e editores,
necessidade de associação entre a busca por posições com-
sendo que a maioria destes está na organização desde sua fun-
petitivas e qualidade geral de trabalho através de processos e
dação. A revista é distribuída pela Zero KM Empreendimentos,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 35
e é responsável, também, pelo site www.autocarbrasil.com.br.
que em áreas diferentes, sabendo atuar em funções diferenciadas
Em todas as suas edições é possível acompanhar testes
com uma mesma qualidade em todas elas. Sendo uma estrutura
e os mais recentes lançamentos da indústria automotiva com
considerada “enxuta” como se pode verificar na Figura 02, a Revis-
textos informativos e fotos, além de tabelas de preços de veícu-
ta Autocar, dentro das suas opções de estruturação do seu corpo
los novos e seminovos. Vendida em bancas em todo o Brasil e
funcional, verificou uma pressão por resultados rápidos, com qua-
em todas as drogarias Araújo da capital mineira, com a tiragem
lidade e com menores custos operacionais. Afastando assim, de
mensal de 10 mil exemplares no preço de venda R$ 5,90. Sendo
estruturas mais complexas e com vários cargos e funções.
que 65%, em média, dos exemplares são distribuídos em planos de marketing para o público anunciante como concessionárias, agências de publicidade de todo Brasil, agências multimarcas e assessoria de imprensa por meio da ferramenta mailing. A revista conta com parceiros, como o Jornal Balcão, que é um jornal que tem como principal objetivo ser um jornal de classificados, busca sempre levar ao consumidor mineiro o maior número de oportunidades em negócios da capital. Atualmente é o maior jornal de classificados do Brasil. O jornal possui os cadernos Carro Novo e Moto Nova que mencionam e apoiam a
Muito dessa opção de estruturação também é sustentada pelo
Revista Autocar em suas edições. A TV Balcão transmite o Pro-
formato de negócios que gerou a Revista Autocar como uma unida-
grama Autocar, que é produzido pela equipe de redação da re-
de de negócio com certa autonomia dentro da estrutura empresa-
vista Autocar, que apresenta todas as novidades e lançamentos
rial do Jornal Balcão, que fornece subsídios e demais recursos para
da indústria automotiva nacional e mundial.
a manutenção da revista, tais como: contabilidade, departamento
O CarroNovo é um suplemento do Jornal Balcão, bi-sema-
jurídico, serviços gerias entre outros, deixando assim a área estra-
nal, com tiragem de 30 mil exemplares, circula toda quinta-feira
tégica de criação e desenvolvimento de produtos a cargo dessa
e aos domingos. Com um diferencial o caderno de veículo fica
estrutura funcional reduzida mas muito bem qualificada.
à disposição do leitor todos os dias da semana nas bancas
Por isso, a revista Autocar busca manter seus colabora-
e nos pontos alternativos de venda. O CarroNovo tem como
dores bem treinados, já que são que eles que melhoram e
termômetro o grande número de empresas concessionárias e
aperfeiçoam o processo de produção, além de possuir um am-
montadoras anunciando seus produtos.
biente de trabalho agradável e bem estruturado com recursos
O caderno MotoNova também é um suplemento do Jornal
modernos e tecnologia avançada. Os benefícios, promoções,
Balcão, que traz noticiário completo sobre o mercado de motos.
oportunidades, investimento na qualidade de vida e a políti-
No Brasil é o único caderno especializado no mercado das motoci-
ca da organização de sempre motivar e incentivar tem surtido
cletas, circula toda quinta e todos os domingos. Em Belo Horizonte
efeito para a permanência dos colaboradores na organização.
tem ocupado lugar em destaque tornando-se uma ferramenta de trabalho para as concessionárias e agências multimarcas.
Para um melhor desempenho da revista no mercado, o jornalista responsável pela elaboração e edição aperfeiçoa seus
Os clientes potenciais da revista Autocar são homens (80%) e
conhecimentos participando de seminários e eventos das di-
mulheres (20%), entre idades de 18 a 50 anos e voltada para a clas-
versas montadoras nos lançamentos de seus modelos auto-
se média e classe média alta. Suas maiores concorrentes são as re-
motivos nacionais e importados, como o Salão do Automóvel e
vistas: Quatro Rodas, Auto Esporte, Carro Magazine, Carro Hoje e
Salão Internacional do Automóvel, e dos lançamentos de novas
Oficina Mecânica, que abordam temas relacionados a automóveis
versões e configurações de motor.
e derivados da indústria automotiva. Para otimizar a competitivida-
O clima organizacional e relações de trabalho são compos-
de, criando condições favoráveis de modo a tirar melhor proveito
tos de conhecimento, habilidade e cooperação dos profissio-
possível no mercado, a revista Autocar tem como estratégia ofere-
nais para executarem seus trabalhos eficientemente, atender ao
cer aos seus clientes qualidade e inovação.
cliente interno e externo, relacionar-se com colegas e chefia, alcançar resultados e adaptar-se à cultura organizacional vigente.
O QUADRO FUNCIONAL Partindo-se de um pressuposto que é importante para um profissional que deseja ter sucesso na organização, que ele se qualifi-
OS DESAFIOS Segundo Campos (1996), grandes erros são cometidos
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quando se estabelecem metas sobre meios e não sobre seus fins. O problema surge quando o resultado de um processo é indesejável ou quando a meta não é alcançada.
preparados para competitividade no setor. Empresas e demais veículos de comunicação podem se servir desse estudo de caso para um comparativo de desempe-
Um problema identificado na Autocar foi falta de recruta-
nho da sua área de criação e de sua área comercial, pois como
mento externo para representantes, ou seja, contratar novos
visto, existem necessidades e oportunidades distintas nessas
postos na área das vendas que tenham como características
duas áreas estratégicas para organizações desse setor.
buscar experiências e habilidades não presentes na empresa.
Os limites dessa pesquisa estão relacionados como a singu-
As contratações poderiam aumentar as vendas de anúncios nas
laridade do modelo representado pela Revista Autocar. Seriam
edições mensais, evitando possíveis atrasos nas publicações
poucas organizações que poderiam efetivamente se enquadrar
que ocorrem quando o mercado automobilístico esta desaque-
ou se equipara nesse formato apresentado. Os métodos de
cido, podendo não atingir as vendas suficientes para cobrir os
pesquisa, em uma nova oportunidade, poderiam ser ampliados
custos de produção neste período.
para novas entrevistas e estudos de clima organizacional junto
Por esta oscilação do mercado, a revista não apresenta as-
com os outros três funcionários.
sinatura mensal, pois encontra dificuldades para manter um bom
Com tudo o que foi pesquisado e descrito neste artigo, con-
desempenho de vendas. Uma das sugestões apresentadas se-
clui-se que para uma organização ser bem sucedida é de suma
ria a contratação de um profissional especializado em Marketing
importância que seus funcionários detenham de conhecimentos
habilitado para acompanhar as constantes mudanças dentro e
específicos. Porém, é primordial que eles procurem se qualificar
fora da organização, sendo a última fundamental porque é fora
de forma a conseguir atuar no setor automotivo com o mesmo
da organização é que estão os clientes mais interessados no
empenho que o de sua especialização.
conteúdo da revista. As contratações necessárias proporcionariam uma melhora e um aumento nas vendas dos anúncios, assim a empresa poderia atingir melhores resultados tanto na produção da revista quanto no faturamento, podendo colocar em prática as assinaturas mensais para seus clientes. Para se alcançar os resultados esperados, seria de extrema importância fazer uma seleção de candidatos, que possuem os requisitos mínimos para ocupar os cargos.
REFERÊNCIAS ARAÚJO, L. C. G. Tecnologias de Gestão Organizacional. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2001. ANFAVEA: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.- Anuário da indústria automobilística brasileira, 2011. Disponível em <http://www.anfavea.com.br/ anuario.html>.Acesso em 2 out. 2011.
Assim, percebe-se que existem limites para uma atuação em um mercado tão dinâmico com uma estrutura, que embora muito qualificada, possui restrições operacionais relacionadas com a área comercial. Se por um lado existe competência e senso de oportunidade para evidenciar uma gestão empreendedora, por outro existe ainda problemas a serem solucionados para consecução de resultados mais satisfatórios. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pretendeu-se, nesse trabalho, proporcionar de forma objetiva informações voltadas para o setor automobilístico realizando estudos abrangentes de contexto de mercado, sobre gestão empreendedora e identificando, através de pesquisas de campo elaboradas para os profissionais responsáveis toda uma configuração interna da estrutura atual da Revista Autocar. O estudo do caso possibilitou a identificação de um problema na organização, decorrente do departamento de Recursos Humanos. A sugestão para que possibilite a resolução do problema foi a implantação de uma nova seleção e recrutamento externo para que a organização possua fatores e profissionais
CANGÜE, Feliciano José Ricardo; GODEFROID, Leonardo B.; SILVA, Eduardo. Análise atual do setor automobilístico nacional. Revista Científica Symposium. v. 2, n. 1, (2004). Lavras: Instituto Adventista de Ensino de Minas Gerais, 2004. CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento pelas diretrizes: o que todo membro da alta administração precisa saber para entrar no terceiro milênio. Belo Horizonte: Fundação Chistiano Ottoni, 1996. DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. 4 ed. São Paulo: Pioneira, 1986. ENDEAVOR, Instituto Empreendedor: Crie seu negócio de alto impacto, livro do empreendedor. São Paulo, 2010. GOULART, Iris Barbosa; PAPA, Sudário Filho: Empreendedorismo e empreendedores, sugestões para a educação. Belo Horizonte: Editora Newton Paiva, 2004. ISHIKAWA, Marcio. Setor automotivo investirá R$ 26 bi no Brasil até 2017. Disponível em < http://quatrorodas.abril.com.br/noticias/ fabricantes-setor-automotivo-investira-r-26-bi-brasil-2017-marcio-ishika-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 37
wa-299149_p.shtm>. Acesso em 2 out. 2011. MIRSHAWKA, Victor. Empreender é a solução. 2. ed. São Paulo: DVS Editora, 2004. 298 p. MOTTA, Paulo Roberto: Transformação Organizacional: a teoria e a prática de inovar. 4 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. PINTO, Éder Paschoal et al: Gestão empresarial, casos e conceitos de evolução organizacional. São Paulo: Editora Saraiva. 2007. REVISTA AUTOCAR. Disponível em < http://www.autocarbrasil.com.br/ >. Acesso em 30 set. 2011. REVISTA AUTOMOTIVO. Disponível <http://www.revistaautomotivo. com.br/ servicos/distribuidores-3.asp>. Acesso em 2 out. 2011. ROBBINS, Stephen P.: Administração, mudanças e perspectivas. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Alunas do curso de Administração do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Mestre em Administração de Empresas. Professor do Centro Universitário Newton Paiva dos cursos de Administração de Empresas. Marketing e EaD MBA.
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A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA Mateus de Moura Ferreira1
RESUMO: O texto tem como propósito abordar alguns tópicos sobre o movimento inconfidente deflagrado nas Minas Gerais no ultimo quarto do século XVIII. A tradição oral foi o primeiro veiculo de propagação da Inconfidência Mineira, tal instrumento definiu alguns mitos que posteriormente foram incorporados pelos intelectuais do Republicanismo que construíram a imagem de Tiradentes como um mártir cívico associado a elementos religiosos de forte apelo popular, os efeitos desta associação ainda estão presentes no imaginário popular. PALAVRAS CHAVE: Inconfidência Mineira – Tiradentes - República – mito
1 – Introdução
e diamantes foram descobertas por desbravadores paulistas
O estudo dos conflitos que ocorrerão no Brasil colonial, em
na região no final do século XVII levando a região das Minas a
especial nas Minas Gerais, invariavelmente abordará o conhe-
um rápido desenvolvimento urbano e cultural durante o século
cido movimento Inconfidente ocorrido no final do século XVIII,
posterior5.
onde a elite da capitania contestou a opressão econômica perpetuada pela Metrópole portuguesa.
A Vila Rica de Ouro Preto6, encravada na região da Serra o Espinhaço, aos pés do Pico do Itacolomi, rodeada por pe-
O movimento Inconfidente foi deflagrado por ilustres re-
quenos vilarejos mineradores que hoje vivem a decadência do
presentantes da sociedade colonial das Minas, detentores de
tempo, era o centro efervescência cultural, política e econômica
lavras mineiras, fazendas com vasta escravaria e títulos públi-
da capitania de Minas Gerais. Nesta comarca, reuniam-se as
cos como Tomas António Gonzaga, Claudio Manuel da Costa
principais lideranças administrativas e religiosas da Capitania,
e Alvarenga Peixoto, mas, o movimento também contou com a
o conhecimento letrado oriundo da Universidade de Coimbra
participação de membros não tão abastados que permeados
em Portugal desfilava pelas vielas apertadas e úmidas do lu-
por ideais progressistas se imortalizaram na história do país,
gar a sombra de igrejas barrocas e casarões setecentistas, um
entre estes, a figura emblemática de herói nacional conferida a
seleto7 grupo de homens influentes articulava um processo de
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
ruptura com os desmandos da Metrópole Portuguesa, ilumi-
O mítico herói brasileiro, defensor da liberdade e opressão já foi objeto de inúmeras análises historiográficas de riquíssi-
nados pela Revolução Americana que ecoou seus gritos nas terras tupiniquins.
mo valor cultural2, isso mostra o valor atribuído ao personagem
Os autos da devassa relacionam como alguns dos princi-
central da Inconfidência Mineira no imaginário brasileiro, princi-
pais integrantes do movimento: Tomas Antonio Gonzaga, Iná-
palmente após o fim do período monárquico.
cio José de Alvarenga Peixoto, Luis Vaz de Toledo Piza, José
A análise da consciência histórica que a figura de Tira-
Álvares Maciel, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, João da
dentes legou ao imaginário nacional é fruto de uma política de
Costa Rodrigues, José Resende Costa( pai e filho), Domingos
simbologismo e misticismo, perpetuada pelos republicanos no
Abreu de Oliveira, Padre José da Silva Rolim, Manuel Rodri-
fim do século XIX onde a necessidade de heróis nacionais se
gues Costa, Cônego Luís Vieira e Joaquim José da Silva Xavier,
mostrava latente na construção da identidade nacional.
o Tiradentes8.
3
Desde então, a Inconfidência Mineira é considerada o mar-
Diante das dificuldades que o regime colonial trazia a ca-
co inicial do processo de independência do Brasil Colonial que
pitania, cada vez mais a insatisfação com os desmandos da
culminou4 no 7 de setembro de 1822. Analisar este movimento
coroa lançava seus efeitos pelos rincões da terra, altos tributos,
sob o prisma do discurso perpetuado pelos seus interpretes
a eminência da derrama9, imposições arbitrárias da cúpula ad-
extemporâneos na construção de uma identidade nacional é o
ministrativa, argumentos que os inconfidentes acreditavam mo-
objeto deste artigo.
ver o espírito da população a sua causa, deflagrando o apoio popular na concretização da revolta.
2 – Tópicos sobre a inconfidência mineira
Acasos do destino impossibilitaram a ocorrência da Revo-
A capitania de Minas Gerais foi durante o século XVIII o
lução, como em um ato religioso que futuramente seria com-
grande triunfo da coroa portuguesa, imensas jazidas de ouro
parado ao feito, traidores delataram o movimento insurgente
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da capitania, rapidamente, o aparelho burocrata lançou sobre os revoltosos sua ira, o cárcere, a tortura e o fim de um sonho libertador sucumbia nas masmorras do Antigo Regime
Diante disso, surge a figura de Joaquim José da Silva
Xavier, por peculiaridades que o destino impõe aos mártires, o alferes Tiradentes foi e será sempre o incógnito homem oriundo da comarca de Rio das Mortes, descendente de uma família tradicional da região, versado nas ciências naturais e ofícios médicos, feroz combatente da trupe maléfica do “Montanha”
e seus ajudantes.(...)Assim, tragicamente e com sangue, terminou a “comédia”, no mesmo ano que assistiu à decapitação do Bourbon; e mal se passara uma geração, a Árvore da Liberdade e da Independência, regada pelo sangue do republicano Tiradentes, cresceu e espalhou seus ramos sobre o País.”( Burton, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. USP, 1976. p.293)
que saqueava os viajantes da Estrada Real na altura da Serra da Mantiqueira, projetista de aquedutos no Rio de Janeiro, fre-
“...tinha 15 anos quando lhe noticiaram morar na
qüentador de tabernas e outros ambientes hostis a sociedade
Rua da Alfândega uma preta de nome Jacinta, que contava perto de 120 anos.Conversando com ela, que se achava no mais perfeito juízo, ela contou que morava na rua dos Ciganos( atual Constituição) quando se deu a execução de Tiradentes e que vira desfilar o préstito de volta da Igreja da Lampadosa; que o mártir levava uma alva, tinha no pescoço uma corda e nas mãos um crucifixo. Que se lembra como se fosse hoje (disse ela) que o cortejo parara à porta de sua casa, onde um frade lhe pedira um copo com água para dar ao condenado, no que ela foi buscar a água que o condenado bebeu com sofreguidão; que Tiradentes tinha o andar vacilante e uma fisionomia que causava dó, que ela então acompanhará o préstito até a forca, que ficava mais ou menos no ponto em que hoje se acha o Arquivo Nacional.”( Lima, Hermeto. Em que lugar foi enforcado Tiradentes? Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 de abril de 1937, p.6)
colonial, idealizador da liberdade ou mesmo um autentico republicano engajado.
O Alferes10, este homem singelo e peculiar, foi um
grande articulador do movimento separatista, a sua habilidade médica lhe concedia um livre transito na comunidade mineira, difundir as idéias debatidas pelo círculo literato em Vila Rica era sua missão, regimentar novos entusiastas para o movimento se tornava rotina, o alferes desenvolvia um papel crucial na trama e seus algozes não iriam deixar isso passar despercebido11.
A terrível sentença imposta ao revolucionário,foi um
dos elementos apropriados pelas futuras gerações na construção do mito martirizado do alferes, a tradição inoculou seu suplício no cárcere e a altivez perante a morte12 como ingredientes da memória nacional. Enforcado e esquartejado, o homem rústico das Minas Gerais ingressa no panteão da história como o herói da contestação do julgo dominador, liberdade ainda que tardia seria a tônica no século XIX. 3 - Tiradentes e a Republica: a construção do mito
Observa-se nas passagens supra citadas a tópica recorren-
Alguns dos primeiros escritos sobre a Inconfidência Mineira
te no século XIX sobre a Inconfidência Mineira e principalmente a
e o suplício de Tiradentes encontrados no fim do século XIX as-
memória relativa a morte do alferes, apesar de escrito no século
sim tratam do tema:
XX em pleno Estado Novo, a citação remete a lembranças do
“O heróico dentista, calmo e grave, foi levado, envergando a túnica dos condenados da prisão(...) acompanhado por dois padres e guardado por 100 baionetas. Continuou sua adoração da Trindade e da Encarnação até chegar ao cadafalso. Ali, ofereceu ao carrasco seu relógio de ouro. Suas últimas palavras, depois de repetir, com o confessor, o Credo de Atanásio, foram: “Cumpri minhas palavras, morro pela liberdade”. A gloriosa confissão foi abafada por um rufar de tambores e soar de cornetas. Às 11 horas, foi enforcado até a morte, decapitado e esquartejado, por um carrasco negro
autor oriundas do início do período republicano, momento em que o imaginário passa viver com intensidade a história da Revolução das Minas. Deve-se ressaltar que o fim do período monárquico e o início do republicanismo foi um momento de afirmação do positivismo lógico obre o antigo regime, assim, relembrar as figuras que combateram a retórica absolutista foi um exercício primordial da elite acampada no poder que se inaugurava. O historiador americano Kenneth Maxwell na sua “Devassa da Devassa” assim diz:
“O heróico dentista, calmo e grave, foi levado, envergando a túnica dos condenados da prisão(...) acompanhado por dois padres e guardado por
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100 baionetas. Continuou sua adoração da Trindade e da Encarnação até chegar ao cadafalso. Ali, ofereceu ao carrasco seu relógio de ouro. Suas últimas palavras, depois de repetir, com o confessor, o Credo de Atanásio, foram: “Cumpri minhas palavras, morro pela liberdade”. A gloriosa confissão foi abafada por um rufar de tambores e soar de cornetas. Às 11 horas, foi enforcado até a morte, decapitado e esquartejado, por um carrasco negro e seus ajudantes.(...)Assim, tragicamente e com sangue, terminou a “comédia”, no mesmo ano que assistiu à decapitação do Bourbon; e mal se passara uma geração, a Árvore da Liberdade e da Independência, regada pelo sangue do republicano Tiradentes, cresceu e espalhou seus ramos sobre o País.( Burton, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. USP, 1976. p.293)
do alferes passa a ser exaltada por meios oficias, uma tradição nacional tem início, estátuas, quadros, ruas, avenidas, praças, parques, medalhas são alguns dos instrumentos de propagação da memória da Inconfidência, principalmente de Tiradentes. Sabiamente, os artistas republicanos apelaram a tradição cristã do povo, criaram um Cristo cívico através de Tiradentes16, assim, a consciência histórica segue a tradição instituída nas representações artísticas do final do século XVIX refletida até hoje, um exemplo é a Medalha da Inconfidência concedida pelo Governo do Estado de Minas Gerais no dia 21 de abril, data da morte do alferes as pessoas de destaque na execução dos valores cívicos. 4- Conclusão O estudo da Inconfidência Mineira ainda carece de muita atenção, alguns pontos obscuros na biografia dos integrantes do movimento bem como no planejamento do levante são mistérios clamando pela elucidação, ocorre que a fascinação deste
movimento colonial, um folhetim de intrigas novelescas e atua-
Nas três passagens acima, escritas em contextos históricos
ções heróicas constitui boa parte da memória cívica nacional.
diferentes, a figura do alferes e os pressupostos axiológicos da
O alferes Tiradentes, herói republicano, Cristo cívico, mártir da
Inconfidência se adéquam ao discurso dominante de cada épo-
liberdade nada mais é que uma figura humana, com medo e
ca na qual foram reproduzidas; eis um indÍcio de como a ma-
paixões; construir a identidade de um homem distante das idea-
nipulação da memória pode se adequar a horizontes distintos.
lizações heróicas que a consciência histórica nós legou através
A figura do alferes cercada de mistérios e heroísmo seduziu
da tradição é um desafio aos pesquisadores contemporâneos;
os artistas do final do século XIX, podemos citar Aurélio de Fi-
talvez assim, pode-se conhecer melhor quais os fatores que
gueiredo, Décio Villares, Pedro Américo, Eduardo de Sá e José
impulsionaram a construção da nação brasileira.
Walsht ; todos eles construíram imagens que se adequaram as 13
necessidades, a criação e o enraizamento dos mitos políticos
REFERÊNCIAS
que têm nas manifestações artísticas um elo de prospecção e
Burton, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. USP, 1976. p.293.
afirmação; as representações da Inconfidência e principalmente de Tiradentes trazem a tona a idéia de liberdade, coragem, abnegação, sacrifício, patriotismo — são parte integrante das experiências sociais, culturais e políticas da sociedade brasileira, desde o século XVIII14. A figura republicana do mártir mineiro bem como a tradição que se instituía nestas imagens, refletia os anseios populares e elitistas de então, no limiar do século XX, permeado por idéias positivistas, surgia a construção de uma memória nacional através da representação romântica de seus personagens. A inconfidência estava viva na memória popular, mas ainda era um tema árduo para a elite culta do Segundo Reinado, pois o proclamador da independência era neto de D. Maria I, a rainha alvo dos rebelados inconfidentes15, o Brasil durante boa parte do século XVIX foi governando pela família Bragança, daí a dificuldade em encontrar estudos consistentes neste período sobre o acontecimento mineiro. Com a queda da monarquia a figura
Carvalho, Jóse Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. Fonseca, Thaís Nívea de Lima e Fonseca. A Inconfidência Mineira e Tiradentes vistos pela Imprensa: a vitalização dos mitos (1930-1960). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, pp. 439-462, 2002. Junior, Augusto de Lima. História da Inconfidência de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996. Lima, Hermeto. Em que lugar foi enforcado Tiradentes? Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 de abril de 1937, p.6 Luiz Carlos Villalta / Maria Efigênia Lage de Resende.História das Minas Setecentistas. vol 2. Belo Horizonte: Autêntica Editora / Companhia do Tempo, 2007. Maxwell, Kenneth. A devassa da devassa: A inconfidência Mineira: Bra-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 41
sil-Portugal - 1750-1808. São Paulo: Paz e Terra S/A, 2002. Vasconcelos, Diogo. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte, Itatiaia, 1974. História antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte, Itatiaia, 1974.
NOTAS DE RODAPÉ 1. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva. 2. “A formação das almas” (José Murilo de Carvalho), “Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho” (Richard Burton), “História da Conjuração Mineira” (Joaquim Norberto de Sousa Silva), “Arena contra Tiradentes” ( Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri) entre outros.
po esquartejado e suas partes expostas nas vias de acesso à capitania e naqueles lugares por ele mais frequentado. (Maxwell, 2005, p. 221) 12. A tranqüila dignidade com que Tiradentes enfrentou a morte foi um dos poucos momentos heróicos do fracasso sombrio. (Maxwell, 2005, p. 222) 13. (Carvalho, 2011) 14. (Fonseca, 2002, p.441) 15. (Carvalho, 2011, p. 59) 16. (Carvalho, 2011, p. 67)
3. Se a Inconfidência Mineira tem sido elemento de suporte a uma determinada construção historiográfica e a projetos e posicionamentos políticos desde as últimas décadas do século XIX, Tiradentes desponta como seu símbolo, síntese das idéias das quais o movimento seria o precursor, no Brasil.Ele se tornou, talvez, o personagem mais popular da história nacional, adquirindo contornos heróicos e status de mito político. (Fonseca, 2002, p.440) 4. Será que realmente a Independência do Brasil ocorreu em 1822, analisar por exemplo o judiciário brasileiro após este período nos leva a crer que não, uma vez que instâncias superiores da Justiça ainda se encontravam alojadas em Portugal. Os marcos historiográficos de rupturas como o 7 de setembro podem conter contradições como a supra citada. 5. (Vasconcelos, 1974) 6. Vila Rica, a opulenta cidade do ouro negro fica a cerca de 15 dias de caravana de mulas da sede do vice-reinado, Rio de Janeiro. A estrada para a zona montanhosa brasileira, atravessando densa floresta tropical e contornando escarpas vertiginosamente altas, era perigosa e espetacular. (Maxwell, 2005, p. 108) 7. Os autos da Devassa, instrumento judicial que condenou os Inconfidentes, traz a relação dos participantes deste movimento, mas, deve-se indagar afinal se houve mais integrantes no movimento uma vez que a parcialidade foi a tônica deste processo judicial. 8. (Junior, 1996) 9. A Derrama consistia na cobrança do que faltava para completa o mínimo de cem arrobas de ouro anuais devidos a coroa. (Junior, 1996, p. 80) 10. Em Vila Rica, no Rio de Janeiro, no Tijuco e nas ondas dos matos, estava sempre Joaquim José a praticar o ofício de médico e dentista, aprendendo com os velhos profissionais, dos quais se fazia amigo por seu temperamento prestativo e amável. (Junior, 1996, p. 68) 11. A sentença condenou Tiradentes à forca, a ter a cabeça cortada e exibida sobre uma alta estaca, no centro de Vila Rica e mais, a ter o cor-
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A APLICABILIDADE DA HERMENÊTICA PLURALISTA NA TUTELA DO PATRIMONIO CULTURAL Mateus de Moura Ferreira1
RESUMO: O presente texto tem como propósito esculpir algumas considerações sobre a efetividade do Estado Democrático de Direito através da aplicação de uma Hermenêutica Pluralista proposta pelo jurista Peter Haberle na efetivação da tutela do patrimônio cultural, para isso, foi proposto um programa de alfabetização cultural da população bem como a integração da esfera privada e pública na salvaguarda da Constituição. PALAVRAS CHAVE: Hermenêutica Pluralista – Estado Democrático de Direito – Patrimônio Cultural – Alfabetização Cultural
A Constituição Federal de 1988 trouxe ao ordenamento ju-
PETER HÄBERLE na sua obra, ‘Hermenêutica Constitucional.
rídico pátrio, inúmeras inovações de ordem teórica e moral; sob
A sociedade aberta dos interpretes da Constituição: contri-
os auspícios do paradigma Democrático, incorporamos as nos-
buição para a interpretação pluralista e “procedimental’ da
sas práticas cotidianas à valoração do agir a partir dos Direitos
Constituição”, onde o autor teoriza a adoção de uma interpre-
Fundamentais ali insculpidos.
tação Constitucional adequada a uma sociedade pluralista, tal
O constituinte sabiamente inseriu no diploma Constitucio-
contribuição alienígena se mostra perfeitamente adequada à
nal, a tutela jurídica dos bens culturais buscando de forma plu-
sociedade brasileira, uma vez que está possui uma diversidade
ralista2 proteger tanto o bens materiais quanto os bens imate-
de manifestações culturais, reflexo do seu caráter miscigenado.
riais, assim, ocasionou, a preservação de todos os elementos
A visão proposta pelo autor reconhece que a guarda pre-
ligados a cultura de um povo, sendo este sucedâneo, expres-
cípua da Constituição pertence ao Supremo Tribunal Federal5,
são singular de Direitos e Deveres. Logo, cabe aos interpretes
mas inova ao dispor que aquele que vive a Lei
legais dispor sobre o alcance normativo do artigo 216 da Lei Magna.
maior é o seu melhor intérprete, assim, a hermenêutica dos tribunais deve se aliar a aquela produzida pela sociedade,
Ocorre que esta visão pluralista do constituinte, necessita
construindo assim, um autentico sistema democrático.6
de uma revisitação na Hermenêutica Constitucional aplicada
A tese proposta é a democratização da hermenêutica
no cotidiano forense do país, pois, ver a Constituição apenas
constitucional, isso é, a superação da interpretação jurídica
como um pedaço de papel recheado de normas e preceitos,
de uma sociedade fechada, onde apenas aqueles que detém
não garante a efetividade da mesma, bem como, condicionar a
um vinculo corporativo ou político a realizam7, seriam estes in-
sua interpretação e aplicação a longínquas Cortes Constitucio-
terpretes, o Judiciário com seu aparato técnico e o Legislativo
nais e a ilusão de justiça que paira no seio do senso comum da
como participante do devido processo legislativo; a idéia cen-
sociedade, não é o que se espera da efetividade constitucional.
tra, é caminhar para a hermenêutica constitucional produzida
A idéia que o intérprete da Constituição deve ter na con-
pela sociedade aberta, ou como o mesmo a chama, pluralista.
juntura atual, é ver a questão hermenêutica a partir do prisma
Assevera HÄBERLE:
jurídico e político, para que assim, a sociedade seja levada a
“Propõe-se, pois, a seguinte tese: no processo e inter-
participar da construção interpretativa da normatividade e de
pretação constitucional estão potencialmente vincula-
sua aplicação, se esta máxima3 aqui corroborada, for aplicada
dos todos os órgãos estatais, todas as potências pú-
a tutela dos bens culturais, toda a identidade democrática e
blicas, todos s cidadãos e grupos, não sendo possível
participativa que o atual paradigma4 que vivemos sustenta, se
estabelecer um elenco cerrado ou fixado com numerus
concretizará facilmente aos olhos da população no que tange
clausus de intérpretes da Constituição.”8
a proteção dos bens culturais, tornando a Sociedade, principal aliada do Estado na tutela Cultural.
A interpretação da Constituição deve obedecer a critérios
Para que os anseios acima propostos sejam efetivados,
abertos na medida em que a sociedade for mais pluralista9, tra-
faz- se necessária a aplicação de uma nova Hermenêutica
zendo isto para o cotidiano brasileiro, observamos a perfeita
Constitucional, para isso, usaremos a teoria elaborada por
adequação teórica proposta por HABERLE a nossa realidade,
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uma vez que o Brasil é tido como país da miscigenação, refletida
constitucional, pressupõe que a mesma dispõe de um conhe-
esta nos traços físicos de seu povo e manifestações culturais, o
cimento prévio do objeto a ser interpretado, para isso, faz-se
pluralismo aqui presente leva a necessidade de uma hermenêu-
necessária a idéia de uma alfabetização cultural como método
tica constitucional vinculada a esta sociedade aberta, adequada
de fomento e proteção dos bens culturais, possível e necessária
a sua realidade social e principalmente, garantista da participa-
nos liames do paradigma de Estado Democrático de Direito.
ção popular.
A alfabetização cultural14 deve ser entendida como a
Adequar a proposta de HÄBERLE , ao paradigma Demo-
disposição oferecida pelo Estado a sociedade, de meios instru-
crático proposto na Constituição, é trazer a sociedade a partici-
mentais básicos, para que esta possa efetuar distinções, emitir
par de sua efetivação, trazendo os Direitos Fundamentais ardu-
juízos e realizar preferências15 em âmbito cultural, com o intuito
amente conquistados e ali preservados a integrarem o cotidiano
de adquirir bagagem teórica suficiente a realizar a Hermenêutica
da política perpetuada pelo Estado.
Constitucional pretendida por HÄBERLE.
10
Os bens Culturais estão presentes na realidade viva da co-
Trata-se de aforismo pedagógico concretizado através
munidade, é esta quem atribui à valoração pertinente a determi-
de políticas de Estado, realizadas pela União em parceria com
nados objetos pra que estes passem a ser reconhecidos como
Estados e Municípios, a fim de que se possa atingir a sociedade
elementos integradores da Cultura, a sociedade é o elo entre
como um todo.
o bem a ser valorado como Cultural e futuramente tutelado e
Proporcionar meios de integração entre comunidades
a garantia oferecida pelo Direito a ele, propor um método de
de diferentes etnias, facilitar o acesso das populações carentes
interpretação, onde esta sociedade age de forma essencial, é
a Internet, ao ensino superior, realizar programas de fomento
trazer as práticas cotidianas o bojo de Direitos Fundamentais
cultural em Escolas da rede pública e privada, incentivar o de-
preservados na Constituição, acarretando nas políticas de tutela
senvolvimento tecnológico e artístico tanto dos jovens e adultos
dos bens culturais, maior garantia e eficácia.
quanto dos idosos, facilitar a aquisição de livros, artigos musi-
Importante comentário a respeito, JOSÉ RENATO NALINI traz:
cais, obras de arte, produtos artesanais, são apenas algumas das opções a disposição do Estado a fim de promover a alfabe-
“A democratização da interpretação constitucional, ou a sua adaptação á sociedade pluralista e aberta, vem ao
tização cultural de seu povo.
Ao permitir o acesso equânime da população aos bens
encontro da necessidade de cada cidadão intervir no
culturais, o Estado proporciona a sociedade, os meios neces-
sistema de defesa do meio ambiente.”11
sários para a sua alfabetização cultural, daí em diante, a cons-
trução de uma hermenêutica constitucional adequada a tutela
Continua o jurista: “Não foi apenas ao Poder Público, mas também à co-
dos bens culturais, irá se traduzir na concretização do princípio Democrático insculpido na Constituição de 1988.
letividade, o coletivo da cidadania, que o constituinte cometeu o dever de defesa e preservação do ambiente,
REFERÊNCIAS
para as presentes e futuras gerações. Assim, todos tam-
BASTOS, Celso Ribeiro e Martins, Ives Gandra. Comentários a Constituição Federal de 1988.Promulgada em 5 de outubro de 1988. 8º volume, arts. 193 a 232. São Paulo: Saraiva, 2000.
bém são chamados a essa missão de extrair da Constituição os efeitos concretos de seus comandos.”12 Desta forma, aquele que vive a norma, acaba por interpretá-la, trazendo seus conceitos e valores a concretude do processo hermenêutico, o integrante desta coletividade citada pelo autor, passa a atuar como protetor e defensor do ambiente,preservando-o para as gerações vindouras. O legislador constitucional ao inserir na sua obra a proteção ao Patrimônio Cultural Nacional,13 atribui a sociedade o dever precípuo de salvaguardar aqueles bens que constituem a sua memória e identidade, e ao Estado, o dever de realizar programas visando a sua proteção e difusão. A possibilidade de a sociedade realizar uma hermenêutica
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta aos intérpretes da Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Martin Claret, 2002. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: Doutrina, Prática, Jurisprudência, Glossário. 2ªed. ver. atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. MIRANDA, Marcos Paulo Souza. Tutela do Patrimônio Cultural Bra-
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sileiro, Doutrina-Jurisprudência-Legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. MOREIRA, Ana Maria. A Tutela do Patrimônio Cultural sob o enfoque do Direito Ambiental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
14. A democracia procedimentalista no Estado Democrático de Direito se manifesta na estruturação de processos que ofereçam aos cidadãos possibilidades efetivas de aprendizado da democracia, de participação nos processos decisórios, de exercício do controle crítico nas divergências de opinião e da produção inputs políticos democráticos. (Soares, 2008, p. 233)
NALINI, José Renato. Ética Ambiental. Campinas: Millennium, 2001.
15. (Nalini, 2001, p. 176)
SOARES, Mario Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos paradigmas e face da globalização. 3ªed. São Paulo: Atlas, 2008.
NOTAS DE RODAPÉ 1. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva. 2. O conceito de Pluralismo é uma vez mais democrático. Há um traço democrático na admissão de todas as manifestações culturais. (Nalini, 2001, p. 175) 3. Máxima é o princípio subjetivo do querer; o princípio objetivo – que serviria subjetivamente de princípio prático a todos os seres racionais, caso a razão sempre tivesse todo o poder sobre a faculdade de desejar – é a lei prática. (Kant, 2002) 4. Paradigma do Estado Democrático de Direito. 5. (Nalini, 2001, p. 19) 6. A interpretação judicial é importante, mas não é, nem deve ser a única leitura da Constituição. Cidadãos e grupos de interesse, órgãos estatais, organizações não governamentais, além da opinião pública, são forças produtivas de interpretação. Atuam, ao menos, como pré-interpretes (Vorinterpreten) do complexo normativo constitucional. (Nalini, 2001, p. 20) 7. (Häberle, 1997, p. 12) 8. (Häberle, 1997, p. 13) 9. ibidem 10. Häberle inclusive propõe um catálogo sistemático dos intérpretes constitucionais, para isso, ver: Peter Häberle, Hermenêutica Constitucional, 1997, p. 20/23. 11. (Nalini, 2001, p. 20) 12. ibidem 13. O Patrimônio nacional cultural abrange as diversas formas de manifestações culturais, é dizer, a dança, a literatura, a música, a arte, as esculturas, os objetos de alta significância, o teatro, entre outros...os bens de natureza material e imaterial, como as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados as manifestações artísticos culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,artístico, arqueológico, ecológico e científico (Celso Ribeiro Bastos, 2000, p. 773) PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 45
DELINEAMENTOS SOBRE O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: em busca de uma definição terminológica Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais1 Carolina Senra Nogueira da Silva2
RESUMO: Tem-se como objetivo, por intermédio do presente artigo, discorrer sobre o conceito de Constituição, apresentando conceitos antigos e modernos em relação ao tema, entendendo-se por Modernidade como o período histórico contemporâneo, o qual tem como uma de suas características no campo jurídico a égide do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, insta salientar a dificuldade conceitual para se chegar a um conceito unívoco de Constituição, variando o mesmo ao longo do pensamento jurídico. Deste modo, passando-se do constitucionalismo antigo ao constitucionalismo moderno, tal estudo deter-se-á na análise do conceito de Constituição ao longo da história do constitucionalismo, atendo-se à Constituição antiga, à Constituição medieval e à Constituição moderna. PALAVRAS-CHAVES: Constitucionalismo; Constituição; Evolução histórica.
1 INTRODUÇÃO
ideias sustentarão o movimento revolucionário francês de 1789,
O Constitucionalismo pode ser definido como um movi-
culminando na elaboração da Declaração de Direitos do Homem
mento histórico que ensejou o início da criação de constituições
e do Cidadão de 1789, a qual traz em seu artigo 16 que: “Toda so-
como mecanismos para a frenagem dos poderes arbitrários do
ciedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem
Estado, sendo comum afirmar que o Constitucionalismo surgiu
determinada a separação dos poderes não tem Constituição”.
com a Revolução Francesa de 1789, afirmação que na verdade
Neste sentido, diversas definições existem para o termo
não procede, tendo em vista o fato de já existir na Antiguidade
“Constituição”, tendo sido durante um longo período um desafio
clássica documentos que visavam limitar o poder político, como
para a doutrina do Direito Constitucional apresentar uma defini-
o Estado teocrático dos hebreus, o qual era regido pela “Lei do
ção unânime para o mesmo, o que pode-se afirmar não ter ocor-
Senhor”, podendo ser considerado tal Estado a primeira apari-
rido devido à citada diversidade conceitual e tendo em vista es-
ção do constitucionalismo.
tar a Constituição atrelada às características de uma sociedade.
Também em 1215 com a Magna Charta Libertatum, os
A palavra constituição conforme define os dicionários da lín-
ingleses impuseram ao Rei João Sem Terra limites formais ao
gua portuguesa3, significa, de maneira ampla, o ato de constituir,
arbítrio estatal, garantindo aos súditos direitos e liberdades indi-
de organizar, de estabelecer. Desta forma, cabe salientar que
viduais. É também importante citar a Petition of Rights de 1628,
a noção que se tem hoje de Constituição enquanto lei funda-
por intermédio da qual os ingleses conseguiram impor ao Rei
mental nasceu, com suas devidas limitações, em Atenas, com
Carlos I o respeito a seus direitos seculares.
a ideia de configurar, legitimar e limitar o poder. Não obstante,
O pacto ou contrato social medieval pode ser também con-
é a mudança do Estado Absolutista para o Estado Liberal que
siderado um antecedente do movimento do Constitucionalismo.
consolida a ideia de Constituição que se tem hodiernamente.
Por esse pacto, o povo se sujeitava ao poder do soberano en-
Nestes termos, é preciso entender essa passagem do Estado
quanto este governasse com justiça, tendo Deus como observa-
Absolutista para o Estado Liberal e depois para o Estado Social
dor e árbitro do cumprimento do contrato.
para assim chegar ao Estado Democrático de Direito, para que
Todavia, o iluminismo, também chamado de movimento
se possa compreender a temática proposta.
iluminista, ou também Idade das Luzes, é, sem dúvida, o grande marco das teorias do Constitucionalismo, principalmente por intermédio dos textos de Montesquieu, Rousseau, Voltaire e Di-
2 AS TRANSFORMAÇÕES DO ESTADO MODERNO
derot, os quais pregavam a felicidade e o respeito a direitos ine-
Antes de se definir Constituição na esfera do ordenamen-
rentes à condição humana, os quais não poderiam ser desrespei-
to jurídico, cabe um resgate histórico da transição do Estado
tados pelos soberanos, como também pelos próprios pares. Tais
Nacional, o qual surgiu a partir dos séculos XV e XVI, com a
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autoridade dos monarcas. Durante o Estado Absolutista o rei
os direitos individuais, mas também sociais e políticos) passa-
era detentor de um poder único e concentrado (Portugal foi o
ram a ser contemplados, surgindo o modelo de Estado Demo-
primeiro Estado Absolutista a se formar), exercendo este poder
crático de Direito.
de maneira ilimitada. Com essa concentração de poder exercida
O Estado Democrático de Direito caracteriza-se por esta-
apenas por um homem (o soberano), os direitos e liberdades
belecer a participação da população na esfera pública, o poder
individuais eram renegados, inexistentes.
vem do povo e para o povo, havendo um vínculo deste com
Insta salientar que, pensadores como Thomas Hobbes
o processo decisório. Este modelo procedimental de Estado
(1588 - 1679) e Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) foram respon-
também se caracteriza por aspectos sociais, promovendo jus-
sáveis por consolidar a noção de Estado Absolutista, com a ideia
tiça social, como também liberais, sobre as égides do capitalis-
de que o homem celebra um contrato, transferindo seus direitos
mo. Deste modo, as Constituições de vários países passaram a
ao ser artificial (o Estado) com poder visível que seria capaz de
consagrar esses ideais democráticos, o Estado, assim como os
proteger e defender os demais. Essas ideias se mantiveram até
cidadãos, passaram a ser submetidos à lei, lei esta fruto da deli-
o século XVII, quando então os ideais de John Locke (1632 –
beração popular, como salientado. Ainda, conforme a participa-
1704) mudariam a concepção de Estado, reformulando-a.
ção popular, Peter Häberle (1997) argumenta e defende o direito
Deste modo, surge o Estado Liberal através da doutrina do
do povo em participar da interpretação do Direito, das normas
liberalismo político sustentada por Locke, por intermédio da qual
interpretativas, por intermédio da ideia da sociedade aberta dos
o pensador defendia a tese de que o povo não deveria abrir mão
intérpretes da Constituição.
de seus direitos, apenas de parte deles. Assim, para Locke, o Estado havia nascido para proteger a vida, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, desta feita, o Estado não pode sufocar
3 AS CONCEPÇÕES TERMINOLÓGICAS DE “CONSTITUIÇÃO” AO LONGO DO PENSAMENTO JURÍDICO
as liberdades individuais. Assim, notar-se-á que o indivíduo está
A concepção moderna de Constituição surgiu com os te-
no centro das ideias e dos objetivos do Estado; os governos,
óricos iluministas com a divisão dos poderes do Estado, sua
que são formados por homens escolhidos através de votos que
limitação e as declarações dos direitos e garantias individuais
representam os cidadãos, são responsáveis por defenderem
dos cidadãos. A Constituição, assim, tem o objetivo de organizar
os interesses desses indivíduos, protegendo sua propriedade,
e estruturar politicamente o Estado, contemplando a divisão dos
privacidade, liberdade, segurança e sua vida, surgindo, ainda,
poderes do Estado e a preservação dos direitos dos cidadãos.
a ideia de divisão dos poderes (Legislativo, Judiciário e Execu-
Um dos conceitos mais elementares de Constituição é o chama-
tivo) com os ideais de Montesquieu (1689 – 1755). Com essa
do conceito histórico-universal, cuja formulação foi apresentada
liberdade total, opondo-se ao controle do Estado Absolutista, a
no ano de 1892 por Ferdinand Lassalle quando o mesmo salien-
exploração das relações de trabalho foi um problema marcante
tou que todos os países possuem, e terão de possuí-la sempre,
do Estado Liberal, tendo em vista não haver a intervenção estatal
uma Constituição real e efetiva, sendo errado pensar a Constitui-
na vida privada. Assim, aos poucos o Estado Liberal entrou em
ção como uma prerrogativa dos tempos modernos. (LASSALLE,
declínio com diversos problemas sociais e econômicos, surgin-
2001). Para apresentar a definição, Lassalle (2001) distinguia a
do, assim, a necessidade de repensar o Estado e sua atuação.
chamada Constituição escrita (consubstanciada em um texto, a
Foi ao final da Primeira Guerra Mundial, que novos princí-
“folha de papel” de Lassalle) da Constituição real. Nesse sen-
pios ganharam força moldando o Estado, quando se tornou um
tido, a constituição folha de papel, aqui usando a definição de
Estado “com cunho social”, intervindo na vida econômica e so-
Lassalle4, deve ser reflexo da Constituição real, tendo esta suas
cial dos indivíduos, regulando a vida privada de seus cidadãos,
raízes nos fatores reais de poder, sob pena de se não o sendo
tornando-se, assim, um Estado com características paternalis-
não ser reflexo da sociedade, positivando utopias, ilegitimida-
tas. Não obstante, direitos democráticos não foram contempla-
des. De acordo com Lassalle (2001):
dos neste Estado que intervinha de maneira excessiva na esfera
Onde a Constituição escrita não corresponde à real,
privada dos indivíduos e não conferia aos seus cidadãos partici-
estoura inevitavelmente um conflito que não há ma-
pação democrática no processo político.
neira de evitar e no qual, passado algum tempo, mais
Deste modo, o declínio do Estado Social foi inevitável, por-
cedo ou mais tarde, a Constituição escrita, a folha de
que princípios como a participação democrática do povo no pro-
papel, terá necessariamente de sucumbir perante o
cesso político, garantias e direitos fundamentais (consolidados
empuxo da Constituição real, das verdadeiras forças
com a Declaração dos Direitos Humanos de 1948, abrangendo
vigentes no país. (LASSALLE, 2001, p. 63).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 47
mente as constituições medievais eclesiásticas), até ao ConstiAssim, Ferdinand Lassalle (1825 -1864) é o responsável por
tucionalismo moderno. Ainda de acordo com Cunha, “o Direito
dar à Constituição uma concepção sociológica, ao entender que
Constitucional terá tido como uma das suas funções fundadoras
a Constituição formal, escrita, não pode ser considerada uma
a de substituir o Direito Natural, considerando falido ou em vias
Constituição, devendo estar em harmonia com os fatores sociais
de falência [...] quer na sua versão clássica, quer na moderna,
de poder, sob pena de, não o sendo, ser apenas “uma folha
ou jusnaturalista”. (CUNHA, 2007, p. 61). Assim, é de se pensar
de papel”, necessitando-se, dessa forma, considerar a realida-
que, do mesmo modo que se afirma serem os Direitos Humanos
de sociológica e econômica de uma sociedade influenciando o
a linguagem atualizada do Direito Natural, “o Direito Constitucio-
sistema normativo.
nal seria hoje um dos seus ramos de eleição positivadora, uma
Hans Kelsen (1881 – 1973), o jurista de Viena, e Konrad Hes-
nova fronteira ou uma nova barricada do grande Direito Justo –
se (1919 – 2005) são conhecidos por darem à Constituição uma
que, como é óbvio, deve ser preocupação de todos os ramos do
concepção jurídica. Para Kelsen, com concepção mais rígida do
Direito [...]” (CUNHA, 2007, p. 61). Mais sua vez, Paulo Ferreira
que Hesse, a Constituição é uma norma pura, puro dever-ser,
da Cunha (2007) salienta que:
tendo uma superioridade jurídica, sem fundamentações socioló-
[...] uma das divisões mais úteis e com mais profundo
gicas, políticas ou filosóficas. Para Konrad Hesse, a Constituição
sentido no plano histórico, é aquela que divide as consti-
deve procurar obter ordem e conformação conforme a realidade
tuições em dois tempos, sucessivos (embora possa ha-
social e política, a Constituição possui, assim, força normativa,
ver resíduos de épocas mais antigas em épocas novas,
não sendo autônoma à realidade.
e, eventualmente, revivalismos, ou então antecipações:
Outra importante concepção conferida à Constituição é a
a) o tempo pré-revolucionário e pré-liberal das constitui-
concepção política, a qual é defendida expressivamente por Carl
ções que se dizem tradicionais, históricas ou naturais;
Schmitt (1888 – 1985), com a distinção entre Constituição e Lei
b) e o tempo pós-revolucionário e liberal e pós-liberal
Constitucional, com sua teoria material oposta à teoria normativa
das constituições codificadas, que se dizem do cons-
de Kelsen. Para Schmitt, a Constituição é o reflexo das vontades
titucionalismo moderno, e voluntário (até “voluntarista”).
populares, sua essência não pode ficar limitada à norma. As-
(CUNHA, 2007, p. 97).
sim, é através da compreensão dos paradigmas de Estado, bem como as concepções de Constituição, que possibilita a análise
O primeiro grupo de constituições (natural, histórica, tradi-
da formação da Constituição tal como se tem hoje. Moderna-
cional, a qual é esparsa, não compilada, geralmente), durante
mente, Celso Ribeiro Bastos salienta que:
muito tempo, não foi objeto de interesse por parte da doutrina,
Da mesma forma que se fala da constituição de um or-
preocupando-se a mesma com o segundo grupo (moderna, co-
ganismo vivo, pode-se referir a uma determinada cons-
dificada, voluntarista, a qual é sistemática, pensada para ser um
tituição de um ordenamento jurídico, reportando-se
corpus autônomo). Somente com o constitucionalismo moderno
ao seu esquema fundamental, à sua ossatura mínima,
ter-se-á uma tríade fundante da Constituição estruturada em: 1)
determinados pelo conjunto de suas principais institui-
um texto sagrado, codificado, ao qual os norte-americanos no-
ções. (BASTOS, 1994, p. 26).
meiam como sacred instrument; 2) no princípio da separação de poderes, na visão clássica de Barão de Montesquieu (Legislati-
Por sua vez, em relação à definição do termo “Constituição”, Paulo Ferreira da Cunha (2007) salienta que:
vo, Executivo e Judiciário); e 3) direitos do homem ou fundamentais com consagração constitucional expressa. (CUNHA, 2007).
[...] Constituição é palavra que nasce nas línguas latinas,
Insta salientar que esses traços característicos do constitucio-
tendo como antecedente o vocábulo latino constitutio,
nalismo moderno se acham presentes no texto da Declaração
que em Cícero acaba por encontrar uma influência se-
dos Direitos do Homem e do Cidadão francesa do século XVIII.
mântica com outros significantes tendentes para o mes-
No mesmo sentido, de acordo com Antonio-Carlos Pereira
mo significado, então: tais como res publica e status.
Menaut (2006) pode-se definir Constituição como “limite do po-
Correspondendo ao grego politeia. E que alguns tradu-
der, por meio do Direito, assegurando uma esfera de direitos e
zem por “república”. (CUNHA, 2007, p. 60).
liberdades para o cidadão. Quando isso não ocorre não se pode falar de uma verdadeira Constituição, como previa o artigo 16 da
Cunha salienta que a expressão “Constituição” aparece ain-
Declaração francesa de 1789”. (PEREIRA MENAUT, 2006, p. 20,
da incipientemente e para designar coisas diversas (nomeada-
tradução nossa5). Neste sentido, a ideia de Constituição é dis-
48 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
tinta da ideia de “constituir”, tal jogo de palavras recorda que as
Esse sistema de organização grego, especificamente no
constituições não são pontos de partida que fundam, originam
que se refere à forma de governo, ou seja, o que caracterizava a
ou “constituem”, em sentido literal, uma sociedade, uma ordem
forma política grega, era a forma democrática (ancorada no bi-
jurídica, uma comunidade política. As constituições possuem
nômio demokratía-isonomía), significado a forma democrática:
uma capacidade limitada de constituir, constituem somente o
primazia da assembléia de todos os cidadãos atenienses para a
sistema político e não todo e nem em todos os casos.
tomada de decisões de importância coletiva; direito de palavra
Buscando uma definição de Constituição, Maurizio Fiora-
e de proposta a todos os cidadãos dentro da assembleia, indis-
vanti (2007) distingue a “Constituição dos antigos” (referindo-se
tintamente; extração por sorte dos cargos públicos; alternância
como “antigos” os povos gregos e romanos) da “Constituição
anual de governos; obrigação aos ocupantes de cargos públi-
dos modernos”. Neste sentido, Fioravanti afirma que o mundo
cos de prestarem contas anualmente.
antigo, como qualquer outra época histórica, teve historicamen-
Neste contexto de crise e reestruturação, de balanço e va-
te determinado seu próprio modo de expressar uma certa ordem
loração dos tempos democráticos, toma corpo o uso do con-
política, ou seja, sua própria doutrina política, tendo essa dou-
ceito de politéia, que os modernos traduzem por Constituição.
trina seu momento mais importante com as figuras de Platão
Apesar das críticas dirigidas em relação à referida tradução,
(428-347 a.C.) e de Aristóteles (384-323 a.C).
principalmente em relação ao fato de a expressão possuir sig-
Os séculos quinto e quarto antes da Era Cristã abrangeram
nificados diversos na língua grega, significando o conjunto dos
uma época de instabilidade no mundo antigo, época marcada
cidadãos de um lado, de outro a organização política, Fiora-
por discórdias e particularismos locais. Nesse sentido, Fioravan-
vanti salienta que:
ti (2007) salienta que:
[...] politéia não é mais do que o instrumento conceitual
Para os contemporâneos, em concreto, trata-se de um
de que serve o pensamento político do século IV para
tempo de decadência política provocada, sobretudo,
nuclear seu problema fundamental: a busca de uma for-
pela transformação da cidade – a polis – de lugar de
ma de governo adequada ao presente, tal que reforce a
exercício dos direitos políticos de cidadania, de reco-
unidade da polis, ameaçada e em crise desde diferen-
nhecimento coletivo de um pertencimento político co-
tes frentes. (FIORAVANTI, 2007, p. 19, tradução nossa7).
mum, a lugar caracterizado preferencialmente pela economia e pelo intercâmbio, de maneira particular em
Para Platão, a boa Constituição política (politéia) não pode
relação com o, cada vez mais, intenso tráfico comercial
jamais se originar dos vencedores, como também não pode ter
e marítimo. A mercantilização da polis produz também,
origem violenta, devendo ser a Constituição dos antepassados
com freqüência de maneira violenta, um crescente con-
(a patrios politéia), uma Constituição que seja pluralista, que se
flito entre pobres e ricos, no que os primeiros reivindicam
origine da progressiva formação de uma pluralidade de forças e
formas cada vez mais amplas de assistência pública e
de tendências, tendo suas origens nos antepassados.
os segundos lutam para impedir que ao problema da
Estas ideias de Platão foram retomadas por seu discípulo
indigência se responda com medidas radicais, com o
Aristóteles, o qual fortaleceu o mito da “Constituição dos padres”
confisco e redistribuição das terras. (FIORAVANTI, 2007,
platônica, a Constituição originária, a qual teria por finalidade dar
p. 15-16, tradução nossa ).
uma resposta adequada aos problemas do presente, salvando a
6
unidade da polis, sendo um fundamento constitucional. Assim: A essa instabilidade social dá-se a nome de stásis. Ao
Agora mais do que nunca, em Aristóteles a politéia não
conceito de stásis contrapõe-se o conceito de eunomía, o bem
é somente um instrumento conceitual para usar em sen-
coletivo, a ordem da coletividade, valor positivo almejado pelos
tido descritivo e de classificação: aspira, pelo contrário,
antigos através da busca por um governo ideal, a melhor de go-
a prescrever um futuro político dotado de constituição.
verno possível para manter unida e assim desenvolver a comu-
O que se quer para o futuro é uma política que possa
nidade política. Neste sentido, os antigos não almejavam sua
ser traduzida em politéia, em regime constitucional esta-
soberania, menos ainda um Estado; os mesmos se referiam ba-
velmente fundado. (FIORAVANTI, 2007, p. 22, tradução
sicamente a um sistema de organização e de controle dos diver-
nossa8).
sos componentes da sociedade historicamente situada, construído para dar eficácia às ações coletivas e para que houvesse um pacífico reconhecimento do comum pertencimento político.
Aristóteles, antes de reivindicar a Constituição dos antepassados, reivindica a necessidade de se extirpar os males que
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desestabilizavam a unidade da polis: a mercantilização da vida
modernos irá se preocupar com a separação de poderes e com
pública, a divisão e conflito entre pobres e ricos, como salienta-
a instituição de direitos e garantias fundamentais. Os mesmos
do. Neste sentido, Aristóteles considerava todas as formas de
pensaram a Constituição como uma exigência a satisfazer como
governo potencialmente justas: a monarquia, a aristocracia e a
um ideal ético e político a se perseguir, um grande projeto de
democracia; o que poderia ocorrer, sendo inaceitável para o Es-
conciliação social e política. Por isto, ainda, é correto dizer que
tagirita9, era a degeneração dessas formas, transformando-se a
o principal inimigo da Constituição dos antigos é o tirano, sobre-
monarquia em tirania, a aristocracia em oligarquia e a democra-
tudo porque tal é aquele que divide a comunidade, dividindo-a,
cia em demagogia. Assim, contra tais perigos, “a primeira tarefa
rompendo o equilíbrio, se esquecendo da Constituição dos pa-
é a de revalorizar e relançar o significado propriamente político,
dres. (FIORAVANTI, 2007).
e inclusive ético, da convivência civil” (FIORAVANTI, 2007, p. 23,
Doutrinariamente sustenta-se que, durante o período me-
tradução nossa ).o que não é somente o tráfico de riquezas ou
dieval, ancorado numa concepção teocrática de poder, há o
a mera coincidência de interesses econômicos, mas “sobretudo
desaparecimento da necessidade de uma lei fundamental, ha-
projeto de aperfeiçoamento moral, ademais de material: daqui
vendo o eclipse da Constituição, afirmação essa rechaçada por
que a obra aristotélica recorra continuamente ao grande tema da
Fioravanti, para quem houve efetivamente uma Constituição me-
virtude, da cidadania ativa”. (FIORAVANTI, 2007, p. 23, tradução
dieval, diferente da Constituição dos antigos como também da
nossa11).
Constituição dos modernos, Constituição essa com característi-
10
Nestes termos, com esta defesa de Aristóteles e de Platão:
cas próprias de uma era que durou mais de dez séculos, deste
a necessidade de se instituir uma Constituição, ou seja, um fruto
modo, uma era na qual não houve somente uma forma típica do
de uma composição paritária dos interesses presentes na so-
exercício do poder.
ciedade, contrapondo-se a um regime instituído pela força, de
Dentre as formas de poder, há que se salientar principal-
modo violento, começa a tomar forma a chamada Constituição
mente os poderes imperiais, os poderes dos senhores feudais
dos antigos, à qual também os romanos prestarão contribuições
e, principalmente, o poder eclesiástico. A característica comum
à sua estruturação e gênese. Assim, pode-se afirmar que na
destes centros de poder era a não-existência de nenhuma pre-
Grécia antiga, especificamente em Atenas, está presente o pri-
tensão totalizadora de poder entre os bens, ordens, desenvol-
meiro precedente de uma ideia que perseguirá todo e qualquer
vendo-se a vida econômica, patrimonial e social fora de previ-
modelo de uma Constituição moderna, ou seja, uma forma de
são normativa estatal, mas sim a força normativa e primária dos
se configurar, limitar e legitimar o poder, ou seja, um governo
costumes.
de leis e não de homens, apontando o poder de uma estrutura objetiva e não da vontade de homens.
Já no que se refere às funções da Constituição moderna, Francis Hamom, Michel Troper e Georges Burdeau (2005) afir-
Por sua vez, os romanos elaboraram e defenderam o con-
mam que a mesma possui funções jurídicas e funções políticas.
ceito de Constituição Mista, a qual se traduz em uma teoria dos
Ou seja, a Constituição deve, além de trazer os elementos es-
cargos (magistraturas) e no equilíbrio dos poderes, tendo sido
truturantes do Estado, fornecer os elementos essenciais à con-
Marco Tulio Cícero (106-43 a.C) um de seus primeiros e prin-
cretização dos direitos fundamentais. Deste modo, num Estado
cipais defensores. Para Cícero toda a ordem estatal deve se
Constitucional os direitos fundamentais são positivados no texto
resumir na res publica (coisa do povo), sendo esse povo não
constitucional, como acontece no Brasil contemporâneo, o qual
uma multidão de indivíduos agregados a um território, mas sim o
possui um documento constitucional que institui um Estado De-
conjunto de indivíduos reunidos sob um consenso sobre aquilo
mocrático de Direito, modelo inclusivo de Estado, que não privi-
que consideram de direito e com interesses comuns.
legia nenhum projeto de vida em detrimento a outro, prevalecen-
Neste sentido, uma res publica forte somente pode se es-
do o governo das leis sobre o arbítrio dos homens, ao mesmo
truturar sob um fundamento pacífico e consensual, não podendo
tempo em que se reconhecem e garantem as liberdades dos
estar a mesma sustentada por um governo tirânico ou aristo-
cidadãos. Em relação a tal ideia, Agustín Ricoy Saldaña (2001)
crático. Para Cícero, a res publica necessita de uma particular
salienta que:
forma de união, à qual o mesmo denomina “forma mista e mo-
[...] um Estado de Direito não se dá por geração espon-
derada”, sendo esta forma evocada com a palavra constitutio
tânea nem depende somente da vontade ou decisão
como também frequentemente com a expressão status civitatis.
de algum ator político em particular. Sua construção é
Com isso, deflui-se que os antigos não haviam pensado a
um processo que abrange a todos os atores políticos
Constituição como uma norma, norma que durante os tempos
relevantes e à cidadania, e não se esgota na edificação
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de um sistema jurídico ou constitucional. (SALDAÑA in ZEPEDA, 2001, p. 7, tradução nossa12).
Modernamente, Antonio-Carlos Pereira Menaut (2006) define Constituição como “limite do poder, por meio do Direito, assegurando uma esfera de direitos e liberdades para o cidadão.
Assim, o Estado de Direito se realiza e se expressa na norma
Quando isso não ocorre não se pode falar de uma verdadeira
legal, como também na edificação e no funcionamento efetivo
Constituição, como dizia o famoso artigo 16 da Declaração fran-
das instituições, assim como na cultura e nas práticas políticas
cesa de 1789”. (MENAUT, 2006, p. 20, tradução nossa13). Neste
dos atores, (SALDAÑA in ZEPEDA, 2001), sendo a Constituição
sentido, a ideia de Constituição é distinta da ideia de “consti-
o lócus das garantias e direitos fundamentais do sujeito.
tuir”, tal jogo de palavras recorda que as Constituições não são pontos de partida que fundam, originam ou “constituem”, em
4 CONCLUSÃO
sentido literal, uma sociedade, uma ordem jurídica, uma comuni-
Como cediço, o Direito Constitucional ocupa-se do estudo
dade política, assim as Constituições possuem uma capacidade
sistemático das normas integrantes da Constituição do Estado,
limitada de constituir, constituem somente o sistema político e
principalmente de suas normas estruturantes: como a forma de
não todo e nem em todos os casos.
governo, o sistema político, a forma de Estado, os direitos fundamentais, a organização dos poderes estatais, a separação de
REFERÊNCIAS
poderes. O fundamento ideológico do surgimento das Constitui-
ARANGO, Rodolfo. El concepto de derechos sociales fundamentales. Bogotá: Legis, 2005.
ções é o pensamento liberal dos filósofos iluministas dos séculos XVII e XVIII, como Rousseau, Montesquieu e Locke, sendo as Constituições atuais inspiradas pelas Constituições dos séculos XVII e XVIII, fruto das revoluções de então: Revolução Inglesa, Revolução Francesa e Revolução Norte-Americana. Costuma-se também apresentar como antepassado da Constituição a Magna Charta Libertatum, documento imposto pelos nobres ao Rei João Sem Terra em 1215 na Inglaterra, como também a Petition of Rights de 1628, imposta ao rei inglês Carlos I. Assim, a Constituição como documento maior de um ordenamento jurídico pode ser apresentada por diversas concep-
BASTOS, Celso Ribeiro. Dicionário de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Malheiros, 2008. BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. BRASIL. Constituição (1988) Constituição da república federativa do Brasil. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
ções: política, jurídica e sociológica. A concepção política foi apresentada por Carl Schmitt na sua obra Teoria de la constitución, para quem a Constituição é a decisão política fundamental, apresentando o autor uma diferenciação entre Constituição e leis constitucionais. Assim, a Constituição disporia sobre as
CUNHA, Paulo Ferreira da. Direito constitucional geral: uma perspectiva luso-brasileira. São Paulo: Método, 2007. FIORAVANTI, Maurizio. Constitución: de la antiguedad a nuestros días. Madrid: Trotta, 2007.
normas fundamentais, enquanto que as demais normas contidas em seu texto seriam leis constitucionais. Já a concepção jurídica foi apresentada pelo jurista de Viena, Hans Kelsen, em sua obra Teoria pura do direito, para quem a Constituição é o vértice, topo, de todo o ordenamento jurídico de um Estado, devendo as leis inferiores guardar consonância com a mesma, sob pena de serem declaradas inconstitucionais.
HAMON, Francis; TROPER, Michel; BURDEAU, Georges. Direito constitucional. 27. ed. Barueri: Manole, 2005. HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constitução: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da constituição. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1997.
Assim, a Constituição tem como sustentáculo lógico-jurídico a norma hipotética fundamental. Por sua vez, a concepção sociológica, apresenta por Ferdinand Lassalle na obra O que é uma constituição, traz que a verdadeira Constituição é decorrente da soma dos fatores reais de
LASSALLE, Ferdinand. A essência da constituição. 6. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2001. MIRANDA, Jorge. Teoria do estado e da constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
poder, não passando a Constituição escrita de uma mera “folha de papel”, podendo a mesma ser rasgada a qualquer momento, caso a mesma fira os fatores reais de poder.
NOGUEIRA ALCALÁ, Humberto. Teoría y dogmática de los derechos fundamentales. Cidade do México: UNAM, 2003.
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PEREIRA MENAUT, Antonio-Carlos. Lecciones de teoría constitucional. Madrid: Colex, 2006. PIMENTA, Marcelo Vicente de Alkmim. Teoria da constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. RODRÍGUEZ ZEPEDA, Jesús. Estado de derecho y democracia. Cidade do México: Instituto Federal Electoral, 2001. SLAIBI FILHO, Nagib. Direito Constitucional. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
de manera particular en relación con el cada vez más intenso tráfico comercial y marítimo. La mercantilización de la polis produce también, con frecuencia de manera violenta, un creciente conflicto entre pobres y ricos, en el que los primeros reivindican formas cada vez más amplias de asistencia pública y los segundos luchan por impedir que al problema de la indigencia se responda con medidas radicales, con la confiscación y redistribución de las tierras. (FIORAVANTI, 2007, p. 15-16). 7 [...] politéia no es más que el instrumento conceptual del que se sirve el pensamiento político del siglo IV para enuclear su problema fundamental: la búsqueda de una forma de gobierno adecuada al presente, tal que refuerce la unidad de la polis, amenazada y en crisis desde distintos frentes. (FIORAVANTI, 2007, p. 19).
NOTAS DE RODAPÉ 1 Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Gama Filho/RJ. Mestre e Doutorando em Teoria do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas. Professor no Curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG, da Faculdade de Pará de Minas/MG e da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Advogado.
8 Ahora más que nunca, en Aristóteles la politéia no es solo un instrumento conceptual para usar en sentido descriptivo y de clasificación: aspira por el contrario a prescribir un futuro político dotado de constitución. Lo que se quiere para el futuro es una política que pueda traducirse en politéia, en régimen constitucional establemente fundado. (FIORAVANTI, 2007, p. 22).
2 Graduada em Relações Internacionais pela Universidade de Itaúna. Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Discente do Curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna.
9 Alcunha de Aristóteles, tendo em vista ter o mesmo nascido na cidade de Estagira na Macedônia.
3 O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa traz a seguinte definição para o verbete “Constituição”: “Constituição: (do latim constitutione): s. f. 1. Ato de constituir, de estabelecer, de firmar. 2. Modo pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; organização, formação. 3. Lei fundamental e suprema dum Estado, que contém normas respeitantes à formação dos poderes públicos, forma de governo, distribuição de competências, direitos e deveres dos cidadãos, etc.; carta constitucional, carta magna. 4. Conjunto de normas reguladas de uma instituição, corporação, etc.; estatuto. 5. Biotip. O conjunto das características anatômicas, funcionais, reacionais e psíquicas que marcam um indivíduo.” (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986). 4 Concepção apresentada por Ferdinand Lassalle em conferência pronunciada diante de um agrupamento de cidadãos de Berlim em abril de 1862.
10 [...] la primera tarea es la de revalorizar y relanzar el significado propiamente político, e incluso ético, de la convivencia civil. (FIORAVANTI, 2007, p. 23). 11 [...] sobre todo proyecto de perfeccionamiento moral, además de material: de aquí que la obra aristotélica recurra continuamente al gran tema de la virtud, de la ciudadanía activa. (FIORAVANTI, 2007, p. 23). 12 “[...] un Estado de derecho no se da por generación espontánea ni depende sólo de la voluntad o decisión de algún actor político en particular. Su construcción es un proceso que involucra a todos los actores políticos relevantes y a la ciudadanía, y no se agota en la edificación de un sistema jurídico o constitucional.” (SALDAÑA in ZEPEDA, 2001, p. 7). 13 “[...] límite del poder, por medio del Derecho, asegurando una esfera de derechos y libertades para el ciudadano. Cuando esto no se da no puede hablarse de verdadera Constitución, como decía el famoso artículo 16 de la Declaración francesa de 1789.” (PEREIRA MENAUT, 2006, p. 20).
5 “[...] límite del poder, por medio del Derecho, asegurando una esfera de derechos y libertades para el ciudadano. Cuando esto no se da no puede hablarse de verdadera Constitución, como decía el famoso artículo 16 de la Declaración francesa de 1789.” (PEREIRA MENAUT, 2006, p. 20). 6 Para los contemporáneos, en concreto, se trata de un tiempo de decadencia política provocada, sobre todo, por la transformación de la ciudad – la polis – de lugar de ejercicio de los derechos políticos de ciudadanía, de reconocimiento colectivo de una pertenencia política común, a lugar caracterizado preferentemente por la economía y el intercambio,
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EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66, DE 13 DE JULHO DE 2010:
A Nova Concepção do Divórcio e a Permanência do Instituto da Separação Leandro Henrique Simões Goulart1 Priscilla Chagas de Moura2
RESUMO: Com as constantes mudanças da sociedade, as concepções do casamento e da sua dissolução mudaram substancialmente. Dessa forma, o Direto, através da Emenda Constitucional n.66, procurou adequar-se aos novos conceitos, eliminando os requisitos Constitucionais para concessão do divórcio. Todavia, a referida emenda não fez, em seu texto, qualquer menção quanto a uma possível revogação dos artigos infraconstitucionais que disciplinam o tema. Assim, discute-se quanto a possibilidade do Poder Judiciário não mais aplicar o instituto da separação judicial, como se o mesmo não mais existisse no ordenamento jurídico brasileiro, impossibilitando dos interessados de escolherem qual o instituto, se da separação ou do divórcio, melhor lhe convém. PALAVRAS CHAVES: Divórcio; Separação Judicial; Emenda Constitucional n. 66; Revogação; Legislação Infraconstitucional.
Ao tempo do Brasil Império o matrimônio era regulado pela
influência da Igreja, embora ainda presente.
Igreja Católica, sua celebração, suas nulidades e sua dissolução.
A Igreja Católica por muito tempo impôs seus princípios ao
À época, a dissolução somente se dava com a morte de
Estado, governando o Brasil conforme lhe convinha, contudo,
um dos cônjuges, consagrando o casamento como eterno
em 1890, deu-se a promulgação da República, o que acarretou
(“até que a morte os separe”).
a separação entre Estado e Igreja, que agora constituíam dois
Neste período, o matrimônio era permitido apenas aos nubentes católicos, não havendo a possibilidade de noivos não
entes distintos, mas, sendo ainda nítida a forte influência desta e suas marcas deixadas na sociedade.
católicos se casarem sem violarem suas convicções religiosas.
Entretanto, apesar desta separação, a indissolubilidade do
Somente a partir do ano de 1861, com o advento da Lei de
casamento foi mantida, afinal, como era de fácil percepção, a
11 de setembro de 1861 regulamentada pelo Decreto de 17 de
legislação brasileira ainda era contaminada pelos elementos
abril de 1863, que ficou instituído o matrimônio entre não católicos.
religiosos e pela forte interferência da Igreja. Ademais, essa in-
Assim, passou a existir no Brasil três modalidades de casa-
dissolubilidade também interessava ao Estado, que procurava
mento reconhecido pela legislação vigente: o casamento católi-
conservar a família, considerada como a base da sociedade e,
co, o casamento misto e o casamento entre não católicos; o que
sobretudo pelo caráter patrimonialista conferido ao matrimônio.
representou uma imensa evolução perante uma sociedade que
E foi sob o prisma de um Estado Laico que o termo divórcio
era regida pelos princípios e normas impostos pela Igreja Católica.
ou desquite, como era usado à época, embora bastante dife-
O casamento católico era celebrado entre nubentes exclu-
rente do conceito atual, surgiu na legislação brasileira, tendo o
sivamente católicos e seguia as normas do Concílio de Trento3
Decreto nº 181 de 1890, em seu capítulo IX, disposto sobre o
de 1563 e das Constituições do Arcebispado da Bahia. O ca-
divórcio consensual e o divórcio litigioso.
samento misto, como o próprio nome sugere, era constituído
Entretanto, o divórcio disciplinado pelo Decreto nº 181 /
entre noivos católicos e não católicos, sendo disciplinado pelo
90 rompia a sociedade conjugal, mas não dissolvia o vinculo
Direito Canônico. E o casamento dos não católicos, por sua
do casamento4.
vez, permitia a união de pessoas de crenças diferentes, obedecendo aos preceitos das respectivas religiões.
Foi a Lei 6.515, promulgada em 26 de dezembro de 1977, que regulava os casos de dissolução da sociedade conjugal e
O casamento civil propriamente dito somente foi instituído
do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dava
no Brasil no século XVIII, na vigência do governo provisório do
outras providências, que efetivamente instituiu o divórcio no
Marechal Deodoro da Fonseca, através do Decreto nº 181, de
Brasil de forma a deixá-lo mais próximo do conceito atual, ten-
24 de janeiro de 1890, que promulgou a Lei sobre casamento,
do sido, entretanto, impostos requisitos prévios para se obter
composta por 125 artigos, quando já não era tão marcante a
sua concessão.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 53
Assim, para se obter a dissolução do casamento pelo insti-
gue.” (BRASIL, 1942)
tuto do divórcio se fazia necessário prévia separação judicial, a
O ato que põe fim a vigência de uma Lei ou, melhor dizendo
qual punha fim aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca
torna esta sem efeito denomina-se revogação, podendo ser total
e ao regime matrimonial de bens, como se o casamento já fosse
(ab-rogação) ou parcial (derrogação) quando torna sem efeito
dissolvido, mas impossibilitando aos separados judicialmente
apenas uma parte da Lei.
de constituir novo matrimonio. Desta feita, a conversão da separação judicial em divórcio, à época, somente poderia ser requerida em juízo após decorrido
O diploma legal acima aludido traz, também, nos parágrafos do supracitado artigo as hipóteses em que o instituto da revogação será admitido, sendo estes:
mais de um ano da sentença que julgara procedente o pedi-
Art. 2° Não se destinando à vigência temporária, a lei terá
do de separação judicial ou da decisão que concedera medida
vigor até que outra a modifique ou revogue.
cautelar correspondente.
§1° A lei posterior revoga a anterior quando expressa-
Vinte e cinco anos depois, com o advento do “novo” Códi-
mente o declare, quando seja com ela incompatível ou
go de Civil (de 2002), não houve grandes mudanças quanto ao
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a
tempo necessário para a conversão da separação em divórcio,
lei anterior.
sendo, apenas, reconhecido o direito de se requer o divórcio
§2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou es-
direito, desde que comprovado em vias judiciais a separação de
peciais a par das já existentes, não revoga nem modifica
fato do ex-casal pelo interregno de no mínimo dois anos.
a lei anterior.
Em tempo de acompanhar as constantes mudanças da so-
§3° Salvo disposições em contrário, a lei revogada não
ciedade, que a muito já não tratava o matrimônio e o divórcio
se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
com o mesmo rigor mantido pelo ordenamento jurídico brasilei-
(BRASIL, 1942)
ro, foi promulgado em 13 de julho de 2010 a Emenda Constitucional n. 66, composta por apenas um único artigo, o qual promoveu a alteração do parágrafo 6° do artigo 226 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, abolindo o arcaico requisito de prévia separação judicial pelo decurso de mais de um ano e/ou a exigência de separação de fato por mais de dois anos para então, haver a concessão do divórcio. Contudo, a referida Emenda do Divórcio, não fez menção expressa quanto a revogação dos demais artigos infraconstitucionais do Código Civil e da Lei 6.515/77, que disciplinam o instituto da separação judicial, mesmo porque os efeitos produzidos por cada instituto, seja do divórcio ou da separação, são diferentes, cabendo aos cônjuges a escolha entre um ou outro, e não ao Poder Judiciário impor aquele que julgar oportuno ou conveniente, já que, como dito, ainda existe previsão legal que ampara ambas as possibilidades. Nesse sentido, torna-se imprescindível traçar um paralelo entre a Emenda e em como se dá a revogação de Lei no Brasil: uma Lei passa a existir tão logo se reste publicada, evidentemente, respeitada sua vacatio legis, se for o caso. Entretanto, são raras as Leis que estabelecem um lapso temporal de vigência, sendo, em sua maioria, de validade indeterminada. Dessa forma, a vigência de uma Lei se estende até que uma Lei posterior venha a aboli-la ou substituí-la, o que se encontra devidamente disciplinado no artigo 2° da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro: “Art. 2° Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
Assim, em regra, a revogação deve ser expressa, tendo, inclusive, a Lei Complementar n. 95 de 1998, cuidado do assunto, a título de orientação ao legislador, a fim de remediar uma situação de insegurança, dispondo em seu artigo 9° que: “A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.” (BRASIL, 1998). Dessa forma, encontra-se vedada a revogação genérica, o que não acontece, entretanto, com a tácita, que permanece nos casos de incompatibilidade da nova Lei com a antiga, face que o ordenamento jurídico não pode abrigar contradições ou dupla orientação dentro de uma mesma matéria. Corroborando com o esposado e retomando o tema analisado, tem-se que os artigos infraconstitucionais do Código Civil e da Lei 6.515 de 1977 que disciplinam a separação de direito (judicial e extrajudicial) permanecem, portanto, munidos de sua validade formal e material, estando aptos a produzirem todos os efeitos a eles inerentes, uma vez que a Emenda Constitucional n. 66 de 2010 não fez, em seu texto, menção alguma a revogação dos mesmos, e no mais, esses, não abrigam qualquer contradição ou dupla orientação dentro de uma mesma matéria, não sendo, assim, o caso de revogação tácita. Ademais, cabe evidenciar que essas Leis Infraconstitucionais ao instituírem que a sociedade conjugal termina com a separação ou com o divórcio (este, por sua vez, dissolvendo definitivamente o casamento), conferem direito material aos côn-
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juges de optarem por um ou outro instituto, sem, contudo, em nada confrontar o texto constitucional emendado, que, por sua vez, somente permite a dissolução imediata do casamento pelo divórcio, sem a necessidade do preenchimento de requisitos prévios, anteriormente exigidos. Desta feita, não poderá o Judiciário impor ao cidadão o uso de um ou de outro instituto, uma vez que ambos, tendo por base a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, se encontram aptos a produzirem os diferentes efeitos inerente a cada um. Todavia, em uma projeção mais ampla, essa discussão nos remete ainda a outra questão, qual seja, o limite da discricionariedade do Poder o Judiciário; em que se entende que a discricionariedade não deve jamais ser confundida com arbitrariedade. Deste modo, não cabe ao Poder Judiciário pugnar pela inaplicabilidade de tais institutos, face que o legislador não os revogou, tendo em tais um instrumento facultativo àqueles que desejem apenas a dissolução da sociedade conjugal, sem a extinção do casamento. Ademais, cabe, ainda, enfatizar que em muitos países de formação católica, assim, como o Brasil, tais institutos, da separação e do divórcio, aparecem como modalidade alternativa, podendo o cidadão optar pelo que melhor lhe convir. Na França e em Portugal, por exemplo, as causas da separação são as mesmas do divórcio, podendo as partes, livremente, optar por qualquer dos dois institutos, ressalvando ainda nas respectivas legislações a possibilidade de posterior conversão da separação em divórcio. No mais, em uma sociedade pluralista como a brasileira, não há razões para se abolir do ordenamento o instituto da separação, que pode ser utilizado como instrumento facultativo, para aqueles que desejem apenas a dissolução da sociedade conjugal, sem a extinção do casamento. É certo, porém, que
comprovada separação de fato por mais de 2 (dois) anos. Diário Oficial [da] República federativa do Brasil, Brasília, em 13 de julho de 2010. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/ emc/emc66.htm>. Acesso em 02 de maio de 2011. ______. Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, em 26 de dezembro de 1977; 156º da Independência e 89º da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6515.htm>. Acesso em 02 de maio de 2011. ______. Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 26 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp95.htm>. Acesso em 02 de maio de 2011. ______. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 10 de janeiro de 2002; 181o da Independência e 114o da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 02 de maio de 2011. CARVALHO, Dimas Messias de. Divórcio: Judicial e Administrativo de Acordo com a Emenda Constitucional 66/2010 e a Lei 11.698/2008 (Guarda Compartilhada). Belo Horizonte: Del Rey, 2010. DIAS, Maria Berenice. Divórcio Já!: Comentários à Emenda Constitucional 66, de 13 de julho de 2010. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. ______. Manual de Direito das Famílias. 5ª edição revista, atualizada e ampliada - 2ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
não haverá mais espaço, diante da possibilidade de divórcio imediato, para discussão de culpa entre os cônjuges ou análise de lapso temporal, o que, entretanto, não significa dizer que o instituto da separação tenha sido revogado. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121° da Independência e 54o da República. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em 02 de maio de 2011. ______. Emenda Constitucional nº 66, de 13 de julho de 2010. Dá nova redação ao §6º do art. 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de
DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 3ª edição revisada, atualizada e ampliada. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2010. MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 2ª edição revisada e atualizada, inclusive com a lei da guarda compartilhada (Lei nº 11.698, de 13 de julho de 2008). Rio de Janeiro: Forense, 2008. NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 32ª edição revisada e atualizada de acordo com o Código Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2010. PORTAL SÃO FRANCISCO. Concílio de Trento. Disponível em <http:// www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/contra-reforma/concilio-de-trento. php>. Acesso em 29 de dezembro de 2010.
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SOARES, Oscar de Macedo. O Casamento Civil: Decreto n. 181 de 2 de janeiro de 1890 – Comentado por Oscar de Macedo Soares. 4ª edição. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1908.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Mestrando em Processo Civil, Especialita em Processo Civil, Professor do Centro Universitário Newton Paiva das Disciplinas Processo Civil (Cautelares e Procedimentos Especiais), Teoria Geral do Processo e Professor Orientador do Centro de Exercícios Jurídicos (CEJU). 2 Graduanda do 9º período do curso de Direito da Faculdade de Cienências Socias Aplicadas - Centro Universitário Newton Paiva. 3 O 19º Concílio Ecumênico da Igreja, mais conhecido como Concílio de Trento foi convocado pelo Papa Paulo III com a bula Laetare Jerusalem em 19 de novembro de 1544 e foi aberto em 13 de dezembro de 1545, com a finalidade de condenar os erros em matéria de fé, reprimir os abusos, reconstituir da unidade da Igreja, estabelecer a cruzada contra os turcos, e estreitar a união da Igreja. O Concílio reuniu na cidade de Trento, no Tirol italiano os teólogos mais famosos da época, que elaboraram vários decretos, que mais tarde formam analisados por bispos em sessões privadas. Assim, o Concílio de Trento, também chamado de Concílio da ContraReforma, condenou a doutrina protestante, proibiu a intervenção dos príncipes nos negócios eclesiásticos e a acumulação de benefícios. Definiu o pecado original e declarou, como texto bíblico autêntico, a tradução de São Jerônimo, denominada “Vulgata”. Manteve os sete sacramentos, o celibato clerical e a indissolubilidade do matrimônio, o culto dos santos e das relíquias, a doutrina do purgatório e as indulgências e recomendou a criação de escolas para a preparação dos que quisessem ingressar no clero. Com diversas interrupções, o concílio terminou em 1563, sendo o mais longo da história da Igreja. Portugal, e conseqüentemente o Brasil que ainda era sua colônia, Espanha, Polônia e os Estados italianos formam os primeiros países a aceitarem, incondicionalmente, as normas e dogmas tridentinas. (PORTAL SÃO FRANCISCO. Concílio de Trento. Disponível em <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/contra-reforma/ concilio-de-trento.php>. Acesso em 29 de dezembro de 2010.) 4 Art.88. – O divorcio não dissolve o vinculo conjugal, mas autoriza a separação indefinida dos corpos e faz cessar o regime dos bens, como se o casamento fosse dissolvido. (SOARES, Oscar de Macedo. O Casamento Civil: Decreto n. 181 de 2 de janeiro de 1890 – Comentado por Oscar de Macedo Soares. 4ª edição. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1908, página 101.)
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MARXISMO E RECONHECIMENTO: as críticas de Axel Honneth à noção de reconhecimento no pensamento de Karl Marx Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais1
RESUMO: Tem-se por objetivo, por intermédio do presente artigo, discorrer sobre a concepção de reconhecimento no pensamento de Karl Marx (1818-1883) como também apresentar as críticas direcionadas por Axel Honneth à concepção marxista de reconhecimento. Deste modo, inicialmente será abordada sucintamente a teoria da luta por reconhecimento de Axel Honneth para depois serem apresentadas as características do reconhecimento no pensamento de Karl Marx como também as referidas críticas direcionadas por Honneth à noção marxista de reconhecimento. PALAVRAS-CHAVE: Dialética; Luta de classes; Marxismo.; Reconhecimento; Trabalho.
1 INTRODUÇÃO
a dimensão das relações de reconhecimento do amor, que es-
A questão do reconhecimento tem sido debatida, atualmen-
tão sustentadas estruturalmente na dimensão da natureza afetiva
te, por diversos teóricos da Teoria do Direito, salientando, ape-
e dependente da personalidade humana, encontrando Honneth
sar disto que, o debate foi travado por pensadores anteriores à
seus primeiros elementos de sua teoria na categoria da Depen-
contemporaneidade, como Hegel e Karl Marx.
dência Absoluta de Winnicott. De acordo com Saavedra (2006):
Neste sentido, tem-se, modernamente, em Axel Honneth um
Honneth pretende, portanto, demonstrar que o tipo de
dos teóricos contemporâneos que se preocupam com a referida
reconhecimento característico das sociedades tradicio-
temática, a qual foi debatida, principalmente, em sua obra A luta
nais é aquele ancorado na concepção de status: em
por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais,
sociedades desse tipo um sujeito só consegue obter re-
Axel Honneth (2009) utiliza-se da reconstrução das ideias de
conhecimento jurídico quando ele é reconhecido como
Mead e do jovem Hegel para delimitar o pano de fundo teórico
membro ativo da comunidade e apenas em função da
sobre o qual irá desenvolver a sua teoria da sociedade. Assim,
posição que ele ocupar nesta sociedade. Honneth re-
de acordo com Giovani Agostini Saavedra (2006):
conhece transição para modernidade uma espécie de
A interpretação que Honneth faz da teoria destes au-
mudança estrutural na base da sociedade, à qual cor-
tores deixa claro que uma teoria da sociedade como
responde também uma mudança estrutural nas relações
aquela que Honneth pretende desenvolver deve partir
de reconhecimento: ao sistema jurídico não é mais per-
do princípio que as relações de reconhecimento con-
mitido atribuir exceções e privilégios às pessoas da so-
têm pretensões normativas na sua estrutura, que pos-
ciedade em função do seu status. Pelo contrário o siste-
sibilitam o esclarecimento da mudança social. (SAAVE-
ma jurídico deve combater estes privilégios e exceções.
DRA, 2006, p. 18).
O direito então deve ser geral o suficiente para levar em consideração todos interesses de todos os participantes
Assim, nos capítulos 5 e 6 de A Luta por reconhecimento
da comunidade. A partir desta constatação, a análise do
encontra-se de forma explícita uma explicação sistemática da
direito que Honneth procura desenvolver consiste basi-
teoria da sociedade de Honneth. Nos referidos capítulos Honne-
camente em explicitar o novo caráter, a nova forma do
th explica como, no seu entendimento, surge e está constituída
reconhecimento jurídico que surgiu na modernidade.
a estrutura tripartida das relações de reconhecimento. Todavia,
(SAAVEDRA, 2006, p. 20).
Honneth não objetiva apresentá-la de forma puramente teórica, objetivando conferir à mesma plausibilidade, para isso o mesmo
Honneth objetiva mostrar que, junto com o surgimento de
irá comparar suas afirmações com os estudos empíricos e psi-
uma moral ou de uma sociedade pós-tradicional, houve também
canalíticos de Donald W. Winnicott.
uma separação da função do direito e daquela do juízo de valor
Nestes termos, primeiramente, Honneth objetiva apresentar
(Wertschätzung). Na teoria de Ihering e na tradição pós-kant de
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diferenciação de duas formas de Respeito (Achtung), principal-
mente experimentar-se a si mesmo como um indivíduo a que
mente com base na pesquisa de Darwalls, pode-se encontrar
pertencem de maneira positiva determinadas capacidades,
elementos para determinar a diferença entre direito e juízo de
mas também se conceber como uma pessoa em condições
valor. (SAAVEDRA, 2006).
de satisfazer as carências de um parceiro concreto da intera-
Assim, para o direito a pergunta central é: como a proprie-
ção. (HONNETH, 2009).
dade constitutiva das pessoas de direito deve ser definida; no
É nesse sentido que Marx interpreta o capitalismo, segun-
caso do juízo de valor: como se pode desenvolver um sistema
do Honneth, como monopólio dos meios de produção por uma
de valor que está em condições de medir o valor das proprie-
única classe social, a burguesa, a qual, com isso, é responsável
dades características de cada pessoa (Honneth, 2003: 183 ss.).
por uma ordem social que destrói necessariamente as relações
Deste modo, os sujeitos de direito necessitam estar em condi-
de reconhecimento entre os homens mediadas pelo trabalho,
ções de se desenvolver sua autonomia, para que possam de-
já que separa os meios de produção de quem realmente pro-
cidir racionalmente sobre questões morais. Todavia, essas são
duz, impedindo os trabalhadores de controlar sua própria ativi-
apenas algumas questões basilares trazidas por Honneth na sua
dade. O conflito social resultante deste contexto deve então ser
obra, o que não será aprofundado aqui, tendo em vista o fato
entendido como uma luta por reconhecimento, é o que pensa
de ser outro o objetivo do presente artigo: o reconhecimento e
Marx voltando-se para a dialética do senhor e o escravo, e ao
a crítica de Axel Honneth à noção de reconhecimento no pensa-
conceber os confrontos sociais de sua época como uma luta
mento de Karl Marx.
dos trabalhadores oprimidos em busca do restabelecimento das relações de reconhecimento, uma luta moral, portanto.
2 CONSIDERAÇÕES DE AXEL HONNEHT À
Para Honneth, o jovem Marx se inspira no modelo de con-
NOÇÃO DE RECONHECIMENTO NO PENSAMENTO MARXISTA
flito da Fenomenologia hegeliana, porque cria um conceito an-
Axel Honneth identifica em Marx pelo menos três momentos
tropológico de trabalho no qual está inserido a noção de reco-
em que a idéia de uma luta por reconhecimento se faz presente.
nhecimento intersubjetivo e autorealização pessoal, pois pela
1) nos Manuscritos parisienses; 2) nos escritos sobre a teoria eco-
produção própria o homem não só se realiza a si mesmo como
nômica como O Capital, e no Marx maduro; 3) através dos seus
também antecipa o outro como co-sujeito carente, ou seja, reco-
escritos históricos como o Dezoito Brumário de Luís Bonaparte.
nhece-o afetivamente como parceiro de interação. Se a atividade
De acordo com Honneth, Marx não teve contato com a Real-
capitalista impede a realização no trabalho, impede também as
philosophie, mas sim com a Fenomenologia, o que marca para
possibilidades de relações de reconhecimento recíproco, o que
Honneth um ponto decisivo na compreensão que aquele terá da
justifica moralmente a busca pela restauração dessas relações.
tese hegeliana. Neste sentido, Honneth (2009) afirma que:
Honneth acredita que o jovem Marx, para construir essa pri-
Marx [...] retoma nos Manuscritos parisienses a ideia de
meira formulação da teoria da luta de classes, precisou usufruir de
uma luta por reconhecimento somente na versão estrei-
elementos da antropologia romântica da expressão, do conceito
ta que havia assumido na dialética do senhor e o escra-
feuerbachiano de amor e da economia política inglesa, o que já
vo; com isso, porém, ele sucumbiu, já no começo de
aponta para os inúmeros aspectos problemáticos que essa formu-
sua obra, à tendência problemática de reduzir o espec-
lação terá, além da pesada carga de especulação filosófico-histó-
tro das exigências do reconhecimento à dimensão da
rica contida nela. Nesse modelo de uma “estética da produção”,
auto-realização no trabalho. (HONNETH, 2009, p. 230).
o conflito social se daria única e exclusivamente pela restauração das relações recíprocas de reconhecimento na esfera do trabalho.
Para Marx o próprio ato do trabalho, compreendido de forma
Mas Marx passa a adotar logo outra concepção de traba-
normativa, traz em si uma carga de reconhecimento intersubjetivo.
lho, de acordo com Honneth, pois abandona suas premissas
Na produção de um objeto, o sujeito experiencia-se como indiví-
especulativas ao mesmo tempo em que admite que dimensionar
duo dotado de capacidades positivas, já que produtoras, além
o reconhecimento exclusivamente na esfera do trabalho signifi-
de conceber-se como sujeito que possui qualidades pelas quais
cava tornar unilaterais as relações de reconhecimento entre os
um outro parceiro de interação satisfaz suas carências. Na auto-
homens. Assim ele pode redefinir seu conceito de conflito, mas
realização do trabalho as pessoas reconhecem a si e aos outros.
isso ele o faz estreitando ainda mais sua teoria moral. Segundo
Marx fala da “dupla afirmação” que um sujeito experimen-
Honneth, [...] na análise do capital, ele [Marx] faz com que a lei
ta em relação a si mesmo e a um outro por intermédio do
de movimento do embate entre as diversas classes seja deter-
trabalho: no espelho do objeto produzido, ele pode não so-
minada, de acordo com seu novo quadro conceitual, pelo anta-
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gonismo de interesses econômicos. (HONNETH, 2009, p. 235).
relações de reconhecimento, que realmente atravessam as rei-
Isso introduz aspectos do pensamento utilitarista na filoso-
vindicações dos grupos. Sem essa preocupação os conflitos
fia social de Marx, pois significa o abandono da tese hegeliana
não podem gozar de uma carga normativa que os justifiquem
da luta por reconhecimento em favor de um modelo tradicional
além de suas pretensões, pois permanecem relativas às exigên-
de luta por auto-afirmação. A concepção de conflito moral que
cias dos grupos ou classes envolvidas.
emergia contra a extinção das relações de reconhecimento recí-
Desse modo, Marx, na visão de Honneth, guarda em si duas
proco, agora dá lugar ao conflito originado pela concorrência de
concepções de conflito: a do princípio de que eles são condicio-
interesses econômicos.
nados exclusivamente por interesses econômicos, e a de que
Na obra O Capital Marx desenvolve a crítica da economia
eles se originam em razão da busca relativista de objetivos de
política atinando apenas para o modo como a luta social dos
auto-realização; “entre os dois modelos de conflito que se cho-
trabalhadores deve se organizar em vista da autonomização do
cam assim em sua obra madura, a abordagem utilitarista dos
capital, de acordo com os interesses “objetivos” específicos da
escritos de teoria econômica e a abordagem expressivista. [...],
classe proletária. O que causa, para ele, a relativa “cegueira”
o próprio Marx não pôde mais criar, em lugar algum, um vínculo
em relação à luta pela ampliação das pretensões jurídicas do
sistemático” (HONNETH, 2009, p. 239).
proletariado. Liberdade e igualdade nunca puderam passar para
Dessa forma ele acredita que Marx tenha compreendido a
Marx, de idéias burguesas serventes ao modo de produção ca-
luta de classes apenas como justificada com termos como “dig-
pitalista, o que tornava injustificável, em absoluto, uma luta por
nidade” e “honra”, no entanto, sem apontar para as diversas for-
reconhecimento jurídico (SAAVEDRA, 2009).
mas possíveis de reconhecimento e suas ampliações históricas.
Honneth enxerga que Marx passou por um outro momento
Resumidamente, pode-se definir a dialética hegeliana como: su-
no qual redefiniu o conceito de conflito (ou, de certa forma, inte-
cessivamente: momento da afirmação, o momento da negação
ração). Trata-se das obras maduras em que analisa não a teoria
e o momento da negação da negação. Por sua vez, pode-se
econômica, mas a teoria histórica e política. Neste momento sua
definir a dialética marxista como: extinção do que é negado e
concepção de conflito social deixa abarcar formas de vida cultu-
sua substituição por algo novo (comunismo). não há um ciclo
ralmente partilhadas de diferentes grupos sociais, e examina toda
que se renova como em Hegel, mas sim um momento que deve
possível influência sobre o modo como grupos oprimidos enxer-
ser o momento final: a ascensão do comunismo.
gam sua própria condição e partem para a resistência política. Contrariamente aos seus escritos econômicos, Marx tem
3 CONCLUSÃO
que mudar o seu foco explicativo, tendo em vista que os confli-
A questão do reconhecimento é, sem dúvida, uma das mais
tos sociais emergentes de diferentes formas de vida claramente
importantes e interessantes tarefas da Filosofia do Direito con-
não buscam meramente a persecução de simples interesses,
temporânea, principalmente levando-se em consideração a rea-
mas são dependentes das convicções axiológicas próprias de
lidade da sociedade atual, a qual possui elementos e indivíduos
cada grupo, mantenedoras de sua identidade. Honneth acredita
que objetivam seu reconhecimento e o merecem também, sim-
que este modelo de conflito, tido como “expressivista”, está con-
plesmente pelo fato de estarem engajados em uma sociedade
tido nos estudos históricos sobre o Dezoito de Brumário e sobre
pluralista. Deste modo, Axel Honneth elabora uma teoria inte-
as lutas de classes na França.
ressante e plausível, ancorada nas ideias de Mead e do jovem
O termo expressivista deve-se ao fato de Marx interpretar
Hegel, passando-se também por outros teóricos.
a luta de classes agora, em total oposição aos seus escritos
Ao se analisar a questão do reconhecimento em Karl Marx,
teóricos sobre o capitalismo, como uma cisão ética. A luta so-
Honneth percebe algumas fragilidades no pensamento marxista,
cial se dá, por este modelo, de forma dramatúrgica entre grupos
o qual se baseia em uma visão econômica do reconhecimento:
possuidores de valores distintos e assume a forma de confronto
ou seja, para Honneth, Marx visualizou o reconhecimento em
por auto-realização coletiva; nesse caso, não haveria propria-
apenas um prisma, o que fragilizou seu pensamento. Ou seja,
mente exigências morais capazes de serem garantidas por uma
Honneth acredita que Marx tenha compreendido a luta de clas-
resolução social, mas antes uma etapa daquela eterna luta entre
ses apenas como justificada com termos como “dignidade” e
valores incongruentes a priori.
“honra”, no entanto, sem apontar para as diversas formas pos-
Este paradigma, para Honneth, pode se aproximar do da luta por reconhecimento de Hegel, mas não se preocupa em
síveis de reconhecimento e suas ampliações históricas, o que limita a visão reconhecimento.
descrever quais os conteúdos morais, relativos à estrutura das PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERLIN, Isaiah. Karl Marx: sua vida, seu meio e sua obra. São Paulo: Siciliano, 1978. BRASIL. Manual de redação da presidência da república. 2. ed. Brasília: Presidência da República, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FRIEDRICH, Carl J. Uma introdução à teoria política. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2. ed. São Paulo: 34, 2009. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2002. NAVES, Márcio Bilharinho. Marx: ciência e revolução. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação. Sistema de Bibliotecas. Padrão PUC Minas de normalização: normas da ABNT para apresentação de artigos de periódicos científicos. Belo Horizonte, 2010. Disponível em <http://www.pucminas.br/ biblioteca/>. Acesso em: 12 dez. 2010. data de acesso. SAAVEDRA, Giovani Agostini. Hermenêutica constitucional, democracia e reconhecimento: desafios da teoria da constituição contemporânea. Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC, n. 7, v.1 - jan./jun. 2006.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Professor universitário nos cursos de Direito da Faculdade Asa, Faculdade de Pará de Minas e Universidade de Itaúna. Especialista em Ciências Criminais, mestre e doutorando em Teoria do Direito na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pesquisador da Universidade de Itaúna (CNPQ). Advogado.
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MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: UMA BREVE ANÁLISE NA HISTÓRIA SOBRE A SAÚDE DO TRABALHADOR Camila Cristina Azevedo Castro Teixeira1 Emerson Luiz de Castro ²
RESUMO: Com o surgimento da necessidade de maior desenvolvimento por parte das comunidades, tendo em vista, entre outros aspectos, o crescimento populacional, o aumento da produção trouxe uma nova perspectiva no que tange o antigo modelo de subsistência existente. Devido à maior procura de bens e produtos houve grande crescimento da mão de obra empregada e por se tratar o trabalho de uma relação jurídica com o passar do tempo surgem conflitos e com eles a necessidade expressa de atenção e regulamentação. Desta forma, é possível verificar que nossa história caminha para a criação de medidas protetivas que visam tornar o meio ambiente laboral mais seguro, visando o bem-estar, a segurança e a saúde do trabalhador. PALAVRAS-CHAVE: Ambiente de trabalho; Acidentes de trabalho; Direito do Trabalho; Relações Trabal
1. Introdução
aumento na produtividade e crescente desenvolvimento industrial.
As referências quanto á segurança e saúde do trabalhador
Temos como primeiro ato que desencadeia o desenvolvi-
existem desde os tempos mais remotos, quando o homem come-
mento industrial do homem, a atividade desenvolvida por ele de
çou a se organizar socialmente e descobriu a necessidade de pro-
confeccionar armas para a caça e defesa pessoal; posterior-
curar novos caminhos rumo ao desenvolvimento. Quando outrora
mente temos a descoberta da produção dos metais como ferro
vingavam as antigas civilizações, não vislumbrava o trabalhador
e aço e em seguida temos o desenvolvimento da extração por
do mínimo necessário de proteção, tendo em vista a forte idéia
si só, para um cultivo mais elaborado para fins de subsistência.
de dominação e subjugação existente nas grandes civilizações.
Tem-se também um crescimento na prática do cultivo de vege-
Pouco se registrou sobre o tema, mas o que se têm nos
tais e o início da criação de animais.
escritos antigos já demonstra uma rotina de trabalhos pesados
Com estas e outras descobertas, precisava-se de trabalha-
e aviltantes que eram aferidos a escravos e pessoas de baixa
dores para dar fomento a tais atividades e por ser o trabalho
classe social.
imputado ás classes subalternas, esta se viu prejudicada devido aos abusos, pois o trabalho que lhe era conferido era pesado
2. DOS PRIMÓRDIOS
e muitas vezes perigoso, não restando para aquele quesofria o
É sabido que foi por interesse notadamente próprio que o
infortúnio laboral qualquer tipo de amparo.
homem se ingressou no que hoje denominamos trabalho e é
O objetivo primitivo do homem se prestava apenas no que
certo que o homem sempre trabalhou, tendo em vista suas ne-
tange a posse nas atividades de caça e cultivo, porém já nesta
cessidades pessoais e coletivas.
época, é possível observar um contínuo crescimento das popu-
Com o crescimento das comunidades, pouco se falava so-
lações, que já não se bastavam com as técnicas ainda rudimen-
bre a saúde e a segurança do trabalhador, que com o surgi-
tares existentes, sendo necessário que o homem se lançasse
mento das diferentes classes sociais, nem era considerado um
em um plano superior de desenvolvimento e procurasse novas
ser humano. As diferenças sociais levaram a percepção de uma
formas para suprir suas necessidades e anseios.
figura com mais poder e de outra com menos poder, uma figura subjugadora e outra subjugada, um dominador e um dominado.
4. Das lutas tribais Como a evolução é um acontecimento inevitável em nossa
3. Surgimento das atividades industriais:
sociedade, que se fez, se faz e ainda muito se fará com o passar
ausência de amparo ao trabalhador
dos séculos; a idéia de domínio passou a arraigar a mentalida-
Observando a linha de evolução, temos com o desenvolvi-
de dos homens e lutas tribais passaram não mais a significar
mento da sociedade, tanto histórico, intelectual e econômico um
pequenas guerras, mas sim ideais de sobrevivência e suprema-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 61
cia daqueles que buscavam maiores espaços territoriais, terras
dentes de trabalho.
mais férteis e materiais de subsistência. Do simples extermínio de uma sociedade inimiga, passou
6. Idade Média
a entender o homem a funcionalidade da escravidão. Então a
No período da Idade Média, temos a servidão como um
sociedade vencedora subjuga a sociedade perdedora para que
marco evolutivo nesta sistemática, posto que o servo encontra-
esta trabalhe e produza riquezas em prol da sociedade que a
va-se em um patamar entre os escravos e o homem livre. Tais
dominou. A prática escravagista passou a se mostrar eficiente,
figuras intermediárias que exerciam a atividade laboral da época
além de barata, e posteriormente passou a ser vista como um
possuíam titularidade para realizar relações jurídicas (como por
mercado de trabalho lucrativo.
exemplo, o casamento), porém as restrições que tais “trabalha-
Como o trabalho era considerado uma atividade vil, a qual
dores” sofriam ainda eram muito severas.
se aplicava as classes subalternas, as atividades mais pesadas
A servidão é o modelo constitutivo das sociedades feudais
e perigosas passaram a ser praticadas pelos escravos adquiri-
e se pautavam nas relações que inicialmente existiam entre os
dos nas guerras. Assim sendo, por ser o escravo considerado
colonos e os proprietários das terras. Os servos eram trabalha-
uma coisa/objeto, estes poderiam ser mortos ou mutilados por
dores rurais que trabalhavam na terra do senhor feudal á quem
seus donos e desta forma, na ocorrência de infortúnios devido a
deviam lealdade e subordinação em troca de proteção e permis-
um acidente de trabalho não havia nada que os amparasse ou
são para usar a terra para sua subsistência e moradia.
punisse seu amo, tornando-se o infortúnio resultante do trabalho
A economia feudal possuía base agrária e por este fato a
uma eventualidade corriqueira, sem que se fale em punição no
terra, denominada feudo, era considerado o bem de maior va-
tocante dos abusos cometidos pelos patrões.
lor. Outras atividades econômicas também passaram a se de-
Têm-se referências, em escritos históricos, como as obser-
senvolver, porém a agricultura era a atividade mais importante.
vações clínicas de Hipócrates (460-375 a.C.), grande médico da
A exploração servil dava fomento a tais atividades ao mesmo
antiguidade, sobre deformações físicas, enfermidades e seqüe-
tempo que o servo se via preso á terra, obrigado a obedecer
las provenientes da prática abusiva, que levava o escravo a se
cegamente o senhor feudal proprietário do feudo.
esforçar ao máximo devido às exigências dos seus donos.
Ainda nesta época o trabalho era considerado aviltante e,
Deve-se ressaltar que não só os escravos viviam as mar-
portanto, os nobres, clérigos e senhores feudais não trabalha-
gens do risco proveniente da atividade laboral, mas também
vam, deixando toda a produção por conta dos servos, que traba-
aqueles que provinham das camadas mais baixas da sociedade
lhavam por longos períodos sem descanso, pagavam impostos
se subjugavam ao mando de um patrão abusivo, que não se
e ainda tinham que entregar a maior parte de sua produção para
obrigava a prestar qualquer tipo de proteção na ocorrência de
o senhor feudal ao qual servia.
infortúnios e doenças adquiridas em razão da atividade laboral exercida pelo trabalhador.
O descaso para com estes trabalhadores também cominava em desastrosas conseqüências para tal classe hipossuficiente, tendo em vista que na ocorrência de infortúnios laborais os
5. A “Lex Acquilia” no Direito Romano
mesmo não se viam amparados por qualquer mecanismo, bem
Remontando-se ao grande arcabouço de nosso direito, o
como se observa ao se tratar dos escravos.
Direito Romano, verifica-se que também nessa sociedade o trabalhador não era digno de amparo, por se tratarem de pessoas de classes baixas e escravos.
7. A Revolução Industrial Sensíveis mudanças se verificaram nas relações de
Porém, com o surgimento da Lex Acquilia vislumbra-se uma
trabalho,com o surgimento de máquinas que vieram a substituir
pequena mudança neste modelo, onde se têm o início da pro-
a tecnologia escrava, quando o trabalho passou a ser assalaria-
teção contra o infortúnio laboral. Menciona ainda esta lei, sobre
do e o trabalhador passou a ser visto como um consumidor em
a morte de escravos alheios e casos de assistência á doenças
potencial da nova indústria que veio a insurgir dando forma ao
ocasionadas pelo trabalho. No âmbito da doença profissional
desenvolvimento procurado pelo homem.
o Direito Romano foi limitado, não se interessando muito pela regulamentação da mesma. Posteriormente muitos povos, após os Romanos, aproveitaram tais idéias, bem como o conceito de culpa imputado pelos Romanos na concepção da responsabilidade aplicada aos aci-
O conceito de trabalho então tornou-se outro. Não se considerava vil a atividade laboral e a dignidade do trabalhador, com o início da nova Era Social instaurada pela Revolução Industrial, passou a ser importante. Neste momento da história, o Estado ficou encarregado de
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prestar auxílio e garantir o bem-estar da coletividade, criando
A desumana organização do trabalho até então empregada,
desta forma, se necessário, limitações aos interesses pessoais,
resultou na eclosão de rebeliões da classe trabalhadora, fartos
para a proteção dos fracos, até então desamparados.
dos abusos que há séculos sofriam.
Assim sendo, com o sentido social atribuído ao trabalho,
Relatos de lutas para a libertação e melhores condições de
foram criadas regras de interrelacionamento, onde a vertente
trabalho para o empregado surgiram em todo o mundo, notada-
protetiva do trabalhador começou a tomar forma.
mente na Inglaterra, Alemanha e França.
A Revolução Francesa trouxe a esse momento histórico uma série de novos conceitos e a supressão de várias injustiças
9. O reconhecimento da responsabilidade
sociais que assolavam os trabalhadores. Porém, mesmo com
sobre a saúde do trabalhador
todo este avanço, ainda se encontrava o trabalhador em péssi-
Temos que os acidentes e doenças do trabalho tinham
mas condições.
como principal fundamento a responsabilização do emprega-
Com a evolução da Revolução Industrial, temos o surgi-
dor. Como uma tentativa de regulamentar tal situação, tendo
mento de máquinas mais modernas que vieram a substituir as
em vista a insatisfação dos trabalhadores, foram criadas teorias
pesadas e perigosas máquinas rudimentares. Mas mesmo as-
com o escopo de efetivar o amparo ao trabalhador vítima do
sim, os riscos de acidentes eram grandes, tendo em vista que
sinistro laborativo.
nada se falava em cursos de aperfeiçoamento e treinamento no
Como regra herdada do Direito Romano, temos a Teoria da
manuseio das novas máquinas. Sem mencionar que as novas
Responsabilidade Extracontratual. Tal teoria versa que o dano
máquinas, bem como as antigas, não contavam com métodos
imputado ao empregador ocasionado ao empregado, mesmo
ou dispositivos de segurança.
que não haja a intenção, deve ser reparado. Para tanto, como
Nesta época, mesmo com os vários avanços no âmbito
era responsabilidade do empregador assegurar a segurança de
da percepção da necessidade de proteção ao trabalhador no
seus empregados, bem como o bom desempenho das máqui-
exercício de sua atividade laborativa, o trabalho ainda era muito
nas e instrumentos de trabalho, nada mais justo que na ocor-
mais exigente do que atualmente, sendo que não existia uma
rência do infortúnio laboral que este repare o dano causado ao
legislação que regulamentava a carga horária, descanso nas
empregado.
jornadas de trabalho, o trabalho do menor e de mulheres, bem
Nesta teoria, cabia ao empregado a comprovação da cul-
como as condições do ambiente de trabalho e a periculosidade.
pa do empregador para o resultado infortunístico, desta forma
As condições as quais eram submetidos os trabalhadores eram
verificou-se uma insuficiência quanto á prática, pois sendo o em-
subumanas e o que mais se somava a este dantesco quadro
pregado lado hipossuficiente da relação trabalhista o mesmo se
social era o indigno salário e deploráveis moradias imputadas a
deparava com a dificuldade de tal comprovação no Judiciário.
esta classe hipossuficiente.
Afastava-se então, os acidentes devidos ao caso fortuito e de
É certo que as condições acima mencionadas aumentavam o risco dos sinistros laborais e com a grande incidência de tais
força maior, bem como desconhecia-se as causas que resultavam no acidente.
acidentes, bem como de doenças profissionais, surgiu a neces-
Em contrapartida, surgiu a Teoria da Responsabilidade Con-
sidade efetiva a qual não se podia mais ignorar de criar regula-
tratual, a qual parte do pressuposto que não deve o empregado
mentações que visavam efetivamente a resolução de tais impas-
demonstrar a culpa do empregador, pois os atos que causaram
ses entre o empregado e o empregador quando da ocorrência
dano resultaram tão somente da atividade laboral exercida pelo
do acidente de trabalho ou da doença profissional.
empregado.
O acidente do trabalho e a doença profissional, embora se-
Logo, o substrato de tal teoria deve ao fato de que está pre-
jam sucedâneas do longo trajeto do homem em busca do de-
visto no contrato de trabalho que é dever do empregador zelar
senvolvimento em todas suas vertentes, é contemporâneo da
pela segurança de seu empregado, desta forma a culpa do em-
Revolução Industrial e de sua evolução, com o progressivo uso
pregador resta presumida.
de máquinas no processo industrial.
Com a inversão do onusprobandi, caberia ao empregador provar que os atos lesivos resultaram por culpa do empregado, caso fortuito ou força maior ou em razão de terceiros.
8. Reações dos trabalhadores: Rebeliões Na chamada Era Industrial, temos com o desenvolvimento
Existem críticas sobre tal teoria, com o argumento de que
da maquinaria a subjugação dos trabalhadores a lamentáveis
ao estabelecer uma cláusula de exoneração do empregador no
condições.
contrato de trabalho, inepta ficaria tal teoria. Também critica-se PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 63
o fato de que não pode se falar da presunção de cláusula tácita
profissional, a obrigação que recai sobre o empregador, pois o
de responsabilização aceita pelo empregador ou que mesmo
mesmo ao criar um ambiente de trabalho rodeado por máquinas
havendo a inversão do ônus da prova cabe provar o empregado
e objetos laborais por si só já cria um risco propenso a ocasionar
os danos ocorridos em fatos fortuitos. Permeia também a crítica
acidentes.
de que a aderência a tal teoria abre lacuna para que emprega-
Logo, constitui o risco profissional os acidentes inevitáveis
dos estipulem com empregadores a renúncia de reparação nos
inerentes a qualquer empresa, e assim sendo, deve o emprega-
casos de acidente de trabalho, bem como que se o empregador
dor que obtém o benefício através desse organismo que criou,
conseguir comprovar que agiu com diligência em relação a se-
suportar o ônus do risco proporcionado, tendo em vista que o aci-
gurança de seu empregado, este se veria eximido da responsa-
dente passou a ser uma fato previsível em razão do risco criado
bilidade de indenizar o trabalhador.
pela empresa ao inserir o trabalhador no meio ambiente laboral. E
Surgiu então a Teoria do Caso Fortuito, onde se estende
assim, ficou esclarecido então que o trabalho comporta perigos.
a responsabilidade do empregador aos casos fortuitos. Funda-
Foi através da Teoria do Risco profissional que os empresá-
menta esta teoria na convicção de que aquele que obtém de
rios perceberam a necessidade de cercear seus objetos (máqui-
outrem vantagem provinda de seu trabalho tem o dever de zelar
nas e ferramentas) com medidas de segurança e cursos de pro-
por sua segurança porquanto este lhe preste utilidade. Logo o
fissionalização para seus empregados visando evitar agressões
patrão que se beneficia das utilidades oriundas do trabalho de
físicas e psicológicas ocasionadas em razão do sinistro laboral.
seu empregado deve assumir os riscos que este corre no exer-
É interessante que o dano causado passou de um evento oca-
cício de sua profissão.
sionado pela máquina ou objeto de trabalho para ser um fato da
Na Teoria da Responsabilidade Objetiva ou Teoria do Risco
empresa que, portanto, deve ser ressarcido.
Criado, temos que o empregador responde pelos danos pro-
Como o risco é inerente á todo tipo de trabalho, temos
vocados pela coisa, abandonando-se o elemento subjetivo da
dentro desta teoria a distinção entre riscos específicos e riscos
culpa. Desta forma o elemento que se leva em consideração
genéricos; os riscos genéricos são aqueles que todos os traba-
é material, objetivo; ou seja, recai responsabilização sobre o
lhadores estão sujeitos, já os riscos específicos figuram apenas
empregador não porque o mesmo agiu de forma a não a pro-
para aqueles que estão em contato com determinada indústria.
porcionar segurança ao seu empregado, mas sim pelo fato de
Na Teoria do Risco da Autoridade, temos que a idéia do
que suas coisas/objetos (maquinários, ferramentas, etc.) provo-
risco profissional ainda é o fundamento da responsabilização do
caram o dano.
empregador, porém nesta nova teoria, o empregador não res-
Esta é uma teoria que avançou mais que as outras, pois im-
ponderá pelo fato de ter inserido o empregado em um contexto
põe sobre o proprietário/empresário as conseqüências do caso
(meio ambiente laboral) que por si só representa o risco; a nova
fortuito, porém afasta as hipóteses de acidentes e doenças pro-
idéia é que o fato do empregador ser a autoridade dirigente,
fissionais em que não há a intervenção dos objetos de produção
detentor dos direitos e deveres de organizar a empresa já o im-
do empregador.
puta a obrigação de indenizar a vítima do acidente de trabalho.
Também sem levar em consideração o elemento culpa, te-
Entende-se como autoridade a hierarquia do empregador, o
mos a Teoria do Risco Profissional ou Teoria do Risco Econômi-
vínculo de subordinação que exerce sobre o empregado e sua
co Industrial. Temos com as novas regras de Direito do Trabalho
relação de dependência.
a idéia de que o dano conseqüente do acidente de trabalho de-
Logo, tal teoria não imputa responsabilidade em razão do
veria submeter-se as leis e regulamentos de caráter acidentário
perigo representado pelo exercício da profissão, mas sim pelo
e não mais seriam indenizadas proporcionalmente as lesões
fato de que a autoridade que recebe o lucro não poderá se exi-
sofridas. Desta forma, tal teoria enveredou-se para o seguro so-
mir dos danos causados. Pressupõe tal teoria que onde houver
cial obrigatório, visando a proteção do trabalhador contra danos
autoridade deverá haver responsabilidade, temos que a fonte do
garantida pelo Estado.
risco, neste caso, é a existência da autoridade.
Bem como a Teoria do Caso Fortuito a Teoria do Risco Pro-
Neste contexto existem correntes doutrinárias que enten-
fissional impõe ao empregador a responsabilidade de indenizar
dem a responsabilidade do patrão quando a atividade laboral,
aquele que lhe confere benefício em razão de seu trabalho na
além da que começa e termina no seu ambiente de trabalho, se
ocorrência do sinistro laboral. A diferença entre ambas teorias
estende para fora do mesmo, como é caso dos representantes
supracitadas não passa de simples extensão de conceitos.
comerciais, trabalhadores á domicílio e até mesmo nos casos de
Ficou então estabelecido por meio da definição do risco
acidentes sofridos no caminho ou no retorno do trabalho.
64 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Também representando um grande avanço, temos a Teoria
Temos ainda como destaque no âmbito jus trabalhista ain-
da Responsabilidade Social, a qual baseia-se diferentemente
da em desenvolvimento, a encíclica Rerum Novarunde 15 de
das demais teorias na responsabilidade coletiva e não individu-
maio de 1891, escrita pelo Papa Leão XIII. Tal encíclica debatia
al. Portanto é dever da sociedade prestar auxílio aos vitimados,
sobre as condições das classes trabalhadores e sobre questões
pois é a sociedade como um todo que se beneficia com as ri-
da Revolução Industrial, entre outras relações importantes. Foi
quezas geradas pelo trabalhador em prol de seu país.
dado a tal encíclica o enfoque na Justiça Social da época que
Denominada de Teoria de Solidariedade Social, Teoria de
viria a complementar outros trabalhos do Papa Leão III.
Socialização do Risco ou Teoria da Seguridade Social, a Teoria
A encíclica Rerum Novarum defendia o direito dos trabalha-
da Responsabilidade Social leva a idéia de que os infortúnios
dores de formarem sindicatos, a melhor distribuição de riquezas
laborais serão amparados através do seguro social.
e a intervenção do Estado em prol dos mais pobres, fez críticas
Como é possível entender, temos que muitos avanços fo-
á falta de princípios e valores éticos na sociedade, sobre a situ-
ram surgindo com o passar do tempo na ceara trabalhista tendo
ação desumana que os trabalhadores se encontravam em razão
em vista que o acidente de trabalho e a doença profissional são
do liberalismo descontrolado, e a corrupção dos costumes cris-
considerados fatos sociais e para tanto devem ser regulamenta-
tãos, ainda fomenta as vantagens que trariam as associações
dos pela legislação.
de previdência dos trabalhadores, entre outras considerações;
A medida que a sociedade foi se desenvolvendo novas regras surgiram, estando o acidente de trabalho vislumbrando
por tais motivos sua grande importância no assunto em questão e a denominação de “Doutrina Social da Igreja”.
cada vez mais a necessidade de regulamentação e ganhando,
É certo que com esse trabalho o Papa Leão III veio a influen-
desta forma, amplitude nas discussões para a progressão do
ciar uma nova relação entre a igreja e a sociedade do século
bem-estar social, já considerado dever do Estado para com a
XIX, onde a Igreja passava a propor soluções para os problemas
sociedade. Assim sendo surgiram, as teorias supracitadas, bem
sociais da época á luz do Cristianismo, bem como anunciava
como a necessidade da conceituação dos termos acatados pela
princípios sobre as injustiças sociais, inserindo-se cada vez mais
nova legislação.
junto ao Estado em um movimento que visava construir uma nova forma de pensamento de que tendia a proteger o próprio
10. O surgimento da proteção ao trabalhador
Estado e a própria Igreja das rebeliões e pensamentos contrá-
Pouco a pouco a postura em relação a desídia em que eram
rios, que estavam se disseminando com a insatisfação das clas-
tratados os trabalhadores cedeu lugar a uma nova postura do Estado, que visava manter um equilíbrio econômico e social.
ses oprimidas. O liberalismo Estatal passou a ser contestado tendo em
Em 1802 surgiu na Inglaterra a Lei de Saúde e Moral dos
vista a política construída por Marx e Engles, o Socialismo. Im-
Aprendizes (Moral and Health Act), também chamada de Pe-
portantes nomes surgiram defendendo essa nova política e em
elsAct, devido ao manufatureiro e membro do Parlamento In-
decadência o Estado Capitalista não viu outra saída a não ser
glês Robert Peels, entendida como a primeira lei de proteção
efetivamente cuidar do bem estar social de toda a sociedade,
aos trabalhadores que regulamentou a limitação de 12 horas de
principalmente voltar suas políticas para o lado hipossuficiente
trabalho, bem como a vedação de trabalho noturno e a obrigato-
da sociedade, entre a qual está inserida a classe trabalhadora.
riedade de se lavar a fábrica duas vezes por ano e proporcionar ventilação no ambiente de trabalho.
Desde então o processo de consolidação da necessidade de implementação de medidas de proteção ao trabalhador se
Posteriormente temos com Robert Owen, considerado pai
viu em constante evolução, chegando aos moldes atuais que
da Legislação do Trabalho, a iniciativa de idéias inovadoras e
ainda assim precisam de atualização e aperfeiçoamento, mas
atuação decisiva em idéias difundidas em seu livro “A New View
que denota uma conquista e uma grande vitória dos trabalhado-
of Society” (em tradução “Uma Nova Visão da Sociedade).
res outrora oprimidos e marginalizados.
No ano de 1833 temos o Factory Act, conhecido como a primeira legislação que denotou eficiência no que se refere a
11. O meio ambiente do trabalho
proteção do trabalhador durante o exercício de seu ofício. Tal le-
É certo que no que tange os acidentes de trabalho e as
gislação postulou idade mínima de 9 anos para o trabalho, bem
doenças adquiridas por trabalhadores em decorrência de seu
como vedação de menores de 18 anos para o trabalho noturno e
oficio muito se devem as condições do meio ambiente laboral o
regulamentou um limite diário de trabalho, qual seja de 12 horas
qual se inseria o trabalhador.
diárias e 69 horas semanais.
As medidas protetivas foram surgindo a medida que voltouPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 65
se a preocupação á moral e a saúde do trabalhador e desta forma, tais observações evoluíram de plano, tornado-se movimentos e tais movimentos ganharam espaço no contexto social chegando a uma dimensão que exigia providências e não mais se sustentaria do jeito que se encontrava. Voltando um pouco na história, foram com os trabalhos de
lho> . Acesso em 10/2011. Florêncio, Gilbert Ronald Lopes. Novo Dicionário Jurídico. Editora de Direito. 2ª Edição. São Paulo, 2005. Godinho,Mauricio Delgado. Curso de Direito Do Trabalho. 8ª Edição. São Paulo: Editora LTR, 2009.
Bernadino Ramazzini, considerado fundador da Medicina do Trabalho, que se iniciou a sistematização das enfermidades do trabalho. Com o mérito de pioneirismo na questão, Ramazzini, fez importantes registros sobre os ambientes no qual o trabalhador exercia sua atividade; em seus relatos diz ter experimentado de vômitos e dores de cabeça em virtude dos odores de alguns ambientes de trabalho. Assim sendo, com as diversas pesquisas e movimentos
Santos, Gilson Pereira. Direito Ambiental do Trabalho. Editora RTM Ltda. 1ª Edição. Belo Horizonte, 2010.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Estudante do 7º período de Direito da Faculdade de Direito Promove. ² Advogado, Mestre em Direito, Professor, Coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.
chegou-se a conclusão que sem dúvida é o organismo do trabalho, ou seja, o meio ambiente laboral, também entendido como o contexto pelo qual está envolto o trabalhador o causador do evento danoso na órbita do trabalho e, desta forma passou o Estado a se ver obrigado a tomar providências para se manter. Conclusão É indubitável que não é possível impedir a ocorrência dos sinistros laborais, e, desta forma, por se engajarem no conceito de fatos sociais, deve-se estabelecer regras para que tais situações danosas sejam regulamentadas e portanto obedecidas pelos empregadores, que durante muitos séculos passaram ilesos quanto aos abusos cometidos contra seus empregados. Como todo tipo de trabalho comporta perigos, nossa história caminha para a criação de medidas protetivas que visam tornar o meio ambiente laboral mais seguro, visando o bem-estar, a segurança e a saúde do trabalhador. Significativos avanços vão surgindo com o passar do tempo visando reparar da melhor forma possível os danos causados em virtude do acidente de trabalho e desta forma, vem trabalhando os profissionais que atuam na ceara do Direito Trabalhista para que as regulamentações já existentes sejam postas em práticas e obedecidas pelo empregador em face ao lado ainda hipossuficiente da relação trabalhista, o empregado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brandão, Cládio.Acidente do Trabalho e Responsabilidade Civil do Empregador.Editora LTr. 3ª Edição. São Paulo, 2009. Costa, Hertz Jacinto. Manual de Acidente de Trabalho. Juruá Editora. 4ª Edição. Curitiba, 2009. Espinosa, Ricardo. Evolução histórica da lei sobre acidente de trabalho. Revista Consultor Jurídico, 13 de junho de 2008. Disponível em: < http:// www.conjur.com.br/2008-jun13/evolucao_historica_lei_acidente_traba-
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UMA INTRODUÇÃO AO INSTITUTO JURÍDICO INGLÊS DO TRUST Márcio Eduardo da Silva Pedrosa Morais
RESUMO: Tem-se como objetivo, por intermédio do presente trabalho, discorrer sobre o instituto jurídico inglês do trust, instituto este que possui origem e base histórica, sendo um dos sustentáculos da equity. Assim, o trabalho abordará inicialmente o conceito, características e estrutura do trust. Após a apresentação do conceito, características e estrutura, passar-se-á à exposição da origem, desenvolvimento histórico, natureza jurídica e tipos de trust no direito inglês. É de se salientar que o artigo não abordará a estrutura básica do sistema jurídico inglês de modo amplo, mas ater-se-á ao instituto do trust. PALAVRAS-CHAVE: Direito inglês; Equity; Propriedade; Trust.
das Cortes Reais. Por isso, o desenvolvimento dessa INTRODUÇÃO
competência só se realizou gradativamente e sempre
Ao se iniciar os estudos de um ordenamento jurídico de ori-
permanecendo, na medida do possível, no âmbito das
gem romano-germânica, uma das primeiras características apre-
normas processuais antigas. Os juízes só ampliaram sua
sentadas ao estudioso refere-se à divisão do Direito em público e
competência caso a caso (super casum, on the case); e
privado. No que se refere ao Direito inglês essa divisão não exis-
fizeram-no, principalmente, considerando que a conduta
te; tendo, porém, o mesmo como uma de suas características
do réu apresentava um aspecto quase delitual e permi-
marcantes a distinção entre common law e equity. René David
tindo que o autor, com base nisso, agisse por meio da
(2006), discorrendo sobre o direito inglês, afirma que:
regra processual relativamente satisfatória prevista pela
O direito inglês é o direito aplicado na Inglaterra e no País
common law quando um delito particular, o de trespass
de Gales. Não é o direito dos países de língua inglesa
era alegado. (DAVID, 2006, p. 5).
ou de Commonwealth nem o do Reino Unido ou da GrãBretanha. Os direitos de Commonwealth às vezes são
No século XV as jurisdições locais e senhoriais deixaram
próximos do direito inglês, mas, em outros casos, po-
de ter importância, passando as Cortes Reais, a partir de en-
dem ser bastante diferentes. O direito da Irlanda do Nor-
tão, a possuir competência universal no direito inglês. Todavia,
te e o da Ilha de Man são bastante próximos do direito
até a metade do século XIX, as mesmas eram jurisdições de
inglês, mas o da Escócia é muito diverso, como também
exceção, tendo em vista o fato de que, em primeiro lugar, era
o é o das ilhas anglo-normandas. (DAVID, 2006, p. VII).
necessário conseguir que essas Cortes admitissem sua competência para que, após tal declaração, fossem submetidos a
Em comparação ao sistema romano-germânico, não há na Inglaterra, códigos como os encontrados nos ordenamentos jurídicos de países desse sistema, sustentando os ingleses uma
elas o julgamento do mérito dos litígios. Ainda em relação à origem do direito inglês, Mario G. Losano (1978) traz que:
concepção de direito essencialmente jurisprudencial, ligada ao
Antes do século XI, no território britânico coexistiam nor-
contencioso. O direito inglês, o qual foi elaborado pelas Cortes
mas de origem germânica, ligadas ainda ao domínio dina-
Reais, “[...] apresenta-se aos ingleses como o conjunto das regras
marquês sobre a parte oriental da ilha, e normas de direito
processuais e materiais que essas Cortes consolidaram e aplica-
romano e canônico, introduzidas no momento da cristia-
ram tendo em vista a solução dos litígios.” (DAVID, 2006, p. 3).
nização (664 d.C) e que permaneceriam em vigor até aos
A passagem de um direito feudal para um direito regido
nossos dias para as matérias matrimonial e sucessória. A
pelas Cortes Reais na Inglaterra não se deu sem atritos. Nesse
estes direitos e aos heterogêneos usos locais em vigor
sentido, René David (2006) salienta que:
nos vários estados das duas principais ilhas britânicas
Os senhores feudais, que haviam assumido, em seus
sobrepõe-se em 1066 o direito introduzido na conquista
domínios, a administração da justiça e que arrecadavam
normanda. Este direito unificado é chamado “direito co-
seus ganhos, opuseram-se à extensão da competência
mum”, ou seja, Common Law. (LOSANO, 1978, p. 118).
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A equity, por sua vez, é um conjunto de soluções outorgadas
quais a manterão em benefício de um ou mais de uma pessoa (os
pela jurisdição ao Chanceler, principalmente nos séculos XV e
beneficiários ou cestuis que trust, os quais podem incluir o trustee(s)
XVI, para sanar a insuficiência e os defeitos da common law, com-
ou o doador) […].” (OXFORD, 2003, p. 509-510, tradução nossa ).
pletando e revendo tal sistema, de acordo com a necessidade de
Insta salientar que é difícil para o jurista estudioso e prático
se temperar o rigor da common law. É importante salientar que o
de outros sistemas jurídicos o entendimento do trust. Nesses
Chanceler, ao intervir, não criava novas regras jurídicas, apenas
termos, René David (2002) afirma que:
respeitava a equidade (equity follows the law). (DAVID, 2002).
Na realidade, o trust, como a maior parte dos conceitos e
Guido Fernando Silva Soares (2000) salienta que “a primeira
instituições do direito inglês, explica-se unicamente pela
acepção de common law, é de ‘direito comum’, ou seja, aquele
História. Segundo a common law, o trustee não é um
nascido das sentenças judiciais dos Tribunais de Westminster,
simples administrador dos bens constitutivos em trust.
cortes essas instituídas pelo Rei e a ele subordinadas diretamen-
É, bem pelo contrário, o proprietário dos bens constitu-
te [...]” (SOARES, 2000, p. 32), o que fez com que os direitos
ídos em trust. Administra, por conseguinte, esses bens
costumeiros e particulares de cada tribo dos povos primitivos da
como quer, pode dispor deles a seu modo, não tem
Inglaterra fossem suprimidos.
contas a prestar a ninguém. (DAVID, 2002, p. 398).
Dentre os institutos jurídicos particulares mais importantes do sistema jurídico inglês podem-se citar a agency (representação),
O trust, na maioria dos casos, nasce de um ato expresso de
e o trust. Esses institutos são representativos e ajudam a distinguir
vontade, seja de um só indivíduo ou de um grupo, o qual será
e caracterizar famílias e sistemas jurídicos, imprimindo-lhes um
chamado de settlor of the trust (criador, doador ou testador),
aspecto particular. (MORINEAU, 2004). O trust, nesses termos,
neste caso (testador) quando o trust se estabelecer por inter-
além de originalmente inglês, é uma das instituições típicas mais
médio de um testamento. No que se refere à sua estipulação, o
importantes desse direito (especificamente da equity), não existin-
trust pode surgir ope legis, ou seja, por força de lei, ou de uma
do instituto idêntico em nenhum outro sistema jurídico.
decisão judicial, como também de livre e espontânea vontade
Instituição de grande generalidade e flexibilidade, tão flexível
do settlor of the trust, podendo o trust recair sobre bens móveis e
como o instituto do contrato, o trust tem no antigo direito romano
imóveis, como também sobre bens incorpóreos, como é o caso
algumas instituições com características semelhantes, porém,
dos direitos autorais. (MORINEAU, 2004).
como salientado, não idênticas a ele, como é o caso do usus,
De acordo com a common law a limitação ao direito de proprie-
do usufructus, do fideicomissum e da bonorum possessio. As
dade do trustee não é jurídica, mas sim de ordem moral, ou seja, o
semelhanças dos referidos institutos com o trust são muitas,
administrador do trust (trustee) deve administrar o bem como um
porém, o trust possui características peculiares que fazem do
“pai de família”, seguindo os ditames de sua consciência, devendo
mesmo um instituto original, autêntico.
transferir os lucros, o capital, em dado momento, às pessoas designadas pelo constituinte do trust (settlor of the trust). Assim, segundo
1 Características e estrutura do trust
a common law, o cestui que trust não possui direito algum, não
Ressalta René David (2002) em sua obra Os Grandes Siste-
possui nenhuma ação para fazer valer seus direitos. (DAVID, 2002).
mas do Direito Contemporâneo, que “a noção de trust, desco-
Nesse sentido, René David (2006) salienta que:
nhecida dos direitos romano-germânicos, é uma noção funda-
A common law, sistema de direito formalista e incomple-
mental do direito inglês e a criação mais importante da equity.”
to, não dava valor jurídico ao trust. Se um pai de família
(DAVID, 2002, p. 397). Basicamente o trust apóia-se no seguinte
S (o settlor), preocupado com os interesses de sua fi-
esquema: uma pessoa, aquele que constitui o trust, chamada
lha, transferia os bens a uma pessoa de confiança T (o
de settlor of the trust, determina que um ou vários bens serão
trustee) para evitar que o marido desta os dissipasse,
administrados por um ou vários trustees, no interesse de uma
realizava-se de fato uma transferência de propriedade
ou várias pessoas, as chamadas cestuis que trust. Ressaltando
de S a T, mas o compromisso assumido pelo trustee
DAVID (2002) que o referido acordo é bastante comum na Ingla-
de entregar a renda desses bens à filha do disponente
terra, tendo várias finalidades: “a proteção dos incapazes, da
e, mais tarde, retransferir-lhe a proprieddade dos bens
mulher casada [...].” (DAVID, 2002, p. 398).
(quando o marido viesse a falecer) não era válido, juri-
Consultando o verbete “trust” no Oxford Dictionary of Law
dicamente, pois as jurisdições da common law, em re-
(2003), encontra-se: “Trust (substantivo) 1. Um acordo no qual um
gra geral, não sancionavam os contratos. Portanto, T só
doador transfere a propriedade a um ou mais de um trustees, os
estava obrigado, por sua consciência, a respeitar seu
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compromisso. (DAVID, 2006, p. 102-103).
A frase “ad opus” foi utilizada no latim vulgar para significar “em seu nome”, mais adiante, ad opus passou ao francês
Diante de tal carência da common law, o Chanceler foi soli-
antigo como al oes, ues, para se converter, finalmente no
citado a intervir quando o trustee não agia conforme a confiança
termo inglês use. Na época de Guilherme o Conquistador,
que lhe fora depositada, não explorando os bens em favor do
no seu famoso Domesday Book, encontram-se as expres-
cestui que trust. Deste modo, o Chanceler deu ao trustee a or-
sões ad opus regis, para descrever o recebimento da pos-
dem de respeitar o estipulado no ato constitutivo do trust, sob
se de terras feita por um funcionário real em nome do rei.
ameaça de sofrer uma sanção: ser o trustee “mandado para a
(MORINEAU, 2004, p. 108, tradução nossa ).
prisão”. (DAVID, 2006, p. 103). No caso de alienação de um bem constituído em trust, René
Posteriormente, o termo se generalizou, designando tam-
David (2002) explica que o trust intervirá duplamente para tornar
bém outros casos de representação, aqueles nos quais alguém
efetivo um princípio de sub-rogação, real ou pessoal:
faz algo ou possui algo em nome de outra pessoa. O use me-
Se o trustee alienou a título oneroso os bens constituí-
dieval era usado, principalmente, para a transmissão da terra,
dos em trust, o que recebe em contrapartida é sub-roga-
sendo muito comum a estipulação do uso por um vassalo em
do a esses bens; o trustee será, de futuro, considerado
favor de outras pessoas, para que as mesmas se utilizassem da
como trustee das somas provenientes da sua venda, ou
terra, entregando os frutos a uma terceira pessoa (ou mesmo
dos bens adquiridos com o produto dessa venda. Em
ao vassalo instituidor do uso), podendo-se também estabelecer
segundo lugar, se o terceiro adquirente dos bens os ad-
a destinação da terra para após a morte do vassalo, a qual era
quiriu a título gratuito ou se é um adquirente de má-fé
muitas vezes direcionada aos filhos, principalmente ao filho mais
(ele sabia ou devia saber que o trustee não devia, se-
velho, como também a instituições religiosas.
gundo o ato constitutivo do trust, dispor dos bens como
Era comum também a instituição do uso de terras em con-
o fez), esta circunstância não impede que a propriedade
fiança (in trust) em favor de alguém para que este as transmitisse
dos bens passe para o adquirente; mas considerar-se-á
aos herdeiros do instituidor após sua morte.
que o adquirente, tornado proprietário legal (at law) dos
O use foi utilizado com certeza frequência durante os sécu-
bens, é ao mesmo tempo o trustee e deve, por sua vez,
los XIII e XIV, porém não era reconhecido pelos tribunais reais da
explorá-los no interesse dos beneficiários do trust. (DA-
common law. Deste modo, caso o trustee não cumprisse o es-
VID, 2002, p. 400).
tipulado, não restava recurso jurídico algum ao cestui que trust perante os tribunais da common law, devendo o mesmo recorrer
Assim, conclui-se que o trust é uma relação jurídica de ca-
à jurisdição da equity, perante o Tribunal da Chancelaria. Sobre
ráter fiduciário (ou seja, é uma relação estabelecida tendo como
a abrangência do use na Inglaterra durante os séculos XIV e XV,
base a confiança e a boa-fé), referindo-se à propriedade, pelo
Marta Morineau (2004) traz que:
qual o trustee adquire o título respectivo, ainda que o tenha em
Acredita-se que nos finais do século XIV e com toda se-
favor de outro, gerando assim uma obrigação para o proprietário
gurança para o século XV, a jurisdição de equity com re-
(trustee) em relação ao beneficiário, ou seja, o trustee possui a
lação ao use tornou-se perfeitamente definida, e que ao
obrigação de entregar ao cestui que trust (beneficiário), os frutos
tempo das Guerras das Duas Rosas (1455-1485), quase
da propriedade administrada, gozando do direito de realizar atos
toda a terra da Inglaterra estava amparada pelos títulos
de administração e de disposição sobre os bens do trust, não
de use. (MORINEAU, 2004, p. 110, tradução nossa ).
possuindo, contudo, o uso, nem o gozo da coisa, como também o direito de a destruir materialmente.
Mario G. Losano (1978) traz que nas origens a prática era usada para evitar os encargos fiscais impostos pelos senhores
2 Desenvolvimento histórico do trust
feudais no momento do falecimento do proprietário do bem.
O trust é um instituto muito antigo, descendendo de uma
Assim, instituído o use, o bem era confiado a um ente, com a
instituição medieval chamada use. Primeiramente, é fundamen-
obrigação de deter a sua propriedade em benefício de pessoas
tal ressaltar que o use medieval não deriva, como se parece,
definidas, estas vinham assim a gozar os seus frutos sem fica-
do termo latino usus, mas sim de outra palavra, também latina,
rem sujeitos a impostos reais.
opus. Marta Morineau (2004) explicando a origem e o significado da palavra opus, traz que:
Deste modo, em 1535, o rei Henrique VIII instituiu uma lei, o Statute of Uses, com o objetivo de limitar tal prática, lei essa que
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alcançou, de certo modo, o objetivo desejado, especialmente
presso subdivide-se em trust executado e trust não-executado
por ter introduzido reformas que simplificaram as regras da com-
(aquele que está por executar). O trust executado é aquele no
mon law relativas à transmissão da terra. (MORINEAU, 2004).
qual o criador (settlor of the trust) estabelece seus termos de modo definitivo no ato de criação. O trust não executado é aque-
3 Natureza jurídica e tipos de trusts
le no qual os direitos concedidos aos beneficiários estão subor-
Marta Morineau (2004) cita Maitland para explicar a natureza
dinados a um ato adicional que deverá um terceiro realizar.
jurídica do trust, assim:
Em relação à natureza das obrigações do trustee, o trust
Para explicar a natureza jurídica do trust, este autor assi-
pode se classificar em trust simples (simple trust) ou em trust es-
nala que em primeiro lugar há que determinar a natureza
pecial (special trust). No trust simples o trustee tem a obrigação
do direito do beneficiário. Para fazê-lo, começa se refe-
somente de custodiar os bens objetos do trust, não devendo
rindo à dicotomia do direito privado, que pode conferir
realizar nenhuma outra conduta, por isso, nesse caso, o trustee
faculdades de duas classes, in rem ou in personam.
será denominado trustee passivo (passive trustee), ou um trus-
(MORINEAU, 2004, p. 112, tradução nossa ).
tee custódio (custodian trustee). No trust especial, o trustee tem outras obrigações, além de
Nesse sentido, afirma-se que o direito do cestui que trust pos-
guardar, custodiar os bens sob sua responsabilidade, como por
sui elementos de ambas as classes, ou seja, possui algo de real e
exemplo, vender alguma coisa e, logo, com o produto da venda,
algo de pessoal, salientando não ser fácil situar o direito do cestui
pagar as dívidas do instituidor (settlor of the trust). (MORINEAU,
que trust em um código de tradição jurídica europeia, tendo em
2004). O trust especial subdivide-se em administrativo (ministerial o
vista o fato de ter que decidir se o local adequado é no capítulo
instrumental trust) e discricionário (discretionary trust). No primeiro
relativo aos bens ou no relativo às obrigações. Todavia, analisando
caso, trust administrativo, o trustee pode ser qualquer pessoa, que
a história do trust, é de se salientar que o direito do cestui que trust
deverá cumprir os encargos estabelecidos no trust, por exemplo,
possui caráter pessoal, tendo em vista o fato de ser oponível a uma
repartir bens específicos, entre beneficiários selecionados. No trust
pessoa, sujeito passivo determinado, ou seja, ao trustee.
discrionário, o trustee possui uma maior liberdade de ação, no que
No que se refere aos tipos de trust, o mesmo pode se agru-
se refere ao cumprimento de suas obrigações. Como exemplo,
par em diferentes classes. Um primeiro critério de classificação
pode se tratar de um trust no qual o trustee deva destinar os fun-
do trust refere-se ao seu modo de criação, o qual pode ser criado
dos necessários para cumprir com os fins de favorecimento que
por uma pessoa ou por um grupo de pessoas voluntariamente,
lhe pareça conveniente, devendo ser o trustee, nesse caso, pessoa
como instituído por força de lei. No primeiro caso há o chamado
capacitada, prudente e sensata. (MORINEAU, 2004).
voluntary trust (trust voluntário); no segundo caso tem-se o im-
Em relação aos beneficiados, o trust pode ser público ou pri-
puted trust (trust imputado, presumido ou atribuído). O voluntary
vado. No trust público os beneficiários são um grupo maior de
trust subdivide-se também em trust expresso e trust implícito,
pessoas, geralmente pessoas indeterminadas, sendo instituído,
sendo difícil diferenciar na prática as duas subespécies. Marta
geralmente, para fins caritativos. No trust privado os beneficiários
Morineau (2004), de tal dificuldade, afirma que:
são pessoas determinadas. Em relação ao trust privado, Mario G.
[...], em torno desta subdivisão, a possibilidade de dife-
Losano (1978) afirma que o proprietário deverá instituí-lo de modo
renciar, na prática, os trusts expressos, dos implícitos,
inequívoco, respeitando a regra das três certezas: “certeza das
segundo opinião de Maitland, é quase impossível. Este
palavras que ordenam que se tenha um determinado compor-
autor sustenta que como não é necessário utilizar pala-
tamento, certeza do objecto de que se transfere a propriedade;
vras especiais para a criação de um trust, a distinção que
certeza dos beneficiários”. (LOSANO, 1978, p. 131).
nos ocupa não é muito clara e se limitaria tão somente
A doutrina também traz uma outra classe de trust, dividindo-
a uma maior ou menor precisão gramatical. Acrescenta,
a em trust lícito e ilícito, sendo de ressaltar que nenhum ato é
que para complicar as coisas, alguns tratadistas equipa-
válido ou exigível caso transgrida o ordenamento jurídico. O trust
ram o trust implícito com o trust criado pela lei de forma
lícito é aquele que surge em acordo com a lei, e ilícito aquele que
direta. (MORINEAU, 2004, p. 119, tradução nossa ).
surge contrariando a lei, sendo inválido deste modo.
O trust expresso é aquele oriundo de um ato expresso de
Conclusão
vontade, ato esse que pode se manifestar em um contrato, tes-
Como visto, o trust é um importante instituto do sistema ju-
tamento ou até mesmo por uma simples declaração. O trust ex-
rídico inglês, especificamente da equity, tendo origem e desen-
70 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
volvimento histórico e possuindo largo uso no ordenamento jurídico da Inglaterra. Ainda que haja institutos jurídicos parecidos ao trust em outros ordenamentos jurídicos, o mesmo mantém sua originalidade, ou seja, há institutos parecidos em outros sistemas jurídicos, porém os mesmos não possuem características e efeitos idênticos aos do trust.
São Paulo: Martins Fontes, 2002. LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos. Lisboa: Presença/ Martins Fontes, 1979. MARKY, Thomas. Curso elementar de direito romano. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
Estruturalmente o trust baseia-se na estipulação por parte de uma pessoa ou mais de uma pessoa (o settlor of the trust) para que um bem ou mais de um bem seja administrado por uma pessoa (trustee) em benefício de outrem (o chamado cestui que truste). Para a common law, o trustee possui apenas uma obrigação moral em face do cestui que trust, já para a equity há sim sanção em face ao descumprimento do trust, havendo também a obrigação de o adquirente do bem instituído em trust respeitá-lo: caso haja o trustee alienado o bem a título oneroso, quem o receber será sub-rogado ao bem, porém o trustee será considerado trustee das somas provenientes da sua venda. Caso o terceiro adquirente o tenha adquirido gratuitamente, ou de má-fé (caso saiba ou deva saber que o trustee não devia dispor dos bens conforme o fez), a propriedade dos bens passará para o adquirente, mas o mesmo será o proprietário legal (at law) e, ao mesmo tempo, o trustee, explorando os bens em proveito dos cestuis que trust. No que se refere à sua natureza jurídica (in rem ou in personam), Maitland, citado por Marta Morineau (2004), defende que o direito do cestui que trust possui elementos de ambas as
MORINEAU, Marta. Una introducción al common law. Ciudad de México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2004. OXFORD dictionary of law. 5rd ed. Oxford: Oxford University Press, 2003. RADBRUCH, Gustav. O espírito do direito inglês e a jurisprudência anglo-americana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. SOARES, Guido Fernando Silva. Common law: introdução ao direito dos EUA. 2. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
NOTAS DE RODAPÉ 1. Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Gama Filho/RJ. Mestre e Doutorando em Teoria do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas. Professor no Curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG, da Faculdade de Pará de Minas/MG e da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Advogado. 2. De acordo com José Carlos Moreira Alves (2004), o usus (uso) “é direito real, intransferível, concedido a alguém (o usuário) para a utilização de coisa alheia inconsumível, sem alteração de sua substância ou de sua destinação econômico-social”. (ALVES, 2004, p. 338).
classes (real e pessoal), porém, analisando a história do trust, defende que o direito do cestui que trust possui caráter pessoal, tendo em vista o fato de ser oponível a uma pessoa (sujeito passivo determinado), ou seja, ao trustee. Assim, concluindo com as ideias de René David (2006), na prática, o trust não é uma instituição simples como em sua origem, tendo sido elaboradas numerosas regras técnicas, determinado, nos dias atuais, a conduta a ser esperada do trustee e as condições em que as Cortes aceitarão intervir. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano: volume 1: história do direito romano; instituições do direito romano: parte geral; parte especial: direito das coisas. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano: volume 2: instituições de direito romano; parte especial: direito das obrigações: direito de família: direito das sucessões. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. DAVID, René. O direito inglês. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
3. “O usufruto é um direito real, inalienável e limitado no tempo, que atribui ao seu titular as faculdades de uso e fruição de coisa alheia inconsumível, permanecendo inalterada a sua substância e destinação econômico-social.” (ALVES, 2004, p. 333). 4. De acordo com José Carlos Moreira Alves (2004), “o fideicomisso é disposição de última vontade pela qual o disponente determina a outrem (o fiduciário), que irá receber, mortis causa, bens deixados por aquele, que realize, dentro dos limites dessa aquisição, uma prestação em favor de terceiro (o fideicomissário).” (ALVES, 2005, p. 477). 5. “A bonorum possessio era, como o nome indicava, a posse dos bens hereditários, deferida pelo pretor. Sua instituição se deve à mesma necessidade prática que orientava o pretor na instituição desse instituto como preliminar da rei vindicatio.” (MARKY,1995, p. 178). 6. Trust. n. 1. An arrangement in which a settlor transfers property to one or more trustees, who will hold it for the benefit of one or more persons (the beneficiaries or cestuis que trust, who may include the trustee(s) or the settlor) […]. (OXFORD, 2003, p. 509-510).
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. 4. ed. PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 71
A SOCIEDADE INDUSTRIAL X SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL:
Pela ótica da obra de Domenico de Masi. Emerson Luiz Xavier Pereira1 RESUMO: A sociedade atual atravessa uma quebra de paradigma. A transformação da sociedade industrial, que revolucionou a produção em larga escala, e trouxe consigo o surgimento das classes trabalhadoras, não proprietárias dos meios de produção, que exercia trabalhos mecanizados, repetitivos e que a afastou das atividades intelectuais e culturais, deu espaço a uma sociedade onde o controle da informação é que prepondera. O acesso a esta informação é quase em tempo real, e a sociedade está se individualizando, transformando as relações inter pessoais cada vez mais virtual, através dos computadores e dos dispositivos móveis. A super mídia predomina. E impõe cada vez mais o que a sociedade consome e influencia na mesma proporção a formação da opinião pública. Surge a sociedade pós-industrial. O desenvolvimento deste artigo é baseado na obra A Sociedade Pós-Industrial do sociólogo italiano Domenico de Masi.
PALAVRAS-CHAVE: Sociedade Industrial; Sociedade Pós-Industrial; Meios de produção; quebra de paradigma; Capitalismo.
A Revolução Industrial marcou uma fase da história que ima-
meios de produção se tornam cada vez mais ricos, e o pobre
ginávamos que dificilmente seria superada: a sociedade indus-
cada vez mais oprimido e explorado; e divisão do trabalho, que
trial. Este período da história humana, tivemos dificuldade de as-
tornou o operários cada vez mais limitado, pobre e dependente,
similar no passado e temos dificuldade de assimilar no presente.
enquanto seu patrão cresce cada vez mais.
Analisada por uma escala do tempo, como é curta a existência do homem moderno desde o surgimento da raça humana. Embora, entre todas as fases por que passou o homem,
Se fez necessário apontar as características que diferem o período anterior e posterior , da fase industrial. Entre algumas delas podemos citar:
a sociedade industrial tenha sido a mais curta, é a que mais
Concentração de massas;
revolucionou a história humana. Ela é o resultado do surgi-
Predomínio numérico de trabalhadores da indústria;
mento da imprensa, da pólvora, do avanço da ciência, e de
Descobertas científicas aplicadas em prol do pro-
várias inovações que contribuem para uma avanço em relação
cesso produtivo;
a época rural.
Divisão social do trabalho;
Traz intrínseco uma crítica aos pensadores gregos, que
Separação entre lugar que se vive e trabalha;
muito se preocupou com o discurso e pouco se preocupou
Aumento da produção de massa e aumento exagerado
com a utilidade prática das coisas e das descobertas científi-
do consumo.
cas. Assim como os romanos. Com o surgimento da sociedade industrial e dos produtos
Estas são as características que mais se destacam em
manufaturados, surge a divisão do trabalho, a divisão da socie-
muitas que surgem com o processo de produção em larga es-
dade em classes bem definidas, onde o trabalhador passa a
cala. Com o aumento da “sociedade de massa”, a produção e
trazer consigo o mecanicismo, a falta de exigência de raciocínio
o consumo em larga escala. Mudanças latentes que emergem
nas tarefas do dia a dia e a alienação do resultado final do seu
com a busca cada vez maior por bens de consumo.
trabalho. O trabalhador adquiriu um ofício e perdeu as qualidades intelectuais.
Entre elas apontamos o ingresso da sociedade de massa na gestão da coisa pública e na gestão do poder. As mulheres
As conseqüências sociais da indústria para a estrutura de
ganham destaque no contexto social; o conceito de cidadania
classe é enfatizada na obra “A Riqueza das Nações”, de Adam
torna-se mais abrangente; a tecnologia tirando a mão de obra
Smith. Tocqueville, 70 anos mais tarde, apontará assim como
pesada dos homens, evitando-lhes a fadiga física, entre outras.
Smith, os pontos desfavoráveis do avanço industrial, associa-
Ainda, é enfatizado para o fato de que este período da história
do ao acúmulo de capital. Para ele, as maiores falhas são: o
é marcado de forma equivocada por uma deterioração intelectual.
grande acúmulo de capital, onde os mais ricos, e donos dos
Na lição de Domenico,
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...não é absolutamente verdade que na sociedade de
período era os direitos individuais. O Estado deveria interferir o
massa seja possível manipular os indivíduos, indefesos
mínimo possível na vida das pessoas. Praticamente as disputas
diante do super poder da mídia, pois cada indivíduo lê e
estavam entre proletariado e classe burguesa. É o período dos
seleciona todas as mensagens que recebe de fora, atra-
chamados direitos de primeira geração.
vés do filtro-censura constituído pelos grupos primários de referência”. Brason (apud DOMENICO, 1999, p. 22)
Na sociedade pós industrial, o Estado tem uma preocupação maior com os problemas coletivos, são os chamados direitos sociais, ou de segunda geração. Atualmente, o Estado trata
Fazendo um paralelo com a sociedade atual, culpa-se mui-
também do direitos difusos ou de terceira geração. O Estado
tas vezes o analfabetismo político justificado pelo super poder
tem uma autonomia maior. É um ente de direitos e deveres. E
da mídia.
tem por vezes interesses que diferem tanto do povo, quanto das
Mas acreditamos que, não podemos creditar toda
alienação política e cultural apenas aos veículos de comunica-
classe dominantes.
ção em massa. Aquele indivíduo que busca a informação em
Hoje o povo, mesmo as aqueles que venham das cama-
mais de uma fonte, que não se acomoda, que se interessa com
das inferiores da sociedade, podem ter acesso à participação as
o futuro de onde vive, de seu país e de seu mundo, se inquieta
eleições de cargos eletivos. E tem direito universal do sufrágio.
e vai buscar nos livros, nos autores, a realidade que lhe cerca.
No início da sociedade industrial o sufrágio não abrange toda
A sociedade industrial sucede a sociedade rural, que dominou os feudos de idade média até o surgimento da idade moderno e revolução industrial. Esta última com seu processo
a parcela da sociedade. O conceito de cidadania não era tão abrangente quanto hoje. Nas palavras de Grassi:
de mecanização do processo produtivo, de divisão do trabalho.
Nos anos 70, o Estado assistencialista deveria institucio-
Agora vemos a sociedade industrial sendo superada pela so-
nalizar e diluir os conflito, deveria fazer satisfazer de for-
ciedade pós-industrial, onde impera o domínio da tecnologia,
ma coletiva (e portanto, mais eficiente) a uma parte de
a informatização, a logística, globalização.
necessidade básicas dos cidadãos pobres, deveria tor-
Na primeira, quem detinha as grandes propriedades, era que
nar previsíveis e programáveis os fluxos de trabalho.......
ditava as regras do jogo; era quem dominava. Na segunda, era
mas isto acabou lançando o estado numa crise intola-
quem detinha os meios de produção, os donos das indústrias
rável, inchou de modo desmedido os gastos públicos,
(classe burguesa), era os detentores do poder e a classe domi-
minou o processo de acumulação, provocando uma es-
nante da época. A terceira (sociedade pós-industrial) é dominada
cassez dos capitais necessários para os investimentos
por quem detém a informação, quem esta à frente nas pesquisas
produtivos e incentivando desse modo o desemprego,
científicas, nas novas técnicas de produção, etc.
desmotivou os trabalhadores a trabalhar e a buscar uma
Interessante salientar que a sociedade pós industrial se diferencia da sociedade rural e da industrial sem contudo, haver
formação profissonal......” (DOMENICO,19--, p. 81-83, grifo nosso).
datas específicas onde inicia e termina cada um dos períodos. É um processo gradual. E entendemos que embora as trans-
Isto mostrou a dificuldade de se manter um Estado assis-
formações, contextos, avanços tecnológicos, de cada época
tencialista, que podemos chamar até de paternalista; que queira
seja diferente, percebemos que as disputas se assemelham
suprir todas as demandas do povo, pois isto se mostrou total-
muito. Continua havendo as distinções entre classes, disputas
mente incompatível com o capitalismo. Para que o capitalismo
por maior participação nas decisões, luta por igualdades, etc.
flua é necessário que haja uma demanda acentuada de produto.
Na sociedade pós industrial surge um terceiro ente, na dis-
Apenas assim se torna interessante (e lucrativa) o binômio “pro-
puta pelas decisões: O Estado. O Estado, como entre persona-
cura x oferta”, pilares do capitalismo. Parafraseando o estadista
lizado, autônomo como o conhecemos hoje, praticamente não
inglês Winston Churchill, O Capitalismo é o pior modelo econô-
existia na época medieval. Era uma sociedade rural, dominada
mico, depois de todos os outros.
por grandes feudos, e o Estado que surgia (poder centralizado
Na sociedade pós-industrial é difícil detectar quem é a classe
nas mãos do rei), era praticamente para defender os interesses
explorada ou exploradora, já que uma mesma categoria pode se
do rei e da nobreza.
enquadrar dentro dos dois contextos, como esclarece Domenico:
Na época da revolução industrial, surge o Estado autôno-
....sabemos que na sociedade pós-industrial vigora uma
mo, como forma de representação do interesse do povo. Mas
divisão transnacional do trabalho e do poder; sabemos
era um Estado mínimo, onde a bandeira que se erguia naquele
que nos próprios sujeitos (em termos individuais ou co-
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letivos) podem conviver papéis hegemônicos em uma determinada esfera e papéis subalternos em uma esfera diferente; sabemos que ao contrário do que Marx teorizou para a sociedade industrial, na sociedade pósindustrial não existe um sujeito antagônico privilegiado, tampouco existe um conflito preponderante a ponto de absorver todos os outros; sabemos que alguns tipos de conflitos (por exemplo o feminista, o ecológico, o antinuclear) não se referem aos indivíduos em termos de lugar por eles ocupados nas relações de produção. Mas em termos de outros fatores como o sexo, a atitude em relação à natureza. Etc. (DOMENICO, 19--, p. 83) A sociedade pós industrial, deu forma a fantasmas sociais, difíceis de se imaginar em outros tempos. Direitos difusos, empresas “.com” (que só existem virtualmente), A onisciência e onipresença criada pela internet, tecnologia da informação, e avanço do dispositivos de comunicação móveis,
criou-se um
gigantesco “big-brother” que nos tirou parte da liberdade, da individualidade e da privacidade. O aperto de mão e o bom dia foram trocados por mensagens de sms e scraps nas redes sociais. Encontro em família se transformou em marcar hora para acessar as redes social. Bem vindos a sociedade pós-industrial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SMITH, Adam. Riqueza das nações - investigação sobre sua natureza e suas causas. 1983 2 v. (Os Economistas), Editora Abril Cultural. DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial, 1999, Editora SENAC. DE MASI, Domenico. O Futuro do Trabalho - fadiga e ócio na sociedade pós-industrial; tradução de Yadyr A. Figueiredo. 2001, Editora José Olympio.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Aluno do 8º Período de Direito do Centro Universitário Newton Paiva – Estagiário da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – DIAFI – Divisão de Assuntos Fiscais – Autor de 2 artigos publicados na 4º Edição da Revista Eletrônica da Pós Graduação da Newton Paiva.
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O PERFIL PROFISSIONAL COMPETENTE DEMANDADO PELAS EMPRESAS DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE TRABALHADORES DE BELO HORIZONTE Corina Alves Farinha1
RESUMO: O artigo trata do modelo de inserção de candidatos às vagas oferecidas no mundo do trabalho formal. Investiga o conceito de competência praticado nas empresas de recrutamento e seleção de trabalhadores de Belo Horizonte. Analisa o desafio enfrentado pelas agências de emprego quanto à interpretação das diferentes concepções de competência manifestadas no discurso empresarial. Isto possibilita o entendimento da construção do perfil profissional demandando pelas empresas contratantes. PALAVRAS-CHAVE: competência, recrutamento e seleção, perfil profissional.
Introdução
Frente a essa mudança, impõe-se o desafio da construção
O conceito de competência é polissêmico, por ser essa
de novos referenciais para a avaliação dos trabalhadores no
concepção estudada por distintas áreas do conhecimento, gera
âmbito do processo de recrutamento e seleção, que é freqüen-
inúmeros vieses e interpretações, tanto no âmbito acadêmico
temente terceirizado e realizado por empresas específicas.
quanto no organizacional. Em termos gerais, a competência en-
Porém, no Brasil, segundo Dutra (2004), as empresas têm
globa três requisitos básicos: saberes construídos ao longo da
revelado dificuldades quanto ao entendimento do conceito de
existência, com implicações na vida profissional e as atitudes do
competência, devido às diferentes maneiras de compreensão
trabalhador em face das inúmeras situações de trabalho.
do termo e às formas de sua articulação pelos responsáveis
Desde os anos 1980 devido à globalização da economia,
das organizações. Observa o autor que, em relação ao tema,
ao desenvolvimento científico e tecnológico, entre outros ele-
coexistem nas organizações discursos carregados de moder-
mentos, que acirraram a competitividade e a complexidade na
nidade, aliados a posturas tradicionais típicas do modelo de
produção que tendeu a adotar modelo flexível, o mundo do tra-
produção rígido. Há o entendimento de que se trata de um mo-
balho passou a exigir um perfil profissional com determinadas
dismo, que não atende às necessidades das organizações.
competências para a ocupação das vagas.
Os autores Fleury & Fleury (2004), embasados em outras
Em decorrência desses fatores os serviços de recrutamen-
pesquisas, observam a tendência à utilização do conceito de
to e seleção priorizam a avaliação das capacidades individuais
competência pelos profissionais de recursos humanos como
dos candidatos, sob o enfoque da competência. As entrevistas
algo que pode ser medido e quantificado. À semelhança dos
e dinâmicas de grupo, entre outras técnicas, objetivam a análi-
padrões e resultados obtidos por meio do treinamento, a com-
se da compreensão do processo de trabalho, criatividade, pen-
petência é concebida como um conjunto de conhecimentos,
samento crítico, comunicação, autonomia e responsabilidade
habilidades e atitudes, ligado ao desempenho do trabalhador,
dos trabalhadores.
referindo-se, portanto, à tarefa ou ao conjunto de tarefas pres-
Esse contexto, segundo Zarifian (2001), apontou para a
critas em um cargo.
ruptura com os procedimentos tayloristas centrados no controle
A revisão teórica permite constatar, sob perspectivas di-
das tarefas, bem como a intenção de avaliar os trabalhadores
ferenciadas, os autores franceses Zarifian (2001, 2003, 2005),
em termos de entendimento do processo produtivo e iniciativa,
Le Boterf (2003, 2006), Dadoy (2004), Ropé & Tanguy (2002),
aspectos que já faziam parte dos saberes de alguns trabalha-
Stroobants (2002), e os brasileiros Fleury & Fleury (2004), Dutra
dores, porém eram desconsiderados pelos administradores. Os
(2004) e Ruas (2005) são unânimes em afirmar que os entendi-
encarregados de produção na época, no relato de Zarifian (2001,
mentos sobre o conceito de competência são diferenciados na
p.23), “almejavam avaliar as competências pessoais de cada as-
academia e nas empresas, particularizando-se em função de
salariado, independentemente do posto de trabalho ocupado”.
características como: cultura organizacional, ramo de atuação,
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porte da empresa, tecnologia adotada e relação estabelecida
de produção flexível em substituição à abordagem categoriza-
com o mercado, com os clientes e os trabalhadores.
dora e homogeneizadora do modelo taylorista-fordista (ZARI-
Dessa forma, o trabalhador avaliado como competente em
FIAN, 2001).
uma empresa poderá não o ser sob a avaliação de outra, mes-
Portanto, é nesse período que surge a tendência a adoção
mo porque a competência é situacional. Frente ao exposto, in-
do conceito de competência no processo de recrutamento e se-
daga-se: Qual é o perfil profissional demandado pelas empresas
leção de trabalhadores. Cabe ressaltar, que sob essa ótica, a
contratantes uma vez que o conceito de competência permite
competência é uma demanda do patrão e provém de uma trans-
interpretações diferenciadas? Qual o perfil profissional deman-
formação nos julgamentos avaliativos dos trabalhadores pela
dando pelas empresas de recrutamento e seleção de trabalha-
direção e pelos responsáveis pelas práticas de gerenciamento
dores de Belo Horizonte?
dos trabalhadores. Por outro lado, entende-se como um ganho para o trabalhador o expressar de sua autonomia e iniciativa, de
A Competência
seus conhecimentos em situações diferenciadas, em oposição à
Os estudos em torno da construção do conceito de com-
passividade solicitada pelo modelo taylorista-fordista.
petência iniciaram-se em 1980 na França e no Brasil, em 1990.
Zarifian (2001) ao realizar o Estado da Arte do tema na
A fase atual desses estudos circunscreve-se à divulgação e à
França construiu o conceito de competência combinando três
aplicação desse conceito na gestão de pessoas no âmbito das
abordagens:
organizações e na academia os estudos. O tema não é um modismo; pelo contrário, seu registro é
[...] a competência é a tomada de iniciativa e o assumir a responsabilidade do indivíduo diante de situações pro-
bem antigo. De acordo com Isambert-Jamati (2002), a palavra
fissionais com as quais se depara.
competência no fim da Idade Média era associada à linguagem
[...] a competência é um entendimento prático das si-
jurídica. Na atualidade, o conceito de competência vai além
tuações, que se apóia em conhecimentos adquiridos
desse enfoque, entrando no campo da Psicologia, da Educação
e os transforma, à medida que a diversidade das situ-
e da Sociologia. Envolve basicamente três modalidades de sa-
ações aumenta.
beres: o saber em termos de conhecimentos, o saber-fazer e o
[...] a competência é a faculdade de mobilizar redes de
saber-ser. A competência está intimamente relacionada à ação,
atores em torno das mesmas situações, de fazer com
ao movimento e ao empreendimento. Seu reconhecimento de-
que esses atores compartilhem as implicações de suas
pende do olhar do outro.
ações, de assumir áreas de co-responsabilidade (ZARI-
Em meados da década de 1980, Zarifian (2001), sociólogo
FIAN, 2001, p. 68-74).
francês, especialista em gestão pesquisou empresas moveleiras que buscavam alternativas para sair da crise no setor. Para isso
Nesse entendimento, a competência diz respeito à especi-
elas passaram a atender demandas específicas de seus clientes
ficidade do indivíduo, sua originalidade, sua trajetória de vida,
empenhando-se na melhoria da qualidade e diversificação dos
abrangendo sua experiência profissional, suas capacidades e
produtos, adotando a produção flexível, com máquinas e ferra-
potencialidades. Dessa maneira, são valorizados o saber es-
mentas de controle numérico digital. Foi nesse contexto que os
colarizado, o saber-fazer, a experiência e o saber-ser (denomi-
problemas relacionados à qualidade, prazos, variedade, capaci-
nado também de saber comportamental e competência social
dade de iniciativa, resolução de problemas e outros passaram a
sobretudo em termos de comportamentos e atitudes) e ainda
ser vistos “como qualidades que os trabalhadores precisariam
sua capacidade de antecipar-se aos problemas e não apenas
demonstrar em ruptura com os procedimentos tayloristas-fordis-
solucioná-los, evidenciando movimento, participação, mobiliza-
tas”, salienta Zarifian (2001,p.22)-. Todavia, tais elementos, con-
ção (ZARIFIAN, 2001).
tinua o mesmo autor, “já estavam presentes nos trabalhadores,
Porém o saber-ser informa Zarifian (2001), é uma denomi-
mas [...] não eram reconhecidos e formalizados e, por isso, não
nação imprópria para o enfoque das atitudes e dos comporta-
apareciam”. Logo, “a mudança não se deve a uma descoberta
mentos gerados pela competência. Explica o autor que o saber-
repentina da humanidade dos trabalhadores, mas à percepção
ser refere-se à personalidade profunda e estável do indivíduo, a
de uma mudança nas condições de produção do setor” (ZARI-
seus traços de personalidade e aptidões consideradas inatas,
FIAN, 2001, p.22).
passíveis de serem verificadas por meio de testes de personali-
Dessa forma, Competência foi a denominação atribuída à
dade. Nesse contexto, o trabalhador é avaliado em sua totalida-
nova forma de avaliação dos trabalhadores, adotada no modelo
de, em seu “ser”. No entanto, a abordagem que enfatiza o com-
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portamento e as atitudes diz respeito à “competência social”, diz
em todos os níveis de contratações, a demanda dos emprega-
Zarifian (2001, p.146), pois a avaliação recai “na maneira como
dores por trabalhadores adaptáveis e capazes de se inserir em
um indivíduo apreende seu ambiente em situação, a maneira
grupos de trabalho é evidenciada. Ela ressalta no período 1976-
como se comporta”. O que se busca com essa abordagem é
1978, com a experiência francesa de “mobilização e inserção
uma visão parcial e manifesta do indivíduo. O comportamento
profissional de jovens sem qualificação, os saberes sociais apa-
é adquirido e pode evoluir, razão pela qual a avaliação se dá
receram explicitamente”, sugerindo que esses comportamentos
em determinado momento. Não é o ser que se procura apreen-
“apresentam mais problemas que os saberes técnicos, que se
der, mas o seu modelo de conduta, diante de dado ambiente.
tornaram mais abundantes e mais baratos”. Por outro lado, os
O conceito de atitude sustenta o conceito de comportamento.
saberes comportamentais, na visão de Dadoy (2004), não são
A atitude traduz o que sustenta e estabiliza o comportamento;
concebidos como parte integrante da formação profissional, não
é manifestada individualmente; é social por ser produzida em
sendo balizados por uma instituição oficial como a escola.
meio sócio-cultural específico e por denotar certa maneira de
Já Le Boterf (2006) explica: a competência é subjetiva, e,
posicionamento do indivíduo nas relações sociais. A atitude se
por si só, é invisível. Dessa forma, não é diretamente acessível,
traduz, portanto, no comportamento.
logo, sua validação depende dos conceitos, da metodologia
No Brasil, Fleury & Fleury (2004, p.30) observam que a com-
empregada, dos atores implicados e dos pontos de vista adota-
petência é “[...] um saber agir responsável e reconhecido, que
dos. A competência está sempre ligada ao mecanismo de medi-
implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos
da que lhe é aplicado e depende sempre do olhar que sobre ela
e habilidades que agreguem valor econômico à organização e
recai. O que é avaliado não é a competência em si, mas aquilo
valor social ao indivíduo”. Reportando-se a esse conceito de
que se designa por competência, por meio do mecanismo de
competência individual, Dutra (2004) acrescenta que o conceito
avaliação (instrumentos, regras, instâncias). O trabalhador, para
deve ser aplicado a instrumentos de gestão que possibilitem às
ser reconhecido como competente, o é em relação a alguma
pessoas perceberem o que lhes agrega sua relação com a or-
coisa, e esse parâmetro estabelece uma prescrição, um modelo,
ganização. Assim, a competência é atribuída a vários atores: a
um limite para ser competente.
empresa dispõe de um conjunto de competências que lhe são
Esclarece ainda Le Boterf (2006) que a limitação existe no
próprias, decorrentes da “gênese e do processo de desenvolvi-
nível de saber alcançado pela profissão do indivíduo, numa épo-
mento da organização e são concretizadas em seu patrimônio
ca determinada, ou seja, a competência depende do olhar do
de conhecimentos, que estabelece as vantagens competitivas
outro, e, portanto, a competência é situacional.
da organização no contexto em que se insere” (DUTRA, 2004, p.14). As pessoas, por sua vez, dispõem de um conjunto de competências aproveitadas ou não pela organização.
O entendimento de competência de Tomasi (2004) aborda o indivíduo [...] um indivíduo que, produzido nas relações sociais nas
No entanto, para Dadoy (2004, p.124), os empregadores
quais se encontra inserido, insiste em guardar suas dife-
sempre valorizaram a competência comportamental referente
renças em relação aos outros [...] e isso não significa, o
aos saberes relacionais (saber-ser):
estabelecimento de um dualismo entre ele e o coletivo,
[...] esses saberes, na realidade, sempre fizeram parte
mas, diferente disso, o diálogo (TOMASI,2004, p.11).
das qualidades esperadas pelos empregadores, mas essa exigência parecia tão natural que não havia neces-
Porém, no âmbito organizacional, Stroobants (2002) ana-
sidade de explicitá-la em um período em que os saberes
lisa que o conceito de competência se refere à modificação do
técnicos eram ainda bastante raros no mercado de tra-
perfil do trabalhador, cujo vocabulário é renovado, com termos
balho e era, então, a primeira preocupação dos empre-
relativos a saberes e competências. Por sua vez, Ropé & Tanguy
gadores (DADOY,2004, p.124).
(2002), indicam que tal conceito é ligado a um conjunto de conhecimentos, qualidades e capacidades relacionadas ao ofício.
Dadoy (2004) observa que as características pessoais dos
Salienta Dadoy (2004) que a assimilação do conceito de
trabalhadores sempre foram alvo de análise, com vistas a evitar
competência ocorreu em diferentes contextos, sendo aplica-
problemas de relacionamento e conflitos existentes no ambiente
do a objetos distintos dos originais, sem que houvesse, por
de trabalho, relacionados à personalidade do trabalhador, res-
parte dos empregadores, sindicatos e educadores da área
saltando de modo especial o modelo comportamental submisso,
profissional uma reflexão mais aprofundada sobre suas diver-
controlado pela gerência taylorista-fordista. Segundo a autora,
sas definições e utilizações.
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de das pessoas na organização. A competência nas empresas: o trabalhador competente
A adoção dos princípios de gestão por competência pelos
As pesquisas de Zarifian (2005) indicam que a competência,
dirigentes das empresas pressupõe o reconhecimento de um tra-
no meio empresarial, está ligada ao uso de dois tipos de instru-
balhador autônomo, em equipe e em rede e implica o desenvolvi-
mentos: a construção de referenciais e a realização de entrevistas
mento da competência do trabalhador na organização e o desen-
com o empregado por seu superior hierárquico, visando a avaliar
volvimento da competência sobre a organização (DUTRA, 2004).
se o profissional está exercendo ou não, as competências reque-
Nesse modelo, a simples regulação da organização do
ridas. A construção de referenciais, segundo o autor, é feita por
trabalho torna-se desnecessária; a relação passiva, submissa
meio de listas de competências centradas no saber-ser, objeti-
do trabalhador com a empresa (gerência taylorista-fordista) ten-
vando indicar, de maneira prescritiva, aquilo que os assalariados
de à mudança, e o trabalhador, conforme explica Zarifian (2001,
devem saber fazer e dizer, numa dada situação de trabalho.
p.138), “pode se tornar ator explícito da evolução da organiza-
Contudo, essa construção assemelha-se àquela dos refe-
ção”. A competência sobre a organização, por sua vez, é aos
renciais do trabalho taylorista, centrados na prescrição de tare-
poucos desenvolvida, à medida que o trabalhador executa pro-
fas. Nesse contexto, o trabalhador dito competente será aquele
jetos de trabalho. Zarifian (2001) constata a hesitação dos diri-
que, ao desenvolver seu trabalho, detém as competências atitu-
gentes das empresas em desenvolver essa competência sobre
dinais e comportamentais prescritas no referencial.
a organização, sobretudo na base da pirâmide hierárquica, na
Por outro lado, Le Boterf (2006) propõe que os métodos de avaliação da competência de um profissional aplicados nas or-
qual a relação de poder, submissão/controle estabelece a prática gerencial taylorista-fordista.
ganizações analisem a prática a que o trabalhador recorre para
Por outro lado, Dutra (2004) ressalta haver dificuldades na
interpretar as prescrições de determinado trabalho. Uma prática
compreensão do conceito de competência e nas formas de sua
não corresponde, item a item, a uma prescrição. Se assim fosse,
articulação pelos responsáveis pelas empresas, pois coexistem
a prática seria reduzida a uma simples execução de orientações
nas organizações discursos carregados de modernidade, alia-
e de normas. Nesse sentido, o alvo da avaliação não é o conjun-
dos à manutenção de posturas tradicionais, típicas do modelo
to de competências do trabalhador, pois estas, por si sós, são
de produção rígido. De tal forma, que o modelo da competência
invisíveis, mas aquilo que o mecanismo da avaliação designa
é entendido como inadequado para trabalhar as necessidades
como competências.
das organizações e considerado um modismo. Reportando-se
Todavia, para Stroobants (2002), o reconhecimento da com-
ao atual modelo de gestão de pessoas adotado pelas organiza-
petência do trabalhador e de sua capacidade se dá pelo aspec-
ções, Fleury & Fleury (2004, p.27) concluem “gerenciar por um
to cognitivo do trabalho que é executado.
modelo de competências implica somente uma mudança buro-
Le Boterf (2003) observa que o profissional reconhecida-
crática nos procedimentos para seleção dos indivíduos”.
mente competente é aquele que sabe agir com competência,
Nas organizações o trabalho a ser realizado passou do
mobilizando recursos provenientes da formação pessoal, bio-
controle à tendência à autonomia exigindo responsabilidade,
grafia e socialização, formação educacional e experiência profis-
comprometimento, iniciativa capacidade de comunicação e
sional. As competências são produzidas por meio de recursos e
desenvolvimento do pensamento crítico do profissional. Tais
convertem-se em atividades e condutas profissionais adaptadas
características quando mobilizadas em situação do trabalho e
a contextos específicos. O saber agir é distinto do saber-fazer,
avaliadas pelos recrutadores e gestores são consideradas com-
que é um conjunto de experiências e habilidades.
petências e diz-se que o trabalhador é competente. Essa ten-
Nas pesquisas desenvolvidas por Le Boterf (2003), foi cons-
dência gerou mudanças no processo de recrutamento e seleção
tatada a existência de contradições entre o discurso oficial dos
de trabalhadores, até então centrado nos princípios do cargo e
dirigentes de empresas e a realidade de sua gestão. Embora a
da pessoa certa para o cargo certo.
maioria dos dirigentes julgue a contribuição dos trabalhadores fator importante para um satisfatório desempenho organizacio-
A competência e o processo de recrutamento
nal, muitos ainda consideram preponderantes os fatores mate-
e seleção de trabalhadores
riais e financeiros. São poucos os investimentos na implantação
A profissão qualificada é uma unidade central no processo
de políticas que estimulem o desenvolvimento das competên-
de trabalho. Desde as últimas décadas do século XX, tem-se
cias e, embora muitos os considerem prioritários, apenas uma
verificado a tendência à busca por trabalhadores não apenas
minoria harmoniza sua política com o discurso sobre a priorida-
qualificados, mas competentes. A qualificação compreende os
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saberes relativos à profissão, adquiridos no ambiente escolar e
como esperado. Para Fernandez-Araóz2 (1999), “é impossível
no organizacional, por meio da experiência. A competência, por
transformar o processo de contratação de uma pessoa em uma
sua vez, é a mobilização dos saberes formais, informais e so-
ciência”, ou seja, o processo de contratação de pessoas não
ciais, construídos ao longo da vida, abrangendo inclusive as ati-
tem um resultado exato, não se configura em um estudo siste-
tudes individuais, em face das inúmeras situações de trabalho.
matizado. Então, embora se recorra a uma série de práticas que
Com a adoção do conceito de competência pelo mundo do
busquem lógica e previsibilidade no processo de contratação, o
trabalho tanto na França, no Brasil, e, atualmente, outros países,
sucesso continua indefinido, conforme sugere o índice de 30% a
as práticas de recrutamento e seleção tornaram-se mais rigoro-
50% de demissão ou renúncia na admissão de executivos.
sas. Um dos primeiros aspectos foi a exigência de maior nível
Se Taylor(1967) buscava “o que fazer” e “uma melhor ma-
de escolaridade e para isso os diplomas deveriam atestar ins-
neira” de fazer as tarefas, delineando o cargo, as características
trução mínima, ou seja, escrita, leitura e compreensão de textos,
pessoais avaliadas no processo de recrutamento e seleção de
elaboração e entendimento de cálculos. Em suma passou-se a
trabalhadores configuravam um perfil obediente e disciplinado.
analisar em profundidade conhecimentos e disciplina comporta-
O trabalhador, confinado a um cargo isolado e submetido aos
mental do trabalhador. Os selecionadores passaram a comparar
controles administrativos, às regras, às imposições e à hierar-
os indivíduos em situações reais de trabalho, a sua competência
quia, era impedido de atuar como pessoa “detentora de qualida-
efetiva em relação às expectativas da empresa.
des contextualizadas em situação de trabalho, tais como curiosi-
Por lado analisando a história do processo de recrutamento e
dade, rigor, reatividade”, como aponta Le Boterf, (2003, p.124).
seleção de trabalhadores encontra-se em Villela (2008), o marco
Notadamente, era requerido o gesto do trabalhador, seus
de um modelo primitivo de recrutamento e seleção foi encontrado
movimentos em tempos e tarefas pré-estabelecidas. O importante
na China, na dinastia Han, no ano 207 a.C. O Imperador, usan-
era recrutar mão-de-obra, e essa “mão” precisava fazer executar,
do da premissa ‘dividir para reinar’, dividiu o território chinês em
tanto no chão de fábrica quanto no escritório. Porém, a ‘mão’,
províncias, geridas por funcionários do poder central. Para ocupar
ou seja, o trabalhador deveria ser dócil, com perfil semelhante ao
os cargos referentes a tarefas e atividades de cobrança e arre-
demandado pelo Imperador chinês. Para assegurar a eficiência,
cadação de impostos, administração de recursos, entre outras,
o trabalhador seria treinado, tornando-se um ‘animal’ valioso, res-
instituiu a seleção de candidatos por meio de concurso público,
trito ao posto de trabalho, adequado para o trabalho repetitivo.
baseado no mérito, no apadrinhamento e na indicação, criando uma longa e detalhada descrição da função de servidor público. A conclamação do Imperador chinês Wu Di
Braverman (1987), citando os princípios da administração científica de Taylor3(1967) para a seleção científica de mão-de-
fornece indí-
obra, observa que estava centrado na condição física do tra-
cios dos princípios que envolviam aquelas práticas de recruta-
balhador, valorizando o perfil de profissional submisso (tipo do
mento e seleção, de certa forma, presentes na atualidade:
boi). A seleção constava de “apanhar um entre os tipos comuns
Queremos heróis! Trabalhos excepcionais exigem homens
que são especialmente apropriados para esse tipo de trabalho”.
excepcionais. Um cavalo indócil pode vir a tornar-se um animal
Quanto às práticas da seleção científica, cabe aludir a regra in-
valioso. Um homem que é objeto de ódio pode mais tarde realizar
flexível estipulada por Taylor:
grandes obras. O que acontece com o cavalo intratável passa-
[...] conversar e tratar com um candidato de cada vez,
se também com o homem arrogante: é apenas uma questão de
visto que cada operário tem suas capacidades e limi-
treinamento. Nós, desse modo, ordenamos aos funcionários dis-
tações especiais, e visto que não estamos tratando
tritais que procurem homens de talento brilhante e excepcional
com homens em massas, mas tentando desenvolver
para se transformarem em nossos generais, nossos ministros e
cada indivíduo ao seu mais alto estado de eficiência e
nossos emissários aos Estados distantes (MORTON,1986, p. 75).
prosperidade(BRAVERMAN,1987, P.96).
O discurso revela que o mercado demanda, como hoje, os melhores trabalhadores, porque o trabalho a realizar é excepcio-
Portanto, para assegurar o princípio do candidato apropria-
nal e, para isso, há um modelo de trabalhador: um herói, valioso
do ao tipo de trabalho, o entrevistador recorria à prática da entre-
pela docilidade; não sendo, é uma questão de treinamento. To-
vista individual, na avaliação das características do trabalhador.
davia, segundo o autor, os registros arqueológicos mostram que
Nas últimas décadas despontou a valorização das pessoas
tal conclamação e os esforços dos funcionários distritais, embo-
no âmbito organizacional. Frente a isso o cargo elemento cen-
ra estabelecessem um método de recrutamento e seleção, não
tral do processo de recrutamento e seleção vem sofrendo altera-
foi suficiente. As contratações foram poucas e não funcionaram
ções, passando o foco das tarefas para as pessoas, priorizando
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o ocupante do cargo, a pessoa designada para desempenhá-lo.
os dados coletados aparecem sob a forma de transcrições de
O incentivo, a motivação e a capacidade de interação das pes-
entrevistas, anotações de campo, dentre outras formas indi-
soas, relacionados à sua participação em decisões na execução
cadas por Godoy (1995 a), visando à análise do ambiente de
das tarefas, são características essenciais (TOLEDO, 1992).
maneira holística, como um processo. A estratégia de estudo
Em vista disso, à prática da entrevista individual são acres-
de caso abordada por Yin (2005) abrange técnica de coleta de
centados testes de personalidade entre outros que buscam
dados e abordagens específicas para sua análise, além de per-
desvendar o intelecto e a personalidade do candidato, por meio
mitir a variação de estudo de casos múltiplos, quando envolve
da análise de suas reações, comparadas a dados catalogados.
dois ou mais sujeitos, duas ou mais instituições. Neste trabalho,
Todavia, tais testes apresentam empecilhos, como tempo, custo
são avaliadas oito empresas prestadoras de serviços de recru-
e necessidade de psicólogos para aplicação. Foi adotado um
tamento e seleção de trabalhadores. Além disso, o estudo de
questionário de personalidade, de prática mais simplificada, que
múltiplos casos pode ser usado para propiciar generalizações
consiste em uma série de perguntas em torno de situações práti-
amplas, baseadas em evidências desses estudos, como indica
cas de vida. Também os saberes escolarizados e outros saberes
Godoy (1995b).
adquiridos na trajetória profissional do indivíduo, são igualmen-
O ramo de recrutamento e seleção de trabalhadores em
te aspectos destacados e exigidos do trabalhador, por meio de
Belo Horizonte, de acordo com o Sistema TeleListas conta com
prova de conhecimentos específicos e apresentação de diplo-
137 prestadores de serviços. A escolha dos casos se deu por
mas (ALMEIDA, 2004).
meio dos seguintes critérios: tempo mínimo de dez anos de
Por outro lado, sob enfoque estratégico o recrutamento e a
atuação no mercado, abrangência nacional e seleção de can-
seleção, busca conciliar os interesses empresariais e individuais.
didatos para todos os níveis, ramos de atuação e porte orga-
Para tanto busca um profissional participativo e fornecedor de
nizacional. Tal escolha se justifica no fato de que no Brasil, a
conhecimentos (ALBUQUERQUE,1987). Nesse contexto, Dutra
temática competência, no meio acadêmico e organizacional,
(2004) acrescenta o conceito espaço ocupacional (conjunto de
passou a ser enfatizada a partir da década de 1990, conforme
atribuições e responsabilidades de uma pessoa que ocupa deter-
os autores Tomasi (2004), Fleury & Fleury (2004), Dutra (2004) e
minada posição). Todavia, o processo de recrutamento e seleção
Ruas (2005). Portanto, a abordagem do tema é, de certa forma,
de trabalhadores, apesar do caráter estratégico, mantém os prin-
recente, e os estudos empíricos voltados para a área de recru-
cípios assentados no cargo e na pessoa certa para o cargo muito
tamento e seleção, efetivados junto aos prestadores de serviços
embora exista a valorização do conhecimento, da experiência e
na área, se encontram em fase inicial e apresentam uma série de
dos instrumentos de avaliação baseados em entrevistas, provas e
lacunas, apontadas pelos pesquisadores.
testes como salientam Dutra (2004) e Almeida ( 2004).
O primeiro critério para escolha das empresas que compo-
Confrontando o objetivo do recrutamento e seleção de traba-
riam o estudo foi o tempo de atuação das empresas prestadoras
lhadores frente aos estudos referendados, cabe ressaltar o pro-
de serviço de recrutamento e seleção, na cidade de Belo Hori-
cesso não deve ser reduzido a uma vaga a ser preenchida, a um
zonte, há pelo menos dez anos. De acordo com dados online
cargo a ser exercido. Porém, como enfatizam os autores pesqui-
do SEBRAE4, 56% das empresas fundadas nos mais diferentes
sados a seleção deve ter o critério base que é a pessoa se identi-
ramos de atuação não chegam a sobreviver por cinco anos. Esse
ficar e ser identificada com a cultura da organização e que possa
fato denota a importância do tempo de permanência do estabele-
agregar valor a ambas. Assim, deve ser evitada a seleção de um
cimento no mercado, como elemento de sua maturidade em sua
profissional considerado ideal por suas habilidades para ocupar
área de atuação. Optou-se, portanto, por empresas prestadoras
um cargo, mas, com pouca “aderência aos valores preconizados
dos citados serviços, que tivessem iniciado suas atividades antes
pela cultura” salientam Dutra (2004), Almeida (2004).
de 1996, uma vez que esta pesquisa teve início no ano de 2006. Partiu-se do pressuposto de que esse tempo, teria sido suficiente
Competência – o entendimento do conceito
para que os serviços de recrutamento e seleção vivenciassem as
nas empresas pesquisadas
transformações no mundo do trabalho e a inserção da temática
Metodologicamente, esta investigação se distingue por um
da competência entre seus critérios de seleção de trabalhadores.
estudo qualitativo de múltiplos casos. A pesquisa qualitativa, se-
Tal escolha constituiu elemento relevante para a análise dos da-
gundo Godoy (1995 a, p.62), caracteriza-se por “ter o ambien-
dos, por se relacionar ao contexto de mudanças no mundo do
te natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
trabalho reportadas pelos entrevistados.
instrumento fundamental”. Além disso, na pesquisa qualitativa,
O segundo critério de escolha objetivou evitar um entendi-
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mento particularizado, regionalizado, setorizado, funcional do
fere à gestão de competências como modismos passageiros:
conceito de competência praticada nos serviços de recrutamen-
“teorias que aparecem por momentos e que são adotadas pelo
to e seleção, de forma a possibilitar o entendimento mais amplo
mundo do trabalho”:
possível do conceito. Assim, considerando que a competência
Hoje tem uma metodologia: as empresas estão tentando
é individual, portanto, demandada em todos os níveis organiza-
trabalhar com gestão por competências. Cada hora muda. An-
cionais (TOMASI, 2004), buscou-se a participação na pesquisa,
tes, você tinha gestão por objetivos; hoje é gestão por compe-
de empresas prestadoras de serviço que selecionassem profis-
tências. Quando se trabalha com empresa, dá para não se pen-
sionais para os mais diferentes níveis e cargos, bem como, com
sar em objetivo? (R&S7)
atuação em organizações de diversos portes.
Gestão por competências são teorias que aparecem por
Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de entrevista
momentos, e acho que esta é mais uma delas, e ela sistematiza
individual, semi-estruturada com os responsáveis pelo proces-
uma forma de funcionar. E quando falamos de metodologia, eu
so de recrutamento e seleção indicados pelas empresas esco-
me lembro que aprendi uma vez: você tem de ter uma metodo-
lhidas num total de oito, abordando os tópicos registrados em
logia, não importa qual. Se você não tem, você não tem história,
roteiro previamente elaborado, com base no referencial teórico
você perde as coisas. (R&S7)
estudado. Durante as entrevistas, foi solicitado aos responden-
Assim, R&S7 associa o modelo de competências a uma
tes que apresentassem fatos e opiniões pessoais, a partir das
moda passageira, uma imposição metodológica, em consonân-
perguntas abertas formuladas. As falas dos entrevistados foram
cia com o entendimento de Le Boterf (2003), Ruas (2005), Fleury
gravadas, o que garantiu a fidedignidade das respostas e facili-
& Fleury (2004) e Dutra (2004) de que o conceito de compe-
tou sua posterior análise e categorização.
tência não passa de mero aspecto burocrático no processo de
Assim, foi possível constatar que, na empresa R&S2, há a
recrutamento e seleção de trabalhadores.
concepção de competência “[...] como algo que pode ser de-
Em síntese, pode-se constatar nos serviços de R&S o en-
senvolvido; junta-se a isso a habilidade que é algo já adquirido
tendimento de competência como saberes mobilizados em face
e a educação; e por último, você põe em prática esses elemen-
de uma situação, alinhando-se com a visão dos citados autores.
tos.”
Foi possível ainda evidenciar que o pessoal incumbido do
Para o representante da empresa R&S1 “[...]competências
R&S de trabalhadores, ao intermediar o processo, influencia e é
são essas habilidades que nós temos, que a empresa precisa, que
influenciado pelas demandas das empresas. No primeiro caso,
eu apresento. A empresa pediu uma série de habilidades, uma sé-
é essa uma oportunidade para que busquem introduzir uma vi-
rie de competências. Essas competências é que vou avaliar.”
são inovadora, voltada para a valorização do desenvolvimento
Na visão da entrevistada R&S5, a competência compreende
do perfil autônomo e empreendedor do trabalhador, abrindo es-
[...]as habilidades que uma pessoa utiliza, suas habilidades interpessoais; são as características das pessoas, que se percebem em toda a vida, tanto na parte interpessoal, quanto no trabalho, em qualquer ambiente. Há três anos começou a se falar em competência. Hoje, eles valorizam muito esta parte interpessoal, lidar com pessoas. (R&S5)
paço para o desenvolvimento de competências, em consonância com a abordagem de Zarifian (2001). Tal percepção pôde ser identificada no representante da Empresa R&S8, cuja base do entendimento da competência, segundo declarou, “provém de cursos, de livros [...], no curso de pós-graduação.” Segundo R&S8, [...]as empresas, quando elas nos passam as competências para a gente avaliar os profissionais, muitas de-
O representante da Empresa R&S8 assim expressa sua percepção:
las já dividem essas competências em comportamento ideal para o cargo, conhecimento ideal e experiência
Pelo conceito que eu pratico disso, [...] a pessoa tem co-
necessária de vivência ideal [...] R&S8
nhecimentos, habilidades e atitudes ou comportamentos frente
[...] as empresas que não têm um RH estruturado, e a
a uma determinada situação. Envolve todos esses. O comporta-
maioria não tem [... ], aí a gente tem de atuar como um
mento, então, está incluído dentro de uma competência... R&S8
consultor, orientando esses empresários pra começar a
Esses juízos revelam o entendimento do conceito de com-
falar sobre competência, mas de uma forma mais téc-
petência ligada à habilidade, em consonância com os estudos
nica, de uma forma que ele compreenda a importância
de Fleury & Fleury (2004).
[...], pois numa descrição de perfil, às vezes, a pessoa
A entrevistada representante da R&S7, por sua vez, se re-
tem muita dificuldade de fazer a descrição de perfil,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 81
identificar o que realmente precisa na empresa [...] e
Na verdade, esses aspectos hoje demandados sempre in-
tudo isso depende do momento em que a empresa
tegraram as características pessoais do trabalhador. Em face de
pode desenvolver os profissionais, ou num momento em
uma realidade que parece pedir um novo perfil de trabalhador,
que ela precisa de uma pessoa pronta (R&S8).
Dadoy (2004) e Tomasi (2004) afirmam que o atual mundo do trabalho precisa apenas reconhecer no profissional as qualida-
O conceito de competência da representante da empresa R&S3, por sua vez, alinha-se com a visão da Escola Americana,
des já existentes, mas até então não valorizadas nem avaliadas. Segundo Tomasi (2004, p.12)
conforme material fornecido pela entrevistada5 sobre a aborda-
[...] os trabalhadores, individualmente ou em pequenos
gem comportamental (behaviorismo cognitivista).
grupos, sempre reclamaram um conceito de competên-
Em resumo, o conceito de competência, no âmbito dos ser-
cia que, no entendimento deles, fizesse justiça às suas
viços de R&S, é definido, em alguns casos, tomando por base
capacidades, aos seus conhecimentos, aos seus sabe-
aquilo que a empresa contratante entende como competência e,
res, que não os homogeneizasse em face das deman-
como tal, o conceito pode vir ligado aos princípios tradicionais
das dos postos de trabalho (TOMASI, 2004, P.12).
do cargo e da pessoa certa para o cargo certo. Observou-se a tendência à adoção do modelo de competências que analisa
De fato, um trabalhador qualificado, ocupando seu posto de
o candidato quanto à mobilização dos saberes escolarizados,
trabalho e fazendo jus a determinado salário, sempre percebeu
experienciais e atitudinais.
diferenças em termos de desempenho, conhecimento, capaci-
Esse entendimento de competência, atrelado à rigidez do
dade, em relação aos demais. Portanto, sempre foi desejo dos
cargo, choca-se com premissas básicas do conceito de com-
trabalhadores serem valorizados, avaliados em virtude dessas
petência, quais sejam, a autonomia e a responsabilidade, em
diferenças. Nas convenções coletivas, os patrões mantinham a
face de uma situação de evento. Isso configura mudanças bu-
concepção de trabalhador vinculada ao modelo do posto, cargo
rocráticas nos procedimentos de seleção de pessoas, como
e saberes, sem levar em consideração as qualidades do traba-
afirmam Fleury & Fleury (2004) e Dutra (2004), ou seja, refere-
lhador, “elementos que o distingue e que hoje, reconhecidamen-
se à atribuição de roupagem nova a velhos conceitos. Logo, a
te, agrega valor à produção.” Por essa razão não mudavam a
pesquisa evidenciou o uso de práticas renovadas no processo
forma de negociação coletiva.
de recrutamento e seleção; práticas que buscam capacidades,
Nessa ótica, diferentemente de Zarifian (2001, 2003), que as-
qualidades do trabalhador, mas sustentadas em velhos princí-
socia a competência à ruptura do modelo de produção taylorista-
pios. Essa exigência gera a necessidade de novos referenciais
fordista e à demanda do patrão, compreende-se que a passa-
para a avaliação do trabalhador.
gem do modelo de avaliação do trabalhador, da qualificação para
Constatou-se nas entrevistas, por meio da exposição do
a competência, é uma demanda do trabalhador, num contexto
candidato a uma situação problema, que o processo de recruta-
neo-taylorista, caracterizado pela renovação, pelo abrandamento
mento e seleção de trabalhadores na atualidade recorre ao con-
e não pela ruptura6 com o modelo taylorista-fordista, em face da
ceito de competência, o qual engloba três saberes (acadêmico,
inserção heterogênea do modelo de produção flexível.
experiencial e atitudinal). O saber escolarizado, atualizado e mobilizado é fundamental. A trajetória profissional é de responsa-
Considerações finais
bilidade do trabalhador, sendo preferencialmente marcada por
Este estudo buscou compreender o conceito de competên-
curtos períodos de tempo na função ou na empresa. O saber
cia praticado nos serviços de recrutamento e seleção de traba-
experiencial, por sua vez, diz respeito ao saber-fazer. O saber
lhadores em Belo Horizonte frente à demanda por profissionais
atitudinal, igualmente relevante, sempre foi demandado, porém,
competentes. Para isso foram entrevistados oito representantes
no passado, de maneira menos explícita; na atualidade, é con-
de agências de emprego. As empresas escolhidas deveriam es-
siderado essencial, já que o desenvolvimento organizacional
tar operando há mais de cinco anos.
pressupõe o desenvolvimento das pessoas.
A revisão teórica confrontada à pesquisa de campo possi-
Evidenciou-se também que, ao avaliar os saberes preconi-
bilitou concluir que o perfil profissional competente compreende
zados pela qualificação, além dos saberes atitudinais, os servi-
a mobilização de saberes escolarizados acrescido de experi-
ços de R&S atendem aos ditames atuais do mundo do trabalho;
ências pessoais que contribuam para a vida profissional e dos
contudo, não se verificou o rompimento com o princípio do car-
aspectos atitudinais, estes considerados difíceis de serem ava-
go, estabelecido no modelo de produção taylorista-fordista.
liados, uma vez que dizem respeito à subjetividade do indivíduo.
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A análise e interpretação dos dados permitiram constatar que o processo de recrutamento e seleção, na atualidade,
mento e seleção tornam-se consultores, alertando as empresas quanto à conveniência dessa abordagem.
renovou-se, devido às transformações na sociedade em nível
De modo geral, observou-se que o discurso dos entrevis-
mundial, afetando o mundo do trabalho. Na análise das falas
tados denota o não-rompimento com o modelo tradicional de
dos entrevistados, constatou-se que a qualificação, (verificada
gerenciamento de trabalhadores. Muito embora esteja presente
por meio do Curriculum Vitae), é insuficiente para captar as ca-
no processo seletivo o conceito de competência, os serviços de
pacidades do trabalhador atualmente avaliadas, razão pela qual
recrutamento e seleção e as empresas contratantes mantêm o
é adotado o modelo da competência. Os dados revelaram a as-
princípio do cargo e da pessoa certa para o cargo certo acres-
sociação da competência com o cargo (prescrição de tarefas)
cido fortemente pelo componente da cultura organizacional.
disponibilizado pela empresa contratante; o cargo, por sua vez,
Assim, a dimensão das atitudes manifestadas nos comporta-
na moderna concepção de carreira, não é mais visto como uma
mentos confere significado e valor ao trabalho humano de tal
posição estável e de ocupação duradoura. A carreira é hoje as-
forma que o saber-ser é essencial no processo de recrutamento
sociada a experiências diversificadas e de curtos períodos em
e seleção de trabalhadores.
um cargo, muitas vezes, em diversas empresas, e tais elementos indicam a capacidade de mudança, adaptação e flexibilida-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de do trabalhador.
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As práticas dos serviços de R&S, para identificarem as demandas dos empresários, centram-se inicialmente na visita à empresa, na observação do ambiente e na conversa informal com os trabalhadores e o superior hierárquico, com vistas a identificar a cultura organizacional e a construção do perfil profissional de-
ALMEIDA, Walnice. Captação e seleção de talentos: repensando a teoria e a prática. São Paulo: Atlas, 2004.
mandado. A captação dos candidatos é feita por meio da publicação de anúncios em jornais, ou em sítios eletrônicos corporativos dos prestadores de serviços de recrutamento e seleção. A análise do candidato, com vistas a considerá-lo com perfil competente engloba entrevistas, testes de conhecimento e inventários, visando a identificar os saberes relativos à profissão, à experiência e às características pessoais ligadas ao exercício do cargo. Assim, muito embora os entrevistados tenham se referido à competência e recorrido a práticas que visam a atestá-la e reconhecê-la no candidato, o entendimento do conceito de competência ainda se vincula aos princípios do cargo e da escolha da pessoa certa para o cargo certo. Os aspectos da cultura da organização e do candidato são pontos relevantes observados no cruzamento entre o perfil demandado pelas empresas contratantes e o perfil ofertado pelos candidatos às vagas a serem preenchidas. Quanto à análise do perfil profissional competente, de forma generalizada, os serviços de R&S participantes da pesquisa avaliam os saberes adquiridos na trajetória escolar e profissional
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dos candidatos às vagas. Para isso, recorrem à entrevista e dinâmica de grupo, a exposição de situações-problema visando à análise do saber comportamental do candidato. Alguns serviços de recrutamento e seleção recorrem a um conceito de competência originado de estudos acadêmicos e do entendimento das empresas contratantes quanto às competências desejadas. Pôde-se constatar que há empresas contratantes que não fazem
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TOMASI, A . Da qualificação à competência: pensando o século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004 VILELLA, Túlio in <www.educacão.uol.com.br/historia/ult690u59.jtm> Acesso em 10/07/2008. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi. 3. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. ZARIFIAN, P. Objetivo Competência: por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001. _________. O modelo da competência: trajetória histórica, desafios atuais e propostas. Tradução de Eric Roland René Heneaul. São Paulo : Editora Senac, 2003. _________.Les conflits temporels et les divergences stratégiques à l’épreuve de la gestion par les compétences. Communication pour lê congrès de l’AGRH 2005. Disponível < http://www.philippe.zarifian/ page127> acesso em 20/03/2007.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Mestre em Educação Tecnológica, especialista em Metodologia do Ensino Superior e Educação Tecnológica, Bacharel em Administração de Empresas, Docente na Escola de Educação Profissional Newton Paiva e na Faculdade de Tecnologia do SENAI – FATEC BH 2 Possui mais de 30 anos de experiência na área de headhunting; foi eleito pela Revista Business Week, de 25/03/2008, o 13o em uma lista de 50 caça-talentos mais influentes do mundo. Trabalha numa prestadora de serviços de recrutamento e seleção com sede em Zurique, Suíça, fundada em 1964, atuante em 37 países.
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REPORTAGEM: um gênero de mil faces Raquel A. Soares Reis Franco 1
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e modificam (...) (Clarice Lispector, 1971). RESUMO: Este artigo insere-se no campo Semiolinguística e objetiva analisar a reportagem intitulada Sistema de Formação Não Ferirá Autonomia, publicada no site do Ministério da Educação, no dia 11 de novembro, de autoria de Letícia Tancredi. Na primeira parte do texto, sintetizamos a reportagem em análise. Na segunda parte, apresentamos, sucintamente, a discussão em torno da Semiolinguística. Na terceira parte, realizamos a análise da reportagem à luz da Semiolinguística e por último, apontamos algumas considerações em que se evidenciam a importância desta perspectiva teórica para o exame dos mais diversos textos relacionados a uma situação discursiva, e, especialmente, do discurso midiático. PALAVRAS-CHAVE: Análise do Discurso; Análise Semiolinguística; Gênero Reportagem.
1. INTRODUÇÃO
Não se trata apenas de analisar a reportagem e sim exami-
Vive-se uma conjuntura histórica permeada por cenários
nar a enunciação2 como um correlato de certa posição sócio-his-
complexos, especialmente no que concerne às transforma-
tórica. Desta forma, objetiva-se observar neste texto um conjunto
ções no mundo do trabalho. Entre os processos sociais e as
de enunciados3 que constituem narrativas acerca da necessida-
polêmicas contemporâneas destacam-se, atualmente, aquelas
de de oferecer uma formação continuada aos docentes.
envolvendo a problemática da formação docente. Deste modo,
A análise do discurso (AD) segundo Maingueneau (1997)
o texto analisado não pode ser entendido fora da conjuntura
exige uma “leitura verdadeira”. E o analista do discurso tem
histórica, cultural e discursiva. O cenário político no qual se lo-
um papel importante que é de contribuir para a hermenêutica4
caliza a reportagem é marcado por dispersões e continuidades,
contemporânea. Sendo o desafio crucial da AD é de construir
mas especialmente pela recorrência do discurso de formação
interpretações, sem jamais neutralizá-las, seja através de uma
do professor.
minúcia qualquer de um discurso sobre o discurso, seja no
A reportagem trata do Sistema Nacional Público de For-
espaço lógico estabilizado compreensão universal. Opta-se,
mação de Professores. Teve como objetivo, principal, divulgar
neste texto, por uma análise semiolinguística da reportagem:
acerca da minuta de decreto que esteve aberta à consulta pú-
Sistema de formação não ferirá autonomia (anexo I); apon-
blica até 24 de novembro de 2008. Segundo Tancredi, jornalista
tando as características do gênero, a tipologia, os aspectos
do Ministério da Educação (MEC), a sondagem se justifica na
sintáticos e semânticos, os sujeitos/ instâncias, o espaço das
tentativa de superação, “do
estratégias da instância de produção, as estratégias de capta-
formato de ‘balcão’ no repasse de recursos extras às insti-
ção, as estratégias de credibilidade, a estrutura da reportagem e a finalidade do ato de comunicação.
tuições de educação superior. E, também, pela possibilidade de envio sugestões para o aperfeiçoamento do texto. Os discursos são práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam, como afirma Foucault apud Maingueneau (1997).
2- ANÁLISE SEMIOLINGÜÍSTICA DO DISCURSO Charaudeau (2005), ao justificar o aspecto semiolinguístico da análise do discurso, aponta-nos alguns aspectos va-
Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre
lorizados por esta perspectiva teórica, quais sejam: dimen-
determinadas no tempo e no espaço que definiram em
são cognitiva, que pressupõe a percepção e a categorização
uma época dada, e para uma área social, econômica,
do mundo; uma dimensão social e psicossocial, que abran-
geográfica ou linguística dada, as condições de exer-
ge o valor de troca dos signos e valores de influências dos
cício da função enunciativa. (FOUCAULT apud MAIN-
fatos da linguagem e uma dimensão semiótica, que, num
GUENEAU, 1997, p.14).
sentido amplo, relaciona a construção dos sentidos com a construção das formas, ou seja, como se realiza a semantiPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 85
e, não raro, esse processo registra suas marcas em um
zação das formas e como se faz a semiotização do sentido.
texto, materialização possível de um ato de linguagem.
Conforme Sobreira (2005), a escolha da palavra semiolin-
(MORATO, 2009, p.1).
güística explica-se pelo fato que semio-, de “semiosis”, evoca o fato de que a construção dos sentidos e sua configuração se fazem através de uma relação forma sentido (em diferentes
Evidencia-se, então, que a semiolinguística toma o sujeito
sistemas semiológicos). Assim sendo, a teoria postula que a
como responsável por uma intenção de influenciar alguém, uma
semiotização do mundo obedece a dois processos: O primeiro
forma de ação que se manifesta pelo uso da linguagem na me-
é o processo de transformação, que transforma um “mundo a
dida em que intencionalidade e persuasão são traços presentes
significar” em “mundo significado”, sob a atitude de um sujeito
na atividade discursiva do sujeito que se constitui como comu-
falante. O segundo é o processo de transação, que torna este
nicante.
“mundo significado” um objeto de troca, na interação com outro
O sujeito comunicante (Eu c) mobiliza na encenação
sujeito, tomado como destinatário deste objeto.
do dizer, as intenções que ajudam a construir hipóteses
Percebe-se, então, que este duplo processo de semiotiza-
de saber sobre o interactante que é posto como sujeito
ção é o fundamento do contrato de comunicação que é a con-
interpretante (Tu i). Uma vez mobilizado esse mecanis-
dição para que os parceiros de um ato de linguagem se com-
mo, uma mise en scène permite ao sujeito comunicante
preendam minimamente e possam interagir na construção do
converter-se em sujeito enunciador. Há uma passagem,
sentido, que é a meta essencial de qualquer ato de comunica-
portanto, do fazer para o dizer, ou do simplesmente di-
ção.
zer para o efetivo enunciar. Do mesmo modo, o sujeito Para Sobreira (2005), “o contrato de comunicação tem
destinatário, representado pelo TU d é o resultado da
como base o quadro situacional controlado pelo processo de
conversão de um sujeito interpretante em um ser situado
transação. Ele está intimamente relacionado com o princípio
em um universo de interação discursiva. Também esse
de alteridade, que constitui o fundamento do aspecto contratu-
receptor do discurso procede na passagem de um fazer
al do ato de comunicação” na medida em que implica o reco-
para um receber o enunciado. (MORATO, 2009, p.3).
nhecimento e uma legitimação recíproca entre os parceiros. Já o princípio da pertinência confirma o aspecto contratual, pois
Nota-se pelo exposto que o ato de linguagem é comanda-
“envolve o reconhecimento do universo de referência, ou seja,
do por “circunstâncias sociais, sendo os parceiros do ato co-
o compartilhamento dos saberes implicados do ato de lingua-
municativo definidos por uma identidade, psicológica ou social,
gem. Assim, para o estabelecimento do contrato de comunica-
constituindo-se como sujeito Enunciador e Destinatário, seres
ção, é indispensável precisar alguns critérios de construção do
de natureza discursiva, comandados pelo sujeito Comunicante
texto”(SOBREIRA, 2005).
e Interpretante”.
Na mesma direção de Sobreira, Morato (2009) afirma que a Análise Semiolinguística do Discurso metaforiza a coletividade
3- ANÁLISES SEMIOLINGUÍSTICA DA REPORTAGEM
social como um teatro no qual são encenadas, pela linguagem e na linguagem, as mais diversas relações intersubjetivas. Nesta
3.1- GÊNERO
perspectiva, a sociedade é marcada pela presença de campos
Segundo Marcushi (2005), gêneros textuais, são fenômenos
enunciativos nos quais ocorrem representações, de cunho lin-
históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social.
guageiro e discursivo, dos papéis sociais exercidos pelos par-
Fruto de trabalho coletivo. Os gêneros contribuem para ordenar
ceiros da comunicação.
estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São enti-
O discurso se relaciona com a encenação de um ato de
dades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis
linguagem, o qual vem a ser uma espécie de represen-
em qualquer situação comunicativa. Quanto ao surgimento dos
tação cenográfica de um dizer social, de um pronuncia-
gêneros, o autor os separa em três fases. Primeiro: povos de
mento contextualizado por fatores de ordem psicosso-
cultura essencialmente oral que pouco desenvolveram os gêne-
cial e linguageira: um jogo cênico discursivo amparado
ros. Segundo: após a invenção da escrita alfabética por volta do
pelo circuito do fazer psicossocial, que é o lugar situ-
século VII A.C, multiplicaram- se os gêneros, surgindo os típicos
acional da enunciação, e o circuito da organização do
da escrita. E por último: a expansão dos gêneros com a expan-
dizer, o lugar do discurso. O discurso, por esse prisma,
são do florescimento cultural da imprensa. Em síntese, gêneros
é o lugar onde o sujeito encena uma dada significação
textuais são uma expressão como uma noção propositalmente
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vaga para referir os textos materializados que encontramos em
Diante destas categorias, faz-se necessário conceituar o tipo em
nossa vida diária e que apresentam características sócio-comu-
questão:
nicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, esti-
Este texto de enunciado textual tem um verbo de mu-
lo e composição características.
dança no passado, um circunstancial de tempo e lugar.
Embora, Bakhtin não tenha teorizado sobre os gêneros
Por sua referência temporal e local, este enunciado é
textuais, muito contribuiu para o campo. As principais caracte-
designado como enunciado indicativo de ação. (MAR-
rísticas bakhtinianas de gênero são: tipo relativamente estável
CUSHI, 2005, p. 28).
5
de enunciados presentes em cada esfera de troca; possui uma forma de composição, num plano composicional, distingue-se
Ao conceituar a tipologia, verifica-se que este gênero tem
pelo conteúdo temático e pelo estilo; trata-se de entidades es-
traços de outros tipos textuais. Isto significa que este texto con-
colhidas tendo em vista as esferas de necessidade temática, o
tém elementos do tipo descritivo e do dissertativo.
conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor.(Cf. KOCH, 2002).
3.3- ASPECTOS SINTÁTICOS
Em concordância com Koch (2002), Bazerman (2006, p.
A reportagem, em questão, é um texto constituído de um
29) afirma que os gêneros textuais são “formas de comunica-
texto verbal (título e texto). Trabalha com enfoque a interpretação
ção reconhecíveis e autoreforçadoras”. Este mesmo autor pro-
e converte fatos em assunto. É caracterizada por períodos sim-
põe vários instrumentos conceituais e analíticos para o exame
ples e compostos. Na composição dos períodos compostos há
do trabalho realizado pelo texto na sociedade: fornece os meios
vários elementos linguísticos coesivos. Faz uso do padrão culto
para identificar as condições sob as quais esse trabalho se
da língua portuguesa.
realiza, possibilita observar a regularidade com que os textos executam tarefas reconhecidamente similares, e para ver como
3.4- ASPECTOS SEMÂNTICOS
certas profissões situações e organizações sociais podem estar
A peça analisada embora não se caracterize pelo aspecto
associadas a um número limitado de tipos de textos; apresenta
polissêmico, apresenta um estereótipo, isto é, unidade sintáti-
métodos para analisar como produção, circulação e uso orde-
ca já consagrada pelo uso, o que chamamos de frases clichê.
nados desses textos constituem, em parte, a própria atividade e
Observa-se um estereótipo na seguinte frase da reportagem:
organização dos grupos sociais.
“Pretende superar o formato de “balcão” no repasse de
Enquanto gênero textual, o termo reportagem, segundo o
recursos extras às instituições de educação superior.” Es-
dicionário Aurélio Eletrônico, tem a sua origem do francês re-
tereótipos são, portanto, fórmulas que, consagradas pelo uso,
portage. E, significa atividade jornalística que compreende a co-
funcionam como verdades absolutas, impedindo, assim, qual-
bertura de um acontecimento, a análise e a preparação do texto
quer questionamento do interlocutor.
final a ser entregue à redação. Pela origem da palavra e pelo
Muitas vezes, esses textos familiares sofrem alterações,
significado da mesma, corrobora-se com Bazerman (2006, p.21)
causando por isso estranheza. O resultado do emprego dessa
quando diz que “Temos gêneros [no caso reportagem] altamen-
estratégia discursiva não poderia ser outro: chamam ainda mais
te tipificados, de documentos e estruturas sociais altamente ti-
a atenção. Outro aspecto semântico observado na reportagem é
pificadas nas quais esses documentos criam fatos sociais que
uso da figura de linguagem: “O modelo não fere a autonomia
afetam as ações, direitos e deveres das pessoas.”
das universidades...” O emprego da prosopopeia/ personifi-
Compreender, então, o funcionamento dos gêneros repor-
cação torna mais expressivo e, portanto, mais atraente, o que
tagem favorece no diagnóstico e na redefinição de sistemas de
faz com que seja usado de forma marcante no texto jornalístico.
atividades comunicativas em uma tentativa de determinar se um texto é utilizado em certos momentos, é redundante ou enganoso.
3.5- SUJEITOS/ INSTÂNCIAS Para Charaudeau (2001), um enunciado qualquer seria de fato produzido e lido por duas pessoas, que são, segundo o Eucomunicante e o Tu-interpretante. Entretanto, quando o enun-
3.2- TIPOLOGIA TEXTUAL O gênero reportagem se increve no tipo textual narrativo. De
ciador fala a alguém, ele tem em mente a figura do destinatário
acordo, com Marcushi (2005), tipo textual é um conjunto de tra-
daquela mensagem. Essa “pessoa hipotética” seria o Tu-des-
ços que forma uma sequencia e não um texto e suas categorias
tinatário – que é a imagem idealizada pelo Eu-comunicante de
são: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
seu enunciatário. Por outro lado, o Eu-comunicante procura
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 87
passar para o Tu-interpretante uma imagem de si mesmo, que poderá ser ou não aceita pelo Tu-interpretante. Essa imagem é denominada Eu-enunciador, que também é uma figura hipoté-
- Texto: exposição do fato apresentado no título, apresentando provas que justifiquem o título. - Assinatura: apresentação do nome do autor.
tica na enunciação. Sendo assim, essas figuras presentes na enunciação são as instâncias de produção: - Eu- comunicante e Tu-interpretante – pessoas reais, são o produtor e o destinatário do enunciado; · - Eu-enunciador e Tu-destinatário – imagens que o enunciador idealiza de si mesmo e de seu enunciatário ao produzir
3.9- FINALIDADES DO ATO DE COMUNICAÇÃO O Ministério da Educação objetiva que a sociedade tenha acesso a minuta do decreto e que enviem sugestões de aperfeiçoamento ao texto. Desta forma, a reportagem foi o meio utilizado para este fim.
o enunciado. No texto, em questão, a instância de produção é a jornalista
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Letícia Tancredi e a instância de recepção é o leitor. A situação
A semiolinguística mostra-se como um importante instru-
de comunicação é monologal e o canal utilizado é o gráfico. Em
mental teórico para o exame dos mais diversos textos relacio-
função da situação de comunicação e do meio utilizado para a
nados a uma situação discursiva, e, especialmente, do discurso
divulgação do texto- a internet será considerada a instância (de
midiático, conforme revelam as páginas anteriores. Analisar dis-
produção e de recepção).
cursivamente a reportagem possibilita-nos refletir sobre os dis-
6
cursos que envolvem a questão da formação docente no Brasil. 3.6- ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO
Além disto, permite evidenciar que “(...) o discurso ultrapassa
No contrato de comunicação midiática, a instância de pro-
os códigos de manifestação linguageira na medida em que é
dução procura atingir o maior número de leitores; buscando
o lugar da encenação da significação, sendo que pode utilizar,
despertar neles o desejo de se informar. Outro aspecto de cap-
conforme seus fins, um ou vários códigos semiológicos”. (CHA-
tação diz respeito aos fatos pelo qual a instância de produção
RAUDEAU, 2001, p. 25). “Nesse sentido, comunicar, informar,
lida; isto faz com que a instância de recepção se interessa sobre
tudo é escolha.” (CHARAUDEAU, 2007, p. 39).
a temática.
A análise discursiva feita abrange fenômenos da linguagem sob dois aspectos: um externo e outro interno ao universo da
3.7- ESTRATÉGIAS DE CREDIBILIDADE
linguagem. De um lado, a lógica das ações e influências sociais;
Segundo Coura Sobrinho (2003), a credibilidade remete à
de outro, a construção do sentido da linguagem e a construção
possibilidade de comprovação de que o informante está dizen-
dos textos. Assim, encontramo-nos num cruzamento de situa-
do a verdade. Assim, na peça em questão, o sujeito informante
ções que, em conjunto, nos leva a uma dimensão psicosocio-
fornece alguns procedimentos para aferir a autenticidade das
linguageira do discurso, vinculada à construção do processo de
informações:
semiotização do mundo.
- Local pelo qual o texto é veiculado: Portal do Ministério da Educação;
5- REFERÊNCIAS
- Opinião do ministro da educação sobre o sistema de formação de professores e o seu depoimento; - A reportagem foi concebida a partir de um pronunciamento do Ministro da Educação em um Seminário de formação de professores e estágio, no âmbito do Fórum Brasileiro de PróReitores de Graduação (FORGRAD); - Disponibilização de um e-mail para o envio das propostas ao Conselho Técnico Científico da Educação Básica da CAPES. 3.8- ESTRUTURA DA REPORTAGEM A reportagem, de modo geral, tem uma estrutura própria.
BAZERMAN, Charles. Gêneros Textuais, Tipificação e Interação. São Paulo: Cortez, 2006. COURA SOBRINHO, Jerônimo. Análise do discurso em perspectivas. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2003. KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Contexto, 2002. CHARAUDEAU, Patrick. Uma Teoria dos Sujeitos da Linguagem. In: MARI, H. et al.(orgs.). Análise do Discurso: Fundamentos e Práticas. Belo Horizonte:NAD/FALE/UFMG, 2001.
Assim, a reportagem em questão não foge a regra. -Título: frase curta por meio da qual se apresenta ao interlocutor um fato ou uma situação.
____________. MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. Tradução Fabiana Komesu (et al.) São Paulo: Contexto, 2004.
88 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
“O modelo não fere a autonomia das universidades, até por____________. Uma análise semiolinguística do texto e do discurso. in:Da língua ao discurso: reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário eletrônico Aurélio da língua portuguesa. Versão 5. 11ª ed. Curitiba: Positivo Informática Ltda., 2004. FIORIN. José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Editora Ática,2006. LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro:Rocco, 1998.
que a adesão é voluntária. O objetivo é disciplinar o acesso aos recursos adicionais para a formação de professores”, destacou Haddad. O ministro citou o exemplo dos repasses do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) vinculado aos Planos de Ações Articuladas (PAR) dos estados e municípios. “Ao atrelar o recebimento de recursos extras aos planos anuais, multidimensionais, baseados em diagnósticos da educação de cada localidade, principalmente as de menor IDEB, as oportunidades estão sendo equalizadas”. Na visão de Haddad, com a formação do magistério não poderia ser diferente, já que é a primeira vez que a União aporta recursos para esse setor, nesse patamar. Segundo ele, a cria-
MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso. Campinas:Pontes e Editora da UNICAMP, 1997. _____________. Análise de textos de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2008.
ção do sistema nacional se tornou possível graças à alteração na lei da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que passou a ser responsável pela formação de professores, e à própria instituição do Plano de Desenvolvimento daEducação (PDE).
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro:Lucerna,2005. MORATO, Ilson Ferreira. Homem, Acadêmico, Poeta e Pastor: Uma Análise Semiolinguística da Constituição dos Sujeitos na Obra de Cláudio Manoel da Costa. Disponível em: http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/ l8_3.pdf. Acessado em: 12 dez.2011.
“O que tem que ficar claro é a não-obrigatoriedade da participação das instituições no sistema. As universidades que desejam fazer parte, sejam federais ou estaduais, devem aderir e terão liberdade para forjar seus planos de formação”, ressaltou o ministro. Com a implantação do sistema, o MEC pretende garantir um padrão de qualidade para os cursos de formação e adaptar os currículos desses cursos à realidade da sala de aula.
SOBREIRA, Francisco de Assis Moura. Uma Análise Semiolinguística do Discurso Poético. Disponível em: www.filologia.org.br/viiifelin/43.htm. Acessado em: 12 dez.2011. TANCREDI, Letícia. Sistema de formação não ferirá autonomia. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&task=view&id=11601. Acessado em 18 de novembro de 2008.
A meta é estimular o ingresso e a permanência na carreira do magistério, aumentar o número de professores com formação superior em instituição pública e equalizar as oportunidades de formação em todo o país. A minuta do decreto que vai instituir o sistema está aberta a consulta pública. Até 24 de novembro, a sociedade tem acesso ao documento, no portal do Ministério da Educação, e
ANEXO I
pode enviar sugestões de aperfeiçoamento do texto para o endereço eletrônico: formacao.magisterio@capes.gov.br Este
Sistema de formação não ferirá autonomia
endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que
11/11/2008 16h42min: 15
o Javascript terá de estar ativado para poder visualizar o endereço de email. As propostas serão examinadas pelo Conselho
O decreto que institui o Sistema Nacional Público de Formação de Professores, aberto a consulta pública até 24 de no-
Técnico-Científicoda Educação Básica da Capes, que pode dar nova redação à minuta.
vembro, pretende superar o formato de “balcão” no repasse de recursos extras às instituições de educação superior. Critérios
Letícia Tancredi
baseados no regime de colaboração nortearão a distribuição
11/11/08
dos recursos às universidades que aderirem ao sistema. A expli-
Disponível
em:
http://portal.mec.gov.br/index.
cação foi dada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad,
php?option=com_content&task=view&id=11601 Acessado em
nesta terça-feira, 11, no seminário sobre formação de professo-
18 de novembro de 2008.
res e estágio, no âmbito do Fórum Brasileiro de Pró-Reitores de Graduação (FORGRAD). PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 89
NOTAS DE RODAPÉ 1. Professora Adjunta I do Centro Universitário Newton Paiva, mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG e doutoranda em Educação pela FAE/UFMG. 2. A enunciação constitui o pivô da relação entre a língua e o mundo: por um lado, permite representar fatos no enunciado, mas, por outro, constitui por si mesma um fato, um acontecimento único definido no tempo e no espaço. Faz-se geralmente referência à definição de Benveniste, que toma a enunciação como “a colocação em funcionamento da língua por um ato individual de utilização”, que o autor opõe a enunciado, o ato distinguindo-se de seu produto. (CHARAUDEAU e MAINGUENEAU, 2006, p. 193). 3. Para Maingueneau (2008) enunciado é a marca verbal do acontecimento que é a enunciação. É uma unidade elementar da comunicação verbal, uma sequencia dotada de sentido e sintaticamente completa. 4. De acordo com o dicionário Aurélio Eletrônico, hermenêutica significa: Interpretação do sentido das palavras; arte de interpretar leis. 5. Bakhtin interessava-se menos pela propriedade formal dos gêneros do que as maneiras como eles se constituíam. (FIORIN, 2006). 6. Para Machado (2001) indica parceiros da comunicação que estão fisicamente falando – in absentia. Entram então nesse caso: todos os textos escritos (cartas, editoriais, livros...) ou impressos (publicidade, desenhos...) assim como também a comunicação via televisão ou internet (excetuando-se o caso bem específico, nesta última dos chats).
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A MONITORAÇÃO DOS FATORES AMBIENTAIS E SEUS REFLEXOS NO AMBIENTE DE MARKETING DAS ORGANIZAÇÕES Aécio Antônio de Oliveira1
RESUMO: Faz-se neste paper uma leitura das premissas que envolvem o contexto sócio econômico ambiental nas organizações, amparadas por conceitos e elementos de estudo que impulsionam as empresas à constante busca pela informação. A monitoração ambiental tem sido tema de discussão no cenário empresarial, particularmente no ambiente de marketing das organizações, entretanto, ainda pouco empregada e difundida frente à realidade organizacional. Os agentes de mudança compreendidos na proposta de monitoração ambiental são classificados como fatores determinantes do processo decisório. Contudo, cabe externar a sua importância e o reflexo desses elementos gestores frente ao processo de mudança, bem como, sua relevância para tomada de decisão nas organizações. PALAVRAS-CHAVE: Monitoração Ambiental; Mudança; Ambiente Organizacional.
Introdução
e direcionamentos apreciados como tendenciosos. Um plane-
A palavra monitoração vem ganhando cada vez mais espa-
jamento estratégico propõe perguntas básicas e, como pre-
ço no ambiente corporativo que envolve organizações de toda
missa, faz-se necessário saber o que a empresa está fazendo
natureza, sejam públicas ou privadas. Essas organizações in-
neste momento, o que está acontecendo no ambiente que a
vestem em ferramentas de gestão e se orientam para o mer-
empresa se insere e, o que ela deveria estar fazendo, ou seja,
cado, amparadas por uma constante demanda de informação
para onde está se movendo.
e, em especial, de idéias que levantam questões atualizadas sobre o atual cenário competitivo composto por fortes fatores socioeconômicos.
Hooley; Saunders & Piercy (2005, p. 69), abordam sobre o ambiente mutável dos mercados, no qual, descrevem: O principal candidato é uma mudança na natureza
A conscientização sobre os efeitos originados pelos fatores
da mudança: de uma mudança contínua (embora in-
que regem o ambiente em que o marketing opera está sempre
cremental) para uma mudança descontínua, (porque)
mudando, tornando de suma importância para a construção de
quando a mudança descontínua torna imprevisíveis
uma sólida estratégia a constante monitoração dos atores que
as exigências dos clientes, a alavancagem estratégica
alimentam esse círculo gestor de informação.
muda de eficiência para flexibilidade e capacidade de
Uma das mais claras definições de monitoração ambiental
reação – e para investimentos que capacitem a empre-
2
é descrita por Lester e Waters (apud CHOO, 1995, p. 85) ao
sa a pressentir precocemente uma mudança não pre-
afirmarem que é “um processo gerencial que utiliza de informa-
vista e, assim, preparar uma resposta inovadora com
ções ambientais na tomada de decisão”. Este processo com-
mais rapidez.
preende três atividades: a) a coleta de informações a respeito do ambiente externo da organização;
Desse modo, a monitoração ambiental tem sido destacada e apontada na literatura acadêmica como elemento indispen-
b) a análise e interpretação desta informação e,
sável para qualquer tipo de processo de gestão no ambiente
c) a utilização desta inteligência analisada no processo de-
mercadológico das organizações, especialmente, para a ela-
cisório estratégico.
boração da estratégia empresarial. (HENRIQUE, 2004).
Presentemente, o verbo mudar tem se tornado elemento
A celeridade como surge uma ocorrência ambiental, seja
de estudo e análise contínua nas organizações, o que implica
está divisora ou multiplicadora, muitas vezes, decorrente de
muitas vezes em tomadas de decisão movidas por influências
especulações no macro ambiente de negócios, pode represen-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 91
tar um incremento ou uma desaceleração no cenário compe-
micro ambientais. Desse modo, o micro ambiente consiste de
titivo que circulam as empresas, independente do setor ou da
forças próximas à empresa, em que, afetam sua capacidade de
natureza de sua atividade, desencadeando assim, uma reação
atender seus clientes, ou seja, são seus parceiros, fornecedores,
multiplicadora de ruídos que refletem e impactam nas atividades
concorrentes, intermediários e os públicos. Já o macro ambien-
comerciais e produtivas. Assim sendo, uma leitura antecipada
te consiste em forças sociais maiores, atualmente inseridas em
desses fatores ambientais, amparada por uma constante moni-
um contexto universal de negócios. São forças que afetam todo
toração ambiental nos negócios, pode se tornar uma importante
o composto macro ambiental em torno da organização. Essas
ferramenta de gestão, bem como de aprendizagem organizacio-
forças podem ser danosas e prejudiciais ao ambiente de negó-
nal para o direcionamento correto das informações e, por con-
cios da empresa se mal monitoradas e assistidas. Forças estas,
seguinte, para tomada de decisão.
representadas pelo ambiente econômico, natural, tecnológico, político, demográfico e cultural.
Os fatores ambientais na área de marketing das empresas Os fatores ambientais, em especial os macro ambientais,
Identificação das principais variáveis ambientais
que atuam como forças externas ao marketing são atores que
Entre as forças ambientais apresentadas e já descritas, nem
representam e afetam a capacidade financeira, comercial e pro-
todas podem, em dado momento, afetar uma organização. O
dutiva das organizações. No entanto, essas variáveis internas
primeiro passo nesse tipo de análise consiste na identificação
são controláveis e administradas considerando às mudanças no
das principais variáveis ambientais e seus respectivos indica-
cenário socioeconômico. O ambiente de marketing oferece tan-
dores, como o nível de inflação (política econômica), a renda
to oportunidades como ameaças, e as empresas consideradas
discricionária (economia), as inovações (tecnologia), a popula-
inovadoras sabem que é fundamental para a sobrevivência a ob-
ção economicamente ativa (demografia), a estabilidade interna
servação e adaptação as constantes mudanças nesse ambiente
(política), a participação social (cultura) e outras mais, que irão
de negócios.
impactar de forma positiva ou negativamente a organização.
Os profissionais de marketing atuante nessas organizações
(TAVARES, 2005).
são pessoas responsáveis por esta monitoração, que envolve
Na identificação de variáveis ambientais, a organização
informação e identificação de elementos de mudança que circu-
pode categorizá-las segundo quatro dimensões: complexidade,
lam no arcabouço externo das variáveis ambientais.
velocidade, duração e incerteza. Conforme Tavares (2005), es-
Na visão analítica desse processo, é importante destacar o trabalho em foco, atentando-se para o conjunto de variáveis externas e internas: não controláveis e controláveis.
sas dimensões apresentam as seguintes características: Complexidade: corresponde ao conjunto de variáveis que, em dado momento, simultaneamente, influencia positiva ou ne-
A figura a seguir descreve de forma sintetizada o macro e o
gativamente a vida de uma organização e que se expressa de
micro ambiente dessas variáveis, considerando a empresa e o
maneira diferente segundo as características de cada uma des-
composto de marketing.
sas organizações. Em razão da impossibilidade de captar todas as variáveis que influenciam sua vida, teremos que ser, de certa forma, arbitrários, tentando relacionar aquelas que são consideradas mais significativas. Velocidade: corresponde à intensidade de alteração nos indicadores de determinada variável que compõem o ambiente da organização. É diferente de setor para setor, de organização para organização. Por exemplo, as inovações tecnológicas que ocorrem no setor de eletro-eletrônicos ou de informática são muito mais rápidas dos que as que ocorrem no setor de construção civil ou mesmo no setor alimentício; Duração: é o período de tempo que uma variável interfere, positiva ou negativamente, na vida de uma organização. Quando se identificam mudanças lentas, mas duradouras, identificam-se uma tendência. Quando se identificam mudanças rápidas, mas
O ambiente de marketing é cercado por forças macro e
de curta duração, identificam-se modismos. A busca de energé-
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ticos alternativos ou a busca espiritual caracterizada pela “Nova
rem alinhadas com a arquitetura funcional, considerando os ativos
Era” podem ser classificadas como tendência, enquanto o com-
e recursos que regem esta sinfonia conhecida como mercado. As
portamento dos yuppies pode ser considerado como moda;
empresas consideradas inovadoras se posicionam e trabalham in-
Incerteza: é o grau de previsibilidade das forças ambientais,
tensivamente a proposta de criação de valor. Contudo, para con-
que podem ser baixa, média ou alta. As ocorrências demográfi-
duzir harmoniosamente e com eficácia este arcabouço de variáveis
cas, tais como pirâmide etária, taxa de natalidade e mortalidade,
externas e internas que move as empresas na direção correta do
esperança de vida entre outras, podem ser previstas com grau
mercado, a monitoração ambiental tornou-se valiosa ferramenta de
razoavelmente maior de segurança do que as ocorrências eco-
leitura composta de ativos gestores de previsibilidade.
nômicas ou tecnológicas. Relativamente, os níveis inflacionários
Afirma Churchill & Peter (2005, p. 20) que, “para a gestão
podem ser avaliados como de baixa previsibilidade. Na década
estratégica poder lidar com um ambiente de marketing em
de 1990 era quase impossível arriscar estimativas por períodos
constante mudança, é necessário que ela se torne cada vez
superiores há dois meses.
mais voltada para o mercado.”.
De acordo com Churchill & Peter (2000, p. 26) análise am-
Atualmente, as empresas em todo o mundo operam e con-
biental é, “a prática de rastrear as mudanças externas que po-
duzem seus negócios em um cenário de descrédito para alguns
dem afetar o mercado, incluindo demanda por bens e serviços.
e credibilidade para outros, movidas por uma avalanche de in-
Embora, todo gerente a frente dos negócios precisa obser-
formações de natureza macro e micro ambiental que envolve
var o ambiente externo da organização, os profissionais de ma-
esse contexto organizacional. Os reflexos desses organismos
rketing são orientados para ampliar a proposta de monitoração
que conduzem o ritmo do mercado para as empresas e por sua
por meio da inteligência de marketing e a pesquisa, amparados
vez, se tornam referencia para a maioria delas, pode representar
por uma avalanche de informações que envolvem a proximidade
a todo o momento, oportunas e positivas mudanças, ou mesmo,
com os acionistas, clientes internos, os stakeholders e seu ativo
limitações em decorrência de certas ameaças.
mais valioso, o consumidor.
Portanto, a análise do mercado é premissa básica para os
De acordo como o conceito estendido de pesquisa, a American Marketing Association
– AMA (2009), define pesquisa de
profissionais de marketing. Parafraseando Churchill & Peter (2005, p. 30), “uma análise dos mercados nos quais a empresa
marketing como, a função que liga o consumidor, o cliente e o
opera, ou deseja operar, pode servir para colocar em foco as
público ao profissional de marketing por meio de informações.
oportunidades e as ameaças enfrentadas pela empresa.”.
Uma breve descrição sobre os tipos de pesquisa usados
Segundo Tavares (2005), essa análise não pode se res-
para levantar informações envolve os objetivos organizacionais
tringir apenas a eventos ou a questões ambientais isoladas. As
e sua metas. A coleta de dados demanda um modelo de ope-
conexões e amarrações que podem ser estudadas, precisam
ração de natureza estatística ou interpretativa, apontados como
ser consideradas para permitir sua inter-relação e resultar daí o
qualitativos e/ou quantitativos. Considerando que, os tipos de
posicionamento organizacional em face do acentuado número
pesquisa podem entendidos como: bibliográfica; exploratória;
de oportunidades e ameaças. A tarefa de cada organização é
descritiva; experimental e explicativa.
identificar, classificar e avaliar as forças ambientais que a afetam
Ainda sobre pesquisa, Cervo (2007, p. 60) corrobora acres-
ou podem afetar, positiva ou negativamente os negócios.
centando que, “o interesse e a curiosidade do homem pelo saber
As empresas regidas e/ou administradas por empreende-
levam-no a investigar a realidade sob os mais diversificados as-
dores ousados e, que consideram a monitoração ambiental uma
pectos e dimensões.”.
ferramenta gestora de informações, sofrem menos com os im-
encomendam es-
pactos das inconstâncias comportamentais do macro ambiente
tudos formais de marketing sobre problemas e oportunidades
de negócios. Logo, percebe-se que a proposta de integração
específicas”. (KOTLER e KELLER, 2006, p. 98).
interdepartamental pode ser difundida com mais abrangência e
Muitas vezes, “os gerentes de marketing
que a verticalização vem perdendo força, ou seja, o tradicional Reflexos das variáveis ambientais nas organizações
organograma top-down cede espaço para gestores com visão
Por volta do ano 500 a.C., o filósofo grego Heráclito ob-
horizontalizada, no qual, promove a empresa ao diálogo aberto
servou que, “não se pode pisar duas vezes o mesmo rio, já que as águas continuam constantemente rolando”.
com os seus colaboradores. Contudo, são mudanças orgânicas, arrojadas e inovadoras,
(MORGAN, 2007, p. 239).
se considerarmos que, “[...] os teóricos da administração clás-
Assim, as organizações procuram constantemente se mante-
sica deram relativamente pouca atenção ao ambiente. Trataram
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 93
a organização como um sistema mecânico “fechado” se preocupando apenas com os princípios de planejamento interno.”. (MORGAN, 2007, p. 49).
Neste mercado aberto e em intensa expansão, que passa a atrair consumidores, intermediários e forma novas parcerias, as
Presentemente, muitas empresas já fomentam seus negó-
organizacionais aderem às novas tendências e modismos advin-
cios apostando em seus talentos e em sua administração moni-
dos do continente asiático, como Kaizen, Kaiban, 5´s, downsi-
torada, particularmente, amparadas por princípios que reforçam
zing, reengenharia entre outros. Em sua maioria, estes modelos
o reconhecimento da importância do ambiente. As organiza-
de gestão chegavam com a proposta de mudança, crescimento
ções modernas podem ser vistas e consideradas como siste-
e inovação. Logo, seguindo tendências corporativas, invadem o
mas abertos, também conhecidos como orgânicos.
cenário organizacional as certificações ISO. Hoje, percebe-se uma forte tendência organizacional no
A monitoração e seus agentes de mudança
que tange a era da informação, e a palavra de ordem é “ciência
A competição está mudando não só o mercado, mas a ati-
da informação”, pois as empresas estão inseridas em um am-
tude e a forma de agir do perfil empreendedor. A economia inter-
biente de muita informação e rápida evolução para as pessoas
nacionalizada significa que a concorrência pode estar do outro
e processos.
lado da cidade ou do outro lado do mundo. Ou seja, tão distante e tão próximo ao mesmo tempo. Robbins (2005, p. 422) acrescenta que:
Até o final da década de 1990, as redes varejistas de música Wherehouse Entertainement e Tower Records eram empresas com rápido crescimento e alta lucratividade nos Estados Unidos. Os jovens corriam para as megalojas atrás de uma grande variedade de títulos e de preços competitivos. Mas, o mercado mudou, e essas redes sofreram as conseqüências. A prática de baixar músicas pela internet, de forma legal ou ilegal, reduziu drasticamente o volume de vendas de CDs. A concorrência de empresas eletrônicas como a Amazon.com e de outras redes que passaram a comercializar esses produtos, como a Wal-Mart e a Target, roubou mais uma fatia de seu mercado. Em janeiro de 2003, a Wherehouse foi à falência. No ano seguinte, foi a vez da Tower.
Portanto, faz-se necessário perguntar: quem é o responsável pela administração das atividades de monitoração ambiental dentro das organizações? A resposta mais próxima pode ser: os agentes de mudança. Então quem são os agentes de mudança. Eles podem ser os executivos, o escopo diretivo e/ou conselheiros, os funcionários da organização, os consultores externos e o mais valioso de todo este composto organizacional, o cliente. A atividade de monitoramento ativo do mercado pode iniciar dentro da própria empresa ou fora dela, estabelecendo uma conexão entre o conhecimento gerado e o processo de tomada de decisão. Entretanto os executivos devem antever possíveis conflitos movidos por dificuldades de coordenar e distribuir informações orientadas à decisão estratégica. Na proposta de monitoração do ambiente, os agentes próximos a necessidade organizacional de mudança precisam ainda, ter uma visão periférica e lógica, pois a velocidade em que a informação se concretiza pode demandar muitas vezes um super esforço para um advento inesperado. Esse monitoramento ativo e participante pode ser particularmente importante em ambientes turbulentos, caracterizados por uma hipercompetitividade3,
As tendências sociais também se modificam. Em comparação com 15 anos atrás, pode-se elencar uma dezena ou uma
no qual, eventos inesperados e dados descontínuos podem se tornar decisivos.
centena de tendências e modismos que alteraram à dinâmica dos negócios e do mercado.
No
Conclusão
final dos anos 1980 as organizações trabalhavam a
Administrar a mudança organizacional requer por parte dos
proposta de relacionamentos desestruturados e a especializa-
executivos e todos os agentes de mudança envolvidos, que a
ção focava-se no produto. As informações eram processadas
leitura dos fatores ambientais e todos os elementos de natureza
e centralizadas, além de pouco difundidas. Nos anos 1990, a
controláveis e não controláveis acerca da organização, se apro-
quebra de fronteiras e a globalização adentram ao ambiente de
fundem primeiramente no sentido de compreender a dinâmica
negócios da empresa, movendo as organizações a um busca
holística que abriga os fatores sociais e econômicos.
incessante por informação, considerando que os esforços passavam a ser direcionados para as vendas, em outras palavras,
Entretanto, uma boa análise de cenários ambientais e particularmente antecipados, requer e demanda um montante de
para o volume de vendas. 94 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
esforços interdepartamentais que mobilizam o escopo da alta e média gerência da organização. No sentido de concentrar esses esforços buscando identificar e mitigar possíveis ocorrências macro ambientais, uma análise mais completa pode demandar ainda, um longo período de tempo, tornado difuso o foco do problema apontado, ou até mesmo, gerando um volu-
egy. Londres, British Library, Research and Development Department. apud Chun Wei Choo in: Information management for the intelligent organization: the art of scanning the environment. Medford, Information Today. MORGAN, Gareth. Imagens da Organização, primeira edição. São Paulo, Atlas, 2007. 389p.
me de informações difícil de processar no timing da solução do problema, afetando assim, o processo decisório. Um agente de mudanças, além de somar atributos de competência estratégica, técnica e gerencial, precisa ser habilidoso para reconhecer o que é efetivamente crítico em um contexto específico, desenvolvendo assim, sua capacidade de leitura
ROBBINS, Stephen P., Comportamento organizacional. 11ª edição, São Paulo. Pearson Prentice Hall, 2005. 450p. RODRIGUES, Alziro César Morais. A inovação estratégica no contexto das universidades: Artigo científico: Faculdade de Administração, contabilidade e economia da PUC. RS.
para cenários futuros, considerando sempre a importância da monitoração das variáveis ambientais. Contudo, tem ainda que se considerar, que as mudanças podem soprar fortemente na direção contrária do posicionamento escolhido pela empresa e, a tomada de decisão pode demorar, ou mesmo não acontecer como esperado. Logo, administrar envolve as coisas acontecerem e não somente realizar análises. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TAVARES, Mauro Calixta. Gestão Estratégica. 2ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2005, 440p.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Formado em Administração de Empresas. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Negócios. Mestre em Administração. Coordenador da Unidade de Educação a Distância – EaD do Centro Universitário Newton Paiva e Professor pesquisador conteudista do CAED – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/UAB/CAPES. 2 LESTER, R.; J. Waters. Environmental scanning and business strategy. Citado por CHOO no artigo: Proposta de um modelo de monitoração ambiental. Henrique, L. C. Junqueira – FDC. 3 Professor Alziro César de Morais Rodrigues. PUCRS
criando valor para
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PROPOSTA DE UM MÉTODO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA: caminhos para o consumo racional e consciente Aécio Antônio de Oliveira1 Rafael Alves Ribeiro2 Thiago Galliac Rezende3
RESUMO: O artigo aponta a relevância da educação financeira neste início de século XXI, alertando sobre os desafios a serem enfrentados na gestão das finanças pessoais devido às mudanças na política econômica e multiplicação do crédito. Esta pesquisa envolveu o arcabouço teórico relacionado às finanças pessoais e educação financeira na elaboração de um método que foi dividido em cinco etapas: sensibilização, diagnóstico, informação, formação e orientação. Com isso, obteve-se um conjunto de técnicas e processos capazes de despertar no indivíduo o interesse pelo tema das finanças pessoais e desenvolver conhecimentos, bem como habilidades práticas que lhe permitam consumir de forma racional e consciente. PALAVRAS-CHAVE: Educação Financeira. Finanças Pessoais. Sensibilização.
Introdução
Os principais motivos deste despreparo e da dificuldade
Desde a década de 1990, o Brasil passa por um período
das pessoas na gestão de suas finanças são: o aumento da
de estabilidade macroeconômica, com a inflação, aparente-
complexidade do mercado financeiro devido ao aumento da
mente, controlada. Nota-se a expansão da renda e do crédito
oferta de produtos financeiros e a utilização de meios eletrô-
disponível no mercado, do qual as pessoas se utilizam para o
nicos na realização das transações; a ausência da educação
consumo devido à facilidade na obtenção dos financiamentos.
financeira no currículo do ensino médio e o consumo de bens
(CONEF, 2011)
supérfluos sem a preocupação com a vida futura. (REMUND,
Dentre as pessoas alçadas à condição de consumidores
2010; MAINARDES, 2010)
há aquelas que têm maiores noções sobre juros, preços e
Não obstante, a incerteza quanto ao futuro do sistema de
dinheiro e, logo, passaram a buscar as melhores alternativas
previdência público aliada ao aumento da expectativa de vida e
para investir e gastar. Entretanto, existem também aqueles que
à estabilização da economia aumentou a responsabilidade das
não dominam tais conhecimentos e assim levam uma vida fi-
decisões financeiras do indivíduo e o impacto destas em seu
nanceira desequilibrada, comprometendo sua renda com endi-
futuro. Logo, educar financeiramente os indivíduos por meio de
vidamento excessivo em um país com uma das maiores taxas
uma metodologia de educação financeira pessoal apresenta-
de juros do mundo. (MEKELBURG, 2010).
se como questão de primeira ordem na promoção do bem es-
Tal situação fica clara em histórias de pessoas que apesar de possuírem uma renda elevada ostentam um padrão de
tar financeiro das famílias e no desenvolvimento dos mercados dentro de uma lógica de consumo sustentável.
vida sustentado pelo endividamento excessivo, enquanto, em
Em face ao tema, propõe-se neste artigo uma discussão
contrapartida, trabalhadores assalariados conseguem manter
crítica acerca do problema que consiste em ajudar as pessoas
o orçamento familiar em ordem e, até poupar parte de seus
a consumir de forma mais racional e consciente por meio de
rendimentos para o futuro.
um método de educação financeira desenhado para orientação
Contudo, o aumento da renda dos trabalhadores e a ofer-
das finanças pessoais.
ta abundante de crédito são um convite ao consumo que leva
Para tal, foi realizada uma pesquisa exploratória devido à
cada vez mais pessoas a assumirem uma posição devedora
escassez de trabalhos ou informações mais precisas a respeito
na balança das trocas intertemporais4. Ficou mais fácil viver o
dos temas: finanças pessoais e educação financeira. Isso torna
agora para pagar depois, enquanto o incentivo ao consumo
o presente estudo exploratório de grande relevância, já que se
avança sobre uma população despreparada para dimensionar
trata de uma contribuição institucional para futuras pesquisas
o volume adequado do comprometimento do seu orçamento.
e debates.
96 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Método de educação financeira pessoal
conceitos e riscos, de maneira que, com informação e
Um método é composto por um conjunto de técnicas e pro-
recomendação claras, possam desenvolver as habilida-
cessos que, organizados de forma sistemática e lógica, formam
des e a confiança necessárias para tomarem decisões
um caminho que permite atingir determinado objetivo (FERREIRA,
fundamentadas e com segurança, melhorando o seu
1999). No desenvolvimento do método proposto neste trabalho
bem-estar financeiro. (OCDE, 2005 p. 4)
parte-se de uma abordagem dedutiva, clarificando primeiro o objetivo a ser atingido pelo método para em sequência determinar
Observa-se que na definição dada estão contidos, de uma
quais as técnicas e processos mais adequados para este fim. Uma
forma geral, os objetivos delineados anteriormente. Tal fato é um
vez que a ênfase da metodologia é colocada sobre indivíduo deve-
indício de que a adoção deste processo e das técnicas que dele
se então adotar técnicas e processos que considerem suas neces-
advém pode ser adequada às necessidades da metodologia
sidades, possibilidades, interesses e realizações.
proposta. Diante do exposto, torna-se necessário aprofundar-se
Tendo como base a problemática proposta, infere-se o ob-
na temática da educação financeira.
jetivo geral com vistas a auxiliar o indivíduo a consumir de forma
De acordo com Remund (2010) a definição primária de edu-
mais racional e consciente por meio da orientação das finanças
cação financeira diz respeito à competência do indivíduo em
pessoais. Partindo-se dessa premissa, determina-se então, os
gerenciar seu dinheiro. Embora, o termo educação financeira
objetivos específicos divididos em cognitivos, afetivos e ativos a
não fosse utilizado à época, a ideia data do início do século XX
partir da concepção de Sossai (1974, p. 439), de que “o homem
quando as primeiras iniciativas e pesquisas sobre a educação
primeiramente conhece, depois aceita e por fim age”.
do consumidor foram realizadas nos Estados Unidos.
De acordo com Sant´Anna et. al., (1998) os objetivos cog-
Embasado em revisão bibliográfica de obras publicadas
nitivos estão relacionados com os conhecimentos e habilida-
nos EUA desde 2000, Remund (2010) afirma que os conceitos
des intelectuais do indivíduo, aplicados em relação às finanças
de educação financeira podem ser categorizados em cinco áre-
pessoais. O objetivo cognitivo desta metodologia de educação
as principais de acordo com o enfoque: no conhecimento de
financeira consiste em o indivíduo desenvolver conhecimentos e
conceitos financeiros; na habilidade em aplicar conceitos finan-
habilidades que lhe permitam compreender, relacionar, compa-
ceiros; na aptidão em administrar as finanças pessoais; na habi-
rar e interpretar informações e dados sobre as finanças pessoais
lidade em realizar decisões financeiras adequadas; no planeja-
e o mercado financeiro.
mento eficaz para as futuras necessidades financeiras.
Corrobora Sossai (1974, p. 440), ao acrescentar que “os
Ao analisar os cinco grupos citados verifica-se que todos
objetivos afetivos referem-se ao grau de aceitação ou de inter-
eles remetem a algum dos objetivos propostos neste método.
nalização de um conceito, comportamento ou fato” e se tradu-
Desta forma é possível afirmar que a educação financeira é ade-
zem pelo fato da pessoa perceber a importância de se educar
quada aos propósitos desta metodologia, ainda que não exista
financeiramente, identificar os riscos do descontrole financeiro
consenso quanto à sua definição conforme afirmam Remund
para seu futuro e desenvolver condutas duradouras e condizen-
(2010) e Huston (2010). Contudo, ainda que a educação financeira possa propor-
tes com a aceitação destes conceitos. A última categoria de objetivos específicos são os objetivos
cionar a melhoria do bem-estar financeiro pessoal não é pos-
ativos, compostos por atividades ou práticas que serão adota-
sível afirmar a priori que o indivíduo deseje participar deste
das pelo sujeito. No âmbito deste método estas atividades e
processo, realizando mudanças em seus hábitos financeiros
práticas se resumem em construir o plano financeiro pessoal,
e também em seu estilo de vida.
utilizar ferramentas de controle e acompanhamento das finanças
Consequentemente, o método de educação financeira pessoal deve partir de uma etapa de sensibilização do indivíduo
e também consumir de forma consciente. Após a definição dos objetivos parte-se para a seleção dos
para a importância do tema. Esta etapa está diretamente rela-
processos e técnicas adequados para a consecução destes
cionada com o cumprimento dos objetivos afetivos do método,
sendo a escolha apropriada das ferramentas uma condição sine
pois envolve o grau de aceitação e a internalização dos con-
qua non para o sucesso do método. A principal ferramenta que
ceitos, comportamentos e fatos relativos à educação financeira.
trata das finanças pessoais, bem como a educação financeira,
A sensibilização tem como objetivo fazer com que as pesso-
5
as aumentem o nível de interesse sobre certos temas ou ques-
pode ser definida como: [...] um processo em que os indivíduos melhoram a
tões. Para este fim é necessário que o processo de educação
sua compreensão sobre os produtos financeiros, seus
financeira tenha significado para o indivíduo, utilizando suas
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emoções e desejos e apresentando valores extremamente úteis
financeira é possível identificar em qual das cinco fases de mu-
e relevantes. […]” (DEWEY 1979, apud COUTO, 2003 p. 3).
dança o sujeito se encontra. Estas fases foram descritas por Pro-
Deve-se demonstrar para o sujeito que ele está inserido
chaska, Diclemente e Norcross (1983) e são denominadas: pré-
em uma realidade na qual as decisões financeiras acontecem
contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção.
a todo o momento e que impactam diretamente sua qualidade
Na fase de pré-contemplação o indivíduo possui uma grande
de vida e seu futuro. Mais do que despertar questões sobre o
resistência em entender, reconhecer ou modificar o problema. É
cotidiano financeiro, a sensibilização do indivíduo deve suscitar
comumente descrita em indivíduos que gastam seu dinheiro sem
neste a consciência de que ao se educar financeiramente torna-
controle, que acreditam que não tem nenhum problema ou que
se possível a construção de novas realidades rumo à realização
podem parar com aquilo a qualquer momento. Uma característica
de suas metas e do bem-estar financeiro
fundamental dos indivíduos em pré-contemplação é que eles não
Para ilustrar a abordagem da sensibilização pode-se partir
pretendem mudar seu comportamento em um futuro próximo.
de uma situação hipotética na qual objetivo seja modificar hábi-
Os indivíduos em fase de contemplação conseguem iden-
tos financeiros de uma pessoa, propondo a redução de seu gas-
tificar que possuem um problema e até consideram enfrentá-lo.
to diário com itens supérfluos. É comum o discurso de que se
Entretanto, esse enfrentamento nunca acontece. Devido à falta
deve controlar melhor o dinheiro ou guardar dinheiro para pou-
de ação nunca conseguem gerenciar ou poupar seu dinheiro da
par. Mas essas afirmações de forma isolada dificilmente sensi-
forma correta. Prochaska (1983) menciona que é como saber
bilizam o ouvinte. Isso porque as duas principais perguntas não
para onde quer ir, mas ainda sem estar preparado para ir até lá.
foram respondidas: Por que controlar melhor o meu dinheiro?
Já na fase de preparação, o indivíduo identifica seu proble-
Como faço para conseguir isso? Tais questões podem ser respondidas informando à pessoa
ma e tenta modificar seu comportamento para melhorar, mas a tentativa não é bem sucedida ou persistente.
que o gasto excessivo do dinheiro está associado à sua escas-
Muitas pessoas iniciam a reeducação para controle de suas fi-
sez futura. Ao direcionarmos o olhar do indivíduo para o futuro
nanças pessoais, mas rapidamente voltam aos hábitos antigos. Da
pode-se demonstrar que a ausência de uma reserva financeira
mesma forma, sempre se observa pessoas que conseguem juntar
pode acarretar problemas financeiros, pois torna o indivíduo vul-
um dinheiro por certo tempo, mas rapidamente interrompem o pro-
nerável a imprevistos como a perda de emprego, problemas de
cesso e gastam em minutos o dinheiro que poupado em um longo
saúde e à deterioração do cenário econômico.
período. Ou seja, o indivíduo está preparado para a mudança, faz
Neste caso foi criada uma relação direta entre conceitos de
algumas tentativas, mas não consegue fazê-las de forma efetiva.
educação financeira e a realidade do sujeito, vinculando a im-
Quando um indivíduo identifica seu problema, considera
portância de se poupar no presente para garantir uma situação
enfrentá-lo e faz uma tentativa bem sucedida, ou seja, realmente
tranquila no futuro.
modifica seu comportamento, dizemos que essa pessoa encon-
Durante o processo de sensibilização é possível também
tra-se em fase de ação. Na fase de ação, tomam-se decisões e
determinar qual a melhor forma de comunicação a ser adota-
modifica-se o comportamento. Por isso, algumas pessoas con-
da. Existem pessoas que preferem ouvir, outras aprendem por
seguem facilmente iniciar a aprendizagem financeira pessoal e
meios visuais enquanto existem indivíduos que preferem ativida-
introduzir em sua vida e nas pessoas que estão em sua volta.
de práticas. (KERKMANN, 1998). A adoção da forma adequada
A fase de manutenção caracteriza-se pela persistência da
de comunicação permite potencializar a interação e o envolvi-
mudança e pelo esforço em evitar recaídas. A partir do momen-
mento do sujeito com o processo como um todo.
to em que as boas práticas em relação às finanças pessoais
Entretanto apenas a etapa de sensibilização não é suficiente
tornaram-se um hábito cristalizado, dizemos que se chegou à
para fazer que o sujeito mude seu comportamento. Cada pessoa
fase de manutenção quando a pessoa exibe um padrão de com-
possui um diferente nível de sensibilidade que corresponde à “ca-
portamento financeiro estável
pacidade para responder ao meio ambiente social e cultural e como
Em cada uma das fases descritas são exibidas caracte-
uma qualidade única e pessoal quanto à percepção, significado e
rísticas distintas (QUADRO 1). E, portanto, identificar em qual
reação.” (TABA, 1974 apud SANT´ANNA, 1998 p. 94).
delas o sujeito se encontra é importante para a compreensão
Utilizando-se as informações obtidas pela interação e ob-
dos motivos que impedem a mudança para um comportamen-
servação do indivíduo durante a sensibilização inicia-se em se-
to financeiro adequado. Segundo Higson e Wilson (1995, apud
guida a etapa de diagnóstico. De acordo com a sensibilidade
MAINARDES et al, 2010, p. 60) “grande parte das pessoas não
em relação à relevância das finanças pessoais e da educação
consegue elaborar um planejamento financeiro pessoal devido
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a dificuldades no reconhecimento de suas dificuldades e de seus pontos fortes”.
Entretanto, as finanças pessoais não englobam apenas
cio do método.
fatores comportamentais. A gestão das finanças de acordo com
Utiliza-se o balanço patrimonial para elaboração de um
Assaf Neto (2010, p. 8) envolve uma “realidade operacional prá-
demonstrativo que evidencie os ativos e passivos do indivíduo
tica da gestão financeira [...]”. Estes aspectos operacionais são
sendo possível então determinar o patrimônio líquido que cor-
a materialização do comportamento por meio de decisões finan-
responde à riqueza líquida, ou seja, quais são realmente os ati-
ceiras que influenciam diretamente, o patrimônio e o fluxo de
vos após a liquidação de todos os passivos. Não há um balanço
caixa da pessoa e assim podem ser observados por meio das
patrimonial padrão, pois cada indivíduo possui diferentes contas
demonstrações financeiras.
de passivos e ativos, o (QUADRO 2) apresenta uma sugestão
Desta forma propõe-se a realização do diagnóstico ope-
para a elaboração do demonstrativo. (GRÜSSNER, 2007)
racional com base no balanço patrimonial e do fluxo de caixa
O balanço patrimonial também serve como referência para
pessoal. Deve-se contar com participação ativa do indivíduo no
verificar a evolução patrimonial ao longo do tempo, sendo re-
diagnóstico para que este compreenda como utilizar estes de-
comendada a sua elaboração ao menos uma vez ao ano (HAL-
monstrativos para o controle e acompanhamento das finanças,
FELD, 2006). Uma forma comum de avaliação do balanço é a
em linha com os objetivos específicos ativos declarados no iní-
utilização de índices.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 99
O índice de liquidez corrente avalia a capacidade de pagamento do indivíduo, sendo considerado adequado quando apre-
sentar um valor superior a um, ou seja, quando o ativo circulante for superior ao passivo circulante. A fórmula para cálculo é:
Halfeld (2006) propõe o índice de cobertura de despesas
sete, representando que os ativos serão suficientes para pagar
que representa a capacidade do ativo em financiar as despe-
as despesas mensais por sete meses caso a pessoa perca o
sas mensais. O autor sugere que este índice deve ser superior a
emprego, por exemplo. A fórmula para o cálculo é:
O quociente entre passivo exigível e o ativo total denomina-se índi-
dívidas. Considerando as altas taxas de juros do país é recomendável
ce de endividamento e determina quanto do ativo está financiado por
um índice próximo de zero. O índice é calculado da seguinte maneira:
turos fluxos de caixa. (ASSAF NETO, 2010; CHING; MARQUES; Almeja-se sempre um patrimônio líquido positivo, ou seja,
PRADO, 2010).
que os ativos sejam maiores que o passivo e que as relações
Gava (2004, apud GRÜSSNER, 2007 p. 33) afirma que “um
entre passivo e ativo apresentem os melhores índices possíveis.
fluxo de caixa pessoal deve conter três componentes básicos:
Caso identifique-se situação contrária deve-se determinar qual
renda, consumo e poupança”. É importante a inclusão da pou-
o fato gerador e adotar ações para equilibrar ativos e passivos
pança, pois a partir deste item é que o indivíduo acumula os re-
Neste sentido a elaboração do fluxo de caixa surge como ferramenta que relaciona as entradas e saídas de recursos
cursos necessários para atingir seu bem estar financeiro e deixa de depender exclusivamente de sua renda.
monetários das finanças em determinado intervalo de tempo e
A capacidade de poupança do indivíduo é determinada pela
pode auxiliar na identificação do motivo das alterações do pa-
diferença entre receitas e despesas. Quanto maior for a diferen-
trimônio líquido. Por meio do fluxo de caixa é possível também
ça maior será a capacidade de poupança. Se esta relação for
avaliar a liquidez ao longo do tempo, a qualidade das decisões
negativa significa que se está gastando mais do que se ganha
financeiras, a capacidade de pagamento e também prever fu-
e, portanto, não é possível formar poupança. É possível calcular
o índice de poupança por meio da seguinte fórmula:
É importante ressaltar, que ao elaborar o fluxo de caixa sejam
As receitas são compostas por todos os rendimentos rece-
levadas em consideração todas as despesas, mesmo, as de pe-
bidos como salários, aluguéis e dividendos. Normalmente são
queno valor, pois valores que individualmente parecem insignifican-
provenientes da atividade profissional da pessoa e de itens do
tes podem somar significativas quantias ao longo do tempo.
ativo como ações e imóveis.
Vale analisar também, os componentes do fluxo de caixa
Existem duas categorias de despesas. No âmbito das finan-
para determinar como os itens classificados para despesa es-
ças pessoais as despesas fixas são em geral as contas costu-
tão impactando a receita. Um parâmetro que pode ser adotado
meiras e necessárias pagas regularmente cujos valores variam
é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo
pouco como água, luz e aluguel. As despesas variáveis consis-
IBGE que demonstra distribuição das despesas de consumo
tem nas demais despesas cujo valor varia mensalmente.
das famílias brasileiras (TABELA 1).
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A pesquisa representa uma média de toda população brasi-
é preciso sempre considerar que os dados da pesquisa tratam
leira e pode ser utilizada como base para detectar despesas que
de uma média e desta forma pessoas com renda diferenciada
estejam impactando de forma desproporcional o orçamento do
podem ter padrões de distribuição distintos sem que isto confi-
indivíduo e, portanto, merecem uma atenção especial. Contudo,
gure a inadequação das despesas.
O fluxo de caixa permite verificar ainda se as despesas são
Sugere-se que as informações referentes aos pontos fortes e
superiores, iguais ou inferiores as despesas. Caso as despesas
fracos sejam retiradas dos diagnósticos financeiro e comportamen-
sejam superiores é necessário reduzir os gastos, eliminando os
tal realizados na segunda etapa deste método. Os dados referen-
supérfluos ou então aumentar as receitas para evitar a redução
tes às ameaças e oportunidades podem ser obtidos da análise de
da capacidade de pagamento e o endividamento. Estas ações
fatores externos relacionados ao mercado e ao ambiente no qual o
também devem ser adotadas quando as despesas se igualam
indivíduo está inserido como: estrutura familiar; solidez do empre-
às receitas até que seja alcançado o equilíbrio financeiro e resta-
gador; possibilidades de ascensão profissional; etc.
belecida a capacidade de poupança.
Deve-se então procurar potencializar as forças, eliminar as
Uma vez que as despesas sejam inferiores às despesas será
fraquezas, maximizar as oportunidades e minimizar as ameaças.
possível utilizar esta diferença para quitar dívidas ou então efetuar
Estas ações devem ser a base para a declaração da missão con-
aplicações financeiras. Esta decisão pode ser realizada com base
tida no planejamento financeiro. Na missão devem estar contidos
nos índices de endividamento e de cobertura de despesas.
não somente ações, mas também objetivos e princípios que vão
Quanto à periodicidade da elaboração do fluxo de caixa
servir de guia para a gestão de finanças pessoais. Um exemplo de
sugere-se atualizá-lo ao menos uma vez na semana e também
declaração de missão seria: controlar a relação entre as receitas e
realizar a previsão dos fluxos de caixa dos próximos meses para
despesas para aumentar a capacidade de poupança possibilitan-
desta forma preparar-se com antecedência, evitando que des-
do o investimento em um fundo de previdência.
pesas elevadas sejam realizadas em momentos em que a receita não seja suficiente.
Outro procedimento importante é determinar uma visão, que representa uma situação futura que se almeja alcançar
Realizado o diagnóstico financeiro e o diagnóstico comportamental faz-se então a síntese dos dados obtidos por meio da matriz SWOT pessoal, da qual obteremos subsídios para a to6
mada de decisões e elaboração do plano financeiro pessoal.
como, por exemplo: atingir a independência financeira, adquirir a casa própria ou poder dedicar-se à filantropia. Para que o planejamento estratégico pessoal flua naturalmente é preciso discernir e compreender bem a missão e a
A escolha da análise SWOT ocorreu por tratar-se de uma
visão e transformar tudo isso em ações. usar a missão para
ferramenta lógica, simples e eficiente. (REAL, 2006). Sua utili-
facilitar a compreensão das necessidades financeiras pesso-
zação permite combinar a análise ambiental (oportunidades e
ais, descobrindo onde se deve concentrar esforços, fazendo
ameaças) e a análise interna (pontos fortes e pontos fracos),
com que este novo modelo de educação financeira pessoal
identificando as vantagens estratégicas que poderão ser apro-
proporcione o alcance da visão declarada.
veitadas pelo indivíduo no seu plano financeiro pessoal.
Para melhor organizar e refletir sobre quais ações que
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 101
serão realizadas no cumprimento da missão pode se uti-
para emergências. Em sequência aplicam-se os recursos
lizar uma adaptação do modelo proposto por Chieffe e
disponíveis para o alcance dos objetivos traçados e por fim
Rakes (1999) que adota uma sequência lógica em que pri-
pode-se cuidar da transferência e manutenção do patrimô-
meiro se cuida do gerenciamento do dinheiro e planeja-se
nio construído.
Este modelo exemplificado no QUADRO 3 é de simples apli-
bem como suas consequências. (CONEF, 2010).
cação e engloba todos os aspectos da gestão das finanças pes-
Uma vez que o conjunto de informações citado é amplo,
soais, podendo ser preenchido pelo indivíduo de acordo com
é interessante organizá-lo em áreas de conteúdo para facilitar
suas necessidades.
sua compreensão. De acordo com Huston (2010) são quatro as
Realizado o diagnóstico, a análise SWOT e o plano financeiro pessoal, parte-se para a intervenção com base nos três
áreas que devem ser abordadas no processo de educação financeira:
níveis de atuação da educação financeira: formação, informação
1)Dinheiro: Conceitos sobre o valor do dinheiro no tempo,
e orientação. (Comitê Nacional de Educação Financeira – CO-
inflação, conceitos de contabilidade financeira pessoal e a rela-
NEF, 2010)
ção entre o dinheiro e o ciclo de vida pessoal.
Ao formar e informar o indivíduo pretende-se que este ad-
2)Crédito: Conhecimentos sobre as diversas linhas de cré-
quira autonomia e independência na tomada de decisões finan-
dito disponíveis no mercado e o uso adequado de cada uma
ceiras, realizando escolhas conscientes de acordo com os ob-
delas.
jetivos financeiros pessoais identificados nas etapas anteriores da metodologia. A formação é um processo que objetiva a capacitação do
Investimentos: Conhecimento sobre os produtos de investimento disponíveis no mercado, os riscos e taxas inerentes a cada um deles.
sujeito, promovendo habilidades e conhecimentos necessários
Proteção de Patrimônio: Engloba produtos de seguridade
para a compreensão das informações pertinentes ao tema das
(vida e patrimônio) e também estratégias de gerenciamento de
finanças pessoais. Objetiva-se preencher as lacunas de conhe-
risco de aplicações financeiras. Envolve também informações
cimento que impedem ou dificultam a compreensão e aplicação
sobre direitos do consumidor e do investidor.
dos conceitos financeiros como, por exemplo: juros compostos,
Em síntese, a etapa de formação e informação oferece
tipos de receitas e despesas, utilização da calculadora e planilha
ao sujeito o conhecimento do mercado financeiro e das ferra-
eletrônica, ferramentas de controle das finanças, etc.
mentas existentes que este poderá utilizar para atingir os seus
Concluída a etapa de formação é possível então realizar a
objetivos pessoais.
etapa de informação uma vez o sujeito possuirá os conhecimen-
A última etapa é realizada ao prover orientação sobre assun-
tos e habilidades adequadas para a compreensão dos temas
tos e produtos financeiros, relacionados com a realidade do indiví-
abordados. A informação no contexto desta metodologia con-
duo, para que este possa utilizar a informação recebida da melhor
siste em fornecer ao indivíduo fatos, dados e conhecimentos
forma. A necessidade da orientação ocorre, pois existem diversas
específicos a respeito de oportunidades e escolhas financeiras,
questões subjetivas que afetam a racionalidade do indivíduo ao re-
102 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
alizar o seu planejamento financeiro como (CONEF, 2010): - limitação quanto à visão de cenário e à quantificação de riscos; - inconsistência das ações correntes e dos objetivos de longo prazo; - influências culturais e psicológicas no comportamento individual. Estas questões quando identificadas, devem ser foco das intervenções de orientação auxiliando o indivíduo a superar suas limitações e atingir seus objetivos financeiros. Considerações finais Ao longo deste trabalho foi desenvolvido um método de educação financeira composto de cinco fases: sensibilização, diagnóstico, informação e formação e orientação. Nestas fases estão contemplados todos os objetivos cognitivos, afetivos e ativos propostos. Por meio do arcabouço teórico consolidou-se um conjun-
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NOTAS DE RODAPÉ 1 Graduado em Administração de Empresas. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Negócios. Mestre em Administração. Coordenador da Unidade de Educação a Distância – EaD do Centro Universitário Newton Paiva e Professor pesquisador conteudista do CAED – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/UAB/CAPES. Áreas de conhecimento: Administrativa; Comercial e Financeira. 2 Tecnólogo em Gestão Financeira pelo Centro Universitário Newton Paiva. Área de conhecimento: Financeira e Administrativa. 3 Tecnólogo em Gestão Financeira pelo Centro Universitário Newton Paiva. Área de conhecimento: Financeira e Administrativa. 4 De acordo com a Giannetti (2005) em sua Teoria das Trocas Intertemporais , sempre quase abre mão de alguma coisa no presente em prol de alguma coisa no futuro, assume-se uma posição credora. E toda vez que se abre mão de alguma coisa no futuro para desfrutar de alguma coisa no presente, assume-se uma posição devedor 5 Sine qua noné uma expressão em Latim que significa: sem o qual não pode ser. Refere-se a uma ação, condição ou algo indispensável e essencial. 6 SWOT – Strengths, Weakness, Opportunities and Threats. Traduzido para o português: É uma matriz que avalia as forças e fraquezas no ambiente interno e as ameaças e oportunidades no ambiente externo a organização.
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CRIPTOGRAFIA DE DADOS NO MICROSOFT SQL SERVER 2008 R2 RODOLFO DE OLIVEIRA MARTINS1 IREMAR NUNES DE LIMA2
RESUMO: Este artigo analisa os principais processos de criptografia de dados no Microsoft SQL Server 2008 R2, tanto no nível de banco de dados quanto no nível de objetos, além de apresentar instruções para se criptografar e decifrar informações neste Sistema Gerenciador de Banco de Dados. PALAVRAS-CHAVE: Banco de Dados, Segurança, Criptografia, Microsoft SQL Server 2008.
1 INTRODUÇÃO
apto a identificar se a mensagem recebida sofreu alteração du-
Desde que homem passou a estabelecer comunicação com
rante o processo de transmissão;
seus pares, ele sentiu a necessidade, em alguns momentos, de
- Autenticação do remetente: o destinatário deverá ser
garantir que as suas mensagens chegassem apenas ao destino
capaz de identificar o remetente e certificar-se de que foi ele
que realmente se fizesse necessário. Ao longo dos anos isso fi-
mesmo quem enviou a mensagem;
cou cada vez mais evidente, principalmente em tempos de guerras, onde os inimigos jamais poderiam interceptar informações transmitidas entre pontos estratégicos.
- Irretratabilidade do emissor: o emissor não poderá negar a autoria da mensagem. A criptografia em bancos de dados pode ser realizada em
Chegou-se, então, à era da tecnologia da informação. Cada
todo o banco ou em nível de objetos, tais como tabelas e co-
vez mais dados são armazenados em bancos e são utilizados
lunas. Isto será mostrado nas seções seguintes deste artigo e,
para tomadas de decisões estratégias. Diante disto, as corpo-
além disso, será analisada a criptografia de dados numa instân-
rações sentem cada vez mais necessidade de proteger suas
cia Microsoft SQL Server 2008 R2.
informações e garantir que as mesmas não caiam em mãos erradas. A preocupação não se limita apenas ao lado externo das empresas: ela também diz respeito ao intercâmbio entre os seus
2 CRIPTOGRAFIA NO MICROSOFT SQL SERVER 2008 R2 2.1 HISTÓRICO
membros, ou seja, não seria nada confortável que funcionários
No SQL Server, nem sempre foi possível utilizar criptografia,
de uma companhia, por exemplo, soubessem quanto ganham
como pode ser verificado neste breve histórico levantado por
seus colegas de trabalho.
COLES e LANDRUM (2009):
Para garantir a segurança de informações armazenadas em
SQL Server 2000: tanto nesta versão quanto nas versões
sistemas de bancos de dados, um grande aliado é a criptografia
anteriores, não havia funcionalidades de criptografia de dados.
de dados. Criptografar uma informação significar torná-la oculta
O usuário devia criar suas próprias sp’s (stored procedures).
por meio do uso de algoritmos, garantindo que a mesma so-
Porém nem sempre se tinha certeza se estas sp’s funcionariam
mente poderá ser recuperada por quem detiver uma chave de
de acordo com os processos do servidor.
decodificação. A chave deve ser utilizada tanto ao se criptografar quanto ao se decifrar a informação.
SQL Server 2005: devido a vários escândalos ocorridos no mercado financeiro do início da década de 2000, houve ne-
Segundo MELO (2009), a criptografia possui quatro objetivos principais:
cessidade de criar mecanismos de se proteger e confidenciar informações armazenadas em grandes centros de bases de da-
- Confidencialidade da mensagem: uma mensagem crip-
dos. Como resposta a este problema, a Microsoft incluiu no SQL
tografada somente poderá ser interpretada (extraída) por um
Server 2005 ferramentas de criptografia de dados em nível de
destinatário autorizado. Além disto, informações sobre os dados
colunas. Dentro desta funcionalidade, destacam-se as seguin-
criptografados não podem ser obtidos, uma vez que facilita a
tes características:
utilização de técnicas de decodificação por parte de interceptadores não autorizados;
- Suporte a criptografia de colunas por meio do uso de chaves simétricas e frases de acesso;
- Integridade da mensagem: o destinatário deverá estar
- Acesso a uma variedade de algoritmos simétricos e as-
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simétricos; - Capacidade de se criar e gerenciar chaves; e
sos, utiliza-se a Hierarquia de Chave Criptográfica. Esta hierarquia apresenta a seguinte estruturação:
- Capacidade de se criar chaves assimétricas e certificados
Na raiz da árvore de criptografia encontra-se o Windows
auto-assinados, além se conseguir instalar chaves e certificados
Data Protection API (DPAPI), o qual assegura a hierar-
externos.
quia de chaves na máquina e protege a Chave Mestre
SQL Server 2008: com a disseminação do uso de criptografia
de Serviço (SMK) no servidor de banco de dados. A SMK
em bancos de dados, surgiram novas demandas, tais como arma-
protege a Chave Mestre da Base de Dados (DMK), que é
zenar as chaves separadamente do banco e permitir que aplica-
armazenada no nível de base de dados do usuário, que
ções fizessem uso da criptografia sem ter que realizar alterações
por sua vez oferece proteção aos certificados e às chaves
em seu código fonte. Esta versão do SQL Server contornou estes
assimétricas. Estas então protegem as chaves simétricas,
problemas e adicionou as seguintes funcionalidades aos proces-
as quais protegem os dados. (HSUEH, 2008, p. 2).
sos de criptografia: Criptografia Transparente de Dados (TDE): quando o banco
A Hierarquia de Chave Criptográfica permite ao servidor abrir
é criptografado (incluindo-se aí os arquivos de log e o tempdb) de
chaves e decodificar os dados automaticamente, independente do
forma transparente;
nível ser de objeto ou de base de dados. Porém, deve-se ter em
Gerenciamento Extensível de Chaves (EKM): permite que o
mente que quando a criptografia ocorrer em nível de objeto, todas
gerenciamento das chaves de criptografias possa ser realizado em
as chaves a partir da DMK podem ser protegidas por uma senha
dispositivos externos, conhecidos como hardwares de módulo se-
ao invés de um nova chave. Este procedimento força o usuário a
guro; e
digitar uma senha para acessar os dados, quebrando a corrente
Gerador de números randômicos criptografados.
de decifração. A Figura 1 mostra um esquema de funcionamento desta hie-
2.2 HIERARQUIA DE CHAVE CRIPTOGRÁFICA O Microsoft SQL Server permite criptografar dados em dois níveis: base de dados e objeto (coluna e tabela). Em ambos os ca-
rarquia. As linhas com seta indicam os processos de criptografia, sendo as pontilhadas exemplos de TDE (Criptografia Transparente de Dados), que será abordada mais à frente.
106 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
2.3 CRIPTOGRAFIA SIMÉTRICA
método mais rápido, esta criptografia não é tão segura, uma
De acordo com COLES e LANDRUM (2009), existem, ba-
vez que permite a terceiros poderem ter acesso à chave uti-
sicamente, dois tipos de criptografia: simétrica e assimétrica.
lizada e decifrarem a informação protegida. Tanto o emissor
A criptografia simétrica utiliza uma mesma chave para ci-
quanto o receptor devem deter a chave simétrica.
frar e decifrar as informações. Apesar de ser tratada como um
As chaves simétricas precisam ser protegidas por uma cha-
-- ABERTURA DA CHAVE SIMÉTRICA PROTEGIDA PELO
ve assimétrica ou por um certificado. A instrução a seguir mostra
CERTIFICADO
como criar um certificado, seguido da criação da chave simétri-
USE AdventureWorks
ca que o mesmo irá proteger:
GO
-- CRIAÇÃO DO CERTIFICADO
OPEN SYMMETRIC KEY ‘Chave Simétrica’
USE MASTER
DECRYPTION BY CERTIFICATE ‘Certificado Simétrico’
GO
GO
CREATE CERTIFICATE TDE_CERTIFICADO
-- CRIAÇÃO DA TABELA Costumers_2
WITH SUBJECT = ‘Certificado Simétrico’
-- APENAS O CAMPO Phone SERÁ CRIPTOGRAFADO
GO
SELECT TOP 2
-- CRIAÇÃO DA CHAVE SIMÉTRICA PROTEGIDA PELO
CustomerID,
CERTIFICADO
ENCRYPTBYKEY(KEY_GUID(‘Chave Simétrica’), Phone)
CREATE SYMMETRIC KEY ‘Chave Simétrica’
INTO Costumers_2
WITH ALGORITHM = AES_128
FROM
ENCRYPTION BY CERTIFICATE ‘Certificado Simétrico’
Customers
GO
GO -- FECHAMENTO DA CHAVE SIMÉTRICA
Para criptografar os dados, é necessário ativar a chave criada. Para ilustrar este processo de criptografia, será utilizado
CLOSE SYMMETRIC KEY ‘Chave Simétrica’ GO
o banco de dados padrão do SQL Server chamado ‘AdventureWorks’. Dentro deste banco existe uma tabela chamada Cus-
A partir a instrução acima, foi criada a tabela ‘Customers_2’,
tomers, que será tomada para ser parcialmente criptografada. A
onde apenas os dados da coluna ‘Phone’ foram criptografados.
seguir encontram-se as instruções para chamar a chave simétri-
Realizando-se uma consulta nesta tabela, têm-se os dados des-
ca, criptografar os dados e fechar a chave:
ta coluna embaralhados, conforme figura 3:
Para decifrar os dados criptografados, utiliza-se basicamen-
USE AdventureWorks
te o mesmo processo de criptografia, ou seja, abre-se a chave
GO
simétrica, efetua-se a decifração e fecha-se a chave, conforme
OPEN SYMMETRIC KEY ‘Chave Simétrica’
pode ser observado na instrução a seguir:
DECRYPTION BY CERTIFICATE ‘Certificado Simétrico’
-- ABERTURA DA CHAVE SIMÉTRICA PROTEGIDA PELO
GO
CERTIFICADO
-- DECIFRAÇÃO DOS DADOS PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 107
SELECT
GO
CustomerID,
-- FECHAMENTO DA CHAVE SIMÉTRICA
DECRYPTBYKEY(‘Chave Simétrica’), Phone) AS Phone_
CLOSE SYMMETRIC KEY ‘Chave Simétrica’
Decifrado,
GO
Phone
O resultado da consulta acima é o campo ‘Phone_De-
FROM
cifrado’ exibido da forma original, conforme figura 4:
Costumers_2
2.4 CRIPTOGRAFIA ASSIMÉTRICA
somente de pessoas autorizadas a acessar a informação em
Outro tipo de criptografia bastante utilizada é a assimétrica.
seu estado original. Ambas as chaves são conectadas mate-
Nela são utilizadas duas chaves, sendo uma para criptografar e
maticamente, o que permite que uma decodifique o que a ou-
a outra para decifrar. A primeira é de domínio público, ou seja,
tra codificou. Este processo é mais lento do que a criptografia
ela é divulgada para qualquer pessoa que deseja criptografar
simétrica por utilizar um algoritmo mais complexo.
a informação. Já a segunda é privada e deve estar em poder
De acordo com COLES e LANDRUM (2009), para se criar
SQL Server 2008 (apenas nas versões Enterprise e Developer) é
uma chave assimétrica, existem vários programas conhecidos
a Criptografia Transparente de Dados. Este método de seguran-
como SKN (Strong-Name Key). Estes programas criam, ao mes-
ça permite criptografar o banco de dados sem que seja neces-
mo tempo, a chave pública e a chave privada que integram a
sário implementar modificações estruturais no banco de dados
chave assimétrica. Com a chave pública, é permitido criptografar
e/ou nas aplicações que o referenciam
os dados, porém somente com a chave privada os mesmos po-
O grande objetivo deste tipo de criptografia é garantir que
dem ser decifrados. As instruções de comando para criptografar
os arquivos físicos do SQL Server (arquivos de dados – .mdf –,
os dados são as mesmas demonstradas no tópico sobre chaves
de log transacional – .log – e de backup – .bak) estejam prote-
simétricas, diferenciando-se apenas no momento da decifração,
gidos, ou seja, se alguém não autorizado conseguir acesso a
onde deve ser referenciada a chave privada de uso exclusivo.
estes arquivos e tentá-los atachar em outro servidor, não conse-
Ainda segundo COLES e LANDRUM (2009), é interessante
guirá restaurar o seu conteúdo.
mencionar que, como as chaves pública e privada são interliga-
COLES e LANDRUM (2009) ressaltam que a TDE atua entre
das matematicamente, é possível, em caso de perda da primei-
a área de buffer e a área de armazenamento físico de dados.
ra, recuperá-la a partir da segunda. Porém, por uma questão de
Quando ocorre uma requisição de páginas de dados armazena-
segurança, não é possível efetuar o processo inverso, ou seja,
das fisicamente, ela passa através da TDE e é decifrada antes
recuperar a chave privada a partir da chave pública. Daí a ne-
de ser entregue na área de buffer. Este posicionamento é que
cessidade de se guardar com muito cuidado a chave privada.
permite ao TDE ser operado de forma invisível para o cliente (daí o conceito de transparência).
2.5 CRIPTOGRAFIA TRANSPARENTE DE DADOS (TDE – TRANSPARENT DATA ENCRYPTION) Um conceito muito interessante introduzido no Microsoft
Além de criptografar o banco de dados designado, COLEDGE (2009) destaca que a TDE pode também criptografar o tempdb, fazendo com que todos os dados que passarem por este
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banco sejam criptografados/decifrados, para todos os bancos
compreende a seguinte instrução:
alocados em uma mesma instância. Desta forma, pode ocorrer
USE AdventureWorks
queda na performance de bancos não criptografados que fazem
GO
uso do tempdb baseado em TDE.
CREATE DATABASE ENCRYPTION KEY
O processo de utilização da criptografia transparente de da-
WITH ALGORITHM = AES_128
dos passa por algumas etapas que serão descritas a partir de
ENCRYPTION BY SERVER CERTIFICATE TDE_CERTIFI-
agora.
CADO
A primeira etapa é a criação de uma chave master de banco
GO
(DMK – Database Master Key). Esta chave visa proteger os certificados do servidor que, por sua vez, garante proteção à chave
Na instrução acima, foi utilizado o algoritmo AES_128 (AES
de criptografia do banco (DEK – Database Encryption Key). A
com chave de 128 bits). Porém podem ser utilizados outros ti-
instrução de criação da DMK é a seguinte:
pos. Agora, basta ativar a criptografia no banco designado, da seguinte forma:
USE MASTER G
O
ALTER DATABASE [AdventureWorks]
CREATE MASTER KEY ENCRYPTION BY PASSWORD =
SET ENCRYPTION ON
‘senha’
GO
GO Em seguida, deve ser criado o certificado que, como já
A partir deste momento, o banco entra em processo de
foi dito, protegerá a DEK:
criptografia, o que restringe algumas ações tais como modifi-
USE MASTER
car os arquivos físicos e desatachar o banco. Para acompanhar
G
O
o status deste processo, o SQL Server dispõe de um consulta
CREATE CERTIFICATE TDE_CERTIFICADO
dinâmica de gerenciamento (DMV) chamada sys.dm_database_
WITH SUBJECT = ‘Certificado TDE’
encryption_keys. Esta consulta pode ser chamada da seguinte
GO
forma: SELECT
Neste momento, torna-se necessário realizar o backup do
DB_NAME(DATABASE_ID) AS NOME_BANCO,
certificado fora do servidor. Isto é muito importante quando for
DATABASE_ID AS ID_BANCO,
necessário restaurar o banco de dados a partir de um backup ou
CASE ENCRYPTION_STATE
quando se desejar atachar o banco em outro servidor. O backup
WHEN
do certificado pode ser assim realizado:
Presente’
0
THEN
‘Sem
Chave
de
Criptografia
USE MASTER
WHEN 1 THEN ‘Descriptografado’
GO
WHEN 2 THEN ‘Criptografia em Progresso’
BACKUP CERTIFICATE TDE_CERTIFICADO
WHEN 3 THEN ‘Criptografado’
TO FILE ‘C:\BACKUPS\TDE_CERTIFICADO.cer’
WHEN 4 THEN ‘Alteração de Chave em Pro-
WITH PRIVATE KEY
gresso’
(
WHEN 5 THEN ‘Descriptografia em Processo’
FILE
=
‘C:\BACKUPS\TDE_CERTIFICADO.
END AS STATUS_CRIPTOGRAFIA,
pvk’,
KEY_ALGORITHM + ‘_’ + KEY_LENGTH AS ALGOROTI-
ENCRYPTION BY PASSWORD ‘senha_privada’
MO,
)
PERCENT_COMPLETE AS PERENCENTUAL_COMPLE-
GO
TO FROM
Agora, tendo o backup sido realizado, muda-se o foco para
sys.dm_database_encryption_keys
o banco que será criptografado (neste caso será utilizado nova-
GO
mente o banco de exemplo do SQL Server chamado AdventureWorks), procedendo-se à criação da chave de criptografia do banco (usada para criptografias baseadas em TDE). Esta etapa
A execução da consulta acima resulta nas seguintes informações:
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 109
Finalmente, é necessário observar algo realmente importante. Quando for preciso restaurar um backup de um banco criptografado, deve-se garantir que o certificado que protege a DEK esteja ativo no servidor de destino. Caso contrário, ocorrerá falha durante o processo de restauração. Para ativar o certificado, deve-se proceder da seguinte forma: -- CRIAR A DMK USE MASTER
É de fácil implementação, pois não necessita reconfigurar o servidor; É conveniente no que diz respeito à transparência, uma vez que dispensa configurações nas aplicações clientes; e Permite criptografar qualquer tipo de dado. Em contrapartida, COLES e LANDRUM (2009) também apontam algumas desvantagens, a saber: Quando pequenas quantidades de dados precisarem ser
GO
criptografadas, isto deve ser repensado, pois para cada pro-
CREATE MASTER KEY ENCRYPTION BY PASSWORD =
cesso de criptografia, ocorre um incremento na CPU de 3 a 5%.
‘senha’
Se o servidor é muito requisitado, este incremento pode afetar
GO
consideravelmente a performance; e
-- RESTAURAR O CERTIFICADO
A TDE não é recomendada quando se deseja limitar ape-
CREATE CERTIFICATE TDE_CERTIFICADO
nas partes do banco de dados. Neste caso, aconselha-se crip-
FROM FILE = ‘C:\BACKUPS\TDE_CERTIFICADO.cer’
tografar apenas os objetos necessários (tabelas e/ou colunas)
WITH PRIVATE KEY
e não o banco como um todo.
(
FILE = ‘C:\BACKUPS\TDE_CERTIFICADO.
ENCRYPTION BY PASSWORD ‘senha_priva-
tada no SQL Server 2008, foi mencionado que se pode utilizar um módulo externo para gerenciamento de chaves. Este mó-
da’
2.6 GERENCIAMENTO EXTENSÍVEL DE CHAVES Durante a abordagem sobre a hierarquia de chaves ado-
pvk’,
)
GO
dulo é conhecido como EKM (Extensible Key Management) e é fornecido por terceiros. Para que um módulo EKM funcione corretamente, ele deve atender a dois requisitos básicos: ser
De acordo com COLES e LANDRUM (2009), a criptografia apresenta como principais vantagens:
Este artigo não tem como objetivo apresentar instruções de como configurar módulos EKM (uma vez que existem vários no
um aparelho dedicado à criptografia e dispor de uma biblioteca DLL em conformidade com a Microsoft.
serem armazenadas e gerenciadas fora do servidor, garantindo segurança e proteção às mesmas; e
mercado e cada um tem suas particularidades) e, sim, demons-
O módulo EMK é dedicado à criptografia, o que faz com as
trar esta funcionalidade que se torna imprescindível no quesi-
tarefas do servidor referentes à criptografia e decifração existen-
to segurança. Porém, devem-se ser observados dois aspectos
tes no servidor SQL sejam transferidas para o módulo, propor-
muito importantes e benéficos a respeito destes módulos:
cionando auto ganho de performance na instância SQL.
Como se trata de um hardware externo, as chaves passam a
Apesar de todos os benefícios já citados, o módulo EKM
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apresenta uma limitação: apenas dados limitados a 8.000 bytes podem ser criptografados, uma vez que há restrição de comunicação entre o hardware do módulo e o servidor SQL Server. 3.0 CONCLUSÃO A criptografia é uma grande aliada quando se pensa em proteção a informações armazenadas em bancos de dados. Sua utilização deve ser bem avaliada, uma vez que o processo de criptografar/decifrar os dados afetam consideravelmente o servidor SQL Server. Se isto ocorrer, a adoção de um módulo EKM pode ser uma boa solução. Porém, independente do tipo de criptografia a ser adotada (assimétrica, simétrica ou transparente), deve-se ter em mente que é essencial implementar um eficaz controle de gerenciamento de chaves, de modo que as mesmas estejam disponíveis apenas para aqueles que devem ter acesso aos dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARSTARPHEN, Sylvester; SIMMONS, Ken. Pro SQL Server 2008 Administration. United States of America: Apress, 2008. 568 p. COLEDGE, Rod. SQL Server 2008 – Administration in Action. Greenwick: Manning Publications Co., 2009. 442 p. COLES, Michael; LANDRUM, Rodney. Expert SQL Server 2008 Encryption. United States of America: Apress, 2009. 303 p. HSUEH, Sung. Criptografia de Base de Dados no SQL Server 2008 Enterprise Edition. Disponível em: <www.microsoft.com.br/... SQL/SQL_SQL/SQLServer2008_Encriptacao_Base_Dados_SQL_Server_2008_Enterprise_Edition-BRZ.doc> Acesso em: 27 abril 2011 MELO, Heberton. Criptografia de Dados no SQL Server. SQL Magazine 76. São Paulo. n. 76. p.85-105, set. 2008.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Especialista em Bancos de Dados e Business Intelligence (rodolfoom@yahoo.com.br) 2 DBA, Mestre em informática e professor do Centro Universitário Newton Paiva (iremar.prof@uol.com.br)
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GESTÃO DO CONHECIMENTO: ECM e GED JULIANA COSTA SILVA 1 jcs.julianacostasilva@gmail.com
IREMAR NUNES DE LIMA iremar.prof@uol.com.br
2
RESUMO: O presente trabalho aborda a gestão do conhecimento e gestão da informação. É discutido como a segurança dos dados é tratada nos mesmos e como influenciam nos processos organizacionais. Uma comparação entre dois sistemas de gestão de conteúdo é exposta para exemplificar a importância de realizar uma análise consistente ao se implantar um projeto de gerenciamento de conteúdo em uma organização. PALAVRAS-CHAVE: Gestão do conhecimento, Gestão da informação, ECM, GED.
1 INTRODUÇÃO
como para a melhoria no repasse das informações
Ao longo dos anos a humanidade vem sofrendo diversas
na organização.
transformações. A sociedade encontra-se numa fase que muitos chamam de “era da informação”. Mas o que é a informação?
Com o aumento no uso de computadores pelas organi-
Segundo o dicionário Aurélio3 informação é: “conheci-
zações, o número de dados gerados pelas mesmas vem au-
mento amplo e bem fundamentado, resultante da análise e combinação de vários informes. Será que tudo o que
mentando significativamente e seu armazenamento, na maioria
temos disponível em nossas diversas fontes, como a Internet,
do com que se tenham processos ineficientes. É necessário
são realmente informações? Se analisarmos as notícias que
organizar estes dados e analisar quais realmente são úteis e
são veiculadas diariamente, podemos notar que grande parte
cogentes à empresa.
daquilo que ouvimos ou lemos, não são informações e sim especulações sem fundamentos. As informações quando agregadas geraram o que se chama de conhecimento. Segundo Santos e Cueto (2010), pode-
das vezes, é realizado de forma dispersa e sem controle fazen-
O conhecimento pode ser considerado o mais importante dos ativos intangíveis e por isso deve ser valorizado. É preciso utilizar nas organizações uma gestão que permita produzi-lo e disseminá-lo para todos os envolvidos nos processos.
se dizer que o conhecimento é criado por meio da interação
Neste âmbito surge a gestão do conhecimento, que pode
entre o conhecimento tácito - advindo da formação cultural e
ser definida como uma filosofia de compartilhamento, que bus-
social - e o conhecimento explícito - advindo da informação for-
ca utilizar a informação organizacional de forma otimizada e
mal e acreditada como fidedigna.
centralizada, permitindo gerar um conhecimento consistente.
O conhecimento torna-se mais importante e significativo a
Segundo Tomael (2008), o processo de gestão do conhe-
cada dia. Segundo Santos e Cueto (2010, Apud HADDAD E
cimento inicia-se pela necessidade em obter a informação e
DRAXLER, 2002, p. 4), a cultura das empresas está mudando:
termina com uso desta informação e este processo está sendo
Nas três últimas décadas, foram geradas mais infor-
reconhecido como essencial dentro das organizações.
mações do que nos últimos cinco milênios. Este fato
Para organizar e atribuir velocidade, aos sistemas de ges-
tem mudado muitos paradigmas, como os ativos in-
tão do conhecimento, ferramentas tecnológicas devem ser uti-
tangíveis das empresas e a valorização do conheci-
lizadas pelas empresas.
mento coletivo ou capital intelectual. Nesse sentido,
Desta maneira o objetivo do desenvolvimento deste artigo
torna-se necessária uma gestão do conhecimento
é identificar as necessidades das organizações que as leve a
deste capital intelectual produzido e desenvolvido
utilizar o gerenciamento do conhecimento; mostrar a relevância
na organização ao longo dos anos. Haverá benefí-
das ferramentas de Gerenciamento Eletrônico de Documentos
cio tanto para o processo de ensino-aprendizagem,
(GED) e Enterprise Content Management (ECM) na gestão das informações organizacionais e esclarecer a importância de se
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utilizar empresas especializadas ao implantar o gerenciamento
informações durante todo ciclo de vida de um documento.
do conhecimento e as ferramentas de gestão documental. Para
Estas tecnologias têm como fundamento fazer com que a
exemplificar serão apresentadas as ferramentas ECM Oracle e
informação seja obtida de forma consistente, otimizada e rápida
Microsoft SharePoint.
pelo usuário. Elas possibilitam gerenciar informação estruturada
O restante do artigo está estruturado em cinco seções, sendo elas: A seção 2 engloba a conceituação dos sistemas
e não estruturada como papel, e-mail, documentos, web sites e multimídia de uma organização.
de gerenciamento do conhecimento; A seção 3 abrange o
Grande parte das empresas que não possuem uma destas
tratamento da segurança no Oracle ECM Suite e no Microsoft
tecnologias implantadas podem enfrentar problemas como du-
SharePoint, descrevendo os modos de autenticação, os objetos
plicação de conteúdo e baixo índice de reaproveitamento dos
relacionados à segurança e o tratamento dos mesmos; a seção
mesmos, dificuldade no controle de acesso e segurança do con-
4 apresenta uma análise comparativa relacionando o sistema
teúdo, armazenamento e controle de versões.
de gerenciamento de conteúdo da Oracle com o pertencente à
Os sistemas de gerenciamento de conteúdo e documentos
Microsoft; a seção 5 expõe alguns cases de organizações que
compartilham o conteúdo por toda a empresa, utilizando um re-
utilizaram as tecnologias descritas anteriormente para estruturar
positório centralizado. O que elimina a redundância e automatiza
a gestão de seus conteúdos; e por último, a seção 6 que apre-
os processos.
senta a conclusão do trabalho.
Estes sistemas também facilitam o controle documental no domínio legislativo, ou seja, permitem atender especificamente as
2 SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DO CONHECIMENTO
leis que regem cada espécie documental, como, como por exem-
Segundo Santos e Cueto (2010, p. 431) os sistemas de ge-
plo, tempo legal de guarda de um documento. Eles permitem criar
renciamento do conhecimento são:
controle de ciclos de vida capazes de automatizar todo processo
sistemas de informação que facilitam a aprendizagem
ao qual o conteúdo passará na organização, facilitando assim as
organizacional e a criação de conhecimentos. Utilizam
possíveis auditorias venham a sofrer. A falta destes controles mui-
uma diversidade de Tecnologia de Informação para co-
tas vezes causa transtornos às empresas, pois elas dificultam o
letar e editar informações, avaliar seu valor, disseminá-
gerenciamento de quais documentos realmente são necessários,
las dentro da organização e aplicá-las como conheci-
quais não precisam mais ser armazenados. Ao parametrizar os
mento dos processos de uma empresa.
sistemas é possível criar regras que controlem o período de armazenamento de cada conteúdo, assim as perdas documentais são
Para obter um gerenciamento de conhecimento em uma or-
mínimas, ao contrário dos métodos padrões, e diminuirá o risco
ganização o primeiro passo é identificar o conhecimento neces-
de em uma auditoria deparar com o inconveniente de precisar de
sário para realização de cada atividade. Após este mapeamento
um documento que não mais possui armazenado.
é possível traçar uma estratégia do conhecimento, a partir de
É um desafio para as organizações realizar um projeto de
uma análise sobre os conhecimentos já adquiridos pela empre-
gestão documental bem sucedido, pois é necessário fazer uma
sa, mas não documentados e o conhecimento necessário à re-
análise de vários aspectos, como: qual resultado a empresa pre-
alização do negócio.
tende obter com a implantação, quais benefícios poderá trazer
Segundo Baldam, Valle e Cavalcanti (2002, p.30, Apud
à organização, se haverá lucros com produtividade, se haverá
STRASSMANN4, 2000), de acordo com estudos realizados 50%
otimização no tempo dos processos ou se ocorrerá redução dos
dos conhecimentos necessários para o sucesso de uma orga-
custos alavancando um ganho financeiro.
nização encontram-se na sua forma explícita (documentados ou
A implantação do projeto requer muita atenção e não pode
não), dentro da própria organização, outros 25% são encontra-
ser feito simplesmente porque está na moda. Neste cenário sur-
dos no formato explícito fora da organização e 25% são conhe-
ge uma figura muito significativa denominada consultor. Ele é o
cimentos tácitos de seus colaboradores.
responsável por utilizar boas práticas de mercado nas etapas de
Para alcançar o gerenciamento do conhecimento é necessária
desenvolvimento. Muitos projetos são fadados ao fracasso por
a realização da gestão do conhecimento explícito, que como dito
não terem sido bem estruturados e analisados especificamente
anteriormente representa mais da metade do conhecimento da or-
para a organização.
ganização. Para contribuir com esta gestão muitas empresas têm
Algumas empresas se iludem ao pensar que se compra-
utilizado duas tecnologias específicas para este fim: GED e ECM.
rem o melhor software do mercado, seu projeto ocorrerá com
Com estas tecnologias podemos armazenar, localizar e recuperar
sucesso. Não se preocupam em contratar uma empresa expe-
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riente para realizar a implantação. Fazem um alto investimento
SEGURANÇA NOS SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DE CONTEÚDO
na compra do produto sem ter capacitação para consolidar o
O controle da segurança da informação em uma organiza-
que era necessário no projeto. Desta forma, após prejuízo de
ção é um fator de grande complexidade. Ele engloba vários as-
tempo e dinheiro, procuram um consultor que precisa estruturar
pectos, como: razões políticas, a cultura organizacional, impo-
o projeto mal sucedido e utilizar a ferramenta adquirida, que
sições legais e a maneira como os envolvidos nos processos
talvez nem seja a mais indicada para aquela empresa, para
de manipulação destas informações lidam com os mesmos.
tentar solucionar o problema gerado.
Os sistemas de gerenciamento de conteúdo, como Mi-
Os projetos de ECM e GED mudam a forma com que as
crosoft SharePoint e Oracle ECM Suite, podem ser utilizados
pessoas trabalham. Pois as tarefas que muitas vezes eram rea-
para auxiliar as organizações nesta árdua tarefa. Adequando
lizadas manualmente, passam a ser controladas por ferramenta
os processos de gerenciamento de conteúdo com as normas
informatizadas, definidas a partir da análise das necessidades
políticas e legais, parametrizando os sistemas conforme as ne-
empresariais. Ocorre uma mudança cultural na organização.
cessidades dos envolvidos, permitindo que cada organização
É necessário que seja pensado em um treinamento para os
englobe suas características no modo ao qual o sistema irá
setores envolvidos neste novo sistema empresarial. Segundo
atuar. Segundo Meireles (2010), as empresas perceberam a
Bassi (2008, p. 20), “O treinamento vai quebrar as resistências
importância da gestão do conhecimento para melhorar o seu
culturais dos usuários. Deve-se tratar do envolvimento das
desempenho e os responsáveis pela segurança corporativa
pessoas desde o início para evitar na hora da implantação a
precisam fazer uso deste conhecimento para aprimorar a se-
resistência.”
gurança empresarial.
Diversos aspectos empresariais são afetados pela agrega-
Estes sistemas precisam estar alinhados com as necessi-
ção da gestão do conhecimento e tecnologias de gestão docu-
dades da organização. Devem ser parametrizados para aten-
mental. Utilizar estas formas de gerenciamento é um desafio que
der aos requisitos específicos de cada área que os utilizam.
demanda tempo e conhecimento específico. Se implantados cor-
Para isso é necessário criar regras de controle de acesso,
retamente poderão trazer muitos benefícios à organização.
como: grupos de permissões definidos, limites que determi-
Cada vez mais empresas têm buscado estes gerencia-
nem o que os usuários podem realizar no conteúdo que pos-
mentos para implantá-los em sua cultura empresarial. Estas
suem permissões e como este conteúdo será tratado, e como
novas metodologias gerenciais terão grande influência nas
as ações realizadas nos mesmos podem ser auditadas.
companhias e cada vez mais impactará a cultura empresarial. Utilizá-las da maneira mais consistente é uma tarefa que vem amadurecendo cada dia mais.
Segurança no Microsoft SharePoint O Microsoft SharePoint é um sistema utilizado para realizar
Muitas empresas sofrem com a falta de controle sobre o
a gestão de conhecimento das organizações, pertencente à
conhecimento e conteúdo organizacional. Enfrentam constantes
Microsoft, que permite realizar o controle do ciclo de vida dos
problemas como perdas de documentos, duplicação de mate-
conteúdos empresariais. Segundo Beltrame, Santos e Maçada
riais, falta de controle de versões. Às vezes precisa consultar um
(2006), o Microsoft Sharepoint possui uma base de dados de
documento, para isso dependem do setor de arquivos, que mui-
documentos, chamada de site, que permite a comunicação e
tas vezes estão localizados em outro prédio. Logo o arquivista,
colaboração entre membros e equipes e coordenação de pro-
em meio a todo o acervo documental tem que procurar pelo con-
cessos de negócio da organização.
teúdo especificado, trabalho este que pode demorar diversas
A segurança no Microsoft SharePoint é um quesito funda-
horas e mesmo dias. Após a localização é necessário ir a uma
mental que deve possuir um planejamento e uma estruturação
copiadora, fazer uma cópia do documento, voltar o original para
bem definidos ao ser implantado em uma organização. O que
o arquivo e levar a cópia via malote até o solicitante. O que pode
irá permitir que o conteúdo disponibilizado apenas seja aces-
comprometer a segurança do conteúdo. Neste âmbito a utiliza-
sado pelos usuários que possuírem as devidas permissões.
ção de sistemas de gerenciamento de conteúdo nas mesmas
Segundo a Microsoft5 (2010), o controle dos acessos no
pode ser de grande utilidade. Estes sistemas manterão o con-
Microsoft SharePoint pode ser realizado a partir de permissões
teúdo em um repositório centralizado, onde todos os envolvidos
dadas aos seguintes níveis do conjunto de sites: site, biblioteca
que necessitarem acessá-lo e obtiverem as devidas permissões
ou lista, pasta e documento ou item. Como pode ser verificado
sobre o mesmo, podem consultá-lo de seu próprio computador,
na FIG. 1:
simplificando todo processo descrito anteriormente. 114 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Onde, segundo a empresa:
- Objeto Protegível - é o objeto ao qual o usuário ou o grupo
- Permissões - são as responsáveis por conceder ao usuário a capacidade de executar ações específicas.
receberá a permissão de acesso. O controle de acesso por usuário individual deve ser reali-
- Níveis de permissão - são conjuntos de permissões que per-
zado apenas em situações muito específicas, pois, segundo a
mitem aos usuários executar um conjunto de tarefas relacionadas.
Microsoft, se sua utilização não for equilibrada o gerenciamento
- Grupo do SharePoint - é um grupo de usuários que são
de permissões se tornará mais trabalhoso e o sistema poderá
definidos no nível de conjunto de sites para facilitar o gerenciamento de permissões. A cada grupo do SharePoint é atribuído um nível de permissão padrão.
ficar mais lento. O Microsoft Sharepoint, por padrão, tem alguns grupos e níveis de permissão definidos, como pode ser visto na tabela
- Usuário - é uma pessoa com uma conta de usuário de qualquer provedor de autenticação com suporte no aplicativo Web.
1, mas caso a organização necessite outros grupos e níveis de permissão personalizados podem ser criados.
Os níveis de permissão podem ser definidos como:
alterar o layout das páginas do site usando o navegador ou o
- Somente exibição - inclui permissões que permitem aos
Microsoft SharePoint Designer.
usuários exibir páginas, itens de lista e documentos. - Leitura - Inclui permissões que permitem aos usuários exibir itens nas páginas do site.
- Controle total - Inclui todas as permissões. A correta definição dos aspectos de segurança e permissões de acesso no sistema Microsoft SharePoint é um fator
- Contribuição - Inclui permissões que permitem aos usuá-
determinante para o sucesso do mesmo na organização, pois
rios adicionar ou alterar itens nas páginas do site ou em listas e
assegurará que, pelo que depender das definições tecnológi-
bibliotecas de documentos.
cas, o conteúdo apenas será disponibilizado aos usuários que
- Design - Inclui permissões que permitem aos usuários
previamente foram definidos como autorizados a utilizá-lo.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 115
Segurança no Oracle ECM Suite
de controlar todo ciclo de vida de um conteúdo empresarial,
O Oracle ECM Suite, assim como o Microsoft SharePoint,
conforme é exibido na FIG. 2:
é um sistema de gerenciamento de conteúdo. Ele é capaz
Primeiramente temos a criação do conteúdo (em meio eletrônico ou físico) e a captura do mesmo, para ser tratado pelo
nistração de usuários, criação de grupos de segurança e implementação de roles e contas.
sistema. Em seguida o conteúdo é armazenado no repositório.
Segundo a Oracle6 o seu sistema de gerenciamento de con-
Ao ser gravado é criada a primeira versão do documento. Após
teúdo é projetado para quatro tipos de usuários: consumidores,
este processo cada vez que o conteúdo for alterado é criada
colaboradores, administradores e sub-administradores. Onde
uma nova versão do mesmo. Para facilitar a recuperação deste
eles podem ser definidos como:
conteúdo é realizada uma indexação, onde informações sobre o mesmo são passadas por quem o armazenou. Após este processo é realizado o gerenciamento deste conteúdo, definindo, por exemplo, como será o seu fluxo. Em seguida é realizado um filtro neste conteúdo onde se define quem poderá acessá-lo, em quais condições, para que seja distribuído com segurança. Após esta etapa o conteúdo é publicado para que o restante da organização possa realizar pesquisas, visualizar e re-
- Consumidores: Os usuários que apenas precisa localizar, visualizar e imprimir arquivos. - Colaboradores: Os usuários que precisam criar e revisar arquivos. - Sub-administradores: Os administradores que supervisionam um subconjunto de uma instância. - Administradores: Os administradores que supervisionam uma instância inteira.
cuperar estes documentos. Quando a organização não necessitar
Os documentos aos serem armazenados no sistema são
mais que este conteúdo esteja disponível mais para toda organi-
classificados como pertencentes aos grupos de segurança, que
zação é realizada a retenção do mesmo, onde ele é classificado
só podem ser acessados por usuários que receberam privilé-
como retido, para fins legais, históricos, etc. Caso este conteúdo
gios para este fim. Cada grupo de segurança tem vinculado a
não necessite ser retido ele então é excluído ao fim do ciclo.
ele roles responsáveis pelas concessões que serão dadas aos
A segurança neste sistema é realizada a partir da admi-
usuários, conforme pode ser visto na FIG. 3:
116 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Onde temos as seguintes definições para as permissões:
mesmos que podem influenciar na escolha de uma solução em
R – Permissão de leitura de conteúdos no grupo de segurança.
uma organização que tenha a necessidade de utilizar uma ferra-
RW – Permissão de leitura e escrita concedida ao usuário.
menta do gênero.
RWD – Permissão de leitura, escrita e exclusão em determinado grupo.
O Oracle ECM Suite é uma solução de gestão de conteúdo direcionada para empresas de médio e grande porte, pois exige
RWDA – Permissão de leitura, escrita, exclusão e administração de metadados no sistema.
um alto investimento para sua implantação. Segundo a Gartner (2010), o Oracle ECM Suite é uma suíte
Um usuário pode ter permissões distintas em grupos de
madura, bem integrada e que permite aos seus clientes apro-
segurança diferentes, adequando os acessos às necessida-
veitar a infraestrutura Oracle já existente no negócio, reduzindo
des do negócio.
o custo total de implantação. Tornando-o desta forma um forte
Os responsáveis pela implantação do sistema devem tratar
concorrente no mercado de ECM. Ele possui uma integração
a segurança como um fator de extrema importância para o su-
muito importante com o BPM Oracle, o que permite a criação de
cesso do projeto na organização. Qualquer falha implementada
workflows extremamente complexos e eficazes.
poderá causar problemas na credibilidade do sistema e trazer sérios problemas para a empresa que o utilizará.
Alguns problemas apontados pela Gartner (2010), é o fato de a Oracle está apenas começando a implementar o conceito de WEB 2.0 em seus produtos da suíte ECM, sendo que os recursos apesar de promissores ainda são imaturos.
ANÁLISE COMPARATIVA: MICROSOFT
Algumas reclamações constantes dos usuários do Oracle
SHAREPOINT E ORACLE ECM SUITE A implantação de um sistema para gerenciamento de conte-
ECM Suite diz respeito à linguagem técnica utilizada em suas
údo deve ser cautelosa, a fim de garantir que todas as necessi-
funcionalidades e interface do sistema, que por não ser amigá-
dades sejam supridas com sucesso. Para isso é importante que
vel causa uma aversão por parte dos operadores, forçando às
os profissionais não acreditem que se comprarem uma solução
organizações a implantar uma nova camada na aplicação, que
reconhecida no mercado alcançarão êxito nesta empreitada. É
integrada ao sistema da Oracle, torna-o mais simples para o
preciso que busquem apoio de organizações especializadas no
usuário final.
assunto, para que desta forma consigam encontrar as ferramen-
O Microsoft Sharepoint é uma solução muito interessante do
tas que melhor atendam as suas necessidades e que definem
ponto de vista de adaptação dos usuários, pois em sua maioria
como deverá ocorrer a implantação, utilizando um projeto bem
já estão acostumados a operar os sistemas da Microsoft.
estruturado, realizado a partir da análise da organização. A seguir será demonstrada uma análise comparativa entre os sistemas Microsoft Sharepoint e Oracle ECM Suite, a partir 7
Segundo a Gartner (2010), o Microsoft Sharepoint é um produto muito bem sucedido e com alto grau de penetração no mercado.
dos dados fornecidos pela Gartner , em seu Magic Quadrant
Um problema do sistema é que algumas empresas que
for Enterprise Content Management, conforme pode ser visto na
possuíam o Sharepoint em versões mais antigas têm encontra-
FIG. 4, com o objetivo de apontar algumas características dos
do problemas para migrar para a versão 2010, principalmente no
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 117
caso de implementações personalizadas, embora vários parcei-
so, a capacidade de gerenciamento de fluxos de trabalho neste
ros da Microsoft ofereçam ferramentas de migração. Além dis-
sistema é limitada. (GARTNER, 2010).
Estas características diferenciadas não obrigam as organi-
Segundo a revista Document Management (2010), o coope-
zações a abrir mão das funcionalidades que o sistema da outra
rativismo no Paraná é considerado um dos mais organizados e
empresa poderia lhe oferecer. Segundo a Oracle (2008), mui-
desenvolvidos do Brasil.
tas organizações têm optado por utilizar o Sharepoint como um
Algumas destas cooperativas implantaram sistema de ges-
aplicativo front-end, realizando uma interface para a entrada de
tão de processos gerenciais e também o Sistema de Gestão de
conteúdos no sistema e utilizando o Oracle ECM Suite como o
Qualidade, ISO 9001. Durante a implantação destes sistemas,
motor do sistema, que irá realizar o controle dos fluxos e o arma-
sentiram a necessidade de organizar o otimizar a gestão de seus
zenamento do conteúdo nos repositórios.
documentos, para atender os requisitos da norma, utilizando um
Saber analisar claramente o que é aplicável a cada situação é o que determinará o sucesso ou o fracasso em um projeto de ECM.
software que facilitasse o controle de seus processos. Como exemplo pode-se referenciar a Cooperativa Agroindustrial Lar, que, em 2002, a partir da necessidade de encontrar
CASES DE SUCESSO
um software que se adequasse ao seu segmento, buscou no
Diversas empresas ao redor do mundo já se atentaram para
mercado que oferecesse um sistema que atendesse às deman-
a importância de realizar o controle de seus conteúdos e infor-
das da companhia.
mações organizacionais. Implantaram em sua estrutura tecnoló-
Segundo Document Management (apud Marshall 2010), no
gica os conceitos de gestão de conhecimento e suas ferramen-
início a empresa adquiriu uma ferramenta, mas passou por di-
tas, trazendo assim diversos benefícios para a empresa. A seguir
versos problemas na utilização do sistema que era complexo,
serão exibidos alguns cases de sucesso destas organizações.
sendo que os usuários encontravam dificuldade de navegar até mesmo nas telas mais simples do sistema.
ECM na Agroindústria
A empresa possuía diversas filiais, sendo que algumas delas
Um sistema de gestão documental foi desenvolvido pela
se localizavam em outro país, havendo a necessidade de comuni-
empresa Digitaldoc8 para atender as necessidades do coope-
cação de dados e troca de documentos entre elas, o que este sis-
rativismo agroindustrial.
tema não permitia, por não possibilitar a integração com a intranet.
118 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Segundo Document Management (apud Leonhart 2010), a
em papel fosse praticamente eliminada, os processos decisó-
Cooperativa Lar precisava de um software leve, iterativo, com in-
rios e atividades operacionais foram agilizados, conseguiram
terface amigável, estável, que desse suporte aos processos de
uma rápida adaptação dos usuários, sem a necessidade de rea-
qualidade e que disponibilizasse constantes aperfeiçoamentos. A
lizar altos investimentos em treinamentos, os fluxos empresariais
empresa Digitaldoc foi escolhida para desenvolver este projeto.
foram otimizados, diminuindo o tempo gasto nos projetos. A im-
A partir desta parceria um sistema foi desenvolvido para integrar as necessidades do negócio e permitiu o acesso dos
plantação do sistema atingiu os objetivos estabelecidos durante a análise e tornou-se um case de sucesso para a organização.
diversos usuários das filiais através da internet. Segundo Document Management (apud Marshall 2010), a
CONCLUSÃO
implantação do sistema desenvolvido pela Ditaldoc os proces-
As organizações estão cada vez mais preocupadas com a
sos decisórios tornaram-se mais ágeis, o tempo gasto com pro-
maneira que suas informações são manipuladas. Elas percebe-
cura de documentos foi reduzido, preveniu-se os possíveis cus-
ram a importância de gerenciar o conhecimento, este que está
tos gerados pela utilização de documentos obsoletos, evitou-se
sendo considerado o mais importante dos bens intangíveis.
a recriação de informações já existentes, diminuindo assim os
As empresas podem ser beneficiadas ao utilizar o geren-
gastos gerados por retrabalho, possibilitou o registro do capi-
ciamento do conhecimento e ferramentas GED e ECM em sua
tal intelectual e permitiu a disseminação do conhecimento entre
estrutura de trabalho. A busca por estas tecnologias tem aumen-
as diversas áreas e processos. Tornando-se uma ferramenta de
tado, sendo utilizadas em diversas situações.
grande utilidade no dia-a-dia da organização.
Apesar das tecnologias estarem evoluindo cada dia mais, as organizações necessitam desenvolver uma maturidade empre-
ECM na análise de crédito
sarial, pois mesmo com todos os mecanismos de segurança e
O Banco BMG, devido à evolução do mercado de crédito,
gerenciamento da informação, se os envolvidos na utilização dos
oriunda do bom momento econômico que o Brasil estava pas-
mesmos não contribuírem respeitando as normas impostas, utili-
sando em 2007, começou a enfrentar uma grande concorrência
zando os sistemas da forma adequada e se lembrando de que a
gerada pelas instituições financeiras que ofereciam a seus clien-
informação produzida na organização tem como objetivo o bom
tes novos produtos e serviços.
aproveitamento organizacional e não apenas pessoal, não haverá
Então seus profissionais sentiram uma necessidade de
tecnologia suficiente que garanta o sucesso dos mesmos.
encontrar uma solução que permitisse expandir seus negócios de forma segura, ágil e confiável. Eles pretendiam minimizar a
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quantidade de papel que circulava na organização, integrar os
ALVES, Francisco Arnoudo. Gestão de Conhecimento: uma ferramenta de apoio ao exercício da função de Controle Externo. Disponível em: <http://www.tce.ce.gov.br/sitetce/arq/RevistaControle/2006/19_ARTIGO_ARNOUDO.pdf> Acesso em 24.mar.2011.
diversos tipos documentais, originados de várias mídias e tecnologias, realizar a integração de seus sistemas que continham informações e garantir que as análises de crédito seriam analisadas no tempo determinado. Analisando estas necessidades concluíram que uma solu-
BALDAM, Roquemar; VALLE, Rogerio; CAVALCANTI, Marcos. GED: gerenciamento eletrônico de documentos. São Paulo: Érica, 2002.
ção de ECM seria o que melhor atenderia a empresa. A partir desta decisão optaram por utilizar o sistema CONVERGE® ECM Solution9, pois já utilizavam a solução CONVERGE® em diversas outras aplicações no Banco BMG. Este fator simplificaria a implantação, além de possibilitar que seus usuários se adaptas-
BELL, Toby et al. Magic Quadrant for Enterprise Content Management. Disponível em: <http://www.docusource.com/pdfs/Hyland-Magic-2010.pdf> Acesso em 05.nov.2011.
sem mais facilmente à tecnologia, pois já estavam habituados a utilizar outros sistemas da solução. Realizaram um levantamento dos fluxos e particularidades existentes no Banco, com uma empresa especializada em ECM/ GED e um projeto que atendesse a estas necessidades foi realizado. Desta forma conseguiram que a circulação de documentos
Cardoso, Vinícius. Gestão de Conhecimento. Disponível em: <http://www.de9.ime.eb.br/~intec/Gestao%20Conhecimento/GestaoConhecimento_IME_VCC_01092005.pdf> Acesso em 24.mar.2011. ECM na agroindústria. Document Management. São Paulo, v. 4, n. 16, p. 40, fev. 2010. GESTÃO eletrônica de documentos e processos na análise de cré-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 119
dito direto ao consumidor. Disponível em: <http://www.smlinfo.com.br/NewSite/Admin/Content/cases/16. pdf?r=106 > Acesso em 05.nov.2011. MEIRELES, Nino Ricardo de Menezes. Gestão do Conhecimento na Segurança Corporativa. Disponível em: <http://www.prevenirperdas.com.br/portal/index.php?option=com_co ntent&view=article&id=44:gestao-do-conhecimento-na-segurancacorporativa&catid=18:prevencao-a-fraudes&Itemid=7>Acesso em 08.set.2011. ROSINI, Alessandro Marco; PALMISANO, Angelo. Administração de sistemas de informação e a gestão do conhecimento. São Paulo: Thomson, 2003. SANTOS, Consuelo Hascaska dos; CUETO, Suzana. Gestão de Conhecimento. Disponível em: <http://www.isulpar.edu.br/publicacoes/CONSUELO_HASCASKA_SUZANA_CUETO.pdf> Acesso em 24.mar.2011. SCIARRA, Eduardo. Cooperativismo: a ponte entre a pobreza e a prosperidade. Disponível em: < http://www.parana-online.com.br/colunistas/3/75912/?postagem=CO OPERATIVISMO+A+PONTE+ENTRE+A+POBREZA+E+A+PROSPE RIDADE > Acesso em 05.nov.2011. Terra, José Cláudio Cyrineu. Gestão do Conhecimento: aspectos conceituais e estudo exploratório sobre as práticas de empresas brasileiras. Disponível em: <http://74.125.155.132/scholar?q=cache:qGXpgViGtagJ:scholar.google.com/+gest%C3%A3o+do+conhecimento&hl=pt-BR&as_sdt=0> Acesso em 24.mar.2011.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Graduando do curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professor do Centro Universitário Newton Paiva. 3 http://universitario.educacional.com.br/dicionarioaurelio/ 4 Strassmann, Paul. Fishing for Data. 2000. 5 http://technet.microsoft.com/pt-br/library/cc262939.aspx 6 http://download.oracle.com/docs 7 http://www.gartner.com/technology/home.jsp 8 Digitaldoc é o nome do principal produto fornecido pela empresa Anix Sistemas Ltda, mas confome infomado na página web da mesma (http://www.digitaldoc.com.br/empresa) este nome foi designado para identifica-la no mercado. 9 http://www.lasersystems.com.br/ecm.html
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OTIMIZADOR DE CONSULTAS EM BANCO DE DADOS ESTUDO DE CASO: MICROSOFT SQL SERVER 2008 R2 ELISA ALVINA DE MORAES ARCANJO 1 IREMAR NUNES DE LIMA 2
RESUMO: Os bancos de dados armazenam diferentes tipos de informações e são acessados constantemente de diversas formas. Uma consulta SQL quando é solicitada ao banco de dados é tratada pelo SGBD, que, ao encontrar o melhor caminho, mostra o resultado das informações descritas no comando. A busca pelo melhor desempenho e retorno rápido dos comandos requer o estudo de técnicas de otimização. O tratamento que o SGBD realiza na execução de consultas em busca de otimização segue por duas linhas diferenciadas: otimização heurística e otimização baseada em custos. Sendo a primeira feita por regras e a segunda baseada em estatística. O presente trabalho tem como objetivo mostrar as duas formas de otimização de um SGBD e descrever qual a otimização padrão utilizada pelo SQL Server 2008 R2. PALAVRAS-CHAVE: Banco de Dados, Otimização, SQL Server 2008 R2.
1 INTRODUÇÃO
informações disponíveis que, talvez, o programador não tenha
Os bancos de dados armazenam diferentes tipos de infor-
acesso, como, por exemplo, os efeitos e quais os índices da
mações e são acessados constantemente de diversas formas,
tabela ou do banco que influenciam no comando e os planos
como, por exemplo, um acesso para consultar certos registros,
de execução já existentes. Assim, este artigo descreve, nos
solicitado por algum software ou mesmo por um DBA (Adminis-
próximos tópicos, como a otimização de consultas é tratadas
trador de Banco de Dados), ou o acesso ao banco para realizar
pelos SGBDs, descreve as técnicas de otimizações heurísticas
alguma alteração em um registro ou a inserção de novos dados.
e baseadas em custos e como funciona a otimização de con-
Seja para consultar, inserir ou alterar, dentre outros coman-
sultas no SQL Server 2008.
dos, o acesso aos dados e a resposta dos comandos deve
O restante deste trabalho está organizado da seguinte for-
ser rápido, contundente com o que está armazenado e com o
ma: na seção 2 é descrito o funcionamento dos otimizadores dos
que foi solicitado. A busca pelo melhor desempenho e retorno
SGBDs e as técnicas de otimização, como a Heurística e base-
rápido dos comandos requer o estudo do termo otimização, o
adas em Custos; na seção 3 é apresentado o funcionamento do
qual consiste, segundo TOMIO (2006), em escolher boas estra-
otimizador do SQL Server 2008 e, na seção 4 a conclusão.
tégias para o processamento de consultas ou comandos com os objetivos de diminuir o acesso ao disco e a quantidade de
2 OTIMIZAÇÃO DE CONSULTAS DOS SGBDS
memória utilizada. Assim, para certo comando, existe um tipo
Uma consulta SQL quando é solicitada ao banco de dados
de otimização, mas a que será detalhada neste artigo é a otimi-
é tratada pelo SGBD, que ao encontrar o melhor caminho, mos-
zação de consultas SQL (Structured Query Language).
tra o resultado das informações descritas no comando. Este
Segundo BOSCATTO e DAMINELLO (2004, p. 3) “a otimi-
tratamento feito pelo SGBD, também conhecido como proces-
zação da consulta apresenta tanto um desafio como uma opor-
samento de consultas, pesquisa uma expressão equivalente ao
tunidade”, pois a otimização feita pelo programador ou por um
comando SQL com o objetivo de otimizar o tempo de execução
otimizador de banco de dados torna-se um desafio devido ao
da consulta. Para exemplificar a otimização de consultas consi-
grande número de relacionamentos existentes em um banco e
dere o seguinte comando:
a diversidade de estruturas de dados existentes no SGBD. A
SELECT c.nome
oportunidade acontece pelo simples fato de que otimizar con-
FROM clientes c, endereco e
sultas é possível e viável, seja ela como for, feita pelo progra-
WHERE c.codend = e.codend AND e.cidade=
mador humano, pelo DBA ou pelo próprio otimizador do banco.
“BELO HORIZONTE”;
Porém, diante deste contexto, pode ser que o otimizador do banco consiga melhor desempenho ao executar uma con-
O processamento normal deste comando primeiramente
sulta do que se a otimização for feita pelo programador huma-
realizará o produto cartesiano das tabelas clientes e ende-
no (BOSCATTO, 2004 et all), pois o otimizador do banco possui
reço e depois verificará a satisfação das condições. Então,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 121
somente depois do resultado gerado pelo produto cartesiano
representação interna e a mais utilizada é a árvore de sintaxe
e do tratamento das condições é que a projeção da coluna
abstrata ou árvore de consulta (figura 1). Esta árvore repre-
nome da tabela clientes será feita. Este processamento ain-
senta a consulta na linguagem de consulta de sistema. Ou
da não é o mais rápido. Utilizando as técnicas de otimização
seja, o comando é separado em blocos e níveis para que o
dos SGBDs, o processamento seria feito da seguinte forma:
SGBD avalie qual o melhor caminho da árvore a ser percorri-
primeiramente as condições WHERE seriam validadas e dos
do. Considere o comando a seguir e verifique a montagem de
resultados obtidos, a coluna nome seria projetada.
sua árvore de consulta:
Conforme descrito por TOMIO (2006), em geral os passos seguidos por um otimizador de consultas são:
SELECT cliente.nome FROM cliente, categoria WHERE categoria.nome = “VIP” AND cliente.codcat = categoria.codcat
- Representação interna: a consulta é transformada numa
A árvore da figura 01 representa como um SGBD inter-
10) AND (cliente.nome OR cliente.idade < 30). Assim, diante
preta uma consulta SQL. No primeiro nível da árvore estão os
das diferentes formas, o SGBD deve escolher a melhor ex-
campos que deverão ser retornados pela consulta; no segun-
pressão e eliminar as demais do processo de execução de
do nível, realiza-se o produto cartesiano de categoria e cliente
uma consulta SQL.
de acordo com a condição especificada (a chave estrangeira
Medição de custo: as expressões são consideradas
codcat de cliente deve ser igual à chave primária codcat de
como uma série de operações e para cada operação o SGBD
categoria). No terceiro nível é realizada a filtragem das cate-
avalia os procedimentos necessários para a implementação
gorias que possuem o nome VIP. Sempre ao final da árvore,
da operação e assim, calcula qual o custo da operação;
nas pontas, também chamadas de folhas, encontramos as tabelas selecionadas no comando. Expressão equivalente: a representação interna é convertida para uma expressão equivalente com o intuito de re-
Informações do catálogo do sistema: o SGBD verifica as informações referentes ao estado do banco de dados, como por exemplo, os índices referentes à consulta inicial, as tabelas relacionadas e suas cardinalidades.
presentar, de maneira mais eficiente, a consulta original. Ou
Planos de consulta: com as informações do catálogo e a
seja, um mesmo comando pode ser representado de diferen-
medição dos custos, o otimizador gera os planos de consulta
tes maneiras, mas gerará o mesmo resultado. Porém, cabe
e em seguida, escolhe o melhor entre eles, ou seja, o de me-
ao SGBD escolher a expressão que melhor representa e que
lhor desempenho (menor custo).
tenha a melhor performance do que o comando original. Por
O tratamento que o SGBD realiza na execução de consul-
exemplo, a condição WHERE cliente.nome = “JOAO” OR
tas em busca de otimização pode ser feito de duas maneiras:
(cliente.idade > 10 AND cliente.idade < 30) também pode
otimização heurística e otimização baseada em custos. Estas
ser descrita como WHERE (cliente.nome OR cliente.idade >
técnicas serão descritas nos próximos tópicos.
122 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
2.1 OTIMIZAÇÃO HEURÍSTICA
muitas tabelas e os relacionamentos forem descritos na forma
Na otimização heurística, segundo TOMIO (2006), algumas regras são aplicadas para melhorar o desempenho da execução e da transformação das consultas em diversas expressões equivalentes. As regras são:
de produto cartesiano, mesmo seguindo as regras, a otimização heurística gerará um resultado, talvez, mais demorado. A otimização baseada em custos depende de atualizações periódicas de índices, tuplas, cardinalidade das tabelas e cha-
Executar operações de SELEÇÃO e PROJEÇÃO primeiramente;
ves, e isto necessita de um tratamento por parte de um DBA ou um desenvolvedor, que devem criar funções que façam tal atu-
A JUNÇÃO só deve ser realizada depois da SELEÇÃO e PROJEÇÃO;
alização ou eles mesmos façam tal tratamento. Se estes dados não estiverem de acordo com a realidade do banco podem ge-
Somente os atributos solicitados para o resultado da con-
rar resultados que não sejam os melhores. Porém, se as funções
sulta e os que realmente são necessários em consultas subse-
que armazenam as informações dos índices, chaves, tuplas e
qüentes é que devem ser projetados;
cardinalidade estão atualizadas, a otimização em custos se tor-
Evitar geração de múltiplas tabelas intermediárias;
na bastante vantajosa, uma vez que sua prioridade é eliminação
Pesquisar as subexpressões comuns e processá-las so-
de custos, garantindo ótima performance e resultados rápidos.
mente uma vez; A utilização dessas regras heurísticas influencia no plano de
3 O OTIMIZADOR DE CONSULTAS DO SQL SERVER 2008 R2
execução da consulta, pois uma ordem de execução das ope-
Conforme o site da MSDN (Microsoft Developer Network)
rações é determinada e também quais os recursos serão utiliza-
ao executar um comando SELECT em um banco de dados,
dos no plano, por exemplo, os índices.
o comando não informa qual o caminho o banco deve seguir para gerar o resultado no menor tempo e performance possível.
2.2 OTIMIZAÇÃO BASEADA EM CUSTOS
Assim, todo SGBD possui em sua estrutura um otimizador de
A otimização baseada em custos é gerada a partir de fun-
consulta que é responsável por avaliar a instrução a partir do
ções estatísticas dos SGBDs. Estas funções armazenam infor-
comando, do esquema e das estatísticas do banco gerando o
mações referentes ao número de tuplas, aos índices, as chaves
melhor plano de execução.
e a cardinalidade das tabelas. As estatísticas da distribuição dos
O SQL Server 2008 R2 possui em sua estrutura um otimiza-
dados nas colunas das tabelas e que são usadas para estimar
dor de consultas que é baseado em custos. Ou seja, cada plano
os custos, também consideram o uso de CPU e I/O e o tamanho
de execução possui um custo referente aos recursos que utiliza,
das tabelas utilizadas.
como CPU e I/O, e o otimizador é responsável por analisar e
Porém, como este tipo de otimização é baseado em estatísticas e pode gerar um resultado que talvez não seja o melhor. Isto acontece devido ao SGBD utilizar informações armazenadas que talvez estejam desatualizadas. Assim, é necessário que as funções que armazenam as informações das tuplas, índices, chaves e cardinalidade sejam atualizadas periodicamente. Não
escolher o plano mais eficiente, de menor custo e que retorne o resultado da forma mais rápida. O processamento de uma consulta no SQL Server 2008 R2, segundo o site MSDN, segue alguns passos: Análise do comando SELECT e separação do mesmo em palavras-chave, expressões, operadores e identificadores.
é viável realizar a atualização todas as vezes que acontece al-
Criação da árvore de consulta do comando.
guma alteração no banco, pois isto implica em alto custo, mas
Análise dos diferentes modos de percorrer a árvore em
atualizando periodicamente, o SGBD manterá valores próximos
busca melhor resultado esperado pelo comando original. Neste
aos reais.
passo, a cada análise, a árvore de consulta é atualizada e sua versão final é chamada de plano de execução.
2.3 A ESCOLHA DO SGBD
Execução do plano de consulta.
Os SGBDs que optam pela otimização heurística, estão em
Retorno dos resultados ao usuário.
busca de um resultado bem mais confiável do que o resultado
Assim, o otimizador do SQL Server 2008 R2 utiliza a otimi-
da otimização baseada em custos, pois a otimização heurística
zação baseada em custos. Ele realiza otimização em tabelas lo-
segue um padrão de avaliação e execução de uma consulta e
cais, particionadas, distribuídas e em diversos servidores, mas
este padrão ajuda no desempenho e resultado das informações
os passos descritos anteriormente para otimizar uma consulta
do comando original, enquanto que a otimização em custos é
são os mesmos realizados indiferente da arquitetura do banco
baseada em estatísticas. Mas, se a consulta fizer referência a
e das tabelas.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 123
4 CONCLUSÃO Uma consulta quando é solicitada a um banco de dados não especifica qual a ordem e as etapas de sua execução. Tal tarefa é de responsabilidade do otimizador de consulta, existente em todo SGBD. Existem dois tipos de otimização de consulta: heurística e baseada em custos. A heurística possui passos a seguir para gerar um plano de execução eficiente, como, por exemplo, SE-
CALUMBY, Rodrigo Tripodi. Otimização Heurística de Consultas. Universidade Estadual de Campinas, 2010. Disponível em: http://www. ic.unicamp.br/~tripodi/mc526/slides/aula12-otimizacao_de_consultas_ heuristica.pdf. Acesso em: 27 de Maio de 2011. MSDN – Microsoft Developer Network. Processamento de instruções SQL – SQL Server 2008 R2. Disponível em: http://msdn.microsoft.com/ pt-br/library/ms190623.aspx. Acesso em: 07 de Junho de 2011.
LEÇÃO e PROJEÇÃO são os primeiros passos desta otimização. A otimização baseada em custos baseia-se em estatísticas
NOTAS DE RODAPÉ
geradas a partir de funções que armazenam informações so-
1 Especialista em Banco de Dados e Business Intelligence (elisaarcanjo@ hotmail.com).
bre índices e chaves, cardinalidade das tabelas e as tuplas do banco para gerar o plano de execução que gere menor custo e resultado mais rápido. O SQL Server 2008 R2 utiliza em seu otimizador a otimiza-
2 DBA, mestre em informática e professor do Centro Universitário Newton Paiva (iremar.prof@uol.com.br).
ção baseada em custos e também possui seus próprios passos na execução de um comando SELECT. Assim, todo SGBD possui em sua estrutura um otimizador de consultas, mas cada banco de dados pode escolher qual estratégia de otimização: heurística ou baseada em custos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOSCATTO, Ronaldo; DAMINELLO, Marcelo Rosalem. Otimização de Consultas SQL. Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul, 2004. Acesso em 27 de Nov. de 2010. NOBRE, Wendell. Otimização de Consultas em Banco de Dados Centralizados. Disponível em: http://docs.google.com/ viewer?a=v&q=cache:4oBqBvQGb-0J:labdist.dimap.ufrn.br/files/3Ma. ppt+otimizador+de+consultas+sgbd Acesso em: 22 de Nov. de 2010. Otimização do Desempenho com o SQL Server 2008. Disponível em: http://fabadas.wordpress.com/dba-banco-de-dados/sql-server/otimizacao-do-desempenho-com-o-sql-server-2008/. Acesso em: 22 de Nov. de 2010. TOMIO, Thiago; CAIO, Renato; TSUYOSHI, Arlindo. Banco de Dados – Álgebra Relacional, Processamento e Otimização de Consultas. Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP, 2006. Disponível em:http://www.shammas.eng.br/acad/sitesalunos0606/to/otimi.htm. Acesso em: 22 em Nov. de 2010. Processamento e Otimização de Consultas. Disponível em: http://homepages.dcc.ufmg.br/~laender/material/ibd-parte7.pdf. Acesso em: 04 de Maio de 2011. MACHADO, Javam C.. Otimização de Consultas Relacionais. Universidade Federal do Ceará, 1998. Disponível em: http://www.lia.ufc. br/~javam/Bd_avancado/otimizacao-consulta.pdf. Acesso em: 05 de Maio de 2011.
124 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE ACORDO COM A NORMA ISO/IEC 15504 MARCELO NORTE DE OLIVEIRA 1 marcelonorte.ti@gmail.com IREMAR NUNES DE LIMA 2 iremar.prof@uol.com.br
RESUMO: Este artigo trata da norma ISO IEC 15504, especificamente da seção que trata da engenharia de software. São discutidos os motivos do surgimento das normas de qualidade e como elas podem contribuir para a organização atingir os seus objetivos. São identificados também, diversos parâmetros que podem nortear as organizações de Tecnologia da Informação que desejam otimizar seus processos de desenvolvimento software baseados na norma ISSO IEC 15504. PALAVRAS-CHAVE: Norma ISO/IEC 15504, Desenvolvimento de Software, Spice, Qualidade de Software.
INTRODUÇÃO
eficientes para construção de softwares, como linguagens de
A ISO/IEC 15504, também conhecida como Spice, é um
programação, ambientes integrados de desenvolvimento, entre
modelo que possui como foco a melhoria dos processos de de-
outros, mas o software construído, apesar da qualidade da fer-
senvolvimento de software e a determinação da capacidade de
ramenta, ainda apresenta sérios problemas.
processos de uma organização (FELIPE, 2006). A sua existência se justificou em função de estudos que comprovaram que
NORMAS E METODOLOGIAS PARA A QUALIDADE DE SOFTWARE
a grande maioria dos projetos de software não atendem aos
del Integration em 2002 e a ISO/IEC – International Organization
Rezende, em sua obra Engenharia de Software e Sistemas de Informação, cita que a expressão crise do software começou a ser utilizada na década de 60, e referese a um conjunto de problemas recorrentes enfrentados no processo de desenvolvimento de software. Coloca ainda que é uma enorme variedade de problemas que caracterizam esse período. Vasconcelos, Rouiller, Machado e Medeiros caracterizam os problemas típicos da crise do software da como sendo previsão pobre, baixa qualidade, alto custo de manutenção e duplicação de esforços. Rincon acrescenta ainda o fato de os softwares não atenderem aos objetivos colimados. Ainda segundo esses autores, reconhecida a crise do software, foi pro-
for Standardization / International Electrotechnical Commission
posto que o seu desenvolvimento deixasse de ser puramente
(ISO, 2009) que publicou as normas ISO/IEC 15504 e ISO/IEC
artesanal e passasse a ser baseado em princípios de Engenha-
12207 nos anos 90.
ria, seguindo um enfoque estruturado e metódico. O termo En-
objetivos traçados (RINCON, 2009). Em contrapartida à grande importância que o software tem tido no cenário mundial, Rincon afirma que, de acordo com esses estudos, isso é decorrente da falta de processos adequados nas organizações em que eles são desenvolvidos. Ainda segundo Rincon, desde o final das décadas de 80, modelos de maturidade de software estão sendo criados ou vem evoluindo em todo mundo justamente para mudar essa realidade. Daí surgiram modelos como o do SEI – Software Engineering Institute que publicou o SW-CMM – Capability Maturity Model for Software em 1987 e o CMMI – Capability Maturity Mo-
Nosso foco de interesse é a norma ISO/IEC 15504 que foi
genharia de Software se refere ao desenvolvimento de software
desenvolvida para ser utilizada por organizações envolvidas em
usando princípios de engenharia de modo a produzir software
planejar, gerenciar, monitorar, controlar e melhorar a aquisição,
de qualidade, de forma eficaz e dentro de custos aceitáveis
fornecimento, desenvolvimento, operação, evolução e suporte
(VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006).
de software (MAIARA, 2009).
Diante do exposto, a demanda por qualidade de software
O estudo do tema justifica-se pela crescente importância
tem motivado o desenvolvimento de modelos para a qualidade
do software para a economia mundial. A ciência da computa-
deste produto que é largamente determinada pela qualidade
ção levou tempo para desenvolver ferramentas extremamente
dos processos utilizados para o desenvolvimento (IAHN, 1999).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 125
Sabendo-se que grande parte do problema dos softwares não
da Software Engineering Institute (SEI), em cooperação com
atenderem efetivamente ao objetivo a que se proponham foi
a indústria e governo americanos. Sua arquitetura é composta
atribuído ao processo de desenvolvimento de software caótico,
basicamente pela definição de um conjunto de áreas de pro-
sendo assim identificou-se uma clara necessidade de estudar e
cesso, organizadas em duas representações diferentes: uma
aplicar processos de qualidade de software para que os projetos
como um modelo por estágio, semelhante ao SW-CMM, e outra
tenham mais chances de sucesso (RINCON, 2009).
como um modelo contínuo semelhante à ISO/IEC 15504 (VAS-
Hoje no mercado existem diversas normas em voga, entre
CONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006).
elas se destacam, por exemplo as normas ISO 9000 para su-
A norma ISO/IEC 15504 surgiu em 1993 através do proje-
porte ao desenvolvimento de software, que retiramos da obra
to SPICE que foi um trabalho conjunto da ISO/IEC-International
Introdução à engenharia de software e à qualidade de software
Organization for Standardization/International Electrotechnical
de Vasconcelos, Rouiller, Machado e Medeiros:
Commission (VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEI-
- Norma ISO/IEC 9126 (NBR 13596): Define as características de qualidade de software que devem estar presentes em todos os produtos (Funcionalidade, Confiabilidade, Eficiência, Usabilidade, Manutenibilidade e Portabilidade). - Norma ISO/IEC 12119: Estabelece os requisitos de qualidade para pacotes de software. - Norma ISO/IEC 14598-5: Define um processo de avaliação da qualidade de produto de software. - Norma ISO/IEC 12207: Define um processo de ciclo de vida de software. - Norma ISO/IEC 9000-3: Apresenta diretrizes para a aplica-
ROS, 2006). Objetivo era obter um consenso através da análise dos diversos métodos de avaliação do processo de software. A norma ISO15504, cuja versão completa foi publicada entre 2003 e 2006, atualmente representa um padrão internacional que estabelece um framework para construção de processos de avaliação e melhoria do processo de software (VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006). Nove documentos, alguns de caráter informativo, outros normativo, compõem a ISO15504, são eles: ISO15504-2, ISO15504-3, ISO 15504-9, ISO15504-1, ISO15504-4, ISO15504-5, ISO15504-6, ISO15504-7 e ISO15504-8.
ção da ISO 9001 por organizações que desenvolvem software ao desenvolvimento, fornecimento e manutenção de software. - Norma ISO15504: Aprovada como norma em 2003 é focada na avaliação de processos organizacionais.
3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE A ISO15504-2 define um modelo de referência de processo e um modelo de capacitação do processo que pode compor a
Um outro modelo de qualidade, retirado da mesma obra,
base para a definição e avaliação de um processo de software
é o CMMI, cuja sigla representa as iniciais de Capability Ma-
(VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006).
turity Model Integration e nomeia tanto um projeto, quanto os
Este modelo de referência possui uma abordagem bidimensio-
modelos resultantes deste projeto. O CMMI é uma iniciativa
nal, conforme pode ser vista abaixo:
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Vasconcelos, Rouiller, Machado e Medeiros distinguem
a primeira dimensão como auxiliar para que os engenheiros defi-
que gerencia algum tipo de projeto ou processo dentro do ciclo de vida do software;
nam os processos necessários em uma ODS (Organização de De-
5. Organização (ORG-Organization): são processos que esta-
senvolvimento de Software), e sua adequação à ISO15504. A se-
belecem as finalidades dos processos de desenvolvimento e da
gunda dimensão, similar ao CMM, e segundo os mesmos autores,
organização, do produto, e dos recursos, que, quando utilizados
tem por objetivo determinar a capacidade do processo da ODS,
por projetos na organização, realizarão as metas do negócio.
avaliando-o através de um conjunto de atributos pré-estabelecidos.
O processo que será abordado é a engenharia, mas a título de
De acordo com o Technical Report ISO/IEC TR 15504-2, são
esclarecimento as ISO15504-3 e ISO15504-4 servem como guias
cinco grupos de processos definidos pela ISO 15504-2:
para avaliação de processo. Determinam procedimentos para: a
1. Fornecedor-Cliente (CUS-Custormer-Supplier): são os pro-
definição das entradas da avaliação, a determinação das respon-
cessos que de alguma forma impactam diretamente o cliente: den-
sabilidades, a especificação do processo propriamente dito da
tre eles o suporte para desenvolvimento e transações de software
avaliação e os resultados que devem ser guardados (VASCONCE-
para o cliente, fornecimento de operações corretas e uso do produ-
LOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006). Do artigo Introdução à engenharia de software e à qualidade
to de software ou serviço; 2. Engenharia (ENG-Engineering): esta categoria agrupa os
de software de Vasconcelos, Rouiller, Machado e Medeiros retira-
processos que especificam, implementam e mantêm o produto de
mos a figura abaixo que apresenta a estrutura básica do modelo de
software, sua relação com o sistema e a documentação do cliente;
avaliação da ISO15504-5 e seu relacionamento com a ISO15504-2.
3. Suporte (SUP-Support): São processos que podem ser em-
Este modelo de avaliação expande o modelo de referência adicio-
pregados em algum dos outros processos e em vários pontos no
nando a definição e uso de indicadores de avaliação. Os indica-
ciclo de vida do software objetivando dar suporte a eles;
dores de avaliação são definidos para que os assessores possam
4. Gerenciamento (MAN-Management): são processos que contêm práticas gerenciais que podem ser utilizadas por alguém
julgar o desempenho e capacidade de um processo implementado (VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006).
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A ISO15504-5 detalha os processos (primeira dimensão do
planejada e rastreada. Há elementos na organização que reco-
modelo de referência da ISO15504-2) associando a eles algumas
nhecem que uma ação deveria ter sido realizada, e é consenso
práticas básicas. Artefatos e atributos são sugeridos e associados
geral que esta ação é realizada quando exigida. É possível iden-
às práticas básicas com o intuito de estabelecer sua realização
tificar produtos do trabalho realizado através do processo, e isto
(VASCONCELOS, ROUILLER, MACHADO, MEDEIROS, 2006).
comprova que o propósito foi alcançado.
A parte do documento ISO/IEC TR 15504 que trata dos pro-
- Nível 2 – Gerenciado. O processo planejado e rastreado
cessos de engenharia de software traz um conjunto de processos
entrega produtos que atendem a padrões e exigências, de acor-
universais que são fundamentais para uma boa engenharia de sof-
do com procedimentos especificados. A primeira distinção do
tware e abrange as melhores práticas, ela provê um modelo de refe-
nível realizado é que a realização do um processo agora entrega
rencia que pode ser usado em outras partes da ISO/IEC TR 15504.
produtos que atendem exigências de qualidade dentro de pra-
A seção da ISO/IEC 15504 que traz um modelo de referência
zos e necessidades de recursos definidos.
para processos e capacidade de processos define um modelo
- Nível 3 – Estabelecido. O processo é realizado e geren-
de referencia de processos de software e capacidade de pro-
ciado usando um processo definido baseado nos bons princí-
cessos que fornece a base do processo de avaliação de softwa-
pios da engenharia de software. Implementações individuais do
re. Esse modelo de referência define em alto nível os objetivos
processo são de uso aprovado, versões adaptadas de um pa-
que são fundamentais para uma boa engenharia de software.
drão, processos documentados para alcançar os resultados. Os
De acordo com a ISO/IEC 15504, as definições de alto ní-
recursos necessários para estabelecer a definição de processo
vel descrevem os objetivos que devem ser alcançados e como
também são colocados. A primeira distinção do nível gerenciado
alcançá-los. Este modelo de referencia pode ser aplicado a
é que o processo do nível estabelecido usa um processo defini-
qualquer empresa desenvolvedora de software que deseja es-
do que é capaz de obter o resultado pretendido.
tabelecer uma melhoria em seus processos de aquisição, for-
- Nível 4 – Previsível. O processo definido é colocado em
necimento, desenvolvimento, operação, evolução e suporte de
prática consistentemente dentro de limites de controle defini-
software. O modelo concebido não presume uma organização
dos para alcançar os objetivos colimados. Medições detalha-
com características estruturais particulares, filosofia gerencial,
das da execução são coletadas e analisadas. Isto conduz a um
modelo de ciclo de vida de software, tecnologia ou metodologia
entendimento quantitativo da capacidade do processo e uma
de desenvolvimento de software. A arquitetura deste modelo de
melhoria da habilidade de predizer e gerenciar a execução que
referencia organiza os processos para auxiliar a organização a
é quantitativamente gerenciada. A qualidade dos produtos é
entendê-los e utilizá-los para uma melhoria continua do geren-
quantitativamente conhecida. A primeira distinção entre o pro-
ciamento dos processos de software. Por processo de avalia-
cesso estabelecido é que o processo definido é agora executa-
ção de software, um assessor utiliza um modelo mais detalhado
do consistentemente dentro de limites definidos para alcançar o
compatível com este modelo de referencia da ISO/IEC, conten-
resultado pretendido.
do um conjunto abrangente de indicadores de performance e
- Nível 5: Otimizado. A realização de um processo é otimiza-
capacidade de processos para fazer juízo das condições dos
da para encontrar atuais e futuras necessidades do negócio, e o
processos da organização.
resultado do processo é repetitivamente voltado para os objeti-
O documento da ISO/IEC TR 15504 define que um nível de
vos do negócio. A eficácia do processo e eficiência do objetivo
capacidade é caracterizado por um conjunto de atributos que
são quantitativamente estabelecidas, baseadas nos objetivos da
trabalham juntos para prover um maior aprimoramento da ca-
organização. Monitoramento continuo de processos contra es-
pacidade de realizar um processo. Cada nível prove um maior
ses objetivos é obtido através de um feedback quantitativo e o
aprimoramento de capacidade de realização de um processo.
melhoramento é alçando através da análise dos resultados. Oti-
Os níveis constituem um meio racional de progredir através da
mizar um processo envolve a condução de idéias e tecnologias
melhoria da capacidade de execução de qualquer processo.
inovadoras e tornar processos não efetivos em produtores de
São seis os níveis de capacidade no modelo de referencia:
resultados alcançando seus objetivos. A primeira distinção entre
- Nivel 0: Incompleto. Há falha geral no atendimento do pro-
o nível otimizado e o previsível é a definição e padronização de
pósito do processo. Há poucos ou nenhum produto de trabalho
processos agora dinamicamente modificados e adaptados para
facilmente identificável ou saídas do processo.
encontrar os objetivos atuais e futuros do negócio.
- Nivel 1: Realizado. O propósito do processo é geralmente
O item 5.1.2 da ISO/IEC TR 15504-2 tem como título Engi-
alcançado, ainda que a sua realização não seja rigorosamente
neering process category (ENG), que podemos traduzir como
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“Categoria de processo de software (ENG)”.
será desenvolvida para atender a prioridade de implementação
De acordo com esse documento, a categoria de processo
nos requisitos do sistema que serão aprovados e atualizados
de software consistem em processos que especificam direta-
quando necessário. A solução proposta e seus relacionamentos
mente, implementa ou mantém o produto de software, sua re-
serão comunicados a todas as partes afetadas.
lação com o sistema e documentação do cliente. Em circunstâncias onde o sistema é composto totalmente de software, a
ENG 1.2 PROCESSO DE ANÁLISE DE REQUERIMENTOS DE SOFTWARE
engenharia de processos conforma somente com a construção
É um componente do processo ENG 1, seu propósito é es-
e manutenção de tal software. Os processos e suas respectivas
tabelecer os requisitos dos componentes de um sistema. Como
descrições retirados do item 5.1.2 da ISO/IEC TR 15504-2 que
resultado de uma implementação de sucesso, os requisitos alo-
pertencem a categoria de engenharia de software são:
cados para os componentes do sistema e suas interfaces serão
- ENG.1 Processo de desenvolvimento
definidos de forma a atender as necessidades dos clientes, eles
- ENG.1.1 Análise de requerimentos de sistema e de-
serão analisados e corrigidos, os que forem passíveis de tes-
senho de processo
tes serão desenvolvidos. O impacto dos requisitos de software
- ENG.1.2 Processo de análise de requerimentos de
no ambiente operacional serão estudados. Uma estratégia de
software
lançamento de versões será desenvolvida observando-se uma
- ENG.1.3 Processo de projeto de software
prioridade de implementação dos requisitos de software que se-
- ENG.1.4 Processo de construção de software
rão atualizados se necessário. Será estabelecida uma coerência
- ENG.1.5 Processo de integração de software
entre os requisitos de sistema e o desenho dos requisitos de
- ENG.1.6 Processo de teste de software
software que serão comunicados às partes afetadas.
- ENG.1.7 Processo de Integração de sistema e testes - ENG.2 Processo de manutenção de sistema e sof-
ENG 1.3 PROCESSO DE DESENHO DE SOFTWARE Componente do processo ENG 1, seu propósito é definir
tware 5.1.2.1
um desenho de software que implementa os requisitos e possa A
seguir,
será
analisado
brevemente,cada
um
ser testado. Como resultado de implementação de sucesso, um
destes processos.
desenho da arquitetura será desenvolvido, ele descreve a maior
ENG.1 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO (PROCESSO BÁSICO)
parte dos componentes de software que serão implementados.
O propósito do processo de desenvolvimento é transformar
Uma interface interna e externa de cada componente de softwa-
um conjunto de requerimentos em um produto de software fun-
re será definida, e um desenho detalhado que descreve as uni-
cional ou sistema baseado em software que vai de encontro às
dades que podem ser construídas e testadas do software será
necessidades dos clientes como resultado da implementação
criado. Será estabelecida uma coerência entre os requisitos e os
de sucesso de um processo. Um produto intermediário de tra-
projetos de software.
balho será desenvolvido, e ao final do processo deve ficar comprovado de que os requisitos foram atendidos. Para isso, uma
ENG 1.4 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SOFTWARE
consistência será estabelecida entre os requisitos e o projeto,
Componente do processo ENG 1, seu propósito é produzir
o que evidenciará que o produto final atendeu os requisitos. O
as unidade de software executável e verificar se elas refletem
produto final será instalado no ambiente operacional do cliente
corretamente o projeto do software. Como resultado de uma
e aceito por ele.
implementação de sucesso, um critério de verificação será definido para todas unidades confrontando com seus requisitos.
ENG 1.1 Análise de requerimento de sistemas e desenho de
Uma coerência será estabelecida entre o projeto de software e
processo são componentes do processo ENG 1 (Processo de
os componentes produzidos. Será realizado o confrontamento
desenvolvimento), seu propósito é estabelecer os requerimentos
das unidades de software serão com seus projetos.
funcionais e não funcionais do sistema e sua arquitetura identificando quais requerimentos precisam ser alocados para quais
ENG 1.5 PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DE SOFTWARE
elementos do sistema e quais versões. Como resultado de uma
É parte do processo ENG 1, seu objetivo é combinar as uni-
implementação de sucesso, a solução será proposta para aten-
dade de software, produzindo integração dos itens de software
der as necessidades dos clientes e irá identificar os principais
e verificar se as unidades de software integradas refletem corre-
elementos do sistema. A estratégia de lançamento de versão
tamente o projeto de software. Uma integração de sucesso pro-
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duz uma estratégia de integração que será desenvolvida para
ção. O objetivo é modificar e/ou retirar sistemas e/ou software
as unidades de software de forma coerente com o plano de ver-
preservando a integridade das operações da organização. Uma
sões. Critérios de verificação dos itens de software que assegura
implementação de sucesso deste processo resulta na criação
a observância dos requisitos de software serão desenvolvidos e
de uma estratégia de administração da modificação, migração
o resultado dos testes de integração serão armazenados. Uma
e retirada de componentes do sistema de acordo com o plano
coerência deve estar estabelecida entre os requisitos e os itens
de versões. O impacto nas interfaces e operações nos sistemas
de software. Uma estratégia de regressão será desenvolvida para
existentes será definido. Especificações, design de documentos
reverificação dos itens de software que deverão ser modificados.
e estratégias de teste serão atualizados. Os componentes modificados do sistema serão desenvolvidos associados aos testes
ENG 1.6 PROCESSO DE TESTE DE SOFTWARE
que demonstram que requisitos de sistema não foram compro-
Componente do processo ENG 1, tem o propósito de testar
metidos. Os sistemas e softwares do cliente serão atualizados
o software integrado produzindo um produto que irá satisfazer
no ambiente do cliente. E a pedido deste, softwares e sistemas
os requisitos de software. Uma implementação de sucesso des-
serão retirados de uso de maneira controlada que minimize os
te processo gera um critério de aceitação para o software inte-
distúrbios causados aos clientes.
grado que será desenvolvido de forma que se verifique a observância dos requisitos de software. Os resultados de testes serão
CONCLUSÃO
armazenados e uma estratégia de regressão será desenvolvida
A ISO/IEC 15504 veio contribuir para o melhoramento dos
para retestar, de acordo com as demandas, os itens de software
processos de desenvolvimento de software que sofria pela fal-
que forem refeitos.
ta de padrões de controle que proporcionasse um produto final que atendesse com êxito as expectativas dos clientes. Como
ENG 1.7 PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DE SOFTWARE E TESTES
vimos, a ISO IEC 15504 não é a única metodologia disponível
Componente do processo ENG 1, seu propósito é integrar
no mercado, cabe então a organização interessada em otimizar
os componentes de software com outros componentes, como
seus processos a escolha da norma que melhor atende as suas
operações manuais ou hardware, produzindo um sistema com-
aspirações. É interessante notar a abrangência dos grupos de
pleto que vai satisfazer as expectativas dos clientes expressas
processos da ISO IEC 15504 que trazem opções que vão desde
em requisitos de sistema. Os recursos alocados para a integra-
a engenharia de software propriamente dita e seus processos
ção de sistema inclui alguém familiar com o componente de
de gerenciamento até orientação ao cliente e gestão dos produ-
software. Uma implementação de sucesso deste processo pro-
tos instalados no cliente na forma de alterações e inclusões de
duz uma estratégia de integração que será desenvolvida para
programas e operações, passando pelo suporte ao cliente e ge-
construir as unidades agregadas de acordo com a estratégia de
renciamento de projetos de software e ciclo de vida de software.
liberação de versão. Será criado um critério de aceitação para
A possibilidade de a empresa adotar a uma parte específica da
cada agregação para verificar a conformidade com os requisitos
ISO IEC 15504 a torna bastante dinâmica. Por exemplo, a seção
de sistema (funcionais, não funcionais, operações e manuten-
que trata da Engenharia de Software pode ser aplicada espe-
ção) alocados para as unidades e uma validação que completa
cificamente na padronização e otimização de seus processos
o conjunto de componentes entregáveis. O resultado dos testes
correlatos. Uma outra vantagem é a integração dos grupos de
serão armazenados e uma estratégia de regressão será criada
processos, pois a engenharia de software integra-se ao suporte
para retestar as agregações no sistema integrado para as mu-
que está alinhado ao gerenciamento de processos organizacio-
danças em componentes que forem realizadas. Os testes de
nais que visam o incremento do resultado dos clientes. Dessa
regressão serão realizados sempre que necessário.
forma, a ISO IEC 15504 é abrangente, e cabe a cada organização avaliar seu procedimentos internos e definir onde aplicá-la.
ENG 2 PROCESSO DE MANUTENÇÃO DE SISTEMA E SOFTWARE (PROCESSO BÁSICO) Seu propósito é administrar a modificação, migração e retirada de componentes do sistema (como software, hardware, operações manuais e rede se existir) em resposta a pedidos do cliente. A origem dos pedidos poderia ser a descoberta de um problema ou a necessidade de uma melhoria ou adapta-
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provedores de software como um serviço. <http://www.das.ufsc. br/~maiara/files/dissert_maiara.pdf>. Acessado em: 20 de ago. 2011 às 15:00. FELIPE, Pabro Fernando. C.M.M.I. e Spice: Um estudo comparativo na abordagem da engenharia de requisitos. <www.cin.ufpe. br/~pmr/qualidade/Monografia.pdf>. Acessado em: em: 20 de ago. 2011 às 15:00. VASCONCELOS, Marcos Lins de; ROUILLER, Ana Cristina; MACHADO, Cristina Angela Filipak; MEDEIROS, Tereza Maria Maciel. Introdução à engenharia de software e à qualidade de software. Disponível em: <http://www.cin.ufpe.br/~if720/downloads/Mod.01.MPS_Engenhar ia&QualidadeSoftware_V.28.09.06.pdf>. Acessado em: 02 set. 2011 às 21:40h. IAHN, Anísio. Avaliação de processos de software utilizando a norma ISO/IEC 15504. Disponível em: <http://campeche.inf.furb.br/ tccs/1999-I/1999-1anisioiahnvf.pdf>. Acessado em: 02 set. 2011 às 21:40h. REZENDE, Alcides Denis. Engenharia de Software e Sistemas de Informação. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=rtBvl_L-1mcC&oi=fnd&pg=PT23&dq=crise+do+softwar e&ots=9ybo_I0sWm&sig=SlWGinaJjdYbiILS0XAR93S7QzM#v=onepa ge&q=crise%20do%20software&f=false>. Acessado em: 14 set. 2011 às 20:30h. ISO/IEC. Information tecnology – Software process assessment – Part 2: A reference model for processes and processes capabality. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/39130258/Iso-Iec-Tr-15504-2 >. Acessado em: 05 de out. 2011 às 19:30h.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Graduando do curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professor do Centro Universitário Newton Paiva.
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ANTECIPAÇÕES FILOSÓFICAS DE UMA CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO: Paul Rée e a ilusão do livre-arbítrio Marcus Vinícius Fonseca de Garcia1
RESUMO: Em um livro publicado em 1885, chamado A Ilusão do Livre Arbítrio: suas causas e suas conseqüências, o filósofo alemão Paul Rée aborda noções rudimentares semelhantes ao que posteriormente veio a ser compreendido no behaviorismo radical como controle de estímulos. Surpreende a maneira como o filósofo trata questões como filogenia e ontogenia de modo extremamente compatível com o tratamento dado por Skinner às mesmas. Tal coincidência fornece contexto para que situemos historicamente a emergência do behaviorismo radical como uma explicação do comportamento à qual anteriormente já se intuía a respeito de modos mais avançados do que se costuma supor. O achado sugere a importância de nos atermos a produções filosóficas atuais que possam se mostrar antecipações, ainda rudimentares, de futuros avanços científicos. PALAVRAS-CHAVE: Behaviorismo radical; Determinismo; Livre-arbítrio; Filosofia; Controle de estímulos
Paul Rée (1849-1901) é um autor cuja obra é muito pouco
dra, um animal, um ser humano, poderiam passar de seu es-
conhecida pelo grande público. Mesmo entre estudiosos da fi-
tado atual para outro, mas que, para tanto, a “causa suficien-
losofia, tem sido citado, na maioria das vezes, apenas devido
te” dessa modificação deveria primeiro estar presente (RÉE,
à relação de amizade que manteve, durante alguns anos, com
1885/2004, p. 355). Uma pedra, por exemplo, poderia voar pelo
o célebre filósofo Friedrich Nietzsche. No entanto, encontram-
ar, ou se desintegrar em pó ou rolar pelo chão, caso alguma
se na obra de Rée inúmeros trechos que talvez nos permitam
força atuasse sobre ela. Rée afirma, então, que “a situação não
caracterizá-lo como um dos grandes pensadores do século
seria diferente no caso de um animal” (RÉE, 1885/2004, p. 355).
XIX. Será abordada no presente artigo uma alegoria proposta
Rée nos dirá que “o jumento que agora está parado entre dois
por Rée no primeiro capítulo de seu livro Die Illusion der Willens-
montes de feno pode, no momento seguinte, virar para a es-
freihei: ihre ursachen und ihre folgen (1885) – A Ilusão do Livre
querda ou para a direita, ou pode saltar para o ar ou colocar a
Arbítrio: suas causas e suas conseqüências. Trata-se da ale-
cabeça entre as pernas” (RÉE, 1885/2004, p. 355). No trecho a
goria de um jumento diante de dois montes de feno, um à sua
seguir, alega que, para que pudéssemos entender o compor-
esquerda e um à sua direita. Com base nesse exemplo, o qual
tamento do jumento, deveríamos retomar os estados anteriores
à primeira vista pode parecer simplório, Rée argumenta sobre
de seu organismo:
noções muito semelhantes àquilo que veio a se tornar conhe-
Vamos supor que o jumento virou-se para o monte à
cido, na Análise do Comportamento, como controle de estímu-
sua direita. Este virar-se pressupõe que certos múscu-
los, abordando também a causalidade múltipla, o eu iniciador e
los foram contraídos. A causa dessa contração muscu-
os processos de filogenia e ontogenia. Faz também analogias
lar é a excitação dos nervos que levam a eles. A causa
interessantes entre os possíveis comportamentos do jumento
dessa excitação dos nervos é um estado do cérebro.
em seu exemplo e o comportamento humano. As obras aqui
Este estava em um estado de decisão. Mas como o
citadas encontram-se na coleção Gesammelte Werke, que re-
cérebro veio a estar nessa condição? Vamos traçar
úne as principais obras de Rée escritas no período entre 1875
um pouco mais anteriormente os estados do jumento.
e 1885.
(RÉE, 1885/2004, p. 355)
Segundo Rée, afirmar que a vontade é livre significa dizer “que ela não está sujeita à lei da causalidade. Nesse caso, todo
É curioso notar como Rée utiliza aspas de um modo muito
ato de vontade seria um começo absoluto e não um elo: não seria
semelhante a como Skinner o fazia, para salientar a noção de
o efeito de causas anteriores” (RÉE, 1885/2004, p. 355). Afirmar
que não se trataria de um ato de vontade indeterminado do
que a vontade não é livre, por outro lado, significaria “dizer que ela
jumento, produzido por um sujeito iniciador, mas de um agir
está sujeita à lei da causalidade” (RÉE, 1885/2004, p. 355).
necessário, dadas as condições antecedentes:
Rée prossegue afirmando que qualquer objeto, uma pe-
Alguns momentos antes de ele se virar, seu cérebro
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ainda não estava constituído de modo a produzir a cau-
veis críticas quanto às comparações feitas anteriormente entre o
sa suficiente para a excitação dos nervos em questão
comportamento de organismos vivos e o movimento de objetos
e para a contração dos músculos; pois, caso contrário,
inanimados. Parece advertir, assim, quanto à improcedência de
o movimento teria ocorrido. O jumento ainda não tinha
possíveis acusações de que sua proposta de compreensão do
“decidido” se virar. (RÉE, 1885/2004, p. 356)
comportamento dos organismos vivos não levaria em conta as
Rée faz então um questionamento sobre quais seriam as
peculiaridades desses organismos.
causas responsáveis pela modificação ocorrida no organismo
Há uma diferença entre o jumento e a pedra, e reside no
do jumento no momento em que ele se comporta:
fato de que o jumento se move porque quer se mover,
[...] seu cérebro deve ter se tornado, nesse meio tempo,
enquanto a pedra se move porque é movida. Não nega-
constituído de modo a provocar a excitação dos nervos
mos essa diferença. Há, afinal, um bom número de ou-
e o movimento dos músculos. A partir disso, o cérebro
tras diferenças entre o jumento e a pedra. Não pretende-
sofreu alguma mudança. A que causas deve essa mu-
mos, por qualquer meio, provar que essa dissimilaridade
dança ser atribuída? (RÉE, 1885/2004, p. 356)
não exista. Não afirmamos que o jumento é uma pedra, mas apenas que cada movimento e cada ato de vonta-
Ao responder ao questionamento levantado, Rée propõe
de do jumento têm causas, assim como o movimento da
que a “sensação de fome” e a “idéia do monte de feno à direita”
pedra. O jumento se move porque quer se mover. Mas
conjuntamente afetariam o cérebro do jumento. Torna-se clara
que ele queira se mover em um determinado momento
a possível analogia entre o que Rée chama de “sensação de
e numa direção específica é causalmente determinado.
fome” e o estado de privação do jumento. Percebe-se a dificul-
(RÉE, 1885/2004, p. 356)
dade enfrentada por Rée ao tentar abordar o comportamento como relação em fins do séc. XIX. O internalismo está presente
Rée atribuirá as causas do comportamento do jumento às
no texto, talvez devido a toda a tradição internalista que pautava
suas relações pregressas com o ambiente, em sua história de
os modos como a questão vinha sendo tratada na filosofia e nas
vida, bem como às relações de seus ancestrais com o ambiente,
ciências em geral. O que ele chama de “idéia do monte de feno
num processo de causalidade múltipla. Antes disso, no entanto,
à direita” é tratado no trecho abaixo como “impressão a partir do
volta a defender a noção de que há relações causais neces-
exterior”. Nesse caso, torna-se clara a possível analogia entre a
sárias entre o comportamento de organismos vivos e contextos
noção de “impressão a partir do exterior” e o conceito de estí-
antecedentes, afirmando ser ilógica, portanto, a concepção do
mulo na Análise do Comportamento. Mais uma vez, Rée utiliza
comportamento como manifestação alheia à lei da causalidade:
aspas para salientar sua crítica à noção de eu iniciador:
Poderia ser que não houvesse causa suficiente para o que-
[A mudança deve ser atribuída] à efetividade de uma im-
rer se virar do jumento – que ele simplesmente quisesse se
pressão que, a partir do exterior, despertou uma sensação
virar? Seu ato de vontade seria, então, um início absoluto.
que surgiu internamente (por exemplo, a sensação da
Uma suposição dessa natureza é contrariada pela experi-
fome e a idéia do monte de feno à direita), por conjunta-
ência e pela validade universal da lei da causalidade. Pela
mente afetarem o cérebro, modificando o modo como ele
experiência, uma vez que a observação nos ensina que,
é constituído, de modo tal que agora ele produz a causa
para todo ato de vontade, algumas causas foram os fatores
suficiente para a excitação dos nervos e a contração dos
determinantes. Pela validade universal da lei da causalida-
músculos. O jumento agora “quer” virar para a direita; ele
de, uma vez que, afinal, nada acontece em qualquer lugar
agora vira para a direita. (RÉE, 1885/2004, p. 356)
do mundo sem uma causa suficiente. Por que, então, de todas as coisas, um ato de vontade de um jumento deveria
No trecho a seguir, utilizando agora mais especificamente a
vir a existir sem uma causa? Além disso, o estado do que-
palavra alemã “reizes”, que significa estímulo, Rée propõe que
rer, o qual imediatamente precede a excitação dos nervos
o comportamento do jumento é o resultado da relação entre o
motores, não é diferente, em princípio, de outros estados
ambiente e o jumento: “O voltar-se para o monte de feno à di-
– como a antipatia, a preguiça ou o cansaço. Alguém acre-
reita é o resultado do modo como o cérebro do jumento e o es-
ditaria que todos estes estados existem sem uma causa?
tímulo estão constituídos em um determinado momento” (RÉE,
E, se não se acredita nisso, por que se consideraria que
1885/2004, p. 356).
apenas o estado do querer deveria ocorrer sem uma causa
Ao prosseguir em sua análise, Rée se defende de possí-
suficiente? (RÉE, 1885/2004, p. 357)
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 133
Ainda que chegue a utilizar em seu texto a palavra alemã
o ato de vontade do jumento não é causalmente determinado
“Seele”, que significa alma, Rée faz menção a uma noção bem
é sustentada não só por quem está de fora; o próprio jumen-
semelhante à noção presente em Skinner (1974, p. 119) de orga-
to, tivesse ele o dom do raciocínio, a compartilharia” (RÉE,
nismo modificado por uma história de relações com o ambiente.
1885/2004, p. 358). Percebe-se aqui que o autor faz uma sutil
Deve ser ressaltado que era comum, na época de Rée, que auto-
comparação entre o comportamento do jumento e o compor-
res utilizassem a palavra alma ao abordar fenômenos subjetivos.
tamento humano. Rée parece antecipar em alguns anos as
Rée propõe um experimento fictício: se fosse possível reverter-
afirmações de Freud, autor mais citado por Skinner, a respei-
mos a constituição de um organismo, de modo que ele viesse a
to da inconsciência de muitas das inúmeras determinantes do
estar constituído exatamente do modo como estava constituído
comportamento humano. Parece antecipar também Skinner,
antes, e o expuséssemos a um mesmo contexto ao qual ele hou-
quando ressalta, mesmo que de modo ainda rudimentar, a im-
vesse sido anteriormente exposto, esse organismo responderia
portância da noção de controle de estímulos. Cabe aqui aventar
necessariamente do mesmo modo como havia respondido an-
sobre uma possível influência mútua entre os escritos de Rée e a
teriormente a esse contexto. Será compreensível que se aponte
produção filosófica de Nietzsche, autor em cuja obra podem se
aqui que Rée parece recorrer a um determinismo ontológico ou
encontrar observações análogas a teorizações freudianas, fato
fundacionista, incompatível com a perspectiva do pragmatismo,
assumido pelo próprio Freud (1925/1977, p. 76) em seu estudo
e, consequentemente, também com a do behaviorismo radical.
autobiográfico; p. ex., recalque e a formação do superego em
Tal observação, no entanto, não parece ofuscar as demais si-
Nietzsche (1887/2009, p. 43).
milaridades entre trechos de sua obra e noções advindas das
Rée nos diz a respeito do jumento:
contribuições de Skinner. Dittrich (2009), por exemplo, aborda
As causas de seu ato de vontade o iludiriam também,
de modo crítico possíveis contribuições de um posicionamento
uma vez que em parte elas não se tornam conscientes,
determinista sob os enfoques epistemológico e empírico para a
e em parte passam através da consciência fugazmente,
Análise do Comportamento. Rée prossegue:
como um relâmpago. Se, por exemplo, o fator decisivo
O monte de feno não entra em contato visível com o
foi que ele estava mais próximo por um triz do monte
cérebro, mas age à distância. [...] Suponhamos que
de feno à direita, ou que este tinha um cheiro um pou-
possamos ver como uma imagem se destaca do monte
quinho melhor, como deveria o jumento notar algo tão
de feno e, percorrendo um trajeto visível através do ar,
trivial, algo que tão totalmente falha em se impor sobre
invade o cérebro do jumento, e como ela produz nele
sua consciência? (RÉE, 1885/2004, p. 358)
uma mudança em consequência da qual certos nervos e músculos se movem. Suponhamos que possamos re-
De modo muito semelhante a como Skinner aborda as dife-
petir esse experimento muitas vezes de forma arbitrária,
renças entre espécies e as possibilidades e impossibilidades de
que, se voltássemos a alma do jumento para o estado
indivíduos de diferentes espécies se engajarem em comporta-
precedente ao seu virar-se e deixássemos exatamente a
mentos específicos, Rée afirma a impossibilidade de, por exem-
mesma impressão agir sobre ele, devêssemos observar
plo, ele próprio vir a voar, prosseguindo com a argumentação
sempre o mesmo resultado. Então consideraríamos o
sobre como podemos nos sentir livres, ainda que nosso com-
virar à direita do jumento como necessário. Viríamos a
portamento seja determinado:
perceber que o cérebro, constituído como estava na-
Em certo sentido, é claro, o jumento está certo em pen-
quele momento, tinha que reagir a tal impressão preci-
sar: “eu poderia ter me virado para a esquerda.” Seu
samente dessa maneira. [...] Na ausência deste experi-
estado no momento, sua posição relativa ao monte de
mento, tem-se a impressão de que o ato de vontade do
feno ou sua constituição precisavam meramente ter sido
jumento não foi causalmente determinado. Nós apenas
um pouco diferentes, e ele realmente teria virado para
não o vemos sendo causalmente determinado, e, con-
a esquerda. A afirmação “eu poderia ter agido de outra
seqüentemente, acreditamos que tal determinação não
forma” é, portanto, verdadeira neste sentido: virar para a
tem lugar. O ato de vontade, diz-se, é a causa do virar-
esquerda é um dos movimentos possíveis para mim (em
se, mas não é, ele mesmo, determinado; diz-se que é
contraste, por exemplo, com o movimento de voar); ele
um início absoluto. (RÉE, 1885/2004, p. 357)
se encontra dentro da esfera de minhas possibilidades. (RÉE, 1885/2004, p. 358)
Após tais considerações, Rée afirma que “a opinião de que 134 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Os processos de filogenia e ontogenia são devidamente
que a punição é aplicada a eles, para que o medo dessa
abordados por Rée, que os caracteriza como determinantes de
punição se torne um motivo para que o próprio agente e
todo e qualquer comportamento do jumento. Por fim, o autor men-
todos os demais evitem tais ações no futuro. [...] Na ver-
ciona alguns exemplos de comportamentos que Skinner, muitas
dade, mesmo quando o sofrimento advém não de uma
décadas mais tarde, classificará como respondentes e operantes:
má ação, mas simplesmente ocorre depois dela (p. ex.,
Se refletimos sobre a vida inteira do jumento sub specie
quando alguém que agiu mal, em seguida, é morto por
necessitatis [sob a luz da necessidade], chegamos ao
uma telha que cai), o hábito de demandar por retaliação
seguinte resultado. O jumento veio ao mundo com de-
por ações más faz com que as pessoas considerem
terminadas propriedades da mente e do corpo, a heran-
essa mera sucessão de eventos como um processo
ça de seus ancestrais. Desde o dia de seu nascimento,
causal, e elas dizem: “o Senhor, cujos caminhos são
impressões – dos companheiros com quem se divertiu
maravilhosos, infligiu esse sofrimento ao homem mau
ou se esforçou, sua alimentação, o clima – agiram sobre
como punição”. [...] Na verdade, não se deve punir por-
essas propriedades. Esses dois fatores, sua constitui-
que uma má ação foi cometida, mas para que uma má
ção inata e o modo como esta foi formada através das
ação não venha a ser cometida. (RÉE, 1877/2004, pp.
impressões ao longo de sua vida, são a causa de todas
155-157)
as suas sensações, idéias e humores, e de todos os seus movimentos, mesmo os mais triviais. Se, por exem-
Um pequeno aforismo de Rée talvez seja emblemático
plo, ele ergue sua orelha esquerda e não a direita, isso
quanto à similaridade entre seu modo de pensar e o daqueles
é determinado por causas cujo histórico de desenvol-
que posteriormente vieram a ser chamados de behavioristas:
vimento poderia ser traçado ad infinitum, e do mesmo
“Através do ensino, muda-se o nosso comportamento, não o
modo quando ele fica de pé, vacilante, entre os dois
nosso caráter” (RÉE, 1875/2004, p. 68). A definição de Rée do
montes de feno. (RÉE, 1885/2004, p. 358)
que seria caráter aproxima-se também do que seria uma definição analítico-comportamental: “A situação com relação ao cará-
Com relação às consequências de comportamentos e à
ter de uma pessoa não é diferente daquela com relação a suas
influência que poderiam exercer sobre sua ocorrência ou não-
ações individuais” (RÉE, 1885/2004, p. 375). Em vários trechos,
ocorrência futura, encontramos em outros escritos de Rée inú-
de modo semelhante a como Skinner o faz em Beyond Freedom
meras referências. Em uma delas, em um capítulo chamado Der
and Dignity [O Mito da Liberdade], Rée aborda a questão do
Ursprung der Straf und des Gerechtigkeitsgefühls: über Abs-
possível questionamento dos méritos e culpas dos indivíduos
chreckung und Vergeltung (1877) – A Origem da Punição e do
quando se descrevem os motivos de seus comportamentos:
Senso de Justiça: sobre a dissuasão e a retaliação, Rée chega
“Atribui-se mérito ou culpa para um caráter tanto quanto para
inclusive a mencionar o fato de que a simples proximidade tem-
ações, embora sejam efeitos. [...] Todo caráter, as intenções e
poral entre um comportamento e um evento subsequente po-
ações são efeitos. Não se pode atribuir culpa ou mérito a efeitos”
deria afetar esse comportamento e levar pessoas a atribuírem a
(RÉE, 1885/2004, p. 375).
ocorrência desse evento subsequente a um processo causal, o
Trazemos abaixo um trecho de Skinner que exemplifica a si-
que talvez nos permita apontar uma similaridade com a descri-
milaridade entre sua concepção acerca do comportamento hu-
ção analítico-comportamental do fenômeno denominado com-
mano e as idéias defendidas por Paul Rée em fins do século XIX: Do ponto de vista pré-científico (e o termo não é ne-
portamento supersticioso: Quando somos punidos quando crianças, isso ocorre
cessariamente pejorativo), o comportamento de uma
obviamente não como uma retaliação ao nosso mau
pessoa é, até certo ponto, uma realização pessoal. O in-
comportamento, mas para prevenir que este volte a
divíduo é livre para discutir, decidir e agir, possivelmente
ocorrer. Ainda nos é dito: “você está sendo punido por-
de forma original, podendo ser reconhecido pelos seus
que você fez isso”. A partir da infância, vamos tendo a
sucessos e responsabilizado pelos seus fracassos. Do
impressão de que a punição é uma retaliação. [...] Atos
ponto de vista científico (e o termo não é necessaria-
que são necessários não podem estar sujeitos tanto à
mente honroso), o comportamento de uma pessoa é
atribuição de responsabilidade quanto à retaliação pelo
determinado por uma herança genética reconstituível
que ocorreu. Ao contrário, é precisamente porque são
a partir da história da evolução das espécies, e pelas
necessários, isto é, determinados por certos motivos,
circunstâncias ambientais às quais esteve exposta. Ne-
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nhuma dessas visões pode ser provada, mas, no âmago da investigação científica, as evidências pendem em favor da segunda. À medida que aprendemos mais sobre os efeitos do ambiente, menos razão temos para atribuir qualquer parcela do comportamento humano a um agente controlador autônomo. (SKINNER, 1971/1983, p. 79) Assim como podem ser encontradas antecipações de avanços científicos na obra de Paul Rée, é possível que, nos dias atuais, existam também pensadores cujas teorizações constituam noções ainda rudimentares sobre temas muito relevantes que venham a ser futuramente mais bem investigados e cientificamente descritos. Desse modo, é importante que estejamos atentos a descrições filosóficas que possam apontar para novas possibilidades de investigação científica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DITTRICH, A. Uma defesa do determinismo no behaviorismo radical. In: WIELENSKA, R. C. (org.). Sobre o comportamento e cognição – vol. 23: desafios, soluções e questionamentos. Santo André: ESETec, 2009. cap. 4, p.65-72. FREUD, S. Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos – vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1977. NIETZSCHE, F. W. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. RÉE, P. Gesammelte werke (1875-1885). Hubert Treiber (org.). Berlim: de Gruyter, 2004. SKINNER, B.F. O mito da liberdade. São Paulo: Summus, 1983. SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1974.
NOTAS DE RODAPÉ 1
Psicólogo Clínico, aluno do Curso de Pós-Graduação
em Análise do Comportamento Aplicada do Centro Universitário Newton Paiva
136 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
AS RELAÇÕES DE TRABALHO COMO FERRAMENTAS PARA DETERMINAR UM SER SOCIAL 1
Alice Vilela, Karina Rabbi, Lidnéia Leite, Luand Carolina, Tamiris Barcelos2
RESUMO: Este artigo tem por objetivo descrever um breve estudo sobre as relações de trabalho e sua influência no ser humano, tendo, especificamente, como referência o filme “A árvore da vida” no qual são discutidos os aspectos das relações de trabalho sobre o sujeito. As análises feitas neste artigo visam a contribuir para a constituição do indivíduo como um ser social, fundamentando-se nos conceitos de poder e liderança. Observa-se, ainda, como tais relações de trabalho, podem acarretar problemas na vida do trabalhador levando-o, por exemplo, ao uso de drogas. PALAVRAS-CHAVE: Relações de trabalho; Poder; Liderança.
Introdução
conseqüências do trabalho concreto, produtores de valores-
De acordo com Fontana (2000), o homem se constitui ao lon-
de-uso, mas são ao mesmo tempo decorrências do tra-
go da história. É ser um ser histórico-cultural, que vai construindo
balho abstrato, criador de valor. No sistema capitalista, a
sua subjetividade a partir de relações com outros seres humanos.
mercadoria assume papel principal, passa a ter vida própria,
Assim, começa a reconhecer a si mesmo, através das relações
mantém relações entre si e com os homens. A mercadoria
e experiências que constitui com si próprio e juntamente com o
passa a ser o centro e todas as outras coisas giram ao seu
outro. A pré-modernidade sempre esteve ligada à compreensão
redor, inclusive o homem. Pode-se dizer então, que há aí
do mundo fundamentada na tradição cultural, na religião ou na
o fetichismo da mercadoria. Tudo se torna dependente da
superstição em geral. Desta forma, conhecer era sinônimo de ser
mercadoria. Segundo Mácario (2002) o trabalho do homem,
capaz de lidar com técnicas primitivas da reprodução do viver. A
por exemplo, só se torna útil se o produto do seu trabalho
ordem social era sedimentada na valorização da cultura local.
possuir algum valor de troca. Antigamente as relações so-
No filme “A árvore da vida”, observa-se a relação entre pais
ciais da produção eram baseadas na dependência pessoal.
e filho de uma família comum da década de 1950. O diretor retra-
Atualmente após o surgimento do capitalismo, essas relações
ta essa relação social, ao longo dos séculos, através da óptica3
passaram a ser estritamente comerciais, mas interdependentes
da teoria cosmológica do “Big Bang” até o fim dos tempos, tra-
entre si, fazendo parte da divisão social do trabalho. Isso tudo nos
zendo um rico conjunto de imagens sobre o nascimento da vida
leva a ver o que é o sistema em que vivemos, no qual o processo
na terra, em uma viagem pela história da vida e seus mistérios.
de produção domina o homem, pois muitas vezes não nos damos
Com o advento da modernidade discorre o processo de urbanização da sociedade, além do surgimento das grandes cidades
conta disso. Neste mundo extremamente capitalista, o consumismo e o apego aos bens materiais é o que predomina.
e, naturalmente, da reconstrução da comunidade pré-moderna. O que antes era a comunidade social da “proximidade espacial e
Aspectos Conceituais
temporal” passa a ser espaço público como contraponto ao priva-
Segundo Macário (2002) o trabalho constitui as ferramentas
do. Na modernidade, os espaços se tornam maiores, e o sujeito
fundamentais que determinam um ser social4, ou seja, o ato de
perde o contato direto com as fontes de informação, gerando uma
trabalho media a relação do homem com a natureza, na qual
sensação de insegurança, que passa a ser cada vez mais cons-
este passa a ser responsável por sua produção e também por
tante e coloca cada indivíduo diante da necessidade de ter que
sua subjetividade. Deste modo, “é pelo trabalho que, do ponto
assumir e aceitar riscos para poder existir em sociedade.
de vista ontológico5, o homem estabelece a mediação com o
Karl Marx apropriou-se do conceito de fetichismo e uti-
meio natural e consigo mesmo. Ele é, portanto, o ato de edifica-
lizou na definição dos produtos do trabalho na sociedade
ção da nova esfera do ser: o ser social.” (MACÁRIO, 2002, p. 72).
moderna, que são as mercadorias. Sendo assim, as mer-
Segundo o roteiro “A árvore da vida”, percebe-se a figura
cadorias surgem como objetos que têm um duplo caráter,
do pai, exigindo uma forma de educação muito rígida. Diante
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 137
disso, pode-se dizer de um caráter educativo do âmbito social,
com o do trabalho que executava e que perdera. Este momento
ou seja, constituído pela sociedade, na qual se espera sempre
de perda, o fizera reflexionar sobre a forma que lidava com seus
que o outro siga um padrão de educação e de exigências cada
filhos, e se aproximar do seu filho mais velho numa conversa que
vez mais exacerbadas em um ideal de ser.
expõe como teria sido exigente e rígido para com ele. Percebe-
Desde modo, o próprio ato de objetivação posto pelo tra-
se que ao ser destituído de sua posição e poder, este sujeito é
balho é também educativo. Em uma cultura, o ato de educar, se
tomado pela angústia e frustração, na qual cria um buraco entre
entende em colocar o patrimônio a disposição dos sujeitos que
a ilusão de supor em ser um sujeito importante e a realidade de
nela se inserem, de forma que possam atuar na ambiência social
ser um sujeito comum, de sentimentos, afeto e impotente como
como pessoas livres.
qualquer outro ser humano.
Segundo Alban (1998) o processo de urbanização precede o
De acordo com Chiavenato (2000), a liderança é acentuada
desenvolvimento industrial e o capitalismo, este se inicia com a re-
como uma influência interpessoal, na qual uma pessoa age no
volução agrícola. Então o homem deixa de ser nômade, e a criação
sentido de alterar ou provocar o comportamento de outra pes-
de um excedente alimentar faz com que o processo de civilização
soa de maneira intencional, exercida em uma dada situação e
urbana aconteça. Em meados do século XI, ocorre à decadência
dirigida pelo processo de comunicação humana para consecu-
do Império Romano, o que permite o aparecimento de um sistema
ção de um ou mais objetivos específicos.
comercial, este gera o desenvolvimento do capitalismo mercantil,
Ainda, segundo Chiavenato (2000) a liderança autocrática é
não se configurou apenas como mero reflexo da industrialização,
aquela em que o líder fixa diretrizes, determina providências para execução de tarefas, determina a tarefa que cada um deve executar e o líder é dominador e “pessoal” nos elogios.
pois as cidades começaram a crescer o que gerou grande dificul-
Na ausência desse pai, os filhos e a mãe conseguiam libertar seus
dade em seu próprio crescimento e funcionamento. Ou seja, os
desejos e sentimentos, fazendo um laço de amor entre eles. O pai
números de influência mútua entre pessoas e absorção produti-
enquanto líder não oferecia espaço para que os outros pudessem
vas tiveram um crescimento elevado ao da própria cidade.
falar ou expressar suas vontades e desejos.
que será articulado por grandes cidades e estados. Alban (1998) pontua que o avanço da urbanização industrial
Relacionando a questão da urbanização industrial, pode-se
Sendo assim, um momento experienciado pela perda de
pensar no filme Árvore da Vida, uma vez que o mesmo acom-
tantos supostos ideais, e de tantos ganhos, como o de aperce-
panha a vida de uma família do Texas durante a década de 50,
ber que se encontra no mesmo patamar que os outros sujeitos,
onde o genitor da família trabalha em uma indústria, e, nessa
e que também está abaixo de um poder maior que todos e que
época as pessoas que trabalhavam em indústrias, eram consi-
sem explicações se tira aquilo que mais supõe ser e ter, como
deradas recursos de produção, ao lado dos recursos organiza-
o emprego e a vida de pessoas queridas, é o que aproxima o
cionais, como máquinas, equipamentos e capital. Assim para
sujeito do outro e o constitui para e com o outro.
o pai o trabalho lhe conforma poder e status. Contudo gerava efeitos negativos na sua vida pessoal.
O trabalho possibilita ao sujeito respeito perante a sociedade e a família, pois culturalmente, o homem bem sucedido é
Para Markert (2002), o trabalho está ligado à necessida-
aquele que trabalha e se torna um ser que produz socialmente,
de, à organização instrumental da cooperação dos homens,
tanto que a música nos anos 50, não era vista como profissão
embora vise ao mesmo tempo, para os homens associados, à
e, portanto, não podia ser considerada como algo que viesse
razão social da sua aceitação à produção alienante, que cau-
a sustentar uma família ou até mesmo de se ter uma posição
sa riqueza e pobreza, o progresso da indústria e a mais-valia
diante da sociedade como forma de produção.
o termo utilizado por Marx.
Na época em que o filme é retratado, é visível como a relação
Quando o trabalhador perde seu emprego percebe que ele
do homem sem o trabalho o destitui como um ser social e líder da
perde também o lugar em que se posicionava perante a sociedade
família. No entanto, esta relação de poder que o trabalho oferta
e a família. Esta perda leva o sujeito a refletir sobre aspectos rela-
para o homem diante da sociedade e da família, passa a perder
cionados à sua identidade profissional, assim como sua relação fa-
o valor a partir do momento em que este homem deixa de ser
miliar, na qual ele enquanto patriarcal é o referencial aos membros
alguém que produz. Sendo este um aspecto interessante para ser
familiares, por suprir o sustento financeiro e psicológico. Porém,
analisado, uma vez que o homem perde a liberdade ao ser aliena-
quando ocorre esta perda profissional, ocorre também a perda
do da produção do trabalho e a condição de ser um sujeito livre.
deste referencial patriarcal, superior, dotado de saber e poder. O líder da instituição familiar possuía uma postura parecida
Diante disso, nota-se que o homem se realiza através do trabalho, mas que também é certo que, existe uma dicotomia
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na relação do homem e do trabalho, ao se pensar que, ao se
te com o outro.
ter trabalho, o ser humano reclama por muito trabalhar e por se sentir escravo em alguns momentos do próprio trabalho. Mas, por outro lado, também se reclama quando não se tem um trabalho, se sentindo incapaz fracassado por não poder produzir e ser útil para si, para a família e a sociedade. Esta ambivalência é inerente ao ser humano e independente de qual seja sua profissão ou ocupação. A humanidade sempre irá deparar com a angústia, a falta de respostas para certas situações como a perda, inclusive a de um trabalho que, culturalmente diz da pessoa que o exerce e o produz socialmente. Conforme Pichon-Rivière (1994), toda situação de mudança gera ansiedade, devido aos medos básicos de ataque e perda implícitos nas relações, podendo se tornar ruídos na comunicação quando não explicitados. Sustentar um desejo, seja ele qual for, exige muito esforço para se manter. A atualidade que é emplacada pelo capitalismo, na qual as ofertas são inúmeras e diversos objetos surgem para tamponar esta falta que é inerente do ser humano e que muitas vias acabam levando o homem à decadência. O imediatismo e
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a competitividade social levam o ser humano a buscar alternativas para sanar o insuportável como um fracasso no mercado de trabalho e também o fracasso familiar. Considerações Finais O ser social é constituído através do seu trabalho, ou seja, através de seu reconhecimento e mediação na sociedade. Dian-
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te disso, as formas de constituição de ser como ferramenta de trabalho foi se modificando a cada época e assim, criando novos meios de sobrevivência e relação cada vez mais diversas. No caminhar da vida e no ponto de parada da construção de um ser social, que tem como função a releitura do mapa e das
RIBEIRO, Erivane Rocha. Concepções de tecnologia na formação e na práxis do técnico óptico. 2008.136p. Dissertação, Belo Horizonte, 2008. SILVA, Raimundo Paulino. Concepção de Ser Social em Paulo Freire. Natal/RN, p. 9 a 40 de 2004.
formas de retomar novos caminhos, o papel dos “sociomentores” é aproximar as esferas de uma sociedade, que se aventuraram em caminhos improdutivos para a construção de laços sociais positivos, de um porto seguro, de onde eles possam traçar rotas conscientes para retomada da aventura de viver como sujeito social de fato e de direito. As pessoas não socializam por si só. Esse papel é do meio social que cada sujeito é inserido, que nas interrupções de nossa odisséia valorizam o recomeço, certos de que cada passageiro possui um ponto de partida e de chegada diferente e pessoal. Finalizando, o homem é reconhecido como um ser histórico – cultural. Quando uma criança nasce cria um vínculo com outras pessoas, entrando na vida social e partir daí vai constituindo seu papel social, com variantes significados. No qual, o homem começa a reconhecer a si próprio, através do outro, através das
GROSSI, Fernando Teixeira. Intervenção. In: BAHIA, et al. Psicóticos e adolescentes: porque se drogam tanto? Belo Horizonte, CMT, 2000.p.2032.
NOTAS DE RODAPÉ 1. Este artigo foi elaborado a partir do trabalho “Ler imagem”, focado no filme “A árvore da vida”, (dirigido por Tenence Malick nos EUA- Estados Unidos da América e estreado no Brasil em 23 de junho de 2011), sob orientação da Professora Erivane Rocha Ribeiro. 2. Alunas do 9º período do Curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva.
relações e experiências que constitui com si mesmo e juntamenPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 139
3. Quando o termo óptico estiver relacionado ao fato de ver, deve-se usar óptica (relativo à visão) e não ótica (relativo à audição). (RIBEIRO, 2008, p. 29). 4. Ser Social é qualquer ente vivo ou a essência de alguém que pertence ou vive em sociedade. (Silva, 2004,p. 15). 5.Ontologia é um ramo da filosofia que lida com a natureza e a organização do ser. (Macário, 2002, p. 60).
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AÇÃO DE GUERRILHA: uma análise do case SOS Fauna Elevador 1 Daniela Lima2 Flávia Crivellari3
RESUMO: Este artigo continua as discussões produzidas para o trabalho de conclusão de curso de publicidade e propaganda. Buscou-se entender como o público da geração Y, nascidos a partir dos anos 80, avalia as ações do marketing de guerrilha e, sobretudo o impacto exercido sobre eles. O estudo utilizou três tipos de pesquisa: bibliográfica, documental e exploratória, essa última, através de sessão de grupo focal. Foi analisada a campanha da ONG SOS Fauna, que fez uso de uma ferramenta do marketing de guerrilha, com o objetivo de sensibilizar a sociedade quanto ao tráfico de animais no país. O estudo demonstra que ações diferenciadas junto ao público podem surtir efeito positivo, entretanto, deve-se ter o respaldo jurídico e o bom senso da agência para não correr o risco de denegrir a imagem da marca.
PALAVRAS-CHAVE: Marketing de Guerrilha; Marketing; Publicidade e Propaganda; Mídia Alternativa; Propaganda de Guerrilha.
1 INTRODUÇÃO
riscos pelos quais essa ação perpassava.
A infinidade de ideias que podem materializar-se através
Nas próximas seções, pretende-se discutir algumas defi-
das mídias alternativas e da proporção de seu alcance permi-
nições que envolvem a terminologia marketing de guerrilha e
te mais liberdade aos publicitários para criar ações inusitadas.
propaganda de guerrilha.
Apesar do termo - marketing e ou propaganda de guerrilha não ser recente, a atividade está sendo desenvolvida mais freqüen-
2 MARKETING E PROPAGANDA
temente, como aponta Castro (2007), ao dizer que elementos
A controvérsia existente na definição dos termos marketing
não convencionais passaram a ser usufruídos por aqueles que
e propaganda não é incipiente. Ao longo de seu uso, e mes-
trabalham a comunicação.
mo a partir do surgimento do marketing, sob a ótica america-
Em um cenário provido das tecnologias de informação,
na, que data de 1900 a 1910, Bartels (1970, apud LOUREIRO,
que a todo instante altera a relação do consumidor com as
2009, p. 3) constata que esse período pode ser tratado como o
marcas, em um contexto mais colaborativo, resolveu-se enten-
início das primeiras discussões do marketing como um campo
der e pesquisar como o público jovem, especificamente aquele
de estudo. Loureiro (2009) cita autores como Borden (1975),
constituinte à geração Y, avalia as ações do marketing de guer-
McCarthy (1960) e Kotler (1986) que instalaram na literatura ex-
rilha e, sobretudo, o impacto que elas exercem sobre eles.
pressões e teorias que ainda hoje, são conhecidas e postas
Esta análise utilizou o grupo focal com pessoas compatí-
em prática.
veis ao perfil da geração Y, e ajudou “a identificar tendências, o
Sant’Anna (2011) refere-se a essa expressão como uma
foco, desvendar problemas, buscar a agenda oculta do proble-
atividade de forma mais abrangente, envolvendo, sobretudo,
ma” (DUARTE; BARROS, 2010, p. 180). Além disso, foram rea-
processos e ações.
lizadas duas entrevistas em profundidade, que segundo Duarte
Diversos autores tentaram traduzir a palavra “marke-
(2010), explora um assunto a partir da busca de informações,
ting”, mas encontrar um único termo em português
percepções e experiências de informantes.
para atender ao que ele se propõe, é muito difícil.
Uma das entrevistas serviu para conhecer os aspectos que
Marketing é uma expressão anglo-saxônica derivada
constituíram a ação intitulada SOS Fauna Elevador, com An-
do latim mercari, que significa comércio – ou o ato de
dré Felix, diretor de atendimento da agência Media Contacts
mercar, de comercializar, ou ainda, transacionar. Al-
de São Paulo, quem esclareceu várias informações quanto ao
guns autores traduzem como mercado; outros, como
desenvolvimento da ação. Por se tratar de uma ação que pode-
mercadologia (LUPETTI, 2007, p. 6)
ria recair às sanções legais, já que envolvia consumidores sem uma prévia autorização, a segunda entrevista foi realizada com
Apesar das diferenças entre os autores ao conferirem um
uma advogada, que descreveu sob o ponto de vista jurídico os
conceito para o marketing, percebe-se um viés correlato res-
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ponsável pela proximidade entre eles, de que o marketing é uma
tipologias, dentre as quais se optou em destacar somente duas.
atividade abrangente, envolvida com o público e o mercado.
A propaganda institucional e a comercial.
Como não é foco deste estudo discutir os múltiplos concei-
A propaganda comercial é descrita por Sant’anna, Rocha
tos do termo, será pontuado algumas tipologias do marketing
Júnior e Garcia (2011, p. 121) como aquela “que paga espaços
encontradas na literatura, como forma de esclarecer a variabi-
ou tempo para se expressar [...] de uma forma ou de outra, visa
lidade da aplicação do termo a outras palavras. O destaque
promover vendas”. Esses “espaços” e o “tempo”, citados pelos
será de áreas mais específicas no marketing, como acontece
autores, se referem, respectivamente, às mídias em canal im-
com o marketing interno, o organizacional, o de guerra e o buzz
presso ou eletrônico, utilizados pelos anunciantes como forma
marketing.
de estimular e alavancar as vendas. Esse tipo de propaganda
O marketing interno refere-se a todas as atividades nas em-
atinge basicamente o público que irá consumir o produto, já que
presas que reúnem informações relevantes aos funcionários, a
direciona a mensagem exclusivamente a ele, excluindo-se as-
fim de motivá-los e informá-los. Meira e Oliveira (2004) conside-
sim, o pessoal interno da empresa, a se considerar os parceiros
ram o termo sinônimo do endomarketing, já que este considera
e fornecedores. Lupetti (2007) acrescenta que a propaganda co-
aquelas “[...] ações voltadas para o público interno da empresa,
mercial é utilizada nos lançamentos de produtos e na divulgação
com o fim de promover entre os seus funcionários e departa-
de eventos, tornando a marca desejada e sugerindo a ação de
mento aqueles valores destinados a servir o cliente”, pelo enten-
compra por parte do consumidor
dimento de Bekin (1995, apud ANGELONI, 2010, P. 72).
Com a propaganda institucional, pretende-se mais do que
O marketing organizacional é voltado ao público externo, ou
aumentar as vendas e os lucros, “[...] criar uma imagem de per-
seja, a elaborar estratégias que visem construir uma imagem,
sonalidade corporativa para o público em geral e gerar o máxi-
um conceito por parte dos consumidores/clientes, com relação
mo de imagens favoráveis para os mais variados stakeholders”
à empresa. Kotler (1997) cita ainda o marketing institucional
(SHIMP, 2009, p. 265). Nesse sentido, esse tipo de propaganda
como seu sinônimo.
busca sempre o reconhecimento do consumidor de forma geral,
O marketing de guerra é um termo muito semelhante ao
ou seja, além de estimular à venda, envolve estratégias que irão
tema deste estudo, devido à proximidade do significado das pa-
trabalhar a imagem da empresa frente aos diferentes públicos –
lavras “guerra” e “guerrilha”, tal qual, pode induzir ao erro sobre
externo e interno, o que afetará na forma como cada um deles
o entendimento real de cada um. A diferença existente está no
percebe e caracteriza a empresa ou produto divulgado.
foco dessas estratégias. Enquanto o marketing de guerrilha foca
Lupetti (2007) esclarece que um dos principais instrumentos
no público-alvo, o “marketing de guerra é o termo dado ao con-
para atingir o objetivo de marketing de qualquer organização, é
junto de estratégias adaptadas dos campos de batalha para a
a propaganda. Ressalta-se que existem outros, como promoção
utilização no combate ou defesa nas empresas com relação a
de vendas, venda pessoal, merchandising, etc. Mas, pode-se
seus concorrentes”, segundo Serrano (2011).
entender que a comunicação faz parte do composto de marke-
Outra tipologia encontrada é o buzz marketing, a qual os profissionais de marketing usam uma abordagem para que o
ting e independente da nomenclatura utilizada, a propaganda está inserida na comunicação, com suas diversas tipologias.
consumidor faça testemunho da marca. Segundo Keller e Machado (2006, p. 176) “O buzz marketing funciona bem quando a
3 FERRAMENTAS DO MARKETING DE GUERRILHA
mensagem de marketing parece originar-se de uma forma inde-
Guerrilla marketing é uma expressão de origem norte-ame-
pendente, e não da marca”. Os autores querem dizer com isso,
ricana, mencionada pela primeira vez em meados da década
que se cria um “falatório”, gerando comentários sobre o produto
de 80, por Jay Conrad Levinson, considerado o “pai do marke-
e conseqüentemente, capitalizando para a marca.
ting de guerrilha”, como apresenta Ucella (2009). Esse termo,
A propaganda, às vezes, pode ser confundida com o marke-
traduzido como marketing de guerrilha, surge em um contexto
ting, no entanto, possui as suas particularidades. Sob a perspectiva
onde a publicidade na década de 70, não mais eficiente quanto
de seu papel, no desempenho de sua função atrelada às atividades
nos anos anteriores, causava a desconfiança do consumidor em
do marketing, Dantas (2009) designa a propaganda como uma va-
relação à oferta dos produtos. A Guerra do Vietnã entre os Esta-
riável do composto de marketing, tendo entre seus objetivos princi-
dos Unidos da América e o Vietnã, ocorrida em 1959 até 1975,
pais aumentar a participação no mercado de uma marca/produto e
originou o termo “guerrilha”, onde colocou o Vietnã reconhecido
estimular as vendas, sem, no entanto, promovê-las.
por ser o estrategista da guerra, apesar de possuir instrumentos
Não diferente do marketing, a propaganda também possui
de defesa inferiores aos do inimigo. Ucella (2009) aponta que
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mesmo com poucos armamentos pode-se vencer uma guerra.
ou, portanto, rever suas necessidades e comporta-
Atrelado então, à palavra marketing, resultou-se o marketing de
mentos (JÚNIOR; AMORIM, 2010, p. 4)
guerrilha, estratégia que utiliza de meios e ações inusitados a fim de alcançar um resultado satisfatório. Levinson (2010) descreve
Dorrian e Lucas (2009, apud DANTAS p. 9) utilizam dois
que o marketing de guerrilha está em “atingir as metas conven-
adjetivos que justificam apontar essa variável do marketing de
cionais, tais como lucros e alegria, com métodos não conven-
guerrilha como um elemento que faz uso da criatividade, metá-
cionais, como investir energia em vez de dinheiro.” (LEVINSON,
foras, ilusões, comparações, quando “as empresas optam por
2010, tradução nossa).
colocar em prática campanhas mais imaginativas e originais,
Ao adaptar os conceitos e práticas da guerrilha bélica para
com vistas a gerar mais visibilidade para seus produtos”. Sorrell
os negócios, Levinson (2010) demonstra que pequenas empre-
(2005, apud DANTAS, 2009, p. 10) acrescenta ainda que “o de-
sas podem adotar táticas alternativas de marketing para sobrevi-
safio mais importante é continuar diferenciando produtos de um
ver nos mercados atuais ou mesmo competir com concorrentes
modo muito mais potente, criativo e construtivo.”
maiores. O marketing de guerrilha nasceu, portanto, como um
Nesse contexto, percebe-se a existência de uma tendência
“arsenal de conceitos, proposições e idéias de como sobrevi-
a utilizar como sinônimos os termos de marketing de guerrilha
ver e vencer num mercado totalmente desigual” (RODRIGUES,
ou propaganda de guerrilha. O que precisa ser entendido é o
2010, apud CAVALCANTE, 2003, p. 49).
modo de fazer este tipo de ação, como tal é uma das formas
Segundo Rodrigues (2010, apud Cavalcanti, 2003), as em-
utilizadas pelo marketing que exclui as outras modalidades do
presas remodelam suas estratégias, em busca de visibilidade e
marketing mix: o composto de preço, produto e distribuição
posicionamento no mercado, considerando a melhor vantagem
(praça). A propaganda de guerrilha está no ato de “comunicar
custo versus benefício, já que os recursos financeiros, principal-
de modo diferente, captando a atenção do público de maneira
mente as das micros e pequenas empresas, são insuficientes
pouco comum, porém com meios surpreendentemente adequa-
para o investimento nos meios tradicionais. A base da utilização
dos ao produto ou serviço anunciado” (DORRIAN; LUCAS, 2006
de outros formatos midiáticos está em inovar através da criativi-
apud DANTAS, 2009, p. 9). Portanto, a propaganda é um instru-
dade, com soluções inusitadas e surpreendentes, que possam
mento ou ferramenta do quarto “p” de promoção. Em referência às ações que se utilizam de meios não tra-
gerar resultados. Diante dessas considerações, o marketing de guerrilha
dicionais para a transmissão de uma mensagem, idéia ou um
pode ser caracterizado como uma estratégia que se utiliza de
conceito, encontra-se a variabilidade dos termos existentes em
meios não convencionais sem, no entanto, excluir as mídias tra-
se referir a tais atividades, não havendo, portanto, um termo es-
dicionais como jornais, revistas, televisão e rádio, para a obten-
pecífico e único que as defina.
ção de resultado e a promoção da mídia espontânea, invisível
Ucella (2009), Santos e Athayde (2008) estão entre os autores que discutem as ferramentas mais utilizadas pelo marke-
ou buzz marketing. O surgimento da propaganda de guerrilha é apontado por
ting de guerrilha: o marketing de emboscada, também conhe-
Júnior e Amorim (2010), com origem do teatro de guerrilha na
cido como ambush marketing, a arte urbana, o astroturfing, os
década de 60, como um elemento das artes cênicas do teatro
eventos e patrocínios, o marketing invisível, a performance, o PR
de vanguarda pós-dramático interativo, que tinha como espaço
Stunt, o culture jamming, o happening e a land art ou arte da
físico a rua. Os artistas faziam suas performances geralmente
terra. O marketing de emboscada é uma ação com origem na dé-
em feiras ou eventos públicos. Na modernidade, surgem variações de termos, um
cada de 80, quando nos Jogos Olímpicos, a Kodak se aproveita
deles denominado de Teatro de Guerrilha, que inspi-
dessa estratégia. Ela faz a transmissão dos jogos e apóia o time
rará no nome e na execução da propaganda de guer-
dos Estados Unidos, sendo que a patrocinadora oficial do even-
rilha. Um fazer desenvolvido e observado nas ruas,
to, era a Fuji, sua principal concorrente (UCELLA, 2009). Discute-
nas praças, enfim, no espaço por onde circulam as
se a sua legalidade, uma vez que as empresas oficialmente pa-
pessoas. Vai-se até elas para que a provocação da
trocinadoras consideram-se prejudicadas pelo alto investimento
idéia, geralmente feita por performers, ganhe forma.
realizado, devido a perda da exclusividade de apoio e referência
A sociedade é tanto com a propaganda quanto com
do evento, com justificativas que apelam para a falta de ética
o teatro de guerrilha, provocada a repensar seus con-
dos concorrentes da marca patrocinadora.
ceitos, encontrar respostas às perguntas sugeridas e/
A arte urbana não é somente utilizada para fins mercadológi-
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cos, ao repensar a procedência desse tipo de ação, por artistas
para divulgar um conceito, uma idéia ou marca, em função de
de bairros, que através do grafite, esculturas, aplicações, insta-
promover a interação da “mídia humana” com o público.
lações e cartazes, difundem uma expressão, um talento “que se
A ferramenta PR Stunt está ligada ao papel que os profis-
relaciona com as cidades e a vida nos grandes centros”, como
sionais de relações públicas possuem com a imprensa, por isso
afirmado por Coutinho (2011). Ucella (2009) apresenta essas
as iniciais “PR”, provindas do inglês publics relations stunt, sen-
formas de expressão utilizadas na arte urbana, ação também
do stunt, entendido como golpe, truque, proeza, façanha, como
chamada de marketing de rua ou intervenções urbanas, como
consta no blogdeguerrilha. Essa ferramenta inclui profissionais
citam Santos e Athayde (2008, p. 4).
de relações públicas e de publicidade, que, aliados irão apli-
O astroturfing, como define o Guerrilhapédia, é um termo
car o PR stunt. Por isso, os publicitários ficam encarregados de
que surge da alusão à marca de grama sintética AstroTurf utili-
formular a estratégia da ação, criar e buscar desenvolver algo
zada nos Estados Unidos, quando num jogo de palavras, o se-
inusitado.
nador norte-americano Lloyd Bentsen utiliza a expressão gras-
O primeiro autor a conceituar o culture jamming, na década
sroots para se referir a movimentos espontâneos de um grupo.
de 90, foi Dery (2003). Jam refere-se à “prática ilegal de inter-
Dessa forma, o astroturfing começa a ser utilizado para designar
romper transmissões de rádio ou conversas entre locutores ca-
uma ação “que pareça ser popular para que as outras pesso-
nastrões com arrotos, obscenidades e outras provocações sem
as sejam influenciadas a comprarem a idéia, mas na verdade
graça” (DERY, 2003, apud ROSAS, 2003). Para Dery (2003), o
a ação é de uma empresa que se mascara por trás. Uma ação
jamming vai além de uma ferramenta de expressão e representa
sem “raízes” e que parece real, mas não é. Daí a “grama artifi-
a própria cultura dos grupos que desenvolvem essas atividades
cial”, conforme mencionado no Blog de Guerrilha (2011).
como forma de questionar o sistema econômico e político.
Eventos e patrocínios fazem parte das estratégias de guer-
O Happening é um termo criado por Krapow (1969)4, que sob
rilha que para Santos e Athayde (2008), são exemplos de mídias
a influência do minimalismo, esteve paralelamente ligado ao mo-
tradicionais utilizadas pelo marketing de guerrilha. Os eventos
vimento hippie nos anos 60, característico do movimento da con-
são promovidos pelas empresas com o intuito de criar na mente
tracultura, “período rico em experimentações cênicas e de multi-
das pessoas, sentimentos e sensações no público participan-
linguagem” (ROCHA, 2006, p. 23). Acontecimento é a tradução
te, na tentativa de “traduzir na ação o posicionamento da mar-
literal do termo, que segue a mesma proposta da performance,
ca” (SANTOS e ATHAYDE, 2008, p. 4). Não diferente disso, os
pela forma de expressão, o ambiente por onde perpassa a ação
patrocínios possuem esse mesmo objetivo, mas nesse caso, a
e a ferramenta por qual ambas atividades geralmente utilizam - o
empresa investe financeiramente ou com a cessão de seus pro-
próprio corpo. É uma expressão que não tende a se preocupar
dutos/serviços, em eventos que a empresa considera propício
com a estética, como resultado final, o que devido a isso, não é
associar sua marca.
considerado como arte por alguns artistas. O processo se sus-
O marketing invisível é realizado a partir de um planejamen-
tenta por uma base mais ritualística, “o que faz com que o próprio
to bem estruturado, geralmente utilizado no lançamento de pro-
atuante eventualmente não tenha consciência de sua participação
dutos, no sentido de se prever e conhecer a reação do target,
em uma atividade artística” (ROCHA, 2006, p. 22).
segundo Ucella (2009). Essa estratégia permite que uma idéia
A land art - arte da terra, como o próprio nome diz, se
seja repassada entre as pessoas, sem que elas estejam cientes
relaciona às obras que transformam um espaço natural, utili-
da exposição da mensagem e da persuasão a qual estão sub-
zando o ambiente como suporte e ferramenta. Surgiu a partir
metidos, como afirmam Santos e Athayde (2008), ao falar dos
da contraposição de vários artistas europeus e americanos
benefícios sobre essa ferramenta.
da década de 60, ao minimalismo que compunha as obras
A performance é algo que está inerente ao homem, a partir
da época e também devido ao “interesse pelas causas am-
do momento em que ele estabelece uma relação com o tempo
bientais, como ponderado no Guerrilhapedia. O autor, dessa
e o espaço, através de uma caminhada, pausa, expressões di-
forma, cria as obras a partir do que lhe é sugestivo, inspira-
versas. Isso é citado por Júnior e Amorim (2010) de forma de-
dor, sem a preocupação na exatidão. O resultado das obras,
talhada e profunda, usando a semiótica e a arte para a descri-
muitas vezes, é mais subjetivo, gerando reflexões, onde a
ção de tal linguagem, como consideram os autores. De forma
mensagem é transmitida pela obra em si, ou seja, pela ima-
mais objetiva, encontra-se no blog de guerrilha a tradução dessa
gem que é construída. A land art é percebida como uma obra
ação como sendo geralmente executadas nas ruas, em lugar
que rompeu com museus e galerias, devido à dimensão dos
aberto ao público, onde os performers usam do próprio corpo
projetos, que nem sempre, são efetivados.
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Diante dessas considerações, percebe-se que essa gera-
4 A GERAÇÃO Y O estudo do comportamento do consumidor é um dos pas-
ção possui características únicas que os difere de outros grupos
sos na pesquisa e análise de marketing que contribui para o
que compõem a sociedade, o que altera a forma de se comu-
desenvolvimento de estratégias mais eficazes para alcançar e/
nicar com eles. Ao perceber aspectos como dinamicidade, in-
ou convencer um público-alvo. Ao desenvolver ações de guerri-
teração, liberdade, tecnologia, pode se inferir que as ações de
lha, esse estudo também se faz necessário, já que as diversas
guerrilha podem funcionar como meios para causar uma apro-
forças que atuam no comportamento do consumidor podem ser
ximação com esse público, como na opinião de Zenga (2011).
compreendidas levando-se em conta a importância dos códigos
Dessa forma, estudar e delinear os meios que serão mais
de percepção para o desenvolvimento da atenção, do desejo e
propícios a alcançar e chamar a atenção desse público, poderá
da satisfação do cliente.
configurar em alternativas mais assertivas e eficazes para estimu-
Gade (1998, p. 25) relata que os fatores que influenciam as
lar esses indivíduos à ação desejada pelo anunciante/agência.
decisões de consumo são pessoais, culturais, sociais e psicológicos. Por isso, todo consumidor observa de maneira particular
5 CONTEXTUALIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
tudo o que está em sua volta e sempre analisa quando o interes-
O estudo contou com duas entrevistas em profundidade.
sa, o que por outro lado, deixa passar desapercebido quando
A primeira, com o diretor de atendimento da agência Media
não o interessa.
Contacts de São Paulo, responsável pela criação da campanha
Serrano (2010) considera que a geração Y são as pessoas
“SOS Fauna Elevador”, para conhecer os aspectos que constitu-
que nasceram entre os anos 1980 e 2000, ou seja, jovens com a
íram a ação. A segunda entrevista foi com uma advogada, para
faixa-etária entre 11 e 31 anos de idade. Os jovens que a consti-
verificar o ponto de vista jurídico.
tuem são impulsivos e estão em busca constante por inovação,
A Media Contacts atua no Brasil desde o ano 2000. É uma
tendo dentre os valores que a permeiam a velocidade, liberdade,
agência que faz parte do grupo Havas Digital que opera em mais
o consumo, a individualidade e a tecnologia, características que
de 42 países do mundo. Foi ela a agência responsável pela cria-
se adequam ao próprio período – pós moderno, como afirma a
ção da ação que durou um dia, no mês de abril de 2011, em três
pesquisa Bridge Research (2010, apud LIGABUE, 2010).
prédios comerciais da região de São Paulo. A ideia de prender
São apontadas por Soares (2007), três características prin-
as pessoas em elevadores surgiu a partir da causa defendida
cipais dessa geração: “estão continuamente ligados, falam sua
pelo cliente, SOS Fauna - órgão de defesa da fauna e flora bra-
própria língua e são influenciados por seus pares”. Ou seja, as
sileira. Há mais de vinte anos a organização luta no combate
maneiras e preferências do grupo de convívio interferem em
ao tráfico de animais silvestres, “promovendo a recolocação de
suas opções e estilo de vida, como também partilha- se de seus
indivíduos das espécies vítimas do comércio ilegal à natureza”
próprios valores com o grupo, em constante interação e muta-
(SOS FAUNA, 2011). É uma organização não-governamental,
ção. O autor diz que o marketing identifica alguns problemas a
sem fins lucrativos, localizada em Juquitiba, no Vale do Ribeira,
respeito daqueles que compõem essa geração. Esses, por sua
região sul do Estado de São Paulo.
vez, caracterizam-se pela complexidade e dificuldade de con-
Segundo André Felix, a “campanha foi colaborativa entre to-
centrarem-se, por se aborrecerem com facilidade e estarem em
dos os parceiros da agência”, sem custo para o anunciante. Um
todos os lugares, pelo uso da internet, que modifica a relação de
grande problema identificado e sofrido pela SOS Fauna é a falta
distância e espaço.
de sensibilidade das pessoas com relação ao tráfico de animais
Por outro lado, Ligabue (2010) volta à análise do perfil dessa geração à educação e enumera várias características desses
no país e, principalmente, à consciência delas. A solução encontrada pela agência é descrita na passagem a seguir.
jovens, quanto a seus hábitos, comportamentos, perspectivas
Para mostrar de uma forma não-esperada a crueldade
de vida e valores. Se resumem por serem criativos, por se ade-
que esses animais são submetidos, desde o momento
quarem ao ambiente e aceitar as mudanças com facilidade, pela
em que são retirados de seu habitat natural, para passar
desenvoltura crítica e questionadora que os impulsiona a procu-
a viver como prisioneiros durante anos. Para isso, nós
rar e ansiar por respostas. São pessoas que valorizam muito a
usamos elevadores de prédios comerciais. As pessoas
interação e por viverem num cenário multifacetado, conseguem
entravam normalmente e de repente o elevador parava,
desenvolver mais de uma atividade ao mesmo tempo, caracteri-
assustando e prendendo todos. Alguns segundos de-
zando, como cita Honorato (2010, apud LIGABUE, 2010) a “era
pois, o elevador voltava ao normal. Quando saiam, as
dos indivíduos multitarefas”.
pessoas recebiam um flyer com uma mensagem de PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 145
consciência: “É assustador ser enjaulado por alguns se-
era o objetivo.
gundos. Imagine por uma vida toda. Denuncie o abuse
Do ponto de vista jurídico houve várias ponderações da es-
de animais. SOS Fauna (THEADSONTHETABLE, 2011,
pecialista. Ela recomenda que as agências, ao trabalhar este
tradução nossa).
tipo de ação, devem pesquisar junto aos organismos que regem a propaganda e até mesmo as leis do código civil. Os riscos pe-
A ação repercutiu na mídia por meio de noticiários dos ca-
los quais a agência e o anunciante estão sujeitos, ao utilizarem
nais CNN, TNT, Warner Channel, VHI, Sony e Jornal do SBT que
meios não convencionais para a transmissão da mensagem são
espontaneamente promoveram a campanha, ampliando seu al-
de grande relevância, pois ao desconsiderar essas questões,
cance. O vídeo que demonstra a ação sendo desenvolvida este-
tanto a agência, quanto o cliente e o próprio veículo poderão
ve entre as mais comentadas no mundo, nas categorias de or-
sofrer com problemas na justiça. Ela relata sua perspectiva ao
ganizações sem-fins lucrativos e ativismo. Cresceu-se em 520%
esclarecer os riscos pelos quais a agência e os anunciantes es-
o número de voluntários interessados em apoiar a causa durante
tavam sujeitos, como em descrição a seguir.
a campanha, além do número de visitas ao site, ter mais que dobrado, se comparado à média de acessos do início do ano.
Em detida análise da campanha SOS Fauna no Elevador, segundo a especialista, percebe-se que a ação de prender as
Para cumprir o objetivo do estudo, foi feito a discussão atra-
pessoas no elevador pode configurar o crime de seqüestro e
vés da modalidade foccus group. O grupo focal contou com
cárcere privado, previsto no artigo 148 do código penal, assim
participantes de ambos os gêneros, sendo 80% do sexo femi-
como asseverou o advogado Jair Jaloreto, na reportagem do
nino e 20% do sexo masculino. Fazem parte das classes B e C,
Jornal do SBT. Acrescente-se que o crime poderia ser inclusive
entre a faixa-etária de 17 e 29 anos. Todos cursam faculdade
qualificado, caso houvesse grave sofrimento a alguém, ou por
e são solteiros, considerando que 60% deles trabalham e 40%
haver pessoas menores de 18 anos (§ 1º, IV e § 2º, art. 148, do
não trabalham, sendo totalmente dependente de seus pais ou
Código Penal).
responsáveis.
Ela pondera que a ação poderia violar o direito fundamental
A ação foi apresentada aos participantes através de fotos e
à liberdade de locomoção previsto no art. 5º, XV da Constituição
vídeos que continham cenas gravadas das imagens no interior
Federal, haja vista que os indivíduos foram privados do ato de ir
e na saída do elevador. O dispositivo parava de funcionar por
e vir durante um lapso de tempo, ainda que ínfimo. Poder-se-ia
alguns segundos, com portas fechadas e sem energia. Interna-
cogitar de alguém preso no elevador, se sentir mal ou desmaiar,
mente câmeras foram colocadas para captar as reações dos
fato que resultaria na responsabilização tanto do cliente/anun-
participantes. Repentinamente as portas se abrem; voluntários e
ciante quanto da agência pelos danos causados.
simpatizantes da causa distribuem o material informativo fazen-
Por fim, consta no Código Brasileiro de Auto-Regulamenta-
do uma analogia de como elas se sentiram e como se sentem
ção Publicitária (Capítulo II, seção 9) que a publicidade que faça
os animais presos.
uso da imagem de qualquer pessoa sem a sua respectiva auto-
A discussão do grupo focal foi extremamente rica. Basica-
rização, é ilícita. Ao que parece, no caso vertente, as pessoas
mente todos os entrevistados foram emocionalmente atingidos
presas no elevador não autorizaram formalmente a divulgação
pela campanha SOS Fauna no Elevador. Classificaram a cam-
de suas imagens, o que poderia ensejar uma lide nesse sentido.
panha como criativa, emocional, bem planejada e impactante.
Porém, essa opinião é vista com bastante receio e gera diversas
Afirmaram que a busca pela qualidade de vida dos animais, o
controvérsias.
combate da venda ilegal, são causas que deveriam ser levan-
O diretor André Felix
revelou os cuidados dos quais a
tadas sempre. Alguns relataram que isso ocorre com muita
agência asseverou ter adotado no momento da ação, como por
freqüência em países desenvolvidos, mas aqui é relegada ao
exemplo, uma equipe paramédica no local. Além disso, a ação
segundo plano. A intervenção feita no elevador, é oportuna, pois
não gerou ação judicial a que a especialista jurídica colocou.
faz com que as pessoas sintam na própria pele o que sente um
Esta intervenção tem as características ao que é conceitua-
animal preso, na visão de todos eles. Alguns relataram que pro-
do nas ações de happening, “que faz com que o próprio atuante
vavelmente sentir-se-iam assustados ou com medo, mas se a
eventualmente não tenha consciência de sua participação em
ação fosse rápida, como visto nas imagens, o levaria a refletir
uma atividade” (ROCHA, 2006, p. 22). A estética não é fator que
sobre o assunto. Entretanto, houve considerações com relação
se incorpora a essa atividade, podendo referir-se ao que foi de-
à diversidade de temperamentos das pessoas, ou seja, poderia
senvolvido na ação do elevador. Não houve nenhum preparo no
ocorrer de alguém não gostar da ação; mesmo entendendo qual
ambiente, somente a instalação das câmeras.
146 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
6 CONCLUSÃO Esse estudo teve como proposta entender a percepção do consumidor frente às estratégias de comunicação que foge do tradicional e corriqueiro, que caracterizam uma modalidade específica da área, o marketing de guerrilha. Ao analisar esta intervenção foi preciso colocar em discussão a respeito das leis que algumas atividades podem infringir. Nessa linha de pensamento, constatou-se que no art. 31 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, restringe-se a prática do marketing de emboscada, sem, no entanto, desconsiderar as outras práticas de guerrilha, que se vêem regidas na totalidade do Código, já que este não confere nenhuma obser-
CASTRO, Pablo Pamplona. Marketing de guerrilha: Incorporação das mídias radicais no mercado. Disponível em: http://pt.scribd.com/ doc/6696338/Marketing-de-guerrilha-Incorporacao-das-midias-radicaisno-mercado. Acesso em: 16 jul 2011. CAVALCANTE, Francisco. Faça marketing de guerrilha: soluções criativas, baratas e eficazes para o sucesso da pequena empresa. Belém: Labor, 2003. 167 p. CONAR. Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Disponível em: <http://www.conar.org.br/> Acesso em: 2 nov 2011. CONTACTS, Media. Soluções em Marketing. Disponível em: <http:// www.mediacon tacts.com.br/mc-brasil.php> Acesso em: 19 set 2011.
vação em específico às outras estratégias. Dessa forma, desenvolver ações que possam corroborar em erro legal, parte da atitude e bom senso da agência e do anunciante, que irão optar pelo que será mais conveniente à marca vinculada à ação. A repercussão, prevista em toda atividade de guerrilha, divulga a marca e pode causar polêmicas positivas
COUTINHO, Flávio. Arte Urbana. Disponível em: <http://cultura.culturamix.com/arte /arte-urbana > Acesso em: 22 out 2011. CULTURAL. Itaú Enciclopédias.Happening. Disponível em: <http://www. itaucultural. org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index_> Acesso em: 15 jun 2011
entre o público, mas por outro lado, além de estar contra o que determina o Código, corre-se o risco de difamar e enfraquecer a marca. Ao considerar a proximidade que o público pertencente à geração Y possui frente àquilo que se mostra novo, inusitado, diferente, pode-se considerar uma estreita relação entre eles, uma vez que as características e o próprio conceito de guerrilha encontram-se arraigados no perfil da geração Y, como evidenciado por Zenga (2011). O resultado da análise do grupo focal reforça ainda essa afirmativa caracterizando a ação com os seguintes adjetivos:
DANTAS, Edmundo Brandão. A propaganda de guerrilha: uma nova alternativa para posicionar marcas. 2009. Disponível em: <www.bocc.ubi. pt/pag/dantas-edmundo-a-propaganda-de-guerrilha.pdf> Acesso em: 15 jun. 2011. DERY, Mark. Culture Jamming: Hacking, Slashing and Sniping in the Empire of Signs. Disponível em: <http://project.cyberpunk.ru/idb/culture_jamming.html> Acesso em: 11 nov 2011. DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio.( Org.) Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010. Cap. 4. 62-93
criativa, bem planejada, bem executada, arriscada e impactante. Diante dessas considerações, pode inferir que os espaços para aplicar as mensagens, ampliaram o limiar das mídias e conseqüentemente as possibilidades de interação com o público. Exige-se atitude ética e bom senso, tanto dos profissionais que criam a estratégia de comunicação, como os anunciantes e veículos, que podem correr o risco de infringir as leis determinadas no CBAP. Além de impactar negativamente a marca ligada à ação, pela ousadia que define esse tipo de anúncio. Contudo, num cenário provido de tecnologias que estabelecem mais vínculo, contato e ações diferenciadas com o consumidor, prevê-se que as ações de guerrilha significam uma alternativa útil no campo das comunicações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELONI, Maria Terezinha. Comunicação nas Organizações da era do Conhecimento. São Paulo: Atlas, 2010. 167 p.
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NOTAS DE RODAPÉ 1.Artigo produzido a partir do trabalho de conclusão de curso – modalidade monografia – orientado pela professora Sônia A. Martins Lazzarini, do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Newton Paiva, segundo semestre de 2011. 2. Bacharel em publicidade e propaganda, danydancels@gmail.com 3.Bacharel em publicidade e propaganda, flaviacrivellari@hotmail.com 4.Disponível:http://infinitudepostuma.blogspot.com/2010/05/<acesso em 12 dez 2011>
PAMPLONA, de Castro Pablo. Marketing de Guerrilha: incorporação das mídias radicais no mercado. Disponível em: <http://blogdeguerrilha. com.br/wiki/Marketing_de_guerrilha> Acesso em: 11 mai 2011. PR STUNT. Disponível em: <http://www.blogdeguerrilha.com.br/wiki/index.php5? title=PR_Stunt. Acesso em 11 set 2011> ROCHA, Polyanna. Intervenção Performática Contra-Institucional como guerrilha estética. Disponível em: <http://www.vis.ida.unb.br/posgraduacao/Acesso em: 11 nov 2011. ROSAS, Ricardo. Assalto a Mídia. Disponível em: <http://prod.midiaindependente.org/pt/blue//2003/03/248962.shtml > Acesso em: 15 set 2011. SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica e prática. 8 ed. São Paulo; Cengage, 2011. 438 p.
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OS PROCESSOS CRIATIVOS DO RECEPTOR DISCUTIDOS A PARTIR DA PUBLICIDADE E DA POESIA: a produção de um clipe-poema por jovens do PEP Fernanda Carla de Castro1
RESUMO: Este artigo discute a recepção aos textos midiáticos, apoiando-se em uma proposta pedagógica desenvolvida com os alunos de Rádio e TV do Programa de Educação Profissional (PEP) da Newton Paiva. Em 2011, os alunos conheceram poemas que se referiam ao consumo desmedido da sociedade atual e produziram clipes com uma releitura dos textos. A intenção era que refletissem como os versos, apoiando-se em recursos da publicidade, satirizavam esse consumismo e estimulavam uma crítica do receptor. Outro objetivo era que os alunos produzissem o clipe, explorando como as críticas dos poemas poderiam ser transportadas para o audiovisual. O artigo analisa os resultados da atividade e a necessidade de se debater, na prática docente, a criatividade do receptor. PALAVRAS-CHAVE: Recepção; Mídia; Publicidade; Poesia; Juventude.
Os alunos do curso de Rádio e TV do Programa de Edu-
quisas de mestrado e doutorado concluídas entre os anos de
cação Profissional (PEP) da Newton Paiva têm bastante fa-
1999 e 2006, tratando de juventudes e mídias, nos cursos de
miliaridade com os meios de comunicação. A maioria deles
Educação, Ciências Sociais e Serviço Social (CASTRO, 2010,
acompanha programas televisivos e radiofônicos, acessa com
p.16). De acordo com Setton, os trabalhos têm um “tom mora-
regularidade a internet, possui e-mail, participa de redes so-
lista e missionário”, prevalecendo a ideia que:
ciais virtuais, tem facilidade de baixar músicas ou editar vídeos.
Os adolescentes ou jovens bem como o mundo adulto
Possivelmente essa familiaridade com as “velhas” e com as
deve ser alertado para os riscos de uma socialização
“novas” mídias, característica dos nascidos nos anos 1990, foi
pelas mídias. A capacidade de gestão dos processos
determinante para a escolha do curso técnico em Rádio e TV.
criativos de um sujeito receptor é pouco desenvolvida,
Embora tenham uma grande desenvoltura com os
dando-se ênfase no caráter, se não manipulador, pelo
meios, esses alunos, que pertencem à chamada “Geração Z”,
menos, determinante da cultura das mídias no universo
também apresentam uma postura bastante dicotômica em re-
jovem. Neste sentido, aconselhamos uma postura que
lação ao poder de influência desses meios de comunicação
consiga desenvolver novos olhares sobre as diferentes
sobre os jovens e a sociedade de uma maneira geral. Durante
possibilidades de usos dos recursos e conteúdos pos-
as discussões em sala de aula, no decorrer da disciplina In-
sibilitados pela cultura midiática (SETTON, 2009, p.77,
trodução à Produção de Áudio, observou-se uma polarização
grifos da autora).
entre apocalípticos e integrados (ECO, 1970), com uma grande vantagem para os primeiros. Ou seja: quando estimulados
Diante desse panorama, foi necessário pensar em pro-
a pensar de que forma os textos midiáticos são recebidos a
postas pedagógicas que relativizassem esse poder maléfico
maioria dos alunos de Rádio e TV destaca que não há uma lei-
da mídia na vida cotidiana. Em uma delas, o ponto de partida
tura crítica. As mensagens da mídia, consideradas por muitos
foi a apresentação, aos alunos do PEP, de estudos que não
alunos manipuladoras, são nocivas ao receptor: cumprem um
tomam o receptor como um sujeito passivo, mas como capaz
papel alienante já que ele não consegue decodificar o que está
de ressignificar os discursos que recebe da mídia. Recorreu-se,
nas entrelinhas do texto.
especialmente, às reflexões sobre recepção que foram dese-
A tendência de tomar o receptor como uma vítima da
nhadas com a emergência dos estudos culturais (HALL, 2003)
manipulação dos meios é recorrente até mesmo nos meios
até o surgimento da noção de mediação, formulada por Martín-
acadêmicos, conforme constatou a socióloga Maria da Graça
Barbero (1997; 2002), dando conta de que uma informação
Jacintho Setton, ao analisar algumas características das pes-
não chega a um receptor com um sentido pronto, construído,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 149
mas esse processo é mediado pelo contexto cultural em que
meios de comunicação, a sensação que fica é que agora per-
ele ocorre. Porque considera que o consumidor desenvolve uma
cebem que o receptor lança mão de uma série de mecanismos
série de táticas de resistência e brechas para subverter os pro-
que podem fazê-lo discordar ou questionar os discursos midiáti-
dutos que recebe, as contribuições de Michel de Certeau (1994)
cos, e não somente absorvê-los de forma passiva.
também foram apresentadas aos alunos. Em seguida, foi promovida uma discussão sobre o texto Mil e uma utilidades: a contribuição da poesia, no qual o pesquisador Marcos Fabrício Lopes da Silva (2008) discorre sobre poemas que, utilizando elementos da publicidade, criticam as marcas como “as únicas entidades capazes de promover a felicidade e o bem-estar do indivíduo”. Valendo-se dos versos de Reclame (Chacal, 1979), Eu, etiqueta (Carlos Drummond de An-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, Fernanda Carla de. O jovem de periferia nos quadros de Regina Casé: um estudo de representação e recepção. 2010. Disponível em < http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUDB8C5SQR>. Acessado em 01/12/2011. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução Ephraim Ferreiras Alves. Petrópolis: Vozes, 1994.
drade, 1984), A felicidade bate à sua porta (Sebastião Nunes, 1995) e Cárcere Sabor Felicidade (Bruno Brum, 2004), o autor considera que os poetas [...] denunciam de maneira irônica e satírica os abusos cometidos pela atividade publicitária que propaga de maneira sedutora os sonhos de consumo sem dimensionar o quanto faz despertar os pesadelos da carência do consumidor. [...] Acredito que o conteúdo revelador destes poemas pode contribuir para a formação qualificada de publicitários e de “consumidores conscientes” (SILVA, 2008, destaques do autor) Para incrementar a atividade pedagógica, além dos poemas sugeridos por Silva, foi incluído também Desfotografia (Michel Melamed, 2005). Embora não faça uma relação direta com a publicidade, os versos do poeta carioca foram incluídos na proposta pedagógica por se acreditar que seu conteúdo também
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1970 HALL, Stuart. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais (Org. Liv Sovik; Trad. Adelaine La Guardia Resende et all). Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,1997 __________________, Jesús. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: SOUSA, Mauro Wilton de (Org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2002, p.39-68. MELAMED, Michel. Regurgitofagia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. SETTON, Maria da Graça Jacintho. Juventude, mídias e TIC. In.: Spósito, Marília Pontes. O estado da arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: Educação, Ciências Sociais e Serviço Social (1999-2006). Belo Horizonte: Ed. Argumentum. 2009. P.63-86.
levaria a uma rica discussão sobre a fotografia digital e a busca frenética pelo registro do momento em contraposição à fruição. Depois de um amplo debate sobre as críticas que os poetas faziam ao consumo desmedido da sociedade contemporânea e os elementos da publicidade utilizados para satirizar esse comportamento, a sequência final da atividade pedagógica consistiu em transportar os poemas para a linguagem audiovisual. Foi proposto, então, que os alunos do PEP, reunidos em grupos, fizessem uma releitura dos versos, divulgando-os por meio de um clipe. O resultado final foi bastante interessante e cumpriu o objetivo prévio da atividade: quando estimulados a recontarem os versos por meio de imagens e sons, os alunos conseguiram
SILVA, Marcos Fabrício Lopes. Mil e uma utilidades: a contribuição da poesia. 2008. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/mil_e_uma_ utilidades_a_contribuicao_da_poesia>. Acessado em 01/12/2011
NOTAS DE RODAPÉ 1 Mestre em Educação pela UFMG e bacharel em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) pela PUC-Minas. Trabalhou por 12 anos no Centro de Documentação da TV Globo Minas, possui experiência em pesquisa, arquivo, memória, acompanhamento de pauta e produção de programas televisivos. Atua como professora no curso de Rádio e da TV da Escola de Educação Profissional Newton Paiva.
tratar das temáticas de forma criativa e crítica. Em alguns trabalhos, os jovens do PEP se colocaram como protagonistas e retrataram de que forma lidam com os apelos da publicidade e que táticas (CERTEAU, 1994) utilizam para ressignificar os discursos veiculados pelas propagandas. Se a maioria dos jovens iniciou o semestre com uma visão apocalíptica dos 150 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
O PLANEJADOR. Algumas considerações práticas.1 Sônia A Martins Lazzarini2
RESUMO: O planejamento de comunicação ganha várias concepções no mundo corporativo, mas nas agências de propaganda deve ser aquele departamento que mantem um profundo relacionamento com os consumidores. Neste artigo apresento como o planejamento de contas foi concebido, quando surgiu como disciplina no Brasil, descrevo as características e atribuições do planner. Além disso, demonstro que a essência da conexão com o consumidor vai além de fazer pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: Consumidor; Planner; Planejamento de Comunicação; Agência de Propaganda.
INTRODUÇÃO
necessário fazer um resgaste de como foi “inventado”. Segun-
Atualmente grande parte das empresas tem se dedicado de
do consta no livreto publicado pelo Account Planning Group do
forma exclusiva para entender seu consumidor na tentativa de
Reino Unido, foi em 1965 que o “conceito inicial foi inventado
gerar insight no negócio. A globalização veio exercer influências
pelo falecido Stanley Pollitt” (D’Souza, 1986, p. 1, tradução da
transformadoras nestes indivíduos e na forma de tratá-los. Neste
autora). Na visão de Politt, oriundo do atendimento, com mais
sentido a estratégia de marketing certamente deve ser revista pe-
dados disponíveis para a agência, o gerente de contas não
riodicamente, como defende Jones (2003). Dentro da estratégia
usava as informações como deveria. Além disso, o pessoal
de marketing está a estratégia da marca, que envolve o estabele-
da pesquisa não se envolvia efetivamente no processo. Nesse
cimento de objetivos para uma campanha publicitária.
vácuo, surge a figura do planner para trabalhar como um par-
É neste contexto que insere o planejador. Ele basicamente usa de toda e qualquer informação do consumidor, de forma
ceiro do atendimento e criação. Já o ex- presidente do APG-UK Baskin (2001) afirma que;
a acolhê-los como parceiros no processo de desenvolvimento
“[...] em 1964, Stephen King, insatisfeito com o fun-
da campanha (STEEL, 2001) a fim de estabelecer a estratégia
cionamento de ambos; os meios de comunicação e
e inspirar as idéias criativas. A estratégia da marca tem que re-
departamentos de marketing dentro de sua agência;
presentar uma simbiose entre a equipe inspiradora da agência,
desenvolveu um novo sistema de trabalho que concen-
a realidade do cliente e a opinião dos consumidores.
trou-se na combinação de pesquisas de consumo e
E tudo isso combinado significa descobrir uma solução estratégica para o problema do anunciante, sempre com o olhar
insights para criar mais publicidade eficaz e criativa.” (BASKIN, 2001, p.2, tradução da autora)
no consumidor ou usuário da marca. O planejador, para envolver e mobilizar o consumidor pode
Portanto, o planejamento como disciplina é uma invenção
fazer uso da pesquisa, mas deve deixar de lado seus próprios
tipicamente britânica. Teve larga influência e está presente sob
preconceitos ou mesmo convenção, conforme sugere Steel
diversas formas em agências de vários países. No entanto, “a
(2001). Isso provavelmente pode ser difícil, mas é um exercício
disciplina do planejamento [...] foi um produto da tecnologia da
contínuo para este profissional, ou seja “[...] olhar para a mesma
propaganda. Ao contrário de muitas outras invenções [...], não
informação e ver algo diferente não tem preço” (STEEL, 2001, p.
foi inventado para tornar mais fácil a vida das agências” (RAY-
55). Como tal, o planejamento é algo bastante dinâmico.
NEY, 2006, p.8). Na verdade, as agências que contam com
Com este artigo procurou-se entender um pouco mais so-
esta equipe, aumenta o custo operacional e tempo desprendi-
bre este ator no cenário publicitário, bem como a sua matéria
do no processo; além de ainda, produzir discussão muitas das
prima de trabalho; consumidor.
vezes polêmica, em torno das soluções encontradas. Segundo Staveley e O’Malley (2002) a disciplina dissemi-
PLANEJAMENTO COMO DISCIPLINA
nou para o mundo, foi repetida nos Estados Unidos, conser-
Para uma melhor compreensão do papel e trabalho do pla-
vando grande parte de seus aspectos mais essenciais. Nos
nejador de comunicação nas agências de propaganda torna-se
Estados Unidos a agência pioneira foi a Chiat/Day, do Grupo
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 151
Omnicom. Jay Chiat citado por Staveley e O’Malley (2002) pro-
Ele acreditava que a execução, tanto quanto a estratégia criati-
curou entender porque o Reino Unido produzia propaganda
va, ajudava a criar uma “relação” de marca com seus usuários
bem melhor que os Estados Unidos, e chegou à conclusão que
(STEEL, 2001, p. 34).
uma das diferenças estava no planejamento de contas.
No Brasil o peso da criação passou a ser grande no pro-
Daí o Reino Unido ser conhecido como o país que produz
cesso. Na perspectiva de Corrêa (2000) a sensibilidade criativa
os melhores planejadores do mundo. Steel (2001) também tem
sobrepunha-se à lógica mercadológica e aos resultados das
uma explicação para este fato. O autor aponta que o motivo que
pesquisas. Isso sinaliza que a especialização e o trabalho de
leva os britânicos a se tornarem os melhores pensadores estra-
valorização do planejamento ainda não conseguia se impor.
tégicos é o contraste do sistema escolar britânico comparado
Em 1979 é fundado o Account Planning do Reino Unido –
a outros países. O sistema desse país tende a recompensar e
APG-UK na tentativa de discutir o papel do planejador e o plane-
estimular abordagens e debates dos acadêmicos sobre um pro-
jamento no contexto da comunicação. A partir daí vieram outros
blema, explorando bem além da resposta final.
grupos em todo o mundo, como da Argentina, Austrália, Bélgica,
Na prática, a diferença de planejamento do Reino Unido e
Suécia e tantos outros.
dos Estados Unidos está no papel que a propaganda exerce
A figura do planejador veio a aparecer formalmente nas
na cultura da população. Segundo Rayney (2006) enquanto no
agências brasileiras na década de 80. “Neste contexto, os planos
Reino Unido as pessoas geralmente apreciam e aprovam a pro-
eram desenvolvidos pelo triângulo planejamento, atendimento e
paganda, nos Estados Unidos ela é considerada invasora e um
criação, que criava as bases para o pensamento estratégico de
insulto à inteligência.
comunicação, apoiado nos dados das pesquisas de consumer
Na publicidade americana predomina a convicção de que
insights” (CORRÊA, 2000, p. 163). Observa-se nesta época que
existem dois tipos de propaganda, a criativa e a que vende
nas agências de pequeno porte, o profissional de atendimento
(RAYNEY 2006, p.9). Talvez deva ser por conta disso que o mo-
exercia o trabalho do planejamento. Provavelmente isso pode
delo brasileiro herdado da disciplina foi dos Estados Unidos.
estar acontecendo nos dias atuais; haja vista a ponderação de
Não encontram-se registros históricos ou documentação es-
Ribeiro e Eustachio (2003, p. 133) “[...] só mude se não estiver
pecífica do período do uso da técnica de planejamento da propa-
obtendo soluções concretas para os problemas de negócios
ganda no Brasil (EMERICH, 1990, p. 158). Sabe-se que as gran-
que a agência se propôs a enfrentar”.
des empresas aqui instaladas na década de 30; como General
Emerich (1990) também assinala que este período consoli-
Motors, Esso, Shell, dentre outras; eram atendidas por agências
dou as agências como um negócio empresarial onde o plane-
locais ou filiais de alguma multinacional, provavelmente contava
jamento foi o fio condutor de todo o processo de comunicação.
com um algum profissional responsável pelo planejamento.
Um dos nomes pioneiros nesta área foi o Júlio Ribeiro, da Talent,
Nos anos 40 e 50 as grandes empresas utilizavam as agências como uma extensão do departamento de marketing. Nesse
que por muitos anos a sua agência não aderiu ao processo de internacionalização.
período a concorrência era caracterizada por um baixo nível de
Somente depois de longos anos, um grupo de planejadores
oferta de produtos ou serviços, não se levava em conta os an-
“interessados em trocar idéias e buscar a valorização do planeja-
seios e as expectativas do mercado e o foco era nas vendas.
mento como disciplina”3, surge no Brasil o primeiro Grupo de Pla-
Uma nova geração de profissionais da propaganda surgiu
nejamento em São Paulo, no ano de 2002. A entidade foi pioneira
com a instalação da Escola de Propaganda do Museu de Arte
e inspirada nos moldes dos Account Planning do Reino Unido e
de São Paulo, atualmente a ESPM – Escola Superior de Propa-
dos Estados Unidos. Nos Estados Unidos o grupo foi instituído for-
ganda e Marketing, primeira escola de propaganda do Brasil.
malmente em 1995, conforme apontam Staveley e O’Malley (2002).
Segundo Emerich (1990) nesta ocasião emergiriam futuros e brilhantes especialistas em planejamento. A revolução criativa mundial é encabeçada por William (Bill) Bernbach nos anos 60, que já levava em conta o ponto de vista
Por conta da dimensão geográfica, o Brasil adotou o sistema de grupos de estudos para promover a disciplina, por região. No Rio Grande do Sul o grupo surgiu em 2005, em Minas Gerais foi lançado em 2009 e adotou o nome de Clube de Planejamento.
do consumidor. Isso é constatado por Steel (2001) ao afirmar
Atualmente o interesse e a introdução da disciplina sinalizam
que para Bernbach a execução de uma propaganda era mais
uma maior preocupação sobre as novas maneiras de pensar a pro-
que um veículo para carregar a mensagem de um produto ou
paganda. Neste sentido gera uma resposta mais rica aos proble-
marca; era, de certa forma, a mensagem em si, e seu objetivo ia
mas do anunciante, pois a agência a desenvolve um novo olhar
mais além do que conseguir captar a atenção do consumidor.
do consumidor, com soluções criativase resultados para a marca.
152 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
PENSAMENTO INOVADOR NAS AGÊNCIAS DE PROPAGANDA
nejador é querer receber crédito por essas idéias.
A nova geração de planejadores, provavelmente ingressou
a segunda habilidade é passar mais tempo ouvindo do que
na área por uma decisão racional. Além das incontáveis universi-
falando: o planejador deve exercitar em ser um bom ouvinte,
dades disponíveis, atualmente os cursos de comunicação social
pois segundo o autor a freqüência com que as pessoas tem e
não têm tanto o foco na formação de criativos para a criação. Ou
expressam boas idéias sem nem se dar conta, pode ser usufru-
pelo menos se espera isso.
ídas para o seu trabalho.
Muito além de aprender a ler dados de pesquisa, o plane-
o terceiro atributo é a capacidade camaleônica: o plane-
jador deve ser um indivíduo contemporâneo. Ribeiro (2000, p.
jador funciona como um intérprete para as três áreas, criação,
117) afirma que ser “contemporânea é a pessoa que está ligada
clientes e consumidores. O planejador deve entender o suficien-
on-line a seu próprio tempo”. E nas palavras dele, o valor dessas
te para descobrir uma forma de fazer as três partes se comuni-
pessoas é diretamente proporcional à sua capacidade de fazer
carem entre si.
acontecer as coisas. Ressalta-se que este autor, como pionei-
Esse é o caminho que deve ser trilhado pelo planner, eter-
ro da disciplina no Brasil, não menospreza o enfoque científico
no aprendiz. Schmetterer (2003) sugere que o “autêntico pla-
dado ao planejamento de comunicação.
nejador” (destaque do autor) é aquele que se dedica a tentar
Rayney ( 2002, p. 22) defende que o “Planejamento de comunicação nos dias de hoje não significa necessariamente encontrar novas respostas nem mesmo fazer descobertas. O importante é formular novas perguntas”.
entender as conexões entre a marca e as necessidades empresariais e entre a marca e o consumidor. Para Staveley e O’Malley (2002) se estamos na era da informação, os negócios se tornam negócios do conhecimento.
Disso pode-se extrair um princípio relevante em todo pla-
“Se o aumento da quantidade de informação não levar
nejamento, que segundo Ribeiro (2000) as perguntas são mais
à “paralisação pela análise”, então será preciso ter um
importantes do que as respostas; para ele são conseqüência
quadro de pessoal experiente para decidir qual, dentre
natural de perguntas bem formuladas.
todas as opções possíveis, é a melhor para adotar. O
Entretanto Schmetterer (2003, p. 215) pondera que a res-
planejamento de contas é o primeiro exemplo de uma
posta passa pela psicologia. E fazer as perguntas certas é ape-
disciplina completa que reconhece a necessidade de
nas metade do processo estratégico. O profissional de planeja-
criar esse novo tipo de pessoa no campo da publicida-
mento precisa gerar perspectivas originais, afrontar convenções
de.” (STAVELEY e O’MALLEY, 2002, p. 64)
e criar rupturas assentadas. Apesar de Sant’anna (2002) ter uma abordagem mais ad-
Do ponto de vista destes autores, o planner é a figura que
ministrativa deste profissional, o autor concorda que isso exige
melhor representará esta era dos negócios do conhecimento.
esforço e persistência por parte dos técnicos de planejamento.
Por outro o ambiente da agência tem que ser propício, as idéias
Para ele a tarefa daquele especializado em planejamentos, que
devem influir livremente, as informações devem ser compartilha-
introduz mudanças,
das e ter um trabalho de equipe coesa e, sobretudo, ter disciplina
“[...] é reconhecer os obstáculos inevitáveis, providen-
com foco no resultado para a empresa cliente e o consumidor.
ciar as maneiras de superá-los em seu planejamento e ver a organização que executa o plano é estruturada no
O CONSUMIDOR: MATÉRIA PRIMA DO PLANEJAMENTO
sentido de capitalizar as oportunidades para cuja obten-
Cada vez mais a empresa anunciante espera da agência
ção o plano é elaborado.” (SANT’ANNA, 2002, p. 102).
de propaganda (de comunicação) “uma parceria nos esforços que conduzem à venda final [...], aproveitar as oportunidades
Dentre os vários atributos e habilidades essenciais que o
criadas pelo mundo digital, etc”. (GRACIOSO, 2008, p.79). Em
planejador deve ter, Steel (2001, p. 51) destacam três importan-
contrapartida Bullmore (2003, p.75) pondera que “Aumentar
tes, a saber:
vendas não é função direta da publicidade. Sua função direta é
o primeiro é uma mistura de modéstia com humildade: a contribuição do trabalho do planner é produzir uma comuni-
conseguir mudanças de atitudes e comportamentos – que, por hipótese, aumentarão as vendas”.
cação que estimule e faça as pessoas a terem visto ou ouvido
Se a propaganda é uma das ferramentas utilizadas pela or-
a mensagem. Neste sentido, pode ocorrer de algum fragmen-
ganização para atingir seus objetivos, logo, o planejamento de
to de informações da estratégia sugerida pelo planejador ser
comunicação deve ser uma extensão do planejamento merca-
a idéia criativa da campanha. O erro fatal para qualquer pla-
dológico do anunciante.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 151
A clareza do que se quer com esse plano é premissa básica
pode até ser com pesquisa, desde que se utilizem os princípios
para o sucesso do anunciante. Mas o ponto crucial para qual-
da simplicidade, do bom senso e também da criatividade, que
quer plano de comunicação e para o posicionamento da marca
devem estar em funcionamento em todos os estágios da pes-
é o conhecimento profundo das características do público-alvo
quisa, recomenda Steel (2001).
(CORRÊA, 2006). Entretanto, não se pode limitar a informações
Já Lance e Woll (2006, p. 37) defendem a pesquisa como
econômicas e demográficas, por mais importantes que sejam,
“[...] a única forma de se manter em compasso com seus clientes
esta imprecisão da definição do público torna o trabalho mais
[..] e sentir o mais seguro possível de que você está movimen-
difícil e sem foco.
tando na direção de satisfazer aos seus desejos e necessidades”.
Portanto, o começo de toda comunicação é conhecer o con-
Paradoxalmente Steel (2001) acredita que pesquisas sejam
sumidor, seja ele chamado sr. Target (MARTINS, 2003), clientes
incapazes de transmitir o que na verdade pensam ou sentem os
e prospects (DANTAS, 2009) ou simplesmente público-alvo
consumidores. Mas no caso de fazê-las, o autor aconselha ter o
(CORRÊA, 2006). Este conhecimento possibilitará o planejador
cuidado e habilidade de afastar os entrevistados de si mesmos
a desenvolver uma estratégia tanto na busca criativa quanto no
para contribuírem criativamente e revelarem as aspectos real-
planejamento de mídia, junto com toda a equipe da agência.
mente importante que se procura.
Mas Lance e Woll (2006) afirmam
É incontestável que, para o planejador a única e a principal
“[...] Está mais difícil do que nunca conseguir ser nota-
perspectiva é a dos consumidores, a matéria prima do planeja-
do no meio da multidão. Os públicos mais jovens estão
mento. Neste sentido Troiano citado por Limeira (2008) afirma
cansados de tudo. Quando mais você entender para
“[...] as marcas são o mais importante e permanente ati-
quem exatamente está falando, maiores as suas chan-
vo de uma empresa. Mas a marca não pertence, de fato,
ces de atingir esse público com uma propaganda efi-
a ela à empresa. Pertence ao consumidor. Aliás, marcas
caz.” (LANCE e WOLL, 2006, p.37)
só adquirem vida quando entram em contato com os consumidores no mercado.” (LIMEIRA, 2008, p. 124)
Com o momento vivido de fragmentação de mídia, pulverização de verbas da empresa anunciante, construir e manter
De acordo com tal perspectiva, falar com os consumidores
uma marca forte é algo que exige do planner um inegável en-
exige diferentes níveis de conteúdo e de contexto, de utilização
tendimento do que precisa ser relevante ao contexto no qual o
de conceitos de diversas áreas, como economia e psicologia,
consumidor acessa a informação.
que se tornam essenciais para o estudo do comportamento do
Lance e Woll (2006) recomendam que a única forma de en-
indivíduo como consumidor. Como bem afirma Jones (2003)
tender o consumidor é como ele vive, o que deseja, o que com-
com conhecimento do alvo, pode-se medir como a publicidade
pra, como consome mídia e entende a mensagem, é participar
os atingirá, essencialmente o trabalho do planner é apontar a
da vida dele. Mas como conhecer o consumidor de uma forma
direção certa ao pessoal de criação, reduzindo o risco de “[...]
que ninguém mais da agência entende? Os autores sugerem, li-
perfurar poços secos e desperdiçar tempo e talento, algo que
vre-se de miopia de cidade grande, penetre no coração do país,
está em franca escassez e que deve ser sempre alimentado e
vá às lojas e converse com as pessoas nos corredores. Somen-
protegido” (JONES, 2003, p. 173)
te desta maneira o planner estará apto a servir de tradutor entre a pesquisa, o cliente, o pessoal da conta e a equipe de criação e todos estejam na mesma sintonia em termos de como falar com o todo poderoso consumidor. A esta característica Steel (2006, p. 53) acrescenta que ao planner “[...] tem de haver algo de certa forma esquisito neles”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda persiste em algumas agências, uma visão intelectualizada da figura do planner, muito por conta de como é descrito na literatura de modo geral; como o detentor da informação, o intelectual de ideias próprias e por aí vai.
Ele explica que os melhores planejadores têm uma visão sutil
Talvez o maior mérito do planejamento seja o de derrubar
que os arrasta para lugares e interesses estranhos que os tor-
barreiras entre os departamentos da agência, ao apropriar-se
nam ainda mais sutis. Em outras palavras, o planejador é aquele
de inúmeras ferramentas, porém de uma forma integradora e
que tem o objetivo de “penetrar na cabeça de uma pessoa e
produtiva. A sua contribuição é valiosa na construção de marcas
descobrir o que está pensando para encontrar a melhor forma
e nos resultados da agência.
de influenciá-la” (STEEL, 2001, p. 5). Descobrir a maneira como os consumidores sentem e agem
Embora esta discussão permita uma percepção sobre o trabalho do planner, faz-se necessário ainda detalhamentos es-
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pecíficos do seu trabalho. A pesquisa acadêmica neste campo tem recebido pouca atenção nos últimos anos. As existentes referem-se à carreira deste profissional, feitas pelas próprias entidades de classe, sem uma cientificidade do processo da construção do planejamento de comunicação dentro das agências. O maior aprendizado é entender que a cada instante algo novo surge e com isso uma forma inusitada de falar com o consumidor. E este profissional não perde o bonde da história, se a publicidade chega todos os dias na nossa casa, que chegue de uma maneira que não falhe em fazer as conexões necessárias com o consumidor, a grande matéria prima do planejador e o
LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. 379 p. MARTINS, Zeca. Propaganda é isso aí!: um guia para novos anunciantes e futuros publicitários. São Paulo: Atlas, 2003. 278 p. RAYNEY, Annie Rothwell. O contexto do planejamento. In: COOPER, Alan (Org.). Tradução Beatriz Sidou, Gil Pinheiro, Tânia Marques. Como planejar a propaganda. São Paulo: Talento – GP-Grupo de Planejamento, 2006. Cap. 1 7-23. RIBEIRO, Júlio. Planejamento estratégico: a arte de perguntar. In: PREDEDON, José (Org.) Propaganda: profissionais ensinam como se faz. São Paulo: Atlas, 2000. Cap. 5 115 – 131.
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NOTAS DE RODAPÉ 1 Trabalho apresentado no GP Publicidade – Epistemologia e Linguagem, XI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Recife – PE – 2 a 6 de setembro de 2011. 2 Publicitária, Relações Públicas, mestre em Marketing, com foco em comportamento do consumidor, docente dos cursos de Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial do Centro Universitário Newton Paiva – Belo Horizonte – MG. E-mail: soniamartins.prof@newtonpaiva.br 3 Disponível http://grupodeplanejamento.com.br/_2010/quem-somos <acesso 26 jun 2011>
JONES, John Philip(Org.). A publicidade como negócio. São Paulo: Nobel, 2003. 512 p. LANCE, Steve; WOLL, Jeff. O livro azul da propaganda. 52 ideias que podem fazer uma grande diferença. Tradução de Lenke Peres. Rio de Janeiro: Elsevier Campus, 2006. 233 p.
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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM AGÊNCIAS DE PROPAGANDA DE PEQUENO PORTE1 Asley Oliveira de Siqueira2 Carla Jacqueline Gonçalves Costa3 Patrick Simon Moreira de Oliveira4
RESUMO: O presente artigo visa apresentar as características e funções atribuídas pela literatura acadêmica ao profissional de planejamento em agências de comunicação, contrapondo-se com exemplos de agências de pequeno porte que não possuem tal figura especificamente. O estudo reforça a importância de planejar com eficácia a comunicação publicitária e por isso destaca que independente do tamanho do escritório, o planejamento acontece, com a presença de um profissional dedicado à apenas essa função ou não. PALAVRAS - CHAVE: Agência de publicidade; Agências de pequeno porte; Planejamento; Planner.
INTRODUÇÃO
Não é objetivo desse trabalho superestimar a participação
Atualmente o mercado mineiro de comunicação conta com
de agências de pequeno porte dentro do cenário da publicida-
a presença dos mais diversos tipos e modelos de agência de
de atual, mas sim demonstrar que o planejamento, assim como
propaganda. Independente do porte do escritório de comuni-
as demais áreas de comunicação, pode e deve ser praticado
cação uma área faz-se sempre necessário; o planejamento. En-
por todas as agências, independente de seu porte e de ter pro-
tre suas várias funções que serão discutidas por Amaral (2004),
fissionais únicos para isso ou não.
ele resume atribuindo ao planejamento a responsabilidade de desenvolver uma propaganda mais eficaz e segmentada.
1 Características e Funções do Planner
A partir desta premissa, este artigo pretende identificar
As mudanças no hábito de consumo, o crescente aumen-
as características e funções do planner e como essa função
to da concorrência e principalmente a evolução dos meios e
pode ser desenvolvida em uma agência de pequeno porte.
formas de comunicação, acarretam em mudanças no perfil e
Tal preocupação justifica-se, pois não são todas as agências
nas funções de todo e qualquer publicitário. Isso quer dizer
que possuem esta importante função na figura do planejador.
uma constante busca em entender profundamente o consu-
Segundo Zamboni (2009, p. 36) “[...] as pequenas e peque-
midor para todos que estão no processo de comunicação de
níssimas agências têm dificuldades naturais para contratar um
uma marca. Conceitualmente, o profissional de planejamento
planejador já que suas estruturas normalmente são compac-
é quem deve trabalhar em termos de reações de atitude do
tas.” Portanto, o planejamento nesse caso geralmente é de-
consumidor dentro de uma agência.
senvolvido por outro profissional, que pode ou não dispor de
Após o surgimento da função na década de 60, “a pesquisa
características ou conhecimento necessário para exercer esta
e a voz do consumidor passaram a ser ferramentas imprescin-
função com qualidade.
díveis para um bom plano de comunicação” (AMARAL, 2004).
Neste sentido, entender e descrever como ocorre o plane-
Hoje, a evolução tecnológica e o “bombardeio” de tendências
jamento estratégico de comunicação nas pequenas agências e
ou pseudo tendências tornaram essas ferramentas mais com-
se são realmente capazes de desenvolver tal função de modo
plexas. Por isso, conhecer o consumidor é condição sine qua
assertivo tona-se vital para o negócio. Após a conceituação
nom para o planejador, conforme assegura Lupetti (2003).
do porte de agência, será utilizado como exemplo o estudo de caso com duas agências de pequeno porte do mercado mi-
Assim, o papel do planejador nesse contexto, segundo Steel (2006) é de
neiro. Este método foi usado, pois, “[...] contribui para a com-
“[...] acolher os consumidores como parceiros no pro-
preensão dos fenômenos sociais complexos, sejam individuais,
cesso de desenvolvimento da propaganda, usar todo
organizacionais, sociais ou políticos”, conforme observa Duarte
tipo de informação fornecida por eles em cada estágio
(2009, p.234).
do processo para alimentar e algumas vezes até ins-
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pirar as idéias criativas e balizar, até mesmo validar, as campanhas que resultassem disso”. (STEEL, 2006, p.6) Partindo para um conceito mais organizacional da função do planner, Sant’anna, (2002, p. 102) afirma que “planejar é reconhecer os obstáculos inevitáveis, providenciar as maneiras
O terceiro e último atributo “é a capacidade camaleônica: o planejador funciona como um intérprete para as três áreas, criação, clientes e consumidores.” O planejador deve entender o suficiente para descobrir uma forma de fazer as três partes se comunicarem entre si”. (STEEL 2001, p.51).
de superá-los em seu planejamento e ver se a organização que executa o plano é estruturada no sentido de capitalizar as opor-
Os vários olhares e opiniões em torno da figura do plane-
tunidades para cuja obtenção o plano é elaborado”. Por outro
jamento denotam a multiplicidade de características e funções
lado, Amaral (2004, p. 13) considera este profissional de extrema
atribuídas ao profissional, o que faz dele uma figura destacada
importância, ao afirmar “Me parece que o planejador tem um
e importante em todas as fases de um projeto de comunicação.
papel político no ambiente interno da agência, agindo como me-
Então, independente da visão conceitual conferida ao planner,
diador entre a Criação e o Atendimento”.
entende-se que ele é peça chave para o sucesso de uma cam-
Segundo Jones (2002) apud Amaral (2004) o Account Plan-
panha ou marca.
ning Group, entidade representante da classe, define a função do planejador como um guia que facilita o processo de produ-
2 Porte de Agência e Anunciante
zir soluções criativas e eficientes no mercado visando a aplica-
Para Miranda (2011) a área de planejamento que antes era
ção sagaz de conhecimento ou conhecimento de consumidor/
responsável pela pesquisa, na década de 60, agora apresenta
mercado. Segundo a APG, “o principal trabalho do planejador é
grande crescimento técnico e visão sistêmica, incorporando
entender o consumidor e a marca e, destes, retirar um insight-
novas ferramentas de trabalho, para que a partir delas pudesse
chave para a comunicação e/ou sua solução”.
chegar aos resultados mensuráveis. Com essa visão o planeja-
Já a American Association of Advertising Agencies, define o
dor passa a não somente realizar técnicas de pesquisa, mas a
planejador de conta como a figura que é essencialmente, o con-
compreender o consumidor, apresentando soluções adequadas.
tato primário da equipe de contas com o mundo exterior (JONES,
O planejamento é uma área relativamente nova e não tradi-
2002 apud Amaral (2004). Ou seja, é a pessoa que, por seu know
cional, se comparada com outros ramos da publicidade, como
how e expertise de todas as informações pertinentes, têm a ca-
atendimento, criação e mídia, por exemplo. Pode-se inferir que
pacidade de focar no consumidor em todas as decisões de publi-
não é só pela estrutura das agências que não se vê um profissio-
cidade. Isso exige muita persistência e esforço por parte do pro-
nal especificamente de planejamento. Isso pode ser constatado
fissional de planejamento do ponto de vista de Sant’anna (2002).
em matéria recente na revista Exame, que segundo a repórter de
Contudo, é possível estabelecer algumas características co-
carreira Lam (2011), “o mercado está carente de profissionais
muns relativas à personalidade do profissional que desenvolve
experientes na área”.
o planejamento e por consequência podem ajudar no desempe-
O grande número de agências de propaganda ou de co-
nho das funções do planner. Segundo Steel (2001) essas carac-
municação existentes possibilita a variação dos mais diferentes
terísticas são divididas em três habilidades essenciais:
portes de empreendimento. Segundo Sampaio (2003, p. 61)
“Mistura de modéstia com humildade: a contribuição do
“existem desde empresas com poucos empregados e reduzidas
trabalho do planner é produzir uma comunicação que
instalações até grandes organizações multinacionais, presentes
estimule e faça as pessoas a terem visto ou ouvido a
em muitos países, empregando milhares de pessoas [...]”.
mensagem. Neste sentido, pode ocorrer de algum frag-
Contudo, através de alguns critérios é possível estabelecer di-
mento de informações da estratégia sugerida pelo pla-
ferenças entre o variado porte das agências. Um dos autores que
nejador ser a idéia criativa da campanha. O erro fatal
apresenta padrões gerais que podem ajudar a distinguir agências
para qualquer planejador é querer receber crédito por
de pequeno, médio e grande porte é Sampaio (2003, p. 63). Na sua
essas idéias.
concepção as agências podem ser assim classificadas.
A segunda habilidade “é passar mais tempo ouvindo do
“A agência pequena normalmente tem uma Direção-
que falando: o planejador deve exercitar em ser um bom
Geral e quatro departamentos básicos: Atendimento/
ouvinte, pois segundo o autor a freqüência com que as
Planejamento, Criação/Produção, Mídia e Administra-
pessoas têm e expressam boas idéias sem nem se dar
ção/Finanças.
conta, pode ser usufruídas para o seu trabalho.”
A agência média normalmente tem os mesmos quatro
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departamentos básicos sob a Direção-Geral, mas conta
Portanto, se tais empresas existem e conseguem sobreviver
com mais quatro subdepartamentos. Pesquisa (ligada
no mercado é porque, além de possuírem uma estrutura que
ao Atendimento/Planejamento), Estúdio e Produção (su-
torna possível a prática da boa publicidade, existem anunciantes
bordinados à Criação) e Tráfego (em linha com a Admi-
que fazem uso de seus serviços.
nistração).
Dessa forma, os clientes ou anunciantes têm importante
A agência grande, normalmente funciona com as quatro
participação na diversidade de agências de todos os portes.
grandes áreas básicas subordinadas à Presidência ou a
Uma vez que geralmente o nível do anunciante requer um nível
Gerência-Geral do escritório (quando existe mais de uma
similar de agência, conforme atesta Sampaio (2003).
unidade operacional) subdividido nos diversos departa-
“Não há dúvida que existe uma relação direta entre o
mentos das áreas básicas mais departamentos ou nú-
tamanho da conta e da agência. [...] Porque a própria
cleos de Relações Públicas, Promoção e Merchandising,
disponibilidade financeira (a agência costuma até ante-
Assessoria de Imprensa, etc”. (SAMPAIO, 2003, p. 63).
cipar pagamentos e assume a co-responsabilidade pelos gastos assumidos) tem influência sobre a operação”.
Baseado no ponto de vista desse autor percebe-se que,
(SAMPAIO, 2003, p. 122).
independente do tamanho da agência espera-se que ela comporte pelo menos algumas áreas consideradas como básicas.
Ademais, de acordo com Sampaio (2003) grandes contas exi-
São elas; atendimento, planejamento, criação, produção e mí-
gem uma maior qualificação da agência, com investimento em al-
dia, além de um departamento financeiro comum a qualquer
gumas áreas como pesquisa e produção que não são comumente
empresa. Já para Corrêa (2008) os setores imprescindíveis são
encontrados em agências menores. Por fim, esse autor (2003, p.
gerência, administração, finanças, atendimento, criação, mídia,
123) conclui que, “[...] o tamanho da verba do anunciante deve cor-
produção e tráfego. Embora sejam atividades similares, a defini-
responder ao tamanho da agência que o atende.”
ção de um padrão varia de autor pra autor.
Mantendo essa relação direta e proporcional entre o tama-
Entretanto, a estrutura exigida para abrigar esse grande núme-
nho de cliente e agência é compreensível que os mais diversos
ro de setores acaba por impossibilitar a existência de departamen-
portes de escritórios de comunicação existam devido à variação
tos específicos com tantas variedades de funções em agências
infindável de empresas. Nesse sentido Sampaio (2003) reco-
menores. Sant’anna, Rocha Júnior e Garcia (2011, p. 302) ponde-
menda aos anunciantes procurarem agências de porte similar.
ram, “Cada uma dessas funções, em teoria, é exercida por algum
Logo, é preciso a compreensão de alguns critérios para conse-
profissional. Em modelos extremamente enxutos de agências, às
guir distinguir e classificar, mesmo sem um padrão universal-
vezes, várias funções são exercidas por apenas um profissional.”
mente aceito, os múltiplos anunciantes.
Em geral, segundo Corrêa (2008, p. 16) “[...] em pequenas agências os donos costumam exercer mais de uma função.”
Para melhor entendimento desta relação Sampaio (2003) diferencia os anunciantes da seguinte forma.
Não obstante, agências que possuem um menor número de
“Quanto ao tamanho, há os pequenos, médios e gran-
profissionais são mais predispostas a acúmulo de funções em
des. Quanto à estrutura, há os simples e os sofisticados.
algumas situações para que o processo de comunicação exista
Quanto ao tipo, há os que usam propaganda “porque
de forma plena. E o fato de possuírem uma estrutura menos in-
sempre usamos”, os que utilizam “porque dá certo”, os
tegrada não desqualifica seu trabalho.
que a empregam para cumprir determinado objetivo e
“Não significa que as agências com estruturas menores
os que a colocam a serviço do conjunto de sua estraté-
e mais simples não têm condições de realizar trabalhos
gia empresarial”. (SAMPAIO, 2003, p. 51).
de bom nível profissional, uma vez que tanto os serviços de apoio como os opcionais podem ser adquiridos de outras empresas no mercado”. (CORREA, 2008, p. 16)
Sampaio (2003) explica que quanto ao tamanho é relativo ao volume de investimento empregado ou verba publicitária. Quan-
Além de empresas terceirizadas ou fornecedores que são
to à estrutura refere-se a quem é o responsável pela propaganda
utilizados de modo a completar os serviços de uma agência
na empresa. Estruturas básicas têm a aprovação e discussão
que não dispõe desses setores internamente, segundo Sampaio
vinculada apenas ao diretor ou presidente, que não é especí-
(2003) é comum em agências pequenas os contatos com free-
fico para a função. Já estruturas mais complexas possuem um
lancers, profissionais autônomos contratados para atuar em um
departamento de comunicação específico para cuidar dessa
projeto ou por tempo específico.
área na empresa. Com relação aos tipos, essa é relativa ao
158 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
grau de utilização de propaganda pelo cliente. Sendo assim,
planejadores tendem a ser os seus próprios donos,
existem os que fazem porque “sempre fizemos” que podem
porque são, antes de tudo, empreendedores. São pla-
estar colhendo bons resultados, mas não possui plena consci-
nejadores. Começaram fazendo isso com as próprias
ência de todo o potencial da propaganda. Os que fazem “por-
carreiras e podem perfeitamente fazer o meso para os
que dá certo”, que embora parecidos com o anterior possuam
seus clientes”. (ZAMBONI, 2009, p. 36)
mais conforto em relação aos resultados obtidos e potenciais. Os que fazem mediante um objetivo claro a se cumprir, como
Zamboni (2009) vai mais longe e mantém a posição não se
promover uma oferta, lançar um produto, diferenciar-se de seu
atendo apenas às agências de publicidade, “o planejamento
concorrente, entre outros. E por fim, aqueles que agregam às
está no DNA da empresa e, nas pequenas organizações, está
suas atividades empresariais, estruturas publicitárias fixas, que
no DNA do dono”. Portanto, para ele o planejamento é uma
podem ter diversos tamanhos, desde um profissional respon-
filosofia de trabalho, um processo que deve ser compartilhado
sável pela comunicação da empresa até complexos departa-
e não burocratizado. Sampaio (2003, p. 26) pondera que a “[...] propaganda
mentos de propaganda. Assim, com tanta variedade e tipos de anunciante e de
pode ser definida como a manipulação planejada da comuni-
agência, cabe à empresa escolher uma agência compatível
cação”; mas acredita não ser possível que a comunicação seja
com seu perfil. E isso “[...] não significa contratar a maior, a
desenvolvida sem algum tipo de planejamento. Logo, essa é
mais famosa, a mais criativa. Significa ter critérios para buscar
uma função vital na constituição de uma agência de propa-
a agência adequada” (SANT’ANNA, ROCHA JÚNIOR E GAR-
ganda. Se a função não existe especificamente, ela poderá ser
CIA, 2011, p. 327). Neste contexto, contas menores podem ser
desenvolvida por outro profissional. Assim sendo, deve existir
mais bem atendidas em agências de pequeno porte.
no ambiente de uma pequena agência as atribuições relativas ao planejamento de comunicação, bem como a preocupação
3 Planejamento em uma Agência de Pequeno Porte
da utilização assertiva da verba disponível para o bom resulta-
É possível encontrar agências de propaganda que não
do do cliente. Geralmente essa noção de planejamento exis-
dispõem de todos os profissionais basicamente exigidos, con-
te, mesmo que não concentrada sobre a responsabilidade de
forme descrito pela literatura, mas que mesmo assim podem
apenas um publicitário.
atender com qualidade a seus clientes. Nesse formato, como
Para exemplificar tal situação será apresentado um com-
apresentado por Sampaio (2003) é comum que alguns profis-
parativo entre duas agências de pequeno porte com modus
sionais acumulem funções dentro da agência. Essas múltiplas
operandi similar. Considerou-se agência de pequeno porte
atividades geralmente ocorrem em agências de pequeno por-
“[...] aquela que tem basicamente as três áreas essenciais do
te, por conta das características operacionais.
negócio; atendimento-planejamento, criação e mídia; com al-
Neste cenário pode ser comum que algumas áreas sejam mais dificilmente encontradas do que outras. Área específica,
guns profissionais, e mesmo um único, em cada área.” (SAMPAIO, 2003, p. 55).
como o planejamento, é um bom exemplo de departamento
As agências são a Fonte31 Comunicação e Design e a Fi-
pouco encontrado em agências pequenas. É o que afirma o
xar Propaganda, com sede em Belo Horizonte. Ambas conser-
presidente do Grupo de Planejamento de São Paulo, em entre-
vam semelhanças que as condicionam a um mesmo padrão
vista à Cenp em Revista.
mediante as características apontadas conforme demonstra 1
“[...] as pequenas e pequeníssimas agências têm di-
a seguir.
ficuldades naturais para contratar um planejador, pe-
Ambas as empresas apresentam um quadro de funcioná-
las suas estruturas compactas. Nestas, os melhores
rios enxutos e por isso acabam por desenvolver múltiplas fun-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 159
ções. É o que acontece na Fonte31, conforme
Já a disposição de funcionários na agência Fixar Propagan-
Quadro 2:
da acontece conforme a seguir:
Ao analisar alguns aspectos das duas agências, destacam-
se como, por exemplo, o grau de importância dado a Direção
de Arte e ao Atendimento. Entende-se que são fundamentais
a campanha e provavelmente até criar as peças de comunicação
no processo e estão presentes nas duas agências. Entretanto,
será percorrido por pouquíssimos gaps, evitando o risco de ruído
é interessante observar que conforme cita Zamboni (2009), ge-
existente que ocorre na transmissão de dados de campanha.
ralmente são os donos da agência que desenvolvem o planeja-
Entretanto, a atribulações que envolvem áreas complexas
mento, isso porque, a própria experiência adquirida por ele no
como o planejamento, requerem tempo e esforço suficiente de
processo de criação da empresa já lhe confere “olhar as coisas
um profissional para este fim. Por isso, para que um publicitário
por ângulos diferentes” (ZAMBONI, 2009, P.37). No caso das
consiga conciliar outras áreas com o planejamento de campa-
agências citadas, ambos os donos estão a mais de 10 anos
nhas é necessário grande dedicação, que em muitas vezes im-
dedicados a boa prática da publicidade.
pede que ele mantenha uma carga horária de trabalho normal.
Aponta-se que o planejamento é desenvolvido nessas
É o que acontece nas duas agências pesquisadas. Embora os
agências de modo instintivo, talvez até empírico, com base em
demais funcionários variem entre seis a oito horas diárias de
experiências pregressas e provavelmente no nível de repertório
trabalho, os proprietários, que somam ao planejamento outras
dos profissionais envolvidos. Contudo, como não existe um de-
funções da agência, entre elas as administrativas e financeiras,
partamento burocratizado para a prática do planejamento, am-
dedicam mais de 10 horas às múltiplas atividades.
bas as agências utilizam da convergência de opiniões de toda a
Portanto, ao analisar estas agências pode ser que se
equipe (já que são muito pequenas) sobre o cliente e sua marca.
encontrem outras que trabalhem da mesma forma, onde o
Busca-se com esse procedimento, um fazer pensar com trocas
planejamento seja uma tarefa multidisciplinar, logo comparti-
para chegar a melhor e mais provável estratégia de retorno do
lhado com todos. Observa-se que algumas situações devem
anunciante. Acredita-se que é uma maneira de todos os inte-
ser favorecidas e outras abdicadas para que a agência, como
grantes da agência estarem envolvidos no projeto e poderem
prestadora de serviço que é, possa oferecer ao seu cliente
participar da discussão das alternativas de comunicação, cada
uma comunicação eficiente, embasada em estudos de pes-
um com o repertório pertinente a sua área de atuação. Dessa
quisa, melhor distribuição da verba publicitária e um atendi-
forma trabalha-se com diferentes perspectivas que se espera
mento qualificado. Assim sendo, o modo de se planejar uma
convergir em uma única plataforma, a comunicação 360º.
campanha em uma agência pequena não pode ser desmere-
Outro fator favorável relatado pelas agências estudadas sobre
cido em comparação com agências de grande e médio porte.
o planner habituado a outras funções, diz respeito à diminuição do fluxo de “transportadores” de mensagens. Isso porque, por se tra-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
tar de um profissional que desempenha mais de uma função, dimi-
É possível perceber com este estudo que não existe um mo-
nui-se o número de intermediários que a informação deve percorrer
delo ideal de agência de propaganda, a partir do seu porte, da
ao sair do anunciante até chegar ao produto final a ser entregue. O
estrutura física, do número de funcionários e etc. O que existe é
canal entre quem vai atender o cliente, redigir o briefing, planejar
uma pluralidade dos mais variados tipos de escritórios de co-
160 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
municação. Dessa forma, não se deve falar sobre a melhor ou a pior, mas sim diferentes agências que se adaptam e prestam serviços de melhor suporte para diferentes clientes. A mesma diversidade que existe em relação às agências, existe também relativa aos anunciantes. Por isso, é função das empresas dispostas a anunciar buscar uma agência que seja compatível com seus interesses e com sua estrutura. Se não há um padrão ideal de agência, não é possível também definir um padrão exato de profissionais para que cada escritório consiga realizar de forma satisfatória os objetivos de comunicação do cliente. Por conseguinte, o planejamento, eixo
de.pt/2007/09/14/a-vida-de-um-planner/.>. Acesso em: 21 de outubro 2011. MIRANDA, Adriana. Disponível em: <http://www.minasmarca.com/aevolucao-da-funcao-do-profissional-de-planejamento-nas-agencias-de-comunicacao>. Acesso em: 21 de outubro 2011. SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. Como Usar a propaganda para construir marcas e empresas de sucesso. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 384 p. SANT’ANNA, Armando. Propaganda. Teoria. Técnica. Prática. 7 ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. 469 p.
temático desse estudo, não depende fundamentalmente de apenas um profissional com essa formação. Foi possível perceber quão importante é a área de planejamento dentro do contexto publicitário, a importância da “atitude planejamento” dentro de qualquer agência que, às vezes, pode suplantar a figura do profissional. Ou seja, mais do que ter as
SANT’ANNA, Armando; ROCHA JÚNIOR, Ismael; GARCIA, Luiz Fernando Dabul. Propaganda: teoria, técnica e prática. 8.ed. rev. e ampl. São Paulo: Pioneira, 2011. xviii, 437 p.
STEEL, Jon. A arte do planejamento: verdades, mentiras e propaganda. Rio de Janeiro: Campus, Elsevier, 2006. 275p.
funções de planner , fica evidenciada a necessidade vital de planejar a comunicação integrada, de sua concepção até a execução. Portanto, é preciso que as agências, independente do seu tamanho, experiencie essa função em qualquer projeto para que possa buscar uma comunicação mais assertiva. É importante lembrar que as duas agências trabalham o planejamento no âmago de todos os seus projetos, considerando
ZAMBONI, Ulisses. Planejamento da comunicação não é privilégio de grande agência. Cenp em Revista – Ano 5 – Nº 19 – junho 2009 – 34 -39
NOTAS DE RODAPÉ 1 Artigo produzido como trabalho da Disciplina Planejamento e Estratégia de Campanha, do curso de Publicidade e Propaganda, do Centro Universitário Newton Paiva, no 2º semestre de 2011
suas características em relação à estrutura profissional. Logo, ambas parecem estar conscientes das necessidades e desafios
2 Aluno do sétimo período do curso de Publicidade e Propagan-
que uma agência pequena deve superar para atender bem aos
da – e-mail: asleysiq_7@hotmail.com
seus consumidores e continuar viva nesse concorrido mercado. 3 Aluna do sétimo período do curso de Publicidade e PropaganREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
da – e-mail: carlacosta.cria@hotmail.com
AMARAL, Ricardo Gomes do Filho. O papel do Planejamento de Comunicação e o contexto brasileiro. 2004 – EAESP/FG CORRÊA, Roberto.Planejamento de propaganda. 10.ed. rev. e ampl. São Paulo: Global, 2008. 281p.
4 Aluno do sétimo período do curso de Publicidade e Propaganda – e-mail: patricksimon12@gmail.com
DUARTE, Márcia Yukiko Matsuuchi. Estudo de caso. In: DUARTE, Jorge; BARROS (Org.) Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009. Cap 14 p.215-235 LAM, Camila. EXAME - Agências de publicidade buscam profissionais de planejamento. 2011. Disponível em: <http://exame.abril. com.br/carreira/galerias/profissoes-em-alta/agencias-de-publicidadebuscam-profissionais-de-planejamento>. Acesso em: 21 de outubro 2011. LUPETTI, Marcélia. Administração em publicidade. A verdadeira alma do negócio. São Paulo: Thomson, 2003. 218p. MEIO E PUBLICIDADE. Disponível em: http://www.meiosepublicidaPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 161
GOOGLE HACKING Alex Sander de Oliveira Toledo1 Dayene Ângela de Almeida2
RESUMO: O presente trabalho apresenta os recursos que o Google oferece no que diz respeito à coleta de informações. Estes recursos servirão de referência aos usuários web quanto à segurança, na espera de bloquear formas de vazamento de informações. PALAVRAS-CHAVE: Informações, Segurança, Google Hacking.
1 Introdução
rosa ferramenta para busca de informações de todos os tipos.
Existem ferramentas que são de grande valor e na maioria
O uso malicioso pode ser feito através de uma pirataria
das vezes não damos tanta importância pela sua aparência,
informatizada, Google Hacking, que utiliza o Google para en-
normalmente por apresentarem ser o que qualificamos como
contrar falhas de segurança em configurações, sites e códi-
simples. E por muitas das vezes o “simples” aspecto na internet
gos de computador.
pode ser um grande problema de segurança.
A arte do Google Hacking utiliza o Google para localizar
A segurança na internet é um tema critico nos dias atu-
informações confidenciais ou para encontrar vulnerabilidade
ais. A cada dia surgem diversas formas de testes para evitar
que podem ser exploradas, podendo ser uma grande ameaça.
invasões e ataques às informações das organizações e em
Segundo Pinheiro (2010), o que explica essas ameaças é a uti-
sistemas pessoais o que ajuda evitar os prejuízos financeiros,
lização do agente de busca para catalogar paginas, ao mesmo
perdas de informações confidenciais ou importantes. Por isso
tempo em que aumenta de forma considerável o numero de
a segurança da informação protege e mantem as informações
respostas da ferramenta, traz o problema de muitas vezes ca-
sigilosas. (PELTIER, 2001).
talogar mais do que os administradores de paginas gostariam,
A internet pode esconder intenções maliciosas e deixar enganar pela inocência visual. Isto sugere que qualquer coisa que
porque os muitos servidores estão conectados a Internet. 2 Falhas Reconhecidas
não está visível não pode trazer insegurança, como é o caso
O motor de busca Google, é fácil de usar (figura 1), encon-
da visão da maioria dos usuários quanto ao serviço de busca:
trado em www.google.com,oferece benefícios óbvios para
Google. Segundo Felipini (2008), o Google é um dos servi-
qualquer tipo de internauta: leigos ou maliciosos. E para uso
ços de busca mais utilizado na internet, parecendo ser inofen-
malicioso usa- se a técnica de Google Hacking.
sivo. Por de traz da aparência simples ele esconde uma pode-
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A barra (campo) de pesquisa permite ao usuário digitar um
filetype:txt coração. Os tipos de arquivos mais comuns são:
termo de pesquisa ou uma palavra como, por exemplo, “jornal”
Adobe Flash (.swf);
e teremos muitas opções disponíveis. Porem o Google não ofe-
Adobe Portable Document Format (.pdf);
rece apenas esse campo, há vários campos como, por exemplo,
Adobe PostScript (.ps);
“Ferramentas de Idiomas” que permite ao usuário definir opções
Autodesk Design Web Format (.dwf);
diferentes de idiomas e outros campos que podem ser de gran-
Google Earth (.kml, .kmz);
de ajuda.
GPS eXchange Format (.gpx);
O Google usa operadores booleanos para restringir suas
Hancom Hanword (.hwp);
pesquisas. Segundo Aamato (2005) os operadores booleanos
HTML (.htm, .html, other file extensions);
são palavras que informam ao sistema como combinar os ter-
Microsoft Excel (.xls, .xlsx);
mos de sua pesquisa. São eles: AND, OR, NOT, respectivamen-
Microsoft PowerPoint (.ppt, .pptx);
te, E, Ou e NÃO. Ao fornecermos uma lista de termos de busca,
Microsoft Word (.doc, .docx);
o Google automaticamente tenta encontrar todas as palavras
OpenOffice presentation (.odp);
em uma lista, tornando o operador booleano AND redundante.
OpenOffice spreadsheet (.ods);
O Google é fácil de ser usado, não há necessidade de des-
OpenOffice text (.odt);
crever a sua funcionalidade básica. Em vez disso, vamos co-
Rich Text Format (.rtf, .wri);
nhecer os operadores disponíveis:
Scalable Vector Graphics (.svg);
a)O sinal de mais (+) é usado com uma maneira de substituir um valor booleano AND. Mas o Google usa o sinal de mais
Text (.txt, .text, other file extensions), incluindo o código fonte em linguagem de programação comum:
(+) de uma forma diferente. Usa para forçar uma busca por uma
Basic source code (.bas);
palavra muito comum.
C/C++ source code (.c, .cc, .cpp, .cxx, .h, .hpp);
b)O sinal de menos (-) para excluir um termo de uma bus-
C# source code (.cs);
ca. Lembrando que não pode haver espaço de um sinal com a
Java source code (.java);
busca, porque pode produzir resultados diferentes.
Perl source code (.pl);
c)As aspas duplas (“ “), ou busca mista pode envolver am-
Python source code (.py);
bas as frases e termos individuais. Exemplos: “Microsoft Office”,
Wireless Markup Language (.wml, .wap);
o que resultara apenas o que inclui a frase.
XML (.xml);
d)Um ponto (.) serve como um único caractere. e)Um asterisco (*), ou curinga, diz ao Google para tentar
c)Link: o Google pesquisa dentro de um hyperlink para uma busca. Exemplo: link: www.apple.com/iphone.
tratar o (*) como um espaço reservado para qualquer termo des-
d)Cache: exibe a versão de uma pagina web quando o
conhecido e depois encontrar os melhores resultados. O Google
Google busca no site. A URL do site deve ser fornecida após
permite o uso de operadores para ajudar a filtrar as pesquisas e
os dois pontos. Exemplo: cache:www.newtonpaiva.br. Este é o
o uso avançado do mesmo é muito simples.
cache do Google de http://www.newtonpaiva.br/.
f)Operador: SEARCH_TERM. Palavra chave. Alguns operadores podem ser usados como uma consulta independente. Dessa forma, muitas informações “apuradas” podem ser encontradas, basta saber o que procurar. O ainda ar-
e)Intitle: para pesquisar um termo no titulo de um documento. Exemplo: intitle:index.of. mp3 Fernando e Sorocaba. f)Inurl: para pesquisar somente dentro da URL (endereço web) de um documento. Exemplo: inurl:musica.
mazena no “cache” uma versão de paginas e arquivos, de modo que mesmo corrigindo o problema no servidor, os dados podem
3 Como Realizar
ainda estar expostos. Alguns tipos de ataques que podem ser
Como foi mostrado no tópico anterior existem operadores
feitos através do Google:
simples que ajudam a revirar ou incrementar a busca. É essa
a)Site: encontra as paginas da Web em um site ou domínio especifico. Exemplo: site: sistemas de informação newtonpaiva. br. O resultado mostra sobre o curso de Sistemas de Informação no site da Newton Paiva.
simplicidade, junto ao poder dos resultados, que transformam o Google em uma ideia tão sensacional. O hacking utiliza a Barra de Ferramenta do Google ou Google Toolbar que é instalado no browser por meio de um executável, a
b)Filetype: operador instrui o Google a pesquisar somente
descobrir informações, descobrir sobre o assunto ou identidades
dentro do texto de um determinado tipo de arquivo. Exemplo:
de pessoas e quebra barreiras de segurança usando uma pesqui-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 163
sa no Google inocente e sem malicia, como dissimulação.
paginas Web da Microsoft, empresas sem administradores de
O Google é apenas um instrumento utilizado para explorar
segurança ou pequenas lojas online também podem causar sua
falhas do sistema operacional, do planejamento de TI ou do
própria falência, com um auxilio mínimo dos Hackings utilizado-
próprio administrador de sistemas, então o que mostra que ele
res do Google.
não tem responsabilidade direta sobre a vulnerabilidade. Com
Um hacker procura uma informação pelo termo:
ajuda do FrontPage, o software de manufatura e editoração de
Inurl:”ordes.txt”
O resultado é brilhante (figura 2), são arquivos de mais de
senhas de validação de compras.
2MB, reproduzindo bancos de dados com inúmeras informa-
Já usando:
ções como numero de cartão de credito, endereço, telefone e
inurl:”auth_user_file.txt”
164 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Com esse comando, é fácil encontrar arquivos (figura 3) contendo listas de usuários, senhas e diretórios de login.
Equivale a entrar no mundo dos servidores desprotegi-
A combinação: Index of /admin
dos (figura 4).
dos e colocados no ar em um dia por equipes apresentadas.
A expressão:
E uma busca rápida retorna nada mais do que 3600 resulta-
inurl:”form_results.txt”
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 165
Encontramos vários sites expostos (figura 5). Alguns mostram nomes, números de telefone e endereço de email dos seus visitantes. Tudo o que vimos mostra o grande poder do Google e como é fácil descobrir dados e informações. Para ficar ainda
ferência de Arquivos) totalmente aberto e cheio de informações. Como já foi dito não podemos esquecer que a culpa dessas vulnerabilidades não são do Google. Ele é apenas um instrumento utilizado para explorar falhas do sistema operacional, do planejamento de TI ou próprio administrador de sistemas.
mais claro o uso dessas operações através do Google veja o
Então pra proteger as informações temos que manter os
exemplo: imagine que um hacker invada um site que possua
dados fora da Web. Mesmo inserindo dados temporários, exis-
uma media quantidade de visitantes, consegue invadir uma con-
tem grandes chances de esquecê-los ou que um Web Crawler,
ta de administrador. Com a senha de administrador qualquer um
que é usado para manter uma base de dados atualizados, pode
pode fazer um upload de arquivos executáveis, escondendo-os
encontrá-los.
as arvores e diretórios, sem definir links definidos. E se o ver-
O melhor é usar formas mais seguras de compartilhamento
dadeiro administrador não tiver o costume de olhar sua pagina
de dados sensíveis como, por exemplo, SSH / SCP4, os dados são
não notará a inclusão de links com códigos maliciosos. Ainda
cifrados durante a transferência, protege o usuário de invasões na
há muitas vulnerabilidades que podem e são explorados. Basta
rede evitando roubos de pacotes, senhas e dados diversos.
ter um hacker, um usuário ou servidor, e um browser rodando no Google. Segundo SOUSA e ROCHA (2010) algumas grandes em-
Usar as técnicas descritas nos tópicos acima pode ajudar a verificar o seu próprio site para informações sensíveis, dados ou arquivos vulneráveis.
presas de tecnologia como o Google, por exemplo, investem no
Pode-se usar o Firewall como um sistema de controle aos
desenvolvimento dos seus próprios SGBDs baseado na ideia
acessos às redes de computadores que tem como objetivo per-
NoSQL3 que ativa o processo de distribuição de arquivos ou
mitir que somente pessoas autorizadas conectem a uma rede
bancos de dados usando funções de mapeamento e redução.
local ou privada de uma instituição, tornando uma excelente fer-
E o Google desde 2004 investe, no Big Table, um banco de da-
ramenta de controle e uso da rede e da Internet, independendo
dos proprietário, desenvolvido para suprir as necessidades de
do tipo de computador, seja doméstico e ou de servidor.
armazenamento, totalmente baseado na filosofia de alto desempenho, escalabilidade e disponibilidade.
Segundo Alecrim (2004) um Firewall pode ser definido como uma barreira de proteção, que controla o tráfego de dados entre
Portanto não podemos esquecer que nada que estiver on-
seu computador e a Internet (ou entre a rede onde seu computa-
line, mesmo que esteja escondido em varias camadas de sub-
dor está instalado e a Internet). Automaticamente o usuário terá
diretórios, passa despercebido pelo Google. Segundo Gomes
como realizar transmissão e ou recebimento de dados autoriza-
(2009) mesmo bancos ocultos por trás de proxy ou firewalls mal
dos e o funcionamento terá variação de acordo com o sistema e
configurados podem ser encontrados, já que permitem que uma
ou de como foi elaborado o programa. E uma rede com informa-
base de dados receba tentativas de requisição de todas as par-
ções criptografadas em casos de transações de dados importan-
tes, sem restrição de IP, equivale a tornar o servidor de domínio
tes podem também ajudar a proteger de ataques inesperados.
publico. Ao haver duvida com relação à localização do endere-
Fazer backup é importante para a segurança da informa-
ço, basta o hacker utilizar ferramentas simples como o “tracert”,
ção. E pode ate mesmo fazer uma copia off-line dos dados mais
uma ferramenta de redes do Windows que funciona em linha de
importantes. Mas não adianta retornar com uma copia do ba-
comando, semelhante do “traceroute” do UNIX.
ckup se a vulnerabilidade explorada na invasão não for sanada. Tem também o Google webmaster que é uma ferramenta
4 Como Prevenir
desenvolvida pelo Google que proporciona aos usuários a ob-
O sistema de busca do Google funciona bem demais, tudo
tenção de dados sobre rastreamento, indexação e tráfego de
que estiver on-line, mesmo que esteja escondido em varias cama-
pesquisa e receber notificações sobre problemas no seu site.
das de subdiretórios, não passa despercebido pelo Google. Os
Todo o processo é simples e pode ser realizado através dos
hackers que se utilizam do Google ou de outros mecanismos de
passos descritos na página: http://www.google.com/support/
busca à procura de informações pessoais estão em busca de do-
webmasters/bin/answer.py?answer=164734.Como
cumentos do Word, bancos de dados, todas essas modalidades
pessoas capazes de explorar falhas na segurança das informa-
de arquivos possuem algum tipo de informação relevante para en-
ções, a melhor prevenção contra vazamento é evitar vulnerabili-
contrar, por exemplo, planilhas de Excel, associando-as aos ter-
dade, por isso o webmaster é uma ferramenta importante.
mos cartão, crédito e despesas ou um FTP (Protocolo de Trans-
existem
Portanto prevenir as informações contra problemas nada
166 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
mais é que agir contra agentes capazes de explorar falhas de segurança, evitando a vulnerabilidade das informações e dados. 5 Conclusão A internet por si é uma ferramenta valiosa que nos ajuda a interagir com diversos ambientes, e o Google é um serviço on-line e software que hospeda e desenvolve uma series de serviços e produtos baseados na internet. O Google pode ser usado por usuários maliciosos a fim de atacar suas informações e pode ser utilizado para proteger as mesmas através de medidas simples de segurança e constante vigilância. A utilização de operadores para catalogar páginas ao mesmo tempo em que aumenta, de forma ainda mais ampla, o numero de respostas do Google surpreende muitos administradores por perceberem que seus dados e informações não foram configurados de forma segura. E o Google Hacking encontra arquivos sigilosos ao fazer a busca através de operadores, expondo servidores na base de dados do Google na primeira
google-como-ferramenta-hacker-%96-parte-1-google-hacking.html> . Acesso: 16 set 2011. LONG, Johnny. Google Hacking. Mini Guide. Disponível em: < http:// www.informit.com/articles/article.aspx?p=170880 >.Acesso 19 set 2011. MUTHU, Sudar. Operadores Avançados Google. Como utilizar o Google com eficiência. Disponível em: < http://hackerproject.webnode.com. br/tutoriais/operadores%20avan%C3%A7ados%20google/ >. Acesso: 16 set 2011 Portal 5S Tecnologia. Gerenciamento estratégico de segurança da informação. Disponível em: < http://www.ietec.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/261 >. Acesso em: 15 set 2011. RAMOS, Robson. O que é Google Hacking? O que o Google faz e você não sabe!. Disponível em: <http://brainstormdeti.wordpress. com/2010/08/31/o-que-e-google-hacking-o-que-o-google-faz-e-vocenao-sabe/> . Acesso em: 16 set 2011.
NOTAS DE RODEPÉ 1 Coordenador e Professor do Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva
oportunidade, já que não são capazes de diferenciar o que é publico do que é privado/confidencial. Portanto o Google é indispensável quando se trata de buscas na web. E pode se concluir que Google Hacking ensina a descobrir, de forma discreta, segredos sobre a vulnerabilidade dos sites, como acessar bancos de dados, rastreamento de servidores, acessos a senhas secretas, etc., mas também nos ensina como se defender dos ataques digitais e evitá-los, ao
2 Graduanda em Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva 3 NoSQL (Not only SQL) surgiram da necessidade de escalar bancos de dados para o resolver os problemas das aplicações web que operam em larga escala. 4 Secure Shell (SSh) é um protocolo de rede. Secure Copy (SCP) transfere arquivos entre hosts locais ou remotos.
revelar as técnicas de ataques na rede. E mesmo você não sendo um hacker há certas vantagens em conhecer a existência de hacking no Google porque, por exemplo, você pode descobrir informações confidenciais sobre você ou sua empresa e com isso pode ainda se proteger de eventuais vulnerabilidades, o que ajuda na proteção contra as ameaças de hacks do Google. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAMATO, Asclepios. Operadores lógicos booleanos. “AND”, ”OR” e ”NOt”. Disponível em:< http://www.asclepios.com.br/medico/content/ operadores-l%C3%B3gicos-booleanos-%E2%80%9Cand%E2%80%9D%E2%80%9Cor%E2%80%9D-e-%E2%80%9Cnot%E2%80%9D >. Acesso: 22 set 2011. ALECRIM, Emerson. Firewall: Conceito e Tipos. Disponível: <http:// www.inforwester.com/firewall.php> . Acesso: 03 Nov 2011. Felipini, Dailton. Top 10. Como alcançar o topo nos sites de busca. Disponível em: < http://www.e-commerce.org.br/sites_de_busca.php >. Acesso em: 15 set 2011. GRIS, Grupo de resposta a incidentes de segurança. Usando o Google como ferramenta hacker. Google Hacking. Disponível em: <http:// www.backtrack-linux.org/forums/tutoriais-e-howtos/26974-usando-oPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 167
METASPLOIT: um cenário de intrusão Alex Sander de Oliveira Toledo1 Vinícius Augusto Celestino Souza2
RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise dos principais aspectos relacionados à segurança da informação no que diz respeito à intrusão ou mecanismos para teste de penetração em um ambiente computadorizado, evidenciando as maneiras de como ocorre uma invasão via rede de computadores através do framework Metasploit. PALAVRAS-CHAVE: Segurança da Informação. Metasploit. Segurança. Redes de Computadores.
1INTRODUÇÃO
2 VISÃO GERAL DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
A segurança da informação tornou-se uma área impres-
A tecnologia da informação cresce exponencialmente a
cindível dentro de todas as organizações, uma vez que a in-
cada ano, milhares de versões de software são lançadas cons-
formação é um dos bens de maior valor para uma empresa. A
tantemente, processadores, HD’s, memórias estão cada vez
segurança da informação, apesar de aparentar ser de respon-
mais potentes, com isso o poder de processamento de uma
sabilidade exclusiva do setor de tecnologia, é possível observar
máquina pode chegar a limites até então não imagináveis.
que ela é também, de responsabilidade de cada pessoa que faz parte de uma organização.
Logo os riscos envolvendo o sigilo e segurança da informação começa também a tomar outro curso. Quando mencionamos
Logo, para que isso ocorra é necessário que as normas pre-
o que é segurança da informação, logo pensamos em aspectos
sentes na política de segurança, sejam objetivas e claras, e que
somente de tecnologia, como hardware ou software, porém é im-
estejam difundidas dentro da cultura organizacional. Segundo Ca-
portante lembrar que o capital humano, ou seja, as pessoas tam-
ruso (1999, p.49) “a política de segurança é um contínuo proces-
bém têm uma parcela de responsabilidade na segurança dos ati-
so de revisão, que é válida para toda organização, implantadas
vos da informação em uma empresa, organização ou instituição.
como regras claras e objetivas e sustentada pela alta hierarquia”.
Uma das maneiras de se proteger os ativos organizacionais
E mesmo assim vemos que às vezes os profissionais ainda são
é definir e implantar logo de início uma boa política de segurança .
negligentes quando se fala em segurança da informação. Uma das ameaças que podem colocar em risco a seguran-
Segundo Caruso e Steffen (1999, p.102) política de segurança é:
ça da informação em uma organização é a intrusão. A intrusão é
“Um conjunto de diretrizes gerais destinadas a gover-
uma maneira que máquinas ou pessoas utilizam para invadir um
nar a proteção a ser dada a ativos da companhia. As
sistema ou uma rede de computadores para se apoderarem de
consequências de uma política de segurança imple-
informações de empresas, organizações e instituições. Logo, os
mentada corretamente podem ser resumidas em três
testes de intrusão são maneiras de se verificar previamente possí-
aspectos: Redução da probabilidade de ocorrência;
veis falhas em um sistema, a fim de que, depois de identificadas,
Redução dos danos provocados por eventuais ocor-
sejam corrigidas e monitoradas para que se possa manter a inte-
rências; criação de procedimentos para se recuperar
gridade, confiabilidade e disponibilidade do sistema.
de eventuais danos.”
Ao se realizar este tipo de teste, pretende-se verificar o quanto vulnerável está o sistema e assim adotar, de maneira efetiva, políticas para defesa contra invasores ou ameaças potenciais. Este artigo apresenta uma prática de utilização da ferramenta Metasploit como um modelo de intrusão e verificação de
3 VISÃO GERAL DO FRAMEWORK METASPLOIT O framework Metasploit é uma ferramenta que auxiliam profissionais e empresas na realização de teste de penetração em sistemas e redes.
falhas dentro de um sistema de informação, expondo suas ca-
O Metasploit é também um sistema open source desenvol-
racterísticas e aplicação na administração da segurança com-
vido e mantido pela empresa Rapid7 e outros desenvolvedores
putacional e na criação de teste de vulnerabilidade.
autônomos, que utiliza seu próprio banco de dados com deze-
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nas de possibilidades de testes de sistemas.
contras os ativos de TI e expõe as ameaças na segurança de
Conforme o site metasploit.com3, a ferramenta é líder em testes de penetração, e que, além disso, fornece informações sobre vulnerabilidade de segurança em várias plataformas, sistemas operacionais, servidores e assim contribuir para que os
dados ou infraestrutura; Administrador de TI e segurança de rede – Realiza teste de invasão dentro de sua própria rede; Engenharia de qualidade – Identifica vulnerabilidades em
desenvolvedores escrevam seus códigos com mais segurança.
sua aplicação, especialmente em recursos de terceiros;
3.1HISTÓRIA DO FRAMEWORK METASPLOIT
assim contribuir para segurança tanto no sistema de detecção
IDS/IPS – Ajuda a entender como funciona o Metasploit e Em um projeto que teve início em 2003, HD Moore4 que-
de intrusão (IDS) quanto sistema de prevenção de intrusão (IPS).
ria trazer para a comunidade open source uma ferramenta que fosse útil para realização de teste de segurança. A primeira ver-
4 CENÁRIO DE INTRUSÃO
são foi escrita na linguagem Perl Scripting e teve participação de
Para demonstrar um teste de vulnerabilidade de um siste-
mais dois desenvolvedores.
ma, foram utilizadas duas máquinas virtuais pertencentes a uma
Como a linguagem de programação possuía algumas limi-
mesma faixa de IP. A máquina utilizada para mostrar as vulnera-
tações, em 2005 foi dado o início de migração para a linguagem
bilidades é a Back Track (Sistema Operacional Linux), máquina
de programação Ruby, que é utilizada até hoje.
essa contendo o framework Metasploit, que é o responsável por
E foi então, que em 2009, a Rapid7, empresa de gestão de
viabilizar a demonstração de testes de penetração ou pen-test.
soluções em vulnerabilidade, adquiriu o framework Metasploit. E
De outro lado uma máquina também Linux chamada Metasploi-
que, conforme o site metasploit.com, a empresa hoje mantém a
table, que é uma máquina com algumas vulnerabilidades de
ferramenta em processo de desenvolvimento, principalmente para
portas e serviços já configurados, para permitir a realizações e
soluções comerciais e para profissionais de segurança em TI.
simulações de teste.
3.2 APLICAÇÕES DO FRAMEWORK METASPLOIT
4.1RELATOS DOS TESTES DE INTRUSÃO
O framework Metasploit possui diversas aplicações que são
Para visualizar algumas vulnerabilidades do sistema, foi utili-
úteis para tanto para empresas como para consultores ou CISO
zado um escaneamento através opção Quick Scan (OS detect).
(Chief Information Security Officer). Conforme o site metasploit.
Esta opção identifica o sistema operacional e suas possíveis vul-
com o Metasploit permite a verificação dos seguintes assuntos:
nerabilidades (figura 1).
Verificador de Penetração – Realiza testes de penetração
Neste caso, será utilizado um IP já conhecido para efetuar-
mos o teste (figura 2).
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Após o escaneamento o Framework Metasploit será utiliza-
na máquina (figura 3). Note também que o próprio Framework
do para identificar qual o sistema está sendo utilizado na máqui-
mostra uma mensagem sugerindo os Exploits ou pontos que
na explorada, bem como todos os serviços que estão instalados
podem ser explorados naquele sistema (figura 4).
O próximo passo, utilizando o framework, através da varredu-
aberta- uma sessão direta com alguma porta (figura 5).
ra por portas, será feita uma penetração no sistema operacional e
O framework agora descobre uma vulnerabilidade através de um serviço disponível na máquina, que está sendo testada e
em seguida abrirá uma sessão com ela, através de um WebApp (figura 6).
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Então agora possuímos acesso direto a máquina e podemos acessar de qualquer lugar e explorar os seus recursos. CONCLUSÃO Os testes de penetração têm por finalidade verificar de maneira efetiva e preventiva as principais ameaças e pontos fracos de um sistema antes de ser implantado. Desta maneira, pretende-se minimizar os riscos e ameaças que o sistema pode sofrer. Ao tratarmos a informação como um bem de alto valor para a organização, é de grande importância que todo o ambiente computacional esteja seguro e que os pontos vulneráveis estejam identificados e tratados. O framework Metasploit visa melhorar e ajudar a manter a qualidade também na fabricação de software, permitindo que os sistemas possam ser testados e homologados antes de ir para o ambiente de produção. Por fim, ao ter esses cuidados, poderemos garantir maior disponibilidade do sistema, integridade das informações e confiança dos usuários. Além disso, ao expormos as vulnerabilidades de um sistema, estaremos defendendo todo o ambiente de produção, agregando confiabilidade ao produto e tomando medidas corretivas com antecedências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARUSO, Carlos A. A., STEFFEN, Flavio Deny. Segurança em Informática e de Informações. São Paulo. Senac/SP, 1999. METASPLOIT: consultas e serviços. 2011. Disponível em: <http://www. mestasploit.com>. Acesso em: 29 set. 2011 PEIXOTO, Mário C. P. Engenharia Social e Segurança da Informação na Gestão Corporativa. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. SILVA, Pedro Tavares; CARVALHO, Hugo; TORRES, Catarina Botelho. Segurança dos Sistemas de Informação: Gestão Estratégica da Segurança Empresarial. Portugal. Centro Atlântico, 2003.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Coordenador e Professor do Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva 2 Graduando em Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva 3 http://www.metasploit.com 4 O projeto de HD Moore (chefe de arquitetura e segurança da Rapid7) consistia em trazer para o campo computacional uma ferramenta eficaz para auxiliar os desenvolvedores e chefes de segurança efetuarem teste em seus software de maneira rápidas e com boas práticas. PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 171
PERÍCIA FORENSE COMPUTACIONAL: Análise de Malware em Forense computacional utilizando de sistema operacional GNU/Linux Alex Sander de Oliveira Toledo1 Robert de Souza2
RESUMO: O presente trabalho apresenta as boas práticas na coleta, restauração, identificação, preservação, documentação, análise dos dados periciais, apresentação de vestígios, evidências, provas digitais e interpretação aplicadas aos componentes físicos ou dados processados e/ou armazenados nas mídias computacionais, garantindo assim o valor jurídico das provas eletrônicas. PALAVRAS-CHAVE: Perícia forense computacional, Malware, Linux.
1 INTRODUÇÃO
“[...] Não há padrões internacionais para o tratamen-
Segundo Melo (2009), a informação é hoje um dos ativos
to de dados periciais, embora existam documentos
mais importantes das corporações, sendo de suma importân-
de boas práticas dedicados a classificar respostas a
cia que sua integridade seja mantida. Em um passado não
incidentes de segurança e um capítulo da ISO NBR
muito distante um servidor mal configurado representava ris-
IEC17799:2005 que endereça o assunto [ABNT].”
cos, mas estes eram confinados dentro dos limites da LAN da corporação.
É importante empregar boas práticas na coleta, restaura-
Com o advento da Internet estas fronteiras foram elimina-
ção, identificação, preservação, documentação, análise dos
das, facilitando muito a ocorrência de crimes eletrônicos, onde
dados periciais, apresentação de vestígios, evidências, provas
o criminoso e a vítima podem encontrar-se em localidades ge-
digitais e interpretação aplicadas aos componentes físicos ou
ográficas diferentes, até mesmo em países distintos. O cres-
dados processados e/ou armazenados nas mídias computa-
cimento do número de computadores interconectados (Inter-
cionais, garantindo assim o valor jurídico das provas eletrônicas
net) e o aumento de softwares com finalidades ilícitas de fácil
captadas no processo de perícia forense computacional.
utilização disponíveis na rede aumentaram significativamente o número de ataques.
Segundo Melo (2009), as principais fontes de dados periciais encontram-se nas estações de trabalho em ambiente
Ainda Segundo Melo (2009), por mais seguro que seja um
computacional distribuído, servidores, locais na internet, em lo-
Firewall ou um sistema de segurança, os sistemas operacionais
cal remoto na Internet, sistemas de informação, e equipamen-
estão sempre sujeitos a falhas ainda desconhecidas, por este
tos eletrônicos programáveis.
motivo sugere-se prudência ao afirmar que um sistema está imune a invasões ou invulneráveis.
Segundo Tanenbaum (2003), existe uma diferença notória entre Sistemas de Ambientes Computacional Distribuído e Sis-
As técnicas forenses são imprescindíveis para identificar
tema de Redes de Computadores, ou seja, não se pode con-
se um computador foi invadido, determinando de que forma
fundir uma unidade de controle (servidor) e vários dispositivos
foi alterado, estabelecendo critérios para preparar o ambiente
escravos com uma rede. Rede é uma visão conceitual aplicável
visando registrar os dados periciais, facilitar a identificação do
a um grande computador com terminais e/ou muitos micro-
invasor e amparar as medidas legais a serem tomadas para
computadores e impressoras conectados.
caso a resposta seja positiva, pois a invasão constitui crime eletrônico. O valor jurídico de provas eletrônicas manipuladas de forma incorreta, sem os padrões previstos e devidamente estabelecidos podem ser facilmente contestadas. Segundo Melo (2009, p. 1), não há padrões internacionais para o tratamento de dados periciais:
Um sistema computacional é considerado Distribuído quando a camada de rede não está implementada, ou seja, a interface de rede ativa pode-se comunicar diretamente com todos os demais computadores. Segundo Melo (2009), devido à evolução dos tipos de Malwares (softwares maliciosos) as soluções de seguranças devem sempre ser revistas, os fabricantes de Sistemas Operacionais e
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Softwares de Segurança sempre disponibilizam novas soluções. Caso um invasor utilize de técnicas clássicas, como armazenar, manter, e ou esconder ferramentas anti-forense durante sua ação em diretórios clássicos como /tmp, um perito pode facilmente localizar evidências atuando apenas com binários
para executar ações maliciosas em um computador. O Malware contém ameaças reais de vários tipos e propósitos.” (MELO, 2009, p.10). Segundo Brian, James e George (2003, p.194) a respeito dos Cavalos de Tróia:
compilados estaticamente, neste caso imagina-se que rootkits
“Os cavalos de troia são programas criados para contor-
baseados em técnicas arrojadas de LKM (Loadable Kernel Mo-
nar a segurança da sua máquina, mas disfarçados como
dule) não sejam utilizadas.
algo benigno. Assim como a criação grega, um cavalo de
Segundo Melo (2009, p. 67) em relação à técnicas mais arrojadas:
Tróia do computador não pode fazer nada sozinho, mas precisa contar com o usuário ajudando-o a cumprir seu
“Caso seja constatado o uso de técnicas mais arroja-
destino. Existe três usos principais da palavra troiano no
das, os dados levantados durante uma Live Análise são
linguajar moderno do computador:
facilmente contestadas. Somente durante a Post Mortem
Programa de cavalo de Tróia: um programa malicioso que
Análise, os resultados são realmente confiáveis, pois du-
se disfarça de uma coisa, mas contorna sua segurança em
rante a Live Analise possivelmente as chamadas ao sis-
segredo. Esse é o uso mais comum da palavra.
tema podem ser interceptadas.”
Código-fonte troiano: uma cópia do código-fonte do programa que foi modificada para conter alguma porta dos
Segundo Farmer e Venema (2007, p. 174-175), os passos para coleta de dados são:
fundos ou brecha na segurança. Binários troianos: Após uma invasão um atacante pode
“(...) O(s) computador(es) em questão deve(m) ser
substituir binários do sistema por versões que contêm pos-
colocado(s) off-line. Há alguns potenciais problemas
tar dos fundos ou que ocultam suas atividades.”
com isso, porque o sistema talvez espere estar on-line. Portanto, colocar a máquina off-line poderia destruir ves-
Segundo MELO (2009, p. 10), define-se Vírus:
tígios à medida que o sistema gera erros, repetidamente
“Programa que pode atuar como um binário indepen-
tenta novas conexões ou, em geral, altera seu estado.
dente ou alojar-se em um programa executável, tornan-
Alternativamente, você poderia tentar cortar a conexão
do-o um arquivo binário infectado. Em sua engenharia,
da máquina com o roteador e mantê-la em uma rede lo-
não é definido um vetor de transmissão automatizado.
cal, mas os serviços de DNS e serviços de rede e outros
Depende da execução do programa, do arquivo hospe-
sistemas na mesma área de rede ainda podem causar
deiro ou de um meio, como um cliente de correio, para
problemas.
que possa voltar a propagar e dar continuidade ao processo de infecção.”
À medida que você avança, é necessário monitorar tudo o que você digita ou faz. Em geral é uma situação do tipo “coletar
Segundo Melo (2009), o Worm é um tipo de Malware capaz
primeiro, analisar mais tarde”. Anote as configurações de har-
de se propagar automaticamente por meio de redes enviando
dware, software, sistemas e rede que estão definidas.”
copias de si mesmo para outros computadores, esta propaga-
O autor aponta estas considerações devido à divergência
ção está prevista em sua engenharia, e se dá por meio da explo-
de opiniões sobre o assunto, pois alguns peritos consideram o
ração de vulnerabilidades existentes ou falhas nas configurações
fato de desligar a máquina um grave erro, já que alguns invaso-
de softwares instalados nos computadores, criando um cenário
res podem utilizar de técnicas mais arrojadas e plantar bombas
em que não é necessário ser executado para se propagar, po-
para que caso a máquina seja retirada da rede ou desligada,
dendo propagar-se em qualquer tipo de sistema operacional.
executem comandos, e desta forma eliminem vários vestígios e destrua provas que seriam de grande valor no laudo pericial.
Ainda Segundo MELO (2009, p. 12) sobre Rootkits e Spywares: “Rootkit – Tipo de Malware muito arrojado, sua engenharia normalmente prevê a instalação de binários, mó-
2 IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS MALWARES
dulos, bibliotecas que disponibilizam os mais variados
“Malware pode ser definido como Malicious Software ou
recursos como: Backdoors, Cleanlogs, Keyloggers.
Software Malicioso, ou seja é um termo genérico que engloba
Usa técnicas para esconder processos e outras infor-
todos os tipos de programas especificamente desenvolvidos
mações inerentes ao mecanismo, o que dificulta sua
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identificação, além de sua instalação se dar de forma
lhor estruturarmos o processo de investigação e análise de
automatizada.
Malwares, o dividiremos em cinco fases: Preservação e análi-
Normalmente são instalados logo após o comprometi-
se de dados voláteis, Análise de memória, Análise de discos,
mento de um computador por um invasor.
Análise estática de Malware e Análise dinâmica de Malware.
Spyware – Uma categoria muito peculiar de Malware, que usufrui as capacidades dos browsers em execu-
3.1 PRESERVAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS VOLÁTEIS
tar aplicações. A maioria quase absoluta desse tipo
Segundo Farmer e Venema (2007), em uma análise post-
de Malware é escrita tendo como alvo sistemas Mi-
mortem, tem-se pouco tempo para coletar informações en-
crosoft.”
quanto a máquina comprometida permanece em execução, para uma coleta eficaz os autores utilizam a ferramenta grave-
Portanto estes Malwares colocam em risco os princípios básicos da segurança (integridade, disponibilidade e confia-
robber (ladrão de túmulos) do Coroner’s Toolkit, que é otimizada para este cenário.
bilidade) estas ameaças podem trazer diversos prejuízos às
A grave-robber captura informações voláteis sobre proces-
organizações, prejuízos não só financeiros, mas também de
sos e conexões de rede, atributos de arquivo como registros
perda parcial ou total de seus ativos da Tecnologia da Infor-
de data/hora de acesso, arquivos de configuração, log e outros
mação e Comunicação (TIC).
tipos de arquivos. O resultado é armazenando em um banco de dados que deve ser transferido para um sistema de análise.
3 DESCOBERTA DO MALWARE Quando é descoberto o Malware em um sistema, há muitas decisões e ações que devem ser tomadas. Para me-
Segundo MELO (2009, p. 36), quanto ao cuidado na execução das ferramentas de análise Live Forense: O conjunto de ferramentas selecionadas deve ser compilado estaticamente para compor o ferramental de Resposta de Incidente
Esta abordagem captura o estado volátil do processo, mas há desvantagens, se o kernel foi subvertido, as informações podem estar incompletas ou corrompidas.
ção para tratar combinações da RAM, espaço de troca, ROM, NVRAM e outros recursos de memória. O gerenciador de memória que executa no kernel, trata a alocação e desalocação da memória em um computador.
que deverá ser utado na Live Forense. A compilação da ferramenta
Segundo Melo (2009), a memória principal contém todo tipo
no modo estático a partir do código fonte gera um binário que não
de informação volátil, como informações de processos que es-
utiliza as bibliotecas dinâmicas do sistema. Adotando-se essa pre-
tejam em execução, dados que estão sendo manipulados e que,
caução o binário alojado em CDROM se torna imune a tentativas de
muitas vezes ainda não foram salvos em disco e informações no
inoculação de código por programas maliciosos.
sistema operacional.
3.2 ANÁLISE DE MEMÓRIA
RAM, destacando os arquivos /dev/kmem que têm as informa-
O autor ainda exemplifica a coleta de evidência da memória Segundo Farmer e Venema (2007), todos os sistemas operacionais modernos utilizam memória virtual como uma abstra-
ções de memória da área de kernel e /dev/mem, que é toda a memória da máquina:
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# /cdrom/dd if=/dev/mem | cdrom/nc <ip> <porta>
Esse método cria uma cópia idêntica bit a bit de cada
# /cdrom/dd if=/dev/kmem | cdrom/nc <ip> <porta>
sistema de arquivos, incluindo todas as meta-informa-
# /cdrom/dd if=/dev/rswap | cdrom/nc <ip> <porta>
ções e todas as informações que permanecem em um
# /cdrom/dd if=/dev/kcore | cdrom/nc <ip> <porta>
espaço não-alocado no fim dos arquivos, entre os arquivos, nos blocos de inode não-alocados e assim por
No exemplo acima o “#” informa que o usuário logado é o
diante. Isso em geral é feito com o comando dd.
root (super usuário do sistema), o “/cdrom” o diretório onde o
Um benefício importa dessa abordagem é que ela é
ferramental de resposta a incidente foi instalado para a utilização
neutra em relação ao sistema de arquivos. Por exemplo,
em “Live Forense”, o comando “dd if=/dev/mem | /cdrom/nc
a mesma técnica pode ser utilizada para copiar tanto
<ip> <porta> transfere uma imagem do conteúdo da memória
partições UNIX quanto partições Windows. A desvanta-
RAM, área de kernel, e swap para a máquina do perito através
gem é que os dados armazenados entre e fora das par-
do ip e da porta estipulada nos comandos citados.
tições não são analisados. Os fragmentos de comando a seguir lêem a primeira partição UNIX no primeiro disco. Linux
3.3 ANÁLISE DE DISCO Segundo Farmer e Venema (2007), há diversas maneiras de se duplicar as informações sobre o sistema de arquivos. Qual método
#dd if=/dev/hda1 bs=100k . . .
Freebsd #dd if=/dev/da0s1a bs=100k . . . Solaris
#dd if=/dev/dsk/c0t0d0s0 bs=100k . . .
estará disponível dependerá da situação, os dois autores já capturaram informações efetuando o login em uma máquina comprome-
3.4.3 COPIAR DISCO INTEIRO
tida, listando os arquivos para o terminal e registrando essa sessão
Segundo Farmer e Venema (2007), o resultado é uma cópia
com um programa emulador de terminal. Veremos a seguir alguns
idêntica bit a bit de todas as informações acessíveis no disco, in-
métodos para capturar estas informações.
cluindo o espaço de armazenamento antes e depois das partições de disco. Isso pode ser necessário quando há suspeitas de que os dados poderiam permanecer ocultos fora das partições de disco.
3.4 CÓPIA DE ARQUIVOS INDIVIDUAIS Segundo Farmer e Venema (2007), essa é a abordagem
Mais uma vez o “dd” é o comando ideal para realizar esta cópia.
menos precisa, porque só captura o conteúdo dos arquivos. Ne-
Este método possui limitações, ele não lerá os blocos de
nhuma meta-informação é capturada, exceto talvez o tamanho
disco que contém erros e que o hardware silenciosamente rema-
do arquivo. Todas as demais meta-informações são perdidas,
peou para os chamados blocos sobressalentes. Esse método
como posse do arquivo, datas/horas de acesso, permissões etc.
também não fornecerá acesso aos blocos sobressalentes não
Estas informações só não são perdidas quando salvas
utilizados, porque eles residem fora da área normalmente aces-
usando outro meio. Por exemplo, o utilitário grave-robber do
sível ao disco. Os fragmentos de comando a seguir lêem todos
Coroner’s Toolkit que copia os arquivos selecionados (como
os blocos acessíveis no primeiro disco:
arquivos de configuração e registros em log) depois de salvar
Linux
#dd if=/dev/hda bs=100k . . .
suas meta-informações em um arquivo chamado body.
Freebsd
#dd if=/dev/da0 bs=100k . . .
Solaris
#dd if=/dev/c0t0d0s2 bs=100k . . .
Ainda segundo Farmer e Venema (2007), a exatidão das in-
3.4.1BACKUP Ainda segundo Farmer e Venema (2007), dependendo do
formações capturadas aumenta na medida em que dependemos
software de backup utilizado, esse método preserva algumas
menos da integridade do sistema comprometido. Por exemplo,
meta-informações como posse, informações sobre links físicos
quando arquivos individuais são capturados enquanto ainda estão
e a última data/hora da modificação, mas não captura a data/
conectados à máquina da vítima, o aplicativo subvertido ou o sof-
hora do último acesso de leitura. Utilitários UNIX comumente
tware de kernel subvertido pode distorcer esse resultado. A subver-
utilizados são tar, cpio e dump. A desvantagem de fazer um ba-
são é muito menos provável quando utilizamos um procedimento
ckup é que o que você vê é tudo o que você obtém. Backups
de baixo nível de geração de imagens de disco, com a unidade de
não capturam as informações de arquivos excluídos
disco conectada a uma máquina confiável.
3.4.2 CÓPIA DE PARTIÇÕES DE DISCOS INDIVIDUAIS
3.5 ANÁLISE ESTÁTICA DE MALWARE
Segundo Farmer e Venema (2007, p. 55), a respeito da cópia de partições:
Segundo Farmer e Venema (2007, p. 120), sobre as técnicas de análise estática:
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“[...] Desassemblagem de programa (converter um ar-
A primeira etapa consiste na coleta de evidências antes
quivo de programa em uma listagem de intrusões de
do desligamento do sistema da fonte elétrica, que tem
linguagem de máquina), descompilação de programa
por objetivo registrar o estado do sistema, e a segunda
(converter instruções de linguagem de máquina no códi-
etapa, após o desligamento.
go-fonte equivalente da linguagem de nível mais alto) e
A segunda etapa, pelo termo oriundo do inglês, Network
análise estática (examinar um programa sem realmente
Forensic, que consiste na coleta de análise de informa-
executá-lo)”
ções de atividade de rede, tanto do servidor em questão, como dos demais ativos de redes que tenham infor-
A desassemblagem de programa é um recurso padrão de
mações pertinentes.
todo programa depurador importante, entretanto ferramentas
E por último, a etapa em que todas as informações reu-
que descompilam programas em linguagem de alto nível como
nidas nas etapas anteriores são cruzadas com informa-
C só existem para ambientes limitados. A ameaça da engenharia
ções identificadas na análise das imagens de mídias
reversa também apresenta um problema para programadores
coletadas. Essa última fase é tecnicamente conhecida
de aplicativos Java.
como Post Mortem Analysis.
A preocupação com o furto de propriedade intelectual talvez
Tanto na Live Analysis, na Network Forensic como na
tenha muito a ver com essa disponibilidade limitada de descom-
Post Mortem Analysis, o objetivo é a coleta do máximo de
piladores.
evidências digitais. O termo Dado pericial digital (pode ser um vestígio, evidência ou mesmo se consolidar em
3.6 ANÁLISE DINÂMICA DE MALWARE Segundo Farmer e Venema (2007, p. 104), sobre os perigos da análise dinâmica: “Uma maneira de descobri o propósito de um programa
prova durante uma perícia) refere-se a toda e qualquer informação digital capaz de demonstrar que ocorreu um incidente de segurança ou mesmo um crime, dentro do contexto da Perícia Computacional.
desconhecido é simplesmente executá-lo e ver o que acontece. Há vários problemas potenciais com essa abor-
Segundo Farmer e Venema (2007), a sabedoria tradicional da
dagem. O programa poderia executar de uma maneira
computação forense, conta com métodos muito conservadores, ra-
confusa e destruir todas as informações na máquina [..]”
ramente nada além de desligar um computador e fazer uma cópia de disco. Caso seja necessário assegurar que os dados coletados
“Em vez de executar um programa desconhecido em uma
sejam otimizados para poderem ser aceitos em um tribunal e só
ambiente onde eles podem causar danos, é mais seguro exe-
conseguir capturar parte deles, então uma metodologia mais cau-
cutar esse programa em uma caixa de areia. O termo caixa de
telosa pode ser a melhor opção em alguns casos.
areia (sandbox) foi emprestado da balística, na qual as pessoas testam armas atirando em uma caixa de areia de modo que as
Ainda segundo Farmer e Venema (2007, p. 172), sobre as técnicas conservadoras:
balas não possam causar nenhum dano. Uma caixa de areia de
“Infelizmente, essas técnicas conservadoras não têm uma
software é um ambiente controlado para executar o software.”
grande quantidade de informações potencialmente úteis
Ainda segundo Farmer e Venema (2007), as caixas de
sobre a situação, como processos em execução e kernels,
areia podem ser implementadas de diversas maneiras, a
estado de rede, dados na RAM e muito mais. Somente um
abordagem mais simples é o de cordeiro sacrificial, uma má-
entendimento limitado pode surgir do exame de um disco
quina real, mas descartável, com acesso limitado à rede ou
morto. E, embora informações dinâmicas talvez sejam um
simplesmente sem acesso à rede.
pouco mais voláteis e, portanto suspeitas, quaisquer condenações com base em uma única série de leituras dos
4 COLETA DO MALWERE
dados também são suspeitas.[...]”
Segundo Melo (2009), um perito forense, ao iniciar uma perícia no sistema que teve uma segurança violada, busca evidências que
5 ANÁLISE DO ARQUIVO
caracterizem e possibilitem identificar como e o quanto a violação
Segundo Farmer e Venema (2007), pequenos programas
afetou as informações e o próprio Sistema Operacional. Ainda segundo MELO (2009, p. 33), a coleta de evidências pode ser dividida, de forma macro, em três etapas:
podem gerar muitos problemas, como observado abaixo, o código de um programa de backdoor recuperado após um ataque: scanf (“%s”, buffer);
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if (strcmp(password, buffer)==0){
6 Laboratório
puts(“.”);
Um cenário de análise de servidor foi montado para exem-
setuid(0);
plificar a perícia forense computacional na busca por Malwares
setgid(0);
em servidores Linux, a ferramenta utilizada para a perícia é o
execl(“/bin/sh”,“sh”,(char *)0);
Sistema Operacional Back Track.
}
Conforme os autores mencionados neste trabalho, parto do
return (0);
princípio que todas as atividades para manter o sistema integro e com o mínimo possível de perda de dados voláteis tenham
Com exceção da chamada de função de comparação de
sido realizadas como: a decisão de remover o cabo de rede ou
string strcmp(), nenhuma chamada de função é testada quanto
não do servidor que sofreu a intrusão, se houve alguma interven-
a retornos de erro. Se uma operação falhar o programa simples-
ção por parte de outro profissional após a identificação do pro-
mente prossegue. Erro de leitura de entrada a partir de scanf(),
blema e se este realizou alguma atividade e quais, que a cópia
caso todas as operações falhem o programa termina silencio-
dos dados da memória tenham sido realizadas em local seguro
samente.
e fora da máquina periciada, que uma imagem bit a bit do disco tenha sido efetuada.
O chkrootkit é um detector de presença de de rootkits em
rootkits na máquina e atualmente é capaz de identificas mais de
sistemas baseados em Unix. O software utiliza cerca de nove ti-
60 tipos de ameaças diferentes como rootkits, worms, trojans,
pos de análise para detectar traços de atividade ou presença de
dentre outros.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 177
Iniciando o chkrootkit o sistema informa os parâmetros que podem ser utilizados na detecção de Malwares.
Executando o chkrootkit ele checa o sistema em busca de Malwares e já exibe o resultado na tela informando se o arquivo
Neste ponto fazemos uma varredura em busca de Malwares alojados na máquina.
Com esta atividade conseguimos identificar a presença ou não do Malware no sistema operacional.
está ou não infectado.
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O rkhunter é outra ferramenta de grande importância na detecção de rootkits no sistema, este avisa caso haja arquivos suspeitos no sistema.
Um dos parâmetros do rkhunter é o “--update”, que atualiza sua base de dados de Malwares. Sua execução se da através do comando “rkhunter --check”.
Os arquivos que contiverem a cor verde – not found e ok – estão normais. Já aqueles que forem marcados como “Warning” estão comprometidos e serão exibidos na cor vermelha, sendo assim deve-se proceder a remoção do rootkit. Antes de executar a remoção o Malware deve ser isolado em um dispositivo de armazenamento que seja externo ao disco da máquina comprometida, onde não possa mais gerar danos e possibilite uma análise posterior, talvez até mesmo sua execução em ambiente fechado e preparado para tal.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 179
O Malware deve ser removido do sistema operacional e a vulnerabilidade que permitiu sua inserção deve ser tratada, para que esta falha não seja explorada novamente por um atacante.
O relatório final da execução e da análise do Malware fica registrada em /var/log/rkhunter.log. O Malware encontrado é um Backdoor que permite um
.echo “Iniciando via NETCAT da Backdoor”; .passthru (“nc –l –p 65321 –e /Bin/sh”); .echo “Backdoor Instalada!!!>;-)”;
acesso do atacante à máquina comprometida de forma rápida
.echo “Passaporte para sistema disponível!!! >;-)”;
sem a necessidade de realizar todos os passos para sua intru-
?>
são, este código mantém uma porta de comunicação aberta entre o atacante e a máquina comprometida.
7 CONCLUSÃO
Abaixo um trecho do código da Backdoor utilizada para o
A perícia forense computacional é um instrumento im-
acesso do atacante à máquina através de uma falha de segu-
prescindível para identificar se um sistema computacional foi
rança do PHP:
invadido, e de que forma foi alterado, estabelecendo critérios
<?php
para preparar o ambiente visando registrar os dados periciais,
.passthru(“date”);
facilitar a identificação do invasor e amparar as medidas legais
180 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
a serem tomadas diante da intrusão. O valor jurídico de provas eletrônicas manipuladas de forma incorreta, sem os padrões previstos e devidamente estabelecidos pode ser facilmente contestado, e toda atividade do perito deve ser acompanhada por um ou mais profissionais da TIC da empresa que o contratou para a perícia, isso para assegurar a integridade não só da coleta dos dados, mas também para resguardar o perito, evitando assim que de perito torne-se réu. Enfim, a utilização de ferramentas que auxiliam e dão suporte à investigação é de suma importância, pois estas conseguem garimpar informações de forma eficaz e ágil, primando pela integridade e minimizando os riscos da perda de dados voláteis. A partir deste trabalho discutimos e demonstramos as técnicas e procedimentos da perícia forense computacional que auxiliam na análise de sistemas computacionais comprometidos, apontando as melhores práticas na atualidade e metodologias a serem aplicadas na descoberta, coleta e análise de Malwares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FARMER, Dan; VENEMA, Wietse. Perícia Forense Computacional: Teoria e prática aplicada. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MELO, Sandro. Computação Forense com Software Livre: Conceitos, técnicas, ferramentas e estudos de casos. 1. ed. Rio de Janeiro: Alta Books. 2009. TANENBAUM, Andrew S. Redes de Computadores. 4. ed. Campus (Elsevier), 2003. HATCH, Brian; B. LEE, James; KURTZ, George. Segurança contra Hackers Linux. 2. ed. São Paulo: Futura, 2003. FILHO, João Eriberto Mota. Forense computacional utilizando ferramentas GNU/Linux. Brasília: Serpro, 10 de Novembro de 2009. Palestra ministrada no CISL – Comitê Técnico de Implantação de Software livre, 10/11/2011. Forense computacional utilizando ferramentas GNU/ LINUX. Disponível em: http://streaming.serpro.gov.br/cisl/forense.html.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Coordenador e Professor do Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva 2 Graduando em Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro Universitário Newton Paiva
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Um novo conceito de Ensino Religioso: para uma formação integral do educando Bruno Luciano de Paiva Silva1
RESUMO: O artigo propõe a superação da concepção tradicional do Ensino Religioso por uma nova concepção. Por isso, dividimos o artigo em duas partes: 1) Apresentaremos a concepção tradicional do Ensino religioso e suas possíveis limitações; 2) Em seguida, propomos uma nova concepção de Ensino Religioso que visa à formação integral do educando. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Religioso; Religiosidade; Ética; Cidadania.
INTRODUÇÃO
nos alunos, os valores predominantes da sociedade. Assim, o
A LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
Ensino Religioso era, antes de tudo, reacionário. O Ensino Reli-
nal) nº 9.394 traz o artigo 33 que assegura ao educando um
gioso, nesse período, justifica o poder estabelecido.
Ensino Religioso que respeita a sua diversidade cultural-religio-
O método de doutrina empregado revela o caráter im-
sa e, com efeito, um ensino sem proselitismo. Assim, cria-se
posto e disciplinador de toda a catequese, que visa a
um contexto próprio para construirmos e apresentarmos um
submissão, à conquista e à adesão dos respectivos
novo conceito de Ensino Religioso. O objetivo consiste, por-
grupos à fé católica. Os valores e expressões religiosas
tanto, em superar o conceito tradicional de Ensino Religioso
da cultura dos nativos e dos negros são considerados,
que, ao confundir-se com a catequese, propõe uma formação
muitas vezes, como empecilhos à propagação da ver-
parcial do educando. Desse modo, o artigo está dividido em
dadeira fé. (Figueiredo, 1995, p. 22-23)
dois momentos: a) no primeiro, apresentaremos a história, as características, as práticas pedagógicas e o modelo didático
A segunda fase, que vai de 1800 a 1964, é composta, se-
do Ensino Religioso tradicional; b) no segundo momento, mos-
gundo Figueiredo: da monarquia constitucional (1823 a 1889),
traremos a superação desse paradigma através de uma nova
da implantação do regime republicano (1890 a 1930), do perío-
ideia de Ensino Religioso que contém as dimensões religiosa,
do de transição (1930 a 1937), do Estado Novo (1937 a 1945) e
ética e política. Veremos que a nova ideia conduz a um novo
do terceiro período republicano (1946 a 1964).
paradigma didático. E, por último, mostraremos qual é o lugar do Ensino Religioso na LDB.
Na monarquia constitucional (1823 a 1889), o Ensino Religioso é reduzido ao ensino de religião oficial do império, ou seja, a religião Católica Apostólica Romana. Nesse período,
2. DO CONCEITO TRADICIONAL AO NOVO CONCEITO
como aponta Figueiredo, o Ensino Religioso é submetido ao
DE ENSINO RELIGIOSO: UMA MUDANÇA DE PARADIGMA.
sistema de protecionismo da Metrópole. O período de implantação do regime republicano (1891 a
2.1 O CONCEITO TRADICIONAL DE ENSINO RELIGIOSO: UM PARADIG-
1930) é um dos mais difíceis para o Ensino Religioso, pois a
MA A SUPERAR.
religião foi, para os republicanos, um dos principais obstáculos
O Ensino Religioso foi, frequentemente, confundido em
para a implementação do novo regime. Por isso, a constituição
toda a história da educação brasileira com catequese, ou seja,
republicana traz o dispositivo: “será leigo o ensino ministrado
como doutrina da fé do educando. Apresentaremos, assim, um
nos estabelecimentos oficiais de ensino”. No entanto, o Ensino
breve panorama histórico do Ensino Religioso no Brasil que,
Religioso permaneceu nos estabelecimentos escolares “mes-
por um lado, ajudará a entender o motivo da confusão sobre a
mo perante proclamada laicidade do ensino nos estabeleci-
natureza do Ensino Religioso e, por outro lado, ajudará a enten-
mentos oficiais, o Ensino Religioso esteve presente pelo zelo
der a dificuldade atual de mudarmos de paradigma.
de fidelidade dos princípios estabelecidos sob a orientação da
Na primeira fase, entre 1500 a 1800, o objetivo do Ensino Religioso, segundo Anísia Figueiredo (1995), era de introduzir,
Igreja Católica”. (Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, 2004, P14)
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O Ensino Religioso é admitido, no período de transição entre (1930ª 1937), em caráter facultativo. A resistência ao Ensi-
linguagem utilizada pela comunidade eclesial. A linguagem reflete também símbolos da fé, isto é,
no Religioso se deve pelos teóricos da Escola Nova que eram
“a linguagem da comunidade eclesial reflete as razões de
contrários a implementação do Ensino Religioso nas escolas
ser de um grupo religioso, mantido com características próprias,
brasileiras. Esta resistência consiste no fato do ensino ser laico.
orientado pelas mesmas concepções religiosas.” (Figueiredo,
No Estado Novo (1937 a 1945) o Ensino Religioso perde o seu
1994, P.111).
caráter de obrigatoriedade. O terceiro período republicano (1946
As principais fontes encontram-se nas Sagradas Escrituras.
a 1964) é uma tentativa frustrada de introduzir e garantir o Ensino
Assim, o Ensino Religioso utiliza, por exemplo, em suas aulas,
Religioso na Escola. O Ensino Religioso é entendido como dever
orações e / ou textos bíblicos. A prática metodológica do Ensino
do Estado para com a liberdade do aluno.
Religioso é compartimentalizada, fragmentada, do corpo da Es-
A terceira fase é de 1954 a 1964. De 1964 a 1984 o Ensino
cola. Não é realizada de maneira interdisciplinar e nem é levado
Religioso passa a ser, no contexto do autoritarismo, obrigatório
em consideração o contexto em que o aluno se encontra inserido.
nas escolas. Mas, no ato da matrícula, cabe ao aluno o direito de optar pela frequência ou não.
O conjunto das características apontadas forma a identidade do Ensino Religioso tradicional. Esta identidade foi construída, ao
Por ser fruto de uma outorga, o dispositivo constitucio-
longo da história, sob o signo de violência e do fortalecimento
nal garante o Ensino Religioso no sistema escolar. Na
do “status quo”. Foi formado sob o signo de violência por que
prática, porém, continua a receber um tratamento que
não respeitou a adversidade cultural religiosa. Sempre impôs uma
o discrimina e dá origem a muitos desafios de natureza
determinada religião ou credo. Portanto, o Ensino Religioso co-
pedagógica e administrativa. Ainda que nesse período
meteu, frequentemente, violência simbólica contra o educando.
tenha sido iniciada a busca da sua identidade, não há
Além disso, a identidade foi construída também sob signo do for-
clareza quanto ao seu papel específico no ambiente es-
talecimento do “status quo”. O Ensino Religioso foi utilizado como
colar. Há, contudo, um grande esforço de prática peda-
instrumento ideológico da igreja e do Estado. Sempre justificou o
gógica em relação a esse conteúdo na escola. (Figuei-
poder estabelecido. Assim, o conceito tradicional do Ensino Reli-
redo, 1995, P12)
gioso teve sua identidade sob o signo de violência contra o educando e sob o signo do fortalecimento do “status quo”.
Os últimos anos (1986 a 1996) são marcados pela busca
As práticas pedagógicas do Ensino Religioso tradicional
de identidade, do espaço e da redefinição do papel do Ensino
não apresentam, segundo Madalena Fernandes (2000), cinco
Religioso na escola.
atitudes básicas do educador de Ensino Religioso: 1) atitude de
O breve panorama histórico do Ensino Religioso no Brasil, de 1500 a 1996 (data da publicação da LDB), mostra que o Ensino
missão; 2) atitude de busca e de presença; 3) atitude de diálogo; 4) atitude de compreensão e 5) atitude de encontro.
Religioso foi e continua sendo, frequentemente, confundido com
Toda comunidade em que o educador se encontra inserido
a catequese. Esse é um dos obstáculos que impede a mudança
atribui, a ele, a missão de formar educandos críticos e capazes
de paradigma. Apresentamos, a seguir, algumas das principais
de atuar de modo ativo na comunidade. Esta atitude de missão
características do conceito tradicional de Ensino Religioso.
não faz parte das práticas pedagógicas do professor de Ensino
O Ensino Religioso no decorrer da história assume algumas
Religioso tradicional, pois ele não leva em consideração o con-
características. O conjunto destas características constitui a
texto em que ele e a escola estão inseridos. Os professores que
identidade do conceito tradicional de Ensino Religioso. Desta-
orientam seu trabalho através do conceito tradicional de Ensino
caremos: a) finalidade; b) a quem se destina; c) aspectos de lin-
Religioso, não se abrem para o novo. Por isso, falta a eles a
guagem; d) algumas fontes; e) e pressupostos metodológicos.
atitude de busca e de presença: “abrir-se ao novo, porém, não
O Ensino Religioso como catequese tem a finalidade de
significa ministrar um Ensino Religioso superficial. Ao contrário,
promover a maturidade do educando na fé. Abre espaço para
é dar-lhe um suporte antropológico de maior profundidade...”
que o educando se aproxima de Deus. Portanto, a finalidade é
(Fernandes, 2000, P.41).
proporcionar uma formação cristã. Para quem é destinado esse
Outra atitude que falta ao professor de Ensino Religioso
Ensino Religioso? É destinado para crianças, jovens e adultos
tradicional é a atitude do diálogo. Diálogo não apenas com
que devem educar a sua fé. Devem explicar sua religiosidade e
os alunos, mas também com a realidade cultural e social que
o Ensino Religioso deve encontrar meios para isso.
os circundam. O Ensino Religioso com proselitismo não abre
A linguagem do Ensino Religioso como catequese reflete a
para a diversidade cultural e religiosa do aluno. Falta diálogo
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 183
nas práticas pedagógica do Ensino Religioso tradicional. A falta
cional é o aspecto
de presença e de diálogo desfavorece uma atitude de mútua
pedagógico. Segundo Viesser, no contexto de uma peda-
compreensão. O professor não compreende as possibilidades,
gogia compartimentalizada, fragmentada, a didática do Ensino
recursos e limitações dos alunos. Não compreende o contexto
Religioso também se reduzirá a um aglomerado de técnicas para
em que o jovem está inserido. Não existe nas práticas pedagó-
a sua prática. O epistemológico é outro determinante, apontado
gicas do Ensino Religioso encontro, mas desencontros com os
por Viesser, na didática do Ensino Religioso Tradicional, que se
educandos. Falta um esforço e um compromisso de conviver
encontra fundamentado na ideia da Ciência Moderna, ou seja,
entre si. Esta distância entre o professor e o aluno se tornou um
de uma Ciência fragmentada.
obstáculo para o verdadeiro encontro.
A escola com a finalidade de ensinar, pedagogicamente
O Ensino Religioso tem sido lecionado nas escolas sem uti-
fragmentada ainda mais o conhecimento dito científico
lidade de missão, de abertura ao novo, de diálogo, de compre-
e o resultado do ensino fica reduzido a conclusões, so-
ensão e de encontro com o educando. Esse conceito tradicional
luções e conceitos fixos, onde o processo didático das
de Ensino Religioso e suas práticas pedagógicas direcionam
inter-relações é desconhecido. (Viesser, 1994, p 26)
para um determinado paradigma didático. Veremos, em seguida, qual é o paradigma didático do Ensino Religioso tradicional.
O último determinante da prática do Ensino Religioso Tradi-
No livro “Paradigma didático para o Ensino Religioso”, Li-
cional é o aspecto estrutural. A prática do Ensino Religioso está
zete Carmem Viesser, mostra que a prática pedagógica é resul-
presente em três instituições: Religião, Escola e o Estado. Muitas
tado de uma determinada concepção teórica. Assim, o Ensino
das vezes, essas estruturas podem limitar a prática do Ensino
Religioso tradicional (concepção teórica) irá orientar a sua prá-
Religioso. O Estado pode fazer, por exemplo, do Ensino Religio-
tica em sala de aula. Desse modo, veremos: (a) como que a
so um mero instrumento de dominação ideológica.
ideia tradicional de Ensino Religioso determina a sua didática e
Mas qual a consequência desse paradigma didático do
(b) apresentaremos os quatro elementos determinantes, identi-
Ensino Religioso Tradicional para a formação do educando? A
ficados por Viesser, na didática do Ensino Religioso tradicional.
consequência é uma formação parcial do educando, se volta
O Ensino Religioso Tradicional se preocupa com a evange-
apenas para a fé do aluno e esquece as outras dimensões do
lização do educando. Com isso, ele encontra-se “desvinculado
ser humano: estética, ética, política, etc. Portanto, o Ensino Reli-
da realidade, dos interesses e da vida de um aluno historica-
gioso Tradicional não permite uma formação integral do educan-
mente situado” (Viesser,1994, P.16). Esta concepção teórica
do. Por isso, é preciso mudar de paradigma. É preciso um novo
orientará a prática do Ensino Religioso para a formação de um
conceito de Ensino Religioso.
aluno ideal. Assim, a ênfase recai na memorização.
Passaremos, agora, para o segundo momento, onde apre-
Viesser (1994), aponta em seu livro, para quatro elementos
sentaremos um novo conceito de Ensino Religioso. O novo con-
determinantes na didática do Ensino Religioso: 1) o cultural; 2) o
ceito apresenta diversas dimensões, um novo paradigma didáti-
pedagógico; 3) o epistemológico e 4) o estrutural.
co e um lugar na LDB / 96.
O elemento cultural, segundo Viesser, é herança da Era Moderna. Trata-se de uma cultura fragmentada. A consequên-
2.2 UM NOVO CONCEITO DE ENSINO RELIGIOSO: POR UMA FORMA-
cia disso é a supervalorização da Ciência como única forma de
ÇÃO INTEGRAL DO EDUCANDO.
conhecimento. Este determinante irá direcionar as práticas do Ensino Religioso Tradicional.
Vimos, no primeiro momento, a necessidade de superarmos o paradigma do Ensino Religioso Tradicional. É preciso cons-
Essa cultura fragmentada e mecanicista, que superva-
truir um novo conceito de Ensino Religioso que vise a formação
loriza o científico e sustenta o antropocentrismo, negli-
integral do educando. Por isso, apresentaremos, nesta parte,
gência a vida em relação, o fracionamento das diversas
os novos objetivos e características do Ensino Religioso. O que
ciências e influencia em todos os aspectos da vida. Isso
permitirá, consequentemente, construir uma identidade livre da
tudo é evidenciado na escola pela compartimentaliza-
violência e da manutenção do “status quo”. Por fim, indicaremos
ção estanque dos níveis e áreas de ensino, pela frag-
o novo papel do educador do Ensino Religioso. Em seu livro
mentação do conhecimento, pela estrutura, pelas rela-
“Ensino Religioso: Perspectiva Pedagógica”, Anísia Figueiredo
ções do poder. (Viesser, 1994, p .22).
aponta para o novo papel do Ensino Religioso nas escolas. a)Atuar como instância articuladora dos meios que pro-
Outro determinante da didática do Ensino Religioso Tradi-
porcionam às gerações do presente e do futuro as ra-
182 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
zões de ser e estar no mundo.
das possibilidades e limites dos jovens. Assumindo estas ati-
b)Fortalecer as predisposições naturais de cada ser hu-
tudes, o educador estará indo de encontro, não apenas com o
mano em perceber a vida como um dom gratuito e o
aluno, mas, com o sentido radical da vida.
mundo como um todo, onde pensa, sente, decide e age como alguém chamado e a realizar ai um projeto exis-
Passaremos, agora a apresentar algumas dimensões do Ensino Religioso que correspondem às dimensões do ser humano.
tencial. (Figueiredo, 1994, p. 114) 2.2.1 A DIMENSÃO RELIGIOSA DO ENSINO RELIGIOSO: Portanto, é objetivo do Ensino Religioso a for-
UMA ABERTURA À RELIGIOSIDADE
mação integral do educando. A formação integral, passa pelas
O objetivo do Ensino Religioso foi, durante muito tempo,
dimensões: da religiosidade, ética e política. Assim, podemos
a religião. Para Gruen(2004), existe equívoco conceitual entre
perceber novas características acerca de finalidade, a quem se
religiosidade, religião e fé. Apresentaremos, agora, a distinção
destina, linguagem, fontes e pressupostos metodológico.
entre esses conceitos-chave.
A finalidade do novo Ensino Religioso não é mais evange-
Para Max Scheler (apud GRUEN, 2004), a religiosidade é
lizar o educando, mas de educar a sua religiosidade. Cabe o
um elemento comum presente em todas as religiões. No entan-
Ensino Religioso criar condições para que o educando supe-
to, segundo Paul Tillich (apud GRUEN, 2004), esse enfoque não
re seus limites, na ultrapassagem da realidade imanente para
leva em consideração as motivações das pessoas. Assim, para
a realidade transcendental. Assim o novo Ensino Religioso se
Gruen(2004), seguindo as intuições desses importantes teóri-
destina as crianças, jovens e adultos que integram a escola. A
cos, a religiosidade é uma abertura humana ao sentido radical
linguagem adequada não é mais a da comunidade eclesial, mas
da vida.
do ambiente escolar. O novo Ensino Religioso possui um voca-
... chamamos religiosidade a disponibilidade dinâmica
bulário próprio que não se confunde com a catequese. A fonte é
de pessoas ao sentido fundamental de sua existência,
constituída de acordo com o novo conteúdo do Ensino Religio-
encarando como compromisso. (...) A religiosidade não
so, ou seja, o ser humano na sua totalidade, as dimensões do
é uma atitude entre muitas: ele é a raiz do conjunto das
real (social, econômica, política, cultural, etc.) e o transcende. O
dimensões de vida da pessoa, na medida em que as
novo Ensino Religioso não é entendido como uma prática meto-
integra, a religiosidade da coerência a um “projeto de
dologia desvinculada do projeto escolar. Ela é integrada a outras
vida” (Gruen, 2004, p 113)
áreas do saber que visam um trabalho interdisciplinar. Esse é o novo pressuposto metodológico.
Com isso, a religiosidade possa a ser uma das dimensões
A partir dos novos objetivos e características do Ensino Re-
fundamentais do novo Ensino Religioso.
ligioso podemos perceber a construção de uma nova identida-
A institucionalização da experiência do sagrado ou da re-
de para o Ensino Religioso: agora sob o signo do dialogo e da
ligiosidade constitui a religião. Ela é constituída dentro de um
abertura para o novo. Uma abertura para o saber e diversidade
contexto social e histórico. Criam-se símbolos, rituais e cultos,
religiosa do educando e uma orientação para as mudanças so-
para padronizar a religiosidade. Para Gruen, religiosidade e fé
ciais. Essa é a nova identidade do Ensino Religioso que caberá,
podem caminhar juntas. Segundo ele, a fé ilumina o novo senti-
aos educadores, lutar e assegurar esta conquista.
do da base do ser humano, isto é, “religiosidade não é substitu-
Vimos que falta ao professor do Ensino Religioso tradicio-
ída pela fé: é por ela iluminada, explicitada.
nal cinco atitudes básicas, apontadas por Fernandes, atitude de
O grupo social que vive essa atitude constitui uma comuni-
missão, de abertura para o novo, de dialogo, de compreensão
dade de fé”. (Gruen, 1995, p.76). Portanto, cabe ao Ensino Re-
e de encontro. O educador do novo Ensino Religioso assume,
ligioso educar para a religiosidade, isto é, criar condições reais
em sua prática pedagógica, esses desafios. Assume a missão
para que o educando possa se abrir ao sentido radical de sua
de ajudar os educandos da comunidade onde está inserido à
existência.
ingressarem na sociedade e na cultura. Abre-se ao novo, e para as novidades que as novas gerações trazem. Entende a impor-
2.2.2 A DIMENSÃO ÉTICA DO NOVO ENSINO RELIGIOSO: ENSINANDO
tância de se abrir para um dialogo fecundo e responsável com
VALORES.
o educando. Abre-se também para um dialogo com a realidade
No livro “Ensino Religioso nas fronteiras da Ética”, Amauri
social e cultural circundante da escola. Assim, o educador do
C. Ferreira(2002) afirma que a educação moral é de suma im-
Ensino Religioso poderá adotar uma atitude de compreensão
portância para a formação do educando. Por isso, é necessário
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proporcionar uma formação ética a partir do aprendizado dos
Viesser, um novo paradigma didático. Um paradigma didático
costumes, da diferença, da convivência e de quatro princípios
que supera a fragmentação e a compartimentalização do ensino
(da justiça, da não- violência, da solidariedade e da responsabi-
e que esteja em sintonia com o novo contexto cultural e social.
lidade). Assim, o agir dos educandos passa a pressupor a ética.
Assim, a didática do novo Ensino Religioso exige: a) uma trans-
Os costumes, valores e normas são construídos historica-
formação cultural: nova cosmovisão; b) e uma transformação
mente. É desse modo que se constitui o ethos. Assim, “ethos,
educacional: novo paradigma. Predomina, na cosmovisão mo-
como costume, articula-se às escolhas que o sujeito faz ao lon-
derna, uma concepção fragmentada da Educação e, com efeito,
go da vida”. (Ferreira, 2002, P. 32). Entre as escolhas encontra-
do Ensino Religioso. O ensino é entendido como compartimen-
se a diferença. Pautar a sua ação pelo respeito à diferença é um
talizado em disciplinas o que não realiza um trabalho interdisci-
costume importante para a formação dos educadores. Dessa
plinar. Por isso, é preciso uma transformação cultural, ou seja,
maneira, eles estarão preparados para aprender dois dos mais
é preciso buscar uma nova cosmovisão: a holística. Segundo
importantes pilares da educação do século XX, apresentados
Viesser, nesta cosmovisão tudo se interliga, inter-relaciona e in-
pela Unesco, o viver juntos e com os outros.
terdepende, pois é uma concepção sistêmica de vida. Assim,
Por fim, cabe ao educador de Ensino Religioso fornecer
encontram-se nesse paradigma as possibilidades de soluções
quatro princípios para que o educando possa pautar sua ação:
criativas para os problemas específicos que a atual era acumu-
princípio da justiça, da não-violência, da solidariedade e da res-
lar.
ponsabilidade. Ao se inspirar no ideal de ser justo, que consiste no respeito pelo outro que se iguala enquanto espécie, ao res-
Desse modo, o Ensino Religioso deixa de entender o consumo como:
peitar a não-violência, as diferenças, ao ser solidário com o outro
... uma máquina composta de um profusão de objetivos
sem esperar dele reciprocidade e ser responsável não apenas
distintos e passa a ser assumido como um todo harmo-
com a alteridade, mas crêem todo planeta, o educando estará
nioso e indivisível, numa rede de relações dinâmicas
agindo eticamente.
entre as partes e o todo e das partes entre si, onde está incluído o Ser Humano, vocacionando, portanto, passa
2.2.3 A DIMENSÃO POLÍTICA DO NOVO ENSINO RELIGIOSO:
comunhão. (Viesser,1994,p.36)
CONSTRUINDO À CIDADANIA Em seu livro “Ensino Religioso e formação do ser político”,
Não basta apenas uma transformação cultural, é preciso
Tarcizo G. Filho (1998) mostra que o homem é um animal políti-
também uma transformação educacional. O novo paradigma
co. A política é uma das suas inúmeras dimensões. Cabe, por-
educacional, que é influenciado pelo cosmovisão holística, bus-
tanto, ao novo Ensino Religioso educar para a construção da
ca superar o ensino fragmentado. Com isso, a nova didática do
cidadania.
Ensino Religioso propõe um trabalho interdisciplinar entre o En-
Educar para a cidadania é mostrar que a dimensão política
sino Religioso e as demais disciplinas escolares.
do homem não se reduz ao voto ou a defesa dos próprios inte-
A nova concepção da didática do Ensino Religioso afasta
resses. Educar para a cidadania é educar para a participação
ou desmitifica três regras: de competência, de eficácia e de se-
política ativa do educando na sua comunidade. Uma participa-
gurança. A regra de competência esconde relações de poder.
ção política voltada para as mudanças sociais. Assim, o Ensino
Ela determina como o professor deve saber, pensar e agir ao
Religioso cria condições para o educando se tornar um agente
fornecer um “Kit religioso”.
histórico capaz de transformação social.
Um ideário que tende por finalidade a unidade de um
... sem consciência política nada seria possível. Essa ta-
local de uma rede de estabelecimento, de uma escola,
refa cabe à educação. Torna-se urgente educar para a
acaba por silenciar o poder da didática, da prática de
cidadania, para ser possível vislumbrar o bem comum e
sala de sula e reforça a hegemonia de um grupo que
o exercício da participação. Cabe à educação o descor-
constrói “um currículo”, autentico “Kit religioso”, como
tinar horizontes, tendo em vista o bem comum, processo
verdade já feita e determinada que se instala no senso
de longe duração, mas possível. ( Filho, 1998, p. 106)
comum. (Viesser, 1994, p. 54).
O novo Ensino Religioso conduz o educando a conscientizar
Afasta também a regra da eficácia que, segundo Viesser, é
de sua dimensão política e a participação ativa na sua comunidade.
marcada pela atitude iluminista, isto é, o transcendente é algo
O novo conceito de Ensino Religioso exige, segundo Lizete
“de fora” que é trazida por aqueles que conhecem o Sagrado.
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E, por último, afaste a regra de segurança, que assegura um
go 33, foi do deputado Nelson Marchezan e consistia em retirar
professor “provável” – que tem a segurança do emprego, do
a expressão “sem ônus para os cofres públicos”. O segundo
conceito, dos objetivos e metodologia – e não um educador
projeto (nº 2.997/97) do deputado Mauricio Requião pretendia
“possível” – que aceita o desafio e a contingência radical da ex-
uma alteração abrangente do que do deputado Marchezan. O
periência pedagógica para o Transcendente.
terceiro projeto (nº 3.43/97) foi da própria iniciativa do Poder
Assim, a nova didática do Ensino Religioso será marcada,
Executivo, que após consultarem vários setores da sociedade,
segundo Viesser, pela alegria. A alegria, que passa a ser o tom
acrescentou mais uma modalidade de Ensino Religioso: o ecu-
didático do Ensino Religioso, é entendida como uma satisfação
mênico. O que somava com mais duas já existentes: confessio-
no encontro, no dialogo, na compreensão e no amor ao edu-
nal e interconfissional.
cando. Alegria de um Ensino Religioso voltado para a formação integral do educando.
Segundo Lourdes Caron (1998), os três projetos não receberam, na comissão de Educação da Câmara, emendas dentro
O novo Ensino Religioso, que traz consigo um novo para-
dos prazos regimentais. Assim coube o relator, o deputado Pe.
digma didático, tem mostrado sua importância para a formação
Roque Zimerman, após muitos estudos e ouvir todos os setores
do educando e para a construção de uma escola humanista e
interessados, elaborar um substitutivo de lei, nº 2.757, de Nelson
crítica. Assim, resta encontrar, no último momento do artigo, o
Marchezan. Ele levou em conta as demais propostas dos outros
lugar do novo Ensino Religioso na LDB/96.
dois projetos. Com isso, no mesmo ano, em julho de 1997, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sanciona
2.2.4 O LUGAR DO ENSINO RELIGIOSO NA LDB/96:
a nova lei (nº 9.475) e publica-a no Diário Oficial com a seguinte
DEFININDO SUA NATUREZA
redação:
Apresentaremos, agora, o lugar que o Ensino Religioso ocu-
Artigo 33 – O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é
pou na Constituição de 1988 e qual o lugar que ele passou a
parte integrante da formação básica do cidadão e cons-
ocupar na Constituição de 1996 e, posteriormente, o substitutivo
titui disciplina aos horários normais, das escolas públi-
para o artigo 33 da LDB/97.
cas de ensino fundamental, assegurando o respeito à
Em 1988, houve uma enorme mobilização popular para garantir o Ensino Religioso obrigatório. Alegaram que é um direito
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
do educando e um dever do Estado. Assim, a Constituição de 1988 assegurou o Ensino Religioso nas escolas.
Todo o debate em torno do Ensino Religioso serviu para ten-
... passou a constar o artigo 210, parágrafo 1º, da Cons-
tar definir uma natureza para ele. Portanto, a natureza do Ensino
tituição da República Federativa do Brasil. Nesta Cons-
Religioso, de acordo com o substitutivo do art. 33, é de um ensi-
tituição recebeu, então, seguinte redação: “O Ensino
no sem proselitismo. Além disso, é um ensino que proporciona
Religioso, de matricula facultativa, constituirá disciplina
uma formação integral do educando e, sobretudo, que respeita
dos horários normais das escolas públicas de ensino
a sua diversidade cultural religiosa.
fundamental. (Caron, 1998, p. 15). 3. CONCLUSÃO O esforço de regulamentar o Ensino Religioso nas escolas,
O primeiro momento do artigo apresentou a história, as ca-
no período entre 1988 a 1996, se viu ameaçado, na LDB/96, com
racterísticas e as práticas pedagógicas do conceito tradicional
um acréscimo da expressão: “sem ônus
de Ensino Religioso. O Ensino Religioso tradicional, que ao lon-
para os cofres públicos”. A partir disso, iniciar um intenso
go da história se confundiu com catequese, conduz a um para-
debate sobre este dispositivo e, com efeito, sobre a natureza e
digma didático fragmentado. No segundo momento, mostramos
prática do Ensino Religioso nas escolas.
a importância de superar esse paradigma a partir de um novo
Após a LDB/96, o Ensino Religioso teve seu lugar amea-
conceito de Ensino Religioso. O novo conceito propõe novas
çado no ensino brasileiro. Tornou-se urgente alguma ação. No
dimensões: religioso-antropológica, ética e política. Essa dimen-
primeiro semestre de 1997, foram apresentados, na Câmara dos
são do novo conceito de Ensino Religioso visa a formação inte-
Deputados em Brasília, três projetos de lei sobre o Ensino Re-
gral do educando e conduz, consequentemente, para um novo
ligioso que tinha o intuito de modificar a expressão “sem ônus
paradigma didático. E, por último, mostramos o lugar do Ensino
para os cofres públicos”.
Religioso na LDB.
O primeiro projeto de lei (nº 2.757/97), para alterar o arti-
O novo conceito de Ensino Religioso tem provocado algu-
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mas questões. Uma delas é sobre a aplicação prática de um novo conceito de Ensino Religioso nas escolas brasileiras. Sabemos que o novo conceito encontra, na maioria das escolas, muita resistência. Entretanto, percebemos, em casos isolados, uma mudança de mentalidade. Assim, o Ensino Religioso cumpre a sua principal tarefa no ensino: a formação integral do educando. Esperamos que o presente artigo possa contribuir para a construção de novas práticas do Ensino Religioso, que auxilie para a formação integral do educando e que abra uma perspectiva sempre aberta para o novo. Sempre aberta para a expansão de novos e desconhecidos horizontes do saber! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______________________ 1-Professor de Filosofia e de Sociologia do Centro Universitário Newton Paiva. Leciona também Ensino Religioso na Rede Municipal de Contagem. É graduado em Filosofia (PUC - MG), especialista em Filosofia (UFMG), em Ciências da Religião (ISTA) e é mestre em Filosofia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Contato: blphilos@ oi.com.br.
_________________________ O Ensino Religioso no Brasil: tendências, conquistas, perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1996. 151 p. (Col. ERE - série Fundamentos). __________________________ Ensino Religioso: Perspectivas Pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 1994. 126p. (Col, ERE. Série Fundamentos). FILHO, Tarcízio G. Ensino Religioso e a formação do ser político. Uma proposta para a consciência de cidadania, Petrópolis: Vozes, 1998, 125p. (Col. ERE - série fundamental). FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996. 165p.
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BELO HORIZONTE E OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS Marcella C. Amaral Scotti.1
RESUMO: A partir do momento em que um país se torna sede de um megaevento esportivo, as cidades se transformam no centro das atenções. Neste sentido, a intenção desse artigo é discorrer sobre alguns temas relacionados às cidades e aos megaeventos, além de fazer uma pesquisa em busca de bibliografias que já estejam discutindo a realização dos megaeventos em Belo Horizonte ou até mesmo em outras cidades. Diante das informações apresentadas é imprescindível realizar um estudo sobre a interface entre impactos, legados, políticas urbanas e o direito à cidade, considerando-se a Região Metropolitana de Belo Horizonte. PALAVRAS-CHAVES: Cidades, Megaeventos, Belo Horizonte.
1. INTRODUÇÃO
acontece porque para abrigar um megaevento a cidade preci-
A partir do momento em que um país se torna sede de
sa contar com equipamentos como centros de convenções e
um megaevento esportivo, seja uma copa do mundo de
meios de hospedagem, além de uma adequada infraestrutura
futebol ou jogos olímpicos, as cidades se transformam por um
de transporte que permita a mobilidade dos participantes do
determinado período de tempo no centro das atenções em
evento. Tem-se que a produção dos impactos está intimamente
escala mundial. Esses eventos causam um grande impacto na
ligada com a própria conformação do legado, constituindo-se
dinamização e reestruturação das cidades, se tornando assim,
na fase de todo o processo que vai além da temporalidade dos
um agente poderoso de planejamento e mudanças no espaço
jogos e se solidifica como permanência tangível e intangível no
urbano (MASCARENHAS, 2008).
território. (RAEDER, 2008)
Segundo Raeder (2008) o ano de 2007 foi marcante na his-
Rolnik2 aponta que esse é um momento particular na vida
tória do país relacionado aos esportes em função de três acon-
urbana do Brasil e explica que no processo de globalização
tecimentos – a realização dos Jogos Pan-americanos na cida-
que estamos vivendo, existe um componente perverso uma vez
de do Rio de Janeiro, a vitória da candidatura do Brasil como
que ao derrubar barreiras, abre-se o território do planeta para
sede da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e a apresenta-
que o capital financeiro avalie e decida aonde é melhor investir.
ção da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos de
Isto é, com o megaevento um investimento local toma uma es-
2016, sendo aceita posteriormente. Esta programação de even-
fera global. As cidades, para competir entre si com investimen-
tos torna imprescindível um estudo acerca do desenvolvimento
tos, passam a criar espaços internacionais que sejam atrativos.
urbano que ocorre em função desses eventos, bem como dos
Sendo assim, a agenda principal da política no Brasil é prepa-
impactos e legados resultantes.
rar a cidade para o negócio. Consequentemente, o direito à
Ainda de acordo com o autor citado acima, a realização dos
cidade está sendo violado e estão ocorrendo desapropriações
eventos vem sendo considerada uma das principais estratégias
sem o devido debate. A Copa passa a ser a oportunidade de
utilizadas pelas cidades em busca de atrair financiamentos e
realização de grandes obras, e esse é o aspecto perverso, pois
investimentos, o que acaba servindo para aquelas cidades que
o evento ganha legitimidade uma vez que o poder de quem
desejam se beneficiar e promover mudanças em termos urba-
decide se torna maior.
nísticos. Esses eventos podem ser das mais diversas naturezas,
Neste sentido, a intenção desse artigo é discorrer sobre al-
entretanto há um interesse especial nos eventos que geram uma
guns temas relacionados às cidades e aos megaeventos, tendo-se
repercussão internacional tendo-se em vista a grande divulgação
em vista a cidade de Belo Horizonte e região metropolitana, além
da imagem da cidade sede.
de fazer uma pesquisa em busca de bibliografias que já estejam
Os impactos que se dão em função do evento agregam problemas à urbanização dos municípios e podem gerar efei-
discutindo a realização dos megaeventos em Belo Horizonte ou até mesmo em outras cidades.
tos de natureza variada na vida social, tais como geração de emprego, de renda, de visibilidade para a cidade, de desapro-
2. AS CIDADES
priação de famílias, bem como de valorização de áreas. Isso
De acordo com Castells e Borja (1996) as cidades estão
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adquirindo cada vez mais um profundo protagonismo, seja no
diar os jogos olímpicos que causaria um impacto em seis áreas
aspecto político, econômico, social, cultural, assim como nos
urbanas.
meios de comunicação. Sendo assim, é possível denominar as
Essas teorias têm relação com o que Vainer (2003) acredi-
cidades como complexos atores sociais. Isso se torna mais cla-
ta que todo e qualquer projeto de cidade tem como base uma
ro uma vez que a cidade faz uma articulação entre as instituições
utopia, ou seja, um modelo ou ideal de cidade. De acordo com
públicas e a sociedade civil.
Vainer, a primeira e fundamental utopia urbana foi a utopia mé-
Observando o exemplo da América Latina, temos que os
dica ou higienista, que buscou a medicalização das cidades a
processos de democratização política e de descentralização do
fim de estabelecer uma ordem urbana na cidade da Revolução
Estado provocaram uma revalorização do papel das cidades e
Industrial, que apresentava muitos problemas. Posteriormente, a
dos governos locais, ao longo dos anos 80. Porém, de acordo
utopia sanitarista deu lugar à utopia modernista em que a cidade
com os autores “as limitações destes processos e os efeitos so-
é pensada como lugar da produção e da reprodução.
ciais das políticas de ajuste, acrescentadas às desigualdades
E por fim, a ditadura militar levou ao conceito técnico/tec-
e marginalidades herdadas, à debilidade da sustentação so-
nocrático do planejamento urbano. A utopia tecnocrática parte
ciocultural das cidades e aos graves déficits de infraestrutura e
do princípio de que os técnicos (planejadores) que possuem o
serviços públicos, atrasaram a emergência das cidades como
conhecimento e o saber especializado, têm a capacidade de
protagonistas, quadro que se alterou sobremaneira na década
elaborar diagnóstico e consequentemente propor soluções aos
de 90” (CASTELLS e BORJA, 1996, p.154).
problemas. A crise dessa utopia ocorreu simultaneamente ao
De um lado, a renovação da economia estimulou a execução
crescimento dos movimentos urbanos e ao fortalecimento de
de projetos urbanos em grande escala, além de dinamizar o setor
organizações populares. Porém, ao lado de cada luta específica
da construção civil; mas, por outro lado, alguns problemas de agra-
(por moradia, saneamento, transportes, entre outros) havia a luta
varam como o déficit da infraestrutura física e de comunicações, a
para democratizar a cidade, fazendo emergir a utopia da cidade
insuficiência de recursos públicos, incapacidade de atuação dos
democrática.
governos locais, fraca integração social e baixa cooperação entre as esferas públicas e privadas.
Juntamente a essa utopia e aproveitando o vazio deixado pela crise do modelo tecnocrático, surgiu um novo modelo, o
O crescimento da abertura econômica externa e o estabele-
da cidade-empresa ou cidade-mercadoria. A partir do final dos
cimento dos processos democráticos internos contribuíram tam-
anos 1980 e durante toda a década de 1990 ouviu-se falar que a
bém para multiplicar as demandas sociais e ampliar a sensação
cidade deve ser competitiva. Um documento do Banco Mundial
de crise nas cidades. Tal sensação era provocada pelos pro-
oferece uma ideia do que as cidades deveriam fazer: “competir
blemas urbanos como congestionamentos, falta de segurança
pelo investimento de capital, tecnologia e capacidade empresa-
e serviços básicos, entre outros. Por outro lado, as dinâmicas
rial; competir para atrair novas indústrias e negócios; ser com-
econômicas, sociais e políticas criaram condições para respos-
petitivas nos preços e qualidades dos serviços; e competir para
tas a esses problemas, como a aprovação de projetos de refor-
atrair mão-de-obra qualificada” (WORLD COMPETITIVE CITIES
ma política e financeiras em algumas cidades (México, Bogotá e
CONGRESS, 1998, p.2, apud VAINER, 2003, p.28). Isto é, a ci-
Buenos Aires), reformas na constituição brasileira, início de pla-
dade passa a ser pensada como uma empresa, atuando em um
nos estratégicos baseados na participação popular, a execução
mercado internacional que é bastante competitivo.
de grandes projetos urbanos, entre outros.
Nesse mesmo caminho, o artigo de Sanchéz (1999) sobre as
Em função de todos esses aspectos, as grandes cidades
políticas urbanas em renovação discute as mudanças nas políti-
da América Latina emergiram nos anos de 1990 como atores
cas urbanas pautadas nas ações que perseguem a promoção da
políticos e econômicos. Porém, de acordo com os autores, a
cidade. Neste sentido, o city marketing e os planos estratégicos
consolidação dessa nova função das cidades irá depender do
se apresentam como instrumentos importantes do que se chama
estímulo que for dado a grandes projetos de cidade que levem
de novo planejamento urbano que visa recuperar sua legitimida-
em consideração a participação dos agentes públicos e priva-
de quanto à intervenção pública na cidade.
dos e que, por sua vez alcancem o consenso público amplo.
O city marketing se constitui na orientação da política urba-
Alguns desse projetos passaram de uma proposta setorial
na ao atendimento das necessidades do consumidor (empre-
“para uma proposta global de desenvolvimento urbano pactua-
sário, turista e cidadão). Já o plano estratégico visa atuações
do” (CASTELLS e BORJA, 1996, p. 155). Como exemplo, temos
integradas em longo prazo, direcionadas à execução de gran-
a proposta da candidatura do Rio de Janeiro em 2004 para se-
des projetos que objetivam crescimento econômico e desenvol-
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vimento urbano.
relação de forças que visem um outro momento, ou o futuro.
Na visão da autora, tais planos estratégicos são uma forma
Sánchez comenta inclusive que o termo desenvolvimento tem
de obter consenso político para a execução de grandes proje-
sido muito utilizado nos discursos, como no caso do legado dos
tos, mas são vistos também como “fábricas de imagem”. Neste
megaeventos. No caso do direito à cidade, a autora entende
sentido, é construída uma “imagem de marca” para a cidade
esse aspecto como uma conquista a partir de enfrentamentos
com o objetivo de projetá-la no exterior e o marketing é utilizado
e de lutas sociais.
para promover seus produtos, como o turismo, a cultura e os serviços de ponta.
Sendo assim, a crítica aos megaeventos perpassa ao fato de que eles não estão sendo acompanhados de um projeto que
O artigo inicialmente situa as políticas de promoção das ci-
seja discutido pela sociedade civil, para que se alcance ganhos
dades no contexto da transformação dos objetivos e dos instru-
sociais nas metrópoles brasileiras que são muito desiguais. Em
mentos da política urbana; em um segundo momento Sanchéz
relação aos impactos que as intervenções relacionadas aos me-
discute o papel dos novos planos estratégicos assim como do
gaeventos causam em termos urbanos, Sánchez comenta que
“urbanismo-espetáculo”; e por fim a autora propõe uma aproxi-
esses impactos agravam as desigualdades nas cidades e aca-
mação ao tema da construção do consenso social.
bam não provocando melhorias na vida urbana de forma signifi-
Para encaminhar toda essa discussão, Sanchéz lança mão
cativa em locais que carecem de mais obras de infraestrutura e
dos casos de Barcelona e Curitiba, oferecendo exemplos para
de transportes. Este último segmento inclusive está sendo pla-
ilustrar, principalmente, como os meios de comunicação e as
nejado mais em função do bom andamento dos jogos de futebol
campanhas publicitárias criam um sentimento de “pertencimen-
e olímpicos, em detrimento da definição de uma infraestrutura
to” e até mesmo de participação por parte da população em geral
de transporte que beneficie e enfrente os problemas de mobili-
nessa transformação da cidade, quando na verdade o que se tem
dade metropolitana.
é uma “manobra” por parte dos gestores para obter a adesão da população e evitar qualquer tipo de manifestação contrária.
Para Whitaker4 o crescimento econômico é um processo em que o capital é reproduzido e consequentemente gera lucro, não significando desenvolvimento social. Essa confusão entre os dois
3. OS MEGAEVENTOS
termos – crescimento econômico x desenvolvimento – é a ma-
As discussões acerca da reestruturação do espaço e a re-
neira utilizada pelos megaeventos para legitimar e promover as
qualificação de áreas urbanas vêm se intensificando recentemen-
intervenções no território. Isso significa que se promete a geração
te em função do país se tornar, nos próximos anos, sede de dois
do desenvolvimento, quando na verdade gera-se um crescimento
grandes eventos esportivos. Neste sentido, torna-se imprescindí-
econômico cujo lucro é limitado aos proponentes do projeto.
vel compreender as rupturas, os conflitos e os impactos gerados
Portanto, esses grandes eventos estão gerando um tipo de
pelas grandes intervenções no território, sejam nos âmbitos terri-
mistura entre os conceitos de crescimento e desenvolvimento. O
toriais, sociais, econômicos, ambientais e políticos. Tais interven-
discurso se direciona a importância de receber eventos, ter jo-
ções são realizadas no intuito de adequar os espaços para os
gos de futebol, ter jogos olímpicos na cidade, uma vez que isso
fluxos que se darão em função desses eventos.
vai movimentar as atividades econômicas, gera um crescimento
Neste contexto, evidencia-se a necessidade de analisar a
da rede hoteleira, o que resulta em desenvolvimento. Instala-se,
conformação atual da gestão das cidades e os discursos que
portanto uma confusão porque esse cenário gera crescimento,
são gerados em função de tal cenário. O que se percebe é que
mas para setores específicos como o turismo.
por trás do conjunto de intervenções no território a serem realiza-
No XIV Encontro Nacional da Anpur realizado em maio de
das, há um discurso de que a intenção das mesmas é promover
2011 na cidade do Rio de Janeiro, vários artigos contemplaram
o bem estar social, porém os megaeventos são a verdadeira jus-
os impactos dos megaeventos nas cidades. O artigo de Pereira
tificativa para as intervenções. Sendo assim, reivindicações an-
(2011) intitulado “As políticas públicas nas favelas cariocas em
tigas da população agora têm a chance de se tornar realidade.
tempos de megaeventos esportivos na cidade” tem o objetivo
Nesse âmbito, Sánchez3 aponta a diferença de entendimen-
de compreender, analisar e sistematizar as ações recentes do
to entre o discurso oficial e o discurso das lutas sociais no que
poder público na cidade do Rio de Janeiro direcionadas para as
diz respeito à ideia de desenvolvimento e do direito à cidade.
favelas, tais como o Programa de Aceleração do Crescimento
Coloca-se que a noção de desenvolvimento é disputada, ou
– PAC, as Unidades de Policiamento Pacificadoras – UPPs, a
seja, quando se fala em processos sociais, territoriais e em pro-
ameaça de remoções em função dos megaeventos esportivos,
jetos, tem-se a ideia de um desenvolvimento de um estado de
a construção de muros e barreiras sonoras e, por fim o Progra-
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ma Morar Carioca.
do Mundo / 2014 e Jogos Olímpicos / 2016”. No final do mês
O autor observa que a cidade vive um momento em que
de fevereiro ocorreu o I Workshop de Planejamento, evento que
várias políticas públicas (complementares e contraditórias) são
contou com a participação de pesquisadores do INCT Observa-
direcionadas para as favelas, o que envolve uma grande arti-
tório das Metrópoles envolvidos no projeto. O objetivo dessa pri-
culação e quantidade de recursos dos governos municipal, es-
meira oficina foi organizar o cronograma de pesquisa e “afinar”
tadual e federal. A questão norteadora do artigo propõe saber
o diálogo entre os participantes5.
quais seriam as possibilidades para a construção de um futuro
Ocorreu também no início do mês de abril deste ano o 2º
e de uma cidade mais justa para a maior parte da população e
(De)bate-bola6 com a finalidade de fomentar a discussão sobre
não somente para uma minoria, tendo-se em vista que a cidade
o outro lado da Copa de 2014 – quais as conseqüências das
do Rio de Janeiro se prepara para sediar os dois maiores mega-
grandes obras para as cidades-sede; quais direitos ficam em
eventos esportivos do planeta.
segundo plano em nome dos jogos; e quais interesses estão por
A autora Silva (2011) cujo trabalho é intitulado “Apropriação
trás desses eventos, entre outros.
social na política dos Jogos Pan-americanos” apresenta alguns
O 2º (De)bate-bola foi realizado na reitoria da UFPR e organi-
exemplos de equipamentos que foram construídos para receber os
zado pelo Observatório de Políticas Públicas do Paraná e nesta edi-
jogos, porém após os mesmo não se verificou um uso social dos
ção contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Ge-
equipamentos, como o Estádio Olímpico João Havelange, adminis-
ografia da UFPR e do Observatório das Metrópoles / INCT / CNPQ.
trado por entidade privada e cujo entorno se encontra abandonado.
O grupo de pesquisa está estruturado em um núcleo nacio-
A problematização do trabalho gira em torno de quais seriam
nal que trata das macroquestões de análise (atuação dos minis-
os processos de apropriação social dos equipamentos esportivos
térios e organismos internacionais) e 12 núcleos dedicados a
na política dos jogos na cidade do Rio de Janeiro. Silva (2011) afir-
cada uma das cidades-sede. Os núcleos são divididos em gran-
ma que os benefícios foram poucos e que a maioria dos grandes
des áreas: infraestrutura, desenvolvimento econômico, direito à
empreendimentos não são socialmente apropriados.
cidade, moradia e dinâmica urbana e ambiental e, finalmente,
O artigo de Bienenstein (2011) com o tema “O espetáculo
governança urbana e metropolitana.
na cidade e a cidade no espetáculo: grandes projetos, megaeventos e outras histórias” aborda o fato de que atualmente há
4. BELO HORIZONTE E REGIÃO METROPOLITANA
uma grande produção de riqueza paralelamente à uma grande
A partir do século XVII, a maioria das velhas capitais da
produção de miséria e exclusão socioespacial, e a promoção
Europa foram sendo remodeladas por seus soberanos, objeti-
de espetáculos (os megaeventos são alguns deles) parecer ter
vando a sistematização do tecido urbano, inaugurando, assim,
assumido importância e centralidade nas discussões urbanas.
uma distribuição geométrica baseada nos princípios barrocos
Sendo assim, esse artigo visa refletir como esse processo está
de articulação do poder através do espaço, como aponta Ma-
ocorrendo recentemente nas cidades brasileiras, mas o objeto
galhães (1989). Como forma de ilustrar a ruptura entre o Império
de estudo é a cidade do Rio de Janeiro. O foco da discussão
e a nova República, seria preciso destruir o que antes existia,
versa sobre a construção da “Cidade Olímpica”; o autor resgata
como comenta Monte-Mór (1994), artifício materializado através
a trajetória desse processo, bem como as motivações, discursos
da mudança de capital em Minas Gerais. Além das funções pré-
e ações do universo de atores políticos e econômicos envolvidos
estabelecidas de cidade planejadamente moderna, implicando-
com a realização desses eventos. Nas suas considerações, o
a num espaço de representação urbana; ansiava-se, sobretudo,
autor afirma que essas iniciativas se enquadram nas tendências
a distribuição do poder como meio de promover um maior de-
que predominam na urbanização contemporânea, baseada na
senvolvimento do país, bem como no Estado.
chamada “democracia do capital”.
Em 1895, iniciou-se a construção da nova capital de mi-
Por fim, o artigo de Vainer (2011) com o título “Cidade de
nas. Inaugurada em 12 de dezembro de 1897 com o nome
exceção: reflexões a partir do Rio de Janeiro” e o artigo de
de Cidade de Minas, alterado novamente para Belo Horizonte
Oliveira (2011) “Força-de-lei: rupturas e realinhamentos ins-
em 1901 (Singer, 1968). Duas características estruturais são
titucionais na busca do “sonho olímpico” carioca” tratam do
marcantes no projeto da nova capital – a segregação espa-
tema das leis que tornam-se passíveis de desrespeito legal
cial que diferenciava os ricos (funcionários estaduais e co-
para que os megaeventos se realizem de maneira plena.
merciantes, entre outros) dos pobres (trabalhadores), através
Já o Observatório das Metrópoles iniciou em janeiro de 2011
da diferença de espaços planejados e não planejados, além
o projeto “Metropolização e Megaeventos: os impactos da Copa
da diferenciação de casas, conforme o status social de seu
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morador; e a perspectiva da classificação dos espaços de acordo com suas funções, como exemplo de moradia, traba-
ciam a construção de novos meios de hospedagem. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
lho, comércio, lazer, entre outras (JULIÃO, 1996 apud MEDEI-
Diante das informações apresentadas é imprescindível re-
ROS, 2001). Então, foi a população trabalhadora, excluída do
alizar um estudo sobre a interface entre impactos, legados, po-
espaço central da cidade, que de fato determinou a produção
líticas urbanas e o direito à cidade, considerando-se a Região
da cidade (MONTE-MÓR, 1994). Nascia assim uma cidade
Metropolitana de Belo Horizonte. Direciona-se a discussão acer-
segregacionista, que proporcionava a discriminação social no
ca da ideia de como fazer valer o direito à cidade, que perpassa
espaço, uma vez que reservou a zona urbana para uma elite
pela organização daqueles que têm direito e da reavaliação das
e direcionou a população economicamente mais pobre para
estratégias de atuação. Assim, o megaevento teria uma legitimi-
a zona suburbana (HORTA, 1994).
dade caso vise a consolidação de um legado que seja cidadão,
Ao falarmos dos dias atuais, Belo Horizonte se torna muitas,
ou seja, aquele composto por bens que gerem as melhorias
pois o processo de periferização que esta desenvolve, tornou-se
urbanas e a redução das desigualdades sociais. Esse legado
um dos indicativos da reorganização espacial atual da cidade,
poderia direcionar as políticas urbanas no sentido de ampliar e
onde a segregação espacial ao mesmo tempo que afastou as
garantir os direitos dos cidadãos.
áreas periféricas, encurtou espaços para sua inserção em áreas bastante valorizadas atualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Para os próximos anos, a Região Metropolitana de Belo Horizonte deve enfrentar desafios de crescimento, organização, produção e gestão do espaço, de forma a reduzir as desigualdades socioespaciais, propondo soluções para a mobilidade metropolitana e a habitação, entre outras questões, tendo-se em vista inclusive desafio de se preparar para sediar um Megaevento como a Copa do Mundo de Futebol. Belo Horizonte e região metropolitana passa atualmente por um momento especial de transformações e da recente elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, aonde muitas dessas questões vem sendo discutidas. O município de Belo Horizonte possui o Comitê Executivo para a Copa do Mundo de 2014 que já elaborou um planejamento estratégico integrado para o evento e vem liderando os esforços para que as ações sejam efetivadas. A cidade conta também com o apoio da Belotur e da Secopa - Secretaria de Estado Extraordinária da Copa do Mundo. Em eventos recentes realizados em Belo Horizonte, fica claro o discurso de
Anais do XIV Encontro Nacional da Anpur realizado em maio de 2011 na cidade do Rio de Janeiro. CASTELLS, M., BORJA, J. As cidades como atores políticos. Novos Estudos nº 45, São Paulo, p.152-166, 1996. HORTA, Célio Augusto da Cunha. Belo Horizonte: a construção de um saber geográfico. Universidade Federal de Santa Catarina, 1994. Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Geografia. 373p. MAGALHÃES, Beatriz de Almeida. Belo Horizonte: Um Espaço para a República. UFMG, 1989. MASCARENHAS, Gilmar. Megaeventos esportivos e urbanismo: contextos históricos e legado social. In: RODRIGUES, Rejane Penna, et. al (org.). Legados de Megaeventos Esportivos. Brasília: Ministério do Esporte, 2008. MEDEIROS, Regina (org.), José Márcio Barros...[et al.]. Permanências e mudanças em Belo Horizonte. Belo Horizonte: PUC Minas - Autentica, 2001.144p.
que as obras são para a cidade e seus cidadãos e não para a Copa, mas que o evento se torna um importante instrumento para “acelerar as coisas”. Dentre as obras a serem realizadas, as referentes ao Anel Rodoviário, Av. Pedro I e a que atingirá a Vila UFMG para a construção de uma alça de acesso ao Aeroporto da Pam-
MONTE-MÓR, Roberto Luís de Melo (coordenador). Belo Horizonte: Espaços e Tempos em Construção. Belo Horizonte: CEDEPLAR / PBH, 1994. 94p.:il – (Coleção BH 100 anos). RAEDER, Sávio. Desenvolvimento Urbano em Sedes de Megaeventos Esportivos. In:
pulha, já fazem parte de um conflito em relação ao reassentamento de famílias. Além disso, já existe uma lei em Belo Horizonte que se constitui numa exceção direcionada para a Copa devido ao fato de que se detectou que há uma carência de meios de hospedagem na cidade. Portanto, em 05 de julho do presente ano, por meio da Lei Orgânica Municipal nº 9952 criou-se em função da Copa de 2014 dispositivos que benefi-
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NOTAS DE RODAPÉ 1. Bacharel em Turismo, Mestre em Geografia, professora do Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo do Centro Universitário Newton Paiva. 2. Palestra proferida durante o I Congresso Mineiro de Direito Urbanístico, dentro da temática “Impactos sociais dos Megaeventos”, em Belo Horizonte, outubro de 2010. 3. SÁNCHEZ, Fernanda. Entrevista concedida aos organizadores do II Seminário PPLA: economia, sociedade e território. Disponível em <http://www.coopere.net/ppla> Acesso em: 04 de ago. 2010. 4.WHITAKER, João. Entrevista concedida aos organizadores do II Seminário PPLA: economia, sociedade e território. Disponível em <http:// www.coopere.net/ppla> Acesso em: 04 de ago. 2010. 5.http://web.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_co ntent&view=article&id=1585%3Aworkshop-de-planejamento-metropolizacao-e-mega-ventos&catid=43%3Anoticias&Itemid=88&lang=pt 6.http://terradedireitos.org.br/biblioteca/em-nome-dos-megaeventosleis-e-direitos-ficam-no-banco-de-reserva/
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ALTERNATIVAS AOS TESTES DE SEGURANÇA DE COSMÉTICOS EM ANIMAIS Sara Marques da Cruz1 Lúcia Helena Angelis2
RESUMO: No cotidiano, podem-se utilizar vários cosméticos que ficam em contato direto com o corpo humano. Dessa forma, é possível ficar exposto em um só dia a uma série de substâncias químicas. Segundo a ANVISA, o produto cosmético deve ser seguro para o usuário nas condições normais ou previsíveis de uso. Para isso, uma série de testes toxicológicos é realizada. Até os dias atuais, as metodologias para determinar o perfil toxicológico dos cosméticos se baseiam em experimentos com animais. Porém, tais metodologias tem sido alvo de discussões a nível mundial, devido às questões éticas que envolvem os experimentos in vivo. Em 1959, foram publicados os princípios dos Três R’s (refine, replace e reduce) que repercutiram a favor da reavaliação da necessidade de testar produtos cosméticos em animais. Graças a esses princípios, existem inúmeras metodologias alternativas aos ensaios in vivo. PALAVRAS-CHAVE: Segurança de cosméticos; Toxicidade; Ética; Experimentação animal; Métodos alternativos.
INTRODUÇÃO
colocação do cosmético no mercado (CHORILLI et al.,2009).
Os produtos cosméticos são utilizados pelo homem
A avaliação de segurança dos cosméticos é um processo
desde épocas remotas. A princípio, a fonte de seus
que se destina a calcular ou estimar os riscos a um sistema-
ingredientes eram essencialmente plantas, animais e
alvo, levando em conta as características do agente a ser tes-
minerais. No entanto, o avanço da tecnologia resultou
tado, sendo ele o ingrediente ou o produto acabado. (BRASIL,
no desenvolvimento de novas substâncias para serem
2010; PAUWELS & ROGIERS, 2010).
incluídas na formulação de tais produtos” (CHORILLI et
Até os dias atuais, as metodologias para determinar os
al.,2009, p.1).
riscos ou o perfil toxicológico dos cosméticos se baseiam prin-
Segundo a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada)
cipalmente em experimentos com animais. No entanto, estes
nº79/2000, “Cosméticos, Produtos de Higiene e Perfu-
testes têm sido alvo de críticas e discussão a nível mundial,
mes são preparações constituídas por substâncias na-
devido às questões éticas que envolvem os experimentos em
turais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes
animais. De acordo com o Artigo 8º da Declaração Universal
do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios,
dos Direitos do Animal, a experimentação animal que implique
órgãos genitais externos, dentes e membranas muco-
um sofrimento físico é incompatível com os direitos do animal,
sas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou prin-
mesmo se tratando de experimentações médicas, científicas,
cipal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e/
comerciais ou qualquer outra forma (CHORILLI et al.,2009;
ou corrigir odores corporais e/ou protegê-los ou mantê-
PAUWELS & ROGIERS, 2010; CFMV, 2010).
los em bom estado” (BRASIL, 2010).
Russel e Burch afirmaram que a boa pesquisa com animais deve respeitar os princípios dos Três R’s: replacement, reduc-
Considerando, então, que é possível utilizar vários
tion e refinement, que significam respectivamente, substituição,
cosméticos no cotidiano e, que esses produtos estão em con-
redução e refinamento. No decorrer deste trabalho oprincípio
tato direto com o corpo humano, pode-se afirmar que é possível
dos Três R’s será abordado mais detalhadamente (GOLDEM-
ficar exposto num só dia a uma série de substâncias químicas
BERG, 2000).
de natureza e comportamento específicos (SANTOS, 2008).
Na União Européia, a maioria dos testes utilizados para
Devido a essa exposição, ao fato de que o produto cos-
a geração de dados toxicológicos de ingredientes e produtos
mético é de livre acesso ao consumidor e, partindo do pressu-
cosméticos dependia dos animais. No entanto, as alterações
posto de que estes produtos podem ser usados amplamente
recentes nas legislações estão conduzindo os pesquisadores
durante um longo período da vida, é extremamente necessário
a desenvolver e adotar métodos alternativos não-animais para
garantir a segurança dos mesmos. Assim sendo, os ensaios
garantir a segurança humana. Essas alterações fizeram com
para avaliação de segurança devem ser realizados antes da
que desde 2009 na Europa fossem proibidos os testes in vivo e
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ainda, que não fossem admitidas matérias-primas ou produtos
pesquisa, o refinamento de técnicas (melhora na condução dos
acabados que tiveram sua segurança comprovada através de
estudos no sentido de reduzir o sofrimento animal) e a busca
testes em animais (WESTMORELAND & HOLMES, 2009).
de métodos alternativos que, por fim, substitua os testes in vivo
O objetivo deste trabalho foi descrever as principais meto-
(PETROIANU, 2010; CAZARIN et al., 2004).
dologias utilizadas para avaliação in vivo da segurança de cos-
Os três R’s repercutiram de forma muito positiva e foram
méticos e suas alternativas in vitro, com ênfase nas questões
incorporados pela Royal Commission of Ethics do Reino Unido e
éticas sobre experimentos em animais para fins científicos.
adotados pelo governo dos Estados Unidos para liberar verbas
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma revisão de literatura em artigos científicos e sites consagrados nacionais e internacionais que tratam do assunto.
que estimulassem os projetos de pesquisa em áreas biomédicas (PETROIANU, 2010). Muitas experiências têm ocorrido com animais de forma mal planejada e mal conduzida. A ausência de um
REVISÃO DE LITERATURA
protocolo de intenções e propósitos e a desistência da
SEGURANÇA DE PRODUTOS COSMÉTICOS E TOXICOLOGIA
pesquisa por mera curiosidade, não apenas constituem
O produto cosmético deve ser seguro para o usuário nas
uma atitude não ética, mas inclusive uma agressão que
condições normais ou razoavelmente previsíveis de uso. Além
leva ao sofrimento animal sem o menor retorno científi-
do conhecimento do nível de absorção cutânea, são necessá-
co. Um pesquisador que provoca choque, queimadu-
rias outras informações para o estudo dos riscos de ingredientes
ras, lesões na pele e outros procedimentos que causem
e produtos cosméticos (BRASIL, 2003).
dor sem finalidade justificável também não age com
A toxicologia é a ciência multidisciplinar que estuda a intera-
princípio ético. (REZENDE et al., 2008, p.237-342).
ção entre o organismo e um agente químico capaz de produzir respostas nocivas, levando ou não a morte ou mesmo comprometendo uma função orgânica (SANTOS, 2008).
“Muitas vezes o pesquisador utiliza agentes químicos e/ou físicos em que os animais devem permanecer paralisados, não
As principais reações adversas caracterizadas para ingre-
podendo escapar à dor e ao sofrimento” (PEREIRA et al., 1998).
dientes e produtos cosméticos são as do tipo irritativas, alergê-
Em meados de 1944, John H. Draize desenvolveu testes em
nicas e sistêmicas. A irritação é uma intolerância local, caracteri-
coelhos para avaliação da irritação ocular e dérmica induzida
zada por desconfortos de maior ou menor grau e de intensidade
por substâncias tópicas. Estes testes tornaram-se metodologias
variável, como ardor e coceira, podendo chegar até a corrosão
padrão pelas quais se avaliam a toxicidade de ingredientes e
do tecido. A alergia ou sensibilização pode ser uma reação de
produtos cosméticos. Porém, os testes de irritação ocular e dér-
efeito imediato (urticária ou de contato) ou tardio (hipersensibili-
mica de Draize levavam a resultados extremamente cruéis. No
dade). Já as reações de efeito sistêmico são consequências da
caso específico de produtos cosméticos, é bastante evidente a
absorção de qualquer ingrediente do produto para a corrente
pressão de grupos protetores do bem-estar animal no sentido
sanguínea através do trato gastrintestinal, trato respiratório, pele
de proibir a utilização de animais nos testes de segurança de
ou mucosas (BRASIL, 2003).
produtos e ingredientes. Eles preconizam ainda a substituição destes ensaios por alternativas que não utilizem animais (AAVS,
Experimentação Animal e Princípios Éticos
2010; COSTA, 2006; CRUZ, 2003; PINHEIRO, 2007; CI,2010).
Nos últimos anos, o comportamento social em relação aos
Visando se adequar aos princípios dos 3 R’s, diversas me-
animais modificou-se consideravelmente. A primeira manifesta-
todologias têm sido desenvolvidas e apresentadas internacio-
ção social que tentou doutrinar as pesquisas que provocam dor
nalmente. No entanto, para que as mesmas sejam utilizadas é
em animais vertebrados denominou-se Cruelty to Animals Act e
necessária a elaboração de protocolos de estudos que avaliem
foi redigida em 1876 (PETROIANU, 2010).
sua relevância e confiabilidade. Para isso, foram fundadas di-
Anos após esta manifestação, em 1959, Russel e Burch pu-
versas instituições responsáveis por desenvolver e validar novos
blicaram o livro The Principles of Humane Experimental Techni-
métodos e também regulamentar os testes alternativos para que
que, no qual afirmaram que a boa pesquisa em animais deve
o uso dos mesmos seja legalizado (CAZARIN et al., 2004).
respeitar os princípios dos 3 R’s. O programa dos 3 R’s é assim
Dentre estas instituições, cabe citar o ICCVAM, (Interagency
denominado devido as iniciais em inglês das palavras Reduc-
Coordinating Committe on the Validation of Alternative Metho-
tion, Refine, Replace (Reduzir, Refinar, Substituir) que significam,
ds), o ECVAM (European Centre for the Validation of Alternative
respectivamente, a redução do número de animais utilizados na
Methods), e o JaCVAM (Japanese Center for the Validation of Al-
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ternative Methods), que promovem o desenvolvimento, a valida-
composto em animais também foi desenvolvido por Draize. Este
ção, a regulamentação e aceitação das metodologias (ALTTOX,
teste é utilizado para avaliar o potencial irritante da pele devi-
2010; CAZARIN et al., 2004).
do aos ingredientes cosméticos e estabelece parâmetros como
Diversos países, como os Estados Unidos e membros da
edema e eritema, como podem ser observados na TABELA 1.
União Européia já aprovaram a utilização de métodos alternati-
Tem-se questionado sobre a confiabilidade deste teste em rela-
vos no processo de registro de novas substâncias, assim como
ção ao seres humanos, pois tem sido demonstrado que a pele
a substituição de alguns métodos por outros que seguem a pro-
do coelho pode tanto subestimar algumas substâncias, como
posta dos 3 R’s (CAZARIN et al., 2004).
superestimar o potencial irritativo de outras (WESTMORELAND
Na Europa, ficou estabelecida na 7ª Emenda da Diretiva
& HOLMES, 2009; AAVS, 2010).
76/768/CEE, que regula a segurança de cosméticos, uma série
Este ensaio pode ser realizado em um único teste (Teste de
de pontos relativos à utilização de animais nos testes de segu-
Irritabilidade Dérmica Primária) ou repetido (Teste de Irritabilida-
rança, incluindo a proibição total de testes de produto acabado
de Dérmica Acumulativa). A metodologia preconiza a utilização
para cuidado pessoal em animais. Em março de 2009, todos
de coelhos albinos, com a pele tricotomizada. O teste é realiza-
esses testes foram proibidos na União Européia e também foi
do na pele intacta e na pele após abrasão. São utilizados, no
proibida a comercialização de produtos que contenham ingre-
mínimo, seis coelhos, com peso corpóreo acima de 2,0 Kg e a
dientes que tenham sido testados em animais (WESTMORE-
área utilizada é de aproximadamente 6,0 cm. A quantidade de
LAND & HOLMES, 2009).
substância-teste aplicada é de 0,5 mL. As áreas de aplicação são recobertas com gaze fixada com fita adesiva durante 24 horas. Após 24 e 72 horas são realizadas as leituras, verificando se
Principais Ensaios Biológicos
houve formação de eritema e/ou edema sobre as áreas (CHO-
TESTE DE IRRITABILIDADE DÉRMICA O teste padrão para avaliar a irritabilidade dérmica de um
TESTE IRRITABILIDADE OCULAR
RILLI et al.,2009; CI, 2010).
tratados com solução salina a 0,9%) 48 e 72 horas após a insti-
O teste de irritabilidade descrito por Draize tem como ob-
lação (CHORILLI et al.,2009; CI, 2010).
jetivo avaliar os efeitos das substâncias na conjuntiva, na íris e
A avaliação dos efeitos adversos após a exposição ao agen-
na córnea de olhos de coelhos albinos. Ele pode ser realizado
te irritante é realizada através de parâmetros como opacidade
com dosagem única para simular contato acidental (xampu, por
para análise da córnea; inflamação, congestão, edema, reação
exemplo) ou dosagens repetidas para simular o uso contínuo e
à luz, hemorragia e destruição maciça para análise da íris; e ver-
repetido de cosméticos para a área dos olhos como, por exem-
melhidão, quemose e outros parâmetros para análise da conjun-
plo, sombras, máscaras e delineadores (CHORILLI et al.,2009;
tiva. Esses efeitos e os valores de graduação para lesão ocular
SANTOS, 2008).
estão representados na TABELA 2. (AAVS, 2010; COSTA, 2006;
Para a realização do teste, geralmente, se utiliza no mínimo
CRUZ, 2003; PINHEIRO, 2007).
6 coelhos, os quais são colocados em uma estrutura que man-
A estrutura da córnea do olho de um coelho difere significa-
tém suas cabeças imobilizadas. Em seguida, 0,1 mL da subs-
tivamente da córnea do olho do ser humano. Os coelhos tam-
tância são instilados na conjuntiva do olho de cada animal. Os
bém produzem um volume menor de lágrimas do que o homem,
olhos não tratados servem como controle e são examinados nos
permitindo que os produtos aplicados nos olhos dos coelhos
tempos de uma hora, 24 horas (momento que se lava os olhos
permaneçam por mais tempo e cause maior irritação. Essa va-
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riação não só faz do testeocular de Draize incerto, como tam-
(AAVS, 2010).
bém contribui para o imenso sofrimento causado aos animais
FOTOTOXICIDADE
nar se uma substância é capaz de provocar uma reação alérgi-
A fototoxicidade é uma reação aguda, que pode ser induzi-
ca. Porém, os especialistas afirmam que todas as substâncias,
da por um tratamento com uma substância química e concomi-
em maior ou menor grau, são capazes de provocar reações alér-
tante exposição à radiação ultravioleta ou visível. Essas reações
gicas (SANTOS, 2008).
são consequências de mecanismos imunológicos e geralmente são acompanhadas de hiperpigmentação e descamação.
Neste ensaio, múltiplas doses são aplicadas a fim de desencadear a reação. A metodologia consiste em aplicações tó-
A cobaia é o animal de escolha para o estudo da fototoxi-
picas da menor dose não irritante por um período de 3 semanas,
cidade. Este teste tem o intuito de pesquisar a capacidade do
chamada fase de indução. Após um período de repouso, reali-
material-teste de induzir uma resposta irritante da pele através
za-se a aplicação tópica da maior dose não irritante, chamada
da irradiação UV (CHORILLI et al.,2009; SANTOS, 2008).
de fase de desafio. As reações são graduadas segundo escala específica, com a finalidade de avaliar o potencial de sensibili-
TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO CUTÂNEA
zação (CI, 2010).
A alergia é uma reação imunológica de sensibilização frente a uma determinada substância. Em algumas situações, as rea-
CITOTOXICIDADE
ções alérgicas podem acontecer logo no primeiro contato, po-
O ensaio de citotoxicidade define o potencial de degene-
dendo se tornar severas e pertinentes nas próximas exposições
ração ou morte celular provocado pelas substâncias presentes
(CHORILLI et al.,2009).
nas formulações cosméticas. Algumas substâncias, em certas
O teste de sensibilização cutânea é utilizado para determi-
quantidades podem provocar vômitos ou outros danos ao orga-
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nismo e até a morte. Este teste tem como objetivo avaliar e con-
dos normalmente como suspensão ou solução a 20% durante 4
trolar a toxicidadedos materiais constituintes dos cosméticos.
horas. Logo após, mede-se a opacidade e permeabilidade se-
O método mais utilizado para este fim é o teste da DL50, que
guida da avaliação histopatológica (ICCVAM, 2006a).
determina qual a dose do produto a ser testado será letal para 50% da população testada (CHORILLI et al.,2009). Neste teste, a segurança pode ser avaliada por inalação, ingestão ou injeção da substância (CI, 2010).
É bom ressaltar que este método já é validado pelas instituições ICCVAM, ECVAM e JaCVAM (ALTTOX, 2010). As diferenças entre o BCOP e o teste ocular de Draize estão relacionadas principalmente com as características anatômicas e fisiológicas do coelho, do bovino e do ser humano. Algumas características estão citadas abaixo (ICCVAM, 2006a):
Alternativas às Metodologias In Vivo BCOP – TESTE DE OPACIDADE E PERMEABILIDADE DA
• Presença de membrana nictante ou terceira pálpebra no coelho: esta membrana ajuda na remoção de substâncias irri-
CÓRNEA BOVINA O Teste de Opacidade e Permeabilidade da Córnea Bovina (Bovine Corneal Opacity and Permeability Assay- BCOP) foi
tantes e podem provocar diferenças na cinética de remoção de materiais estranhos.
desenvolvido para que pudessem ser utilizados os órgãos de
• Variação na espessura da córnea. A espessura da córnea
uma espécie que é rotineiramente abatida para fins alimentícios,
do boi é 0,8 mm enquanto a do ser humano mede 0,5 mm e a
visando substituir futuramente o teste de irritação ocular in vivo,
do coelho mede 0,37 mm.
ou ocular de Draize (ICCVAM, 2006a).
• Variação no número de camadas das células.
Este método avalia quantitativamente o potencial irritante de um produto ou uma substância química após aplicação sobre a
• Diferenças de sensibilidade entre coelho, ser humano e o bovino frentes às diversas substâncias a serem testadas.
córnea isolada do bovino. Ele avalia a capacidade de irritação/
Existem, também, algumas vantagens e desvantagens em
corrosão de uma substância através de dois parâmetros: a opa-
relação à metodologia in vitro para avaliação da irritabilidade
cidade da córnea e a permeabilidade de algumas substâncias
ocular. Uma desvantagem se refere à ausência de barreiras pro-
nesta estrutura. A opacidade da córnea é um efeito adverso ex-
tetoras (filme lacrimal, humor aquoso e pálpebras), que poderia
tremamente importante, pois é característico de algumas subs-
levar a resultado falso-positivo. E as vantagens são redução do
tâncias irritantes e tal efeito pode levar à perda da visão. Entre-
custo da análise e redução do tempo (ICCVAM, 2006a).
tanto, algumas substâncias são capazes de destruir o epitélio corneano sem produzir uma opacidade significativa. Avaliou-se,
HET-CAM – TESTE DA MEMBRANA CÓRIO-ALANTÓIDE DO
então, que alguns danos são causados pela penetração de
OVO DE GALINHA
substâncias na córnea, o que justifica a análise deste parâmetro (BRASIL, 2010; ICCVAM, 2006a).
O método HET-CAM (Hens Egg Test-Chorion Allantoic Membrane) foi desenvolvido por Luepke em 1995. Seu objetivo
O Teste de Opacidade e Permeabilidade da Córnea Bovi-
consiste em identificar e avaliar o potencial irritante de um pro-
na apresenta-se como um método quantitativo por ser capaz
duto ou substância química sobre a Membrana Cório-Alantóide
de expressar seu resultado numericamente para opacidade e
(CAM) do ovo embrionado da galinha, visando à redução do nú-
permeabilidade. A opacidade é determinada pela quantidade
mero de animais utilizados no teste de Draize e uma total subs-
de luz que atravessa a córnea através de um opacitômetro e
tituição desse teste no futuro (BRASIL, 2010; ICCVAM, 2006b;
a permeabilidade consiste na determinação da quantidade de
TRIDSKIN, 2010).
fluorosceína (corante indicador) que penetra nas camadas da
Foram feitas comparações da CAM com o olho do mamí-
córnea. As substâncias que induzem irritação/corrosão na cór-
fero e chegou-se a conclusão que esta se assemelha mais a
nea provocam desnaturação de proteínas, edemas e lesão nas
conjuntiva. Ambas as estruturas são membranas que contém
células. Para observar melhor estas reações e determinar o grau
um sistema vascular funcional. Por esta razão, os efeitos agu-
e a profundidade das lesões realiza-se, também, uma avaliação
dos induzidos por uma substância-teste sobre pequenos vasos
histopatológica da córnea (ICCVAM, 2006a).
sanguíneos e proteínas desta membrana se assemelham aos
A metodologia desse teste consiste na aplicação da substância ou produto sobre a córnea. As substâncias ou produtos
efeitos induzidos pela mesma substância-teste aplicada no olho de um coelho (ICCVAM, 2006b; TRIDSKIN, 2010).
líquidos e semi-sólidos geralmente são aplicados sem diluição
Os efeitos que podem ser observados na membrana cório-
durante 10 minutos, em seguida, a córnea é lavada e incubada
alantóide são hiperemia (aumento do fluxo sanguíneo), hemor-
em um meio de reação por duas horas. Os sólidos são aplica-
ragia (extravasamento de sangue dos vasos), lise (ruptura dos
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 199
vasos) e coagulação (presença de coágulos sanguíneos). Estes
tados entre 3 minutos e 4 horas no máximo, para classificação
efeitos, juntamente com outros parâmetros como tempo de de-
de grupos de embalagens. Por fim, é importante informar que
senvolvimento e severidade do efeito, são caracterizados como
o Corrositex é um ensaio já validado pelo ICCVAM e ECVAM
endpoints. Através da medida qualitativa destes, determina-se
(ALTTOX, 2010).
uma pontuação para cada endpoint (TRIDSKIN, 2010). O método HET-CAM tem o potencial de reduzir e refinar o
FOTOTOXICIDADE – 3T3 NRU PT
uso de animais nos testes de irritação ocular. As substâncias
A base desse teste, já validado pelo ECVAM, é a compara-
identificadas como corrosivas ou irritantes seriam excluídas dos
ção da citotoxicidade de produtos químicos quando testados
testes in vivo, o que reduziria o número de coelhos para o teste e
na presença (teste) e na ausência (controle) de uma dose não
pouparia o sofrimento dos mesmos (ICCVAM, 2006b).
citotóxica de luz UVA. A citotoxicidade é medida pela inibição da
Além disso, o HET-CAM reduz o tempo necessário para
captação do corante vital Vermelho Neutro pelas células fibro-
avaliar uma substância, quando comparado com o método in
blásticas de ratos denominadas 3T3 Balb/c, ou seja, determina
vivo. O teste de Draize geralmente é realizado por no mínimo
a dose que reduz o crescimento celular,após 24 horas de expo-
de um a três dias e pode ser prorrogada por até 21 dias. Já o
sição (BRASIL, 2010; IN VITRO CELLS, 2010; ALTTOX, 2010).
HET-CAM requer um período de incubação de nove dias de pré-
As células 3T3 são mantidas em cultura durante 24 horas
tratamento e, cerca de uma hora após aplicação da substância
para a formação de monocamadas. São pré-incubadas duas
teste para analisar os resultados (ICCVAM, 2006b).
placas por substância teste com oito concentrações diferentes
Apesar de não estarem formalmente aprovados, os resulta-
da substância durante uma hora. Em seguida, uma das placas
dos positivos do HET-CAM podem ser utilizados para fins de ro-
é exposta a uma dose não tóxica de UV, enquanto a outra placa
tulagem e classificação de substâncias irritantes oculares graves
é mantida no escuro para ser usada como controle. Em ambas
na União Européia (ALTTOX, 2010).
as placas, o meio de tratamento é depois substituído por meio de cultura e após 24 horas de incubação, a viabilidade celular é
CORROSITEX O ensaio Corrositex mede o potencial de uma substância causar corrosão da pele. O fundamento deste teste baseia-se
determinada pela incorporação do vermelho neutro. Um resultado positivo neste teste indica que a substância-teste é fototóxica (CHORILLI et al.,2009).
em um Sistema de Biobarreira que avalia a capacidade de uma
A redução da concentração de corante na captação de 24
substância de atravessá-la por difusão ou destruição. Em segui-
horas após o tratamento é utilizada como ponto final do ensaio.
da, esta penetração é detectada por um Sistema de Detecção
Encontra-se, então, o valor da IC50 (inhibitory concentration) que
Química que consiste na mudança de cor de uma base líquida
consiste na concentração da substância que reduz a viabilidade
frente a substâncias potencialmente corrosivas. Avalia-se, então,
celular de 50% do valor de células controle não tratadas (ALT-
o tempo requerido para que uma substância ou produto ultra-
TOX, 2010).
passe a biobarreira e produza mudanças visualmente detecta-
A fototoxicidade é definida como uma resposta tóxica de
das. De acordo com o tempo em que foi observado o resulta-
uma substância aplicada ao corpo que seja provocada ou au-
do, as substâncias são classificadas para fins de rotulagem e
mentada após exposição subseqüente à luz, ou que seja induzi-
embalagem de produtos corrosivos (ICCVAM, 2006c; IN VITRO
da pela irradiação da pele após administração sistêmica de uma
CELLS, 2010; IN VITRO INTERNATIONAL, 2010).
substância (ALTTOX, 2010).
O Corrositex também contribui para o princípio dos 3 R’s no que diz respeito à redução do número de animais e ao re-
CITOTOXICIDADE
finamento das técnicas. Dessa forma, ele é usado como parte
A citotoxicidade pode ser avaliada através de três métodos:
de uma estratégia de testes diferenciados para a corrosividade,
citotoxicidade pelo método MTT e citotoxicidade pelo método
pois os resultados positivos eliminam a necessidade de ensaios
vermelho neutro (NRU), já que as células viáveis não coram com
em animais e quando a necessidade de mais destes é determi-
estes corantes e citotoxicidade pela difusão em gel agarose
nada, apenas um animal é necessário para confirmar a corrosivi-
(BRASIL, 2010).
dade de um produto químico (ICCVAM, 2006c).
A citotoxicidade pelo MTT é avaliada com ajuda do um co-
A vantagem de se utilizar esse teste é a redução dos custos
rante vital, o MTT. Os parâmetros de avaliação observados são a
adicionais e do tempo. Ao contrário dos testes em animais que
porcentagem de morte celular e a IC50 que inibe 50% do cresci-
podem levar de 2 a 4 semanas, o Corrositex pode fornecer resul-
mento celular. Este teste não se aplica a produtos insolúveis em
196 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
água (BRASIL, 2010).
in vitro, algumas validadas e outras ainda em processo de vali-
Na citotoxicidade pelo método de Vermelho Neutro, utilizase uma cultura de células SIRC CCL 60 (derivadas da córnea de
dação, que poupam o animal das injúrias sofridas nos testes de segurança.
coelhos) ou outras, adicionadas do corante Vermelho Neutro ou
Existe uma tendência mundial não apenas para reduzir o
MTT. A captação do corante pelas células viáveis é quantificada
número de animais ou refinar as técnicas. Estes princípios são
por espectrofotometria, através de um leitor automático de mi-
apenas os primeiros passos para a principal meta que se deseja
croplacas. Este método pode ser utilizado para todo tipo de for-
alcançar: a substituição total das metodologias in vivo sempre
mulação, exceto aquelas que possuam propriedades fixadoras,
que possível. Para isso, é necessário que cada país reveja seus
como as formulações alcoólicas (BRASIL, 2010).
conceitos de ética sobre experimentação animal.
O teste de citotoxicidade pela difusão em gel de agarose
No Brasil, a maioria dos testes de segurança de cosméticos
é indicado para emulsões e géis com fase contínua aquosa. A
ainda são realizados baseados na metodologia de Draize, ape-
aplicação desses produtos na superfície de um gel agarose em
sar de algumas empresas já prestarem o serviço da realização
contato com as células do tecido conjuntivo de camundongo
das metodologias in vitro. Mas, cabe ressaltar a necessidade de
gera um halo. O diâmetro do halo corresponde a citotoxicidade
um país como o Brasil, que possui o terceiro lugar do mercado
do produto testado e a sua capacidade de se difundir no gel
mundial de cosméticos, se posicionar frente a esta tendência e,
agarose. Como indicador, utiliza-se um corante vital como o MTT
assim, continuar a produzir cosméticos de qualidade respeitan-
ou Vermelho Neutro (BRASIL, 2010).
do o bem-estar animal, pois o princípio do direito à vida também se aplica a eles.
TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO DA PELE Para ensaios de sensibilização da pele, pode-se empregar o teste chamado RBC (Red Blood Cells System). Este ensaio permite quantificar e avaliar os efeitos adversos dos tensoativos empregados em xampus, sabonetes líquidos e produtos de higiene sobre a membrana plasmática das hemácias de carneiro e a conseqüente liberação da hemoglobina (hemólise) e ainda, o índice de desnaturação da hemoglobina, avaliado através de sua forma oxidada, ambos quantificados por espectrofotometria. A relação entre a hemólise e a oxidação da hemoglobina fornece um parâmetro de caracterização dos efeitos dessas substâncias in vitro (BRASIL, 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A dor e o sofrimento animal provocados nos testes de segurança de ingredientes e produtos cosméticos ficaram facilmente perceptíveis. Grupos protetores do bem-estar animal e inclusive uma parcela da população se indignam com a crueldade das experiências desenvolvidas no biotério. Frente a este cenário, os setores que fazem uso das metodologias in vivo foram pressionados a desenvolver e validar métodos alternativos aos ensaios em animais, principalmente a indústria de cosméticos. Esta situação é totalmente justificável quando se questiona a real necessidade do sofrimento animal para satisfazer a vaidade do ser humano. O princípio dos 3 R’s foi de extrema importância na reavaliação da necessidade dos ensaios em animais, além de impulsionar pesquisas para o desenvolvimento das metodologias in vitro.
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Hoje, graças a estes princípios, existem inúmeras metodologias PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 201
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NOTAS DE RODAPÉ 1 Aluna do Curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva 2 Professora de Tecnologia Farmacêutica III do Centro Universitário Newton Paiva
INTERAGENCY COORDINATING COMMITE ON THE VALIDATION ALTERNATIVE METHODS - ICCVAM. An In Vitro test method for Assessing Dermal Corrosivity Potential of Chemicals. EUA, 2006c. Disponível em: <http://iccvam.niehs.nih.gov/docs/reports/corprrep.pdf >. Acesso em: 21 out. 2010. IN VITRO CELLS. Serviços, Belo Horizonte, 2010. Disponível em: <http:// invitrocells.site.com.br/>. Acesso em: 27 out. 2010. IN VITRO INTERNATIONAL. Corrositex. EUA, 2010. Disponível em: < http:// www.invitrointl.com/products/corrosit.htm >. Acesso em: 4 nov. 2010. PAUWELS, M; ROGIERS, V. Human Health Safety Evaluation of Cosmetics in the EU: A legally Imposed Challenge to Science. Toxicology and Applied Pharmacology, Novo México, EUA. v. 243, n.1, p. 260-274, Março. 2010. Disponível em: < http://www.sciencedirect.com/science/
196 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
ANOREXÍGENOS: controle rígido ou proibição de seu uso? Amanda Pauliane Alves Moreira * Elias Borges do Nascimento Júnior **
RESUMO: A obesidade é considerada um problema de saúde pública que associada à comorbidades gera custos aos sistemas de saúde. O seu tratamento consiste em mudanças de estilo de vida, relacionados a hábitos alimentares e atividades físicas. O uso de medicamentos pode ser considerado, quando os resultados não são satisfatórios com as medidas não farmacológicas. O tratamento farmacológico com anorexígenos de ação central, por muito tempo foi visto como uma opção terapêutica duvidosa e sujeita a inúmeras críticas. Isso se deve ao uso abusivo e irracional que levou a necessidade de criação de medidas regulatórias com o intuito de aumentar o controle sobre os anorexígenos e atualmente passam por problemas regulatórios no que diz respeito à eficácia e segurança em longo prazo, motivando a decisão da ANVISA de retirada de três anorexígenos do mercado e manutenção da sibutramina com restrições. PALAVRAS- CHAVE: Obesidade; Anorexígenos; Uso irracional; Controle; Retirada.
INTRODUÇÃO
alimentares e exercícios físicos (MANCINI, HALPERN, 2006).
A obesidade é considerada um problema de saúde pública
Segundo Coutinho 2009, os anorexígenos são indicados jun-
mundial, por se tratar de uma doença crônica de genética com-
tamente com os hábitos saudáveis de vida, a pacientes que
plexa, associada a várias comorbidades e acompanhada de
apresentam índice de massa corporal (IMC) superior a 30 kg/
morbimortalidade principalmente por doenças cardiovascula-
m2, ou quando morbidades estão associadas ao sobrepeso
res (PINHEIRO, FREITAS, CORSO, 2004; REPETTO, RIZZOLLI,
(IMC acima de 25 kg/m2) e que não obtêm resultados satisfató-
BONATTO, 2002). O seu crescimento tem alcançado propor-
rios apenas com medidas não farmacológicas.
ções epidêmicas, e gerado altos custos para os sistemas de
No processo de indicação, devem ser consideradas ca-
saúde. No Brasil, o custo anual da obesidade e doenças liga-
racterísticas importantes dos anorexígenos, tais como: reações
das a ela, é de quase R$ 1,5 bilhão, valor que inclui internações,
adversas no sistema nervoso central, cardiovascular e elevado
consultas e medicamentos (LAMOUNIER, PARIZZI, 2007).
potencial para síndrome de abstinência, abuso, dependência e
A obesidade é resultante de fatores ambientais e genéti-
tolerância (BEHAR, 2002).
cos. Além desses fatores, a doença está relacionada a aspec-
Os anorexígenos que vinham sendo mais utilizados no Bra-
tos socioculturais, marcados pela idealização de magreza, em
sil eram: a anfepramona, femproporex, mazindol e sibutramina
que, principalmente as mulheres, almejam e contrariam as ne-
(CARNEIRO, JÚNIOR, ACURCIO, 2008). O uso desses medica-
cessidades nutricionais do corpo, buscando alternativas para
mentos sempre esteve envolvido com erros de prescrição, uso
perder peso (ALVES et al., 2009; BERNARDI, CICHERELO, VI-
irracional e abusivo, além de desvalorizar métodos convencio-
TOLO, 2005).
nais de tratamento, como as dietas hipocalóricas, exercícios fí-
Diante dessa situação, a busca por métodos mais rápidos
sicos e terapias comportamentais (MANCINI, HALPERN, 2002).
e “milagrosos”, na visão dos pacientes, é algo necessário e fun-
O Brasil sempre se destacou como um dos maiores con-
damental na busca do corpo magro (MELO, OLIVEIRA, 2011).
sumidores de medicamentos anfetamínicos, chegando a um
Entre esses métodos estão os fármacos anorexígenos, que
consumo de 23,6 toneladas anuais (MELO, OLIVEIRA, 2011).
inibem o apetite, causando sensação de saciedade, e conse-
Em relatório divulgado pela Junta Internacional de Fiscalização
quentemente contribuem para redução do peso (FLIER, FLIER,
de Entorpecentes (JIFE) em 2005, foi identificado além do uso
2009).
abusivo, erros relacionados à venda sem prescrições e o des-
O tratamento farmacológico deve ser baseado em um
vio das substâncias de locais de fiscalização (ANVISA, 2005).
diagnóstico médico que avalie profundamente o paciente
Com o consumo elevado dos anorexígenos, tornou-se
quanto ao tipo de obesidade, presença de doenças contraindi-
indispensável aprimoramento de ações de vigilância sanitária
cadas, possibilidade de desenvolvimento de efeitos adversos,
com o propósito de aperfeiçoar o controle e a fiscalização na
e que identifique mudanças impróprias relacionadas a hábitos
venda dessas substâncias que podem causar danos a saú-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 203
de, estabelecendo normas mais rigorosas para a prescrição
Diretrizes clínicas do tratamento da obesidade, nos sites da As-
mediando seu comércio, por meio de um acesso mais racional
sociação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
(CARNEIRO, JÚNIOR, ACURCIO, 2008). A criação das medidas
Metabólica (ABESO), e outros artigos publicados em revista de
regulatórias possibilitou um acesso maior aos medicamentos
sites acadêmicos.
por via lícita, por meio das prescrições (MELO, OLIVEIRA, 2011). Além de problemas com uso irracional, recentemente os
OBESIDADE
anorexígenos foram questionados quanto à indicação clínica,
A obesidade é uma doença crônica, definida com base no
reavaliados por estudos sobre eficácia e segurança, com resul-
índice de massa corporal (IMC), que é obtido pela divisão da
tados satisfatórios de redução de peso em curto prazo e pouca
massa corporal (quilogramas – kg) pelo quadrado da estatura
manutenção por longo tempo, além do aparecimento de vários
(metros ao quadrado– m²). O sobrepeso ocorre em indivíduos
efeitos adversos graves que dificulta seu uso clínico (MANCINI,
que apresentam IMC entre 25,0kg/m² e 29,9kg/m². São conside-
HALPERN, 2002; NADVORNY, WANNMACHER, 2004; PAUM-
rados obesos os pacientes com IMC igual ou superior a 30,0kg/
GARTTEN, 2011).
m², na seguinte gradação: obesidade moderada entre 30,0kg/
Desta forma, o presente artigo tem como objetivos levantar
m² e 34,9kg/m²; obesidade severa entre 35,0kg/m² a 39,9kg/m²;
questionamentos sobre o aumento do controle na venda e pres-
e obesidade muito severa (mórbida) acima de 40,0kg/m² (FLIER,
crição com normas complementares, que restrinjam o uso dos
FLIER, 2009).
anorexígenos a pacientes com elevado grau de risco de obesidade, restringindo também a prescrição a médicos especia-
A prevalência da obesidade aumenta de forma rápida e
listas no assunto de modo a conter o uso danoso e irracional,
consideravelmente, atingindo 1,7 bilhão de indivíduos no mundo
considerando o uso contínuo somente se eles forem seguros
inteiro (ERLANGER, 2008; LI, CHEUNG, 2009). No Brasil, dados
e eficazes, assim como analisar a decisão da Agência Nacio-
mais recentes mostram que 12,5% dos homens e 16,9% das
nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) de proibição do uso, com
mulheres de um total de 188 mil brasileiros de todas as idades,
manutenção apenas da sibutramina. Além disso, pretende-se
são considerados obesos (RADOMINSKI et al., 2010).
ressaltar as consequências do uso indiscriminado, reforçando a importância do uso racional desses medicamentos.
A obesidade pode acarretar inúmeras comorbidades, como: resistência a insulina, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, dislipidemia, doenças biliares,
MÉTODO
apneia do sono, osteoartrites e certos tipos de câncer. Além de
O método utilizado na pesquisa consistiu em uma revisão
complicações, a obesidade está associada a um aumento de
bibliográfica realizada em um período compreendido entre o
50 a 100% no risco de morte por todas as causas, principal-
mês de agosto e meados de setembro de 2011.
mente cardiovasculares, em relação aos indivíduos mais magros
Para a pesquisa foram utilizados os livros: Harrison Medici-
(FLIER, FLIER, 2009). A doença leva a morte de 2,5 milhões de
na Interna e Farmacologia Clínica da Lenita Wannmacher, dis-
indivíduos por ano no mundo todo. Nos Estados Unidos, é a se-
poníveis na biblioteca do Centro Universitário Newton Paiva, nas
gunda causa de morte, com 300.000 óbitos anuais (ERLANGER,
edições mais recentes. Os artigos utilizados foram localizados
2008; FLIER, FLIER, 2009).
em sites acadêmicos, como PUBMED e BIREME que incluiu as
Os gastos com a obesidade e suas complicações são bem
bases de dados LILACS, SCIELO e MEDLINE e utilizou-se como
elevados. No Brasil o custo anual é de quase R$ 1,5 bilhão. Des-
palavras chave: anorexígenos, anfetaminas, aspectos sociais,
se valor, 600 milhões são provenientes do governo via Sistema
obesidade, anorectics, obesity e sibutramine, respectivamente.
Único de Saúde, e representa 12% do orçamento gasto para
Após a leitura de seus resumos para verificar se contemplavam
tratar as doenças decorrentes da obesidade (LAMOUNIER, PA-
o tema abordado, foram selecionados 40 artigos, dos quais 23
RIZZI, 2007). Nos Estados Unidos, os gastos são bem mais rele-
foram incluídos neste trabalho.
vantes chegando a cerca de US$ 50 bilhões por ano (FELIPPE,
Também foram utilizadas, notícias, documentos, relatórios,
SANTOS, 2004).
regulamentações e portaria no site da ANVISA, Conselho Fede-
O crescimento global da obesidade, assim como o seu
ral de Farmácia (CFF), Conselho Federal de Medicina (CFM) e
desenvolvimento em um determinado indivíduo, é resultante de
outras entidades nacionais relacionadas à questão dos medica-
uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais
mentos.
(PINHEIRO, FREITAS, CORSO, 2004; TROMBETTA, 2003).
Outras pesquisas foram realizadas, buscando notícias e
A fisiopatologia da obesidade consiste num aporte calóri-
204 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
co maior que o gasto energético efetivo (CARNEIRO, JÚNIOR,
macológico sozinho mostra ser insuficiente em pacientes com
ACURCIO, 2008). O quadro de balanço energético positivo, ou
obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²); ou sobrepeso (IMC≥ 25 kg/m²) na
ganho de peso está relacionado às mudanças no estilo de vida,
presença de comorbidades (COUTINHO, 2009).
caracterizadas por uma alimentação rica em gorduras, açúca-
Tanto o tratamento farmacológico quanto o não farmacoló-
res, alimentos industrializados e redução da atividade física,
gico, muitas das vezes, proporcionam modesta e gradual perda
configurando um ambiente marcado pelas sociedades contem-
de peso em torno de 5 a 10 %, portanto essa perda é capaz de
porâneas (WANDERLEY, FERREIRA, 2010).
reduzir de forma significativa às doenças ligadas à obesidade,
Segundo Popkin et al.(1993), citado por Wanderley e Ferrei-
(COUTINHO, 2009; NADVORNY, WANNMACHER, 2004) visto
ra (2010, p.187) as mudanças nos padrões de alimentação e ati-
que o objetivo do tratamento da obesidade não é apenas reduzir
vidade física,
o peso, mas, além disso, é prevenir ou atenuar a morbidade as-
“se correlacionam com mudanças econômicas,
sociais, demográficas e relacionadas à saúde decorrentes do
sociada ao excesso de peso (PAUMGARTTEN, 2011). Os medicamentos que já foram aprovados para o tratamento
processo de modernização mundial”. O consumo de alimentos industrializados também é de
da obesidade são: os anorexígenos derivados de anfetaminas;
grande responsabilidade das indústrias alimentícias, que inves-
e catecolaminérgicos anfepramona e femproporex; derivado tri-
tem cada vez mais em publicidade, marketing e propaganda,
cíclico mazindol e representante do grupo catecolaminérgico/
motivando a sociedade a adquirir seus produtos. As indústrias
serotoninérgico a sibutramina que de acordo com a RDC n° 52,
de consumo estimulam a venda dos alimentos através da mídia,
ainda se manterá no mercado (RADOMINSKY et
al., 2010).
ao mesmo tempo em que a mídia impõe à sociedade um padrão estético corporal a ser seguido (FELIPPE, SANTOS, 2004).
HISTÓRICO DE UTILIZAÇÃO DOS ANOREXÍGENOS
Todavia, em uma sociedade representada por obesos, a fal-
Os anorexígenos anfepramona, mazindol e femproporex
ta de vontade de muitos para se submeter aos ideais de magre-
foram os primeiros fármacos aprovados para o tratamento da
za é grande, entregando-se cada vez mais ao prazer compulsivo
obesidade, introduzidos no mercado mundial há cerca de 50
de comer. Do mesmo jeito, se encontra uma sociedade preo-
anos, tendo, portanto um longo histórico favorável de uso (MU-
cupada com o corpo e a aparência física associada ao magro,
RER, 2010). Já a sibutramina foi aprovada em 1998 pelo Food
caracterizada pela negação da ingestão de alimentos (ALVES
and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano regula-
et al., 2009).
Conforme afirma Alves
et al., (2009, p.4) “na atualidade,
sobretudo na cultura ocidental, o conceito de beleza está associado à juventude, corpo magro e atrativo para as mulheres; e, corpo volumoso e musculoso para os homens”.
mentador de medicamentos, e registrada no Brasil em março de 2008, sendo o medicamento mais comercializado entre os demais emagrecedores (COUTINHO, 2009). O Brasil sempre esteve entre os principais países consumidores desses medicamentos, seguido dos Estados Unidos
Diante disso é normal que as pessoas queiram atingir esse
e Argentina. No período entre 2002 e 2004, o Brasil registrou
ideal de beleza, pois a rejeição da sociedade pelos obesos é
um consumo diário de 9,1 doses de anorexígenos por grupo de
bastante observada. Aqueles que não conseguem chegar a
mil habitantes, superando o consumo dos EUA (7,7 doses diá-
esse padrão corporal sofrem muito, ocorrendo, quase inevitavel-
rias definidas) e Argentina (6,7 doses diárias) por mil habitantes
mente, o desenvolvimento de transtornos alimentares, sentimen-
(UNODC, 2006).
tos de inferioridade, baixa autoestima, depressão, entre outras psicopatologias (ALVES, et
al., 2009).
Em relatório divulgado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) em 2005, foi relatado um aumento
Por razões estéticas e para melhorar a qualidade de vida, as
de 500% no consumo dos anorexígenos desde 1998. O relatório
pessoas buscam tratamentos de redução de peso. A estratégia
aborda também a venda ilícita dos medicamentos em farmácias
primária de redução de peso consiste em terapias comporta-
sem devida licença de funcionamento, onde a venda é realiza-
mentais, orientação dietoterápica e aumento de atividade física
da também pela internet, e sem prescrições médicas (ANVISA,
(LI, CHEUNG, 2009). As terapias comportamentais baseiam-se
2005).
em técnicas de ajuda, usadas para melhorar e reforçar os novos
Os anorexígenos são fármacos que atuam no sistema ner-
comportamentos alimentares e de atividade física (MANCINI,
voso central, suprimindo o apetite e, assim, reduzindo o peso.
HALPERN, 2006).
Deveriam ser indicados somente a pessoas com obesidade
Como auxiliares das medidas não farmacológicas, medi-
mórbida, porém o uso não se limita somente na condição clíni-
camentos também são indicados quando o tratamento não far-
ca. Os anorexígenos estão também relacionados ao uso instru-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 205
mental e recreacional (MURER, 2010) como, por exemplo, em
com ação no sistema nervoso central ou no sistema endócrino.
mulheres que, pela insatisfação e preocupação com o corpo,
A resolução n° 1477, de 11 de julho de 1997, do Conselho
fazem uso de forma abusiva dos medicamentos por meio da
Federal de Medicina, veda aos médicos a prescrição simultânea
automedicação e até mesmo por indicação médica (MELO, OLI-
de anfetaminas com benzodiazepínicos, diuréticos, laxantes,
VEIRA, 2011); por caminhoneiros profissionais que procuram
hormônios ou extratos hormonais, substâncias simpatolíticas ou
reduzir o sono e o cansaço em percursos de longa distância
parassimpatolíticas. É ainda proibido a prescrição, dispensação
(NASCIMENTO, NASCIMENTO, SILVA, 2007); por estudantes
e aviamento desses medicamentos, seja em preparação sepa-
que querem permanecer alertas para estudarem muitas horas
rada ou na mesma preparação,
sem dormir, e atletas que utilizam como doping nos esportes. O uso para tais finalidades se explica pelos seus efeitos esti-
que contenham esse tipo de associação para o uso exclusivo do tratamento da obesidade (CFM, 1997).
mulantes capazes de deixar a pessoa ligada e mais disposta,
Conforme a RDC n°58, de 5 de setembro de 2007, da ANVI-
além de aumentar a capacidade física dando força para praticar
SA, os medicamentos podem ser dispensados para tratamento
esportes. (MURER, 2010).
igual ou inferior a 30 dias. As doses diárias máximas permiti-
A prescrição dos medicamentos para fins de emagrecimen-
das para finalidade exclusiva de tratamento da obesidade eram:
to há muito tempo foi percebida como uma prática comum entre
femproporex 50,0 mg/dia, anfepramona120,0 mg/dia e mazindol
os médicos brasileiros, apesar das tentativas legais visando coi-
3,0 mg/dia.
bir o uso (NAPPO et al.,1994). A prescrição é um ato legal apro-
Já a RDC nº25, de 1 de julho de 2010, determina a dose
vado pelas autoridades sanitárias, o problema envolvido com
diária máxima de sibutramina permitida de 15 mg, podendo ser
ela está nas irregularidades de preenchimento por parte dos
dispensada quantidade correspondente a, no máximo, 60 dias
prescritores, e dispensação pelos estabelecimentos farmacêu-
de tratamento (ANVISA, 2010)
ticos, contribuindo para o uso irracional (CARNEIRO, JÚNIOR, ACURCIO, 2008).
Outra medida implantada, com o propósito de fortalecer o controle no consumo e venda dos medicamentos foi a imple-
O consumo elevado e abusivo dos medicamentos emagre-
mentação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos
cedores levou a necessidade de efetivação de medidas regula-
Controlados (SNGPC), publicado na resolução RDC nº. 27, de
doras que possibilitam um maior controle sobre a venda e pro-
30 de março de 2007, que possibilitou a interligação de dados
porcionam o uso racional de tais substâncias, de modo a evitar
referentes ao transporte e comércio em toda a cadeia produtiva
o uso danoso que os anorexígenos podem causar (CARNEIRO,
da indústria ao consumidor final (ANVISA, 2007).
JÚNIOR, ACURCIO, 2008).
Em 2010, o SNGPC divulgou dados do número de pres-
De acordo com a Portaria N° 344 do Ministério da Saúde, de
crições dos anorexígenos, totalizando 4.416.790 prescrições,
12 de maio de 1998, os medicamentos anfepramona, fempro-
incluindo medicamentos industrializados e manipulados. Pode
porex e mazindol estão incluídos na lista, “B2”, de substâncias
ser visto uma redução no valor total das prescrições quando
psicotrópicas anorexígenas (BRASIL, 1998).
comparados com o ano de 2009, cujo número era de 4.909.208
A Resolução RDC n° 13 de 26 de março de 2010 da ANVISA
receitas. A redução maior ocorreu com a sibutramina, mesmo
foi alterada e mudou a substância sibutramina, que antes esta-
que ainda se destaque como a mais consumida (ANVISA<a>,
va presente na lista “C1” (outras substâncias sujeitas a controle
2011).
especial), para a lista “B2” (psicotrópicas), para que esta substância tenha um controle de venda mais rígido (ANVISA, 2010).
Mesmo considerando as melhorias já implantadas no processo de controle na venda dos anorexígenos os riscos “conti-
A notificação de receita ”B2” (ANEXO 1, p.22), carimbada e
nuam existindo” para os pacientes que ainda os utilizam. Eles
preenchida de forma legível pelo vendedor e paciente, é retida
podem provocar reações indesejáveis no sistema nervoso cen-
na farmácia ou drogaria no ato da compra. É importante ressal-
tral, cardiovascular e gastrintestinal. Além disso, eles possuem
tar que a receita é numerada e solicitada pelo médico à Vigilân-
um elevado potencial para abuso, dependência, tolerância e
cia Sanitária, que cabe conceder ou não a quantidade solicitada
abstinência (BEHAR, 2002).
(BRASIL, 1998).
Devido ao alto potencial para dependência e tolerância,
De acordo com a Resolução n°273, de 30 de agosto de
os anorexígenos não são recomendados para tratamentos que
1995, do Conselho Federal de Farmácia, é proibida a manipu-
ultrapassem 8 a 12 semanas (CARNEIRO, JÚNIOR, ACURCIO,
lação de fórmulas magistrais, que contenham, em sua formula-
2008). Apenas a sibutramina foi aprovada para uso prolongado
ção, anorexígenos associados entre si ou a outras substâncias
(>12meses), por ser considerada mais segura, sem potencial
206 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
para abuso e dependência (FLIER, FLIER, 2009). A utilização
naram a retirada dos anorexígenos anfepramona, femproporex
desses medicamentos por longo período poderia ser justificada,
e mazindol e passaram a ser questionados quanto à segurança
desde que fossem seguros e efetivos para o paciente que apre-
pulmonar e outros riscos. Os países europeus não utilizam es-
senta grau de risco elevado de obesidade, associada a outras
ses medicamentos desde 1999.
doenças, e que houvesse um acompanhamento médico regular que intervisse no modo de uso (MANCINI, HALPERN, 2006).
Já a sibutramina não apresenta histórico associado a anormalidades valvulares ou hipertensão pulmonar (LI, CHEUNG,
Atualmente, os anorexígenos têm sido questionados quanto
2009). Geralmente os efeitos adversos provocados por ela são
à efetividade em longo prazo. Até hoje, nenhum estudo clínico
mais brandos, mais tolerados e de duração menor, quando
controlado e randomizado, envolvendo um número grande de
comparado com os anorexígenos noradrenérgicos, nos quais
pacientes, demonstrou que eles produzem benefícios à saúde
incluem; dor de cabeça, boca seca, insônia e prisão de ventre.
por um longo período. Embora causem perda de peso maior
A preocupação maior com seu uso, está relacionado a risco car-
nas primeiras semanas de tratamento, em torno de 0,2 kg por
diovascular, que inclui aumento da pressão arterial e frequência
semana, a redução de peso atribuível aos anorexígenos é em
cardíaca, em que uma dose de 10 a 15 mg/dia, pode levar a um
geral modesta, e uma recuperação parcial de peso ocorre quan-
discreto aumento da pressão de 2 a 4 mmHg, e na frequência
do eles são usados por período superior a um ano. Além disso,
cardíaca de 4 a 6 bpm (FLIER, FLIER, 2009).
em quase todos os casos, a perda de peso alcançada com ini-
Diante suspeitas de riscos cardiovasculares, a Agência
bidores de apetite é revertida, quando o tratamento é interrom-
reguladora de medicamentos da Europa (EMA), sugeriu ao fa-
pido e não são mantidas mudanças nos hábitos alimentares e
bricante Abbot (EUA), um estudo a longo prazo em que fosse
atividade física. Assim a terapia poderia ser justificada, se hou-
avaliado o efeito da sibutramina, associada a dieta e atividades
vesse necessidade de perder peso em curto prazo, como por
físicas sobre a morbimortalidade cardiovascular (CATERSON et
exemplo, antes da cirurgia bariátrica (DOUGLAS, MUNRO, 1982;
al., 2010).
MANCINI, HALPERN, 2002; PAUMGARTTEN, 2011).
O estudo denominado de SCOUT (Sibutramine Cardiovas-
A sibutramina é a única que vem demonstrando benefí-
cular Outcomes), que teve duração de 6 anos, foi um estudo
cios em longo prazo. Associada à dieta, induz a uma perda
randomizado, duplo-cego controlado por placebo, envolvendo
de peso, em torno de 5 a 9% inicial até 12 meses, e manuten-
10.744 pacientes com sobrepeso ou obesidade, com história de
ção por no máximo 2 anos em uso do medicamento (FLIER,
doença cardiovascular, diabetes mellitus tipo 2 ou ambos. Antes
FLIER,2009). Também está relacionada com a melhora de
da fase duplo cego, randomizado, os pacientes foram submeti-
fatores de riscos bioquímicos como: glicose plasmática, he-
dos a um período de seis semanas de testes preliminares, sim-
moglobina glicada, triglicerídeos, colesterol total, lipoproteína
ples cego recebendo 10 mg de sibutramina por dia. A perda de
de baixa densidade (LDL), e lipoproteína de alta densidade
peso média com a sibutramina durante o período de 6 semanas
(HDL) (LI, CHEUNG, 2011).
foi de 2,6 kg, e após a randomização foi alcançada e mantida
Além da questionável efetividade, os anorexígenos podem
uma redução de peso em média de 1,7 kg adicionais aos 12 me-
não ser seguros e provocar vários efeitos adveros importantes,
ses. Após este período ambos os grupos, sibutramina e placebo
como insônia, ansiedade, euforia, depressão, tremor, dor de
tiveram um aumento limitado no peso, mas a perda de peso
cabeça, episódios psicóticos, convulsões, palpitações, taqui-
alcançada foi mantida em grande parte ao longo do estudo (du-
cardia, hipertensão, dor torácica, arritmias, e reações menos
ração média de 3,4 anos). A pressão arterial e frequência cardí-
intensas como boca seca, náusea, vômito, dor abdominal,
aca diminuíram nas 6 primeiras semanas de teste em ambos os
diarreia e constipação (BEHAR, 2002). Entre os anorexígenos,
grupos, com reduções maiores no grupo placebo que sibutra-
o mazindol e a sibutramina são os que apresentam menos efei-
mina (diferença média 1.2/1.4mmHg) e (2.2/3.7batimentos por
tos grave e menor potencial para abuso, por não apresenta-
minuto). O risco de um evento de desfecho primário, que incluiu
rem relação com anfetamina (FLIER, FLIER, 2009; NADVORNY,
infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, ressuscitação
WANMACHER, 2004).
após parada cardíaca, e morte cardiovascular foi aumentada em
Casos de hipertensão pulmonar e valvopatias cardíacas já
16% no grupo sibutramina em comparação ao grupo placebo,
foram relatados com o uso de derivados anfetamínicos, como é
com incidência global de 11,4% e 10% nos dois grupos, res-
o caso da fenfluramina e dexfenfluramina que foram retiradas do
pectivamente. As taxas de infarto do miocárdio e AVC não fatais
mercado desde 1997(LI, CHEUNG, 2011). Segundo Nota Técni-
também foram aumentadas no grupo sibutramina com 4,1% e
ca ANVISA 2011, a partir desse achado, muitos países determi-
2,6% e 3,2% e 1,9% respectivamente, no grupo placebo. E com
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 207
relação a morte cardiovascular e ressuscitação após parada
cientes sem hipertensão e com hipertensão controlada o risco
cardíaca não foram observadas diferenças significativas entre
de efeitos adversos na pressão sanguínea também existe, po-
os grupos. O aumento no resultado primário de risco cardiovas-
rém o medicamento pode ser indicado desde que os pacientes
cular não fatal, ocorreu nos pacientes que havia a doença car-
sejam monitorados constantemente e avaliados 1 mês após o
diovascular, e nos pacientes com doença cardiovascular mais
início do tratamento (FLIER, FLIER, 2009).
diabetes tipo 2, mas não ocorreu nos pacientes diabéticos sem história de doença cardiovascular (JAMES et al ., 2010). Em janeiro de 2010 a EMA retirou a Sibutramina do mercado
PARECERES DA ANVISA E DE ENTIDADES MÉDICAS E FARMACÊUTICAS SOBRE OS ANOREXÍGENOS
europeu, devido aos resultados preliminares do estudo SCOUT
No dia 26 de outubro de 2010, a Câmara Técnica de Medi-
indicando riscos de eventos cardiovasculares graves, mas não
camentos (CATEME), se posicionou, por cancelar o registro dos
fatais. O Food and Drug Administration (FDA), manteve a sibu-
medicamentos contendo sibutramina, devido aos resultados do
tramina até a finalização do estudo SCOUT em setembro de
estudo SCOUT, e dos medicamentos anfepramona, fempro-
2010, e devido aos resultados demonstrando risco cardiovas-
porex e mazindol, por apresentarem baixo perfil de eficácia em
cular, no dia 8 de outubro de 2010 foi anunciado que a própria
longo prazo e o risco aumentado de consumo com o possível
empresa Abbot retiraria voluntariamente a sibutramina dos EUA.
cancelamento da sibutramina (ANVISA<a>, 2011).
(LI, CHEUNG, 2011). A mesma medida foi tomada pelo Canadá e Austrália (ANVISA<b>, 2011).
No dia 17 de fevereiro de 2011, a equipe técnica da ANVISA publicou a Nota Técnica sobre eficácia e segurança dos medi-
Pode-se concluir com o estudo SCOUT, que a sibutramina
camentos, que consta de estudos clínicos e meta-análises, e di-
pode aumentar a pressão arterial, frequência cardíaca ou ambos
vulgou os dados de notificação de reações adversas registradas
e provocar outros eventos cardiovasculares, devido aos seus
no Brasil com a utilização dos anorexígenos. Os dados podem
efeitos simpaticomiméticos, portanto não deve ser indicada a
ser vistos na Tabela 1 (ANVISA<a>,<b>, 2011).
pacientes com doenças cardíacas (JAMES, et al., 2010). Em pa-
Tabela 1- Dados de notificação de reações adversas no Brasil
De acordo com a Nota Técnica da ANVISA 2011, os estudos
peso perdido, além de mostrar pouca manutenção de redução
clínicos randomizados avaliando a eficácia dos medicamentos,
de peso em longo prazo. Em relação aos demais anorexígenos,
por períodos longos, maiores que um ano são poucos, mesmo
o femproporex, se destaca por não haver relato de estudos clí-
com a sibutramina que apesar de apresentar um maior número
nicos publicados, e não foram encontrados em nenhuma das
de estudos, os mesmos não demonstram melhora em desfe-
revisões e meta-análises avaliada.
chos de mortalidade e morbidade cardiovascular. A quantidade
No dia 23 de fevereiro de 2011, a ANVISA, realizou uma
média de redução de peso demonstrada nas meta-análises e
audiência pública envolvendo participantes que representam
estudos clínicos com a sibutramina é modesta, menor que 5kg,
classes médicas e farmacêuticas, para discutir sobre o pare-
e somente uma minoria de pacientes atinge pelo menos 10% de
cer da CATEME de retirar os anorexígenos, e apresentar a Nota
208 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Técnica que contém dados técnico-científicos sobre a questão
sibutramina (ANVISA, 2011).
da eficácia e segurança dos medicamentos, a fim de justificar o motivo de não apresentarem mais relação a favor do seu uso
CONCLUSÃO
(ANVISA<a>, <b>, 2011).
A obesidade é considerada um grave problema de saúde
Segundo a Nota Técnica 2011, as reações adversas graves,
pública, por atingir bilhões de pessoas no mundo, de diferentes
o risco de tolerância, dependência e abstinência, além da au-
classes sociais, trazendo sérios riscos à saúde. Portanto, é fun-
sência de estudos clínicos com padrão de qualidade regulatório
damental que medidas eficientes sejam tomadas para conter a
que comprovem a eficácia e segurança em longo prazo, tornam
obesidade, como por exemplo: investimento em educação da
a relação risco/benefício desfavoráveis.
sociedade para melhoria dos hábitos alimentares e prática de
Durante o processo de audiências e discussões, entida-
atividades físicas; através de propagandas e programas educa-
des médicas e farmacêuticas propuseram medidas contrárias
tivos permanentes que objetivem esclarecer sobre a obesidade,
ao de proibição dos medicamentos no mercado. O parecer de
suas causas, consequências, meios de prevenção e tratamento.
todos, foi de que a ANVISA aumente o controle sobre a prescri-
É importante ressaltar que a culpa por ser obeso não é unica-
ção e a venda dos anorexígenos, através de uma fiscalização
mente da pessoa como muitas das vezes é atribuível pela so-
rigorosa, que venha complementar as normas mais atuais (RDC
ciedade, mas inclui responsabilidades governamentais. Diante o
N°58/2007 e RDC N°25/2010), garantindo o acesso aos pacien-
fato é importante que politicas públicas efetivas sejam direciona-
tes que apresentam obesidade de grau de risco elevado que
das para minimizar o atual número de pessoas obesas.
não perdem peso somente com medidas não farmacológicas (PHARMÁCIA BRASILEIRA, 2011).
A obesidade crônica por ser é uma doença de difícil controle, muitas das vezes pressupõe o emprego de medicamentos.
Com a reação, principalmente da classe médica, a proposta
Porém, o tratamento farmacológico deve sempre visar auxiliar o
da ANVISA de retirar os medicamentos, foi adiada por mais al-
processo de mudança de estilo de vida que inclui dietas e exer-
gum tempo, e após alguns meses marcados por debates e audi-
cícios físicos, que são as medidas mais saudáveis e essenciais
ências públicas, a decisão final foi tomada durante uma reunião
no controle e perda de peso. Identificar os fatores causais da
pública da Diretoria Colegiada da ANVISA no dia 04 de outubro
doença também é imprescindível para que possamos interferir
de 2011. Ficou decidido retirar do mercado em um prazo de 60
e mudá-los.
dias as substâncias anfepramona, femproporex e mazindol e
O tratamento farmacológico deve ser compartilhado com
manter a sibutramina respeitando algumas condições (ABESO,
profissionais da saúde, como médicos, que possam realizar o
2011).
diagnóstico correto, com indicação e prescrição precisa, acom-
No dia 6 de outubro de 2011, foi publicada a RDC N°52 da
panhamento regular, além de dispensação e cuidado farma-
ANVISA, que se dispõe sobre o cancelamento dos três anore-
cêutico, como estratégia bem fundamentada de orientação no
xígenos com manutenção da sibutramina, porém com novas
modo de uso, acompanhamento e registro de pacientes, de for-
restrições, visando aumentar ainda mais o controle sobre ela
ma a evitar o uso abusivo e irracional do medicamento.
(ANVISA, 2011).
Os anorexígenos anfetamínicos não deveriam ser reco-
De acordo com a RDC N°52, a prescrição virá acompanha-
mendados, e não justificaria criar novas normas na tentativa
da de um termo de responsabilidade do prescritor, (ANEXO 2
de aumentar mais o controle, já que os riscos que eles podem
,p.26) a ser preenchida em três vias, devendo ficar arquivadas
causar são verdades científicas bem documentadas. Para a si-
no prontuário do paciente, na farmácia dispensadora e uma via
butramina, medicamento até então parcialmente efetivo e único
mantida com o usuário. Os profissionais de saúde que prescre-
mantido, foi implementada uma nova resolução que mantém as
vem o medicamento, assim como as empresas detentoras do
mesmas restrições existentes, mas com um termo de responsa-
registro e farmácias de manipulação ou drogarias, deverão no-
bilidade que informa bem sobre todos os riscos, restrição do uso
tificar ao Sistema Nacional de Notificações da Vigilância Sanitá-
e tempo limitado, no intuito de aumentar mais o controle sobre
ria (NOTIVISA), qualquer reação adversa relacionada ao uso da
ela e evitar danos à saúde.
sibutramina. Além disso, as empresas que possuem o registro
Diante os riscos apresentados pelos anorexígenos, a de-
da sibutramina terão 60 dias para encaminharem à ANVISA um
cisão da ANVISA de proibição dos três anorexígenos é a mais
plano de farmacovigilância para minimização de riscos de uso
viável, e a manutenção da sibutramina por enquanto é tolerável
do medicamento. Com base nesse plano, a ANVISA analisará,
sob um controle mais rígido. Porém outras soluções devem ser
em 12 meses, a segurança de uso dos medicamentos a base de
tomadas para que a proibição não traga problemas como; a pro-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 209
dução dos medicamentos sem a devida licença e fiscalização da vigilância sanitária e a venda ilícita. Portanto, o investimento em pesquisas de novos medicamentos que sejam eficazes, seguros e acessíveis é fundamental, diante da opção limitada de medicamentos para emagrecer, com a sibutramina e orlistate. ANEXO 1- Notificação de receita B2
ANEXO 2- RDC n° 52 e termo de responsabilidade do prescritor para uso do medicamento contendo a substância sibutramina
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NOTAS DE RODAPÉ *Aluna do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva **Professor do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva
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ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DA ATENÇÃO BÁSICA FRENTE AO CONTROLE DO CÂNCER UTERINO: revisão de literatura Camila Gomes de Paula1 Luciene Barra Ribeiro2 Maíra Cardoso Pereira3 Tatiana Bedran4
RESUMO: A incidência de câncer de útero tem aumentado no Brasil, representando assim um sério problema de saúde pública. Como o seu controle depende de ações voltadas para promoção da saúde, prevenção à doença e qualidade de vida, o papel do enfermeiro da atenção básica é de suma importância para o controle desta doença. Este estudo se baseia em uma revisão de literatura descritiva e prospectiva com abordagem qualitativa, tendo como objetivo descrever o papel do enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero no âmbito da atenção básica. A busca por referências foi realizada em bases eletrônicas de dados e sites especializados da área. O enfermeiro é quem irá organizar a assistência na prevenção a esta neoplasia, criando medidas eficazes na abordagem à mulher, planos específicos que superem as dificuldades existentes, além de criar vínculos através do Programa Saúde da Família (PSF). PALAVRAS – CHAVES: Enfermagem. Papanicolau. Neoplasias. Atenção básica. INTRODUÇÃO
tipo de câncer mais comum, atingindo o primeiro lugar em al-
A incidência de câncer tem aumentado de maneira con-
guns países em desenvolvimento e o sexto lugar em países de-
siderável em todo o mundo, tornando-se, atualmente, um dos
senvolvidos (MARTINS; THULER; VALENTE, 2005; TROTTIER;
mais importantes problemas de saúde pública nos países de-
FRANCO, 2006).
senvolvidos e em desenvolvimento.
Ainda de acordo Trottier (2006), as baixas condições socioe-
O câncer é uma doença que se caracteriza pela perda do
conômicas, o início precoce da atividade sexual, a multiplicidade
controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras
de parceiros, o tabagismo, a higiene íntima inadequada e o uso
estruturas orgânicas. Os fatores causais podem agir em con-
prolongado de contraceptivos orais são os principais fatores de
junto ou em sequência para iniciar ou promover o processo de
risco para o câncer de colo de útero, sendo que o vírus do papi-
carcinogênese, progredindo quando todos os mecanismos do
loma humano (HPV) está presente em mais de 90% dos casos.
complexo sistema imunológico de reparação ou destruição ce-
A prevenção relacionada a este tipo de câncer pode ser rea-
lular falham (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER - INCA, 2008;
lizada por intermédio do exame preventivo ginecológico, também
SILVA et al., 2008).
conhecido como Papanicolau. Este exame, se realizado correta-
O crescimento populacional, bem como seu envelhecimento, afetam de forma significativa a incidência do câncer no
mente e precocemente, permite reduzir em até 70% a mortalidade por esta doença (MARTINS; THULER; VALENTE, 2005).
mundo, já que o impacto global desta doença mais que dobrou
O controle do câncer de colo uterino depende de ações
em 30 anos. Esse impacto recai principalmente sobre os paí-
voltadas para a área de promoção à saúde, prevenção da do-
ses de médio e baixo desenvolvimento (BRASIL, 2009).
ença e qualidade de vida. O enfermeiro interfere nessas ações
De acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em
realizando, dentre outras, visitas domiciliares e a consulta de
Câncer (IARC), o impacto global do câncer mais que dobrou
enfermagem de forma humanizada e integralizada, explicando
em 30 anos. Estimou-se que, no ano de 2008, ocorreriam cer-
cada procedimento ao longo do exame Papanicolau. Dessa for-
ca de 12 milhões de novos casos e sete milhões de óbitos. O
ma, contribui para o melhor atendimento à população feminina,
câncer de próstata, seguido por pulmão, estômago, cólon e
encaminhando adequadamente as mulheres que apresentam
reto são considerados os mais comuns no sexo masculino. No
alterações citológicas, além de divulgar informações à popu-
sexo feminino, prevalece o câncer de mama, seguido do colo
lação em relação aos fatores de risco, ações de prevenção e
do útero, cólon e reto, estômago e pulmão (BRASIL, 2009).
detecção precoce do câncer. Sendo assim, o objetivo dessas
O câncer do colo do útero, também conhecido como câncer cérvico-uterino, representa cerca de 15% dos tipos de câncer que acometem as mulheres, sendo considerado o segundo
ações visa diminuir os fatores de risco, diagnosticar e tratar precocemente a doença (SILVA et al., 2008). Estas ações abrangem todos os níveis de atenção à saú-
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de, mas é na atenção básica que se torna possível o maior al-
Além das bases de dados eletrônicos utilizadas, foram re-
cance das mesmas, devido ao maior contato dos profissionais
alizadas novas buscas por mais fontes em livros, periódicos,
da saúde com a comunidade. Dentro deste âmbito, o Programa
manuais e protocolos sobre o tema em questão no acervo
Saúde da Família (PSF) é um Programa do Sistema de Saúde
bibliotecário do Centro Universitário Newton Paiva e em sites
Brasileiro que tem como objetivo reorientar o modelo assisten-
específicos, como do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e
cial, incluindo em sua prática a articulação entre a prevenção e
Ministério da Saúde.
a promoção da saúde, por meio da expansão e qualificação da
Para a seleção dos artigos, foram utilizados como critério
atenção primária, gerando assim, um cenário favorável à reorga-
de inclusão: artigos publicados entre os anos de 2004 a 2011;
nização do modo de rastreamento do câncer de colo do útero
escritos em língua portuguesa e inglesa, por serem as línguas de
(VALE et al., 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006).
domínio das autoras, além dos artigos disponíveis para consulta
Dentro deste contexto, Parada et al., (2008) explicam que o
na íntegra.
enfermeiro exerce papel essencial dentro das equipes de PSF e
Foram excluídos artigos com datas inferiores a 2004, aque-
a sua conduta ao longo do atendimento pode ser um fator deter-
les escritos em outros idiomas que não fossem os citados acima
minante na assistência prestada.
e que não estivessem disponíveis na integra.
Considerando que o câncer de colo uterino está listado como
Nos bancos de dados pesquisados foram encontradas
um dos principais tipos de câncer que acomete as mulheres e
35 referências em português e cinco em inglês. Após seleção
que representa um sério problema de saúde pública no Brasil, é
dos textos disponíveis em formato completo, e que atendes-
merecida uma atenção especial por parte dos enfermeiros que
sem aos critérios de inclusão, obteve-se um total de 25 arti-
atuam na atenção básica. Esses profissionais estão engajados
gos em português e dois em inglês, sendo utilizados para a
em todas as ações relacionadas a essa neoplasia, e, por inter-
construção deste trabalho 14 artigos em português e um ar-
médio de ações educativas com a participação da comunidade,
tigo em inglês pela pertinência com o tema proposto. Destes
o conhecimento sobre a doença é transmitido, dúvidas sobre a
artigos, oito foram encontrados na base de dados SCIELO,
realização do exame são esclarecidas e a comunidade descobre
quatro na base de dados LILACS, um na Revista Brasileira de
o quão significativo é a realização desta prevenção.
Cancerologia e um na Revista de Saúde Coletiva. Além dos
Desta maneira este trabalho tem como objetivo descrever, por meio de uma revisão de literatura, o papel do enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero no âmbito da atenção básica.
artigos selecionados, foram utilizadas referências publicadas no site do INCA e Ministério da Saúde. Dessa forma, para a análise e síntese do material selecionado, seguiram-se os seguintes passos: escolha do tema; determinação dos objetivos; elaboração do plano de trabalho;
2 Percurso Metodológico
identificação e localização das fontes; obtenção e leitura crítica
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva e prospec-
ou reflexiva do material; levantamento e análise da ideia principal
tiva com abordagem qualitativa, já que esta envolve conceitos
e dos dados significativos (GIL, 2010).
subjetivos e seus dados são agrupados a partir das descrições detalhadas de experiências (GIL, 2010).
3 Resultados e Discurssões
Este estudo se baseia em uma revisão de literatura que, de acordo com Gil (2010), é aquela pesquisa que é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído por livros e artigos científicos.
3.1 O CÂNCER CÉRVICO-UTERINO O câncer é uma doença genética crônico-degenerativa, cujo processo tem início com um dano a um gen ou a um grupo de
O estudo foi realizado a partir de buscas de publicações
genes de uma célula e progride quando todos os mecanismos
pertinentes ao tema na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) em
do complexo sistema imunológico de reparação ou destruição
base eletrônica de dados, entre os anos de 2004 a 2011.
celular falham (INCA, 2008; SILVA et al., 2008).
As bases utilizadas foram: Literatura Latino-Americana e do Cari-
O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação
be em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library
desordenada do epitélio de revestimento, comprometendo o te-
Online (SCIELO). Para a realização das buscas, foram utilizados
cido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos
os descritores: Enfermagem, Papanicolau, Neoplasias e Aten-
contíguos ou à distância (Brasil, 2009). Há duas principais cate-
ção básica. A busca pelos artigos ocorreu no período de feve-
gorias de carcinomas invasores do colo do útero, na dependên-
reiro a junho de 2011.
cia da origem do epitélio comprometido: o carcinoma epider-
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móide, tipo mais incidente e que acomete o epitélio escamoso, e o adenocarcinoma, tipo mais raro e que acomete o epitélio
condição sócio-econômica mais baixa.
Além deles, o Ministério da Saúde (2011), também afir-
glandular. O câncer de colo de útero é uma doença crônica que
ma que o aumento no número de casos da doença tem sido
pode ocorrer a partir de mudanças intraepiteliais e, em um perí-
sentido a partir de 1960, coincidente com o aumento do uso de
odo médio de cinco a seis anos, se transformar num processo
contraceptivos orais, diminuição do uso de outros métodos de
invasor, que se não for detectado a tempo pode causar inúme-
barreira e avanço tecnológico dos métodos diagnósticos.
ros danos ao organismo (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006). Com aproximadamente 500 mil novos casos por ano no mundo, o câncer do colo do útero está classificado como o se-
3.2 O EXAME PREVENTIVO
O exame preventivo é atualmente um dos mais efica-
gundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, perdendo
zes métodos de detecção precoce do câncer cérvico-uterino,
apenas para o câncer de mama. Este tipo de câncer é responsá-
por isso, sua realização de maneira sistemática é de suma im-
vel pela morte de 230 mil mulheres por ano no mundo, além de
portância para o controle desta neoplasia (BELO HORIZONTE,
apresentar uma média de 18.500 novos casos anuais no Brasil
2008).
(INCA, 2011).
Segundo Silva et al. (2010):
Como as principais alterações nas células do colo do útero
O exame preventivo foi descoberto por meio de estudos
são causadas pela infecção do vírus papiloma humano (HPV),
iniciados pelo Dr. George Nicolau em 1917, após anali-
vale destacar que sua prevalência na população em geral é alta:
sar alterações celulares das regiões da cérvix e vagina,
de cinco a 20% das mulheres sexualmente ativas mostram posi-
além de alterações apresentadas nas diferentes fases
tividade em testes moleculares (BRASIL, 2009).
do ciclo menstrual. Depois de vários estudos, o exame
O HPV é um vírus de transmissão frequentemente sexual,
preventivo passou a ser utilizado na década de 40, re-
capaz de provocar lesões de pele ou mucosas. Seu agente etio-
cebendo a denominação de exame de Papanicolau,
lógico é um vírus de DNA não cultivável do grupo papiloma vírus.
devido ao sistema de coloração utilizado, que consiste
Atualmente, são conhecidos, mais de 100 tipos diferentes des-
na coleta de material celular por meio de raspagem nas
ses vírus e cerca de 20 destes possuem tropismo pelo epitélio
regiões do fundo do saco vaginal, cervical e endocervi-
escamoso do trato genital inferior (colo, vulva, corpo do períneo, região perianal e anal) (PARADA et al., 2008).
cal (SILVA et al., 2010, p. 555).
A Secretaria Municipal de Saúde (BELO HORIZONTE, 2008),
No Brasil, existem cerca de seis milhões de mulheres entre
afirma que o HPV estabelece relações amplamente inofensivas
35 a 49 anos de idade, e que nunca realizaram o exame citopa-
com o organismo e a maioria das infecções passam desper-
tológico do colo do útero (Papanicolau), faixa etária onde mais
cebidas, pois são combatidas espontaneamente pelo sistema
ocorrem casos positivos de câncer do colo do útero. Como con-
imune, porém nem sempre os anticorpos são suficientemente
sequência surgem milhares de novas vítimas a cada ano. Isso
competentes para eliminar os vírus. Dessa maneira, o HPV pos-
ocorre na maioria das vezes em função da falta de informação
sui diversas formas de interagir com o organismo humano: na
da população acerca da importância da realização do exame
forma latente, a mulher não apresenta lesões clínicas. Assim, a
preventivo e por medo ou vergonha visto a exposição corporal.
única forma de diagnóstico é a molecular. Quando a infecção
A detecção precoce desta neoplasia ou das lesões precursoras
é subclínica, a mulher não apresenta lesões diagnosticáveis a
são muito importantes já que a cura pode chegar a 100% e na
olho nu, e o diagnóstico pode ser sugerido a partir da citopa-
maioria dos casos a detecção ocorre ainda em nível ambulato-
tologia, colposcopia ou histologia. Na forma clínica, existe uma
rial (BELO HORIZONTE, 2008).
lesão visível macroscopicamente, representada pelo condiloma
O exame é realizado no próprio Centro de Saúde pelo mé-
acuminado, com quase nenhuma potencialidade de progressão
dico ou enfermeiro treinado e apto para tal realização. Porém, é
para o câncer.
considerado, por muitas mulheres, um procedimento invasivo,
Trottier e Franco (2006) e Loureiro e Cruz (2008), afirmam
que gera medo, vergonha, ansiedade, desconforto e repulsa da
que entre os vários fatores de riscos para o aparecimento do
própria genitália, gerando prolongados adiamentos na procura
câncer do colo do útero, além da infecção pelo vírus papiloma
do serviço de saúde. Pensando nisso, é importante que o profis-
humano (HPV) como citado anteriormente, estão: o uso de con-
sional que realiza este exame, tenha uma postura técnica e ética
traceptivos orais, a precocidade referente ao início da vida se-
no sentindo de preservar a privacidade da cliente, posicioná-la
xual, a multidisciplidade de parceiros sexuais, o tabagismo e a
em uma posição confortável, além de ser capaz de explicar os
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 215
procedimentos realizados, observando sempre se a paciente compreendeu essas explicações (EDUARDO et al., 2007; LOUREIRO; CRUZ, 2008).
al. 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006). O trabalho desenvolvido é multiprofissional: os profissionais inseridos neste programa articulam suas práticas e saberes no
Estima-se uma redução de até 80% na mortalidade por este
enfrentamento de cada situação identificada para propor solu-
câncer a partir do rastreamento de mulheres na faixa etária de 25
ções conjuntamente e intervir de maneira adequada, já que to-
a 65 anos para a realização do Papanicolau e para o tratamento
dos conhecem a problemática. O enfermeiro é um membro fun-
das lesões precursoras com alto potencial de malignidade ou
damental nesta equipe, planejando, gerenciando, coordenando
carcinoma in situ. Para tanto, é necessário garantir a organiza-
e avaliando as ações e os programas desenvolvidos nessas
ção, a integralidade, a qualidade do programa de rastreamento,
unidades. Juntamente com a equipe, decide as intervenções
bem como o tratamento das pacientes (BRASIL, 2009).
necessárias (OLIVEIRA; SPIRI, 2006; ROCHA; ARAÚJO, 2007).
3.3 A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO BÁSICA
afirmam que o enfermeiro é quem irá organizar a assistência
Loureiro e Cruz (2008), Beghini et al., (2008) e INCA (2010), A Atenção Básica à Saúde possui um papel estratégico no
desenvolvendo métodos estratégicos e criativos para a realiza-
controle do câncer no país, pois atua em várias dimensões da
ção do rastreamento das usuárias do Centro de Saúde, incen-
linha de cuidados para esta doença. Conforme a portaria que
tivando-as a realizarem o exame periódico, pois este é o fator
instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO) a
primordial para o sucesso do programa relacionado ao câncer
Atenção Básica envolve “ações de caráter individual e coletivo,
cérvico-uterino.
voltadas para a promoção da saúde e prevenção do câncer,
Ainda de acordo com os autores, o enfermeiro também,
bem como ao diagnóstico precoce e apoio à terapêutica de tu-
deve expor cartazes que demonstrem as técnicas utilizadas
mores, aos cuidados paliativos e às ações clínicas para o segui-
nos exames; fornecer informações para o momento da coleta;
mento de doentes tratados” (BRASIL, 2009, p. 24).
criar espaços de privacidade durante a consulta; identificar e
A atuação do enfermeiro neste setor é focada na prevenção
treinar profissionais sensibilizados para convencer as mulheres
primária, pois este é o ponto primordial para o controle da neo-
que estão na sala de espera a realizarem o exame; incentivar
plasia em questão. Sendo assim, a Secretaria Municipal de Saú-
adoção de hábitos saudáveis como alimentações adequadas
de (BELO HORIZONTE, 2008), define prevenção primária, como
e exercícios físicos regulares. Além disso, deve contribuir para
sendo o ato de se evitar o aparecimento da doença por meio da
a educação da população a respeito do uso de preservativo e
intervenção no meio ambiente e em seus fatores de risco, como
identificá-lo como um dos principais instrumentos preventivo, já
o estímulo ao sexo seguro, correção das deficiências profissio-
que a infecção do HPV tem papel relevante no desenvolvimento
nais, diminuição à exposição ao tabaco e incentivos a realização
desta neoplasia, uma vez que o vírus está presente em 90% dos
do exame preventivo.
cânceres cervicais.
Esse tipo de prevenção tornou-se mais eficaz a partir do
Nesse contexto, percebe-se como a presença do profissio-
Programa Saúde da Família (PSF), que tem como objetivo reo-
nal enfermeiro inserido no PSF vem sendo resolutiva para a pre-
rientar o modelo assistencial mediante a implantação de equi-
venção e controle desta neoplasia e, quanto mais abrangente
pes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Diante
for o programa e mais atuante for o enfermeiro, melhor será o
disso, incluiu em sua prática métodos de prevenção e promoção
resultado dessas ações (LOUREIRO; CRUZ, 2008).
à saúde baseados na atenção primária, gerando assim um ce-
Neste sentido, torna-se imprescindível o adequado preparo
nário favorável à reorganização do controle a esta doença (VALE
da equipe de enfermagem para as demandas do cuidar des-
et al. 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006).
ta clientela. O enfermeiro é um dos profissionais responsáveis
Além disso, este programa visa estabelecer vínculos entre
pelo processo educativo da comunidade, sendo de sua com-
as equipes de referências e as famílias por meio das visitas do-
petência divulgar informações a respeito dos fatores de riscos,
miciliares, objetivando uma maior resolubilidade da atenção, um
desenvolver ações de prevenção e detecção precoce, orientar
maior acompanhamento da saúde das mulheres, além de per-
modelos de comportamentos e hábitos saudáveis para a saúde
mitir uma maior sensibilização e compreensão quanto à realiza-
da mulher. Além disso, este também deve estar apto a detectar
ção periódica da citologia oncótica preventiva. No contexto do
situações de risco durante o acolhimento ou durante a consulta
rastreamento, isso possibilitaria a identificação e busca ativa das
ginecológica (BEGHINI et al., 2006; BELO HORIZONTE, 2008).
pacientes sob risco e sem controles, sendo o enfermeiro um dos
3.4 AÇÕES DO ENFERMEIRO RELACIONADAS
membros mais importantes na realização desta busca (VALE et
AO CÂNCER CÉRVICO-UTERINO
214 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
Eduardo et al., (2007) afirma que durante a consulta o enfermeiro deve realizar uma completa anamnese, preparar o cliente
qualidade de vida da mulher (PARADA et al., 2008; BEGHINI et al., 2006; BELO HORIZONTE, 2008).
para o exame, realizar a técnica da coleta propriamente dita, ser capaz de perceber intercorrências, observar a necessidades de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
se realizar encaminhamentos e ao final da consulta enfatizar a
Pela caracterização das publicações analisadas percebe-se
importância do retorno em tempo adequado. Durante a realiza-
que o câncer do colo do útero é um problema de saúde pública
ção do exame é necessário criar um vínculo com o paciente para
e que mesmo existindo no Brasil um programa de rastreamento
que a consulta se torne mais humanizada e para que a cliente se
para realização do exame preventivo, este ainda não é totalmen-
sinta mais a vontade.
te eficaz. Dessa forma, destaca-se a permanente qualificação,
Dessa maneira, deve ser capaz de desenvolver ações volta-
responsabilidade e compromisso ético dos profissionais de en-
das para os indivíduos assintomáticos, buscando assim prevenir
fermagem, já que eles possuem um papel significativo dentro
o câncer conforme prevenção primária, ou seja, controlando a
das equipes de PSF. Somente o enfermeiro preparado pode ga-
exposição aos fatores de risco e realizar o rastreamento adequa-
rantir a prática e o compromisso desse programa, por meio da
do para detecção das lesões precursoras em fase inicial como
elaboração de planos específicos que superem as dificuldades
citado anteriormente. Mas, a mais importante de todas as ações,
existentes e criem novas estratégias para a captura do número
é a realização do diagnóstico precoce, que engloba medidas de
máximo de mulheres.
identificação de indivíduos sintomáticos com câncer em estágio
Destaca-se a importância da prevenção a esta neoplasia e
inicial. Dessa forma, o conjunto dessas ações é denominado
percebe-se que ela engloba todos os níveis de assistência, po-
detecção precoce e resulta na positividade do tratamento (PA-
rém é na assistência básica e especificamente no Programa de
RADA et al., 2008).
Saúde da Família que se executam as maiores ações de preven-
Ainda de acordo com Parada et al., (2008), o enfermeiro
ção ao câncer de colo do útero. Estas ações englobam deste o
também tem um papel relevante no acompanhamento de indi-
recrutamento das mulheres, passando pelas ações educativas,
víduos sob tratamento. As ações de cuidados paliativos devem
consultas de acordo com o protocolo até a realização do exame
ser inseridas também na atenção primária e envolvem um apoio
e seus devidos encaminhamentos em caso de complicações.
multidimensional (físico, espiritual, psicológico, social e afetivo)
Ao que se relaciona à prevenção do câncer cérvico-uterino,
aos indivíduos portadores desta neoplasia e seus familiares.
cabe aos enfermeiros mobilização, envolvimento e prática tan-
Dessa maneira, cabe a este profissional dar o suporte adequa-
to ao atendimento da clientela quanto na efetuação regular do
do e encaminhar a paciente e seus familiares para o núcleo de
exame preventivo conforme preconizado, lembrando-se sem-
psicologia quando necessário.
pre das ações educativas ao longo das consultas. Além disso,
Dessa forma, resumem-se as principais funções dos en-
o enfermeiro deve ser capaz de trabalhar em equipe e estar à
fermeiros da atenção básica relacionados ao câncer de colo
frente das discussões sobre as intervenções a serem realizadas.
uterino: conhecimento das ações de controle desta neoplasia;
Suas ideias devem ser expostas sempre em busca da melhora
planejamento e programação de ações de controle com prio-
da qualidade de vida da mulher e também da valorização e re-
rização dos critérios de risco; vulnerabilidade e desigualdade;
conhecimento de seu trabalho.
tomar condutas éticas de acordo com os protocolos existentes
Com essas ações o enfermeiro contribui de forma funda-
no que diz respeito à promoção, prevenção, rastreamento, diag-
mental para a melhoria dos indicadores de saúde e com o su-
nóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos; conhecer
cesso do programa de prevenção a esta neoplasia.
os hábitos de vida, valores culturais e religiosos da comunidade, para tornar o acolhimento mais humanizado; valorizar os dife-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
rentes saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem in-
BEGHINI, A. B. et al. Adesão das acadêmicas de enfermagem à prevenção do câncer ginecológico: da teoria à prática. Texto Contexto Enferm., v. 15, n. 4, p. 637 – 644, out./dez. 2006.
tegral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos com ética, compromisso e respeito; desenvolver atividades educativas sendo elas individuais e coletivas; realizar acompanhamento do estado de saúde das mulheres através das visitas domiciliares, e principalmente, ser capaz de trabalhar em equipe, integrando áreas de conhecimento e profissionais de diferentes formações, buscando dessa forma o atendimento integral e a melhora da
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NOTAS DE RODAPÉ 1. Graduadas do Curso de Enfermagem, Centro Universitário Newton Paiva, 1º Sem.2011 2. Graduadas do Curso de Enfermagem, Centro Universitário Newton Paiva, 1º Sem.2011 3. Graduadas do Curso de Enfermagem, Centro Universitário Newton Paiva, 1º Sem.2011 4. Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFMG. Especialista em Terapia Intensiva e Nefrologia. DOCENTE do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Newton Paiva.
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214 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
A UTILIZAÇÃO DE ADALIMUMABE E ETANERCEPTE PARA ARTRITE REUMATÓIDE NO SUS: eficácia terapêutica ou pressão judicial? Mariana Ferreira Pinto Vianna Falconetti 1 Elias Borges do Nascimento Júnior 2
RESUMO: A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória, auto-imune, multissistêmica, crônica, de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. O objetivo deste artigo foi discutir a utilização e a interferência da judicialização na incorporação de Adalimumabe (ADA) e Etanercepte (ETP) para a Artrite Reumatóide no Sistema Único de Saúde através de uma revisão bibliográfica da utilização destes medicamentos para esta doença nos sites de busca Bireme e Pubmed e através dos dados da pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais. Foram analisados 14 estudos atestando a eficácia e segurança, 5 a segurança e 3 a efetividade desses medicamentos. Destes 22 estudos, 17 foram patrocinados pelas indústrias fabricantes e 5 financiados pelo Departamento de Ciência e Tecnologia. Ademais, das 4.386 ações contra a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais analisadas pelo Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais, 5% (218) pleiteava-se ADA e em 2% (85) ETP para Artrite Reumatóide que se concentravam no ano de 2006. A atualização dos protocolos clínicos se faz necessária pela avaliação de novas tecnologias que apresentem sólidas evidências científicas de eficácia, segurança e efetividade, garantindo o uso racional desses medicamentos e possibilitando a melhor distribuição de recursos dentro da assistência farmacêutica. PALAVRAS-CHAVE: Artrite reumatóide; Judicialização da saúde; Adalimumabe; Etanercepte.
1 INTRODUÇÃO
adalimumabe (ADA). Os antimaláricos, a sulfasalazina e o MTX
A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória, auto-
são considerados Fármacos Anti-reumáticos Modificadores da
imune, multissistêmica, crônica, de etiologia desconhecida,
Doença (DMARD). Porém, recomenda-se seguir a estratégia de
caracterizada por poliartrite periférica simétrica, que leva à de-
tratamento escalonada de combinação de múltiplos medica-
formidade e à destruição das articulações por erosão do osso
mentos de diferentes classes. O escalonamento recomendado,
e cartilagem (ARNETT et al., 1988; ARNETT, 1997; LAURINDO
segundo a Portaria nº 66/2006 é:
et al., 2002; LIPSKY, 2009).
a) uso de um DMARD (antimalárico, sulfasalazina ou MTX);
A Portaria número 66 de 1º de novembro de 2006 do Mi-
b) uso de analgésicos e anti-inflamatórios não-esterói-
nistério da Saúde estabelece o protocolo clínico e as diretri-
des se necessário
zes terapêuticas para o tratamento da AR. Ela traz critérios de
enquanto aguarda efeito máximo dos DMARD;
diagnóstico e tratamento, racionaliza a dispensação dos me-
c) aumento de dose do DMARD;
dicamentos preconizados para o tratamento da doença, re-
d) troca de DMARD (usar MTX se este não havia sido
gulamenta suas indicações e seus esquemas terapêuticos e
utilizado anteriormente);
estabelece os mecanismos de acompanhamento de uso e de
e) uso de corticóide intra-articular se sintomas forem
avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura
pauci-articulares;
e eficaz. Essa Portaria revoga aquela de número 865 de 2002
g) associação de DMARD;
(BRASIL, 2002; BRASIL, 2006 <a>).
h) uso de agentes anti-citocinas (BRASIL, 2006 <a>).
No Protocolo para AR estabelecido pelo Sistema único de Saúde (SUS) através da Portaria de nº 66/2006 os seguintes
O uso simultâneo de dois ou mais agentes de uma mes-
medicamentos são disponibilizados: antimaláricos (cloroqui-
ma classe está normalmente reservado aos DMARD. No caso
na e hidroxicloroquina), sulfasalazina, metotrexato (MTX), ci-
desse grupo de medicamentos, considera-se a necessidade
closporina, leflunomida, infliximabe (IFX), etanercepte (ETP) e
de aumento de dose e/ou troca de representante dos DMARD
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 219
somente após 4-6 semanas de tratamento para que se possa
Descrever e discutir como é realizada a incorporação de novas
observar uma resposta terapêutica. As combinações mais uti-
tecnologias pelo SUS neste contexto, relatar como foi realizada a
lizadas de DMARD são: sulfasalazina e antimaláricos; sulfasa-
incorporação dos medicamentos ADA e ETP na relação dos Medi-
lazina e MTX; antimaláricos, sulfasalazina e MTX; ciclosporina e
camentos de Alto Custo do Ministério da Saúde; levantar questio-
MTX; leflunomida e MTX; agentes anti-citocinas e MTX. Entretan-
namentos sobre a interferência da judicialização na incorporação
to, para os pacientes com contra-indicações para o uso de MTX,
de novas tecnologias nas políticas públicas de saúde.
são consideradas as seguintes combinações: antimaláricos e sulfasalazina; leflunomida e agentes anti-citocinas (BRASIL,
3 Metodologia
2006 <a>). Tem sido demonstrado que na ocorrência de falha
Foi realizada uma revisão bibliográfica da utilização desses
terapêutica de um dos três agentes anti-citocinas a troca por
medicamentos para a Artrite Reumatóide nos sites de busca Bi-
um outro não traz benefícios adicionais, uma vez que a resposta
reme e Pubmed utilizando as seguintes palavras-chave artrite
terapêutica se mantém insuficiente (DONAHUE et al., 2008).
reumatóide Adalimumabe e/ou artrite reumatóide Etanercepte,
Ademais, antes de se considerar o uso de agentes anti-ci-
no primeiro, e rheumatoid arthritis (artrite reumatóide) Adalimu-
tocinas em pacientes com doença ativa, apesar do uso do MTX,
mab e/ou rheumatoid arthritis (artrite reumatóide) Etanercept, no
o uso de terapias adjuntas como o uso de corticóides via intra-
segundo, tendo como critérios de inclusão textos completos de
articular deve ser considerada (BRASIL, 2006 <a>).
estudos randomizados e revisões.
A Portaria nº 66/2006 incorporou ao protocolo medicamen-
Foi conduzida também uma busca no Sistema de Legisla-
tos antes inexistentes naquele estabelecido pela Portaria nº
ção do Ministério da Saúde, Saúde Legis, das legislações que
865/2002, ETP e ADA, que surgiram recentemente no mercado
regulamentam a utilização de medicamentos para artrite reuma-
(BRASIL, 2006 <a>). Antes dessa incorporação muitos pacien-
tóide e a incorporação de novas tecnologias em saúde. A busca
tes pleiteavam esses medicamentos através de ações judiciais
foi feita pelo número e ano das portarias encontradas na secção
contra a SES/MG por serem de alto custo. Atualmente eles tam-
de “Novas tecnologias” do site do Ministério da Saúde.
bém são pleiteados para outras doenças como Espondilite Anquilosante, Artrite Psoriásica e Doença de Crohn.
Para a verificação da interferência da judicialização na incorporação de Adalimumabe e Etanercepte para a Artrite Reuma-
Os dados da pesquisa “Impacto das ações judiciais na po-
tóide no Sistema Único de Saúde foram utilizados dados levan-
lítica nacional de assistência farmacêutica: gestão da clínica e
tados no projeto desenvolvido pelo GPES/UFMG “Impacto das
medicalização da justiça” realizada pelo Grupo de Pesquisa em
ações judiciais na política nacional de assistência farmacêutica:
Economia da Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais
gestão da clínica e medicalização da justiça”, desenvolvido em
(GPES/UFMG), desenvolvido em parceria com a Secretaria de
parceria com a SES/MG. Nessa coleta de dados, realizada du-
Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) demonstram a
rante o período de fevereiro a outubro de 2009, foram analisadas
importância da AR e da incorporação de novas tecnologias em
6.344 ações judiciais ativas movidas contra a SES/MG armaze-
saúde pública. Foram analisadas todas as ações movidas con-
nadas em um banco de dados utilizando o software Microsoft
tra o Estado de Minas Gerais de 29 de outubro de 2009 até 22 de
Office Access® e analisadas através do software Excel® 2007.
outubro de 2009 totalizando 6.344 ações, porém para esse arti-
Dessas 6.344 ações, foi retirada uma amostra de 4.386 ações
go foram analisadas 4.386 ações. Desse universo, 7% (303) das
para o presente artigo.
ações eram referentes aos pacientes portadores de AR, em 5% (218) dessas pleiteava-se Adalimumabe e em 2% (85) pleiteavase Etanercepte. Nesse contexto, cabe ao gestor estadual, amparado pela
4 Resultados e Discussão 4.1 INCORPORAÇÃO DOS MEDICAMENTOS ADALIMUMABE E ETANERCEPTE NO SUS
Comissão Estadual de Farmácia e Terapêutica, a definição de
4.1.1 DADOS DA PESQUISA REFERENTES AOS MEDICAMENTOS ADA-
qual dos medicamentos será disponibilizado na rede estadual
LIMUMABE E ETANERCEPTE
de serviços gerenciando gastos e adequando os programas de
Foram analisados os pedidos dos medicamentos ADA e ETP
saúde às necessidades da população (BRASIL, 2006 <a>, MI-
através de ações judiciais. O medicamento ADA foi pleiteado em
NAS GERAIS, 2009). Para tal, são necessários investimentos na
6% (280) das 4.386 ações contra a SES/MG e o medicamento
pesquisa para a incorporação de novas tecnologias.
ETP em 5% (235) dessas ações (GRÁFICO 1). Esses medicamentos são pleiteados para: Artrite Reumatóide em 58,8% (303)
2 OBJETIVOS
das ações, Espondilite Anquilosante em 20,58% (106), Psoríase
220 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
10,29% (53), Artrite Psoriásica em 6% (31), Artrite Reumatóide
ressaltando a importância do estudo da eficácia, segurança e
Juvenil em 1,94% (10), Espondiloartropatia em 1,17% (6), Do-
efetividade desses medicamentos para essa doença. Das 4.386
ença de Crohn em 0,78% (4), Espondilite Psoriásica em 0,19%
ações contra a SES/MG o medicamento ADA é pleiteado para
(1), Polimiosite Juvenil 0,19% (1) TABELA. A maioria das ações
AR em 5% (218) das ações e o medicamento ETP em 2% (85)
pleiteando ADA e ETP é para o tratamento da Artrite Reumatóide
(GRÁFICO 2).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 221
Os pedidos desses medicamentos para AR se concentram
ta de conhecimento da sua inclusão no protocolo por parte do
nos anos anteriores à 2007. Em 2004, o medicamento ADA foi
médico, do advogado e/ou do juiz ou desembargador que de-
pleiteado em 2 ações e o ETP em 12 ações, já em 2005 o ADA foi
feriu tal pedido; em 2008, o ADA foi pleiteado em 10 ações e o
pleiteado em 66 ações e o ETP em 15 ações; em 2006 o número
ETP em 6 ações; e até agosto de 2009, o ADA foi pleiteado em
de ações pleiteando ADA atinge o máximo, com 92 ações e o
2 ações e o ETP não foi pleiteado (GRÁFICO 3). Tal cenário é
ETP foi pleiteado em 21 ações; em 2007 inicia-se o declínio das
justificado pelo fato desses medicamentos ainda não estarem
ações pleiteando ADA, foram 48 ações, para o medicamento
incluídos no Protocolo do Ministério da Saúde para AR, o que
ETP ainda não havia declínio, foram 29 ações, talvez pela fal-
ocorreu através da Portaria no 66/2006.
Em um estudo proposto por Romero em 2008, as artropa-
madamente, 1% da população, fossem tratados com ADA, ETP
tias, como a AR, foram responsáveis por 8,1% das ações no pe-
ou IFX seriam gastos R$ 98.766.724.373,58. Levando em consi-
ríodo de 2001 à 2005, sendo o terceiro grupo de doenças mais
deração dados do Sistema de Informações sobre Orçamentos
frequente nas ações judiciais. O primeiro grupo é o de pacientes
Públicos em Saúde (SIOPS) de 2004 que demonstram que se
com cânceres (16,3% das ações) e de pacientes com hepati-
gastou 85,7 bilhões de reais com ações e serviços públicos de
te C (9,0%). Em estudo proposto por Chieffi e Barata em 2009,
saúde (internação, diagnóstico, tratamento, cirurgias, ações de
os medicamentos ADA e ETP geraram mais de trinta processos
educação em saúde, vigilância sanitária e epidemiológica, entre
cada um. Esses dados reforçam a importância dos medica-
outras) financiadas com recursos próprios de municípios, esta-
mentos recentemente incluídos no protocolo e da AR em saúde
dos e União. Gastar-se-ia mais do que o inteiro orçamento com
pública e ressalta também a importância da existência de um
somente 1% da população para tratar uma doença (adaptado
protocolo atualizado para essa doença.
de FERRAZ;VIEIRA, 2009; SIOPS, 2004).
A incorporação desses medicamentos contribuiu para a
A incorporação desses medicamentos foi importante por per-
diminuição do número de ações referentes à eles, o que é de
mitir o melhor planejamento, porém, levantou questões como o
grande importância para a SES/MG, uma vez que foi possível
motivo dessa incorporação, assim como a maneira pela qual são
organizar melhor os gastos em saúde (GRÁFICO 3). Os pacien-
realizadas as incorporações de tecnologias em saúde no SUS.
tes passaram a ser atendidos pelo programa de medicamentos de alto custo através de um protocolo clínico permitindo o pla-
4.2 INCORPORAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO SUS
nejamento dos gastos. O planejamento não ocorria quando os
Primeiramente, os medicamentos são registrados na Agên-
medicamentos eram pleiteados através de ações por não ser
cia de Vigilância Sanitária (ANVISA). Depois de registrados, não
possível prever a quantidade de pacientes que seriam atendidos
significa que os medicamentos serão automaticamente incorpo-
através de ações uma vez que a judicialização é um fenômeno
rados à lista do SUS. Para que isso venha a acontecer, precisam
oscilante. A importância da incorporação dentro de um protoco-
antes passar por um processo de avaliação, em que, além dos
lo é notável tendo-se em vista a seguinte estimativa realizada por
critérios de segurança e eficácia mensurados em condições ide-
Ferraz e Vieira: se todos os pacientes com AR no Brasil, aproxi-
ais de laboratório, serão considerados a efetividade e o custo-
222 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
efetividade do medicamento (BRASIL, 2009 <b>).
medicamentos de alto custo da Secretaria de Estado da Saúde
O Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministé-
do Paraná. Na avaliação custo-efetividade foram encontrados
rio da Saúde tem a atribuição de definir diretrizes e promover a
os seguintes custos por Quality-Adjusted Life-Years (QALY) R$
avaliação tecnológica visando a incorporação de novos produ-
511.633,00, R$ 437.486,00 e R$ 657.593,00 para ada, etP e IFX,
tos e processos pelos gestores, prestadores e profissionais dos
respectivamente. A relação custo-efetividade incremental por
serviços no âmbito do SUS. Dessa forma, foi criado o Grupo
QALY foi R$ 628.124,00, R$ 509.974,00 e R$ 965.927,00 para
Permanente de Trabalho de Avaliação de Tecnologias em Saúde
ada, etP e IFX, respectivamente. Os valores apresentados para
(GT ATS), com o objetivo de definir prioridades de estudos de
ETP e o ADA são próximos segundo as análises de sensibilidade
Avaliação de Tecnologias em Saúde de interesse para o SUS
realizada pelos pesquisadores. O impacto orçamentário semes-
(BRASIL, 2009 <b>).
tral no ano de 2008 dos medicamentos foram, para cada trata-
Este grupo, coordenado pelo Departamento de Ciência e
mento, MTX: R$ 138,00; ADA: R$ 22.550,00; ETP: R$ 27.931,00;
Tecnologia (DECIT) é constituído por representantes das Secreta-
e IFX: R$ 19.698,00. Dessa maneira, conclui-se que estes me-
rias de Atenção à Saúde, de Ciência, Tecnologia e Insumos Estra-
dicamentos devem continuar sendo disponibilizados pelo SUS,
tégicos (SCTIE), de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde,
porém avaliando-se outras terapias mais custo-efetivas, como a
de Vigilância em Saúde e Executiva e pela ANVISA e Agência de
do MTX, antes de utilizar as anticitocinas para uma melhor alo-
Vigilância da Saúde Suplementar (BRASIL, 2009 <b>).
cação dos recursos (BRASIL, 2011).
O GT ATS utiliza três critérios básicos para eleição de tecno-
Outro projeto concluído foi “Implantação de centro multidis-
logias a serem avaliadas: a) aquelas em desenvolvimento ou em
ciplinar de dispensação de medicação de alto custo” desenvol-
fase de pré-registro na ANVISA; b) as incorporadas no sistema de
vido pela Secretaria de Saúde de São Paulo em que o objetivo
saúde, mas com necessidade de avaliação econômica ou com
foi a implantação o Centro Multidisciplinar de Dispensação de
necessidade de avaliação da efetividade em novas indicações; e
Medicação de Alto Custo com a proposição de algoritmos de
c) as registradas com pressão por incorporação. Esses critérios
indicação e de acompanhamento de pacientes para o uso de
têm como objetivo priorizar estudos que vão ao encontro das es-
medicamentos imunobiológicos. Foram criados 4 algoritmos
tratégias e necessidades do SUS (BRASIL, 2009 <b>).
de indicação de imunobiológicos para artrite reumatóide, artrite
No caso do ADA e ETP, a relevância e o impacto da incor-
reumatóide juvenil, artrite psoriásica e espondilite anquilosan-
poração dessas tecnologias no SUS e a existência de sólidas
te. O Centro Multidisciplinar é o local referência da Secretaria
evidências científicas preliminares de eficácia, segurança e efe-
de Saúde para atendimento dos processos administrativos da
tividade da tecnologia proposta, evidenciaram que havia neces-
mesma relacionados à Reumatologia na Cidade de São Pau-
sidade de avaliação dessas tecnologias (BRASIL, 2006 <b>).
lo, o que retrata a importância dos algoritmos em doenças que
Desta forma, o DECIT/ SCTIE requisitou a avaliação da utilização
possuem uma variedade de medicamentos disponíveis o trata-
do ADA e do ETP (BRASIL, 2011).
mento, como é o caso da AR, possibilitando o uso racional dos recursos no SUS (BRASIL, 2011).
4.2.1 AVALIAÇÕES DA UTILIZAÇÃO DE ADALIMUMABE E ETANERCEP-
Já no projeto “Agentes Biológicos no Tratamento da Artrite
TE PARA ARTRITE REUMATÓIDE NO SUS PATROCINADOS PELO DE-
Reumatóide no Sistema Único de Saúde (ABTAR-SUS)” desen-
PARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
volvido pela Universidade de São Paulo em que o objetivo espe-
Para a avaliação da utilização de ADA e ETA para AR no
cífico foi estimar o impacto orçamentário-financeiro dos produ-
SUS foram encontrados 4 projetos financiados pelo DECIT de
tos ADA, ETP e IFX, usados na AR e relacionados no programa
ambos os medicamentos e 1 revisão sistemática em que foi
de dispensação de medicamentos de alto custo do Ministério
avaliado somente o medicamento ADA. Desses, 3 projetos e a
da Saúde do Brasil. Foi observado que é necessário tratar 10
revisão sistemática foram concluídos e 1 projeto está em anda-
pacientes com ADA para obter a resposta favorável de um pa-
mento. (BRASIL, 2011).
ciente, gastando-se R$560.972,50. Já para o ETP é necessário
Um dos projetos concluídos foi aquele intitulado “Avaliação
tratar 9 pacientes para obter o mesmo resultado com o gasto de
econômica e impacto orçamentário das anticitocinas adalimu-
R$ 657.193,68. O gasto anual com esses medicamentos para
mabe, etanercepte e infliximabe no tratamento da Artrite Reuma-
pacientes com AR no Hospital das Clinicas da Faculdade de
tóide” desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná que
Medicina da Universidade de São Paulo foi de R$73.021,52 para
avaliou o custo-efetividade e o impacto orçamentário dos medi-
ETP, R$56.097,25 para ADA e R$45.359,04 para IFX, comparan-
camentos ADA, ETP e IFX no tratamento da AR no programa de
do com o MTX que foi de R$481,80. Esses dados mostram a
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 223
importância em seguir a estratégia de tratamento escalonada de
cia, segurança, efetividade e custo-efetividade de ADA e ETP.
medicamentos e de suas combinações, como recomendados
Dos 22 estudos analisados, 14 atestaram a eficácia e segurança
pela Portaria número 66 de 2006. Dessa forma, a utilização dos
desses medicamentos, 5 atestaram a segurança desses medi-
agentes anticitocinas em pacientes que realmente não tenham
camentos e 3 deles atestaram a efetividade. Entretanto, a maio-
outras opções evitando gastos demasiados com os menciona-
ria, 17, foi patrocinada pelas indústrias fabricantes e em 5 não
dos nesse estudo (NOBRE et al., 2007).
houve conflito de interesses (MORELAND et al., 1999; WEIN-
Na revisão sistemática “Adalimumabe no tratamento da
BLATT et al.,1999; BATHON et al., 2000; PINCUS et al. 2002;
artrite reumatóide” concluído em 2006 pelo Centro Cochrane
BLUMENAUER et al, 2003; VAN DE PUTTE et al., 2003; WEIN-
do Brasil o objetivo foi avaliar a efetividade e a segurança do
BLATT et al, 2003; HYRICH et al., 2004; KEYSTONE et al, 2004;
ADA isolado ou associado a outro DMARD no tratamento da AR.
VAN DE PUTTE et al., 2004; FARAHANI et al., 2005; GILES et
Nessa revisão concluiu-se que o ADA na dose de 20 ou 40 mg,
al., 2005; KOBELT et al., 2005; CHEN et al., 2006; HAMDI et al.,
administrado por via subcutânea, em pacientes com AR é efeti-
2006; QUAN et al., 2006; SCHIFF et al., 2006; WEINBLATT et al.,
vo levando em consideração o número de articulações edema-
2006; CHANG, GIRGIS, 2007; DONAHUE et al., 2008; SIZOVA,
ciadas ou dolorosas, a escala visual analógica de dor (EVA) de
2008; RUBBERT-ROTH; FINCKH, 2009; ANEXO A).
acordo com o próprio paciente, a avaliação física global avaliada
Primeiramente, foram analisados os sete estudos relaciona-
pelo médico e pelo paciente e a avaliação de qualidade de vida
dos na Portaria número 66 de 2006 (BRASIL, 2006 <a>). Dentre
(HAQ). Ademais, o ADA só deve ser prescrito após terem sido
eles, quatro tratavam da eficácia do ETP e três da eficácia do
esgotadas as outras opções terapêuticas como o uso isolado ou
ADA. Dos 4 estudos que tratavam da eficácia e segurança do
combinado das DMARD (MTX, leflunomida, cloroquina e sulfa-
ETP, 2 eram randomizados e duplo cego e 1 era randomizado,
salazina) devido ao alto custo, em torno de 36.000 reais anuais,
porém os 3 eram patrocinados ou apoiados pela indústria Im-
e a possível toxicidade ressaltando o que foi encontrado nos ou-
munex, fabricante do Enbrel® (Etanercepte), o quarto era uma
tros projetos. Além disso, concluíram que há necessidade de es-
revisão sistemática da Cochrane Canadá. Os 3 estudos que
tudos de maior tempo de observação para permitir constatações
tratavam da eficácia e segurança do ADA eram randomizados
sobre a segurança e a persistência dos efeitos terapêuticos e
e duplo cego patrocinados ou apoiados pela indústria Abbott,
que não existe ainda nenhum estudo comparando corticoeste-
fabricante do Humira® (Adalimumabe).
róides versus ADA (CENTRO COCHRANE DO BRASIL, 2006).
Já dos outros 15 estudos encontrados, que não foram utiliza-
Por fim, está em andamento o projeto “Avaliação da efetivi-
dos para a elaboração da Portaria número 66 de 2006, 7 avaliaram
dade e seguranca dos anticorpos monoclonais adalimumabe,
a eficácia e a segurança, 5 somente a segurança e 3 a efetividade.
etanercepte, infliximabe e rituximabe utilizados no tratamento da
Dos 7 estudos que avaliaram a eficácia e a segurança des-
artrite reumatóide, artrite psoriática e espondilite anquilosante,
ses medicamentos 2 eram randomizados e duplo cego e 1 era
Brasil e Minas Gerais” em desenvolvimento pela Universidade
randomizado que tratavam da eficácia e segurança do ADA e 4
Federal de Minas Gerais. O objetivo é avaliar a segurança e
eram revisões sistemáticas, das quais duas avaliaram a eficácia
a efetividade dos agentes anti-TNF – ADA, ETP e IFX e rituxi-
e segurança do ETP e do ADA, e uma somente do ADA e uma
mabe - em pacientes com artrite reumatóide, artrite psoriática
somente do ETP. Desses 7 estudos, 6 foram patrocinados pela
e espondilite anquilosante, por meio de revisão sistemática de
indústria farmacêutica e somente 1 não foi.
literatura e de estudos de coorte, retrospectiva para avaliação
Em relação a segurança de ADA e ETP foram encontrados
da segurança em nível nacional e prospectiva para avaliação da
5 estudos, dos quais 4 eram revisões sistemáticas (3 eram de
efetividade nas 4 maiores Gerências Regionais de Saúde (GRS)
ambos medicamentos e uma do ADA) e 1 era uma pesquisa
do Estado de Minas Gerais (BRASIL, 2011).
relacionando o utilizo de ADA com o desenvolvimento de tuberculose. Desses 5 estudos mencionados 2 foram patrocinados
4.2.2 EVIDÊNCIAS CIENTIFICAS DA UTILIZAÇÃO DE ADALIMUMABE E ETANERCEPTE PARA ARTRITE REUMATÓIDE Em relação à existência de sólidas evidências científicas preliminares que é um requisito para a incorporação de novas
pela indústria farmacêutica e 3 não foram. Considerando a efetividade, foram encontrados 3 estudos, todos patrocinados pela indústria farmacêutica, dos quais 2 eram revisões sistemáticas sobre a efetividade de ADA e ETP e 1 era um estudo custo-efetividade da utilização de ETP.
tecnologias, segundo a Portaria número 152 de 2006 (BRASIL,
No protocolo clínico para AR estabelecido pela Portaria nú-
2006 <b>), foram encontrados estudos comprovando a eficá-
mero 66 de 2006, esses medicamentos foram incluídos como
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última linha de tratamento indo de acordo com as evidências
(DEANGELIS; FONTANAROSA, 2008). Além disso, grande parte
encontradas.
dos estudos realizados para comprovar a eficácia é financiada
Dentro da perspectiva de incorporação, nota-se que os medicamentos ADA e ETP podem ter sido incorporados devido a sua
pelo fabricante, o que pode trazer certo prejuízo à validade dos resultados.
eficácia terapêutica, segurança e custo-efetividade demonstradas
A fim de evitar a incorporação de tecnologias sem avalia-
através dos estudos analisados. Entretanto, é necessário senso
ção, o GT ATS coordenado pelo DECIT criou critérios para a elei-
crítico para a análise desses estudos que foram, na sua maioria,
ção de tecnologias a serem avaliadas (BRASIL, 2009 <a>). Já
patrocinados pela indústria e que são estudos de curta duração,
a SES/MG, através da sua Comissão Estadual de Farmácia e
aproximadamente 1 ano. Como a AR é uma doença crônica, não
Terapêutica, avalia os pedidos de inclusão, alteração ou exclu-
é possível prever por quanto tempo o medicamento será efetivo e
são de medicamentos da relação estadual, e para tal, prioriza a
também não é possível prever os efeitos da sua utilização a longo
avaliação das demandas judiciais ou sociais (MINAS GERAIS,
prazo. Para tal, seriam necessários 5 a 20 anos de estudos obser-
2009). A priorização da avaliação das tecnologias demandadas
vacionais para verificar os resultados dos estudos clínicos com
judicialmente é de grande importância para que essas tecno-
duração de 6 a 24 meses (PINCUS et al., 2002).
logias só sejam incorporadas se forem realmente mais custo-
Nos estudos ou revisões em que houve conflito de interes-
efetivas do que aquelas já existentes ou se atenderem um grupo
se, os resultados deverão ser analisados estatisticamente para
da população desassistido pelo protocolo evitando, assim, que
determinar se são realmente relevantes verificando o valor da
a pressão judicial se torne sinônimo de incorporação.
probabilidade da significância (valor de “p”), o número necessário para tratar (NNT) e o custo efetividade incremental por qua-
5 Considerações Finais
lity-adjusted life-years (QALYs) que é um indicador que avalia a
O direito à saúde é estabelecido pela Constituição Brasi-
efetividade determinando quantos anos de vida com qualidade
leira de 1988 sendo dever do Estado garantí-lo mediante políti-
foram ganhos com a utilização de uma determinada tecnologia.
cas socioeconômicas que visem a redução do risco de doença
As comparações feitas com as tecnologias existentes no
e de outros agravos, além do acesso universal e igualitário às
mercado são importantes e mais relevantes para a incorporação
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
do que aquelas com o placebo porque para a incorporação de
As ações judiciais são um instrumento utilizado pela população
uma nova tecnologia, ela tem que ser melhor do que a existente
para a garantia do direito a saúde configurando o fenômeno da
no mercado para que haja uma justificativa para a sua incorpo-
judicialização da saúde no Brasil.
ração. Por outro lado, a comparação com o placebo é impor-
Entretanto, o grande número de ações judiciais pleiteando
tante para a determinação da eficácia, mas não para justificar a
medicamentos para doenças já contempladas com protocolos
incorporação.
clínicos do SUS, como a AR, desorganiza a distribuição de re-
Os resultados das pesquisas concluídas financiados pelo DECIT demonstraram que os medicamentos ADA e ETP devem
cursos para os diferentes setores de saúde, como o da assistência farmacêutica.
continuar sendo disponibilizados pelo SUS, porém somente
A fim de garantir o direito à assistência farmacêutica, a atu-
após terem sido esgotadas as outras opções terapêuticas ca-
alização dos protocolos clínicos se faz necessária. Para tanto, a
bendo ao médico seguir o escalonamento de tratamento para
avaliação de novas tecnologias que apresentem sólidas evidên-
AR proposto pelo SUS possibilitando uma melhor utilização dos
cias científicas de eficácia, segurança e efetividade deverá ser
recursos disponíveis (BRASIL, 2011). Através desses resultados
realizada pelo DECIT para a posterior incorporação. As avalia-
foi possível detectar que a incorporação de ADA e ETP foi váli-
ções deverão comparar as novas tecnologias com aquelas exis-
da em relação a eficácia, segurança e custo-efetividade desses,
tentes no mercado, uma vez que a incorporação só é justificada
ressaltando que devem ser utilizados como última opção tera-
se a nova tecnologia for melhor do que a existente.
pêutica. Ademais, foi interessante do ponto de vista do planeja-
A priorização da avaliação das tecnologias demandadas
mento dos gastos, o que é possível com a incorporação e que
judicialmente, como a realizada pela SES/MG através da Co-
não era possível quando ADA e ETP eram pedidos através de
missão Estadual de Farmácia e Terapêutica, é de grande im-
ações judiciais por se tratar de fenômeno imprevisível.
portância para que essas só sejam incorporadas se forem re-
No entanto, algumas vezes a incorporação de tecnologias
almente mais custo-efetivas do que aquelas já existentes ou se
é decidida sem avaliação adequada sobre eficácia, segurança
atenderem um grupo da população desassistido pelo protocolo,
e custo-efetividade em relação a outras tecnologias disponíveis
evitando, assim, que a pressão judicial se torne sinônimo de in-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 225
corporação. Dentro da perspectiva de incorporação, foi observado que os medicamentos ADA e ETP podem ter sido incorporados devido a sua eficácia terapêutica, segurança e custo-efetividade demonstrados através dos estudos analisados. Ademais, os projetos financiados pelo DECIT demonstram que ADA e ETP devem ser prescritos somente após terem sido esgotadas as outras opções terapêuticas. O protocolo clínico para AR proposto pelo SUS, através da Portaria número 66 de 2006, traz medicamentos eficazes e seguros para o tratamento da AR. O protocolo deverá ser seguido
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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 227
pedido ao autor mrcnobre@usp.br. Recebimento em 03 out. 2011. PINCUS, T.; FERRACCIOLI, G.; SOKKA, T.; LARSEN, A.; RAU, R.; KUSHNER, I; WOLFE, F. Evidence from clinical trials and long-term observational studies that disease-modifying anti-rheumatic drugs slow radiographic progression in rheumatoid arthritis: updating a 1983 review. British Society for Rheumatology, Londres, v. 41,p. 1346–1356, 2002. Disponível em <http://rheumatology.oxfordjournals.org/cgi/reprint/41/12/1346>. Acesso em 15 ago. 2009. QUAN, V. D.; CHIUN-FANG, C.; ROBERT, W. D. Review of Eight Pharmacoeconomic Studies of the Value of Biologic DMARDs (Adalimumab, Etanercept, and Infliximab) in the Management of Rheumatoid Arthritis. Journal of Managed Care Pharmacy, Alexandria (VA), v. 12, no 7, p.555.569, set. 2006. Disponível em <http://www.amcp.org/data/jmcp/ subject%20review_555_569.pdf>.Acesso em 30 ago 2009. ROMERO, L. C. Judicialização das políticas de assistência farmacêutica: o caso do distrito federal. Coordenação de estudos da Consultoria Legislativa do Senado Federal. Brasília, Senado Federal, maio 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/csp/v25n8/20.pdf>. Acesso em 20 ago 2009. RUBBERT-ROTH, A.; FINCKH, A. Treatment options in patients with rheumatoid arthritis failing initial TNF inhibitor therapy: a critical review. Arthritis Research & Therapy, Londres, v.11, no 1, 6 abr. 2009. Disponível em http://arthritisresearch.com/supplements/11/S1. Acesso em 2 set. 2009 SCHIFF, M. H.; BURMESTER, G. R.; KENT, J. D.; PANGAN, A. L.; KUPPER, H.; FITZPATRICK, S. B.; DONOVAN, C. Safety analyses of adalimumab (HUMIRA) in global clinical trials and US post marketing surveillance of patients with rheumatoid arthritis. Annals of the Rheumatic Diseases, Londres, v. 65, p.889–894, 26 jan. 2006. Disponível em http:// ard.bmj.com/cgi/content/short/65/7/889>. Acesso em 20 ago. 2009. SIOPS, Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde. Despesas com Ações e Serviços Públicos de Saúde Financiadas por Recursos Próprios – 2000 a 2004. Disponível em <http://siops. datasus.gov.br/Documentacao/Pib.pdf>. Acesso em 20 set. 2009. SIZOVA, L. Approaches to the treatment of early rheumatoid arthritis with diseasemodifying antirheumatic drugs. British Journal of Clinical Pharmacology, Oxford, v. 66, no 2, p. 173–178, 5 jun. 2008. Disponível em <http://www.pubmedcentral.nih .gov/articlerender. fcgi?artid=2492934>. Acesso em 15 ago. 2009. VAN DE PUTTE, L. B. A.; RAU, R.; BREEDVELD, F. C.; KALDEN,J. R.; MALAISE, M.G; VAN RIEL, P. L. C. M.; SCHATTENKIRCHNER, M.; EMERY, P.; BURMESTER, G. R.; ZEIDLER, H.; MOUTSOPOULOS, H. M.; BECK, K.; KUPPER, H. Efficacy and safety of the fully human anti-tumour necrosis factor a monoclonal antibody adalimumab (D2E7) in DMARD refractory patients with rheumatoid arthritis: a 12 week, phase II study.
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NOTAS DE RODAPÉ 1 Farmacêutica formada pelo Centro Universitário Newton Paiva e ex-integrante do Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais. 2 Farmacêutico e professor de Farmacologia do Centro Universitário Newton Paiva.
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CONFORMAÇÕES DO CICLOEXANO: um modelo de estudo no PCMODEL Anderson Hollerbach Klier 1
RESUMO: O estudo molecular conformacional ainda é visto como um dos entraves para o entendimento de estabilidade molecular principalmente pelos estudantes de graduação que cursam disciplinas na área química. O software PcModel pode ser uma ferramenta bastante útil, quando aplicado na previsão e estimativa do cálculo de energia envolvendo as conformações mais e menos estáveis do cicloexano substituído, podendo ser aplicado em aulas práticas de química.
PALAVRAS-CHAVE: conformação, estabilidade, interação 1,3-diaxial
INTRODUÇÃO
Como molécula modelo para as simulações, o cicloexano,
A análise conformacional ou o estudo da estabilidade de
um hidrocarboneto da classe dos cicloalcanos, se mostra bas-
moléculas, normalmente é visto como conteúdo complicado e
tante adequado por possuir estrutura tridimensional como forma
de difícil compreensão principalmente pelo público discente, em
mais estável, além de três padrões de substituição, com duas
virtude de requerer uma visão ampla e espacial que envolve o
configurações para cada padrão de substituição e duas confor-
conhecimento pregresso referente a geometria espacial (MAR-
mações para cada configuração (SOLOMONS, 1996). Estrutu-
TINS, 2009). Com o intuito de desmitificar e facilitar o entendi-
ralmente o cicloexano possui fórmula molecular C6H12, com con-
mento do assunto, a disciplina de Química Farmacêutica do
formação mais estável do tipo cadeira, que segundo o padrão
curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva, inclui
de substituição dos átomos de hidrogênio por substituintes mais
em seu programa simulações no software PcModel. Estas simu-
volumosos, pode apresentar interações conhecidas como inte-
lações permitem que os alunos comprovem que certos valores
rações 1,3-diaxiais. Estas são interações oriundas principalmen-
teóricos de energia para alguns tipos de interações químicas
te de repulsões eletrônicas, que podem estabilizar uma determi-
podem ser estimados e visualizados com uma certa facilidade
nada conformação, quando seu valor é baixo, ou desestabilizar
dentro das matrizes de cálculo no ambiente virtual.
outra conformação quando seu valor for mais elevado, (figura 1).
Como parâmetro de estabilidade as interações 1,3-diaxiais
podem assumir duas conformações distintas, que serão mais
sempre existem entre substituintes em posição axial ligados
ou menos estáveis de acordo com o número de interações
em carbonos do cicloexano que reservam entre si, um padrão
1,3-diaxiais presentes, conforme representado na figura 2.
de posicionamento do tipo-1,3. Se considerarmos dois substi-
Dentre as possibilidades, as conformações com dois substi-
tuintes aleatórios A e B substituindo hidrogênios no cicloexano,
tuintes (A e B) em equatorial serão mais estáveis que confor-
estes podem estar ligados nas posições 1 e 2, 1 e 3 ou 1 e 4.
mações com um dos substituintes (A ou B) em axial, e estas
Cada um destes padrões de substituição pode assumir duas
mais estáveis que conformações com os dois substituintes (A
configurações, cis ou trans, e cada uma destas configurações
e B) em axial.
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As conformações características dos padrões de substituição
análogos em sua estrutura, dependerão da conformação do ciclo-
estrutural do cicloexano, possuem importância específica principal-
exano ou de seus análogos (BARREIRO, 2008). Como exemplos
mente em moléculas bioativas (BARREIRO, 2008). Estas moléculas
de fármacos que apresentam tal peculiaridade, podem ser citados;
quando possuem receptores biológicos são chamadas Fárma-
meperidina (1), fentanil (2), ciclofosfamida (3), gatifloxacino (4) e
cos específicos, e para tanto irão apresentar interações químicas
vardenafil (5), representados estruturalmente na figura 3 (BARREI-
fármaco-receptor, que para fármacos que possuam cicloexano ou
RO, 2008; FOYE, 1995; LEDNICER, 1998; LEDNICER, 2008).
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Objetivos
feitas entre os valores obtidos nas simulações computacionais
e os valores reais descritos na literatura (SOLOMONS, 1996;
Em função das peculiaridades estruturais já decritas,
bem como as implicações destas em possíveis atividades bio-
CLAYDEN, 2001).
lógicas, o presente trabalho objetivou simular a energia de diferentes substituintes no cicloexano, a fim de prever valores para
Resultados e discussão
possíveis interações 1,3-diaxiais existentes em conformações de
Como protótipo minimizamos a energia do cicloexano não
uma configuração específica do mesmo.
substituído a fim de obtermos a energia total da molécula, conforme figura 4. O valor de energia total do cicloexano não subs-
Material e Métodos
tituído foi de 6,551 Kcal/mol. Em termos estruturais, este valor
Como ferramenta virtual facilitadora do entendimento de
corresponde a todas as seis ligações C-C, doze ligações C-H e
estrutura conformacional, utilizamos o software PcModel 7.2 –
seis interações repulsivas
Serena software, nos laboratórios de informática do Campus
hidrogênio-hidrogênio, três acima do plano e três abaixo do
Silva Lobo do Centro Universitário Newton Paiva. Foram feitas
plano. Estas são consideradas de muito baixa energia, pois são
simulações das energias totais do cicloexano não substituído e
os menores substituintes possíveis para qualquer cadeia car-
do cicloexano mono e dissubstituido, a fim de compararmos os
bônica. Quando consideramos o cicloexano monossubstituído,
valores das possíveis interações 1,3-diaxiais existente em pos-
como metilcicloexano, podemos otimizar sua energia conforma-
síveis substituintes nas posições axiais. As comparações foram
cional , (figura 5).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 235
Aqui percebemos uma energia de 8,670 Kcal/mol para
mesmo metilcicloexano em sua conformação mais estável,
o metilcicloexano em sua conformação menos estável, ou
ou seja, o substituinte metil em equatorial, onde inexistem
seja, o substituinte metil em posição axial com duas inte-
interações do tipo 1,3-diaxiais, podemos um valor de ener-
rações repulsivas 1,3-diaxiais com os hidrogênios vizinhos
gia de 6,890 Kcal/mol, como é mostrado na figura 6.
também em axial. Já quando procedemos o cálculo para o
Considerando que em relação ao cicloexano não substituído
gia do metilcicloexano. Para tanto basta subtrairmos da energia
o metilcicloexano já conta com uma ligação C-C e duas ligações
da conformação menos estável (8,670 Kcal/mol) a energia da
C-H a mais em sua energia total, e considerando como des-
conformação mais estável (6,890 Kcal/mol), o que resulta numa
prezível os valores de energia das repulsões entre hidrogênios
diferença de energia de 1,78 Kcal/mol, que dividido pelo número
axiais, podemos estimar os valores das interações 1,3-diaxiais
de interações metil-hidrogênio, duas, nos fornece um valor de
entre grupos metil e hidrogênios na conformação de maior ener-
0,89 Kcal/mol de energia para a interação 1,3-diaxial metil-hi-
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drogênio. Tal valor obviamente é bastante próximo do valor real
químico, especialmente no campo da estereoquímica que tem
descrito na literatura, que é de 0,90 Kcal/mol, pois os softwares
se mostrado bastante árido para a grande maioria dos alunos
de simulação computacional são abastecidos com valores de
de graduação. A tabela 1, mostra alguns substituintes comuns
referência da literatura, entretanto, o que se chama atenção aqui
e suas simulações de energia para interações 1,3-diaxiais com
é a utilização prática destes softwares para comprovação de da-
o hidrogênio, obtidas no PcModel de modo análogo ao relatado
dos literários em experimentos que desmitifiquem o conteúdo
para o metilcicloexano.
A partir destes resultados, extrapolamos o cálculo para
ração entre dois grupos metila em configuração cis, em suas
derivados do cicloexano dissubstituídos, a fim de caracteri-
conformações mais estáveis equatorial-equatorial e menos
zarmos outras interações 1,3-diaxiais entre outros substituin-
estável, axial-axial, como representado abaixo.
tes diferentes do hidrogênio. Para tanto, iniciamos com inte-
Após as simulações de energia no PcModel foram obtidos
de maior energia e menor estabilidade, diaxial, existem duas in-
12,545 Kcal/mol para o conformero diaxial e 7,208 Kcal/mol para
terações 1,3-diaxiais metil-hidrogênio e uma interação 1,3-diaxial
o conformero diequatorial. Considerando que na conformação
metil-metil, temos a seguinte representação:
A fim de calcularmos o valor da interação A-B, metila-
diferença 1,78 Kcal/mol (0,89 Kcal/mol por interação previa-
metila, subtraímos da energia da conformação diaxial, 12,545
mente determinado), o que resulta num valor de 3,557 Kcal/
Kcal/mol, o valor da energia da conformação diequatorial
mol para a interação A-B, metila-metila. As simulações de
7,208 Kcal/mol, obtendo uma diferença de 5,337 Kcal/mol.
energia para a conformação mais estável diequatorial e me-
Como esta diferença inclui a interação desejada A-B e duas
nos estável diaxial para o 1,3-dimetilcicloexano, são apresen-
interações metila-hidrogênio, A-C e B-C, subtraímos desta
tadas nas figuras 7 e 8.
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Conclusão
no ensino dos conteúdos químicos envolvendo estereoquímica.
Após as simulações com o software PcModel foi possível observar que as mesmas são bastante próximas dos valores
Referências
reais em termos de energia, permitindo uma previsão bastante
BARREIRO, E.J.; FRAGA, C.A.M. Química Medicinal: As bases Moleculares da Ação dos Fármacos. Porto Alegre: Artmed, 2008. 536p.
útil para valores energéticos de interações 1,3-diaxiais em substituintes no cicloexano. Interações estas que podem ser simuladas tanto para interações com o átomo de hidrogênio quanto interações com grupamentos mais volumosos. Além das simulações de energia, como ferramenta virtual o software facilita o entendimento das diferenças estruturais pertinentes a definição de configuração e conformação, o que o torna útil especialmente
CLAYDEN, J. GREEVES, N., WARREN, S., WOTHERS, P. Organic Chemistry. Oxford: Oxford University Press, 2001. 1512p. FOYE, W.O.; LEMKE, T.L.; WILLIAMS, D.A. Principles of Medicinal Chemistry. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1995. 995p. LEDNICER, D. Strategies for Organic Drug Synthesis and Design. New
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NOTAS DE RODAPÉ Docente dos cursos de Farmácia e Ciências Biológicas do Centro Universitário Newton Paiva 1
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ELETROESTIMULAÇÃO NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO FEMININA: revisão de literatura Drielly Fernanda de Souza1, Estela Vieira Santana1, Keylla Marques de Araújo1, Renata de Oliveira Cangussu2
RESUMO: A eletroestimulação transvaginal do assoalho pélvico (ETAP) é uma forma de tratamento conservador da incontinência urinária de esforço (IUE). No entanto discute-se se o uso deste recurso promove resultados benéficos. O objetivo desta revisão de literatura foi verificar se o uso da ETAP para tratamento de IUE em mulheres contribui para a melhora dos sintomas. Foram selecionados artigos científicos nas bases eletrônicas Medline, Lilacs e Scielo. Foram analisados 16 sobre o uso da ETAP isolada e comparando a outros recursos na IUE em mulheres. A maioria dos artigos demonstrou que a ETAP com frequência de 50Hz, promoveu efeitos benéficos na frequência de perdas urinárias, força muscular do assoalho pélvico (AP) e na qualidade de vida das mulheres tratadas com esse recurso.
PALAVRAS-CHAVE: eletroestimulação, incontinência urinaria de esforço, fisioterapia. INTRODUÇÃO
das mulheres incontinentes, sendo definida por queixa de per-
A incontinência urinária (IU) consiste em um problema de
da involuntária de urina após esforços, como espirro ou esfor-
saúde pública que pode atingir mulheres em qualquer período
ços físicos (BERNARD et al, 2010).
da vida. O risco de IU aumenta com a idade, podendo determinar
A IUE pode ocorrer por alterações anatômicas como a
uma série de consequências físicas, econômicas, psicológicas,
hipermobilidade do colo vesical, deficiência do mecanismo
emocionais, sexuais e sociais que poderão interferir de forma
esfincteriano e fraqueza da musculatura do AP . Segundo a So-
negativa na qualidade de vida dessas mulheres (BERQUO ET
ciedade Internacional de Continência (ICS), a IUE ocorre quando a
AL, 2009).
pressão intravesical excede a pressão uretral máxima na ausência
Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo apresen-
de contração do músculo detrusor (BERNARD ET AL, 2010).
tem algum tipo de IU, sendo que uma em cada quatro mulheres
Os fatores de risco para a IUE são idade, gravidez, parto,
com idade entre 30 a 59 anos já vivenciou algum episódio de
climatério, obesidade, alterações hormonais, traumas e cirur-
IU. Os dados sobre prevalência dessa doença são variáveis,
gias ginecológicas, como a histerectomia. A gravidez e o parto
mas estima-se que ela afeta aproximadamente 57% das mulhe-
são citados como os principais responsáveis por essa afecção
res com idade maior que 40 anos (GOMES et al, 2009). Somen-
(LIMA ET AL, 2007).
te um quarto dessas mulheres procura por um serviço médico
Existem diversas formas de tratamento para a IU. O trata-
por causa de seu problema urinário. Nos Estados Unidos, 13
mento conservador fisioterapêutico tem sido considerado uma
milhões de adultos são incontinentes e deste número, 85% são
opção relevante nos últimos tempos, utilizando recursos como
mulheres. O gasto anual desse país com a IU chega a 16 bi-
treinamento do assoalho pélvico (TAP), biofeedback, cones va-
lhões de dólares (SANTOS et al, 2009).
ginais, tratamento comportamental e ETAP (RETT ET AL, 2008).
Dados referentes à população brasileira, embora ainda in-
TAP são exercícios ativos para reforçar a resistência uretral
cipientes, apontam prevalência de mulheres com IU de 30 a
e melhorar os elementos de sustentação dos orgão pélvicos,
43%. Os sinais e sintomas mais comumente identificados entre
hipertrofiar as fibras musculares tipo II do diafragma urogenital
as mulheres com IU são urgência, polaciúria, noctúria, enurese
e pélvico (OLIVEIRA ET AL, 2007). Biofeedback é um monitora-
noturna, urge-incontinência e perda aos esforços. Esses sinais
mento por aparelho dos eventos fisiológicos que a paciente é
e sintomas são usados para nortear o diagnóstico e a interven-
incapaz de distinguir por si só, sendo empregado na IUE para
ção terapêutica nestas pacientes (FIGUEIREDO ET AL, 2008).
o reconhecimento da musculatura envolvida na contração e no
A IUE é o tipo mais prevalente de IU, encontrada em 49%
relaxamento do AP. Durante a sessão a paciente passa a obter
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informação visual do controle voluntário da musculatura reali-
resultando em diminuição significativa do número de perdas uri-
zando um programa de fortalecimento através do recrutamento
nárias e melhora na qualidade de vida (HERRMANN et al, 2003).
muscular (OLIVEIRA ET AL, 2007).
No entanto, seus resultados no tratamento da IUE ainda são
Cones vaginais é um conjunto de cones com mesmo formato
conflitantes. Essas diferenças podem ocorrer em função da utili-
e pesos diferentes. O princípio da técnica baseia-se no estímulo
zação de distintos critérios na avaliação diagnóstica da IUE, nos
do recrutamento do músculo pubococcigeo e no auxílio periférico
parâmetros definidos para a ETAP e nos métodos empregados
para reter o cone durante a execussão da técnica, aumentado
para a análise dos resultados (GOMES et al, 2009).
progressivamente o peso. É considerada uma técnica comple-
Por ser bastante utilizada na prática clínica como uma
mentar para consolidação dos resultados dos exercícios de forta-
das formas de tratamento para a IUE, há necessidade de in-
lecimento da musculatura pélvica (OLIVEIRA ET AL, 2007).
vestigar se o uso desse recurso, de forma isolada, auxilia na
Tratamento comportamental é um tratamento que consiste em
recuperação das pacientes.
mudanças de hábitos por parte do paciente através de orientações
O objetivo do presente estudo foi avaliar se o uso da eletro-
dadas pelo terapeuta sobre ritmo miccional (realização de interva-
estimulação, de forma isolada, para tratamento de IUE em mu-
los entre as micções), ingestão de líquidos, entre outros. As orien-
lheres contribui para a melhora dos sintomas.
tações são dadas baseadas em um registro feito pelo paciente no diário miccional. São registrados dados como volume urinado, número e horário de micções, quantidade de perda de urina e fatores desencadeantes associados (OLIVEIRA ET AL, 2007).
MÉTODOS Foi realizada uma revisão de literatura e as buscas foram feitas nas seguintes bases de dados eletrônicas: Medline (Na-
ETAP são estímulos elétricos emitidos em uma determinada
tional Library of Medicine), Lilacs ( Lieratura Latino Americana e
frequência de corrente visando a diminuição da urge-incontinên-
do Caribe em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Eletronic
cia e também o aumento da força de contração do músculo ele-
Library Online). As palavras-chave foram eletroestimulação, in-
vador do ânus, evitando a IUE (OLIVEIRA ET AL, 2007).
continência urinaria de esforço e fisioterapia, buscadas isolada-
Em relação ao mecanismo de ação, a ETAP causa contração
mente ou cruzadas. Dessa busca foram encontrados 30 artigos
dos músculos do AP, aumentando o número das fibras muscula-
e escolhidos 22 artigos, os outros foram excluídos por não se
res de contração rápida, responsáveis pela continência em situ-
relacionarem com o tema. Dos 22 artigos analisados, 16 são
ações de estresse (BARROSO et al, 2003; GOMES ET AL, 2009).
estudos sobre a ETAP isolada e 6 comparada a outros recursos
Os valores dos parâmetros elétricos mais encontrados para
na IUE em mulheres. Foram incluídos artigos nos idiomas por-
a estimulação pélvica na IUE na literatura são: corrente elétrica
tuguês e inglês.
bifásica, frequência de 50Hz, duração do pulso de 700µs e intensidade da corrente entre 12 a 53mA, conforme a tolerabilidade
DISCUSSÃO
de cada mulher. Realização de duas sessões semanais, cada
Atualmente existe um interesse maior em terapias físicas para
uma com duração de 15 a 30 minutos num período variável de 4
o tratamento de IUE, o que não acontecia até a década de 1980,
a 12 semanas, porém esses parâmetros não estão bem estabe-
embora ela seja utilizada desde 1952. Esse interesse para o trata-
lecidos (BARROSO et al, 2003; HERRMANN et al, 2003; JEYA-
mento conservador pode ser devido à uma maior conscientização
SEELAN et al, 2000).
das mulheres e a redução dos custos e morbidade após cirurgia.
As contraindicações apresentadas pela ETAP são gravi-
Dentre essas terapias físicas, a ETAP tem demonstrado ser uma
dez, infecções vaginais, diminuição da percepção sensorial da
importante técnica e cada vez mais utilizada, devido aos benefí-
vagina, infecção urinária, arritmia cardíaca e menstruação. Os
cios proporcionados (HOLME ET AL, 2007; LLOYD ET AL, 2007).
efeitos colaterais descritos com a utilização da ETAP são raros,
Esses benefícios são advindos da contração do AP. De
destacam-se a dor, irritação vaginal e infecção urinária (SANTOS
acordo com LLOYD ET AL, 2007, GOMES ET AL, 2009 e BAR-
et al, 2009; HERRMANN et al, 2003).
ROSO ET AL, 2003 a ETAP ativa os aferentes do nervo pudendo,
A ETAP usada para tratamento da IUE é uma técnica econô-
que resulta na ativação de eferentes desse nervo, provocando a
mica em comparação ao custo da cirurgia ou o uso prolongado
contração da musculatura estriada periuretral e músculos estria-
de medicamentos anticolinérgicos, além disso, é minimamente
dos do AP, que provoca o aumento do número de fibras muscu-
invasiva, com efeitos colaterais desprezíveis e aceitos pela maio-
lares, com contração rápida, responsáveis pela continência em
ria das mulheres (HERRMANN et al, 2003).
situação de estresse.
A ETAP é utilizada há muitos anos para tratamento da IUE,
Isso fornece uma forma de exercício com o objetivo de me-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 241
lhorar o mecanismo de fechamento uretral e também, pode ser
duas vezes por semana por 20 minutos, durante dois meses
útil no ensino da contração muscular do AP de mulheres que
consecutivos. Nos resultados, 81,7% das mulheres apresenta-
não conseguem identificar ou apresentam fraqueza na contra-
ram cura ou melhora nos episódios de perdas urinárias, houve
ção voluntária desses músculos (LLOYD ET AL, 2007).
redução da mobilidade do colo vesical em 40,9% e 77,3% das
Segundo APPEL 1998, a ETAP com uma frequência mais alta (50Hz) é necessária para obter uma taxa de sucesso sig-
mulheres estavam satisfeitas com a ETAP. Já a pressão de perda aos esforços não apresentou alteração significativa.
nificativa na IUE, em torno de 50% das mulheres, embora esse
Resultados semelhantes foram obtidos por outros autores.
sucesso não signifique exatamente cura. JEYASSELAN ET AL,
BARROSO ET AL, 2003, em um estudo randomizado verificaram
2000 verificaram que a ETAP causa mudanças na força e na
o efeito da ETAP no tratamento da IU e avaliou a melhora clínica
resistência muscular e consequentemente diminuição na gravi-
seis meses após o término do tratamento. Participaram do estu-
dade da IU. Com a ETAP utilizando-se uma freqüência de 50Hz
do 36 mulheres no climatério com IUE (utilizado 50Hz), urgência
pode-se aumentar a força do músculo, a reação das fibras de
(20Hz) ou mista (20Hz), divididas em grupo experimental, com
contração rápida e a diminuição do número de perdas urinárias.
24 pacientes e grupo controle, com ETAP placebo com 12 pa-
BRUSBAKER ET AL, 1997, realizou um estudo randomiza-
cientes. As pacientes foram instruídas a usar o aparelho em casa
do com objetivo de determinar a eficácia objetiva e subjetiva
duas vezes por dia durante 20 minutos no período de 12 sema-
da ETAP para o tratamento de IU em mulheres. Participaram
nas. Na avaliação logo após o tratamento o grupo experimental
do estudo 121 mulheres com IU por hiperatividade do detrusor,
apresentou redução significativa do número de micções notur-
IUE e IU mista. A avaliação pré e pós-intervenção incluiu o teste
nas, episódios de urgência e de IU e aumento significativo da
urodinâmico para caracterização dos tipos de IU e diário mic-
capacidade vesical. Na reavaliação após seis meses, um terço
cional que avaliou a frequência de perda urinária. A amostra foi
das pacientes do grupo experimental necessitou de uma nova
dividida nos grupos I (experimental), com 61 pacientes e grupo
abordagem terapêutica.
II (controle), com 60 pacientes. As sessões de ETAP eram re-
Como relatado no estudo de BARROSO ET AL, 2003, os re-
alizadas em domicílio duas vezes por dia por um período de
sultados conseguidos com a ETAP não se mantiveram em todas
dois meses, com frequência de 20Hz. Houve cura de 49% das
as mulheres após seis meses do tratamento e sugeriu a realiza-
pacientes com hiperatividade do detrusor do grupo I e em 6% no
ção de mais estudos que abordem os efeitos da ETAP em longo
grupo II. Não houve diferença estatisticamente significativa nas
prazo, visto que na literatura essa abordagem ainda é escassa.
pacientes com IUE em ambos os grupos.
ERIKSEN ET AL, 1989 relataram cura ou melhora em 68% das
No estudo realizado por LLOYD ET AL, 2007 concluiu-se que
mulheres tratadas com ETAP, mantendo-se a taxa de sucesso
o programa comportamental (TAP, biofeedback assistido, estraté-
de 56% dois anos após a terapia. APPEL, 1998 realizou um estu-
gias de controle de urina e de auto monitoramento com o diário
do com segmento de seis anos, demonstrando que apenas 40%
miccional) foi tão eficaz na redução do número de perdas uriná-
das mulheres apresentaram melhora permanente após a ETAP.
rias quanto o programa comportamental com adição da ETAP
No entanto, ressaltou que a associação de exercícios regulares
(20Hz) no tratamento da IUE, em comparação ao grupo controle.
do AP para fortalecer a musculatura perineal poderá interferir po-
Esses resultados podem ter sofrido influência da baixa fre-
sitivamente na manutenção dos resultados.
quência utilizada no tratamento, 20HZ, embora LLOYD ET AL,
Em um estudo realizado por NISSENKORN ET AL, 2004,
2007 e WALKDEN ET AL, 1991 relatem a utilização de uma fre-
com objetivo de avaliar a eficácia da ETAP em mulheres com
quência de 20Hz a 50Hz como ideal para o tratamento da IUE. A
IUE ou IU mista, foram selecionadas 23 mulheres, sendo 16 com
utilização de uma frequência mais alta poderia ter resultado em
IUE e 7 com IU mista. Foi utilizado o pad test como método de
melhora significativa da IUE, já que outros autores encontraram
avaliação. Utilizou-se ETAP com frequência de 50Hz nas pacien-
resultados positivos com uma frequência de 50Hz.
tes com IUE. Os resultados foram positivos, obtendo melhora
HERRMANN ET AL, 2003 em um estudo randomizado, ava-
em ambos os grupos, sendo que 9 pacientes com IUE ficaram
liaram 22 mulheres com IUE com o objetivo de verificar o efeito
totalmente curadas e 7 tiveram a quantidade de perda urinária
da ETAP. As pacientes tinham idade média de 49 anos e pari-
reduzida. Houve diminuição da frequência miccional, da urgên-
dade média de 2,2 partos. Foram usados na avaliação o estu-
cia e dos episódios de perda.
do urodinâmico, diário miccional, ultra-sonografia transperineal
MURAKAMI ET AL, 1997 realizaram um estudo para ava-
para avaliação da mobilidade do colo vesical e avaliação sub-
liar a eficácia da ETAP no tratamento da IUE. Foram estuda-
jetiva da satisfação com o tratamento. Foi aplicada ETAP 50Hz
das 35 mulheres com idade média de 63 anos, que foram
242 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
divididas em grupo experimental e grupo controle. Essas mu-
musculatura do AP apresentou melhores resultados, mostrando
lheres foram avaliadas através do estudo urodinâmico, pad
uma tendência para ser o tratamento de escolha nesses grupos.
test e avaliação subjetiva através de relato das pacientes. Foi
CASTRO ET AL, 2009 em um estudo randomizado compa-
utilizada frequência de 50Hz durante 15 minutos por um perío-
rou o efeito da ETAP e da terapia com cones vaginais em mulhe-
do de quatro semanas. Observou-se, no grupo experimental,
res com IUE. Foram selecionadas 45 pacientes que foram divi-
melhora significativa no pad test, na pressão de fechamento
didas em dois grupos, grupo ETAP composto por 24 pacientes
uretral e também no relato das pacientes.
e grupo de terapia com cones vaginais com 21 pacientes. As
HOLME ET AL, 2007 em um estudo randomizado compara-
mulheres realizaram ETAP com frequência de 50Hz, duas vezes
ram os efeitos do TAP em 25 pacientes, ETAP em 25 pacientes
por semana durante 20 minutos, e cones vaginais duas vezes
e cones vaginais em 27 pacientes isoladamente e com nenhum
por semana durante 45 minutos, com o peso do cone variando
tratamento em mulheres com IUE (grupo controle com 30 parti-
de 20 a 100g. O período de tratamento foi de quatro meses. Os
cipantes). A ETAP 50Hz foi realizada durante 30 minutos diaria-
métodos de avaliação utilizados foram diário miccional, pad test
mente e com associação de contração voluntária do AP, por um
e questionário de qualidade de vida. Houve melhora significativa
período de seis meses. O tratamento era realizado em casa e
nos dois grupos em todos os parâmetros avaliados, no entanto,
os participantes encontravam com o fisioterapeuta uma vez por
não houve diferença entre os grupos.
mês. Foram avaliados em força muscular, quantidade de per-
A ETAP também influencia na melhora da qualidade de vida
da urinária e cura objetiva (menos de 2g de perda), através do
das mulheres com IUE, que provavelmente está relacionada
pad test, cura subjetiva através de relatos da paciente, adesão
com a diminuição dos episódios de perda urinária, como é de-
ao tratamento e atividade social. Em relação à força muscular,
monstrado no estudo de GOMES ET AL, 2009 cujo objetivo foi
perda urinária, cura objetiva, cura subjetiva e atividade social
avaliar o efeito da ETAP sobre a qualidade de vida de uma mu-
houve melhora nos três grupos em relação ao grupo controle,
lher com IUE. Após o tratamento houve melhora da qualidade de
no entanto, apenas no grupo de TAP houve melhora significati-
vida, além de melhora da força dos músculos do AP e redução
va quando comparado aos demais grupos. Nos resultados em
da frequência de perdas.
relação à adesão ao tratamento, o grupo TAP novamente apresentou resultados significativamente maiores que os demais
CONCLUSÃO
grupos, com 93%. Segundo os autores, esse resultado pode ter
Concluiu-se então, através dos estudos citados, que a ETAP
sido influenciado pelas dificuldades que as mulheres encontra-
utilizando-se uma frequência de 50Hz, melhora a força muscu-
ram na utilização da ETAP em casa e consequentemente uma
lar, a frequência de perdas urinárias, promove cura objetiva e
menor adesão ao tratamento, já que elas só se encontravam
subjetiva da IU, o que pode influenciar na melhora da qualidade
com o fisioterapeuta uma vez por mês.
de vida das mulheres. No entanto parece que o uso da ETAP em
GEIRSSON ET AL, 2009 em um estudo randomizado com-
adição ao TAP pode ser mais indicado, pois em alguns artigos,
pararam a eficácia do TAP com e sem ETAP no tratamento IUE.
os resultados do TAP foram melhores comparando-se à ETAP
Participaram do estudo 24 mulheres com idade entre 27 e 73
e proporcionou benefícios na manutenção dos resultados em
anos. As pacientes foram divididas em grupo 1 (TAP) e 2 (TAP e
longo prazo. Os benefícios da ETAP foram evidentes numa ava-
ETAP com frequência de 50HZ). O grupo foi significativamente
liação em curto prazo, já em longo prazo os efeitos ainda não
mais jovem. Ao final do estudo, ambos os grupos apresentaram
são bem esclarecidos. São necessários mais estudos com ETAP
aumento significativo da força muscular do AP e 70% de todas
isoladamente, com parâmetros semelhantes e comparando-se a
as mulheres tinham reduzido ou curado a IUE. No entanto, o
outros tratamentos para reforçar a eficácia desse recurso.
grupo 2 apresentou significativamente melhores resultados. BERNADES ET AL, 2000 realizou um estudo randomizado comparando a eficácia da ETAP e do TAP na IUE. Participaram do estudo 14 mulheres com idade entre 31 e 67 anos, que foram divididas em dois grupos, grupo ETAP e grupo TAP com sete mulheres em cada. As pacientes realizaram ETAP com frequência de 50Hz e os grupos foram tratados durante 10 dias consecutivos em ambulatório. Todas as pacientes obtiveram uma
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244 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
NOTAS DE RODAPÉ
Alunas do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Newton Paiva 1
2 Docente
do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Newton Paiva
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 245
FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS E O ATENDIMENTO AOS CASOS DE GRIPE: medicamentos de venda livre e o uso racional Natália Vasconcelos Silva de Brito* Elias Borges do Nascimento Júnior**
RESUMO: A gripe e o resfriado são infecções respiratórias agudas. Doenças de origem viral que acometem principalmente as vias aéreas superiores, podendo causar cefaléia, mialgia e febre. São diagnosticadas pelo quadro clínico e tratadas, basicamente, com medicamentos de venda livre. Os medicamentos de venda livre podem ser propagandeados para a população leiga por vários meios de comunicação, o que produz um aumento no consumo desses medicamentos e consequentemente o aumento do número de intoxicações por fármacos. O objetivo deste trabalho é mostrar a importância do papel do farmacêutico na orientação aos pacientes que fazem uso de medicamentos de venda livre para favorecer o uso racional desses fármacos, e também, a importância de propiciar treinamento adequado aos funcionários, para que estes também sejam fonte de informações corretas. PALAVRAS-CHAVE: Gripe; resfriado; medicamento de venda livre; uso racional de medicamentos; propaganda de medicamentos, indicação farmacêutica.
INTRODUÇÃO
espirros e coriza (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003;
As causas mais frequentes de infecções das vias aéreas
MASSUNARI, et al., 2004).
estão relacionadas à gripe e ao resfriado. Essas doenças têm
A gripe e o resfriado são diferenciados pelo quadro clínico. As
distribuição global, elevada transmissibilidade e possuem mar-
manifestações sistêmicas são mais intensas na gripe, tornando
cada sazonalidade. Podem ser causados por vários agentes
os sintomas de vias aéreas, sintomas que mais incomodam no
virais, por exemplo: Influenza, rinovírus, coronavirus, adeno-
resfriado, problemas secundários (PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
vírus, entre outros (CASTRO, 2008; CAMPAGNA, et al., 2009; MASSUNARI, et al., 2009).
Essas doenças têm curso benigno, todavia, os idosos, crianças, indivíduos imunocomprometidos e portadores de do-
Segundo o Centers for Disease Control and Prevention
enças crônicas podem desenvolver complicações como pneu-
(CDC) 60 milhões de pessoas ficam gripadas ou resfriadas por
monias virais e bacterianas, além de descompensação de do-
ano nos Estados Unidos, e dessas, 25 milhões procuram aten-
enças pré-existentes que necessitem de internação hospitalar
dimento médico. Estima-se que, anualmente, cerca de 10% da
(CASTRO, 2008).
população mundial apresenta um episódio de Influenza (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
A gripe causa 25 milhões de consultas médicas anuais, centenas de milhares de internações e vários dias de trabalho
O principal agente etiológico da gripe é o vírus Influenza.
perdidos, o que gera um grande impacto econômico estimado
Esses vírus sofrem mutações sazonais facilmente, o que gera
em 12 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos (MASSU-
ausência de imunidade duradoura. O resfriado comum é cau-
NARI, et al., 2004).
sado principalmente pelo rinovírus (30 a 50%), que também
O tratamento da gripe e do resfriado consiste em minimizar
sofre mutações com facilidade. A existência de mais de 100
os sintomas, pois como é uma doença autolimitada, o próprio
sorotipos de rinovírus também dificulta a produção de vacinas
corpo pode destruir o vírus. Os medicamentos indicados nesse
eficazes (CASTRO, 2008; MASSUNARI, et al., 2004; FORLEO-
tratamento são chamados “medicamentos para o tratamento
NETO, et al., 2003).
sintomático da gripe”, já que o termo “antigripal” é utilizado
O quadro de sintomas mais frequente da gripe é febre,
para denominar medicamentos antivirais, que interferem na
calafrios, cefaleia, tosse seca, dor de garganta, congestão na-
multiplicação dos vírus como, por exemplo, os inibidores da
sal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga. Em adultos e crianças
neuraminidase, ou métodos de imunização, como as vacinas
saudáveis, a doença pode durar de uma a duas semanas. O
(MASSUNARI, et al., 2004).
resfriado causa dor e desconforto faríngeo, congestão nasal,
Existe uma grande variedade de medicamentos cuja pro-
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posta é aliviar os sintomas dessas doenças. As classes mais
DESENVOLVIMENTO
utilizadas são: descongestionantes de uso tópico ou sistêmico;
A GRIPE E O RESFRIADO
expectorantes/mucolíticos; antitussígenos; antipiréticos; medicamentos para cefaleia; vitaminas e outros (BRICKS, 1995).
A gripe e o resfriado fazem parte do grupo de Infecções Respiratórias Agudas (IRA) que são as principais causas de
Por ser uma doença comum na população, algumas pesso-
morbidade e mortalidade no mundo. A Organização Mundial de
as não procuram ajuda médica e instituem seu próprio tratamen-
Saúde (OMS) estima que as IRA causem quatro milhões de óbi-
to. Tratamentos estes feitos à base de medicamentos para alívio
tos por ano no mundo (FARHAT, et al., 2002).
dos sintomas. De fácil acesso, eles despertam nos pacientes/
Ambas apresentam curso benigno, na maioria das vezes.
clientes a falsa crença de que são totalmente seguros e não tra-
O próprio corpo é capaz de eliminar o vírus entre 3 e 10 dias. A
zem malefícios à saúde (BRICKS, 1995).
gripe tem duração média de uma a duas semanas, os resfriados
Por esse motivo, é necessário que o farmacêutico esteja preparado para intervir e orientar pacientes que procurem por esses medicamentos nas farmácias. O farmacêutico
de 7 a 10 dias, quando não há complicações (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO et al., 2003).
deve realizar ações que favoreçam a utilização correta do fármaco.
grande número de pessoas infectadas causa várias consultas
Existe a dificuldade de o farmacêutico atender a todos os
mento e hospitalização em casos mais complicados, e indiretos
pacientes que chegam à farmácia, portanto ele deve contemplar
Mesmo sendo doenças comuns e de bom prognóstico, o médicas e um grande consumo de recursos diretos, com o tratacomo faltas no trabalho e na escola (CASTRO, 2008).
informações pertinentes aos casos de medicamentos de venda
Um entre dez adultos apresenta a infecção por ano. A inci-
livre nos treinamentos dos seus funcionários, sempre chamando
dência, relatada por clínicas, é de mais de 30% da população
sua atenção para que nos casos mais complicados procurem
pediátrica atendida, contudo a maior taxa de mortalidade ocorre
seu auxilio. Assim o farmacêutico estará, de fato, atuando em
em idosos, 10.000 a 40.000 óbitos nos EUA, em cada época
busca do uso racional destes medicamentos.
sazonal da doença (MASSUNARI, et al., 2004).
O objetivo deste trabalho é esclarecer a importância da inte-
Os grupos mais susceptíveis a complicações causadas por
ração e intervenção do farmacêutico com o paciente na farmácia
gripes e resfriados que levam a hospitalização e até óbito, são
comunitária, visando promover o uso racional dos medicamen-
idosos, portadores de doenças cardiopulmonares, indivíduos
tos indicados para tratamento sintomático da gripe como estra-
imunossuprimidos, gestantes, portadores de doenças metabóli-
tégia para minimizar intoxicações e efeitos adversos causados
cas e crianças de até um ano (FARHAT, et al., 2002). Esses grupos de risco são os que mais necessitam de in-
por esses fármacos.
ternação, sendo eles os que contam mais no número de óbitos MÉTODO
por gripes e resfriados no mundo, esses grupos de risco são
Pesquisa bibliográfica não sistemática utilizando a Bibliote-
os mais propensos a contrair infecções bacterianas, pneumonia viral e/ou bacteriana além do risco de descompensação de do-
ca Virtual em Saúde e o portal Capes. Os descritores utilizados na busca foram: gripe, resfriado
enças pré-existentes. Essas populações são normalmente alvo
comum, gripe humana, infecção respiratória aguda, tratamento
de políticas pró-imunização e de prevenção (CASTRO, 2008;
da gripe, medicamentos para gripe, prevenção da gripe, me-
FORLEO-NETO et al., 2003).
dicamentos de venda livre, transtorno menor, automedicação, propaganda de medicamentos, uso racional de medicamentos, indicação farmacêutica e prescrição farmacêutica.
INFLUENZA – O AGENTE CAUSADOR DA GRIPE O principal causador da gripe é o vírus Influenza. Ele per-
O critério de inclusão dos artigos foi: a disponibilidade do
tence à família Orthomyxoviridae. São vírus que possuem como
texto na íntegra, o tema principal (gripe e resfriado comum) e
material genético uma fita simples de RNA e são envelopados
os artigos que priorizavam discussões acerca do tratamento e
(CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
prevenção de gripes e resfriados. Foram excluídos os artigos que abordavam as gripes suína e aviária como tema principal. Não houve critério de exclusão referente à utilização de apenas artigos científicos. Alguns textos de opinião e editoriais também foram selecionados para análise. Foram excluídos os artigos com conflito de interesse declarado.
Existem três sorotipos do vírus Influenza: A, B e C, sendo que apenas os sorotipos A e B causam doenças em humanos. Os vírus do sorotipo A também infectam outros animais, como porcos e aves (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003). O principal causador de epidemias e pandemias em humanos é o vírus do sorotipo A. Os vírus deste sorotipo apre-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 247
sentam maior variação que os outros sorotipos e são dividi-
1), a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). No total, foram iden-
dos em subgrupos, essa divisão é realizada com base nas
tificados 15 hemaglutininas e 9 neuraminidases em várias espécies
diferenças das glicoproteínas da membrana viral (CASTRO,
animais, apenas três hemaglutininas (H1, H2 e H3) e duas neurami-
2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
nidases (N1 e N2) foram identificadas em vírus infectando humanos
Existem duas glicoproteínas marcadoras desse sorotipo (FIG.
(CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
A imunidade contra esses vírus é gerada pela produção
RNA, assim inicia-se o processo de replicação do RNA viral e
de anticorpos específicos para essas proteínas de membra-
produção de proteínas virais (ALMEIDA, et al., 2009).
nas. O vírus Influenza tem alta capacidade de adaptação e
Após a replicação de RNA e a produção de novas proteí-
durante a fase de replicação podem ocorrer mutações nas
nas acontece a germinação dos novos vírus e a sua liberação,
principais proteínas de membrana H e N (FORLEO-NETO, et
intermeada pela proteína Neuraminidase que rompe a ligação
al., 2003).
entre os vírions recém-formados e o ácido siálico (ALMEIDA,
O vírus Influenza penetra nas células epiteliais colunares
et al., 2009).
que revestem o trato respiratório através da interação entre
O processo de reprodução dura de 1 a 4 dias (FIG. 2).
Hemaglutinina e o ácido siálico, receptor presente na célula
Após este período de incubação, os vírus se misturam no
hospedeira. Após a entrada do vírus o canal iônico M2 permi-
muco e estão prontos para serem espalhados (FORLEO-NE-
te a acidificação do núcleo viral para que haja a liberação do
TO et al., 2003).
As epidemias de Influenza são geradas pela ocorrência des-
nova epidemia de Influenza, principalmente durante o inverno,
sas pequenas mutações que produzem mudanças pontuais em
quando o ar está mais seco e o tempo frio faz com que as pes-
aminoácidos das glicoproteínas, principalmente na hemaglutini-
soas fiquem mais próximas e com o ambiente mais fechado,
na, essas pequenas mutações chamadas drifts tornam o vírus
o que facilita a disseminação e infecção pelo vírus (FORLEO-
resistente aos anticorpos produzidos por infecções prévias e/ou
NETO, et al., 2003).
vacinação (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003). Foi observado que a cada período de 1 a 3 anos surge uma
Existem mutações onde há uma maior variação no material genético dos vírus como, por exemplo, a substituição de um
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segmento completo do genoma viral que produz uma nova proteína de membrana, essas mutações são chamadas shifts e são
sintomas é de dois a três dias (CASTRO, 2008). Transmissão, contágio e sintomas de gripes e resfriados.
as causadoras das pandemias. Casos de pandemias são mais
A maneira como os vírus causadores de resfriados e gri-
irregulares, estima-se que elas ocorram a cada 30 ou 40 anos
pes contaminam as pessoas é basicamente a mesma. O doente
(FORLEO-NETO, et al., 2003).
transmite o vírus por aerossóis produzidos por espirros, tosses
Essas variações são geradas pela recombinação do mate-
e até pela fala. O potencial de transmissão é aumentado quan-
rial genético de vírus que infectam humanos e vírus que infectam
to mais fechado for o ambiente em que o doente se encontra.
outros animais, nesses casos um vírus que causaria doenças
(FORLEO-NETO et al., 2003; CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PI-
apenas em animais torna-se capaz de infectar os humanos
TREZ, J., 2003).
(FORLEO-NETO, et al., 2003).
Outra forma de transmissão é o contato direto do indivíduo
Nos casos de grandes mutações, a maioria da população
sadio com secreções ou objetos contaminados, em que ocorre
não tem imunidade nenhuma contra esses novos vírus então, a
a auto-inoculação do vírus, ao levar a mão à boca ou coçar os
doença é disseminada rapidamente e dependendo da virulên-
olhos (CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
cia da cepa pode causar milhões de mortes (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO, et al., 2003).
O auge da capacidade de transmissão do vírus está compreendido entre 24 horas antes do início dos sintomas e até dois
A maior pandemia de gripe que se tem notícia ocorreu em
dias após o início do período sintomático.
Existe uma
1918 e foi chamada Gripe espanhola. A letalidade da doença foi
preocupação maior com a população de crianças doentes, pois
atribuída principalmente às infecções bacterianas que se insta-
já foi observado que elas transmitem o vírus por mais tempo que
laram na população já debilitada pela fome e pelas condições
os adultos (CASTRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
insalubres de vida (GÉRVAS, 2009).
Os sintomas de gripes e resfriados são parecidos. Os qua-
Outros casos recentes são a gripe aviária de 2005 e a gripe
dros sem complicações apresentam sinais e sintomas caracte-
suína de 2009 que causaram pânico na população mundial. A
rísticos, como, cefaleia, tosse seca, dor de garganta, conges-
previsão da OMS era que sete milhões de pessoas morreriam
tão nasal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga (CASTRO, 2008;
em decorrência da pandemia de gripe aviária, no entanto o nú-
FORLEO-NETO et al., 2003).
mero de óbitos foi bem menor, 262 (GÉRVAS, 2009).
A febre alta (entre 38 a 40ºC, com duração de um a três
Observando isso conclui-se que não se deve alarmar a po-
dias, pico nas primeiras 24 horas) é característica da gripe, já o
pulação com informações iniciais e tratar a gripe corretamente
resfriado pode apresentar um estado febril, ainda assim muito
com boa alimentação, repouso, reposição hídrica, boa higiene
menos intenso (CASTRO, 2008; FORLEO-NETO et al., 2003).
e, no caso de sintomas mais graves, buscar ajuda médica (GÉRVAS, 2009).
O resfriado tem quadros nasofaríngeos muito relevantes como: dor e desconforto faríngeo, congestão nasal, espirros e coriza, onde a secreção nasal pode se tornar espessa e até
RINOVÍRUS – PRINCIPAL CAUSADOR DOS RESFRIADOS Existem vários vírus capazes de causar o resfriado comum.
purulenta, o que não significa necessariamente contaminação bacteriana (CASTRO, 2008).
O parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus e entero-
Esse quadro é causado principalmente pelas alterações in-
vírus são agentes causadores de resfriado comum. Juntos eles
flamatórias que a entrada dos vírus causa. Primeiramente esse
respondem por cerca de 20% dos casos de resfriados. Contudo,
processo inflamatório aumenta a permeabilidade dos vasos e
os quadros gerados por esses vírus têm uma variedade maior
isso gera a congestão nasal e a coriza, que no início tem aspecto
de sintomas e gravidade (CASTRO, 2008).
aquoso (CASTRO, 2008).
Os rinovírus pertencem à família Picornaviridae e são do
A reação inflamatória também compromete o funcionamen-
gênero Enterovírus. São os maiores causadores de resfriado
to do aparelho mucociliar gerando um acúmulo de muco nos
comum, respondem sozinhos por 30 a 50% dos casos. Existem
seios da face o que aumenta a viscosidade da coriza, podendo
três espécies de rinovírus que infectam humanos, HRV-A, HRV-B
ela adquirir aspecto purulento, sendo até confundida com sinu-
e HRV-C, e mais de 100 sorotipos foram identificados (CASTRO,
site bacteriana (CASTRO, 2008).
2008; FRY et al., 2011).
O acúmulo do muco nos seios da face e o comprometi-
O quadro de sintomas gerado pela infecção por rinovírus é
mento do aparelho mucociliar, que também compromete a tuba
geralmente o mesmo, baixa intensidade e restritos ao trato res-
auditiva, cria uma condição ideal para o aparecimento de infec-
piratório superior, o tempo de incubação até o aparecimento dos
ções bacterianas, sinusite e otite média aguda (CASTRO, 2008).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 249
DIAGNÓSTICO DE GRIPES E RESFRIADOS
sam ser modificadas, pois o vírus da gripe sofre mutações que
A identificação do vírus só é necessária em situações de
precisam ser atualizadas para que a vacina seja eficaz. Ela é
epidemias, pois as autoridades sanitárias podem utilizar infor-
composta basicamente por três cepas, duas do sorotipo A
mações sobre a área de aparecimento do vírus para melhor con-
(H1N1 e H3N2) e uma do sorotipo B (FARHAT et al., 2002; AL-
trole ou prevenção da epidemia. As técnicas de detecção são:
MEIDA et al., 2009).
cultura de swab com secreção nasal, testes imunoenzimáticos
A vacinação deve ocorrer sempre na época que precede
e a pesquisa do vírus com técnicas de biologia molecular (CAS-
o inverno. É aprovada para indivíduos acima de seis meses
TRO, 2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
de vida e no Brasil ela é gratuitamente distribuída para idosos,
Na prática, o diagnóstico da gripe é feito apenas com base
crianças, grávidas, portadores de doenças crônicas, indivíduos
no quadro clínico, porém, existe certa dificuldade em relação a
imunocomprometidos e profissionais da área da saúde (ALMEI-
esse diagnóstico. Os sintomas apresentados não são totalmen-
DA et al., 2009).
te específicos e a gripe e o resfriado podem ser confundidos
Alguns autores acreditam que a eficiência da vacina é ques-
com doenças bacterianas como, por exemplo, sinusite ou farin-
tionável, pois a proteção conferida por ela é bem limitada. Em
goamigdalite, essa dificuldade acaba gerando um excesso de
crianças e adolescentes sua efetividade é de apenas 33% e inútil
prescrições de antimicrobianos (PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
em menores de dois anos e a eficácia em adultos e idosos não
A própria diferenciação entre gripe e resfriado é complicada.
é comprovada (GERVÁS, 2009; RIERA, 2009)
O que ajuda a distinguir uma doença da outra é a intensidade
Outra medida de prevenção é a higiene adequada. Lavar
de alguns sinais e sintomas. A mialgia, febre, e a prostração são
as mãos com água e sabão sempre que usar o banheiro, quan-
muito mais intensas na gripe. No resfriado, a coriza, dor de gar-
do chegar da rua e antes de se alimentar, ou usar álcool gel.
ganta e congestão nasal incomodam mais o doente (CASTRO,
Evitar levar as mãos ao nariz ou coçar os olhos, quando tossir,
2008; PITREZ, P.; PITREZ, J., 2003).
cobrir a boca (de preferencia com um lenço descartável), evitar
Algumas informações como a situação da circulação do ví-
contato próximo com doentes, e quando doente usar mascara
rus da gripe nas comunidades e informes sobre epidemias de
cirúrgica simples e evitar o contato com pessoas sadias para
gripe podem ajudar no diagnóstico (FORLEO-NETO et al., 2003).
não contaminá-las (CDC, 2011; ALMEIDA et al., 2009; RIERA, 2009, GERVÁS, 2009).
PREVENÇÃO E TERAPIA NÃO FARMACOLÓGICA PARA GRIPE E RESFRIADO
O CDC ainda recomenda que quando o indivíduo contrair gripe deve procurar o médico para ver a possibilidade de utilizar
O farmacêutico é parte importante da equipe multidisciplinar
um medicamento antiviral. Esse método, seja para tratamento
de atendimento a saúde, seu papel nesta equipe é informar o
ou prevenção, é duvidoso e não apresenta boa relação risco/
paciente e esclarecer qualquer dúvida que ele tenha quanto a
beneficio, pois reduz pouco os dias de doenças e frequente-
sua terapia que não é composta apenas de fármacos, medidas
mente causam efeitos adversos como vômitos e até alterações
não farmacológicas e de prevenção também fazem parte do tra-
neuropsiquiátricas (CDC, 2011; GERVÁS, 2009).
tamento para buscar e manter a saúde (GALATO, et al., 2009).
Os medicamentos utilizados neste caso são de dois tipos,
Pensando em um possível atendimento o farmacêutico
um bloqueador de canal iônico M2 (impede a liberação do RNA
deve ter o conhecimento das medidas não farmacológicas e de
viral), no entanto estes fármacos não são boa escolha, pois o
prevenção de gripes e resfriados para que possa orientar ade-
desenvolvimento de resistência a ele é comum, até um terço da
quadamente o paciente.
população tratada. Outro medicamento é o inibidor da neurami-
As maneiras de prevenção da gripe são simples. Segundo
nidase (necessária para liberação dos novos vírus) que podem
o CDC, a primeira providência é a vacinação. A vacina é uma
diminuir o tempo de doença, e consequentemente evitar com-
maneira de adquirir imunidade contra o vírus, assim quando o
plicações. Esses medicamentos são opções no tratamento de
organismo entra em contato ele já tem anticorpos para combater
pessoas com grande risco de complicações, porém, só podem
a doença (CDC, 2011).
ser usados se prescritos por um médico (CDC, 2011; ALMEIDA
No Brasil a vacinação é o principal método de profilaxia da
et al., 2009).
gripe e está relacionada com a diminuição dos casos de com-
As medidas não farmacológicas indicadas em casos de gripes
plicações como infecções bacterianas e pneumonias, principal-
e resfriados são: reposição hídrica, repouso e boa alimentação. Es-
mente em idosos (FARHAT, et al., 2002; ALMEIDA, et al.).
sas medidas ajudam no fortalecimento do corpo e do sistema imu-
Um inconveniente das vacinas é que todo ano elas preci-
nológico, que poderá destruir o vírus (CDC, 2011; GERVÁS, 2009).
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A febre pode ser combatida, juntamente com o tratamento farmacológico, utilizando compressas de água fria ou banhos frios, que favorece o aumento da velocidade de redução de temperatura corporal (WANNMACHER; FERREIRA, 2004)
acetilsalicílico relacionado a síndrome de Reye em crianças (USPDI, 2006; BRICKS, 2000). O trabalho do farmacêutico é realizar uma anamnese que possa identificar os casos que necessitem de atenção especia-
O farmacêutico deve sempre orientar sobre essas medidas
lizada. Para os casos que podem ser atendidos na farmácia ele
não farmacológicas, pois elas ajudam no fortalecimento do corpo
deve indicar o tratamento e orientar o paciente, para que este faça
e na recuperação, para que a doença seja menos grave e dure
o uso correto da medicação e também das medidas não farma-
menos tempo.
cológicas.
TRATAMENTO DE GRIPES E RESFRIADOS
for Responsible Self-medication (TESEMED), criado na Europa,
Através do programa Telematics in Community Pharmacies O que se trata da gripe são os sintomas, entretanto nem to-
foram publicados vários protocolos para atendimento de trans-
dos os indivíduos que apresentem sintomas da gripe podem ser
tornos menores, entre eles o de gripes e resfriados (FIG. 3). O
tratados sem antes se consultar com um médico. Alguns casos
protocolo original foi modificado para melhor entendimento das
são complicados e necessitam de atenção médica, principalmen-
informações.
te os idosos e as crianças.
Neste protocolo estão informações importantes que o farma-
Os medicamentos de venda livre (paracetamol, ácido ace-
cêutico deve conseguir durante a anamnese quando um indivíduo
tilsalicílico, ibuprofeno, entre outros) são seguros se utilizados
procura a farmácia para tratar da gripe ou resfriado. São detalhes
da maneira correta, contudo, a maioria deles não foi submetida
que podem garantir a utilização segura dos medicamentos sem
a estudos que comprovem sua eficácia e segurança em certas
maiores complicações.
populações, por exemplo, crianças (BRICKS, 1995).
Se o quadro clínico do indivíduo for considerado um mal me-
Muitos indivíduos necessitam de ajustes de doses, como ido-
nor, caracterizado com auxílio do protocolo, o farmacêutico deve
sos, crianças e portadores de doenças hepáticas ou renais ou o
indicar o tratamento necessário para melhorar os sintomas do in-
próprio medicamento pode ser capaz de causar efeitos indeseja-
divíduo. Cada caso é particular e merece atenção diferenciada.
dos, como a dipirona suspeita de causar agranulocitose e o ácido
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 251
Tratamento farmacológico dos sintomas de gripes e resfriados – associações de fármacos e medicamentos de venda livre
no Brasil é a RDC nº 138 de 2003. Nesta resolução estão descritos todos os grupos de indicações terapêuticas que podem
O tratamento farmacológico da gripe consiste no uso de
ser vendidos sem prescrição, entre eles os anti-histamínicos,
medicamentos que diminuem os sintomas (febre, coriza, mial-
analgésicos, antipiréticos, e descongestionantes nasais, xa-
gia, cefaleia, entre outros). Existe uma classe de medicamen-
ropes mucolíticos, expectorantes e antissépticos bucais, que
tos para este fim que, normalmente, são associações entre fár-
são empregados no tratamento sintomático da gripe (ANVISA,
macos com atividades distintas, onde cada um age sobre um
2003b).
sintoma. Essas associações são reguladas pela RDC nº 40 de
Conhecer as características farmacológicas desses medi-
2003. As principais regras desta RDC estão resumidas em uma
camentos é importante para saber quais riscos os pacientes
tabela no Anexo A.
estão expostos quando utilizam o medicamento. Contra indica-
Também podem ser utilizados medicamentos contendo
ções, interações, reações adversas, dose e duração do trata-
um único fármaco, normalmente são analgésicos e antipiréti-
mento são informações básicas que devem ser informadas ao
cos cuja segurança foi considerada satisfatória. Esses medi-
paciente no momento da dispensação.
camentos são comercializados sem a obrigação da prescrição médica, ou seja, são de venda livre (BRICKS, 1995).
Alguns exemplos de riscos com medicamentos comumente utilizados para sintomas de gripes estão resumidos na Tabela 1.
A legislação que controla os medicamentos de venda livre
O paracetamol, fármaco considerado seguro, pode ser al-
causar riscos à saúde do usuário, contudo são seguros se usa-
tamente tóxico quando tomado em superdose (4 gramas ou 8
dos corretamente. O objetivo de existir medicamentos de venda
comprimidos de 500mg), concomitante ao uso de bebidas al-
livre parte do princípio que cada pessoa exerce um autocuidado
coólicas e inibidores enzimáticos ou em indivíduos com função
(International Pharmaceutical Federation – FIP, 1996).
hepática comprometida (SWEETMAN, 2007; USP-DI, 2006).
A automedicação é reconhecida pela OMS como parte do
A dipirona, largamente utilizada no Brasil, foi proibida em
autocuidado e quando realizada de maneira correta pode be-
vários países da Europa e nos EUA, pois nesses países eles
neficiar a saúde do individuo e reduzir custos para o governo
consideram que os efeitos adversos causados pela substância
(GALATO, et al., 2009).
(agranulocitose e outros) superam os seus benefícios (SWEETMAN, 2007; USP-DI, 2006).
O processo de autocuidado e a automedicação
No Brasil a dipirona ainda não foi retirada do comércio,
O autocuidado não se resume apenas a automedicação,
possivelmente porque não se constatou número relevante de
ações pró-saúde como a prática de exercícios físicos, a boa ali-
agranulocitose em nossa população que justifique a retirada de
mentação, o consumo moderado de álcool e o não consumo de
um medicamento de comprovada eficácia. Entretanto como a
cigarros e drogas ilícitas, também são partes do autocuidado e
agranulocitose é uma doença rara, mas perigosa o seu uso é
são incentivadas pelos governos, pois gera uma redução nos
desaconselhável em pacientes com dor moderada e que podem
custos de atendimento médico para a população (FIP, 1996).
fazer uso de outros medicamentos com efeitos adversos mais previsíveis e evitáveis (WANNMACHER, 2005). Concluímos que os medicamentos de venda livre podem
Com o passar dos anos as populações têm estado cada vez mais informadas, contudo, às vezes, não o suficiente para realizar a automedicação sem nenhuma orientação, é neste contex-
252 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
to que entra o conceito de automedicação responsável. Segundo
A resolução que trata do controle da propaganda no Brasil
a Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA)
é a RDC nº 96 de 2008 da ANVISA, que substitui a antiga RDC
cerca de 80 milhões de brasileiros já eram adeptos da automedica-
nº 102 de 2000, que era considerada uma tentativa frustrada
ção na década de 90 (BORTOLON et al., 2007).
de regular a propaganda de medicamentos. Alguns aspectos
Uma pesquisa sobre o perfil da automedicação no Brasil realizada no ano de 1997 revelou que 17,3% dos medica-
podem ter melhorado, contudo a nova regra ainda apresenta algumas falhas (NASCIMENTO, 2007).
mentos utilizados em automedicação são analgésicos, 7,1%
Inicialmente a frase obrigatória na RDC nº 102/00 para to-
descongestionantes nasais, 5,6% antiinflamatórios, 3,8% pre-
das as peças, “ao persistirem os sintomas o médico deverá
parados para tosse e resfriado e 4,0% anti-histamínicos de uso
ser consultado”, foi substituída por: “Esta substância é um me-
sistêmico (ARRAIS, et al., 1997).
dicamento. Seu uso pode trazer riscos. Procure o médico e o
Todos esses fármacos podem ser utilizados no tratamento
farmacêutico, leia a bula” (ANVISA, 2008).
sintomático da gripe e neste estudo representaram um total de
A frase da RDC 102/00 levava a entender que o médico era
37,8% de todos os medicamentos utilizados sem prescrição
uma parte supérflua no processo de medicação e incentivava o
médica na pesquisa.
consumo do medicamento (NASCIMENTO, 2007).
Do total de casos de intoxicação no Brasil 28% são into-
A frase da RDC 96/08 traz o alerta de que o uso do produto
xicações medicamentosas. Os campeões de eventos de in-
traz riscos, mesmo sendo de venda liberada, e inclui também a
toxicação são: benzodiazepínicos, antidepressivos, antiinfla-
figura do farmacêutico, como profissional apto a informar, além
matórios e os medicamentos para alívio sintomático da gripe.
de incentivar a leitura da bula.
Segundo a ANVISA o uso incorreto de medicamentos leva um
Uma obrigação importante que foi adicionada à nova legis-
paciente ao hospital com quadro de intoxicação a cada 20 se-
lação, referente aos medicamentos de venda isenta de prescri-
gundos (BORTOLON et al., 2007).
ção, obriga que algumas substâncias tenham uma advertência
O farmacêutico é o profissional apto a informar e orientar a automedicação para que ela seja de fato responsável, com o
específica vinculada a propaganda. Alguns exemplos podem ser observados na tabela do Anexo B (ANVISA, 2008).
medicamento certo, na dose certa, horário certo, pela via cer-
Outras regras para a propaganda de medicamentos em
ta, inclusive orientar o paciente a consultar um médico quando
geral e os de venda livre da RDC nº 96/08 estão resumidas
necessário (FIP, 1996).
na tabela do Anexo C, sendo que o artigo 26 trata apenas de
A propaganda como inimiga da automedicação responsável
medicamentos de venda livre.
Existe uma lacuna na relação entre farmacêutico e pacien-
Uma pesquisa analisou 100 peças publicitárias de medi-
te. Por várias vezes o farmacêutico não está disponível para
camentos quando a RDC nº 102/00 foi publicada. Dentre as
cumprir o papel de orientar e a população sequer requisita sua
peças, 12 eram de analgésicos, 12 medicamentos para gripe, 9
presença para sanar suas dúvidas e, além disso, existe um ini-
expectorantes ou antitussígenos, 6 antipiréticos, 3 desconges-
migo silencioso que compete contra a automedicação respon-
tionantes e 3 antiinflamatórios. Somando são 45 peças sobre
sável: as propagandas de medicamentos.
medicamentos que podem ser utilizados no tratamento dos
Os especialistas em marketing dizem que o objetivo da pro-
sintomas da gripe (NASCIMENTO, 2007).
paganda é aumentar o lucro da empresa. Pensando nesta ótica
O resultado da pesquisa mostra que todas as peças ana-
concluímos que o objetivo do marketing vai de encontro ao uso
lisadas apresentaram alguma irregularidade, fato este que
racional dos medicamentos (NASCIMENTO, 2007; 2010).
mostra o total desprezo das companhias farmacêuticas e das
O ponto crítico nesta situação é que um bem de saúde,
empresas de marketing pelas leis do país.
o medicamento, é reduzido a um bem de consumo, e o risco
Após a RDC 96/08 não foi realizada nenhuma pesquisa
existente está no fato de que as peças publicitárias enaltecem
deste tipo, e esse não é um dos objetivos deste trabalho, po-
os benefícios dos medicamentos e não citam os riscos e os
rém, podemos observar que algumas propagandas que estão
efeitos adversos que o medicamento pode causar. E ainda um
na mídia atualmente tem certa soberba e dão a entender que o
risco pela desinformação (SOYAMA, 2006).
medicamento é quase “mágico”. Alguns exemplos são (FIG. 4):
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 253
As propagandas representadas na figura 4 (a) e (e) tra-
representam uma grande penalidade para as indústrias, compara-
zem como personagens de suas campanhas artistas de te-
do com os valores investidos nas campanhas. Foi constatado que
levisão, o que infringe o artigo 26, inciso III, da RDC nº96/08,
em um ano e meio de fiscalização pela ANVISA o valor das multas
que proíbe a utilização da figura de celebridades nas peças.
aplicadas não chegou nem ao valor de duas peças veiculadas na
A frase da antiga RDC 102/00 também não foi adaptada à
televisão em horário nobre (NASCIMENTO, 2007; 2010).
nova exigência.
A RDC 96/08 não especifica as multas que serão aplicadas,
A peça representada na figura 4 (d) mostra claramente a
mas tem que se levar em conta que a indústria farmacêutica investe
soberba das peças dizendo que o medicamento é santo. A pro-
de 15% a 20% do faturamento total com propaganda. Entre propa-
paganda da figura 4 (b) disfarçadamente sugere diagnóstico ao
gandas para o grande público e para profissionais que trabalham
perguntar se “é gripe”. Também em sua peça veiculada na tele-
com os medicamentos se gasta duas ou três vezes mais do que o
visão os atores espirram e tossem, ou seja, mostram sintomas
valor investido em pesquisa e inovações (SOYAMA, 2006).
de gripe e indicam seu medicamento para tratá-los.
Em todos os países existem uma ingênua e demasiada
A peça representada na figura 4 (c) traz a sugestão de diag-
crença da população no poder dos medicamentos e as empre-
nóstico e também emprega palavras, como, “tomou”, que mes-
sas de propaganda utilizam isso para estimular o consumo sem
mo não estando no imperativo, sugere que o medicamento é in-
orientação, e quanto maior esse consumo maior é o risco de
falível contra gripes e resfriados, indo contra o artigo 8, inciso VII.
intoxicações (ARRAIS, et al. 1997; LESSA; BOCHNER, 2008).
É possível observar também que nenhuma das peças in-
Segundo a OMS, 50% dos medicamentos são indicados, dis-
forma os efeitos adversos e contraindicações principais, logo,
pensados ou utilizados de maneira inadequada e esse fato pode
subentende-se que o medicamento não traz riscos.
gerar intoxicações e internações. De 15% a 20% do orçamento dos
As propagandas não têm o objetivo de informar, pois a população desinformada é mais facilmente manipulada com a ilusão de que a saúde pode ser comprada na farmácia (NASCIMENTO, 2007). Um problema remanescente da RDC 102/00 é que as peças publicitárias só são avaliadas após a veiculação para a grande
hospitais são gastos no tratamento de indivíduos que usaram produtos farmacêuticos de maneira incorreta (SOYAMA, 2006). Observamos então que a propaganda de medicamentos é um grande problema a ser superado, principalmente no caso dos medicamentos de venda livre, que inclui os medicamentos para alívio sintomático da gripe.
massa. No caso de informações erradas ou incompletas é com-
O interesse das indústrias farmacêuticas, empresas de
plicado modificar a visão da população que já foi exposta ao
marketing, varejistas, donos de farmácias e de distribuidoras,
anúncio. A RDC 96/08 já prevê que sejam criadas mensagens
atualmente, é, somente, a acumulação de capital. Este interes-
retificadoras dos anúncios que descumprirem as regras, porém
se não deveria nunca sobrepor os interesses da saúde pública
esta é uma medida paliativa (ANVISA, 2000; 2008).
(NASCIMENTO, 2010).
Durante a vigência da RDC 102/00 as multas aplicadas nos
O farmacêutico deve ser mais atuante para corrigir informa-
casos de desobediência às regras eram valores ínfimos que não
ções dos clientes que sejam erradas ou incompletas e garantir
254 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
o uso correto dos medicamentos, utilizando a educação como
Devido à dificuldade de se consultar pelo serviço público de
instrumento, fornecendo treinamentos e reciclagens periódicas
saúde (filas enormes), o tempo de espera para conseguir uma
aos seus funcionários, para que eles também sejam fontes de
consulta (pode chegar até meses), e a falta de recurso da maio-
informações corretas, e sempre que necessário estar disponível
ria da população, que dificulta pagar uma consulta particular, é
para esclarecer qualquer dúvida.
mais fácil e barato o individuo se automedicar que procurar por um médico (AQUINO, 2008).
A consulta pública 01/10 do Conselho Federal de Farmácia (CFF)
Alguns países desenvolvidos já permitem que farmacêu-
O CFF, na busca de promover o uso racional dessas es-
ticos e até outros profissionais da saúde prescrevam medica-
pecialidades farmacêuticas de venda livre, lançou uma consulta
mentos, como é o caso do Reino Unido, desde 2003, Canadá,
pública em 2010. A consulta pública 01/10, que defende, princi-
Estados Unidos e Austrália (BONFIM, 2010).
palmente, que esses medicamentos passassem a ser vendidos somente se “prescritos” por farmacêuticos (CFF, 2010).
O que deve ser feito é uma discussão mais prolongada sobre o assunto e a iniciativa de lançar uma consulta pública é
A consulta pública propõe que o farmacêutico indique os
justamente para colher opiniões e assim melhorar a ideia inicial.
medicamentos para tratar transtornos menores e essa indica-
A consulta pública 01/10 foi encerrada em abril de 2010 e
ção fica condicionada a análise do quadro clínico do paciente e
até hoje não houve novidades sobre o assunto. As propostas
exclusão de possíveis doenças mais graves, pois estas neces-
dos que participaram e enviaram suas opiniões ainda devem es-
sitam de assistência médica. A indicação de medicamentos de
tar sendo avaliadas.
tarja vermelha, que exigem prescrição médica, continua vedada ao farmacêutico (CFF, 2010).
Em 2007 houve a criação do Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos, por recomendação
Toda a farmácia que prestar este serviço deverá criar os
da OMS, cujo objetivo era desenvolver ações que propiciassem
Procedimentos Operacionais Padrão (POPS) para o atendimen-
esse uso racional. Entre as medidas propostas está a de ampliar
to e adicioná-lo ao manual de boas práticas da drogaria. Outra
o acesso da população à assistência farmacêutica, educar a po-
proposição é que esta atividade seja restrita ao farmacêutico,
pulação, aumentar o controle da venda dos medicamentos com
sendo vedada a sua prática por balconistas (CFF, 2010).
e sem prescrição, incentivar a terapia não medicamentosa, entre
O farmacêutico também deve registrar e guardar todos os
outras atividades (AQUINO, 2008).
dados do paciente e do medicamento indicado em um docu-
Podemos pensar, então, que as propostas apresentadas na
mento que será chamado Declaração de Serviço Farmacêutico
consulta pública 01/10 vêm a corroborar com os objetivos do Co-
(DSF). Este documento deverá ser disponibilizado também para
mitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamen-
o paciente atendido (CFF, 2010).
tos e seria um avanço rumo ao uso racional de medicamentos.
É inviável armazenar todas as DSF em formato físico, seria
O maior controle sobre a venda de medicamentos isentos
necessário criar um sistema computadorizado que permitisse
de prescrição levaria o paciente a procurar pelo farmacêutico, e
esse armazenamento. Contudo programas de gerenciamento
quando procurado ele pode orientar a terapia não farmacológica
de dados tem um custo, que provavelmente os proprietários das
e medidas de prevenção de doenças, tornando o atendimento
farmácias preferem não ter.
um processo de educação. Se a utilização do medicamento for
Esta proposta privilegia a criação de serviços de atenção farmacêutica nas drogarias, pois ajudaria a estreitar os laços entre farmacêutico e paciente, e o banco de dados gerados pelas DSF ajudaria na confecção dos prontuários dos pacientes. Uma dificuldade seria a fiscalização do serviço. Existem
necessária o farmacêutico fornecerá todos os detalhes da terapia farmacológica minimizando os riscos para a saúde do paciente. O uso irracional de medicamentos não acontece somente com fármacos de venda livre. Existem outros pontos importantes a serem observados.
poucos fiscais e a grande maioria de colaboradores em droga-
Os profissionais da área médica que já detêm o poder de
rias são balconistas, e não farmacêuticos. Assim seria compli-
prescrever, às vezes, instituem terapias medicamentosas sem
cado garantir que somente o farmacêutico, prestasse o serviço.
necessidade. Existem também casos de medicamentos pres-
É complicado afirmar o que aconteceria, teoricamente, se o
critos para fins errados, com esquema posológico inadequado,
serviço funcionasse como descrito na proposta seria um grande
além de prescrições de medicamentos mais caros.
passo rumo ao uso racional de medicamentos e uma grande
Essas atitudes têm origem na falta de informação, de re-
ajuda no sistema de atenção básica, pois nem todos os cida-
ferências confiáveis e na falta de ética, através do lobby feito
dãos têm acesso fácil a um médico.
pelas indústrias farmacêuticas, que oferecem amostras grátis, PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 255
financiam congressos e cursos para os profissionais que prescreverem seus medicamentos (SOYAMA, 2006). A falta de informação de profissionais, deficiências técnicas para prescrever, questões relacionadas à educação da população e problemas relacionados à ética profissional merecem atenção em estudos e discussões para buscar o uso racional de
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medicamentos no nosso país, estes tópicos não serão profundamente discutidos, pois não entram no escopo deste trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS A gripe e o resfriado são doenças comuns que afetam milhares de pessoas e mesmo sendo autolimitadas são capazes de causar várias complicações e óbitos todos os anos. Por esta razão não podem ser negligenciadas. Essas doenças necessitam de atenção extra do farmacêutico por serem tratadas, principalmente, com medicamentos de venda livre. Esses medicamentos são promovidos em vários meios de comunicação para incentivar o consumo, mas quanto maior o consumo de medicamentos maior será o número de intoxicações causadas por eles. Qualquer setor onde o farmacêutico está inserido o objetivo do seu trabalho é garantir a saúde da população. Nas farmácias
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comunitárias o farmacêutico tem que assumir a tarefa de orientar o paciente para colaborar com a diminuição dos casos de intoxicações por medicamentos, com o uso racional e com a busca pela saúde. Para assumir esta responsabilidade é necessário ter conhecimento científico sobre as doenças que ele venha a atender e ter compromisso com a reciclagem e o aprendizado, pois no campo da saúde surgem novidades todos os dias. Todo medicamento vendido na farmácia é de responsabilidade do farmacêutico e qualquer problema que esse medicamento vir a causar, por falta de informação, irá gerar penas e sanções ao responsável técnico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Flávia J.; BEREZIN, Eitan N; FARHAT, Calil K.; CINTRA, Otávio A.; STEIN, Renato T.; BURNS, Dennis A. R.; ARNS, Clóvis C.; LOMAR, André V.; TONIOLO NETO, João; MEDEIROS, Rita. Consenso para o Tratamento e Profilaxia da Influenza (Gripe) no Brasil. Sociedade brasileira de pediatria. 2009. Disponível em: <http://www.sbp.com.br/PDFs/ conseso_influenza.pdf> Acesso em: 05 out. 2011 ANVISA (a). RDC n.º 40, de 26 de fevereiro de 2003. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2003/rdc/40_03rdc.htm> Acesso em: 10 set. 2011
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NOTAS DE RODAPÉ *Aluna do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva **Professor do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva ANEXOS ANEXO A: Tabela com as principais regras da RDC nº 40
gundo RDC nº 96
258 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
ANEXO C: Tabela com as novas regras de propaganda para
medicamentos no Brasil
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Isolamento e identificação por PCR ARDRA de Lactobacillus spp. de grãos de kefir cultivados em leite ou água açucarada Mário Abatemarco Jr , Marta M. G. Aguiar2 Álvaro Cantini Nunes3 Elisabeth Neumann3 Jacques Robert Nicoli4
RESUMO:O Kefir é uma bebida obtida pela fermentação dos grãos de Kefir, que são semelhantes a pedaços de couve-flor, constituídos por espécies de bactérias do ácido lático, leveduras e exopolissacarídeo secretado por algumas espécies do gênero Lactobacillus. Foram isolados Lactobacillus spp de 3 amostras de grãos de Kefir cultivados em leite ou água açucarada. Após uma identificação preliminar, as bactérias com características morfofisiológicas típicas do gênero Lactobacillus foram submetidas a uma identificação em nível de espécie utilizando-se a PCR ARDRA. Esta técnica foi eficiente para identificar dezesseis, dos vinte microrganismos isolados, sendo todos esses da espécie L. casei. O perfil eletroforético dos quatro restantes parece ter sido fruto de uma combinação de perfis de duas espécies distintas de Lactobacillus. PALAVRAS CHAVE: Grãos de Kefir, Lactobacillus, PCR ARDRA
INTRODUÇÃO
Bifidobaterium sp e Streptococcus salivarius subsp thermo-
O Kefir é uma bebida fermentada, ácida e com baixo teor
philus (BRASIL, 2007). Embora originalmente os grãos fossem
alcoólico (LOPITZ-OTSOA, et al, 2006). Historicamente, os
cultivados apenas em leite pasteurizado, outros substratos têm
grãos de Kefir foram considerados um presente de Allah entre
sido utilizados como meio de cultivo, como solução aquosa de
os povos Muslim do norte das montanhas caucasianas da Rús-
açúcar mascavo na concentração de 3 a 10%, suco de frutas e
sia, onde tem sido consumida há milhares de anos. Somente
soro de leite (MIGUEL, 2009).
há dois séculos é que a bebida se difundiu por todo o mundo
A ingestão de Kefir tem sido recomendada em algumas de-
(LOPITZ-OTSOA, et al, 2006; SCHNEENDORF, et al, 2008). A
sordens metabólicas, hipertensão arterial sistêmica, doenças
palavra Kefir é derivada do termo turco “keif” que expressa à
cardíacas isquêmicas e alergias (SALOFF COSTE, 1996; FA-
sensação de bem estar após a ingestão da bebida. Os grãos
RWORTH, 1999; ST-ONGE, 2002; FARNWORTH, et al, 2006).
de Kefir, passados de geração em geração entre as tribos do
Os efeitos antibacteriano (ZACCONI, et al, 1995), imunológico
Cáucaso, eram considerados a riqueza da família. (LOPITZ-
(FURUKAWA, et al, 1991; THOUREUX e SCHMUCKER, 2001),
OTSOA, et al, 2006).
antitumoral (FURUKAWA, et al, 1990; NAGIRA, et al, 2003) e
A Instrução Normativa 46 do Ministério da Agricultura, Pe-
hipocolesterolêmico já foram demonstrados em vários estudos.
cuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, define Kefir como um
Os benefícios para a saúde humana demonstrados pela inges-
produto da fermentação do leite pasteurizado ou esterilizado
tão de Kefir permitem classificá-lo como probiótico definido
cuja fermentação se realiza com cultivos acido-lácticos elabo-
pela Organização Mundial de Saúde como “microrganismos vi-
rados com grãos de Kefir, Lactobacillus kefir, espécies dos
áveis, que quando administrados em quantidades adequadas,
gêneros Leuconostoc, Lactococcus e Acetobacter com pro-
conferem benefícios para a saúde do hospedeiro” (FAO/WHO,
dução de ácido láctico, etanol e dióxido de carbono. Os grãos
2001). Tal fato coloca este produto alimentar na categoria de
de Kefir são constituídos por leveduras fermentadoras de lacto-
“alimento funcional”.
se (Kluyveromyces marxianus) e leveduras não fermentadoras
Os grãos de Kefir são irregulares e gelatinosos, cuja matriz
de lactose (Saccharomyces omnisporus e Saccharomyces
é composta por proteínas e polissacarídeos que contém bacté-
cerevisae e Saccharomyces exiguus), Lactobacillus casei,
rias e leveduras as quais estão envolvidas no processo fermen-
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tativo. O tamanho dos grãos é variável e a forma assemelha-se
Reaction). A amplificação dos genes de determinadas espé-
com pipoca ou couve-flor (MARSHALL, 1993). Durante a fer-
cies, oriundas de uma amostra proveniente de um ecossistema
mentação os grãos aumentam de peso e assim é obtida nova
complexo, como os grãos de Kefir, incluindo aquelas que ainda
biomassa que após ser coada do substrato pode ser reutilizada
não são cultiváveis, requer primers que complementem sequ-
para obtenção de nova bebida (GARROTE, et al, 2001).
ências altamente conservadas. Por outro lado, a diferenciação
A composição microbiológica dos grãos de Kefir é extre-
entre as espécies, a partir dessas sequências, requer que a
mamente complexa. É consenso entre muitos autores que a
região amplificada tenha regiões variáveis que são específicas
microbiota dominante é composta pelos gêneros Lactobacillus,
para cada espécie (KALRA et al., 2007).
Lactococcus, Leuconostoc, Acetobacter e Streptococcus e
Dentro dos operons do RNA ribossomal (rrn), a região in-
leveduras dos gêneros Kluyveromyces, Saccharomyces, Can-
tergênica 16S-23S, exibe um elevado grau de variação para a
dida e Torula (SCHNEENDORF e ANFITEATRO, 2004). A diver-
identificação de diferentes gêneros bacterianos (CHENOLL; MA-
sidade microbiológica pode variar em função da origem, condi-
CIÁN; AZNAR, 2003), incluindo os Lactobacillus (NOUR, 1998).
ções de cultivo e estocagem dos grãos (GARROTE, et al, 2001).
Atualmente, a maneira mais rápida de identificar os lacto-
Microrganismos do gênero Lactobacillus têm a forma de
bacilos, bem como as bactérias em geral, é o sequenciamento
bastonete ou cocos Gram positivos não móveis (ou raramente
parcial ou completo dos genes da subunidade 16S do RNAr (FE-
móveis) e não formadores de esporos cujo metabolismo é es-
LIS; DELLAGLIO, 2007), pois este possui uma série de regiões
tritamente fermentativo (STAMER, 1979; KANDLER, 1983; HOL-
altamente conservadas e oito domínios variáveis que, coletiva-
ZAPFEL e WOOD, 1995). São anaeróbios facultativos ou micro-
mente, identificam as espécies, mesmo diante da enorme diver-
aerófilos que produzem ácido lático como produto principal da
sidade bacteriana (KALRA et al., 2007).
fermentação da glicose (homofermentativos); mas há também
Apesar da rapidez e facilidade para identificação de Lacto-
representantes heterofermentativos, com produção de lactato,
bacillus por seqüenciamento, o custo para a operacionalização
além de CO2 e etanol em quantidades equimolares. De acordo
desta tecnologia é um fator limitante para muitos laboratórios.
com FELIS e DELLAGLIO (2007), o gênero é composto por 106
Como alternativa, encontra-se a PCR - ARDRA (Análise de Res-
espécies. Algumas são produtoras de kefirano, que pode ser de-
trição de DNA Ribossomal Amplificado), que apesar de ser mais
finido como um exopolissacarídeo parcialmente solúvel em água
trabalhosa é financeiramente mais econômica. Além disso, é
composto por unidades repetitivas de galactose e glicose, na
uma técnica de domínio no Laboratório de Genética Molecular
proporção de 1,1:0,9 (MICHELLI et al, 1999). L. kefiranofaciens,
de Protozoários Parasitas (LGMPP) no qual parte deste trabalho
principal produtor de kefirano, é capaz de produzir o exopolis-
foi desenvolvido.
sacarídeo sob diferentes condições de cultivo. TANIGUCHI e
Resumidamente, na técnica de PCR-ARDRA o DNA total do
TANAKA (2004) mostraram que houve um aumento na produção
microrganismo isolado é submetido a uma reação de polimeri-
de kefirano por L. kefiranofaciens na presença de condições
zação em cadeia na qual o produto (a região intergênica 16S-
de cultivo que mimetizam as ações de. Saccharomyces cerevi-
23S) é submetido a um tratamento com enzimas de restrição
sae em comparação ao cultivo da bactéria isoladamente. Este
e o resultado após eletroforese é comparado com o perfil de
achado é uma forte evidência da complexa relação simbiótica
digestão teórico característico para cada espécie de lactobacilo.
existente entre as bactérias e leveduras que fazem parte da mi-
Diante disso, este trabalho teve como objetivo isolar e identi-
crobiota dos grãos. Juntos, o kefirano, as leveduras e as bacté-
ficar molecularmente microrganismos isolados de grãos de kefir
rias constituem uma comunidade simbiótica responsável pelas
cultivados em água açucarada ou em leite.
propriedades do Kefir. A identificação de Lactobacillus em nível de espécie foi durante muito tempo realizada apenas com base em provas bio-
MATERIAIS E MÉTODOS REAGENTES:
químicas, fisiológicas e fenotípicas. Segundo FELIS e DELLA-
Açucar mascavo comercial, leite em pó desnatado (Molico,
GLIO (2007), a principal discrepância na taxonomia do gênero
Brasil), Cloreto de sódio (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil), Peróxido
Lactobacillus é a falta de correlação entre a posição filogenética
de Hidrogênio 3% (v/v) (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil), Ácido Clo-
e as propriedades metabólicas.
rídrico 1N (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil), Hidróxido de Sódio 1N
Diante disso, a abordagem molecular permite que as bacté-
(Vetec, Rio de Janeiro, Brasil), Ágar De Man, Rogosa and Sharpe
rias possam ser identificadas a partir das sequências dos seus
(MRS) (Difco, USA) Ágar MRS (Merck, Alemanha), Glicerol (Nu-
genes, por meio da amplificação, via PCR (Polimerase Chain
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clear, São Paulo, Brasil), Caldo MRS (Difco, Detroit, MI, USA),
USA) e incubados por 18 horas em anaerobiose a temperatura
Kit Wizard Genomic System (Promega, Madison, E.U.A), Cloreto
ambiente. Este procedimento foi realizado duas vezes antes da
de lítio (Vetec, Rio de Janeiro, Brasil), Lisozima (Sigma-Aldrich,
extração do DNA total dos isolados.
E.U.A), Sulfato de sódio em tampão TE com RNAase (Promega, Madison, E.U.A), Agarose (Invitrogen, Espanha).
Extração de DNA total com Kit Wizard Genomic System Promega
Métodos: AMOSTRAS DE GRÃOS DE KEFIR DISPONÍVEIS PARA O ESTUDO
1º PASSO: OBTENÇÃO DAS CÉLULAS SEM PAREDE E SEM MEMBRANA De cada cultivo dos microrganismos que cresceram em
Para a realização deste trabalho foram utilizadas três amos-
caldo MRS, 5 mL foram centrifugados a 4.000 rpm, durante 10
tras de grãos de kefir. Cada uma recebeu um código, que se
minutos, à temperatura ambiente, para obtenção dos pellets. Os
relacionou com o seu local de origem. Assim, a amostra prove-
sobrenadantes foram descartados. Os pellets foram ressuspen-
niente de Salvador/BA recebeu o código KBA, a de Belo Hori-
sos em 5 mL de água mili Q estéril e centrifugados nas mesmas
zonte/MG KBH e finalmente a de Viçosa KVI.
condições citadas anteriormente para retirada dos resíduos do meio de cultura. Após descartar o sobrenadante, 1 mL de solu-
CULTIVO DOS GRÃOS DE KEFIR
ção de cloreto de lítio (5M) foi adicionado em cada tubo Falcon®
Os grãos de Kefir provenientes de Salvador e Belo Horizonte
de 15 mL. Após ressuspender cada pellet, os mesmos foram
foram cultivados em solução aquosa de açúcar mascavo co-
transferidos para tubos Eppendorf® de 1,5 mL, previamente
mercial na concentração de 5% (p/v) e os grãos de Viçosa/MG
identificados, e incubados sob agitação à temperatura de 37°C,
foram cultivados em leite desnatado Molico® reconstituído na
por uma hora, com finalidade de extrair proteínas associadas à
concentração de 10% (p/v). A troca do substrato era realizada a
parede bacteriana. Em seguida, os tubos foram centrifugados a
cada 24 h e sob temperatura ambiente.
14.000 rpm, durante 10 minutos, descartando-se o sobrenadante. Os pellets foram ressuspensos e lavados com 1 mL de água
ISOLAMENTO DE LACTOBACILLUS SPP. DE GRÃOS DE KEFIR
mili Q estéril, para retirar o excesso de sal. Após esta lavagem,
Dez gramas de grãos de Kefir provenientes das diferentes
os pellets foram ressuspensos em 1mL de tampão para proto-
formas de cultivo (leite ou açucar) foram acrescentadas em 90
plastos (50mM Tris HCl pH 8,0; 10mM EDTA; 10mg de lisozima
mL de solução salina estéril (NaCl 0,9%) e trituradas em homo-
mL-1) sendo este composto por 200mL de enzima e 800mL de
geneizador de tecidos (Ultra-Turrax, IKA T 10). Estas dispersões
tampão com RNAse, e incubados por uma hora, sob agitação
obtidas foram diluídas (diluição seriada decimal) em solução sa-
a 37ºC. Após os período de incubação foram centrifugados a
lina e plaqueadas pelo método de Spread Plate, em duplicata,
14.000 rpm, durante 10 minutos. O sobrenadante foi descartado
nas diluições 10-5, 10-6 e 10-7 utilizando como meio de cultura o
e os pellets congelados no freezer a -20ºC.
Ágar De Man, Rogosa and Sharpe (MRS) (Merck, Germany). O meio MRS foi preparado em soro de leite e teve o pH ajustado
2º PASSO: EXTRAÇÃO DO DNA
para 5,5, sendo adicionado de 200 ppm de cicloheximida para
Após o completo descongelamento de cada amostra em
inibição do crescimento de leveduras. As placas foram incuba-
temperatura ambiente, foi adicionado cerca de 300µL de tam-
das em câmara de anaerobiose (Forma Scientific Marietta, EUA)
pão de lise em cada tubo eppendorf contendo uma amostra e
contendo uma atmosfera de 85% N2, 10% H2 e 5% CO2, por 5 e 7
ressuspendido com auxílio de pipeta. Os tubos foram incubados
dias em temperatura ambiente.
em Shaker (Cientec, CT 412) a temperatura de 37ºC e numa
Após o período de incubação, foram isoladas colônias clas-
velocidade de 100 rpm por 10 minutos.
sificadas em diferentes morfotipos com base na cor, aspecto,
Decorrido o tempo de incubação, cada amostra foi transfe-
textura e tamanho das colônias. Estas foram repicadas através
rida para uma microcoluna, previamente identificada pelo códi-
de estrias simples em Ágar MRS modificado (Difco, USA) e incu-
go correspondente da amostra. Cada microcoluna foi encaixada
badas em anaerobiose (Forma Scientific Marietta, EUA) por 48
sobre um tubo de coleta e posteriormente foram centrifugadas
horas em temperatura ambiente para obtenção de cultura pura.
em microcentrífuga (Eppendorf, AG 22331) por 60 minutos para que todo o líquido descesse para os tubos. Em seguida, foram
IDENTIFICAÇÃO MOLECULAR DOS ISOLADOS DE LACTOBACILLUS SPP.
adicionadas 650µL da solução de lavagem e centrifugados por 10
Após o descongelamento das amostras, 50 µL da cultura
minutos a 14.000 rpm e, em seguida, descartado todo o líquido
foram repicados para 5 mL de caldo MRS (Difco, Detroit, MI,
descendente. Esta lavagem foi repetida por mais quatro vezes.
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Após o procedimento de lavagem, as microcolunas foram
gel de agarose (1%) adicionado de 3µL de brometo de etídio,
transferidas para um tubo eppendorf novo de 1,5 mL, previa-
onde foi utilizado 100V, durante 60 minutos. No mesmo gel foi
mente identificado com o código da amostra correspondente, e
adicionado também o marcador de peso molecular de 1Kb. Ao
acrescentado de 60µL de água livre de nuclease na temperatura
término da corrida, o gel foi fotografado através de equipamento
de 65ºC para que houvesse eluição do DNA. Após dois minutos,
de fotodocumentação com luz ultravioleta.
a microcoluna foi centrifugada por 5 minutos na velocidade de 14.000 rpm para que todo o líquido descesse. Este líquido, con-
REAÇÃO DE POLIMERIZAÇÃO EM CADEIA (PCR)
tinha DNA e RNA cuja purificação foi realizada adicionando-se
Posteriormente, as amostras de DNA total foram submetidas
1µL de RNAse dentro de cada tubo. Após esta etapa, a visuali-
à reação de PCR, visando amplificar a região intergênica que co-
zação da extração do DNA foi realizada por eletroforese em gel
difica as sub-unidades ribossomais, 16S – 23S. Esta região do
de agarose.
DNA é bastante variável entre as espécies de microrganismos,
ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE
porém, bastante conservada em microrganismos da mesma
Com o objetivo de visualizar a quantidade de DNA total ex-
espécie, sendo então utilizada em pesquisas de identificação
traído na etapa anterior, as amostras foram submetidas à eletro-
microbiana, ao nível molecular. O Quadro 1 mostra as soluções
forese em gel de agarose, 5mL de cada amostra de DNA total
utilizadas na reação de PCR com suas respectivas quantidades.
extraído foi misturado a 3mL de tampão (glicerol adicionado de
Quadro 1: Soluções utilizadas na reação de PCR com suas
azul de bromofenol) e então encaminhados à eletroforese em
respectivas quantidades
Em seguida, os tubos Eppendorf, que continha às amos-
mostradas no Quadro 2.
tras, foram colocados dentro da máquina Termocicladora “MJ
Quadro 2: Condições da reação de PCR
Research”. As condições de cada etapa do ciclo da PCR são
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Posteriormente, 5mL de cada produto de PCR foram mis-
ram digeridos com enzimas de restrição para a identificação
turados com 3mL do tampão glicerol com azul de bromofenol,
das espécies de Lactobacillus. As enzimas utilizadas foram:
e então submetidos à nova eletroforese em gel de agarose
Sph I, Nco I, Nhe I, Ssp I, Sfu I, Eco RV, Dra I, Vsp I, Eco RI,
(1,4%) adicionado de 3µL de brometo de etídio, onde foi uti-
Hinc II ou Hpa I e Hind III. Como algumas destas enzimas
lizado 100V, durante 45 minutos. Ao final da corrida, o gel foi
necessitam de BSA (albumina sérica bovina) para sua melhor
fotografado para visualização das regiões amplificadas.
atividade, foram preparadas duas misturas diferentes, mostradas no Quadro 3 e Quadro 4.
Digestão dos produtos de PCR 16S-23S
Quadro 3: MIX 1 – com BSA
Após a obtenção dos produtos de PCR, os mesmos fo-
Quadro 4: MIX 2 – sem BSA
por cinco e sete dias, respectivamente. Dentro de cada amostra, Após o preparo dos tubos, os mesmo foram mantidos à 37ºC, overnight, para que houvesse a reação de digestão en-
foram selecionadas apenas as colônias morfologicamente distintas, conforme é mostrado na Tabela 2.
zimática. Em seguida, 5mL de cada produto de digestão foram misturados com 3mL do tampão glicerol com azul de bromofe-
IDENTIFICAÇÃO PRESUNTIVA DOS MICRORGANISMOS ISOLADOS
nol, e então submetidos à eletroforese em gel de agarose (1,4%)
Vinte e um isolados foram submetidos à coloração de Gram
adicionado de 3µL de brometo de etídio, onde foi utilizado 100V,
e prova da catalase. De acordo com BERNANDEAU et al (2008),
durante 45 minutos. Os resultados foram fotografados e o perfil
as características fenotípico-fisiológicas sugestivas para o gêne-
de digestão de cada produto de PCR foi comparado com o perfil
ro Lactobacillus são bastonete ou cocobacilo Gram positivo e
de digestão característico de cada espécie de lactobacilo.
catalase negativo. Cada isolado recebeu um código composto por um número e uma letra. As Tabelas 3, 4 e 5 mostram o re-
RESULTADOS
sultado da coloração de Gram e prova da catalase dos isolados
ENUMERAÇÃO DE BAL
das três amostras com cinco e sete dias de incubação, bem
As contagens totais de bactérias do ácido lático (BAL) em
como o número de UFC de cada isolado por grama do grão.
ágar MRS após cinco e sete dias de incubação estão apresentadas na Tabela 1. Isolamento de microrganismos do ágar MRS Foram selecionadas do ágar MRS vinte e duas colônias isoladas. Desse total, nove e treze provêm do meio incubado
IDENTIFICAÇÃO MOLECULAR DOS ISOLADOS DO ÁGAR MRS O perfil eletroforético do produto de PCR dos espaçadores 16S-23 pode ser visualizado na Figura 1. Abaixo de cada perfil, encontra-se o código de identificação de cada isolado.
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Os isolados foram tratados com doze enzimas de restrição
mostrou que 60 autores identificaram L. casei subsp. pseudo-
(ver metodologia) e o perfil eletroforético obtido foi comparado
plantarum (anteriormente denominado L. paracasei subsp. pa-
com um perfil de restrição teórico, a fim de identificá-los ao nível
racasei) de grãos de Kefir, sendo esta espécie a terceira mais
de espécie. Aqueles que apresentam três bandas (geralmente
citada dentro do gênero Lactobacillus. ZHOU et al (2009) mos-
entre 500 e 700 pb) pertencem ao gênero Lactobacillus. As Fi-
traram que dentro do grupo dos homofermentativos, L. casei foi
guras 2, 3, 4, 5 e 6 mostram os perfis de restrição obtidos pela
encontrado em maior proporção nos grãos de leite. SIMOVA et
digestão do produto de PCR dos isolados. A Tabela 6 apresenta
al (2002) identificaram L. casei sub. pseudoplantarum em três,
a identificação, em nível de espécie, de cada isolado á partir dos
das seis amostras de grãos estudados . Diante da predominân-
perfis de restrição dos espaçadores.
cia desta espécie em trabalhos prévios e devido ao fato de pou-
A Tabela 6 apresenta a identificação, em nível de espécie,
cos isolados terem sido selecionados para identificação mole-
de cada isolado do ágar MRS realizada através da comparação
cular (em função da baixa diversidade morfológica das colônias)
entre o perfil de restrição obtido e o perfil de restrição teórico
houve uma alta probabilidade dos isolados selecionados serem
para cada espécie do gênero Lactobacillus.
da espécie L. casei. Os perfis de digestão dos isolados 1G, 4G, 5G e 6G podem
DISCUSSÃO
ser fruto de uma combinação dos perfis de L. casei e L. acido-
ENUMERAÇÃO DE BAL
philus ou L. casei e L.hilgardii mostrando que não houve um
Comparando-se a contagem de BAL com cinco e sete dias
isolamento total do microrganismo. Isso pode ter ocorrido devi-
de incubação, pode-se perceber que há um discreto aumento
do a uma superposição das colônias de tais espécies no meio
no número de microrganismos quando as placas são incubadas
de cultura o que torna este achado mais uma evidência de uma
por mais tempo. Isso é uma evidência de que nos grãos de Kefir
tendência à co-agregação dos microrganismos dos grãos de
existem bactérias láticas com diferentes tempos de crescimento.
Kefir que pode ser explicada pela produção de exopolissacarí-
Tanto os grãos cultivados em água açucarada quanto os grãos
deos por algumas espécies presentes no grão, principalmente L.
cultivados em leite apresentaram contagens dentro dos limites
kefiranofaciens (MITSUE et al., 1999; YOKOI et al., 1990; TOBA
esperados para o Kefir. Foi encontrado 108 UFC/g de grão, nú-
et al.,1987). Assim, os microrganismos estariam tão intimamen-
mero semelhante ao encontrado por GARROTE et al (2001).
te interligados nos grãos que ao serem cultivados no meio de
Identificação presuntiva e molecular dos microrganismos isolados do ágar MRS
cultura, produziriam colônias indistinguíveis morfologicamente. OTTOGALLI et al. 1973; ANGULO et al. 1993; MARSHALL, 1993
Há um consenso na comunidade científica de que os méto-
isolaram L. acidophilus de grãos de Kefir e L.hilgardii foi citado
dos fenotípico-fisiológicos não são suficientes para permitir uma
por SCHWAN et al (2010) como membro da microbiota do Kefir
classificação acurada ao nível de espécie das bactérias do áci-
de água açucarada.
do lático (KLEIN et al., 1998; TANNOCK, 1999; SAARELA, 2000; OLIVEIRA et al., 2002). No entanto, o teste de Gram e a prova da
CONCLUSÃO
catalase são de inestimável valor para um screening inicial, uma
Os resultados obtidos neste estudo demonstram que a técni-
vez que o meio MRS não apresenta seletividade absoluta para
ca de identificação molecular foi eficiente para a identificação, em
Lactobacillus. Todos os microrganismos isolados apresentaram
nível de espécie, de dezesseis, dos vinte lactobacilos isolados dos
reação positiva ao Gram, forma de bastonete ou cocobacilo e
grãos de kefir. A técnica, ainda, permitiu a visualização de perfis de
reação negativa frente à prova da catalase.
restrição superpostos, o que sugere a presença de duas espécies
O número de bandas encontrado após eletroforese do produto
co-agregadas durante o processo de isolamento. A partir dessa
de PCR permite classificar o isolado em um dos três gêneros de
observação, será executado um reisolamento dos lactobacilos en-
BAL: Lactobacillus (3 bandas); Enterococcus (2 bandas); Strep-
volvidos e a confirmação da identidade dos mesmos.
tococcus (1 banda) devido às duplicações e inserções presentes
Deve-se ressaltar que este trabalho é apenas uma pequena
no espaçador interno transcrito (ITS 1) da região 16S-23S do RNA
parte de um projeto de pesquisa bem maior cujo objetivo geral é
ribossomal (NOUR, 1998; MAGALHÃES, et al, 2005). Todos os
conhecer a microbiota dos grãos Kefir cultivados em diferentes
microrganismos isolados apresentaram três bandas, sendo então
substratos. Para tanto, a análise de um número maior de amos-
pertencentes ao gênero Lactobacillus o que corrobora os resulta-
tras se faz necessária.
dos encontrados na identificação presuntiva. Uma revisão realizada por LOPITZ-OTSOA et al (2006), PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 265
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NOTAS DE RODAPÉ
SCHWAN, R.F MAGALHÃES, J.K. PEREIRA, G.V de M. DIAS, R.D. Microbial commununities and chemical changes during fermentation of sugary Brazilin kefir. Worl J Microbiol Biotechnol. 26, 1241-1250. 2010.
2
Farmacêutico graduado pelo Centro Universitário Newton Paiva. Professora do Centro Universitário Newton Paiva, doutora em Ciências Farmacêuticas/UFMG. Professores do Instituto de Ciências Biológicas/UFMG, doutores em Imunologia e Bioquímica/UFMG 3
SCHNEEDORF, J. M.; ANFITEATRO, D.; Quefir, um probiótico produzido por microorganismos encapsulados e inflamação, Tecmedd: São Paulo,2004.
Professor do Instituto de Ciências Biológicas/UFMG, doutor em Microbiologia/UFMG. 4
SCHNEEDORF, J. M.; PEREIRA, I.O.; .; FERRAZ, V.; Atividade antiinflamatória de carboidrato produzido por fermentação aquosa de grãos de quefir, Química Nova: v.31 n.7 São Paulo, 2008. STAMER, J.R. Food Technology, chapter The lactic acid bacteria: microbes of diversity, pp. 60-65 1979. ST-ONGE, M.P., FARNWORTH, E.R., SAVARD, T., CHABOT, D., MAFU, A., JONES, P.J. Kefir consumption does not alter plasma lipid levels or cholesterol fractional synthesis rates relative to milk in hyperlipidemic men: a randomized controlled trial. BMC Complement. Altern. Med. 2: 1–7, 2002. TANIGUCHI, M.; TANAKA, T. Clarification of interaction among microorganisms and development of co-culture system for production of useful substances. Adv Biochem Eng Biotechnil: 90 35-62 2004. TANNOCK, G.W. et al. Identification of Lactobacillus isolates from the gastrointestinal tract, silage, and yoghurt by 16S-23S rRNA gene intergenic spacer region sequence comparisons. Applied and Environmental Microbiology. Washington, v.65, n.9, p.4264-4267, 1999. THOREUX, K., SCHMUCKER, D.L. Kefir milk enhances intestinal immunity in young but not old rats. Journal of Nutrition, 131, 807–812, 2001. TOBA, T ARIHARA, K. ADACHI, S. Comparative study of polissacarides from kefir grains, an encapsulated homofermentative Lactobacillus species and Lactobacillus kefir. Mitchwissenschoft. 42, 565-568 YOKOI, H. WATONABE, T. FUJII, Y. TOBA, T. ADACHI, S. Isolation and characterization of polyssacharide-producing bacteria from kefir grains. J dairy Sci. 73, 1684-1689, 1990. ZACCONI, C., PARISI, M.G., SARRA, P.G., DALLAVALLE, P. Competitive exclusion of Salmonella kedougou in kefir fed chicks. Microbiol Aliments Nutrition, 12, 387–390, 1995. ZHOU, J. LIU, X. JIANG, H. DONG, M. Analysis of the microflora in Tibetan kefir grains using denaturing gradient gel electrophoresis. Food Microbiology, 26. 770-775, 2009.
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KLEBSIELLA PNEUMONIAE CARBAPENEMASE – KPC em Enterobacteriaceae: o desafio das bactérias multirresistentes Érica Ribeiro Cotrim1 Roberta D. Rodrigues Rocha2 Mônica de F. Ribeiro Ferreira2
RESUMO: A prática da antibioticoterapia, por vezes abusiva, propiciou o desenvolvimento de mecanismos de resistência bacteriana. Atualmente, várias bactérias apresentam habilidade de desenvolver mecanismos de resistência enzimáticos. Na família Enterobacteriaceae, a produção de Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), por K. pneumoniae, é um mecanismo emergente e de importância clínica. A KPC é uma enzima que confere resistência aos antimicrobianos carbapenêmicos, inativa penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos. Diante desse contexto, este artigo teve por objetivo realizar uma breve revisão bibliográfica e abordar questões relativas ao micro-organismo que vem desafiando o corpo clínico hospitalar, causando um número crescente de infecções e morte, afligindo profissionais de saúde em todo o mundo. PALAVRAS-CHAVE: Bactéria KPC; Infecções Hospitalares; Resistência Bacteriana; Detecção de KPC
1. INTRODUÇÃO
com grande capacidade de transferir seu material genético, e
Nas últimas décadas, tem-se observado a proliferação de
consequentemente, os genes de resistência (DEL PELOSO;
bactérias patogênicas, envolvendo uma variedade de doenças,
BARROS; SANTOS, 2010). Essa fácil disseminação dificulta
que apresentam resistência a múltiplos antibióticos, sendo,
o controle de epidemias, e preocupa os profissionais da área
portanto conhecidas como bactérias multirrestistentes.
de saúde, pois o tratamento destas infecções é extremamen-
Vários fatores estão envolvidos na disseminação desses
te difícil, elevando as altas taxas de mortalidade. Embora mais
patógenos multirresistentes, incluindo o uso abusivo de anti-
freqüente na Klebsiella pneumoniae, a KPC pode ser identifica-
bióticos, procedimentos invasivos (cirurgias, implantação de
da em outras bactérias, a saber: Enterobacter cloacae, Citro-
próteses médicas e outros) e a capacidade das bactérias de
bacter freundii, Salmonella spp., E. coli e Pseudomonas spp.
transmitir seu material genético com a informação de resistên-
(DIENSTMANN et al., 2010).
cia a antibióticos (DIENSTMANN et al., 2010; ENDIMIAMI et al., 2009; FONTANA et al., 2010).
Diante desse contexto, é de suma importância o conhecimento dos métodos e estratégias de identificação da KPC a
As bactérias em destaque, na atualidade, são as produto-
fim de limitar sua disseminação, contribuir para a redução dos
ras de uma enzima denominada carbapenemase, mais especi-
índices de morbidade e mortalidade ligados a diferentes doen-
ficamente a KPC, sigla de Klebsiella pneumoniae carbapene-
ças infecciosas. No entanto, a identificação fenotípica de KPC
mase, por terem sido encontradas inicialmente nessa bactéria.
entre os membros da família Enterobacteriaceae ainda é um
A KPC é uma enzima produzida por bactérias gram-ne-
processo difícil e as estratégias para a sua identificação devem
gativas (enterobactérias), que confere resistência aos antimi-
ser revistas e ajustadas (FISHER et
al., 2009).
crobianos carbapenêmicos: meropenen, ertapenen, imipenen,
Nesta perspectiva, considerando a importância do tema, o
além de inativar os agentes β-lactâmicos: cefalosporinas, pe-
objetivo desse estudo foi realizar uma breve revisão bibliográfi-
nicilinas e o aztreonam. Cabe aqui ressaltar que os carbape-
ca a respeito da bactéria produtora Klebsiella pneumoniae car-
nêmicos compreendem uma classe amplamente utilizada no
bapenemase e abordar questões relativas ao micro-organismo
tratamento de infecções envolvendo Enterobacteriaceae (HA-
que vem desafiando o corpo clínico hospitalar, causando um
NES et al., 2009; KITCHEL et al., 2009; LANDMAN et al., 2005;
númSero crescente de infecções e morte, afligindo profissio-
QUEENAN; BUSH, 2007).
nais de saúde em todo o mundo.
A KPC, mais freqüentemente encontrada em K. pneumoniae, tem um alto potencial de disseminação, é uma bactéria
2. METODOLOGIA
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O presente trabalho foi realizado através de uma revisão bibliográfica de artigos científicos consultados no site BIREME
ções de aminoácidos em algumas cepas (LANDMAN; BRATU; QUALE, 2009).
(Biblioteca Regional de Medicina), LILACS (Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic
3.2 KLEBSIELLA PNEUMONIAE CARBAPENEMASES – ENZI-
Library Online), teses, dissertações e livros de microbiologia.
MA KPC As enzimas KPC foram detectadas pela primeira vez em Klebsiella pneumoniae na Carolina do Norte, Costa Leste dos
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Estados Unidos, em 1996, daí o nome recebido. Rapidamente
3.1 RESISTÊNCIA BACTERIANA Com a prática da antibioticoterapia os mecanismos de re-
disseminou por outras regiões e recentemente, tornaram-se uma
sistência tornaram-se comuns principalmente em ambientes
das preocupações emergentes quanto à saúde pública mundial
nosocomiais. Esses mecanismos incluem: alteração na permea-
(TSAKRIS et al., 2009). No Brasil, bactérias produtoras de carba-
bilidade da membrana celular, que impede a entrada do antibió-
penemases foram registradas pela primeira vez em 2005, mas
tico na célula, bombeamento do antibiótico para fora da mesma,
somente em 2011 elas passaram a causar surtos mais graves no
pelo mecanismo de efluxo; mutação genética que altera de algu-
país. Em 12 de janeiro de 2011, foi exibida uma nota no Distrito
ma forma o alvo do antibiótico e, conseqüentemente, não afeta o
Federal/Brasil, notificando 367 casos ocorridos entre 01 a 08 de
funcionamento da bactéria, bem como desenvolvimento da ca-
janeiro de 2011, com 26 óbitos. Do total de casos, 263 foram
pacidade de degradar ou de inativar o antibiótico (NIAID, 2010).
identificados nas unidades de terapia intensiva - UTI (SECRE-
De acordo com o critério de interpretação do Clinical and
TARIA DO ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2011).
Laboratory Standards Institute (2009), a maioria das KPC isola-
Bactérias produtoras de enzimas carbapenemases - KPC
das não manifesta completa resistência aos carbapenêmicos,
são tipicamente resistentes a todos agentes -lactâmicos: cefa-
a saber: para imipenem e meropenem apresentam uma Con-
losporinas, penicilinas e o aztreonam. Os isolados que adqui-
centração Inibitória Mínima (CIM) de 2-8 µg/mL. No entanto, En-
rem a KPC normalmente são resistentes também a várias outras
dimiani et. al. (2009), relataram que a CIM de carbapenêmicos
classes de agentes antimicrobianos utilizados como opções de
foram elevadas para concentrações superiores a 64µg/mL em
tratamento (DIENSTMANN et al., 2010; FONTANA et al., 2010;
aproximadamente 20% das estirpes KPC detectadas nos EUA.
KITCHEL et al., 2009; LANDMAN et al., 2005; QUEENAN; BUSH,
A hipótese é que os valores de CIM mais elevados para
2007), limitando assim a escolha de antibióticos para o trata-
essa sub-população pode ser devido ao aumento dos níveis
mento de infecções graves (ENDIMIAMI et al., 2009).
de expressão da β-lactamase KPC capazes de hidrólisar o anel
O gene que codifica a enzima KPC, bla KPC, é plasmídeo
β-lactâmico, degradando assim o antibiótico (DIENSTMANN et
transmissível entre Enterobacteriaceae (MARSCHALL et al.,
al., 2010; HANES et al., 2009; MARTINS et al., 2010) ou devido a
2009; MARTINS et al., 2010). Por ser um gene localizado em um
redução de penetração dos antibióticos no espaço periplásmico
plasmídeo móvel, pode ser facilmente transferido entre bactérias
da bactéria (ENDIMIAMI et al., 2009).
da mesma espécie ou entre espécies diferentes (DEL PELOSO;
Com relação a esta última possibilidade, suspeita-se que
BARROS; SANTOS, 2010). Este gene já foi encontrado em várias
as três principais Proteínas de Membrana Externa (OMP) de Kle-
espécies de Enterobacteriaceae além de Acinetobacter e Pseu-
bsiella pneumoniae (OMP 35, OMP 36 e OMP 37) desempe-
domonas (BULIK et al., 2010; COLE et al., 2009; FONTANA et
nham um papel importante na suscetibilidade a antibióticos de
al., 2010; KITCHEL et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010;
β-lactâmicos, incluindo a carbapenêmicos (ENDIMIAMI et al.,
PAPP-WALLACE et al., 2010; ROBLEDO et al., 2010; TIBBETTS
2009).
et al., 2008; TSAKRIS et al., 2009; WOLTER et al., 2009). Até o
A alteração na produção de porina é um fator importante
momento, oito diferentes variantes KPC (KPC dois a nove) têm
para a resistência aos carbapenêmicos. É comum a perda de
sido identificados com diferença de uma ou duas substituições
OMP em bactérias KPC e essa perda pode levar a resistências a
de aminoácidos (ROBLEDO et al., 2010).
antibióticos. A falta da OMP35 na bactéria aumenta a resistência
Os pacientes mais vulneráveis a Klebsiella pneumoniae
à ceftazidima. Já a perda da OMP36 leva à redução da suscepti-
produtora de KPC são aqueles com comorbidades incluindo
bilidade à cefotaxima, cefamicinas e carbapenêmicos. O ertape-
pacientes transplantados, neutropênicos, em ventilação mecâ-
nem pode ser particularmente afetado pela perda concomitante
nica e aqueles em UTI, com longos períodos de internação que
de OMP35 e OMP36. A perda da porina tem sido correlacionada
apresentam risco aumentado de infecção ou colonização para
com o rompimento de OMP35 e OMP36 por inserções ou dele-
bactérias multirresistentes.
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As cepas produtoras de KPC podem causar qualquer tipo
al. (2009) mostram também que NXL104 é um potente inibidor
de infecção sendo a evolução destas associadas a uma alta taxa
das enzimas KPC, com uma baixa CIM, restaurou a atividade
de mortalidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
antimicrobiana de ceftazidima, ceftriaxona imipenem, piperacilina e contra as cepas de enterobactérias produtoras de KPC. A
3.3 ASPECTOS CLÍNICOS, TRANSMISSÃO,
combinação ceftazidime/NXL104 está atualmente em desenvol-
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
vimento clínico e demonstrou um perfil de tolerância notável em
O paciente com infecção pela bactéria Klebsiella pneumo-
voluntários.
niae produtora de KPC apresenta sinais e sintomas como febre
Essas inovações visam reduzir a mortalidade causada por
ou hipotermia, taquicardia, piora do quadro respiratório e nos ca-
essas bactérias, mas enquanto o tratamento é um desafio, cabe
sos mais graves hipotensão, inchaço e até falência de múltiplos
então as medidas de profilaxia. Nesta perspectiva, é de grande
órgãos. Em relação ao sítio de infecção, a bactéria produtora
importância a antissepsia eficiente do ambiente, dos instrumen-
de KPC pode causar pneumonia associada à ventilação mecâ-
tos cirúrgicos e das mãos com o uso do álcool a 70%, funda-
nica, infecção do trato urinário, infecção de corrente sanguínea,
mentais para a contenção de surtos. Além disto, os pacientes
infecção de partes moles e outros tipos de infecção (OLIVEIRA,
contaminados permanecem isolados, até o controle da infecção.
2010). Fora do ambiente hospitalar, a bactéria não representa perigo. A forma de transmissão é basicamente por contato com secreção ou excreção de pacientes infectados ou colonizados.
3.4 DETECÇÃO LABORATORIAL DA KPC A identificação fenotípica da KPC e de outros mecanismos
As opções terapêuticas para o tratamento da Klebsiella
de resistência entre os membros da família Enterobacteriaceae
pneumoniae produtora de KPC são poucas. Pode ser usada
é ainda difícil (FISHER et al., 2009). Apesar dos avanços tecnoló-
a Polimixina B, Tigeciclina e até os aminoglicosídeos, porém,
gicos, ensaios que combinam alta sensibilidade e especificidade
confirmado pelo resultado da cultura e antibiograma, lembrando
na detecção destas enzimas não existem (TSAKRIS et al., 2009).
que a Tigeciclina não tem boa concentração urinária. Carbape-
As metodologias usadas para rastreamento de KPC são di-
nêmicos e polimixinas devem ser evitados como monoterapia
versificadas: focalização isoelétrica, disco-difusão, E-test, teste de
(HIRSCH; TAM, 2010; OLIVEIRA, 2010).
Hodge modificado, dentre outros. Pode-se ainda pesquisar o gene
Devido à limitada escolha de antibióticos para combater as
bla KPC por Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Existem sis-
bactérias multirresistentes, inúmeras grupos de pequisas tem
temas de automação, no entanto, podem não identificar com preci-
buscado novos antimicrobianos. No entanto, o número de no-
são os isolados KPC positivos (DIENSTMANN et al., 2010).
vos fármacos aprovados para comercialização vem diminuindo ao longo dos anos.
3.4.1.DISCO-DIFUSÃO
Recentemente, o ACHN-490 mostrou potente atividade in
Os critérios para interpretação de sensibilidade a carbape-
vitro contra Klebsiella pneumoniae, incluindo os KPC. ACHN-
nêmicos em Enterobacteriaceae, conforme indicação do Clinical
490 representa uma alternativa promissora para a tigeciclina e
and Laboratory Standards Institute - CLSI (2010), para métodos
colistina para o tratamento de cepas resistentes a quinolonas,
de Disco Difusão e determinação da Concentração Inibitória Mí-
combinações inibidores β-lactâmicos/β-lactamase, carbapenêmi-
nima (CIM) estão mostrados na TABELA 1.
cos e aminoglicosídeos (ENDIMIAMI et al., 2009). Stachyra et.
Esses resultados podem indicar isolados com produção
carbapenemase e esse fenótipo deve ser confirmado pelo mé-
de. Contudo, por apresentar esta alta sensibilidade pode ocor-
todo Hodge (PASTERAN et al., 2009).
rer resultados falso-positivos quando qualquer enzima com atividade carbapenemase estiver presente (PASTERAN et al.,
3.4.2 TESTE MODIFICADO DE HODGE É uma técnica de baixo custo e apresenta alta sensibilida-
2009, TSAKRIS et al., 2009). É um procedimento proposto para a confirmação da produção suspeita de enzima carbapenema-
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se, detectando a capacidade de hidrolisar a atividade dos car-
de se evitar resultados falsos negativos.
bapenêmicos nas células das bactérias analisadas. Este tes-
A CLSI (2010) preconiza para o teste modificado de Hodge
te pode confirmar a presença de carbapenemases, mas não
que seja inoculada uma cepa conhecida de Klebsiella pneu-
identifica especificamente a classe de enzimas (COLE et al.,
moniae carbapenemase positiva, outra carbapenemase nega-
2009).
tiva e a amostra teste. Isto para visualizar a deformação do halo
Segundo o CLSI (2010), o disco de imipenem não detecta a presença de carbapenemases no teste, por isso devem ser
em uma cepa de carbapenemase confirmada para comparar com a deformação do halo da amostra teste (FIGURA 1).
usados o disco de ertapenem ou o disco de meropenem, a fim
3.4.3 MEIO CHROMAGAR Um novo meio cromogênico, o CHROMagar KPC foi recentemente desenvolvido estando comercialmente disponível. Esse meio contém suplementos com agentes que inibem o crescimento de bactérias gram-negativas sensíveis a carbapenêmicos. Após a incubação de 24 horas a 37°C, as culturas Enterobacteriaceae resistente a carbapenêmicos, assumem cores diferentes de acordo com a especificidade das suas propriedades enzimáticas (FIGURA 2) (SAMRA et al., 2008).
CHROMagar é capaz de detectar de isolados KPC com altos
3.4.4. DISCO DE ÁCIDO BORÔNICO
níveis de resistência aos carbapenêmicos (CIM >16µg/mL), mas
Os ensaios com discos de ácidos borônico são considera-
é menos sensível para a detecção de isolados com baixos níveis
dos simples, altamente sensíveis e específicos para diferencia-
de resistência aos carbapenêmicos (CARRER; FORTNEAU; NOR-
ção de KPC e aplicáveis ao uso rotineiro em laboratórios de mi-
DMANN, 2010).
crobiologia clínica (HIRSCH; PASTERAN et al., 2009; TAM, 2010;
No entanto, mais estudos serão necessários para estabe-
TSAKRIS et al., 2009).
lecer a confiabilidade do novo meio CHROMAgar KPC e sua
De forma resumida, o diâmetro da zona inibidora de cresci-
aplicabilidade para a detecção de bactérias gram-negativas En-
mento em torno de um disco de β-lactâmico com ácido borônico
terobacteriaceae e outros agentes patogênicos, tais como Aci-
é comparado com a do disco correspondente β-lactâmico sem
netobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa (SAMRA et
ácido borônico. O teste é considerado positivo para a detecção
al., 2008), uma vez que, a avaliação até então, envolveu uma
de KPC, quando o diâmetro da zona inibidora de crescimento
pequena quantidade de amostras, sendo necessário mais estu-
em torno de um disco de β-lactâmico com ácido borônico é
dos para utilizar esse ensaio como método de detecção.
maior ou igual a cinco milímetros do que o disco que contém o substrato -lactâmico sozinho (FIGURA 3) (TSAKRIS et al., 2009).
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3.4.5 REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE - PCR O teste PCR é um método rápido e preciso de identificação bla KPC. É um método sensível e altamente específico, no entanto, a PCR exige equipamento e conhecimentos especializados em diagnóstico molecular e por isso, ainda não está disponível para utilização na rotina dos laboratórios de microbio-
instituições de saúde, devido a dificuldade de identificação, trata-
logia (COLE et al., 2011)
mento e consequentemente o alto índice de mortalidade.
3.4.6 AUTOMAÇÃO
é frear o uso abusivo de antibióticos. Assim, em 5 de maio de
Uma medida mais previsível para controlar a resistência Em um estudo realizado por Neil Woodford et al. (2010) foi
2011, o governo brasileiro deu um importante passo para res-
avaliado a sensibilidade e a especificidade de alguns sistemas
tringir o uso descontrolado desses medicamentos, ao editar a
automatizados em identificar produtores de carbapenemases.
resolução nº20, da ANVISA, que dispõe sobre prescrição, co-
Os sistemas testados foram BD Phoenix, MicroScan e Vitex 2
mercialização e embalagem de antibióticos. A nova resolução
que apresentaram os seguintes índices de desempenho: va-
mantém, também, as exigências previstas na Resolução RDC
lores de sensibilidade e especificidade de 100%;0% para BD
nº. 44/2010, quanto à apresentação, retenção e escrituração das
Phoenix, 82%;19% para MicroScan, e 74%;38% para a Vitek,
receitas contendo medicamentos antimicrobianos. O objetivo é
respectivamente (WOODFORD et al., 2010).
minimizar a elevação da resistência bacteriana no país. A fis-
A ineficiência de sistemas de teste de suscetibilidade auto-
calização pelas vigilâncias sanitárias locais quanto aos procedi-
matizado para detectar a resistência mediada KPC é observa-
mentos de exigência e retenção da receita nos estabelecimentos
do, especialmente se o ertapenem, que está determinado a ser
farmacêuticos deve continuar a ser realizada. Assim, no momen-
mais suscetível à atividade KPC, não for testado (FONTANA et
to, sugere-se a vigilância para o mecanismo de resistência KPC
al., 2010).
emergente no Brasil.
Os sistemas automáticos podem muitas vezes cometer er-
Quanto a identificação laboratorial destas bactérias, em
ros na identificação desses isolados como sensíveis aos car-
suma, a triagem fenotípica se dá preferencialmente por meio de
bapenêmicos, não identificando com precisão os isolados KPC
antibiograma com discos de cefalosporinas de terceira geração
(DIENSTMANN et al., 2010; LANDMAN; BRATU; QUALE, 2009).
(cefoperazona, cefotaxima, ceftazidima, ceftizoxima, ceftriaxo-
Desta forma, os laboratórios de microbiologia devem utilizar a
na) e carbapenêmicos (imipenem, meropenem e ertapenem),
automação apenas como uma tela inicial, seguido de confirma-
além do teste de Hodge modificado (DIENSTMANN et al., 2010).
ção com um método alternativo para diagnóstico de KPC (FI-
Apesar de existir o PCR, que é um método mais específico para
SHER et al., 2009).
detecção de KPC, sabe-se que ainda não é um processo rotineiramente aplicado nos laboratórios de microbiologias. Uma
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
inovação é a utilização de discos com acido borônico, apesar
Apesar de todo avanço da biologia molecular, da biotecno-
de necessitar mais estudos para obter confiabilidade, parece ser
logia e dos estudos de sequenciamento de genomas, a comuni-
um método sensível e específico para detecção de KPC O pa-
dade científica ainda não tem redes eficientes para acompanhar a
pel do farmacêutico analista clínico diante do problema atual da
ocorrência de bactérias multirresistentes. A resistência KPC ainda
bactéria KPC é de grande importância dentro de um laboratório
constitue uma ameaça para os pacientes hospitalizados e para as
de microbiologia. O bioquímico deve conhecer os fenótipos de
272 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
resistência aos antibióticos mediante técnicas cabíveis e simples dentro de um laboratório, manter-se atualizado e com relacionamento constante com o corpo clínico hospitalar e com a Comitê de Controle de Infecção Hospitalar. Além disto, deve estabelecer programas de controle da qualidade, garantindo um resultado de exame confiável e rápido para diagnóstico do paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas para identificação, prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde por microrganismos multirresistentes. NOTA TÉCNICA No 1/2010. 25 out 2010. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/ wps/wcm/connect/161dcf8044726d11972ad77d15359461/nota25-102010.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em: 11 jan. 2011. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC N° 44, de 26 de outubro de 2010. Ementa: Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substancias classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isolados ou em associação e de outras providências. Diário oficial da união, Seção 1, N° 207, quinta-feira, 28 de outubro de 2010. Disponível em: http://www.in.gov.br. Acesso em: 15 fev. 2011. BULIK, C.C.; FAUNTLEROY, K.A.; JENKINS, S.G.; ABUALI, M.; LA BOMBARDI, V.J.; NICOLAU, D.P.; KUTI, J.L. Comparison of Meropenem MICs and Susceptibilities for Carbapenemase-Producing Klebsiella pneumoniae Isolates by Various Testing Methods. J. Clin. Microbiol. 48: 2402-2406. Mai. 2010. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20484603. Acesso em: 14 mar. 2011. CARRER, A.; FORTINEAU, N.; NORDMANN, P. Use of ChromID Extended-Spectrum β-Lactamase Medium for Detecting CarbapenemaseProducing Enterobacteriaceae. Mar. 2010. J. Clin. Microbiol. 48: 1913-1914. Disponível em: http://jcm.asm.org/cgi/content/short/ JCM.02277-09v1. Acesso em: 14 fev. 2011. COLE, J.M.; SCHUETZ, A.N.; HILL, C.E.; NOLTE, F.S. Development and Evaluation of a Real-Time PCR Assay for Detection of Klebsiella pneumoniae Carbapenemase Genes. J. Clin. Microbiol. 47: 322-326. Fev. 2009. Disponível em: http://jcm.asm.org/cgi/content/short/47/2/322. Acesso em: 10 jan. 2011.
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274 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
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NOTAS DE RODAPÉ Farmacêutica graduada pelo Centro Universitário Newton Paiva
1
2
Docentes do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 269
MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES PORTADORES DE ARTRITE REUMATÓIDE Pâmela Oliveira Garcia1 Sara Patrícia dos Santos2 Santuza Maria Souza de Mendonça3
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo conhecer, através de uma revisão de literatura, a relação entre artrite reumatóide (AR) e problemas bucais; identificar as alterações bucais freqüentes em pacientes com AR e estimar a abordagem odontológica apropriada para seus portadores. A AR é uma doença auto-imune, inflamatória, crônica e progressiva. Acomete a membrana sinovial das articulações e pode levar à destruição óssea e cartilaginosa. Contribui para aparecimento de problemas bucais relacionados ao acúmulo de placa bacteriana. Indivíduos com AR apresentam dores na articulação temporomandibular, inflamação e sangramento gengival. Estudos mostram relação bidirecional entre AR e periodontite. Percebe-se a importância da participação do cirurgiãodentista na equipe multidisciplinar que acompanha o portador da AR. PALAVRAS-CHAVE: Artrite Reumatóide; Doença Auto-Imune; Doenças Reumáticas; Manifestações Bucais; Periodontite.
1)INTRODUÇÃO
res que são mais freqüentes ou mais complexas, do ponto de
As doenças reumáticas são inflamações crônicas ou não
vista de morbidade e mortalidade. A Artrite Reumatóide (AR),
que atingem um ou mais componentes do sistema musculoes-
juntamente com as Espondilopatias, Vasculites, Lúpus Eritema-
quelético onde ocorrem alterações funcionais de causa não trau-
toso Sistêmico (LES), Esclerose Sistêmica (ES) e Síndrome de
mática (ANDRADE et al.,2008; ARIAS et al., 2010; BRAGA et al.,
Sjogren (SS) faz parte do grupo das DDTC.
2007; CARVALHO et al., 2009; CHAUD et al., 2003; CUNHA et al.,
Artrite reumatóide é um termo inespecífico que significa
2007; DETERT et al., 2007; FRANÇA et al., 2010; GUIDOLIN et
“inflamação das articulações” (MIGUEL et al., 2008; LITTLE et
al., 2005; LITTLE et al., 2009; MACHADO et al., 2005; MEDEIROS
al., 2009; CARVALHO et al., 2009; PINHEIRO et al., 2009). Para
et al., 2006; MIGUEL et al., 2008; PEREIRA et al., 2006; PINHE-
Cunha et al. (2007) e Carvalho et al. (2009) a AR constitui a prin-
RIO et al., 2009; PINHO et al., 2009; RAMOS et al., 2005; RIERA
cipal alteração articular degenerativa e é tida como uma doença
et al., 2006; SILVA et al., 2009; SOUZA, 2006; SCHENKEIN et al.,
auto-imune de etiologia desconhecida. Manifesta-se na forma
2003; TAUBAMAN et al., 2001; TIM et al., 2011; WALLIN et al.,
de uma poliartrite periférica e simétrica que leva à deformidade
2009). Afetam milhões de pessoas em todo mundo. No Brasil,
e destruição das articulações. Pode afetar ainda cotovelos, om-
situam-se como a terceira principal causa de incapacidade para
bros, pescoço, quadris, joelhos, tornozelos, pés e articulações
o trabalho, suplantada apenas pelas doenças psiquiátricas e
temporomandibulares, em virtude da erosão do osso e da car-
cardiovasculares. (MIGUEL et al., 2008). O termo doença reumá-
tilagem que pode acometer grandes e pequenas articulações,
tica pode designar um grupo de doenças que afeta articulações,
apresentando-se conjuntamente com manifestações sistêmi-
músculos e esqueleto, caracterizado por dores e restrições dos
cas (MIGUEL et al., 2008; LITTLE et al., 2009; CARVALHO et
movimentos (MIGUEL et al., 2008; LITTLE et al., 2009; CARVA-
al., 2009; CUNHA et al., 2007). AR afeta a qualidade de vida
LHO et al., 2009; PINHEIRO et al., 2009).
de seus os portadores diminuindo sua autonomia. Escovar os
Segundo Miguel et al. (2008), existem mais de 200 doenças
dentes é para a maioria, uma tarefa dolorosa, razão por que a
reumáticas, reconhecidas e classificadas pelo Colégio Ameri-
saúde bucal do paciente é geralmente renegada (CARVALHO
cano de Reumatologia, as quais acometem pessoas nas mais
et al., 2009). De acordo com Braga et al. (2007) e Carvalho et
variadas formas. Há doenças que acometem somente as arti-
al. (2009) a artrite e a periodontite apresentam similaridades
culações; outras envolvem apenas estruturas peculiares (mús-
em seus mecanismos patogênicos. A AR pode funcionar como
culos, ligamentos, bursas e tendões); e as doenças difusas do
um modulador para a resposta imune no periodonto do hos-
tecido conjuntivo (DDTC). As DDTC, previamente conhecidas
pedeiro, aumentando a suscetibilidade à doença periodontal
como “colagenoses”, são caracterizadas pelo envolvimento de
destrutiva (BALAJ et al., 2010; FUJIMURA et al., 2006; ISHI et
diferentes órgãos e sistemas, além das manifestações articula-
al., 2004; KOBAYASHI et al., 2007). Estudos indicam que a
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probabilidade dos pacientes com AR desenvolver sintomas na
população. Pode iniciar-se em qualquer idade, mas apresenta
ATM está correlacionada com a severidade e duração da do-
um pico entre os 35 e 55 anos com a relação mulher para ho-
ença sistêmica (CUNHA et al., 2009; LITTLE et al., 2009). Este
mem próxima a 9:1.
trabalho tem como objetivo conhecer, através de uma revisão
Embora a etiologia da AR permaneça desconhecida, vários
de literatura, a relação entre artrite reumatóide (AR) e problemas
estudos sugerem que fatores genéticos, ambientais, hormonais
bucais; identificar as alterações bucais freqüentes em pacientes
e infecciosos contribuam para a ocorrência e expressão da AR.
com AR e estimar a abordagem odontológica apropriada para
O componente genético é mais explicitamente demonstrado, a
seus portadores.
partir dos estudos epidemiológicos com irmãos de pacientes com AR. Os gêmeos monozigóticos apresentam uma taxa mais
2)METODOLOGIA
elevada de concordância para o AR (12 a 15%) que os dizigóti-
Procedeu-se à busca de artigos científicos nas bases de
cos ou não-gêmeos (2 a 5%). Estima-se que os fatores genéti-
dados bibliográficos Bireme, Lilacs, Pubmed/Medline, Scielo e
cos contribuam de 53 a 65% do risco para o desenvolvimento da
Cochrane. Os descritores utilizados para a busca dos artigos
AR (SANTIAGO; LITLE et al., 2009).
foram: artrite reumatóide; doença auto-imune; doenças Reumá-
Acredita-se que as doenças auto-imunes, como a AR, se-
ticas; manifestações bucais e periodontite. Todos os descritores
jam ocasionadas por alguma disfunção nos mecanismos de
foram consultados na listagem de Descritores em Ciências da
manutenção da tolerância imunológica (ANDRADE et al., 2009).
Saúde da Biblioteca Virtual de Saúde, disponível em http://decs.
As alterações quantitativas e funcionais das células T podem
bvs.br. Seus correspondentes em inglês e espanhol também
contribuir para desvios da auto-imunidade fisiológica e instala-
foram empregados, respeitando o(s) idioma(s) utilizado(s) nas
ção de processos auto-imunes patológicos (ANDRADE et al.,
bases de artigos selecionadas. Como critérios de inclusão dos
2009; CULSHAW et al., 2001; CRUVINEL et al., 2008; RIFAS et
artigos estão: 1) Artigos de revisão de literatura, pesquisa cientí-
al., 2010; RAHMAN et al., 2006; TENG et al., 2005).
fica ou casos clínicos que discutiam sobre manifestações bucais em pacientes portadores de Artrite Reumatóide; 2) Artigos locali-
3.2) AR E ALTERAÇÕES BUCAIS
zados nas bases bibliográficas Bireme, Lilacs, Pubmed/Medline,
A complicação mais significativa de corrente da AR no com-
Scielo e Cochrane com auxílio dos descritores citados; 3) Artigos
plexo buco-maxilo, é o envolvimento da ATM que é observado
publicados nos idiomas português, inglês ou espanhol; 4) Arti-
em torno de 45% a 75% dos pacientes. Os pacientes com AR
gos publicados nos últimos 10 anos, ou seja, entre 2001 e 2011;
podem queixar-se de dor pré-auricular bilateral, sensibilidade,
5) Artigos disponíveis on-line ou pelo Programa de Comutação
edema, rigidez e redução da mobilidade da ATM ou permanecer
Bibliográfica (COMUT). Os artigos que não atendessem aos cri-
assintomáticos. Podem ocorrer períodos de remissão e exarce-
térios de inclusão não foram lidos.
bação dos sintomas e sinais articulares da ATM, assim como acontece nas outras articulações envolvidas. Pode ocorrer an-
3)REVISÃO DE LITERATURA
quilose ou fibrose articular. Clinicamente, os pacientes podem
3.1) ARTRITE REUMATÓIDE (AR)
apresentar sensibilidade no colo lateral do côndilo, crepitação,
A AR causa inflamação na membrana sinovial articular e se
limitação da abertura de boca e sinais radiográficos de altera-
manifesta por calor, inchaço e dor. Tipicamente, afeta várias ar-
ções estruturais. Inicialmente, no exame radiográfico pode ser
ticulações ao longo do corpo e pode causar danos nas cartila-
obdervado o aumento de espaço articular. Essas alterações,
gens, ossos, tendões e ligamentos das articulações, sendo uma
posteriormente se tornam erosivas e podem envolver a fossa
enfermidade potencialmente grave e incapacitante (MIGUEL et
articular e ambos os côndilos (LITLLE et al., 2009). A probabili-
al., 200; LITTLE et al., 2009; CARVALHO et al., 2009). É uma
dade de os pacientes com AR desenvolverem sintomas na ATM
doença poliarticular inflamatória crônica, em que o envolvimento
está correlacionada à severidade e à duração da doença sistê-
extra-articular ou sistêmico não é negligenciável (PEREIRA et al.,
mica (MIGUEL et al., 2008; LITTLE et al., 2009; CARVALHO et al.,
2006; BRAGA et al., 2009; WALLIN et al., 2005).
2009; CUNHA et al., 2007).
Para Carvalho e Wallin et al., (2009) a carga genética pode
Uma consequência preocupante do comprometimento da
exercer papel importante no desenvolvimento da doença. De
ATM é o desenvolvimento de mordida aberta anterior, causada
acordo com Little et al., (2009) a AR apresenta uma distribuição
pela destruição da cabeça e perda da altura do côndilo. Essa re-
geográfica universal, acometendo indivíduos de todas as raças.
pentina retrognatia e mordida aberta anterior podem ser graves
Na população brasileira, a prevalência estimada é de 0,46% da
e têm sido consideradas causas de apnéia do sono obstrutiva
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 277
(CARVALHO et al., 2009; LITLLE et al., 2009).
vidade da AR e seu tratamento pode associar-se a melhora em
Uma complicação adicional observada em portadores de
índices laboratoriais e clínicos da atividade da AR (ISHI et al.,
AR são graves estomatites, que aparecem após utilização de
2008; ORTIZ et al., 2009; PINHO et al., 2009). Há ainda evidência
medicamentos utilizados para controle da AR como penicilami-
de que o tratamento da AR com medicamentos que antagoni-
na, sais de ouro e agentes imunosupressores. O aparecimento
zam o fator de necrose tumoral (anti-TNF) pode ter efeitos bené-
dessas lesões pode indicar toxicidade do medicamento e deve
ficos na doença periodontal (ORTIZ et al., 2009).
ser prontamente comunicado o médico (LITLLE et al., 2009).
A suscetibilidade genética à ocorrência da doença periodon-
De acordo com Carvalho et al., (2009) os pacientes com
tal e sua associação com a gravidade da AR vem sendo cada
AR possuem dificuldade na execução da higiene bucal, devido
vez mais compreendida. Alguns alelos do locus HLA-DRB1,
a dificuldade motora dos membros superiores e pelo envolvi-
conhecidos como epítopos compartilhados, têm sido descritos
mento das a articulações temporomandibulares, que dificulta a
como marcadores genéticos desta doença e associados à sua
abertura da boca. Medidas alternativas como adaptadores de
maior gravidade. Associações entre a presença destes mesmos
escovas dentais, de fio dental e dentifrício devem ser adotadas
epítopos compartilhados e a gravidade da destruição óssea e
para tornar possível a higiene bucal desses indivíduos. Estes
ligamentar da DP também foram descritas (MAROTTE et al.,
adaptadores servem para superar dificuldades como a de pre-
2006).
ensão ou de levantar o braço.
Marotte et al. (2006) avaliaram 147 pacientes com AR e
A AR pode funcionar como um ativador para a resposta imu-
observaram que 56,5% também apresentavam DP. Não houve
ne no periodonto do hospedeiro, aumentando a suscetibilidade
associação entre a presença da DP e os índices clínicos ou la-
à doença periodontal destrutiva (Braga et al., 2007). As condi-
boratoriais de atividade da AR avaliados. Contudo, houve as-
ções reumatológicas, como da AR, também podem ser modifi-
sociação entre a presença de DP e maior destruição óssea em
cadoras do processo saúde-doença periodontal, uma vez que,
punhos e no tecido periodontal. Ainda, a presença de epítopos
em todas essas condições, observa-se uma importante desre-
compartilhados associou-se significativamente à destruição ós-
gulação do sistema imune (BRAGA et al., 2007; KOBAYASHI et
sea em punhos e periodontal (MAROTTE et al., 2006).
al., 2007; ISHI et al., 2004).
A Porphyromonas gingivalis é o principal agente etiológico
Ishi et al., (2004) conduziram um estudo com 39 paciente
da periodontite. Esta bactéria contém a enzima peptidil arginina
portadores de AR e 22 controles saudáveis e concluíram que os
deaminase, que permite a geração de peptídeos citrulinados.
pacientes com AR possuem menos dentes, maior prevalência
Em indivíduos geneticamente suscetíveis (carreadores dos epí-
de sítios com placa bacteriana e maior freqüência de sítios com
topos compartilhados) a presença destes peptídeos citrulinados
perda de inserção. Apesar da prevalência de placa bacteriana
pode levar à quebra da tolerância a antígenos citrulinados en-
ser maior no grupo de pacientes doentes a porcentagem de sí-
dógenos e resultar na produção de anticorpos anti-CCP e con-
tios com sangramento gengival deste grupo não foi estatistica-
tribuir para o desenvolvimento da AR. Além disto, esta bactéria
mente diferente da apresentada pelos controles saudáveis. Os
também expressa outras proteinases que podem participar des-
autores concluem sugerindo que há associação entre doença
te processo (SCHUTZ, 2011).
periodontal e AR.
De acordo com Braga et al., (2007) e Carvalho et al., (2009) existe uma condição de risco à AR baseada na exposição crôni-
3.3) MECANISMOS BIOLÓGICOS DA ASSOCIAÇÃO
ca ao lipopolissacarídeo que ocorre nas doenças periodontais.
ENTRE AR E PERIODONTITE
Nesse conceito, o lipopolissacarídeo de bactérias periodontopá-
A DP não apenas oferece risco à dentição, como também
ticas serviria como uma fonte de superantígenos ao hospedeiro,
apresenta efeitos sistêmicos e associa-se a uma maior preva-
podendo iniciar a cascata imunológica observada na AR. Por ou-
lência de diabetes mellitus, aterosclerose, infarto do miocárdio,
tro lado, a desregulação imunológica observada na AR, gerando
acidente vascular cerebral e segundo diferentes autores, AR.
o aumento de citocinas como a interleucina 1 (IL-1), o fator de
A presença de vias autoimunes comuns à DP e AR tem sido
necrose tumoral (TNF-α) e a IL-6, local e sistemicamente, fariam
descrita, que incluem ativação crônica de células inflamatórias,
com que pacientes com artrite reumatóide, na presença de pató-
produção de citocinas e ativação do complemento (ISHI et al.,
genos periodontais e um meio ambiente propício, desenvolvam
2008; ORTIZ et al., 2009; PINHO et al., 2009).
maior suscetibilidade à periodontite (GARCIA et al., 2006; KO-
Estudos que avaliaram a associação entre DP e a atividade
BAYASHI et al., 2007; YOSHIDA et al., 2001; ZHAO et al., 2010;
e gravidade da AR sugerem que a DP piora a atividade e a gra-
TAUBAMAN et al., 2001; BARKSBY et al., 2007; YAMAZAKI et al.,
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2001; UNKAI et al., 2008). Além disso, a hiperatividade neutrofí-
lógico para esses pacientes. Este protocolo possui como pontos
lica tem sido evidenciada em certas doenças crônicas e parece
relevantes programação de consultas curtas, manutenção do
justificar possíveis inter-relações entre algumas condições infla-
paciente em posição confortável, conecimento da medicação
matórias. Os neutrófilos são as células mais importantes nas ar-
utilizada e seus efeitos sistêmicos, identificação dos indivídu-
ticulações de pacientes com AR ativa e parecem desempenhar
os que necessitam de profilaxia antibiótica, em especial os que
uma importante função na periodontite. Evidenciou-se hiperati-
possuem próteses articulares, adequação das técnicas a serem
vidade de neutrófilos tanto na periodontite quanto na AR. Desta
utilizadas de acordo com as especificidades de cada pessoa e
forma, talvez uma doença possa funcionar como estímulo pré-
atenção a possíveis sinais e sintomas decorrentes de problemas
ativador para neutrófilos periféricos, fazendo que essas células
na ATM.
hajam de forma mais agressiva, quando recrutadas para atuar em outra doença (BRAGA et al., 2007; CRUVINEL et al., 2008).
CONCLUSÃO A condição de saúde bucal dos pacientes portadores de AR
3.4) TRATAMENTO ODONTOLÓGICO DO PACIENTE PORTADOR DE AR
requer atenção uma vez que apresentam manifestações e com-
O enfoque médico atual no manuseio dos pacientes com
plicações bucais específicas. Pode haver comprometimento da
AR baseia-se no seu diagnóstico precoce e no controle clínico
ATM com aparecimento de sintomatologia dolorosa, edema,
e laboratorial rigoroso da atividade inflamatória. Como a maioria
rigidez e limitação de abertura bucal. Uma conseqüência espe-
dos pacientes com AR, na sua fase inicial, não é atendida pelo
cialmente preocupante é o desenvolvimento de mordida aberta
reumatologista, o clínico geral tem um papel essencial no diag-
anterior. Outra complicação adicional observada em portadores
nóstico e tratamento dessa enfermidade (SANTIAGO, 2009).
de AR são graves estomatites, que aparecem após utilização
O tratamento médico apropriado para a AR é basicamente
de medicamentos utilizados para controle da AR e podem indi-
paliativo, pois não existe cura para a doença. Tem como objetivo
car toxicidade do medicamento. Os pacientes com AR possuem
reduzir a inflamação e o aumento de volume das articulações,
dificuldade na execução da higiene bucal, devido a dificulda-
aliviar a dor e a rigidez e, ainda, o restabelecimento da função.
de motora dos membros superiores e pelo envolvimento das a
Esses objetivos são alcançados com o programa básico de
articulações temporomandibulares, que dificulta a abertura da
tratamento, que consiste em educação do paciente, repouso,
boca. A literatura sugere que portadores de AR possuem menos
exercícios, fisioterapia e AAS (ácido acetilsalicílico) ou outros an-
dentes, maior prevalência de sítios com placa bacteriana e maior
tiinflamatórios não esterioidais (AINEs) (LITLLE et al., 2009).
freqüência de sítios com perda de inserção. Parece existir uma
Nos últimos anos, o metotrexato (MTX), em doses baixas,
associação positiva ente AR e doença periodontal. O tratamento
tem sido amplamente utilizado no tratamento de doenças Reu-
odontológico do paciente com AR deve contemplar as deman-
máticas, inclusive a AR, por suas propriedades imunomodulado-
das específicas apresentadas por esse grupo de pacientes, ten-
ras e poupadoras de corticóide. Entretanto, vários efeitos colate-
do como preocupação o restabelecimento da saúde bucal sem
rais são possíveis com o seu uso, requerendo atenção especial
perder de foco a condição sistêmica e utilização de medicamen-
do médico que o prescreve (GUIDOLIN et al., 2005).
tos para controle da doença
No tratamento de afecções reumáticas há a tendência de se utilizarem vários fármacos simultaneamente aumentando as-
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Como comentado anteriormente, uma complicação adicional observada em pacientes com AR são as estomatites graves, que aparecem depois do uso de medicamentos, como penicilamina, sais de ouro ou agentes imunossupressores. Isso pode indicar toxicidade do medicamento e deve ser comunicado ao médico. O tratamento para esse problema é paliativo e inclui uso de solução para bochecho, elixir de difenidramina ou emolientes tópicos tipo Orabase. Como os pacientes com AR apresentam envolvimento de múltiplas articulações com variados graus de dor e imobilidade, Little et al. (2009) propõem um protocolo de tratamento odonto-
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NOTAS DE RODAPÉ 1. Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, Minas Gerais – pamelagarcia22@hotmail.com. 2. Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, Minas Gerais – sarinhaodonto@yahoo.com. 3. Professora adjunta com regime de dedicação integral do Centro Universitário Newton Paiva, Mestre em Odontologia, área de concentração Clínica Odontológica, Universidade Federal de Minas Gerais – santuzam@yahoo.com.br.
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OS RISCOS DO USO E DO DESCARTE INADEQUADO DE MEDICAMENTOS VENCIDOS: método de análise alternativo para determinação de ácido salicílico em uma amostra de aspirina® vencida. Adriana Nascimento de Sousa1,2 Eliane do Nascimento2 Fernanda Boroni1,2 Kyrlah Jerônimo1,2
Resumo: Cresce no Brasil a discussão sobre qual destino dar aos medicamentos que não são usados pela população. Os usuários de medicamentos acabam fazendo o descarte destes de forma inadequada, os quais podem ter repercussões na saúde pública e ambiental. Neste trabalho, demonstrou-se que a Espectroscopia no ultravioleta-visível por derivadas, pode ser utilizada na determinação de ácido salicílico em comprimidos de ácido acetilsalicílico no produto comercial, Aspirina®. O método demonstrou ser de baixo custo, podendo ser uma alternativa viável em substituição à técnica farmacopéica. Com os resultados obtidos demonstrou-se que o medicamento fora do prazo de validade possui alterações na sua composição e para que não haja riscos no seu descarte o correto seria a devolução para o fabricante, através de postos de coleta públicos e particulares. Palavras- chave: Espectroscopia UV-vis derivativa, ácido acetilsalicílico, medicamentos vencidos.
INTRODUÇÃO
tos adversos à saúde, seja humana ou de outros organismos
Por desconhecimento ou falta de informação, grande par-
presentes nas águas, como os peixes.
te das pessoas acabam fazendo o descarte de medicamen-
Outro problema relacionado a medicamentos vencidos é o
tos de forma inadequada, e esse despreparo na questão do
uso destes por parte dos consumidores. Neste caso os danos
manejo de resíduos químicos farmacêuticos em muitos lugares
causados podem ser ainda mais graves com ocorrência de in-
do mundo leva a graves danos a natureza, os quais podem
toxicações, envenenamentos e até mesmo morte dos usuários
ter repercussões à saúde pública e ambiental (GIL, 2005). Um
(LAPORTE, 1989).
estudo feito pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bio-
Da “farmácia doméstica” decorrem inúmeros casos de
químicas, Oswaldo Cruz, entrevistou 1.009 pessoas na cidade
medicamentos vencidos e de intoxicações medicamentosas
de São Paulo e mostrou que apenas 2,7% dos entrevistados já
(LAPORTE, 1989). Segundo os dados publicados pelo Siste-
haviam recebido alguma orientação sobre descarte de medica-
ma Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, os me-
mentos vencidos. O levantamento constatou que 75,32% das
dicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais
pessoas descartam a medicação no lixo doméstico e 6,34%
agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde
jogam na pia ou no vaso sanitário. E mais, 92,5% nunca per-
1996, sendo que em 2007 foram responsáveis por 30,3% dos
guntaram sobre a forma correta de fazê-lo (FENAFAR, 2011).
casos registrados (SINITOX, 2009).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, entre
Para que os medicamentos tenham sua plena ação, eles
10 e 28 mil toneladas de medicamentos são jogadas fora pelos
devem estar em condições adequadas de uso e dentro dos
consumidores a cada ano. Esses medicamentos jogados no
prazos de validade. Estes aspectos são importantes para a efi-
lixo ou no esgoto podem poluir o solo e a água e trazer riscos
cácia do tratamento e segurança do usuário. Após expirar o
para o ambiente e para as pessoas. Os produtos químicos,
prazo de validade, os medicamentos vencidos devem ser inuti-
como os medicamentos podem reagir de forma violenta com
lizados e descartados, para evitar problemas relacionados com
outra substância química, inclusive o oxigênio do ar ou com
os medicamentos como: intoxicações; uso sem necessidade
a água, produzindo fenômenos físicos tais como calor, com-
ou sem indicação; falta de efetividade; reações adversas; entre
bustão, ou então produzindo substância tóxica. Segundo Bila
outros (LAPORTE, 1989).
(2003) a presença desses fármacos na água pode causar efei-
Neste contexto, a Farmácia Escola do Centro Universitário
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 283
Newton Paiva (FENP) como dispensadora de medicamentos, se
ácido acetilsalicílico (AAS). A escolha deste produto se deve ao
preocupa com o impacto social e ambiental que o descarte ina-
fato de que o ácido acetilsalicílico é o analgésico mais consumi-
dequado de medicamentos vencidos ou não, podem ocasionar
do e vendido no mundo.
ao meio ambiente e à sociedade, além dos vários problemas
A principal impureza presente no AAS é o ácido salicílico
que o uso de medicamentos vencidos pode ocasionar aos usu-
(AS), que é um produto de degradação produzido pela hidróli-
ários. Por isto a FENP com o intuito de informar e conscientizar
se do ácido acetilsalicílico quando as condições de armazena-
os usuários sobre o problema do descarte inadequado e o uso
mento não são adequadas como, por exemplo, em presença
de medicamentos fora do prazo de validade, propõe à verifica-
de umidade, oxigênio atmosférico e luz, de acordo com o es-
ção de produto de degradação gerado em uma amostra vencida
quema 1 (ALLINGER, 1978; PAVIA, 1982).
de Aspirina® comprimidos efervescentes cujo princípio ativo é o
Para avaliar a pureza do AAS, é mais comum determinar a
letividade na separação do AS e AAS (FERREIRA, 2003).
presença de AS do que medir o AAS presente. Isto é recomen-
Na Espectroscopia derivativa obtêm-se o espectro funda-
dado na Farmacopéia Brasileira e na Farmacopeia Europeia, a
mental (de ordem zero) da substância em análise e em segui-
qual estabelece uma tolerância de 0,15% de AS em comprimi-
da o próprio espectrofotômetro produz o espectro de primeira
dos de AAS (EUROPEAN, 1997). O baixo limite tolerado deve-
e de segunda ordem (primeira e segunda derivada). O ponto
se à irritação que o AS causa nas paredes do estomago, muito
de anulação da primeira derivada (conhecido como zero cros-
maior que o AAS (ALLINGER, 1978).
sing) equivale ao comprimento de onda máximo do espectro
De acordo com a Farmacopeia Brasileira (2010), determi-
de ordem zero (normal). O comprimento de onda máximo no
na-se o teor de AS em comprimidos de AAS por uma análise
espectro de segunda derivada equivale ao comprimento de
comparativa da amostra e um padrão contendo o máximo de
onda máximo do espectro de ordem zero. Os 2 pontos de anu-
AS, que é permitido na amostra. Assim, neste trabalho, propõe-
lação do espectro de 2ª derivada equivalem aos comprimentos
se a aplicação de uma técnica de doseamento, do AS, alternati-
de absorção máximo e mínimo da 1ª derivada (Figura 1). Assim
va à técnica farmacopéica, por meio da Espectroscopia UV-vis
a quantidade do fármaco em uma amostra pode ser facilmente
derivativa. O uso desta técnica se justifica pelo impedimento
determinada medindo-se a altura do pico no espectro de pri-
de aplicação da Espectroscopia direta (ordem zero) devido à
meira ou segunda derivada e interpolando-o em uma curva de
presença de grupos cromóforos semelhantes que absorvem
calibração previamente preparada com o padrão do fármaco
no mesmo comprimento de onda e, portanto não mostram se-
(O’HAVER, 1979).
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minou o peso médio. Retirou uma quantidade de pó contendo PARTE EXPERIMENTAL
cerca de 250 mg de Aspirina, transferiu para balão volumétrico
DETERMINAÇÃO DE AS NO AAS DE ACORDO COM A FARMACOPEIA
de 50 mL e dissolveu em etanol. Filtrou a solução e retirou 1 mL
BRASILEIRA 5ª ED.:
do filtrado, transferiu para balão volumétrico de 25 mL e comple-
Pesou e pulverizou os comprimidos. Transferiu quantidade
tou com etanol.
de pó equivalente a 0,20 g de ácido acetilsalicílico para um balão volumétrico de 100 mL. Adicionou 4 mL de etanol e agitou. Diluiu
PREPARO DA SOLUÇÃO PADRÃO DE AS
para 100 mL com água resfriada, mantendo a temperatura infe-
Pesou cerca de 250 mg de AS padrão, diluiu em balão volu-
rior a 10 °C. Filtrou imediatamente e transferiu 50 mL do filtrado
métrico de 50 mL e completou com etanol. A partir da solução
para tubo de Nessler. Preparou a solução de ácido salicílico pa-
estoque, preparou a solução diluída de AS padrão na concentra-
drão a 0,01% (p/v). Transferiu 3 mL desta solução para um tubo
ção 0,2 mg/mL em etanol. Realizou o espectro de varredura da
de Nessler, adicionou 2 mL de etanol e água em quantidade su-
solução padrão de AS e obtiveram-se os espectros de UV-vis de
ficiente para 50 mL. Adicionou 1 mL de sulfato férrico amoniacal
ordem zero, 1ª derivada e 2ª derivada.
às soluções padrão e amostra. Comparar as duas soluções. A cor violeta produzida com a solução amostra não deve ser mais
Preparo da solução padrão de AAS
intensa que a obtida com a solução padrão.
Pesou cerca de 250 mg de AAS padrão, diluiu em balão volumétrico de 50 mL e completou com etanol. A partir da so-
PREPARO DA AMOSTRA DE ASPIRINA® COMPRIMIDO EFERVESCENTE
lução estoque, preparou a solução diluída de AAS padrão na
Pesou 20 comprimidos de Aspirina ® efervescentes e deter-
concentração de 0,2 mg/mL em etanol. Realizou o espectro de
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varredura da solução padrão de AAS e obtiveram-se os espec-
tendo o máximo de impureza que é permitido no AAS (cerca de
tros de UV-vis de ordem zero, 1ª derivada e 2ª derivada.
0,15 %) é comparado com a solução da amostra em análise. Pode-se observar na figura 2, que a amostra de Aspirina ven-
RESULTADOS E DISCUSSÕES
cida apresenta quantidade de AS superior ao permitido, pois a
A técnica farmacopéica para determinação do AS é uma
coloração desenvolvida na solução amostra foi muito superior à
técnica semi-quantitativa onde uma solução padrão de AS con-
* As soluções foram transferidas do tubo de Nessler para o béquer para melhorar a visualização do resultado na foto.
desenvolvida no padrão.
a semelhança de absorção dos dois compostos. O espectro padrão do AAS apresenta picos característicos em 210 nm e
Das soluções padrões diluídas de AS e AAS, foram obti-
em 235 nm. O espectro padrão do AS também apresenta os
dos os espectros de ordem zero, separadamente, e em se-
mesmos picos característicos em 210 nm, 235 nm e ainda um
guida eles foram sobrepostos (Figuras 3, 4 e 5) para mostrar
outro em 300 nm.
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Além dos espectros apresentados anteriormente, foi também obtido o espectro da mistura das soluções de AS e AAS
aos dois compostos (AS e AAS), confirmando a incapacidade da técnica em analisar as duas substâncias seletivamente.
(Figura 6), que revelou a presença de picos característicos
A figura 5 mostra que existe sobreposição de bandas de ab-
copia derivativa. A diferenciação do espectro de ordem zero
sorção do AS e AAS, impedindo que a Espectroscopia comum
não aumenta as informações do espectro original, mas leva a
(ordem zero) seja utilizada para determinação do AS em AAS. A
supressão das bandas largas, realça as bandas estreitas, e au-
sobreposição das bandas (overlapping) de transição eletrônica
menta a resolução de “ombro” para banda, etc., obedecendo,
ou de transferência de carga em um mesmo solvente é um dos
ainda, a Lei de Beer‑Lambert. Na sobreposição de espectros de
problemas da Espectroscopia nas regiões do UV-vis de misturas
derivadas dos componentes de uma mistura, podem-se indivi-
de substâncias com cromóforos semelhantes. Uma alternativa
dualizar melhor os constituintes e até eliminar a interferência de
eficiente é o uso da Espectroscopia de derivadas ou Espectros-
um componente sobre o outro.
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Nos espectros sobrepostos de 1ª e 2ª derivadas (Figuras
litando a determinação dos dois fármacos simultaneamente com
7 e 10, respectivamente) pode-se observar que em certos com-
eficácia pela Espectroscopia derivativa. São também mostrados
primentos de onda, apenas um dos fármacos absorve. Isto nos
os espectros individuais de 1ª e 2ª derivadas do AS e AAS nas
fornece informações com seletividade e especificidade, possibi-
figuras 8,9 e 11,12, respectivamente.
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Observa-se nas figuras 7 e 10 que, em certos comprimentos
cias (overlapping). Os espectrofotômetros que realizam varredura
de onda (λ), ocorre a anulação do espectro de um componen-
de espectro apresentam no software opções para obtenção da
te enquanto há absorção do outro. Deste modo, obtendo-se os
primeira até a quarta ou mais derivadas (SANTORO, 2005).
valores das amplitudes nos pontos de anulação (zero crossing),
O espectro de UV-vis da solução amostra, Aspirina compri-
é possível construir-se curvas de calibração, além de se eliminar
midos efervescentes, vencida a cerca de 1 ano, foi obtido nas
eletronicamente os erros sistemáticos provenientes de interferên-
mesmas condições dos padrões de AS e AAS e é mostrado na
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figura 13. Pode-se observar neste espectro semelhanças com
seja, neste espectro observa-se picos referentes ao AAS, mas
o espectro da mistura dos padrões de AS e AAS (Figura 6), ou
também revela a presença de picos referentes ao AS.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Os resultados obtidos mostram que o método de análise
ALLINGER, N. L.; CAVA, M. P.; JONGH, D. G.; LEBEL, N. A.; STEVENS. Química Orgânic., Guanabara Dois, Rio de Janeiro, 2 ed., 961p, 1978.
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Farmacêuticos da Farmácia Universitária do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Docentes do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva. 1
292 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785
PADRONIZAÇÃO DOS DESENHOS UTILIZADOS NOS PROCESSOS DE BLISTAGEM
1
Thais Reis Amaral1 Linna Beathrice Oliveira Rodrigues1 Gisele Assis Castro Goulart2
RESUMO: a crescente competitividade do mercado, as alterações frequentes no custo de matérias-primas e materiais de embalagem, a imposição de restrições ambientais e as exigências da legislação exigem respostas rápidas das indústrias, melhor controle de sua produção e desenvolvimento de novas estratégias voltadas à otimização operacional dos processos industriais. Assim, o presente estudo aborda a otimização dos processos de embalagem primária e secundária em uma indústria farmacêutica por meio da padronização dos desenhos utilizados nos processos de blistagem. PALAVRAS-CHAVE: Indústria farmacêutica; Embalagem; Blister; Auto Cad®
INTRODUÇÃO
proteção, identificação/informação, acondicionamento, praticida-
A indústria farmacêutica brasileira vem passando por grandes
de e aceitabilidade para um produto durante seu armazenamento,
transformações desde a abertura do mercado no início da década
transporte, exposição, utilização ou administração; podendo ser
de 90. Investimentos foram feitos em novas unidades fabris, e com
primária ou secundária (AULTON, 2008; BRASIL, 2010).
o advento da lei de patentes, novos medicamentos foram introduzidos no mercado interno brasileiro (BARROS, 2005).
A embalagem primária consiste nos dispositivos de acondicionamento que formam a parte que contém diretamente o
Adicionalmente à crescente competitividade do mercado,
produto, tem como função conter e restringir qualquer risco
as alterações frequentes no custo de matérias-primas e ma-
químico, biológico, climático ou mecânico que possa causar
teriais de embalagem, a imposição de restrições ambientais,
ou conduzir à deterioração do produto. A embalagem contínua
e as exigências da legislação exigem respostas rápidas das
à embalagem primária é conhecida de embalagem secundá-
indústrias, melhor controle de sua produção e desenvolvimen-
ria, e proporciona proteção física adicional necessária para as-
to de novas estratégias voltadas à otimização operacional dos
segurar o armazenamento e o fornecimento de produtos com
processos industriais (LACERDA; ARAÚJO; MEDEIROS, 2004).
qualidade, permitindo que quantidades a granel possam ser
Há uma década a embalagem de produtos era geralmente
fracionadas em unidades individuais (AULTON, 2008).
considerada como a última prioridade para muitas empresas
Enquanto processo, a embalagem compreende todas
farmacêuticas, entretanto o papel da embalagem na vida de
as operações, incluindo o envase e a rotulagem pelas quais
uma preparação farmacêutica sofreu mudança. O elemento
o produto a granel, qualquer produto que tenha sofrido todas
marketing, através do qual os fornecedores podem diferenciar
as etapas de produção sem incluir o processo de embala-
seus produtos daqueles comercializados por seus competido-
gem, deve passar, a fim de tornar-se um produto terminado
res alia-se no novo conceito empregado para embalagem far-
(AULTON, 2008; BRASIL, 2010).
macêutica, representado pela tríade: segurança, conveniência e comodidade (RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
Neste contexto, o papel da embalagem e da operação de acondicionamento, além de poder ser um atrativo do produto, é
Assim, a indústria de embalagem destaca-se como um
propiciar vida útil a todos os produtos farmacêuticos, pois entre
dos setores mais importantes do mundo. Muitas das exigências
o produtor e o consumidor existe um intervalo (espaço e tempo)
determinadas pelo mercado consumidor têm sido atendidas
durante o qual vários fatores podem proporcionar alterações in-
por alteração no conceito de embalagem, pois este segmento
desejáveis no produto. Assim, a embalagem adequada deve ser
representa um mercado global de US$ 500 bilhões, compreen-
econômica, uma vez que participa da rentabilidade do produto;
dendo cerca de 100.000 empresas e uma geração de 5 milhões
deve conceder apresentação aceitável, atrativa e prática de for-
de empregos (LAURENTIS, 2008).
ma que contribua ou eleve a aceitação e confiança no produto; e
A embalagem, enquanto material de acondicionamento, pode
deve principalmente conceder proteção contra possíveis riscos à
ser definida como um meio econônico de prover apresentação,
formulação (AULTON, 2008). É importante ressaltar que os pro-
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dutos farmacêuticos exigem cuidados com embalagem diferen-
outros (AULTON, 2008).
tes de outros produtos, uma vez que qualquer falha pode resultar
Certamente existem outros aspectos importantes relacio-
em alterações significativas em suas propriedades originais, pro-
nados à função da embalagem farmacêutica. É sabido que os
vocando ineficácia no processo terapêutico, riscos à saúde ou até
produtos que mais causam intoxicação em crianças são os
mesmo a morte de um indivíduo (LAURENTIS, 2008).
medicamentos, seguido dos produtos domissanitários e das
Portanto, a proteção é o fator mais crítico na alteração da
plantas. Por este motivo as embalagens mais modernas têm
vida útil de um produto, uma vez que estão continuamente ex-
que ser seguras para ambientes com presença de crianças
postos a fatores mecânicos, climáticos ou ambiental, biológi-
(child resistant), assim como devem evidenciar a sua condição
cos e, químicos. Danos físicos ou mecânicos ocorrem devido
de inviolabilidade para o consumo (tamper resistant), além de
ao choque ou impacto, compressão com esmagamento de car-
atender aspectos regulatórios específicos (LAURENTIS, 2008).
tucho, vibrações durante o transporte, furos ou perfurações por objetos pontiagudos, dentre outros. Já os riscos climáticos ou
BLÍSTER
ambientais são decorrentes, por exemplo, de condições duran-
No início do século XIX os remédios eram armazenados em
te o armazenamento (umidade ou temperatura), exposição sob
vidros, aglomerados em algodão. Em 1963, a Interpack Hassia
lâmpadas de alta potência na vitrine de uma loja, contato do
lançou o primeiro produto em blíster para a pílula anticoncepcio-
produto com gases atmosféricos, contaminação por sólidos do
nal da Schering, a palavra blíster tem origem do inglês e significa
ar carreados pela atmosfera. Por outro lado, danos biológicos
bolha, sendo formado por uma cartela base (cartão, alumínio
abragem lacre ineficaz ao egresso de microrganismos, risco
ou plástico) onde o produto fica dentro de uma bolha (GARCIA,
de fraude e de adulterações decorrente do uso de embalagem
2001). Nos Estados Unidos, a utilização do blíster como forma
sem fechos de segurança. E, por último, riscos químicos são
de embalagem farmacêutica manteve um crescimento constan-
aqueles causados pela interação do produto com o material
te desde seu início, acompanhando o avanço da indústria farma-
de embalagem, tais trocas podem ser identificadas através de
cêutica. Em nossos mercados, o blíster (FIG. 1) ocupa o maior
alterações organolépticas, elevação da toxidade/irritabilidade,
segmento, seguido por frascos de plástico soprado, ampolas,
degradação, perda ou ganho de eficiência microbiana, entre
frascos e vidro (BERASAY, 2005; NASCIMENTO, 2006).
Assim, o sistema de blistagem de remédio é considerado o melhor processo de embalagem individual de comprimidos, já
mundo: 85% das formas sólidas na Europa são acondicionadas em blíster (RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
que há máquinas automatizadas que asseguram a perfeita ade-
Outras vantagens do uso do blíster são: boa aparência,
quação de comprimidos e drágeas nas bolhas formadas sem a
facilidade de transporte (quando comparado a outros tipos de
intervenção humana direta (NASCIMENTO, 2006).
embalagem), confecção de cartelas associadas a calendário,
Adicionalmente à capacidade de oferecer aos pacientes
elevada hermeticidade e, possibilidade de impressão das in-
doses individualizadas, permitindo que eles assegurem que te-
formações (validade, lote e posologia, etc) diretamente na face
nham tomado o medicamento prescrito e que o restante das
metálica do blíster. Como vantagem no âmbito econômico, ob-
doses permaneçam na embalagem original e completamente
serva-se baixos volumes de estoque, facilidade para o paciente,
protegidos contra reações adversas externas, o blíster também
baixo índice de contaminação microbiológica, e diminuição dos
propicia a facilidade de manuseio e identificação de violação,
custos em transporte (NASCIMENTO, 2006).
tornando o seu emprego para formas farmacêuticas em todo o
Em princípio qualquer medicamento poderia ser apresenta-
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do como blíster. Porém, no mercado farmacêutico brasileiro são
Na blistadeira (FIG. 2), a bolha é moldada por processos
encontrados blíster com sólidos, especialmente comprimidos,
térmicos ou a frio. O processo de formação de bolhas dá-se
drágeas e cápsulas duras, ou moles (NICOLOSI, 2008).
por intermédio de um jato de ar, o qual é injetado na ferramenta superior. Instantes após dá-se um resfriamento através de circu-
PROCESSO DE BLISTAGEM
lação de água, evitando a deformação da bolha (RODRIGUES;
Todo o processo produtivo de um blíster é realizado num
FERRAZ, 2007).
complexo de máquinas automatizadas especiais, onde toda in-
A alimentação das bolhas formadas pode ser manual, pro-
tervenção humana é feita somente por meio de computadores,
cesso no qual o operador espalha o produto sobre as deforma-
evitando qualquer tipo de contaminação através do tato e do ar.
ções; automática, sendo realizada por meio de um prato vibra-
As máquinas e equipamentos são a base de todo o processo
tório ou escovas rotativas; ou semi-automática, onde o operador
produtivo, responsáveis pela qualidade técnica e pela capacita-
espalha o produto sobre um disco rotativo que executa um movi-
ção das indústrias farmacêuticas (NICOLOSI, 2008).
mento de rotação alimetando o blíster (FABRIMA, 2005).
O sistema de selagem é realizado depois que todo o medica-
MATERIAIS UTILIZADOS NOS PROCESSOS DE BLISTAGEM
mento estiver devidamente acomodado nas bolhas previamente
Encontram-se disponíveis no mercado diferentes tipos de
moldadas. Assim, o PVC e a folha de alumínio, já impressa com
materiais, que permitem acondicionar e proteger produtos diver-
os dados do produto, se posicionam sobre a estação de sela-
sos (NICOLOSI, 2008). Assim, é recomendável avaliar o tipo de
gem, formada por duas placas recartilhadas, sendo uma delas
resistência que o blíster deverá ter levando-se em conta as pon-
aquecidas, que se unem para codificar o blíster e selá-lo. Durante
derações referentes às espessuras e cor dos materiais a serem
este processo observa-se a bobina de filme de selagem, instala-
utilizados (GARCIA, 2001).
da geralmente, acima e à direita da estação de selagem tendo
Adicionalmente, deve-se também avaliar a transmissão dos
seu filme esticado através dos roletes de passagem. O filme de
gases, vapores, ou líquidos através de materiais de embalagem.
selagem passa juntamente com o filme de PVC formado entre as
A permeabilidade do vapor de água ou do oxigênio através do
placas planas, que são aquecidas para garantir uma selagem es-
material de embalagem pode constituir um problema se a forma
tanque e plana. A passagem do filme entre as estações ocorre
farmacêutica for sensível à hidrólise ou oxidação, comprometen-
através das pinças acionadas pneumaticamente e instaladas so-
do o prazo de validade do fármaco. A temperatura e umidade
bre um carrinho, que tem movimento retilíneo, executado através
são fatores importantes que influenciam a permeabilidade da
de polias acionadas pelo servomotor (FABRIMA, 2005).
embalagem ao oxigênio e a água. Um aumento da temperatura,
O corte é a etapa final da produção do blíster, onde um estampo de corte especial, a faca, é responsável por cortar o blís-
por exemplo, traduz-se em um aumento da permeabilidade dos gases (RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
ter na dimensão projetada. Neste processo a parte superior se
Há disponível dois tipos básicos de embalagem em blíster
mantém fixa, e a inferior se desloca exercendo uma pressão na
para produtos farmacêuticos: em uma das variedades a cavida-
superior, executando-se o corte (FABRIMA, 2005).
de é construída em plástico termomoldável e o verso é formado
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 301
por um plástico ou uma combinação de plástico, papel e/ou alu-
abilidade do PVC ao oxigênio e à umidade. O revestimento é
mínio; em outra há alumínio em ambos os lados e sua cavidade
aplicado em um dos lados, que geralmente fica em contato com
é formada por alongamento a frio (PILCHIK, 2000).
o produto, e o outro lado constituirá o material de verso (NASCI-
O espectro dos materiais termomoldáveis disponíveis para
MENTO, 2006; NICOLOSI, 2008; RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
uso é variado e responde às necessidades individuais das dife-
O Aclar-PCTFE é considerado excelente como barreira à
rentes formulações, dos princípios ativos e das apresentações a
umidade e gases, gerando um nível elevado de proteção con-
serem embaladas. Dentro desta gama de materiais, foram de-
tra o impacto. Suas embalagens possuem tamanho reduzido,
senvolvidos materiais com barreiras média e alta contra umida-
facilitando a logística de armazenamento e transporte. O ma-
de e os gases e, também, como proteção antiactínica contra os
terial permite inspeção e verificação dos conteúdos do pacote
efeitos da luz. As películas disponíveis no mercado vão desde
a qualquer hora, facilitando o controle em processo, já que a
as diferentes combinações de cloreto de poli-vinila (PVC) com
ausência de um comprimido pode ser identificada em um blíster
cloreto de poli-vinilideno (PVdC), para alcançar um resultado de
transparente. Porém, apresenta alto custo (NASCIMENTO, 2006;
barreira média, até os laminados de PVC com Aclar, para barrei-
NICOLOSI, 2008; RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
ras altas (BERASAY, 2005).
Por último, o ALU-ALU é aplicado a fármacos especialmente
É importante ressaltar que os útimos anos têm mostrado uma
sensíveis à umidade, gases (principalmente o oxigênio) e luz, já
expanção significativa no uso de plásticos, tornando-se o mate-
que é o único material que oferece 100% de barreira à umidade,
rial de acondicionamento principal. Os plásticos empregados na
oxigênio e à luz. É constituído por duas folhas de alumínio, ou
atualidade encontram-se principalmente relacionados com as
seja, o filme de PVC é substituído por uma folha de alumínio
resinas termoplásticas. Os polímeros apresentam características
com uma liga especial constituída por nylon e PVC para me-
variadas, relativas ao tipo de material de constituição, ao seu grau
lhor selagem com o alumínio superior. Possui alta estabilidade
de qualidade, ao processo de fabricação e acabamento, e à di-
mecânica e dimensional, e excelente propriedade de barreira.
versidade de formatos e de propriedade físicas e químicas, todas
Para medicamentos que são embalados nesta estrutura é dis-
elas baseadas em critérios econômicos (AULTON, 2008).
pensável o sistema de aquecimento para formar a bolha, ou
Os quatro principais componentes da embalagem em blíster
seja, a formação ocorre em função de um dispositivo mecânico
termoformado são: o filme termoformável - que representa 80% a
que forma as cavidades (NASCIMENTO, 2006; NICOLOSI, 2008;
85% do blíster; o material do verso – que representa 15% a 20% do
RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
peso total da embalagem; o revestimento para selagem a quente
Em busca da proteção do produto, a utilização do alumínio
e a tinta para impressão. O filme termomoldável corresponde ao
como material de fechamento de blíster é a melhor opção, já
componente da embalagem que recebe o produto em cavidades
que a transmissão da umidade, do oxigênio ou da luz ao longo
projetadas em baixo relevo (RODRIGUES; FERRAZ, 2007).
do tempo é mínima (BERASAY, 2005). Os alumínios utilizados
O primeiro e mais conhecido do público consumidor é o
devem ser isentos de microrganismos, possuírem resina termo-
PVC, apresenta alta resistência à dobra, boa resistência química
colante bem distribuída e serem especiais para selar com os
e baixa permeabilidade a óleos, gorduras e substâncias aromá-
tipos de materiais (NASCIMENTO, 2006; NICOLOSI, 2008; RO-
ticas. É o filme mais utilizado em blistagens farmacêuticas por ter
DRIGUES; FERRAZ, 2007).
custo reduzido e apresentar facilidade de formação e selagem, além de ser transparente. Porém, o PVC apresenta barreira limi-
PROCESSO DE BLISTAGEM
tada e baixa resistência ao impacto, características estas que
Todo o processo produtivo de um blíster é realizado num
devem ser ligadas à variação e espessura da parede da cavida-
complexo de máquinas automatizadas especiais, onde toda in-
de, à integridade da selagem e à formulação do produto. O uso
tervenção humana é feita somente por meio de computadores,
do PVC tem atraído muitas críticas devido à liberação de toxinas
evitando qualquer tipo de contaminação através do tato e do ar.
durante sua combustão (emissão de hidrocloretos e dioxinas al-
As máquinas e equipamentos são a base de todo o processo
tamente tóxicas) (NASCIMENTO, 2006; RODRIGUES; FERRAZ,
produtivo, responsáveis pela qualidade técnica e pela capacita-
2007; NICOLOSI, 2008).
ção das indústrias farmacêuticas (NICOLOSI, 2008).
Outro filme utilizado é o PVdC, que possui maior eficiência
Desta forma, são muitas as variáveis e os fatores que con-
como barreira à umidade e gases. Este material desempenha
tribuem para uma boa eficiência da máquina. Não há uma espe-
papel crítico nas embalagens em blíster com laminação ou re-
cificação sobre o tipo de equipamento que pode ou não ser uti-
vestimento sobre o PVC, reduzindo de 5 a 10 vezes a perme-
lizado na fabricação de embalagens, o importante é que sejam
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fabricados com estruturas especiais, que permitem fácil limpeza
gem permite a otimização dos processos de embalagem primá-
e completa sanitização, garantindo produtos idênticos lote a lote
ria e secundária, minimizando períodos não produtivos, e conse-
em forma, peso e qualidade (NICOLOSI, 2008).
quentemente elevando a produtividade, além de permitir que se
Então, para cada equipamento específico é importante ava-
trabalhe com estoques reduzidos, atendendo às novas deman-
liar o que a produção exigirá, dimensionando as máquinas para
das do mercado de medicamentos. Assim, o objetivo deste tra-
as necessidades de cada produção. Deve-se também observar
balho foi a padronização dos desenhos utilizados nos processos
fatores como segurança, rapidez de setup, flexibilidade, redu-
de blistagem em uma Indústria Farmacêutica em Belo Horizonte.
ção de rejeitos e interfaces amigáveis (GARCIA, 2001).
Para isso foram avaliadas todas as apresentações e ferramen-
Adicionalmente, os equipamentos precisam estar em bom
tas do processo de blistagem; uniformizadas as apresentações
estado de conservação, com manutenções preventivas execu-
e ferramentas viáveis; construídas ferramentas no Auto Cad® e
tadas em seu devido tempo. E, os operadores devem receber
implantadas as ferramentas padronizadas.
treinamentos em BPF e seguir todos os procedimentos padronizados (NICOLOSI, 2008; BRASIL, 2010).
MATERIAIS
No processo de blistagem é essencial que sejam selecionados bons materiais, bem como mão-de-obra qualificada. As
Auto Cad® (AUTODESK, 2010); blistadeira e suas ferramentas (Blisterflex®, FABRIMA, 2005, TAG – EQSO - 023).
máquinas e equipamentos são as bases de todo o processo produtivo, portanto devem ser modernas e validáveis; e passar por manutenção preventiva periódica (NICOLOSI, 2008). Outro ponto importante é a minimização do tempo gasto
MÉTODOS LEVANTAMENTO DAS FORMAS FARMACÊUTICAS FABRICADAS PELA INDÚSTRIA
em setup. Tal redução é importante por três razões: quando o
Foi realizado um levantamento de todas as formas farma-
custo de setup é elevado os lotes de fabricação tendem a ser
cêuticas fabricadas pela indústria em suas distintas apresenta-
grandes, maximizando o investimento em estoques; as técnicas
ções. Após a coleta destes dados foram avaliadas quais as mais
mais rápidas e simples de trocas de ferramentas diminuem as
comercializadas, que foram alvo deste trabalho.
possibilidades de erros nas regulagens dos equipamentos; e a
Com a distinção das apresentações com maior volume de
redução do tempo de setup resultará em aumento do tempo de
produção, nas quais também são necessárias várias cartelas para
operação do equipamento. Assim, é relevante a racionalização
completar o cartucho, foram observadas as ferramentas utilizadas
de cada ação das operações de setup por meio de eliminação
para o processo de blistagem. Através da avaliação das condições
de ajustes e operações, eliminando o processo de tentativa e
de todo o ferramental utilizado no processo (ferramental de forma-
erro, e utilizando regulagens, revisões periódicas, calibragem
ção de bolha superior e inferior, ferramental de selagem superior e
dos dispositivos de controle, manutenção preventiva do equi-
inferior, e ferramental de corte), foram excluídas as apresentações
pamento; além de treinamento e qualificação dos operadores
nas quais o ferramental estava completo e em condições excelen-
(FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003).
tes de uso, já que o ferramental possui um custo elevado, não jus-
A disposição de recursos da produção em uma instalação
tificando sua substituição no presente momento.
(layout) também afeta diretamente os custos de produção e a produtividade. A disposição considera as dimensões dos recur-
4.2 UNIFORMIZAÇÃO DAS APRESENTAÇÕES E FERRAMENTAS
sos e as dimensões necessárias para operação, manutenção,
Com o ferramental das apresentações de estudo em mãos
abastecimento de produtos a processar e escoamento de pro-
foram elaboradas novas possibilidades de layout para o blíster
duros processados. Deve-se observar o fluxo de produção de
com maior número de comprimidos ou cápsulas por cartela. Du-
modo a evitar a formação de gargalos devido a arranjos que
rante o desenvolvimento dos novos layouts buscou-se a padro-
bloqueiem ou dificultem o fluxo dos produtos. Por meio da otimi-
nização do dimensional do blíster, com a finalidade de uniformi-
zação do layout de uma instalação é possível minimizar o tempo
zar o ferramental de corte utilizado no processo.
total de produção, melhorar o aproveitamento do espaço físico, reduzir o custo de materiais de limpeza, melhorar a segurança e o conforto dos colaboradores, e otimizar o processo de manufatura (TOMELIN; COLMENERO, 2010).
4.3 CONSTRUAÇÃO DAS FERRAMENTAS NO AUTO CAD® Com o auxílio dos colaboradores do setor de manutenção foram avaliados os novos layouts sugeridos e, em seguida,
A importância deste trabalho se justifica pelo fato de que a
pelo método de tentativa e erro, foram construídas as apresen-
padronização dos desenhos utilizados nos processos de blista-
tações mais adequadas na ferramenta Auto Cad®, respeitando
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os padrões necessários para construção de um blíster possível
com o ferramental incompleto ou em condições de uso que
de ser selado perfeitamente.
comprometam a qualidade do processo.
4.4 IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS PADRONIZADAS
mãos, e disposição das bolhas nas cartelas atualmente utili-
Com o ferramental das apresentações de estudo em Para a implantação das ferramentas padronizadas foi ava-
zadas, foram elaboradas novas possibilidades de layout para
liado o retalho do blíster no layout proposto com a finalidade de
os blísteres com maior número de comprimidos ou cápsulas
contabilizar o material descartado e, posteriormente, seu custo
por cartela. Para o desenvolvimento deste novo layout ansiou-
final. Para contabilizar os materiais descartados foi calculada a
se por uma cartela com disposição regular das bolhas e parâ-
área do retalho e, em seguida, realizou-se uma comparação da
metros dimensionais exigidos, pelos fabricantes dos equipa-
área em questão com a área de retalho descartada pelo ferra-
mentos, que possibilitem uma perfeita selagem. Além disso,
mental, e a apresentação, utilizados até o momento.
foi relevante a padronização do dimensional do blíster a fim de
RESULTADOS E DISCUSSÃO APRESENTAÇÕES E FERRAMENTAS UNIFORMIZADAS Dentre as apresentações produzidas pela indústria foram selecionadas aquelas com maior demanda de produção, com cartuchos contendo mais de um blíster; e também aquelas
uniformizar o ferramental de corte utilizado no processo, reduzindo setups internos, perdas de material, tempo de máquina e tempo de operadores. As FIG 3 a 9 ilustram os desenhos das apresentações em estudo utilizadas no processo de blistagem.
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Como pode ser observado nas FIG 3 a 9, para produção de
ram elaboradas novas possibilidades de layout para o blíster
um cartucho completo são necessários a inclusão de mais de
com maior número de comprimidos ou cápsulas por cartela.
uma cartela do blíster para as apresentações em questão.
Para o desenvolvimento deste novo layout ansiou-se por uma
Portanto, a partir do proposto sugeriu-se reduzir o número
cartela com disposição regular das bolhas e parâmetros dimen-
de blíster por caixa de medicamento para otimizar o processo
sionais necessários. Além disso, foi relevante a padronização
de embalagem nas encartuxadeiras, uma vez que ao invés de
no dimensional do blíster, a fim de uniformizar o ferramental de
colocar duas cartelas ou mais no cartucho, o operador ou equi-
corte utilizado no processo, reduzindo setups internos, perdas
pamento colocaria apenas uma. E, concomitantemente, através
de material, tempo de máquina e tempo de operadores, e con-
da uniformidade das apresentações, ocorrerá redução no tempo
sequentemente otimizando o processo final.
necessário para substituição de ferramental e para regulagem do equipamento durante a troca na produção dos lotes.
As FIG. 10 a 16 ilustram os novos layouts propostos para as apresentações em estudo. Nelas pode-se observar que as cartelas apresentam maior número de bolhas e possuem dimensões pa-
5.2 FERRAMANTAS ELABORADAS NO AUTO CAD
®
dronizadas (115 x 70). Desta forma, é possível reduzir o número de
Com o auxílio de um colaborador da manutenção o melhor
cartelas por cartuchos, otimizando o processo de encartuchamento
desing para as cartelas foi elaborado no programa para dese-
na indústria. Adicionalmente, através da padronização do dimen-
nhos Auto Cad® através do método de tentativa e erro, uma vez
sional do blíster, houve uniformidade do ferramental de corte que
que alguns layouts sugeridos não estavam compatíveis com as
será utilizado durante o processo de blistagem, desta forma setups
distâncias que devem ser preservadas para se obter uma perfei-
internos serão facilitados e reduzidos durante a troca de produção
ta selagem no processo de blistagem.
de lotes, gerando ganho de tempo de operação da máquina. A
Com o ferramental das apresentações de estudo em mãos,
substituição dos demais ferramentais utilizados anteriormente para
e disposição das bolhas nas cartelas atualmente utilizadas, fo-
blistagem das apresentações em estudo não será um obstáculo
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para implantação dos novos layouts, uma vez que estes estavam
a substituição por ferramentais novos é uma necessidade, não ge-
desgastadas, decorrente de uso por tempo prolongado. Portanto,
rando gastos adicionais.
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IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS PADRONIZADAS
por uma faca de 2 cortes, a sobra de material de embalagem
Após padronização das apresentações é relevante
será maior. Portanto, foi proposto avaliar a sobra de material
avaliar o custo do corte proposto para implantar as ferramentas
através do cálculo matemático de área., conforme ilustrado nas
padronizadas, uma vez que, ao substituir uma faca de 3 cortes
FIG 17 a 19.
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Por meio dos cálculos apresentados acima, pode-se
concluir que o gasto de retalho com o novo ferrametal de corte será de 519,6 mm2 superior ao corte do ferramental utilizado.
Porém, uma vez que nos setups de equipamentos os
gastos com material devido ao ajuste de máquina é relativamente alto, e a área de retalho (519,8 mm2) é muito pequena quando comparado à área total de uma bobina (4,1x 107 mm2), os gastos extras são insignificantes. Portanto, o desperdício do retalho do corte do ferramental proposto não é um obstáculo para a implantação dos novos desenhos padronizados.
ANDERSEN, B. Business process improvement. Milwaukee – EUA: Editora Quality Press,1999. AULTON, M. E. Delineamento de formas farmacêuticas - 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008. BARROS, E. M. Influência das Boas Práticas de Fabricação na Efetividade da Manufatura Farmacêutica. 2005. 146f. Tese (Pós-graduação em Engenharia Mecânica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. BERASAY, S. Blísters para fármacos: Segurança e proteção. Revista Pharmceutical Technology Edição Brasileira, v.4, n.4, p. 58 – 59, 2005.
6. CONCLUSÃO Ao acompanhar o fluxo de materiais e matérias-primas no setor de embalagem pôde-se observa que a troca rápida de ferramentas pode ser uma alternativa para redução do tempo de preparação dos equipamentos. Assim, por meio de redução do tempo gasto em setup é possível diminuir o custo unitário de um produto, uma vez que ao minimizar períodos não produtivos do
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC Nº 17, 16 de abr. 2010. Diário Oficial da União, Brasília, 16 abr. 2010. CAVALCANTE, C. A. V.; ALMEIDA, A. T. Modelo multifuncional de apoio e decisão para o planejamento de manutenção preventiva utilizando Promethee II em situações de incerteza. Pesquisa operacional, v.25, n.2, p. 279-296, 2009.
chão de fábrica obtém-se a otimização de um processo. Portanto, diante dos resultados apresentados pode-se concluir que a proposta da padronização dos desenhos utilizados no processo de blistagem é viável, promovendo uma otimização do processo através da utilização de um novo layout compatível com as exigências do processo, o qual não irá gerar gastos adicionais, e as perdas adicionais de material de embalagem são insignificantes frente ao ganho final. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guias Relacionados à Garantia de Qualidade. Gerência Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e Produtos – GGIMP. Brasília, 2006.
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PESQUISA DE CONTAMINANTES NOS EFLUENTES DA LAGOA DA PAMPULHA:
análise comparativa entre os anos de 2007 e 2011 Amanda Ferreira da Silva1 Daniela Gonçalves Araújo1 Izabella Branco Santos de Morais1 Izabella Cristina da Silva1 Márcia Santos Hoffman1 Marcus Vinicius Vitoriano e Silva1 Adriana Nascimento de Sousa2
RESUMO: Belo Horizonte (BH) tem como uma de suas principais atrações turísticas, a Lagoa da Pampulha. Apesar de ser um patrimônio importante para a cidade, a lagoa vem sofrendo degradações ambientais devido ao aporte de esgotos domésticos e industriais que ali deságuam. A Prefeitura de BH realizou intervenções, com o propósito de recuperação e melhoria ambiental nesta região. Para constatar se estas ações foram eficazes, usou-se o índice de qualidade da água - IQA, para avaliar a qualidade da água nos períodos de 2007 e 2011. Os testes realizados foram: fosfato total, oxigênio dissolvido, pH, sólidos totais dissolvidos, turbidez e nitrogênio. Os resultados obtidos mostram que as ações da Prefeitura ainda não são totalmente eficazes, visto que parâmetros como fosfato total e oxigênio dissolvido estão piores que os do ano 2007. PALAVRAS-CHAVE: Contaminação da Lagoa da Pampulha, Qualidade da água, IQA.
INTRODUÇÃO
do em 1943. A orla da Lagoa da Pampulha concentra várias op-
A lagoa artificial da Pampulha foi construída no inicio de
ções de lazer, como o ginásio do Mineirinho, o Jardim Botânico, o
1938, quando o prefeito era Juscelino Kubitscheck (JK). A bacia
Jardim Zoológico, o Centro de Preparação Eqüestre da Lagoa e
da Pampulha compõe a Bacia do Rio das Velhas, que por sua
pistas para ciclismo e caminhada. É onde está também o Estádio
vez integra a Bacia do Rio São Francisco. A área da lagoa é
Governador Magalhães Pinto, o Mineirão (RUBENS, 2009).
de 97,91 km², dividida entre os municípios de Belo Horizonte e
Esse valioso patrimônio, no entanto, há décadas necessita de
Contagem. Ha 40 córregos que deságuam na lagoa dos quais
ações preservativas, devido à degradação ambiental sofrida pela
19 estão em Belo Horizonte e 21 em Contagem. O volume atual
lagoa. O mau cheiro e a sujeira, percebidos pelos visitantes, são
de água no lago é 10 milhões de m³ (RUBENS, 2009).
resultados de muitos anos de aporte de esgotos domésticos e in-
A Bacia da Pampulha é composta de 8 afluentes: os córregos Mergulhão, Tijuco, Ressaca, Sarandi, Água Funda, Braúna,
dustriais, resíduos sólidos e sedimentos carreados pelos córregos que compõem a rede fluviográfica da bacia (COUTINHO, 2004).
Olhos D’água e AABB. Os córregos Sarandi, Ressaca e Água
O esgoto doméstico contém substâncias que alimentam
Funda são os de maior importância, pois são responsáveis pelo
as algas e as bactérias presentes na água, principais responsá-
aporte de 75% do abastecimento da Lagoa (PREFEITURA DE
veis pelo processo de eutrofização (aumento excessivo de mi-
BELO HORIZONTE).
croorganismos que causam a diminuição do oxigênio da água).
Na época de sua construção, para compor o entorno, o
Os dejetos industriais contêm metais pesados, como zinco,
arquiteto Oscar Niemeyer projetou, a pedido de JK, um con-
cádmio e chumbo, nocivos à saúde humana (RUBENS, 2009).
junto arquitetônico que se tornou referência para a arquitetura
Dada a complexidade da atual situação ambiental da Bacia
moderna brasileira. Fazem parte do conjunto arquitetônico da
da Pampulha, a Prefeitura de Belo Horizonte tem realizado diver-
Pampulha a Igreja São Francisco de Assis, o Museu de Arte, a
sas ações para abrandar essa situação: dragagem parcial, retirada
Casa do Baile e o Iate Tênis Clube. Os jardins de Burle Marx e
de aguapés, educação ambiental, controle de vetores, monitora-
a pintura de Candido Portinari na Igreja de São Francisco com-
mento da qualidade das águas, pavimentação da ciclovia, cria-
pletam o projeto concebido para a lagoa (RUBENS, 2009).
ção de 11 rotatórias para melhorar o trânsito local, dentre outras.
O conjunto arquitetônico e urbanístico original foi inaugura-
Programas e ações como o Programa de Saneamento Ambiental
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(PROSAM), já concluído, e o Programa Pampulha (PROPAM),
e comparamos as mudanças ocorridas no período de 2007 e 2011.
em implantação com o apoio do Consórcio de Recuperação
Para isto, utilizamos o Índice de Qualidade da Água (IQA), sendo
da Bacia da Pampulha, evidenciam que o poder público, seja
analisados os seguintes parâmetros: fosfato total, oxigênio dissol-
na esfera estadual ou municipal, tem enviado esforços para
vido, pH, sólidos totais dissolvidos, turbidez e nitrogênio (amônia).
minimizar os problemas da Bacia. Esses programas propõem ações como despoluição, tratamento de fundos de vales de
OBJETIVOS
córregos afluentes, instalação de interceptores e de estação de
Realizar os testes requeridos para avaliar o Índice de Qua-
tratamento de esgotos. (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE).
lidade da Água, da Lagoa da Pampulha, utilizando como parâ-
Em 1998 foram realizadas cinco operações de limpeza na
metros analíticos os testes de: fosfato total, oxigênio dissolvido,
Lagoa da Pampulha, aproveitando o rebaixamento do nível das
pH, sólidos totais dissolvidos, turbidez e nitrogênio (amônia).
águas para obras de recuperação no sistema de vazão e no
Comparar os resultados obtidos, em 2011, com os dados
corpo da barragem. Entre as mais de 200 toneladas de lixo
obtidos no ano de 2007, os quais também foram obtidos por
retiradas do local, foram encontrados objetos como pneus ve-
alunos do 7º período do curso de Farmácia do Centro Univer-
lhos, garrafas, animais mortos (vacas, cavalos e cachorros),
sitário Newton Paiva.
sofás, colchões e armários, carcaça de veículos e ainda dois revólveres. Atualmente, o processo de limpeza continua sendo realizado pela Gutierrez, em parceria com a Regional Pampulha (BELO HORIZONTE, PREFEITURA).
DESENVOLVIMENTO Procurou-se manter as mesmas condições do estudo realizado pelos alunos do 7º período do curso de Farmácia, do Centro
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente,
Universitário Newton Paiva, no ano de 2007, para que a compa-
o problema do esgoto industrial já está sendo resolvido, uma
ração desejada neste trabalho pudesse ser realizada. Os méto-
vez que todo o esgoto que sai das empresas de Contagem já
dos utilizados para as análises foram os parâmetros do IQA, que
cai na rede da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas
avaliam a qualidade da água por meio de testes físico-químicos e
Gerais) ou é tratado antes de atingir os córregos enquanto o
microbiológicos. Os parâmetros do IQA foram analisados segundo
esgoto doméstico que vem das casas de Contagem. Até 2014, a
metodologia analítica descrita por Macedo (2005).
expectativa é de que 90% deste esgoto não caia mais na lagoa. Dessa forma, será possível iniciar o tratamento da água que está
Área de estudo
lá, como o combate às algas, que deixam o espelho d’água ver-
Para identificação de contaminantes na água da Lagoa
de, porém são estimados cinco anos para que a Lagoa da Pam-
da Pampulha foram coletadas amostras da água em oito
pulha consiga atingir um nível de contato direto, possibilitando
pontos, sendo eles: Córrego Água Funda, Córrego Braúnas,
inclusive a prática de natação (apud RUBENS, 2009).
Córrego AABB, Córrego Olhos D’Água, Córrego Sarandi, Cór-
Neste artigo apresentamos os resultados de testes analíticos utilizados para verificar a qualidade da água da Lagoa da Pampulha
rego Tijuca, Córrego Mergulhão e Vertedouro da Pampulha (FIGURA 1).
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As amostras coletas nos oito pontos citados anteriormente foram numeradas de 1 a 8 e o aspecto de cada uma pode ser observado na Figura 2. As amostras foram coletadas em frascos plásticos esterilizados e acondicionados sob refrigeração até o momento da análise.
Segundo, Ayer (2011), Brant (2011) e Zuba (2011) a repre-
Para a realização deste estudo foram analisados seis desses
sa da Pampulha e tributários, das nascentes dos cursos d’água
parâmetros, sendo eles: oxigênio dissolvido, pH, turbidez, sólidos
contribuintes para a represa até o seu barramento pertence, atu-
totais, fosfato total e nitrogênio amoniacal total. Os valores de refe-
almente, à Classe 3. Portanto, conforme o Conselho Nacional do
rência são descritos na resolução nº 357/2005 do CONAMA, para
Meio Ambiente (CONAMA), em sua resolução nº 357 de 17 de
água da classe 3, da qual a Lagoa da Pampulha, atualmente é
março de 2005, a Lagoa da Pampulha pode ser destinada:
pertencente.
a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forra-
RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos foram representados em gráficos para
geiras;
facilitar o entendimento dos mesmos. Os gráficos com os resulta-
c) à pesca amadora;
dos obtidos para fosfato total, amônia, pH, turbidez, sólidos totais
d) à recreação de contato secundário; e
e oxigênio dissolvido no ano de 2011 foram comparados com os
e) à dessedentação de animais.
obtidos em 2007 e são mostrados a seguir. Nos gráficos observase o valor obtido em 2007, o valor obtido em 2011 e os valores de
Parâmetros analisados
referência para cada parâmetro, apresentados na tabela 1.
Os parâmetros que representam as características físico-
No trabalho realizado em 2007 pelos alunos do curso de Far-
químicas e biológicas da água foram estabelecidos pela Natio-
mácia do Centro Universitário Newton Paiva (SOUSA, GOMES,
nal Sanitation Foudantion (NSF) nos Estados Unidos, para o de-
2011), a Lagoa da Pampulha foi classificada como de classe 2.
senvolvimento de um índice que indicasse a qualidade da água
Atualmente, sabe-se que as águas da Pampulha não são de clas-
- Índice de Qualidade da Água (IQA). Com isso oito parâmetros
se 2, e sim de classe 3 (AYER, BRANT, ZUBA, 2011).
foram considerados mais representativos, sendo os testes físico-
Na Tabela 1 pode-se verificar a diferença entre os limites acei-
químicos e microbiológicos de: oxigênio dissolvido, coliformes
táveis para os testes utilizados neste estudo referentes à classe 2
fecais, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total,
e classe 3.
temperatura da água, turbidez e sólidos totais (ALMEIDA; FERREIRA, 2005).
TABELA 1- Padrões de qualidade da água para as classes 2 e 3.
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O gráfico que representa os resultados de Fosfato Total (Gráfico 1) permite constatar que apenas os pontos 2 (Córrego Braúnas) e 4 (Córrego AABB) amostrados em 2007, estão de acordo com o limite de aceitação máximo permitido (0,050mg/L P). Percebe-se que em 2011, houve um aumento significativo dos níveis de fosfato, acima do limite máximo de 0,075mg/L P permitido para classe 3, demonstrando redução da qualidade da água de 2007 para 2011.
A análise do Gráfico 2, que avalia o parâmetro Amônia, permite constatar que apenas a água coletada no Córrego Água Funda está limítrofe com o máximo de aceitação, de 2,0 mg/L, enquanto os demais pontos então dentro dos limites. Em 2011, todos os pontos coletados estão de acordo com o limite de aceitação de 5,6 mg/L, além disso, percebe-se uma redução dos níveis de amônia quando comparado com os resultados do ano de 2007.
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Os resultados do parâmetro de Oxigênio Dissolvido apresentados no Gráfico 3, revelam que houve uma diminuição significativa da concentração do oxigênio na água da Lagoa da Pampulha, quando comparamos os valores obtidos em 2011 com os de 2007. Em 2011 todos os pontos estão em desacordo com o limite estabelecido (mínimo 4mg/L O2). Enquanto que em 2007, todos os locais de coleta apresentaram concentrações superiores ao valor mínimo preconizado para classe 2, de 5mg/L O2. Estes resultados revelam uma piora significante na qualidade da água em 2011.
Para o parâmetro pH, as amostras apresentaram-se adequadas tanto no ano de 2007 quanto em 2011 (Gráfico 4), mantendo os valores entre 6,0 e 9,0. No Córrego AABB houve redução do pH, enquanto que no Córrego Mergulhão houve um aumento deste parâmetro, porém mantiveram-se dentro dos valores aceitáveis, quando comparados os anos de 2007 e 2011.
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O Gráfico 5 mostra que todas as amostras coletadas em 2007 e 2011, se encontraram dentro do limite de aceitação para o teste de Turbidez (máximo 100 UNT). Em 2007 os maiores valores ocorreram nos Córregos Olhos D’água e Tijuca. No entanto, os mesmos apresentaram diminuição no valor de turbidez em 2011, enquanto que nos Córregos Água Funda, Braúnas, e Mergulhão houve aumento da turbidez.
Os resultados apresentados no Gráfico 6 mostram que todos os pontos apresentam valores adequados, ou seja, inferior a 500 mg/L, para o parâmetro de sólidos totais dissolvidos tanto no ano 2007 quanto no ano de 2011. No entanto, os resultados atuais (2011) indicam aumento da concentração de sólidos dissolvidos, em relação a 2007, em quatro pontos de coleta (córregos Água Funda, Braúnas, Olhos D’Água e Mergulhão), e redução nos outros quatro pontos, sendo córregos AABB, Sarandi, Tijuca e Vertedouro.
CONCLUSÃO
comparar a qualidade da água com o ano de 2011 e verificar se
No ano de 2007 foram realizados testes físico-químicos para
as intervenções, propostas pela Prefeitura, realmente provocaram
avaliar a qualidade da água da Lagoa da Pampulha, utilizando-se
mudanças significativas.
amostras dos oito afluentes que deságuam na mesma. Deste pe-
De acordo com os Gráficos apresentados, pode-se concluir
ríodo até 2011 a Prefeitura de Belo Horizonte propôs intervenções
que as ações propostas pela Prefeitura ainda não estão sendo to-
para despoluição, como retirada de aguapés, tratamento de fundos
talmente eficazes, visto que parâmetros como o de fosfato total e
de vales de córregos afluentes, instalação de interceptores e de es-
oxigênio dissolvido se mostraram piores que os do ano 2007. En-
tação de tratamento de esgotos e educação ambiental, para recu-
tretanto, sabe-se que esse é o caminho para tentar a recuperação e
peração e melhoria ambiental deste patrimônio turístico da cidade.
preservação da fauna e flora da bacia da Pampulha, já que muitos
Neste artigo repetiram-se os mesmos testes realizados na
testes apresentaram melhoras significativas em determinados pon-
água da Lagoa da Pampulha no ano de 2007, com o objetivo de
tos de coleta, como o de pH no córrego AABB, turbidez nos cór-
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regos AABB, Olhos D’água, Sarandi e Vertedouro e sólidos totais dissolvidos nos córregos AABB, Sarandi, Tijuca e Vertedouro. Em relação aos níveis de amônia percebe-se uma melhora significativa na maioria dos pontos de coleta (Água Funda, Braúnas, Sarandi, Tijuca, Mergulhão e Vertedouro) quando comparados ao ano de 2007.
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Dessa forma, é perceptível que as ações desempenhadas pela Prefeitura têm demonstrado resultados positivos para alguns parâmetros. Porém estas ações devem ser intensificadas para que seja atingida a qualidade adequada da água, principalmente referente ao lançamento de esgotos domésticos e industriais, já que são as principais fontes responsáveis pela presença dos contaminantes ainda presentes na água da Lagoa da Pampulha. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M.C; FERREIRA, E.C.F. Sistema de Cálculo da Qualidade da Água (SCQA). Estabelecimento das Equações do índice de Qualidade das Águas (IQA). 2005. Disponível em: http://aguas.igam.mg.gov.br/ aguas/downloads/SCQA_final.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. AMBIENTE BRASIL. Avaliação da Qualidade da Água. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_doce/avaliacao_da_qualidade_da_agua.html>. Acesso em: 26 abr. 2011. AYER, F. Mais de R$ 200 milhões são enterrados na revitalização da Pampulha. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, março de 2011. Disponível em: <http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/03/22/ interna_gerais,216743/mais-de-r-200-milhoes-sao-enterrados-na-revitalizacao-da-pampulha.shtml>. Acesso em: 26 out. 2011. BRASIL, Decreto Federal n.º 24.643, de 10 de julho de 1934. Disponível em: <http://www.uniagua.org.br/public_html/website/default. asp?tp=3&pag=legislacao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011. BRANT, A.C. Audiência pública discute despoluição da Lagoa da Pampulha. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, maio de 2011. Disponível em: < http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/05/11/interna_gerais,226720/audiencia-publica-discute-despoluicao-da-lagoa-da-pampulha.shtml>. Acesso em: 26 out. 2011. COUTINHO, R. Lagoa da Pampulha: Pesquisa avalia contaminação por metais pesados. 2004. Disponível em:< http://revista.fapemig.br/materia. php?id=195>. Acesso em: 15 abr. 2011. COUTO, J.L.V. Limnologia. 2004. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/limno.htm>. Acesso em: 27 abr. 2011.
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1 Discentes do Curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva.
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PROGRAMA DE CONTROLE DA ESQUISTOSSOME NO DISTRITO DE ANTUNES/MG: análise de dados registrados e avaliação das medidas adotadas. Marilda Honória Duarte Costa1, Roberta Dias Rodrigues Rocha2
RESUMO: No distrito de Antunes/MG, através as medidas de controle preconizadas pelo Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), que consistem no diagnóstico laboratorial e tratamento, foi constatado casos de esquistossomose na região. O objetivo do presente estudo foi avaliar a importância dessas medidas através da análise dos dados registrados no Diário de Coproscopia e Tratamento do PCE, entre 2007-2009. Após a realização dos exames coproscópicos todos pacientes com resultados positivos foram submetidos ao tratamento anti-parasitário. Observou- se nesse período, entre 2007-2009, que a prevalência da esquistossomose de 3,4% (62/1.821) reduziu para 2,2% (35/1.605) e de outras parasitoses de 10,7% (194/1821) reduziram para menos de 1% (14/1605). Diante desses resultados, foi possível constatar que o PCE produziu, no período avaliado, um resultado positivo. Contudo, é de fundamental importância a manutenção da vigilância epidemiológica, para que, se necessário, novas ações sejam promovidas. PALAVRAS-CHAVE: Programa de Controle de Esquistossomose; Antunes/MG; Exames croposcópicos; Parasitoses.
1. INTRODUÇÃO
Tal fato se deve a pedogênese, isto é, a produção de numerosos
O Schistosoma mansoni é um parasito trematódeo que
novos indivíduos por estágios larvais, fenômeno que ocorre no
infecta o homem e desencadeia a esquistossomose, doença
hospedeiro intermediário, o molusco (URQUHART et al., 1990).
que causa um importante índice de morbidade e mortalidade
O fator predisponente para contrair a infecção é o contato
no Brasil e no mundo. Como parasitose que afeta o homem,
com águas contaminadas por cercárias, forma evolutiva infec-
ocupa o segundo lugar em importância e repercussão sócio-
tante do parasito. Ambientes de água doce de pouca corrente-
econômica (WHO, 2011). É uma das doenças de maior pre-
za ou parada, utilizada para banhos, pescas, lavagem de roupa
valência entre aquelas veiculadas pela água. Nos países em
e louça, com presença de espécies suscetíveis de caramujos
desenvolvimento representa um dos principais riscos à saúde
pertencentes ao gênero Biomphalaria infectados pelo Schisto-
das populações rurais e das periferias das cidades.
soma mansoni constituem os locais adequados para se adqui-
Estima-se que cerca de duzentos milhões de pessoas
rir a esquistossomose (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
residentes em áreas com risco de transmissão da esquistos-
Os sintomas da esquistossomose são inespecíficos, po-
somose estejam infectadas por Schistosoma mansoni, que é
dendo ser observados em outras doenças infecto-parasitárias,
encontrado em 54 países da África, Ásia e América do Sul. Nas
e incluem: diarréia, letargia e cansaço, dor ou desconforto ab-
Américas, registra-se, áreas endêmicas na Venezuela, nas ilhas
dominal e sangue nas fezes (WHO, 2011). A mortalidade por
do Caribe e no Brasil (WHO, 2011).
esquistossomose ocorre principalmente em sua forma hepato-
No Brasil, estima-se que aproximadamente 25 milhões de
esplênica, na fase crônica da doença. As manifestações clí-
pessoas que vivem nas zonas rurais e agricultáveis ou nas áreas
nicas nesse caso são decorrentes da hipertensão portal e as
periféricas de algumas cidades brasileiras, estejam expostas ao
principais complicações são a ascite e a formação de varizes
risco de contrair a doença, e que 2,5 a 6 milhões se encontram
gastroesofágicas, que ao se romperem resultam em hemorra-
infectadas. As áreas endêmicas e focais abrangem 19 Unida-
gias graves e, às vezes, fatais (PRATA, 1997). A hemorragia
des Federadas. No Estado de Minas Gerais ocorre de forma
digestiva é a maior ameaça à sobrevivência dos pacientes com
endêmica, predominantemente no Norte e Nordeste do Estado.
hipertensão portal por esquistossomose (WIDMAN et al., 2001).
Em relação ao parasito, o ponto crucial é que, enquanto um
Em 1975, a Superintendência de Campanhas de Saúde
ovo de nematódeo pode se desenvolver em apenas um adulto,
Pública (SUCAM) iniciou no Brasil, o Programa de Controle da
um ovo de trematódeo se desenvolve em centenas de adultos.
Esquistossomose (PCE), que direcionava suas atividades para
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 319
o tratamento em massa dos infectados pelo S. mansoni (FAVRE
2.2 ÁREA DE ESTUDO
et al., 2001). A partir de 1980, instituiu-se como programa de
Antunes é um distrito do município de Igaratinga situado a
rotina no país e posteriormente, com a criação do Sistema Único
90km de Belo Horizonte, região Centro-Oeste de Minas Gerais.
de Saúde (SUS), as ações de controle da esquistossomose fo-
População de 3.577 habitantes, clima temperado, relevo monta-
ram descentralizadas para estados e municípios (PORTARIA Nº
nhoso, vegetação de cerrado. A principal atividade econômica é a
1.399, 1999). Desde então, a esquistossomose vem sendo alvo
produção de tijolos, altamente rentável para o distrito. A poluição
de programas de controle de ampla abrangência, que visam
da região é decorrente das cerâmicas, que emitem gás carbônico
principalmente reduzir sua prevalência (BRASIL, 1998). Para o
originado da queima de madeira utilizada na fabricação de tijolos.
controle da endemia, o Ministério da Saúde pactuou atividades
A região é banhada pelo Córrego das Areias, que é utilizado
mínimas, como a realização de inquéritos coproscópicos cen-
para pesca e lazer. A fonte de águas naturais é a nascente do
sitários com tratamento dos doentes e alimentação anual do
Ribeirão das Areias, origem da água consumida pela popula-
Sistema de Informação sobre o PCE (SISPCE), que devem ser
ção. O Ribeirão das Areias é poluído, em grande parte de sua
incorporadas na rotina de trabalho dos municípios (PORTARIA
extensão, pelo esgoto das casas da região, e ainda por lixo e
Nº 1.172, 2004).
animais mortos. Existem também na região algumas lagoas que
O PCE através da realização de suas atividades em Igara-
são utilizadas para fins recreativos.
tinga, distrito de Antunes/MG, constatou nessa região indivíduos
O distrito de Antunes fica às margens da BR 262. Não há
acometidos por esquistossomose e outras parasitoses. Como
áreas de assentamento e as pessoas que prestam serviço na pro-
parte do programa, após a identificação dos casos positivos,
dução de tijolos residem com suas famílias nos arredores e em
através do exame coproparasitológico, todos os pacientes com
condições precárias. Vivem em casebres, uma parcela sem rede
resultados positivos foram tratados. Considerando que até
de água e esgoto, sendo a água de consumo obtida de cisternas.
aquele momento nenhum trabalho havia sido realizado para se avaliar a importância do programa naquela região, concluiu-se ser pertinente realizar esse estudo.
2.2 COPROSCOPIA E TRATAMENTO Amostras de fezes da população do distrito, no ano de 2007
Ademais, o alto investimento necessário para o PCE impõe a
e posteriormente em 2009, foram coletadas para a realização do
realização de avaliação da efetividade, na perspectiva do custo,
exame coproparasitológico. Foram realizados 1.821 exames no
para demarcar as decisões futuras. Considerando este contexto,
ano de 2007 e 1.605 no ano de 2009.
o objetivo do presente trabalho foi avaliar dados epidemiológicos
Foi examinada uma lâmina de uma única amostra de fezes,
sobre população atendida: perfil da região, população atendida
pelo método de Kato-Katz (KATZ et al., 1972). Foi considerado
pelo exame de fezes e pelo tratamento, resultados obtidos pelo
positivo o indivíduo que apresentou ao menos um ovo de Schis-
programa no distrito de Antunes/MG, no período de 2007 – 2009.
tosoma mansoni. Os resultados dos exames foram entregues ao agente de
2. METODOLOGIA 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
saúde responsável, que se encarregou de levá-los pessoalmente aos residentes e agendar a consulta médica para tratamento
Esse estudo foi realizado através da análise dos dados re-
dos infectados. Foi disponibilizado, pela Secretaria Municipal de
gistrados no diário do Programa de Controle da Esquistossomo-
Saúde, o Praziquantel, medicamento recomendado pelo Minis-
se obtido na Secretaria Municipal de Saúde de Igaratinga/MG,
tério da Saúde para o tratamento da esquistossomose mansoni.
referentes às atividades desenvolvidas pelo programa na região no período de 2007-2009. As informações colhidas referem-se às variáveis: total de imóveis visitados; população atendida; ca-
3. RESULTADOS 3.1CARACTERÍSTICAS DOS DOMICÍLIOS
racterísticas dos domicílios; exames realizados; exames positi-
A coleta de dados sobre as características dos domicílios, no
vos para esquistossomose; exames positivos para outras para-
período 2007-2009, mostrou que a proporção de domicílios com
sitoses e número de pacientes tratados.
abastecimento de água por rede pública foi 76,77%, por poço
A Secretaria de Saúde do Município de Igaratinga/MG Os
23,14% e outros 0,1%. O tratamento de água por filtração foi de
dados coletados no Sistema de Informação de Igaratinga/MG
47,43%, por cloração 47,53%, fervura 0,19% e sem tratamento
obtiveram a licença por parte, respeitando os aspectos éticos a
4,84%. Em relação ao destino das fezes e da urina a presença de
serem considerados na pesquisa.
sistema de esgoto correspondeu a 80,83%, fossa 18,88% e céu aberto 0,29%. No que diz respeito ao destino do lixo, 85,87% era
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coletado, 14,04% queimado 0,1% acumulado a céu aberto. Já a
foi 80,3% (1.605/1.998), sendo que a meta era recolher 80% dos
energia elétrica foi observada em 99,81% dos domicílios atendidos.
coletores.
A pesquisa também revelou que os domicílios com ausência de abastecimento de água por rede pública, sem tratamento de água,
O envio de dados para a Gerência Regional de Saúde foi trimestral, para uma proposta de se enviar dados anuais.
rede de esgoto, energia elétrica e coleta seletiva de lixo estão localizados na comunidade rural da área de abrangência.
A proporção de indivíduos com resultados positivos para esquistossomose e que foram tratados foi de 100%, sendo que a meta era tratar 80% ou mais dos casos positivos.
3.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS X META DO PCE Em relação às atividades executadas pelo programa observouse que foi realizado um inquérito coproscópico em 2007 e outro em
3.3 POPULAÇÃO ATENDIDA E RESULTADOS DOS EXAMES COPROPARASITOLÓGICOS
2009. A porcentagem da população atendida em 2007 foi 62,5%
A Tabela apresenta dados referentes às atividades desenvolvi-
(2.237/3.577) e em 2009 foi 55,8% (1.998/3.577). Nesse contexto, a
das, ao que se refere a número de imóveis visitados e de pessoas
meta do PCE era que se realizasse um inquérito a cada dois anos e
atendidas e a seguir os resultados dos exames coproparasitológi-
de se atender 80% ou mais da população.
cos.
A proporção de coletores recolhidos com amostras clínicas em relação aos distribuídos em 2007 foi 81,4% (1.821/2.237) e em 2009
Tabela – Dados da pesquisa do Programa de Controle da Esquistossomose do distrito de Antunes/MG. Brasil, 2007-2009.
ram, a saber: Ascaris lumbricoides, Ancilostomídeos, Taenia A Figura 1 apresenta de forma comparativa a positividade dos exames de fezes para esquistossomose e para outras parasitoses, no ano de 2007 e no ano de 2009. As outras espécies parasitárias identificadas pelo exame de fezes fo-
sp, Tricuris trichiura, Enterobius vermicularis, Strongyloides stercoralis e Hymenolepis nana. Figura 1- Número de resultados parasitológicos positivos no distrito de Antunes/MG- 2007-2009.
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como pesca (LIMA E COSTA et al., 1991), portanto deve ser alvo 3. DISCUSSÃO
de abordagens adequadas nos programas de controle, embora
A análise dos dados referentes às características dos domi-
modificar o comportamento humano seja um desafio para a saú-
cílios mostrou, no período avaliado, que a maioria da população não tinha o hábito de utilizar água das coleções hídricas para as
de pública (SANTANA et al., 1997).
Sobre a abrangência do programa, os dados coleta-
tarefas domésticas, como lavar roupa e vasilhas, provavelmente
dos revelaram que dos 3.577 habitantes de Antunes/MG, 2.237
devido aos investimentos com o fornecimento de água tratada.
foram atendidos pelo programa e 1.821 foram submetidos ao
Tal informação justificaria prevalência não tão expressiva de es-
exame coproscópico em 2007. Já em 2009, o programa atendeu
quistossomose e de outras parasitoses na população avaliada.
1.998 pessoas e realizou 1.605 exames. A análise dos dados
Em estudo realizado em Taquaraçu de Minas, Estado de Mi-
mostrou um aumento de 7,5% no número de imóveis visitados
nas Gerais (COURA-FILHO, 1998), foi também observada uma
em 2009, quando comparado ao ano de 2007. Por outro lado,
menor prevalência da esquistossomose nas residências abas-
houve uma queda de 12% no número de exames realizados na
tecidas com água potável intradomiciliar. Entretanto, apesar do
população atendida.
bom índice de casas com água potável no distrito de Antunes,
A análise das atividades realizadas pelo programa aponta o
a infra-estrutura em alguns locais ainda é precária. Desta forma,
cumprimento das normas preconizadas pelo Ministério da Saú-
não se pode afirmar que as condições favoráveis à transmissão
de para o controle da doença (QUININO et al., 2009). A única
da esquistossomose na área de abrangência deste estudo, es-
meta não cumprida, abranger 80% ou mais da população, foi
tejam totalmente controladas, uma vez que 19,17% dos domicí-
devido à barreira geográfica, distância compreendida entre a
lios ainda estão sem rede de esgoto e sem coleta de lixo.
unidade básica de saúde e os povoados da zona rural. Exis-
Sem tratamento do esgoto, as fezes dos indivíduos infecta-
tem rios que transbordam na época das chuvas e ruas que nem
dos tendem a alcançar as coleções hídricas, e na presença de
sempre estão em boas condições de tráfego. Tal fato dificulta o
moluscos do gênero Biomphalaria, fecha-se o ciclo de transmis-
acesso do agente de saúde à totalidade da área de abrangência
são da doença. Desta forma, para que os níveis de prevalência
do distrito.
permaneçam baixos, é muito importante o contínuo investimento em saneamento, além do tratamento dos doentes.
Considerando a questão dos períodos de chuva, numa pesquisa sobre a importância das inundações na expansão da es-
Antunes apresentou uma resposta positiva após a implanta-
quistossomose, concluiu-se que as enchentes propiciam condi-
ção do PCE, mas é uma área de risco em potencial, pois apre-
ções para a instalação de novos focos, favorecendo a expansão
senta fatores ambientais favoráveis à manutenção da esquistos-
da doença (RAMOS et al., 1970). Desta forma, devido a ocorrên-
somose. Observa-se que a falta de opção de lazer predispõe os
cias de inundações nessa área estudada, faz-se necessário o
moradores a possibilidade de infecção, momento em que estes
desenvolvimento de ações contínuas e adequadas à realidade do
em suas atividades recreativas entram em contato com as cole-
distrito, que possam viabilizar o atendimento dessa população.
ções hídricas da região.
Os inquéritos coproscópicos foram realizados dentro de
Nesse contexto, foi observado que na região metropolitana
dois anos, portanto, o prazo estipulado foi alcançado. No entan-
de Belo Horizonte, houve uma mudança no que diz respeito a
to, vale ressaltar que o sucesso do controle da esquistossomose
fatores de risco, onde o não fornecimento de água potável intra-
depende da efetividade e da coerência entre as ações realiza-
domiciliar deixou de ser o maior fator de risco, ganhando desta-
das, de forma a prevenir o restabelecimento do ciclo da doença
que o risco de contaminação pelo hábito de nadar em coleções
e a re-infecção dos indivíduos (FARIAS et al., 2007).
de água propícias a infecção, mesmo para aqueles que tinham água encanada intradomiciliar (COURA-FILHO, 1997).
A proporção de coletores recolhidos com amostras clínicas em relação aos distribuídos demonstra que a comunidade ade-
Outro desafio em relação às possibilidades de transmissão
riu ao programa. Outro aspecto relevante detectado por esse
da esquistossomose é o fato de algumas pessoas pensarem
estudo foi a total cobertura de tratamento. Assim como no muni-
que o único modo de se infectar com Schistosoma mansoni é
cípio das Correntes/PE (NETO et al., 2010), houve somente um
a permanência por longo tempo dentro do córrego ou lagoa,
caso com contra-indicações por se tratar de gestante em fase
não sabendo que também há risco de infecção o hábito de atra-
de aleitamento. Mas mesmo assim após esse período ela foi
vessar córrego, simplesmente pelo fato de molhar os pés (VAS-
devidamente medicada.
CONCELOS et al., 2009). A água está envolvida no lazer e em atividade ocupacional,
Exatamente todos os casos positivos foram tratados, o que foi uma medida de grande importância, evidenciado pela re-
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dução para 2,2% (35/1.605) de casos de esquistossomose em 2009 sendo 3,4% (62/1.821) em 2007. Cabe aqui ressaltar que o programa propiciou ainda a identificação e o tratamento de outras parasitoses. Em relação às outras parasitoses ficou evidente a expressiva redução de casos positivos de 10,7% (194/1.821)
COURA-FILHO, P. Participação popular no controle da esquistossomose através do Sistema Único de Saúde (SUS), em Taquaraçu de Minas, (Minas Gerais, Brasil), entre 1985-1995: construção de um modelo alternativo. Cadernos de Saúde Pública, Rio de janeiro, v. 14 n. 2, p. 111-122, 1998
no ano de 2007 para menos de 1% (14/1.605) no ano de 2009. Entretanto, o que se observa é que as pessoas tratadas e curadas freqüentemente se re-infectam, sendo assim, como perspectiva de manutenção de baixos níveis de transmissão é fundamental que a população passe por um processo educativo para se previnir contra infecções e re-infecções. Desta forma, o distrito encontra-se na fase de vigilância do referido programa. A obtenção de uma vacina seria o ideal, uma vez que a doença apresenta grande morbidade relacionada às formas graves de esquistossomose. Neste sentido muitos estudos estão sendo realizados, entretanto, isto ainda não foi possível (KATZ, 1999). Para o futuro, as pesquisas em esquistossomose, na área
FARIAS L.M.M., RESENDES A.P.C., SABROZA P.C., SOUZA-SANTOS R. Análise preliminar do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose no período de 1999 a 2003. Cadernos de Saúde Pública, Rio de janeiro, v. 23, n. 1, p. 235-239, 2007. FAVRE T.C., PIERI OS, BARBOSA C.S., BECK L. Avaliação das ações de controle da esquistossomose implementadas entre 1977 e 1996 na área endêmica de Pernambuco, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, São Paulo, v. 34, n.6, p. 569-576, 2001. KATZ, N. Dificuldades no desenvolvimento de uma vacina para a esquistossomose mansoni. Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, São Paulo, v. 32, n.6, p. 705-711, 1999.
aplicada, procurarão responder sobre métodos combinados de controle da transmissão (ANDRADE, 2002). Esse é o ideal a ser alcançado, pois visa interromper o ciclo evolutivo do parasito. Enquanto isso, o diagnóstico e o tratamento, componentes operacionais principais do programa, mostram ser eficazes para o controle parcial da endemia e morbidade da doença. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo possibilitou divulgar as atividades de rotina do PCE no município de Antunes/MG, revelando que, no momento, o distrito encontra-se na fase de vigilância do referido programa. A análise dos dados da pesquisa mostra que a implementação do programa levou a uma queda na prevalência de infecção parasitária por esquistossomose e por outros parasitos na população atendida, e que aparentemente, a comunidade aderiu à proposta do programa. Em suma, foi possível observar que o PCE produziu, no período de 2007-2009, um resultado positivo, entretanto, é de fundamental importância a manutenção da vigilância epidemiológica, para que, se necessário, novas
KATZ N, CHAVES A, PELLEGRINO J. A simple device for quantitative stool thick-smear technique in schistosomiasis mansoni. Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, São Paulo,v. 14, n. 6, p. 397-400, 1972. LIMA E COSTA, M. F.; ROCHA, R. S.; LEITE, M.L. C.; CARNEIRO, R. G.; COLLEY, D.; GAZZINELLI, G. & KATZ, N., 1992. A multivariate analysis of socio-demographic factors, water contact patterns and Schistosoma mansoni infection in an endemic area in Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, São Paulo, v.33, n.1, p. 58-63, 1991. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Esquistossomose: descrição da doença [acessado durante o ano de 2010] Disponível em http://portal.saude. gov.br/portal/saude/profissional/visuali zar_texto.cfm?idtxt=31767. NETO J.S.C., BRANDESPIM D.F. Programa de Controle da Esquistossomose no Município das Correntes-PE, Durante o Ano de 2007 [acessado durante o ano de 2010] [Artigo na internet] Disponível em http://www.webartigos.com/articles/12834/1/Programa-de-Controleda Esquistossomose-no-Municipio-das-Correntes-PE-Durante-o-Anode-2007/pagina1.html
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PORTARIA n. 1.172, de 15 de junho de 2004. Regulamenta a NOB SUS 1/1996, no que diz respeito às competências da União, Estados, Municípios e Distrito Federal na área da vigilância em saúde, define a sistemática de financiamento e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, p.58, 17 jun. 2004. Seção 1. PORTARIA n. 1.399, de 15 de dezembro de 1999. Regulamenta a NOB SUS 01/96 no que se refere às competências da União, estados, municí-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 323
pios e Distrito Federal, na área de epidemiologia e controle de doenças. Diário Oficial da União, Brasília, p.21, 16 dez. 1999. Seção 1. PRATA, A. Esquistossomose mansoni. In: Veronesi R, Foccacia R. Tratado de infectologia, São Paulo: Atheneu, p.1354-1372, 1997. QUININO L.R.M., COSTA J.M.B.S., AGUIAR L.R. Avaliação das atividades de rotina do Programa de Controle da Esquistossomose em municípios da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, entre 2003 e 2005. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 18, n. 4, p. 335-343, 2009. RAMOS A.S., PIZA J.T., FROES E. A importância das inundações na expansão da esquistossomose mansoni. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 1-5, 1970. SANTANA V.S., TEIXEIRA M.G., SANTOS C.P., ANDRADE CHARLES A.R. Efetividade do Programa de Comunicação e Educação em Saúde no controle da infecção por S. mansoni em algumas áreas do Estado da Bahia. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, São Paulo, v. 30, n. 6, p. 447-456, 1997. URQUHART G.M., ARMOUR J, DUNCAN J.L., DUNN A.M., JENNINGS F.W. Parasitologia Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. VASCONCELOS C.H., CARDOSO, P. C. M.; QUIRINO, W. C.; MASSARA C. L.; AMARAL, G. L.; CORDEIRO, R.; CARVALHO, O. S. Avaliação de medidas de controle da esquistossomose mansoni no Município de Sabará, Minas Gerais, Brasil, 1980-2007. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,v. 25, n. 5, p. 997-1006, 2009. WIDMAN A. et. al. Hipertensão portal por esquistossomose mansônica hepatoesplênica: efeito da desconexão ázigo-portal com esplenectomia no diâmetro e na velocidade média de fluxo do sistema portal (estudo ultra-sonográfico com Doppler). Arquivos de Gastroenterologia, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 19-23, 2001 WORLD HEALTH ORGANIZATION, WHO. Schistosomiasis [acessado durante o ano de 2011] Disponível em http://www.who.int/mediacentre/ factsheets/fs115/en/index.html.
NOTAS DE RODAPÉ Bióloga, especialista em Análises Clínicas, Chefe de Seção de Vigilância Sanitária e Epidemiológica de Igaratinga/MG 1
2 Farmacêutica, docente do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva
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TROMBOEMBOLISMO PULMONAR: aspectos gerais e aplicabilidade diagnóstica da dosagem sérica de D-dímero Débora Cristina de Oliveira Cunha1 Roberta Dias Rodrigues Rocha2
RESUMO: O tromboembolismo pulmonar (TEP) ocorre em conseqüência a trombos formados no sistema venoso profundo que se desprendem e obstruem artérias pulmonares ou um de seus ramos. A apresentação clínica é geralmente inespecífica, o que dificulta o diagnóstico clínico. Por ser comum e potencialmente fatal, o diagnóstico precoce e a instituição imediata da terapêutica são essenciais para a diminuição da morbidade e mortalidade do TEP, o que justifica a busca por testes laboratoriais que contribuam para sua exclusão ou confirmação. Diante desse contexto, o objetivo deste artigo é apresentar uma breve revisão da literatura sobre TEP, e, ainda, ressaltar a aplicabilidade da dosagem de dímero-d, produto da degradação da fibrina pela plasmina quando há formação do trombo. Diversos estudos têm demonstrado a aplicabilidade deste biomarcador na exclusão do diagnóstico desta entidade clínica. PALAVRAS - CHAVE: Tromboembolismo pulmonar; Diagnóstico laboratorial; Dímero-d.
INTRODUÇÃO
No contexto do diagnóstico laboratorial, a literatura registra
O tromboembolismo pulmonar (TEP) é a obstrução
que a dosagem de d-dímero plasmático tem sido extremamente
da artéria pulmonar ou um de seus ramos pela instalação de
útil em serviços de emergência, excluindo o diagnóstico de TEP. O
coágulos sanguíneos, geralmente oriundos da circulação veno-
d-dímero- plasmático é um produto de degradação, que tem rea-
sa sistêmica, que se deslocam de seu local de formação e se
ção cruzada com a fibrina e, quando dosado através do método
instalam na circulação pulmonar, reduzindo ou cessando com-
ELISA quantitativo, tem se mostrado altamente sensível (acima de
pletamente o fluxo de sangue para a área afetada. A trombose
99%) em casos de TEP (GUIDELINES ON DIAGNOSIS AND MA-
venosa profunda (TVP) é o evento básico e o TEP, a principal
NAGEMENT OF ACUTE PULMONARY EMBOLISM, 2000).
complicação aguda. Essas condições inter-relacionadas cons-
Considerando a importância dessa entidade clínica, o ob-
tituem o tromboembolismo venoso (TEV). A TVP é considerada
jetivo do presente estudo foi realizar uma breve revisão biblio-
a principal fonte de êmbolos para os pulmões, com risco de TEP
gráfica a respeito da TEP e ainda chamar a atenção para a do-
próximo dos 45% (GOLDHABER, 1998). Mais especificamente,
sagem do d-dímero. Desta forma, este artigo aborda questões
81% dos êmbolos pulmonares têm origem principalmente no
relativas ao TEP e a aplicabilidade da dosagem do d-dímero,
sistema venoso profundo dos membros inferiores, sendo as
considerando atualmente, um biomarcador de grande utilidade
veias ilíacas e femorais as que estão relacionadas com maior
na exclusão do TEP.
risco de TEP. Embora menos prevalentes, os êmbolos podem originar-se das veias renais, pélvicas, dos membros superiores e das cavidades cardíacas direitas (MORRELL, 1973).
2. METODOLOGIA O presente trabalho foi realizado através de uma revisão bi-
A ocorrência de TEP é uma situação clínica comum, de alta
bliográfica de artigos científicos consultados em bancos de dados
prevalência em faixas de idade mais avançadas e em ambiente
BIREME (Biblioteca Regional de Medicina), LILACS (Literatura Lati-
hospitalar. Suas manifestações clínicas podem ser inaparentes,
noamericana em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic
inespecíficas ou sugestivas. Pode ser um achado incidental,
Library Online), bem como dissertações e teses. Foram utilizadas as
uma complicação de alta morbidade ou levar a morte súbita.
seguintes palavras-chave: tromboembolismo pulmonar, d-dímero,
Não é uma condição de diagnóstico clínico, exigindo outros
diagnóstico laboratorial do tromboembolismo pulmonar, no primei-
métodos confirmatórios com recursos nem sempre disponíveis
ro e pulmonary thromboembolism, D-dimer, Laboratory diagnosis
nos lugares em que ocorrem. O diagnóstico correto e o trata-
of pulmonary thromboembolism bo segundo, tendo como critérios
mento imediato diminuem os índices de mortalidade. A terapia
de inclusão textos completos de estudos randomizados e revisões.
é realizada com anticoagulantes e trombolíticos, medicamentos que oferecem risco aos pacientes e exigem cuidados específicos (TERRA FILHO et al., 2010).
3. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR 3.1 EPIDEMIOLOGIA Devido ao quadro clínico diversificado, com sinais e sinto-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 325
mas muitas vezes de difícil detecção, informações sobre a epide-
maior do que em brancos e, nesses, essa taxa é 50% maior do
miologia TEP é ainda uma questão que apresenta lacunas. Os da-
que em outras raças (asiáticos, índios americanos, etc.) ( HOR-
dos da literatura são provenientes de prontuários hospitalares, de
LANDER et al., 2003). Essas diferenças têm explicações em ge-
atestados de óbito e/ou de episódios ocorridos fora do ambiente
ral complexas e, às vezes, presuntivas, que incluem as influên-
hospitalar. Os casos não diagnosticados clinicamente não podem
cias ambientais, o estilo de vida, dietas e fatores genéticos.
ser detectados e, consequentemente, não são considerados. Portanto, a incidência real da TEP, está provavelmente subestimada.
3.2 FATORES DE RISCO
Os estudos sobre a epidemiologia de TEP no Brasil são es-
A fisiopatologia da trombose intravascular, descrita desde
cassos. Dados de autópsias, mostram que, nessas condições,
o século XIX por Rudolph Virchow, envolve três principais me-
a prevalência de TEP varia de 3,9% a 16,6% (AMARY et al., 1974;
canismos: estase venosa, dano local da parede vascular (endo-
MAFFEI et al., 1980; MENNA-BARRETO et al., 1994; YOO et al.,
telial) e hipercoagulabilidade (ou trombofilia) (VIRCHOW, 1856).
2004). Esses resultados são similares a estudos nos EUA, nos
A estase permitiria que fatores ativados da coagulação
quais a prevalência de TEP varia de 3,4% a 14,8%, enquanto
constantemente gerados na circulação sanguínea permaneces-
que na Ásia essa prevalência é menor, variando de 2,0% a 4,7%
sem concentrados e em contato continuado com o endotélio
(GILLUM, 1987; CHAU et al., 1991; CHAU et al., 1997; HORLAN-
vascular. Já o dano endotelial presumivelmente liberaria fatores
DER et al., 2003).
pró-coagulantes do subendotélio que, ao interagir com vias fi-
Entretanto, deve-se salientar que diversos estudos de autóp-
brinolíticas anormais (adquiridas ou herdadas), resultariam no
sias randomizados em hospitais, segundo os algoritmos de ma-
trombo vascular. Condições adquiridas ou herdadas podem, de
nejo de pacientes com TEP, mostram que a taxa de TEP sem sus-
forma independente ou combinada, interagir e causar um distúr-
peita clínica antes do óbito é ainda muito elevada — variando de
bio no delicado balanço da homeostase coagulatória, facilitando
67% a 91% - apesar da melhoria dos recursos diagnósticos e do
a trombose ao invés da manutenção da fluidez sanguínea. Nas
aumento dos conhecimentos sobre a doença. Essa taxa elevada
últimas décadas, uma ampla variedade de fatores de risco foram
de subdiagnóstico é provavelmente um marcante reflexo da alta
identificados, todos derivados de alguma forma dos mecanis-
mortalidade da TEP quando seu diagnóstico não é estabelecido
mos básicos descritos por Virchow, 1856.
e, portanto, ela não é tratada (KARWINSKI et al., 1989; GIUNTINI et al., 1995; MENNA-BARRETO et al., 1997; ALEM et al., 2004).
Em um estudo multicêntrico de 727 pacientes admitidos em unidades de emergência ou terapia intensiva, com o diagnóstico
A TEP aguda ocorre predominantemente em pacientes aci-
de TEP confirmado, os fatores de risco mais prevalentes associa-
ma da meia-idade (GILLUM, 1987; HORLANDER et al, 2003;
dos aos fenômenos tromboembólicos foram a idade superior a
YOO et al., 2003). Em um estudo na população geral, mostrou-
40 anos (93,4%), o repouso no leito superior a 72 horas (38,5%),
se que o aumento linear da incidência de TEP de acordo com
e a neoplasia (24,3%). Foram ainda relatados como fatores de
a idade ocorre aproximadamente até os 65 anos, havendo a
risco o tabagismo, a cirurgia abdominal ou pélvica, a insuficiência
seguir uma queda brusca nessa incidência, possivelmente devi-
cardíaca congestiva, TEV prévio, a fratura de membros inferiores
do à baixa acurácia de diagnóstico de TEP nos indivíduos mais
a 90 dias, o acidente vascular encefálico, o uso de estrogênio, a
idosos (GIUNTINI et al., 1995).
gravidez e o puerpério. Além destes, outros fatores que se desta-
Outros estudos mostraram que, entre pacientes com TEP
cam são aqueles que podem levar as trombofilias, tais como, as
diagnosticada em vida, mais da metade tinha entre 65 e 85 anos
deficiências de antitrombina III, a deficiência de proteína C e S, do
de idade, enquanto apenas 5% tinham menos de 24 anos (FER-
fator V de Leiden, a presença de protrombina mutante, a deficiên-
RARI et al., 1997, SILVERSTEIN et al., 1998.).
cia de plasminogênio, o anticorpo antifosfolípidio/anticardiolipina
Não há um consenso em relação à prevalência de TEP entre
e disfibrinogenemia (VOLSCHAN et al., 2009).
os sexos. Alguns autores relatam uma prevalência de TEP de 20-
A importância do devido reconhecimento dos fatores de ris-
30% maior entre homens, independentemente da raça e da ida-
co dessa doença está na possibilidade de prevenção (trombo-
de; outros relatam uma prevalência maior entre mulheres; e ou-
profilaxia), que é sabidamente mais fácil e menos dispendiosa
tros não observaram nenhuma diferença significativa (TALBOT,
do que diagnosticá-la ou tratá-la.
1972; ANDERSON et al., 1991; CARSON et al., 1992; CLAGETT et al., 1998; HEIT et al., 1999; STEIN et al., 1999.)
3.3 SINAIS, SINTOMAS E MANEJO CLÍNICO
Por razões ainda não esclarecidas, em negros, a taxa de
O diagnóstico do TEP é bastante difícil, uma vez que os si-
mortalidade por TEP, ajustada para a idade, é cerca de 50%
nais e sintomas são pouco específicos, o que causa demora na
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suspeita clínica. Não há um quadro clínico específico ou pa-
laxia é altamente eficaz e deve ser amplamente utilizada, tanto
tognomônico de TEP aguda. A suspeita baseia-se na presença
em pacientes clínicos como cirúrgicos, conforme os grupos de
de um quadro clínico compatível e na identificação de um ou
risco. A terapia é realizada com medicamentos que oferecem
mais fatores de risco. Na maioria de pacientes com suspeita
risco aos pacientes e exigem cuidados específicos, devido à
clínica de TEP aguda, essa não será confirmada (MINIATI et al.,
possibilidade de sangramentos.
1996; POULSEN et al, 2001).
A implementação de clínicas de anticoagulação multipro-
As repercussões fisiopatológicas e as manifestações ana-
fissional (médicos, farmacêuticos, enfermeiros) tem mostrado
tomopatológicas - de onde se originam os sintomas e os si-
melhor eficiência do ajuste terapêutico, tanto em relação a
nais - dependem das condições prévias do pulmão e da carga
níveis terapêuticos mais frequentes, quanto ao menor índice
embólica. Indivíduos jovens e sadios podem ter TEP primária
de sangramentos (CHIQUETTE et al., 1998; GARABEDIAN-
sem evidência clínica ostensiva, e indivíduos idosos e doentes
RUFFALO et al.,1985; WILT et al., 1995). Recomenda-se, se
podem ter sintomas e sinais de TEP mascarados por uma do-
houver disponibilidade, que os pacientes em uso crônico de
ença de base.
anticoagulantes sejam acompanhados em clínicas de antico-
Não obstante, uma suspeita clínica criteriosa baseia-se
agulação.
na prevalência das apresentações clínicas encontradas em várias séries de casos documentados de TEP. Segundo o
3.4 EXAMES DE APOIO AO DIAGNÓSTICO
estudo realizado por VOLSCHAN et al. (2009) as manifes-
Alguns dos exames complementares mais utilizados se-
tações clínicas mais comuns observadas em 727 pacientes
gundo a Diretriz de Embolia Pulmonar da Sociedade Brasileira
com o diagnóstico de TEP confirmado foram: dispnéia, pre-
de Cardiologia são: eletrocardiograma (ECG), radiografia de
sente em 78,4% dos pacientes, taquipnéia (65,3%), taqui-
tórax, gasometria arterial, dímero-d, marcadores de necrose
cardia (44%), dor torácica (42,6%) e tosse (21,3%). Já STEIN
miocárdica (creatinoquinase e troponina I), duplex-scan veno-
et al. (2004) em um estudo de revisão bibliográfica relatam
so, cintilografia pulmonar, ecocardiograma, ressonância mag-
que a prevalência global de TEP em pacientes que apre-
nética, tomografia computadorizada helicoidal e arteriografia
sentam suspeita clínica é baixa (25%), o que justifica a bus-
pulmonar. Exames séricos, como leucograma, enzimas cardía-
ca por exames menos invasivos e de baixo custo na abor-
cas e provas hepáticas, demonstraram alterações em percen-
dagem inicial destes pacientes. A investigação diagnóstica
tuais variáveis dependendo da série estudada e da gravidade
complementar aos achados clínicos pode ser de maior ou
da apresentação de TEP.
menor complexidade, dependendo das disponibilidades do local.
3.4. 1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL SOROLÓGICO DE DÍMERO-D.
O diagnóstico diferencial inclui aneurisma de aorta torá-
Nos últimos anos, a descoberta de uma série de biomarca-
cica, pericardite aguda, tamponamento cardíaco, pneumotó-
dores possibilitou aos laboratórios clínicos a avaliação eficiente
rax, pneumomediastino, tumores torácicos, exsudatos, fratura
do processo da coagulação in vivo. Entre estes biomarcado-
de arcos costais, neuralgia intercostal; insuficiência cardíaca
res, se destaca a pesquisa sorológica de dímeros-d.
congestiva descompensada, asma aguda, pneumonias, tuber-
Os dímeros-d (DD) constituem os menores fragmentos
culose pleuropulmonar e bronquiectasias (MINIATI et al., 1996).
dos produtos de degradação da fibrina (PDF) e são produzidos
Em síntese, a suspeita clínica criteriosa, baseada em sin-
através da ação da plasmina que lisa a ligação cruzada da fibri-
tomas e sinais compatíveis, presença ou ausência de fatores
na. O DD comporta-se como um biomarcador de ativação da
de risco e possibilidades de diagnósticos alternativos, permite
coagulação e da fibrinólise secundária, e está invariavelmente
estabelecer graus de probabilidades que auxiliam o médico no
e precocemente aumentado sempre que houver formação de
manejo inicial do paciente com suspeita de TEP aguda, pas-
coágulo de fibrina intravascular.
sando o diagnóstico de TEP possível para de TEP provável.
Quando ocorre um fenômeno tromboembólico ocorre a ati-
Pacientes de baixo risco devem ser tratados com heparina.
vação do sistema fibrinolítico, com aumento da concentração
Pacientes de alto risco requerem vigilância intensiva e uso de
sérica dos PDF, e, conseqüentemente de DD. Ele é detectado
trombolíticos em alguns casos. A longo prazo, os pacientes de-
uma hora após a formação do trombo e permanece elevado
vem receber anticoagulantes por no mínimo três meses, sendo
em média por sete dias. O mecanismo da formação de DD está
sua manutenção decidida pela presença de fatores de risco
demonstrado na FIGURA 1.
para a recorrência e a probabilidade de sangramento. A profiPÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 327
A pesquisa de dímero-d apresenta alta sensibilidade, mas
Para TEP, a variabilidade dos métodos foi semelhante, tam-
a sua especificidade é baixa; portanto, deve ser analisado com
bém com melhores resultados para ELISA, com sensibilidade
cautela, em conjunto com a avaliação de probabilidade clínica
0,95 (IC= 0,85 a 1,00) e razão de probabilidade negativa de 0,13
(BRITISH THORACIC SOCIETY STANDARDS OF CARE COM-
(IC= 0,03 a 0,58) e para ERQ com sensibilidade de 0,95 (IC=
MITTEE PULMONARY EMBOLISM GUIDELINE DEVELOPMENT
0,83 a 1,00) e razão de probabilidade negativa de 0,13 (IC= 0,02
GROUP, 2003). Além do evento tromboembólico, existem ou-
a 0,84). A razão de probabilidade positiva variou apenas entre
tras situações clínicas em que os valores de DD podem estar
1,5 e 2,5 para tais métodos.
aumentados, como na inflamação, em tumores malignos, nas
Para o ELISA semi-quantitativo, a sensibilidade foi de 0,89
infecções e septicemia, na pré-eclampsia, no trauma ou cirurgia
(IC= 0,81 a 0,98) para TVP e 0,93 (IC= 0,79 a 1,00) para TEP;
menos de três meses, na doença hepática e leucocitose (QUINN
para o método Látex quantitativo a sensibilidade foi de 0,85 (IC=
et al., 1999). Desta forma, estas situações podem contribuir para
0,74 a 0,95) para TVP e 0,89 (IC= 0,81 a 0,98) para TEP; para
obtenção de resultados falso-positivos.
látex semi-quantitativo, a sensibilidade foi de 0,79 (IC= 0,69 a
Há diferentes métodos para a realização do teste (enzyme
0,88) para TVP e 0,80 (IC= 0,65 a 0,94) para TEP; o método
linked immunosorbent assay- ELISA ou ELISA rápido quantitati-
whole-blood mostrou sensibilidade 0,87 (IC= 0,68 a 1,00) para
vo, semiquantitativo ou qualitativo; o enzyme linked fluorescent
TVP e 0,78 (IC= 0,64 a 0,92) para TEP.
assay (ELFA); aglutinação por látex quantitativo ou semiquanti-
As especificidades foram baixas em geral, evidenciando o
tativo ou aglutinação do sangue total), diferindo, entre eles, na
papel principal de determinação do d-dímero em excluir o diag-
sensibilidade, especificidade e razão de probabilidade, além da
nóstico de TEP e TVP.
variabilidade entre pacientes com suspeita de TVP ou TEP (SADOUK et al., 2000).
Em estudo realizado por DE PIANO (2007) a dosagem de dímero-d plasmático pelo método ELFA permitiu a exclusão de
STEIN et al., (2004) fizeram uma revisão sistemática
tromboembolismo pulmonar, com uma sensibilidade de 100%
da literatura para identificar os parâmetros de desempenho de
na amostra estudada. Esses achados se assemelham aos resul-
diferentes técnicas laboratoriais aplicadas a mensuração de
tados encontrados no estudo realizado por STEIN et al. (2004)
dímero-d no diagnóstico de TVP e TEP. Os pesquisadores sele-
que avaliaram o método ELISA clássico (padrão-ouro). Estas in-
cionaram os estudos prospectivos que compararam o D-Dímero
formações reforçam a aplicabilidade e a segurança destes tes-
com padrões-ouro de referência. Estudos com alta qualidade
tes em excluir o diagnóstico de TEP em caso de suspeita clínica.
metodológica foram incluídos em uma análise comparativa, en-
Numa revisão sistemática para a avaliação de estratégias
quanto estudos mais fracos foram incluídos apenas na análise
para o diagnóstico de TEP aguda em pacientes com baixa pro-
de sensibilidade.
babilidade clínica pré-teste, um teste negativo para dímero D
Os resultados para TVP mostraram que os métodos ELISA
(qualquer teste) esteve associado com uma probabilidade pós-
e ELISA rápido quantitativo (ERQ) lideraram em relação à sensi-
teste < 5%, não sendo necessários outros testes para se excluir
bilidade, com valores de 0,96 (95% intervalo de confiança [IC],
a embolia pulmonar (PIOPED, 1990; ROY et al., 2005) Já em pa-
0,91 a 1,00 e razão de probabilidade negativa: 0,12 (IC, 0,04 a
cientes com probabilidade clínica intermediária, para a exclusão
0,33) para ELISA e sensibilidade 0,96 (IC, 0,90 a 1,00) e razão
de TEP, só pode ser valorizado um teste quantitativo utilizando o
de probabilidade negativa de 0,09 (IC, 0,02 a 0,41) para ERQ.
dímero D pelo método ELISA (valor < 500 μg/L). Em pacientes
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com alta probabilidade clínica, outros testes serão necessários para se excluir esse diagnóstico com segurança. Nesses pacientes, se o teste for positivo, não acrescentará ajuda no diagnóstico, sendo que outros exames deverão ser realizados (BRITISH THORACIC SOCIETY STANDARDS OF CARE COMMITTEE PULMONARY EMBOLISM GUIDELINE DEVELOPMENT GROUP, 2003). Nestes casos, é prudente prosseguir a investigação com outros métodos como ultrassonografia com Doppler para TVP e/ ou angiotomografia pulmonar, arteriografia ou estudo inalação/ perfusão cintilográfico para TEP. Os estudos estabelecem as seguintes recomendações: O dímero D deve ser usado somente em pacientes após a avaliação da probabilidade clínica. O dímero D não deve ser usado em pacientes com alta probabilidade clínica. Um teste negativo exclui TEP em pacientes com baixa (qualquer método) ou intermediária (ELISA) probabilidade clínica, sem a necessidade de exames de imagem adicionais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A investigação diagnóstica de pacientes que apresentam sinais e sintomas de TEP é uma tarefa complexa e desafia os recursos clínicos e laboratoriais nas salas de emergência dos hospitais. Por ser potencialmente fatal, o diagnóstico precoce e a instituição imediata da terapêutica são essenciais para a diminuição da morbidade e mortalidade do TEP. Considerando as dificuldades da avaliação clínica, informações laboratoriais contribuem de forma importante no diagnóstico definitivo. Entre os métodos de diagnóstico laboratorial destaca-se a pesquisa dos níveis plasmáticos do dímero-d (DD). Nessa perspectiva, a literatura registra a necessidade de se combinar a determinação do dímero-d com a probabilidade clínica pré-teste antes de se
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prosseguir na investigação diagnóstica e a superioridade dos métodos ELISA e ELISA rápido quantitativo. Especialmente em pacientes com baixa probabilidade clínica de TEP, a dosagem de d-dímero apresenta grande utilidade clínica, uma vez que um resultado negativo praticamente exclui a possibilidade de TEP. Além disto, a técnica sorológica de ELISA aplicada à quantificação do DD possui custo relativamente baixo frente aos exames de imagem, o que justifica e reforça sua importância como técnica laboratorial. Cabe ressaltar que em situações de altíssima
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prevalência de TVP (calculadas pela probabilidade pré-teste) o d-dímero não pode ser utilizado como única ferramenta, uma vez que o teste é de pouca especificidade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEM C.E.; FABRO A.T.; CORRENTE J.E.; QUELUZ T.T. Clinicopathological findings in pulmonary thromboembolism: a 24-year autopsy study. Jornal Brasileiro de Pneumologia, Brasília, v. 30, n. 5, p. 426-432, 2004.
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NOTAS DE RODAPÉ 1 Farmacêutica Bioquímica, pós-graduada em Análises Clínicas, Assessora Científica na Conceito Diagnóstica. E-mail: deboracris85@hotmail.com 2 Farmacêutica Bioquímica, professora do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva. E-mail: roberta.newtonpaiva@gmail.com
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 331
UTILIZAÇÃO MEDICINAL DO ÓLEO DE COPAÍBA: aspectos históricos e estudos atuais Aldemir Fernandes Lima1 Jesiel Francisco de Jesus Fernandes Martins Lima2
RESUMO: Nessa revisão de literatura procuramos fazer uma síntese sobre a abordagem histórica, as pesquisas químicas e farmacológicas da Copaifera L., incluindo citações sobre os estudos e aplicações do óleo de copaíba. Para tanto, recorremos a uma vasta e diferenciada literatura que trata sobre a diversificada e rica flora brasileira e as suas aplicações. Durante o nosso estudo percebemos que existem muitos trabalhos e pesquisas divulgando achados sobre a utilização, propriedades dos componentes da copaibeira. Constatamos que há trabalhos relatando a utilização desse vegetal desde seu efeito secante, lubrificante, combutível e inseticida. Dentre toda essa gama de utilizações pelo povo das regiões aonde esse vegetal vem sendo utilizado chamou a nossa atenção para as citadas propriedades medicinais, como ação bactericida e bacteriostática. PALAVRAS CHAVES: Copaífera; Óleo de copaíba;Bactericida.
1. INTRODUÇÃO
gler (1844 – 1930) a subordem das Dicotiledôneas e família das
Existe uma grande quantidade de trabalhos sobre a
Leguminosas em que se encaixa a copaíba, no Brasil são en-
utilização medicinal do óleo de copaíba, baseado na cultura
contrados cinco gêneros JUDDS, et. Al., (1999), e que segundo
popular e em ensaios biológicos preliminares. Isso nos mos-
a farmacopéia Medicinalis são largamente utilizadas.
tra a amplitude de exemplares botânicos dispersos na diver-
Reino: Plantae
sificada e rica fauna brasileira, cuja identificação, catalogação
Classe: Pteridophytae
e estudos pormenorizados, sobre a sua composição química,
Ordem: Angiospermae
testes farmacológicos e possível eficácia terapêutica que pre-
Sub – Ordem: Dicotiledônea
cisam ser feitos.
Família: Leguminosease
Muita indagação tem sido feita sobre a utilização de
Sub – Família: Caesalpinoideae
produtos naturais já incorporados à cultura popular. Tais inda-
Gênero: Copaifera
gações têm sido feita com certa freqüência a cerca da eficácia
Espécies: C. offcinalis
dos extratos do óleo da copaíba. Portanto, resolvemos recor-
C. longsdorffii
rer à bibliografia sobre a utilização histórica, e demais estudos
C. multifulga
dos princípios ativos da copaibeira. Importante exemplar que
C. reticulata
faz parte da “farmácia popular” do caboclo e das populações
C. cearensis
silvícolas. Verificamos que há evidencias a serem estudadas e testadas sobre as atividades farmacológicas dos princípios
Historicamente a árvore da copaíba teve a origem do
ativas alcalóides da copaíba, como agentes antimicrobianos
seu nome derivado a partir da língua tupi: “Kaupa-iwa e Kau-
e mesmo bacteriostáticos. Testes químicos que comprovam a
paú”, o que significa “árvore que tem deposito de seiva” (Gran-
ação combustível do óleo da copaíba (uso em lamparinas) já
de Enciclopédia Larrousse Cultural, 1998).
foram devidamente comprovados.
Existem numerosos trabalhos relatando a importância
econômica e medicinal da copaíba. Segundo muitos autores e 2. DESENVOLVIMENTO
pesquisadores vários deles datam da época do descobrimen-
Conforme citado no Index Kewensis (1966) as copai-
to das terras sul americanas. Naquela época muitos botânicos
beiras são classificadas e distribuidas em 72 espécies já iden-
viajavam através dos continentes na busca de novidades para
tificadas, sendo que em terras brasileiras já foram encontradas
a medicina através da flora. Assim, há relatos de que os nativos
16 espécies (DUYER, 1951).
indígenas da mata atlântica brasileira já utilizavam a seiva da
Segundo o sistema de classificação do Dr. Adolf En-
copaíba como agente agregado à sua farmácia natural, como
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substância cicatrizante, antiinflamatório e corante para a pele e
Altura média: 25 a 40 metros
de seus adereços.
Diâmetro: até 4 metros
Tempo de vida: 200 a 400 anos
Os primeiros relatos sobre o uso da copaíba com fins
terapêuticos foram feitos por MarcGrave e Piso no século XVI
Tronco: áspero
(1628), que descreveram as características da copaíba (PISO et.
Cor: escura
Al., 1625).
Folhas: alternadas, pecioladas, penuladas
Frutos: apenas 1 semente ovóide colorida e envolvida
Em 1760 nos trabalhos divulgados por Jacquin ele des-
creveu a espécie de copaíba que dominou de Copaiva offici-
por arilo
nallis Jacq (JACQUIN, 1760).
Flores: pequenas
Presença de pétalas: apétalas
Segundo Hyne (1825) em seu trabalho ele identificou
oito novas espécies de copaíba em uma pesquisa botânica feita
Aparelho reprodutor: hermafrodita com panicolas axilares
conjuntamente Von Martius (Von Martius, 1870).
Tempo de floração e frutificação: a partir de 5 anos de
idade
No Brasil a copaíba é conhecida como copaíbeira ou
pau d’olio, sendo largamente encontrada na floresta da Amazô-
Período de floração: de outubro a julho
nia (norte), do Mato Grosso e Goiás (centro oeste), Santa Cata-
Período de Frutificação: junho a outubro
rina (sul) e Ceara (nordeste).
Varias espécies são encontradas também nos países
O extrato alcalóide da copaíba não é considerado como
andinos (Colômbia e Venezuela) e na África Ocidental (Con-
balsamo, já que não contêm na sua composição os compostos
go, Camarões, Guine e Angola) (WOOD et. Al., 1940; PERROT,
aromáticos como o acido benzóico. Quimicamente contem áci-
1944; LEITE, 1993).
dos resinosos e outros compostos voláteis o que o credencia
A copaíba é uma árvore que pode atingir tamanho en-
como sendo uma resina oleosa e com alto poder de secagem.
tre 25 e 40 metros de altura, até 4 metros de diâmetro e viver em
Seus princípios ativos são o ácido copaívico (C2OH32O34), a-
média 200 a 400 anos se dela não for extraído o óleo.
cubeno, b-cariofileno e a-humuleno. (ROBBERS et. Al., 1996).
Características morfológicas e anatômicas da copaibei-
Esse óleo resinoso é encontrado no sistema de canais se-
ra (BARTH, 1971):
cretores (xilema e floema) ao longo de toda a árvore (tronco,
Porte: árvore
galhos, ALENCAR, 1982).
Conforme o autor CARVALHO, (1994) os métodos de
melho e até a cor marrom, sendo os de coloração mais clara de
extração considerados agressivos causam a morte a árvore, en-
menor viscosidade e os mais escuros apresentando maior grau
quanto que na extração não agressiva permite “selar” o corte
de viscosidade (SILVA, 1911; MATOS, 1923).
ou incisão com argila, tornando a mesma árvore produtiva para coletas sucessivas.
Sobre o volume de óleo produzido por uma árvore
adulta, vários autores relatam a possibilidade de apenas um
Há relatos e evidências atuais sobre o grande interesse
das indústrias moveleiras pelo tronco da copaíba, já que após beneficiada esse tipo de madeira possui a superfície lisa, lustrosa e é resistente a ação de cupins e a umidade (CARVALHO, 1994).
exemplar de copaíba permitir “sangria” anual de 40 a 50 litros (SOUZA, 1977).
Para Rosa (1694) e Langgarrd (1872), conforme a cul-
tura popular dos mateiros e nativos da selva tropical o processo
O óleo resina da copaíba apresenta características es-
de coleta de óleo resina da copaíba deve obedecer todo um
pecificas como uma coloração com transição do amarelo, ver-
ritual místico como “a fase da lua (lua cheia e quarto minguan-
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te)”; para outros deve ser feita em noites de lua cheia e não olhar
protetor e cicatrizante, entre outras. O professor João Ernes-
diretamente para a árvore.
to de Carvalho, coordenador da Divisão de Farmacologia e
A descoberta sobre a ação farmacológica e medicinal
Toxicologia do CPQBA, realizou as culturas in vitro e recorda
dos alcalóides do óleo resinado da copaíba somente foi valo-
que uma das substâncias, (-)-hyrtiosal, foi a que apresentou
rizada com o fortalecimento e valorização da Fito- terapia, dos
atividade mais seletiva, sobre a linhagem do melanoma. “Se
Fitoterápicos e da medicina herbária (BERTONI, 1927).
precisasse escolher um dos compostos para dar seguimen-
Acosta (1792) relatou em seus artigos que foi Petros
Martius o primeiro a citar a utilização do óleo resinoso da copaíba em uma carta por ele enviada ao Papa Leão X, quando
to às experiências, com testes em animais, seria este”, afirma. (LIMA et. al., 2000; PAIVA et. al., 1998).
Conforme relatos de Pinheiro (1993); Barbonatti (1996);
fez menção às espécies de copaíbas encontradas nas Índias no
Costa et. al., (1996); Bandeira et. al., (1998), os estudos sobre
ano de 1534.
a ação farmacológica e medicinal dos componentes do óleo da
Com o advento da antibioticoterapia a partir da des-
copaíba separado da sua fração resinosa, vem sendo testados
coberta notável do Penicilium notatum, e conseqüentemente da
na área odontológica. Os principais estudos e bioensaios têm
Penicilina as ações e utilizações medicinais da copaíba ficaram
sido feitos sobre a ação e eficácia biológica do óleo da Copai-
um pouco esquecidas (GUDMAN; GILMAN, 1945).
fera multifuga, anexando-se como coadjuvante o hidróxido de
A Copaifera ssp faz parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse do SUS (RENISUS), constituída de espé-
cálcio, para testar a suas propriedades bactericidas e bacteriostáticas sobre o Streptococcus mutans.
cies vegetais com potencial de avançar nas diversas fases das
Não houve cronista importante na História do Brasil que não
pesquisas e gerar produtos de grande interesse do Ministério
tenha se referido às virtudes do óleo de copaíba. Um dos primei-
da Saúde em nosso país.
ros foi Gabriel Soares de Sousa (c1540-c1592), que registrou em
Tudo indica que o uso deste óleo veio da observação do
sua obra “Tratado Descritivo do Brasil” a utilização do óleo pelos
comportamento de certos animais que, quando feridos, esfrega-
índios, incluindo-o entre aqueles provenientes “das árvores e er-
vam-se nos troncos das copaibeiras. Os índios o utilizavam prin-
vas da virtude”.
cipalmente como cicratizante e no umbigo de recém-nascidos
O padre Jesuíta José Acosta (c 1539-c1604) no seu livro
para evitar o mal-dos-sete-dias. Os guerreiros quando voltavam
“De Natura Novi Orbis”, traduzido em 1606 do latim para o fran-
de suas lutas untavam o corpo com o óleo da copaíba e se dei-
cês, e depois por José Maffeu para o português, que o intitulou
tavam sobre esteiras suspensas e aquecidas para curar eventu-
“História Natural e Moral das Índias”, assim se referiu ao óleo de
ais ferimentos.
copaíba:
Contudo, o interesse pelo óleo da copaíba continuou a
“O bálsamo é celebrado com razão por seu excelente odor,
se propagar através das indústrias de cosméticos, de vernizes e
e muito maior efeito para curar feridas, e outros diversos remé-
tintas desde o período de 1796 até 1996 (Anuário Estatístico do
dios para enfermidades, que nele se experimentam… nos tem-
Brasil, I.B.G.E., 1996).
pos antigos os índios apreciavam em muito o bálsamo, com ele
As propriedades medicinais da copaíba foram aprova-
das e registradas no Food and Drug Administration (FDA) do
os índios curavam suas feridas e que delas aprenderão os espanhóis.”
governo Americano em 1972. A partir daí vários pesquisadores
Segundo a química do Far-Manguinhos, Vera Cas-
passaram a estudar os efeitos farmacológicos e medicinais do
con “o óleo de copaíba é uma verdadeira farmácia natural”.
óleo das 5 espécies da copaíba existentes no Brasil, e que tem a sua composição química descrita na literatura. Os estudos preliminares se baseiam nos testes de irritabilidade e de sen-
3. CONCLUSÃO
Diante das evidencias relatadas nos artigos que tratam
sibilidade do óleo da copaíba testado em pacientes humanos
sobre a ação farmacológica e medicinal e industrial do óleo da
(FOOD CHEMICAL CODEX, 1972; KLIGMAN, 1966; BRASIL et.
copaíba percebemos que ainda há muitas controvérsias sobre a
Al., 1988; FERNANDES et. al., 1992).
sua real eficácia e propriedades.
Vários estudos e bioensaios já foram realizados so-
Há descrição química de vários de seus componentes dire-
bre as atividades antiinflamatórias, anti séptica, purgativa,
cionada a indústria, porém toda abordagem de tratados sobre a
ação cercaricida (Schitosoma mansoni), inseticida, afrodisía-
copaibeira deixam evidencias de que é necessária a comprova-
co, anti reumático, anti herpetico, anti brotropico, analgésico,
ção mais contundente sobre as reais propriedades, ação bacte-
anti neoplásico (in vitro no mieloma do camundongo) gastro-
riostática e bactericida do óleo da copaíba.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 335
BANDEIR, M. F. C. L.; Oliveira, M. R. B.; Pizzolitto, A. C.; Benatti Neto, C.; Jorge Neto, J; J. Bras. Clin. Estet. Odont. 1998, 3, 39. BANDEIRA, M. F. C. L.; Oliveira, M. R. B.; Benatti Neto, C.; Lia, R. C. C.; J. Bras. Clin. Estet. Odont. 1998, 3, 42. BANDEIR, M. F. C. L.; Oliveira, M. R. B.; Pizzolitto, A. C.; Benatti Neto, C.; J. Bras. Clin. Estet. Odont. 1998, 3, 47. Cunha, K. M. A; Silveira, E.R.; Rao, V. S.16o Simpósio de PlantasMedicinais do Brasil, Recife, Brasil, 2000.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Professor de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais 2 Professor Programa Educação Profissional Centro Universitário Newton Paiva Especialista em Análises Clínicas .
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Vírus Influenza A (H1 N1): abordagem revisional Aldemir Fernandes Lima1 Jesiel Francisco Martins Lima2
Resumo: Conforme constatamos em nossa pesquisa revisional de literatura o vírus da influenza possui o genoma do tipo RNA, com fita simples segmentada e com grande poder de mutação. De acordo com as normas para a classificação internacional, esse vírus está subdividido em subtipos Myxovirus influenza A, Myxovirus Influenza B e Myxovirus Influenza C. Devido à grande variedade de reservatório encontrados na natureza o vírus é capaz de induzir constantes mutações na seqüência dos aminoácidos que formam o seu genoma. Essa metologia facilita o reagrupamento dos aminoácidos que fazem parte do filamento genético viral, originando a partir daí muitas variantes de cepas (tipos). Na literatura consultada verificamos que os fármacos antivirais interferem e inibem a síntese das glicoproteínas de superfície do Vírion. Com esse estudo de revisão de literaturas procuramos organizar dados básicos sobre a formação estrutural de um vírus, sobre os principais sintomas da virose pelo M. influenza e o seu tratamento básico. E assim, chamar a atenção para sua epidemiologia. Palavras - chave: Influenza A (H1 N1); Vírus; Antivirais.
INTRODUÇÃO
GENERALIDADES EM VIROLOGIA
Diante deste contexto, este artigo tem como objetivo fazer
A influenza é uma doença infecto contagiosa de inci-
um estudo revisional da literatura que trata a respeito da infec-
dência aguda, de origem viral e que compromete o sistema
ção causada pelo vírus da Influenza A, subtipos H1 N1, levando-
respiratório.
se em conta o importante destaque epidemiológico que essa
O nome “influenza” teve a sua origem com base na cultura
virose assumiu no período entre 2008 – 2010 no mundo todo.
mitológica relacionada à influência dos astros em períodos da
E, assim procuramos ilustrar e recordar os aspectos morfoló-
transição verão / inverno e de grandes episódios por correntes
gicos e estruturais do Myxovirus influenza. Através da literatura
de ventos, que favorecem a disseminação de vários tipos de
consultada procuramos deixar bem evidente a formação das
germes e de doenças.
camadas lipoprotéicas que constituem um vírus, e sobre tudo a
Conforme a taxonomia biológica o vírus é um organismo
posição das lipoproteínas que são envolvidas em todo o pro-
com uma organização estrutural simples, já que é constituído
cesso infectante desse vírus.
basicamente por proteínas e ácidos nucléicos. Não há vírus
Procuramos também enfatizar e deixar ilustradas
constituído ao mesmo tempo por dois (2) tipos de genoma
as informações básicas sobre as características sintomáticas,
(DNA e RNA). Possuem propriedades de cristalização como
além de informações básicas sobre o principal medicamento
uma forma estratégica de preservação, quando está disperso
disponível e utilizado no tratamento da gripe A (H1N1).
no meio ambiente; é capaz de se auto-reproduzir, desde que se fixe em uma célula hospedeira, e tem grande poder de muta-
HISTÓRICO
ção. Basicamente o vírus possui um envoltório protéico (Cerne)
Há relatos de que a primeira epidemia de gripe tenha sido
circundando o genoma de ácido nucléico que recebe o nome
descrita por Hipócrates no ano 402 a.C., como sendo uma sín-
de Capsídio. Os conjuntos de Capsídios se transformam em
drome respiratória. Também, há na literatura outros relatos da
subprodutos do ciclo reprodutivo viral com a denominação de
ocorrência dessa doença na forma epidêmica no continente
Nucleocapsídio. As unidades estruturais básicas que formam
Asiático entre os séculos XVII e XVIII (1781-1830). Da mesma
o Capsídio são compostas por polipeptídios individuais. E as
forma houve o surto da gripe Espanhola entre os anos de 1918
unidades morfológicas virais isométricas são denominadas de
e 1919; a gripe Asiática entre os anos de 1957 e 1958, e a
Capsômeros, enquanto que Vírion é o nome dado à partícula
gripe de Hong Kong entre os anos de 1968 e 1969. Contempo-
viral completa: Vírion = capsídio + ácido nucleico + nucleo-
raneamente constatamos um surto de pandemia dessa grave
capsídio + capsômero (Figura 2)
virose entre os anos 2008 e 2010, e que colocou em estado de alerta os órgãos responsáveis pela saúde em todos os países do mundo (PAYUNGPORN, 2010).
CLASSIFICAÇÃO VIRAL De acordo com vários autores a classificação universal mais aceita para os vírus é fundamentada conforme as suas
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propriedades biológicas, físicas e químicas de interesse humano e veterinário (JAWETZ, 1974).
(JAWETZ, 1974; PAIVA, 2000; PAYUNGPORN, 2010). Agente Etiológico da Influenza A (H1 N1)
A classificação biológica mais antiga e aceita pela comu-
Essa gripe recebe uma nomenclatura científica conforme
nidade científica baseia-se na patologia das doenças sistêmi-
a cepas do vírus Influenza A, acrescido das siglas das prin-
cas e de órgãos específicos onde esse tipo de vírus possui
cipais glicoproteínas localizadas na superfície estrutural do
tropismo de infecção – vírus neurotrópicos, vírus respirató-
vírus (capsídio), cujas cepas já foram identificadas. A letras,
rios, vírus cutâneos, vírus de mucosas, vírus oftálmicos e vírus
H1 indica a glicoproteína hemaglutinina do tipo 1, enquanto
glandulares (JAWETZ, 1974).
que a letra N1 indica a glicoproteína neuraminidase do tipo 1.
Para separar os vírus em grupos de acordo com as pro-
(Figura 3).
priedades físico-químicas, o relatório do 1º. Comitê Interna-
O vírus causador da Influenza (gripe) que afeta os ver-
cional Sobre Nomenclatura dos Vírus (CINV) realizado em
tebrados é do tipo genômico RNA, com a fita simples, seg-
1971, refere-se aos vírus de importância humana, de animais
mentada e subdividida em três subtipos ou cepas Myxovirus
inferiores, de insetos, de vegetais e bactérias (bacteriófagos),
influenza A, Myxovirus influenza B e Myxovirus influenza C.
e que abrange as propriedades mais comuns para 43 grupos
Pertence à família taxonômica Orthomyxoviridae. As letras
de diferentes vírus. Ainda conforme o CINV-1971 para os ví-
maiúsculas “A”, “B” e “C” acrescentadas após o termo Myxo-
rus infectantes de vertebrados inclui-se: nome oficial do grupo
virus indicam as cidades onde as cepas foram isoladas e
viral, os subgrupos designados como gênero-tipo ou como
identificadas (Figura 1). Essas variantes do Myxovirus influen-
espécie-tipo, e o Criptograma. Conforme os estudos mais re-
za são formadas a partir de processos mutagênicos ocorridos
centes em virologia o Criptograma é um detalhamento das
nos segmentos genômicos virais, o que induz em importantes
estruturas características específicas dos vírus e de seu com-
alterações na seqüência inicial dos aminoácidos que formam
portamento diante de condições biológicas e físico-químicas
as várias camadas das glicoproteínas de superfície do Capsí-
– propriedades estruturais da partícula completa do Vírus,
dio. Isso ocorre em especial com as proteínas Hemaglutinina
como: cerne do ácido nucléico – DNA ou RNA; capsídio; nu-
(H) e a Neuraminidase (N). Sendo que a glicoproteína Hema-
cleocapsídio e capsômero; simetria do capsídio; presença ou
glutinina (H) antigênica é a responsável pela invasão viral na
não de invólucro do vírion; sensibilidade ao éter; número de
célula hospedeira parasitada (fixação – adsorção – injeção do
capsômeros; tamanho da partícula de vírus em nanômetros;
genoma do vírus). Já a Neuraminidase (N) é a glicoproteína
peso molecular do ácido nucléico; nº. de genes aproximados)
responsável pela lise celular e pela liberação de novos Vírions
de cada grupo. Os subgrupos dos vírus foram designados
a partir da população de células do hospedeiro inicialmente
como sendo gêneros, cada gênero-tipo denominado como
infectado (JAWETZ, 1974; PAYUNGPORN, 2010). (Figura 2).
família, e cada espécie-tipo citada como espécie. Já as espécies são registradas com os nomes vernaculares e latinizados
Figura 1 – Organograma taxonômico dos subtipos do vírus Myxovirus influenza
Devido à resposta imunogênica humana em casos de in-
(H) e Neuraminidases (N) de superfície. Essas alterações das
fecções primárias ou devido à ação vacinal preventiva irá de-
glicoproteinas de superfície do genoma do vírus devem-se ao
sencadear também variações antigênicas associadas à substi-
reagrupamento de espécies de vírus patogênicos interespecífi-
tuição total de um ou de ambos os filamentos genômicos virais
cos, como facilitador dessa recombinação, resultando em cepas
responsáveis pela síntese das glicoproteínas Hemaglutininas
virais infectantes mistas. Outro facilitador para a formação de
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cepas virais mistas são os diversos tipos de reservatórios ani-
de 1 até 9) (PAYUNGPORN, 2010; MANCINI, 2004; OMS, 2000).
mais vertebrados disponíveis na natureza. Então, o Myxovirus
(Figura 2)
influenza infectante suíno tem a glicoproteína Hemaglutinina (H)
Figura 2 – Esquema da localização das camadas estruturais
e Neuraminidase (N) de superfície reagrupadas em subespécies
onde se encontram as glicoprotéicas e o cerne (genoma) do Ví-
antigênicas interferentes H (subtipos de 1 até 15) e N (subtipos
rion - Myxovirus influenza A (H1N1).
Conforme pesquisas internacionais realizadas nas últimas
pesquisa do projeto Grupos Regionais de Observação da Gripe
décadas o vírus Myxovirus influenza apresenta altíssimas taxas de
(GROG), com o objetivo de coletar dados, analisá-los e fornecer
mutação, e consequentemente resulta na formação de novas ce-
informações, acerca da dispersão do vírus Myxovirus influenza
pas com cargas virais diferenciadas e dispersas nas comunidades
A no Brasil – Instituto Adolfo Lutz / SP (IAL), Fundação Osvaldo
de todo mundo (PAYUNGPORN, 2010; MANCINI, 2004).
Cruz / RJ (FIOCRUZ) e Instituto Evandro Chagas / Belém (IEC),
E para essa formalização cientificamente comprovada de que novas formas virais podem surgir, a Organização Mun-
ambos credenciados pela OMS desde 1995 (OMS, 2000; NETO, 2003; Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 2003).
dial de Saúde (OMS) passou a credenciar e a delegar poderes de vigilância e pesquisa e qualificar vários Laboratórios Nacio-
Nomenclatura utilizada para vírus
nais sobre a Influenza em diversos países ao redor do mundo,
A maioria das espécies de vírus é designada com a primei-
atualmente são 80 países, credenciados para essa importante
ra letra do nome latino do hospedeiro (a = avis; b = box; h =
função, subdivididos e subordinados a quatro Centros de Refe-
homo; o = ovis; m = mus; s = suis) seguidas de um número
rências situados em Londres, Tóquio, Melboume e Atlanta. Com
que indica o tipo antigênico (JAWETZ, 1974).
essas referências as cepas virais colhidas e identificadas em
Utilizam-se quatro pares de símbolos representando cada
todo o mundo são catalogadas em um sistema oficial padroni-
par, duas propriedades: filamento da cadeia e tipo de ácido nuc-
zado pela OMS com base fundamentada nos seguintes critérios:
léico, percentagem da partícula viral e o peso molecular do ácido
1 - Tipo antigênico da nucleoproteína; 2 - Principal hospedeiro; 3
nucléico; forma da partícula e do nucleocapsídio, o tipo de hospe-
- Localizações geográficas (cidade, país); 4 - Números de cepas
deiro e o vetor do vírus (JAWETZ, 1974; NETO, 2003; OMS, 1998).
no Laboratório identificador; 5 - Ano de isolamento da cepa no Laboratório de referência. (JAWETZ, 1974; NETO, 2003). No Brasil existem três Laboratórios credenciados para a
Exemplo: A / Bayem / 07/95 A (H1 N1) Conforme os Laboratórios Brasileiros de Referência Internacional (LBRI – MS) citados anteriormente, no Brasil as cepas
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do Myxovirus influenza que são infectantes para os seres hu-
Como medida preventiva destaca-se o uso da vacino-
manos são rotuladas e identificadas conforme o código alfa
terapia. Entretanto, já estão disponíveis em todo o mundo os
numérico conforme os seguintes critérios:
fármacos antivirais preconizados mundialmente – Amantadina
A (H1 – N1)
e Rimantadina, como sendo os medicamentos de primeira geração, e o Oseltamivir e o Zanamivir como sendo os produ-
A (H2 – N2)
tos farmacológicos de segunda geração. Esses dois últimos já oficialmente licenciados pela Agência Nacional de Vigilância
A (H3 – N3)
Sanitária (ANVISA) em todo o território nacional desde 1993.
Manifestações clínicas e tratamento da Influenza A (H1 N1)
No mercado brasileiro já circula o medicamento de segunda
Conforme os fatores patognomônicos da Influenza os sin-
escolha que é direcionado para a Influenza.
tomas e sinais típicos para essa patologia são: febre (38ºC – 40
No esquema abaixo procuramos produzir e deixar clara a
ºC), calafrios, tosse, cefaléia, dor de garganta, coriza, anorexia
forma pela qual as indústrias farmacêuticas procuraram criar o
e fadiga muscular. A partir desse quadro clínico já instalado
nome “fantasia” para um dos fármacos de escolha utilizado no
poderão surgir complicações decorrentes de uma infecção
tratamento da Influenza A (H1N1).
secundária e até evoluir para o óbito (PROJETO VIGI GRIPE, 2001; GROG, 2010).
Esses fármacos antivirais são inibidores da proteína de superfície Neuraminidase do vírus M. Influenza. Conforme normas divulgadas pela ANVISA o produto Tamiflu (Figura 4) está disponível e licenciado em todo território nacional brasileiro desde o ano 2000 pelo Ministério da Saúde (GRUPO REGIONAL DE
Figura 4 – Origem do nome do fármaco usado no tratamento da gripe A (H1N1).
logia Médica. Editora Guanabara, 10ª. Ed. RJ, 1974. MANCINI, Dalva Assunção Pastori et al. Influenza em animais heterotérmicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Jun. 2004. Vol. 37, Nº. 3. os. 204 – 209. ISSN 0037 – 8682.
OBSERVAÇÃO DA GRIPE, 2010; PROJETO VIGI GRIPE, 2001). CONCLUSÃO Com esse artigo de revisão de literatura sobre a Influenza A (H1N1), acreditamos ter reunido dados capazes de informar sobre as características fundamentais dessa virose que tem afligido a população em todo o planeta em períodos sazonais. E também poder contribuir para despertar nos profissionais da saúde o interesse para a epidemiologia desse tipo de doença durante todo o período do ano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRUPO REGIONAL DE OBSERVAÇÃO DA GRIPE. Boletim GROG. Vol. 32: 1 – 6, 1998. http: / www. ministeriosaude.gov.br – Acesso em 28 / 09 / 2010. JAWETZ, Ermest; Melnick, Joseph L; Adelberg, Eduard A. Microbio-
NETO, Eduardo Farleo. Halker, Elisa. Santos, Verônica Jorge. Paiva Terezinha Maria. Neto João, Toniolo. Influenza. Projeto Vigi Gripe. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Vol. 38 (@): 267 – 274 – Mar. Abr, 2003. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Recomendation for the composition of influenza virus vaccines for 1999. Weekly Epidemiologycal Record. Vol. 73: 305 – m 308, 1998. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Weekley Epidemiological Record. Vol. 75: 281 – 288, 2000. PAIVA, Terezinha Maria et al. Outbreak of influenza type A (H1 N1) in Iporanga, São Paulo Stats, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. Dec. 2000. Vol. 43. Nº. 6, p. 311- 315. ISSN 0036 – 4665. PAYUNGPORN, S; Panjaworayan, N; Makkoch, J; Pouvorowan, Y. Molecular Characteristic of the human pandemia influenza A virus (H1 N1). Acta virology. Vol. 54 (3): 155 – 163, 2010.
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PROJETO VIGI GRIPE. Boletim Notícias Vigi Gripe. Vol. 2: 2 – 5, 2001.
NOTAS DE RODAPÉ 1 Bacharel, especialista em Ciências da Saúde e Educação (UFMG). Professor Universitário. 2 Biomédico, especialista em Análises Clínicas, professor do Centro Universitário Newton Paiva
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