Zeitgeist n.1 | abril | 2017
Jornal do curSo dE PSIcoloGIa da nEwTon
M.C. Escher, TrĂŞs Mundos, 1955
M.C. Escher, Laço de União, 1956
editorial ZEITGEIST é o espírito da época, sinal dos tempos. Um conceito que remonta à filosofia e aos românticos, em alemão como Heidegger dizia ser possível filosofar. Expressão da época que percorre o curso de Psicologia desde o primeiro período, quando a professora Ana Paula Manso, chique toda vida, começa a soltar o alemão na disciplina de História da Psicologia. Eu mesmo, o editor, quando tento falar isso em sala, sempre sou chamado ao lugar pelos alunos, que bem conhecem seu significado. Acho que todos os alunos do curso já escutaram o termo. Não foi coincidência o nome deste jornal, exprimido, forjado, pensado para ser o nosso veículo de ideias e reflexões, para trazer impresso (e digital) o espírito da nossa época aqui na Newton. Afinal, a Psicologia em sua etimologia é o estudo da alma, do espírito, psyché, dentro de um contexto, de uma época. O Zeitgeist é uma publicação nossa, com espaço aberto para todos, que pretende pensar a Psicologia em suas diversas abordagens e colocar a Psicologia para pensar. Também um veículo cultural, intelectual, literário, papo-cabeça entende? Como deve ser mesmo uma publicação para gente inteligente e articulada como o povo da Psicologia. Nesta primeira edição, ainda estamos testando o formato, a coisa toda, aliás. Mas já ocupamos um espaço, já conquistamos o lugar do texto, tudo nosso! Conto com vocês nas próximas edições. Venham com ideias, escritos, ilustrações, coisas que quiserem dizer do curso, da psicologia, do mundo, do espírito da nossa época. Sejam bem-vindos! Homero Nunes
expediente ZEITGEIST | Jornal do curso de Psicologia da Newton Coordenação: Andreia Barbosa de Faria Jornalista Responsável: Homero Nunes Produção: Núcleo de Produção Acadêmica da Newton - NPA Editora de Arte e Projeto Gráfico| Helô Costa
Dúvidas, críticas e sugestões: homero@newtonpaiva.br
com a palavra, a aluna
E AGORA, QUAL LENTE USAR? Março de 2013. Quatro anos atrás.
entraram em conflito, conflito que
Primeiros meses do curso de
me instigou a conhecer e enxergar
Psicologia. Já havia dado tempo de
através da teoria que discorre sobre
ouvir algumas frases, mandamentos
uma luta sem fim entre o ego e o seu
soltos da área de formação. Os pri-
ambiente. Nono período de curso. E
meiros professores, suas primeiras
hoje, por hoje estou enamorada pela
aulas e as primeiras instruções. Fra-
psicanálise.
ses abstratas para quem acabara de
Uma abordagem nada mais é do
entrar no ambiente acadêmico. Como
que uma lente a qual você enxerga o
aquelas frases amarrariam tantos
mundo... outra definição que se escu-
questionamentos? Pode soar poético demais, talvez não tenha sido assim, mas foi a forma como ouvi: “Não tenham preconceitos com as abordagens, experimentem e leiam tudo. Não se preocupem em escolher uma abordagem, ela escolherá você!” Foi como ouvi e ressoou durante os meses que se seguiram. Outra fala de um professor no primeiro dia de aula foi: “_A sua formação é você quem faz!”. Vivenciei a realidade de várias abordagens. Busquei este contato dentro e fora da universidade. E essas vivências foram úteis, principalmente para saber o que eu não queria para quando formasse. Março de 2017. Quatro anos depois.
ta durante todo o curso. Se pensarmos bem, o processo para escolher a lente ideal para melhorar a sua visão acontece de forma minuciosa, mas com pacientes tentativas do oftalmologista a lente adequada é encontrada. No entanto, durante o retorno para casa pensamos se a escolha foi correta. E então a lente fica pronta e ao colocarmos, detalhes antes despercebidos são realçados. O equívoco quanto a lente pode sim acontecer, e o oftalmologista está lá, disposto a ajustá-la novamente. Basta termos a sensibilidade de reconhecer que algumas coisas estão embaçadas, sem nitidez. Em uma analogia, podemos dizer que as abordagens e teorias es-
Não sei ao certo quando essa
tarão sempre à disposição para que
escolha aconteceu. Mas o fato é que
possamos nos ajustarmos, apropriar-
ocorreu de maneira misteriosa como
mos e regular a nossa lente. Para isso
foi anunciado.
o autoconhecimento e a aceitação a
Freud disse que o eu não é se-
mudança são fundamentais.
nhor em sua própria casa. Fui atingida pela terceira pedrada narcísica
Ana Luiza de Oliveira
arremessada pelo pai da Psicanáli-
Aluna do 9° período de
se. Foi quando meus pensamentos
Psicologia | Silva Lobo, manhã
viSita tÉcnica
ALUNOS VISITAM MANICÔMIO dE BArBACENA No sexto ano de visitação, alunos do 7° e 8° período de Psicologia na Newton presenciaram um pouco da história do antigo Hospital Psiquiátrico de Barbacena e do atual Manicômio Judiciário Jorge Vaz, inaugurado há 88 anos. A visita foi mediada pelos docentes danielle Cury, Homero Nunes e Fabrício ribeiro, que já no trajeto deu uma aula sobre a história dos locais visitados e o que levou a cidade de Barbacena, considerada a cidade das flores, ser conhecida também como a cidade dos loucos. Nos jardins do Manicômio de Barbacena, logo na chegada foi possível perceber a metamorfose nas expressões dos alunos, que surge a partir das mais diversas emoções. No local estão em exposição, nas paredes e corredores administrativos, instrumentos que eram utilizados na contenção de pacientes e nos torturantes tratamentos empregados no início do século XX – camisas de força e máquinas de eletrochoque. Luciane, estudante do 8º período de psicologia, descreveu a visita técnica realizada ao Manicômio Judiciário como nova e impactante, muito diferente dos hospitais psiquiátricos já visita-
dos pela turma, onde existia uma interação, mas compreende a necessidade de manter as grades de segurança das celas, entre estudantes e pacientes. No Museu da Loucura, instalado no antigo Hospital Psiquiátrico foi possível ver um pouco da história que ficou conhecida como o Holocausto Brasileiro. O museu conta com a exposição de fotos, vídeos, documentos e também os instrumentos utilizados nos tratamentos que antes eram realizados. Francisca, auxiliar de visitação do museu, conta hoje as histórias que presenciou durante anos, quando ainda trabalhava no Hospital Colônia, como viviam os pacientes e como eram realizados esses tratamentos. A visita técnica foi realizada no dia 17 de março, e teve como objetivo trazer ao conhecimento dos alunos um universo diferente dos hospitais psiquiátricos convencionais e servir de base para a discussão de conceitos que serão estudados ao longo do semestre em sala de aula. PATrÍCIA MATOS Aluna do 6° período de Jornalismo
Fale-me maiS SoBre... “Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, sem querer” SIGMUNd FrEUd
“O principal objetivo da terapia psicológica, não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor.” CArL GUSTAV JUNG
“Existe algo de inconsciente, ou seja, algo da linguagem que escapa ao sujeito em sua estrutura e seus efeitos e que há sempre no nível da linguagem alguma coisa que está além da consciência. É aí que pode se situar a função do desejo.” JACQUES LACAN
”Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente” BUrrHUS FrEdErIC SKINNEr
“É parte essencial do trabalho interpretativo acompanhar as flutuações entre amor e ódio, entre felicidade e satisfação de um lado e ansiedade persecutória e depressão do outro.” MELANIE KLEIN
“As características distintivas da mente são meramente subjetivas; somente as conhecemos através dos conteúdos de nossa própria consciência.” WILHELM WUNdT
o indicador | pelo Professor Homero Nunes LIVROS “o VElHo E o Mar”, dE ErnEST HEMInGwaY A história de um velho pescador tentando pegar um enorme peixe, sozinho no barco, na imensidão do mar. Hemingway faz da luta do velho uma metáfora da vida, das angústias, da existência, da falta de sentido de tudo. Um clássico que levou o escritor a ganhar o Nobel de literatura em 1954. Leia o livro antes de ver o filme.
“oS MaIaS”, dE EÇa dE QuEIroZ Um dos meus livros preferidos. Narra a tragédia de uma família de fidalgos portugueses, os Maias, diante do embate entre a tradição e a modernidade. Com tiradas de humor e reflexões sobre a vida, o livro é uma viagem à Portugal do século XIX, conduzida por personagens muito bem construídos em tramas complexas entre eles. Leia o livro antes de ver a minissérie produzida pela Globo.
FILMES “o GrandE lEBowSKI”, doS IrMÃoS coEn Uma comédia de erros sobre um sujeito bastante fracassado (e seus amigos também fracassados) num momento em que tudo dá errado em sua vida. O filme se tornou um cult pela estética, pela trilha sonora e pelo estilo de comédia irônica dos irmãos Coen. Tem no Netflix.
“MEIa noITE EM ParIS”, do woodY allEn Ah, um filme muito legal sobre um sujeito que viaja no tempo para a Paris dos anos 20. Cheio de referências literárias e artísticas da época, o filme tem aquela trilha de jazz sensacional e o humor típico do Woody Allen. Também tem no Netflix.
DISCOS “THE darK SIdE oF THE Moon”, do PInK FloYd O álbum clássico do Pink Floyd, um dos melhores discos já gravados, na minha opinião. As músicas são intensas e o disco todo é muito bom. A capa é uma das mais icônicas da história do rock. Melhor se puder escutar em vinil.
“lET IT BlEEd”, doS rollInG STonES O disco tem uma toada blues e country que os Stones experimentavam no final dos anos 60, além do velho e bom rock n’ roll de sempre. Traz pelo menos duas músicas arrebatadoras: “Gimme Shelter” e “You Can’t Always Get What You Want”. Também tem um cover de “Love in Vain” do bluezeiro maldito robert Johnson. Top!
O QUE MAIS RECOMENDA?
O Circuito Cultural Praça da Liberdade – cheio de museus e espaços culturais na praça mais linda de Belo Horizonte. Precisamos ocupar estes espaços, pois quanto mais gente frequentando, mais exposições importantes por aqui e mais atrações culturais na cidade. Considero o circuito a coisa mais interessante de BH, depois do Mercado Central, claro.