Circular Técnica - Projeto Patógenos

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CIRCULAR TÉCNICA 2018 PROJETO PATÓGENOS



Rafael Galbieri1, Carlos M. P. Vaz2, Dulcimar Pessatto Filho3, Silvio Crestana2, Luiz Gonzaga Chitarra4, Murilo Lobo Junior5, Guilherme L. Amus6, Fernando M. Lamas6, João Flávio Veloso Silva7, Valéria de Oliveira Faleiro7 , Brenno Sarques8 ¹ Instituto Mato-grossense do Algodão, BR 070, Km 266, Cx. Postal 149, CEP 78.850-000, Primavera do Leste-MT. rafaelgalbieri@imamt.com.br; (66) 3498-8841 ² Embrapa Instrumentação Agropecuária, Cx. Postal 741, CEP 13.560-206, São Carlos-SP; ³ Associação Goiana dos Produtores de Algodão (AGOPA), Rua da Pátria nº 230 – CEP 74670-300, Setor Sta. Genoveva – Goiânia – Goiás; (62) 3241-0404 Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Bairro Centenário, CEP 58.428-095, Campina Grande-PB;

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Embrapa Arroz e Feijão, CEP 75.375-000, Santo Antônio de Goiás, GO; 5

Embrapa Agropecuária Oeste, Cx. Postal 661, CEP 79.804-970, Dourados-MS; 6

Embrapa Agrossilvipastoril, Rodovia MT 222, Km 2,5, Cx. Postal 343, CEP 78.550970, Sinop-MT. 7

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Revisão

Sintomas em algodoeiro causados por Meloidogyne incognita. (Fotos: Rafael Galbieri)


ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ALGODÃO EM GOIÁS

Nematoides, mofo branco, murcha de Fusarium, sistemas de cultivo e atributos físicos do solo. Sintomas em algodoeiro causado por mofo branco. (Fotos: Rafael Galbieri)

01. INTRODUÇÃO O estado de Goiás é o terceiro maior produtor de algodão do Brasil, com áreas cultivadas de 30 mil e 26 mil ha, nas safras 2015/16 e 2016/17, respectivamente (Conab, 2018). O algodoeiro é cultivado no estado em sete núcleos de produção: 1: Matrinchã; 2: Palmeiras de Goiás, Santa Helena de Goiás e Tuvelândia; 3: Caiapônia, Montividiu, Paraúna e Rio Verde; 4: Chapadão do Céu; 5: Goiatuba, Itumbiara e Morrinhos; 6: Cristalina e Luziânia e 7: Jataí, Mineiros e Perolândia. Características ligadas ao solo, como presença de patógenos e atributos físicos e 4

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químicos são considerados um dos principais fatores que influenciam a produtividade do algodoeiro e são os mais complexos de serem mensurados, necessitando, portanto, de procedimentos e análises específicas. Sabendo dessas condições e comprometida com a sustentabilidade da produção do algodão no estado, a Associação dos Produtores de Algodão de Goiás (AGOPA) em parceria com Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), EMBRAPA e o apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), organizaram um trabalho para monitorar as áreas de produção, visando à geração de informações


consistentes e sistemáticas que possam subsidiar os produtores associados nas tomadas de decisões no manejo da cultura. Assim, o trabalho teve como objetivo

geral caracterizar a situação das áreas de produção de algodão no estado de Goiás com foco na ocorrência de patógenos, sistema de produção utilizado e atributos físicos dos solos.

02.METODOLOGIA Os procedimentos de coleta de dados e análises realizadas seguiram a metodologia estabelecida por Galbieri et al., (2016), em levantamento similar realizado no estado de Mato Grosso. Durante as safras 2015/16 e 2016/17, foram avaliados todos os talhões cultivados com algodoeiro no estado de Goiás. As coletas das amostras e avaliações de campo foram realizadas quando o algodoeiro estava entre 40 e 110 dias após a semeadura. As amostragens de solos e raízes foram realizadas na linha de plantio, na profundidade de 0-25cm. Para cada amostra, foram selecionados cerca de 10ha, representativos do talhão avaliado. Cada amostra coletada (cerca de 1Kg de solo e 20g raízes) foram compostas por 25 subamostras distribuídas na área selecionada. Em cada amostra foram realizadas análises nematológicas e fitopatológicas (incidência da murcha de Fusarium). Para quantificação de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo branco, cada amostra composta com cerca de 15Kg de solo, foi obtida por 30 subamostragens (gabarito de 0,25m × 0,25m × 0-5cm de profundidade) coletadas nos 10 ha da mesma área selecionada para a amostragem de nematóides. Essas amostras foram encaminhadas para o laboratório e realizado o peneiramento (jogo de peneiras de 6 a 2mm de abertura) para posterior quantificação do número de escleródios presentes. Esse procedimento foi realizado em todas as áreas amostradas do projeto.

amostras não-deformadas foram coletadas com anéis de aço (3cm de altura e 5cm de diâmetro) na profundidade de 10 a 20cm. Medidas de compactação do solo foram também realizadas diretamente no campo com um penetrômetro dinâmico (de impacto) manual. Todas as análises foram realizadas nos laboratórios do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso (APROSMAT), Agroanálise Laboratórios Integrados, Embrapa Instrumentação e pela equipe que coletou as amostras. Adicionalmente, foram obtidas informações sobre o histórico da área, como os sistemas de produção e o manejo agronômico empregado. Cada talhão foi identificado como área de “baixa” (B) ou “alta” (A) produtividade de acordo com o histórico de produção nos registros das fazendas. Após a colheita, foram obtidos os dados reais das produtividades médias de todos os talhões amostrados nas duas safras através de informações cedidas pelos produtores. Como forma de difusão das informações geradas no trabalho, para cada fazenda amostrada foi entregue um relatório, in loco, contendo os dados específicos de cada propriedade, os quais podem ser avaliados e comparados com os dados médios apresentados na presente circular técnica.

Para as análises físicas do solo (densidade, porosidade e teores de areia, silte e argila) as Circular técnica AGOPA - PROJETO PATÓGENOS |

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03. RESULTADOS 3.1 ÁREA AMOSTRADA Durante as duas safras de execução do projeto, foram amostrados 100% da área de produção de algodão no estado, totalizando 357 talhões, sendo 191 na safra 2015-16 e 166 na safra 2016-17. A distribuição desses 357 pontos está indicada na Figura 1. No total foram 39 fazendas amostradas na safra 2015/16 e 37 fazendas na safra 2016/17.

FIGURA 1 Pontos indicando localização dos 357 talhões amostrados com a cultura do algodoeiro nos diferentes núcleos de produção no estado de Goiás, nas safras 2015/16 e 2016/17.

3.2 OCORRÊNCIA, QUANTIFICAÇÃO E DANOS CAUSADOS POR FITONEMATOIDES As análises de fitonematoides realizadas, possibilitaram quantificar as três principais espécies que afetam a cultura do algodoeiro no Brasil. Na média das duas safras amostradas, o nematoide das galhas (Meloidogyne incognita) apresentou a incidência média de 11,2%. Rotylenchulus reniformis foi diagnosticado em 6,7% das amostras e Pratylenchus brachyurus em 95,5% (Figura 2). Da safra 2015/16 para a safra 2016/17, a ocorrência de M. incognita aumentou de 9,4% para 13,3% e R. reniformis foi de 3,1% para 10,8%. Como houve diferenças no número total de talhões amostrados por núcleos de produção de uma safra para outra, esse aumento deve ser avaliado apenas como um indicativo e não de forma absoluta. Há necessidade de acompanhamento de mais safras no tempo, para resultados conclusivos.

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(%) Incidência

100

97,9

FIGURA 2

92,7 95,5

Incidência de diferentes espécimes de fitonematoide no algodoeiro no estado de Goiás nas safras 2015/16 e 2016/17 em 357 talhões amostrados.

80 60

2015/16 2016/17

40 20 0

Média 9,4

13,3 11,2

Meloidogyne incognita

3,1

10,8

6,7

Rotylenchulus reniformis

Pratylenchus brachyurus

As áreas onde ocorreram incidências de M. incognita e R. reniformis estão indicadas nas Figuras 3 e 4. Observa-se que sua distribuição está em quase todos os núcleos de produção, não havendo uma relação geográfica muito clara de maior ou menor incidência. Em 4,6% das áreas houve incidência mista dessas duas espécies, o que torna o manejo mais complexo nessas áreas. Esta incidência mista representou 68% das áreas com R. reniformis e 37% das áreas com M. incognita.

FIGURA 3 Áreas com incidência de Meloidogyne incognita em algodoeiro no estado de Goiás nas safras 2015/16 e 2016/17.

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FIGURA 4 Áreas com incidência de Rotylenchulus reniformis em algodoeiro no estado de Goiás nas safras 2015/16 e 2016/17.

Os dados de quantificação para cada espécie analisada, em 200cm3 de solo e 5g de raiz encontram-se na Tabela 1. As médias das populações encontradas no solo estão muito próximos daqueles obtidos no estado de Mato Grosso (Galbieri et al., 2016), e acima do nível de dano estabelecido para M. incognita (100-200 espécimes por 200cm3 de solo) e R. reniformis (600 espécimes por 200cm3 de solo).

TABELA 1 Números médios, máximos e mínimos de espécimes de fitonematoides em amostras de solo e raiz com presença das espécies selecionadas, analisando o total de 357 amostras nas safras 2015/16 e 2016/17.

População

Meloidogyne

Rotylenchulus

Pratylenchus

incognita

reniformis

brachyurus

Solo1

Raiz 1

Solo

Raiz

Solo

Raiz

Média

1.638

225

1.542

67

59

124

Máxima

9.870

1.370

5.130

200

580

3.980

Mínima

10

10

10

10

10

10

N° de amostras 2

40

40

24

10

252

329

(1) Populações médias calculadas a partir das amostras em que houve ocorrência do nematoide (200 cm3 de solo e 5 g de raiz). (2) Número de amostras com presença das espécies selecionadas.

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Número médio de espécimes (200 cm3 de solo + 5 g de raiz)

Avaliando-se os valores médios das populações de nematoides para as 357 amostras do projeto, separadas em áreas de baixa ou de alta produtividade (por médias históricas), verifica-se que as médias populacionais de M. incoginta e R. reniformis são bem superiores nas áreas consideradas de baixa produtividade, comparativamente com as áreas de alto rendimento. Para P. brachyurus essa diferença não é observada (Figura 5). Isso indica que há forte influência dos nematoides das galhas e reniformes na produtividade do algodoeiro no estado, ou seja, quando eles estão presentes normalmente a produtividade é inferior. Os dados também indicam que não é possível relacionar população de P. brachyurus com perdas diretas no algodoeiro, mostrando com isto, a baixa capacidade desse nematoide em causas perdas de produtividade ao algodoeiro. Por mais que a cultura seja suscetível, há certa tolerância ao P. brachyurus, como relatado em trabalhos anteriores no estado de Mato Grosso (Galbieri et al., 2016).

700

FIGURA 5

600

Densidade populacional média (200 cm3 de solo + 5g de raiz) das espécies de nematoides diagnosticadas no algodoeiro em áreas com histórico de alta e baixa produtividade no estado de Goiás, safras 2015/16 e 2016/17. Média de 289 amostras em áreas de alta e 68 amostras em área de baixa produtividade.

526

500 400

300 200

224 127

100 0

160 140

Alta

77

Baixa Meloidogyne incognita

Rotylenchulus reniformis

Pratylenchus brachyurus

3.3 MURCHA DE FUSARIUM E MOFO BRANCO A murcha de fusarium causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum foi diagnosticada em apenas um talhão, de 357 avaliados nas duas safras do levantamento, ou seja, a doença está em 0,28% da área de produção. Nesse talhão, a ocorrência foi associada com a presença de M. incognita, como é normalmente encontrado em outros levantamentos (Galbieri et al., 2016) No caso do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) sua ocorrência foi elevada, atingindo 33,3% das 357 áreas de produção avaliadas nas duas safras, ou seja sua presença foi diagnosticada em 60 talhões na safra 2015-16 e 59 na safra 2016-17 (Figura 6). Além da alta incidência, a quantidade de escleródios (0-5cm de profundidade) foi alta, com média 17 e variação entre 1,6 e 131 por metro quadro. Esses resultados indicam a necessidade de medidas de manejo para minimizar a disseminação e as possíveis perdas econômicas que podem ser causadas por esse patógeno na cultura do algodoeiro no estado de Goiás.

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FIGURA 6 Áreas com incidência de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) em algodoeiro no estado de Goiás nas safras 2015/16 e 2016/17.

3.4 SISTEMA DE PRODUÇÃO Durante as duas safra, os núcleos com maiores quantidades de talhões semeados com a cultura do algodoeiro no estado foram o 6 (Cristalina e Luziânia) e o 4 (Chapadão do Céu), cada um com cerca de 30% da área total (Tabela 2). A distribuição média da época de semeadura ficou em 50% de algodão safra e 50% de segunda safra. Há, entretanto, diferenças significativas entre núcleos de produção. Por exemplo, 94% da da área do núcleo 6 é primeira safra enquanto que no núcleo 4 somente 38% é semeado nessa condição.

TABELA 2 Distribuição dos talhões amostrados por núcleos de produção de algodão no estado de Goiás e condição de semeadura (safra ou segunda safra), nas safras 2015/16 e 2016/17.

Núcleos Total de talhões Distribuição de produção* amostrados por núcleos (%)

Algodoeiro safra (%)

Algodoeiro 2º safra (%)

1 2

2 19

0,6 5,3

0,0 1,4

0,6 3,9

3

59

16,5

4,2

12,3

4 5

103 23

28,9 6,4

11,2 4,5

17,6 2,0

6

108

30,3

28,6

1,7

7

43

12,0

0,3

11,8

Total

357

100

50

50

*1: Matrinchã; 2: Palmeiras de Goiás, Santa Helena de Goiás e Tuvelândia; 3: Caiapônia, Montividiu, Paraúna e Rio Verde; 4: Chapadão do Céu; 5: Goiatuba, Itumbiara e Morrinhos; 6: Cristalina e Luziânia; 7: Jataí, Mineiros e Perolândia. 10

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Analisando os sistema de produção, envolvendo as culturas utilizadas nas duas safras consecutivas (safra1 / safra2), 21% dos talhões foram conduzidos no sistema Soja-Milho / Soja-Algodoeiro; 18,7% Soja-Milheto / Algodoeiro; 7,8% Soja-Algodoeiro / Soja-Algodoeiro e 7,5% Soja-Milho / Feijão comumAlgodoeiro (Tabela 3). Observa-se que em apenas 18,2% da área, o algodoeiro foi semeado nas duas safras de forma consecutiva de um ano para o outro, indicando que na maioria dos núcleos há rotação da cultura do algodoeiro no estado de Goiás.

TABELA 3 Distribuição dos sistemas de produção utilizado em Goiás nas áreas de produção de algodoeiro nas safras 2015/16 e 2016/17, total de 357 talhões.

Safra anterior a coleta

Na safra da coleta

(%)

Soja-Milho

Soja- Algodoeiro

21,0

Soja-Milheto

Algodoeiro

18,7

Soja-Algodoeiro

Soja-Algodoeiro

7,8

Soja-Milho

Feijão comum- Algodoeiro

7,5

Soja-Milho

Algodoeiro

5,8

Algodoeiro

Milheto-Algodoeiro

4,5

Soja-pousio

Algodoeiro

3,6

Soja-Trigo

Algodoeiro

2,5

Algodoeiro

Algodoeiro

2,2

Soja-Milho

Nabo forrageiro- Algodoeiro

2,0

Soja-Algodoeiro

Feijão comum- Algodoeiro

2,0

Feijão comum-Algodoeiro

Feijão comum- Algodoeiro

1,7

Soja-Sorgo

Algodoeiro

1,4

Outros sistemas de produção*

19,0

*Diferentes sistema com outras combinações e culturas como crotalária, brachiaria, etc.

Entretanto, na maioria das vezes são rotações envolvendo culturas suscetíveis aos principais nematoides do algodoieiro e ao mofo branco, sendo nesses casos recomendável a diversificação de culturas com utilização de espécies não hospedeiras ou que apresentem resistência genética, como no caso de M. incognita. No quadro 1, está a reação de diferentes culturas (mais utilizadas no sistema de produção em Goiás) para alguns patógenos de solo importantes para o algodoeiro.

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QUADRO 1 Reação de culturas aos principais patógenos de solo para o algodoeiro. Culturas selecionadas em função de sua maior utilização nos sistema de produção empregados em Goiás durante o projeto.

Cultura

Meloidogyne incognita

Nematoides Rotylenchulus reniformis

Pratylenchus brachyurus

Mofo branco

Algodoeiro Soja Milho Milheto Sorgo Feijão comum Trigo VERMELHO: suscetível ao patógeno indicado (cultura aumenta a população do nematoide). LARANJA: cultura hospedeira, porém com variação no nível de resistência entre cultivares. VERDE: cultura não hospedeira.

3.5 FÍSICA DO SOLO Os atributos físicos do solo avaliados nesse estudo foram a densidade (Ds; g cm-3), umidade (θ; cm3 cm-3), densidade das partículas, porosidade total (Pt; cm3 cm-3), teores de areia (partículas minerais entre 2 e 0,05mm), silte (0,05 e 0,002mm), argila (menor que 0,002mm) e a resistência do solo à penetração nas profundidades de 0 a 10cm (RP0-10cm; MPa), 10 a 20cm (RP10-20cm), 20 a 30cm (RP20), 30 a 40cm (RP30-40cm), 40 a 50cm (RP40-50cm) e 50 a 60cm (RP50-60cm). Para essas análises, amostras 30cm de solo foram coletadas com 4 anéis de aço (3cm altura e 5cm diâmetro) na profundidade de 10 a 20cm, embaladas em sacos plásticos e enviadas para análise na Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP. A resistência do solo à penetração foi determinada com um penetrômetro dinâmico (Kamaq, Planalsucar/IAA), medindo-se o número de impactos necessários para vencer camadas de 10cm. Para cada talhão foram realizadas 4 medidas, de 0 a 60cm, e a média foi considerada nas análises. O objetivo de se incluir as avaliações físicas do solo nesse estudo foi de se observar o efeito dos atributos físicos dos solos na produtividade do algodoeiro e na presença de patógenos, principalmente da compactação do solo avaliada pela resistência a penetração (RP) e da granulometria ou textura do solo (teores de areia, silte e argila). Observou-se durante o preparo das amostras para a análise granulométrica, com secagem em estufa a 105oC por 24h e peneiramento em malha de 2mm, a presença de cascalho em parte considerável das 357 amostras analisadas. O cascalho encontrado foi descartado e as análises granulométricas referem-se, portanto, à fração de partículas minerais menores que 2mm. A figura 7 apresenta a distribuição das classes texturais das amostras de solo (areia, silte e argila), de acordo com a classificação da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Embrapa, 2013), que estabelece os limites para 13 classes texturais de solos brasileiros. Observa-se a predominância das classes Argilosa (60%) e Muito Argilosa (23%) com ocorrência também das classes Argila Arenosa 12

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(8%), Franco Argilo Arenosa (5% ) e Franco Argilosa (4%). Mais de 80% dos talhões são das classes texturais Argila e Muito Argilosa, indicando que os solos de maior fertilidade natural e capacidade de retenção de água (maiores teores de argila) são utilizados no plantio do algodoeiro no Estado. A Tabela 4 apresenta uma síntese dos valores médios dos parâmetros físicos do solo, produtividade e número de talhões para as diversas classes texturais e agrupadas em talhões de alta (A) e baixa (B) produtividade, de acordo com a classificação de cada fazenda.

FIGURA 7 Triângulo textural com as frações granulométricas de areia, silte e argila (a) e a distribuição percentual das 5 classes texturais presentes (b).

TABELA 4 Valores médios dos atributos físicos do solo, produtividade e número de talhões em função da classe textural, separados em talhões de alta (A) e baixa (B) produtividade.

Textura do solo Parâmetro

unidade

Talhões

número

produtividade

@ / ha

Todos

M uito Argilosa

Franco Argilosa

Argila

Argila Arenosa

Franco Argilo Arenosa

A

B

A

B

A

B

A

B

A

B

A

288

66

69

11

170

43

10

4

23

5

15

B 3

270,5

249,0

272,6

263,3

268,7

261,4

297,4

212,5

282,7

186,0

244,1

172,7

Ds

g cm

-3

1,12

1,11

1,10

1,12

1,09

1,08

1,14

1,05

1,27

1,39

1,36

1,07

Dp

g cm

-4

2,79

2,83

2,76

2,73

2,80

2,84

2,93

2,95

2,78

2,78

2,81

3,09

umidade

cm cm

-3

29,3

28,0

32,0

31,8

30,3

28,9

30,4

23,4

20,7

19,0

19,4

21,8

Pt

cm

3

-4

59,8

60,8

60,3

59,2

61,1

61,9

61,1

64,4

54,2

50,0

51,2

65,3

areia

M Pa

29,8

29,1

19,5

18,1

27,2

26,8

39,9

41,7

51,4

52,2

62,7

48,3

silte

M Pa

17,1

19,4

14,8

15,7

20,0

21,9

22,8

21,4

6,3

4,5

7,5

20,0

ar gila

M Pa

53,2

51,4

65,8

66,2

52,8

51,3

37,3

36,9

42,2

43,3

29,7

31,6

RP

0 - 10 cm

M Pa

1,02

1,17

0,93

1,15

1,05

1,15

1,01

1,18

1,04

1,42

1,10

1,03

RP 10 - 20 cm

M Pa

4,05

4,01

3,63

3,70

4,02

3,63

4,14

4,73

4,89

6,61

4,77

5,13

RP 20 - 30 cm

M Pa

5,09

5,48

4,31

4,37

5,07

5,08

5,68

6,45

6,39

7,97

6,26

9,59

RP 30 - 40 cm

M Pa

4,61

5,18

3,66

3,54

4,55

4,85

5,63

8,87

6,15

6,43

6,52

8,73

RP 40 - 50 cm

M Pa

3,96

4,29

3,03

2,98

3,93

4,05

4,80

6,92

5,37

5,42

5,69

6,93

RP 50 - 60 cm

M Pa

3,32

3,32

2,44

2,27

3,27

3,17

3,76

5,61

4,98

4,30

4,99

4,45

RP 20 - 40 cm

M Pa

4,85

5,33

3,99

3,96

4,81

4,97

5,65

7,66

6,27

7,20

6,39

9,16

3

cm

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De acordo com a Tabela 4 verifica-se que a média da produtividade do conjunto de talhões classificados como B (baixa produtividade) foi 17,5@/ha, abaixo da média geral (266,5@/ha) e o grupo classificado com A (alta produtividade) apresentou uma média de 5@/ha acima da média geral. As diferenças de produtividade entre os conjuntos A e B aumentaram para as classes texturais mais arenosas ou menos argilosas. Para as classes texturais Muito Argilosa e Argila as diferenças de produtividades médias entre A e B foram menores que 10@/ha e para as demais classes as diferenças variaram entre 70 e 90@/ha. Verifica-se claramente o efeito da textura do solo na produtividade do algodoeiro e assim, a classificação textural do talhão pode auxiliar na seleção das melhores áreas de plantio de algodão. Esses resultados justificam o número reduzido de talhões de solos com as texturas mais arenosas (Franco Argilo Arenosa e Argilo Arenosa, principalmente) utilizados na cultura do algodão no Estado. Entretanto, deve-se ressaltar que os altos valores de produtividades médias encontradas para essas classes texturais no conjunto de talhões A (alta produtividade), indicam que um manejo adequado (químico, físico, fitossanitário, irrigação, posicionamento de cultivar, etc.) pode viabilizar altas produtividades mesmo nessas classes de solos mais arenosos. O efeito da compactação do solo foi avaliado pela medida da resistência à penetração (RP) na linha de plantio, entre 0 e 60cm de profundidade. De um modo geral, verifica-se os maiores valores de RP nas camadas de 20 a 30cm e 30 a 40cm. Assim, a RP média na camada 20-40cm foi utilizada para se avaliar o efeito da compactação do solo na produtividade do algodoeiro. Considerando todos os solos, há um aumento de cerca de 0,5MPa para o conjunto de talhões de baixa produtividade (B). Entretanto, para as classes de texturas mais arenosas (Franco Argilo Arenosa, Argilo Arenosa e Franco Argilosa) as diferenças são bem maiores, variando de 1 a 2,7MPa, enquanto que para as classes Muito Argilosa e Argilosa praticamente não houve diferença entre A e B, mostrando um padrão de variação muito semelhante à da produtividade média. Assim, há um forte indicativo de que a compactação do solo também contribuiu com as mais baixas produtividade observadas nesse levantamento. Uma avaliação mais detalhada mostrou que cerca de 23% dos talhões, de um total de 207 que foram possíveis de serem diagnosticados, apresentaram problemas de compactação. Essa avaliação considerou apenas os talhões onde a umidade do solo estava próxima ao seu valor na capacidade de campo e o valor de RP acima de 3MPa, que pode ser considerado como o limiar no qual há séria restrição de crescimento das raízes. O efeito dos parâmetros físicos do solo na população de nematoides e na produtividade pode ser observado na Tabela 5. Observa-se um aumento da população de M. incognita (Mi) para os solos menos argilosos (mais arenosos) e nenhum efeito para P. brachyurus (Pb). Resultados similares, relativos à influência da textura do solo, foram observados para essas duas espécies de nematoides, no levantamento realizado no Mato Grosso (Galbieri et al., 2016). No caso de R. reniformis, observase também um aumento da população com diminuição do teor de argila, que é um resultado não esperado, uma vez que em geral, há uma maior infestação desse nematoide em solos mais argilosos. Entretanto, deve-se considerar que houve ocorrência do nematoide reniforme em apenas 24 talhões, dificultando uma análise mais robusta. Outro aspecto que pode estar contribuindo com esse fato, são os teores relativamente altos da fração silte do solo (Tabelas 4 e 6), comparados com os solos de Mato Grosso, uma vez que diversos trabalhos mostraram que em solos com altos teores de silte há maior incidência de R. reniformis. A compactação do solo também influenciou os nematoides, com redução da população de M. incognita nos solos mais compactados. No caso de P. brachyurus e R. reniformis não há aparentemente uma relação clara com a compactação. 14

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No caso do mofo branco, verificou-se também influência da textura do solo (argila, silte e areia), bem como de outros parâmetros físicos do solo como densidade, porosidade e resistência à penetração na camada mais superficial do solo, na quantidade de escleródio de S. sclerotiorum por metro quadrado (Tabela 6). Verifica-se que quanto mais arenoso e mais compactado o solo, menor é o número de escleródios presentes. De um modo geral, pode-se concluir que a textura do solo e a compactação influenciaram na incidência de M. incognita e mofo branco e na produtividade do algodoeiro. Esses dados evidenciam a importância do monitoramento da compactação e da textura do solo, bem como outros parâmetros físicos do solo.

TABELA 5 Populações médias de Meloidogyne incognita (Mi), Pratylenchus brachyurus (Pb) e

Rotylenchulus reniformis (Rr) no solo e na raiz e produtividade do algodoeiro em diferentes faixas de argila e resistência do solo à penetração (RP) na camada 20-40cm.

A rgila talhões*

Mi

Pb

Rr 3

solo + 5g raiz

P rod.

%

número

< 40

43

413

175

438

255,8

40 - 50

79

175

219

221

269,6

50 - 60

153

161

133

8

265,7

> 60

79

91

129

0

270,8

espécimes em 200 cm

@/ha

* número de talhões para a fai xa especificada de argila RP20-40cm talhões*

Mi

Pb

espécimes em 200 cm

3

Rr

P rod.

solo + 5g raiz

@/ha

MPa

número

< 2,5

68

468

131

11

284,8

2,5 - 4,0

136

147

148

80

280,3

4,0 - 5,5

55

128

150

330

272,0

> 5,5

94

48

191

80

230,1

* número de tal hões par a a f ai xa especificada de RP

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TABELA 6 Proporção de talhões com incidência do mofo branco, valores médios do número de

escleródios de Sclerotinia sclerotiorum para diferentes densidades do solo (Ds) e valores médios de porosidade total (Pt), resistência do solo à penetração (RP) e teores de areia, silte e argila. Ds Talhões* Pt RP0-10cm Argila g cm-3 número cm3cm-3 MPa < 1,0 53 66 0.89 66 1,0 - 1,1 123 62 1,01 62 1,1 - 1,2 104 59 1,10 59 > 1,2 77 53 1,14 53

Silte % 21 20 17 11

Areia 26 25 27 44

2 Ocorrência** Escleródios/m *** mofo branco (%) número 40 8,4 31 7,7 31 4,2 25 2,8

*número de talhões com densidade do solo (Ds) na faixa especificada; **percentual de ocorrência relativo ao número de talhões na faixa de Ds especificada; ***número médio de escleródios por m2 (0-5cm de profundidade), considerando todas as amostras com ou sem a presença do fungo

04. CONSIDERAÇÕES Patógenos e atributos físicos de solo são uns dos principais fatores que vêm influenciando a produtividade do algodoeiro no Brasil. Apesar das dificuldades associadas com levantamentos em larga escala de um grande número de parâmetros físicos e químicos do solo, bem como dos principais patógenos de solo do algodoeiro, os resultados apresentados evidenciam a importância desse tipo de levantamento, como base para formação de estratégias técnicas para a solução de problemas de manejo dos sistemas produtivos dessa cultura.

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O projeto atingiu seu objetivo inicial de relatar a situação de produção de algodão no estado de Goiás e quantificar o problema com nematoides, fungos e física de solo. Como parte da difusão das informações, foram entregues mais de 50 relatórios nas fazendas que participaram do projeto além dos dados médios apresentados na presente circular técnica. Com as informações obtidas e divulgadas, a Associação irá traçar objetivos e metas, de forma técnica, aumentando a possibilidade de sucesso para mitigar os problemas fitossanitários da cultura e garantir produção sustentável de algodão no estado de Goiás.


05. REFERÊNCIAS CONAB (2018) Safras – grãos safra 2016/2017 [acessado 03 Jan. 2018] Disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb/index.php?PAG=131. EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, 3° ed. rev. e ampl., Brasilia: EMBRAPA, 2013, 353p. GALBIERI, R.; VAZ, C. M. P.; ASMUS, G. L.; CRESTANA, S.; MATOS, E. S.; MAGALHÃES, C. A. S. Influência de parâmetros de solo na ocorrência de fitonematoides. In: GALBIERI, R.; BELOT, J. L. (Eds.) Nematoides fitoparasitas do algodoeiro nos cerrados brasileiros: Biologia e medidas de controle. Instituto Mato-grossense do Algodão – IMAmt, Cuiabá, Brazil, pp. 37-89, 2016.

06. AGRADECIMENTOS • À diretoria da AGOPA que aprovou e autorizou a execução do projeto; • Aos produtores e técnicos nas fazendas que participaram do projeto em Goiás; • Ao Instituto Brasileiro do Algodão pelo financiamento dos trabalhos; • À equipe de campo do IMAmt que efetuou as coletas.

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REALIZAÇÃO

APOIO FINANCEIRO

PROJETO: 037.2015.04.1.01

Este material foi financiado com recursos do Instituto Brasileiro do Algodão -IBA



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