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Ano XVI n. 117
Goiânia, setembro de 2012
Fragmentos do tempo
40 anos do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia
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EDITORIAL
40 anos produzindo conhecimento
A PUC Goiás tem o compromisso de preservar o Patrimônio Étnico-Cultural por meio do Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia (IGPA), órgão que há 40 anos desenvolve pesquisas nas áreas de arqueologia, antropologia, meio ambiente e documentação audiovisual, especialmente no Planalto Central brasileiro. Ao longo desse tempo desenvolveu atividades e projetos com várias etnias indígenas no Brasil, sobretudo, com aquelas do estado de Goiás: Avá-Canoeiro, Karajá de Aruanã e Tapuios do Carretão. O IGPA desenvolve pesquisas acadêmicas relacionadas ao patrimônio cultural (material e imaterial) desses povos, com o compromisso ético e político de garantir e proteger suas diferentes manifestações culturais, respeitando suas idiossincrasias e o direito à autodeterminação. Em quatro décadas de existên-
cia, o IGPA, a partir do seu compromisso em preservar o patrimônio cultural, tem reunido importante acervo arqueológico, etnológico e audiovisual. Estas coleções são resultantes de pesquisas, de doações de documentaristas e de colaboradores. A qualidade desta produção científico-cultural é atestada pelos convênios nacionais e internacionais e pelos prêmios conferidos ao longo de décadas. As pesquisas realizadas pelos núcleos de Arqueologia, Antropologia, Meio Ambiente e Acervo Audiovisual são disponibilizadas à comunidade, alunos, professores e pesquisadores para fins didáticos, produções e pesquisas. Por meio do Centro Cultural Jesco von Puttkamer, o público e a comunidade educacional têm a oportunidade de conhecer e reconhecer aspectos da cultura dos povos pré-coloniais e indígenas brasileiros e ter acesso aos resultados das pesquisas acadêmicas desenvolvidas pelo instituto. O IGPA mantém o curso de graduação em Arqueologia, que tem como objetivo estudar os comportamentos dos grupos humanos através dos seus vestígios materiais e seus modos de vida; e o curso de Antropologia que visa estudar as culturas humanas em perspectivas diversificadas: origens, dinâmicas, gênero costumes sociais, etnias, artes e crenças.
Wolmir Therezio Amado Reitor da PUC Goiás
“O IGPA tem essa força de origem: vincula formação de recursos humanos na universidade nas várias áreas do conhecimento, além de desenvolver pesquisa antropológica e arqueológica com abrangência interdisciplinar e rigor científico.” Profa. Sandra de Faria, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
“Ao longo dos anos, o Instituto ampliou e diversificou seu acervo, seja pela atuação de suas pesquisas, seja por meio de doações, dentre elas ressalta-se a coleção audiovisual de Jesco von Puttkamer, doada na década de 1970, e a de Adrian Cowell, adquirida integralmente no ano de 2011.” Profa. Sibeli Viana, diretora do IGPA
EXPEDIENTE Instituição juridicamente mantida pela Sociedade Goiana de Cultura - SGC Momento - Informativo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), produzido pela Divisão de Comunicação Social - Dicom/ GR - Tel.: 3946-1010 Diretora: Carla de Oliveira (GO n. 1076 JP) Redação: Belisa Monteiro (GO n. 2343 JP), Luisa Dias (GO n.01181 JP) e Lívia Amaral (MT n. 1667 JP) Edição: Belisa Monteiro (GO n. 2343 JP) Diagramação: Adriano Abreu Fotografias: Wagmar Alves e Weslley Cruz Impressão: Gráfica da PUC Goiás
ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR DA PUC GOIÁS GRÃO-CHANCELER: Dom Washington Cruz, CP REITOR Prof. Wolmir Therezio Amado VICE-REITORA Profa. Olga Izilda Ronchi PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO Profa. Sônia Margarida Gomes Sousa PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E APOIO ESTUDANTIL Profa. Márcia de Alencar Santana PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Profa. Sandra de Faria
PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL Profa. Helenisa Maria Gomes de Oliveira Neto PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Prof. Daniel Rodrigues Barbosa PRÓ-REITOR DE COMUNICAÇÃO Prof. Eduardo Rodrigues da Silva PRÓ-REITOR DE SAÚDE Prof. Sérgio Antonio Machado CHEFE DE GABINETE Prof. Lorenzo Lago
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PESQUISA
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Instituto comprometido com a ciência O IGPA, na sua história de 40 anos, desenvolve ações de investigação, conservação, preservação e divulgação do patrimônio e da cultura dos povos indígenas brasileiros com ações no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. Vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC Goiás, o Instituto nasceu com o gabinete de Arqueologia, para atender demandas crescentes e específicas advindas do campo da Arqueologia na região Centro-Oeste. De acordo com a diretora do Instituto, profa.
Sibeli Viana, a arqueologia no IGPA privilegia as abordagens amplas de caracterizar e agrupar as diferentes tradições culturais pretéritas, mapear seus deslocamentos espaciais nos diferentes territórios que compõem o ambiente do Cerrado e situá-los cronologicamente no tempo. “A pesquisa sempre esteve presente nas atividades do grupo e os dados etnológicos advindos dessas pesquisas motivou a criação da Área de Etnologia do Instituto, mais tarde a Área de Antropologia”, pontua.
“O IGPA cresce, se especializa, produz um acervo arqueológico, mantém sua inserção social e se qualifica com especialistas, mestres e doutores para uma oferta de cursos de graduação e pós”. Pró-reitora Sandra de Faria
Novas metas Instituto já consolidado, a direção do IGPA visa dar continuidade e ampliar as atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas em décadas de pioneirismo. Em 2013, com recursos financeiros do BNDES, os acervos vão começar a ser digitalizados permitindo assim uma gestão ainda mais qualificada do material acervado. O IGPA tem na pesquisa científica uma de suas principais ações. “O potencial dos contextos arqueológicos, antropológicos e ambientais presentes no Planalto Central brasileiro contribui para o desenvolvimento da investigação científica no Instituto”, avalia a diretora, profa Sibeli. Atualmente o IGPA, seguindo suas quatro linhas de pesquisa: Antropologia Visual, Cinema, Memória e Preservação; Arqueologia Pré-Histórica e Histórica; Gestão do Patrimônio; Saberes Tradicionais e Identidade, Memória e suas interfaces com as sociedades urbanas, desenvolve projetos acadêmicos de arqueologia na Bacia do Rio Araguaia e Palestina de Goiás, trabalhos coordenados pelos professores doutores Julio Rubin de Rubin, bolsista de produtividade do CNPq, e Sibeli Viana (CNPq/PUC Goiás); projetos de gestão do patrimônio arqueológico em áreas de impacto ambiental; projetos de educação patrimonial com ações realizadas no interior ou fora do lócus escolar; projetos de gestão turística (patrimônio cultural) e antropologia indígena, coordenados respectivamente pela professora doutora Eliane Lopes Brenner, coordenadora do Centro Cultural Jesco von Puttkamer, e professora doutora Marlene Moura, do Núcleo de Antropologia do Instituto e o Projeto Imagem e Memória, coordenado pelo prof. dr. Luis Eduardo Jorge.
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Arquivo Mariza Barbosa
EXTENSÃO
Socialização do conhecimento As ações de extensão do IGPA são realizadas no Centro Cultural Jesco von Puttkammer que democratizam e divulgam a produção científica do instituto ao público visitante. O espaço vivencia uma fase de reestruturação e ampliação. O objetivo é atrair novos públicos, incluindo turistas que participam de eventos na capital, além da comunidade escolar que agenda as visitas com a coordenação do Museu. O Centro, com os recursos do BNDES, também abrigará um laboratório de conservação para manter e restaurar as peças arqueológicas. A diretora do IGPA, profa. Sibeli Viana, também adianta que, a partir de 2013, o curso de graduação em Arqueologia terá uma nova grade curricular, na forma de módulos, que facilita o acesso dos alunos a disciplinas obrigatórias e específicas de seu interesse. “É um curso que tem uma procura constante e exige um perfil muito específico”, ressalta Sibeli. O IGPA primeiramente se qualificou para oferecer cursos com titulação, criou cursos de especialização e o Mestrado em Patrimônio Cultural, que funcionou por 10 anos. “Ele cresce, se especializa, produz um acervo arqueológico, mantém sua inserção social e se qualifica com especialistas, mestres e doutores para uma oferta de cursos de graduação e pós. Dessa forma, ele criou uma competência para ofertas de cursos de antropologia, arqueologia e patrimônio cultural’, avalia a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, professora Sandra de Faria. A interação entre ensino e pesquisa levou uma interdisciplinaridade com um corpo docente da área de Antropologia, Arqueologia e Meio Ambiente. “E assim o ensino e a pesquisa qualificam a extensão”, complementou a profa. Sibeli.
“É um curso que tem uma procura constante e exige um perfil muito específico”. Profa. Sibeli Viana
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ENSINO
IGPA forma profissionais que se destacam na área de arqueologia
Arquivo Mariza Barbosa
Arquivo Mariza Barbosa
Criado em 2006, o curso de Arqueologia da PUC Goiás visa formar um profissional capaz de atuar em contextos diversificados, como na prestação de serviços por meio da arqueologia de contrato, em desenvolvimento no País, assim como na pesquisa acadêmica e na gestão do patrimônio arqueológico. De acordo com o coordenador do curso, professor Júlio Cezar Rubin de Rubin, o arqueólogo está preparado para desenvolver projetos de pesquisa que qualifiquem o conhecimento referente ao nosso passado e tem plenas condições de realizar a gestão deste patrimônio. O campo de trabalho do profissional de Arqueologia inclui diversas frentes, principalmente na iniciativa privada, em empresas de estudos de impacto ambiental e instituições de ensino, pesquisa e órgãos públicos ou privados voltados para a área cultural. O curso recebeu avaliação positiva do MEC (recebeu nota 4 em escala de zero a cinco) e conta, atualmente, com 52 alunos. O coordenador informa que os alunos que se formaram na PUC Goiás estão na fase de qualificação profissional e muitos já trazem resultados positivos no campo da pesquisa. “Alguns já terminaram o mestrado, outros estão iniciando o doutorado. No último ano, diversos egressos foram aprovados em programas de mestrado. Alguns estão desenvolvendo pesquisas importantes, cujos resultados deverão ser publicados em breve”, adianta. Egressos do curso estão em programas de pós-graduação na Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal da Grande Dourados e Universidade Federal do Mato Grosso. “Temos egressos que já concluíram o Mestrado em Portugal, um foi escolhido para o Programa Erasmus, estudando no Muséum National Histoire Naturelle – Paris, e outro foi aprovado no concurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”, informou o coordenador.
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ACERVO
Grande centro de documentação arqueológica, etnoló
Filmes, fotografias, áudio e diários de campo mostram histórias dos povos indígena Atualmente, o acervo do IGPA se constitui num grande centro de documentação audiovisual do Brasil, incluindo um vasto material arqueológico, resultante de pesquisas nos estados de Goiás, Tocantins e Bahia.
Filmes Uma extensa coleção de imagens que guarda importantes partes da memória amazônica, indígena e da PUC Goiás. Assim é composto o acervo audiovisual e fotográfico do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA). A unidade abriga mais de sete toneladas de filmes do documentarista Adrian Cowell, 200 latas de filmes do professor e antropólogo visual Wolf Jesco von Puttkamer. Além disso, todos os trabalhos de campo dos cursos de História e Antropologia da universidade e demais eventos que tiveram a participação do IGPA ao longo dos seus 40 anos de existência. São inúmeras coleções que compõem esse banco audiovisual. Além dos filmes, há registros em diários, short lists, arquivos em áudio e fotografias. A técnica responsável pelo acervo fílmico do IGPA, Fernanda Elisa Cosa Resende, explica que a PUC Goiás está fazendo um estudo para viabilizar o acesso da comunidade a esse material. Com a elabo-
ração de um documento com normas para esse acesso, a universidade garante esse uso pela população, mas com segurança e preservação. Ela destaca que esse acervo fílmico contém registros únicos de um período de transformação. “É o relato de 40 anos desses pesquisadores sobre aquelas comunidades. No momento em que elas foram impactadas, na chegada do desenvolvimento”, explica. O documentarista Adrian Cowell, por exemplo, deixou 16 filmes. Os filmes de Adrian constituem o maior acervo de filmes existente sobre a Amazônia brasileira, resultado de produções dirigidas por ele contendo cerca de 3.500 latas de filmes 16 mm, positivos e negativos, além de fitas de áudio e vídeo. Material histórico de valor inestimável, contém registros inéditos e pioneiros sobre as questões ambientais e o processo de ocupação da região amazônica nos últimos 50 anos.
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ógica e audiovisual
as da Amazônia e Brasil Central
Fotografias O acervo fotográfico do IGPA é composto por 140 mil fotografias (slides, negativos e papel). Desse total, 34 mil já foram digitalizadas. De acordo com o pesquisador e professor Paulo César, responsável pela digitalização do acervo fotográfico, a prioridade é digitalizar o material mais antigo, já que as películas têm um tempo útil de vida. O IGPA conta com um Sistema de Gestão do Acervo, que contém todas as informações referentes à fotografia, como descrição, número de identificação, entre outras características que sejam eficazes na hora da busca no sistema. As fotografias, a grande maioria do indigenista Jesco von Puttkamer, revelam elementos materiais e imateriais dos povos indígenas da Amazônia. Os responsáveis pelo arquivo fotográfico não só catalogam, digitalizam e tratam o material fotográfico, como fazem também a seleção das fotos para exposições, documentários e publicações institucionais. Rigor científico, cuidado, sensibilidade e zelo são necessários ao pesquisador que lida com o material. “As fotos revelam um momento
histórico e, ao mesmo tempo em que preocupamos com a qualidade do material, o tratamento da foto vai até um certo limite, pois não podemos interferir na essência, cada foto é única e representa um enfoque, um olhar, um momento”, pontua. Em 1977 o IGPA recebeu a doação do arquivo do documentarista e indigenista Jescon von Puttkamer que tem, aproximadamente, 43 mil slides, 2800 páginas de diários de campo e 1.081.060 pés de filmes referentes a 60 povos indígenas. Gradativamente foram incorporados ao acervo do IGPA doações de filmes documentários em 16mm sobre a Amazônia (1 milhão de pés negativos originais de câmara e 13 filmes editados) do cineasta Adrian Cowell; diários de campo, artefatos indígenas e bibliografia pelo sertanista Acary de Passos Oliveira, relatórios de campo do sertanista Francisco Meirelles e um conjunto de bonecas Karajá, de 1954, colecionadas pelo arqueólogo Mário Ferreira Simões. As doações prosseguem e são enriquecidas cotidianamente pelo resultado dos trabalhos dos pesquisadores do IGPA.
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ACERVO
Peças arqueológicas O acervo arqueológico do IGPA é composto por peças resgatadas em trabalhos de campo realizados por professores e pesquisadores do Instituto desde a década de 1970 até os dias atuais. As peças, provenientes dessas pesquisas, são compostas por fragmentos de vasilhames, material cerâmico e lítico (objetos líticos, como instrumentos, detritos de produção e adornos) e remanescentes ósseos humanos de pesquisas realizadas na década de 1980 e início de 1990. De acordo com a professora Rosicler Theodoro da Silva, pesquisadora do Núcleo de Arqueologia do Instituto, toda peça passa por um processo de higienização, acondicionamento e catalogação, trabalhos que são realizados no Laboratório de Arqueologia, na Área 2 da universidade. “Cada peça é tratada como um diamante. Cada uma tem sua particularidade”, ressalta. As peças posteriormente são analisadas e reanalisadas, de acordo com a dinâmica da própria ciência que exige novas abordagens e olhares. “Existem materiais que foram resgatados na década de 1980 e hoje recebem uma nova análise, uma abordagem mais moderna”, ressalta a professora. Hoje o acervo arqueológico do IGPA está abrigado no Centro Cultural Jesco von Puttkammer e no laboratório do curso de Arqueologia. Diversas pesquisas estão em andamento e o trabalho de campo extrapola os limites da PUC: existem trabalhos de escavação na região de Caiapônia, Palestina de Goiás, Rio Araguaia e Serranópolis, sem mencionar nas aulas práticas ocasionadas por disciplinas do curso de Arqueologia. Arquivo Rosicler Silva
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ACERVO
Museu Jesco von Puttkamer Contar a história dos povos que antecederam a nossa presença nas terras goianas. Esta é a principal função do Centro Cultural Jesco von Puttkamer, localizado no setor Bueno, em Goiânia. O belo casarão guarda as memórias dos povos indígenas e revela, por meio de peças, utensílios e fotografias, as histórias dos principais grupos indígenas de Goiás e do Brasil. Fundado em 2002 pela PUC Goiás, o Centro Cultural Jesco von Puttkamer (ver perfil) tornou a casa da família alemã Puttkamer em Goiânia, refugiada da guerra, em um grande acervo aberto da memória indígena em Goiás e no Brasil. No local, é possível conhecer os resultados das pesquisas e parte dos acervos audiovisuais, arqueológicos e etnográficos do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA). O atual circuito museológico é formado por cinco salas dividas nas seguintes temáticas: Família Puttkamer, Vida de Jesco, Arqueologia Pré-Histórica e Histórica e Povos Indígenas Brasileiros, esta última ocupa dois espaços. Segundo a museóloga Rosângela Barbosa Silva, mestre em Gestão de Patrimônio Cultural e uma das responsáveis pelo acervo do museu, as áreas destinadas à exposição devem, em breve, ser ampliadas para que o Jesco receba mostras temporárias e amplie o público visitante. “Queremos que o museu se torne um ponto turístico de Goiânia para que visitantes de fora possam reconhecer e valorizar a nossa cultura”, explica. O Centro Cultural ainda deve ganhar espaço para exibição de filmes e interatividade com o público. O objetivo da ampliação, segundo Rosângela, é abrir o acervo para o maior número de estudantes e professores, além de auxiliar na formação de pesquisadores das áreas de História, Geografia, Antropologia, Arqueologia e Museologia. Atualmente, o Museu está com a exposição Diálogos interculturais: conhecimento e tecnologia aberta para visitas gratuitas. O espaço, segundo Rosângela, pode receber visitas espontâneas em horário comercial, de segunda à sexta-feira e também visitas agendadas por escolas e grupos. No espaço, também são oferecidas oficinas diversas sobre artesanato indígena e outras. Na programação das semanas do Folclore, dos Povos Indígenas e dos Museus, a equipe sempre oferece agenda diferenciada, além de receber visitantes de todo o Brasil. Rosângela explica que, mesmo diante das mesmas obras, os visitantes experimentam diferentes emoções. “O público sempre traz elementos novos. Então ao refazer uma visita é como voltar a um livro antigo, sempre temos um novo olhar para ele”, conta a museóloga, acostumada a receber estudantes e pesquisadores em visitas repetidas ao Jesco. Além disso, o Centro Cultural conta com vasto acervo ainda inédito, que aos poucos ganha as salas do museu. São peças que remetem a cultura indígena em Goiás e no Brasil, doadas por pesquisadores ou encontradas pelos profissionais da PUC Goiás. Segundo ela, as peças do Jesco têm o papel importante de provocar a reflexão e a discussão da vida social, das problemáticas atuais, tendo como referência a vida dos nossos antepassados.
Perfil Jesco von Puttkamer Jesco von Puttkamer, filho de Wolf Heirich von Puttkamer e Karin Maria Eldof Holm, nasceu em 1919, em Macaé (RJ). Formou-se em química pela Universidade de Breslau, na Alemanha, período em que viveu, como prisioneiro, os horrores da Segunda Guerra Mundial. Fugitivo, Jesco se integrou ao programa de repatriamento de brasileiros. A fotografia surgiu em sua vida através do convite para documentar os campos dos deslocados e registrar os acontecimentos no Tribunal de Nurenberg, feito pelo governo militar da Bavária. Foi correspondente de guerra para jornais norte-americanos e brasileiros. De volta ao Brasil, viajou pelo interior do país e participou dos encontros com sociedades indígenas. Juntamente com os irmãos Villas Boas, Francisco Meireles e outros, participou das frentes de atração aos índios Txukahamãe, Txicão, Suruí, Cinta-Larga, Marúbu, Kámpa, Kaxináwa, Waimiri-Atroarí, Yanomami, Hixkaryana, Urueuwauwau e outros. Dedicou-se, por 40 anos, à arte de fotografar, filmar, gravar e registrar em seus diários o cotidiano de grupos indígenas.
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ACERVO
O legado de Adrian Cowell Na primeira vez que Adrian Cowell (foto) esteve na Amazônia, em 1957, seu objetivo era fazer um filme sobre uma montanha. Ele tinha 23 anos, e seus companheiros de viagem eram pouco mais velhos. Mas a viagem para o Monte Roraima se mostrou muito mais transformadora para a vida desse jovem britânico nascido na China, do que a aventura que ele esperava. Pelos 54 anos seguintes, Cowell viajaria com frequência para a floresta Amazônica, acompanhando de perto a colonização subsequente e a destruição da floresta e dos povos indígenas. O acervo de Adrian Cowell refere-se aos 50 anos de trabalhos na região amazônica. Durante esse período, o cineasta registrou conflitos socioambientais e culturais na Amazônia e denunciou impactos ambientais decorrentes da política desenvolvimentista do governo brasileiro nas décadas de 1970 e 1980. “O trabalho de Cowell não é pontual ou demagógico, ao contrário, seus documentários revelam a sensibilidade e o engajamento político e social de um documentarista compromissado com a defesa da dignidade humana e da preservação ambiental. E na contramão da política nacional desenvolvida na década de 1960 e 1980, denunciou os conflitos sociais, culturais e ambientais em franca expansão na Amazônia, alertando o mundo sobre o futuro nefasto desta região”, analisa a professora Sibeli Viana, diretora do IGPA.
Parceria com a PUC Goiás A relação de Cowell com a região Norte se efetivou e intensificou por meio do Brasil Central, com seu trabalho no Xingu, a partir da década de 1980, e com sua parceria com a então Universidade Católica de Goiás, que concedeu apoio institucional para sua atuação no Brasil, sendo a coprodutora de seus documentários. O pesquisador do IGPA, Vicente Rios, fez parte de sua equipe e se tornou amigo pessoal e cinegrafista de todos os filmes produzidos a partir dessa época na Amazônia. A BBC de Londres e a TV Central da Inglaterra também produziram suas obras. No Brasil, a obra mais conhecida de Cowell é composta pelos cinco filmes que compõe a Década da Destruição. Dentre eles, destaca-se o documentário Matando por Terras, filme que foi exibido pela primeira vez no Brasil, em julho deste ano, na Mostra Cine Sesc, em São Paulo e também será exibido na Semana de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás, em outubro. O acervo de Adrian, composto por cerca de 3 mil latas de filmes, foi doado à PUC Goiás pelo próprio documentarista em vida. O material está em mobiliário adequado, em processo de incorporação e, dado o seu volume, estão em fase de andamento as etapas de troca de embalagens, limpeza, organização sistemática, etiquetagem e alimentação do sistema do banco de dados.
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PRÊMIOS
Trabalho desenvolvido pelo instituto é reconhecido pela Unesco A inestimável importância histórica, antropológica, documental e científica do acervo do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) foi destacada por duas vezes pela Unesco. Em 2009, recebeu o selo Memória do Brasil, que integra o Programa Memória do Mundo. Em 2011, dentro do mesmo projeto, foi reconhecido como Memória da América Latina e Caribe. Agora, o IGPA pleiteia o reconhecimento como Patrimônio da Humanidade. Além disso, o Instituto foi selecionado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) no Edital de Preservação. Entre 300 projetos, a instituição escolheu 19 e o IGPA ficou em segundo lugar. Por meio desse edital, será adquirido o Sistema Mediaportal, composto por um conjunto de equipamentos, hardwares e softwares, que serão utilizados na gestão da informação e digitalização do acervo. O Sistema, também utilizado pela Nasa e outras grandes universidades, oferece segurança intensa contra perda de arquivos. A responsável pelo acervo fílmico da IGPA, Fernanda Elisa Costa Resende, explica que o sistema é o mesmo utilizado pelos bancos. Ele armazena em LTO e tem durabilidade alta. “Nós retardamos o processo de envelhecimento, mas ele não para”, esclarece Fernanda. Ela informa que o Instituto trabalha na preservação do acervo, que fica armazenado em ambiente climatizado constante e com baixa umidade. Parte do arquivo já foi digitalizado com recursos da PUC Goiás e via parceria com a Cinemateca Brasileira.
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RESPONSABILIDADE
Compromisso e respeito às culturas indígenas Desde o início, na década de 1970, o IGPA já tinha uma preocupação voltada para o âmbito da antropologia, quando assumia como compromisso a causa dos povos indígenas no Brasil, de modo especial os de Goiás, a partir do respeito às suas culturas e o fortalecimento de suas identidades e autonomia. Com a incorporação do acervo audiovisual do professor Jesco von Puttkamer, em 1978, às ações do IGPA, o Instituto formou e capacitou profissionais para trabalhar na preservação, conservação e identificação do material, criando, a partir daí, a Área de Etnologia, que, posteriormente, foi transformada em Núcleo de Antropologia. Os pesquisadores participaram dos primeiros contatos com povos indígenas, até então desconhecidos, como os Uru-Eu-Wau-Wau, na região Amazônica e os Avá-Canoeiros, em Goiás. Logo depois, surgiram as pesquisas etnográficas com
os grupos Karajá (Ilha do Bananal e Aruanã), Avá-Canoeiro e, posteriormente, com os Tapuios do Carretão, trabalhos que resultaram em monografias, dissertações e teses de doutorado. “As pesquisas estão direcionadas também para o estudo das relações entre história, patrimônio, memória e identidade de grupos sociais minoritários, investigando as dinâmicas de sua produção, reprodução e transformação dos saberes tradicionais, em contextos rurais e urbanos”, ressalta a pesquisadora Marlene Ossami, do Núcleo de Antropologia do Instituto. Entre estes estudos foram realizadas pesquisas com meninos em situação de rua, portadores de necessidades especiais, catadores de lixo e vítimas do Césio 137. O Núcleo de Antropologia, além da pesquisa, ministra disciplinas de antropologia cultural, social, jurídica e das organizações para diferentes cursos da PUC Goiás.
Semana dos Povos Indígenas Atento às questões que envolvem a problemática dos povos indígenas e com o intuito de divulgar suas lutas e reivindicações, o IGPA realiza, há quatro décadas, a Semana dos Povos Indígenas (SPI), que, outrora denominava-se Dia Nacional do Índio e, posteriormente, Semana do Índio. Assim, são proporcionados encontros, debates, mesas-redondas, oficinas e rodas de conversas com estudantes do ensino superior, professores e lideranças dos povos indígenas, antropólogos, sociólogos, educadores, indigenistas e outros profissionais estudiosos da questão indígena, para fortalecer espaços de expressão pelos quais os múltiplos atores sociais, entre eles a universidade, possam debater e viabilizar possibilidades de subsistência digna e sustentável dos povos indígenas no território nacional. As edições do evento abordam diversos temas, entre eles, o diálogo intercultural, a troca de experiências sobre as questões que afetam a vida dos povos indígenas, a defesa de seus territórios, educação, saúde, meio ambiente, memória e cultura. “ O intuito é expor anseios e desejos, ideias e soluções viáveis
em busca de uma vida sustentável e de inclusão para todos”, explica a professora Marlene. O evento conta com a presença participativa e integradora de representantes indígenas de diferentes etnias e de várias partes do Brasil, como Tapuio, Karajá, Xerente, Apinajé, Krahó, Krahó-Canela, Guarani, Xavante, Kayapó do Sul, Makuxi, entre outros. A repercussão do evento extrapolou os limites da PUC Goiás e conta com diversos parceiros, entre eles o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Secretaria Estadual de Educação (SEE)/Superintendências de Ensino Fundamental e Médio/ GO, Ministério Público Federal/ GO, Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), Systema Naturae Consultoria Ambiental Ltda (Naturae), entre outros. O trabalho realizado pelo IGPA sobre as culturas indígenas será publicado pelo Vaticano. O projeto foi o único escolhido em toda a América Latina pela Congregação para a Educação Católica e será publicado em um livro internacional sobre boas práticas de interculturalidade nas instituições de Educação Católica.