APRESENTAÇÃO
SOBRE OS AUTORES E A TRADUTORA
IRENE VASCO, escritora colombiana, nascida em 1952, filha de mãe brasileira, é autora de dezenas de livros para crianças e jovens, muitos deles detentores de importantes prêmios literários. Há anos dedica sua vida à formação de leitores por todos os cantos de seu país, ministrando cursos e oficinas de leitura. Participa ativamente de programas dirigidos às comunidades indígenas e camponesas, com ênfase na cidadania e na responsabilidade social. Como especialista em literatura infantil e juvenil, participa de congressos e seminários em seu país e no exterior. Com Juan Palomino, publicou o livro Letras de carvão, também pela Pulo do Gato, que recebeu os selos Seleção Cátedra de Leitura da Unesco (PUC-RJ) e Altamente Recomendável FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - IBBY Brasil).
JUAN PALOMINO nasceu no México, em 1984. Formado em Filosofia e Literatura na Universidade do México, ilustrou diversos livros para editoras de vários países. Já recebeu importantes prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Internacional de Ilustração de Bolonha (Bologna Children’s Book Fair), em 2016. Também foi vencedor da quarta edição do Catálogo Ibero-Americano de Ilustração e recebeu o Selo Seleção Cátedra 10 de Leitura da Unesco (PUC-RJ), pelas ilustrações do livro Letras de carvão. Recentemente começou seu próprio programa de ensino de ilustração na Faculdade de Letras e Design da UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México).
MÁRCIA LEITE (tradutora). Nascida no Brasil em 1960, Márcia Leite é escritora de livros de literatura para crianças e jovens e de coleções de livros didáticos na área de Língua Portuguesa. Publicou cerca de 50 títulos por diversas editoras, alguns deles premiados, traduzidos e integrantes de programas, como PNBE e PNLD. Traduziu diversos livros ilustrados para a editora Pulo do Gato, em que atua também como diretora editorial.
Formada em Língua e Literatura Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é educadora com mais de 35 anos de prática escolar.
SOBRE A OBRA
A professora da floresta e a grande serpente é uma narrativa ilustrada que nos convida a embarcar com a protagonista em uma grande aventura. A história começa quando uma professora recém-formada é designada para lecionar no povoado de Delícias, localizado no interior da Floresta Amazônica. O primeiro desafio da jovem professora é chegar ao local de destino. Mas isso é somente o começo da história.
SINOPSE
Uma jovem professora vai trabalhar em uma escola que fica no coração da Floresta Amazônica. Chega animada, carregada de livros, e seus alunos logo se encantam pelas histórias que ela lhes conta.
Um dia, porém, a “grande serpente” desperta e sai carregando tudo o que vê pela frente: casas, plantações, animais e até mesmo a escola da professora e seus livros! Desolada, a jovem descobre, então, que tem mais a aprender com seus alunos e familiares que a ensinar, pois nem todas as histórias e os conhecimentos estão nas páginas de seus livros.
Acostumada à vida urbana e à cultura letrada, a jovem professora viverá um intenso processo de adaptação à realidade e à cultura da comunidade de seus alunos, confrontando-se com valores e conhecimentos de mundo em relação aos quais não está familiarizada e precisará ser “alfabetizada”.
Metáfora da força da natureza, a “grande serpente” representa o poder avassalador do rio e das águas que regem as florestas e a vida de seus habitantes.
Este livro homenageia não apenas as professoras, mas principalmente a cultura e a riqueza das narrativas dos povos da floresta, cujas lendas e riqueza cultural sobrevivem ao tempo por meio da transmissão oral entre as gerações, do respeito aos mais velhos e à sabedoria ancestral.
CATEGORIA
O livro é indicado para estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental (Categoria 1), porém pode ser lido e estudado por crianças de todas as idades, do pré-leitor ao leitor fluente.
Por meio das ilustrações, que complementam sobremaneira o texto verbal, a criança que está se alfabetizando fará uma consistente leitura de imagem e se encantará com a arte de Juan Palomino, com as aventuras da professora e com os mistérios que o cenário da floresta é capaz de proporcionar.
GÊNERO LITERÁRIO
A professora da floresta e a grande serpente é um conto, apresentado num livro ilustrado em que texto e imagens se complementam, de uma maneira que nos leva a pensar nas palavras em sua relação com as imagens e vice-versa. Conto é uma “narrativa breve”, que descreve o que algumas personagens fazem em determinado tempo e num lugar definido. O conto pode ser narrado oralmente ou ser transformado em literatura, como neste livro. De qualquer modo, seja na oralidade, seja na escrita, contar é uma atividade que faz parte da vida humana em todos os tempos e todos os lugares.
TEMAS PRESENTES NA OBRA
• Descoberta de si
• Família, amigos e escola
• O mundo natural e social
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO
E PARA A ALFABETIZAÇÃO
A professora da floresta e a grande serpente é uma história que se passa na Amazônia, e pode ser dividida em duas partes: na primeira parte, o narrador mostra a longa viagem percorrida por uma professora recém-formada até chegar ao destino que lhe foi designado para lecionar. Saindo da cidade, ela rodará muitas horas em um ônibus até chegar ao rio, onde um barco a levará ao local em que precisará seguir de moto até a entrada do vilarejo, para, então, ainda percorrer um bom trajeto a pé e chegar, finalmente, ao povoado em que trabalhará; na segunda parte, o narrador conta como a professora foi recebida, como se apegou a seus alunos, e como tudo se transformou após a “grande serpente” despertar.
Uma característica marcante dessa narrativa é o amor que a protagonista nutre pelos livros e por seu ofício, e que aparece de modo explícito no texto, em ambas as partes da narrativa, tanto na fala do narrador, durante a viagem de barco, quanto na fala da própria protagonista, quando ela os perde:
No barco, alguém lhe emprestou um pedaço de plástico para proteger o caixote de livros da água do rio, que respingava por todos os lados. Os livros, seu maior tesouro, viajavam sãos e salvos. [...]
– Meus livros, meus livros! Tenho de salvar meus livros! – foi o primeiro impulso da professora. Mas ninguém lhe deu atenção.
No dia seguinte, embora ainda chovesse, a terra se mostrava fresca e renovada.
A jovem professora, no entanto, não parava de chorar. O que faria agora sem seus livros? (VASCO, 2021, p. 9, 21 e 23).
No projeto gráfico do livro, há ainda um cuidado em revelar essa preocupação da professora com seus livros evidenciada pela mudança da tipologia e da cor da fonte, que aparece destacada do restante do texto:
A sensibilidade da arte de Juan Palomino também ajuda a reforçar essa relação de amor da professora pelos livros, quando ela é retratada dormindo, antes de partir para a floresta, com livros espalhados sobre a cama e pelo quarto.
De acordo com o Professor Dr. Nicolau Gregorin Filho: no mundo contemporâneo, permeado de tecnologias e relações virtuais com a sociedade, é importante que a criança possa conhecer as relações de afeto com o objeto livro e, além dessas, com os textos que ele veicula (GREGORIN FILHO, 2009).
O livro A professora da floresta e a grande serpente demonstra, desde o princípio da narrativa, a relação de afeto da protagonista pelos livros e pelo conhecimento que guardam. No decorrer dos acontecimentos, revela-se também o entusiasmo que os estudantes da escola da floresta vão desenvolvendo pela hora do conto e pelos livros da professora que, inclusive, levam para suas casas, depois das aulas.
Por sua vez, os alunos trazem para a professora elementos de sua cultura que, a princípio, não são completamente compreendidos por ela.
Quando as crianças avisam a professora, na página 16:
“Professora, a grande serpente está despertando! Ela é perigosa e a escola fica muito próxima ao rio.”
A princípio a professora diz que não existem serpentes gigantes, pensando que as crianças se referiam às lendas da região amazônica, rica em narrativas de cobras como as da Cobra Grande, a da Boiúna, a de Cobra Norato. Cada uma dessas lendas tem uma dimensão simbólica importante para os habitantes da Amazônia, mas também traduzem elementos importantes da vida diária.
A palavra “lenda” vem do latim e significa originalmente “coisas que devem ser lidas” e, por extensão, o que merece atenção. Ensina a Professora Dra. Lúcia Pimentel Goés:
A lenda é sustentada oralmente, cantada em versos tradicionais ou em baladas, e posteriormente escrita. A literatura de cordel inclui muitas histórias lendárias em torno de figuras populares ou da vida política. Na lenda, facto e fantasia são interligados. (GOÉS, 2009, verbete Lenda)
A professora não percebeu que, no aviso das crianças, estava essa relação de fato e fantasia apontada na definição de lenda. Depois, ao perder seus livros de papel, ela caminhará para a constituição de livros que são de todos, em que o que “deve ser lido” e que está na oralidade é fixado.
As relações de afeto são mostradas também no desenlace, quando fica evidente o apreço de todo o povoado pelas lendas, pela sabedoria popular e pelos livros de histórias tecidos e bordados com imagens, miçangas ou palavras.
Essas relações de afeto serão essenciais para desenvolver na criança o gosto pela leitura e a vontade de querer ler mais.
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO
Aprender a ler e a escrever é um longo processo, que se inicia quando a criança é ainda bem pequena e começa a reconhecer e a nomear as letras, a identificar seu próprio nome, a diferenciar letras de outros símbolos, a manusear livros e a entender a diferença entre escrita e ilustração… Chamamos essas práticas de “literacia emergente”, isto é, conhecimentos prévios que a criança vai adquirindo aos poucos, quase sempre de maneira lúdica, muitas vezes em casa, e que formam um conjunto de pré-requisitos de que ela vai precisar para se alfabetizar.
De acordo com a Política Nacional de Alfabetização (PNA), ainda na pré-escola: a criança é introduzida em diferentes práticas de linguagem oral e escrita, ouve histórias lidas e contadas, canta quadrinhas, recita poemas e parlendas, familiariza-se com materiais impressos (livros, revistas e jornais) reconhece algumas das letras, seus nomes e sons, tenta representá-las por escrito, identifica sinais gráficos ao seu redor, entre outras atividades de maior ou menor complexidade. (BRASIL, 2019).
Entre as atividades citadas, destacamos a importância de a criança ter o contato com o “objeto livro” e se apropriar da história narrada, seja ela lida ou contada. Com o “objeto” em mãos, o leitor vai poder explorar o livro em todos os seus aspectos, especialmente por meio da leitura de imagens. Por esse motivo, é importante que o livro seja manuseado pelos estudantes.
Algumas atividades específicas para desenvolver com os alunos em fase de alfabetização a partir da leitura do livro A professora da floresta e a grande serpente constam no capítulo “Atividades complementares e interdisciplinares”, neste Material digital. Jogos e brincadeiras são muito bem-vindos nesta fase, e o fato de contextualizá-los por meio de uma narrativa só aumenta o interesse da criança, seja pelos jogos, seja pelo livro.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
As propostas a seguir estão divididas em:
• ANTES DA LEITURA,
• DURANTE A LEITURA e
• ATIVIDADES PARA DEPOIS DA LEITURA.
Dentro das propostas para depois da leitura, incluímos algumas atividades complementares interdisciplinares, outras visando favorecer e reforçar o processo de alfabetização, além de sugestões envolvendo a literacia familiar.
ANTES DA LEITURA
As atividades que antecedem a leitura são muito importantes para motivar os estudantes a ler ou ouvir uma história. Um aluno curioso e estimulado será muito mais participativo e, assim, uma das principais estratégias antes de se contar uma história é preparar a turma para a narrativa que está por vir.
a) Preparação do ambiente
A preparação do ambiente é uma etapa que precede a execução de qualquer atividade escolar, incluindo o momento de ler um livro para a turma. Com um ambiente tranquilo e acolhedor, certamente a criança vai se sentir mais motivada e preparada para ouvir a história.
Assim, prepare o “canto da leitura” na sua sala de aula ou no espaço de leitura da sua escola com antecedência, se possível com almofadas ou tapetes de E.V.A., para que as crianças estejam bem acomodadas e confortáveis. Afinal, elas vão embarcar em uma grande aventura!
Como grande parte da história se passa no meio da floresta, seria bem interessante contextualizar o tema com uma decoração que simule a floresta na sala de aula, para que a criança “entre” no universo proposto pela narrativa antes mesmo de a história começar. Para isso, prepare com antecedência o ambiente, com algumas folhas secas pelo chão ou tiras de papel crepom verde penduradas no teto, como se fossem cipós. A lousa também pode ser usada para você desenhar ou expor figuras de animais e árvores da floresta. Lembre-se de que a criança tem uma facilidade muito grande de entrar no mundo da imaginação, mesmo com poucos elementos, bastando para isso ser estimulada visual e verbalmente. A intenção da preparação do ambiente é criar um “lugar mágico” onde a história vai acontecer.
b) Preparação das crianças
A preparação das crianças também faz parte desse momento que antecede a leitura. Assim, deixe o ambiente sossegado e prazeroso, minimizando a possibilidade de dispersão durante a escuta.
Antes de apresentar o livro para os alunos, é possível aguçar sua curiosidade fazendo perguntas ou comentários. Crianças curiosas são geralmente muito mais atentas e tendem a se envolver mais com a atividade quando estão motivadas. Por isso, esse momento de preparação é muito importante antes do início da leitura.
Alguns pequenos “rituais” preparatórios podem ser feitos antes da leitura, como sentar em roda, cantar uma música, recitar uma quadrinha de iniciação, apagar as luzes da sala, entre outras. Cada professor pode recorrer à criatividade e ao que funcione melhor com seus alunos para tornar essa atividade um momento muito especial.
Veja um exemplo de poeminha para recitar aos estudantes antes de mostrar o livro às crianças:
Uma história eu vou contar
E você vai se surpreender
Com o que aconteceu
Espere só pra você ver
É a história de alguém
Que saiu pra ensinar
E entrou numa floresta...
Que tal a gente começar?
No caso de A professora da floresta e a grande serpente, o próprio título do livro já evoca estranhamento, curiosidade e, portanto, motivação para leitura. Assim, ao anunciar a leitura e mostrar pela primeira vez o livro às crianças, procure contagiá-las com seu entusiasmo.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades:
(EF15LP02) Estabelecer expectativas em relação ao texto que vai ler (pressuposições antecipadoras dos sentidos, da forma e da função social do texto), apoiando-se em seus conhecimentos prévios sobre as condições de produção e recepção desse texto, o gênero, o suporte e o universo temático, bem como sobre saliências textuais, recursos gráficos, imagens, dados da própria obra (índice, prefácio etc.), confirmando antecipações e inferências realizadas antes e durante a leitura de textos, checando a adequação das hipóteses realizadas.
(EF15LP09) Expressar-se em situações de intercâmbio oral com clareza, preocupando-se em ser compreendido pelo interlocutor e usando a palavra com tom de voz audível, boa articulação e ritmo adequado.
(EF15LP10) Escutar, com atenção, falas de professores e colegas, formulando perguntas pertinentes ao tema e solicitando esclarecimentos sempre que necessário.
DURANTE A LEITURA
De acordo com a BNCC, nas especificações do componente curricular Língua Portuguesa o eixo leitura “compreende as práticas de linguagem que decorrem da interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com os textos escritos, orais e multissemióticos e de sua interpretação, sendo exemplos as leituras para fruição estética de textos e obras literárias”, entre outras (BRASIL, 2018).
Desse modo, no contexto da BNCC, “a leitura é tomada em um sentido mais amplo”, e “o tratamento das práticas leitoras compreende dimensões inter-relacionadas
às práticas de uso e reflexão”. Espera-se, com isso, que o estudante se mostre interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura, e cabe ao professor motivar as crianças para a leitura e ajudar a despertar esse interesse.
Apresentamos abaixo algumas atividades que podem ser feitas durante a leitura do livro, algumas delas imediatamente antes ou depois da primeira leitura; outras podem ser feitas durante as várias leituras que o livro propõe.
É importante ressaltar que os livros ilustrados devem ser explorados em sua totalidade: texto verbal, ilustrações e projeto gráfico. Assim, mais do que ler a história (texto verbal), o professor deve mostrar as imagens e chamar a atenção das crianças para as informações que elas revelam. Muitas vezes, as imagens contam uma narrativa paralela, complementando o texto verbal com elementos que não são descritos na narrativa.
Um exemplo é a imagem de página dupla que mostra o caminho da professora da cidade onde ela vivia até o rio que a levará floresta adentro.
Por meio da leitura de imagem e do projeto gráfico do livro, é possível perceber a passagem da zona urbana (página à esquerda) para a zona rural (página à direita). Em nenhum momento isso é explorado no texto verbal. Procure mostrar, por exemplo, como o trajeto urbano é geométrico e cartesiano se comparado às estradas orgânicas que acompanham a geografia das montanhas.
Por esse motivo, no momento da leitura do livro, é importante fazer pausas na narrativa, para conversar sobre as relações que o texto estabelece com as ilustrações, deixando que as crianças leiam e descubram novas referências nas imagens do livro.
a) Explorando a capa do livro
A capa de um livro nos diz muito sobre o que vamos encontrar em seu interior. Quando as crianças vão procurar um livro para ler na biblioteca ou em uma caixa de leitura, muitas vezes o escolhe pela leitura que faz da capa do livro. Por isso, é sempre importante começar a leitura explorando a capa e a 4ª capa (ou capa
de trás), que muitas vezes é a continuidade da ilustração da capa, formando uma única imagem quando as capas estão abertas, assim como um portal pelo qual o leitor atravessa antes de iniciar a leitura.
Como as crianças leem as imagens antes mesmo de ler o texto verbal, é possível que, olhando para a capa do livro A professora da floresta e a grande serpente, elas reparem na altura das árvores em comparação ao tamanho das pessoas. Mesmo assim, esse é um fato que deve ser comentado pelo professor. A desproporção é proposital, como uma forma de mostrar ao leitor, antes mesmo de iniciar a leitura, a imponência e a força da natureza em comparação ao nosso tamanho e à nossa fragilidade.
Assim, após comentar a ilustração, leia o título da história e pergunte aos alunos se eles imaginam, observando a capa do livro, quem seja a professora. Faça outras perguntas, aguçando a curiosidade das crianças, como: “Se a professora está presente nesta ilustração da capa, onde estará a grande serpente citada no título?”.
Mostre a imagem da capa e da 4ª capa formando uma só imagem e veja se algum aluno percebe a ilustração do rio como “a grande serpente”. Caso ninguém faça essa relação, deixe que no final voltem a analisar a ilustração das capas. Aproveite para ler o texto da 4ª capa (se quiser, neste momento), os nomes dos autores, tradutora e editora.
b) Entrando no livro
Após explorar a capa, o professor pode mostrar as páginas que antecedem a história propriamente dita, como a página de rosto e a primeira ilustração. É interessante que a criança note que essa imagem já remete o leitor à história, conduzindo-o para dentro da floresta, antes mesmo de a história começar. A multiplicidade de cores, as formas das folhas das árvores e da vegetação, os caules e a chuva são elementos que podem ser explorados. Já na página de rosto, os fios que bordadeiras e crianças carregam trazem a ideia de que a história se prolonga para além do livro.
A exploração dessa parte do livro também pode ficar, caso prefira, para uma segunda leitura, ou para o momento em que as crianças estejam com o livro em mãos.
c) Leitura dialogada
A leitura dialogada é uma prática importante para manter as crianças atentas e curiosas, especialmente quando se trata de narrativas mais longas.
Assim, durante a leitura do livro, faça pequenas pausas, retome o que foi lido por meio de questões que garantam a compreensão até aquele momento. Também peça que as crianças falem sobre o que aconteceu ou sobre o que acham que vai acontecer em seguida.
Sempre que possível, nos trechos de diálogo, simule uma entonação, fazendo uma voz diferente para cada personagem. Isso ajuda algumas crianças a compreenderem a diferença entre a fala do narrador e a fala dos personagens.
Durante a leitura, converse com as crianças sobre o vocabulário, explicando o significado de palavras desconhecidas, mas essenciais para a compreensão do texto. Pergunte aos alunos, relendo a frase em que a palavra ou expressão aparece, se alguém sabe seu significado ou se imagina o que ela quer dizer, considerando o contexto em que está inserida.
Chame a atenção para as ilustrações, que complementam e expandem o texto verbal. Muitas situações apresentadas nas imagens não estão escritas por meio de palavras.
A prática da leitura dialogada ajuda a criança a compreender melhor a história, e a extrair dela elementos para diferentes interpretações.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades:
(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio artístico da humanidade.
(EF15LP16) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor e, mais tarde, de maneira autônoma, textos narrativos de maior porte como contos (populares, de fadas, acumulativos, de assombração etc.) e crônicas.
(EF01LP26) Identificar elementos de uma narrativa lida ou escutada, incluindo personagens, enredo, tempo e espaço.
(EF02LP28) Reconhecer o conflito gerador de uma narrativa ficcional e sua resolução, além de palavras, expressões e frases que caracterizam personagens e ambientes.
(EF15LP18) Relacionar texto com ilustrações e outros recursos gráficos.
(EF35LP01) Ler e compreender, silenciosamente e, em seguida, em voz alta, com autonomia e fluência, textos curtos com nível de textualidade adequado.
(EF35LP03) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.
(EF35LP22) Perceber diálogos em textos narrativos, observando o efeito de sentido de verbos de enunciação e, se for o caso, o uso de variedades linguísticas no discurso direto.
(EF35LP26) Ler e compreender, com certa autonomia, narrativas ficcionais que apresentem cenários e personagens, observando os elementos da estrutura narrativa: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e a construção do discurso indireto e discurso direto.
ATIVIDADES PARA DEPOIS DA LEITURA
Apresentamos, a seguir, algumas atividades que podem ser feitas imediatamente após a leitura do livro. Em seguida, sugerimos atividades complementares e interdisciplinares (possíveis de serem adaptadas conforme a idade das crianças) que podem ser realizadas ao longo de vários dias – ou até semanas – e algumas propostas de atividades envolvendo a literacia familiar.
a) Conversa sobre o livro e leitura de imagens
Logo após a primeira leitura, converse com os alunos sobre o texto lido, tire as dúvidas, comente as ilustrações. É sempre importante realizar uma segunda leitura do livro após os estudantes já estarem familiarizados com a narrativa. Para tanto, convide-os observar as ilustrações, as descrições das cenas, as atitudes dos personagens e a sequência temporal dos acontecimentos.
Converse com a turma sobre:
• Quem são os personagens mais importantes para que a história se desenvolva? Como eles são apresentados? (Quem?);
• Em que lugares/locais ocorrem os principais acontecimentos da narrativa? (Onde?);
• Como a passagem do tempo é anunciada durante a história? Que fato divide a história em antes e depois? (Quando?);
• Quais fatos desencadearam os principais acontecimentos da história? A personagem principal vive um conflito que é solucionado pela comunidade. O que aconteceu? Como foi resolvido? (O quê?).
Você pode sugerir que os alunos recontem a história, tendo como apoio as ilustrações. As imagens do livro requerem uma leitura mais detalhada, pois há muitos elementos a serem explorados a cada página, com cenas ilustradas sob diferentes pontos de vista (interiores, exteriores, de cima para baixo, com menos ou mais “zoom” etc.).
Seguem alguns exemplos:
1. O grande rio
Nesta dupla de páginas, chame a atenção dos alunos para rio. Pergunte: o formato do rio se parece com algo que vocês conhecem? Os estudantes certamente vão relacionar o rio ao formato da “grande serpente”. Observe se identificam algum “ser disfarçado” dentro do curso do rio. O que é? Com que se parece?
Peça que os alunos comentem a ilustração, se veem ação humana no meio da floresta; que ação é essa; aproveite para falar sobre o desmatamento das florestas e suas consequências para o meio ambiente e para a humanidade. Convide os estudantes a localizarem o barco levando a professora e perceba se eles notam a presença de animais na mata e no rio.
2. A força da natureza
Ao explorar a capa do livro ou esta página, peça que as crianças comparem o tamanho das pessoas e da floresta. Use esta ou outras páginas do livro para falar sobre a dimensão da Amazônia e a diversidade de vida que nela existe – tanto em espécies vegetais como em espécies animais.
3. O povoado Delícias
Na dupla de páginas que mostra a chegada da professora ao vilarejo Delícias, é possível observar as pessoas do povoado fazendo diversas atividades.
Explore oralmente essas atividades com os alunos, perceba que algumas atividades ou brincadeiras – como pular corda – podem ser comuns a pessoas pertencentes a diferentes culturas.
Aproveite para chamar a atenção das crianças para a linha desenhada que acompanha a personagem desde o seu desembarque da canoa.
4. As linhas
Pode ser que as crianças tenham notado que na página de rosto e em várias páginas do livro aparecem linhas coloridas.
Convide as crianças a encontrarem essas linhas em outras páginas do livro e converse com elas sobre o que podem significar. Em uma leitura mais aprofundada, as linhas coloridas poderiam representar o fio condutor das histórias, que, juntos, como as linhas tecidas por Ariadne ou Penélope, compõem o grande tecido das narrativas. Isso fica mais perceptível quando, depois da tempestade, um grupo de crianças e mulheres se reúne para bordar histórias, fazendo livros de panos, como se tecessem as narrativas.
Deixe, porém, que as crianças relatem suas próprias impressões sobre as ilustrações.
5. A grande fogueira
Nesta parte da história, o narrador nos conta que “reunidos no calor do fogo, à espera de que a chuva passasse e o rio voltasse ao seu curso, as mulheres começaram a narrar suas histórias”.
“Contaram e cantaram enquanto viravam as páginas dos livros de pano. Como a professora não entendia o que diziam, as crianças traduziam para ela as lendas e as histórias sagradas dos habitantes de Delícias”.
Comente com seus alunos sobre a prática de contar histórias ao redor do fogo –ou do fogão da cozinha e de outros recantos em que as pessoas costumam se reunir –, e de como as narrativas orais eram – e ainda são – transmitidas de geração a geração. Pergunte às crianças se elas conhecem algumas lendas e combine um dia para contar lendas às crianças, se possível ao redor de uma fogueira – que pode ser representada simbolicamente (veja mais detalhes sobre essa proposta a seguir, no capítulo Atividades complementares).
Converse com seus alunos sobre a importância das histórias contadas nos tempos em que não havia escrita ou nas sociedades que não a utilizam. Conte às crianças que muitas das histórias que conhecemos hoje, como os contos de fadas, vieram da tradição oral e foram contadas e recontadas por muitas gerações até que, enfim, foram escritas. E é por isso que existem várias versões para um mesmo texto. O mesmo acontece com as lendas do nosso folclore.
6. As lendas e histórias sobre homens, animais, seres fantásticos
Nas páginas finais do livro, explore com seus alunos os animais e figuras humanas que aparecem nas ilustrações; deixe que os estudantes falem sobre o que encontraram e relacionem as imagens a histórias ou lendas que já tenham ouvido. Você pode, em outra situação didática, aproveitar para pesquisar lendas amazônicas.
7. A grande serpente
Convide os estudantes a compararem as duplas de páginas que mostram o rio e a grande serpente. É a mesma ilustração? Que elementos aproximam as duas ilustrações? Que elementos as diferenciam? Há outras imagens em que a figura da grande serpente é sugerida para os leitores (é uma boa hora de explorar novamente a capa aberta).
Comente o final da história e a mudança de opinião da professora – o que ela achava sobre as lendas e como ela passou a ver essas histórias depois. O que fez a jovem mudar seu modo de pensar e a valorizar as histórias que não estão guardadas nas páginas dos livros?
Pergunte aos alunos o que eles acharam do livro, do que mais gostaram. Peça que eles observem a ilustração de como ficou a escola de Delícias após a reconstrução e a comentem. Pergunte: “quem gostaria de estudar em uma escola na floresta? Em que ela se diferencia da sua escola? Por quê?”.
Aproveite para ler os textos informativos localizados após o desfecho: depoimento da autora, biografia dos autores, resumo do livro, dedicatória. Comente que o livro foi traduzido, pois foi escrito em outra língua, e mostre, se for possível, outros livros da autora e do ilustrador, como Letras de carvão (Pulo do Gato, 2016). Explore novamente a capa do livro e veja se as crianças agora percebem “a grande serpente” formada na ilustração completa, especialmente pelas linhas em verde escuro, que formam losangos entrelaçados, como se fossem suas escamas (capa e 4ª capa).
Essas são apenas algumas sugestões; a partir delas, você poderá criar seu próprio percurso de leitura com seus alunos. Este é um livro que convida a várias leituras; em cada uma delas, vamos descobrindo outros elementos para explorar com as crianças. Por isso, é importante que os leitores possam manusear o livro e reler a história quantas vezes quiserem.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nas atividades pós-leitura:
(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio artístico da humanidade.
(EF15LP16) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor e, mais tarde, de maneira autônoma, textos narrativos de maior porte como contos (populares, de fadas, acumulativos, de assombração etc.) e crônicas.
(EF01LP26) Identificar elementos de uma narrativa lida ou escutada, incluindo personagens, enredo, tempo e espaço.
(EF35LP03) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.
(EF02LP28) Reconhecer o conflito gerador de uma narrativa ficcional e sua resolução, além de palavras, expressões e frases que caracterizam personagens e ambientes.
(EF15LP03) Localizar informações explícitas em textos.
(EF15LP04) Identificar o efeito de sentido produzido pelo uso de recursos expressivos gráfico-visuais em textos multissemióticos.
(EF15LP13) Identificar finalidades da interação oral em diferentes contextos comunicativos (solicitar informações, apresentar opiniões, informar, relatar experiências etc.).
(EF15LP18) Relacionar texto com ilustrações e outros recursos gráficos.
b) Atividades complementares e interdisciplinares
As atividades a seguir foram divididas por componente curricular, porém podem ser realizadas de forma integrada, durante as aulas.
Para cada componente curricular, apresentamos uma atividade detalhada e listamos outras atividades possíveis.
• Língua portuguesa •
Uma das dez competências específicas de Língua Portuguesa que se espera para o Ensino Fundamental é que o aluno se envolva:
em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura (BRASIL, 2018).
Com o livro A professora da floresta e a grande serpente, espera-se que as crianças se envolvam tanto com a linguagem literária do livro e com as primorosas
ilustrações de Juan Palomino como com os temas apresentados, incluindo a valorização da cultura indígena e das tradições orais.
Por meio das discussões e conversas após a leitura, esse assunto pode ser abordado e aprofundado pelo professor.
Atividade detalhada – Lendas ao redor do fogo
No livro A professora da floresta e a grande serpente, os habitantes de Delícias contam lendas ao redor do fogo. Assim, uma atividade bem interessante para fazer com as crianças como atividade complementar é sair da sala de aula com os estudantes e fazer uma contação, de preferência de lendas do nosso folclore1 – em roda, ao ar livre.
Para imitar uma fogueira, os alunos podem juntar pedaços de madeira e gravetos e colocar no centro da roda, e o professor pode simular o fogo acrescentando papel crepom ou celofane colorido (vermelho, laranja e amarelo).
Outras atividades possíveis
• Reescrita da história de forma coletiva, tendo o professor como escriba.
• Escrita de uma história em quadrinhos tendo como base o livro A professora da floresta e a grande serpente.
• Dramatização da história com fantoches de vara ou com os próprios alunos como atores.
• Escrita de um livro coletivo de lendas do nosso folclore.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades:
(EF12LP05) Planejar e produzir, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, (re) contagens de histórias, poemas e outros textos versificados (letras de canção, quadrinhas, cordel), poemas visuais, tiras e histórias em quadrinhos, dentre outros gêneros do campo artístico-literário, considerando a situação comunicativa e a finalidade do texto.
(EF01LP25) Produzir, tendo o professor como escriba, recontagens de histórias lidas pelo professor, histórias imaginadas ou baseadas em livros de imagens, observando a forma de composição de textos narrativos (personagens, enredo, tempo e espaço).
(EF15LP14) Construir o sentido de histórias em quadrinhos e tirinhas, relacionando imagens e palavras e interpretando recursos gráficos (tipos de balões, de letras, onomatopeias).
(EF02LP27) Reescrever textos narrativos literários lidos pelo professor.
(EF15LP09) Expressar-se em situações de intercâmbio oral com clareza, preocupando-se em ser compreendido pelo interlocutor e usando a palavra com tom de voz audível, boa articulação e ritmo adequado.
1 Veja algumas sugestões de lendas no site: https://portalamazonia.com/cultura/conheca-as-lendas-da-amazonia-que-mexem-com-imaginario-popular
Acervo pessoal de Laís de A. Cardoso
(EF15LP10) Escutar, com atenção, falas de professores e colegas, formulando perguntas pertinentes ao tema e solicitando esclarecimentos sempre que necessário.
(EF15LP12) Atribuir significado a aspectos não linguísticos (paralinguísticos) observados na fala, como direção do olhar, riso, gestos, movimentos da cabeça (de concordância ou discordância), expressão corporal, tom de voz.
(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio artístico da humanidade.
• arte •
Algumas habilidades e competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental também podem ser desenvolvidas com a leitura do livro, especialmente por meio da leitura de imagens e de atividades artísticas feitas a partir da leitura, de forma a “experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação” (BRASIL, 2018), como nas atividades que propomos a seguir.
Atividade detalhada – Maquete da floresta e do povoado de Delícias
Para essa atividade, os alunos serão convidados a fazer uma maquete da floresta, incluindo o grande rio e o povoado de Delícias, tendo como inspiração as ilustrações do livro.
O trabalho deve ser realizado em grupo, cada um fazendo uma parte para depois formar o “todo”.
A base da maquete pode ser feita com papelão pintado com tinta guache e as árvores, as pessoas e os animais podem ser confeccionados com massinha ou com desenhos feitos em papel ou cartolina. O rio atravessando a floresta em forma de serpente pode ser pintado ou feito com papel laminado ou celofane, ou com pedacinhos de plástico verde picado. Para completar a maquete, os alunos podem fazer ainda a escola e as casinhas dos moradores do povoado.
Outras atividades possíveis
• Leitura e apreciação das imagens do livro.
• Desenho de observação, inspirado nas ilustrações do livro.
• Observação sobre formas, sobreposições de imagens; cores; luz e sombra.
• Desenho de animais usando técnicas variadas.
• Pintura, modelagem em argila, confecção de colares ou outros adereços inspirados na arte indígena2.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades: (EF15AR01) Identificar e apreciar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, cultivando a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.
2 Veja algumas referências em: https://portalamazonia.com/amazonia/conheca-5-elementos-da-arte-indigena
(EF15AR04) Experimentar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia etc.), fazendo uso sustentável de materiais, instrumentos, recursos e técnicas convencionais e não convencionais.
(EF15AR05) Experimentar a criação em artes visuais de modo individual, coletivo e colaborativo, explorando diferentes espaços da escola e da comunidade.
(EF15AR06) Dialogar sobre a sua criação e as dos colegas, para alcançar sentidos plurais.
• CiênCias •
De acordo com a BNCC:
a sociedade contemporânea está fortemente organizada com base no desenvolvimento científico e tecnológico. No entanto, o mesmo desenvolvimento científico e tecnológico que resulta em novos ou melhores produtos e serviços também pode promover desequilíbrios na natureza e na sociedade (BRASIL, 2018).
Assim, é papel do professor ajudar o estudante a organizar suas ideias, estabelecendo relações entre o ambiente natural e a ocupação humana, com respeito e cuidado com o meio ambiente.
O acontecimento que muda a história, no livro – o “despertar da grande serpente” e o fato de ela estar “furiosa” – refere-se ao desmatamento e à ocupação irregular das margens do rio:
“ – Corra, professora, corra! Precisamos alcançar as terras altas. A grande serpente acordou. E ela está furiosa porque os colonos fizeram construções na margem do rio. As chuvas estão vindo do norte e a grande serpente está se aproximando.”
Na área de Ciências da Natureza, a unidade temática “Vida e evolução” propõe: o estudo de questões relacionadas aos seres vivos (incluindo os seres humanos), suas características e necessidades, e a vida como fenômeno natural e social, os elementos essenciais à sua manutenção e à compreensão dos processos evolutivos que geram a diversidade de formas de vida no planeta. (...) Abordam-se, ainda, a importância da preservação da biodiversidade e como ela se distribui nos principais ecossistemas brasileiros (BRASIL, 2018).
Desse modo, o livro A professora da floresta e a grande serpente pode ser um bom ponto de partida para uma pesquisa e atividades mais dirigidas sobre a importância da preservação do meio ambiente, em especial, da Amazônia, e dos principais danos ambientais provocados pela ação do homem.
Atividade detalhada – Pesquisa sobre animais da Amazônia
Uma atividade complementar à leitura do livro na área de Ciências é a pesquisa sobre animais da Amazônia. O ponto de partida para esse trabalho pode ser as ilustrações do livro. Cada criança pode escolher um dos animais que aparece na obra e pesquisar curiosidades sobre ele. Segue um roteiro simples de pesquisa:
• Nome do animal (nome popular, nome científico)
• Características físicas (como ele é, número de patas, cobertura do corpo etc.)
• Hábitos (alimentação, locomoção, se é um animal noturno ou diurno etc.)
• Curiosidades
O trabalho pode ser feito em duplas, em grupos ou individualmente, sempre contando com a ajuda de adultos na indicação e exploração de livros, revistas, sites e outras fontes. As pesquisas realizadas pelos alunos podem ser organizadas em forma de álbum, murais digitais ou cartazes.
Outras atividades possíveis
• Pesquisa sobre a vegetação da Amazônia e plantas medicinais.
• Pesquisa sobre os impactos ambientais provocados pelo desmatamento.
• Leitura de textos informativos sobre animais que vivem na Amazônia.
•Pesquisa sobre cada um dos outros biomas brasileiros (Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa).
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades:
(EF02CI04) Descrever características de plantas e animais (tamanho, forma, cor, fase da vida, local onde se desenvolvem etc.) que fazem parte de seu cotidiano e relacioná-las ao ambiente em que eles vivem.
(EF03CI04) Identificar características sobre o modo de vida (o que comem, como se reproduzem, como se deslocam etc.) dos animais mais comuns no ambiente próximo.
(EF03CI05) Descrever e comunicar as alterações que ocorrem desde o nascimento em animais de diferentes meios terrestres ou aquáticos, inclusive o homem.
(EF03CI06) Comparar alguns animais e organizar grupos com base em características externas comuns (presença de penas, pelos, escamas, bico, garras, antenas, patas etc.).
• atividades para reforçar a aLfabetização •
A alfabetização é um processo longo, que tem início antes mesmo de a criança entrar no 1º ano, e certamente continuará depois.
Assim, alguns jogos e brincadeiras tendo como partida a leitura do livro A professora da floresta e a grande serpente podem ajudar a criança na apropriação da língua escrita e no desenvolvimento da leitura. Entre eles, citamos dois.
Montagem de nomes de animais
Preparação do jogo: Para este jogo, os alunos deverão ter em mãos o livro A professora da floresta e a grande serpente e o professor deve providenciar nomes dos animais presentes nas páginas 30 e 31 do livro, separados em letras ou sílabas, dependendo da fase de alfabetização de seus alunos.
Exemplo:
O objetivo é que a criança, observando as figuras representadas nas páginas 30 e 31 de A professora da floresta e a grande serpente, possa montar os nomes dos animais, com a ajuda do professor. Esta atividade também pode ser feita em duplas.
Inicie a atividade oferecendo nomes mais fáceis de montar, como BOTO, TATU, SAPO, MACACO, JACARÉ, TUCANO, ANTA para encorajar as crianças, deixando os nomes mais difíceis para o final, como MORCEGO, FORMIGA, BORBOLETA, TAMANDUÁ, ONÇA-PINTADA, TARTARUGA, PIRARUCU, SERPENTE, CAMALEÃO, PREGUIÇA etc.
Você pode marcar um tempo para que o trabalho seja feito, ou a atividade termina quando as crianças conseguirem montar cinco palavras, por exemplo.
Após a montagem de cada palavra, as crianças devem registrá-las no caderno ou em folha avulsa e podem aproveitar para desenhar os animais. Depois, você pode usar essa atividade para comparar as palavras montadas quanto ao número de letras, de sílabas, letra inicial e final, vogais e consoantes etc.
Jogo da leitura ou jogo da memória de figuras e palavras
Preparação do jogo: Para este jogo, o professor precisará confeccionar peças de jogo que contenham palavras relacionadas ao livro A professora da floresta e a grande serpente.
Podem ser usados os nomes de animais da atividade anterior ou outras palavras relacionadas ao contexto do livro, como PROFESSORA, ESCOLA, LIVRO, ALUNO, FLORESTA, BARCO, RIO, ÁRVORE, e ainda personagens de lendas, como SACI, CURUPIRA, IARA, BOTO, CAIPORA, entre outros.
Após selecionar 20 palavras relacionadas ao universo do livro, confeccione com os alunos as peças do jogo. Para isso, recorte 20 peças iguais de papelão ou cartolina e cole, de um lado, a palavra escolhida e, do outro, uma imagem que represente aquela palavra. Veja o exemplo abaixo:
As imagens podem ser feitas com desenhos das próprias crianças, e as palavras também, com a ajuda do professor. Quando todas as fichas estiverem prontas, inicie o jogo, seguindo as regras a seguir.
1. Disponha as crianças em roda e coloque todas as fichas em um ou mais montinhos, perto de você, com as imagens viradas para cima e as palavras, para baixo.
2. Escolha cinco palavras para começar. Disponha as cinco fichas no centro da
FLORESTA
roda, com as imagens viradas para cima. As crianças devem nomear as imagens, em voz alta. Exemplo: floresta, boto, barco, borboleta, rio.
3. Em seguida, vire todas as fichas com a imagem para baixo e embaralhe-as. É importante que a criança não saiba onde estão as figuras, e veja somente as palavras escritas, em outra ordem. Por exemplo: rio, barco, floresta, boto, borboleta.
4. Recorde, com as crianças, quais eram as cinco imagens, repetindo os cinco nomes em voz alta. Depois convide uma criança para “adivinhar” onde está escrito, por exemplo, FLORESTA. A criança não alfabetizada geralmente faz associação com a letra inicial, ou faz uma leitura global da palavra, podendo acertar ou não.
5. Acertando, a criança fica com a ficha. Errando, a ficha virada volta para o fim do monte. Em seguida, chame outro aluno para tentar descobrir a próxima palavra. E o jogo segue da mesma forma até que todas as fichas tenham sido “lidas”.
6. Com o centro da roda vazio, faça uma nova rodada, colocando outras cinco figuras e repita o processo, seguindo os mesmos passos e dando oportunidade para os alunos que ainda não tiveram a vez ou que não acertaram na primeira oportunidade. E o jogo prossegue até o término das fichas.
7. Ao término das fichas, ganha o jogo quem tiver acertado mais vezes. Mas o importante não é ganhar ou perder, e sim praticar hipóteses de leitura, fazendo associações.
Observação: Este é um jogo para crianças que ainda não sabem ler, e é muito interessante para o professor poder verificar como está o grau de leitura ou inferência de seus alunos. Para que os alunos leitores não se sintam desestimulados, divida a turma em grupos e, para estes, opte pelo jogo da memória, que explicaremos em seguida.
Jogo da memória e figuras e palavras
No caso de crianças já alfabetizadas, pode-se adaptar a proposta anterior para um jogo da memória envolvendo as mesmas figuras e palavras. Nesse caso, o jogo deve ser confeccionado de forma que o verso das fichas fique sem nenhuma imagem ou figura, e os pares serão formados encontrando-se figura e imagem correspondentes.
FLORESTA RIO BARCO BOTO BORBOLETA
Com o jogo pronto, todas as peças devem ser viradas para baixo e a criança, cada uma na sua vez, vira duas delas, tentando encontrar o par (figura + palavra).
O jogo segue as mesmas regras de um jogo da memória comum e o vencedor é aquele que obtiver mais peças no final.
O objetivo de ambas as atividades é que a criança brinque e se divirta com o repertório de palavras e imagens do livro e ainda possa trabalhar a alfabetização de forma lúdica.
Observação: Ambos os jogos podem ser confeccionados usando-se a letra bastão minúscula em vez da maiúscula, ou mesmo a letra cursiva, aumentando o desafio da leitura.
Habilidades propostas pela BNCC que podem ser desenvolvidas nestas atividades:
(EF01LP02) Escrever, espontaneamente ou por ditado, palavras e frases de forma alfabética –usando letras/grafemas que representem fonemas.
(EF01LP03) Observar escritas convencionais, comparando-as às suas produções escritas, percebendo semelhanças e diferenças.
(EF01LP05) Reconhecer o sistema de escrita alfabética como representação dos sons da fala.
(EF01LP08) Relacionar elementos sonoros (sílabas, fonemas, partes de palavras) com sua representação escrita.
(EF01LP09) Comparar palavras, identificando semelhanças e diferenças entre sons de sílabas iniciais.
(EF01LP11) Conhecer, diferenciar e relacionar letras em formato imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas.
c) Atividades de literacia familiar
Chamamos de “literacia familiar”3 atividades realizadas em parceria com as famílias ou responsáveis, que visam oferecer práticas de leitura e escrita cotidianas, e que proporcionam o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que podem favorecer a alfabetização.
De acordo com a Política Nacional de Alfabetização (PNA): uma das práticas que têm maior impacto no futuro escolar da criança é a leitura partilhada de histórias, ou leitura em voz alta feita pelo adulto para
3 Para saber mais sobre literacia familiar: https://novaescola.org.br/conteudo/18903/literacia-familiar-naosignifica-ensinar-criancas-a-ler-em-casa . Acesso em 13/05/2021.
a criança; essa prática amplia o vocabulário, desenvolve a compreensão da linguagem oral, introduz padrões morfossintáticos, desperta a imaginação, incute o gosto pela leitura e estreita o vínculo familiar (CARPENTIERI et al., 2011) (BRASIL, 2019).
Para o MEC4, as práticas de literacia familiar “estimulam desde cedo a leitura de forma lúdica e participativa, o que faz as crianças chegarem mais preparadas aos anos iniciais do ensino fundamental, além de fortalecer o vínculo familiar”. Além disso, o encorajamento dos pais ou cuidadores e o exemplo que eles dão ao ler para seus filhos são fatores que favorecerão o desenvolvimento das crianças.
Uma forma interessante de praticar a literacia familiar e envolver os responsáveis no trabalho realizado com o livro A professora da floresta e a grande serpente é propor atividades para serem feitas em família. Seguem algumas propostas, que podem ser acrescidas de outras, dependendo do interesse e do desenvolvimento das crianças:
• Fazer com a família uma ilustração (por meio de colagem ou desenho) que represente o seu bairro ou a sua cidade. Trazer a ilustração para a sala de aula, para compartilhar com os colegas e comparar com o povoado Delícias.
• Fazer com a família uma das pesquisas sugeridas neste Material digital sobre os animais da Amazônia, sobre uma lenda etc.
• Fazer uma lista de livros que a criança tem em casa ou que gostaria de ter.
• Inventar uma história que se passa em uma floresta, junto com a família; depois, em classe, as histórias podem ser compiladas em forma de livrinho.
• Enviar o livro A professora da floresta e a grande serpente para casa, para ser lido em família.
SOBRE A AUTORA DESTE MATERIAL
LAÍS DE ALMEIDA CARDOSO é escritora, educadora, bióloga e poetisa. Graduada em Letras e Biologia, fez Mestrado e Doutorado sobre Literatura Infantil na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo. Foi professora alfabetizadora durante 25 anos e há 13 anos orienta professores, trabalhando em sua formação continuada. Nesse meio tempo, escreveu livros didáticos e fez carreira acadêmica.
4 http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/literacia-familiar. Acesso em 15/05/2021.
REFERÊNCIAS
Documentos oficiais
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil. Acesso em 10/05/2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA – Política Nacional de Alfabetização / Secretaria de Alfabetização. Brasília: MEC, Sealf, 2019.
PORTAL Ministério da Educação (MEC) http://portal.mec.gov.br/component/ tags/tag/literacia-familiar. Acesso em 15/05/2021.
Para aprofundar
CEIA, Carlos. E-dicionário de termos literários. Verbete “Lendas” a cargo de Lúcia Pimentel Góes LENDA - E-Dicionário de Termos Literários (https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/ lenda). Acesso em 05/12/2021.
DINIZ, Maria Vitória Costa. “A leitura de imagem no processo de ensino-aprendizagem da educação infantil”, https://www.construirnoticias.com.br/a-leitura-de-imagem-no-processo-de-ensino-aprendizagem-da-educacao-infantil. Acesso em 12/10/2021.
GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura infantil: múltiplas linguagens na formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2009.
MARTINS, Miguel. “Literacia familiar não significa ensinar crianças a ler em casa” In: Revista Nova Escola. https://novaescola.org.br/conteudo/18903/literacia-familiar-nao-significa-ensinar-criancas-a-ler-em-casa . Acesso em 13/05/2021.
Livros sobre lendas amazônicas e histórias de ribeirinhos e povos originários
BORDAS, Marie Ange. Manual das crianças do Baixo-Amazonas. São Paulo: Petrobrás Cultural, 2015.
CARELLI, Rita. Das crianças Ikpeng para o mundo. São Paulo: Sesi Editora, 2018.
JECUPÉ, Kaká Werá. As fabulosas fábulas de Iauaretê. Ilustrações de Sawara. São Paulo: Peirópolis, 2007.
POTIGUARA, Eliane. O pássaro encantado. Ilustrações Aline Abreu. São Paulo: Jujuba, 2014.
VIEIRA, Edithe Carvalho. Amazônia, contos, lendas, ritos e mitos. Brasília: Queen Elisabeth Projecto Editorial, 2010.
Sobre a Amazônia (Acesso em 15/11/2021)
Portal Amazônia: https://portalamazonia.com
Amazônia de A a Z: https://portalamazonia.com/amazonia-az/letra-a Lendas: https://portalamazonia.com/cultura/conheca-as-lendas-da-amazonia-que-mexem-com-imaginario-popular
Gírias e expressões populares em Manaus: https://portalamazonia.com/cultura/amazones-aprenda-30-girias-e-expressoes-que-sao-a-cara-de-manaus
Brincadeiras indígenas: https://portalamazonia.com/amazonia/conheca-brincadeiras-e-jogos-de-diferentes-povos-indigenas
Arte indígena: https://portalamazonia.com/amazonia/conheca-5-elementos-da-arte-indigena
Sobre modos de vida das crianças dos povos originários (Acesso em 05/12/2021)
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