O Brasil em Diva nacional – Acima, a atriz Betty Faria no papel de Salomé no clássico Bye Bye Brasil, comédia de 1979 dirigida por Cacá Diegues que marca uma das décadas mais férteis do cinema brasileiro
Cinema Brasileiro
DISPONÍVEL NO NOW
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m suas mãos Os 118 anos de cinema nacional foram marcados por filmes que retrataram gerações e reconstruíram a História. Agora, eles estão ao alcance do controle remoto para mostrar que o país do futebol também consegue ser o país da sétima arte por Raquel Temistocles* FEVEREIRO+Monet+47
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A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA É A prova de que a velha máxima da grama do vizinho ser sempre mais verde não é bem verdade. Hollywood e seus efeitos especiais que nos perdoem, mas a dramaturgia brasileira sabe contar histórias como ninguém. Da comicidade de Grande Otelo e Oscarito à ousadia sociopolítica de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, o cinema nacional é repleto de gênios incompreendidos que viram nas lentes das câmeras a chance de retratar, sem pudores, o melhor e o pior do povo brasileiro. Podemos até dizer que a trajetória do cinema se confunde com a própria história da sociedade brasileira: a descoberta do seu potencial de produção na chamada “Bela Época” no início do século 20, a imposição dos norte-americanos – no cinema e na política – a partir da década de 1930, a emoção sufocando o formato nos musicais dos anos 40 e 50, a luta pela quebra dos padrões clássicos e a intensa crítica social dos filmes do Cinema Novo nos 60 em pleno período da ditadura, a libertação sexual das mulheres nas comédias eróticas da década de 70, a coragem documentada de Eduardo Coutinho na de 80 com a volta do sistema democrático, o fracasso da Era Collor e da indústria cinematográfica no início dos anos 90, a sua retomada junto com a economia nessa mesma década e a consolidação do cinema nos últimos anos. Todo esse cenário pode ser relembrado agora com algumas histórias marcantes como parte do acervo do NOW (que nos próximos meses também deve disponibilizar mais 30 títulos nacionais). “Esse painel brasileiro está resumido nesses filmes. A problemática nordestina social, política e existencial em A Morte Comanda o Cangaço. A questão religiosa de O Pagador de Promessas. A imigração europeia em O Quatrilho. A
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O cinema brasileiro é sempre visto como um cinema de força, quer seja num momento em que a cinematografia brasileira ainda galgava degraus, quer seja mais recentemente” – Aníbal Massaini Neto 48+Monet+FEVEREIRO
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realidade complexa da bonomia brasileira com Dona Flor e Seus Dois Maridos, e a ascensão social vista no filme Lula, o Filho do Brasil”, analisa o cineasta Luiz Carlos Barreto em entrevista exclusiva à MONET, que completa: “Esses filmes que selecionamos são uma viagem no tempo para quem não viu conhecer o que foi feito e quem viu matar a saudade. É para quem quiser se divertir e se informar. Porque é muito chato você se informar sem se divertir”.
Cinema tropical – Sucessos de público e de crítica, filmes nacionais retornam às telinhas e serão disponibilizados no NOW. 1. Independência ou Morte (1972); 2. O Cangaceiro (1997); 3. O que É Isso, Companheiro? (1997); 4. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976); 5. A Madona de Cedro (1968); 6. Índia, a Filha do Sol (1982)
O foco não é somente relembrar os velhos tempos. A disponibilização desse conteúdo em uma plataforma de video on demand é a chance de acompanhar as mudanças da forma de consumo e tornar o cinema algo mais democrático. Se antes filmes como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) conseguiam mais de 10 milhões de espectadores nos cinemas (o longa de Bruno Barreto somente perdeu esse recorde 34 anos depois para Tropa de Elite 2, de 2010, dirigido por José Padilha, que foi visto por mais de 11 milhões de pessoas), hoje o tempo de permanência de um filme nos cinemas e a pirataria da internet reduzem esse número pela metade. “Os filmes atuais têm essa condicionante de serem efêmeros, porque vêm e não permanecem mais dez semanas em cartaz como antigamente. O espectador vai pela publicidade ou pela pressa, porque daqui a pouco sai de cartaz. Os conteúdos às vezes também são pensados dessa forma, algo que vem como uma avalanche e de repente desaparece”, explica Aníbal Massaini Neto, dono da produtora e distribuidora Cinedistri. Para “Barretão”, como é conhecido pelos colegas de trabalho, facilitar o acesso do público às produções nacionais também permite que as pessoas disponham de mais tempo do que teriam nas salas de cinema para compreender a intenção por trás de cada enredo. “O público não recusa a visão crítica ou a provocação. Quando você faz um filme e coloca um determinado problema como pano de fundo, não está queFEVEREIRO+Monet+49
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rendo que o público tenha o mesmo olhar que você, mas simplesmente que ele incorpore aquele problema e tenha sua própria opinião. O papel do cinema não é ter poder sobre a emoção de quem assiste ao filme. E essa visão crítica está se ausentando do próprio espectador porque ele não tem mais tempo para elaborar isso”, completa. Além dos já citados, os longas Bye Bye Brasil, O que É Isso, Companheiro?, A Madona de Cedro, A Morte Comanda o Cangaço, Independência ou
Morte e O Cangaceiro também estão na lista dos que já podem ser acessados. São produções internacionalmente reconhecidas, como O Pagador de Promessas, que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e O Quatrilho, por exemplo, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em um período que o cinema nacional ainda lutava para se consolidar e passava por uma forte crise de legitimidade e financeira. “O cinema brasileiro é sempre visto como um cinema de força, quer seja em um momento em que a cinematografia brasileira ainda galgava degraus, quer seja mais recentemente. É lógico que aquilo que falta se transforma em um objeto do desejo. E pode ser que o Oscar nesse momento represente isso para compor essa grande galeria, mas a premiação não tem a necessidade de ser vista como a consagração máxima”, afirma Massaini. Os quase 120 anos de história do cinema brasileiro e a importância que ele tem nos quatro cantos do mundo confirmam que não é só de prêmios que se faz uma boa história – não é à toa que o renomado diretor americano Martin Scorsese faz questão de ter cópias dos filmes de Glauber Rocha em sua casa. Motivos para apreciar o cinema nacional não faltam. Agora ficou mais rápido e fácil. *Colaborou Sasha Cruz
O papel do cinema não é ter poder sobre a emoção de quem assiste ao filme. E essa visão crítica está se ausentando do espectador porque ele não tem mais tempo para elaborar isso” – Luiz Carlos Barreto
FOTOS: THINSTOCK E DIVULGAÇÃO
Jeitinho brasileiro – Acima, cenas do filme Lula, o Filho do Brasil (2009) e de O Quatrilho (1995), que também fazem parte do acervo disponibilizado. Ao lado, o cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, que foi o responsável pela aclamada direção de fotografia de Vidas Secas (1963) e Terra em Transe (1967)
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PREP PREPARE O CONTROLE REMOTO
Para celebrar o melhor do cinema brasileiro, dramas, comédias e suspenses ganham espaço merecido na televisão. Confira abaixo as grandes produções do passado com artistas e diretores renomados que estão programados para o NOW Bye Bye Brasil
14. Bela Donna (1998) Dirigido por: Fábio Barreto > Elenco: Eduardo Moscovis, Natasha Henstridge, Andrew McCarthy, Odilon Wagner e Florinda Bolkan
O Beijo no Asfalto
15. Garota Dourada (1984) Dirigido por: Antônio Calmon > Elenco: André de Biase, Bianca Byington, Andréa Beltrão, Sérgio Mallandro e Cláudia Magno 16. O Caçador de Esmeraldas (1979) Dirigido por: Oswaldo de Oliveira > Elenco: Jofre Soares, Glória Menezes, Tarcísio Meira e Roberto Bonfim
1. Bye Bye Brasil (1979) Dirigido por: Cacá Diegues > Elenco: José Wilker, Betty Faria, Fábio Junior e Zaira Zambelli 2. O que É Isso, Companheiro? (1997) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães e Cláudia Abreu 3. A Madona de Cedro (1968) Dirigido por: Carlos Coimbra > Elenco: Leonardo Vilar, Leila Diniz e Anselmo Duarte 4. A Morte Comanda o Cangaço (1960) Dirigido por: Carlos Coimbra e Walter Guimarães Motta > Elenco: Alberto Ruschel, Aurora Duarte, Milton Ribeiro 5. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça 6. Independência ou Morte (1972) Dirigido por: Carlos Coimbra > Elenco: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Dionísio Azevedo e Maria Cláudia 7. Lula, o Filho do Brasil (2009) Dirigido por: Fábio Barreto > Elenco: Rui Ricardo Dias, Glória Pires e Cléo Pires
17. Inocência (1983) Dirigido por: Walter Lima Jr. > Elenco: Fernanda Torres, Edson Celulari, Fernando Torres e Sebastião Vasconcelos 18. O Marginal (1974) Dirigido por: Carlos Manga > Elenco: Tarcísio Meira, Darlene Glória, Vera Gimenez, Carlos Kroeber e Ednei Giovenazzi 19. O Caminho das Nuvens (2003) Dirigido por: Vicente Amorim > Elenco: Wagner Moura, Cláudia Abreu, Sidney Magal, Ravi Lacerda e Carol Castro 20. Uma Aventura do Zico (1999) Dirigido por: Antonio Carlos da Fontoura > Elenco: Zico, Thierry Figueira, Paulo Gorgulho, Eri Johnson e Jonas Bloch 21. Lampião, o Rei do Cangaço (1964) Dirigido por: Carlos Coimbra > Elenco: Leonardo Villar, Vanja Orico, Milton Ribeiro, Dionísio Azevedo e Glória Menezes 22. O Beijo no Asfalto (1980) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Tarcísio Meira, Lídia Brondi, Daniel Filho e Ney Latorraca O Pagador de Promessas
26. Índia, a Filha do Sol (1982) Dirigido por: Fábio Barreto > Elenco: Glória Pires, Nuno Leal Maia, Sebastião Vasconcelos e Pedro Paulo Rangel 27. Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez (1985) Dirigido por: Ivan Cardoso e John Herbert > Elenco: Carla Camurati, Paulo César Grande, Alexandre Frota, Andréa Beltrão e Pedro Cardoso 28. Romance da Empregada (1988) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Betty Faria, Brandão Filho, Neuza Borges e Cândido Damm 29. Forever (1991) Dirigido por: Walter Hugo Khouri > Elenco: Ben Gazzara, Eva Grimaldi, Janet Agren e Corinne Clery 30. As Feras (2001) Dirigido por: Walter Hugo Khouri > Elenco: Nuno Leal Maia, Cláudia Liz, Lúcia Veríssimo, Monique Lafond 31. Menino do Rio (1981) Dirigido por: Antônio Calmon > Elenco: André de Biase, Cláudia Magno, Sérgio Mallandro, Cláudia Ohana e Adriano Reys 32. Histórias que Nossas Babás não Contavam (1979) Dirigido por: Oswaldo de Oliveira > Elenco: Costinha, Adele Fátima, Dênis Derkian e Felipe Levy
8. O Cangaceiro (1997) Dirigido por: Aníbal Massaini Neto > Elenco: Luiza Thomé, Paulo Gorgulho, Ingra Liberato, Jece Valadão e Othon Bastos 9. O Pagador de Promessas (1962) Dirigido por: Anselmo Duarte > Elenco: Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Norma Bengell e Geraldo Del Rey
33. Já não se Faz Amor como Antigamente (1976) Dirigido por: Anselmo Duarte, Adriano Stuart e John Herbert > Elenco: Anselmo Duarte, John Herbert, Hélio Souto e Nádia Lippi
10. O Quatrilho (1995) Dirigido por: Fábio Barreto > Elenco: Alexandre Paternost, Bruno Campos, Glória Pires e Patrícia Pillar
34. Absolutamente Certo (1957) Dirigido por: Anselmo Duarte > Elenco: Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves, Odete Lara e Aurélio Teixeira
12. Bossa Nova (2000) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Amy Irving, Antônio Fagundes, Alexandre Borges, Débora Bloch e Giovanna Antonelli
23. O Bem Dotado, o Homem de Itu (1979) Dirigido por: José Miziara > Elenco: Nuno Leal Maia, Consuelo Leandro, Helena Ramos e Aldine Muller
35. O Noivo da Girafa (1957) Dirigido por: Victor Lima > Elenco: Amácio Mazzaropi, Glauce Rocha e Roberto Duval
24. Amor Bandido (1979) Dirigido por: Bruno Barreto > Elenco: Paulo Guarnieri, Cristina Aché, Paulo Gracindo e Ligia Diniz
36. Chico Fumaça (1958) Dirigido por: Victor Lima > Elenco: Mazzaropi, Nancy Montez e Carlos Tovar
13. Mulher Objeto (1981) Dirigido por: Silvio de Abreu > Elenco: Helena Ramos, Nuno Leal Maia, Kate Lyra, Maria Lúcia Dahl e Hélio Souto
25. Eu (1987) Dirigido por: Walter Hugo Khouri > Elenco: Tarcísio Meira, Christiane Torloni, Bia Seidl, Nicole Puzzi e Walter Forster
37. Fuzileiro do Amor (1956) Dirigido por: Eurides Ramos > Elenco: Amácio Mazzaropi, Luiz de Barros, Terezinha Amayo, Ângela Maria, Daniel Filho, Agildo Ribeiro
11. Pelé Eterno (2004) Dirigido por: Anibal Massaini Neto > Elenco: Pelé
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