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Boa Vida
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Boavida
Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil
Comida e ciclos
Quase tudo na vida deste planeta obedece a ciclos. As estações do ano e o ritmo circadiano (que a todos nós se impõe) são apenas dois exemplos mais evidentes
Mas, será que a culinária também é cíclica? É. Os modismos gastronômicos vêm e vão (nouvelle cuisine, cozinha molecular, dietas de não sei qual país ou região), tradições (charcutaria, defumação) e ingredientes são banidos e/ou resgatados (manteiga ou ovos) e assim por diante.
Quando chega o fi m do ano, uma convenção herdada do calendário usado pelo extinto império romano (na verdade, nenhum ano “acaba”...) muitos elaboram retrospectivas e fazem votos para um futuro melhor ou, no mínimo, menos austero. Vamos combinar aqui entre nós que os últimos fi nais de ano deixaram a desejar... Eu tenho por hábito produzir um “Escrito de Natal” que, apesar do nome, nunca acontece no Natal propriamente dito, mas sim ao longo do ócio laboral que caracteriza o tal “fi nal de ano”. A propósito, nos últimos quarenta e tantos anos, eu não me recordo de ter fi nalizado qualquer um deles. Mesmo assim, o ato de sentar-se para pensar no que passou e no porvir nos ajuda sobremaneira.
Eu não sei bem o porquê, mas o ano que vem vai iniciar um novo ciclo. Como eu disse, nenhum motivo especial do qual eu possa me recordar agora (lembrem-se que a intuição sempre vem antes do raciocínio). O que eu me recordo (por conta de haver encontrado ainda ontem um daqueles meus Escritos de Natal) é que em 2004 eu declarei ofi cialmente o Ano do Risoto. Sim, ao longo daquele referido ano eu me dediquei a estudar diferentes maneiras de fazer risoto. Testei e apurei dezenas de combinações até chegar nos meus clássicos: pera com Brie, camarões com alho e salsa, limão siciliano e o de champagne. Assim, de maneira totalmente imodesta, afi rmo que eu mando bem no assunto. Eu sei fazer risoto.
E o meu risoto favorito surgiu de um acidente culinário. Acredito que era um dia de semana. Eu cheguei em casa de noite, vindo de não sei onde, e a minha geladeira parecia a Antártica: quase só gelo e água. Nada de coisas frescas em abundância (que é a minha dieta). Perdido em um daqueles cantos mais obscuros do refrigerador havia um pedaço de salame italiano artesanal (provavelmente algo que sobrou de um happy hour qualquer). Olhei para aquele naco do que outrora foi um produto nobre, mas que naquele momento parecia lastimável, e resolvi picar tudo em pedaços pequenos. Joguei na panela, fritando o salame com rodelas de alho porró. Acrescentei o arroz carnaroli que estava no armário para refogar com a mistura e depois usei vinho branco. Cozinhei tudo no caldo de vegetais (que estava congelado), acrescentei uma colher generosa de manteiga e queijo grana padano por cima. Acredito que foi uma das melhores coisas que eu já preparei. Eu tentei repetir a receita várias vezes sem sucesso. Até que percebi que o salame precisa estar meio envelhecido para atingir o máximo de sabor no risoto.
Mas a bola da vez são os cogumelos. Você já reparou como a oferta de cogumelos frescos aumentou recentemente? Agora é possível comprar diferentes variedades de cogumelos frescos, higienizados, embalados e entregues na porta da sua casa; basta ligar ou pedir pela internet. Então, o novo ciclo de 2023 será o Ano dos Cogumelos.
E para os leitores que estejam pensando em me criticar eu aviso: melhor se preocupar com as técnicas de preparo de cogumelos do que acompanhar o noticiário de Brasília... Vai por mim.
Bom fi m de ano a todos.