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Moda
from REVISTA ENERGIA
Moda Chique é reutilizar
Foi-se o tempo em que lojas de roupas usadas eram sinônimo de artigos velhos e fora de moda. Atualmente, garimpar peças nesses locais é uma maneira de estar na moda, economizar e contribuir com a sustentabilidade
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Texto Heloiza Helena C Zanzotti Fotos Arquivo pessoal
De acordo com publicação da Agência Brasil, a abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão teve um crescimento de 48,58% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021 (levantamento do Sebrae, com base em dados da Receita Federal). Para a entidade, o aumento do controle fi nanceiro das famílias devido à pandemia de covid-19 e a preocupação cada vez maior com a preservação do meio ambiente estão entre os fatores que impulsionaram o mercado de produtos usados no país.
CONSUMO CONSCIENTE
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), são geradas 175 mil toneladas de resíduos por ano para a produção de roupas no Brasil. Além disso, também são emitidos cerca de 10% dos gases-estufa. E não para por aí. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a indústria têxtil é a segunda em consumo de água e ainda despeja 500 mil toneladas de resíduos por ano nos oceanos. Não é por acaso que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com o que vestem, querem saber de onde vêm as roupas e entendem a importância de um consumo mais consciente. Para Giovanna Gonzales Guerrero, 37, empreendedora e designer de moda, a visão das pessoas em relação à moda e ao consumo mudaram para melhor. “Houve essa transformação, os brechós estão aí como prova disso e hoje em dia oferecem uma experiência muito positiva. Peças com história e signifi cado”.
Ela pontua que além da pessoa garimpar peças que alinhem ao estilo dela, gastará menos também. “O meio ambiente agradece, pois a indústria da moda é a segunda que mais polui (só perde para o setor do petróleo). Entender todo esse impacto ajuda na busca pelo consumo sustentável. Acho que a palavra da vez é desaceleração. Desacelerar um mundo que vinha vindo muito no automático, principalmente na moda. Fast fashions produzindo e descartando tudo muito rápido, sem refl etir nas consequências”, afi rma.
BRECHÓS: UM NOVO CONCEITO
Durante muitos anos, peças usadas foram vistas como roupas surradas, porém, as pessoas estão deixando esse preconceito para trás e estão cada vez mais consumindo esses artigos. Quem comercializa também tem todo cuidado na seleção, como explica Giovanna, sócia proprietária do Breshopping. “No nosso brechó só aceitamos peças em bom estado, limpas e conservadas. Mudar esse conceito em Jaú tem sido um desafi o diário, mas muitas pessoas já aderiram e não relacionam mais brechós ao antigo conceito de roupas baratas porque são velhas. A roupa pode até ser velha, mas se fi cou muito tempo guardada no guarda-roupa de alguém, em bom estado, ela será nova para a outra que se identifi car e comprar. O mais incrível de trabalhar com brechó é essa troca. O que não serve mais no estilo de um, servirá no estilo do outro. Aí a mágica acontece!”. Ela conta que o Breshopping nasceu do seu amor pela moda circular e da experiência profi ssional que teve em Brasília, onde morava e onde trabalhou em um brechó. “Brasília tem muitos e ótimos brechós; espaços modernos e com peças de muita qualidade que serviram de inspiração para mim. Voltei para Jaú depois de alguns anos e reencontrei uma amiga (a Patrícia) que também ama moda, adepta ao consumo sustentável. Entramos juntas nesse projeto e nosso conceito é seguir essa linha de proporcionar às pessoas peças boas e de qualidade com preços acessíveis. Gosto de montar looks com os desapegos e dar dicas também. Infl uenciar em algo positivo na vida das pessoas”.
SLOW FASHION
O conceito de slow fashion (ao pé da letra, “moda devagar”) foi criado nos anos 2000 na Itália. Ao contrário do fast fashion, o movimento propõe uma mudança no estilo de vida, mais saudável e devagar. E essa é uma tendência que veio para fi car. Carina Teruel Bertolotto Ribeiro, 33, fashion designer, empreendedora, formada em negócios da moda e pós-graduada em gestão de projetos, conta que o slow sempre fez parte da sua vida. “Vem de criação. O reaproveitamento sempre foi algo praticado dentro da minha própria casa. Sou apaixonada pela natureza e me questionava de onde vinham e para onde iriam as roupas e coisas que usamos no nosso dia a dia. Comecei a pesquisar mais fundo, fi z cursos sobre o assunto para entender quais eram as possibilidades que tínhamos. A indústria da moda é a segunda que mais polui e também a segunda que mais emprega, além de mover a economia mundial. Foi analisando tudo que decidi que queria fazer algo de qualidade, feminino, elegante, confortável e que respeitasse a natureza e a humanidade”.
PRODUÇÃO ARTESANAL
Carina produz peças novas, mas totalmente artesanais, e diz que seu maior desafi o é encontrar matéria-prima que esteja alinhada ao conceito de sustentabilidade. “A cadeia da moda é muito longa, portanto, muito difícil de ser controlada. Eu não tenho controle de como a matéria-prima foi extraída, quais eram as condições dos trabalhadores, como foi o processo de fi ação até virar o tecido, quanto de carbono produziram. Tenho que confi ar no selo. Aviamentos, por exemplo, não possuem selo. Costumo dizer que faço moda 100% consciente, pois é praticamente impossível ser 100% sustentável. Sua produção tem como base o Ecoprint, ou Impressão Botânica, que é uma técnica natural que utiliza folhas, fl ores e elementos tintórios para criar estampas. “Todo o processo utiliza elementos não poluentes e que podem ser descartados na natureza. É um processo longo e completamente artesanal, que leva em torno 6h para fi car pronto. Cada peça é exclusiva, pois não conseguimos repetir a exata posição dos elementos, mesmo porque não existe nenhuma folha ou pétala igual, ou controlar a intensidade da cor”, esclarece.
VESTIR-SE BEM E GASTAR POUCO
Embora muitas pessoas ainda acreditem que para vestir-se bem é preciso gastar rios de dinheiro, usar peças de grife ou ter um closet abarrotado de roupas, hoje em dia já se entende que a moda quem faz é quem está vestindo. Quanto mais segurança e autoconhecimento, mais a pessoa deixa de gastar com roupas que não têm a ver com seu estilo. Giovanna concorda que estar bem vestida não signifi ca usar roupas caras ou de grifes. “Lógico que podemos ter peças caras, mas também podemos ter peças de brechós que nos deixem tão lindas quanto. O primeiro passo é a pessoa se conhecer, ser fi el ao seu estilo e usar o que realmente gosta, o que lhe cai bem e favorece. Quando identifi camos isso nos sentimos mais felizes e seguras para fazer nossas escolhas em lojas ou brechós”. De acordo com Carina, é importante unir elegância e conforto. “É o que busco quando vou criar. Gosto de coisas bonitas, mas elas precisam ser úteis e confortáveis, pois se não nos sentimos bem, a chance de descarte rápido é grande. Gosto de uma moda atemporal, elegante, feminina e confortável. Eu uso muito a peça piloto antes de liberar a produção, assim, consigo perceber no meu corpo e no meu dia a dia o que precisa ser melhorado. Acredito que a roupa deve se adaptar ao corpo e não o corpo à roupa”.
RESSIGNIFICAR O CONSUMO
O mercado da moda tem passado por grandes transformações e com a pandemia da Covid -19 o consumo vem sofrendo grandes mudanças. O modelo de “produzir-vender-comprar-jogar fora” perdeu espaço e a questão hoje é: precisamos mesmo de tudo que temos?
Entender o impacto da moda no meio ambiente, olhar com outros olhos para aquilo que já possuímos e repensar as necessidades de consumo são imprescindíveis nos dias atuais e os brechós estão aí para ajudar a mudar velhos hábitos. “Com o avanço do mundo digital, hoje os brechós estão em várias plataformas e são uma força! Juntos somos uma potência! Somos a moda do presente e do futuro. Viemos para revolucionar e incentivar a moda sustentável. Temos verdadeiros tesouros esperando para serem ressignifi cados e viverem lindas histórias com as suas novas donas”, destaca a designer Giovanna.
O consumo consciente é uma maneira inteligente de se consumir produtos, bens, serviços, recursos e alimentos que não excedam nossas necessidades e a moda é uma área importante a ser trabalhada nesse quesito. “Ouvi uma vez que a indústria produz aquilo que é comprado. Acredito que a primeira mudança tenha que ser na nossa forma de consumir. A mudança está na mão do consumidor fi nal, de cada um de nós. Hábitos precisam ser alterados, precisamos pensar no coletivo e na natureza. Os recursos têm fi m!”, ressalta Carina.
IDEAL PARA CRIANÇAS
Não há melhor maneira de vestir as crianças do que garimpar peças em um brechó infantil. Como as crianças perdem roupas e sapatos rapidamente, é possível manter um bom guarda-roupa com peças acessíveis, de qualidade e em ótimas condições. Além de outros artigos que elas deixam de usar rapidamente como carrinhos de bebê, banheiras, bebê conforto, entre outros. No caso de bebês, imagine que eles perdem quase tudo a cada seis meses. Não é por acaso que surgem cada vez mais brechós especializados nesse segmento.
ECONOMIA CIRCULAR
Desenvolver produtos já pensando em seu destino fi nal, levando em conta seu ciclo de produção e uma futura reciclagem ou sua decomposição no ecossistema tem tido uma relevância cada vez maior no mundo da moda. Assim também como comprar roupas em brechós, que além de signifi car economia para o bolso e um consumo mais ético, passou a ser sinônimo de uma roupa diferente, exclusiva, cheia de história. Além disso, especialistas em moda mencionam que a maioria das novas tendências são releituras de peças de décadas passadas. E nos brechós é possível encontrar itens incríveis para compor um look elegante. De roupas a sapatos a acessórios.
Luana Magrini Calciolari, 24, esteticista e designer de sobrancelhas
“Desde quando a Maria Fernanda nasceu estou em grupos no Facebook de venda de produtos e artigos usados em bom estado e há aproximadamente um ano comecei a comprar com mais frequência. As vantagens são que muitos produtos teriam valores bem mais altos se comprados em loja convencional. São produtos de marca, que muitas vezes a criança usou uma vez e acaba vendendo por um valor bem abaixo, e os produtos são de qualidade! Costumo comprar roupas e sapatos e a qualidade dos produtos quando comprados em lugares certos são ótimas! Às vezes encontramos produtos novos, sem uso! Tenho certeza que se você achar um lugar de qualidade, com preço justo, você vai fazer ótimas escolhas e com o valor melhor ainda!”
Carolina Magrini Calciolari
Alves, 27, auxiliar de escritório
“Desde quando descobri a gravidez já comprava produtos em brechós e pelo menos uma ou duas vezes ao mês costumo comprar itens para o Miguel. Uma grande vantagem é que os produtos são selecionados, não vendem nada de má qualidade. Fico satisfeita pelo fato de que os produtos são ótimos e também pelos valores. Nessa época que estamos vivendo, onde o preços estão cada vez mais altos, os brechós acabam ajudando bastante”.
Gabriela Ormelese de Mello, 26, esteticista e cosmetóloga
Compro em brechós ou grupos de produtos usados há uns 8 anos. São peças boas, que ainda podem ser muito bem reaproveitadas e também customizadas por um preço incrível. Gosto bastante de jaquetas jeans, a maioria eu compro e customizo. Sempre avalio a qualidade e também se vale a pena comprar. Muitas pessoas ainda veem os brechós como loja de roupas velhas e sem valor, o que não é verdade. Em muitos brechós você consegue garantir roupas muitas vezes de grife e novas, gastando muito pouco e aproveitando 100% das peças”.
Patrícia Volpato, 43, empresária
“Fiz as primeiras compras em lojas de retroca há uns 9 anos. Costumo dar uma olhada nas lojas onde geralmente compro antes de adquirir algum artigo que sei que será de uso rápido, que logo precisará ser trocado novamente e que, a meu ver, nem sempre vale o investimento em um novo. Roupas infantis e livros são um exemplo. Nessas lojas é possível encontrar esses produtos em perfeito estado de uso, sem qualquer defeito. Como vantagem, considero primeiro o custo. Além disso, tem a questão ambiental e social, uma vez que quando passamos adiante ou adquirimos algo nessas condições, além de não descartar, há a possibilidade de ajudar famílias e entidades que recebem doações dessas lojas. Já comprei muitos artigos infantis como roupas de uso diário, brinquedos, além de livros, equipamentos eletrônicos e esportivos”.
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