MENINXS: Um Guia Explicativo

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"Estímulo a que tomem consciência dos condicionamentos sofridos e a não transmiti-los por sua vez e, ao mesmo tempo, a se convencerem de que podem modificá-los." Elena Gianini Belotti, 1975



Aos meus quatro amigos e pilares que me ajudaram muito nesse processo de aprendizagem. Beatriz Futlik, pelas horas maravilhosas de discussões, pela sabedoria e organização. Cassiano Rodrigues, por ser meu tutor e por me mostrar os mais deslumbrantes livros. Thomas Baraldi, pelo companheirismo e paciência. Vitória Tasca, por me fazer acreditar em mim mesma. A minha família, que me fez ser essa mulher que sou hoje. Um agradecimento especial a minha avó, Eloy Farah, que me ensinou a ser forte e a minha mãe, Karin Farah, que me ensinou a ser humilde.



SUMÁRIO Introdução 1. O que é gênero?

1.1 O que é gênero? 1.2 Lógica do patriarcado 1.3 Representatividade 1.4 Por que gênero?

2. Como podemos observar essas diferenças?

pág 11 pág 15 pág 17 pág 23 pág 27

2.1 Socialização 2.2 Cotidiano 2.3 Brinquedos 2.4 Situações 2.5 Conclusão

pág 33 pág 35 pág 41 pág 45 pág 51

3. As consequências

pág 55

Páginas Amarelas

pág 62



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INTRODUÇÃO Este livro é apenas uma obra de referências. Não se trata de um manual de como se deve criar seu filhx, as informações contidas aqui são destinadas a ajudá-lo a tomar decisões sensatas diantes dos problemas de gênero. O objetivo deste trabalho é trazer à tona a discussão sobre gênero com crianças e jovens, numa perspectiva que privilegie a diversidade e a igualdade de direitos. É muito difícil propor resoluções para um determinado problema social quando a sociedade não tem conhecimento do problema, foi desta questão que nasceu este livro. De suas páginas constam textos passionais e inteligentes que foram escritos por pessoas que ajudaram a estabelecer uma maior discussão sobre o assunto. Ele será dividido em três partes, supondo que a primeira contará com uma discussão sobre, “o que é gênero” e o que isso implica, a segunda é uma reflexão sobre a socialização e “como podemos verificar essas diferenças” e a última, e não menos importante,diz respeito “as consequências” de tais implicações. Durante a sua leitura, você também encontrará termos em amarelo. Eles sinalizam conteúdos extras que você encontrará nas páginas amarelas. Ou seja, se você se interessou sobre tal assunto e quer saber mais sobre é só olhar lá.

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O QUE E GENERO?


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O QUE É GÊNERO?

1.1 O QUE É GÊNERO? Gênero, se refere à construção de atitudes e comportamentos tendo como base o que a sociedade atribui como apropriado para o sexo feminino e masculino. ONU mulheres

Gênero não diz respeito ao sexo biológico mas sim as diferenças culturais que nos levaram a enxergar homens e mulheres como pólos diferentes e opostos. Falar sobre gênero é bem mais do que atribuir diferentes funções com base no sexo biológico. Trata-se de uma questão de poder na medida em que a relação entre o masculino e o feminino é desigual e assimétrica.

Mas esse assunto é muito novo! Na verdade ele não é tão novo como muitos imaginam O essencialismo com que se costuma ver o sexo foi posto em questão pela primeira vez em 1792 com a escritora inglesa Mary Wollstonecraft no livro, Reivindicação dos direitos da mulher, escrito em resposta à Constituição Francesa de 1789, que exigia “liberdade, igualdade e fraternidade”, apesar de se basearem nesses conceitos a constituição excluía a mulher como cidadã, guardando para ela um lugar inferior na sociedade. 15


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Depois vieram outros pensadores como John Stuart Mill que em 1869 escreveu a Sujeição das mulheres, a argumentação central do livro está no ataque que o autor faz a tese de que as mulheres são naturalmente inferiores aos homens e por isso elas deveriam se manter afastadas de certos espaços da sociedade, como a política, por exemplo. Porém, apenas em 1949, esse assunto realmente vem a tona com a obra de Simone de Beauvoir, O segundo Sexo, um clássico da literatura feminista, a autora questiona as características tidas como naturais às mulheres como por exemplo: gentileza, recato, instinto maternal, fragilidade, emotividade e sensibilidade. Segundo a filósofa ao tentar atribuir uma essência à mulher, cria-se um lugar definido, e assim ela é aprisionada a um destino fisiológico, psicológico e econômico, que não a permite transcendência.

“Antes que possamos agir para mudar a situação, precisamos saber como ela surgiu e evoluiu e como que ela opera hoje.” Firestone, 1979

QUE TIPO DE SOCIEDADE NÓS VIVEMOS? 16


O QUE É GÊNERO?

1. 2 LÓGICA DO PATRIARCADO Sociedade patriarcal: “É uma estrutura sobre as quais se assentam todas as sociedades contemporâneas. Caracteriza-se pela autoridade imposta institucionalmente, do homem sobre a mulher e filhos no âmbito familiar. Para que essa autoridade possa ser exercida, é necessário que o patriarcalismo permeie toda a organização da sociedade, da produção e do consumo à política, à legislação e à cultura. Os relacionamentos interpessoais e, consequentemente, a personalidade, também são marcados pela dominação e violência que têm sua origem na cultura e instituições do patriarcalismo.” Manuel Castells, 2000

“Famulus quer dizer escravo doméstico e família é o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem.” Engles, 2012

O termo família, foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social, onde esse conjunto de escravos, isso incluia mulher e filhos, são propriedade do homem, isso ocorreu ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão legalizada. Como veremos nas próximas páginas.

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Onde o patriarcado se originou? A ascensão do patriarcado tem ligação com o que entende-se como patrimônio ("Património" vem do latim patrimoniu (patri, pai + monium, recebido). O termo está, historicamente, ligado ao conceito de herança. Também tem a ver com substituição da filiação materna pela paterna. É daí que acarretou por exemplo, no costume de dar ao filho o sobrenome pertencente ao pai. Historicamente falando, a linhagem antes do patriarcado era uterina. Isso quer dizer que: O laço de parentesco era transmitido exclusivamente pelas mulheres, pela facilidade de reconhecer a mãe, já que "mãe é quem pari". Isso não quer dizer que a paternidade não era reconhecida, mas sim que esta tinha um papel de parentesco secundário. Já que não se tinha o controle de quem era o pai biológico (naquela época não se tinha a concepção de monogamia como nós entendemos). Seguindo essa lógica, a concernente à sucessão, faz-se também por via uterina: ou seja, se o homem morre quem herda seus bens é sua mãe, se essa não estiver viva serão seus irmão/ãs uterinos. Já no falecimento da mãe quem herdava seus bens eram seus filhos.

Como que isso se deu? Engels em sua obra, Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, afirma que “as riquezas agora adquiridas criaram relações sociais inteiramente novas”. Iniciou-se com a fundição do minério de ferro, que por sua vez, aumentou a produção do homem, que aumentou consequentemente as suas riquezas. O domínio do homem sobre o ferro possibilitou pela primeira vez a produção do arado de ferro puxado por animais; que tornou possível lavrar a terra em grande escala dando surgimento à agricultura. Com isso, a criação de gado aumentou e, consequentemente, a produção de excedente. Até tal período histórico, a propriedade era simplesmente pessoal. Assim, tudo o que esse novo homem produzia era sua posse. Com o enriquecimento privado dos homens frente às mulheres, surge a preocupação deste com a transmissão de sua herança não mais a suas mães, mas a seus filhos. A moderna herança, portanto, foi viabilizada com a instituição da monogamia (fidelidade), e essa por sua vez "caiu em cima da mulher", quanto às responsabilidades de assegurar a filiação da prole. 18


O QUE É GÊNERO?

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Família, instituições de ensino, instituições religiosas, amigos, espaço de trabalho, meios de comunicação

"O que o homem tem de inato é a flexibilidade (primeiramente, neurônica, e depois, motora) [...] Quando se diz "a bailarina tem instinto de dançar balé", o que ela tem é capacidade motora

Conforme Jean Piaget, a gênese do conhecimento está no próprio sujeito. O psicólogo sustenta a tese de que o pensamento não é inato (não se nasce com), mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto.

• Textos religiosos - Por exemplo na passagem Genesis 2,22 "é da costela que tinha tomado do homem, o senhor Deus fez uma mulher, e levou-a junto ao homem", onde a mulher não é um ser completo mas uma parte do homem. • Caça às bruxas - Nesse episódio, milhões de mulheres foram queimadas. Havendo casos em que 788 das 800 mulheres do local foram condenadas a morrem na fogueira. • Na fala - Nos dias de hoje podemos verificar isso em situações como, quando uma mulher afirma que prefere manter amizades com pessoas do sexo masculino pois “mulher é tudo falsa” ou “mulheres são muito frescas”. Ou quando dizem "você luta como uma menina", mesmo em situações em que mulheres afirmam que se pareciam com meninos pois na infância "adorava subir em árvores, correr, jogar bola e etc". Essas e outras afirmações dão um ar desfavorável à mulher (+ detalhes página 22). A sociedade Patriarcal é ainda uma forma de divisão sexual do trabalho, que se expressa na responsabilização das mulheres pelas tarefas de cuidados (dona de casa) e do homem como provedor

Onde podemos ver essa desvalorização da mulher?

A sociedade patriarcal tem como base uma relação de poder, onde segundo Joan Scott, há uma valorização do masculino em detrimenInato: adj. Que faz parte do indivíduo desde o seu nascimen- to do feminino. to; que nasce com o indivíduo.

Inato é aquilo que é natural e intransponível

Parafraseando Simone de Beauvoir, nós aprendemos a ser homens e mulheres por ações externas e não de um fator biológico ou inato como muitos acreditavam (ou ainda acreditam).

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Ou seja, não existe nada de inato no homem ou na mulher, tudo se é aprendido. Nascemos dotadas e dotados de determinadas capacidades biológicas, mas todo o resto se constrói e vai se formando ao longo da vida.

que usa para dançar balé. Há possibilidade e não potencialidade". Jean Pieget,2012

• Maternidade - É outro fator na carreira das mulheres, segundo o IBGE, elas acabam sendo preteridas em detrimento de seus colegas do sexo masculino. Ao passo que conforme a pesquisadora, Michelle J. Budig da Universidade de Massachusetts-Amherst, a paternidade pode vir a sinalizar ao empregador certas características desejáveis, como comprometimento, responsabilidade e estabilidade. • Violência doméstica - A violência doméstica e o assédio sexual são questões relacionadas. A violência doméstica é uma triste realidade que atinge homens, mulheres e crianças, e que necessita uma abordagem global, porém esta é a forma mais freqüente de violência sofrida pelas mulheres.

Belotti, 1975

“Estas estruturas psicológicas levam a pessoa do sexo feminino a viver com um sentimento de culpa qualquer tentativa para inserir-se no mundo da produção, a sentir-se fracassada como mulher se adere a esse mundo e a sentir-se fracassada como indivíduo se escolhe ao contrário realizar-se como mulher.”

(chefe de família). Mesmo que atualmente o número de homens que realizam atividades domésticas vem crescendo, é notória que a figura feminina ainda é a maioria nessa tarefa. Se observarmos o comportamento dos nossos/as avôs/avós, pais/mães, veremos que a mudança é gradativamente relativa. Além dessa questão das divisões dos afazeres domésticos, a divisão sexual do trabalho tem diversas consequências no modo de vida das mulheres. Como por exemplo: • Falta de independência econômica - Na maioria das vezes que as mulheres são representadas elas ou são casadas ou bem sucedidas, dando a ideia de que só se pode escolher uma das opções.


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Garotos também sofrem Como vimos anteriormente, a sociedade patriarcal diz respeito a valorização do masculino em detrimento do feminino.

Isso não quer dizer que os meninos não sofram dentro dessa lógica, mas sim que eles desfrutam de um maior privilégio em relação às mulheres. É importante ressaltar que: dentro dessa lógica patriarcal, quando um papel feminino é assumido essa desvalorização também acontece, segundo Glaudystton, a “feminilização” da mulher transexual é um fator que as mata. (+ detalhes páginas 63, 68)

"Uma mulher transexual é assassinada porque ela estimula o ódio no homem, no machismo do homem, porque na concepção dele você saiu do ser superior e optou pelo ser inferior. Para eles, você merece ser castigada, você merece morrer. Então seu corpo é violado, é assassinado." Chopelly Glaudystton,

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O QUE É GÊNERO?

1.3 REPRESENTATIVIDADE A ambivalência das meninas em relação ao próprio sexo é confirmada pela escolha que fazem do personagem favorito: 45% das meninas, na verdade, escolhem um homem como personagem para admirar e com qual gostariam de identificar-se, ao passo que apenas 15% dos garotos admiram personagens femininas. Quando então, na enquete, se pergunta aos adolescentes dos dois sexos se desejariam tornar-se um certo personagem masculino, 95% dos garotos respondem que sim, e um terço das meninas também.

Mas porque será que tantas meninas preferem ser meninos? Para responder essa pergunta o psicanalista Sigmund Freud estabeleceu uma teoria de que a mulher tem inveja do falo, porém ao decorrer dos anos, vários discípulos desse grande pensador contestaram essa inveja afirmando que:

"É bastante contestável se “a inveja do pênis” é de fato, como afirma a psicanálise, um elemento da psicologia feminina com raízes nas diferenças anatômicas entre os dois sexos ou não possui ao contrário raízes sociais. Numa palavra, as meninas invejam os garotos porque estes possuem o pênis ou invejam-nos porque, sendo possuidores do pênis, gozam de inúmeros privilégios que elas não possuem?" Belotti, 1975

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Chegando a conclusão que o que faltava à mulher era a representatividade, nas palavras de Marian Wright Edelman:

“Não se pode ser o que não se pode ver.”

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O QUE É GÊNERO?

No caso das histórias infantis, as figuras femininas pertencem a duas categorias básicas: as boas/incapazes e as malvadas.

"Calcula-se que nos contos dos irmãos Grimm 80% das personagens negativas são mulheres. Não existe, por mais que se procure encontrá-la, uma figura feminina inteligente, corajosa, ativa e leal. Mesmo as fadas benfazejas não usam os próprios recursos pessoais, mas um poder mágico que lhes foi conferido e é positivo sem motivos lógicos, assim como nas bruxas é mau. Falta absolutamente a figura de uma mulher cheia de motivações humanas, altruísticos, que escolha lucidamente e com coragem o próprio comportamento." Belotti, 1975

Este conjunto de fatos traduz a incerteza das imagens femininas em nossa sociedade e pode explicar, ao menos em parte, a dificuldade das meninas para aceitar o próprio sexo e identificar-se com ele. Porém, essa questão da representatividade não afeta apenas as meninas. Um exemplo disso é o senso comum de que os meninos devem ser fortes, desprovidos de medo e não devem chorar. Podemos verificar isso no modo como a masculinidade é representada, seja nos esportes, nas forças armadas, na polícia, na indústria do entretenimento.

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O que a maioria deles ensinam é dominação e agressão. Essas são figuras hipermasculinas que os meninos tendem a imitar. O incentivo a hipermasculinização, diz respeito ao reconhecimentos por meio da imposição do medo.

Filmes, letras de musicas, video-games, retratam a imagem da masculinidade associada ao uso da arma de fogo e à disposição de matar, ter dinheiro no bolso e se exibir para algumas mulheres. Pesquisas afirmam que esse doutrinamento leva alguns jovens do sexo masculino a se arriscarem no tráfico de drogas em busca do reconhecimento por meio da imposição do medo. Sendo assim é preciso construir uma imagem civilizada de homem.

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O QUE É GÊNERO?

1.4 POR QUE GÊNERO?

Na década de 1950, a palavra gênero foi incluída no contexto social graças aos movimentos feministas que, então, passaram a empregar o termo gênero ao invés de sexo. Reforçando assim a ideia de que as diferenças entre homens e mulheres não dependiam do sexo biológico e sim de fatores sociais.

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O Caderno de Atividades Gênero e Diversidade na Escola

No dia 17 de maio de 1990, a Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde – OMS, deixou de classificar a homossexualidade como uma doença, um processo que culminou com a retirada do termo “homossexualismo” da lista de doenças mentais. O sufixo “ismo”, da palavra “homossexualismo”, alinhava esta sexualidade à doença. A palavra usada hoje é “homossexualidade”. No dia 22 de março de 1999, no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia instituiu como regra, que os psicólogos não devem exercer qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem devem colaborar com eventos e serviços que proponham “tratamento” e “cura” da homossexualidade. A posição vigente hoje, do ponto de vista científico e ético, é a de que a vivência da sexualidade faz parte da identidade da pessoa e deve ser compreendida em sua totalidade.

Homosexualidade ≠ Homossexualismo

Orientação sexual: São os seus sentimentos, atração, desejo. É comum acreditar que a sexualidade é o que temos de mais “natural” e particular. Ela aparece como uma fonte primordial da identidade de homens e mulheres. A sexualidade, ao contrário do que se pensa, não é uma questão de “instintos” dominados pela natureza ou apenas de impulsos, genes ou hormônios. A sexualidade é, um processo que se desdobra em meio a condições históricas, sociais e culturais específicas. Hoje, são reconhecidos três tipos de orientação sexual: a heterossexualidade; a homossexualidade e a bissexualidade. A heterossexualidade é compreendida comumente como a sexualidade "correta" e esperada (podemos chamar isso de heteronormatividade).

Sexo biológico: São os aspecto anatômico dos órgãos sexuais, parte biológica do corpo que permite a reprodução.

Mas afinal, qual é a diferença entre sexo biológico, gênero e orientação sexual?

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Ou seja, antes mesmo de você nascer já existem expectativas sobre o que você deve ser, fazer, agir e se portar. Isso se chama socialização do gênero.

Belotti, 1975

"Tudo já está realizado em seu destino ligado ao sexo a que pertence."

Gênero: À construção social do sexo anatômico, ou seja, sabemos que há machos e fêmeas na espécie humana. No entanto, a maneira de "ser homem" e de "ser mulher" diz respeito a um intenso aprendizado baseado nas expectativas que a cultura de uma sociedade tem em relação a cada sexo.


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Sessão de Cinema adultos:hz

Always #LikeAGirl- Direção: Lauren Greenfield (2014)

What is your Hope For Our Daugthers? - Direção: Carey Mulligan (2015) Bata nela- Direção: Luca Lavarone (2015) O Desafio da Igualdade - Plan Internacional (2016) As Sufragistas - Direção: Sarah Gavron(2015) Miss Representation - Direção: Jennifer Siebel (2011) The Mask You Live In - Direção: Jennifer Siebel (2015) Amor? - Direção: João Jardim (2011) Billy Elliot - Direção: Stephen Daldry (2000) Tomboy - Direção: Céline Sciamma (2012) Milk: uma voz da igualdade - Direção: Gus Van Sant (2009) The sexy Lie: Caroline Heldman - TED TALK (2014) Violência contra a mulher é uma questão masculina: Jackson Katz - TED TALK (2012)

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O QUE É GÊNERO?

Sessão de Cinema crianças: Mulan - Direção: Tony Bancroft, Barry Cook (1998) A Princesa e o Sapo - Direção: Ron Clements e John Musker (2009) Enrolados - Direção: Byran Howard, Nathan Greno (2011) Valente - Direção: Brenda Chapman e Mark Andrews (2012) Frozen - Direção: Chris Buck, Jennifer Lee (2013) O show da Luna - Série de animação: Youtube Charlie e Lola - Série de animação: Netflix Milly e Molly - Série de animação: Discovery Kids Garota Supersábia - Série de animação: Youtube

Ida à livraria: A princesa sabichona - Autora: Babette Cole,. Editora: Martins Fontes Malala. A menina que queria ir para a escola - Autora: Adriana C. Corrêa. Editora: Companhia das Letrinhas A princesa e a costureira - Autora: Janaina Leslão. Editora: Metandia As mulheres e os homens - Autor: Equipo Plantel. Editora: Boitatá Faca sem ponta, galinha sem pé - Autora: Ruth Rocha. Editora: Salamandra O fado Padrinho, o Bruxo Afilhado e Outras Coisinhas Mais Autora: Anna Claudia Ramos. Editora: Prumo Olívia Tem Dois Papais- Autora: Márcia Leite. Editora: Companhia das Letras Meu Amigo Jim - Autor: Kitty Crowther. Editora: Cosac Naify Ceci Tem Pipi? - Autor: Thierry Lenain. Editora: Cia das Letrinhas

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COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENCAS?


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

2.1 SOCIALIZAÇÃO Como vimos anteriormente, gênero se refere a socialização, que por sua vez diz respeito à noção de habitus. A socialização está atrelada a concepção de expectativas, ou seja, ao nascer espera-se certos comportamentos, condutas e atitudes em relação a cada sexo. Abaixo você encontrará uma tabela com os estereótipos tradicionais em relação a cada gênero. FEMININO

MASCULINO

Pacifica Dependente Facilmente influenciável Submissa Passiva Do lar Emotiva Indecisa Falante Gentil Empática Insegura Chorona Irracional Verbal Doce Cuidadosa

Agressivo Independe Nao é facilmente influenciado Dominante Ativo Trabalhador Não emotivo Decidido Quieto Bruto Menos empático Seguro Raramente chora Racional Não verbal Cruel Não é cuidadoso

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É bom notar que: A superioridade e a força de um sexo dependem exclusivamente da inferioridade e fragilidade do outro. Se ao macho é destinado a dominação, inevitavelmente precisa-se produzir alguém que aceite ser dominado. Mas se pararmos de ensinar ao macho que deve dominar e à mulher que aceite e goste de ser dominada, poderão florescer novas expressões individuais muito mais ricas, articuladas, imaginosas do que os estereótipos visto acima. Gênero não diz respeito apenas a atributos, segundo Daniela Finco, eles estão contidos em:

“Pequenos gestos cotidianos tão corriqueiros que chegam a passar-nos despercebidos; em reações automáticas, cujas origens e objetivos nos escapam, e que repetimos sem ter consciência do seu significado, porque os interiorizamos no processo educacional; são preconceitos que não resistem à razão nem aos novos tempos, mas que continuamos a considerar como verdades intocáveis, nos costumes e nas regras inflexíveis.” Finco, 2003

Os pais têm fixo na mente um modelo bem determinado ao qual os filhos devem conformar-se de acordo com o sexo. Através duma interminável série de preceitos verbalizados, o adulto transmite à criança os valores a que deve corresponder, sob pena de ser rejeitado socialmente. Por esse motivo nas próximas páginas serão expostas exemplos do cotidiano, brinquedos e situações em que acontece despercebidamente a imposição de gênero.

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COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

2.2 COTIDIANO

Se uma menina não se mostra afetuosa para com as crianças pequenas parece-nos um monstro de maldade; mas de um garotinho esperamos antes que as maltrate do que lhe dê carícias e beijos. (+ detalhes página 42) 35


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Não gostamos que as meninas aprendam a assobiar, mas nos parece natural que um menino o faça. Logo se intervÊm quando uma menina ri desbragadamente, mas nos parece muito bem que um garotinho assim proceda. 36


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

Se um garotinho arranca um objeto das mãos de outra criança, nós lho impedimos, mas no fundo já esperávamos por isso, mas de uma menina não o esperamos. (+ detalhes página 55)

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Punimos uma menina, num arrepio, caso profira palavrões, mas quando os fala um garoto dá-nos vontade de rir. Não suportamos que uma menina esteja “desarrumada”, mas nos parece normal que o garoto esteja “desarrumado”. 38


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

Se a menina começa a chorar dizemos-lhe que está aborrecendo, mas lhe prestamos atenção; se for um garoto vamos dizer-lhe que é uma mulherzinha. (+ detalhes página 49)

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Se uma menina maltrata o seu gato ou cachorro vemos nela um abismo de perversidade, mas se ĂŠ um garoto lho proibimos, embora achemos isso normal.

Cobrimos de ridĂ­culo um menino que tem medo, mas nos parece bem normal que uma menina o sinta. 40


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

2.3 BRINQUEDOS 2.3.1 Loja de brinquedos Quando um garoto, diante da vitrine de uma loja de brinquedos, insiste para conseguir que os pais lhe comprem um brinquedo dito para menina, eles não atendem ao pedido alegando que esse não é um brinquedo que lhe convém. A fixação do garoto se situa, portanto, sobre a certeza de que aquele é um brinquedo não permitido. Logo depois, os pais oferecem ao garoto uma infinidade de brinquedos que lhe seriam apropriados. Sendo assim a obstinação da criança para obter o brinquedo negado é inibida. É importante ressaltar que esse tipo de situação também acontece quando as meninas querem comprar brinquedos ditos para meninos. O resultado desse tipo de conduta é, a de que os pais acreditam que a preferência pelos brinquedos que condizem aos estereótipos estejam ligados ao sexo biológico, porém não refletem que essas atividades são na verdade disciplinas que as crianças sofrem durante o processo de aprendizado.

É importante deixar claro que não se deve negar aos meninos carrinhos e as meninas bonecas, não é a inversão de papéis que vai fazer com que os problemas de gênero acabem, mas sim a reflexão: essa criança nasceu querendo carrinho ou boneca? Ou como ela também faz parte dessa mesma sociedade, ela aprendeu a pedir essas coisas específicas?

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2.3.2 Bonecos e bonecas Até que idade o brincar com bonecas é tolerado aos meninos? Quando este ainda é muito novo.Quando o garotinho pretende brincar em grupinhos mistos, onde lhe será dada chance de assumir papéis de pai, marido, filho, aprovados e reconhecidos como masculinos. Uma criança, quer do sexo masculino quer do sexo feminino ao receber um bonequinho irá apertá-la ao peito como viu a mãe fazer. A intervenção do adulto pretenderá, porém, diferenciar a imitação do menino da atitude da menina, enquanto um é reprimido o outro recebe incentivos.

MENINA

Quando a menina acalenta o boneco, os adultos mostram-se satisfeitos, demonstrando alegria por ver que a menina já é tão “feminina”. Com o passar dos anos este tipo de comportamento se perdura nas meninas justamente por causa das respostas positivas do adulto a tais atitudes.

“Quando dá uma bonequinhas a uma menina pequena, a pessoa não se contenta em simplesmente oferecer-lhe e ficar observando como se comportará, mas também lhe mostra como se segura nos braços e como se acalenta. Esta demonstração de “solicitude parental” não é dada ao sexo masculino, pois acalentar as crianças não cabe no patrimônio gestual das manifestações afetivas dos garotos.” Belotti, 1975

Não é incomum escutarmos os pais dizendo que a pequenina já tem o instinto materno. Isso os enche de alegria, pois o fenômeno é percebido como o sintoma tranquilizador da normalidade, e não se reflete sobre o estímulo (verbal e visual) que a criança sofreu para ter tal “instinto”.

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COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

MENINO

É bastante curioso observar como os meninos da mesma idade, não ensinados como as meninas, seguram nos braços as mesmas bonecas de maneira muito mais despreocupada, geralmente esses mantem o boneco em pé e não à vontade, passando-lhe um braço em volta do pescoço. Em todos os casos, o acalentar a boneca está quase sempre ausente. Essa ausência tem raiz nos estímulo também visuais e verbais que eles recebem caso demostrem algum tipo de contudo não condizente ao seu sexo. É importante ressaltar que manifestação de afeto são toleradas nos garotos contanto que ele seja bem pequeno, depois de uma certa idade essas manistações são podadas.

É bastante comum que na hora de ir para a cama as crianças peçam para levar consigo uma boneca ou um ursinho ou algum outro animal macio pelo qual mostram afeição particular. Mas enquanto as meninas levam para a cama uma boneca, é bastante raro que isto seja permitido aos garotinhos. No caso de insistirem em levar para debaixo das cobertas um companheiro, bonequinho ou animal, então deve ser do mesmo sexo. Belotti, 1975

Algumas mães, particularmente conscientes dos condicionamentos a que se submetem as crianças desde o nascimento em nome dos papéis masculino e feminino, e decididas a modificar essa realidade, evitam oferecer bonecas às suas filhas, preferindo ao contrário dar-lhes animais de pano. Mas não é às meninas que se devem subtrair as bonecas, ao contrário, deveriam ser oferecidas igualmente aos meninos.

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COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

2.4 SITUAÇÕES 2.4.1 Tratamento diferenciado da anatonia durante a infância Não é incomum vermos livros com títulos como Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?.Muitos acreditam que as mulheres procuram amor em vez de prazer sexual, essa áurea de pureza que a figura da mulher é envolvida acaba fazendo com que ela fique aprisionada a um desejo que não necessariamente é comum à todas as mulheres e homens. Não é que a mulher prefira amor ao sexo, é que ela não foi estimulada durante sua vida a falar/ explorar sobre isso. Abaixo constam alguns relatos de o porque existe esse preconceito em volta da figura feminina sem libido sexual.

• Limpeza “Durante as operações de limpeza em uma recém-nascida, as mães tendem a cobrir a nudez da menina caso estejam presentes estranhos, ao passo que isso acontece bem raramente com um recém-nascido do sexo masculino. Pelo contrário, todos se comprazem muito com a nudez do garotinho e fazem observações brincalhonas e de agrado sobre os seus atributos sexuais : “Vejam só o homenzinho!”, ”Vai ser um garanhão” , “Esse vai dar trabalho”. Estas e outras frases, são pronunciadas por mães, pais, parentes, diante de um menino recém-nascido, ao passo que parecem absolutamente inaplicáveis a uma recém-nascida, e não só pela conformação diferente dos órgãos sexuais, mas também porque se deseja sobretudo que ela esqueça o quanto possível, ou melhor, para sempre, que tem um sexo. Quanto menos se mencionar, observar, tocar, tanto melhor.” Belotti, 1975

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• Nudez “Ainda que o órgão sexual feminino não dê tanto na vista,existe entretanto, mas de propósito é ignorado. É verdade que por vezes as mães reagem às exibições genitais dos garotinhos de maneira repressiva, com epítetos do tipo “sem vergonha, sujo, porcalhão” e assim por diante, mas esta é uma forma de acentuar a existência dos órgãos sexuais, e não de ignorá-la completamente como acontece com as meninas. Numa palavra, a sexualidade do lactente do sexo masculino é acentuada e aceita, muitas vezes particularmente gratificada, enquanto a da menina se deixa sob o manto do silêncio, não existe. Quanto mais tarde se manifestar, tanto melhor. O ideal seria que não se manifestasse nunca.” Belotti, 1975

2.4.2 Quando as crianças encontram os órgãoes sexuais “Quando se trata de um menino, em geral isto se considera com certa indulgência, mas a mesma atividade é reprimida rigidamente no caso de uma menina [... ] por conseguinte as atividades eróticas dele devem ser toleradas quando não até estimuladas, ao passo que a menina, se manifesta esses instintos, está de certa forma desviando-se da regra e deve ser refreada. Pode-se muito bem vir a ser mulher sem viver a própria sexualidade, enquanto não é possível tornar-se homem a não ser vivendo-a plenamente: é o que atestam os estereótipos.” Belotti, 1975

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COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

Paradoxo A mulher ao descobrir que foi traída, sofre demais. Porém essa mesma mulher, ao se deparar com uma criança do sexo masculino, proferi comentários machistas do tipo “a quando crescer vai pegar todas”, ou pergunta pelas namoradas no plural. Essa mesma mulher que lamenta sua condição de traída, instala na cabeça do menininho que este deve ter várias. E não uma.

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2.4.3 ENCORAJAMENTO. Conforme Campbell Leaper, professor do departamento de psicologia da Universidade da Califórnia, os pais tendem a ser mais rígidos do que as mães no encorajamento de brincadeiras classificadas por gênero, especialmente com os filhos do sexo masculino. Não é incomum ver os pais encorajarem a participação de suas filhas nos esportes ditos masculinos,. Em contrapartida, os genitores não encorajam seus filhos homens a brincarem com bonecas ou jogos de panelas. O professor relata que “na verdade, muitos pais e mães ficam alarmados quando isso acontece”. Assim podemos verificar mais uma vez a desvalorização do feminino em detrimento do masculino.

2.4.4 Conduta na pré-escola São justamente essas imposições sutis de gênero que, muitas vezes acabam passando despercebidas até para os pais mais atentos a essa questão. E que, em conjunto, geram um grande impacto no que diz ser “homem” e ser “mulher” para essas crianças. Sendo assim, não há como ignorar a questão do gênero quando se fala em educação. situação 1:

Em uma brincadeira no escorregador, em que participavam meninos e meninas, sob supervisão de uma cuidadora, o menino escorregou de ponta-cabeça sem receber nenhum tipo de advertência. A menina, ao tentar adotar a mesma posição para escorregar, foi advertida quanto ao perigo e recebeu a indicação de que é sentada que se escorrega. 48


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

situação 2:

Uma menina e um menino brincam em balanços. Parece que vai iniciar uma competição na qual ganha quem balançar mais alto. A cuidadora imediatamente repreendeu a menina solicitando que diminua a velocidade, pois é perigoso. Esta obedece sem questionar. O menino segue acelerando o brinquedo, sem que a cuidadora lhe chame a atenção. A observação da norma acaba, muitas vezes, gerando nas meninas insegurança e fragilidade.

“A insegurança provoca medo, aumenta a tendência, a conduta defensiva, dificulta a disposição de assumir os riscos inerentes a qualquer tipo de iniciativa pessoal, leva a padrões de relacionamento dependentes, etc”. Vera Lucia Gomes,

situação 3:

Uma menina aproxima-se de um grupo de meninos que brincam de carrinho na areia. O menino, sem justificar o porquê, diz que ela não pode brincar. Menina permanece alguns instantes em pé, observando e aos poucos, em silêncio, sem expressar qualquer reação, vai se afastando. Cuidadora presencia, mas não interfere. Observou-se que as cuidadoras apenas interferem nas interações de meninos e meninas quando tais situações são geradoras de conflito ou choro.

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situação 4:

Menina brinca com um telefone. Menino agressivamente tiralhe o brinquedo das mãos. Cuidadora repreende o menino, porém não pede que devolva o brinquedo. Menina chora e, carinhosamente, é consolada, no colo da cuidadora.

Nestas, solicitam aos meninos que tenham modos e consolam as meninas, reforçando a noção da fragilidade feminina. Nas situações observadas prevaleceu a vontade dos meninos que, mesmo inconscientemente foram incentivados em sua agressividade, ousadia e competitividade. situação 5:

Menina encontra-se no pátio brincando de carrinho. Menino chega e, usando força, pega o carrinho da mão da menina. Pega, ainda, uma caixa de brinquedos que estava com a menina. Cuidadora observa e pede para o menino ter modos. Ele não devolve o carrinho nem a caixa. Menina aceita passivamente. Essas são, sem dúvidas, formas de inculcar nas crianças o padrão de comportamento “considerado culturalmente correto”.

Não é a de tentar formar as meninas à imagem e semelhança dos meninos, mas restituir a todos indivíduos que nasce a possibilidade de se desenvolver de forma que melhor se adequa à sua índole, independentemente do sexo a que pertence. Belotti, 1975 50


COMO PODEMOS OBSERVAR ESSAS DIFERENÇAS?

2.5 CONCLUSÃO Visto que esse macro assunto, que é o gênero, dá se muito o que argumentar, tive que reconhecer que não daria para abraçar o mundo e eu precisaria escolher uma parte do tema; e, mesmo assim, essa parte não ia conter tudo que eu gostaria de verbalizar. Muito longe de fazer qualquer tipo de trabalho minimamente conclusivo, meu objetivo maior, com estes escritos, é poder contribuir para o desenvolvimento de um debate aprofundado sobre os caminhos que as injustiças de gênero tomam em nossa sociedade. Ao me deparar com as injustiças de gênero não foi fácil perceber que as mulheres eram as que mais sofriam, as mais injustiçadas e castigadas. Refletindo sobre minha vida, eu percebi que as minhas descobertas sobre as injustiças de gênero não vieram das diversas leituras que fiz, ou dos filmes que eu assisti, mas sim, da infância, pelo fato de eu ser uma menina. Percebi que o mundo não me dava créditos, percebi que ao me olharem viam apenas o superficial, o corpo, o útero, a mulher, sendo assim era fácil descartarem o que eu dizia. Não estou tentando vitimizar a posição da mulher em nossa sociedade (apesar de ser bem difícil não fazer isso). Eu como mulher, e não menina, sempre tive muita compaixão com as minhas semelhantes, mesmo que essa compaixão às vezes fosse unilateral. Tenho que admitir que por alguns anos fui daquelas que só olhavam para o status da mulher, e isso me cegava, pois afinal eu acreditava piamente que era assim, mudando a mulher que conseguiríamos algum dia acabar com esse sofrimento. E mais uma vez tive aquele momento de reflexão (segundo o dicionário reflexão significa: concentração do espírito sobre si próprio, suas representações, ideias, sentimentos. Gosto dessa palavra: reflexão, ela me permite mudar sem me sentir culpada por aquilo que uma dia acreditei ser certo). Sendo assim, olhei para a sociedade, e percebi que os homens não são intrinsecamente ruins mas sim privilegiados. Uma das coisas ruins de se ter o privilégio é que muitas vezes esse não é reconhecido, e quem o detém,muitas vezes não quer abrir mão dele. Essa sentença não tem a ver apenas com a dicotomia homem-mulher, ela também pode ser aplicada na relação, branco-negro, pobre-rico. Voltando aos homens não quero generalizar, obviamente que existem exceções (a palavra exceção se refere a algo que não é comum, que não faz parte das regras, e por mais numerosas que sejam 51


essas aparições de homens que reconhecem seu status de privilégio, são considerados justamente exceções, e assim o objetivo não chega nem a ser arranhado). O compromisso do sexo masculino de ser o provedor, gera estresse, quando sofrem por qualquer motivo que seja eles não são permitidos a chorar e/ou desabafar com alguém, porque é coisa de “mulherzinha” e denota fraqueza. Por esse e mais motivos que não se deve inverter os polos, muitos pais acreditam que invertendo papeis de gênero se cria uma solução para os problemas de gênero. Porém não é bem assim. O ideal é fazer um mix entre os dois, meninos devem aprender a cuidar., meninas devem ser estimuladas a estudar e ter ambições.


AS CONSEQUENCIAS



AS CONSEQUENCIAS

3. CONSEQUÊNCIAS As consequências contidas aqui não são frutos de fatores biológicos, elas dizem respeito ao gênero. Obviamente que a lista de consequências é imensas, porém foi necessário filtrar os casos mais relevantes e impactantes.

3.1 Corpos: Segundo Caroline Heldman "nós criamos as meninas para verem seus corpos como projeto que precisam ser constantemente melhorados". Os sintomas são que aos 13 anos, 53% das meninas afirmam ser infelizes com seus corpos. Aos 17 anos, essa porcentagem aumenta para 78%. Isso gera: baixo auto-estima, desmotivação, medos e fobias, menor rendimento acadêmico(pelo tempo que as garotas perdem pensando nisso). Já os meninos "são criados para que vejam seus corpos como ferramentas para dominar o meio em que vivem". Os sintomas são que eles se envolvem mais em atos de violência. 94% dos homicídios em massa são feitos por homens. O motivo disso é que eles se expressam de maneira menos saudável, visto que eles não são estimulados a falar sobre seus sentimentos. Não existem pessoaspredispostas à violência. O que existe são condições sociais e estruturais que favorecem a produção de contextos e situações de violência. Ou seja, os homens não são naturalmente violentos, se eles aparecem em várias estátisticas como aqueles que mais cometem atos de violência isso está relacionado aos seus processps de socialização e não à sua natureza.

3.2 Estupro: Segundo Coelho e Cerqueira: • 92, 55% dos estupradores são do sexo masculino. • As mulheres são autoras do estupro em 1,8% dos casos, quando a vitíma é criança.

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• 527 mil mulheres são estupradas por ano no brasil, destes 50% são menores de 13 anos. • 85% das mulheres do país temem violência sexual. Em uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, que entrevistou, entre os dias 1º e 5 de agosto, 3.625 pessoas de 217 cidades espalhadas por todo o Brasil, um em cada três brasileiros culpa mulher em casos de estupro. • 42% dos homens acham que mulher que se dá ao respeito não é estuprada. • 32% das mulheres acham que mulher que se dá ao respeito não é estuprada.

3.3 Violência: Conforme o Mapa da Violência no Brasil 2012, entre 1997 e 2007, 41.532 mulheres foram assassinadas no Brasil; ou seja, em média 10 mulheres foram assassinadas por dia.

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AS CONSEQUENCIAS

Quadro da Fundação Perseu Abramo (2001) sobre algumas formas de violência contra a mulher no Brasil (esses dados são bastante difíceis de serem coletados, já que muitas mulheres não fazem denúncias porque têm medo, moram com o agressor, não sabem o que fazer da vida, temem pelos filhos, etc.)

3.4 Suicídio: Embora os homens não sofram o mesmo tipo de opressão que as mulheres, uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) chama a atenção para o fato de que os homens praticam mais o suicídio do que as mulheres, conforme a pesquisa a taxa entre homens é ao menos quatro vezes mais alta que a taxa entre as mulheres. O suicídio encontra-se entre as dez principais causas de mortes no mundo. Em 2012, foram registradas pelos 172 estados membros da OMS cerca de 800 mil mortes autoinfligidas, representando uma taxa anual 11.4 para cada 100 mil habitantes, sendo 15 para cada 100 mil em homens e 8.0 para cada 100 mil em mulheres.

3.5 Carreira e profissões: As discriminações de gênero e raça são fatores que influenciam fortemente as possibilidades de acesso e permanência no emprego. Mesmo que as evidências apontem para um maior participação das mulheres em diferentes tipos e ambientes de trabalho, no imaginário social ainda existe uma associação imediata das mulheres como uma “força de trabalho secundário”, reafirmando velhos estereótipos relacionados às atribuições das mulheres e dos homens no mundo do trabalho. Nas universidades, por exemplo, as mulheres são ainda maioria em cursos tradicionalmente femininos como Pedagogia, Serviço Social, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Letras e demais Licenciaturas. E essa visão influencia o valor no salários entre os homens e as mulheres desvalorizando profissões e carreiras ligadas ao cuidado. Nas universidades brasileiras, a frequência feminina em cursos como Engenharia e Ciências da Computação apesar de ter aumentado ao longo dos anos ainda gira em torno de 10% de acordo

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com o Ministério da Educação- MEC (2008).

3.6 Diferença salarial: Um discurso divulgado em 2009 pelo, Banco Interamericano de Desenvolvimento- BID. De acordo com a pesquisa os homens ganham mais que as mulheres em todas as faixas de idade, níveis de instrução, tipo de emprego ou de empresa. A disparidade é menor nas áreas rurais, em que as mulheres ganham, em média, o mesmo que os homens. O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres da mesma idade e nível de instrução.

3.7 Esfera política: Segundo dados do IBGE (2013), apesar das mulheres apresentar em 51,3% da população brasileira a participação do público feminino na política é pequena e não corresponde à proporção de mulheres no país na Câmara dos Deputados são 47 deputadas federais de um total de 513 políticos. No senado são 10 senadoras, entre eleitas e suplentes, de um total de 81 senadores. Isso dá um total de apenas 9,5% de representantes femininas no Congresso Nacional. Para Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, organização responsável por pesquisas sobre a representatividade da mulher e do/a negro/a nas Eleições de 2014, não é a falta de interesse das mulheres que dificultam as candidaturas e sim, um esquema fechado dos partidos que ainda privilegiam a representação masculina.

3.8 Casamento infantil: No mundo uma garota com menos de 15 anos se casa, na maioria das vezes forçadamente,a cada sete segundos. Em casos extremos, identificados em países como Afeganistão, Iêmen, Índia e Somália crianças com menos de 10 anos são forçadas a se casar. Segundo o Instituto Promundo, no Brasil 877000 mulheres se casaram antes dos 15 anos de idade. 58


AS CONSEQUENCIAS

3.9 Gravidez e educação: A gravidez na adolescência gera consequências no acesso à formação escolar. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) em 2014, compilados pelo Instituto Unibanco, mostram que 1,7 milhões de jovens na faixa etária 15 e 17 anos estão fora de casa, onde 212.000 já eram mães. É importante ressaltar que a falta de política pública que alie educação, assistência social e saúde naturalista a ideia de que jovens grávidas devem sair da escola.

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PAGINAS AMARELAS


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Mary Wollstonecraft

Sua obra exigia justiça. Seu argumento era que à infantilidade, dependência econômica e submissão da mulher, não vinha de fatores biológicos e sim da impossibilidade destas de ter acesso à educação racional.

John Stuart Mill

Mill escrevia a favor da liberdade de expressão, pois segundo o autor, nem homem nem mulher seriam felizes se não se vissem como iguais, e isso, segundo o filósofo, é a chave fundamental para o bem-estar das sociedades. Ele ainda ressalta que o fato da mulher ser submissa ao homem é explicado por motivos culturais.

Simone de Beauvoir

Seu principal ponto de argumentação é o de que não há justificativas plausíveis pautadas na biologia nem na psicologia para que a mulher seja de fato uma “casta” inferior ao homem, contanto pode-se encontrar na antropologia respostas precisas de uma construção social desigual e assimétrica.

Instinto Materno

Até meados do século XVIII, a maternidade se dava em termos de indiferença e, quando não, rejeição. Manifestação disso eram as altas taxas de mortalidade infantil (e sobre isso não se tomada nenhuma medida), cenas de abandono eram corriqueiras naquela época. (como aquelas vistas em filme de epoca em que uma mulher deixava o filho em uma cesta na porta de um orfanato.) A preocupação com as taxas de natalidade só se torna um problema social a partir do momento em que as autoridades políticas começam a se preocupar com o declínio demográfico e o decorrente déficit de mão-de-obra imprescindível para o trabalho fabril. Seguindo essa lógica, a criança se torna importante para o Estado no momento em que ela é quanlificada de forma mercantil. Sendo assim, a autora revela que a valorização dada ao envolvimento afetivo entre mãe e filho é um reflexo demandado da sociedade. Porém é importante ressaltar que a autora não nega a existência do amor materno, contudo, não se trata de algo natural (intrínseco) a toda e qualquer mulher. Segundo a autora: “O amor materno é apenas um sentimento humano como outro qualquer e como tal incerto, frágil e imperfeito. Pode 62


PÁGINAS AMARELAS

existir ou não, pode aparecer e desaparecer, mostrar-se forte ou frágil [...] Contrariando a crença generalizada em nossos dias, ele não está profundamente inscrito na natureza feminina. Observando-se a evolução das atitudes maternas, verifica-se que o interesse e a dedicação à criança não existiram em todas as épocas e em todos os meios sociais.”

Valorização do masculino em destrenimento ao feminino

Não são somente as mulheres que sofrem com essa ideologia, na verdade, sempre que um papel feminino é assumido esse preconceito acontece; a “feminilização” da mulher transexual é um fator que as mata. Conforme mostra a pesquisa realizada em 2012 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, foram registradas 604 mortes no país, no período de janeiro de 2008 a março de 2014. O relatório mostra que as vítimas de violência homofóbica são 71,38% do sexo masculino e 20,15% do sexo feminino. Algumas vítimas não declararam sexo. Pesquisas mostram que o grupo mais afetado foram as mulheres transexuais. Esses dados confirmam a submissão dos indivíduos do sexo feminino perante a hierarquia masculina do patriarcado.

“Uma mulher transexual é assassinada porque ela estimula o ódio no homem, no machismo do homem, porque na concepção dele você saiu do ser superior e optou pelo ser inferior. Para eles, você merece ser castigada, você merece morrer. Então seu corpo é violado, é assassinado.” Chopelly Glaudystton

Afazeres dométicos

Em média 80% dos afazeres domésticos são realizados pelas mulheres. Isso afeta o tempo que mulheres gastam investindo em suas carreiras em comparação com os homens, especialmente quando estas têm filhos. Ministério da Justiça e Cidadania

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Jean Piaget

Piaget considerado um dos mais importantes pensadores do século XX criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética – isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz – um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a ideia de que o aprendizado é construído.

Friedrich Engels

Nascido no sec XIX, Engels foi um importante filósofo alemão. Junto a seu camarada Karl Marx, realizou obras marcantes na filosofia e na política, cuja característica principal foi a elaboração das teorias do materialismo histórico. Em sua juventude, ficou impressionado com ás péssimas condições dos trabalhadores na Inglaterra do século XIX, sendo assim, passou a ter uma visão crítica sobre o capitalismo. A grandeza de sua obra está no fato de que ele soube analisar a sociedade de forma muito eficiente, como poucos antes dele. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado: Ocupa um lugar de destaque entre os grandes clássicos do pensamento revolucionário. Conforme Sergio Lessa, essa obra é uma crítica radical (raiz) do patriarcalismo, nele Engels demonstra que a organização familiar é tão histórica quanto a totalidade social. O livro constitui-se em um estudo aprofundado baseado nas descobertas de campo de Lewis Henry Morgan e em seu livro A sociedade Antiga de 1877.

Sigmund Freud

A inveja do pênis é uma teoria psicanalítica Freudiana que se refere à reação em tese de uma garota durante seu desenvolvimento psicossexual quando ela percebe que não possui um pênis. Ao explorarem os genitais as crianças atribuem uma “coisa a mais” aos órgãos masculinos, por esses “serem mais para fora”. Conforme essa análise, Freud afirma que as meninas passam a alimentar o sentimento de inveja do órgão sexual masculino. Segundo o psicanalista essa inveja só seria ultrapassada através de um mecanismo compensatório que implicava necessariamente o casamento e a 64


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maternidade. Esta teoria explicava, assim, por que o casamento era tão necessário para as mulheres e ainda, permitia atribuir o estatuto de anormalidade àquelas que se atrevessem a desdenhá-lo. Segundo a psicanalista Maria Rita Kehl, ao formular tal teoria, Freud ignorou a condição social da mulher da época, em que, no séc. XIX “seu lugar” era dentro do lar, e a educação voltada para as mulheres ainda era precária. Ou seja, a mulher não tinha inveja do pênis, mas sim da condição social do homem. Nas palavras de Belotti (1975):

“Quem sai de casa e fecha a porta atrás de si deixa uma esteira de curiosidade e a apaixonante pergunta sobre aonde foi e o que foi fazer.Vê-lo sair desperta uma dolorosa inveja, mas igualmente excitação, esperança, expectativa pelo regresso, tensa expectativa por aquilo que poderá trazer do mundo exterior como qual tem um nexo cheio de fascínio para aqueles que estão excluídos desse mundo. [...] Menino e menina invejam o pai que trabalha, mas o primeiro com o desmedido orgulho de quem sabe que será como o pai e quem igualmente competirá um dia a mesma aventura [...] Ao contrário do menino, o mundo da menina está ali, com sua mãe, e tudo ali é desprovido de mistério e sem fascínio: uma série de tarefas domésticas miseráveis, que se repetem sem cessar, que se desvanecem dali a pouco para recomeçar tudo de novo, sempre iguais, numa feroz mesquinhez de imaginação, opacas frustrantes, melancólicas, solitárias. “ Lógica do Patriarcado

Produção: Cintos de segurança são menos seguros para mulheres. Remédios e seus efeitos colaterais, também. O motivo: esses produtos são testados em bonecos e cobaias que levam em conta o biotipo e o organismo masculino. Esses são apenas dois dos exemplos que levaram a designer Kat Ely a publicar no site HH Design o texto “O mundo é feito para homens”, destacando a maneira como o design de produtos frequentemente é afetado pelo viés de gênero. Outros exemplos que a designer levanta são: • Ar-condicionado: A regulação automática do termostato de equipamentos de ar-condicionado é feita com base em um cálculo de temperatura corporal que leva em conta o corpo masculino. 65


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• Tecnologia e saúde: Assistentes pessoais desenvolvidos para celulares, como a Siri e o Google Now, sabem exatamente o que fazer diante de frases como “Estou tendo um ataque cardíaco” ou, por exemplo, menções a suicídio. Eles foram programados, nesses casos, para ligar para linhas de emergência e de apoio psicológico. No caso de frases como “Sofri abuso sexual” e “Fui estuprada”, tanto a Siri quanto o Google Now respondem “Eu não sei o que é isso”. As diferenças de eficiência entre os assistentes no reconhecimento de crises para homens e mulheres foi alvo de um estudo publicado em maio de 2016 no Journal of The American Medical Asssociation. Tente pensar em uma cozinha de brinquedo que não tenha uma menina na estampa da caixa. Ou um autopista que tenha uma menina. Difícil, né? E depois, quando as crianças crescem, as divisões continuam. Pense em uma propaganda de produto de limpeza que não tenha uma mulher feliz. E em uma propaganda de carro que não tenha um homem feliz. Consumo: 96% das imagens em propagandas publicitárias são corpos femininos sexualmente objetificados. Essa foi uma das informações que a Doutora Caroline Heldman, trouxe em sua ida ao TEDTALK em 2014. A justificativa que a propaganda usa é a de que: “sexo vende”, porém a palestrante propõe um desafio, “se sexo vende, e a maioria das mulheres são heterossexuais, e nós (mulheres) somos seres sexuais então por que não vemos homens seminus em todas propagandas?” Em suas pesquisas Heldman afirma que o que está sendo vendido na verdade é a constante ideia de sujeito-objeto. E nessa dicotomia, sujeitos agem, objetos sofrem a ação, um exemplo disso são as propagandas de cerveja, onde os homens são representados no banco do bar, enquanto as mulheres são representada como objetos sexuais. Política: Os livros de história sempre tiveram dificuldade em falar de mulheres que não respeitam os padrões de gênero, e em nenhuma área essa limitação é tão evidente como na política. As matérias de imprensa sobre mulheres que estão correndo a cargos políticos concentram-se mais na aparência delas, do que o que elas pretendem fazer, ou mesmo já fizeram, isso gera impacto na audiência em termos de como elas são avaliadas e julgadas. Durante a convenção nacional democrata, em 84 Geraldine Ferraro (política norte-americana. que era filiada ao Partido Democrata ) foi anunciada na TV, como a “primeira candidata mulher à vi66


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ce-presidência, tamanho P.” Nas 4 primeiras semanas em que John Boehner foi presidente da Câmara do Estados Unidos, ele esteve na capa de 5 revistas semanais. Já nos 4 anos em que Nancy Pelosi foi presidente da Câmara, ela não esteve em capa de revista alguma. Falando do nosso próprio contexto político podemos citar as diversas agressões sexistas que a presidente Dilma Rousseff , sofreu, e ainda sofre só pelo fato de ser mulher , como exemplo pode-se citar a produção e a comercialização de adesivos para carros feitos no ano de 2015, com a foto de uma mulher com as pernas abertas e o rosto da presidente da República, Dilma. Legislação: A Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, uma farmacêutica cearense, que sofreu duas tentativas de homicídio pelo marido, e que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. A primeira tentativa ocorreu em 1983, quando ele lhe deu um tiro nas costas enquanto ela dormia. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica..A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Marco Antonio Herredia Viveros, (que era professor universitário) empurrou sua esposa da cadeira de rodas e tentou eletrocuta-la no chuveiro. Apesar da investigação ter começado em junho de 1983, a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento só aconteceu 8 anos após os crimes, em 1991. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado há dez anos de reclusão mas conseguiu recorrer. Mesmo após 15 anos de luta,(1998) e pressões internacionais, a justiça brasileira ainda não havia dado decisão ao caso, nem justificativa para a demora. Com a ajuda de Organizações Não Governamentais, Maria da Penha conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela primeira vez, Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menor potencial ofensivo. Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104) Muitos crimes contra as mulheres são investigados e julgados sem qualquer perspectiva de gênero. Não se leva em consideração as desigualdades entre homens e mulheres, ou mesmo a subordinação dessas nas relações com seus parceiros. Foi por meio desses problemas que a lei do feminicídio foi sancionada no dia 9 de março de 2015, pela Presidenta Dilma Rousseff, a lei diz respeito ao assassinato de mulheres por razões de gênero, ou seja, pela fato de 67


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serem mulheres, pois afinal, sabe-se que as mulheres são assassinadas em circunstâncias em que os homens não costumam ser e que é necessário expor tais circunstâncias, a fim de que o público as conheça e se sensibilize com a situação dessas mulheres. Segundo a lei, a normalização da violência contra a mulher é tão excessiva que impregna o nosso cotidiano, ela passa a fazer parte de uma realidade quase inalterável e na interiorização desta por parte das próprias mulheres que atuam com base em um padrão de submissão imposto pela cultura patriarcal.

A violência contra a mulher é histórica, é de extrema importância perceber que quase todas as legislações criadas para a proteção do sexo feminino são “novas”, sendo assim, podemos perceber duas coisas; a primeira que o núcleo político está entendendo que a violência está ligada ao estado e a sociedade, e a segunda que elas só parecem ter relevância com a entrada de mulheres na política. Elas foram um grande marco para a luta das mulheres, porém se tivessem sido criadas antes, poderiam ter salvo milhares mulheres. Transfobia

A expectativa de vida dos transsexuais é de 35 anos, o principal fator disso é que por não serem reconhecidos na sociedade, esses indivíduos muitas vezes recorrem a subempregos e a prostituição. Segundo, Santos (2015) em relatório para o Ministério da Saúde, 90% das travestis trabalham na profissão do sexo, sendo assim na prostituição elas estão sujeitas à violência, drogas e doenças sexualmente transmissíveis. Muitas pessoas acreditam que as travestis se “tornam” travestis para se prostituir e ganhar dinheiro. No entanto, as pesquisas mostram que a prostituição não é uma escolha mas sim uma conseqüência.

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Habitus

Gomes (2006, p.36) afirma que “a noção de habitus vem sendo usada para referir-se a este aprendizado, que ocorre desde os primeiros momentos de vida e talvez até antes do nascimento” Segundo a autora, “adotou-se a hermenêutica dialética e a concepção de habitus de Bourdieu como referenciais metodológico e teórico-filosófico, respectivamente.”

Situações

Vera Lúcia de Oliveira Gomes: Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora Titular do Departamento de Enfermagem da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Enfermagem, Gênero e Sociedade (GEPEGS). Segundo a pesquisadora “utilizou-se, para coleta de dados, a observação registrada em diário de campo e entrevista semiestruturada com as cuidadoras, pois são elas que mais interagem com as crianças [...]Pela análise de conteúdo, apreendeu-se que as cuidadoras são solícitas, atenciosas e carinhosas com todas as crianças. No entanto, cuidam, de forma natural e culturalmente diferenciada, meninos e meninas. Àqueles permitem brincadeiras mais arriscadas, inovadoras, espetaculares, enquanto que as meninas devem seguir a norma do jogo. Nos primeiros anos, as crianças já têm interiorizado um padrão de comportamento típico de cada sexo tendo dificuldade, pela própria pressão do grupo, em transgredi-lo.”

Gênero “Na Lucânia, quando nasce um menino se derrama uma bilha d’água pela estrada, como simbolizando que a criança recém-nascida está destinada a percorrer as estradas do mundo; quando nasce uma menina a água é derramada na lareira, como significado que sua vida se irá desenrolar dentro das paredes domésticas.” Belotti, 1975

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MENINXS: um guia explicativo BADINTER, Elisabeth. Um Amor conquistado: o mito do amor materno. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 370 p. BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 2 ed,- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 19. / 2009. 935p. BELOTTI, Elena Gianini. Educar para a submissão . Petrópilis: Vozes, 1975. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade (A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, 2). São Paulo: Paz e Terra, 2000. 530p. CERQUEIRA, Danil; COELHO, Daniel de Santa Cruz. Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde. Brasília: IPEA. 2014. 30p. IBGE: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Sintése de Indicadores 2014. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94935.pdf PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. São Paulo: WMF Martins Fontes. 2012. 4ª ed. 123 p. HAHNER, June E. Emancipação do Sexo Feminino: A luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850-1940. Florianópolis: Editora Mulheres/EDUNISC, 2003. 445p. ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Tradução de Leandro Konder: Editora Expressão Popular, 2012. FINCO, Daniel. Relações de gênero nas brincadeiras de meninos e meninas na educação infantil. Pro-Posições. V.14, n,3(42)- set./ dez.2003 FIRESTONE, Shulamith. A dialética do sexo: um manifesto da revolução feminista. Rio de Janeiro: Labor, 1976. GOMES, Verla Lúcia. A construção do feminino e do masculino no processo de cuidar crianças em pré-escolas. Texto contexto- enferm. [onlino]. 2006, vol15, n.1, pp.35-42. LEAPER, Campbell. Socialização de gênero dos pais nos filhos. In: Enciclopédia sobre Desenvolvimento na Primeira Infância. 2014, p. 7-10. MILL, John Stuart. A Sujeição das MURARO, Rose Marie. Textos da Fogueira. Brasília: Letra Viva, 2000. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, v. 16, n.2, 1990.

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MENINXS: um guia explicativo WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Editora Edipro. 2012, 272 p.

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