Superquadra de Perdizes

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SUPERQUADRA DE PERDIZES



SUPERQUADRA DE PERDIZES organização

ADRIANA SAYURI / BEATRIZ RIBAS / BRUNA MIRABILE / JÉSSICA KAORU / PAULA AKEMI / RAFAEL CHUNG

orientadores

PROFESSOR DOUTOR ANTONIO CARLOS SANT’ANNA JÚNIOR PROFESSOR DOUTOR LUIZ GONZAGA MONTANS ACKEL

2014, SÃO PAULO FAU MACKENZIE



ÍNDICE

05 DESENVOLVIMENTO URBANO DE PERDIZES 13 CONFIGURAÇÃO ATUAL DO BAIRRO 19 SUPERQUADRA PAULISTANA 31 PROJETOS FUTUROS 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39 BIBLIOGRAFIA



HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO URBANO DE PERDIZES

Figura à esquerda: Em hachura, localização do Sítio do Pacaembu em relação ao restante da cidade. Figura à direita: destaque ao Sítio do Pacaembu e seus arredores.

A região em que hoje se delimita o bairro de Perdizes pertencia em 1775 ao grande Sítio do Pacaembu, integrante da Sesmaria do Pacaembu, área anteriormente doada aos jesuítas em 1561 pelo donatário da capitania de São Vicente onde aos poucos começaram a surgir fazendas e sítios. O Sítio do Pacaembu ocupava uma área que atualmente abrange os bairros de Perdizes e Pacaembu, além de parte de Higienópolis, Santa Cecília, Barra Funda, Limão e Casa Verde. Segundo Antônio Egídio Martins em “São Paulo Antigo 1554-1910”, no local onde hoje se encontra o bairro de Perdizes em 1850 morava um vendedor de garapa chamado Joaquim Alves. Sua esposa, Dona Teresa de Jesus de Assis, se dedicava à criação de perdizes em seu quintal, o que levou a região a ser referenciada como “lá onde há perdizes”, “nas perdizes”, até que o nome se tornou popular. A importância das perdizes pode ser atestada pelo fato de sua caça ter sido terminantemente proibida em 1807 em até quatro léguas em circunferência da cidade. 5


Zona Urbana A partir do final do século XIX ocorre uma procura significativa pela aquisição das terras de Perdizes devido suas condições topográficas, climáticas e perspectivas de progresso. Só no ano de 1882 cerca de 520 interessados solicitaram a “concessão de datas de terra nas Perdizes”. Em 1897 o bairro é mencionado oficialmente na planta do município de São Paulo, e seu crescimento é consolidado em 1940, tendo por um de seus marcos a instalação, em 1956, da antiga Companhia Telefônica Brasileira. Arruamento e loteamentos O registro das primeiras ruas do bairro data de 1896, sendo as principais: Perdizes (a primeira e única via de acesso ao bairro, hoje a av. General Olímpio da Silveira), Vista Alegre (atual Itapicuru), Tabor(atual Cardoso de Almeida) e Pinto Gonçalves (uma das mais antigas do bairro). A configuração atual das ruas do bairro é resultado do loteamento da antiga Chácara do Pacaembu que foi desapropriada em 1872 para a construção de um novo matadouro, obra que não chegou a se concretizar já que a área se encontrava muito próxima de cidade que se expandia rapidamente, sendo o matadouro construído mais afastado, na várzea de Santo Amaro. 6

Figura à esquerda: Sobreposição dos limites do antigo Sítio do Pacaembu (linha preta) sobre a planta da cidade de São Paulo de 1980 (Geomapas). Em vermelho a atual delimitação do Bairro de Perdizes e, em azul, a quadra de estudo. Figura à direita: loteamento da Chácara do Pacaembu. Nota-se o córrego Pacaembu atravessando diversos lotes, hoje enterrado embaixo da av. Pacaembu pela Cia. City


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Figuras à esquerda: Arruamento do Pacaembu realizado pela Cia. City, condicionado pela topografia. (esq.) Arruamento de Perdizes, condicionado pelo loteamento da antiga Chácara Pacaembu. (dir.)

Perdizes sempre contou com uma única via de acesso, a antiga rua das Perdizes e atual av. General Olímpio Silveira. Essa situação permaneceu por muito tempo até o início dos arruamentos realizados pela Companhia City no atual Pacaembu em 1925, como já fizera no Jardim América. Essa operação levou tempo para ser concluída, já que foi realizada considerando a acentuada topografia da região com arruamentos em curvas de nível, cortes, aterros e ter8

raplanagens, operação bastante diferente da realizada pelo loteamento de caráter mais informal de perdizes. A urbanização do vale do Pacaembu foi vantajosa para o bairro de Perdizes, já até então a região representava um entrave ao desenvolvimento de seus vizinhos devido à sua topografia, e agora passava a fornecer melhores acessos ao bairro como também valorizava suas propriedades.

Figuras à direita: Vale do Pacaembu em plena urbanização durante os anos trinta. Observam-se algumas residências do Alto de Perdizes que já se aproximavam do vale.


Figuras das próximas paginas: Mapa Sara-Brasil (1930) - início da ocupação do vale do Pacaembu, diversas áreas vazias em Perdizes. Mapa Vasp-Cruzeiro (1952) observa-se adensamento da região pela ocupação das áreas vazias.

Verticalização e adensamento Após o surto de desenvolvimento da formação do bairro no final do séc. XIX,consequência das condições socioeconômicas da época, a expansão do bairro se manteveestável até por volta de 1925.Com os novos loteamentos do vale do Pacaembu e aberturas de novas ruas no próprio bairro de perdizes a partir da década de 1930, a região presencia um adensamento da área sem expansão territorial já que ainda havia diversos terrenos vazios. Porém, o período com adensamento mais expressivo em Perdizes acontece a partir da década de 1960 com a

verticalização do bairro. Foi época de uma transformação violenta, já que áreas onde antes haviam 4 ou 5 sobrados agora comportava mais de 40 unidades habitacionais, o que representa uma forte mudança tipológica de edificações. Os fatores que contribuíram a esse alto índice de adensamento são: localização próxima ao centro da cidade, além de alta com bonitos panoramas da cidade; facilidade de acesso devido ao transporte coletivo e pela construção do elevado Costa e Silva, que aproximou o bairro ao centro; diversas vias de comunicação com outros bairros; presença de diversas unidades de ensino, como a PUC (Pontifícia Universidade Católica). Esse adensamento promovido pela verticalização do bairro acabou por alterar também o perfil de morador do bairro. Atualmente, Perdizes é um dos únicos bairros próximos ao centro da cidade de São Paulo que ainda possui espaço para crescer, porém, esses espaços estão em sua maioria sendo ocupados por condomínios de alto padrão que trazem novos moradores para o bairro, expulsando os antigos em um processo de gentrificação.Segundo Dra. Maria Lúcia Pinheiro, essas novas edificações são destinadas a “uma classe social específica, do ponto de vista do poder aquisitivo. Com isso as demais classes serão paulatinamente expulsas do bairro, ou pelo menos reduzidas a uma minoria não significante”.

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Figura acima: vista parcial do conjunto de apartamentos do Lar Brasileiro construído na antiga chácara da Casa de Saúde Dr. Homem de Mello, face da Rua Ministro Godói. Figura ao lado: vista ao fundo dos dois primeiros edifícios financiados pelo Lar Brasileiro.


CONFIGURAÇÃO ATUAL DO BAIRRO

O bairro de perdizes é cortado por importantes vias da cidade, como a Avenida Sumaré, a Rua Cardoso de Almeida e a Avenida Francisco Matarazzo. Além disso, vias como a Avenida Pompeia, a Avenida Pacaembu e a Rua Heitor Penteado passam próximas da região. Tudo isso propicia fácil acesso viário ao bairro. A região também é contemplada com diversas opções de transporte público, como a Estação intermodal da Barra Funda, que está localizada bastante próxima ao bairro e possui estação de metrô (linha 3-vermelha), CPTM e um terminal de ônibus municipais e interestaduais. Além disso, outras 3 estações do metrô (das linhas 2-Verde e 3-Vermelha) estão próximas do limite do bairro. O acesso ao bairro se dá de várias maneiras, o que melhora sua relação com a cidade. A quadra estudada está no centro do bairro, bastante próxima a vias como a Cardoso de Almeida e a Avenida Sumaré. 13


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SUPERQUADRA PAULISTANA

1. AZEVEDO, Aroldo (coord.). A cidade de São Paulo. 4 volumes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958. p.23. 2. MEYER, Regina M. Prosperi. Metrópole e Urbanismo: São Paulo anos 50. 1991, Tese de Doutoramento– Faculdade de Arquitetura, Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 29. SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (ed.). A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna 1930-1964. São Paulo: RiMa/ FAPESP, 2002.

Programas emergentes como os grandes condomínios residenciais implantados nos bairros e áreas centrais, e os edifícios-conjunto agregando diversas funções no centro da metrópole, direcionam a atuação dos arquitetos desde o início de suas atividades durante a década de 50, determinando em grande parte os seus procedimentos de projeto. De fato, este período é caracterizado como um momento decisivo no processo de metropolização da cidade de São Paulo, quando já lidera o desenvolvimento econômico do país, abrigando desde então o maior centro industrial da América do Sul.¹ O vertiginoso processo de crescimento que acompanhou a consolidação deste parque industrial e o seu correspondente aporte migratório produziram, dois movimentos opostos e complementares: o crescimento horizontal das periferias e a verticalização do seu centro, aliada ao incremento de novas funções.²

Habitação vertical Para os arquitetos que iniciavam a sua atividade profissional junto à iniciativa privada no mercado da construção durante os anos 50, o processo de crescimento e compactação da metrópole paulistana se tornou visível através do aporte significativo, particularmente em seus bairros mais centrais, de novos empreendimentos habitacionais de grande escala. Segundo Sampaio (2002. p. 26): “ O boom imobiliário que caracterizou o pós-guerra foi decorrente do crescimento da oferta de crédito gerada pelos grandes superávits da balança comercial, devido à quebra de importações. A propriedade imobiliária se tornou campo favorito de investimento dos lucros oriundos da indústria, do comércio ou da exportação agrícola. (...) O uso do condomínio foi também uma novidade que acelerou o mercado imobiliário do pós –guerra. Embora instituído por decreto de 1928, somente no final dos anos 40 começa a ser utilizado pelos construtores paulistanos. “

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Os edifícios empreendidos pelo Lar Brasileiro desde o início dos anos 40 são representativos da adoção de uma nova escala na construção de condomínios habitacionais.¹ Seria dentro deste contexto de grandes empreendimentos habitacionais financiados pela iniciativa privada, e mais particularmente pelo Lar Brasileiro, que Candia, Croce e Alfalo realizariam o projeto para a superquadra em perdizes. Segundo Xavier (1983 p. 36): “ O surto imobiliário em São Paulo (...) favoreceu a grande especulação. Aproveitavam-se, para tais empreendimentos, terrenos estrategicamente situados em esquinas de ruas comerciais, sempre prevendo edifícios mistos. Somente no começo da década de 50 é que se cogitou a execução de grandes conjuntos residenciais instalados em quarteirões inteiros. “

A dimensão do empreendimento, tomada pela totalidade de uma quadra urbana de 150m de extensão, ofereceu a estes arquitetos a oportunidade de ensaiar uma forma alternativa de ocupação do espaço urbano, aplicando aqui os preceitos urbanísticos da Carta de Atenas de liberação do solo para o transeunte e da implantação dos edifícios de forma 20

independente dos alinhamentos das ruas existentes. Todavia o programa de ocupação estabelecido pelo Banco foi sendo sucessivamente alterado. Os arquitetos ensaiariam posteriormente outras alternativas de ocupação da mesma quadra, com projeto de maior adensamento das unidades habitacionais, tendo sido uma destas versões parcialmente executada somente no início dos anos 60. Naquele momento era uma experiência significativa quanto a implementação de novos conceitos urbanísticos através do desenho de uma quadra isolada. 1. Para edifícios construídos pelo Banco Hipotecário Lar Brasileiro, consultamos: SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (ed.). A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna 1930-1964. São Paulo: Rima/FAPESP, 2002. XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo: Pini,1983. Figura à esquerda: perspectiva da versão de 1953 proposta por Aflalo, Candia e Croce, da qual somente o edifício João Ramalho foi construído.


Superquadras de Brasília As primeiras superquadras foram construídas em Brasília há pouco mais de 50 anos como parte do Plano piloto da cidade. Lúcio Costa, autor deste Plano, idealizava uma Unidade de Vizinhança capaz de resgatar as relações entre os vizinhos nas grandes cidades e de unir as atividades comuns do cidadão em modelos funcionais e organizados. Essas superquadras estão dispostas ao longo de quase 15 quilômetros do eixo norte-sul de Brasília, no Setor de Habitação Coletiva, e encontram-se inseridas em quadriláteros de aproximadamente 250 x 250m cada. No entanto, muitas delas não foram construídas segundo o relatório da cidade, e por isso, somente o complexo de quadras SQS 108, 107, 307 e 308 da Asa Sul é que mais se aproxima do conceito original. Apesar dos blocos residenciais serem implantados das mais variadas formas dentro da quadra, pode-se perceber que a maioria segue alguns princípios gerais como o gabarito máximo de seis pavimentos e pilotis e a separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestres. Esta última medida traduz-se na prática como uma via interna em cul-de-sac (ruas-sem-saída), que dá acesso a todos os prédios, mas

possui apenas um ponto de contato entre o interior da superquadra e o restante da cidade. Quanto às fachadas dos edifícios, elas seguem duas tipologias, uma envidraçada e outra com brises, ambas com empenas laterais cegas e faces posteriores com vedos em elementos vazados. O uso de pilotis nesses edifícios tinham como intenção democratizar a áreas de circulação, pois com a habitação elevada, o espaço térreo se tornaria permeável ao movimento pedonal e novas relações espaciais e sociais seriam formadas. Essa característica, no entanto, tem se modificado com o tempo, devido a colocação de cercas vivas, gradeamentos e ao encerramento dos espaços, impedindo a travessia desses locais. A arborização também se faz bastante presente nas quadras, na intenção de reconectar os habitantes com a natureza, característica perdida nas grandes metrópoles. As praças também se encontram espalhadas nos generosos espaços entre os blocos, proporcionando um lugar para convivência e lazer. Como a idéia da superquadra era a de criar um estilo de vida onde os moradores encontrassem nas proximidades de

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sua residência tudo o que precisassem no dia-a-dia, tentou-se também incorporar equipamentos como escolas, igreja, comércio, piscina e cinema. Porém as SQS 107, 108, 307 e 308 foram o único conjunto a conter pelo menos a maioria dessas instalações, como a capela Nossa Senhora de Fátima e o Cine Brasília, na Entrequadra 106/107. Apesar de reclamações em relação à falta de equipamentos, insuficiência de estacionamentos etc, a superquadra ainda mantem uma imagem positiva, como viu-se nas avaliações feitas pelos seus habitantes. Muitos dos que se mudaram para lá, permaneceram e não tem interesse em voltar ao local de origem, pois acreditam terem adquirido uma melhor qualidade de vida. Os residentes também mostram-se engajados nos problemas da região, organizando-se em associações de moradores e sugerindo soluções para os problemas existentes. 22

Figuras da superquadra 308 de Brasília, e sua respectiva implantação.


Figura à direita: foto das superquadras 107 e 108. Figuras abaixo: da esquerda para direita, Capela Nossa Senhora de Fátima, Cine Brasília e equipamento escolar.

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Figuras à esquerda: Edifício João Ramalho com o Edifício Ministro Godoy de Abelardo de Souza ao fundo. A foto mostra o contraste entre estes projetos e o tipo de ocupação do bairro nos anos 1950. Figuras à direita: Conjunto em Perdizes, São Paulo. Abelardo de Souza. Foto-montagem do modelo sobre o bairro. fonte: Revista Arquitetura e Engenharia n.31 - 1954.


Conjunto em Perdizes Este conjunto resultou de uma sucessão de projetos propostos para uma mesma quadra de 21.700 metros quadrados situada no bairro das Perdizes em São Paulo, entre as ruas Dr. Homem de Mello, Franco da Rocha, João Ramalho e Ministro Godoy, incorporada pelo Banco Hipotecário Lar Brasileiro no início dos anos 1950. As tentativas iniciais de se incorporar o quarteirão integralmente em um único projeto atestam a pertinência da dimensão empreendedora desta instituição, responsável pela promoção de uma série de realizações importantes no campo habitacional, que contribuíram para a afirmação da arquitetura moderna entre a iniciativa privada naquele momento. Situado em um bairro estruturado a partir de um parcelamento típico para residências unifamiliares, este empreendimento representou uma oportunidade de se experimentar uma ocupação urbana de caráter distinto, propondo em seus estudos iniciais um conjunto de edifícios habitacionais implantados sobre pilotis em meio a uma quadra aberta. Todavia o projeto foi sendo sucessivamente modificado através de novas versões, que atenderam às mudanças de orientação comercial de seus empreendedores,principalmente em relação à densidade ocupacional da quadra e à tipologia doapartamento comercializado. Após a implantação parcial de quatro versões sucessivas, esta quadra acabou por perder aquelas qualidades previstas inicialmente, tendo sido posteriormente loteada em cinco condomínios distintos. 25


A primeira versão de Abelardo de Souza prevê a implantação de seis lâminas de apartamentos de treze pavimentos sobre pilotis totalizando 312 apartamentos, um edifíciogaragem e um pequeno pavilhão comercial. Deste conjunto, somente dois edifícios foram construídos: o “Ministro Godoy” e o “Franco da Rocha”. A segunda versão, realizadapor Plínio Croce, Roberto Al alo e Salvador Candia, parte de uma maior densidadeocupacional para a quadra, prevendo lâminas maiores de dezenove pavimentos sobrepilotis totalizando 472 apartamentos (incluindo nesta soma os edifícios já construídos). Esta nova versão prevê o estacionamento implantado em semi-subsolo, além de uma área comercial de dimensões semelhantes à primeira proposta. A esta fase corresponde 26

a construção do edifício João Ramalho (1953-54). A terceira versão, realizada novamente pelos mesmos arquitetos do projeto anterior, prevê uma ocupação menos densamente construída, com quatro torres mais compactas em relação aos edifícios anteriores, totalizando 424 apartamentos. Neste projeto, os estacionamentos estão novamente dispostos em semi-subsolo, constituindo em sua cobertura um plano de acesso que comunica o conjunto no pavimento térreo. Desta versão foram construídas somente as torres Barão de Ladário e Barão de Laguna. Na quarta etapa de construção da quadra, o projeto anterior foi novamente abandonado para dar lugar a mais três novas torres e uma área comercial maior, projetadas por outros arquitetos.

Figuras acima: Etapas de projeto observadas em implantação. 1. Projeto de Abelardo de Souza 2. Projeto de Aflalo, Candia e Croce 3. Projeto de Aflalo, Candia e Croce


Figura ao lado: Implantação atual, resultado dos vários projetos. Figuras alinhadas à direita: Pavimento Térreo do Edifício João Ramalho. Observar a relação entre o acesso do edifício e a rua.

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A questão a nosso ver mais relevante no projeto das Perdizes é a dimensão urbanística de sua implantação. Como observamos, na revisão do plano de ocupação da quadra de Perdizes realizada posteriormente em 1959-60, os três arquitetos experimentaram uma outra tipologia para a habitação coletiva. Partindo de um maior adensamento populacional, propuseram agrupar os apartamentos em torres compactas de planta quadrada, com quatro apartamentos servidos por uma única prumada de circulação vertical. Planta funcional Além do adensamento, é notável uma claradistinção entre os espaços de circulação, serviço, estar e repouso, mantendo variaçõesnas tipologias dos apartamentos dentro de uma volumetria mais contida e regular. Há certas soluções recorrentes, como por exemplo o recuo das portas de acesso dos dormitórios em relação aos corredores, conformando um pequeno vestíbulo que caracteriza a entrada dos quartos, conforme havia realizado Corbusier no Pavilhão Suíço da Universidade de Paris (1930-32), para distinguir os acessos daquele conjunto de dormitórios. A escada compacta com os degraus chanfrados no patamar, utilizada em quase todos os edifícios verticais de Candia, já se vê também presente nas torres do Lake Shore Drive, de Mies. 28




PROJETOS FUTUROS

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Linha 6 metrô – “linha das universidades” (FMU, Mackenzie, PUC, FAAP) Inicio 2013 – previsão de entrega 2017 Considerada uma linha de construção complicada, pelo fato de passar por regiões com altas diferenças de altura. Estação Perdizes: Nas proximidades da Avenida Sumaré, depois de uma curva reversa, o traçado alcança a Estação Perdizes, posicionada entre as ruas Apinagés e Apiacás. A Estação PUC-Cardoso de Almeida está posicionada sob o cruzamento da Avenida Cardoso de Almeida com a Rua João Ramalho. Esta estação deverá se situar a grande profundidade devido à topografia da região, composta por sucessivos vales e cumes. 34


Figuras alinhadas à direita: Estação Perdizes. Figura alinhada à esquerda: Estação PUC-Cardoso de Almeida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

FIGUEROA, Mário. Habitação coletiva e a evolução da quadra. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 069.11, Vitruvius, fev. 2006

A quadra aberta é por essência um elemento híbrido conciliador. Permite a diversidade, a pluralidade da arquitetura contemporânea. Ela recupera o valor da rua e da esquina da cidade tradicional, assim como entende as qualidades da autonomia dos edifícios modernos. A relação entre os distintos edifícios e a rua se dá por alinhamentos parciais, o que possibilita aberturas visuais e o acesso mais generoso do sol. Os espaços internos gerados pelas relações entre as distintas tipologias podem variar do restritamente privado ao generosamente público, sem desconsiderar as nuances entre o semipúblico e o semiprivado. Ou pelo menos devería ser, no caso da superquadra em Perdizes, alvo do processo imobiliário que não permitiu tal interesse socio-arquitetônico. Mas já que a transformação da cidade e a sua qualidade, depende do seu desenho, os arquitetos e urbanistas deveríam considerar esse módulo projetual da cidade, e aplicá-la, mesmo que a máquina imobiliária impeça, ou as devore. 37



BIBLIOGRAFIA

PACHECO, José Aranha de Assis. Perdizes, história de um bairro. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico, Divisão do Arquivo Histórico, 1983. AZEVEDO, Aroldo (coord.). A cidade de São Paulo. 4 volumes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958. p.23. MEYER, Regina M. Prosperi. Metrópole e Urbanismo: São Paulo anos 50. 1991, Tese de Doutoramento – Faculdade de Arquitetura, Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 29. SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (ed.). A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna 1930-1964. São Paulo: RiMa/FAPESP, 2002. XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo: Pini, 1983. FERRONI, Eduardo; IWAMIZU, Cesar Shundi. Salvador Candia. Associação Escola da Cidade, 2013. FERRONI, Eduardo. Aproximações sobre a obra de Salvador Cândia. Dissertação de Mestrado FAU USP, 2008. BEISL RAMOS, Tânia. Superquadra: vida suspensa. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 112.04, Vitruvius, set. 2009. arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008 mdc.arq.br/2009/06/02/os-blocos-de-superquadra-um-tipo-da-modernidade/

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