Rascunhos de caio fabricius

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aval que venha amor carnal pra aquietar o profundo um nĂŁo especial venha boca qualquer com gosto de todo mundo que leve pra longe o punhal a tormenta que ĂŠ estar no carnaval como um moribundo pensando naquela mulher


nighttime tenho andado pelo submundo das notas descompassadas onde há fumaça e camurça e carcaça pelas beiras na companhia de bacharéis do nada tenho acreditado em idéias absurdas usado frases dos outros sem os merecidos créditos desfeito planos aberto buracos na telha


tattiane sabe de tudo tattiane sabe de tudo entendeu coisas além se mandou e fez questão de não contar pra ninguém tem vivido em casa pequena senta em galho todas as tardes escreve em código sua compreensão pós-terrena pros antigos amigos boa sorte tomara que alcancem mas sente pena tattiane do mundo da lua tão dizendo pra lá e pra cá se metendo com vira-lata ganja dando rasteira em problema


a cura de john john me gritou em seus últimos momentos de agonia quando estava com o copo de cura na mão jogou o conteúdo em sua e na minha cara também na cara dos meus dois amigos o antigo e o novo demos as mãos nós quatro abaixamos a cabeça como que numa reza e os bons espíritos nos cercaram lavaram nosso cabelo com o conteúdo do copo nossa circulação voltava a ser como a dos esguios animais que outrora fomos levantamos a cabeça e, sorrindo, ouvimos john dizendo para gravar, somente água por dez dias


Um tiro no touro Um tiro no touro O touro caiu Sangrando Espraguejou a bala que Ele mesmo havia comprado Seu couro Curtido na lix铆via e Esticado Era mostrado na vitrine Por que passei E ignorei, eu, sua Casca Resolvi arriscar e tomar Talvez Tiro Deixar que tirassem meu dente E, exibido em colar, num cabide Alertasse Talvez O pr贸ximo animal desavisado


in aria naquele mundo onde tudo é diferente eu vi você sob o sol a pino foi mais fácil de explicar e de entender solucionamos sem gastura a história atendendo ao vertebral impulso que parecia absurdo no mundo onde nada é diferente quando na hora que fatalmente chegaria eu disse até mais você fechou os olhos como que pensando boa viagem, adeus volte à realidade das armadilhas tente manter-se são meu amor partimos o abraço encaixado pra que desse tempo de pegar o expresso desaguei na crua temperatura do cruel plano abri os olhos com raiva


você ficou você gosta do gosto isso me impressiona gosta do gosto e não enjoa eu gosto também do teu muito em todo dia quero sentí-lo aqui minha boca arde costela e nuca pedem acorda em mim um colosso que chama o seu nome você vem ébria e paciente se deita na paisagem alimenta as feras e deixa um tanto mais de fome


conecta passava como eletricidade da minha mão para a sua da sua boca para a minha os fluídos trocados misturados num balde e eu senti o seu pulmão virou meu pulmão também você, talvez, tenha sentido meu estômago e, talvez, ele tenha virado estômago seu ainda batia na cabeça o néctar a pupila ainda se escancarava disposta a enxergar como nunca o que estava a palmo ou milhas estampado na textura ou codificado na profundidade e pra dentro de você eu fui com força faltou só abrirem-se os pulsos e ligarem-se artérias pra termos o atestado de um só


lilies of the valley música que não me sai da cabeça cancão sobre lírios do vale das borboletas em êxtase dum filme que nunca vi só ouvi falar a dança da terra perfeita e esquizofrênica mãe a que põe desafios na trama a fome, o frio qualquer medida que proteja seus animais sob a telha da sanidade a dança esquisita que revela em sussurro as arapucas do infinito a dor de cabeça eu absorto ouvindo esse som alimentando a epifania absurda disléxica a compreensão total dum conhecimento aleatório abismado em trabalho de parto de intransmissíveis observações e seus abortos o piano, cadê? é agora não, não é é agora


Experiência sonora na vila das feras Eu estava no quarto com as janelas furadas Entrou pela porta a minha mestra A que ajudava nas compreensões E me lançou a nova: Estar em paz em meio ao barulho Quando vi, já estava, de novo, na velha cidade Parado na calçada e sozinho Passavam por mim aquelas pessoas Cinzas como nuvens e duras como pilastras Na pele os caracachos E missões diárias explosivas como a pólvora O estado de lagoa em que eu me mantinha titubeava Os traços, até então alinhados Formavam barrigas A cidade gritava Estridente Tentei não ouvir Me focar em outra coisa Procurei algum apito que me puxasse Alguma freqüência-salva arquivada desde as semanas na cabana Mas só havia um chiado mixuruca Formigal Me invadia de volta a cidade Com força Berrando na minha cara Pensei na velha rasteira De respirar, perceber os órgãos dentro da barriga E os intestinos aquietarem qualquer barulho Mas perto de todo o resto O macete minguou no nublo Cego Já estava desorientado, mergulhando na vertigem Quando me levou de volta a minha mestra Eu caído no chão de madeira, respirando fundo e o olho arregalado Ela me olhando paciente, sem dó ou desapontamento Respirando com calma me disse: Daqui a uns dias você volta


Saiu flutuando em seu vestido A paisagem jรก era aquela Que eu gostava E em minutos jรก via tudo Como que por antenas Me lembrei de como era estar distante E sรณ pensava em Ficar ali


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