JOIA RARA

Page 1

JOIA RARA.

Muhammad Felipe Pereira. Sem Muhammad. Gosta de ler, odeia matemática. Gosta de religiões, não gosta de matemática. Corre risco de ser depejado pela Prefeitura de Bagé, RS, e segue não gostando de números. Cuida de uma criança de um ano – filho de uns conhecidos-, não quer saber de subtrair. Gosta de carnaval, fazer caridade e festas à fantasia. Muhammad Felipe. Sem o Muhammad. Sem o ouro: almoço de um dia antes, geladeira vazia que pinga, paredes com mofo, banheiro sem chuveiro. Janelas roubadas, portas improvisadas. Desempregado. Não! Não gosta de matemática.

“Tenho um macacão lindíssimo que fiz para o carnaval passado”.


Parte de baixo da casa onde mora e onde ficam a cozinha e o banheiro. Sem porta.

Corredor que fica ao lado do banheiro e da cozinha. Sem porta.


Armário da cozinha.

“Não vai fotografar minha geladeira, guria! Coitada, está vazia!”, disse. “Estou fotografando esse copo. Que bonito! O amor!” Além de


limões e panelas vazias, os talheres, o copo e o prato eram os únicos itens dentro da geladeira. Que pingava dentro do copo.

Fogão Realce. Almoço do dia em que nos conhecemos. Tinha feito um dia antes.


Na parte de cima: sala, quarto e varanda. Aqui organizava os santos.

Altar feito com santos que ganhou de amigos e vizinhos. Me pediu que lhe presenteasse uma imagem de Jesus Cristo quando fosse para BagĂŠ outra vez.


Porta que separa a sala e o quarto. Os balĂľes eram de uma festa que havia feito hĂĄ dias.

A porta do quarto e o menino. Dormia.


Felipe. Na peça em frente a varanda. Me contava sobre o provável despejo.

“Eu sou o vencedor”. Na parede.


Na peça que fica em frente à varanda, livros.

Embaixo dos livros, rastros.


Procurou o macacão que havia feito no carnaval, não encontrou. Mas me mostrou a fantasia de Joia Rara. Colocou o chapéu e pedi para fotografá-lo. Quis ir na varanda, tinha sol.

Na parede de fora, um enfeite ao lado da tábua que ocupa o lugar da janela.


Ao sair da sala, indo embora, o rรกdio e a pรกtria amada.


Antes de sair, pedi que colocasse um pano que usa para decorar a casa em dias de festas (aluga o espaço para aniversários). Me disse que uma vez se fantasiou de árabe. “Tens cara!”, lhe disse. Muhammad Felipe Pereira. Não gosta de matemática. Não gosta de pensar no pior. Acredita que está no mundo para fazer o bem. Sorri o tempo inteiro. Pediu que voltasse. “Para comermos um pudim e tomar vinho”, convidou. Voltarei.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.