Magazine - Carlos Simioni ensina a dança do ator

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Belém, segunda-feira, 21 DE janeiro de 2013

oliberal

Luzia divulga a lista dos melhores filmes dos leitores. Página 6.

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Carlos Simioni ensina a Dança do Ator patuanú Ator pesquisador ministra técnica para despertar as emoções no corpo Quinze artistas, das cinco regiões do Brasil e dos países Costa Rica e Panamá, sob orientação de Carlos Simioni, do Lume Teatro, participam do IV Encontro Patuanú - Núcleo de Pesquisa em Dança de Ator – que começou no dia 14 de janeiro e segue até 2 de fevereiro, na Escola de Teatro e Dança da UFPA. O projeto promove oficinas, palestras, demonstrações técnicas da pesquisa, trocas com grupos locais e espetáculos, tudo gratuito. O Patuanú faz, desde 2010, encontros anuais para difundir, promover e aprofundar a pesquisa em Dança de Ator em diferentes cidades do Brasil. Nascido em Curitiba, o ator-pesquisador Carlos Simioni, foi o primeiro discípulo de Luís Otávio Burnier, com quem fundou o LUME em 1985 e desenvolveu pesquisas nas áreas da antropologia teatral e cultura brasileira e trabalhou na elaboração e codificação de técnicas corpóreas e vocais de representação para o ator. Ministrou cursos de preparação técnica do ator, voz e ação vocal, clown e demonstrações técnicas dos trabalhos do LUME em todo o Brasil e em mais 25 países. Na entrevista a seguir, Simioni fala sobre o desenvolvimento da técnica que conduz o Núcleo Patuanú, e que se baseia no exercício da presença cênica e na investigação de diferentes qualidades de energia, movimentos e impulsos internos do corpo que despertam o ator e o espectador. nO Patuanú trabalha a técnica de treinamento Dança de Ator, queria que você explicasse a base dela e como funciona no trabalho com o ator. n Ela começou como Dança Pessoal do Ator, em que o ator de teatro trabalha com o seu corpo. Esse corpo tem que ser vivo, canal das suas verdades e ao mesmo tempo tem que desenhar no espaço em suas diferentes qualidades de energia. Um corpo não é só musculatura, é vibração, sentimento, emoção, memória, história, espírito. Nós temos muitas coisas adormecidas em nós. O ator tem que acordá-las. Isso acontece desde qe você começa a ser educado. ‘Para, não fala alto, menina!’, ‘Senta direito’. Isso limita o seu corpo e a Dança do Pessoal, através de exercícios físicos, acorda o adormecido através de gestualidade, movimentos e sentimentos que saem através do corpo. Este corpo, ao ser acordado, dança o espírito, as emoções, as prisões das quais agora está livre, a extrapolação das limitações. Quando o ator vai construir um espetáculo, ele pode muito bem usar pedaços dessa Dança Pessoal e depois separar, escolher onde vai usar e onde vai segurar, fazer maior ou menor. nPara quê e de que forma essa energia do ator é trabalhada? n Se você é uma atriz e quer viver vários personagens, tem que conhecer diferentes possibilidades dentro de você. Ser ator não é ser falso. Se o ator tem que fazer um personagem que é malvado, não tem porque imaginar como é ser malvado. Dentro

de você existem todas as qualidades, você é um ser humano completo, só não se conhece. Ao trabalhar fisicamente e entrar em contato com o seu eu, você vai liberando a malvada de dentro de você. Para cada personagem você encontra uma vibração muscular, física, energética dentro do seu

corpo, que às vezes é potente e às vezes é muito sutil, ou pula de uma pra outra. Isso são as qualidades de energias e de vibração. nCom todos os detalhes trabalhados nas técnicas, como fica o espectador que não está nem aí para o processo ou

detalhes? n A gente faz tudo isso justamente para atingir o espectador, que não precisa saber de técnica nenhuma. Se o ator trabalha a Dança Pessoal, ele traz dentro de si verdade e essa verdade pulsa, ao pulsar o espectador sente e recebe as vibrações. Se eu expando a ener-

gia que eu trabalhei, ela chega até o espectador que está ali, vivo. Existe uma confluência com o espectador. É diferente quando há uma peça de teatro em que o ator está todo mole fazendo o cotidiano e o espectador senta e fica relaxado só vendo. Nesse teatro que a gente faz, o ator é vivo, potente,

vibracional, energético e nele o espectador jamais fica relaxado, ele sente alguma coisa que nem sabe o que é. A gente trabalha porque somos operários do teatro, que atinge o espectador que paga ou sai da sua casa para ver alguma coisa. Assim fica mais gostoso de fazer, muito mais.


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