"Água mole, pedra dura" - I Bienal do Barro

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ÁGUA MOLE, PEDRA DURA

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NÚCLEO CONTEMPORÂNEO 1

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AGRADECIMENTOS Adones Valença

Mariana Moura

Afonso Luz

Nego

Amélia Campello Gestora do Museu do Barro de Caruaru

Osório Chalegre Presidente do CaruaruPrev

Amélia Campos Amélia Couto Associação dos Artesãos do Alto do Moura

Paula Alzugaray Pepa Ingrid Raphael Fonseca Raul Córdula

Cristiana Tejo

Regina Lúcia Diretora dos Museus da Cidade de Caruaru

Família Vitalino

Roberto Conduru

Flavia Melo

Roberto Martins Pousada Casa da Gente

Clarissa Diniz

George Pereira

Ivonete Lima

Rosseano Vasconcelos Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru

Janaina Melo

Sandra Barata

Jandoval Bezerra Bezerra Engenharia

Sueli do Sacramento

Gleyce Heitor

Janduir Bezerra Bezerra Engenharia João Bezerra Bezerra Engenharia Jonas Arrabal Julia Rebouças

Suzy Okamoto Tiago Cadete Valkiria Dias Walmiré Dimeron Zélia Viana Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru

Justino Passos Leandra Espírito Santo Lucia Felix Diretora de Turismo Marcus Lontra Costa

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O CORPO BARROCO Na sua primeira edição, a Bienal do Barro do Brasil é a conformação física de uma ideia dividida durante anos com amigos e parceiros que incansavelmente me ouviam falar de uma Bienal imaginada com a proposta de um “acerto de contas com o passado” não apenas em defesa de um legado deixado pelo mestres Vitalino e Galdino, mas, principalmente, do que originou e serviu como plataforma poética e criação da identidade cultural do agreste pernambucano, o Barro. A palavra Agreste, cujo anagrama é “resgate”, é sintoma da vocação dessa região do nordeste do Brasil, de se reinventar, e a Bienal pretende ser um elemento ativador desse processo, cujo objetivo é legitimar o barro como o “tesouro do agreste”. Um contorcionismo semântico, articulando o corpo, o barro e oco, serviu como base conceitual para criação da Bienal. Uma obra de arte que se estendeu, que foi além, que diluiu fronteiras. A Bienal do Barro é um projeto transcultural, cuja proposta é lançar um olhar contemporâneo sobre o barro e, desta maneira, ativar varias possibilidades de seu uso, em diferentes suportes e assuntos, que obviamente se flexionam com o Barro e o atravessam.

Recife, 28.03.2014 Carlos Mélo Idealizador, coordenador geral e co-curador da 1ª Bienal do Barro do Brasil

Nesta edição com o tema “água mole, pedra dura” teremos dezesseis artistas cujas obras propõem e ativam o começo de uma e empolgante jornada, a afirmação do Barro como assunto fundamental na cena e no imaginário da arte atual, no Brasil e no mundo. A Bienal é um projeto que não se basta na sua vontade de representação, mas que fundamenta e ativa assuntos de interesse universal como o corpo, o lugar e a natureza. Como uma espécie de espelho, ora generoso, ora perverso, cujos reflexos não tenho ainda a noção do seu alcance. Sei, porém, que o primeiro raio precisa ser lançado como luz sobre uma história de luta e resistência, mas, também, para o rompimento do lacre impermeável do poder, como diria Pierre Restany, que nem sempre está a serviço da sensibilidade. Ela nasce sob o signo da continuidade e eu acredito na força da origem natural das coisas. 5

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I BIENAL DO BARRO ÁGUA MOLE, PEDRA DURA Haverá alguma coisa mais dura que a pedra e mais mole que a água? Todavia a água mole em rocha dura tanto bate até que fura. Se fores persistente, conquistarás a própria Penélope. Com essas palavras, Ovídio, escritor romano, escreve a sua “Arte de amar”, terminada entre os anos I a.C. e I d.C. Para minha surpresa, o famoso provérbio que por tantos anos julguei ser algo próprio do Brasil, tinha origem no berço da chamada tradição clássica. Um elogio à insistência, “água mole em pedra dura” diz respeito à perseverança que o amante deve ter para conquistar a outra pessoa que deseja. Trazendo essa frase para um contexto brasileiro, se trata de uma afirmação por algumas vezes tida como um monumento ao ato de seguirmos na busca por algo. Como escrevia o artista Hélio Oiticica, em 1967, “da adversidade vivemos”, ou seja, os percalços estão todos ao nosso redor, mas ainda perseveramos, tentamos contorná-los e algumas pessoas ainda conseguem fazer graça com tudo aquilo que é adverso. Quando fui convidado para assinar a curadoria da I Bienal do Barro, desejei uma exposição que apenas poderia acontecer na cidade de Caruaru. Após visitar a cidade, do Alto do Moura à Fábrica Caroá, e pesquisar sobre sua História recente, algumas palavras-chave surgiram como norteadoras desse projeto curatorial. O barro, como o próprio nome do evento indica, não poderia ser deixado de lado. Seja enquanto matéria bruta, advindo diretamente do solo e depois moldado pela mão humana, seja enquanto possibilidade da cerâmica que fez Caruaru se tornar num pólo de produção importante e famoso por figuras como Mestre Galdino e Mestre Vitalino; aqui ele está novamente presente por mãos que se apropriam de diferentes modos de sua potência. 7

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Essa lembrança do barro deixa perguntas difíceis de serem respondidas, mas essenciais para essa curadoria: qual o lugar desses mestres artesãos na contemporaneidade? De que modo sua projeção como ícones nacionais deixam marcas incontornáveis para Caruaru? Muito se usa o termo “arte popular” para se referir a essa produção não só de Caruaru, mas de um grande número de cidades do Brasil em que o fazer artesanal seria transmitido por um viés quase hereditário. Mas quais agentes que institucionalizam essa produção por essa perspectiva? Até que ponto, em 2014, ainda seria válido abordar uma produção de imagens como “popular” quando mídias como a internet viralizam imagens de todo o formato e geografias em poucos minutos? Pensar essa exposição para um espaço monumental como a Fábrica Caroá endossa essas últimas perguntas: qual o lugar do industrial em Caruaru? É no mínimo interessante constatar a importância dessa fábrica, rico pólo industrial não só localmente, mas em todo o Brasil durante a primeira metade do século XX. Quem diria que antes da cerâmica popular despontar como traço identitário da cidade, a mesma tinha como ícone uma fábrica e suas máquinas que desfibrilavam a planta caroá através de um grande número de trabalhadores que tinham seus corpos repletos da poeira que ocupava o espaço? Poderíamos chamar essa fábrica de potência popular devido à massiva presença dos agora anônimos trabalhadores? Quais indícios seriam capazes de recontar parte das histórias dessas vidas? “Água mole, pedra dura” recodifica a fala de Ovídio para se pensar o caráter maleável do fazer com o barro e do uso de termos que se referem a modos de produção que, após décadas de discursos, se tornaram nomes próprios que talvez mais engessem a vivência cotidiana do que abram espaço para reflexão. Por outro lado, como lidar também com o conceito de “erudito”, muito usado na abordagem da arte contemporânea, quando esta há muitas décadas já se utiliza de objetos industriais e do consumo em massa? Há espaço para a discussão contemporânea de arte que fuja dos muros da academia e que coloque o espectador e seus juízos nos holofotes? Tendo isso em mente, é importante nesse projeto expositivo reunir trabalhos de artistas que colocam essas fronteiras fictícias entre culturas em cheque. Por fim, essa exposição quer trazer à tona a segunda parte

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dessa frase aqui não explicitada, ou seja, o “tanto bate até que fura”. Cremos que esse projeto pode se relacionar com a ideia de resistência cultural em dois sentidos. No primeiro deles, é inevitável a lembrança de que a produção artesanal do Alto do Moura sofre das mais diversas adversidades – seja no que diz respeito à estrutura básica de moradia e, por exemplo, saneamento básico desse bairro, como da produção em escala quase industrial e cansativa feitas pelas famílias que lá habitam. Num segundo olhar, pensamos que realizar uma exposição de arte contemporânea em uma cidade onde o peso da “arte popular” é muito forte, se trata também de uma operação de pensar numa resistência e insistência cultural afim de que os habitantes da cidade tenham acesso a uma diversidade de expressões artísticas. Mais do que implantar à força uma forma de produção de imagens, essa exposição se trata de um convite para que Caruaru, os artistas aqui convidados e os visitantes da cidade, pensem sobre a possibilidade de se criar imagens e reflexões através de diferentes pontos de vista. Gostaríamos de abrir a possibilidade para que existam outras formações do olhar para diversas gerações sempre respeitando e refletindo sobre as tradições locais. De origens, formações e gerações distintas, os dezesseis artistas participantes desse projeto não tem a intenção de ilustrar parte da História de Caruaru, mas sim pensar de que modo os acontecimentos e questões percebidos na formação da cidade podem dialogar com suas próprias trajetórias e interesses como artistas visuais. Trata-se de uma via de mão dupla entre o observar um espaço novo e se manter fiel às suas convicções enquanto indivíduo responsável eticamente por problematizar o mundo através da imagem. Que essa primeira edição do evento seja capaz de, mais do que apenas furar a pedra dura, começar a abrir um rio onde, no futuro, um maior número sempre diverso de pessoas possa enfiar seus pés e levar para casa, para sua memória, um diferente pedaço de barro.

Rio de Janeiro, 27.03.2014 Raphael Fonseca Curador da 1ª Bienal do Barro do Brasil 9

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CONTA-GOTAS-DEMAR-MISTÉRIO-DEAMOR

Amo e digo, amo e amamos, e sinto, e quero, e bobo, e tolo, e ela, e tudo, e tempo. Num querendo viver de nós dois, tudo num querendo querer de nós dois.”

“Numa noite exageradamente quente a palavra não redime. O que, pois está escrito? Uma camisa suada. Um rosto observador que se esconde na multidão. O que ele diz e não diz? Que parece tolo, que parece bobo, e não diz? O que a encanta e não diz, que parece tolo, que parece bobo e não diz? A fuga premeditada, o prazer do sequestro. Uma Paris que não existe existindo em nós. Belém-Paris-tropical. A conversa solta tão esperada. A putas do 1900 tão grávidas de sentimento e de desejos de fala. Olhar que diz e perturba o artista. É pai ou cúmplice? Ou cúmplice-pai? Morre um pedaço de nós na LatinaAmérica. Chora a realidade “tardã”. Chora a realidade descarnada de sonhos. Uma breve esperança de que o dia vazio enterneça a noite prenhe e vivida. O chapa, o chefe são bem-vindos e amados. Urge o encontro, as putas dormem para o avesso do tempo que segue a diante, mas continuam a nos arguir sentimentos. Vermelhos coques de Paris e mangas-frutos elegantes a serem banqueteados no desesperador e constante “débâcle-bancarrota” das selvas. O-mistério-de-Clara-no-Mar-DulceBarroco-Oco. O que, pois está escrito? “Conectou a uma bailarina de corda o mecanismo do relógio, e o brinquedo dançou sem interrupção, ao compasso da própria música, durante três dias.” Amo a mulher que está ao meu lado. Amo seu corpo, seu cheiro que movimenta tudo, a bailarina sem relógio que é, seu relógio de pulso sem sentido, o celular sem sentido, a bússola sem sentido, o chapa, o chefe, o que se diz sem dizer, a menina que é, o desejo que é. O pingo. A lágrima-rio-barro-barroco-que-cai. O contagotas de desejos, os segredos de amor. Um parque de diversão à deriva de si mesmo. As princesas todas. Ariel. Ariel. O todo, o nada da existência. O movimento, o nada. O desejo de permanência. O desejo de filho. De perpetuidade de sentimento. Uma Paris que não existe existindo em nós. Morre um pedaço de nós na Latina-América. Amo e amo.

Armando Queiroz

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Para a Bienal do Barro, além de mostrar os vídeos “O mistério de clara” (2014) e “Mar dulce barroco” (2009), Armando Queiroz realizou a ação de transportar, dentro de uma garrafa pet, a água coletada na cidade de Belém do Pará para o espaço da Fábrica Caroá. Pouco a pouco, portanto, a água barrenta amazônica se transpunha para Caruaru e compunha uma espécie de tríptico com os trabalhos audiovisuais também apresentados.

ARMANDO QUEIROZ Nasceu em Belém (PA), em 1968. Vive em Belém (PA). Sua produção artística abrange desde objetos diminutos até obras em grande escala e intervenções urbanas. Detémse conceitualmente às questões sociais, políticas, patrimoniais e as questões relacionadas à arte e a vida. Cria a partir de observações do cotidiano das ruas, apropria-se de objetos populares de várias procedências, tem como referência a cidade e o Outro. Foi contemplado com a bolsa de pesquisa em arte do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas 2009-2010. Em 2010, recebeu Sala Especial no 29º Arte Pará como artista homenageado do salão. Em 2011, participa da 16ª Bienal de Cerveira (Portugal) e da III Bienal do Fim do Mundo, Ushuaia (Argentina). Em 2012, é artista convidado do 64º Salão Paranaense. Em 2013, participa da XX Bienal Internacional de Curitiba. Vive e trabalha em Belém.

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INSÍPIDO, INODORO E INCOLOR Meu trabalho tem sido uma tentativa de investigar a pertinência da pintura na contemporaneidade. O que caracteriza nossa paisagem é justamente este excesso, esta enxurrada constante de informações, depoimentos, palavras, imagens e sons gravados, memórias acumuladas e sobrepostas que nos submergem e se reproduzem indefinidamente. Como prosseguir produzindo discursos que interessam em meio a este acúmulo excessivo de coisas? Penso que as imagens contemporâneas estão perdendo seu poder de representação porque o que a maioria delas representa hoje não nos falta. Entretanto, “há tantas imagens perfeitamente visíveis que não podemos ver. Michel Foucault disse um dia que o papel da filosofia não era tanto tornar visível o que era invisível, mas fazer-nos ver o que já é visível e que os nossos olhos reprimem”. Visitando a famosa feira de Caruaru, bem no centro da cidade, cruzei uma ponte sobre o rio Ipojuca, o terceiro rio mais poluído do Brasil. A cena era entristecedora, muito lixo nas encostas, águas fétidas e negras do que poderia ser o cartão postal da cidade. A grande maioria dos pintores de paisagem escolhem cenários bucólicos para reproduzir e excluem do quadro aquilo que não lhes parece bem. Procurei fazer o oposto. Tentei representar a sujeira, o mau cheiro e a feiúra do lugar. O estado atual lamentável do rio Ipojuca é o retrato do descaso da população e de seus governantes, é o resultado direto do que costumamos chamar de “progresso”. Espero assim provocar os habitantes de Caruaru e seus governantes para que este triste cenário realmente desapareça. Clarissa Campello

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CLARISSA CAMPELLO Nasceu em Vitória (ES), em 1978. Vive em Juazeiro (BA). Concluí o mestrado em Linguagens Visuais da UFRJ em 2004 e o doutorado em 2012 nesta mesma instituição. Atualmente sou professora adjunta do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Juazeiro/BA. Fui mapeada pelo Programa Rumos Itaú Cultural das Artes Visuais 2001/2003. Recebi o prêmio Interferências Urbanas no Rio de Janeiro em 2008, com a escultura inflável “Getúlio é pop” em parceria com Leidiane Carvalho. Em 2009 participei do SPA das Artes com uma intervenção de pintura na cidade do Recife/PE. Em 2010 participei do programa de exposições do MARP, em Ribeirão Preto/SP e concluí o programa Aprofundamento na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que culminou na exposição Entre-vistas, curada por Glória Ferreira. Em 2011 fui premiada com a bolsa residência no 62º Salão de Abril de Fortaleza/ CE pelo trabalho “retratos”, realizado dentro do presídio de Itaitinga. Participei da mostra Sinais do Fazer em Juazeiro do Norte/CE com a intervenção urbana Espelhamento. Sou representada pela Galeria Sérgio Gonçalves no Rio de Janeiro. Sou gay, sou mãe, ainda não morri, mas chego lá!

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MUDANÇA DE SENTIDO Há alguns anos a Fábrica Caroá faliu definitivamente. O galpão onde funcionava foi doado à Prefeitura de Caruaru, com o objetivo de transformá-lo em Centro Cultural. No entanto, o espaço nunca foi utilizado como tal e, poucos anos após a doação, tornou-se num estacionamento. Agora que o espaço, pela primeira vez, funciona de acordo com seu propósito, nada mais justo do que reservar alguns metros quadrados dedicados a sua utilização deturpada. Construiu-se, então, em uma de suas entradas laterais (justamente aquela por onde os carros entravam com frequência), uma muralha de tijolos pintada tal qual as indicações pictóricas de varios tipos de estacionamento encontrados pelo Brasil. As setas que indicam um percurso, na verdade, enganam o olhar do motorista inusitado que dará de cara com um muro fechado de tijolos. Do outro lado da escultura, na perspectiva do galpão onde os outros trabalhos se encontram reunidos, uma frase que deixa claro o convite do trabalho à Prefeitura de Caruaru e os estacionadores: “mudança de sentido” – e que outras posibilidades de exposições e outras mudanças após essa venham à tona. Daniel Murgel

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DANIEL MURGEL Nasceu em Niterói (RJ), em 1981. Vive no Rio de Janeiro (RJ). Iniciou sua produção em 2004 atuando em coletivos de artistas – Grupo Pi e Opavivará. A partir de 2007 estabeleceu sua produção individual, participando de exposições individuais, coletivas, salões e residências artísticas em diferentes estados com uma produção voltada para o desenho e as instalações. Exposições individuais no Centro Cultural do Banco do Nordeste (Cariri, 2010), na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, 2009) e nas galerias Laura Marsiaj Arte Contemporânea e Mercedes Viegas (Rio de Janeiro 2010 e 2008). Entre as exposições coletivas destacam-se: “Abotoados pela Manga” (São Paulo, 2010), “Novas aquisições de Gilberto Chateaubriand” (MAM-RJ, 2010), “Arte in Loco” (FUNCEB, Buenos Aires, 2009), “Desenho em todos os sentidos” (SESC-RJ, 2008) e “Museu Vazio” (MAC-Niterói, 2007). Em 2013, recebe o prêmio Arte Patrimônio (IPHAN) e participa de uma exposição coletiva no Paço Imperial (Rio de Janeiro). Em 2010 foi premiado no 30º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte/Bolsa Pampulha e indicado ao Prêmio Marcantônio Vilaça; em 2007 foi premiado no 58º Salão de Abril, em Fortaleza, Ceará. Participou de residências artísticas em Buenos Aires (El Aleph Arte) em 2009 e em Belo Horizonte em 2010/2011 (Bolsa Pampulha). Suas obras aparecem em coleções públicas e particulares entre as quais destacam-se a coleção Gilberto Chateaubriand/MAM – RJ e a coleção do Banco do Nordeste do Brasil.

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REPARO Tenho interesse pela maneira como nos percebemos a partir das estruturas que nos cercam. Dentro do quarto, da casa ou cidade, temos uma maneira de estabelecer um espaço vital (individual ou coletivo) ao delimitar áreas para viver e conviver. Busco os desvios, os objetos incômodos e um olhar sobre como afetamos e somos afetados por nossas formas de estar no mundo. Esses são exemplos desse lugar que busco observar e que alimenta meu trabalho. Kintsugi ou Kintsukuroi é uma técnica japonesa utilizada para consertar peças de cerâmica quebradas utilizando ouro nas junções. O trabalho cuidadoso, para além da evidente questão estética traz em si um pensamento sobre o valor das marcas resultantes das experiências da vida. O tempo é um forte provedor de histórias que se concentram nas marcas que em geral são ignoradas ou apagadas na tentativa de mostrar que não existiram. Ao chegar no Alto do Moura, bairro onde se concentra a produção de peças de barro de Caruaru, a imagem dos artesãos surgiam nas portas abertas de casas sempre pequenas. Trabalham dia e noite na manipulação do barro em um perverso ciclo sem fim de exploração da sua atividade. Aproximei as mãos barrentas e enrugadas pelo tempo com as linhas de ouro da cerâmica japonesa para propor a ação de uma manufatura que remete ao que visualizei sendo feito pelos artesãos, mas que substitui o barro por vidro, e o ouro por barro na tentativa vã de reaver o objeto original. As peças foram realizadas com a gentil participação de Pepa e Tiago Cadete. Jared Domício

JARED DOMÍCIO Fortaleza 1973 (CE). Vive em Fortaleza (CE). Forma-se em Ciências Sociais na Universidade Estadual do Ceará – UECE em 2001. Conclui a especialização: Artes visuais: cultura e criação, em 2012. Inicia o Mestrado em Artes na Universidade Federal do Ceará em 2013. Participa da Bienal Pirelli de Fotografia no Museu de Arte de São Paulo. Em 2010, é premiado no 61º Salão de Abril, em Fortaleza - CE. Dentre as principais exposições estão: Desenhos e outras situações de risco, Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBNB), em Fortaleza, em 2008. Vizinhos, no Museum Quartier, em Viena, na Áustria, em 2006. “Projéteis – Redemergências”, na FUNARTE, no Rio de Janeiro – RJ, em 2005. Salão Nacional de Arte Contemporânea do Paraná, no MAC – Curitiba – PR, em 2005. “Storage and Display”, no Programa Art Center, na Cidade do México, em 2003. Em 2003 é selecionado para a bolsa Pampulha do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte – MG. Fotos:

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Fotos: Reprodução / Jared Domicio

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RODA

Foto: Victor Jucá

“Roda” consiste, grosso modo, numa projeção alegórica apresentada no interstício entre as categorias de “ação” e “escultura”, que conjuga dois elementos simbólicos em torno da história cultural e econômica de Caruaru, a dizer: em primeiro lugar, da imaginária de rodas ou cirandas populares, recorrentes em boa parte da produção de barro dos artistas do Alto do Moura (cujos pés são representados, à exceção da imaginária de Galdino, afundados na própria base que lhes sustentam como estatuária); e em segundo, dos gestos de repetição e de castigo laboral sugeridos por minhas leituras de documentos fotográficos extraídos do período de funcionamento da antiga Fábrica de Caroá, hoje Centro Cultural Tancredo Neves, sede do núcleo contemporâneo da Bienal no centro da cidade. Conceitualmente, o trabalho pode ser descrito sob a forma de uma instrução de calçamento e de destruição de pedestais que fixam as pessoas/partes do trabalho durante tempo cronometrado, cujo propósito repousa entre o obscuro e o disfuncional. Assim, sintaticamente, seis pessoas executaram três movimentos marcados pelo relógio posto no centro da roda de trabalho e destruição: Tempo 1 {15:30} - dispostos lado a lado de cada bloco, as 6 pessoas aguardaram seus calçamentos, respectivamente, nos 6 pares de botas fixados dentro de cada pedestal, definidos como área de trabalho e de limite; Tempo 2 {15:30-16h} - já calçados e munidos de machadinho, aguardaram de pé e inertes o despertador-panóptico tocar; Tempo 3 {16h-16:15} - com o auxílio da machadinha, placidamente, se deu a produção de uma fenda de um palmo de largura à frente de cada área de trabalho e de limite, expondo seu conteúdo feito de barro. Jorge Soledar

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JORGE SOLEDAR Nasceu em 1979, em Porto Alegre (RS). Vive no Rio de Janeiro (RJ). Jorge Soledar é doutorando em artes visuais pela linha de linguagens visuais (UFRJ, em andamento), mestre em artes visuais pela linha de Poéticas Interdisciplinares (UFRJ, 2012) e bacharel em artes plásticas com hab. em história, teoria e crítica de arte (UFRGS, 2008). Frequenta cursos informais, como Atelier Livre e Arena (2004-7) em Porto Alegre e o programa de aprofundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2012). Em 2011, foi premiado pelo ARTECreative (França), em 2009, foi selecionado pela Bolsa Iberê Camargo e também, no mesmo ano, com o Grupo Mergulho (Ali Kodhr, Camila Mello, Jorge Soledar e Manuela Eichner), pelo Rumos Itaú Cultural “Trilhas do Desejo”. Exposições individuais: “That´s How I Became Insensitive”. Galeria IBEU, Rio de Janeiro/RJ, 2013; “Torre, Casa E Ponte”. Festival Photofluxo, Rio Grande/ RS, 2012; “Kit De Sobrevivência”. Galeira Ordovás, Caxias do Sul/RS, 2011. Quanto às coletivas, destaque para “Mac mostra vídeoarte”, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em 2013; “Terceira Mostra do Programa Aprofundamento”, Parque Lage, Rio de Janeiro/RJ; Arte Pará”, Museu de Arte do Pará, Belém/PA, em 2012.

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S / TÍTULO Dois volumes de tijolos foram construídos no espaço da Fábrica Caroá e aproximadamente doze mil tijolos foram necessários para tal. Num primeiro olhar, já chamava a atenção as diferenças entre cada uma das peças; em outras palavras, no esqueleto de qualquer casa feita de tijolos existem muitas texturas, variedades de cores e resultados diferentes a partir do trabalho com o barro e com o forno. Um olhar mais analítico perceberia que não se tratam de formas construídas de modo aleatório, mas, muito pelo contrário, são pautadas pela geometria e pelo esforço por controle da mente humana. Uma das peças de tijolos, portanto, se encaixava perfeitamente na outra, dando à imaginação a visão completa de uma caixa, um grande retângulo. No lugar, portanto, de se utilizar do espaço da Fábrica com uma reflexão que poderia ser relacionada a uma certa irregularidade da forma, José Paulo nos convida para uma apreciação da geometria instaurada dentro de um espaço e de uma cidade com histórias um tanto não-lineares. Não nos enganemos: junto à geometria existem todas as reentrâncias da história individual desses tijolos – do mesmo modo que em cada incongruencia do urbanismo de Caruaru há não só uma discrepância controlada pelo governo, mas também pautada por ações individuais. Raphael Fonseca

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JOSÉ PAULO Nasceu em Recife (PE), em 1962. Vive em Recife (PE). Graduado em arquitetura pela UFPE em 1987. Em 1988 realiza sua primeira individual pelo projeto Arte Nova no Museu de Arte Contemporânea de Olinda – MAC. Juntamente com outros artistas funda em 1989 o espaço coletivo Quarta Zona de Arte no Bairro do Recife, onde desenvolve atividades artísticas e de ensino. Representa o Nordeste em 1994 no festival “Arts of the Americas” realizado pela Universidade do Novo México/Estados Unidos. Em 2002, na Amparo 60 Galeria de Arte no Recife, realiza a exposição individual Repetir, Repetir, Repetir. Participa da mostra Tudo é Brasil em 2004, respectivamente no Paço Imperial/SP e no Itaú Cultural/RJ. Nesse mesmo ano integra a Trienal Poli-Gráfica de San Juan em Porto Rico. Foi convidado em 2007 para participar da Bienal de Valencia (Espanha) na mostra “Otras Contemporaneidades. Convivencias Problemáticas”, com o trabalho Quimera. Artista convidado em 2009 da Décima Bienal de Havana/Cuba, e, da individual Retratos e Auto-Retratos na Amparo 60 Galeria de Arte/Recife. Realiza em 2011 as mostras, Retratos e Auto-Retratos e Para Nunca Mais Me Esquecer no Centro Cultural Correios em Salvador e no Recife. Em 2012 realiza no Rio de Janeiro as mostras Retratos e Auto-Retratos na Anita Schwartz Galeria de Arte e Para Nunca Mais Me Esquecer no Paço Imperial. Selecionado no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 – Galpão 5 – Funarte MG, onde realiza a mostra Inventário/Argila.

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SUBLIMATIO Quanto à Bienal do Barro, o material de seu trabalho parte de pesquisas anteriores sobre as cordas de navegação encontradas em diversas regiões do Brasil. Pesadas, resistentes e por si só escultóricas, são objetos que possuem ecos que remetem tanto à importancia do navegar na História do Brasil, quanto aos muitos usos das cordas com diversos usos violentos desde a nossa colonização e escravidão pelos portugueses, até seu uso para a tortura dentro do governo militar e nas diversas micro-histórias da dominação aqui encontradas. A partir dessa multiplicidade, foram construídas paredes em torno da instalação em que uma grande corda dominou o espaço e foi amarrada de forma semelhante a uma forca. Se por um lado lembramos do fantasma do jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante a ditatura e mais próxima da poética de Rufino, por outra via não podemos nos esquecer de que a Fábrica Caroá era, justamente, uma industria desfibriladora e fabricadora de cordas. Até que ponto os diversos trabalhadores desse espaço, anônimos e esquecidos pelas grandes narrativas, também não podem ser interpretados pelo viés do sacrifício e do esforço sem limites do trabalho humano? Raphael Fonseca

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JOSÉ RUFINO Nasceu em João Pessoa (PB), em 1965. Vive em João Pessoa (PB). José Rufino vive e trabalha em João Pessoa. Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos, nos anos 80. O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial em desenhos e instalações com mobiliário e documentos de família e institucionais. Filho de ativistas políticos perseguidos pela ditadura militar nos anos 60, o artista é também muito conhecido pelos seus trabalhos de caráter político. Tem realizado incursões nas linguagens cinematográfica e literária. O diálogo dicotômico entre memória e esquecimento contamina seu trabalho por completo.

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ATO DE DESEJO: UM GOLEM PARA CARUARU Creio que meu trabalho é orientado pelo sentimento de “tardividade”, de ter chegado tarde demais, como se o que restasse fosse recolher restos, vestígios, estilhaços. E alguns nomes próprios. Como escreveu Paulo Henriques Britto: “Chegamos tarde, é claro. Como todos./ Chegamos tarde, e nosso tempo é pouco,/ o tempo exato de dizer: é tarde./ (…) Toda palavra já foi dita. Isso é/ sabido. E há que ser dita outra vez./ E outra. E cada vez é outra. E a mesma.” O que me cabe é reunir e editar, apagar e reescrever. Sobretudo ouvir vozes, como disse outro poeta, Gonzalo Rojas: “Não temos talento, é que/ não temos talento, o que acontece/ é que não temos talento, no máximo/ ouvimos vozes, é isso que ouvimos: uma/ cintilação, uma piscadela, e até aí vozes”. A afirmação irônica “não temos talento” nada mais é do que o afastamento da ideia romântica de gênio, de uma subjetividade desenfreada, de um sujeito demiurgo. Acredito nesse sujeito artístico mais modesto, que “apenas ouve vozes”, se apropria dessas vozes, e constrói narrativas. Das muitas vozes ouvidas no Alto do Moura, surgiu Um Golem para Caruaru. Golem (do hebraico, informe): criatura feita de barro e combinações de palavras, espécie de super-herói criado pela tradição judaica. Há infinitas variações narrativas sobre o personagem, que adquire vida quando lhe é inscrito um nome secreto (um dos tantos nomes divinos). Sua tarefa é produzir levantes (salvar comunidades em perigo). Seu desvio: humanizar-se. Seu destino: retornar ao informe do barro. Faço um Golem de poeira de estrada, aquela nuvem que se levanta após a passagem de tudo o que se move em velocidade superior à do passo humano. Isso aconteceu no Alto do Moura, ao caminhar em direção a uma jazida de barro em companhia de Presciliana, Pepa e alguns amigos forasteiros,

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perplexos como eu. O sopro que anima este Golem surge da combinação dos nomes de povoados, bairros e cidades que existem ou existiram nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. O que lhe dá vida é um murmúrio denso, contínuo, modulado por ampla gama de matizes sonoros entre o lamento e o júbilo, adensado pelos restos das muitas línguas desaparecidas ao longo do processo de unificação da língua portuguesa. Estas páginas pedem para ser percorridas em voz alta, salmodiadas ao longo de uma estrada de barro, sem que se perca de vista o duelo intenso que se estabelece todos os dias entre céu e terra no Alto do Moura e em outras localidades dessa região imaginada como Nordeste do Brasil. Leila Danziger

LEILA DANZIGER Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. Vive no Rio de Janeiro (RJ). Artista visual, poeta e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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Fotos: Leila Danziger

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DESTRA Luísa possui uma vasta pesquisa sobre o lugar da comunicação dentro da cultura contemporânea. Se alguns trabalhos esbarram nos varios modos de escuta e gravação de áudio, outros giram em torno do seu lugar como falante/palestrante e dos limites do corpo que pretende se colocar no mundo enquanto voz. Após realizar alguns experimentos audiovisuais sobre a figura do ventríloco, ou seja, aquele que atribui voz a um objeto supostamente inanimado, a artista começa a se perguntar sobre o lugar da gestualidade na interrelaçcão humana. Desse escopo de atenção que vem a dar a essa questão, pensou numa possibilidade de proposta para Caruaru que dialogasse com o espaço onde estaria, mas, ao mesmo tempo, fosse fiel à sua trajetória: e se sua mão fosse presa a um bloco de barro? O bloco, ideia central à produção escultórica desde a antiguidade, se configura como um elemento da presença de outro elemento visualmente clássico, o corpo – mas não mais o corpo mimetizado, mas sim a própria carne da artista. No seu lugar como forasteira em Caruaru, nada mais justo do que convidar outra artista, moradora do Alto do Moura, Prescilina Nobre, tanto para erguer o bloco em torno de sua mão, quanto para retirá-lo posteriormente. A rapidez de se levantar o bloco é substituída pela cautela em não danificar a mão de um semelhante – as mesmas mãos que são essenciais para o labor artesanal e diario da residente em Caruaru.

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Nasceu em São Paulo (SP), em 1984. Vive em diversos lugares do mundo. Luísa Nóbrega é artista e seu trabalho se desenrola na zona fronteiriça entre a literatura e as artes visuais. Dedica-se especialmente à performance, à poesia e ao vídeo. Paulistana, Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo, trabalhou como atriz e flertou com a dança durante muito tempo, até que suas contínuas crises com as linguagens do espetáculo fizeram com que se aproximasse, como autodidata, das artes visuais. Decidiu recentemente não ter morada fixa e dividir seu tempo entre residências artísticas e casas de amigos em diferentes lugares do Brasil e do mundo. Recentemente esteve na Armênia, Ucrânia e Lituânia e realizou exposições como A causa de não sermos consumidos, no Espaço Cultural BNB, em Fortaleza, Turborealism, breaking ground em Donetsk, Ucrânia, e City as Process, projeto paralelo da Bienal lndustrial Ural em Ekaterinsburg, Rússia. Participou de outros eventos como o festival Periferias, em Huesca, Espanha, da edição de novembro do encontro de performance Dimanche Rouge, em Paris, do SPA das Artes, em Recife – PE, do Performa Paço encontro V.E.R., em Terra Una (MG) e do Performa Paço, no Paço das Artes, em São Paulo . Em abril de 2008, integrou o projeto Expedição Francisco, contemplado pelo projeto Conexão Artes Visuais (Funarte e a Petrobras).

Foto: Jared Domicio

Raphael Fonseca

LUÍSA NÓBREGA

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Foto: Victor Jucรก

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LOCS O trabalho “LOCS” resulta do olhar sobre o lugar Alto do Moura no tempo presente. Destaca-se a ocasião da festa do São João, considerado o maior “evento cultural” (de trinta dias) realizado na cidade de Caruaru – PE, quando o Alto do Moura torna-se “cenário” não das expressões festivas relativas aos festejos juninos, e sim a uma invasão de “massa periférica urbana” que engole o lugar regado a cerveja e churrasquinho. Com isso, a festa do fogo e do milho é “representada” e vivida pelo viés da embriaguez econômica. Sendo assim, o Alto do Moura é ao mesmo tempo divulgado e vendido como um espaço da tradição artesanal que, ironicamente, é afogada pelo líquido espumado do “desenvolvimento” industrial. Assim, o cenário local se torna uma só imagem que revela o apagamento do imaginário do festejo tradicional também formado por uma rica iconografia figurativa que faz do lugar um dos maiores polos produtores de cerâmica figurativa do estado de Pernambuco. Presciliana Nobre

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PRESCILIANA NOBRE Nasceu em Santana do Ipanema (AL), em 1974. Vive no Alto do Moura, Caruaru (PE). Graduada em Educação Artística/ Artes Plásticas – UFPE – 2010. Formação em cerâmica com o mestre de arte popular pernambucana Tiago Amorim em Olinda de 2006 à 2010. Exposição Individual de Esculturas no Centro Cultural da Universidade Católica de Pernambuco – 1999. Exposição de Cerâmica no MAC – Olinda – 2008. Residência artística com prática de oficinas e produção de objetos de cerâmica no Espaço Gerar Arteterapia e Bem Estar – Recife – 2009 à 2011. Aprofundamento de pesquisa em cerâmica popular primitiva no Alto do Moura com olhar no local (no fazer cerâmica contemporânea) e nas obras dos Mestres Vitalino e Galdino desde 2012.

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S / TÍTULO O espaço relativo à antiga Fábrica Caroá atualmente recebe o nome de Espaço Cultural Tancredo Neves. Como o nome anuncia, se trata de um espaço destinados aos mais diversos eventos culturais da cidade de Caruaru – e isso inclui uma gama ampla de acontecimentos, desde festas de aniversário e formaturas que alugam o espaço como salão de festas até as tradicionais festas de São João. Esse acúmulo de atividades traz também uma reunião dos mais diversos objetos que, na extensão do tempo, foram acumulados nos depósitos desse espaço arquitetônico. Deyson Gilbert, portanto, partiu desses restos de festas (agora novamente transfomados em objetos não mais utilitários, mas, estéticos e permeados de leituras icônicas) para dar forma à sua instalação. Uma espingarda, estruturas um dia utilizadas para se fazer propagandas e alguns azulejos são configurados no espaço e convidam o público a estabelecer uma relação não apenas geométrica, mas também no campo do universo simbólico. Some esses resquícios a objetos adquiridos e que ecoam a cultura visual de Caruaru, como um touro reprodutor em tamanho real, garrafas com areia colorida e um exemplar de literatura de cordel e, pronto, se instaura perante os nossos olhos um quebra-cabeça em que ironia, política e ecos da abstração na história da arte são capazes de andar lado a lado – mesmo que uma placa tenha um texto que afirma ser capaz de retirar e esvaziar todo o caráter estético, simbólico, político e económico ao redor dessas imagens. Fica, sempre, a provocação. As conclusões ficam a cargo do espectador. Raphael Fonseca

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DEYSON GILBERT Nasceu em 1985, em São José do Egito (PE). Vive em São Paulo (SP). Bacharel em Escultura pela USP (Universidade de São Paulo), tem sua produção voltada para, principalmente, instalações, pinturas e objetos. Participou de sua primeira exposição coletiva no ano de 2003, em uma mostra de arte da USP. Desde então, teve suas obras selecionadas em uma série de mostras coletivas. Destaque para “Imagine Brazil”, Astrup Fearnley Museet, Oslo, Noruega (2013/2014); 33º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil (2013); “Ambiguações”, CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil (2013); “23°33’42”_46°40’09”, Galerie TORRI, Paris, França (2012); “Mitologias/Mythologies”, Cité Internationale des Arts, Paris, França (2011). Entre as exposições individuais, destaque para “DCVXVI”, Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil (2014); “The State of the Art”, Galeria Elba Benítez, Madri, Espanha (2013); Culatra, Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil (2012).

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A BIGGER SPLASH Logo na entrada da Bienal do Barro, à esquerda, como o seu título diz, um “big splash”, ou, a tentar traduzir para o português, uma grande espatifada no chão. Mais de uma tonelada de argila foi necessária para se criar essa forma orgânica no chão. Se inicialmente ela estava ainda líquida, rápidamente secou e se uniu à planaridade do chão. Essa grande bolha que brilhava se transformou numa série de rachaduras e vias de acesso para formigas, besouros e outros insetos. Por essa perspectiva, a argila que emula o solo rachado devido à seca ampliou seus sentidos para além de uma mimese inicial e também se verteu em um pequeno ecossistema perante os olhos dos espectadores. Contrastando com essa nova paisagem formada, peças em cerâmica e extremamente polidas davam um tom contrastante à composição – poderíamos falar em habitação e abandono? Na dúvida, fica a certeza das diversas potencialidades a partir do mesmo material, o barro. Raphael Fonseca

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LAERTE RAMOS Nasceu em 1978, em São Paulo (SP).Vive em São Paulo (SP). Ingressa na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado no curso de Artes Plásticas em 1997 e se interessa pelos meios reprodutivos de imagem como a xilogravura e a serigrafia. Com a produção de xilogravura, ganhou o “Prêmio Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca” na XII Mostra Brasil de Gravura no Museu de Gravura de Curitiba/PR, e nos anos seguintes, o extinto Prêmio Philips de Arte para Jovens Talentos, por duas vezes, e o prêmio na mostra trienal de gravura Lelocleprints04, no Musée des Beaux-Arts du Le Locle, Suíça. Recentemente, o artista foi contemplado com o Prêmio Interações Estéticas/Funarte em Marabá/PA onde realizou o projeto “retra%15”, que traz a reprodução do corpo humano, moldado em gesso, na escala 1:1. Destes moldes, são confeccionadas esculturas em cerâmica esmaltada branca que são divididas em 16 partes e unidas com rejunte de azulejo nas juntas dos corpos humanos reproduzidos. No ano de 2011, teve ainda outros três projetos aprovados: “Arma Branca”, pelo Prêmio Pró-Cultura Marcantônio Vilaça - MINC, “Lastlândia-Kaagua’zu”, pela Rede Nacional de Arte - Funarte, e por fim o projeto “Casamata” contemplado pelo edital Atos Visuais da Funarte de Brasília.

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HONRA AO MÉRITO Pedaços de tijolos são sustentados por longos pedaços de fita crepe que seguem das estruturas metálicas do topo da arquitetura ao quase tocar o chão. Na tensão da precariedade do material, quando o vento tocava essas estruturas, proporcionava uma lenta dança dos tijolos. A mesma fragilidade dessa estrutura poderia vir a lembrar, dependendo do espectador, uma reflexão sobre o caráter doloroso das condições de trabalho de um dia na fábrica. Não à toa esse trabalho de Márcio Almeida se intitula “Honra ao mérito”. Mais perguntas do que respostas esse nome nos traz: qual mérito? Qual honra? Seria possível falar em honra nesse espaço fantasmático do trabalho? De todo modo, é inegável que temos, devido à configuração espacial dessa proposta, um monumento perante os nossos olhos; logo ao lado dessas estruturas moventes que convidam um olhar mais de perto por parte do espectador, sobre um chão de tijolos, eis a estrutura em que repousavam os cartões de pontos desses um dia trabalhadores. O mesmo vento que move a fita crepe poderia ser capaz de derrubar esse objeto de uma agora cultura material da História da fábrica? Só o tempo é capaz de responder. Raphael Fonseca

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MÁRCIO ALMEIDA Nasceu em 1963, em Recife (PE). Vive em Recife (PE). Atua em artes visuais desde 1988. Vem desenvolvendo seu trabalho utilizando os mais diversos tipos de suportes: pintura, desenho, gravura, instalações, objetos, fotografias, vídeos, etc. Nos últimos anos, porém vem realizando instalações destinadas a intervenções urbanas. Dentre as exposições individuais, destaque para “Contra_Uso” – Projeto Arte Contemporânea de Pernambuco – Santander Cultural –Recife / PE -2012 e “Pinturas” – N. A. V. E. – Núcleo de Artes Visuais e Experimentos – Recife/PE – 2003. Quanto às coletivas, destaque para “O abrigo e o terreno”, Museu de Arte do Rio, 2013 e “Entre o novo e o nada” – Museu Arte Contemporânea de Olinda, 2006.

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OS DOZE PASSOS DA VIRGEM DO ALTO DO MOURA Tal qual Mestre Vitalino, Nadam também realiza objetos com cerâmica desde a sua infância. Sendo um pesquisador da técnica há décadas – não só quanto ao fazer, mas também quanto à sua História no Brasil – se configurou coerente à sua própria trajetória realizar um projeto que dialoga de modo próximo e direto com o fazer ceramista em Caruaru. “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura”, portanto, se desdobra entre imagem e texto, assim como projetos anteriores do artista. Há aqui a vontade de refletir sobre a relação entre documento e ficção. A partir da narrativa textual sobre um personagem novo dentro do panteão de figuras icônicas dessa região batizada por “Nordeste brasileiro”, reina a Nossa Senhora do Alto do Moura, advinda das diversas esculturas em barro que representam cenas de casamento atribuídas ao Mestre Vitalino, recodificada e transformada em um realidade artística pelas mãos de Nadam Guerra. É nesse lugar entre o diálogo com aquilo que comumente ganhou a alcunha de “arte popular” e a sua própria experiência com o fazer do barro, mas que facilmente seria rotulado por “arte contemporânea” devido à sua formação e lugar de atuação, que o artista parece querer agir. Não só um texto de sua autoria nasce desse encontro, mas três trabalhos: uma série de figuras de barro dos filhos que a Virgem do Alto do Moura teve durante sua trajetória pelos diversos cantos do mundo que possuem tradições do fazer cerâmico; outro grupo de representações dos encontros sexuais e essenciais para a renovação energética da personagem em sua trajetória; um vídeo em que um historiador da arte português comenta uma série de vasos, também narrativos, encontrados após uma expedição arqueológica. Desse modo, Nadam Guerra parece propor uma outra arqueologia, ou seja, trazer ao público uma visada para um Brasil que, longe de ser purista, está imerso em um caldeirão cultural e multicultural condizente ao tempo em que vivemos e, claro, à nossa própria História. Raphael Fonseca 36

NADAM GUERRA Nasceu em 1977, no Rio de Janeiro (RJ). Vive no Rio de Janeiro (RJ). Nadam Guerra é formado em Artes Cênicas (UNI-RIO). Atualmente cursa o mestrado em Linguagens Artísticas Contemporâneas (UERJ). Em 2001, iniciou carreira em artes visuais e performance. Sua pesquisa se foca na interface corpo/vídeo/ objeto. Vem realizando ações, instalações, vídeos, esculturas, jogos e encontros. Apresentou obras no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, México, França, Suécia e Inglaterra. Atualmente vive no Rio de Janeiro e em Liberdade (MG) onde coordena o programa de residência para artistas Interações Florestais e (www.terrauna.org.br). Ministrou cursos de performance na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Ganhou o Prêmio Interações Estéticas do MinC (2009), o Projéteis FUNARTE de Arte Contemporânea (2006), menção honrosa no festival Art.mov, MG (2006) e Prêmio de realização Dança em Foco (2010). Apresentou-se, entre outros, no Festival Performance Brasil (MAM-Rio) e Festival Panorama (2003, 2005 e 2009), além de ter participado de exposições como “Terceira mostra” (Parque Lage, 2013) e “Rupestre contemporâneo” (Galeria IBEU, 2013).o novo e o nada” – Museu Arte Contemporânea de Olinda, 2006.

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Foto: Nadam Guerra

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VEREDAS / AUSENTE PRESENÇA / S / TÍTULO Desde antes da realização do evento, Marcone já havia realizado experiências com moldes de barro sobre o pé e tinha o desejo de transformar a ação do peso do seu corpo sobre aquilo que é chamado por escultura em um vídeo. Seus próprios pés, portanto, se sobrepõem à matéria que tenta mimetizar a sua anatomia e que, como qualquer outro objeto dado à ação do tempo, tem seu futuro lugar de destruição garantido. É sobre o tempo também, parece, que versam seus outros dois trabalhos presentes nessa edição da bienal. No chão, reluzia o alumínio que dava liga a estruturas que possuem formas orgânicas e vazadas, dadas a partir de linhas imperfeitas. Uma conversa com o artista mostraria que esses polígonos foram obtidos a partir do encontro do material com fendas no chão também realizadas com argila e que apenas o tempo da secagem – seja do material moldado por suas, seja pela ação do sol sob o solo – seria capaz de produzir. Trata-se, portanto, da ação do calor e da experiência de viver dia após dia. Por fim, em uma das paredes do galpão, aquilo que estava também sob o sol, mas na parte de cima da arquitetura – telhas de plástico retiradas durante a reforma necessária do espaço para se abrigar a bienal são dispostas a fim de criar uma relação cromática. Vai-se dos furos dados pelo desgaste do material até os tons negros que proporcionam ao espectador, mais que um circulo cromático, uma apreciação de que o tempo pode e deve ser medido através da matéria e dos fenômenos que a circundam.

Foto: Marcone Moreira

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MARCONE MOREIRA Nasceu em 1982, em PIO XII (MA). Vive entre Marabá (PA) e Rio de Janeiro (RJ). Iniciou suas experimentações artísticas no final dos anos 90 e, a partir de então, vem participando de diversas exposições pelo país e no exterior. Sua obra abrange varias linguagens, como a produção de pinturas, esculturas, vídeos, objetos, fotografias, e instalações. Em 2003 participou do Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP. Integra diversas coleções publicas e privadas. Recebeu diversos prêmios como a Bolsa Estímulo a Produção em Artes Visuais (FUNARTE, 2013), o Prêmio Marcantonio Vilaça (SESI, 2011), a Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística (Instituto de Artes do Pará, 2009), Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea (FUNARTE, 2007) e a Bolsa Pampulha (Museu de Arte da Pampulha, 2005). Dentre suas exposições recentes, destaque para a individual “Peso à terra” (Blau Projects, SP, 2014), a Bienal de Curitiba (2013) e “Amazônia, ciclos de modernidade” (CCBB-RJ, 2012).

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TRANCADO VIVO (OU MONUMENTO AO BARRO) / FOTOGRAFIA DE FRENTE COM A CABEÇA DESCOBERTA / MONUMENTO À NÉVOA E SUA VÍTIMA Os trabalhos do artista apresentados iam de encontro às suas preocupações sobre o lugar da memória, do esquecimento e, mais que isso, dos materiais imagéticos que remetem a lugares, histórias e biografias. Após uma primeira estadia em Caruaru, Ivan travou contato com a História da antiga Fábrica Caroá, com seu arquivo de fichas de pessoas que ali um dia trabalharam e com seu impacto na rotina de Caruaru. No lugar, porém, de se utilizar de um material fotográfico de retratos de pessoas que foram arquivadas nas gavetas de uma História administrativa, o artista preferiu contribuir com um material que já perpassava sua pesquisa formal anterior e que ia de encontro aos anseios dessa edição da bienal. A partir de utilização de uma chapa de vidro temperado, foi criado um monumento a uma narrativa comum sobre a fábrica, ou seja, a um trabalhador que teria sido morto num acidente de trabalho. O conceito de monumento, portanto, perpassou tanto esse trabalho quanto os outros propostos pelo artista: o barro e o fazer com as mãos, contrastante à potência industrial da cidade, também foi rememorado através de outra série de apropriações de materiais. Por fim, não só dentro do espaço expositivo essas reflexões sobre a História e memória da fábrica foram articuladas, mas também dentro da residência de um dos trabalhadores ainda vivos, o senhor Paulo Lavoura. Ainda a trabalhar com as velhas máquinas um dia na fábrica, mas recebidas como parte de um acordo financeiro após a falência da fábrica, é em sua casa que a Fábrica Caroá, tal qual dito pela placa idealizada por Ivan Grilo, segue viva – e é através das possibilidades da arte contemporânea que esse espaço privado se verte em um silencioso e nada espetacular monumento. Raphael Fonseca 40

IVAN GRILO Nasceu em 1986, em Itatiba (SP). Vive em Itatiba (SP). Graduado em Artes Visuais pela PUC-Campinas. Atuou durante três anos como artista-assistente no atelier do artista Marcelo Moscheta, em Campinas/SP. Em 2012 recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia em 2012, além de ter sido indicado ao Prêmio Investidor Profissional de Arte (PIPA) e ter participado da residência internacional “Transitante: entre álbuns e arquivos” no Arquivo Municipal Fotográfico de Lisboa / Portugal. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Sentimo-nos cegos”, na Luciana Caravello Galeria (Rio de Janeiro), “Quase/Acervo”, no Museu da República (Rio de Janeiro), “Ninguém”, no Paço das Artes (São Paulo), “Nem Todo Fato é Narrável”, na Zipper Galeria (São Paulo). Dentre as principais coletivas estão: “I Bienal MASP Pirelli de Fotografia”, em São Paulo, “2nd Ural Biennial of Contemporary Art”, na Rússia, “16ª Bienal de Cerveira”, em Portugal, “11ª Bienal do Recôncavo” em São Félix / BA, e “Arte Pará”, no Museu Histórico do Estado do Pará. Possui obras nas coleções Gilberto Chateaubriand (MAM Rio), Museu de Arte do Rio (MAR), BGA (Brazilian Golden Arts) e Fundação Bienal de Cerveira (Portugal).

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Foto: Ivan Grilo

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www.bienaldobarro.com.br Prefeitura Municipal de Caruaru Prefeito José Queiroz Fundação de Cultura de Caruaru Presidente André Alexei Diretor de Ações Culturais Djair Vasconcelos Idealização, coordenação geral e co-curadoria Carlos Mélo Curadoria Raphael Fonseca Produção Executiva Carol Ferreira Coordenação de Produção Luiz Barbosa

Mediadores Ayla Ketlen Coraci Júnior Gustavo Andrade Rodrigo Aquino Yalla Nogueira Yanne Soares Marca Isabela Faria Projeto visual Sebba Cavalcante Site Piano Lab Assessoria de comunicação Trago Boa Notícia Caruaru, maio de 2014.

Equipe de Produção Comadres Produções Lilian Pimentel Marcos Mecury Sandra Brito Coordenação do Educativo Lúcia Padilha Cardoso Educadores Assistentes Hassan Santos Jorge Souza

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ÁGUA MOLE, PEDRA DURA

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APOIO

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