O príncipe bastardo

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o Principe ´ BastardO nathalia l. nobre



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Copyright © 2018 by Editora Boreal Copyright do texto © by Nathalia L. Nobre Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida - em qualquer mei ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. - nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem expressa autorização da editora. Editora responsável: Assistente editorial: Capa: Raquel Prado Ilustração de capa: Rodrigo Rizo Ilustração do miolo: Rodrigo Rizo Diagramação: Projeto gráfico: Revisão: Texto fixado conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995). CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, SP ______________________________________________________________________ X111x

Nobre, Nathalia L. O Príncipe Bastardo/ Nathalia L. Nobre. - 1 . ed. - São Paulo Editora Boreal , 2018 xxx p. ; 22cm.

ISBN 000-00-000-0000-0

1. Ficção Brasileira. 1. Título.

00-00000 CCD: 000.0 CDU: 00-00(00) ______________________________________________________________________ 1º edição, 2018

Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Boreal Av. Paulista, 5210 00.000-000 - São Paulo - SP - Brasil www.editoraboreal.com.br


“Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer a milhares em uma batalha.” - Buda


A Sérvia é dominada pelo Império Otomano. No entanto, acredita-se que algumas regiões mais isoladas não foram afetadas, mantendo-se praticamente intactas.

1459

Domínio Otomano


Histeria em Bajina Basta 1724

Ideias de bem e mal ganham força no imaginário popular, influenciadas por questões religiosas e lendas locais. Enquanto parte da Europa vivia sob o fantasma da Inquisição, a população Sérvia lutava contra o mal do vampirismo, que segundo sua crença acometia aqueles que tinham uma morte impura.


Prรณlogo


1801

Clã Vladimic O Império Otomano está enfraquecido após sucessivas invasões. É de onde datam os últimos registros encontrados a respeito do clã dos Vladimic.

O INVERNO CHEGOU. Desmond estava diante de seu inimigo quando viu cair o primeiro floco de neve. O pequeno ponto cristalino deslizou preguiçosamente diante de seu rosto, indo pousar sobre a espada que empunhava. Desfez-se instantaneamente em gotas de água, tão frias quanto à lâmina de Aemoh. O reflexo de seus olhos avermelhados incidiu sobre ela naquele momento; um vislumbre que durou apenas um segundo. No instante seguinte, ele cruzou a distância que o separava da criatura, lançando-se sobre ela com todo o peso de seu corpo. O Vernacon se debateu com um grotesco grunhido, cambaleando com a força do impacto até tombar sobre a terra úmida com um baque abafado. Os seres daquela espécie possuíam um longo e curvado


Nathalia Nobre

tronco de ossatura proeminente, o que dava a eles um aspecto fragilizado, mas Desmond os conhecia o bastante para saber que isso não passava de um grande engano. Longas presas ficaram visíveis, tão próximas de seu rosto que o hálito pútrido atingiu-lhe as narinas como um golpe, fazendo com que se estômago ameaçasse se rebelar. Protegeu-se com o braço em um ato reflexo, gritando quando os dentes extremamente afiados afundaram-se em sua carne. Era como se minúsculas agulhas estivessem sendo injetadas sob a pele, rasgando-o por dentro em uma dor dilacerante, que se estendeu desde o ombro à ponta de seus dedos. Desmond usou o braço mordido para pressionar a cabeça do Vernacon contra o chão, trincando os dentes enquanto suas têmporas porejavam pela dor. A coisa continuou a se contorcer em meio a terríveis chiados, apertando fortemente a mandíbula como se desejasse arrancar-lhe um pedaço. Sua espada cravou-se no pescoço exposto da criatura, quase como se possuísse vontade própria. Os ossos fizeram dois estalos seguidos ao serem rompidos, e então tudo estava acabado. O Vernacon deixou de se mover, encarando-o cegamente com grandes e arregalados olhos negros. Desmond liberou o próprio braço com um solavanco, evitando encarar o ferimento, de onde o sangue amarronzado escorria livremente. Era quase tão escuro quanto o da criatura, e aquilo o enjoava tanto quanto o odor que ela exalava. Tudo nela fedia a morte. Seu estômago voltou a se revirar em protesto, de forma que precisou se afastar para fazer o que tinha que fazer, e vomitou até que não restasse mais nada em seu estômago que pudesse ser expelido. Você não passa de um garotinho assustado. A lembrança daquelas palavras era tão vívida, que quase podia ouvir a voz de seu meio irmão, em pensamentos. Kolievic havia sido o sobrenome de sua mãe, e sempre era chamado dessa forma quando queriam ressaltar a enorme diferença entre eles. Não importava o quanto treinassem, jamais conseguira desferir-lhe um golpe. Sequer é digno da espada que empunha. Não seja ridículo, levante-se novamente e tente acertar dessa vez! Desmond se voltou lentamente pressionando o braço machucado contra o peito. Não era a primeira vez que sofria lesões como esta, assim que podia imaginar o aspecto que teria. Sua pele estaria parecendo uma espécie de carne moída, em um tom arroxeado. A forma como latejava dizia-lhe que teria febre em questão de minutos.

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O Príncipe Bastardo

— Vá para o inferno, Sefic. — Sibilou, voltando a ficar ereto, e vasculhou o chão em busca da espada que havia deixado cravada no pescoço do Vernacon. Aemoh fora o único presente que ganhara em toda a vida. Seu pai dera a ele ao alcançar a idade adulta, e desde então não se separara dela. Recolheu-a com cuidado, voltando a embainhá-la. Mais uma vez era consciente da neve, que caía com maior intensidade agora. Caminhou com alguma dificuldade, mal sendo capaz de desviar das raízes proeminentes das árvores, que serpenteavam em alto relevo, ou das irregularidades naturais do terreno. Tardou a perceber que havia chegado aos limites da encosta escarpada da colina em que se encontrava, deslizando na neve ao parar bruscamente. Apenas naquele momento, reconheceu o caminho que havia tomado. Do alto era possível ver claramente o castelo onde crescera. Havia sido construído estrategicamente de forma que não pudesse ser visto facilmente, a menos que soubesse onde procurar, na área mais baixa entre diferentes formações rochosas que o mantinham oculto. Devido a isso, a neve tendia a acumular-se, isolando-o ainda mais nos períodos de inverno. Era uma Fortaleza e um símbolo de poder, mas também era o único lar que conhecia. E pela primeira vez de que era possível recordar, não havia qualquer fumaça abandonando as chaminés. Não. A fumaça que subia em direção ao céu cinzento de inverno vinha do cadafalso construído sobre a torre leste, que havia sido completamente tomado pelo fogo. Ouviu a madeira estalar antes de se romper, desmoronando em direção ao solo em meio a uma nuvem de faíscas. A construção rústica de muros dentados, que sempre parecera hostil com suas torres de bases quadriculadas, como grandes monumentos de pedra maciça, agora refletia somente uma imensa solidão. A seteira estava erguida e os portões abertos, sem o menor sinal de resistência. Sefic… Valentina… Deu um passo adiante, forçando-se a continuar, mas assim que alcançou da colina, deixou-se cair sobre a neve fofa, amaldiçoando mentalmente aos calafrios que o percorriam de modo desagradável. Depois de tudo, Sefic tinha razão. Seu corpo era quase tão frágil quanto o de um humano, de forma que não se surpreenderia caso morresse do mesmo modo que um deles. O sangue seria pouco a pouco impedido de circular por suas veias, até que seu coração parasse de bater... E então, seria apenas mais um objeto sem vida que fora deixado para trás.

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Nathalia Nobre

Um dos cantos de seus lábios se curvou de maneira quase imperceptível, no que poderia ser um sorriso sarcástico ou uma careta. Neste caso, preferia morrer depressa, ou pelo menos antes que os aldeões chegassem ali. Possuía ouvidos sensíveis o bastante para saber que um pequeno grupo de humanos se aproximava, para o que pretendia ser uma caçada mortal. Lamentariam eles ao encontrar somente o filho bastardo? Desmond manteve os olhos cerrados, concentrando-se apenas em sua própria respiração. Conforme adormecia, uma antiga canção entoava em coro, aproximando-se pouco a pouco. Ele também pensou ter ouvido a voz de sua doce irmã antes de adormecer, como se um anjo estivesse lhe oferecendo alguma espécie de misericórdia afinal. Durma meu bem, você pode descansar agora...

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A SĂŠrvia se separa oficialmente do ImpĂŠrio Otomano. 1804





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