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Diego Gregório
Jornalista, poeta, autor do livro “Coisas que você mesmo poderia ter dito”, aprendeu com a avó que o amor precisa ser gentil.
Um amor gentil
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Emaranhava-me a ela aos sete anos completamente maravilhado pelo cheiro denso de óleo de coco que exalava de seus cachos finos. Na minha fantasia de criança, ela era uma princesa fujona que envelheceria ao lado do meu avô. A poeira dos redemoinhos no sertão às cinco da tarde fazia arregalar seus olhos amadeirados, no meio de um pequeno nariz de abas largas e só um punhado de sal no meio do tempo para aquietar o vento e a mim. Alta de corpo e de alma, fazia mágica ao trançar as palhas secas das carnaubeiras, transformando-as em belos chapéus dourados que dividiam comigo o seu colo no meio dos terreiros. Nas noites de muito medo, sob a luz da lamparina, os meus pesadelos infantis davam lugar ao mais sono profundo, quando ela murmurava “meu zeloso guardador” e a sua mão de pele fininha era escudo para os maiores males. Quando eu acordava e, para sua preocupação, caminhava sem chinelos pelo cimento queimado até a meia porta que dava pra cozinha, emocionava-me vê-la sentada em cadeira com tampo de couro, molhando duas cream crakers num copo azul de café. Aquela imagem banhada por uma ponta de sol que vazava pelas telhas queimadas de tirna era uma pintura por três ou quatro segundos, até que ela mesma desfazia a sua moldura dizendo: “vá se calçar senão você fica torto”, e eu não tinha coragem de percorrer de volta o caminho até a rede, esperando que os chinelos chegassem até a mim, e minha avó, mais uma vez, me salvava dos perigos da vida na infância. Agora, em adulto, todos os dias penso nela quando cruzo o corredor de casa rumo à rua. Não há medo de sacis ou tromboses, mas eu digo quase como se respirasse “meu zeloso guardador” e saio pra rua esperando que alguma coisa boa realmente aconteça.
Te digo isso porque eu nunca havia sonhado com ela até o dia em que eu te conheci. Ela sentou ao pé da minha cama, o cheiro de óleo de coco tomou o quarto e eu disse: vó, o nome dele é Pedro.