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Antônio LaCarne

Cearense e autor de “Salão Chinês” (Patuá, 2014), “Todos os poemas são loucos” (Gueto Editorial, 2017) e “Exercícios de fixação” (AR Publisher, 2018). Seus textos já foram publicados na Alemanha, Colômbia e Grécia. Acredita que ressignificar os dramas da vida enriquecem o olhar diante da realidade animalesca cotidiana. Escrever é antes de tudo terapia, catarse, emancipação, investigação de si e do mundo. Escrever é um alívio e também uma torta na cara.

Não sei nadar

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quis escrever um livro sobre a vontade de morrer em pedaços minúsculos uma história em conta-gotas ceder ao drama monumento vivo dentro da cabeça morrer de vergonha ser acusado de exagero lavar as mãos e os pés deixar as barbas de molho não sorrir nas fotografias e desmarcar encontros nada de desculpas esfarrapadas não é preciso me perdoar estou cansado

aos trinta e seis assim como aos vinte e sete possivelmente aos quarenta e nove me darei conta de que ainda sou uma pessoa mal amada e ferida

ricoco fictício como os príncipes deixou-me a ver navios ao ganhar ouro no nado crawl suas axilas depiladas com cera eram tão lindas que eu poderia fotografá-las ou exibi-las sobre meu peito nu e depilado aleatoriamente tufos de pelos ao redor dos mamilos o mamilo rosado de ricoco meus sonhos pousados sobre barbeadores.

disse-me segurando uma faca que eu não lhe importunasse não quero um velho na minha cola concluiu: crente de que aquele jeans que ele vestia era o da última coleção de kim kardashian para a calvin klein sorri com um cigarro no bico agora quem não quer mais morrer sou eu (por vergonha) o cinzeiro abarrotado me impedia de dizer verdades: vá embora não desperdice o meu dinheiro deixe que eu observe enquanto você mija não cuspa no meu rosto.

cruzou a sala seus ombros largos deixaram de existir a hora é agora pela primeira vez não implorei que não me abandonasse estava seguro

as milhas do meu cartão de crédito o trariam de volta caso fugisse e eu também fugiria de mim mesmo não a contra gosto mas com a certeza de que sem ele eu me obrigaria a me enxergar peludo e indisposto ao afogamento nadando desejando outra vez a mesma morte.

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