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Junior Ratts

Escritor, bacharel e mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Sobre o amor ao homem que talvez não exista

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Homem da face indescobrível, Tantos cigarros fumei Por conta da tua talvez existência Que de fato deves existir por aí Como corpo com poucos pelos [Que não fuma!] E sobre o qual, ao deitares, Deitarei minha mão ao teu peito Para ter a certeza de que respiras. Pois estar contigo será falecer todos os dias Ao pensar que podes morrer Só pelo capricho de decidires Aventurar-se sem mim na grande travessia.

Desconhecido que Deus criou numa ressaca celeste, Terás, por acaso, o cheiro dos cigarros que fumo por ti? Ah, que tenhas qualquer odor! Não importa, juro! O que mais quero é gozar contigo Tal como gozo a tua possível encarnação Nessa vida em que meu corpo escorrega [Quase que todo morto] Por negar a si a concretude da realidade.

Homem de carnes destinadas ao abate e à expiação, Tê-lo comigo seria voltar a tatear o mundo [e ser selvagem]. Porém tua existência é comprometida Por leis que desconheço. Por isso os cigarros também são lágrimas, Pois penso, na ausência do pensamento em ti E em todas as coisas, Que talvez eu tenha vindo a ser carne Um pouco antes do tempo que me era o certo. Só para sofrer ao sonhar com nosso enlace Que só se realizará [descubro assombrado] Se outras vidas houverem E, por felicidade, você estiver em uma delas.

Homem feito da infelicidade de não conhecê-lo, Sentes o meu desespero, esticas tua mão E atravessas as dimensões, Burlas toda física e razão E finalmente me alcanças. Retrocedes enfim uma vida Ou avanças para a realidade Em que me despedaço. E, ao lutares contra o tempo e vencer, Beija-me da boca ao pau E depois fumas comigo Com alegria e drama À celebração de uma vida que, Ludibriando aquilo que é segredo de Deus, Devorou outra vida Que precisava ser mastigada.

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