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Murillo Ramos
Ator, diretor e professor de teatro. Seus trabalhos como ator contam dezenas de realizações, entre as quais “Orlando”, “Eles não usam black-tie”, “Da paixão sobre borboletas”, filmes, curtas e outros. Na direção, montagens como “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, “Aquelas - Uma dieta para caber no mundo” e “Conversa de lavadeiras” estão entre seus principais trabalhos. Fundador de diversos grupos de teatro da cidade e agitador cultural, seu nome e suas ideias o tornam um artista inventivo, fabulador de possibilidades, uma pessoa de teatro.
You - Uma cantiga triste para empalar cavalos-marinhos
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Era só boca. Era só olhos. Era só uma grande margem de três pontos que se abria. Era só um grande trovão que rompia o pouco céu daquela noite. Conheço, Baby, tuas cicatrizes, assim como tu poderias dar nome a todos os meus pelos: Barba.
Peito.
Costas. Virilha. Menino grande, franzino, olhos de espanto. Moço velho, sinais de tempo na pele, nos dentes, na bunda branca caída. Entre mesas sujas e lençóis mofados. Entre o medo da vida e o desgaste da espera. You
You
You
Vou limpar o quarto... coloquei numa caixinha de madeira algumas coisas que pensava ser nossas. Talvez, mais tarde, leia mais um poema teu, aquele que pensava que era pra mim. Quase uma oração. Plantas nascem, baby, toda hora plantas nascem. Romper a terra é algo extraordinário. E difícil. Mas necessário. Brotar é arriscado. Andar de mãos dadas nas ruas é arriscado. Acreditar é um risco. O pêndulo que sustenta o desacreditar e o acreditar se chama vida. Qualquer dia, qualquer um, te mostro aquela lista de palavras, algumas repetidas e desgastadas, mas ainda vivas, que ensaiei. Por enquanto vejo o arrebol de longe. Vermelho. You You You Aquietar o peito e empalar meu cavalo marinho.