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Paulo Vianna Jr
Escritor, produtor cultural e diretor de teatro e audiovisual.
Equus
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Meu desejo é teu corpo No meu corpo deglutido, Reinventarmo-nos espíritos de fogo De qualquer espécie que nos aplaque os caprichos.
Amar-te, por exemplo, É imaginar sermos o vento de uma raça forte de equinos. Em cruza sinestésica de volumes e vazios, Sermos o que somos do escopo desse bicho.
Teu cheiro de potro salga meus ouvidos, Sinto teu peso todo Pelo meu olho boçal.
Na minha boca ácida de dentes de ferro te enxergo a crina das axilas: _ Meu reino por esse deus! _ Meu reino por esse animal!
Enquanto tua língua vulcânica vira fria lâmina quando em mim caminha... E crispa-me a nuca tua baba de fome ancestral, Eu grito a voz humana que queda e relincha: _ Ai de ti, Bucéfalo! Ai de mim, Parsifal!
Lâmina língua de corcel, Passa e rasga poros grossos, espora na cara. Incitatus, terás o senado dum bordel. Eu, Equus, serei nada Ou matarei onze cavalos.
Cavalgo-te ainda mais duzentas milhas... Lambemo-nos disformes, rarefeitos… Somos todo cheiro, couro, gozo, pêlos... Provamo-nos os avessos. E as rédeas? - às favas! Meu cavalo, Meu cavaleiro.