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Mercado livre e a Resolução 482

O Mercado Livre, a Resolução 482 e as Oportunidades

Osetor elétrico brasileiro nos últimos 15 anos passou por mudanças fundamentais para seu desenvolvimento, entre elas podemos destacar o processo de migração de grandes clientes industriais e posteriormente comerciais ao chamado Mercado Livre, movimento iniciado em meados de 2002.

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Estes clientes, atendendo a critérios estabelecidos e determinado por resoluções normativas da ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica) podem escolher e/ou mudar de fornecedor, não precisando mais ficar ligado a Concessionária local no que tange ao suprimento e nem atrelado a um único fornecedor de energia elétrica, ou seja, essa dinâmica de portabilidade do seu consumo, provocou um incentivo a competição e melhores preços através da livre negociação.

Critérios para fazer a portabilidade de energia:

O crescimento do Mercado Livre ou também conhecido como ACL (Ambiente de Contração Livre), apresentou seu maior crescimento a partir de 2008 como podemos observar no gráfico abaixo, considerando a soma dos clientes denominado especiais livres:

O consumo de energia no Brasil

Consumidor Fonte Demanda Mínima Tensão Mínima Data de Ligação do Consumidor

Livre Convencional ou Incentivada 3.000 Kw 2,3kV 69 kV Após 08/07/1995 Antes 08/07/1995 Especial Incentivada 500 Kw 2,3kV Qualquer data

Fonte: CCEE

divide-se entre dois ambientes: ACR (Ambiente Contratação Regulada) e ACL, e atualmente a participação entre eles está apresentada abaixo:

Os atuais 25% de participação de mercado são representativos, mas há potencial para que atinja até 45% do mercado nos próximos 5 anos, visto que dois fatores poderão influenciar: (i) os valores das tarifas da concessionarias de energia elétrica manterão a tendência de alta vis-à-vis aos preços livremente negociados no mercado e (ii) a criação da figura do comercializador varejista que frente a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), permitindo que clientes de menor porte evitem todo o processo burocrático de contratação e registro perante a CCEE.

Apenas para exemplificação, os preços observados na BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia), a Bolsa do setor, para 2016 caíram de R$ 278 MWh em março/2015 para R$ 190 MWh em junho/2015. O mesmo ocorreu com os preços para o ano 2017 que de R$ 250 MWh caíram para R$ 160 MWh no mesmo período (Fonte: App BBCE), confirmando a tendência inversa das tarifas das concessionarias de energia.

Portanto, o benefício da migração para o Mercado livre já foi capturado por centenas de clientes e ao nosso ver representar um caminho de desenvolvimento contínuo. O atual momento é muito favorável.

No entanto, é importante que cada cliente estabeleça uma estratégia de suprimento de energia, bem como um conjunto de ações para que melhor atenda seu interesse e, com isso, gere as economias ou benefícios esperados.

Finalmente, é recomendável que esses conjunto de ações seja estruturado por especialistas com vista a identificação de oportunidades que otimizem do consumo de energia apoiando-se em soluções de eficiência energética (e.g.: sistema de iluminação, ar condicionado, motores, entre outros), migração para o ACL, ou ainda, na implementação de projetos de micro e mini geração. Sendo que, esses projetos, estão regulamentados pela Resolução Normativa 482/2012 da Aneel, podendo ser adotados inclusive por clientes residenciais e a fonte que mais poderá se desenvolver e até mesmo atender a uma gama maior de clientes é a fotovoltaica, dado toda sua aplicação e estágio mundo a fora. ▪

Sobre o Autor

Wendel Cota é engenheiro de Produção e de Segurança pós-graduado pela FEI, com especialização em Gestão de Projetos pela USP e MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC-SP (atual INSPER). Possui 26 anos de experiência no setor de energia elétrica Brasileiro com passagem por diversas áreas, dentre essas: Planejamento Financeiro & Estratégico, Operações, Engenharia, Comercial e P&D/Eficiência Energética. Atuou com gerente de negócios responsável pela startup AES Serviços entre 2013-2015 e gerente planejamento estratégico respondendo diretamente para o CEO do grupo AES Brasil (AES Eletropaulo, AES Sul, AES Tietê, AES Uruguaiana e AES Serviços) entre 2008-2012. É fundador e Sócio-diretor da empresa Alpha Energia focada em gestão energética, mercado livre, micro & mini geração com ênfase em fotovoltaico e soluções de eficiência energética.

ENERGIA FOTOVOLTAICA

E A FORMAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA

Por Eng. José Juarez Guerra

RESUMO

É fato absolutamente incontestável que a energia fotovoltaica chegou para ficar. Tamanha boa novidade, entretanto, demanda participação efetiva do governo, dos empresários e da educação superior. A eles cabe á missão de capacitar, não meramente treinar a mão de obra, competente para lidar com essa tecnologia.

ABSTRACT

It is undeniable that photovoltaic energy is among us to stay. Such good news, however, requires joint efforts of government, private entrepreneurs, and the academia to take effective root: in their hands lays the responsibility to fully enable -- not merely training -- the skilled labour to deal with this new technology.

É notório que novas tecnologias aportam desafios, novos paradigmas, modifica o uso e costume de um País influenciando a economia e movimentando a indústria.

Tenho duas frases que carrego comigo e, sempre que posso, eu as exponho.

1. “NADA SEGURA A TECNOLOGIA.” 2. “O MAIOR GARAGALO DO CRESCIMENTO BRASILEIRO PASSA PELA FORMAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA EM QUALQUER SEGMENTO DE MERCADO. ”

A questão está em como casar estas duas afirmações na linha do tempo, a tecnologia avançará sem dúvida. Absorver esta tecnologia, aprender a usá-la, e se beneficiar dela, é outra questão.

Aprender a usar um smartphone, operar um tablet, beneficiando-se das várias tecnologias que se entrelaçam nestes aparelhos, para que nos proporcione conectividade, interatividade e mobilidade, são muito diferentes do que colocar para funcionar um sistema de geração distribuída com sistema fotovoltaico.

O mundo conhece o efeito fotovoltaico, fenômeno que permite a conversão direta da luz solar em eletricidade, desde 1839, quando observado e descrito por Edmund Becquerel. Desde então, esta tecnologia tem avançado, de forma gradual.

Com a colocação dos satélites em torno da Terra, da corrida para chegar à Lua, na década de 1960, a tecnologia começou a se tornar mais usual. Pode-se dizer que nos últimos 20 anos o salto foi importante, com sua disseminação e utilização pelos países mais desenvolvidos.

Aqui no Brasil não foi diferente, e já estamos trabalhando com esta tecnologia há algum tempo, com aplicações pontuais e em mercados específicos, principalmente em aplicações de eletrificação rural.

Já as instituições de ciência e tecnologia, como as universidades, em especial a USP, UFSC, UFPA, e UFRGS, bem como, as instituições de educação profissional e tecnológica, produzem trabalhos e pesquisas, experimentos em lugares onde se necessita levar maior desenvolvimento e inserção social em comunidades de difícil acesso, contribuindo com a sociedade e o avanço tecnológico neste setor.

Toda nova tecnologia passa por um aprendizado, existe um tempo para se absorver, e então fazer parte de nosso quotidiano, isto está bem expresso na curva de Rogers abaixo.

De acordo com Rogers, há quatro elementos que influenciam a propagação de uma nova ideia: a própria inovação, canais de comunicação, o tempo e um sistema social. Este processo baseia-se fortemente em capital humano. A inovação deve ser amplamente adotada, a fim de se autosustentar.

Entretanto, dentro da taxa de adoção, há um ponto em que uma inovação alcança a massa crítica. As categorias de adopters são: Innovators, early adopters, maioria adiantada, maioria tardia e retardatarios. A difusão se manifesta de formas diferentes em várias culturas e campos e é altamente sujeita ao tipo de adotantes e processo de inovação-decisão.

Para o caso dos sistemas fotovoltaicos, no caso brasileiro, penso que estamos exatamente nesta lacuna denomidada abismo, pois á primeira fase onde estão os inovadores e primeiros adeptos esta chegando ao fim. Para superar esse “abismo” é necessário promovermos um “salto”, quebrando paradigmas, como a capacidade e o uso dessa tecnologia para gerar sua própria energia e vendê-la àquele que normanente fornece energia!

Para chegar a este ponto, devemos unir forças, onde todos prescisam colaborar – indústria, Governo, instituições de ciência e tecnologia, pessoas físicas e, em especial, as instituições de ensino onde deve-se capacitar a mão-de-obra para que se possa ter uma instalação de qualidade e se-

gura, proporcionando os benefícios da adoção tecnológica em sua plenitude.

Passos importantes realizados pelo Governo quanto à regulação já foram dados, as principais normas sobre produtos já estão em vigor, dentro em breve a norma que contempla a instalação -ABNT/CB-003/CE 003 082 001 “Sistemas de conversão fotovoltaicas de energia solar” deve ser publicada.

Impulso maior deve ser dado nestes pela latente falta de água e, consequentemente, a falta de energia, pois a maior concentração na geração é por usinas hidroelétricas, e estas dependem de chuva em locais onde estão instaladas. Somase a isto o aumento do custo de energia, em especial pela utilização das bandeiras tarifárias.

Estudos indicam que mais 50.000 empregos diretos deverão ser gerados até 2020, ou seja, gente que saiba analisar, projetar, planejar, comprar, instalar e dar manutenção nos sistemas fotovoltaicos.

Temos aí o grande desafio: A FORMAÇAO DA MÃO-DE -OBRA QUALIFICADA, em especial para a instalação e manutenção destes sistemas, que cabe especialmente às instituições de ensino profissional e tecnológico.

Como disse, “Nada Segura a Tecnologia”, assim, por necessidade os primeiros players do mercado, buscaram se apoiar em experiências de outros países, trazendo pessoas capacitadas a executar estes serviços e, vagarosamente, passando o conhecimento de forma mais prática do que teórica àqueles que se juntaram aos projetos implantados. Assim, foram também os treinamentos de 16 ou 24 horas, disponibilizados, em especial pelas empresas integradoras de sistemas fotovoltaicos como forma de disseminar a tecnologia e obter mão-de-obra para seus negócios.

Este modelo, que foi imperativo devido às condições de contorno, atraiu por vezes profissionais de áreas totalmente desconexas, quero dizer, desde engenheiros eletricistas, designers de interiores, mecânicos, profissionais do ramo elétrico, distribuidores de materiais elétricos, TODOS ÁVIDOS A ENTENDER A NOVA TECNOLOGIA, a buscar uma oportunidade de negócio. Porém, treinar é muito diferente de capacitar. Em um treinamento de 16 horas pode-se obter uma boa ideia do que é a tecnologia, para que serve, como se usa, mas daí a pessoa estar apta a prestar seus conhecimentos para dimensionar e em especial instalar um sistema conectado à rede, mesmo que seja de baixa potência, em cima de um telhado, é um grande risco.

Por isto, iniciativas no sentido de fomentar a formação da mão-de- obra, estão sendo tomadas pelas mais conceituadas instituições de ensino técnico profissionalizante, como SENAI, as ETECs e FATECs do Centro Paula Souza e os Institutos Federais de Ciência e Tecnologia. Destaca-se também a ação dos Grupos de Pesquisa da USP, UFSC, UFRGS e UPFA associados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energia Renováveis e Eficiência Energética da Amazônia que atuam em rede e em parcerias com outros governos, como o GIZ, do governo Alemão que fornece apoio a esta e outras energias renováveis.

Por outro lado, instituições como a ABINEE, onde coordeno o Grupo de Trabalho Formação de Mão-de-Obra, está trabalhando há mais de quatro anos em conexão com os mais diversos segmentos, levando o ponto de referência e as necessidades da indústria eletroeletrônica para o desenvolvimento seguro e qualificado da geração fotovoltaica no país. Associações como ABSOLAR e ABENS também compartem este ponto de vista e realizam ações para que sejam estabelecidas as competências técnicas essenciais para o desenvolvimento do setor.

Não podemos perder a oportunidade de acolher esta tecnologia definitivamente em nosso País. E, para que não cause efeito contrário, causando dúvidas sobre sua eficácia, e segurança de instalação, faz-se necessário que formemos mão-de-obra, CAPACITANDO as pessoas, para que estas executem os trabalhos seguindo rigorosamente todas as normas pertinentes.

Oferecer cursos bem estruturados, com aulas teóricas e práticas, com carga horária compatível com a necessidade atender todos os níveis de qualificação profissional, desde Montador, Técnico, Pós-técnico, Técnico de sistemas FV, Tecnólogo e Projetista de Sistemas Fotovoltaicos.

As instituições de educação profissional e tecnológica já estão equipando seus laboratórios para aulas práticas como o objetivo de atender à demanda de formação da mão-de -obra. No entanto, mesmo considerando as ações de formação em andamento, haverá um período de escassez de mãode-obra qualificada e, é imperativa a adoção de ações para evitar situações como as apresentadas nas Figuras 1 e 2.

Diante da desejável expansão da geração distribuída com sistemas fotovoltaicos e dos riscos que podem causar uma instalação realizada de forma inadequada, é recomendável que as distribuidoras solicitem a comprovação de atendimento da Norma ABNT NBR 16274:2014 - Sistemas fotovoltaicos conectados à rede - Requisitos mínimos para documentação, ensaios de comissionamento, inspeção e avaliação de desempenho, para autorizar a operação dos sistemas acolhidos pela Resolução Normativa ANEEL 482/2012. Pelos menos os seguintes itens da NBR 16274:2014

deveriam ser comprovação compulsória:

Item 4. Requisitos de documentação do Sistema

Item 5. Verificação

“O Padrão do crescimento da economia brasileira será determinado pela educação e pelo conhecimento, uma vez que o treinamento capacita o profissional e a educação de-

senvolve a pessoa”. Eng. José Juarez Guerra ▪

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