Revista Renovação. Edição 134 . Mai/Jun 2022
REVISTA PARECIDOS COM O MESTRE pág.10 MARIA, CARTA ESCRITA PELA MÃO DO DEUS VIVO pág.12 O DOCUMENTO DE APARECIDA, 15 ANOS DEPOIS pág. 14
PROCESSO FORMATIVO: UM CAMINHO DE DISCIPULADO E DE UNIDADE ENCARTE
Carismáticos, Discípulos e Missionários
Revista Renovação . Mai/Jun 2022
Nesta Edição
Espiritualidade 06 Parecidos com o Mestre 08 Ambientes com fogueiras e juníperos: o nosso chamado a evangelizar 10
“Discípulos em unidade”
12 O Documento de Aparecida, 15 anos depois
Eventos 18 A família carismática tem um encontro marcado em julho! Especial 20 Maria, carta escrita pela mão do Deus vivo
Institucional 24 Mais do que uma Sede Nacional, um lar para todos os carismáticos! 27 Pela misericórdia de Deus, pude contemplar a ação do Espírito Santo em minha vida
Sugestão de Leitura 22 O Espírito Santo é um sonho de Deus para humanidade
16 O discípulo que se tornou amigo
EXPEDIENTE Publicação Oficial da Renovação Carismática Católica do Brasil
Jornalista Responsável: Jersey Simon Ferreira Registro Profissional 0034836/RJ
ESCRITÓRIO ADMINISTRATIVO
Editada pelo Escritório Nacional da RCC do Brasil
Redação: Rayssa Ferreira, Raphaely Fernandes Revisão: Laura Galvão
Rodovia Presidente Dutra km 46,5, sentido Rio de Janeiro, no bairro dos Marques, s/n
Fotos: Arquivo RCCBRASIL, Shutterstock
Canas/SP
Projeto Gráfico, Design e Diagramação: Priscila Carvalho Venecian
Tel.: (12) 3151-9999
ANO 22 - Edição Nº 134: Mai/Jun 2022
E-mail: dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br
DA RCCBRASIL
Os artigos publicadas são de responsabilidade de seus respectivos autores. Permitida a reprodução, sem alteração do texto e citada a fonte.
Entre em contato conosco. Envie testemunhos e sugestões para o e-mail dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br
3
Editorial Revista Renovação . Mai/Jun 2022
CARISMÁTICOS, DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS As próximas três edições da nossa Revista Renovação vão abordar e aprofundar alguns temas norteadores trazidos como direcionamento para o Movimento Eclesial durante o Encontro Nacional de Formação - ENF 2022. Os temas centrais serão: Discipulado, Pastoreio e Missão. Nesta Edição, em especial, aprofundamos o tema do Discipulado, algo que ouvimos falar em pregações, ensinos, porém muitas vezes sem profundidade. Mas, o que de fato significa ser discípulo? Do latim discipulus significa dar seguimento ao trabalho, à obra de um mestre. De fato, seguimos um mestre: Jesus, caminho, verdade e vida (cf Jo 14, 6). E a nossa missão é dar continuidade à sua Obra, anunciando ao mundo o plano salvífico do Pai. Esta Edição nos apresenta este Jesus, mestre e Senhor, a quem devemos nos assemelhar em tudo. Mas também falamos de missão, não apenas como cristãos, mas como carismáticos, pensando aquilo que o Senhor espera de nós nos tempos atuais. A Edição também nos exorta
à Unidade, pois não há discipulado sem Comunhão (Documento de Aparecida, 156). Também vamos falar sobre a importância de sermos amigos do Senhor e não apenas meros operários de sua Obra, sobre descansarmos em seu peito. Vamos aprofundar a importância de Nossa Senhora como modelo perfeito de discipulado. Este ano, quando o Documento de Aparecida completa 15 anos, propomos um retorno à Conferência, refletindo sobre os desafios dos tempos atuais. Nesta edição, trazemos ainda, no encarte Grupo de Oração, um texto completo sobre o novo processo formativo da RCCBRASIL, um material especial para ser compartilhado com todos os servos nas diversas realidades. Que tenhamos uma leitura profunda e agradável neste tema essencial para nossa espiritualidade. Deus nos abençoe!
Por Jersey Simon Ferreira
Editor-chefe | Coordenador da Comissão de Comunicação Grupo de Oração Sagrados Corações
Ajude a RCC Para fazer a doação por depósito bancário, a nossa conta é: Caixa Econômica Federal -
Agência 2003 Operação 003 Conta corrente 1300-1 Escritório Administrativo da RCCBRASIL CNPJ 00.665.299/0001-01
Amado(a) irmão(ã), a sua colaboração para a Renovação Carismática Católica do Brasil possibilita a realização de muitos trabalhos missionários em todo Brasil. Essa grande ação evangelizadora é desenvolvida semanalmente em quase 15 mil Grupos de Oração. Sua fidelidade fortalece o Grupo de Oração e potencializa o propagar da experiência do Batismo no Espírito Santo a mais pessoas. Continuamos contando com você. Muito obrigado! Caso você deseje colaborar com a RCCBRASIL, entre em contato conosco. Ajude-nos também divulgando esta obra. (12) 3151-9999, (12) 98138-3000, cadastro@rccbrasil.org.br .
Palavra do Presidente Revista Renovação . Mai/Jun 2022
Vinícius Rodrigues Simões
Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL Grupo de Oração Jesus Senhor
DISCÍPULOS-MISSIONÁRIOS DE JESUS CRISTO O binômio “discipulado/missão” é o chamado do Senhor para todos nós seus seguidores e adoradores, pessoas que não se relacionam com o Senhor apenas de forma afetiva, mas de maneira efetiva. Discípulo é todo aquele que é chamado ao seguimento próximo; aquele que é convidado a caminhar com Jesus, a escutar a Sua voz, a aprender todas as coisas com o Mestre, ser formado integralmente (coração e mentalidade) pelo Senhor. Em outras palavras, o discípulo é um amigo de Deus! É aquele que se assenta aos pés do Mestre para escutá-lo com atenção, para aprender com Ele a viver. O Documento de Aparecida n. 132 nos ensina assim: “Jesus quer que seu discípulo se vincule a Ele como ‘amigo’ e como ‘irmão’. O ‘amigo’ ingressa em sua Vida, fazendo-a própria. O ‘irmão’ de Jesus participa da vida do Ressuscitado, porque Jesus e seu discípulo compartilham a mesma vida que procede do Pai”. Por isso, precisamos sempre nos perguntar: “Como está o meu relacionamento com o Senhor? ” Certa vez o Senhor falou em Profecia a determinado grupo de servos: “Eu quero adoradores no Templo e não funcionários do Templo...” O que o Senhor quis dizer com isso? Muitas vezes trabalhamos tanto para Deus ou até para nós mesmos, para o nosso bem-estar, que não temos tempo para o Senhor, para Aquele que nos criou para o louvor de Sua glória (cf. Ef. 1,11-12). Relacionar-se com Deus é algo essencial para o homem. E a missão? Assim nos ensina o Documento de Aparecida, n. 146: “Discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está
apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva”. Missionário é o enviado do Senhor, aquele que é testemunha do que vive, vê, ouve e experimenta de Deus, é o representante do Mestre em todos os lugares para onde vá, o mensageiro da Boa-Nova em meio a um mundo repleto de más notícias. Importante é salientar que a missão eficaz sempre brotará da experiência com Deus. Nesse sentido, diz-nos o Documento de Aparecida, n. 145: “A missão não se limita a um programa ou projeto, mas é compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos os confins do mundo (cf. At. 1,8)”. A missão não é sublime por si mesma, mas por conta de quem a ordena, Jesus Cristo. É Ele quem nos envia a partir de um encontro pessoal com Ele. Somos chamados por Deus a viver esse feliz binômio em nossa vida. Assim foi também com a Samaritana que, tendo uma experiência decisiva com o Senhor, voltou para a aldeia testemunhando as maravilhas de Deus, de modo que aqueles homens acreditaram no Senhor não por causa de suas palavras, mas pelo esplendor da glória de Deus em sua vida, em sua face. Que o Senhor nos ajude a viver esse binômio de forma sempre equilibrada. Veni Sancte Spiritus!
5
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
PARECIDOS COM O MESTRE A identidade do discípulo de Jesus é amar.
N
o tempo de Jesus, a formação de uma pessoa começava pela família e, com o crescimento, o jovem era entregue a um Mestre. Como São Paulo, que diz que foi formado aos pés de Gamaliel (cf. At 22,3). O Mestre assumia os discípulos em sua casa e estes conviviam com ele, como nos é mostrado no Evangelho de João, quando a dois discípulos de João Batista é mostrado o Cordeiro de Deus, então estes foram aonde Jesus morava e permaneceram com Ele (Jo 1,38-39). Discípulo (em grego, mathetes), advém do verbo manthano, aprender pelo uso e pela prática observando o mestre, como diz Jesus: “Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor” (Mt 10,25).
6
Jesus assume esse papel de Mestre e chama seus discípulos para segui-Lo: “Passadas estas coisas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! ” (Mt 5,27). As características do discípulo de Jesus são: o desapego dos bens (cf. Mt 19,21) e, também, não deve haver idolatria às pessoas no coração dos discípulos (cf. Lc 9,59); não deve haver orgulho no coração do discípulo, mas sim a humildade de saber que o Senhor escolhe aquilo que para o mundo é considerado como loucura, vil e desprezado, para confundir os sábios e poderosos deste mundo (cf. 1 Cor 1,27-29); saber que a perseguição faz parte da vida do discípulo e, se aconteceu com o Mestre, muito mais o será com o discípulo (cf. Lc 23,31);
o discípulo deve se considerar bem-aventurado, feliz, grande, se em meio à sua missão ele for perseguido (cf. Mt 5,11). Enfim, ser discípulo é carregar a cruz atrás de Jesus, se assim não for, torna-se impossível ser discípulo de Jesus (cf. Lc 14,27). E o que é carregar a cruz? É aprender a entregar sofrimentos e alegrias, trabalhos e dores nas mãos do Senhor. E reparemos que no Evangelho de Mateus é dito assim por Jesus a seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Analisemos! Em primeiro lugar, há aí uma partícula muito interessante: a partícula “se” que condiciona quem escuta o evangelho na liberdade. Você é livre para ser discípulo de Jesus, mas se você
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
quer ser discípulo é preciso renegar-se a si mesmo, se jogar fora, esvaziar-se (kenosis) para estar preenchido pela ação do Espírito e, como outro Cristo, poder seguir e depois ser enviado para evangelizar. Ninguém consegue carregar a cruz pela própria força, sem a graça que preenche o nosso vazio, é impossível carregar a Cruz. Por isso, Jesus é categórico ao afirmar que “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Incluamos nessa frase o carregar a cruz para ser discípulo d’Ele. Diante desse seguimento, no mesmo Evangelho de Mateus, Pedro não aceita a imagem de um Mestre que diz que vai sofrer e morrer na cruz. Jesus o chama de opositor, empecilho para sua missão, e convida-o a se colocar novamente na posição de discípulo, isto é, atrás do Mestre (opizo, no grego) e reaprender que ser discípulo de Jesus é carregar a cruz (cf. Mt 16,21-23). Por fim, a identidade do discípulo de Jesus é amar, não é ter roupas diferentes, ou categorias profissionais, ou grandes habilidades, mas amar. No contexto do lava-pés, do serviço da cruz antecipado num serviço de escravo, Jesus reafirma que é mestre e convida os discípulos a lavar os pés uns dos outros (cf. Jo 13,13-14). Esse lavar os pés não é ter a mentalidade de escravo, mas servir no amor. Amor que se torna a identidade do discípulo de Jesus: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,34-35). Seremos reconhecidos como verdadeiros dis-
cípulos de Jesus se houver amor. Não há discipulado sem o amor pleno de entregar-se ao serviço como Jesus fez. Sem esse amor, o discipulado se torna hipocrisia.
a identidade do discípulo de Jesus é amar, não é ter roupas diferentes, ou categorias profissionais, ou grandes habilidades, mas amar Diante de tudo isso, devemos pensar e repensar nosso discipulado. Não pode haver joguetes de poder ou busca dos primeiros lugares (cf. Mt 23,6), não podemos trabalhar somente para aparecer ou trabalhar num ativismo estéril, que é tentar carregar a cruz sem a graça de Deus. Como Marta que, ao invés de trabalhar com o coração aos pés do Mestre, como fez sua irmã Maria, estava dispersa confiando em sua própria força. Marta se esqueceu de que todo serviço deve ter um começo e um fim que é Deus, o Único Necessário (cf. Lc 10,38-42). E se o discípulo se torna um enviado, um representante do Mestre, deve confirmar e fortalecer os irmãos na fé (cf. Lc 22,32), servir para que os discípulos sejam servidores e nunca querer ser servido e querer tomar a frente do próprio Deus e ser tido como deuses (cf. Mt 20,28). Se estamos em dúvida se somos verdadeiros discípulos do Senhor, chegou a hora de olhar no espelho. O espelho nos mostra os defeitos físicos, mas na espiritualidade, o discípulo, impelido pelo Es-
pírito Santo, deve olhar no espelho da Revelação de Deus, como traz o Concílio Vaticano II: “...sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é (cf. 1 Jo. 3,2)” (Dei Verbum, n. 7). Olhemos para os Santos Apóstolos, o pobre São Francisco de Assis, o pregador São Domingos, servir como os contemplativos Santa Teresa de Jesus ou São João da Cruz, a amante dos mais pobres dos pobres como Santa Teresa de Calcutá, ou como o casal santo Luís e Zélia, pais de Santa Teresinha. Desafiemo-nos, e com coragem, olhemos para esse espelho, e peçamos que o Espírito nos mostre em nossa vida onde não estamos sendo discípulos, quando nos colocamos como opositores do Mestre, de que forma nos tornamos mais tiranos do que geradores de vida, e com humilde contrição peçamos a graça de recomeçar no discipulado. Que Maria Santíssima, a mulher que se proclamou serva do Senhor e apressadamente e prontamente foi ao encontro da necessidade de sua prima Isabel, que esteve em pé diante da cruz de seu Filho e confortou com sua presença e oração os discípulos medrosos antes do evento de Pentecostes, interceda por nós, para que aprendamos mais uma vez, e quantas vezes for necessário, a sermos discípulos do Senhor Jesus, no Espírito Santo, para a Glória do Pai! Padre Micael Moraes Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador (Salvista)
7
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
AMBIENTES COM FOGUEIRAS E JUNÍPEROS: O NOSSO CHAMADO A EVANGELIZAR O cristão é chamado a ser arauto da esperança, que aproxima cada pessoa do Cristo Salvador.
U
m dos trechos iniciais do Catecismo da Igreja Católica precisa ser assumido por todos os cristãos como um rhema de vida: “Deus não cessa de atrair o homem para Si...” (Catecismo, § 27). O verbo atrair pode ser entendido, dentre outros significados, como o “aproximar” ou o “chamar para si”. Nesse contexto, é possível inferir que Deus se utiliza de estratégias diversas para que nos aproximemos d’Ele e ouçamos o Seu chamado.
8
Na história da Salvação, Deus se deu a conhecer e convidou-nos a uma comunhão íntima consigo. Essa revelação de si feita por Deus e esse chamado para si foi interrompido pelo pecado. A partir de então, Deus concebe alianças que são estratégias para atrair o homem. Assim foi com Noé, com Abraão, com o povo de Israel e, por fim, com Jesus Cristo, que é o mediador e
a plenitude de toda a Revelação. Cabe aqui um questionamento: as estratégias de Deus encerraram-se em Jesus? Incontestavelmente, “o Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que, depois d’Ele, não haverá outra Revelação” (Catecismo, § 73); no entanto, em um mundo marcado pelo individualismo, pela tecnologia e pelo excesso, torna-se necessário identificarmo-nos em dois momentos.
tratados, o ato de compartilhar se torna vazio e infrutífero, pois falta o encantamento pela pessoa do Senhor e o desejo pela conversão – compartilham-se palavras até bonitas, mas não impregnadas de uma experiência; compartilha-se como um teórico e não como um discípulo; mais especificamente, compartilha-se como um publicitário e não como um carismático batizado no Espírito Santo chamado a propagar.
O primeiro é o encontro pessoal com Jesus que nos revela o Pai, ou seja, o encontro com um acontecimento, uma Pessoa viva que nos dá a vida em plenitude e nos abre os horizontes como nos ensinou nosso Papa Emérito Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est (2005); o segundo, é a imperativa necessidade de compartilhar com os outros o dom do encontro com Cristo. Não se trata aqui de momentos independentes, se assim forem
A experiência com o Espírito Santo deve fazer de nós autênticos arautos do “aproximar” e do “chamar para Deus”. Utilizando-se de figuras, podemos fazer duas analogias: é possível imaginar que, em cidades em que se faz um frio rigoroso, um alento aquecedor pode ser uma fogueira ou lareira. Quem experimenta o calor não quer afastar-se para novamente sentir o frio e, ao ver alguém em friagem, quer partilhar a experiência do aqueci-
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
mento, do olhar as fagulhas da madeira e da vivência ao redor daquele centro irradiador. Hoje, vivemos em uma sociedade gélida com pessoas passando frios rigorosos e nós, que experimentamos o calor, somos chamados a aproximá-los do fogo. Veja, não se diz aqui de partilhar-se como aquecimento, mas de trazer para perto do fogo. Nessa imagem se conjugam os dois momentos anteriormente ditos, pois estando aquecido, eu busco outros para se aquecerem com o fogo do Espírito Santo no coração férvido de amor que é o de Jesus.
A experiência com o Espírito Santo deve fazer de nós autênticos arautos do “aproximar” e do “chamar para Deus” A segunda analogia pode nos remeter ao profeta Elias que, debaixo de um junípero, desejou a morte e ouviu do anjo “Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a percorrer” (I Reis, 19, 7). A presença atuante do Santo Espírito em nós alimenta-nos na busca pela santidade de vida, na esperança e no serviço. Na situação em que o mundo se encontra, os “desejos” de morte são constantes. É possível até considerar que a palavra “desejo” assume a conotação de consequência. Aqui a morte está figurada na destruição das famílias, na drogadição, no aborto, no pecado indiscriminado e em tantas outras mortes. Diante delas, nós – carismáticos – pelo encontro com Jesus, estamos debaixo do junípero
e precisamos trazer para essa experiência aqueles que precisam se levantar, comer e percorrer o longo caminho da vida na dignidade de filho de Deus.
A presença atuante do Santo Espírito em nós alimenta-nos na busca pela santidade de vida, na esperança e no serviço Diante disso, resta-nos apenas uma atitude: DECISÃO! Decidir-se por “renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo” (EG., § 2). Decidir-se por ser um carismático que é, ao mesmo tempo, um discípulo amoroso e um missionário ardoroso. Decidir-se por aproximar muitos filhos de Deus para a acolhedora fogueira ou para a refrescante sombra do junípero. Para isso, o próprio Papa Francisco ensina toda a Igreja que “não existe evangelização de poltrona”. Para nosso Movimento, essa frase assume o sentido de que é necessário ir além das paredes do Grupo de Oração. Em uma homilia, o Papa Francisco disse à Igreja que o Espírito Santo nos impulsiona a evangelizar e que isso exige “levantar-se”, “aproximar-se” e “partir da situação”. É o convite que nos tem sido apresentado por meio do verbo PROPAGAR. O próprio Jesus espera que nós, carismáticos, levantemo-nos da situação de aparente prostração que nos foi imposta pela pandemia. É o momento de nos levantarmos como Movimento que tem Nosso Senhor Jesus Cristo por Rei e que
caminha sob impulsos do Espírito Santo. Levantar-se em oração! Levantar-se em jejum! Levantar-se em ação! Sobre os nossos Grupos de Oração há profecias que nos projetam para permanecermos firmes e levantados (ou ajoelhados em oração). Esse “levantar-se” é profético, pois não se vai em direção ao outro rastejando, pelo contrário, estar de pé é premissa para caminhar. A segunda atitude a que somos chamados é a de “aproximar-se”. Isso deve nos tirar do estado de inércia e de apatia. Brilha em nós e a partir de nós a graça do Espírito Santo que é “dynamis”, ou seja, a força de Deus que age para nos aproximarmos dos nossos irmãos que padecem do frio e do cansaço. Aproximar-se exige de nós uma humildade, de nos colocarmos como irmãos e não como mestres. Aproximar-se é uma atitude daqueles que venceram a globalização da indiferença e da intolerância. Por fim, é necessário partir da situação, ou seja, deixar-se guiar pelo Espírito Santo e saber discernir os sinais dos tempos de modo que se percebam os interlocutores, as melhores técnicas, o tipo de abordagem, a contextualização e a dinâmica evangelizadora que concretizará o anúncio querigmático cujo centro é Jesus Cristo vivo, ressuscitado, Salvador e Senhor. Esse é o convite do Senhor para todos os carismáticos: fazer de nossos Grupos de Oração figuras atuais da fogueira e do junípero como estratégia de Deus para que o mundo creia.
Por Fabiano Donizeti Idem Professor da Escola Nacional de Formação para Líderes e Missionários (ENFLM)
9
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
“DISCÍPULOS EM UNIDADE” É preciso se colocar aos pés do Mestre para aprender seus ensinamentos e viver a comunhão fraterna.
A
prendemos do dicionário que discípulo é aquele que recebe ensino de alguém; aquele que aprende; aquele que se dispõe a ouvir as doutrinas propagadas por outro; um verdadeiro aluno. Curiosamente, a palavra ‘apóstolo’ o dicionário define como sendo cada um dos 12 discípulos escolhidos por Jesus Cristo para serem testemunhas da sua vida e obra para pregar o Evangelho. Neste sentido, refere-se àquele que primeiro prega o anúncio de Jesus e, assim, torna-se um missionário exemplar. Desta forma, vemos um elo de continuidade entre ouvir, aprender e propagar a Palavra de Deus. Assunto muito debatido por nós, como consequência de uma verdadeira conversão, resultado do nosso encontro pessoal com Jesus Cristo.
10
De fato, somente quando verdadeiramente nos encontramos com Jesus Cristo, tal qual os primeiros apóstolos, é que começamos a aprender o que realmente importa, levando-nos a sair do individualismo e a compreender que fazemos parte
de uma comunidade que é o corpo místico de Cristo, a Igreja. “Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros” (1Cor 12, 27).
do por vários e diferentes membros, que são direcionados por um único espírito, o Espírito Santo de Deus. O Documento de Aparecida, no número 156, diz:
Referente à unidade, o Catecismo da Igreja Católica (820) nos diz: “Cristo a concedeu à sua Igreja desde o princípio. Nós cremos que ela subsiste, sem possibilidade de ser perdida, na Igreja Católica, e esperamos que cresça de dia para dia até à consumação dos séculos. Cristo dá sempre à sua Igreja o dom da unidade. Mas a Igreja deve orar e trabalhar constantemente para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para ela”.
“A vocação ao discipulado missionário é con-vocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristão sem igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica”.
Se compreendemos a importância da unidade do corpo, também nós como membros da igreja, devemos reconhecer a importância de nossa unidade com a igreja, com os irmãos, com as instâncias do próprio Movimento Eclesial, com o clero, com os bispos, com o Papa e com toda a Corrente de Graça. Somos chamados a viver essa unidade com a Igreja e na Igreja que é o corpo de Cristo, o qual é forma-
Portanto, a unidade é um dos chamados mais profundos do Evangelho. É desejo de Jesus Cristo e condição essencial para que o mundo creia. Somos chamados a sermos fiéis à nossa vocação e, através das nossas relações fraternas de amor e de verdadeira amizade, expressarmos o amor da Trindade. Por Katia Roldi Zavaris Coordenadora Nacional do Serviço Brasileiro de Comunhão do CHARIS
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
11
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
O DOCUMENTO DE APARECIDA, 15 ANOS DEPOIS Nas palavras do Papa Emérito Bento XVI esse documento reforça que “não faz missão, não se torna nem promove discípulos, sem a poderosa ação do Espírito Santo”.
H
12
á mais de dois mil anos, Nosso Senhor segue passando por todos os caminhos do mundo chamando discípulos que o queiram seguir. Jesus deseja aproximar-se da vida de todos nós, revelar a si mesmo, em seu mistério de amor e misericórdia, e convidar-nos a cooperar com Ele na propagação do Evangelho. “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Estas palavras seguem ecoando ainda hoje aos nossos corações como grave responsabilidade na evangelização, no anúncio da Boa-Nova de Nosso Senhor.
Uma vez que tivemos nosso encontro pessoal com Ele, precisamos testemunhar esse amor como discípulos e missionários. O chamado, a mensagem, as exigências de Jesus seguem sendo as mesmas ao longo destes 21 séculos, embora o modo de transmissão da mensagem venha se renovando com o passar do tempo. A verdade “tão antiga e sempre nova” continua consistindo em que precisamos caminhar rumo ao Pai, no dinamismo e poder do Espírito Santo, com o único Senhor e Mestre Jesus Cristo. Este mesmo desafio evangelizador ainda se apresenta nos dias de hoje.
Por este motivo, é de fundamental importância fazermos memória e aprender com o Documento de Aparecida – que está completando 15 anos. Nos dias 13 a 31 de maio de 2007, aconteceu na cidade de Aparecida (SP), a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Naquela ocasião, reuniram-se 266 participantes de diversos países da América Latina e do Caribe, dentre os quais estavam presentes 14 Cardeais, presidentes de distintas Conferências Episcopais, delegados de todos os episcopados das regiões, 24 sacerdotes diocesanos, 16 religiosas, 15 leigos, dentre outros. Reunidos estavam
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
para discutir sobre os caminhos que deveriam percorrer no futuro da Igreja Católica na América Latina, os caminhos, desafios, urgências e oportunidades para a evangelização. Vale notar que o último encontro desse tipo ocorreu em Santo Domingo, 15 anos antes, em 1992. Enquanto a IV Conferência de Santo Domingo se deu num hotel, a Conferência de Aparecida foi realizada no marco de um dos maiores centros de peregrinação, devoção e piedade popular do mundo, o que torna o evento ainda mais emblemático. Foi neste encontro de Aparecida que emergiu, ainda mais, a liderança do então Cardeal e presidente da Conferência Episcopal Argentina, Jorge Mario Bergoglio. Já no dia 15 de maio de 2007, os próprios bispos latino-americanos elegeram o Cardeal Bergoglio como presidente da comissão da redação do documento final de Aparecida, reconhecendo nele a autoridade para levar a termo esta missão. Testemunhos da ocasião relatam que “sentiram-se cativados por sua linguagem caseira, simples e sugestiva, que transmitia esperança, segurança e vontade de seguir em frente”. Preparou a Divina Providência para que este mesmo Car-
deal viesse a ser, anos mais tarde, o Papa Francisco. Poderíamos discorrer sobre inúmeros fatos e curiosidades (ou “Deuscidências”) sobre o encontro de Aparecida, mas, feito este preâmbulo para nos localizar no tempo e importância do evento e do Documento, vamos refletir o que estes 15 anos da Conferência de Aparecida repercutem em nossa vida como Igreja nos dias de hoje. Por uma missão continental
Quinze anos atrás os bispos da América-Latina comprometeram-se: “Assumimos o compromisso de uma grande missão em todo o Continente, que de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter cada cristão em discípulo missionário” (Documento de Aparecida, nº 362). Essa missão continental foi muito animada pelo Papa Bento XVI em sua carta endereçada para o encontro de Aparecida: “para mim foi motivo de alegria conhecer o desejo de realizar uma ‘Missão Continental’ que as Conferências Episcopais e cada diocese são chamadas a realizar” (Documento de Aparecida, pp. 7-8). A Missão Continental, este estado permanente de
Enquanto a IV Conferência de Santo Domingo se deu num hotel, a Conferência de Aparecida foi realizada no marco de um dos maiores centros de peregrinação, devoção e piedade popular do mundo, o que torna o evento ainda mais emblemático.
missão, tem sido muito estimulada a partir do Documento de Aparecida como sendo um “despertar missionário” (DAp 551) em todos os países da América Latina, a fim de que tanto as pessoas individualmente, quanto as famílias, comunidades e povos, tenham vida plena em Jesus. Como nas palavras do próprio texto e, em linguagem que nos é muito familiar dentro da Renovação Carismática Católica, este estado permanente de missão visa recobrar o fervor espiritual, a alegria de evangelizar, bem como recuperar o valor e a audácia apostólicos (cf. DAp 552). Até parece que estamos lendo nossas apostilas e materiais sobre querigma! Tanto que se chegou a dizer que o texto de Aparecida era uma espécie plus pneumatológico, como disse o então perito da Conferência de Aparecida, Pe. Víctor Fernández (em 2013, Pe. Víctor foi sagrado Bispo pelo Papa Francisco). Afinal, podemos ler no Documento que um dos grandes temas foi, seguramente, o Espírito Santo. Ele que nos impulsiona, com ardor, ao discipulado e à missão. Aquilo que, anos mais tarde, o Papa Francisco faria ecoar no coração de todo o povo de Deus indicando seu desejo por uma “Igreja em saída”. Voltando a 2007, durante a missa inaugural da Conferência de Aparecida, o Papa Bento XVI invocava as palavras dos apóstolos dizendo “o Espírito Santo e nós”. Não faz missão, não se torna nem promove discípulos, sem a poderosa ação do Espírito Santo. E esta evangelização, como discípulos e missionários, confere à Igreja e a todos nós “a grande ta-
13
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
A Missão Continental, este estado permanente de missão, tem sido muito estimulada a partir do Documento de Aparecida como sendo um “despertar missionário” (DAp 551) em todos os países da América Latina refa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude do seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários” (DAp 10), a partir de um “encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo” (DAp 11). Os desafios que ainda hoje a Evangelização nos impõe
Os desafios à evangelização sempre estiveram presentes na vida da Igreja. De 2007, com a Conferência de Aparecida até os dias atuais, também nos vemos face a outros tantos desafios e exigências evangelizadoras, a fim de alcançar o homem e a mulher de hoje. Tanto que, apenas para citar alguns, a Igreja sempre retoma os debates e ações evangelizadoras. Assim foi com o Sínodo dos Bispos para Nova Evangelização e a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Eis a urgência sempre presente de jamais deixarmos de lado um anúncio feito no poder no Espírito Santo, a partir de um encontro pessoal com Jesus, dando testemunho autêntico de seu Senhorio. A todo instante temos a grave responsabilidade de mostrar ao mundo a força a beleza a nossa fé (cf. Porta Fidei 4). Tanto
14
na missão Ad Gentes quanto mesmo ao interno da Renovação Carismática, as exigências da missão se mantêm. Para citar algumas: - Desenvolver a dimensão missionária de cada fiel, fazendo-os recordar que, em virtude do Batismo, todos estamos chamados a ser discípulos e missionários; - Promover que cada comunidade cristã (bem como em nossos grupos de oração) seja um espaço poderoso e privilegiado de irradiação do amor de Deus, da vida em Jesus; - Assegurar espaços de oração comunitária que alimentem a fé do povo de Deus; - Gerar um testemunho autêntico de vida cristã e de unidade, a fim de que o mundo creia; - Percorrer um constante itinerário de conversão e busca de santidade.
Lembremo-nos que a evangelização passa por um processo de alcance integral do ser humano, “o homem todo e todo o homem”. As-
sim, estão diante de nós o mundo da cultura, da educação, da economia, da política, meio ambiente, promoção humana e da justiça social, ciência, arte e assim por diante. Em todos esses ambientes, mostremos ao mundo que seguir Jesus “é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (DAp 18). Afinal, “ser cristão não é uma carga, mas um dom” (DAp 28) e “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29). Quinze anos depois a Igreja avançou e segue com ainda muito trabalho a ser feito. Também a Renovação Carismática, como movimento primaveril na Igreja, siga na força do Ressuscitado que passou pela Cruz, evangelizando no poder do Espírito Santo, atraindo ainda mais pessoas para Nosso Senhor, para uma vida nova, plena e abundante. “Vem Espírito Santo, e faz novo, de novo, o que um dia foi novo”. REFERÊNCIAS BENTO XVI. Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Porta Fidei. Documento 195. São Paulo: Paulinas, 2011. DOCUMENTO DE APARECIDA, Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 13-31 de maio de 2007, 11. ed. Brasília, São Paulo: CNBB, Paulus, Paulinas, 2007.
Por Francisco Elvis Rodrigues Oliveira Núcleo nacional do Ministério de Pregação e coordenador do Conselho Editorial RCC Brasil. Autor dos livros “O líder carismático” e “Cristianismo pós-moderno”.
Institucional Revista Renovação . Mai/Jun 2022
15
Espiritualidade Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
O DISCÍPULO QUE SE TORNOU AMIGO O autêntico discipulado transforma-se em amizade e conduz a uma verdadeira confiança em Cristo. Jesus sempre foi um Mestre fora de muitos padrões da sua época. Escolheu seus discípulos enquanto o costume judaico era os discípulos escolherem seus mestres. Os mestres eram aqueles que tinham excepcional saber e competência. Com o seu amor habilidoso, Jesus chamou os que ele quis (cf. Marcos 3, 13). Com os seus discípulos caminhou, a eles conheceu, ensinou e se deu a conhecer ao ponto de dizer: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (João 15, 15).
16
A escolha de Jesus por seus discípulos se pautou no “amor
que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Coríntios 13, 7). Esse amor jamais acabará e, apesar de amar a todos, tem predileção pelos fracos e excluídos. Isso explica, em boa parte, a escolha pelos doze, que dificilmente poderiam escolher um mestre dentro do costume judaico. Hoje não é diferente, pois “Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hebreus 13, 8). Jesus passa por nossas vidas e nos escolhe como seus discípulos, nos chama a segui-lo. “Vivendo em tudo como um homem” (cf. Filipenses 2, 6 -7), a cada passo, Jesus conhecia seus discípulos e se dava a conhecer. Conhecia suas limitações e capacidades. Ensinava-os a viver com os pés no chão, mas com o coração no alto, agregando valor eterno às escolhas que os discípulos eram chamados a fazer. Revelava-se como Deus que, mesmo vivendo a condição humana, não tinha apegos terrenos. Sem hesitar, no cumprimento da sua missão, deu tudo que tinha, deu a si próprio.
Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2022
Fez-se amigo (cf. João 15, 15), um Mestre amigo, que tem excepcional conhecimento e competência para compreender e lidar com as capacidades e fraquezas de seus discípulos. Assim, não se decepciona, tampouco desiste diante da verdade que encontra no olhar, nos lábios, no coração e nas atitudes dos discípulos. Ao contrário, prossegue decididamente deixando os discípulos livres para irem embora quando quiserem: “Quereis também vós retirar-vos?” (João 6, 67). Mas, a quem iríamos depois de estar com tal Mestre? Onde encontraríamos alguém semelhante ou que o superasse? De fato, Pedro, unimos os nossos corações e vozes à sua: “Senhor, a quem iríamos nós?” (João 6, 68). Em qual palavra poderíamos pautar as nossas vidas, senão na sua palavra? Em quem poderíamos confiar, esperar e descansar mais que nEle? Não, não há maior segurança que pautar nossas vidas em sua Palavra e que estarmos sob a sua guarda e cuidados. Todos os outros mestres, por mais que se esforcem, poderão ser, tão somente, discípulos do Mestre.
Todos os outros mestres, por mais que se esforcem, poderão ser, tão somente, discípulos do Mestre A palavra do Mestre gera confiança no coração do discípulo, ensina e ilumina. Faz o discípulo enxergar graças, antes ignoradas, identificar pedras e buracos que
podem ser causa de quedas. Com a visão ampliada, o discípulo caminha com mais confiança, ainda que por caminhos desconhecidos e desafiadores, pois sabe que os ensinamentos do Mestre o auxiliarão a cada passo. Ele enxerga que, ao caminhar pautado na palavra do Mestre, desenvolve habilidades e conquista sabedoria para percorrer os caminhos da vida.
Com a visão ampliada, o discípulo caminha com mais confiança, ainda que por caminhos desconhecidos e desafiadores, pois sabe que os ensinamentos do Mestre o auxiliarão a cada passo O discípulo aprende que “a fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança” (Bento XVI, Porta Fidei, n. 7). Confia no Mestre, após acreditar em sua palavra. E, assim, tem esperança, uma esperança que não decepciona, pois ele sabe em quem depositou a sua confiança. Confia com a certeza de que “jamais se perdeu quem confiou em Deus” (Santo Afonso Maria de Ligório) e compreende que a sua esperança não é incerta, pois se apoia nas promessas divinas, como nos ensina São Bernardo. O discípulo de Jesus sabe que
é amado, mas que o “seu coração está inquieto enquanto não repousa em Deus” (Santo Agostinho). Está certo de que pode reclinar a sua cabeça no peito de Jesus e encontrar descanso, alívio e sossego, pois “um discípulo, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus” (João 13,23). Ali o discípulo amado unia o seu coração ao coração de Jesus. Ali o discípulo amado encontrava forças para estar aos pés da cruz e para correr até o sepulcro. Ao longo da nossa caminhada, podemos reclinar-nos ao peito de Jesus e, permanecendo nEle, escutar claramente: “chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Que nada nos separe do amor de Deus, que nada nos engane nem nos prive de estarmos com o nosso Amigo. Que, escutando a sua palavra, acreditemos. Que, acreditando, confiemos. Que, confiando, esperemos. Que, esperando, descansemos. Assim, o cansaço, inerente à condição humana e às exigências da vida, não se tornará um determinante na vida do discípulo, mas o levará a descansar em Jesus. O discípulo que vive a experiência de se tornar amigo do Mestre tem certeza de que o divino Amigo, com o seu amor habilidoso, acolhe-o, conhece-o e permite-lhe reclinar a cabeça em seu peito para que, no compasso do seu divino coração, possa descansar, receber novas forças, aprender e prosseguir decididamente. Por Keila Souza RCC Distrito Federal Grupo de Oração Sagrado Coração de Maria
17
Eventos Revista Renovação . Mai/Jun 2022
A FAMÍLIA CARISMÁTICA TEM UM ENCONTRO MARCADO EM JULHO! 2022 é um ano de reencontros e todos os eventos da RCCBRASIL serão oportunidades para que a vivência fraterna aconteça!
A família carismática tem dois eventos importantes marcados na agenda para o mês de julho. Entre os dias 21 e 24, serão realizados, em Aparecida (SP), o Congresso Nacional da RCCBRASIL e o Encontro Nacional de Jovens (ENJ). Os encontros vão ser simultâneos e pretendem promover momentos de oração, espiritualidade e vivência fraterna aos carismáticos de todo o país.
O encontro é marcado por momentos de oração, louvor, escuta profética, pregações e partilhas fraternas. Também é uma oportunidade para reunir toda a família carismática, tanto aqueles que já participam ativamente da vida do Movimento em seus Grupos de Oração, como aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a RCC.
18
Este ano também será realizado o Congressinho, um espa-
ço dedicado para as crianças. É importante que os responsáveis inscrevam as crianças antecipadamente, para que seja possível organizar todo espaço, assim como a estrutura de brinquedos e materiais de evangelização.
momentos para celebrar a alegria de ser um jovem de Deus, vivendo o dinamismo, força, coragem, alegria e entusiasmo próprios desta fase da vida. Esta edição do evento terá como tema: “Disse Jesus: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’” (Lc 7,17).
Saiba mais sobre o Congresso Nacional da RCCBRASIL:
Saiba mais sobre o Encontro Nacional de Jovens:
IMPORTANTE!
O ENJ é dedicado a toda juventude carismática e é um encontro querigmático que traz uma oportunidade ímpar para renovar a intimidade com o Senhor. Nos dias do evento, serão promovidos
Não perca a oportunidade de participar desses dois encontros. Lembrando que, apesar de acontecerem simultaneamente, eles têm as inscrições separadas. Portanto, os participantes só terão acesso ao encontro para o qual se inscreverem.
Institucional Revista Renovação . Mai/Jun 2022
19
Especial Especial Revista Renovação . Mai/Jun 2022
MARIA, CARTA ESCRITA PELA MÃO DO DEUS VIVO Ao modelo da Virgem Santíssima, todo batizado deve comunicar o amor de Deus. Embora hoje não sejam mais tão comuns, as cartas desempenharam um papel importante na comunicação da humanidade. Por elas, se comunicavam fatos, acontecimentos, alegrias, tristezas, conq u i sta s etc. Enquanto gênero textual, a carta possui um
remetente (quem envia), um destinatário (quem recebe) e o conteúdo. Essas características nos permitem fazer uma analogia a Maria como uma carta de Deus para nós. Ela é a carta de Deus num sentido especial e único: comunicou ao mundo o Salvador. Maria é um membro da Igreja e também a figura dessa mesma da Igreja no seu desabrochar. Ela é verdadeiramente uma carta escrita não com tintas, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, como a antiga lei, nem em pergaminho ou papiro, mas na própria carne que é o seu coração de crente e de mãe. A mãe de Jesus é uma carta que todos podem ler e entender, sejam eles doutos ou incultos. A obediência de Maria a Deus no plano da Salvação, como nos ensina o pregador da casa papal, o Cardeal Raniero Cantalamessa, reafirma o destinatário, os remetentes e a finalidade dessa belíssima carta. Santo Irineu de Lyon nos ensina que “o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria. O que uma fez por incredulidade a outra desfez pela fé”. Maria é obediente a Deus e, assim sendo, colabora com o Pai no plano da Salvação que Deus sonhou para o homem.
20
No “fiat” de Maria, é inaugurado um tempo novo para a humanidade. Fomos criados
para existir eternamente, mas, por ocasião do pecado dos nossos primeiros pais, o homem foi condenado à morte. Para nos livrar das consequências presentes e eternas, o Pai elaborou um plano de salvação na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, a fim de nos resgatar do pecado e dos seus feitos. Neste plano salvífico, Maria também se faz colaboradora, pois ela gera a salvação da humanidade em seu ventre. O Pai envia o seu Filho para resgatar o homem de sua humanidade ferida pelo pecado e o devolve ao seu lugar no seio da Trindade e o reconfigura a Ela. Neste sentido, olhamos para Maria não apenas como uma espectadora dessa ação salvífica, mas como grande colaboradora nesse mistério. Ela concebe a salvação em suas entranhas. A esse respeito, a anunciação do Anjo Gabriel nos leva a contemplar o cumprimento da profecia de Isaías que dizia que uma virgem conceberia e daria à luz um filho que se chamaria Deus conosco (cf. Is 7, 14). Missionariedade de Maria
Logo após a anunciação, a Sagrada Escritura relata a visitação de Maria a sua parenta Isabel: “Maria se levantou e foi às pressas às montanhas a uma cidade de Judá, entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel” (cf. Lc 1, 39). Maria tem em
Especial Revista Renovação . Mai/Jun 2022
seu íntimo esse ardor missionário, essa audácia apostólica. Aquele que é fecundado pelo Espírito Santo sai, corre, apressadamente ao encontro dos que precisam. Em seguida, o evangelista São Lucas diz que “assim que Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu de alegria em seu ventre” (Lc 1,41). Maria, ao descobrir a alegria de ser mãe, coloca-se a serviço. O “fiat” de Maria gera a alegria no serviço. Conosco também deve acontecer o mesmo! Quando dizemos SIM aos desígnios divinos para nossa vida, somos tomados de uma profunda alegria e, em seguida, nos colocamos a serviço do outro. Maria não olha as dificuldades da região montanhosa, ela subiu as montanhas para se colocar a serviço de Isabel, Zacarias e João Batista, e o fez com alegria. São João Paulo II ensinou que “a Virgem Santa, que leva no seio o Filho concebido por obra do Espírito Santo, irradia à sua volta graça e alegria espiritual. É a presença do Espírito em si que faz exultar de alegria o filho de Isabel”. No entanto, não podemos nos esquecer de que Maria é, por excelência, a primeira discípula do seu Filho. É ela que segue, desde a infância de Jesus, os seus primeiros passos até o exercício do seu ministério. É ela que, como primeira discípula na sala do Cenáculo, aguarda a promessa do Pai ser cumprida por meio do seu Filho – o grande derramamento do Espírito Santo. O Silêncio de Maria
Inácio Larrañaga escreve em sua obra “O silêncio de Maria”: “O
profeta Jeremias tinha imaginado Maria como uma cabana solitária no alto da montanha, abatida por todos os furacões. Aqui no Calvário, o silêncio de Maria transformou-se em adoração. Nunca o silêncio significou tanta coisa, como nesse momento: Abandono, disponibilidade, fortaleza, fidelidade, plenitude, elegância, fecundidade, paz... Nunca uma criatura viveu um momento com tanta intensidade existencial”. Mesmo diante do seu filho pregado na Cruz, ela permanece em pé, para ali exercer sua maternidade mais uma vez! Maria não hesitou em nos receber como filhos como descrito por São João: “Jesus então, vendo a sua mãe e, perto dela, o discípulo que a quem amava, disse a mãe: ‘Mulher, eis teu filho!’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe!’. E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa” (cf. Jo 19, 26-27). Podemos, então, dizer que Maria é mãe da humanidade!
e nos leva a entender que o servo é aquele que realiza a vontade e o desejo do seu Senhor, é o que se submete como escravo e assim não tem vontade própria! Rezamos isso no Angelus “Ecce ancílla Domini” Eis aqui a escrava do Senhor! Maria nos ensina de forma concreta como viver a verdadeira humildade. Fica para nós, então, uma reflexão: “como batizado no Espírito Santo, tenho sido uma carta de amor ao mundo? ” Que Ele mesmo, o Divino Mestre Interior, nos faça silenciosos e humildes para assumirmos nossa missão de sermos sal e luz no mundo, em outras palavras, sermos uma carta de amor ao mundo sedento de Deus. Por Maria Eliane Noronha Coordenadora Arquidiocesana RCC Maceió - Alagoas Grupo de Oração Beata Elena Guerra
Humildade de Maria
Maria sendo Mãe de Deus não quis benefícios nem privilégios, não buscou uma posição de destaque, por isso uma das grandes características de Maria é a humildade. No cântico do Magnificat, ela
expressa bem isso ao dizer: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus meu salvador, porque olhou para sua pobre serva” (Lc 1,46). Maria coloca-se sempre na posição de serva
21
Sugestão de Leitura Revista Renovação . Mai/Jun 2022
O ESPÍRITO SANTO É UM SONHO DE DEUS PARA HUMANIDADE Uma sugestão de leitura para aqueles que querem conhecer mais sobre o Espírito Santo e sua ação na Igreja.
Nesta edição a Revista Renovação traz como sugestão de leitura o livro “O Espírito Santo na Corrente de Graça da Renovação Carismática Católica”, escrito por André Luis Botelho de Andrade, formado em teologia, filosofia Tomista e fundador da Comunidade Pantokrator. Este livro faz parte de uma coleção da RCCBRASIL sobre o Espírito Santo. Dividido em cinco capítulos, o livro tem enfoque na ação do Espírito Santo sobre a Renovação Carismática Católica. Discorre sobre o sonho de Deus para humanidade que perpassa pela história e manifesta a ação do Paráclito sobre a Igreja. Todos esses pontos são fundamentados em diversas fontes, assim como nos ensinamentos do Magistério da Igreja. O primeiro capítulo, “Um sonho de Deus”, trata a história do povo escolhido, que é constituído pelo Senhor. Na sequência medita sobre Jesus, o doador do Espírito Santo, seguido pela reflexão do Dia de Pentecostes e por fim a intimi-
22
dade com a terceira pessoa da Santíssima Trindade. O tópico “Século XX: Morte de Deus e vinda do Espírito Santo”, desenvolvido no segundo capítulo apresenta uma humanidade que “mata Deus”, mas o Espírito Santo O ressuscita. O autor explica que neste momento “surgem os movimentos pentecostais dentro das comunidades cristãs separadas, protestantes e evangélicos, e depois essa graça se derrama no catolicismo surgindo a Renovação Carismática Católica”. O terceiro capítulo trata do tema central do livro, “O Espírito Santo na Corrente de Graça da Renovação Carismática Católica”, que apresenta Sua ação na Corrente de Graça, o Batismo no Espírito, seus frutos e o significado eclesial. Desse modo, o quarto capítulo culmina na “Cultura de Pentecostes”, “porque um verdadeiro derramar do Espírito Santo não somente cria corações novos, mas gera uma humanidade nova”, ressalta o autor. O último capítulo sintetiza a
dependência do povo de Deus pelo Paráclito. “A Igreja sem o Espírito é uma Igreja sem alma. Somente pelo Espírito que adentramos nos mistérios de Deus, as coisas dos céus se tornam presentes em nossas vidas”. André Luis deixa uma breve reflexão sobre quem são os carismáticos.
“
São os famintos do Espírito de Deus. São homens e mulheres que mendigam o Espírito dia e noite. Talvez sirva aqui a figura do “Resto de Israel”, aquele povinho, simples, pobre, mas que ficou firme à promessa. A promessa do Espírito é perene, e sua realização também. Basta pedir.
Adquira agora mesmo o seu exemplar na Loja RCCBRASIL!
Institucional Revista Renovação . Mai/Jun 2022
23
Projeto Revista Renovação . Mai/Jun 2022
MAIS DO QUE UMA SEDE NACIONAL, UM LAR PARA TODOS OS CARISMÁTICOS! Um local de encontro fraterno e vivência do perene Pentecostes. Levante suas mãos para rezar e construir a Sede da RCCBRASIL! Em agosto de 2021 começaram a ser realizadas mensalmente as missas na Sede Nacional da RCCBRASIL, em Canas (SP). Desde então, as celebrações são abertas à comunidade local, assim como para toda a região. Para alcançar os membros do Movimento que moram longe, mas desejam rezar com toda família carismática, são feitas as transmissões ao vivo pelo canal da RCCBRASIL no YouTube. Aos poucos, a Sede Nacional têm sido um local de encontro e comunhão fraterna para a Renovação Carismática Católica. O Espírito Santo tem inspirado iniciativas singelas, mas efetivas para que as portas desse lar carismático sejam abertas a todo povo de Deus. A Sede Nacional ainda não está concluída, alguns passos precisam ser dados e toda ajuda se faz necessária, tanto por meio de orações, quanto por gestos concretos. Fique por dentro das próximas etapas:
1.
Conclusão do palco (piso, guarda-corpo, pintura, etc.);
2.
Fechamento do entorno da Capela Nossa Senhora de Pentecostes;
3.
Projeto técnico de Segurança contra Incêndio;
4.
Arruamento e iluminação;
5.
Conclusão dos banheiros;
6.
Iluminação e concretagem do piso do galpão.
Um desafio pela NOSSA CASA!
Convidamos você a realizar seu gesto concreto agora mesmo: seja um colaborador do Projeto Semeando a Vida no Espírito! Mas qual o desafio? Que você convide pelo menos mais duas pessoas para se tornarem colaboradoras também. No entanto, precisamos que você siga algumas dicas:
Tudo isso só será possível com a união de todos os carismáticos! Por isso, a RCCBRASIL, por meio do Projeto Semeando a Vida Espírito e do Real Missionário Carismático, estende todos os meses as mãos pedindo sua ajuda. Para que a casa dos carismáticos possa estar pronta e em total condições para acolher bem a todos!
Para começar a realizar sua contribuição fiel, faça seu cadastro em www.rccbrasil.org.br/eucolaboro e seja um colaborador do Projeto Semeando a Vida no Espírito. Para doações espontâneas use a chave PIX doacao@rccbrasil.org.br
24
1.
Partilhe a missão geral do Projeto;
2.
Testemunhe a ação de Deus, que propague que a Sede já está realizando algumas atividades, assim como a missa mensal;
3.
Ajude a pessoa entrar em contato para ser um colaborador, pergunte se ficou alguma dúvida. Dê todo auxílio necessário para ela também fazer parte dessa missão!
Institucional Revista Renovação . Mai/Jun 2022
26
A RCC emInstitucional minha vida Revista Renovação . Mai/Jun 2022
PELA MISERICÓRDIA DE DEUS, PUDE CONTEMPLAR A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM MINHA VIDA Meu nome é Maria Ivanilda, mas todos me conhecem como Nildinha. Tenho 36 anos, moro em Rolim de Moura - Rondônia, e participo do Grupo de Oração “Voluntários de Cristo’’ na Paróquia Nossa Senhora Aparecida. Deus me deu a graça de participar do Grupo de Oração desde a minha adolescência, durante esse tempo de caminhada com o Senhor pude contemplar a ação do Espírito Santo em minha vida e na vida daqueles que, de alguma forma, o Senhor me permite ser instrumento. Deus nos chama a viver e testemunhar suas maravilhas através das pequenas coisas e me recordo de uma missão que fizemos em uma cidade aqui da nossa diocese. Estávamos em um encontro do Ministério Jovem, onde estavam reunidos jovens de todo o estado, e durante o encontro formativo fomos chamados à experiência de levar Jesus porta a porta. Nos espalhamos pelas ruas de um determinado bairro e fomos batendo de casa em casa pregando o amor de Deus. Quando estava no final da missão, chegamos em uma casa que parecia não ter ninguém, mas o Espírito Santo nos impulsionou a chamar. Ouvimos de dentro da casa uma voz suave, alegre e doce nos dizendo para entrar pois a porta estava aberta. Estávamos em uns quatro jovens. Ficamos um pouco sem jeito, mas aceitamos o convite. Quando olhei para o interior da casa, tinha uma senhora, já idosa, bem debilitada, quase não podia andar. Nós nos apresentamos e falamos o que fomos fazer ali. Ela nos ouviu atentamente, orou conosco e depois disse que estava nos esperando, pois, em oração durante aqueles dias, ela pediu que
Deus enviasse um jeito dela entregar as moedas que tinha guardado para contribuir com a caravana dos jovens que iriam à JMJ 2013. Fazia tempo que ela estava juntando moedinhas, mas havia ficado doente e não poderia ir pessoalmente levar. Como não tinha ninguém da comunidade próximo à casa dela, resolveu pedir a Deus que “desse um jeito” de buscar. Eu saí daquela casa com a certeza que de Deus “dá um jeito”, que Ele usa da nossa simplicidade e pequenez para fazer grandes feitos. O meu sim àquela missão fez-me aprender com a fé daquela senhora. Pela fé ela sabia que sua oferta chegaria ao seu destino, pois antes de entregar as moedas, ela entregou sua oração, seu coração a Deus. Percebi que Deus não precisa de grandes produções para agir, Ele é Deus. Levamos a oferta, entregamos à comunidade que estava nos acolhendo e meu coração ficou tão grato a Deus por me permitir ser seu instrumento para mostrar àquela senhora que Ele estava atento às suas orações. Durante esse tempo de caminhada, eu venho a cada dia tendo mais e mais a certeza que Deus quer nos usar, que Deus quer precisar de nós. Que o Espírito Santo nos dê a graça de sermos cada dia mais desejosos do seu agir em nossa vida. Obrigada Jesus pela oportunidade de ser “carismática, discípula e missionária”. Paz e fogo!
Por Maria Ivanilda Rolim de Moura - Rondônia Grupo de Oração Voluntários de Cristo
27
Revista Renovação. 134 .Mai/Jun 2022
REAVIVANDO A
CHAMA
PROCESSO FORMATIVO:
UM CAMINHO DE DISCIPULADO E DE UNIDADE O Senhor nos deu o caminho único do Processo Formativo O Senhor concedeu ao Movimento Eclesial da Renovação Carismática Católica do Brasil um Processo Formativo inspirado pelo Espírito Santo e, por isso, único na Igreja e para todos os seus membros. Mesmo num país gigante como o nosso, o Senhor olhou com amor cada particularidade, cada diocese, cada Grupo de Oração, cada membro. Ele mesmo o sonhou e o preparou com Suas mãos para nossos Grupos De Oração e para cada um de nós. Este Processo, bem vivido e corretamente promovido, nos identifica na Igreja entre todas as demais Expressões,
Comunidades, Movimentos e Pastorais e todas as vezes que nele mergulhamos, quanto mais dele nos apropriamos, melhor nos tornamos “rosto e memória de Pentecostes” e com maior eficácia fazemos o Espírito Santo mais conhecido e amado. Este Processo Formativo é o caminho seguro por onde devemos trilhar com alegria e viver com amor a nossa identidade carismática, como discípulos Seus, em unidade, para sermos certeiros e eficazes na nossa missão. Pois, por esse poderoso instrumento de Salvação o Senhor tem chegado com o Seu amor aos corações dos Seus filhos e muitos são os resgatados das garras
1
Encarte Reavivando a Chama Revista Renovação . 134 .Mai/Jun 2022
de Satanás, muitos são os reconciliados com o Pai e reconduzidos a uma vida nova pela força do Espírito Santo!
Não é formar pessoas em série para preencher os quadros do Movimento Eclesial, mas formar homens e mulheres para o céu! Quando falamos da aplicação do Processo Formativo, não estamos nos referindo a uma “formatação” de pessoas, nem muito menos a um esquema rígido que pode chegar até a impedir a ação do Espírito Santo nas nossas vidas. Não se trata por exemplo, de formar servos em série, como numa linha de produção de fábrica; também não se assemelha a uma capacitação escolar puramente intelectual e, menos ainda, deve se parecer com a estruturação de uma organização civil ou empresarial onde preparam-se pessoas para assumir cargos e funções. Pelo contrário, este Processo Formativo para nós é como um ninho bem preparado, onde os que nascem na fé estreitam ali os laços de amor, encontram ali um lugar de segurança, de fortalecimento, de alimentação saudável e adequada e de preparação para que possam alçar voos cada vez mais altos, por onde o Senhor desejar levá-los.
O Processo Formativo é alimento sólido, fiel e autenticamente católico! Mesmo o Processo Formativo sendo inspirado pelo Senhor, vale dizer que a dimensão formativa na RCCBRASIL é eclesial, ou seja, não é algo novo ou criado por ela mesma, é, na verdade, uma atitude filial de docilidade e obediência à voz da própria Igreja que, sendo mãe e mestra, orienta os seus filhos a trilharem os caminhos traçados pelo Senhor, mediante critérios claros de eclesialidade que os fazem autênticos e enviados a servir em unidade aos demais irmãos e a Cristo. Esses critérios existem para discernimento pastoral na Igreja, para declarar se algum
2
Movimento, Carisma ou organismo é autenticamente católico, fiel à sua Doutrina e à Sagrada Tradição. O Processo Formativo da RCC é guardião e promotor desses critérios de eclesialidade tornando assim toda a sua evangelização segura e autêntica, resguardando ainda a identidade da sua própria espiritualidade conforme orienta o parágrafo 214, do Código de Direito Canônico. Os principais critérios dessa autenticidade estão descritos na Exortação Christifideles Laici e são: espiritualidade conforme a doutrina católica; primado da vocação à santidade; responsabilidade em professar a fé católica; comunhão e unidade filial com o Papa e o Bispo local; estima e colaboração entre as diversas formas de apostolado; participação e conformidade na finalidade apostólica da Igreja; estar a serviço da dignidade humana à luz da doutrina social da Igreja. Por tudo isso, ele é instrumento pelo qual o Movimento oferece alimento sólido aos seus membros, o caminho a ser percorrido como discípulos e em unidade por aqueles que são chamados a servir a Jesus em um Grupo de Oração, além de ser uma estratégia segura de evangelização capaz de guardar integralmente sua identidade e a experiência fundante do Batismo no Espírito Santo. 1
Visão espiritual e discernimento para ver o agir de Deus! Em todas as Etapas do Processo Formativo, o Senhor dispensa na Igreja uma forte torrente de graças, opera mudanças de vida profundas, curas e libertações, pelas quais efetiva o Seu plano de salvação. Mas nós, carismáticos, necessitamos também de visão espiritual e do discernimento dos espíritos para compreender o agir e contemplar o moldar de Deus em cada etapa desse Processo Formativo que, muitas vezes, recebe investidas malignas para não acontecer da forma como Deus quer, para que os Seus filhos não sejam libertos, curados e felizes totalmente, para que a Igreja não cresça por meio dessa estratégia poderosa de evangelização. Não 1
Christifideles Laici, 30
Encarte Reavivando a Chama Revista Renovação . 134 .Mai/Jun 2022
há nada mais belo do que contemplar as mãos de Deus trabalhando e, no Processo Formativo, podemos ver claramente que elas jamais param!
Dóceis ao Espírito Santo, caminhemos como discípulos, em unidade, rumo ao céu! DISCIPULADO e UNIDADE! Vamos aprofundar um pouco mais nestas duas palavras dentro do Processo Formativo, porque são palavras que estão em perfeita comunhão. Não há discipulado sem Comunhão. 2
O Processo Formativo do Movimento Eclesial da Renovação Carismática Católica é um completo discipulado cristão. Ele está constituído de três etapas distintas, mas totalmente interligadas e inseparáveis: a Etapa Querigmática, o Módulo Básico de Formação e a Formação Específica para o serviço e a missão. O Querigma – na primeira etapa do Processo Formativo, o discípulo é conduzido direto ao próprio Mestre, de forma experiencial e pessoal. O discipulado nasce do encontro pessoal com Jesus. Esta etapa inicia-se com o que a Igreja chama de Querigma (primeiro anúncio), que é o testemunho fundamental para a fé, capaz de levar-nos ao encontro pessoal com o Senhor, que nos faz experimentar a graça transformadora do derramamento do amor de Deus sobre o nosso próprio coração, através do Batismo no Espírito Santo. Essa experiência do Encontro com o Senhor é o “fio condutor” da vida do discípulo, que lhe abre o coração à amizade com Jesus; a apaixonar-se por Ele; a encantar-se com Ele, gerando no ser uma sede de Deus; uma fome da Sua Palavra; um desejo constante pela oração; um anseio de aprofundar-se mais; de conhecer melhor o Senhor, sua forma de viver, sua missão, sua Igreja, levando assim a pessoa a desejar naturalmente aprofundar a sua vida nova na fé. É aos pés do Mestre que se forma o discípulo! Todos nós somos convidados a renovar o nosso encontro pessoal com o Senhor e o nosso chamado!
etapa, o discípulo é conduzido ao conhecimento mais profundo da vida de Cristo, do seu corpo, que é a Igreja e, de modo especial, da forma de ser do Movimento Eclesial da Renovação Carismática Católica. É, ainda, levado a se confrontar, curar e amadurecer a sua humanidade. O discípulo não deve ficar apenas no primeiro aspecto de encantamento do Batismo no Espírito Santo, mas ir além, viver todas as suas consequências, passando da experiência inicial para uma vida toda moldada e conduzida pelo Espírito Santo, em comunidade, da mesma forma que Jesus. Deve, portanto, ser dócil ao agir do Espírito e se deixar formar por Ele. Se o encontro pessoal com o Senhor é um divisor de águas na história de uma pessoa, a formação é que fará não ser perdida e nem mal aproveitada nenhuma gota dessa água preciosa. É ela que cuidará para que essa fonte continue a jorrar, canalizando-a para irrigar todas as áreas sequiosas que dela necessitam, e gerando vida por onde passa. A Formação Específica de Ministérios – Essa terceira etapa é onde o discípulo é inserido na experiência missionária viva da Igreja, no seu Grupo de Oração, dentro do seu Movimento. A vivência da comunidade é um lugar privilegiado de formação, essa é uma experiência formativa progressiva e dinâmica que envolve todas as dimensões da pessoa. Do Movimento, deve aprofundar sobre a interdependência de todos os servos, a ministerialidade orgânica, o espírito de UNIDADE, de partilha, de colegialidade, de representatividade, as estruturas organizativas, desenvolvendo e nutrindo a visão profética e o sentimento de pertença. É tempo de lapidação e amadurecimento dos dons pessoais e dos carismas de serviço, um tempo de crescimento, de maturidade, de perseverar e, de fato, ter tudo em comum. Como ensina-nos o Papa Francisco: “A dimensão comunitária não é apenas uma ‘moldura’, um ‘contorno’, mas constitui uma parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização”. ³ 3
O Módulo Básico de Formação – na segunda 2
Cf. Documento de Aparecida, 156
3 FRANCISCO. Audiência Geral. Praça de São Pedro, 15 de janeiro de 2014.
3
Encarte Reavivando a Chama Revista Renovação . 134 .Mai/Jun 2022
4