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Encarte - REAVIVANDO A CHAMA

A PALAVRAS DE DEUS DEVE SER ALIMENTO DIÁRIO

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“Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra”, esclarece o apóstolo Paulo na II carta a Timóteo 3,16-17. Também Santo Ambrósio nos ensina que “a Palavra de Deus é a substância vital de nossa alma. Ela alimenta, apascenta e governa. Não existe outra coisa que possa fazer com que a alma do homem viva, a não ser a Palavra de Deus.” E ambos estão cobertos de razão! Como viver sem a Bíblia? Como conhecer o caminho que nos leva a Deus sem lê-la? Nossa intimidade com esta “CARTA DE AMOR” deve ser diária e contínua, pois como nos ensina o Catecismo da Igreja, no número 134: “Toda a Sagrada Escritura é um único livro, este livro é Cristo, fala de Cristo e se cumpre em Cristo” e é a Ele que queremos, mais nada!

Vinicius Simões, no livro “Eu te constituí sentinela na casa de Israel”, também nos apresenta que a Palavra de Deus é alimento para a fé e vai se misturando com nossos sentimentos, pensamentos, nossa visão de mundo, e vai nos impregnando da sua sabedoria eterna.

Ela é a espada do Espírito que arranca o mal pela raiz, que combate os maus sentimentos, dissipa os maus pensamentos, equilibra as emoções, torna retas as intenções, guarda-nos das falsas doutrinas e dos ídolos, pois, por ela aprendemos a distinguir claramente o que vem de Deus e o que não vem dele.

A todos os servos da Renovação Carismática Católica não é novidade que a intimidade com a Palavra de Deus deve ser uma prática diária e necessária, não apenas para o serviço, mas muito além disso, para a sua vida, para a sua salvação. No entanto, não é preciso fazer muito esforço para perceber o quanto essa prática tem sido deixada de lado. Neste ano atípico em todos os nossos Grupos de Oração, em que o Brasil inteiro teve que parar literalmente (Sustar os passos, cf. Jr 6,16), alguns irmãos e irmãs se sentiram perdidos, sozinhos, e até sem rumo. Muitos testemunharam que o Grupo de Oração era seu principal meio de sustento espiritual e que, ao ter que parar os encontros, não sabiam mais o que fazer. Faltou-lhes o alimento, o sustento diário, a Palavra.

Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho – nos apresenta logo no início, no número 6, que “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma quaresma sem Páscoa (poderíamos colocar aqui uma quarentena). Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados. Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas, aos poucos, é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias: “A paz foi desterrada da

minha alma, já nem sei o que é a felicidade (...). Isto, porém, guardo no meu coração; por isso mantenho a esperança. É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. (...) Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor” (Lm 3, 17-26).

Sabe-se muito bem que muitos irmãos e irmãs passaram por grandes provas, perdas de entes queridos, situações que colocaram a fé e a esperança em prova. Viu-se que a caridade de uns pelos outros também foi e é uma verdade que tem se revelado muito mais necessária do que antes. Porém, de nada adianta passar por todos os sofrimentos, se não voltar o olhar para a eternidade. Aí entra então a intimidade com a palavra do Senhor, Ela faz com que tenhamos a certeza de que “tudo acontece para o bem daqueles que amam a Deus” (cf. Rm 8,28).

O que pode então ser fortaleza e sustento? Se até mesmo os sacramentos “nos foram tirados”, mesmo que por algum tempo. Não tivemos mais a participação no anto sacrifício da Missa, no sacramento da Confissão, batizados, casamentos, ordenações. O que nos restou? A palavra de Deus! Nela, muitos se firmaram e sustentaram as suas lutas. No entanto, também é verdade que muitos não se lembram mais de abrir a sua Palavra.

Ao falar em RESGATAR esta prática, faz-se necessário compreender que é preciso submeter-se ao Senhor. “A infância espiritual exige a submissão do entendimento, mais difícil que a submissão da vontade. – Para submeter o entendimento, precisa-se, além da graça de Deus, de um contínuo exercício da vontade, que se nega ao entendimento como nega à carne, uma e outra vez e sempre; dando-se como consequência o paradoxo de que quem segue o ‘pequeno caminho de infância’, para se tornar criança, necessita de robustecer e virilizar a sua vontade” (Caminho, São Josemaria Escrivá).

Ora, por mais que seja difícil voltar ao normal de uma vida que tínhamos antes, é necessário esforçar a própria vontade, reeducar nossos atos, ter propósitos de retomar a leitura espiritual e deixar que o Senhor volte a conduzir os nossos passos. Deus nos fala de diversas maneiras e por diferentes pessoas. Muitas vezes somos perturbados pela nossa curiosidade, ao ler as Escrituras, por querermos esquadrinhar e discutir onde se deveria com simplicidade passar além (Imitação de Cristo. Cap. V n. 2).

A leitura espiritual de um texto deve partir do seu sentido literal. Caso contrário, uma pessoa facilmente fará o texto dizer o que lhe convém, o que serve para confirmar as suas próprias decisões, o que se adapta aos seus próprios esquemas mentais. Isto seria, em última análise, usar o sagrado para proveito próprio (...) (EG 152).

“Na presença de Deus, em uma leitura tranquila do texto, é bom perguntar-se, por exemplo: ‘Senhor, o que me diz este texto? Com esta mensagem, que quereis mudar na minha vida? Que é que me dá fastio neste texto? Por que é que isto não me interessa?’; ou então: ‘De que eu gosto? Em que me estimula esta Palavra? O que me atrai? E por que me atrai? Quando se procura ouvir o Senhor, é normal ter tentações. Uma delas é simplesmente sentir-se chateado e acabrunhado e dar tudo por encerrado; outra tentação muito comum é começar a pensar naquilo que o texto diz aos outros, para evitar de o aplicar à própria vida. Acontece também começar a procurar desculpas, que nos permitam diluir a mensagem específica do texto. Outras vezes pensamos que Deus nos exige uma decisão demasiado grande, que ainda não estamos em condições de tomar. Isto leva muitas pessoas a perderem a alegria do encontro com a Palavra, mas isso significaria esquecer que ninguém é mais paciente do que Deus Pai, ninguém compreende e sabe esperar como Ele. Deus convida sem-

pre a dar um passo mais, mas não exige uma resposta completa, se ainda não percorremos o caminho que a torna possível. Apenas quer que olhemos com sinceridade a nossa vida e a apresentemos sem fingimento diante dos seus olhos, que estejamos dispostos a continuar a crescer, e peçamos a Ele o que ainda não podemos conseguir” (EG 152, 153).

Para um bom relacionamento com o Santo Livro, convido você a refletir sobre quatro verbos que devem nortear esta maravilhosa e primordial convivência:

CONHECER

Correlacionados a este importante verbo, que expressa a ação de proximidade com o Senhor, temos os verbos ESCUTAR, LER, COMPREENDER e MEDITAR.

Para conhecer, é preciso se aproximar através da leitura, da compreensão e quando isso acontece, o próprio Senhor, por meio da oração e da Palavra, fala conosco.

O cristão nunca é tão verdadeiramente cristão quanto quando ele fala e ouve a Deus. Não é a quantidade de palavras, mas a Palavra que tem o poder de mudar a história da nossa vida. A escuta da Palavra é encontro pessoal com o Senhor da vida, um encontro que deve traduzir-se em escolhas concretas e tornar-se caminho e seguimento.

AMAR

Sinônimos a este verbo tão bonito temos: RESPEITAR e OBEDECER.

Nosso amor a Deus e à sua Palavra deve levar-nos à escolha radical de possuir o Senhor como único bem e de conservar as suas palavras como um dom inestimável, mais precioso que toda a herança e toda a posse terrena. O salmo 118,105 assim nos alerta: Vossa palavra

é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho. O amor do salmista pela Palavra nasce do respeito e obediência a ela, por desejar conservá-la no íntimo, meditando-a, precisamente como Maria, que a conservava em seu coração.

VIVER

No mesmo sentido desse, temos os verbos OBSERVAR e GUARDAR. A Palavra do Senhor será lâmpada para os pés se vivermos com ela em nós! Quanto mais tempo eu e você passamos com ela, mais luz teremos em nosso interior para tomar decisões. O Senhor e a sua Palavra: eis a nossa “terra”, na qual se deve viver na comunhão e alegria.

PREGAR

Ou seja, ANUNCIAR, PROPAGAR, para que Jesus seja conhecido e amado. O apóstolo Paulo exorta: Prega a Palavra! (cf. II Tm 4,2) e nos convoca a, como ele, levar a Boa Nova a todos, em todo tempo. O Frei Raniero Cantalamessa, pregador da casa Pontifícia, nos ensina em seu livro “O Mistério da Palavra de Deus” que “Deus não tem boca e fôlegos humanos: sua boca é o profeta e seu sopro o Espírito Santo. Assim Ele nos disse através dos profetas: “Tu serás a minha boca” (cf. Jr 15,19) e “porei minha palavra sobre seus lábios” (cf. Jr 1,9) Com a vinda de Cristo, Deus não mais fala só através dos profetas, mas também com voz humana, perceptível ao ouvido. O VERBO foi visto e ouvido! Aquilo que se ouve não é palavra de homem, mas Palavra de Deus, porque quem fala não é apenas a natureza e sim a pessoa de CRISTO. Deus não fala mais de forma indireta, mas pessoalmente na pessoa de CRISTO! Por isso, na Palavra, encontremos O Cristo!

Que este breve texto nos ajude a refletir, de modo sério e comprometido, como anda nosso relacionamento cotidiano com a carta de amor que o próprio Deus nos escreveu. Que Maria, nossa mãe amada, mulher que acolheu e gerou a Palavra, seja a nossa guia e o nosso conforto, e como ela, pela intimidade com a Palavra de Deus, Jesus se faça em nós!

O Papa São Paulo VI fala a toda a igreja que, sendo todos responsáveis pela evangelização, devem dar testemunho:

“Consideramos agora, brevemente, a própria pessoa dos evangelizadores. Ouve-se repetir, com frequência hoje em dia, que este nosso século tem sede de autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirma-se que eles têm horror ao fictício, aquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a transparência. Estes ‘sinais dos tempos’ deveriam encontrar-nos vigilantes. Tacitamente ou com grandes brados, sempre, porém com grande vigor, eles fazem-nos a pergunta: Acreditais verdadeiramente naquilo que anunciais? Viveis aquilo em que acreditais? Pregais vós verdadeiramente aquilo que viveis? Mais do que nunca, portanto, o testemunho da vida tornou-se uma condição essencial para a eficácia profunda da pregação. Sob este ângulo, somos, até certo ponto, responsáveis pelo avanço do Evangelho que nós proclamamos” (EN. n. 76).

Tão atual esta palavra do Santo Padre que ainda hoje arde em nossos corações e faz perceber o tamanho da nossa responsabilidade enquanto servos. Somos membros da Igreja do Senhor, precisamos estar unidos a ela. Este convite à retomada da intimidade com a palavra do Senhor é uma necessidade urgente para que estejamos todos como soldados em ordem de batalha.

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