Revista Renovação - Edição 128 - Maio/Junho de 2021

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Revista Renovação . Mai/Jun 2021

Nesta Edição Espiritualidade

A RCC em minha vida

06 A diversidade dos dons no nosso caminho de santidade

08 Hoje pode ser Pentecostes

20 Nossa Senhora de

Pentecostes: Plena de graça, plena do Espírito

26 A Música no Grupo

10 A fé coloca o poder de Deus em ação

de Oração, dom e graça

28 O Espírito Santo vos

12 E quando não

sabemos o que falar ou como pedir?

14 Clamando por

cura e milagres

17 A fortaleza que vem de Deus

dará força

24 Renovação Carismática

Católica, uma identidade assumida

Eventos 27 A arte que louva a Deus

e O revela à humanidade

Ministérios em Partilha 30 Atos dos Apóstolos:

Institucional 21 A missão da Família

Carismática: Levar a graça do Batismo no Espírito Santo

Fonte de inspiração para todo pregador da Palavra

31 A arte que glorifica o

Sugestão de Leitura

Senhor!

Formar o homem todo e todo o homem

23 Grupo de Oração: célula

fundamental do Movimento da Renovação Carismática Católica

EXPEDIENTE Publicação Oficial da Renovação Carismática Católica do Brasil Editada pelo Escritório Nacional da RCC do Brasil ANO 22 - Edição Nº 128: Mai/Jun 2021

Jornalista Responsável: Jersey Simon Ferreira Registro Profissional 0034836/RJ Redação: Pedro Whately, Rayssa Ferreira, Raphaely Fernandes Revisão: Laura Galvão Fotos: Arquivo RCCBRASIL, Shutterstock, Pixabay Projeto Gráfico: Priscila Carvalho Venecian Design e Diagramação: João Maria da Silva Neto E-mail: dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br

ESCRITÓRIO ADMINISTRATIVO DA RCCBRASIL Rodovia Presidente Dutra km 46,5, sentido Rio de Janeiro, no bairro dos Marques, s/n Canas/SP Tel.: (12) 3151-9999 Entre em contato conosco. Envie testemunhos e sugestões para o e-mail: dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br A responsabilidade de seus respectivos autores. Permitida a reprodução, sem alteração do texto e citada a fonte.

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Editorial Revista Renovação . Mai/Jun 2021

“DONS E CARISMAS, A FORÇA DO ESPÍRITO EM TEMPOS DIFÍCEIS” Pouco antes de subir para o Pai, após sua Paixão, Morte e Ressurreição, nosso Senhor Jesus Cristo fez uma promessa aos seus discípulos: “...descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força, e sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Nesta Edição 128 da Revista Renovação, queremos destacar que este operar do Espírito Santo em nós, povo de Deus, se dá especialmente através do derramamento dos dons e carismas deste mesmo Espírito enviado por Jesus. Além de abordar as diferentes dimensões que os carismas podem assumir na vida dos crentes, seja para o nosso crescimento espiritual e na caminhada cristã - como no caso dos dons de santificação - ou para o serviço na Igreja, esta Edição propõe ajudar os carismáticos a compreenderem a íntima relação dos carismas com a perseverança cristã em tempos de sofrimento, como o que estamos enfrentando agora na Pandemia da Covid-19. Seguramente, ao inspirar à RCCBRASIL a Palavra de Atos 1, 8, o próprio Espírito recorda ao Movimento que são esses dons, distribuídos por Ele próprio, os meios e instrumentos eficazes para que cada homem e mulher caminhe com confiança sobre a história. Trazemos um belíssimo artigo sobre a diversidade de dons presentes na Igreja. Também abordamos o dom da fé carismática e como vivenciá-la diante dos sofrimentos da vida. “E quando não sabemos pedir como convém?” A resposta pode estar no exercício piedoso e fervoroso do dom de línguas, que também é tema de um dos artigos nesta Edição. Queremos, também, que o leitor clame por cura e milagres e vivencie a experiência dos dons pelo exemplo de Nossa Senhora, cheia de graça e plena do Espírito Santo. Ainda trazemos o encarte formativo Grupo de Oração que, nesta edição, está ainda mais especial, pois aprofunda cada um dos nove dons carismáticos, um ótimo subsídio para encontros e partilhas entre os servos do seu grupo. Queremos, portanto, reacender a chama em cada coração, para que os carismáticos do Brasil experimentem vivamente a Palavra do Senhor, que se levantem do abatimento espiritual e que ganhem ânimo para clamar ao Espírito Santo que derrame um novo Pentecostes, para que sejamos verdadeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus. Boa leitura! Por Jersey Simon Ferreira

Editor-chefe | Coordenador da Comissão de Comunicação Grupo de Oração Sagrados Corações

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Palavra do Presidente Revista Renovação . Mai/Jun 2021

CARISMAS: MEDIADORES DO AMOR DE DEUS reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo...” (n. 800).

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ueridos irmãos e irmãs, graça e paz! Não hesito em afirmar que uma Renovação Carismática Católica madura aprofunda continuamente, cultiva sem medo e sempre encoraja o povo a utilizar e a se mover nos carismas. Esta é uma dimensão constitutiva da nossa Identidade! Os carismas são grandes mediadores do Amor de Deus para com os homens. Desde os mais simples aos mais extraordinários, eles manifestam o Amor ilimitado de Deus para com os homens, agraciando-os conforme as suas prementes necessidades: dons para a cura, para a libertação do mal, para o aconselhamento, para a edificação, encorajamento e fortalecimento, dons para que milagres aconteçam. Deus é Bom e manifesta Sua bondade também através dos carismas! Com efeito, não devemos nos intimidar quanto à prática dos carismas, achando que eles são uma prática estranha ou ao largo do mundo católico. Não! Os carismas são presentes de Deus para toda a Igreja e não somente para a Renovação Carismática Católica. Ao praticarmos os carismas com amor, discernimento, humildade, ordem e obediência estaremos sendo plenamente católicos! Por isso o Catecismo da Igreja Católica nos ensina: “Os carismas devem ser acolhidos com

Ensina-nos o Cardeal Léo-Jozef Suenens que os carismas são como que raios solares: não são o Sol, mas são inerentes a Ele; ou seja, não são o Espírito, mas são todos provenientes Dele. Nesse sentido, os dons são inseparáveis do Doador. Os carismas denotam o Espírito Santo em ação. Esta ação do Espírito é infinitamente suave, discreta e soberanamente livre. Portanto, sejamos dóceis ao Espírito Santo, que quer agir através de nós pelos carismas. Que nossos Grupos de Oração deixem fluir – com santo temor, discernimento e humildade – os carismas, para a edificação do Povo de Deus. Em 1985, o então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Emérito Bento XVI, se expressou assim: “O que o Novo Testamento descreve com referência aos carismas, como sinais visíveis da vinda do Espírito, não são mais coisas antigas ou história passada – esta história está se tornando uma realidade queimando em nós hoje” (Livro-entrevista “A fé em crise” – 1985, trecho replicado em outubro/2008). Portanto, os carismas continuam a ser abundantes hoje! Pentecostes é hoje e os carismas são para hoje! Que nossa Mãe, Maria Santíssima, a Carismática por excelência, interceda sempre por nós e nos ajude a sermos sempre mais dóceis ao Espírito Santo e, por isso mesmo, abertos ao exercício dos carismas! Veni Sancte Spiritus!

Vinícius Rodrigues Simões

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL Grupo de Oração Jesus Senhor

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A DIVERSIDADE DOS DONS NO NOSSO CAMINHO DE SANTIDADE Os dons são graça de Deus e devem ser colocados para servir a comunidade, assim como para a edificação de cada pessoa

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iante de cada nova missão, Deus nos concede uma nova unção, assim ensina Santo Tomás de Aquino. Nos tempos atuais, somos movidos a novas missões: como família, os desafios de convivência diária, de lutos, de enfermidades; como profissionais, há novas modalidades de trabalho em casa; como servos, adaptamos os Grupos de Oração e encontros por meios virtuais e assim por diante. Poderíamos dizer que são tempos difíceis, mas ousamos dizer que são tempos de graça santificante. As Escrituras nos ensinam que “é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações” (At 4,22) e que “descerá sobre nós o Espírito Santo e nos dará força” (At 1,8), isso significa que não estamos sozinhos. Temos o Espírito Santo que “nossa fraqueza encoraja e nosso coração enche de amor”, como rezamos no Veni Creator. Assim, a presença dos dons infusos para nossa santificação pessoal e dos carismas para nossa missão é graça de Deus para a estrada percorrida como Igreja militante. Os dons infusos, conhecidos como “os 7 dons do Espírito Santo” e descritos no Livro do Profeta Isaías (Is 11, 1-4a) são: sabedoria, entendimento, prudência, ciência, fortaleza, temor de Deus e piedade. Estes dons, que estão infusos em nós pelo sacramento do Batismo, ou seja, dentro de nós, e crescem com a graça santificante pelo Sacramento da Crisma, não são reservados a alguns, mas oferecidos a todos.

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Mas vamos nos ater aqui aos dons carismáticos, que são graças extraordinárias concedidas gratuitamente para edificação da Igreja (I Co 14, 12). Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “qualquer que seja o seu

caráter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja” (n. 2003). Eles estão elencados na primeira epístola aos Coríntios. Veja que não se trata apenas destes, pois podemos encontrar outros carismas nas Sagradas Escrituras, mas neste texto, nos atemos aos nove dons enumerados pelo Apóstolo Paulo e mais conhecidos nos nossos Grupos de Oração. Para fins de melhor compreensão, costuma-se classificar em três categorias: dons de revelação (palavra de ciência, palavra de sabedoria, discernimento dos espíritos), dons de inspiração (profecia, línguas, interpretação das línguas) e dons de poder (fé, cura e milagres).


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Ao nos colocarmos à disposição de Deus, podemos pedir generosamente os dons carismáticos para as nossas missões, que podem ocorrer nas missões familiares, como o nascimento de um filho, uma palavra de consolo para alguém que sofre, nos momentos de oração e pregação nos Grupos de Oração, nas nossas comunidades, no trabalho etc. Em suma, para cada momento da nossa vida, é preciso pedir com fé: “Vem Espírito Santo”.

Igreja como instituição “são como que os dois braços da cruz” e um não caminha sem o outro. Diz ele, que “o carismático é muitas vezes a cruz da instituição e a instituição, a cruz do carismático”. Assim, para acolher bem os carismas, devemos estar atentos ao que a Igreja nos diz pela Palavra de Deus e por aqueles que foram constituídos para nos guiarem, como nossos pastores sacerdotes e aqueles que estão nos pastoreando nos Grupos de Oração e nas dioceses.

Na dimensão do bem comum, por vezes, precisamos de uma palavra de ciência, de sabedoria, para edificação do irmão, a fim de orientarmos nossa conduta, que influenciará direta ou indiretamente na salvação dos outros. O discernimento dos espíritos, como guardião dos carismas, é que nos ajuda a identificar o que provém de Deus, do humano ou do demônio. O dom das línguas que abre caminho para os demais carismas e que é um convite oportuno para os momentos que estamos fracos e não sabemos o que pedir ou orar como convém (Rm 8,26). Após um momento profundo de oração em línguas, o Espírito pode inspirar uma palavra de profecia e a interpretação das línguas, aí acontece a escuta do Espírito e oração com a inteligência (I Co 14,15). Pedimos o dom da fé carismática, que nos faz crer no Deus do impossível, nos milagres e nos prodígios, e nos impulsiona a ir ao encontro dos necessitados e a clamar pela cura e pelos milagres.

A segunda é a humildade: a virtude da humildade protege os carismas e os carismas a humildade. Cardeal Cantalamessa ensina que a humildade é o “grande isolante que permite à divina corrente da graça passar através de uma pessoa sem se dissipar”. Lembrar que somos um corpo e que dependemos uns dos outros nos ajuda a compreender que o Espírito reparte os dons como Lhe apraz.

Ora, “há diversidade de dons, mas um só Espírito” (1Co 12,4), todos os carismas provêm Dele. Nesse sentido, o Documento de Malines 1 ressalta que “cada cristão é um carismático, e portanto, tem um ministério para a Igreja e para o mundo”. Por isso, não podemos padronizar ou “engessar” o Espírito, pois “o vento sopra onde quer” (Jo 3,8) e a ordem é: “não extingais o Espírito” (1Ts 5,1). O Papa Francisco, no discurso ocorrido em junho de 2014, no Estádio Olímpico em Roma, exortou à RCC sobre o perigo de nos tornarmos controladores da graça: “Vós sois dispensadores da graça de Deus, não controladores! Não vos comporteis como alfândega do Espírito Santo”. Para isso, podemos nos perguntar: o que devo fazer para não me comportar como “alfândega” do Espírito e acolher os carismas que Ele quer derramar? Cardeal Cantalamessa, em sua obra, O Canto do Espírito, explica algumas atitudes que auxiliam para “manter sadio o carisma e fazer com que sirvam ao bem comum”: A primeira é a obediência: obedecer a Deus que fala pela Igreja. Frei Raniero relata que os carismas e a

A terceira atitude é a caridade: sem a caridade somos um bronze que soa ou o címbalo que retine (1 Co 13,1). Comenta São Tomás de Aquino que com razão o Apóstolo compara aquele que não tem caridade com os sons de instrumento sem vida, som morto: ouvimos o barulho, mas não serve para alcançar a vida eterna. Para tais atitudes é necessário pedir a graça de Deus, para se ter um coração de servo e de amigo de Deus, isso só conseguimos pela oração que é a vida da nossa alma. Oremos para sermos dóceis ao doce Espírito Santo e aos Seus dons gratuitos.

Por Kédina Rodrigues

Coordenadora do Ministério de Pregação do DF Grupo de Oração Beata Elena Guerra - Brasília/DF

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HOJE PODE SER PENTECOSTES A graça do encontro com o Espírito de Amor deve ser atualizada diariamente

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ós aprendemos da Igreja, através da palavra de Deus, que Deus é Amor (1 Jo 4, 8-16), que o amor é o primeiro dom que recebemos e que Nele contém todos os demais dons. Na palavra de Deus, também confirmamos: “porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom 5, 5). O Espírito Santo é o grande dom de Deus, Ele é o amor entre o Pai e o Filho e habita em nós, inclusive como promessa do Senhor: “É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós” (Jo 14,17). De acordo com a Igreja e com nossa experiência pessoal, desde que veio em Pentecostes, o Espírito Santo não cessou de vir, a sua vinda não cessa (CIC 732), acontece continuamente, não para nunca. Sendo assim, os dons também são distribuídos continuamente, a cada dia, a cada instante. Eu posso, você pode, todos nós podemos receber e viver essa graça dos dons recebidos, inclusive, também ensinado pela igreja: “acolher a graça de Deus, o dom do Espírito Santo, já é uma graça… Deus acaba em nós aquilo que Ele mesmo começou” (CIC 2001). Somos agraciados com os dons em profusão e para todos os batizados, sem distinção.

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Se em Pentecostes os dons foram derramados em abundância, cada um de nós precisamos voltar a reviver esse Pentecostes em nosso dia a dia. Em nossas atividades devemos permitir que Pentecostes se manifes-

te; em nosso trabalho precisamos ser os portadores de Pentecostes; em nossa casa, com nossa família, entre amigos, é preciso revivermos em ações aquele mesmo dia da manifestação do Espírito que, segundo a Igreja, se percebe em nós por meio de nossa conversão. Pentecostes acontece em nossa oração pessoal, em nossa vivência em comunidade e em nossos Grupos de Oração. Mas realmente é necessário que nós, cada um em seu jeito e em sua forma de vida, tenhamos um momento de oração pessoal e também tenhamos o momento de viver a comunidade e com a comunidade. Assim como os discípulos, com a Mãe de Jesus, estavam juntos quando o Espírito Santo se manifestou: em oração pessoal e em comunidade. Diante de tamanha abundância do derramamento do Espírito Santo que continua a acontecer, é quase que “uma obrigação” termos de atualizar em nossa vida, todos os dias, a graça de Pentecostes. “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem” (Lc 11,13). É só pedir... Peça, peça, peça! Ele vem, Ele vem, Ele vem!

Por Paulo Giunani Mecabô

Grupo São Luiz Gonzaga Catedral da Diocese de Novo Hamburgo/RS



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A FÉ COLOCA O PODER DE DEUS EM AÇÃO Crer na intervenção Divina, que tudo rege, é consequência de uma vida de intimidade com o Espírito Santo

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carisma da fé nos faz crer incondicionalmente no poder de Deus e nos faz reconhecer que não há limites para o agir divino, que não existem pessoas, situações ou lugares que não possam ser transformados. Revela-nos que absolutamente tudo pode ser matéria-prima para a graça, se submetido a Deus. A fé carismática nutre em nós a íntima confiança de que Deus agirá de forma atual, agora. Como nos ensina Santo Agostinho: cremos no que não vemos e recebemos como prêmio ver o que cremos. O carisma da fé também nos conduz à firme decisão de orar, pois é certo o agir de Deus. O dom ou carisma da fé pode ser alimentado pela fé teologal e pela fé virtude, mas se distingue dessas. De modo “simples”, podemos dizer que a fé teologal ou doutrinal é o resultado de crer nas verdades reveladas por Deus, definidas e ensinadas pela Igreja. A fé virtude é confiar de forma abandonada à Providência Divina, interiorizar e viver os ensinamentos divinos. Já o carisma da fé sobre o qual Deus quer nos falar nesta hora e sobre o qual fala São Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 12, versículo 9, é uma expectativa sobrenatural e infalível a respeito do agir extraordinário de Deus no momento presente.

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Um exemplo dessa fé carismática está no capítulo 8 do Evangelho de São Mateus. Diante da enfermidade do seu servo, o centurião vai ao encontro de Jesus e suplica a cura. No entanto, quando Jesus diz que irá à sua casa para curar o servo, o centurião, oficial do exército romano e gentio, ou seja, “pagão”, manifesta o carisma da fé: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em mi-

nha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado”. Não precisa que eu veja ou toque o seu agir, sei que o Senhor é capaz, tem poder, força e autoridade para ordenar a cura. Ora, o centurião foi ao encontro de Jesus porque havia acreditado no que ouviu sobre Jesus e esperava que interviesse na enfermidade que acometia seu o servo. Todavia, existia uma multidão que seguia Jesus e diversos doentes que esperavam por Ele no caminho de Cafarnaum. Quanto tempo levaria para Jesus chegar à casa do centurião? Ademais, havia a mentalidade da época de que, se um judeu - parte do povo eleito, como Jesus - entrasse na casa de um gentio - parte do povo pagão, como o centurião - ficaria impuro. Essas e outras situações que não podemos mensurar foram superadas pela íntima confiança de que Deus agiria naquele momento, o carisma da fé. Jesus, cheio de admiração, afirmou não ter encontrado semelhante fé em Israel, reduto de Judeus, o povo escolhido. Acrescentou que muitos seriam salvos pela fé do centurião e completou: “seja feito conforme a sua fé”. E, na mesma hora, o servo ficou curado. O carisma da fé move a mão de Deus, desafia a lógica humana e não está destinado a um seleto grupo de pessoas, mas se destina a todos que acolherem com reconhecimento a maravilhosa riqueza de graça que são os carismas, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica no número 799. “Assim, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, não vos falta dom algum’’, afirma São Paulo na primeira carta aos Coríntios, ca-


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Olhemos também para a Virgem Maria que - desde a concepção de Jesus até ser assunta para junto de Deus - precisou crer no que não via para receber como prêmio o que acreditou. Bento XVI, no número 7, da carta apostólica Porta Fidei, afirma que a fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança. Mesmo diante de todas as contrariedades, Nossa Senhora acreditou que conceberia Jesus, que não seria apedrejada até a morte em praça pública, que o Rei Herodes não mataria o Menino Deus, que o caminho do calvário era caminho de salvação e que a morte nunca teria a última palavra diante do Autor da vida. Maria viveu na iminência da fé carismática, não se desesperou. Pelo carisma da fé viveu a feliz expectativa pelo agir poderoso de Deus a cada desafio, a cada prova. Frederico Suárez, no livro A Virgem Nossa Senhora, página 92, diz que a fé é a colaboração do homem no exercício do poder divino. Maria foi a fiel colaboradora do poder divino. Dia após dia dizia: “faça-se”, pois a Deus nenhuma coisa é impossível. E nós? Temos colaborado com o poder divino? Temos orado com firme decisão, certos de que Deus agirá?

pítulo 1, versículo 7. Mais adiante, na mesma carta, no capítulo 12, versículo 11, o apóstolo exorta que um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons como lhe apraz. Desse modo, temos todos os dons como aprouver a Deus nos conceder. Já não perecemos por falta do carisma da fé, mas por não acolher com reconhecimento os carismas do Espírito Santo. Vinde, ó Espírito Criador, e ajuda-nos a examinarmos a nós mesmos, de modo a acolhermos com reconhecimento os vossos dons, a exemplo do centurião. É tempo de exercitarmos a fé carismática, certos de que temos a força do Alto a nosso favor. O Espírito Santo se dá com todos os seus dons àqueles que clamam: vem Espírito Santo! Recordemos que o atleta para progredir precisa treinar com determinação. Reconhecer e assumir a parte que lhe cabe rumo à vitória, superando os limites e aprimorando as capacidades, pois nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras, diz São Paulo na segunda carta a Timóteo, capítulo 2, versículo 5.

O quanto a pandemia do coronavírus e seus desdobramentos têm sido matéria-prima para a graça de Deus em nossa vida, trabalho, família, Grupo de Oração etc? A fé coloca à nossa disposição o poder de Deus, diz Suárez. Ouso dizer que a incredulidade coloca à nossa disposição o desespero, pois retiramos a expectativa do agir de Deus para esperarmos em nós mesmos, nos outros, no que vemos e temos, em detrimento da fecundidade que a fé traz aos corações que creem. Sim! Ainda é tempo de resgatar a identidade da Renovação Carismática Católica, revisitar quem somos para não vivermos de outra forma, senão como batizados no Espírito Santo. Também é tempo primoroso de guardar com zelo a identidade da RCC para que ela não se perca. Portanto, é tempo de exercitar a fé carismática, reconhecer que não há limite para o poder divino e com firme decisão orar certos de que Deus agirá.

Por Keila Souza

Grupo de Oração Sagrado Coração de Maria RCC Distrito Federal

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E QUANDO NÃO SABEMOS O QUE FALAR OU COMO PEDIR? O Espírito Santo é aquele que nos instrui, mostrando o que pedir, como rezar.

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stamos vivendo um tempo desafiador, em muitas realidades ainda não podemos “participar da graça da comunidade”, e nós sabemos, ou pelo menos neste tempo passamos a perceber de forma mais intensa, o quanto o viver em comunidade é importante e necessário. Contudo, mesmo neste tempo, podemos afirmar com todas as letras, ESTAMOS NO TEMPO DE JESUS, até porque, todo o tempo deve ser Dele. Ele está acima de tudo e de todos, Ele é o princípio e o fim, Ele é Senhor e Rei. E porque sempre é o tempo de Jesus, neste cenário, para o ano de 2021, Ele concede ao Movimento Eclesial da Renovação Carismática Católica no Brasil, portanto, concede a mim e a você, uma Palavra norteadora: “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas…” (cf. Atos 1, 8). O Senhor não nos abandona, ao contrário, deseja que cada um de nós possamos contar os Seus feitos, testemunhá-Lo, e para isso, Ele nos concede o Espírito Santo, que nos fortalece. Devemos sempre, em nossas orações, clamar para que esta Palavra norteadora se cumpra em nossa vida, clamar pela vinda do Espírito Santo, Força das forças, para que Ele nos conduza.

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No Evangelho de São Marcos, capítulo 16, versículos do 15 ao 20, encontramos uma ordem de Jesus para os Seus discípulos. Tendo Ele ressuscitado, antes de voltar para junto do Pai, envia os discípulos em missão: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” porém, os discípulos não iriam sozinhos, a pregação dos discípulos seria acompanhada de sinais,

“O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam”. Tanto a Palavra norteadora para nós neste ano, como a Palavra encontrada em Marcos, acima citadas, mostram que os discípulos sempre seriam assistidos pelo Senhor, nunca estariam sozinhos. Como a Palavra de Deus é viva e eficaz, ela deve ser atualizada em nossas vidas. Precisamos acreditar que, assim como os discípulos, nós também não estamos sozinhos, o Senhor caminha conosco, coopera com a missão que Ele nos confiou, envia o Espírito Santo, nos concede a Sua força e, uma das maneiras para que o Senhor se faça presente em nossa caminhada é através dos carismas. Na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, nos idos do capítulo 12 ao 14, encontramos uma catequese paulina sobre os dons Carismáticos, dons de serviço, onde, entre outras coisas, estão listados 09 dons: palavra de sabedoria; palavra de ciência; fé; cura; milagres; profecia; discernimento dos espíritos; línguas e interpretação das línguas. Todos estes dons são dados pelo Espírito Santo a quem Ele quiser, no momento em que Ele quiser. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2003, falando dos dons diz: “...São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, também chamadas ‘carismas’, segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício (59). Qualquer que seja o seu carácter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas


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estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja (60).” Aqui a Igreja também nos orienta sobre os dons carismáticos, que gratuitamente nos é dado e que nos capacita para o serviço, os mesmos devem ser utilizados para o bem comum. Olhando para o dom de línguas, às vezes chamado de “o menor dos dons”, este é visto como “uma porta aberta para os demais’’. Geralmente, este dom é concedido àquele que teve a graça do Batismo no Espírito Santo. Tendo experimentado do Amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe foi dado, sentindo o mover do Espírito Santo em seu interior, a pessoa pode orar com gemidos inefáveis. Em Rom 8, 26-27 encontramos: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus”. Olhando para este trecho da Sagrada Escritura, conseguimos compreender o dom de línguas.

É o Espírito Santo que vem em auxílio à nossa fraqueza pois não sabemos orar como convém. Ou seja, a nossa oração, muitas vezes, não é uma oração assertiva, e, nesse contexto, em meio as nossas limitações, inclusive a de não saber rezar, Ele vem e nos ajuda. Ele ora em nós com gemidos inefáveis, trata-se portanto de uma oração que, humanamente, não conseguimos compreendê-la. Daí, inclusive, a nossa dificuldade, às vezes, até em “aceitar esta oração”, exatamente por não entendermos. Contudo, como diz a Palavra, aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, ou seja, Deus a entende. Trata-se de Deus, na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade orando em nós e Deus na Pessoa do Pai e do Filho, colhendo esta oração em Seu coração. Quanta graça é de fato Deus orando em nós. Essa oração, sendo feita pelo Espírito em nós, não falha. Após um momento de louvor, reconhecendo a grandeza de Deus, tirando o olhar dos problemas e dificuldades e olhando para Aquele que está acima de tudo, inclusive dessas situações, mesmo em meio às lutas, quando nos faltam palavras, o próprio Espírito Santo ora em nós e completa a nossa oração. Como tem sido o exercício do dom de línguas em nossa oração pessoal, neste tempo distante da comunidade? Quero encerrar este texto sugerindo a você que, na próxima oração que fizer, após a leitura, clame por um poderoso Batismo no Espírito Santo em sua vida e peça pelo dom de línguas. Se você ainda não pratica este dom, se for da vontade Dele, que Ele te conceda. Caso você já tenha o dom, que Ele atualize esta graça em sua vida. Ele vai te surpreender, eu creio. Vinde Espírito Santo! Nossa Senhora de Pentecostes, rogai por nós!

Por Frederico Mastroangelo Simões Marques

Grupo de Oração Imaculado Coração de Maria

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CLAMANDO POR CURA E MILAGRES O ato de misericórdia vindo de Deus, por meio de curas e milagres, tem como base o encontro do poder de Deus com a receptividade humana.

Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16,17-18). Após Pentecostes, a evangelização dos apóstolos foi acompanhada por diversas curas e milagres. Quando Pedro e João sobem ao templo para orar, se deparam com um coxo que era colocado ali diariamente para pedir esmolas, eles fitam os olhos nele e proclamam que ele se levante em nome de Jesus Cristo (cf. At 3,1-11), então o coxo sai pulando e louvando. O livro dos Atos dos Apóstolos conta sobre Paulo, quando estava evangelizando em Éfeso: “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado seu corpo eram levados aos enfermos e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos” (At 19,11-12). O evangelho é anunciado com curas e milagres, que sempre acompanharam homens e mulheres de Deus que se tornaram instrumentos nas mãos do Senhor – de vida religiosa, consagrada ou leiga. A força e o poder do Evangelho continuam os mesmos, independentemente se são tempos de bonança, refrigério ou de conflitos, guerras, desastres ou pandemias. “Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem, hoje e por toda a eternidade” (Hb 13, 8).

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Nas curas e milagres que Jesus operava, vemos o papel da fé como chave: “Tua fé te salvou” é mencionado, desta forma, sete vezes nos evangelhos, sem contar outras variações. Os evangelistas fizeram questão de narrar as curas operadas por Jesus, principalmente en-

tre os pagãos, para mostrar que a cura parte do encontro entre o Poder de Deus e a receptividade humana. A fé nos abre para o poder de Deus, enquanto a descrença e o medo nos fecham (muitas vezes precisamos, antes de tudo, que a Palavra de Deus tire do coração o medo e o descrédito). A fé é a chave que abre a porta do coração do homem para Deus e ela só pode ser aberta de dentro para fora. Como é importante crer no impossível que só Deus pode operar – “Ao que tem fé nada é impossível” (Lc 4,37), uma vez que “a fé é o fundamento da esperança, uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). A cura pode ser no campo físico (doenças do corpo), no campo da alma (mente, psique), quando Jesus vem nos curar de traumas, depressões, perdas, ou no campo espiritual, quando precisamos ser libertos de vícios, pecados enraizados; para esses casos se faz necessário também o sacramento da reconciliação. Somos um ser integral composto de corpo, mente e espírito (cf. 1 Tess, 5,23) e, por vezes, uma área afetada pode gerar problemas nas outras também. O Espírito Santo vem em nosso socorro e intercede por nós (cf. Rm 8,26). Devemos pedir e crer sempre no poder do Senhor que deseja que todos sejamos curados e restaurados. Ele veio nos dar vida plena e em abundância. Nossa parte é ter fé, lembrando sempre a oração do Pai-Nosso: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”.

Por Vicente Gomes de Sousa Neto

Coordenador Nacional do Ministério de Oração por Cura e Libertação


Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2021

A FORTALEZA QUE VEM DE DEUS

Essa virtude deve ser buscada diariamente por todos os cristãos e em todas as ocasiões da vida

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ossivelmente, neste último ano, temos experimentado uma necessidade ainda maior de crescer na vida espiritual. Diante do mistério da dor, do sofrimento e da morte, precisamos seguir firmes no amor de Deus. Talvez uma das coisas que mais tenha escutado seja as pessoas pedindo força para suportar e seguir em diante. É sobre força que gostaria de falar. Não uma força qualquer, que venha ou dependa apenas de nós. Mas, como pessoas espirituais, temos a possibilidade de nos abrir a outra categoria de força, aquela que vem de Deus em nosso auxílio. Até mesmo desde antes da pandemia, estávamos vendo um boom de publicações falando sobre resiliência e como desenvolver essa capacidade. Alguns autores dão ainda um passo a mais e falam já em outros novos conceitos como “antifragilidade”. Tudo para ensinar e preparar as pessoas para vencer os desafios, superar as dificuldades, resistir aos tempos difíceis. O argumento é interessante, mas não

chega ainda ao cerne da questão. Pelo menos, para nossa perspectiva cristã que vai ainda mais profunda. Por isso, em tantas coisas que as pessoas debatem hoje como sendo uma grande novidade e descoberta, podemos atestar que Deus sempre nos supera e antecipa (“primeireia”, como gosta de dizer Papa Francisco), pois já temos na tradição bimilenar da Igreja o ensinamento sobre aquela virtude que ajuda e “dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem” (CIC 1808). Trata-se da virtude moral da fortaleza. Segue, ainda, o Catecismo dizendo que ela “torna capaz de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições” (ibidem). Como virtude, sabe-se que esta pode ser adquirida pelo hábito (tal ideia já estava presente no pensamento grego) e, como tal, é uma disposição para o bem infundida por Deus no coração do ser humano. Mas também, e por isso, ela é dom, é graça, para que nos aproximemos mais e mais de Deus mesmo em meio aos desafios do coti-

diano e das experiências ordinárias. Como dizia um antigo ensinamento de São Gregório de Nissa: “O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus”. Portanto, pedir e exercer o dom da fortaleza é buscar também nos assemelhar mais a Nosso Senhor, nas lutas, desafios, fragilidades e intempéries do dia a dia. Conta-se que durante o Conclave que elegeu o Papa João Paulo I – o “Papa Breve” – alguns Cardeais, vendo que tudo já se encaminhava para a sua eleição, começaram a sussurrar ao seu ouvido: “Coragem!”. Diante do enorme desafio de pastorear o povo de Deus, essa palavra acompanhou João Paulo I. É a virtude dos santos, heróica, que nos ajuda a confiar em Deus mesmo contra toda desesperança, a sofrer com paciência e alegria. É uma coragem sobrenatural que vai além de nossas forças e capacidades. Talvez possamos nos perguntar: o que, de fato, faz o Espírito Santo com esta virtude em nós? Bem, podemos citar algumas ações do Espírito e como obter sua força

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Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2021

mediante este dom/virtude: - A fortaleza nos ajuda a escolher o que é moralmente bom, certo, especialmente quando parece muito difícil fazê-lo; - Ajuda-nos a perseverar no Bem e afastar do Mal; - Nos dá a coragem para defender a fé, o Bem, o certo, o justo (até mesmo além dos limites de nossas próprias forças naturais e humanas); - Ajuda-nos a suportar os sofrimentos, unindo-nos à Cruz de Cristo, sempre por amor; - Dá-nos força e coragem, se preciso for, para renunciar e sacrificar nossa vida em defesa de justa causa; - Encontrar, reconhecer e lutar contra o mal que há em nós mesmos. Exige muita coragem reconhecer que não somos tão bons assim como pensávamos que éramos. Claro, a coragem não é somente para o reconhecimento, mas também, no passo seguinte, para começar a dissipar essas sombras que existem em cada um de nós. A fortaleza que vem de Deus e que colaboramos com o Senhor por meio da disposição, abertura de coração, é grande auxílio para vencermos o medo. Afinal, essa foi a palavra de Nosso Senhor lançada para seus discípulos e atualizada para cada um de nós no hoje de nossa história: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). A fortaleza é a arma contra o medo que paralisa e não nos deixa seguir adiante. Quantos medos temos visto dominar nossas mentes, vidas, famílias, sociedade. Medo da falência, medo da doença, da morte, da dor, até um tipo de medo cívico, medo do outro e assim por diante. Precisamos reconhecer que temos esses temores, entregá-los ao Senhor para que os trate e pedir o dom de sua fortaleza.

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Vejamos que não se trata de um tipo de ausência de medo que nos torna imprudentes ou temerários. Nada disso. Por exemplo, muitas vezes o mais sábio a fazer é fugir da ocasião de pecado para não cair em tentação. Até que um dia, com a graça de Deus, possamos enfrentá-lo e vencê-lo. Mas refiro-me aqui ao amor que lança fora o temor, à Força do Alto que vence aqueles medos que nos paralisam e não permitem enxergar a presença do Senhor conosco, até mesmo o medo de Deus que nos faz temer seus passos e nos leva a esconder de sua Presença.

Por isso, esse dom/virtude não é apenas para os momentos extraordinários ou em situações limite. De maneira profética, sem imaginar o que o mundo vivenciaria a partir de 2020, Papa Francisco falou sobre isso em uma audiência no ano de 2014: “Não devemos pensar que o dom da fortaleza seja necessário só em determinadas ocasiões e situações particulares. Este dom deve constituir o fundamento do nosso ser cristão, na ordinariedade da nossa vida cotidiana. Como disse, em todos os dias da vida cotidiana devemos ser fortes, precisamos desta fortaleza, para fazer avançar a nossa vida, a nossa família, a nossa fé”. Para concluir, gostaria de animar você após a leitura deste artigo a buscar com mais ardor o dom da fortaleza: Peça, agradeça, prepare-se. Quais situações estamos lidando e sobre as quais precisamos pedir fortaleza? Peça ao Espírito Santo esse dom. Agradeça antecipada e confiadamente ao Senhor por esta graça. Isto ajuda a vivermos a fé expectante, a fé carismática. Finalmente, cultivar nosso coração para ser um “terreno de virtudes”. Ou seja, estejamos sempre receptivos aos dons de Deus.

Por Francisco Elvis Rodrigues Oliveira

Grupo de oração Magnificat (Fortaleza - CE). Núcleo nacional do Ministério de Pregação e coordenador do Conselho Editorial RCC Brasil.



Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2021

NOSSA SENHORA DE PENTECOSTES: PLENA DA GRAÇA, PLENA DO ESPÍRITO Maria nos aponta o verdadeiro discipulado, que é conduzido por meio do Espírito Santo

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o presente artigo, somos convidados a contemplar a relação entre a Virgem Maria e o Espírito Santo, assim como o transbordamento desta graça em sua vida de fé, sua conformidade aos planos de Deus e abertura à vivência dos carismas. O Espírito de Deus inaugura a plenitude dos tempos. Avisada previamente pelo Anjo Gabriel, Maria Santíssima foi escolhida para a grande promessa e missão de gerar o Salvador. A concepção de Jesus tem a participação da Trindade: “Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). Os Padres da Igreja comentam que o Espírito Santo, habitando e vivendo em plenitude em Maria, passou a conviver entre os homens. É consolador de se pensar que Maria e o Espírito Santo geraram juntos Jesus. De agora em diante, aquela que já portava as virtudes humanas da humildade e da obediência, com o acolhimento dos desígnios de Deus, viverá como a “cheia de Graça” (cf. Lc 1, 28), conduzida pela presença do Espírito Santo, a ponto de ser “batizada” antes que todos, na linguagem do louvor, do serviço e do amor. Ela acompanhará todos os momentos da vida de Seu Filho, assim como exercerá o dom da intercessão no dia de Pentecostes.

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O Evangelho de São Lucas destaca a presença de Maria no Cenáculo. Plena do Espírito, não deseja outra coisa senão que os apóstolos – e depois todos os cristãos – recebam o dom do Espírito Santo como ela recebeu. Nos Atos dos Apóstolos, depois de ter listado os nomes dos onze apóstolos, o autor continua com estas palavras: “Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, a Mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,14). Frei Raniero Cantalamessa, numa pregação ao CHARIS, chama a Virgem Maria de “a primeira carismática da Igreja”, exem-

plo da “sóbria embriaguez do Espírito” e comenta: “Depois de Jesus, Maria é a maior carismática da história da salvação. Ela é a maior carismática porque nela o Espírito Santo realizou a mais suprema de suas ações prodigiosas, que consiste em ter suscitado em Maria a própria vida do Messias, fonte de todos os carismas, aquele de quem recebemos ‘graça sobre graça’!” (Jo 1, 16)”. Padre Gilberto Maria Defina, sjs, fundador dos Salvistas, Instituto fundado em São Paulo, cujo processo de beatificação se iniciará este ano, teve a inspiração de adotar o título “Nossa Senhora de Pentecostes”. Ele é representado por um ícone em que a Virgem Maria é retratada no Cenáculo com os Apóstolos, em estado de assunção ao céu, de braços erguidos em louvor e intercessão, invocando o Dom do Espírito.

Por Padre Helder Pio

Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador


Institucional Revista Renovação . Mai/Jun 2021

A MISSÃO DA FAMÍLIA CARISMÁTICA: LEVAR A GRAÇA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO! É preciso comprometer-se com o propósito de semear as graças de Deus concedidas por seu Espírito.

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ornar concretas as promessas de Deus, por meio de Sua graça, é o que acontece quando acreditamos nas inspirações divinas que nos são dadas pelas nossas lideranças, escolhidas e constituídas pelo próprio Senhor. E acreditar e se empenhar para tornar visível aquilo que foi orientado pelo Espírito Santo é honrar a Ele por meio do compromisso pessoal e comunitário, é comprometer-se! E este é o convite para quem quer tornar visível a todos as inspirações de Deus, a quem deseja ter como fim último a graça de propagar o Batismo no Espírito Santo. Hoje, a Renovação Carismática Católica do Brasil promove essa realidade unindo recursos pelo projeto “Semeando a Vida no Espírito”. Por meio dele, são criadas condições para que diversas atividades de evangelização sejam sustentadas, para que formação e espiritualidade de qualidade continuem chegando aos membros dos Grupos de Oração, aos filhos de Deus. Quando a RCCBRASIL promove eventos, cursos online, produtos de evangelização, programas de TV e online, ou mesmo quando se faz presente em atividades sociais e missionárias, é com uma só certeza: em tudo isso, apontamos para o Espírito Santo! Apontamos Àquele que desejamos que seja amado e adorado, que seja conhecido e reconhecido pela humanidade! Comprometa-se agora mesmo com essa missão e nos ajude a apontar para o Espírito Santo. Torne-se hoje mesmo um semeador, por meio do “Semeando a vida no Espírito”. Entre em contato pelo whatsapp:

(12) 98138-2000 Acesse nosso site escaneando o QR CODE:

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Sugestão de Leitura Revista Renovação . Mai/Jun 2021

GRUPO DE ORAÇÃO: CÉLULA FUNDAMENTAL DO MOVIMENTO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA “O Grupo de Oração é um tesouro de Deus; uma porta aberta que Jesus abriu e ninguém pode fechar; o próprio Amor de Deus em ação” (Cartilha “Orientações para núcleo de Grupo de Oração”)

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esta edição, apresentamos como Sugestão de Leitura a cartilha “Orientações para núcleo de Grupo de Oração”. Este material ajuda a compreender que o Grupo de Oração não é uma estratégia humana, mas um projeto de Deus. Nele, estão reunidas orientações práticas acerca da realidade do Grupo que auxiliam na compreensão da missão dos servos e coordenadores. “Que os nossos Grupos de Oração possam se manter fiéis ao chamado original que receberam, grupos de oração em que as pessoas têm seu encontro pessoal com Jesus Cristo, são batizadas no Espírito Santo e têm suas vidas para sempre maravilhosamente transformadas” (Apresentação - Orientações para Núcleo de Grupo de Oração). De modo prático, o conteúdo foi distribuído em quatro capítulos: 1) O Grupo de Oração; 2) O Núcleo de Serviço do Grupo de Oração; 3) A coordenação do Grupo de Oração e; 4) A Formação. Essa organização do material deixa claro o seu objetivo de trazer luzes acerca do GO, reconhecendo que mesmo não sendo uma estratégia meramente humana, ele apresenta a necessidade de uma estruturação específica. Elementos como canto, animação, louvor, clamor ao Espírito Santo, prática dos carismas, pregação, testemunhos dentre outros são explicados de forma prática, contendo direções e o objetivo de cada um desses momentos dentro do Grupo de Oração. O núcleo de serviço que “é um pequeno grupo de servos responsáveis pelo bom andamento do GO em sua estrutura, dinâmica e direção” é tratado no segundo capítulo. Devido a sua importância para o bom desenvolvimento do GO, neste tópico são abordadas a escolha e a função dos membros, as suas atribuições, assim como a frequência que essa equipe deve se reunir. Para aqueles que desejam se aprofundar no conhecimento e na prática do Grupo de Oração, esse material de fácil e breve leitura está disponível na Loja da RCCBRASIL. Investir neste conteúdo formativo é uma oportunidade para se capacitar e servir ainda melhor os irmãos. Adquira agora mesmo seu exemplar!

Orientações para Núcleos de Grupo de Oração

R$7,90

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Institucional A RCC na minha vida Revista Renovação . Mai/Jun 2021

“A FÉ É A CERTEZA DE POSSUIR AQUILO QUE SE ESPERA…” (HB 11, 1) O testemunho de Edileuza, de Araguaína (TO), nos ajuda a exercitar a fé carismática e a caridade em sua mais profunda expressão.

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eu nome é Edileuza, tenho 47 anos, moro em Araguaína (TO) e participo do Grupo de Oração Emanuel na Paróquia Sagrado Coração de Jesus. Sou casada com Edivan, presente de Deus em minha vida. Em um retiro de Carnaval, tomei a decisão de esperar um “homem de Deus”. Edivan morava em São Paulo, visitava anualmente o Santuário de Aparecida e pedia uma namorada para Nossa Senhora, “uma mulher de Deus”. E, eis que pela intercessão da Virgem Maria, fomos apresentados por uma amiga em comum, a Teca. Foram dois anos de conhecimento e reciprocidade. O namoro centrado em Deus deu certo e nos casamos no dia 12 de junho de 2004. Uma linda história de amor gerada  no coração de Deus. Aos três meses de casados, eu fui diagnosticada com miomas uterinos. O tratamento foi iniciado e, durante três anos, foram feitas tentativas de redução dos nódulos através de fortes medicamentos com grandes efeitos colaterais, que eram superados com amor e compreensão por parte do meu esposo e apoio da família, amigos e irmãos de caminhada. Apesar de todo esforço da medicina, não conseguimos a tão sonhada gestação e nem a redução dos nódulos. Ao final dos três anos de tratamento precisei fazer uma histerectomia (retirada do útero). Vimos então o sonho de construir uma família ser abalado.  Edivan, no dia da cirurgia, recebeu o meu útero o médico pediu que o levassem até ele para que não ficasse nenhuma dúvida em relação ao procedimento, os miomas haviam deformado o útero. Naquele momento, mesmo sem compreender, e somente pela força do Espírito Santo, ele louvou ao Senhor, apesar de toda dor vivenciada.

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Não foi fácil! A vida em comunidade fez toda a diferença, pois cada pessoa que nos visitava levava um pouquinho da nossa dor e assim foi possível continuar. No entanto, eu falava para o Senhor que havia perdido o útero, mas não o desejo de ser mãe e sofria por isso. Então, o Senhor, em sua infinita misericórdia, em abril de 2009, nos surpreendeu com um presente maravilhoso: a chegada de Mateus Ricardo, nosso bebê. Vivenciamos com ele todos os cuidados e afeto, era contagiante a alegria da maternidade!  Para completar ainda mais essa felicidade, em junho de 2017, chegou a nossa pequena Ester, uma garotinha de 3 anos e 11 meses, alegre, falante e muito carinhosa. Sinto-me realizada como mãe,  pois a adoção é o exercício da fertilidade afetiva, atitude à qual nós cristãos devemos nos abrir mais, pois o fato de dar amor e dignidade aos filhos de Deus, tirando muitas vezes da frieza dos orfanatos para o aconchego familiar, é gratificante. Gratidão a Deus que cuida de nós, dos nossos sonhos e projetos, e ao Espírito Santo pela força que, mesmo nos dias mais difíceis, não nos deixou desanimar.

Por Edileuza Rodrigues Grupo de Oração Emanuel Araguaína - TO



Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2021

A MÚSICA NO GRUPO DE ORAÇÃO, DOM E GRAÇA Guardar a Identidade da RCC através das canções carismáticas

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ma porta semiaberta. Poucas luzes acesas no interior da Igreja. Não há microfones ligados ou instrumentos elétricos, apenas um violão acústico. Quem conduz a música é ouvido quando passa alguma motivação, do contrário, as vozes da assembleia seguem em uníssono harmonioso. O condutor quase passa despercebido. Uma atmosfera de júbilo toma conta do lugar! “Poderoso é o nosso Deus, poderoso é o nosso Deus” – assim Padre Jonas Abib motiva o povo a cantar. É verdadeiramente uma festa com Jesus. Tudo é muito simples, muito verdadeiro. Os participantes são livres para louvar a Deus, em voz alta, um por vez. Entre as orações, pequenos refrões são entoados: “por isso eu canto a Deus Pai, por isso eu louvo ao Senhor”. As letras das canções são simples, os ritmos acessíveis. Todos conseguem cantar. Entre os louvores, alguém coloca uma intenção especial, uma dor, uma petição. Sensíveis ao movimento do Espírito Santo na assembleia, o Ministério de Música canta um clamor: “põe tua mão na mão do meu Senhor da Galileia, põe tua mão na mão do meu Senhor que acalma o mar”. Entre as orações de intercessão, a música une todo o grupo, que canta e testemunha a fé na ação do Senhor. No momento dedicado ao Espírito Santo, clamando por um novo Pentecostes, o Grupo de Oração ora e canta. A Terceira Pessoa da Trindade é invocada, louvada, adorada. “É uma Água Viva que cura e que liberta, cuja fonte é o próprio Jesus”.

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Os braços elevados, o corpo que se deixa embalar ao ritmo da música, um murmúrio que se transforma lentamente num cantarolar, até surgir a oração no Espírito, o dom das línguas, que une toda a assembleia. Há um momento ápice, quando um si-

lêncio toma conta da Igreja. Todos se calam, de uma só vez. Uma voz profetiza. Aos poucos, alguns irmãos confirmam a mensagem e, então, o louvor torna a encher a Igreja. É ardoroso, expansivo. “Não há deus maior, não há deus melhor, não há deus tão grande, como o nosso Deus”. Quando o Grupo de Oração é concluído o clima é realmente fraterno. A saudação mútua é com a paz de Jesus. A música continua seu papel, congrega e envia. “É bênção sobre bênção, vivendo cada dia no Senhor”. Essas são lembranças de vários irmãos, narradas durante a produção do Livro “Pois a Promessa é para vós”, lançado pela Editora RCCBRASIL em 2019, por ocasião do Jubileu de Ouro da Corrente de Graça no país. São memórias registradas nas entrevistas com muitos pioneiros. A lembrança das músicas ministradas nos primeiros anos da RCC, é um referencial da formação da identidade do Movimento Eclesial. Aprendemos a ser Grupo de Oração nas reuniões onde tantas canções históricas iam nos ensinando a louvar, a pedir o Batismo no Espírito. Monsenhor Jonas Abib explica com propriedade: “Deus mesmo nos ensinava, Ele inspirava as canções e quando a vivenciávamos, recebíamos dele a sua unção”. Hoje testemunhamos: essa unção moldou homens e mulheres, em quem hoje reconhecemos os traços da santidade de Cristo. Olhamos o passado e parece que podemos ouvir essas canções, com milhares de vozes unidas, num eterno clamor: Vem, Espírito Santo!

Por Bruno Maffi

Grupo de Oração Dom Albano Cavallin Arquidiocese de Londrina (PR)


Eventos Revista Renovação . Mai/Jun 2021

A ARTE QUE LOUVA A DEUS E O REVELA À HUMANIDADE Congresso do Ministério de Música e Artes quer formar adoradores

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ovidos pelo desejo de formar artistas e músicos como portadores da arte que louva e bendiz a Deus, a RCCBRASIL promove o Congresso Online Ministério de Música e Artes. Com o tema “Eis que se levantarão verdadeiros adoradores”, o evento acontece de 11 a 13 de junho.

“É importante ressaltar que o congresso foi pensado tanto para os ministros de música e artes da RCC do Brasil, quanto para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre este serviço no Movimento e também para os que querem viver momentos de louvor e oração”, acrescenta Kandysse Possavats.

A coordenadora nacional do Ministério, Kandysse Possavats, explica que os conteúdos do Congresso serão voltados para a espiritualidade e a formação dos ministros de música e artes. Segundo ela, esse caminho se faz necessário, uma vez que a arte precisa partir de um coração que verdadeiramente ama o Senhor e busca agradá-Lo.

O evento, que contará com momentos de louvor, oração e adoração, já está com inscrições abertas no valor de R$15,00. Escaneie o QR Code e acesse a página de inscrição

INSCREVA-SE AGORA

e não perca a chance de participar desse momento de aprofundamento e oração. Convide também o seu irmão de Ministério!

SOBRE O MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES O Ministério de Música e Artes é a reunião das expressões artísticas presentes na RCC. Este serviço fornece subsídios e formação para aqueles que trabalham com música, teatro, dança, artes plásticas e com outras expressões dentro dos Grupos de Oração e outras atividades do Movimento.

CONTEÚDO FORMATIVO PARA O MINISTÉRIO Para auxiliar aqueles que desejam conhecer mais sobre o Ministério de Música e Artes, a RCCBRASIL organizou de modo prático e acessível os materiais sobre este serviço. Para acessar utilize o QR Code.

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Espiritualidade Revista Renovação . Mai/Jun 2021

O ESPÍRITO SANTO VOS DARÁ FORÇAS Um chamado a testemunhar a graça de Deus no ambiente de trabalho

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remos que a graça do Espírito nos basta. Precisamos continuamente clamá-Lo e fazer a Sua vontade. Quando recebemos o Espírito Santo e nos abrimos a Sua ação, Ele inicia uma obra em nós, para nos conformar à imagem do Criador (Rm 8,29). No mundo profissional não é diferente, devemos contar com a força e os dons do Espírito Santo. Por isso, é necessário constantemente consagrarmos-Lhe as nossas atividades laborais. Esta força do alto nos capacita, nos impulsiona a superar as situações adversas que nos afastam do propósito do Senhor, nos encoraja a ser o rosto de Cristo! O Espírito Santo nos faz testemunhas do amor de Jesus em nossos ambientes de trabalho, vem em nosso auxílio, para assim, sermos instrumentos capazes de refletir o Seu amor que restaura, que significa, que renova.

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Somos chamados ao uso dos carismas em nosso cotidiano profissional a fim de contribuir com a edificação dos profissionais fiéis e dos que não creem. Mesmo sem usarmos palavras, as pessoas podem sentir o amor de Deus e terem suas vidas transformadas pelo Espírito Santo a partir do nosso testemunho e da nossa ação concreta. Sabemos que existem pessoas que não conhecem o Espírito Santo e outras que não sabem que podem

se relacionar com Ele de forma pessoal. E uma das maneiras de levarmos a Cultura de Pentecostes para o nosso trabalho são os Grupos de Oração no Trabalho (GOTs). Esta é uma ótima oportunidade para levar a Palavra de Deus e o Batismo no Espírito Santo. Assim, Deus alcançará até os corações mais fechados, basta dar o primeiro passo: querer. Como ação concreta, todos os anos, o serviço da RCC Profissionais do Reino convida a família carismática e todos os trabalhadores a participarem do Projeto 1º de Maio: “De Deus é o nosso trabalho” - Dia nacional de celebração, evangelização, conscientização, oração e formação para os trabalhadores brasileiros. Este ano o evento aconteceu de forma online em âmbito

nacional e se encontra disponível no canal do Youtube da RCCBRASIL. O Senhor deseja resgatar, amar e cuidar dos feridos pelo desemprego e dos profissionais fragilizados, que perderam a esperança ou encontram-se sobrecarregados em suas profissões. É preciso clamar o Espírito Santo sobre todas essas realidades, pedir a abundância dos dons e carismas para que através de nosso trabalho se operem milagres e prodígios. Coloquemos em operação a nossa fé carismática para que o dom do Espírito que nos foi dado frutifique em boas obras! Nossa Senhora de Pentecostes e São José Operário, roguem por nós!

Por Cláudia Cunha

Coordenadora Nacional - Profissionais do Reino



Ministérios em Partilha Revista Renovação . Mai/Jun 2021

ATOS DOS APÓSTOLOS: FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA TODO PREGADOR DA PALAVRA

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o início do ano de 2021, o Ministério de Pregação da RCCBRASIL lançou a segunda proposta de Leitura e Estudo da Sagrada Escritura, desta vez do Livro dos Atos dos Apóstolos, que iniciou no mês de fevereiro. A moção não é voltada somente para os pregadores, mas também a todos aqueles carismáticos que se sentem atraídos pelo estudo dos textos sagrados. O momento não poderia ser mais apropriado, afinal, neste ano, a Palavra norteadora de todas as atividades do Movimento é “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas” (At. 1, 8), um versículo tão conhecido no meio carismático e, ao mesmo tempo, tão revigorante e atual! E, se a vivência do tema é importante para todas as instâncias do Movimento, especialmente o Grupo de Oração, o livro dos Atos dos Apóstolos deve ser lido, meditado e

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estudado por todos os pregadores do Brasil e por todos os homens e mulheres que têm a missão de anunciar a palavra de Deus e a obra transformadora que o Espírito Santo realiza na vida daqueles que se abrem ao seu agir e operar. A proposta de estudo dos Atos dos Apóstolos não se intenciona a esgotar todo o escrito de São Lucas, ao contrário, o livro deve ser lido como fonte de inspiração, busca e ponto de partida para um conhecimento sólido e confiável dos ensinamentos bíblicos e doutrinários. Para celebrar sempre o PENTECOSTES em sua vida, mergulhe nos ensinamentos trazidos pela proposta, juntamente com as práticas espirituais já vividas. Tudo isso vai nos favorecer a viver uma nova Efusão do Espírito Santo todos os dias.


Ministérios em Partilha Revista Renovação . Mai/Jun 2021

MINISTÉRIO DE FORMAÇÃO

FORMAR O HOMEM TODO E TODO O HOMEM

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formação tem como objetivo e responsabilidade formar o homem todo e todo o homem, formar homens e mulheres capazes de discernir e obedecer a vontade Deus. Ela nos mantém informados a respeito de toda boa notícia, “a boa nova” do Reino de Deus, nos comunica a verdade e, por meio desta, podemos filtrar e ficar com o que é bom. A formação transforma o homem por completo: nas dimensões espiritual, emocional e física. Leva o homem a uma verdadeira conversão e a uma consciência profunda do seu chamado original, o chamado à santidade. A formação forja o nosso caráter, nos coloca na forma de Cristo, assim nos tornando cristãos maduros e autênticos, “sempre prontos a responder a nossa defesa a todo aquele que nos pedir a razão da nossa esperança” (cf 1Pe 3,15).

A formação nos revela uma pessoa: “Jesus Cristo”. Ele se deixa revelar e por meio dEle o Pai também é revelado. Assim nos ensina o Catecismo da Igreja, no número 427: “Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado; tudo o mais é-o em referência a Ele”. Faz-se necessário e urgente a formação para os nossos tempos! Nesse tempo de pandemia da Covid-19, percebeu-se mais ainda a necessidade da formação. Só um povo bem formado é capaz de responder com espírito de fé e esperança às adversidades dos dias de hoje. Como nos recorda o Papa João Paulo II, “A formação não é privilégio de uns poucos, mas um direito e dever de todos” (Exortação Apostólica Christifideles Laici, 60).

MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES

A ARTE QUE GLORIFICA O SENHOR!

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ste ano, todos os servos da Renovação Carismática Católica do Brasil estão sendo chamados a “Guardar a Identidade, para que o mundo seja batizado no Espírito Santo”. Nós, músicos e artistas, temos a belíssima missão de sermos apóstolos da efusão do Espírito Santo com a nossa vida por meio da arte. Não se trata apenas de tocar, cantar, dançar, por gosto pessoal, mas de levar as pessoas ao encontro pessoal com Jesus pelo Batismo no Espírito Santo. Certamente estamos vivendo um tempo árduo, estamos inclusive ouvindo da parte de alguns coordenadores que alguns ministros de música e artes estão deixando o Ministério. Mas o Senhor Jesus já nos alertava que no mundo haveríamos de encontrar tribulações e aflições e que era para termos coragem porque Ele venceu o mundo.

É do Senhor que vem a força necessária para a caminhada, portanto, é necessário ter intimidade com o Espírito Santo, ser embalados por Ele e não pelas nossas próprias forças, pois nós certamente não podemos sozinhos. Recordemos a cada dia: “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1,8). Cristo precisa ser a razão da nossa arte, do nosso cantar, do nosso tocar. Nossa arte é para maior honra e glória de Deus! Pode ser que muitos irmãos tenham tirado o olhar de Cristo, sejamos pois o amor de Deus para o outro nesse mundo tão necessitado. Ajudemo-nos uns aos outros e mantenhamos nosso olhar fixo em Jesus! Assim, seremos verdadeiramente guardiões da identidade, testemunhando com a nossa vida em cada missão que Jesus Cristo é o Senhor!

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Revista Renovação. 128 . Mai/Jun 2021

REAVIVANDO A

CHAMA

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Encontramos um fato importante no discurso proferido por Pedro, na companhia dos onze apóstolos, naquela manhã de Pentecostes, conforme relata Atos 2, 14-21. Na verdade, ele inicia seu discurso buscando guardar e confirmar aquelas manifestações carismáticas que acabavam de ocorrer. Afinal, algumas pessoas não compreendiam aquilo e, por vezes, escarneciam dizendo que estavam embriagadas com vinho doce. Em resposta, Pedro tem o cuidado de explicar aquela situação orientando aqueles presentes que ainda era o início da manhã e, portanto, não estariam embriagados. Para ajudar a compreensão daqueles que zombavam, Pedro fez lembrar as palavras proféticas descritas no livro de Joel. Esta atitude de Pedro nos dá um horizonte vasto de reflexão. Mas, sobretudo destacamos o seguinte: “os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja” (CIC 800). O Grupo de Oração é

um ambiente propício à educação para os carismas. O próprio Espírito nos conduz em uma pedagogia de abertura a uma vida espiritual marcada também pelo exercício e a prática, na comunidade, dos dons recebidos. De outra forma, vemos no gesto de Pedro a importância de buscar o conhecimento e de instruir as pessoas (1Tm 4,16). Afinal, um pressuposto basilar para aquele que se coloca na condição de guardião é ter ciência dos assuntos afetos ao que se propõe a vigiar.   Talvez seja necessário estar em contínuo estado de vigilância para guardar e proteger os carismas, pois são presentes que o próprio Espírito Santo concedeu à sua Igreja e, de forma especial, a RCC tem clamado esses carismas como expressão de sua identidade. Para bem guardar nossa identidade, vamos partilhar um pouco sobre os carismas descritos em 1 Coríntios 12.

Línguas O carisma das línguas é insistentemente referenciado

por São Paulo em sua doutrina sobre os carismas, mesmo o considerando o último dos carismas, ele necessita ser disciplinado.  A manifestação deste carisma é um belo sinal de que a pessoa realizou uma experiência pessoal com o Espírito Santo. Contudo é importante dizer que, como os demais carismas, nem todas as pessoas falarão em línguas (1Cor 12, 10.30), pois de certo, o Espírito sopra onde quer e para isso acontecer também é necessário abrir o coração. Não obstante a isto, o carisma das línguas possui uma característica que o diferencia de todos os demais elencados em 1Cor 12. Enquanto os outros têm por finalidade o serviço comunitário, o das línguas, especialmente a oração e o canto em línguas, estão direcionados à edificação pessoal daquele que o pratica (1Cor 14,4). Desta forma, ele pode nos proporcionar uma nova e transcendente vida de oração que resulta em uma profunda intimidade com Deus.


Encarte Reavivando a Chama Revista Renovação . 128 . Mai/Jun 2021

Libertos da escravidão das palavras, numa sequência de sons indecifráveis, o Espírito socorre o fraco (Rm 8,26-27) fundindo com ele em um só corpo, uma só alma e um só espírito.  Em uma reunião de oração, quando os participantes se abrem para este carisma, a presença do Espírito é perceptível. É comum percebermos também que a prática das línguas cria como que um “ambiente” ou um “clima” propício para que os demais carismas sejam manifestados.

Interpretação das línguas Na assembleia carismática este dom acontece quando ocorre o “falar em línguas”, que se distingue da oração e do canto em línguas. O falar em línguas estranhas pressupõe uma mensagem enviada por Deus à assembleia e, por isso, o Espírito concede a alguém a capacidade de interpretar aquela mensagem, seja ela uma exortação, palavra da Escritura ou profecia. Não se trata de decifrar ou traduzir aqueles sons misteriosos. A prática deste carisma se dá no discernimento do sentido espiritual que aquela fala diz a ele próprio e aos presentes. O intérprete sente-se levado, como que por um impulso interior a dizer aquilo que lhe toca interiormente.

A manifestação deste carisma indica a vontade de Deus em edificar a assembleia (1Cor 14,5).

Profecia Este carisma é tratado com muita delicadeza por São Paulo. Talvez devido à capacidade de fazer os crentes e os não crentes perceberem, de imediato, a presença de Deus naquele lugar (1Cor 14, 24s). O profeta fala aquilo que está no coração de Deus. É um carisma próprio daquele que vive uma profundidade espiritual. Afinal, para colher as mensagens direto do coração do Pai, exige do carismático um relacionamento muito íntimo com Ele. A profecia é muito relevante na reunião de oração pois exprime em amplo sentido o falar em nome de Deus. E tal é a importância deste carisma que o próprio São Paulo adverte para não o desprezar (1Ts 5, 19-22). Cabe à assembleia a confirmação da profecia. Esta confirmação pode ocorrer mediante a reação ativa diante da profecia, seja com a exclamação “eu confirmo!”, com pequenos sinais de cabeça ou de voz ou pela aprovação da palavra profética escutada.  Ou então, pelo contrário, por um juízo negativo, com o silêncio e com a cedência da vez a outro.

Palavra de Ciência O carisma da palavra de ciência está alocado entre os carismas de revelação. Os carismas de revelação têm por finalidade fazer enxergar aquilo que está oculto. Por definição então, a palavra de ciência “é um conhecimento sobrenatural que se recebe, devido à graça, por meio da qual a inteligência do homem é iluminada com a ação do Espírito Santo, para conhecer e ver a raiz de um problema ou o que Deus está fazendo ou vai fazer entre suas criaturas” (Renovação Carismática Católica, Carismas, p. 43). É um carisma amplamente manifestado nas reuniões de oração, oração pessoal ou durante a oração por outras pessoas. A percepção do acontecimento do carisma se dá, geralmente, quando se tem uma “visualização”, um sentimento, um entendimento. O destinatário do carisma se apropria daquelas verdades, pois relaciona com situações que acontecem em sua vida, sendo importante o testemunho para comprovar a veracidade da palavra de ciência.

Palavra de sabedoria O carisma da palavra de sabedoria se caracteriza pela manifesta vontade de Deus em orientar e guiar o seu povo. É a transmissão da direção de Deus para uma determinada situação.

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Interessante perceber que, muitas vezes, as pessoas vão até uma reunião de oração na busca de um sentido, direcionamento ou discernimento de vida e, não raras vezes, saem daquela reunião com estas respostas.  É um carisma que traz alívio nos momentos decisivos, seja na vida pessoal ou na da comunidade, fruto de um Deus sempre próximo e disponível para aqueles que o invocam. Para o seu exercício é imperioso ter vida de oração aliada ao estudo, reflexão, humildade e simplicidade.

Discernimento dos Espíritos

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A regra dada por São Paulo de não extinguir o Espírito (1Ts 5,19) é muito eficaz para compreender este carisma. A alma que se empenha ardorosamente em manter a chama do Espírito acesa, colhe em si os benefícios desta luz. O Espírito sempre conduzirá para o bem. Para se aprofundar no mistério deste carisma, o fiel precisa, passo a passo, deixar-se ser conduzido pelo Espírito (Gl 5,16), pois para discernir qual o espírito (divino, humano ou maligno) que atua em uma ação, pessoa, situação ou palavra, não se trata de técnica, arte, mas antes é um dom do Espírito Santo. Este carisma é o auxílio e segurança na execução dos demais dons, evitando erros humanos, distorções e ações demoníacas. A este respeito o Bispo Balduíno de Cantuária em sua obra Tratados (6) escreve da seguinte forma: “Quem poderá averiguar se as inspirações provêm de Deus, se Deus não lhe tiver dado o discernimento sobre elas, de modo a poder averiguar exatamente e com reto juízo os pensamentos, as disposições e as intenções do Espírito? O discernimento é como a mãe de todas as virtudes, e todos necessitam dele para orientarem a vida pessoal e a dos demais”. A assembleia da reunião de oração precisa estar em profunda intimidade com o Espírito de Deus para acolher todas as manifestações carismáticas, discernir com caridade e guardar aquilo que é bom (1Ts 5, 20-22). Não por acaso

as orações precisam ser conduzidas com calma, autoridade espiritual, gerando um ambiente propício para ação do Espírito Santo, como diz nossos bispos no Documento de Aparecida nº 362: “Por isso, é imperioso assegurar calorosos espaços de oração comunitária que alimentem o fogo de um ardor incontido e tornem possível um atrativo testemunho de unidade ‘para que o mundo creia’”.  A Palavra de Deus é a efetiva vara de medida para o juízo das coisas (2Tm 3,16). É preciso aprender a reconhecer a voz de Deus em sua palavra revelada e assim reconheceremos a voz do Espírito que fala em nosso coração.

Fé Carisma é sempre uma manifestação do poder sobrenatural e não se confunde com uma capacidade humana ou talentos naturais que cada indivíduo possui. Carisma é uma ação de livre iniciativa dada por Deus ao homem, enquanto o talento pode ser transmitido, inclusive de forma hereditária. À vista disto, o carisma da fé se caracteriza pela expectante confiança que o poder de Deus será manifestado, liberando bênção em determinada situação. O Espírito Santo concede ao fiel uma certeza e confiança que Deus manifestará a sua glória aqui e agora. Não se confunde com mentalização, pensamento positivo ou enviar boas vibrações, como é comum encontrar estes termos no mundo secular. É antes de tudo uma poderosa intervenção divina no curso das coisas pela oração. A prática deste carisma precisa estar ordenada para o bem e a edificação da Igreja mediante a caridade. Interessante perceber que este carisma é muito cultivado nos Grupos de Oração. A fé expectante é uma das características fortes entre os membros da RCC.

Cura O carisma de cura é concedido para manifestar a força da graça do Ressuscitado. Com hu-


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mildade, sabedoria e profunda intimidade com o Espírito, este carisma deve ser exercido, pois o mais importante é Cristo, Ele deve aparecer e não o dom. O Espírito Santo continua concedendo vigor e cura para as nossas enfermidades, pois ele “vem em auxílio às nossas fraquezas” (Rm 8,26). E para tanto, dota homens e mulheres com este carisma para continuarem a exercer o poder dado pelo próprio Cristo de curar toda a espécie de doença e enfermidades. Este carisma, bem como os demais, precisa encontrar um ambiente natural, como um habitat, para suas manifestações. São assembleias abertas, em que cada fiel possa exercitar o seu próprio carisma (1Cor 14,26), ambientes impregnados da forte presença operante do Espírito. A respeito disto, Cardeal Cantalamessa escreve que a oração de cura nunca deve tornar-se um fim em si mesma, algo que se separa do momento do anúncio; ela deve ser, antes, uma ocasião de anúncio.

Milagres O dom de operar milagres pode ser definido como uma “ação do poder de Deus intervindo extraordinariamente em determinada situação” (Módulo Básico II - Carismas do Espírito Santo). Esta demonstração do poder de Deus, muda o curso esperado das situações, chamando a atenção do povo e do recebedor da graça para Ele. Os milagres acontecem para a glória de Deus, o serviço da caridade e a edificação da Igreja (CIC 2003). É uma mudança necessária na rotina. O inesperado vindo da parte de Deus, eleva as intenções humanas, retirando os olhares das coisas que passam, elevando para aquelas que a ferrugem e traça não corroem (Mt 6,20). Cardeal Cantalamessa em seu livro “Vem Espírito Criador”, Capítulo X, diz o seguinte: “O milagre rompe tanto o ritualismo morto, como o radicalismo árido. Entendido biblicamente, ele serve, portanto, para elevar a qualidade da religiosidade, e não para baixá-la”.

Há dois argumentos bíblicos importantes para a manifestação deste carisma em nosso meio. O primeiro argumento encontramos em Tiago 4, 3. Na verdade, trata-se de uma orientação, o modo como pedimos interfere no resultado. Muitos dos nossos pedidos não são atendidos, porque no interior do pedinte encontram-se motivações alicerçadas em paixões humanas. As paixões deturpam a vontade humana, afinal as vontades da carne se opõem às do espírito. Por outro lado, um segundo argumento bíblico reside nos episódios de At 4,29-30 e At 14,3. O anúncio da Palavra de Deus com desassombro é um ambiente agradável para a operação de milagres. A Palavra de Deus precisa ser anunciada com ousadia, intrepidez, coragem e valentia, enfrentando os desafios missionários da evangelização. Deus assiste e confirma a veracidade da palavra anunciada com a realização de milagres e prodígios.

Enfim... O chamado de São Paulo para aspirar aos dons espirituais, precisa ser acolhido e correspondido com humildade e caridade. No Corpo Místico de Cristo, todos somos essenciais e a cada um é dada a graça da manifestação do Espírito para o bem comum. Portanto, não podemos buscar os carismas apenas para nos sentir engajados no Movimento RCC, mas antes como a descoberta de uma vida nova no Espírito de Deus que nos leva cada vez mais a nos doar por amor aos irmãos.

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