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EM UNIDADE COM A CORRENTE DE GRAÇA

A perfeição da unidade cristã só é possível no amor fraterno

Jesus abriu uma porta definitiva no céu, através da qual cada um de nós ganhou a possibilidade da salvação e com ela, a vida eterna em Deus. Ele próprio nos garantiu isso quando disse: “Glorifica o teu Filho, para que (...) pelo poder que lhe conferiste sobre toda criatura, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe entregaste. Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste” (Jo 17,2-3).

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A partir daí, Jesus explica que o céu e o mundo se contrapõem pelos seus valores e fundamentos. E deixa claro que, embora vivamos no mundo, nós não somos destinados a esse mundo. “Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo” (Jo 17, 16). E para que não houvesse dúvida de que ele, Jesus, não estava se referindo somente aos que O seguiam naquela época, Jesus ainda implora pela unidade de todos os que creem Nele.

“Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim” (Jo 17, 20-23).

No latim, o prefixo “per” determina o grau máximo, o absoluto. Ou seja, a palavra “perfeito” remete ao grau máximo do que é feito. Portanto, perfeito é a absorção de todas as máculas e manchas de impureza, o que nos leva a compreender que Jesus exalta a busca pela perfeição na unidade para que o mundo reconheça que o maior e mais importante poder de Deus é o amor. Assim, a perfeição na unidade só pode ser alcançada quando se ama em primeiro lugar – e com perfeição – antes da crítica, antes da censura, antes do julgamento, antes da execução, antes das preocupações, antes de tudo!

Aí está um desafio que, muitas vezes, é pouco compreendido como caminho de salvação: a perfeição na unidade, que só é possível no amor fraterno. O amor fraterno é o amor experimentado por irmãos, que vai além dos laços sanguíneos, mas que através da união com Cristo se desdobra em família acolhida por Deus, para uma convivência genuinamente amorosa e ardorosa na caridade, na comunhão e no serviço. O exercício do amor fraterno se realiza na oportunidade dos relacionamentos, da convivência madura e do crescimento a partir dessa convivência.

“Em obediência à verdade, tendes purificado as vossas almas para praticardes um amor fraterno sincero. Amai-vos, pois, uns aos outros, ardentemente e do fundo do coração” (I Pd 1,22).

Louvado seja Deus por ter chamado a cada um de nós para essa linda e santificadora experiência de convivência como irmãos em Jesus Cristo, a qual encontra reforço e suporte na exortação de São Paulo aos Hebreus: “Perseverai no amor fraterno” (Hb 13,1). Aliás, a Igreja, sabiamente, aponta que a convivência entre nós é a via mais eficaz para que possamos aperfeiçoar esse amor fraterno e seguir o mandamento de Jesus:

“Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão” (I Jo 4, 20-21).

Nisso, temos uma riqueza de nossos tempos que é a Renovação Carismática Católica. Nascida na Igreja, e para a Igreja, assumiu proporções tão expressivas que se estendeu ao mundo inteiro e se transformou em uma enorme corrente de graça, como referiu o Cardeal LeoJozef Suenens: “É uma corrente de graça, um sopro de renovação espiritual para todos os membros da igreja, leigos, religiosos, padres e bispos” (Discurso em 1975, ao Papa Paulo VI, na praça de São Pedro, Vaticano).

Em I Coríntios 12, 4-5, São Paulo explica que “há diversidade de dons, mas um mesmo Espírito. E há diversidade de ministérios, mas apenas um Senhor”. Da mesma forma, a Renovação Carismática Católica é uma Corrente de Graça, com diversas expressões, carismas e maneiras de se manifestar no Corpo de Cristo. Porém, a todas as expressões, institutos, comunidades novas e ao Movimento Eclesial, o Senhor deu uma única missão: compartilhar com todos da Igreja e do mundo a graça do Batismo no Espírito Santo. Essa missão compartilhada não deve nos separar, ao contrário, deve nos unir, cada qual com seu carisma. Veja que o Senhor chamou a todos nós para irradiarmos para o mundo a graça do Batismo no Espírito Santo: “...o amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Seu Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Aliás, foi a partir de uma inspiração surgida no coração de nosso querido Papa Francisco, de que a graça do batismo no Espírito Santo fosse compartilhada e chegasse à toda Igreja, que um novo tempo se inaugurou através da constituição do CHARIS (Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica). Foi em 2017, durante a Celebração do Jubileu de Ouro da Renovação Carismática Católica no mundo, na Via del Circo Massimo, em Roma, que o Papa Francisco falou aos presentes.

“Cinquenta anos se passaram. É um momento de vida adequado para parar e refletir, e eu vos digo: é o momento de continuar com mais força, deixando para trás o pó do tempo que nos permitimos acumular, agradecendo por aquilo que recebemos e encarando o novo com confiança na ação do Espírito Santo”.

Com o CHARIS, o Papa Francisco deseja que a comunhão seja vivida mais amplamente entre todas as expressões da Renovação Carismática Católica. É papel dos vários Serviços Nacionais de Comunhão liderar esse trabalho. Os estatutos do CHARIS sublinham a importância de “promover o exercício dos carismas” não só na Renovação Carismática Católica, mas também em toda Igreja (Art.3, § b).

“Hoje começa uma nova etapa neste caminho. Uma etapa marcada pela comunhão entre todos os membros da família carismática, na qual se manifesta a poderosa presença do Espírito Santo para o bem de toda a Igreja. Esta Presença torna todos iguais, graças ao mesmo Espírito: grandes e pequenos, idosos e recém-nascidos, engajados, em nível universal ou local, que formam um todo” (Papa Francisco, 08/06/2019).

Os objetivos fundamentais da Corrente de Graça por meio do CHARIS são: Batismo no Espírito Santo, Unidade dos Cristãos e Serviço aos Pobres.

O primeiro deles, o Batismo no Espírito Santo, é o fundamento da nossa identidade enquanto RCC, o que é definido por Jesus como o cumprimento da promessa de Deus: “... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).

O segundo objetivo, a Unidade dos Cristãos, é apresentado pelo Papa como uma graça a ser alcançada pelo derramamento do Espírito Santo sobre todos os Cristãos. O próprio Frei Raniero Cantalamessa insiste que se trata de chegar à mesma conclusão de Pedro: “Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?” (At 11, 17). Inclusive, o Estatuto do CHARIS, artigo 1º, parágrafo 2º, ainda tratando sobre a natureza eclesial e canônica do serviço, diz: “Reconhecendo a Renovação Carismática Católica como parte de uma corrente ecumênica de graça, CHARIS, é um instrumento para promover e trabalhar a unidade do corpo de Cristo, como expressada na oração de Jesus Cristo” (cf. João, 17).

Por fim, o terceiro objetivo, o Serviço aos pobres, como a opção inseparável da fé em Deus, pois “... a oração a Deus e a solidariedade para com os pobres e os enfermos são inseparáveis”. Trata-se do reflexo do rosto de Jesus Cristo naqueles que Ele próprio garante pertencerem ao Reino de Deus: “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6, 20b). Para o Papa Francisco, trata-se de uma coerência evangélica, uma vez que “Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra” (Papa Francisco, Dia Mundial do Pobre, 15/11/20).

É importante destacar o discurso do Papa Francisco aos participantes da Conferência Internacional dos Líderes da Renovação Carismática Católica, na instituição do CHARIS, em 08 de junho de 2019, na Sala Paulo VI, no Vaticano:

“Estes três aspetos: Batismo no Espírito Santo, unidade do Corpo de Cristo e serviço aos pobres são o testemunho necessário para a evangelização do mundo, à qual todos somos chamados através do nosso Batismo. Evangelização que não é proselitismo, mas sobretudo testemunho. Testemunho de amor: “vede como se amam”, era o que chamava a atenção de quantos se encontravam com os primeiros cristãos. “Vede como se amam”. (...) Evangelizar é amar. Compartilhar o amor de Deus por todos os seres humanos. Podemos fundar organismos para evangelizar, fazer programas pensados e estudados com zelo, mas se não houver amor, se não houver comunhão, de nada servem! “Vede como se amam”.

Concluindo, como diz São Basílio, “o Espírito Santo é a harmonia”, portanto, é necessário que todos busquemos empreender ações e esforços comuns, naquilo que for possível, em nossas realidades locais, para que a missão maior da corrente de graça, que é batizar a todos no Espírito Santo, possa refletir o verdadeiro testemunho de amor entre nós, família carismática.

Por Katia Roldi Zavaris

Coordenadora Nacional do Serviço Brasileiro de Comunhão do CHARIS

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