Revista Renovação - Edição 83 - Novembro/Dezembro de 2013

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ANO 14 - NÚMERO 83 - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2013

O AUTÊNTICO EXERCÍCIO DA COMO VIVER ESSA VIRTUDE EM NOSSOS TEMPOS?

A humildade não é uma opção de vida... É uma condição para que entremos nos Reinos dos Céus.

O PAPA HUMILDE O que Francisco está nos ensinando sobre essa virtude que deve ser a marca distintiva de um verdadeiro seguidor de Jesus?

Põe a tua mão nas minhas chagas O emocionante lema da Missão Uganda. Entenda o por quê.

ENCARTE NOSSA IDENTIDADE EXPRESSA EM CADA GRUPO DE ORAÇÃO


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Boneca beata Elena Guerra

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Nesta edição

ESPECIAL: HUMILDADE, o desafio de viver essa virtude

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A HUMILDADE E O REINO DOS CÉUS

“SER PEQUENO, SER HUMILDE PARA VER A DEUS.”

CONSERVAR A UNIDADE DO ESPÍRITO PELO VÍNCULO DA PAZ!

Põe a tua mão nas minhas chagas

“novo chama16 um do” de Deus na

Cultura do Sude mãos 08 Povo 12 Acesso em contralimpas e coração posição à humilpuro

RCC e o vasto mundo do trabalho

dade

2014: Novi20 ENF dades e fortalecimento da unidade a cada ano que passa

A VIDA NO 22 SEÇÃO ESPÍRITO:

e rece21 Colaborar ber formação: IEAD e Amigos de Deus

Humildade, via segura para caminhar com Deus

SEMEANDO A CULTURA DE PENTECOSTES Amado semeador,

Graças a Deus e a sua generosidade chegamos à edição de nº 83 da Revista Renovação. E mais o final desse ano onde muitas bênçãos e graças o Senhor derramou em nós. Sua colaboração, com certeza, foi fundamental para essa caminhada e estamos colhendo muitos frutos da sua fidelidade. Muito obrigado. Contem com nossas orações. Caso você não seja colaborador e gostaria de contribuir, entre em contato conosco.

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Editorial

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Trilhando o caminho da humildade A paz de Jesus, irmão e irmã! Durante nossa caminhada, o Senhor nos faz um constante convite à santidade. Diante deste chamado, algo que se torna indispensável a nós é a busca do exercício da humildade, virtude que é o tema desta edição da Revista Renovação. Por estas páginas, passaremos pela espontaneidade das crianças que nos ensina a abandonar-nos na liberdade doada por Deus e que gera em nós diversos frutos. Fecundados por este coração de criança, o próprio Espírito Santo nos santificará, dando-nos mãos e corações puros. Refletiremos também o exemplo que temos obser-

Expediente Publicação Oficial da RCC do Brasil

Editada pelo Escritório Nacional da RCC do Brasil ANO 14 - Edição Nº 83: Novembro/Dezembro 2013

Jornalista Responsável: Lúcia Volcan Zolin - DRT/SC 01537 Redação: Cristina Mansur /Laura Galvão Revisão: Mari Spessatto Fotos: Arquivo RCCBRASIL Projeto Gráfico: Priscila Carvalho Design e Diagramação: Priscila Carvalho E-mail: dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br ESCRITÓRIO ADMINISTRATIVO DA RCCBRASIL Rua Antônio Favalli nº 23, Bairro Centro

vado de Papa Francisco que, em sua simplicidade, transborda amor pelo próximo e que por meio de seus ensinamentos nos auxilia na vivência dessa virtude que nos é proposta nestes meses pela Revista. No entanto, a decisão pelos caminhos que Jesus nos ensina é sempre acompanhada de dificuldades. Nisso, trazemos também os desafios em se optar por uma vida assim, de humildade. Opção na qual só nos é possível permanecer até o fim se tivermos uma vida firme no Espírito Santo, aquele que nos transforma, converte e nos torna testemunhas de Jesus. Além de toda essa reflexão, trazemos um artigo especial sobre o tema de 2014 para a RCC de todo o Brasil: “Conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz” (Ef 3,4). Direcionamento que foi discernido pelo Conselho Nacional durante sua reunião em setembro deste ano, na cidade de Aparecida/SP. Acontecimento do qual também falaremos nesta edição. Seguindo em frente com as notícias do nosso Movimento, você poderá conhecer o novo trabalho prestado à RCC pelos Profissionais do Reino, coordenado pela Comissão Nacional de Profissionais, que recentemente passou por algumas mudanças em sua estrutura e atuação. Por fim, em nossas seções institucionais, você poderá ler um testemunho emocionante vivido por Fabiany Silva, missionária da RCCBRASIL, em Uganda. Poderá ainda ficar por dentro das novidades do Projeto Semeando de Casa em Casa e conhecer um pouco mais sobre o livro “Três Segredos”, que pode ajudar em sua caminhada de fé. Que esta edição possa nos incentivar a cada dia mais cultivarmos a humildade com um coração sincero. Desejamos que você tenha uma abençoada leitura!

CEP 12.615-000 Canas/SP Tel.: (12) 3151-4155

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As matérias publicadas são de responsabilidade de seus respectivos autores. Permitida a reprodução, sem alteração do texto e citada a fonte.

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Palavra da presidente

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“Preparai o caminho do Senhor” (Mt. 3, 3) Queridos irmãos em Cristo Jesus, Em 2013, a RCC do Brasil recebeu muitas graças e bênçãos do Senhor, e trabalhamos bastante para que os irmãos de todos os cantos deste imenso país pudessem ouvir a Boa Nova de Jesus e com Ele se comprometer. Evangelizar é a nossa alegria e nossa missão! Com você estamos preparando “os caminhos do Senhor”, como fez João Batista. É imprescindível olhar para Jesus e dizer, como Batista: “Importa que Ele cresça e que eu diminua.” (Jo 3,30). Por isso João Batista era grande aos olhos de Deus e o próprio Jesus testemunhou a respeito dele: “entre os nascidos de mulher não há maior que João” (Lc 7,28). Portanto, é extremamente necessário escolher diariamente o caminho da humildade e se manter nele: “Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no tempo oportuno.” (1 Pe 5,6) O Natal está chegando e nos recorda o mistério da humildade de Deus. É desta humildade que, na última edição do ano da Revista Renovação, desejamos falar-lhes. Existe um acontecimento marcante na história da Salvação, no qual a graça divina se derrama sobre as pessoas simples, humildes e, aparentemente, insignificantes: é a história do nascimento de Je-

sus. As circunstâncias do nascimento do Filho de Deus nos remetem à humildade. Maria reconhece isso no Magnificat. Reconhece sua pequenez e sua condição simples e humilde de Serva do Altíssimo. Jesus é o Senhor que nasceu servo, o Deus que se fez homem, o Rei que se esvaziou de sua glória. Deus quis vir ao mundo assim de mansinho, na simplicidade, como qualquer um de nós. O evangelista Lucas relata o nascimento de Jesus com simplicidade e naturalidade. Parece tudo tão normal e, ao mesmo tempo, tão grandioso! O nascimento do Filho de Deus na pobreza não é humilhação, mas humildade e simplicidade. O Rei Eterno nasceu numa gruta, tendo como berço um coxo onde os animais se alimentavam. O céu se ilumina e os anjos cantam, enquanto os pastores acorrem. Feliz e inesquecível noite! É neste contexto que descobrimos um dos maiores ensinamentos que o Natal de Jesus pode nos dar. A humildade é um valor do Reino, um dom de Deus a ser buscado na oração constante e através de uma decisão consciente de nossa própria vontade, que se transformará em ação. É a luta incansável contra o orgulho, a soberba e a vaidade. É a primeira qualidade do cristão ressaltada por Jesus no Sermão da Montanha. “Bem-aventurados os humildes de espírito Revista Renovação

porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5,3). O Papa Francisco, em sua visita a Aparecida do Norte, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, também nos fez recordar de que a história de Nossa senhora Aparecida se serviu de uma realidade simples, de três humildes pescadores, para confirmar a importância da humildade na vida e missão de cada cristão: “Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, com o vinho novo ...” Não tenha medo de entregar completamente sua vida a Jesus e deixá-Lo revelar aquilo que Ele quer que você faça e seja. Deixe-se surpreender por Deus e pela Sua inspiração através do Espírito Santo e assim reviver o Pentecostes perenemente em sua vida e em seu grupo de oração. Feliz Natal e um Ano Novo repleto de paz, amor, saúde e fé! Abraço carinhoso a toda RCC do Brasil,

Katia Roldi Zavaris

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL Grupo de Oração Vida Nova

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Especial

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Por Padre João Paulo Veloso

Administrador paroquial de Santa Teresa, Palmas/TO Diretor espiritual do Conselho Estadual da RCC TO

A HUMILDADE E O REINO DOS CÉUS:

O QUE PODEMOS APRENDER COM DUAS CRIANÇAS

A espontaneidade das crianças já encantava Jesus quando pediu aos discípulos que tornassem seus corações tal como os delas. Chamado que não se dizia sobre a infantilidade, mas sobre a humildade que, de forma sincera, permite a elas reconhecerem seu lugar e viverem na liberdade de sua pequenez. O que você faria se estivesse proferindo uma pregação para 150 mil pessoas, de todas as nações, e uma criança “agarrasse” as suas pernas e logo em seguida se sentasse em sua cadeira? Essa cena, tão significativa para nossa reflexão, aconteceu de fato. No dia 27 de outubro, durante a missa da Festa da Família, em Roma, um menino de seis anos realizou o mencionado e chamou a atenção do mundo. A reação do papa Francisco não poderia ter sido outra: sorriu e fez um cafuné na criança. “Coisas de Francisco”, diriam os milhares de admiradores que o papa conquistou no Brasil. Em uma proporção menor, algo assim aconteceu na paróquia que administro, recentemente. Durante uma missa dos nossos festejos em honra a Santa Teresa D’Ávila, uma criança subiu ao presbitério e praticamente estava abraçando a imagem da santa. Durante as leituras, chamei a menina e perguntei se ela sabia quem era aquela santa; ao

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responder que não, disse o nome e nossa vivência cristã? Para mais do pedi que ela fosse até a imagem noque a espontaneidade, essas crianvamente e rezasse por sua família; a ças nos apresentam o modo de agir garotinha foi até lá, rezou e voltou que agrada a Deus. Jesus é taxatipara o seu lugar. vo: quem não se converter e não se tornar como criança não entrará no “Naquela hora, os discípulos Reino. Não se trata de infantilismo, a p r o x i m a ra m se de Jesus de ingenuidade, e perguntaram: ‘Quem é o maior Não se trata de infantilis- de negarmos nossa inteligência e no Reino dos mo, de ingenuidade, de razão. Trata-se de Céus?’. Jesus chanegarmos nossa inteligência e ter um coração mou uma criança, colocou-a no razão. Trata-se de ter um co- desprendido, verdadeiro, humilde. meio deles e disração desprendido, verdadeise: ‘Em verdade Tanto a crianvos digo, se não ro, humilde” ça que abraçou vos converterdes o papa quanto a e não vos tornardes como criancriança que abraçou a imagem de ças, não entrareis no Reino dos Santa Teresa fizeram algo que boa Céus. Quem se faz pequeno como parte dos adultos tem muita difiesta criança, esse é o maior no Reino culdade: foram honestas consigo dos Céus. E quem acolher em meu mesmas. O menino simpatizou com nome uma criança como esta, estará o papa e foi abraçá-lo; a menina gosacolhendo a mim mesmo” (Mateus tou da santa e foi ver de perto. Não 18,1-5). se preocuparam com o que os outros iriam pensar delas. Isso é fruto de O que as duas crianças tomauma espontaneidade que somente das como exemplo nesse artigo as crianças (e os adultos com corapodem nos ensinar a respeito de

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Especial

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ção de criança) têm.

as coisas... nunca agi como Pilatos, que recusou escutar a verdade. SemA humildade infantil pre tenho dito a Deus: oh, Deus meu, Espontaneidade e verdade se quero escutar-vos! Respondei-me, traduzem em uma virtude que é a vos suplico, quando humildemente base do processo de conversão: a vos digo: o que é a verdade? Dai-me humildade. Santa Teresa de Jesus, a ver as coisas como são. Que nada mesma que encantou a menina que seja capaz de ofuscar-me... Parecenos acompanha nessa reflexão, trazme que sempre busquei a verdade... nos um precioso ensinamento sobre sim, compreendi a humildade de coessa virtude: ração” (Conselhos e Recordações, II; “Certa vez, estava eu consideÚltimas Conversas, 21-7 e 30-9). rando por que razão Nosso Senhor A humildade amplia a visão da é tão amigo da virpessoa que pratude da humildatica essa virtude. A humildade das crianças Uma criança, de. Veio-me logo de improviso, sem é caraterizada por sua quando gosta, trabalho do raciocígosta; quando nio, esta resposta: espontaneidade. Elas não fa- não gosta, não é porque Deus é a zem nada que não venha das gosta. Não há suma verdade - e profundezas do seu coração, subterfúgios em ser humilde é anum julgamendar na verdade. não têm segundas intenções, to infantil: as Grande verdade é não fazem de si uma medida crianças têm a que nada de bom capacidade de maior do que realmente são; enxergar procede de nós, a a reanão ser a miséria em outras palavras, elas an- lidade como ela de ser nada. Quem dam na verdade” é. A humildade é não entende isso, a verdade. A conanda na mentiversão também ra” (Castelo Interior, Sexta Morada, passa pela forma que entendemos 10.7). a realidade que nos cerca. Ser como A humildade das crianças é cacriança significa, ainda, ver as coisas raterizada por sua espontaneidade. como são. Elas não fazem nada que não venha Por tudo o que expusemos até das profundezas do seu coração, não agora, já podemos desmistificar a têm segundas intenções, não fazem virtude da humildade. Não se trata de si uma medida maior do que realde andar com a cabeça torta e susmente são; em outras palavras, elas pirando (isso, algumas vezes, esconandam na verdade, por isso são hude um amor-próprio muito nocivo), mildes e, também por isso, o Reino nem de manter o olhar baixo (tratados Céus é de quem tem o coração se da modéstia), muito menos de semelhante ao delas. não aceitar merecidos elogios (na Santa Teresinha do Menino Jemaior parte das vezes, isso é orgulho sus, que compreendeu perfeitamendisfarçado); ser humilde é andar na te o que significa a “pequena via da verdade, é reconhecer suas qualidaoração”, a oração da espontaneidades e saber que todas elas vêm de de, do coração infantil, entendeu da Deus, é assumir suas misérias sem seguinte forma o enunciado de Sanficar desesperado, é enxergar a reata Teresa de Jesus: lidade como ela realmente é. Isso é ser como criança e ter acesso ao Rei“Parece-me que a humildade é no do Céu. a verdade. Não sei se sou humilde, mas sei que vejo a verdade em todas

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A oração do humilde Ainda temos um último ponto a tratar. Lembra-se da menina que estava abraçando a imagem de Santa Teresa? Eu havia pedido que a menina rezasse por sua família diante da imagem da santa, o que ela fez. Foi uma oração breve, de criança, encerrada com um beijinho na imagem. Uma oração humilde. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2559, fala assim sobre a oração: “A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes. De onde falamos nós, ao rezar? Das alturas de nosso orgulho e vontade própria ou das ‘profundezas’ (Sl 130,1) de um coração humilde e contrito? Quem se humilha será exaltado. A humildade é o fundamento da oração. ‘Nem sabemos o que seja conveniente pedir’ (Rm 8,26). A humildade é a disposição para receber gratuitamente o dom da oração; o homem é um mendigo de Deus”. Que cada um de nós receba essa graça de Deus: de orar como convém, pedindo sempre o auxílio do Espírito Santo, que nos eduque para termos um coração de criança, um coração humilde e verdadeiro, para que possamos entrar no Reino dos Céus.

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Especial

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Por Cleusa e Carlos Bombonati

Coordenadores Nacionais do Ministério para as Famílias Grupo de Oração Maria Mãe de Deus

Povo de mãos limpas e coração puro Deixar que Cristo viva em nós é o convite feito pelos coordenadores nacionais do Ministério para Famílias, Cleusa e Carlos Bombonati. Romper com a vaidade e aceitar a necessidade da vivência e partilha fraterna são aspectos fundamentais para alcançar a humildade.

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“Quem será digno de subir ao monte do Senhor? Ou de permanecer no seu lugar santo? O que tem as mãos limpas e o coração puro, cujo espírito não busca as vaidades” (Sl 23, 3-4a). Assim nos motiva Davi, para que sejamos dignos de entrar no Reino de Deus. No entanto, vivemos em um mundo que nos impulsiona a fazer exatamente o contrário. Somos preparados para buscar nossos próprios interesses, vivendo em busca de uma falsa sabedoria, que nos promete prestígio, sucesso, destaque, fama, poder... Vivemos fora dos padrões que Deus tem para nós e ainda buscamos ser felizes! Mas, podemos afirmar, com segurança, que não alcançaremos a tão sonhada paz e felicidade, apenas com nossa realização humana. Não foi para isso que Deus nos deu o precioso dom da vida. Nascemos e vivemos para amar e servir a Deus, dentro de seus padrões. Ora, se buscamos, incessantemente, nossas realizações pessoais, em detrimento de nossa experiência com Deus, podemos afirmar: “vai-

dades das vaidades!” (Ecle 1,2), que não nos levará a lugar algum. Necessitamos, com urgência, reavaliar nossa existência, deixar de lado nosso respeito humano e enxergar, com clareza, nossas limitações e, humildemente, nos aproximarmos do trono da graça de Nosso Senhor Deus e nos deixarmos moldar por Ele. Se bem pensarmos, a família, hoje, vive tantas desesperanças, tantas frustrações e desenganos, em consequência da nossa falta de humildade em acatarmos os planos de Deus para elas. Planejamos do nosso jeito limitado e egoísta e, por nos sentirmos capazes suficientemente, deixamos Deus de lado. Na humildade, reconhecemos que não nascemos isoladamente, mas, sim, que temos uma família, que é o maior tesouro que Deus nos deu e, infelizmente, o temos deixado à mercê das traças que corroem sem perceber que ele está sendo destruído e acabamos por buscar outros valores que pensamos serem maiores, mas que jamais serão encontrados. Precisamos viver o amor em nossos lares. Amor Ágape: doação total, sem Revista Renovação

nada exigir! Outro ponto importante a se meditar é o momento que vivemos em que a busca por títulos e lugares de destaque torna-se cada vez mais excitante e deixamos o lado o bem que existe em nós, nos motivamos por falsas sabedorias que, cada vez mais, nos tornam necessitados de experimentar o amor de Deus. É quando percebemos que corremos por um troféu corruptível e conseguimos, finalmente, entender nossa razão de ser. Aí, reconhecendo nossa pequenez, necessitamos tomar uma decisão radical para que, realmente, nos deixemos transformar pelo poder do Santo Espírito e passemos, então, a viver segundo os planos que Deus tem para nós. No decorrer de nossa existência e até mesmo em nossa caminhada na obra de Deus, temos visto pessoas que se apegam a títulos, cargos, posições, estrelismos e, lamentavelmente, usam o nome de servos para tal. Temos pensado muito e constatado que jamais deveremos nos apegar aos bens terrenos, já que, absolutamente nenhum deles pode-


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cisa disso, porque é o único verdaremos levar para nossa morada cedeiro”. leste. Devemos nos preocupar com Entendemos que é com humilo interesse do próximo e não apenas dade que reconhecemos que sem com o nosso. Jesus nada somos e que dependeA partir daí, movidos pela graça mos Dele para alcançarmos a terra Divina, entendemos que títulos são prometida. É com humildade que nada mais nada menos que palavras clamamos sua misericórdia, a fim de qualificação que, longe de nos de que possamos edificar, quando não entendemos Na humildade, reconhe- dar passos firmes, a docilidade seu real significacemos que não nascemos com de um coração do, nos levam à perdição. Por que isoladamente, mas, sim, que puro, livres das deste buscar em coi- temos uma família, que é o vaidades mundo, a fim de sas e em lugares tenhamos onde sabemos maior tesouro que Deus nos que que não achare- deu e, infelizmente, o temos mãos puras, as abrirão as mos? “... buscai deixado à mercê das traças quais portas do paraíso e achareis; batei, e vos será aber- que corroem sem perceber para nós! Diz, ainda, o ta” (Lc 11, 9). So- que ele está sendo destruído Papa Francisco: mente em Jesus “A ganância encontraremos e acabamos por buscar outros o significado de valores que pensamos serem é um instrumento nossa existência. maiores, mas que jamais se- da idolatria, porque vai pelo camiJá buscanho contrário que mos fama, poder, rão encontrados” Deus fez conosco. destaque que o São Paulo nos diz que Jesus Cristo, mundo oferece e encontramos, mas que era rico, fez-se pobre para nos não experimentamos a alegria que enriquecer. Este é o caminho de hoje sentimos servindo a esse Deus, Deus: a humildade, o rebaixar-se que tudo pode e que, assim como a para servir”. (g.n.). nossa, tem transformado vidas de Assim, irmãos, clamemos ao muitas pessoas, que se propõem a Espírito Santo que venha iluminar as mudanças e se entregam à ação do áreas escuras de nosso interior que poderoso Amor de Deus! podem estar nos impedindo de viIrmãos, Deus sempre fala com venciar a plenitude do grande amor seu povo e, nesse tempo, ele nos que Deus tem por nós. tem falado, não só por palavras de Que tenhamos sempre presente imensa sabedoria, mas por gestos e em nós o que o Apóstolo Paulo disse atitudes concretas, através do sucesaos Gálatas: “Eu vivo, mas já não sou sor de Pedro, o Papa Francisco, que, eu; é Cristo que vive em mim”, para pautando seu pontificado na huque possamos acumular tesouros, mildade total, ganha cada vez mais que nos permitirão viver de mãos o coração do povo, seja católico ou limpas e coração puro, os quais pernão. mitirão nossa entrada triunfante no O Papa Francisco nos dá uma Reino de Deus! direção: “Humilde não é aquele que Paz e Pentecostes em abundâncaminha cabisbaixo pelas ruas, mas cia! o que segue o caminho da humildade indicado por Deus – o único caminho possível. Os ídolos se mostram fortes, seguros de si. Deus não pre-

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Por Terezinha Araujo de Souza

Presidente do Conselho Estadual da RCC Bahia Grupo de Oração Água viva

“SER PEQUENO, SER HUMILDE PARA VER A DEUS.” À luz dos ensinamentos e testemunho do Papa Francisco, Terezinha de Sousa, presidente do Conselho Estadual da RCC Bahia, fala sobre a vivência da pobreza de coração para alcançar o Reino dos céus, convidando à renúncia do orgulho e egoísmo.

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Ver a Deus é o desejo incontido do homem, criado à Sua imagem e semelhança e Dele (Deus) afastado pelo pecado. Dentro de seu coração há uma inquietude que só cessará quando repousar em Deus como nos ensina Santo Agostinho. Na inquietude da alma pecadora busca estar com o Senhor, autor da vida e garantia da plena felicidade para a qual foi chamado. O salmista retrata esse desejo na pergunta: “quando irei contemplar a face de Deus?” (Sl 41,3b). Somente o encontro verdadeiro com Jesus é capaz de revelar a Face de Deus e sua real fraqueza e daí abrir-se a Salvação, a comunhão com Deus. Citando a figura de São Paulo, o Papa Francisco evidencia a postura humilde do apóstolo, “um pecador que acolhe Cristo e dialoga com Ele fazendo ver a fraqueza do pecador que era”.1 Diante da majestade do Deus revelado, Jesus Cristo, caem as escamas do orgulho e da soberba que outrora tornara Saulo cego e insensível à presença e missão do Senhor. Afirmou ainda o Papa que o único meio de receber realmente o

real... Não pecadores com aquela dom da Salvação é reconhecermohumildade só de fachada...”. “Hunos fracos e pecadores. mildade só de fachada”! Esta última Assim, também para a Renovaexpressão é séria e nos convoca a ção Carismática Católica e todos os uma reflexão profunda sobre o que seus membros, sedentos de Deus, se entende e professa por humildadesejosos de ver o Senhor, Somente o encontro ver- de. O orgulho oculé oportuno redadeiro com Jesus é ca- to nas entranhas do fletir sobre a constante exor- paz de revelar a Face de Deus coração do homem tação do Papa e sua real fraqueza e daí abrir- lhe trai fazendo com Francisco sobre se à Salvação, à comunhão que aparente uma humildade que na a humildade, verdade não existe, condição ne- com Deus” estabelecendo, ascessária para sim, relacionamentos falsos e estéver Deus. É urgente buscar o enreis que matam mais do que geram contro diário com o Senhor, dialovida. gar com Ele e poder perceber como somos pecadores. Entretermo-nos Ainda sobre a humildade, a pono diálogo salvífico, exercitando a breza de coração, o Mestre nos envirtude da humildade. sina: “Bem aventurados os pobres de coração, porque deles é o Reino Dizia ainda o Santo Padre nado céu!”2 Humildade e pobreza são quela oportunidade aos sacerdotes presentes: “Se orgulharmo-nos somente do nosso curriculum e nada mais, acabaremos errando. Não 1 Homilia do Papa Francisco em Santa poderemos anunciar Jesus porque Marta – 14/06/2013 no fundo não o sentimos. Devemos 2 Mt 5,3 ser humildes, com uma humildade

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nos falou o Papa Francisco quando vem-nos a pergunta: Qual tem sido sinônimos que elucidam a condição destacou um fato determinante na a qualidade da nossa oração, as da perfeição, da santidade, vínculo missão de São Francisco de Assis: motivações interiores para orarque nos aproxima de Deus, que nos ter que abraçar um leproso. Citando concede participar mos? Quais a carta encíclica Lumen Fidei 57, o do Seu Reino. Quanos frutos das O orgulho oculto nas en- nossas práti- Papa afirma que “aquele irmão soto mais um coração tranhas do coração do cas espirituais? fredor foi mediador de luz para São for despojado de si mesmo, mais puro, homem lhe trai fazendo com Uma alma mais Francisco de Assis, porque em cada mais cheio de Deus apaixonada e ou irmã em dificuldade, nós que aparente uma humilda- mais abando- irmão ele se encontra. abraçamos a carne sofredora de JeTorna-se possuidor de que na verdade não existe, nada nos brasus”, dizia o Papa. Quantas oportuestabelecendo, assim, relaciodo Reino dos céus. ços de Jesus, nidades de ver Deus e de abraçar a Jesus eleva o louvor namentos falsos e estéreis que uma missão Jesus talvez tenhamos perdido porao Pai pelos pequemais eficaz no matam mais do que geram que diz respei- que nos faltou a humildade! nos: “Eu te bendigo Por fim, o mundo no qual viPai, Senhor do céu vida” to ao regate vemos e para o qual Jesus nos ene da terra, porque de almas para via para testemunhá-lo espera ver escondestes estas coisas aos sábios Deus, de conversão dos corações, Jesus em nós, em nossas atitudes, e entendidos e as revelastes aos pede amparo aos que sofrem, a partir na missão que realizamos em Seu do nosso próprio testemunho ou a queninos”3. Deus age na pureza do nome. É preciso nos despojar de busca de reconhecimento e recomcoração, na vida dos que se aprenós mesmos, da nossa própria vonsentam com humildade, virtude pensas terrenas, de interesses sórtade, dos nossos próprios interesque abre o nosso coração para codidos do próprio prazer? ses, dos nossos pecados para que nhecer os mistérios de Deus. o Senhor cresça A humildade em nós e assim é também uma Os pequeninos aos quais JeDeus age na pureza do se manifeste virtude que ausus se refere são os seus discípucoração, na vida dos que para o mundo los. Homens simples e despojados, xilia o cristão na capazes de deixar tudo por Jesus. busca do outro, se apresentam com humilda- como Salvador Esses gozam da alegria do coração sobretudo quande, virtude que abre o nosso e Senhor. São Paulo exorta os do Mestre, são confirmados na fé do a situação e sua missão conta com os favores desafia nosso or- coração para conhecer os mis- cristãos a levado Senhor. Nada lhes falta, pois são gulho e vaidade. térios de Deus” rem uma vida capacitados pelo próprio Senhor, São Paulo mostra digna da vocapara deixar tudo por Ele. Esta graça até onde o Seção à qual foram está disponível para a Igreja, para chamados, com toda a humildade e nhor Jesus chegou para devolver a Renovação Carismática Católica. amabilidade, conservando a unidaa dignidade ao homem. “Não se Neste momento, o Espírito fala alto prevaleceu de sua igualdade com de do Espírito pelo vínculo da Paz aos corações através do sorriso, dos Deus, mas aniquilou-se a si mesmo (Ef 4,3). O Espírito nos conduzirá! gestos, das atitudes, do discurso assumindo a condição de escravo Que a Virgem nos auxilie na simples e penetrante do enviado e assemelhando-se aos homens e consciência de que o Senhor, cujo de Deus, o Papa Francisco. É precisendo reconhecido como homem, Nome é Santo, foi quem olhou para humilhou-se ainda mais, tornandoso ter um coração pobre, humilde, a humildade de seus servos e os se obediente até a morte e morte esvaziado do egoísmo, do orgulho, chamou à intimidade do Seu Amor de cruz” (Fl 2, 6-8, ). Nosso Senhor da injustiça, inveja, da soberba, do Misericordioso, a contemplar a Sua nos deu o exemplo de como ir ao ódio, da violência, para que Jesus Face. Não há nada de nós mesmos, outro. Muitas vezes ir ao outro exiseja tudo em todos e reine a paz, a apenas o nosso humilde sim. justiça e o amor no mundo. Ele nos ge de nós violentarmos a própria chama a fazer a experiência da hucarne, o homem natural, para se encontrar com o Deus que habita o mildade e do amor. 3 nosso coração e com Ele, Nele e por Partindo do princípio de que a Mt 11,25 Ele abraçar o irmão. Desse assunto oração é a elevação da alma a Deus,

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Especial

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Por Roberta Lima

Coordenadora Estadual do Ministério de Música e Artes no Espírito Santo Grupo de Oração Imaculada Mãe de Deus

A Cultura do Sucesso em contraposição à humildade O mundo de hoje tem nos incentivado ao orgulho, o que fazer? Como viver a humildade ensinada por Cristo? A coordenadora estadual do Ministério de Música e Artes da RCC Espírito Santo, Roberta Lima, traz uma reflexão baseada nos Evangelhos que poderá ajudar no exercício desta virtude.

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“Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos” (Mc 9,35). Dinheiro, status social, reconhecimento profissional e pessoal... Definitivamente, a sociedade de hoje educa e direciona todos nós para buscarmos o reconhecimento humano. O sonho dos pais é que os filhos façam uma boa faculdade, tenham um emprego com bom salário e consigam um companheiro (a) que os façam felizes. Nos relacionamentos pessoais, mais e mais se torna evidente a necessidade de ser reconhecido, elogiado e o objetivo é “ser feliz” a todo custo. No trabalho, o sucesso profissional deve ser conquistado, custe o que custar, mesmo que seja preciso abrir mão de alguns valores pessoais. Cada vez mais ficam esquecidos e antiquados o respeito, a submissão ao outro, reconhecimento dos próprios erros, o servir ao marido, à esposa, aos filhos. A intolerância com o erro e com as limitações dos que estão ao redor, a dificuldade de dar o perdão, a falta de disposição em construir o outro, são reflexos dessa cultura de busca do sucesso imediato, que privilegia os que conseguem se destacar e coloca os outros à margem. O sentido de competitividade na sociedade é claro e se manifesta também no consumismo. Ninguém quer perder. Fomos ensinados a olhar para os melhores, a desejar ser como eles, a admirar os que mais se destacam. Quem, sendo bom jogador, escolhe entrar no

time dos que jogam mal, mesmo sendo uma brincadeira entre amigos? Quantos são excluídos por não serem belos, por estarem acima do peso ou por não serem populares? Como permanecer satisfeito com uma televisão nova, quando se descobre que o vizinho comprou uma muito melhor e mais moderna pelo mesmo preço? Como abrir mão de um emprego com grande retorno financeiro, para se trabalhar com algo que é um dom verdadeiro, mas não reconhecido socialmente? Como abrir mão do objetivo de ser o primeiro? Como tirar nosso olhar do que está em cima e conseguir enxergar os que ficam à margem? Esse conceito de sucesso e orgulho vem de um erro de avaliação dos valores do ser humano. Para a sociedade, quanto mais bonito, forte, rico e popular é alguém, mais reconhecido e admirado será. Mas, quando pensamos no sentido da felicidade pela realização verdadeira e no “ser o que fomos criados para ser”, deveríamos fazer uma grande inversão nessa linha do reconhecimento. Nomeando a partir do menos importante, estaria a parte financeira e o aspecto físico (tão frágeis e passageiros). Depois, a inteligência (fruto do estudo e da capacidade cognitiva). Acima dela, a sabedoria (uso da inteligência baseada e limitada pela experiência do conhecimento do mundo e de Deus). E, no topo da realização humana, estaria a santidade. Essa sim determina a verdadeira evolução humana, de alguém que desenvolveu todos os potenciais Revista Renovação

colocados em si, fez germinar, crescer e dar fruto todas as sementes lançadas pelo Semeador, rendendo cem por um. Quem atinge a santidade, chega ao maior grau de desenvolvimento humano possível, é realizado por completo, mesmo que seja pobre ou ignorante das culturas sociais. Entendendo qual é o verdadeiro sentido da realização humana, deixa de ser algo irracional abrir mão do topo, do primeiro lugar, da fama. Afinal, se alguém está em cima, é porque outros foram deixados embaixo e esses outros são irmãos, amados, preciosos, que contêm em si faces de Deus tão lindas quanto as que são reveladas através das belezas da vida. Vendo por esse lado, permanecer entre os “piores” já não parece tão ruim. Pode ser que na derrota consigamos crescer muito mais do que na vitória. Talvez entre os mais pobres ou simples, os tesouros escondidos sejam muito mais valiosos do que os encontrados nos populares e famosos. Jesus viveu exatamente assim. Sabia valorizar a todos, sem se deixar levar pelas impressões externas. Deixava clara Sua preferência pelos excluídos, pelos menos favorecidos. E entre eles fazia verdadeiros amigos. Também sabia viver entre os ricos sem discriminá-los e fazê-los entender o que realmente vale a pena, como aconteceu com Zaqueu. Quanto mais Jesus se mostrava Deus Poderoso, mais Ele servia aos que estavam ao seu redor, mais demonstrava o valor de todos, mesmo dos mais sim-


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Especial

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ples. Até o ápice quando, às vésperas de Sua Paixão, se ajoelha frente aos amigos para lhes lavar os pés, como se fosse um dos seus escravos mais submissos. Dentro do nosso ambiente cristão, essa cultura do sucesso que gera admiração é evidente. Quanto mais uma pessoa se destaca na pregação, na missão, nas curas realizadas, mais ela é considerada especial, mais “amigos” existem ao seu redor, mais ela é convidada para os melhores lugares, mais regalias recebe. Mesmo sabendo que todo dom é precioso da mesma forma e que todos são especiais diante de Deus, sem distinção ou predileção, acabamos por refletir esses conceitos tão enraizados em nós. Ninguém pede um autógrafo ou uma oração para a senhorinha que limpou o banheiro durante todo o encontro. Mas, pode ser que ela seja mais de oração e tenha mais santidade do que os que estavam em cima do palco. E essa nossa atitude tem conseguido contaminar muitos dos que se colocam em missão e conseguem destaque. Com o tempo, o chamado interno de santidade, de pobreza interior, de simplicidade vai sendo substituído pelas necessidades do dia a dia, para se conseguir dar conta da sobrecarga gerada por tantos compromissos. E nos deparamos hoje com uma triste realidade de missionários com exigências extravagantes e excessivas, com atitudes de “gente famosa”, cada vez mais distantes do povo que Deus lhes confiou, e vivendo com excessos financeiros gerados pela missão. É claro que Jesus nos ensina que “o trabalhador merece o seu salário” (Lc 10,7), e Ele mesmo prometeu em Marcos 10, 29-30: “quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais, agora, durante esta vida...”. Ninguém tem capacidade para julgar o outro e não é essa minha intenção. Meu desejo é falar da fidelidade ao chamado, à voz de envio de Deus. Quão infeliz deve ser um coração que foi chamado a viver a pobreza da missão (com a liberdade e leveza que ela traz) quando se acostuma com as regalias desse reconhecimento fútil e passageiro da fama. Quanta solidão sente um servo chamado a encontrar

Jesus no povo, quando se vê cercado de “amigos” por interesse, ou quando, pelo excesso de compromissos, acaba se distanciando daqueles que seriam para ele a presença do próprio Cristo. É como afastar Madre Teresa dos pobres, ou impedir que São Francisco cuidasse dos leprosos, ou dizer a Dom Bosco que não poderia conviver com os jovens. Esse equilíbrio entre o que é necessário para bem desempenhar o que Deus me pede (incluindo conforto, segurança, alimentação, cuidados com a imagem, com a saúde...) e o que é minha vocação pessoal, meu compromisso de liberdade, minha pobreza interior, é algo que deve ser fruto de intensa vigilância por todos nós. Isso é fruto da verdadeira humildade. Acredito que o conceito real de humildade passa diretamente pelo conceito cristão de pobreza que, na verdade, diz respeito à liberdade interior, ao desapego às coisas externas e às capacidades humanas, sendo-se rico ou pobre, de bens ou de dons. Tendose muito ou pouco, não há diferença. Quem se percebe incompleto consegue aceitar com docilidade a necessidade de Deus para que se manifeste algo de bom. Para um coração humilde, o que importa é estar totalmente entregue, disponível ao querer de Deus, dócil às mudanças que Ele propõe, confiante de que Ele fará o que quiser. Conheço muitas pessoas com boa condição financeira que são muito mais desapegadas de seus bens do que alguns pobres financeiramente, e vice-versa. Por isso, a humildade proposta por Cristo vai muito além do que hoje se fala. Ela exige que se mantenha viva a consciência da própria pobreza, o reconhecimento das limitações humanas e da grandeza da ação de Deus que pode superar tudo isso, por pura graça e misericórdia, por necessidade (gerada por Seu amor) de se manifestar através de nós, mesmo sujeitando o perfeito Bem a se revelar por um instrumento imperfeito e pecador. É maravilhoso perceber a maturidade da humildade de Maria já no início da sua missão como mãe de Deus. Logo após a anunciação, quando vai se encontrar com Isabel, recebe um forte reconhecimento pessoal. Isabel lhe diz: “VOCÊ é bendita entre as mulheRevista Renovação

res, e é bendito o fruto do SEU ventre! Como posso merecer que a MÃE do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1, 42s). Diante desse reconhecimento próprio, Maria proclama a glória de Deus e redireciona todos os méritos para o Senhor: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.” (Lc 1,47ss). Maria teve maturidade para render toda a glória a Deus, mas também para não se esconder em uma falsa modéstia, menosprezando a obra que Deus fez através dela. Pelo contrário, afirma que foi realmente algo maravilhoso, grandioso, e que por isso desde aquele momento a proclamariam bem aventurada. Essa é a verdadeira humildade, saber reconhecer o que fazemos, entendendo que só podemos fazer o bem porque ele nos foi dado por Deus, fonte de todo Bem. Fico impressionada com a beleza da Lua. É uma das partes da natureza de que mais gosto. Ela é linda, forte, refletora de uma luz capaz de iluminar a escuridão da noite, chama atenção de todos por sua beleza e aparece no céu (na maioria dos países) por tempo semelhante ao do Sol, todos os dias. Porém ela não tem luz própria. Tudo que ela reflete vem do Sol, toda luz que irradia não é sua. Em algumas fases, o Sol lhe permite aparecer só parcialmente, bem fininha, discreta. Em outros momentos, ele a expõe por completo, mostrando-a cheia, luminosa, forte, chamando grande atenção. Mas, em todas as situações, ela é só o reflexo do Sol, ela só aparece porque ele empresta sua luz para que ela brilhe. Mesmo quando se mostra forte e vigorosa, ela continua sendo só um astro dependente e incapaz de brilhar sozinho. Ela nem mesmo pode escolher entre brilhar por completo ou se mostrar frágil, limitada. É escolha do Sol. A ela, cabe estar ali, no seu lugar, e deixar que a luz a atinja quando quiser, da forma como quiser. Ela sabe que sem o Sol ela não seria vista, ela não conseguiria cumprir seu papel. Como deveríamos aprender com a humildade da Lua...

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Tema Institucional 2014

novembro/dezembro . 2013 Por Maria Beatriz Spier Vargas

Coordenadora Nacional do Ministério de Pregação Grupo de Oração Magnificat

O tema para toda a RCC no Brasil em 2014 reflete essencialmente sobre a unidade. Beatriz Vargas, coordenadora nacional do Ministério de Pregação, conta como foi o discernimento do Conselho Nacional e fala sobre importantes pontos relacionados a esta nova moção.

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“Oh, como é bom e agradável para irmãos unidos viverem juntos. É como óleo suave derramado sobre a fronte, e que desce para a barba, a barba de Aarão, para correr em seguida até a orla de seu manto. É como o orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião; pois ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna” (Sl 132). Foi com esta Palavra que se iniciou a reunião do Conselho Nacional em setembro deste ano de 2013, o salmo que fala da união fraterna e da bênção que vem da parte do Senhor quando a vivemos, bênção de vida, de prosperidade, bênção eterna. Após a oração motivada por esse salmo, Dom Alberto Taveira, diretor espiritual do Conselho Nacional, falou sobre as palavras do Papa Francisco sobre a unidade na Igreja e estendeu o tema para falar também sobre a unidade dentro da RCC. Dom Alberto nos questiona: “Existem feridas contra a unidade? Podemos ferir a unidade da RCC? Infelizmente, nem sempre vivemos a unidade. Há tensões, divisões, conflitos. Somos nós que causamos as lacerações. Queremos empreender uma guerra contra o espírito de morte que ronda o mundo, mas não nos organizamos como o “exército do Papa”. O Papa Francisco nos lem-

bra das armas bíblicas do jejum e da oração para combater o mal, para ter a força para mudar o mundo. Precisamos renovar o espírito de oração e pedir a força do Espírito Santo, pois Ele é o construtor da unidade. O Conselho Nacional é uma instância de discernimento para a vida da Renovação, portanto os membros do Conselho devem ficar atentos ao mover do Espírito, atentos às indicações que o Senhor vai dando quando eles se reúnem. Ao longo da reunião foi ficando claro que somos chamados a aprofundar o amor fraterno e a unidade; a unidade dentro de nós que nos vem da comunhão com Deus e se traduz em retidão e paz; a unidade com os irmãos que se traduz em amor e misericórdia; a unidade no Movimento, vivendo a fidelidade ao nosso carisma; e a unidade com a Igreja, comungando a mesma fé, esperança e caridade e dando os frutos que a Igreja espera de nós. Partiu daí, portanto, o tema que vai nortear a caminhada da RCC Brasil durante todo o ano de 2014: conservar a Unidade do Espírito pelo Vínculo da Paz. O tema foi extraído do capítulo quatro da carta de São Paulo aos Efésios, o capítulo que fala sobre a unidade na Igreja: “Exorto-vos, pois – prisioneiro que sou pela causa do Revista Renovação

Senhor –, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do espírito no vínculo da paz. Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos.” (Ef 4, 1-6). Jesus Cristo é a nossa paz, Ele que pela virtude da cruz destruiu o muro de inimizade que nos separava, fazendo em si mesmo uma única humanidade nova pelo restabelecimento da paz. Ele é o vínculo porque é através dele que estamos unidos uns aos outros num mesmo corpo do qual Ele é a cabeça e é também por Ele que temos acesso ao Pai num mesmo Espírito (cf Ef 2, 14 s) . A unidade começa aos pés da cruz com arrependimento e conversão. Jesus nos ensina a amar sem esperar nada em troca, nos ensina a servir aos outros, a perdoar, a sermos misericordiosos. Se o amor que temos em nós não for assim, então precisamos ir a Jesus e, com sinceridade, apresentar a Ele as nossas fra-


Institucional Tema 2014

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quezas, pedindo que por méritos do seu sangue que nos abriu o caminho novo e vivo possamos ter uma vida também nova e cheia da graça vivificante do Espírito. “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que nos abriu através do véu (ou CÉU), isto é, o caminho de seu próprio corpo. E dado que temos um sumo sacerdote estabelecido sobre a casa de Deus, acheguemo-nos a Ele com coração sincero, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda mácula de pecado e o corpo lavado com a água purificadora do batismo” (Hb 10, 19-22). Muitos problemas de falta de unidade aparecem entre nós em virtude da dureza e duplicidade do nosso próprio coração. Deveríamos carregar como lema para a nossa vida este versículo bíblico: “Que vossa caridade não seja fingida. Adiantaivos em honrar uns aos outros” (Rm 12,9 a 10). É o amor fingido e hipócrita que cria obstáculos entre as pessoas. Pe. Raniero Cantalamessa, que foi o pregador da casa papal até recentemente, diz o seguinte a este espeito: “Amar sinceramente significa amar

neste nível profundo no qual não podes mais mentir, porque estás diante do ‘espelho’ sob o olhar de Deus.” É para dentro de nós mesmos que devemos olhar – sob o olhar de Deus – sob a supervisão do Espírito Santo – deixando que Ele sonde e perscrute o nosso coração. O que ocasiona a falta de unidade está dentro de nós na mágoa, no ressentimento, no julgamento, no sentimento de rejeição, nas nossas dores e feridas emocionais, na inveja, no ciúme. Precisamos ir a Deus com tudo isso que nos causa dor e fere aos outros e pedir a Ele que nos ajude a trabalhar estas dificuldades. Só seremos unidos se estivermos entranhados no seio da Santíssima Trindade e essa comunhão íntima com Deus é um ato individual. Devemos rezar e pedir ao Senhor que nos toque com sua graça, que nos cure com seu amor, que nos ilumine com sua luz. O resultado da ação misericordiosa de Deus em nós é a restauração da condição verdadeiramente humana, caracterizada por gentileza, compaixão, amor fraterno, que refletem a imagem de Deus em nós e se traduzem em atitudes externas que geram unidade e constroem pontes entre as pessoas. Mas, se é certo que aquilo que Revista Renovação

gera a falta de unidade está dentro de nós, também é certo que a solução para este problema se encontra, da mesma forma, no nosso coração: “E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rm 5, 5). O amor de Deus foi ‘derramado’ em nossos corações, isto é, foi dado em abundância para que possamos vencer os conflitos e ter paz. Quando estamos cheios do Espírito Santo conseguimos conservar a paz, conseguimos ser solícitos, conseguimos perdoar, temos paciência e misericórdia e temos alegria em servir aos outros, honrar aos outros, doar vida aos outros, cumprindo assim com nossa missão de tornar o Reino de Deus visível e presente já neste mundo. A Renovação Carismática Católica está caminhando rumo ao seu Jubileu de Ouro, que acontecerá em 2017. São quase cinquenta anos testemunhando ao mundo que Deus caminha conosco e nos capacita a testemunhar seu amor. Assim como os primeiro cristãos, queremos viver com simplicidade, com temor de Deus, ajudando-nos mutuamente a carregar nossos fardos, acolhendonos em nossas necessidades, queremos viver a alegria de termos sido reconciliados com o Pai, salvos por Jesus e ungidos pelo Espírito Santo. Unindo-nos à Renovação do mundo inteiro que propõe como programa de caminhada rumo ao Jubileu de Ouro, especialmente nos anos de 2014 e 2015, reavivar a chama do dom de Deus em nós (cf 2 Tim 1, 6-7), rendemo-nos incondicionalmente ao pedido de nossa Mãe Maria Santíssima: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2, 5). O que Ele nos diz é: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 12.17).

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Institucional

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um “novo chamado” de Deus na RCC e o vasto mundo do trabalho Os Profissionais do Reino são chamados a um novo trabalho dentro da RCCBRASIL. Em reunião com as lideranças nacionais e com o Conselho do Movimento, os membros discerniram novos direcionamentos para sua missão.

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“(...) amplia o espaço da tua tenda, desdobra sem constrangimento as telas que te abrigam, alonga tuas cordas, consolida tuas estacas, pois deverás estender-te à direita e à esquerda; teus descendentes vão invadir as nações, povoar as cidades desertas. (...)” (Isaías 54, 2-3) Você já sonhou com essa visão: sua Diocese, cidade e ambiente de trabalho, cheios de Profissionais Novos, RENOVADOS, capazes de ser, levar e transformar no mundo do trabalho o SONHO, os valores e os frutos do Reino de Deus por serem guiados pelo poder do Espírito Santo e pela força do Evangelho? Profissionais que sejam protagonistas de uma nova cultura no mundo do trabalho? Onde a partilha supera a mesquinhez e a ganância, a convivência fraterna supera o egoísmo e o individualismo exarcebado, onde ser grande é valorizar as coisas simples, pequenas do trabalho cotidiano e onde o forte é reconhecido como o que serve mais aos pequenos que estão nas “periferias existenciais” do mundo do trabalho? Então, eis o tempo favorável! É tempo Kairós para uma nova evangelização, uma Nova Primavera em nossas trajetórias profissionais e ambiente de trabalho. É tempo de

semear os valores do Reino de Deus com nossas profissões. O Conselho Nacional da RCCBRASIL iniciou, neste ano de 2013, um processo de discernimento sobre o “Novo Trabalho” dos Profissionais do Reino dentro do Movimento. Vivencia-se, a partir de agora, uma nova fase da vocação profética desses Profissionais do Reino que surgiram de forma mobilizada no Ministério Universidades Renovadas e que agora ampliam sua atuação como Assessoria de Serviço a todo o Movimento da Renovação Carismática Católica do país. De 11 a 13 de outubro de 2013, em Cotia/SP, foi realizada uma reunião entre as lideranças deste novo trabalho. Depois de meses de preparação espiritual, intercessão, escuta profética e adoração, foi inspirado um novo nome para os grupos de profissionais da RCC, que doravante se chamarão: GPR – Grupos de Profissionais do Reino. O Senhor confirmou o chamado e a vocação desses Profissionais do Reino ao “Novo Trabalho”, por meio de diversas palavras. Dentre elas, a passagem de Gênesis 12,1-2; 13, 14 -17: “O Senhor disse a Abrão: Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mosRevista Renovação

trar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos (...). Levanta os olhos, e do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. Toda a terra que vês, eu a darei a ti e aos teus descendentes para sempre. Tornarei tua posteridade tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar tua posteridade. Levanta-te, percorre a terra em toda a sua extensão, porque eu te hei de dar.” Esta visão, chamado, vocação se atualiza hoje em você, meu irmão , que já é um profissional, mas que agora é chamado a ser um Profissional do Reino de Deus! Deus, a Igreja, a RCC sonha com você, aposta em você, acredita em você! Sua vocação passa também pela sua resposta pessoal, comunitária e social da dimensão profissional ao Projeto de Vida Plena que o Senhor tem para você, para sua comunidade e a sociedade onde está inserido. O Profissional do Reino é um profissional vocacionado a colocar sua profissão a serviço da sociedade, conduzindo sua vida à luz do Evangelho, movido pelo Espírito Santo, ajudando assim a construir a Civilização do Amor.


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Desta forma a RCC visa contribuir ainda mais com a missão da Igreja em atualizar a Cultura de Pentecostes no mundo, evangelizando os trabalhadores e profissionais inseridos na sociedade, com iniciativas e linguagem específicas voltadas às profissões e ao vasto mundo do trabalho. Quais as expressões dos Profissionais do Reino? Para que esse chamado seja cumprido, os GPR atuam por meio das seguintes ações: GOTs – Grupo de Oração no Trabalho; EXPRO: Experiência de Oração para Profissionais; EPROA: Encontro de Profissionais por Áreas de atuação e conhecimento, visando o trabalho em rede de nossos Profissionais dentro e fora do Movimento; Projeto 1º de Maio: momento importante para semear a Cultura de Pentecostes, em que transmitimos ao coração dos trabalhadores que: “De Deus é o nosso trabalho”; Ferramentas, materiais e aplicativos virtuais específicos para uma orientação entre fé e vida profissional, com orações, literatura, reflexões, adequados ao desenvolvimento espiritual, doutrinário e humano dos Profissionais do Reino da RCC, da Igreja e do

Mundo do trabalho. Como organizar e implantar esta “visão” do Novo Trabalho dos Profissionais do Reino em sua Diocese? Procure seu coordenador diocesano da RCC, partilhe com ele sobre o trabalho dos Profissionais do Reino. Verifique se já existe um GPR em sua diocese para obter apoio e informações. Depois, entre em contato conosco da Comissão Nacional de Profissionais – CNP por meio dos contatos: profissionaldoreino@ gmail.com ou www.projetoprimeirodemaio.com.br. Encontro marcado no ENF Ainda para se aprofundar sobre esse assunto, convidamos você a se mobilizar com outros irmãos de sua diocese para um GRANDE MOMENTO: o Encontro Nacional de Formação da RCC, o ENF, que acontecerá entre os dias 22 a 26 de janeiro de 2014 em Aparecida/SP, no qual no dia 24 de janeiro teremos um Workshop dos Profissionais do Reino. Este será um momento importante para se obter formação, troca de experiências e capacitação para a aplicação desse novo trabalho em sua Diocese. Para participar de nosso

workshop no ENF, no momento da inscrição, na opção workshop, clique em Profissionais de Reino. Pronto! Temos um encontro marcado junto à Mãe Aparecida, em janeiro. Para fazer sua inscrição, acesse: http://www.rccbrasil.org.br/enf Convide seus amigos de trabalho e venha fazer parte desta abençoada família da RCC, vocacionada a semear no mundo do trabalho a Cultura de Pentecostes, “a única capaz de construir a tão sonhada Civilização do Amor”, como nos ensinava o Papa João Paulo II. Que possamos interceder por este novo chamado de Deus nas vidas de todos os Profissionais do Reino, por suas ações e desafios, a fim de que todos sejamos dóceis ao mover do Espírito para que possamos dar testemunho do Senhorio de Jesus através de nossas vidas profissionais. Abraços Fraternos, da Presidência do Conselho Nacional da RCC, Comissão de Trabalho e Articulação dos PdR e Comissão Nacional de Profissionais – CNP. Espírito Santo, que guiou Jesus Carpinteiro, São José Operário e Maria educadora e Rainha do lar, iluminai e guiai nossas vidas profissionais! Amém!

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Projetos Missão

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“Põe a tua mão nas minhas chagas”, este é o lema da nossa missão! Neste breve e emocionante relato, a missionária Fabiany fala sobre o lema da Missão Uganda, fazendo-nos entender, numa perspectiva diferente, por que tocar aqueles que estão abandonados em terras tão distantes de nós significa tocar as feridas do próprio Senhor Jesus.

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Os primeiros passos de toda caminhada são tão valiosos quanto os da chegada ao destino final, fato que se concretiza na Missão RCCBRASIL África, desde o nosso envio, até o alcance do sétimo mês, período que compreende a primeira etapa da missão. Amparadas nas promessas do Senhor, Rita e eu provamos de diversas realidades. Risos sustentados em lágrimas. Lágrimas de compaixão e um terrível sentimento de insuficiência diante das inaceitáveis e indignas situações do povo ugandense. Sobre todas as dificuldades e desafios, alcançamos o final do sétimo mês e, com a graça de Deus, com todas as nossas metas cumpridas: projetos finalizados para a construção da nossa base de missão, êxito da 1ª Campanha para compra de medicamentos aos portadores de HIV, missão em Angola, além dos trabalhos iniciados com a organização do II Encontro Mundial da Família Carismática. Uma fase intermediária e fundamental, foi o período em que estivemos de volta à nossa amada terra Brasil. Três meses de muito amor vivido. Visita as nossas famílias e amigos, Festival da Juventude Carismática, Jornada Mundial da Juventude, Escola Nacional de Líderes e Missionários. Um intenso itinerário que nos reavivou ao retorno para o início da segunda etapa da missão. Quando chegamos aqui, uma terra desconhecida, nosso olhar estava desconfiadamente curioso,

atento ao que se apresentavam aos nossos olhos. Era o momento de adaptação às novas realidades, de inculturação. Era preciso muito mais do que desenvolver projetos sociais, mas promover o outro, ser um com ele. Já na segunda vez, em nosso retorno para cá, para o início da nova etapa de nossa caminhada, nosso olhar tornou-se um pouco mais ampliado, transcendente à íris dos olhos, iluminado à luz da fé e palpável ao toque do Amor. Bem amados, antes mesmo de completar uma semana aqui na “Pérola da África” (Uganda), o Senhor Jesus veio de modo muito singelo e cativante apresentar-nos o “lema” da Missão RCCBRASIL África. Necessária foi somente atenção às palavras do Padre John Babtist Bashobora, capelão da Comunidade Yesu Ahuriire, enquanto tomávamos café da manhã. Ele partilhava de sua intrigante caminhada com os pobres aqui de Uganda. Na conversa, dizia ele: “Alguns que visitam e moram em Uganda não veem estes que aqui muito necessitam. Não veem, pois são como Tomé; precisam tocar para então acreditar. E, de fato, é isso mesmo, estão corretos! É preciso tocar e tocar nas feridas. Tocando nelas estarão tocando o próprio Jesus”. Como essas palavras faziam inquietar e arder meu coração. Não tinha dúvidas de que era Deus falando. Quando, após o café, iniciamos a nossa oração, Jesus veio mais veementemente revelarse. Assim como a mim, também à Rita, fez com que aquelas palavras do padre Revista Renovação

perdurassem até partilharmos uma à outra. Com clareza as palavras de Jesus vieram nos seguintes termos: “A partir de hoje eu me permito ser tocado por ti”. “Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” (Jo 20,27). Ah, queridos, esta passagem nunca antes havia tido este sentido. Jesus que nos toma por Tomé, permitindo-nos a graça de tocá-lo. Tocar as suas chagas, tocando as feridas deste povo tão sofrido. Feridas da desolação, opressão, fome, inumeráveis enfermidades, conflitos sociais, feridas do pecado e tantas outras somente visíveis aos olhos de Deus. Tocando esses “ferimentos” seremos sarados. Sim, curados de toda a nossa incredulidade. Enfermidades dos mais variados âmbitos. Pois, “por suas chagas fomos curados” (Is 53,5). E saibam todos aqueles que se dispuserem a ajudar a Missão RCCBRASIL África: o Senhor os chama a tocar as Suas chagas. Isso significa ir ao encontro dos feridos e ser curado. Esta é a paradoxal dinâmica do nosso Mestre. Não há outro caminho, este é o nosso lema, tocar as mãos chagadas de Jesus, receber antes de qualquer coisa a libertação de nossa falta de fé e testemunhar, sim, que Ele ressuscitou e reina entre nós. Conheça melhor a Missão Uganda, acessando: www.rccbrasil.org.br. Reze por este projeto, comprometa-se com este trabalho e conte ao seu Grupo de Oração sobre as maravilhas que o Senhor tem realizado naquelas terras de tanto sofrimento e abandono.


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Sugestãdo deleitura leitura Sugestão de

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LIVRO:

Três Segredos

um convite a despojar-se e entregar-se nas mãos do Pai Encontrar o sentido da vida no serviço ao irmão e fazer com que sejamos preenchidos pela cura e renovação interior. Essa é uma das alternativas propostas pelo autor francês, Jean Philippe Roullier, na sua obra: “Três Segredos”. Professor de Inglês, tradutor e pai de seis filhos, Jean Philippe foi atleta de corrida por muitos anos, o que fez com que o desenvolver do livro mostrasse experiências de fé e perseverança vividas por ele em sua “maratona da vida”. Assim, o autor explica que não devemos nos dominar pelo fracasso, ao percebermos nossa incapacidade de chegar até a vitória desejada. “Combater o bom combate”, (II Tim. 4: 7), algo que faz parte de uma sentença de glória por meio de esforço e aprendizado em situações difíceis, que farão fortalecer a caminhada do cristão. Além de testemunhar diversos momentos marcantes de sua conversão, o autor faz do livro uma ação de solidariedade em benefício à missão do nosso Movimento realizada nas comunidades ribeirinhas na Ilha do Marajó. Um ato que concretiza o conteúdo de missão e serviço na obra de evangelização. Sua narração leva-nos a meditar sobre nossa humanidade e nossos medos. Segundo o autor, quando enfrentamos os nossos próprios pecados, é possível que, às vezes, ainda sejamos tentados ao desespero. Apresentando o ensinamento de santa Tereza de Lisieux, “O desespero é vaidade”, argumenta que, se não queremos cair na vaidade, que continuemos voltando sempre a Jesus. Nesse caminho de entrega, Jean se sustenta pela passagem bíblica (Mateus 11, 28-9): “Vinde a mim todos os que estais cansados e fatigados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós minha carga e aprendei de mim que sou manso e hu-

milde de coração e encontrareis descanso para vossas almas”. “Eu acredito sinceramente que é chegada a hora para os cristãos e especialmente para os católicos de tomar a palavra do Senhor a sério. Deixe que a palavra de Deus seja a tua luz. Já existe relativismo suficiente em nossa volta. Quando Deus, pela boca do profeta, te diz que se confias no Senhor, tu encontrarás novas forças e que não cansarás, só há uma coisa a fazer: acreditar!”, ressalta o autor. O sentimento de unidade entre os cristãos também é ressaltado com frequência, uma vez que o autor considera ter vivido em um país conhecido na década de 80 como aquele que buscava a unidade entre cristãos católicos e evangélicos. Algo que precederia, mais tarde, um dos pilares da Nova Evangelização, citado na carta encíclica do Papa João Paulo II, em maio de 1995: “Cristo chama todos os seus discípulos à unidade. Meu desejo sincero é renovar este chamado, hoje”. Desta forma, ele aponta as razões pelas quais devemos mover-nos sem medo, na certeza de que não seremos decepcionados por Jesus, perseverantes e alegres na caminhada para conseguirmos continuar na graça de segui-lo, sem levar as nossas diferenças em consideração. Os elementos encontrados nos Sacramentos da Igreja, a formação e a prática do jejum são alguns deles. A prática do jejum é vista por ele de uma forma especial, ao mencionar que o jejum não é só a guerra espiritual que está em jogo, mas também integridade física e psicológica. O autor ainda convida à reflexão e oração para essa prática. “Quais maus hábitos estás disposto a renunciar pelo Senhor? Lembre-se: não o faça com as tuas próprias forças e Revista Renovação

confiança, permaneça humilde: “Senhor Jesus, eu sei que as minhas forças não duram muito tempo se contar apenas comigo. Concede-me esta graça de jejuar regularmente e ensina-me o que tenho que fazer”. Além desta prática, Jean apresenta elementos de fé e motivação como a confissão, formação, sacramentos, leitura da Bíblia e relação com Deus, as quais ele próprio intitula de “Cinco chaves para a perseverança”. Fato também testemunhado pelo autor é o apego às preocupações terrenas, em que ele faz um chamado a despojar-se nas mãos de Deus. O professor ainda se apresenta como um francês apaixonado pelos milagres da nossa Igreja, como o Milagre Eucarístico de Lanciano e o da Aparição da Virgem de Guadalupe. A maneira como ele narra cada um deles é um convite ao leitor a viver este mesmo sentimento de pertença à nossa igreja, tão rica em milagres e verdades de fé. O livro foi escrito em quatro línguas: português, inglês, espanhol e francês. A iniciativa foi do próprio autor, quando, em julho de 2012, no Encontro Mundial da Juventude Carismática, em Foz do Iguaçu/PR, compreendeu que o livro deveria ser lançado na Jornada Mundial da Juventude no Brasil, portanto precisava ser disponibilizado em diversos idiomas.

Para adquirir o livro, basta entrar em contato com a Editora RCCBRASILatravésdosite: www.editorarccbrasil. com.br ou pelo telefone: (12) 3151.4155

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Notícias

novembro/dezembro

. 2013

Momentos de escuta e oração para toda RCCBRASIL

Cinco dias em unidade, oração e escuta profética. Assim ficou marcado o encontro realizado pelos membros do Conselho Nacional da RCCBRASIL,

que se reuniram na cidade de Aparecida/SP, de 25 a 29 de setembro, para discernirem os direcionamentos do nosso Movimento, no ano de 2014. As 27 Unidades Federativas estavam presentes, além de membros da presidência nacional, coordenadores nacionais de Ministérios e demais convidados. No quarto dia do encontro, nossas lideranças foram até a cidade de Canas/SP para visitarem a construção da Sede Nacional e o Escritório Nacional. Durante a visita à obra da Nossa Casa, nossa Bênção, os conselheiros e convidados acompanharam o andamento da construção e, em seguida, realizaram um profundo momento de oração, em cima do palco do Centro de Eventos. Juntos clamaram pela

efusão do Espírito Santo naquele lugar e pelos Grupos de Oração de todo país. O local foi agraciado também pela presença do membro da comunidade Obra de Maria, padre Moisés, que, na oportunidade, realizou uma bênção especial sobre o local. Para finalizar, os participantes foram até as instalações do Escritório Nacional, na cidade de Canas, para conhecerem os funcionários, seus respectivos setores e tirarem suas dúvidas. O Conselho também orou pelos profissionais, pedindo o reavivamento na vida de cada um. A última etapa da reunião foi finalizada com a volta para Aparecida/ SP, onde nossos líderes puderam partilhar e concluir as promessas de Deus vindas ao nosso Movimento.

ENF 2014: Novidades e fortalecimento da unidade a cada ano que passa

www.rccbrasil.org.br/enf

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Em janeiro de 2014, o Centro de Eventos do Santuário Nacional de Aparecida/SP abre suas portas para receber, entre os dias 22 e 26/01, participantes de todo Brasil para o maior encontro de lideranças carismáticas do país: o Encontro Nacional de Formação, ENF 2014.

A cada ano que passa, o ENF ganha solidez e fortalece a unidade entre os membros do Movimento no Brasil, pois é ali que as moções e direcionamentos são vivenciados com grande ardor e profundidade. Para o ano de 2014, a RCCBRASIL preparou novidades na sua estrutura. Os participantes do ENF poderão optar por se acomodarem no Hotel Rainha do Brasil, hospedagem oficial do evento, onde poderão desfrutar de benefícios e descontos especiais. Para saber todos os detalhes sobre a hospedagem basta fazer sua inscrição (individual ou caravana) pelo portal da RCCBRASIL, por meio do qual as reservas serão intermediadas. Revista Renovação

Os valores das inscrições seguem de acordo com a data de realização da matrícula: Até 18/12/2013 – R$ 85,00; até 20/01/2014 – R$ 95,00 e inscrições no local – R$ 100,00. Lembrando que as vagas são limitadas, não deixe de anteceder suas inscrições para desfrutar dos benefícios com maior comodidade! Venha participar desta grande festa que promove a interação entre a liderança carismática e membros do nosso Movimento para levarem a Cultura de Pentecostes com mais unção e unidade em suas paróquias e Grupos de Oração.


novembro/dezembro

Notícias

. 2013

Colaborar e receber formação: IEAD e Amigos de Deus

O sonho de ver a Sede Nacional repleta de pessoas em unidade e partilha a partir do Batismo do Espírito Santo faz parte da vida de muitos carismáticos, pessoas que doam parte de seu tempo na evangelização e na busca pela formação. Um dos chamados que o nosso Movimento tem sido tocado a proclamar diante do projeto de construção da Sede é a unidade e a reconstrução da identidade por meio das práticas espirituais do projeto

Amigos de Deus. Por isso, o Instituto de Educação a Distância (IEAD) da RCCBRASIL destinou a renda das matrículas do curso Amigos de Deus às obras da Construção da Sede Nacional em Canas. Alguns dos inscritos testemunharam sobre a ação do IEAD e a colaboração através do curso. “Meu objetivo é colaborar em prol da construção da Sede Nacional da RCCBRASIL e ficar restaurada através da vivência das práticas espirituais. Estou muito feliz em poder estar recebendo formações espirituais”, partilha a professora aposentada da cidade de Nazaré/BA, Joselene Nazaré Araújo.

Membro do Ministério de Formação, o professor Héliques Mesquita Frazão, da cidade de Bom Jesus, no Piauí, também se matriculou no curso: “A motivação inicial foi contribuir com a construção e ao mesmo tempo, ter uma formação sobre ser um verdadeiro ‘Amigo de Deus’”. Este é quinto curso de formação do qual Héliques participa. Assim como Joselene e Héliques, testemunhe esta moção de reconstrução espiritual e vivencie esta graça por meio dos cursos de formação do IEAD, um retorno que irá refletir na sua vivência de fé, conhecimento e amor pela nossa Igreja e pelo nosso Movimento!

Lançamento do catálogo Semeando de casa em casa

A Renovação Carismática Católica do Brasil, através do Semeando de casa em casa, busca propagar a Cultura de Pentecostes em todo país. O projeto nesse novo semestre trará produtos exclusivos para o semeador em seu novo catálogo impresso e online. Baseado na temática da piedade e em nossa Fé no Espírito Santo, as imagens compõem as páginas que levarão os produtos e muitas novidades. Por meio do projeto Semeando

de casa em casa, carismáticos de todo Brasil atuam como canais de evangelização e difusão da Cultura de Pentecostes. Eles levam até as pessoas produtos de formação, espiritualidade, vestuário, presentes e todas as novidades da Editora RCCBRASIL, por meio de ferramentas especiais como nossos catálogos, para divulgarem os produtos. Visando melhor atender nossos irmãos, o objetivo do Semeando de casa em casa é aproximar, os membros da Renovação Carismática Católica, as distribuidoras e compradores através de revendedores, que se interessaram pelo projeto e fizeram seu cadastro pelo site. Por meio do catálogo, será lanRevista Renovação

çada a graciosa boneca Elena Guerra e o livro “Os Três Segredos”, do autor francês Jean Philippe Roullier, que tem como objetivo arrecadar fundos para a missão Marajó. Se você também gostaria de ser um semeador e estreitar esta ponte de relacionamento entre a Editora RCCBRASIL e carismáticos de todo país, por meio de livros, CD’s, artigos religiosos e formação, entre em contato com a Editora RCCBRASIL, através do telefone (12) 3151-4155 ou pelo e-mail: comercial@rccbrasil.org. br e saiba como adquirir o seu catálogo. Ajude você também na propagação da Cultura de Pentecostes através dos materiais de evangelização.

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Espiritualidade A vida no Espírito

novembro/dezembro . 2013 Por Darlen Macedo Vaz

Coordenador Estadual do Rio Grande do Sul Grupo de Oração Poço de Jacó

Humildade, via segura para caminhar com Deus A virtude necessária a todos os cristãos que aspiram às coisas do Alto é refletida pelo coordenador estadual do Rio Grande do Sul, Darlen Vaz. É preciso esvaziar-se a si mesmo e se colocar a serviço do outro, como o próprio Jesus ensinou.

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Qual o valor da humildade em nossa vivência cristã? Desde o início, nosso Mestre Senhor Jesus já apontava este caminho como uma via segura, quando Ele mesmo faz referência a si como manso e humilde de coração (Cf. Mt 11,29). Em sua condição humana - ao acompanhar sua vida pública e, também, porque não dizer, os anos que Jesus viveu no anonimato -, esta característica, ou seja, virtude, tomou forma e se manifestou ao mundo por suas palavras e seus atos. Portanto, também precisamos entender as origens da palavra “humildade” e como se traduz hoje esta virtude, que pode ser muitas vezes confundida por fraqueza. Humildade se origina do vocábulo latino humus, que quer dizer terra fértil, rica em nutrientes, preparada para receber a semente. Partindo desse significado, podemos entender que humildade é a capacidade que tem a pessoa humana de ser verdadeiramente altruísta, multiplicando em sua vida sinais de fraternidade e solidariedade, sendo assim sinal de contradição em uma sociedade que privilegia e reconhece, como personalidades, pessoas que se destacam na esfera social e econômica (não que estas não possam ser humildes, mas o problema está na forma como são reconhecidas). Seguindo este pensamento de Platão, podemos observar que a onisciência divina quis que o filho unigênito, Jesus, nascesse no insignificante estábulo, contrariando assim toda a expectativa pomposa do nascimento do salvador, revelando ao mundo uma presença de Deus nunca antes vista, a soberania que emerge na simplicidade da

humilde manjedoura. Jesus, um Deus que se faz humilde e se encontra com o homem em sua própria humanidade. Caríssimos irmãos, a manifestação de Deus na história, por meio de seu Filho Jesus Cristo, é uma forma concreta e máxima da humildade divina. E nesse ponto é importante destacar que em todas as religiões há uma busca do homem à divindade, mas no cristianismo há uma inversão: é Deus quem busca o homem. Vejam que belo isto! São Paulo, na carta aos Filipenses (Fl 2,7), fala do kenosis de Jesus: Ele esvaziou-se de si, sendo igual a nós em tudo, menos no pecado. Aproximou-se de nós sem limites sociais e, por isso, foi tão criticado e perseguido até a morte por aqueles que representavam o sistema religioso de sua raça. Humildade não é sinônimo de fraqueza, mas sim de sinceridade no reconhecimento dos nossos limites, valorização de qualidades e aceitação de fragilidades. Em relação às fragilidades, faço uma aspa, dizendo que esta aceitação não é algo estático, mas dinâmico, pela busca constante de superação e aperfeiçoamento em direção à santidade. Maria, modelo de humildade para a Igreja, reconheceu em seu cântico espiritual (Cf. Lc 1, 48-49) a obra do Espírito Santo em sua vida, e é por isso que ela é humilde, considerada por Santo Agostinho a “Forma Dei”, ou seja, a forma que Deus se utiliza para fazer santos. Em Maria temos uma indicação segura para alcançarmos a humildade e, em consequência, a santidade quista por Deus. Revista Renovação

Na jaculatória “Jesus Manso e Humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso” se expressa, por parte de quem a reza, o entendimento de que a eficácia da vivência e do anúncio dos valores evangélicos passa pela humildade. Virtude que é antagônica a tantas outras forças que distorcem a verdadeira face de Cristo como, por exemplo, a disputa por status social dentro, até mesmo, da Igreja. Jesus, na Quinta-feira Santa, nos deixou um exemplo a ser seguido: ao lavar os pés de seus discípulos, nos ensinou que o maior no Reino é aquele que serve. Humildade nos faz servir com desapego; buscando somente a vontade de Deus, esquecendo de nós mesmos, fazendo, também, como bons seguidores do mestre, nossa kenosis; mostrando ao mundo o verdadeiro Evangelho, o das periferias, da busca dos excluídos, o evangelho da vida. Em nosso tempo ávido de esperança, em que a cultura de morte se instaura por meio das leis seculares, em que o individualismo e egoísmo são praticados e cultivados pelo mercado que esquece o ser humano como tal e o coisifica como qualquer produto descartável de uma prateleira-, devemos clamar ao Espírito Santo por esta virtude tão salutar e tão poderosa como meio de transformação social através de nosso testemunho e serviço. Meu irmão, minha irmã, o mundo atual está se esquecendo do serviço ao próximo. Entendo que talvez possamos estar contraindo uma dívida social por deixarmos a virtude da humildade desaparecer de nosso comportamento, enquanto cristãos e cidadãos. Pense nisso, Deus Abençoe!




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