Revista Renovação. Edição 107 . Nov/Dez 2017
REVISTA POR QUE A SOBERBA É UM PECADO TÃO GRAVE? pág.06 AGENDA DE GÊNERO? PRECISAMOS PENSAR A RESPEITO! pág.25 NOSSA HISTÓRIA: PADRE EDUARDO DOUGHERTY RELATA COMO FOI O COMEÇO DA RCC NO BRASIL pág. 28 NA INTIMIDADE DO ENCONTRO COM JESUS ENCONTRAMOS ALIMENTO PARA A MISSÃO ENCARTE
COMO A FAMÍLIA DE NAZARÉ
Revista Renovação . Set/Out 2017
Nesta Edição
Espiritualidade
Grupo de Oração
06 Jesus, dá-nos um
20 Seminário sobre Batis-
coração igual ao Seu!
mo no Espírito Santo: Uma profunda experiência da espiritualidade da RCC
08 Soberba: a queda do servo, a queda do Grupo de Oração
10 Maria, modelo de humildade
Testemunho
da Sagrada Família
ENUR comemora Jubileu de Ouro da RCC no mundo
Especial 25 Agenda de gênero
22 Recebi um grande
28 Um novo zelo pela
Notícias
30 Recalculando a rota:
presente
14 Humildes aos moldes
24 Edição especial do
24 Retiro anuncia
16 Carismas sim, frutos não?
novidades na comunicação do Movimento
evangelização
ânimo novo e desafios renovados em 2018
EXPEDIENTE Publicação Oficial da Renovação Carismática Católica do Brasil
Jornalista Responsável: Lúcia Volcan Zolin DRT/SC 01537
ESCRITÓRIO ADMINISTRATIVO
Editada pelo Escritório Nacional da RCC do Brasil
Redação: Maria Mariana Revisão: Vero Verbo Serviços Editoriais
Rodovia Presidente Dutra km 46,5, sentido Rio de Janeiro, no bairro dos Marques, s/n
Fotos: Arquivo RCCBRASIL
Canas/SP
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Tel.: (12) 3151-4155
ANO 18 - Edição Nº 107: Nov/Dez 2017
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DA RCCBRASIL
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Editorial Revista Renovação . Nov/Dez 2017
DEUS RESISTE AOS SOBERBOS, MAS DÁ SUA GRAÇA AOS HUMILDES (Tg 4,6) Se você olhar para você mesmo(a), neste momento, poderá afirmar, com toda franqueza para se autoavaliar, que você é uma pessoa humilde ou soberba? Mas espere um pouco, não precisa responder agora; leia antes o que nossos colaboradores escreveram sobre o assunto aqui na Revista Renovação. Faça isso com sua mente e seu coração abertos: reflita em espírito de oração, pedindo as luzes do Santo Espírito. Por que pensar a respeito disso? Porque estamos diante de um assunto muito, mas muito sério, sobre o qual a Palavra não deixa dúvidas: “Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua graça aos humildes” (Tg 4,6). Deus resiste aos soberbos! É muito forte essa afirmação bíblica. A soberba, definitivamente, não agrada o coração dEle, não é compatível com a fé cristã. Basta lembrar que, soberbos, os anjos maus se rebelaram contra Deus e que a soberba levou Adão e Eva à queda. Mudou o rumo da história da humanidade. Mas como cultivarmos a virtude da humildade em um mundo que respira orgulho? Como combater esse mal em nosso coração? Se formos humildes demais não estaremos continuamente em desvantagem? Bem, esta é uma graça pela qual devemos clamar. Um pecado que devemos combater, porque, se almejamos o céu, precisamos erradicar de nosso coração o orgulho. Precisamos cultivar a humildade. Julgamos que seja um tema muito oportuno nesta última edição do ano da Revista Renovação, ano no qual tivemos Maria, modelo de humildade, como tema central de nossas reflexões. Oportuno, também, porque estamos próximos do Natal e nosso Senhor, aquele que se esvaziou de si mesmo, é manso e humilde de coração. E se Ele é, todos nós também devemos ser. Falando sobre Natal, seguimos para o Ano-Novo. Você também acha que 2017 passou rápido demais?
Ficou sem fazer muito do que tinha previsto na virada do ano? Bem, 2018 está chegando e provavelmente vai voar também. Está em nossas mãos (com a graça concedida por nosso Deus) torná-lo um ano mais produtivo. Temos um artigo instigante e motivador a esse respeito também. Vale a pena ler e se planejar. Vale a pena ler também os artigos formativos para Grupo de Oração, testemunhos e um texto que traz um assunto que tem causado muita polêmica nos dias atuais: a ideologia de gênero. Jubileu de Ouro E para finalizar nossa série com os pioneiros da RCC aqui no Brasil, temos a graça de conhecer um pouco mais sobre a história de Pe. Eduardo Dougherty, SJ. Se você ainda não tinha se dado conta, vai perceber que não dá para falar em RCC sem falar dele. Um servo de Deus que, com ousadia do Espírito, foi usado para trazer essa corrente de graça para nosso País. Nosso coração se enche de gratidão. Esperamos que essa edição realmente edifique sua vida, sua família, seu Grupo de Oração. E temos um pedido: leia, compartilhe e incentive outras pessoas a receberem a Revista Renovação. Primeiramente porque elas serão edificadas. E, também, porque ajudarão a edificar outras vidas, visto que os recursos financeiros advindos dos colaboradores que recebem a revista são usados para a evangelização. Sendo assim, pedimos que, em 2018, você ajude a tornar a Revista Renovação mais conhecida, alcançando mais Grupos e famílias. Agradecemos a você e desejamos que tenha uma leitura abençoada. Feliz Natal! Abençoadíssimo Ano-Novo!
Ajude a RCC Para fazer a doação por depósito bancário, a nossa conta é: Caixa Econômica Federal Agência 0495 Operação 003 - Conta corrente 3109-4 Escritório Administrativo da RCCBRASIL CNPJ 00.665.299/0001-01
Amado(a) irmão(ã), a sua colaboração para a Renovação Carismática Católica do Brasil tem proporcionado a realização de muitos trabalhos missionários Brasil afora. O grande trabalho evangelizador é desenvolvido semanalmente em quase 20 mil Grupos de Oração. A sua doação fortalece o Grupo de Oração e ajuda a levar a experiência do batismo no Espírito Santo a mais e mais pessoas. Obrigado! Caso você deseje colaborar com o Nossa Vida em Missão, entre em contato conosco. Ajude-nos também divulgando o projeto. (12) 3151-4155, (12) 98138-2000, cadastro@rccbrasil.org.br
Palavra da Presidente Revista Renovação . Nov/Dez 2017
Katia Roldi Zavaris
Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL Grupo de Oração Vida Nova
MANSOS E HUMILDES DE CORAÇÃO Amada Família Carismática, Esta edição de nossa revista propõe meditar a respeito da mansidão e da humildade. Quando se fala sobre esses temas, sempre me vem à mente a passagem de Lucas em que Jesus acolhe as crianças que estavam sendo repreendidas por Seus discípulos: “Jesus, porém, chamou-as e disse: ‘Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas. Em verdade vos declaro: quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha, nele não entrará” (Lc 18, 16-17). Percebendo a dificuldade de entendimento sobre o significado do Reino de Deus, Jesus propõe uma nova compreensão, pois estava claro para Ele que as pessoas não conseguiam perceber a verdadeira mudança que deveriam realizar em si mesmas para alcançar a Salvação. Por isso, Ele propõe essa comparação – quem não receber o “céu” como uma criança, não entrará no Reino de Deus. Não se trata de ser inocente e apenas encarar as coisas como uma brincadeira. Mais que isso, a pureza da criança normalmente ultrapassa sua pouca experiência e seu conhecimento. Ao contrário, as crianças são mais sábias que nós, adultos; por isso, muitas vezes nos deparamos com situações desconcertantes pelo novo olhar da criança para as realidades, com pontos de vista completamente diferentes dos nossos. E, às vezes, com soluções simples e práticas. Portanto, é preciso mais que conhecimento, raciocínio e capacidade de compreensão para perceber as exigências do Reino de Deus – e duas delas são: a humildade e a mansidão, as quais são características muito presentes nas crianças. De fato, o mundo adulto é sempre unânime em concordar com a necessidade de ser manso e humilde, mas termina por valorizar o oposto – a prepotência, o orgulho, o poder – por imaginar que esses atributos pode-
riam conferir respeito e honrarias. Mas, na verdade, são essas coisas que nos impedem de enxergar o essencial. Maria, Nossa Senhora e Nossa Mãe, nos ensina a sermos mansos e humildes: Quando o anjo lhe revela a grande missão que Deus lhe confiava, Maria proclama-se serva do Senhor. São Bernardino disse: “Como nenhuma outra criatura, depois do filho de Deus, foi tão elevada em dignidade e graça, assim também nenhuma desceu tanto no abismo da humildade como Maria”. Maria também nos ensina que, diante das graças e dos favores divinos, devemos ter uma atitude de humildade, reconhecendo sempre a grandeza de nosso Deus. E é reconhecendo a grandeza de nosso Deus que queremos agradecê-Lo por este ano tão maravilhoso, inesquecível e histórico na vida da Renovação Carismática Católica do Brasil e do mundo inteiro. Queremos expressar a Ele nossa gratidão pela graça derramada na Igreja há 50 anos. Graça que nos alcançou por uma poderosa efusão do Espírito Santo, como em um novo Pentecostes. Graça de celebrarmos também um Ano Mariano tão fecundo e entoarmos, com Maria, o Magnificat ao Nosso Senhor, nosso Deus e Salvador. Ao nos aproximarmos da celebração do nascimento de Jesus, reconhecemos o grande presente que foi o ano de 2017 para a RCC. Não poderíamos pedir ou planejar alegria tão imensa pela Sua presença no meio de nós, em cada Grupo de Oração e em todas as celebrações do Ano Jubilar, se estendendo até o Natal e o Ano-Novo. Desejo que o Natal esteja vivo dentro de nós em cada dia do ano que se inicia, para que possamos viver sempre o amor e a fraternidade. “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência divina” (Lc 2,14). Feliz Natal! Feliz 2018! Rumo ao Jubileu de Ouro da RCCBRASIL!
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Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
JESUS, DÁ-NOS UM CORAÇÃO IGUAL AO SEU! No mundo de hoje, tão soberbo, faz-se urgente que nós cristãos cultivemos a humildade em nossos corações e em nossas vidas. A palavra é clara: “o que se exalta será humilhado, mas o que se humilha será exaltado” (Mt 23, 12).
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ara termos um coração igual ao de Jesus, antes de tudo, é muito importante entender quem somos e qual é a nossa missão. Uma pessoa que, na Bíblia, nos serve como bom exemplo é João Batista. Ele tinha clareza sobre quem ele era e qual era a sua missão. Ele era de uma família judaica tradicional. Seu pai era da classe sacerdotal. Em sua família, aprendeu que a lei era o caminho para a justificação. Todos esperavam que ele seguisse o caminho do pai, Zacarias, sendo um fiel cumpridor da lei à moda antiga. Porém, João os surpreendeu quando resolveu vestir-se de pele de camelo e morar no deserto. Sob esse aspecto, João Batista “escandalizou” as pessoas que esperavam dele um comportamento tradicional. Contudo, ele tinha clareza sobre quem era e qual era sua missão, derivando daí a sua coragem de cumpri-la até o fim. João sabia com toda a certeza que ele seria “uma voz” que tinha vindo para preparar o caminho para o Messias, ele tinha vindo para dar testemunho da luz, Jesus Cristo, a verdadeira luz que vindo ao mundo ilumina todos os homens.
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Todo grande homem e mulher na história da Igreja, assim como no mundo secular, é uma pessoa que tem profunda consciência de quem é. Esta pessoa tem convicção a respeito de sua missão na vida. Ela não se
deixa confundir. A missão de cada um de nós, enquanto batizados, é a mesma de João Batista: dar testemunho da luz e preparar o caminho, seja por meio da pregação da Palavra, da nossa intercessão, dos cantos e animação, orando com as pessoas, tendo zelo com o Ministério que nos foi confiado, cuidando de nossa família ou de nosso trabalho, em tudo o que fazemos, cada um no seu campo de ação, devemos preparar o caminho para que as pessoas tenham um encontro pessoal com Jesus. Compreender isso é essencial. Muitos, infelizmente, por não terem entendido sua missão e seu lugar, ainda anseiam pelos palcos, holofotes, muitas vezes até com boa intenção, porém acabam divulgando mais a si mesmos que ao Senhor. Corremos, com isso, o risco de tirar o foco do essencial e ficar no acessório. Todo o que luta pelo Reino de Deus na Terra deve dizer como João Batista: “Que Ele cresça e eu diminua.”(cf.Jo 3,30) Em um versículo antes deste, João vai dizer: “Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa” (Jo 3,29). A grande alegria do servo, daquele que coordena, prega, intercede e ora é deixar as marcas de Jesus na vida das pessoas, é refletir a luz de Jesus para as pessoas para que a vida delas também seja iluminada, sempre com muita clareza de que nenhum de nós tem luz própria
Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
para refletir, só o reflexo da luz de Deus em nós pode realmente tocar a vida e o coração das pessoas. É PRECISO IMITAR JESUS PARA DEIXAR QUE ELE CRESÇA EM NÓS
A ordem de Deus para nós foi clara: “deixar que Jesus cresça e nós diminuamos”. As características da personalidade de Jesus precisam, portanto, sobressair em nós. Vamos pegar as próprias palavras de Jesus ao descrever a si mesmo: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
A pessoa de atitudes arrogantes, a pessoa que humilha os outros, que quer sempre provar que é importante, está só tentando receber dos outros um senso de dignidade do qual é carente Jesus é mestre em tudo e também mestre na síntese. Ele conseguiu sintetizar os mandamentos da lei de Deus em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Conseguimos, agora sintetizar todas as características de sua personalidade em duas palavras: mansidão e humildade. Jesus é manso e humilde. A palavra “humildade” deriva do latim: “húmus” que significa “chão”, “terra”. Para ser humilde é necessário ter os pés bem firmes no chão,
ter clareza sobre sua identidade, conhecer seus pontos fortes e suas fraquezas, mas estar aberto à Graça de Deus, estar aberto ao crescimento, à mudança. O humilde não se despreza, pelo contrário, ele tem uma profunda noção de sua dignidade enquanto filho (e filha) de Deus e, exatamente por causa dessa dignidade, ele não é arrogante, não é orgulhoso, ele não precisa do aplauso dos outros, não precisa de honrarias para provar que tem valor, que é importante. A consciência de sua grandeza, de seu valor, vem do fato de ele ser filho amado, filho digno do Pai. Ele pode até ser desprezado e maltratado, mas interiormente a sua grandeza e o seu valor permanecem. Ninguém pode roubar de um(a) filho(a) de Deus a sua dignidade. A pessoa de atitudes arrogantes, a pessoa que humilha os outros, que quer sempre provar que é importante, está só tentando receber dos outros um senso de dignidade do qual é carente. Jesus disse de João Batista que dentre os nascidos de mulher não havia ninguém tão grande como ele (cf. Lc 7,28). De todos os homens e mulheres, de todos os tempos, entre todos os santos, Jesus diz que João Batista é o maior de todos. João Batista sabe disso, porque ainda no ventre de sua mãe ele foi batizado no Espírito Santo (cf. Lc 1,41a), contudo, ele não mora em palácios, não come iguarias requintadas, não se veste de roupas finas, ele se veste com pele de camelo, se alimenta de gafanhotos e mel e mora no deserto. Ele sabe que a sua grandeza não está no exterior, mas sim deriva de sua missão e de saber quem ele realmente é. É por saber quem ele é que as pessoas reconhecem nele sua grandeza.
O orgulhoso se engana pensando que os outros não percebem nele essa fraqueza de caráter, mas todos percebem. Por outro lado, quando a pessoa é verdadeiramente humilde, os outros reconhecem a sua grandeza de alma. “Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo, ele tomou a palavra, dizendo a todos: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,15-16).
O orgulhoso se engana pensando que os outros não percebem nele essa fraqueza de caráter, mas todos percebem A humildade não nasce conosco. Ela deve ser aprendida na escola da vida. O bom de caminhar com Jesus é poder mudar o rumo da nossa vida a qualquer instante e começar uma vida nova. Diante de toda esta reflexão, resta-nos pedir ao Senhor: “Queremos um coração igual ao seu, amado Jesus!” Concluo com uma moção, que o Senhor me deu em oração: “A vaidade pode nos levar onde nós queremos, porém a HUMILDADE nos leva onde Deus quer!”
Por Leandro Rabello Diretor da Escola Nacional de Formação de Líderes e Missionários da RCCBRASIL Coordenador Estadual do Ministério de Pregação RCCRJ Grupo de Oração Mater Domine
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Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
SOBERBA: A QUEDA DO SERVO, A QUEDA DO GRUPO DE ORAÇÃO Em nosso mundo tem sido cultivado cada vez mais o pecado da soberba. Há muitas pessoas arrogantes, desejosas de atenção, querendo sempre ter razão. Terrivelmente também em nosso meio cristão, muitos de nós, porém, se destacam por esse pecado. É necessário nos avaliarmos todos os dias.
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epois deste Ano Mariano, que tanto engrandeceu a Igreja no Brasil e ajudou a Renovação Carismática Católica a meditar o papel da Virgem Maria na história da salvação, convém alertar sobre o vício que é o oposto da principal virtude de Nossa Senhora: a humildade é a espada e o remédio contra a soberba, a mãe de todos os pecados. “A soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda” (Pr 16,18). De fato, uma alma envenenada pela soberba está preparando sua destruição total, a perda de todos os bens espirituais já alcançados. Isso aconteceu com Lúcifer (cf. Is 14,12-15; Ez 28,1-19) e pode acontecer com qualquer um de nós.
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Para combater da melhor forma esse terrível erro, é necessário saber do que se trata. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1866, inclui a soberba em primeiro lugar na lista dos sete pecados capitais. Essa lista, recolhida por São João Cassiano, no século IV, com a sabedoria dos monges do deserto (obra Conlatio), foi compilada por São Gregório Magno, no século VI (obra
Moralia in Job). O Catecismo também ensina que “a repetição dos pecados, mesmo veniais, gera vícios, entre os quais se distinguem os pecados capitais” (CIC 1876). Um pecado capital, portanto, é um vício que gera vários outros vícios, ou “filhas”, na linguagem escolástica. De acordo com Santo Tomás de Aquino, o pecado da soberba é algo tão baixo e vil, que supera os outros pecados, sendo a raiz de todos os demais. Por esse motivo, Tomás prefere utilizar o termo “vaidade” no lugar de “soberba” na tradicional lista dos sete pecados capitais. Ao explicar, portanto, o que vem a ser o pecado da soberba, ele afirma que se trata de um “apetite desordenado pela própria excelência. Na ordem da intenção, a soberba é tida como o começo de todo pecado. Pelo fato que o homem não quer se submeter a Deus, segue-se que ele quer de modo não ordenado a própria excelência nas coisas deste mundo. Pertence à soberba não se submeter a alguém superior e principalmente não querer se submeter a Deus” (cf. Suma Teológica IV, 84, 3).
Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
Uma alma envenenada pela soberba está preparando sua destruição total, a perda de todos os bens espirituais já alcançados Veja bem: buscar a própria excelência (crescer espiritual, moral, cultural e afetivamente, manter o corpo e a mente sãos) é um bem, ou seja, algo bom e justo. O problema é quando a motivação para essa excelência não é o amor a Deus, mas o amor desordenado de si mesmo, que a Tradição da Igreja denomina como soberba. Em outra obra, Tomás de Aquino volta a esse tema e ensina que “A soberba geralmente é considerada a mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os sete vícios capitais” (cf. De Malo 9, 3). Deixar-se levar pela soberba significa que a pessoa, mais cedo ou mais tarde, cairá em uma série de outros pecados. Quando se quer destruir uma árvore, não é suficiente aparar os galhos ou mesmo derrubar o tronco; é necessário cortar a raiz. Ao se preparar para a confissão, é bom examinar se em nosso coração não há os três males que assolam o mundo: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1Jo 2,16), visto que a soberba da vida é o querer ser igual a Deus, senhor de si mesmo, não dependente nem subordinado a nada e a ninguém. Você tem dificuldade em aceitar correções? Em deixar-se amar? Em perdoar? Em servir caso seja
convocado em segundo, terceiro ou, pior ainda, como última opção? Em servir em trabalhos que ninguém note? Em rezar por si mesmo? Em aceitar opiniões contrárias? Em partilhar os bens e os dons que possui? A raiz de todas essas dificuldades concretas pode estar no vício da soberba.
Quando se quer destruir uma árvore, não é suficiente aparar os galhos ou mesmo derrubar o tronco; é necessário cortar a raiz A soberba no Grupo de Oração
O líder cheio do Espírito Santo deve estar atento aos sinais de soberba em seu coração. Quando se inicia uma nova coordenação e após intensos jejuns, sacrifícios, atos de caridade e adoração, os frutos começam a surgir em milagres e sinais nas reuniões. Há duas atitudes que o coordenador e o núcleo do Grupo de Oração podem ter: ou rendem uma grande ação de graças por tudo aquilo que o poder de Deus realizou por meio de seus frágeis servos, superando qualquer capacidade humana (cf. Bento XVI, homilia do dia 24/04/2005); ou se enchem de si mesmos, contemplando a bela obra que pensam ter criado, comprazendo-se em uma diabólica satisfação que os construtores da Torre de Babel almejavam para si: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos
assim célebre o nosso nome” (Gn 11,4). A ruína do Grupo de Oração (e do servo) começa quando esse desejo de fama, prestígio e poder se instaura no coração como uma pequena sombra que vai se alongando sem que se perceba, até que seja tarde demais. O resultado da soberba é a esterilidade ou a completa ausência de frutos (cf. Papa Francisco, homilia do dia 20/12/2013). Realizar as práticas espirituais do Projeto Amigos de Deus, incentivado há anos pela Renovação Carismática Católica do Brasil, é um bom preventivo contra esse mal. Que a Virgem Maria, a humilde serva do Senhor, ajude-nos a orientar para a glória de Deus nosso coração e todas as nossas ações. E, com ela, possamos cantar: “Manifestou o poder de seu braço, desconsertou o coração dos soberbos, derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,51s.).
PROJETO
Resumidamente, consiste em algumas práticas da piedade católica que ajudam a vivência do carisma da RCC: leitura orante da Palavra de Deus, recitação do Santo Terço, jejum, adoração e comunhão.
Por Pe. João Paulo Veloso Arquidiocese de Palmas (TO)
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Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
MARIA, MODELO DE HUMILDADE Maria sempre foi humilde. Nunca roubou a glória que era somente de seu Filho; sobretudo, em todos os seus atos apontou sempre para Ele. A Virgem do silêncio não desejou para si holofotes e reconhecimentos, mas fez-se escrava do Senhor. Nossa Senhora tem muito a nos ensinar.
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o mundo de hoje, dominado pela pressa, pela ganância, pelo acúmulo de bens, pela soberba, nada é mais reconfortador que a palavra de esperança do Cristo Salvador, que sejamos humildes e mansos de coração. A humildade é o instrumento necessário para nossa salvação, pois foi pela humildade que uma jovem acolheu em seu coração as palavras do Anjo e deu seu “Sim” para tornar-se a mãe do Salvador. Ela coloca-se de forma humilde, e não com orgulho, quando profere as sábias palavras: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Isso sim é um exemplo de humildade, quando se reconhece ser simples como somos aos olhos de Deus. Ou seja, não somos nada e também não temos nada, tudo que somos e tudo que temos é dom de Deus. Voltemo-nos para Maria, acompanhemos sua história, suas dores e suas alegrias. Aprendamos com ela a amar Jesus, nosso Salvador.
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A Virgem Maria foi escolhida por Deus desde toda a eternidade para ser a Mãe de seu Filho, sendo cheia de graça, como saudada pelo Anjo, trazia em si todas as virtudes em grau heroico e dentre elas podemos destacar a humildade. Embora soubesse ser mais agracia-
da que outros, como diz o grande santo mariano São Luís Maria Grignion de Montfort: “Deus reuniu todas as águas e chamou-as mar, reuniu todas as graças e chamou-as Maria”. Mesmo consciente da grandeza a que foi elevada, ela nunca se julgou acima de quem quer que fosse. Maria é essa mulher, do Gênesis ao Apocalipse, como também vemos descrita em Cânticos dos Cânticos 6,10: “Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha?”. Ela é a pessoa mais abençoada que já passou por este mundo. O Sagrado esteve durante nove meses em seu ventre virginal. Todos os seus dias foram intimamente ligados ao que há de mais sagrado: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Foi anunciada ainda no Antigo Testamento como a Mãe do Salvador. Dela o profeta Isaías vai dizer: “uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Is 7,14). Mesmo assim, ela se considerava a serva do Senhor, a mais humilde de todas as criaturas, como Ela revela a Santa Isabel de
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Turíngia: “Creia-me, filha, sempre me tive pela última das criaturas e indigna das graças de Deus”.
Ao receber de Isabel o louvor de que era a bendita entre todas as mulheres, não retém para si a glória, mas a devolve Àquele a quem é devida toda a honra Maria, a humilde jovem de Nazaré, depois de receber a visita do anjo e de escutar dele toda a notícia que lhe era trazida, acolhe em seu coração a vontade de Deus e responde com simplicidade seu “sim” misericordioso. Reconhecendo sua pequenez e toda a grandeza de Deus, ao receber de Isabel o louvor de que era a bendita entre todas as mulheres, não retém para si a glória, mas a devolve Àquele a quem é devida toda a honra, e sua voz assim ressoa “minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46-47). Pois é próprio de uma alma humilde reconhecer seu nada, como nos ensina Santa Teresinha do Menino Jesus: “Eu quero o último lugar (...). Sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele”. Santo Irineu de Lião nos diz que “a obediência de Maria desatou o nó da desobediência de Eva”, pois ela sendo uma mulher humilde se opõe à soberba Eva, uma vez que a soberba sempre quer, como disse Santa Catarina de Sena, “roubar a glória de Deus”. São Paulo nos alerta sobre a
soberba quando fala: “Em virtude da graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um conceito razoavelmente modesto” (Rm 12,3). Assim viveu a Virgem Maria, que tomou para si o último lugar. Como diz São Bernardo: “Com razão tornou-se a primeira a que era a última porque sendo a primeira se fizera a última”. Com efeito, “Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes” (1Pd 5,5). No Cenáculo, Maria, reunida com os apóstolos, perseverava em oração com eles, esperando a vinda do Espírito Santo que o Pai havia prometido. Ela que era a esposa do Espírito Santo estava com seus filhos dando exemplo de humildade e obediência. Foi com essa disposição que a Santíssima Virgem Maria sempre escutou e acolheu a Palavra de Deus e suas promessas. Ela nos ensinou a fazer a vontade divina imitando seu filho Jesus que disse “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29), a viver a virtude da humildade que São Bernardo nos ensinou com essas palavras: “Se não podes imitar a humilde Virgem em sua pureza, imitemos ao menos a pura virgem em sua humildade”. Maria é o modelo de humildade para todo cristão. Somos convidados a imitá-la, porque ela vive, espalha, demonstra e cultiva essa virtude. Esse é hoje o grande mal do século: tudo para si, nada para Deus, o contrário do que fez Maria como disse São João Paulo II em uma de suas catequeses: “É
uma Rainha que dá tudo aquilo que possui, comunicando sobretudo a vida e o amor de Cristo”. Aqui está o exemplo de Maria, com seu FIAT ela contribui para a salvação da humanidade. Ela acompanhou seu filho Jesus durante toda a sua vida na terra até o momento de Ele se entregar pela salvação de toda a humanidade. Lembremo-nos das palavras do Papa Francisco que convida todos a “sair de si mesmo” para entregar-se aos outros: “Você saiu de si mesmo na oração para encontrar-se com Deus; saiu de si na fraternidade para encontrar-se com os irmãos e saiu de si mesmo para evangelizar, para dar a boa notícia, em um mundo marcado pelo desespero e pela indiferença”.
Somos convidados a imitá-la, porque ela vive, espalha, demonstra e cultiva essa virtude Depois desse ano mariano, voltemo-nos para Nossa Senhora Aparecida, a humilde serva do Senhor, suplicando que nos envolva em seu manto de humildade e nos ensine com seu “sim” generoso a trilharmos o caminho da verdade, aguardando o triunfo de seu Imaculado Coração. Que ela volva para nós, pobres e humilhados pecadores, seu olhar materno de mãe e intercessora.
Por Arialene Vieira de Freitas Presidente do Conselho Estadual da RCC do Rio Grande do Norte Grupo de Oração Deus Imenso
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Espiritualidade Revista Renovação . Nov/Dez 2017
VOCÊ JÁ OLHOU PARA O CÉU HOJE? Em meio à pressa do dia a dia, às informações que nos chegam do mundo inteiro com uma velocidade indescritível, aos trabalhos profissionais e pastorais, às preocupações legítimas de quem tem responsabilidades, precisamos parar e nos perguntar: “eu olhei para o céu hoje?”. Deus tem nos dado nestes últimos tempos presentes que só quem ama com “amor de céu” pode nos dar. Vamos recordar... No ano de 2016, vivemos o ano santo da misericórdia, um jubileu extraordinário em que o Santo Padre, Papa Francisco, nos confiou. Abrindo as portas santas nas Igrejas do mundo inteiro. Algo inédito na história da Mãe Igreja. Quantas indulgências ganhamos pela prática dos sacramentos e das orações naquele período, levando-nos ao conhecimento, à prática e à consciência das obras de misericórdia corporais e espirituais. Que grande graça para todo o povo de Deus! Foi nesse mesmo ano de 2016 que o Conselho Nacional, em retiro na Terra Santa, fez uma das experiências mais profundas de direcionamento no Espírito para esses tempos, em que Jesus nos pedia, além de tantos apelos, “UM AMOR INCONDICIONAL A ELE” (Vede como eles se amam, p. 57).
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O Senhor já estava nos preparando para que pudéssemos viver intensamente e em sua graça e misericórdia nosso Jubileu dos 50 anos da RCC no mundo. Neste ano
de 2017, sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, a onipotência suplicante, também celebramos os 300 anos de sua imagem, que humildemente se deixa encontrar nas águas do Rio Paraíba do Sul. Quantas emoções e alegrias experimentadas por nós, carismáticos! Motivos de grande louvor! Ele nos presenteia com tudo isso, não somente para nos fortalecer na missão, mas porque nos ama, porque se preocupa conosco, porque quer nos salvar! Quer que não nos afastemos dEle. Quer estar com os seus, com quem Lhe dá ouvidos, com quem se deixa chamar de “amigo”, como chamou seus discípulos (cf. Jo 15,15). É por isso que não podemos arrefecer! Não podemos passar nossos dias sem olhar para o céu, sem querer o céu, sem experimentar por meio de nossos momentos pessoais de oração, de intimidade com o Senhor, o gostinho e o desejo da eternidade. Ele nos espera todos os dias, quer revelar-se a nós e quer a minha e a sua companhia! Não deseja somente o “nosso fazer”, mas a nossa presença. Assim como tão bem
definiu Santa Teresinha, a florzinha do Carmelo: “O Senhor não precisa de nossas obras, e sim do nosso amor”.
Ele nos espera todos os dias, quer revelar-se a nós e quer a minha e a sua companhia! Não deseja somente o “nosso fazer”, mas a nossa presença Precisamos encontrar um lugar, um momento do dia, para esse doce e maravilhoso compromisso com o amado de nossas almas, nos rendendo à sua vontade, saindo assim do coro daqueles que acham ser possível fazer as coisas de Deus sem estar com Ele. Que neste findar de ano, tempo da parúsia, e por toda a nossa vida, permaneçamos fiéis, com nosso olhar fixo no céu a contemplar sua glória! Por Luciana Neves Presidente do Conselho Estadual da RCC de Santa Catarina Grupo de Oração Água Viva
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HUMILDES AOS MOLDES DA SAGRADA FAMÍLIA É tempo de Natal! Tempo de aprendermos com a Sagrada Família a beleza da simplicidade. Tempo especial para ofertar ao Menino Jesus um coração disposto a deixar-se moldar por sua humildade e mansidão. Você está disposto(a)?
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uando chega o Natal, percebemos uma atmosfera especial em que sentimos o desejo de recomeçar, talvez porque por alguns instantes paramos e refletimos sobre o valor do que realmente é essencial e consequentemente brota um desejo profundo de paz e esperança no coração. E, nessa busca, nossos olhos se deparam diante de uma singela manjedoura que acolhe o Príncipe da Paz, e encontramos a presença frágil e cheia de ternura do Menino Jesus, que consegue acalmar a agitação de um ano inteiro de correria e preocupações decorrentes de um estilo de vida excessivamente consumista.
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Olhar para a manjedoura nos remete à beleza da simplicidade, da serenidade tão bem revelada na presença de Maria, Jesus e José. É sagrada essa família, pois acolhe Deus, diz Sim aos planos do Senhor e tornam-se exemplo de humildade
e fidelidade. A Sagrada Família de Nazaré tem tanto a nos ensinar: em Maria encontramos as virtudes da docilidade e da obediência tão necessárias para suportamos as adversidades e a injustiça; em José descobrimos as virtudes de ser honesto e trabalhador, contrapondo-se aos males das corrupções que empobrecem a alma; e o Menino Jesus – que nos ensina o valor de ser manso e humilde de coração e se entrega com tanto amor a todos – é Deus! É o próprio amor que deseja habitar não só no seio da Virgem Maria, mas no coração de todos os homens e mulheres para lembrarmos que somos sua imagem e semelhança e, portanto, filhos amados. Uma letra de uma música do Padre Zezinho nos faz lembrar da importância de ter em nossas vidas a referência do sagrado, da presença de Deus: “Tudo seria bem me-
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lhor se o Natal não fosse um dia e se as mães fossem Maria, se os pais fossem José e se os filhos parecessem com Jesus de Nazaré” (Música Estou pensando em Deus- Pe Zezinho). A Sagrada Família é um exemplo para nossas famílias e nos inspira a enfrentar os obstáculos para viver a vontade de Deus. É tempo de Natal e necessitamos parar um pouco não só para a ceia em família e as trocas de presentes, mas para ter anseio de estar diante da presença de Deus e adorá-lo, pois o nascimento de Jesus é o início do plano de amor para que tenhamos uma vida nova.
A realeza de Jesus é marcada pela pobreza que não desmerece em nada sua Divindade Jesus se fez pequeno para nos salvar. Essa é uma verdade que nos constrange, pois ainda no ventre materno foi rejeitado pelos homens por não ter um local para acolhê-lo, o que causou muita inquietação a Maria e seu esposo José, que foram a Belém para cumprir um decreto da época. “Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Esse recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um em sua cidade. Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com sua esposa Maria, que estava grávida.” (Lc 2, 1-5). Certamente Maria e José mu-
daram seus planos por causa da vontade de Deus, uma gestante no final de uma gravidez quer tranquilidade para ter seu filho, mas Maria não teve isso, pelo contrário, teve de fazer uma viagem longa, enfrentando os perigos que isso implicava. O decreto de recenseamento do imperador romano, porém, fez que o plano maior de Deus se cumprisse, pois foi em Belém que nasceu o Messias, cumprindo-se a profecia de Miqueias. Os propósitos de Deus não pouparam a Sagrada Família das dificuldades humanas e, em condições improváveis, em um estábulo, nasceu o esperado Salvador. A realeza de Jesus é marcada pela pobreza que não desmerece em nada sua Divindade. Maria e José foram os protagonistas bíblicos desse “acontecimento” que mudou a história da humanidade. Encontramos no Evangelho de São Lucas 2, 10-12 o anúncio do nascimento de Jesus: “O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa-nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isso vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”. Sendo de condição divina, Jesus se esvaziou de si mesmo e assumiu nossa humanidade. Isso é mistério de amor de um Deus que não se esconde, mas que vive no meio de nós. Ele é a Boa-Nova, o motivo de nossa esperança e nEle encontramos o sentido para nosso viver, o bálsamo para nossas feridas, a alegria que revigora nossas forças. Por isso, Jesus continua a bater em nossas portas, e se as abrirmos, Ele entrará e fará morada em nosso coração, e tudo se iluminará.
Que neste Natal possamos viver essa festa cristã segundo os moldes da Sagrada Família, com simplicidade e santidade, assim celebraremos verdadeiramente o nascimento de Jesus. Daremos a Ele a honra merecida, glorificando e adorando sua presença em nossas casas e famílias, que necessitam estar junto ao coração de Jesus para ter amizade com Deus, e, assim, aprenderemos a ser mansos e humildes de coração. Mansidão e humildade são as virtudes dos fortes, que compreendem que Deus não vê a aparência, mas o coração, e são escolhidos para confundir os sábios deste mundo. Ao olharmos para a Sagrada Família – Jesus, Maria e José –, seremos impelidos a nos preparar
Mansidão e humildade são as virtudes dos fortes, que compreendem que Deus não vê a aparência, mas o coração, e são escolhidos para confundir os sábios deste mundo para o Natal, ofertando ao Menino Jesus um coração disposto a deixar-se moldar pela humildade e pela mansidão. Glória a Deus no mais alto do céu e paz aos homens de boa vontade! dos!
Santo e abençoado Natal a to-
Por Josirene França Coordenadora Nacional do Ministério de Intercessão Grupo de Oração Quem como Deus
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CARISMAS SIM, FRUTOS NÃO? Carismas e frutos do Espírito são inseparáveis. Qual foi o ensinamento de Jesus? Que é pelos frutos que se conhece a árvore! Uma vida cheia de carismas significa um alto grau de compromisso com a santidade. A Mãe Igreja nos ensina que a vida no Espírito realiza a vocação do homem (CIC 1699), isto é, o homem torna-se santo, inteiro, plenamente feliz e verdadeiramente livre se vive segundo o Espírito, mergulhado nEle e conduzido por Ele. Ora, se estivermos cheios do Espírito Santo e formos realmente dirigidos por Ele, será inerente à nossa vida a produção de Seus frutos. Assim como a laranjeira não produz outro fruto que não seja laranja, alguém conduzido pelo Espírito Santo é permanentemente inclinado a produzir os frutos do Espírito. Somos, pois, chamados a ser como árvores plantadas à beira do rio, cujas folhagens jamais murchem e os frutos jamais cessem (cf. Sl 1,3; Jr 17,8).
Não se reconhece um verdadeiro cristão se nele não se encontrarem os frutos do Espírito Santo
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A esse propósito, Jesus nos ensina que é pelos frutos que se conhece a árvore e que nem todo aquele que O chama de Senhor entrará no Reino dos céus (cf. Mt 7, 16-21). Em outras palavras, não se reconhece um verdadeiro
cristão se nele não se encontrarem os frutos do Espírito Santo. Por isso, São Paulo nos exorta: “os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e as concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito” (Gl 5, 24-25). A Igreja nos ensina também que para respondermos ao Seu chamamento à santidade, Deus nos concede a graça santificante (CIC 1996ss.), o socorro gratuito dado por Deus, o favor divino que nos torna participantes da vida da Santíssima Trindade, conscientes de nossa filiação divina e capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do corpo Místico de Cristo. Os carismas, ordenados que estão à graça santificante, capacitam-nos para essa colaboração na missão de Cristo. Logo, santidade e missão caminham juntas. Não se pode dissociar carismas (ferramentas para a missão) de frutos do Espírito (resultados da obra de santificação operada pelo Espírito de Deus em nós). Dissociar aqueles destes equivaleria a dizer ao Espírito: “Espírito Santo, eu permito que Tu ajas através de mim, mas não em minha vida... Por favor, opere a salvação nos outros, mas não em mim...”. Ora, o mesmo Espírito opera em nós santificando-nos e impulsionan-
Dissociar aqueles destes equivaleria a dizer ao Espírito: “Espírito Santo, eu permito que Tu ajas através de mim, mas não em minha vida do-nos à missão. O Espírito deseja realizar essa obra completa em nós. Frei Elias Vella (Franciscano Menor Conventual, exorcista, escritor e pregador internacional) ensina que os carismas são como bolas que enfeitam as árvores de Natal cumprindo, pois, uma missão específica. A árvore de Natal não pode dizer “esses frutos são meus!”, porque foram colocados nela simplesmente para que ela cumpra uma missão. Já a laranjeira carregada de laranjas pode dizer “esses frutos são meus, foram produzidos por mim!”, porque ela precisou aprofundar as raízes, buscar água no solo e deixar-se inundar da seiva. Portanto, aspiremos à vida no Espírito, com todos os frutos e carismas! Por Vinicius Rodrigues Simões Presidente do Conselho Estadual da RCC do Rio de Janeiro Grupo de Oração Jesus Senhor
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Especialde Oração Grupo Revista Renovação . Nov/Dez 2017
SEMINÁRIO SOBRE BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: UMA PROFUNDA EXPERIÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE DA RCC Após meditarmos nas edições passadas sobre o Seminário de Vida no Espírito Santo, a Experiência de Oração e o Aprofundamento de Dons, chegou a hora de refletirmos sobre a importância do Seminário sobre o Batismo no Espírito Santo. Como, por que, onde e quem pode fazer esse encontro são perguntas importantes respondidas a seguir. Confira.
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No final do processo de iniciação da RCC, temos a etapa do Seminário sobre Batismo no Espírito Santo, que deve acontecer após a realização do Seminário de Vida no Espírito, Experiência de Oração e Aprofundamento de Dons. Embora sua realização seja opcional, é mais que válido conhecê-lo e, sempre que possível, aplicá-lo, uma vez que esse Seminário leva a pessoa a um maravilhoso e verdadeiro mergulho na experiência do Batismo no Espírito Santo. Além disso, apresenta elementos essenciais de nossa espiritualidade que auxilia e encoraja a pessoa para que caminhe na vida segundo o Espírito Santo (cf. Gl 5,25). Assim, a participação nesse Seminário é uma ótima conclusão para o processo de iniciação, porque ajuda a sedimentar no coração do fiel tudo aquilo que ele experimentou e aprendeu nas etapas anteriores, e também é uma sábia preparação para a formação básica da RCC, pois se revela um alicerce seguro para que a pessoa possa assimilar e bem digerir o alimento sólido ministrado posteriormente.
O Seminário sobre Batismo no Espírito Santo foi escrito pelo Grupo de Reflexão Teológico-Pastoral da RCC, que retomou assuntos tradicionais e históricos usados no início de nosso Movimento. Segundo o que diz os próprios autores, o “sentido experiencial do Batismo no Espírito Santo se manifesta em alguns sinais concretos, os quais podemos resumir em quatro, que são os objetivos desse Seminário: • Conhecer, de maneira pessoal e experiencial, a ação do Espírito Santo na vida do fiel, capacitando-o e santificando-o, com seus carismas, para a missão e o testemunho, bem como na manifestação de seus frutos; • Reconhecer Jesus Cristo, como Salvador e Senhor, numa resposta vivencial à vocação batismal: a santidade e a missão; • Progredir no relacionamento com Deus, nosso Pai, por meio de uma vida de oração fecunda;
GrupoInstitucional de Oração Revista Renovação . Nov/Dez 2017
• Crescer com os irmãos na vida e no amor fraterno, formando a comunidade eclesial, Corpo de Cristo”. Vale dizer também que o Seminário sobre Batismo no Espírito Santo traz uma FANTÁSTICA e acessível fundamentação doutrinária e teológica, apresentada como conteúdo introdutório e, portanto, não está contida entre os nove temas do Seminário. Essa fundamentação é um rico material de consulta para qualquer servo da RCC. Ela também ajuda o pregador a capacitar-se para a aplicação do Seminário, assim como também é útil para os participantes que quiserem, posteriormente, aprofundar-se no conhecimento de nossa identidade.
No final do capítulo, aborda a relação entre a experiência do Espírito e a conversão. Tema 04 – Batismo no Espírito Santo: inicia com a apresentação desse batismo como um princípio de vida nova e aborda sua relação com a fraternidade. Depois disso, explica em que consiste “ser batizado no Espírito Santo”, apresentando os seguintes aspectos: a. É uma nova missão do Espírito; b. É uma graça que renova e atualiza as graças já recebidas; c. É uma graça que liberta de obstáculos; d. É uma nova experiência do Espírito;
Após essa fundamentação, o Seminário apresenta os nove capítulos que se constitui no subsídio para os nove encontros semanais:
e. É o princípio de vida nova e fonte de frutos e carismas;
Tema 01 – O que é o Seminário sobre Batismo no Espírito Santo: fornece orientações importantes, introduz a pessoa no Seminário e a prepara para bem acolher todos os demais temas. Esse capítulo também ensina como fazer o diário espiritual e ainda apresenta os passos relevantes para o exercício de uma oração fecunda.
Tema 05 – É Jesus quem batiza no Espírito Santo: relembra e reflete sobre a pregação de Pedro após a experiência do Cenáculo e sua afirmação “A promessa é para todos”. Aprofunda-se, então, nas ações necessárias para receber o Batismo no Espírito, o que para nós, carismáticos, é um ensinamento riquíssimo.
Tema 02 – A pessoa e a missão do Espírito Santo: ensina sobre a trindade santa, a pessoa e a missão do Espírito Santo e Sua relação com a Igreja e com os cristãos.
Tema 06 – A vida no Espírito: uma das temáticas mais importantes para aquele que recebeu o Batismo do Espírito Santo. O capítulo começa abordando a vida no Espírito entre os primeiros cristãos. Em seguida, mostra o que é essa vida segundo o Espírito, as transformações que ocorrem naqueles que se deixam conduzir pelo Espírito, seus efeitos no ardor missionário e na vida comunitária.
Tema 03 – A promessa do Pai: mostra que Jesus promete o Espírito, que nos dará vida nova. Em seguida, trata sobre Pentecostes, como cumprimento da promessa e enumera os efeitos da efusão do Espírito Santo na vida dos apóstolos.
f. É o início de um novo caminhar no Espírito.
Tema 07 – Os Carismas: não traz explicações sobre cada carisma individualmente, mas aborda os pontos principais sobre o tema, localizando-o em nossa espiritualidade e apontando sua importância para a missão. Tema 08 – Os frutos do Espírito Santo: leva a pessoa a conhecer os frutos colhidos por aqueles que andam segundo o Espírito, não só os frutos elencados na carta aos Gálatas, mas também o fruto do amor! Tema 09 – A Comunidade Cristã: prepara os participantes do Seminário a se engajarem na comunidade e, de forma especial, no Grupo de Oração. No final de cada capítulo, é apresentada uma breve reflexão sobre o conteúdo e as seis passagens bíblicas para a oração diária durante a semana. Na verdade, esses elementos essenciais de nossa identidade foram responsáveis por transformar nossas vidas e dar uma nova visão sobre nossa existência, além de suscitar os Grupos de Oração como dinâmica eficaz para o acolhimento e para a evangelização. Se quisermos nos manter fortalecidos e avivados, tanto nosso ardor pessoal como o de nossos Grupos de Oração, devemos nos aprofundar continuamente em nossa espiritualidade e conduzir nossos irmãos a fazer o mesmo. Esse Seminário, dessa forma, é um caminho eficaz e privilegiado! Que possamos, sempre que possível, aplicá-lo e dele participar! Por Claudio Steula Coordenador Nacional do Ministério de Formação Grupo de Oração Sagrada Família
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Testemunho: Institucional A RCC na minha vida Revista Renovação . Nov/Dez 2017
RECEBI UM GRANDE PRESENTE O Grupo de Oração foi o lugar em que Deus fez uma promessa: a bênção que você espera vem dentro de uma caixa de presente. Em dezembro de 2016, descobri que estava grávida. Quando completei 13 semanas, fiz o primeiro ultrassom morfológico em que foi detectado que minha filha tinha a medida da translucência nucal muito elevada. O normal era 1.5, e a da minha filha apontou 4.3. Minha filha tinha uma chance muito grande de nascer com alguma síndrome. Saí daquele exame muito triste! Falei com minha obstetra, que solicitou um exame chamado Amniocentese (uma agulha enorme é colocada dentro da barriga para coletar o líquido amniótico). Fiz então o exame. Meu marido e eu frequentamos o Grupo de Oração Imaculado Coração de Maria nas noites de terça-feira. É o momento da semana em que reaquecemos a chama do amor de Deus em nós. É o lugar onde reforçamos nossa fé de maneira extraordinária e aprendemos muito. Fomos recebidos com muito carinho. Não ficamos mais sem o Grupo!
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O exame estava marcado exatamente em uma terça-feira. Foram três momentos durante a Reunião de Oração em que fui agraciada com a presença de Deus: o pregador pediu que elevássemos nossas mãos e orássemos. Ao erguer minha mão, senti que alguma coisa a segurava. Eu chorava muito e pedia a Deus para que fosse feita Sua vontade e que me desse sabedoria para enfrentar qualquer situação. Naquela noite, fomos motivados a escrever nossos pedidos em um papel, em oração, clamar por transformações e colocar o papel em uma talha. Na hora que chegou minha vez, o dirigente da oração disse: “Para tudo! Ninguém se mexe!
Deus está passeando aqui vestido de branco como um médico e está curando agora qualquer pedido relacionado à saúde”. Por último, o pregador disse: “a bênção que você espera vem dentro de uma caixa de presente”.
[O Grupo de Oração] é o lugar onde reforçamos nossa fé de maneira extraordinária Depois da proclamação, continuamos a colocar nossos pedidos na talha. No final da Reunião de Oração, chamei um servo e pedi que fizesse uma oração por minha gestação. Ao orar, senti um calor muito forte em minha barriga, até pensei em desistir da oração de tanto que a barriga queimava com a mão do irmão em cima dela. No outro dia, comprei uma caixa de presente e aguardei o resultado do exame. Meu esposo pegou o exame e o colocamos dentro da caixa. Oramos antes de abrir. Quando abrimos, veio a surpresa: nossa filha estava perfeita para honra e glória de Deus! Heloísa nasceu no dia 18 de agosto de 2017 perfeita, sem absolutamente nada. É uma princesa! Agradecemos a Deus todos os dias por nos ouvir e cuidar tanto da gente. O Grupo de Oração melhorou nossa relação com Deus, só tenho a agradecer! Por Joseane Andrade Magalhães Grupo de Oração Imaculado Coração de Maria Arquidiocese de Feira de Santana (BA)
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Notícias Revista Renovação . Nov/Dez 2017
RETIRO ANUNCIA NOVIDADES NA COMUNICAÇÃO DO MOVIMENTO
Coordenadores estaduais do Ministério de Comunicação Social e Equipe Nacional planejam ações na Comunicação do Movimento. De 13 a 15 de outubro, lideranças do Ministério de Comunicação Social reuniram-se na Associação Servos de Deus, em Goiânia (GO), e experimentaram a consolidação de
um novo tempo para a Comunicação do Movimento, que se concretiza na formação dos comunicadores para um serviço técnico permeado de sentido e espiritualidade. Na ocasião, foi partilhado o plano de formação traçado para o Ministério até 2019 e também foram anunciados os próximos passos para consolidar a Comunicação da RCC, com estratégias que devem alcançar os membros do Movimento e as pessoas que não participam dele.
Comissão Nacional de Comunicação
Foi apresentado também o retorno da Comissão Nacional de Comunicação, que vai atuar de modo integrado ao Ministério de Comunicação e ao Departamento de Comunicação do Escritório Nacional. Na prática, haverá um planejamento único e estratégias inovadoras que vão fortalecer a identidade carismática e espalhar a mensagem de Pentecostes nas diversas mídias.
EDIÇÃO ESPECIAL DO ENUR COMEMORA JUBILEU DE OURO DA RCC NO MUNDO
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“A moção para vocês é de multiplicação. Deus não os quer por apenas um período de quatro anos ou durante um tempo breve de vida universitária, Deus deseja multiplicar a graça em vocês. A missão que têm é para a vida toda. Multipliquem-se!”, convocou Katia Roldi Zavaris no ENUR 2017. De 2 a 5 de novembro, a cidade universitária de Santa Maria (RS) tornou-se a capital dos universitários católicos do Brasil. Cerca de 1.200 jovens de todo Brasil e de países da América Latina reuniram-se para o 16º Encontro Nacional das Universidades Renovadas (ENUR). O ENUR contou com a assessoria do padre Lucas Carvalho, responsável pela Pastoral Universitária da Arquidiocese de Santa Maria, que
presidiu a Missa de encerramento no dia 5 de novembro, e com a participação de outros sacerdotes: o bispo de Cachoeira Grande, Dom Ricardo Hoerpes; o bispo de Frederico Westphalen, Dom Antônio Carlos Keller, que ministrou um dos workshops; e ainda com o assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Danilo Pinto. Esteve no ENUR, também, a presidente do Conselho Nacional da RCC do Brasil, Katia Roldi Zavaris; o coordenador nacional da Comissão Nacional de Formação da RCCBRASIL, Vicente Gomes Neto; e o coordenador nacional do Ministério Fé e Política, Sérgio Zavaris. Foi realizado o lançamento da primeira apostila de formação do Ministério Universidades Renovadas, que integra, de agora em diante, o módulo de formação específica no processo de formação permanente da RCCBRASIL.
Além da pregação, do louvor e da adoração, aconteceram no encontro nove workshops, oito mesas temáticas, a quinta edição da Mostra Científica e a primeira edição do Simpósio de Inovações Pastorais. Um grupo de participantes do encontro visitou o local onde aconteceu o trágico incêndio da boate Kiss, que matou 242 universitários, em 27 de janeiro de 2013, para fazer uma oração pelas vítimas, pelos sobreviventes e por seus respectivos familiares. No final do ENUR, Ierecê Gilberto, coordenadora arquidiocesana da RCC Londrina (PR) e conselheira do MUR Brasil, ministrou um momento de oração, em que foi anunciada uma profecia: “Eu vos faço profetas da vida. Metei-vos no seio da Universidade. Eu vos envio, adentrai-vos, não vos poupeis. Desejo que vos consumais sem cessar. Não guardeis nada para si. Multiplicai vossos talentos, minha Providência não vos faltará. Assim diz o Senhor”.
Especial Revista Renovação . Nov/Dez 2017
AGENDA DE GÊNERO Proteja sua família dessa armadilha ideológica. Em 2015, o Papa Francisco fez um alerta sobre um dos temas que mais precisam da atenção dos cristãos na atualidade e declarou que: “a ideologia de gênero é um erro da mente humana que provoca muita confusão”. Quem defende essa ideologia afirma que o homem não nasce homem e a mulher não nasce mulher, mas o gênero é uma questão de escolha. Dessa forma, o sexo biológico passa a não definir mais o ser humano; ele sequer tem importância, contrariando a ordem natural estabelecida nas sociedades e os princípios mais sólidos da família cristã. A ideologia de gênero é nociva, sobretudo, às crianças e vem sendo difundida desde 1968 por intelectuais como Robert Stoller e a feminista Judith Butler. E por que só agora vemos seus efeitos? Na verdade, como toda ideologia, sua propagação começou em meios intelectuais. Um segundo momento foi substituir o significado da palavra “sexo” pela palavra “gênero”. A manipulação da linguagem é uma das ferramentas da ideologia de gênero como forma de subversão, mas não é a única. Na verdade, trata-se de uma agenda que começa pela desconstrução da identidade humana tal como acreditamos – cada um de nós foi criado homem e mulher à imagem e semelhança de Deus – e termina por negar a existência divina. Está sendo imposta à sociedade uma nova maneira de pensar: homem e mulher deixam de existir
sem qualquer pressuposto filosófico, sociológico ou antropológico, para inaugurar uma sociedade “agênera” ou sem gênero. Essa ideologia é articulada por grandes empresas de comunicação, artistas, intelectuais, políticos e ativistas ligados a movimentos de minorias. A mentalidade agênera chegou ao mercado de consumo. De olho em novos clientes, marcas presentes no dia a dia das famílias estão incentivando, por meio de campanhas publicitárias, que meninos e meninas usem a mesma roupa, brinquem com os mesmos brinquedos, ou, pior, invertam os papéis de menino e menina. Na política e na educação Na política também há movimentos. Alguns políticos tentam, a todo custo, aprovar projetos que implementem de forma legal a ideologia de gênero nos sistemas educativo, cultural e pedagógico. O uso de um banheiro único para meninos e meninas já é realidade em algumas escolas do Brasil. Neste momento mesmo acontece uma discussão importante no MEC, o Ministério da Educação do Governo Federal. Trata-se da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com a inclusão da ideologia de gênero – o Brasil até então não tinha uma base comum. O documento precisa ser revisado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e deve estar pronto para ser votado até dezembro de 2017. Após a votação, seguirá para homologação pelo ministro da
Educação, Mendonça Filho, e depois se tornará lei. A partir daí a base comum curricular será a referência nacional obrigatória para que as escolas desenvolvam seus projetos pedagógicos. O risco que o Brasil corre é ver uma agenda de ideologia de gênero ser imposta às famílias brasileiras por meio da educação básica. Como agir neste momento? Preparamos quatro dicas para proteger sua família. 1 – Ore pelo Brasil. Devemos pedir ao Espírito Santo que nos ajude neste momento de crises e toque o coração de todos aqueles que se configuram em autoridades constituídas para lutar “por nosso povo e nossa religião” (1Mc 3,43 ). 2 – Sejamos pais atentos. As crianças e os adolescentes estão sendo atacados em sua inocência e devem ser aconselhados em casa, conforme orienta a Palavra de Deus e a Sagrada Tradição da Igreja. O diálogo em família é essencial. 3 – Seja criterioso quanto ao conteúdo que entra em sua casa. Algumas emissoras de TV, revistas, canais na internet ajudam a propagar a ideologia de gênero. 4 – Participe da construção das políticas públicas. É fundamental acompanhar o debate das políticas públicas e agir como cidadãos conscientes. O Brasil precisa de participação e envolvimento. Não esteja alheio à realidade.
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Notícias Revista Renovação . Nov/Dez 2017
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Notícias Revista Renovação . Nov/Dez 2017
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Especial Revista Renovação . Nov/Dez 2017
UM NOVO ZELO PELA EVANGELIZAÇÃO Um dos pioneiros da RCC no Brasil, Padre Eduardo Dougherty, SJ, partilhou com a Revista Renovação suas primeiras experiências com o Movimento, depois da impactante experiência do Batismo no Espírito Santo. “Mal acabaram eles de orar, tremeu o lugar onde se encontravam. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam, com ousadia, a Palavra de Deus” (At 4,31). Passados 50 anos do Fim de Semana de Duquesne, um verdadeiro marco dos inícios da Renovação Carismática Católica, acredito que podemos fazer memória do caminho percorrido a fim de sermos animados no tempo presente e, com esperança, olharmos para o futuro: Jesus de Nazaré, o Batizador, continua aqui, vive e é o Senhor! “Se Jesus estivesse aqui nos dias de hoje certamente usaria a televisão para proclamar a Mensagem da Salvação”, disse-me o Espírito Santo em uma Palavra de Sabedoria, no ano de 1979, enquanto voltava de uma semana intensa de missões. Os fatos que antecederam esse momento, bem como os que se seguiram a essa experiência, são os que trato de lhes contar aqui.
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Em 1966, fui enviado ao Brasil para os estudos escolásticos. Fui aluno da Faculdade de Filosofia dos Dominicanos que, pouco tempo depois, foi fechada pelo DOPS durante o regime militar. Retornei, então, para minha província, nos Estados Unidos, que, em seguida, enviou-me ao Canadá para cursar os estudos teológi-
cos. Era nascente, naqueles anos, a Renovação Carismática Católica. Com um grupo de colegas, empreendi uma viagem de carro do Canadá até Lansing, Michigan, nos Estados Unidos, e participei de uma Experiência de Oração pregada por Ralph Martin, Stephen Clark e Padre George Kosicki; fui batizado no Espírito Santo naquele encontro, em 1969. “Pentecostes é hoje!”, anunciavam os pregadores com a palavra e com sinais (as manifestações carismáticas). A Bíblia deixara de ser, para mim, registros da história da salvação e passavam a ser vida em minha vida. Nas férias daquele mesmo ano, visitei o Brasil e presenteei o Padre Harold Rahm, SJ, com o livro Aglow with the Spirit (Inflamado do Espírito), de Robert Frost, que fala do Batismo no Espírito Santo. Contei a ele o que experimentara em Lansing e o que estava acontecendo nos Estados Unidos e em diversos lugares do mundo. Naquela mesma visita, rezei com um grupo de pessoas na Capela da Cúria Metropolitana de Campinas, na Rua Irmã Serafina, para que fossem batizados no Espírito Santo. Pouco tempo depois, viria a nascer o primeiro Grupo de Oração carismático do qual se tem notícia naquele exato lugar.
Especial Revista Renovação . Nov/Dez 2017
Padre Haroldo buscava dinamizar o Treinamento de Líderes Cristãos que ele mesmo fundara; organizou (em 1969) uma Experiência de Oração na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, onde havia uma Comunidade Universitária de Base (Comuba) profundamente influenciada pelo TLC. O jovem que coordenava a Comuba quando
A Bíblia deixara de ser, para mim, registros da história da salvação e passavam a ser vida em minha vida ocorreu a Experiência de Oração era o estudante de Letras Reinaldo Beserra dos Reis. De lá para cá, diversas experiências começaram a acontecer na Vila Brandina, em Campinas, e nos diversos lugares por onde passava o Padre Haroldo. Em 1970, aos 24 anos de idade, fui ordenado sacerdote e dediquei os primeiros momentos de meu ministério – a pedido de meu provincial – a especializar-me e pregar os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola por toda a província. Sempre que possível, porém, visitava o Brasil e atualizava os primeiros servos do Movimento nascente a respeito do que acontecia nos Estados Unidos. Em 1972, retornei ao Brasil (agora como sacerdote). Havia, naquele período, diversos focos de Renovação espalhados pelo Brasil, ao redor de pregadores itinerantes. Muitos desses focos estavam ligados aos diversos movimentos de conversão que realizavam um belíssimo trabalho com a juventude católica brasileira (“TLC”, “Construin-
do”, Cursilho etc.). Foi durante esse período que iniciei uma Equipe Nacional de Serviços da Renovação Carismática Católica. Logo no início, houve a tentação de adaptar a nascente Renovação aos moldes do que era preconizado como “palatável” à situação da Igreja no Brasil, na década de 1970: alguns propunham uma Renovação que evitasse o exercício dos carismas efusos. Eu havia entendido que o exercício de carismas não era periférico e acidental, mas essencial na Renovação. Em 1979, toda a liderança da Renovação Carismática Católica abraçou amorosamente o projeto de nossa Associação como nascida da RCC, comungando de sua identidade, sua missão e como um serviço a esta. Em 1983, começamos a pregar pela televisão com um programa de meia hora por semana, na TV Gazeta (que atingia toda a
Eu havia entendido que o exercício de carismas não era periférico e acidental, mas essencial na Renovação grande São Paulo), chamado Anunciamos Jesus. Pouco tempo depois, o programa passou a ser veiculado nacionalmente na Rede Bandeirantes. Monsenhor Jonas Abib tornou-se apresentador desse programa da Associação do Senhor Jesus. A década de 1980 caracterizou-se pela consolidação da Renovação Carismática Católica no Brasil. Nos estádios do Morumbi e do Pacaembu, reuníamos pessoas de toda a nação em concentrações
que ultrapassavam 150.000 (cento e cinquenta mil) participantes. As principais recordações desses grandes Cenáculos a Céu Aberto estão em nossos arquivos, pois éramos os responsáveis por toda a gravação destes. Com alegria, os brasileiros assistiam o Anunciamos Jesus em que se apresentava um resumo do Cenáculo de cada ano. Em 1993, respondendo ao apelo do Senhor à unidade, à Missão e à conservação da identidade da Renovação, organizou-se a Ofensiva Nacional da Renovação Carismática Católica. Tive a alegria de, durante um longo período, oferecer suporte à Comissão Nacional de Serviços (braço executivo do Conselho Nacional). Oferecíamos nossos recursos (10% das vendas do livro de cantos Louvemos o Senhor, tão propagado naquela época, eram destinados às necessidades da Ofensiva, para citar um exemplo) e equipamentos de trabalho. De fato, a Associação do Senhor Jesus sempre existiu como um serviço à graça de Pentecostes. Eu acredito que isso tudo é apenas o começo. Acredito que Pentecostes é o começo. Coisas que os olhos não viram, que os ouvidos não ouviram e que o coração humano não cogitou são os bens reservados para nós em Jesus Cristo (cf. Is 64,4). Nós precisamos voltar à escuta de Deus, perseguindo a submissão de nossa humana vontade à Divina Vontade. Os carismáticos têm zelo pela Evangelização. Que possamos ver, nos próximos cinquenta anos, obras ainda maiores que estas. Por Padre Eduardo Dougherty, SJ Pioneiro da RCC no Brasil e fundador da Associação do Senhor Jesus
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Especial Revista Renovação . Nov/Dez 2017
RECALCULANDO A ROTA: ÂNIMO NOVO E DESAFIOS RENOVADOS EM 2018 O ano mal terminou e já tem gente se lamentando. Até o dia 31 de dezembro está aberta a temporada do “este ano voou e eu não fiz nada!”. Em vez de chorarmos imersos na própria frustração, por que não olhamos para a frente e encaramos que há um novo ano chegando, com novas chances e oportunidades? Se você é uma daquelas pessoas que gosta de planejar, continue assim. Pode até parecer coisa de “autoajuda”, mas não se engane: a mente humana precisa estar engajada em compromissos muito claros. Concluir uma faculdade, fazer um curso novo, crescer na vida espiritual, visitar os doentes uma vez por mês, se alimentar melhor... São metas que nos levam a objetivos de vida como viver saudável, ser um cristão mais caridoso ou um profissional melhor. São Paulo comparou a vida cristã com uma corrida. No final, o vencedor recebe um prêmio. Isso nos mostra quanto é necessário
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estar engajado em algo. “Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras” (2Tm 2,5). A verdade é que sem um objetivo claro na vida fica difícil saber onde se quer chegar. É fato que nossa meta maior é a santidade, semeando o Reino de Deus na terra. Entretanto, nesse caminho às vezes pode faltar um propósito. Por isso, muitos cristãos se organizam por meio de objetivos claros a serem alcançados na vida espiritual, na prática da caridade, bem como buscam servir melhor em sua profissão, sendo um pai ou uma mãe melhor ou vivendo de forma mais saudável. Durante a corrida vem o cansa-
s a e u q o l o c e Anote-as ica! em prát
ço, mas não podemos desistir antes de alcançar a meta. São Paulo apenas descansou quando, prestes a morrer, concluiu: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7). E se traçarmos algumas metas e não as cumprirmos? Bola para frente! O próximo ano está à sua espera, para novos objetivos e novos propósitos. A esperança cristã é uma das virtudes teologais. E ela se renova a cada manhã. É preciso ter esperança também em si mesmo(a), confiar mais no próprio potencial, “pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria” (2Tm 1,7).
Por Jersey Simon Coordenador Nacional do Ministério de Comunicação Social Grupo de Oração Sagrados Corações
Notícias Revista Renovação . Nov/Dez 2017
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