Revista Nós nº2

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ao i va a nh nós ro ros No out a io de o , c nt í o e o g r i br ntr arti at or a te es F nco eu d s e no ue s no o ia q p m s te oe s ,p do ão fim ans , ck exp s o r em a c i o n s nio rít e ô nt rim s c e cr pat da o ta

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EDITORIAL

Prestes a completar um ano de existência, o Programa Rede Cultura Jovem lança o segundo número da revista Nós, embasado pela repercussão positiva e no consequente aprimoramento de sua primeira versão. A ideia de rede, de teia, uma das grandes metáforas de nosso tempo, vem sendo desenvolvida por meio de variadas ações do Programa, visando a conectar os jovens de nosso estado a partir da valorização e do incentivo à prática da arte e da cultura. Trata-se, como sabemos, de uma forma de organização coletiva que estimula as relações humanas, a conquista de novos espaços de manifestação cultural e a comunicação apoiadas na colaboração e na cooperação entre os grupos, os indivíduos e as comunidades envolvidas. O Portal YAH, sua principal ferramenta tecnológica, foi reformulado e adequado às novas exigências de usuários sempre antenados com os avanços dos processos de transmissão de informação e de compartilhamento de experiências pelas redes sociais. Pretendemos oferecer assim condições cada vez mais atualizadas para a troca de experiências e de saberes e para o exercício da consciência crítica. A revista Nós cumpre o papel fundamental de criar um espaço privilegiado de produção de textos críticos, de jornalismo colaborativo e cultural e de dar visibilidade ao trabalho de inúmeros jovens autores, escritores e criadores do nosso estado. Boa leitura a todos!

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Dayse Maria Oslegher Lemos Secretária de Estado da Cultura do Espírito Santo

Olá, Leitor! A revista Nós é um espaço para o exercício autônomo e criativo das diversas juventudes capixabas e, se você observar bem, perceberá que a presente edição trata, essencialmente, de espaços: Do graffiti nos muros e nas paredes da cidade à tatuagem na pele, do merecido reconhecimento para os jovens músicos instrumentistas à circulação de produtos editoriais jovens, da presença feminina no funk ao audiovisual feito por jovens no Estado, da percepção do valor histórico à ausência poética dos espaços cotidianos, das paisagens às possibilidades de encontro da cidade. Na maior parte dos conteúdos da Nós nº 2 você entrará em contato com as tensões e com as potencialidades da ação jovem sobre os mais diversos espaços, sobre os diferentes jeitos de experimentar a espacialidade. Aqui é o lugar – impresso, colorido, imagético, textual e gráfico – para a expressão dos criadores jovens capixabas. A Nós é o seu espaço!


SUMáRIO Conheça o perfil dos colaboradores da Nós nº 2 na página 48 desta edição.

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4 Conheça o perfil dos colaboradores da Nós nº 2 na página 48 desta edição.


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circuito

Um retrato da diversificada cena musical jovem do Espírito Santo, a quarta edição do Festival Prato da Casa recebeu inscrições de mais de 100 bandas e acontece no próximo dia 11 de dezembro, em Vitória. Participam do evento as bandas James, Já Elvis, The Singles, L-20, Shotgun Corporation, Anti-Milk, Redento, Manfredines, Fernando Balarini, Hypnotzion, Subversivos, Lis E A Era Briluz e Utruru. O Festival lança um CD com gravações das bandas selecionadas e é

site funciona como uma rede social, onde os usuários podem postar seus trabalhos musicais ou apenas conferir o que está rolando. Lá, você encontra informações sobre a história do rock capixaba, agenda de shows e vídeos. Os idealizadores do Portal pretendem lançar uma coletânea, Espírito Rock vol. 1, com músicas de bandas selecionadas por meio da rede social. Acesse: www.espiritorock.com.

Victorhugo Amorim

organizado pelo programa Bandejão 104.7, da Rádio Universitária FM.

O Portal Espírito Rock nasceu para ser o espaço do rock capixaba. O

oficinas de férias Nas férias de verão a galera jovem da Grande Vitória tem o Centro de Referência da Juventude de Vitória (CRJ) como lugar garantido Lançado em outubro deste ano, o DVD Palavra Ilustrada traz poemas recitados por jovens participantes da Oficina de Teatro do Centro Cultural Araçá, de São Mateus. A produção também conta com entrevistas de artistas mateenses envolvidos com a literatura local.

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para se encontrar. Durante o mês de janeiro, acontecerão oficinas gratuitas para jovens com idade entre 15 e 29 anos. O CRJ conta com laboratório multimídia, estúdio, equipamentos de som e vídeo, além de área própria para atividades culturais e esportivas. Mais informações pelo telefone: (27) 3132-4042.


Drielly Rdrigues

Produção audiovisual jovem JOGO CAPIXABA

Alex Reblim (Afonso Cláudio), Eduardo Ojú (São Mateus) e Nata-

O jogo CPI Brasileira ou Corrida Presidencial Infinita Brasileira,

nael de Souza (Vitória) foram os três jovens capixabas seleciona-

elaborado por estudantes do curso de Tecnologia em Jogos Digitais

dos para participarem das Oficinas de Realização Audiovisual da

da Faesa, foi selecionado para o Festival de Jogos Independentes

Galpão. Além deles, outros 13 jovens de diferentes regiões do País

que aconteceu este mês durante o IX Simpósio Brasileiros de Jogos e

passaram por uma intensiva formação sobre audiovisual, voltaram

Entretenimento Digital – o SBGames 2010, em Florianópolis-SC. O

para as suas cidades e fizeram as suas produções acontecerem.

CPI Brasileira funciona como uma sátira ao recente processo eleitoral

Saiba mais: www.oficinasgalpao.org.

e o jogador escolhe ser um “canditato” que competirá com outros rivais para ser o presidente do Brasil. A versão integral do jogo pode

Paulo Gois Bastos

ser baixada no site oficial www.freiyagames.com.

Um projeto ousado e o trabalho de uma galera amadora deram origem ao longa-metragem La Serena. A ideia foi a seguinte: produzir

MÚSICA NAS MONTANHAS

um filme de ficção no interior do Estado, sem recurso público e com

A difusão da música erudita esquentou o XVII Festival de Inverno de

a equipe formada exclusivamente por pessoas da região do Caparaó

Domingos Martins, realizado de 22 de julho a 1º de agosto de 2010.

capixaba. Cerca de 150 moradores de Muniz Freire participaram

A cidade contou com uma extensa programação de apresentações

da produção. O roteiro gira em torno da história de uma excêntri-

culturais e oficinas musicais. Os cursos contaram com a participação

ca senhora que conta sua vida para um novo amigo após a morte

de jovens músicos de diversos Estados. O Festival teve inspiração no

de seu cão. Lançado em outubro, La Serena está disponível para

bicentenário do nascimento do pianista polonês Frédéric Chopin e no

download no endereço: www.munizfreiretv.com.br/cineinterativo/

centenário de nascimento do compositor brasileiro Noel Rosa.

laserena.wmv

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foto Luara Monteiro


NOvELO

OBJETOQUADRADO@GMAIL.COM

rodrigo hipólito as tensões do efêmero no concreto provocadas pela imagem-lugar graffiti É possível ouvir o som das sirenes, dos sorrisos, dos gritos e das batidas nos muros frios da madrugada urbana, mas os auto-falantes não estão fora e sim aqui dentro. Fácil encontrar-se com o carrossel

o graffiti mantém uma propriedade reconhecível e indefinida. Não fosse assim, chegaríamos até tal discussão? Há galerias de arte exclusivas para o graffiti, que ainda está no

de insinuações multiformes, multicoloridas, multiplicadoras nas vias

início da sua caminhada pelas paredes do museu. Apesar de já o

principais da cidade. Cada imagem grafitada é um item (e um mar)

termos visto dentro de museus, ele ainda é um convidado excêntrico

na coleção impossível de sensações e proposições que é a cidade

nessa mesa elitista, pois, para firmar-se como conteúdo na instituição,

(amontoado de seres humanos no embate entre individualismo e

exige-se melhor definição dessa expressão artística. A 1º Bienal Inter-

carência). Estaria, ali, a superestimada urbanidade do tempo de mortes

nacional de Graffiti de Belo Horizonte (2008) pôs o graffiti na esteira

prematuras da imagem e da palavra? A resposta são inumeráveis

rolante do sistema de arte e o pacote passou direto por nós, pois não

cliques fotográficos, tentativas de retratar um ato sintético, direto e

o reconhecemos como nosso. O olhar turvo é ferramenta para a 1ª

específico. Talvez ainda haja um traço de Ficore, interrompido pelo

Bienal Internacional Graffiti Fine Art, encerrada mês passado, no

flagrante, no alto do antigo Pouso Real, no Centro de vitória. É exata-

MuBE (SP), onde debates buscaram evidenciar relações entre graffiti e

mente na correria pelas escadas, nos patamares saltados e tornozelos

artes plásticas nas particularidades da arte urbana.

torcidos que encontramos a característica básica da geração nascida de contradições do convívio: audácia. O graffiti, detentor da audácia, é também hábil na diplomacia. Por

No Espírito Santo, a Semana do Graffiti, evento realizado em março deste ano, trouxe uma estrutura formada pelos próprios grafiteiros para mostrar os valores de suas práticas. Como nas ideias do grafiteiro

isso, tem recebido o caloroso abraço das instituições não só do museu,

Fredone FONE, a cidade tornou-se Galeria, desamarrada de pesos

mas da galeria e do especialista, da ARTE. Abraço repudiado por mui-

históricos estranhos a essa geração. Opiniões e desejos conflitantes

tos e astuciosamente retribuído por outros. Na retribuição do abraço,

unem os ensinamentos do Prof. Fagundes, no Centro de Referência da

uma proposta é sussurrada num sorriso: podemos trabalhar ideias

Juventude, às intervenções feitas dentro do Museu de Arte do Espírito

que estão muito além da imagem. Proposta que não é unilateral, pois

Santo pelos grafiteiros do Instituto Tamo Junto, à luta diária de André

ocorre somente quando o sistema de arte repensa seus papéis desem-

Martins, que vive o graffiti como seu trabalho e identidade, e ainda

penhados até então e decide apontar para fora de seus domínios. O

a cada marca deixada pela cidade, como as linhas desesperadoras

graffiti nasce todos os dias sem o compromisso de ser arte. Os museus

de Marc1 e Japão nos tapumes da Fábrica 747. Em todos os casos, a

aparentemente gostam disso. Tal despretensão faz sorrir também o

compreensão é o inesperado. A parede do museu dura menos que a

mercado. Todo o estereótipo e toda a técnica são vendáveis. Uma boa

banca de revista transformada em caixa mágica de formas imbatíveis

técnica que faça um estilo ser reconhecível é moeda de grande valor.

na Av. Jerônimo Monteiro.

O projeto O sonho de um grafiteiro, de André Martins, pelas indica-

O melhor é que não temos controle sobre o que os olhos alheios

ções de Alecs Power, demonstra a vibração de incontáveis variantes de

querem ou podem enxergar. Cada graffiti é imagem e também é lugar.

se fazer graffiti.

Ele nos faz enxergar que estamos dentro da cidade dentro de nós.

Procurar uma visão unificadora para algo que jamais demonstrou

Surgem como suportes: a cidade visível, tocável; a cidade invisível, o

dissolução – mas pelo contrário, constrói-se sempre com mais solidez

espírito da urbanidade, o ar da cidade; e o fato de respirarmos esse

– talvez seja agarrar-se ao olhar simplista ou impróprio da atualidade.

ar, experimentarmos ser urbanos. Por esse espírito é que trabalham

É brincar de recortar manchetes do jornal de ontem para construir

Fredone FONE, Alecs, REN, Japão, Somall, Iran, Limão, GRD, AQI,

as manchetes de hoje. Teríamos de usar de arbitrariedade e ignorar

Fagundes, Giu, Kito, Canela, Ed Brown, Smoke, Cain, James, Moska e

práticas necessitadas de novos termos.

Arme (Cachoeiro do Itapemirim), Dione (Anchieta), Liam (Guarapari),

No protesto impaciente a chamar pela ousadia, na expressão da territorialidade e no grito delinquente, na marca efêmera repleta de referências e na assinatura da arte, em todos e em cada um dos casos,

Ficore e muitos outros. Aquilo que a cabeça “grafita” é a vida que existe no momento em que o olho insiste em piscar.

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NOvELO

andreW laureth e leandro reis

entre rosas e espinhos. jovens instrumentistas no cultivo da mÚsica capixaba Horas de treino e estudo diários para encontrar um teatro vazio. A

gravações originais, além de uma referência segura de análise teórica.

plateia – quando há – se levanta durante o espetáculo, conversa e fala

Lucius não quer o projeto funcionando apenas como material

ao celular. Esta é a realidade de muitos instrumentistas capixabas que

científico. Por trás da ideia existe um desejo de fã: “O songbook é uma

sofrem com o não reconhecimento da música erudita.

forma de ajudar a perpetuar a memória do artista e de disseminar seu

Muitos jovens que sonham em fazer parte de uma orquestra po-

trabalho. Já existem songbooks de grandes artistas, mas não do Sérgio

dem acabar, na melhor das hipóteses, em uma sala de aula. O melhor

Sampaio. Ele não tem a mesma projeção dos grandes músicos, mas está

cargo entre as ofertas para esses profissionais no Estado pode ser o

no mesmo nível de Chico Buarque e de Gilberto Gil”, afirma Lucius.

de professor, o que frustra a parcela ansiosa pelos palcos. Talentos

Voltando à música erudita, um jovem violonista prova que o

com urgência por crescimento não encontram território amigável no

reconhecimento reivindicado para os instrumentistas capixabas não é

cenário musical do Espírito Santo.

mera “patriotada”. Renan Simões (22, primeiro da esquerda para a

Talvez o problema seja aquela velha mania do brasileiro de preferir

direita no canto inferior da página 11) esbanja talento no violão e já

a grama do vizinho. O capixaba também parece seguir essa lógica ao

ganhou 14 prêmios, 13 nacionais e um latino-americano, além de ter

lidar com a sua música popular e, por isso, trata os músicos de outros

participado de um concurso na Tv Cultura.

estados como superiores aos seus próprios conterrâneos. Caetano

“Comecei a tocar bem cedo, nem sei precisar quando. Nunca me

Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque: gênios da música. Mas quem é

prendi a nenhum estilo, sempre tentei tirar o melhor de cada um”,

Sérgio Sampaio mesmo?

diz o jovem enquanto abre uma gaveta e retira o livro 1001 discos para se ouvir antes de morrer (de Michael Lydon e Robert Dimery. Ed.

o nosso gramado é bonito! O violonista e compositor Lucius Kalic (24 anos, foto no alto da

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Sextante, 2008). Renan conta que já ouviu todos os discos recomendados. “As pessoas dizem, por exemplo: ‘Eu ouço só reggae!’. Mas se

página 11) tenta responder. Ele tem um projeto que consiste em lançar

você ouve só um estilo, você ouve do ruim ao bom. Eu prefiro ouvir

um songbook do músico capixaba Sérgio Sampaio. Songbook é um

de tudo e pegar o melhor de cada banda”, completa o músico.

livro que contém as cifras das canções e as melodias da voz e da letra.

Quando perguntado sobre a qualificação necessária para exercer

É um registro que possibilita a reprodução das canções atendendo às

a profissão, Renan responde com uma experiência de fazer inveja a mui-


ANDREwLAURETH@HOTMAIL.COM | @ANDREwLAURETH LEANDRO.SOUzA.REIS@GMAIL.COM | @LSR05

fotos Andressa Reis

tos veteranos: “Não é preciso estudar muitas horas por dia depois de certo tempo. O corpo não aguenta. Uma carreira musical não depende só de você tocar muito bem, mas também de saber administrar a coisa”. Os caminhos do músico erudito brasileiro não são fáceis. Além

desta página) faz o resgate da cultura alemã trazida pelos imigrantes

de toda a preparação e a disciplina, necessárias para interpretar peças

para o seu município por meio do trompete. Além de aprimorar-se

complicadas, o artista ainda enfrenta problemas no mercado de traba-

enquanto instrumentista, Aloísio tem feito uma série de apresentações

lho. “A preparação na música erudita não é muito valorizada. Além de

com um grupo da própria cidade para recuperar o uso dos instrumentos

o músico clássico se dedicar a tocar a sua música, que não dá retorno,

de sopro típicos da música germânica. Aloísio chama atenção para um

ele tem que parar para dar aula e resolver uma série de problemas do

problema que afeta diretamente a cultura musical capixaba: “Acredito

trabalho, enquanto o músico popular pode se dedicar totalmente à sua

que seja um problema de divulgação. Muita gente de Domingos Mar-

música e é extremamente valorizado”, diz Renan.

tins não conhecia a música erudita, mas depois que comecei a desenvol-

O músico também já tocou fora do Brasil e, como a grama do vizinho sempre é mais verde, a gente já acha que o povo europeu tem

ver esse projeto as pessoas começaram a dar mais atenção”. Muitas opiniões, mas todas parecem convergir ao velho problema

a cabeça diferente do brasileiro. A imagem de superioridade estrangei-

da grama. Com tantos jovens talentos ansiosos por lapidação, fica

ra que criamos em nossa cabeça, parece não se confirmar a partir dos

uma impressão que, apesar de velha, ainda é atual: é preciso cuidar

relatos de Renan, que se apresentou em Portugal: “A gente pensa que

mais do nosso jardim.

Europa é outro mundo. Aconteceu que lá, no meio do concerto, tocou um celular. O cara pegou o celular e atendeu, gritando: ‘Alô! Eu não posso atender agora porque estou no meio de um concerto!’”.

é preciso cultivar nosso jardim Para o professor do Departamento de Música da Universidade Federal do Espírito Santo, Ernesto Hartmann (40), o não reconhecimento da música erudita não acontece só no Estado, mas no País inteiro. Segundo ele, nós, brasileiros, achamos legal quando são os europeus que fazem, mas quando nós fazemos é inferior. “Aqui no Brasil, a gente não tem um sentido de patrimônio cultural”, completa Hartmann. Saindo da negatividade – embora real – da projeção que é dada ao artista erudito, Lucius Kalic fala da importância da qualidade do reconhecimento: “Nos locais que eu passei como instrumentista, eu tive um reconhecimento. Reconhecimento é quando as pessoas que têm oportunidade de te ver reconhecem o valor do seu trabalho naquele momento. Acho que a única forma de se avaliar o reconhecimento, para quem não é famoso, é dizer que isso não tem ligação direta com a quantidade de pessoas que conhecem o seu trabalho, mas com a qualidade que elas veem nele.” A música erudita, embora não tenha raízes fortes no Brasil, faz parte da expressão cultural de algumas cidades do Espírito Santo. Domingos Martins, na região serrana do Estado, é um exemplo disso. O jovem Aloísio Endlich (20, segundo da esquerda para a direita no canto inferior

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NOvELO

ALvES.ALN@GMAIL.COM | @ALvESALINE

aline alves 1 o ato de revistar. 2 exame minucioso. 3 publicação periódica na forma de uma brochura mais ou menos extensa, com escritos variados e geralmente ilustrada. 4 produtos editoriais

de jovens capixabas sobre quadrinhos, artes visuais, cultura urbana e humor

Há quatro anos, nasceu a revista Prego sob o slogan “Quadrinhos, Arte Punk & Psicodelia”. A publicação reúne tudo isso, além de entrevistas, literatura e humor. De acordo com um dos seus idealizado-

efervescência e à expressividade da arte pelo mundo. A publicação reúne várias formas de expressões artísticas, como fo-

res, o estudante de Artes Visuais Alex Vieira (23 anos), “prego” foi o

tografia, artes plásticas, design, moda, entre outros. Sthefany conta que

nome escolhido devido aos seus vários sentidos. “Prego é um objeto,

a ideia de criar a revista veio da internet: “Sempre gostei de ficar na inter-

um macaco, um adjetivo e em italiano significa ‘de nada’. O nome foi

net vendo desenhos, ilustrações, quadros e tal. Daí, comecei a ver aquilo

escolhido entre outros pescados aleatoriamente no dicionário, depois

com outros olhos, apreciar e anotar nomes de artistas que eu gostava”.

disso fui agregando sentidos à palavra”, conta. Alex explica que a revista surgiu para dar espaço à produção au-

A primeira edição da Strombolli saiu no começo de 2009 enquanto que a segunda em julho deste ano e a terceira foi lançada neste mês. A

toral de jovens artistas e é construída de maneira colaborativa: “Cada

perspectiva é que a revista tenha periodicidade trimestral e que ganhe

artista produz seu trabalho, digitaliza e envia. A partir daí, vamos dan-

uma versão impressa. A Strombolli recebe trabalhos de colaboradores de

do forma às páginas”. Na sua última edição, a revista contou com o

vários lugares, como o Reino Unido, a Argentina, Califórnia, a Alema-

trabalho de 29 colaboradores e foi lançada na Feira do Livro de Cano-

nha, o México e, é lógico, o Brasil.

as, no Rio Grande do Sul, em junho deste ano. Em 2008, foi formado

Enquanto a Strombolli optou por estar na internet utilizando o for-

o projeto coletivo Prego Publicações. Em seguida, o grupo também

mato de revista impressa, a revista Urbano usa o formato de blog para

lançou outros títulos como Ataque Fotocópia, de Alex Vieira, Gente

veicular seus conteúdos. A publicação começou seus “posts” no início

Feia na T.V., de Chico Félix, e Vulgar Manual, de Guido Imbrosi.

deste ano e tem como pauta principal a arte e a cultura urbana. De acor-

De maneira geral, entende-se revista como uma publicação

do com o editor de vídeos Thiago Rocha (22), que compõe a equipe da

impressa. No entanto, cada vez mais a internet abre espaço para esse

Urbano junto com outras cinco pessoas, o foco da publicação é mostrar

tipo de veículo. A prova disso são os sites de publicações já existentes

as várias manifestações urbanas, principalmente o graffiti e o skate: “Em

no mercado – que muitas vezes reproduzem todo o material que sai na

todas as edições da revista, haverá um espaço reservado para esses dois

versão impressa – e também as revistas que são idealizadas especial-

gêneros”, explica.

mente para a web. É o caso da Strombolli e da Urbano, revistas criadas visando a abrir novos espaços para a divulgação de arte e cultura. A Strombolli, assinada pela designer gráfica Sthefany Frassi (22),

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que tem erupções a cada hora. A proposta é comparar o fenômeno à

Thiago conta que a escolha dos assuntos que virarão matéria vai de acordo com as demandas do dia a dia: as ideias são repassadas por e-mail para a equipe e o redator é o responsável por escrevê-las. “Um

tem como foco as artes visuais e é feita “nos moldes” de uma revista

edita os vídeos, outro fotografa, outro cobre os shows e por aí vai”,

impressa, ou seja, os seus leitores podem folhear virtualmente as pági-

explica. A revista tem aumentado o número de visualizações e hoje as

nas da publicação. O nome escolhido faz menção a uma pequena ilha

visitas ao site estão por volta de mil acessos a cada 15 dias”, completa.

da região da Sicília, na Itália, onde existe um vulcão de mesmo nome


PREGO revistaprego.blogspot.com revistaprego@gmail.com

STROMBOLLI strombolli.com.br

para além das letrinhas

contato@strombolli.com.br

Em 2002, cinco universitários se reuniram para produzir, de maneira experimental, uma revista. Nascia a Quase #0. A publicação lançou personagens, como o Homem Galinha (capaz de derrotar qualquer oponente no ringue) e propagou um debochado anti-capixabismo em suas páginas. A partir da segunda edição, chamada de #1, o impresso começou a tomar forma e trouxe consigo algumas características que permaneceriam sempre agregadas à Quase: festas memoráveis, camisetas com chacotas e histórias em quadrinhos envolvendo os costumes e os artistas locais. Os quadrinhos são o foco principal da revista, mas há também matérias e outras

URBANO

seções divertidas, como a destinada às cartas.

revistaurbano.com.br

A última edição foi lançada em 2009 e, atualmente, a

revistaurbanoes@gmail.com

atenção dessa trupe está voltada para o audiovisual. “O mercado editorial é complicado, depois da internet o hábito de comprar revistas foi se perdendo, principalmente no humor, que é bastante perecível. Aí a gente fez essa transição”, diz Juliano Enrico (26), que integra a equipe da Quase. A publicação tem um blog, mas existe o projeto de criar um site dentro do Portal MTv para veicular quadrinhos, matérias e vídeos de humor. A Quase tem aparecido no programa Fiz na MTv e todo esse conteúdo pode ser visualizado no canal TV Quase, do YouTube. Em breve, também deverá ser lançada uma espécie de almanaque contando a engraçada e bem sucedida trajetória da

QUASE

Quase nesses oito anos de sua existência.

revistaquase.blogspot.com youtube.com/tvquase

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NOvELO

kamilla custódio e katler dettmann

Há oito anos, quando Vitor Graize (27 anos) e Rodrigo de Oli-

pensavam o filme no mesmo sentido que a gente. As pessoas trazem

veira (25) se conheceram na universidade, os dois amigos já tinham

coisas novas e as surpresas são sempre positivas. Acho que é a parte

em comum a paixão pela sétima arte. Agora, eles dividem o desafio

mais bonita é ver como eles têm se dedicado do mesmo modo que a

de dirigir o longa-metragem As Horas Vulgares. O filme é o primeiro

gente e se apaixonando pelo projeto como a gente tá apaixonado”,

projeto desse porte a receber incentivos da Secretaria de Cultura do

conta vitor. “Trabalhar com equipe e orçamento reduzidos para um

Espírito Santo, selecionado via edital em 2009.

longa faz com que, naturalmente, todo mundo seja levado a defender

O roteiro é uma adaptação feita pelos próprios diretores da obra literária Reino dos Medas, publicada em 1971, por Reinaldo Santos

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o filme com muito mais garra. O filme é tanto deles quanto da gente”, enfatiza Rodrigo.

Neves. Embalada por muito jazz, a história do filme acontece em vi-

A estudante de Comunicação Social Joyce Castello (21) e a de

tória no início dos anos 2000 e gira em torno das angústias, paixões,

Desenho Industrial Camila Torres (23) não perdem o entusiasmo,

amizades e novas experiências de um grupo de jovens artistas.

mesmo com toda a correria das suas funções de produtora de arte

A história de jovens envolvidos com arte se repete atrás das câme-

e assistente de arte e de figurino, respectivamente. “É a primeira vez

ras. Quase todos da equipe estão na faixa dos 20 e estão dando um

que faço um trabalho não amador com uma equipe grande onde exis-

salto grandioso nas suas carreiras. São jovens talentosos e profissionais

tem funções bem definidas”, conta Joyce. Para elas, agora é chegado

promissores que já experimentaram parcerias em projetos acadêmicos,

o momento de se projetarem no mercado profissional podendo fazer

oficinas, curtas-metragens ou já estiveram juntos nas aulas de teatro.

o que gostam.

“Ao montar a equipe buscamos muito essa afinidade de pessoas que

A criatividade também toma conta do set, como nos conta o fi-

fotos Bianca foto Pimenta/divulgação Luara Monteiro

a estreia de uma equipe jovem na produção de um longa-metragem representa um momento de renovação e boas expectativas para o cinema capixaba


NOvELO

MILLACUSTODIO@HOTMAIL.COM | @COFFEENMILK KATLERDw@GMAIL.COM | @KATLERDETTMANN

DIÁRIO DE PRODUÇÃO O relógio marca cinco horas da manhã de uma sexta-feira. Chegam ao cais da Ilha das Caieiras diversas vans trazendo a equipe de As Horas Vulgares. A mesa de café da manhã é montada ali mesmo, junto ao arsenal de maquiagem, às muitas bolsas e aos equipamentos de captação. São cerca de 25 pessoas no set de filmagem, todos empenhados para que tudo aconteça como o planejado. Para garantir a continuidade, Manuela Curtis (28), diretora de arte, fotografa os atores de corpo inteiro, rosto e detalhes antes que eles entrem em cena. Enquanto isso, Joyce Castello tenta resolver o problema do orelhão. “Dez anos atrás não existia essa empresa de telefonia. Vamos ter que trocar o orelhão. Temos que ser fiéis a esses detalhes”, explica. Uma delicada voz pede: “Atenção, galera! Silêncio absoluto, tudo bem? Agora vamos gravar”. É a produtora de set Cláudia Vilarinho (24) falando com os pescadores que acompanham as gravações desde cedo. Entre os pescadores, alguns cochicham sobre um dos atores que corre e pula pelos arredores enquanto se aquece para entrar em cena. - Vamos rodar? Silêncio, gente. Prepara. Som? / Rodando. / Cena 5, Plano 2, Take 1 / AÇÃO! Porém, um latido atrapalha os planos da equipe. Cláudia corre para dar um jeito no cachorro, que parece querer ser um dos pergurinista Harrison Medeiros (23), ao expli-

horizontes mais amplos.

sonagens do filme. Resolvido o problema, é

car a ideia da metáfora visual usada como

Os atores capixabas Thaís Simonassi (28)

pedido silêncio absoluto e o plano é rodado

referência para a concepção da cenografia

e Higor Campagnaro (26) foram para o Rio

novamente. Ficou bom. viva! A equipe vibra

e do figurino: “vimos uma cena corriqueira

de Janeiro em busca de novos espaços de

ao assistir à imagem captada no pequeno mo-

de uma plantinha que nascia no meio de um

trabalho e agora voltam pelo mesmo motivo

nitor de vídeo. Mais alguns takes gravados e

prédio e ligamos isso à personagem Clara,

que saíram. Clara, a personagem de Thaís, no

pausa para o almoço.

que tentou resistir a Vitória até não conse-

filme, parte de vitória para o lugar bucólico

A equipe ainda tem um longo caminho

guir mais e se retirou para o campo a fim

e afastado da cidade chamado “lá mesmo”.

pela frente: depois do almoço, mais cenas se-

de respirar”. A trajetória dos personagens

Sobre essa identificação ela diz: “Tem a ver

rão gravadas e, no dia seguinte, outras e mais

da ficção é muito próxima da realidade da

com minha trajetória de vida, de sair, porque

outras... Tudo se repetirá até novembro, quan-

equipe. A trama é marcada por despedidas

as coisas precisam mudar. É um orgulho voltar

do a película será revelada. A partir daí, come-

e mudanças na vida de jovens que buscam

para participar do projeto que é meu primeiro

çam a edição e a finalização do filme. Agora,

encontrar a si mesmos no momento em que

longa também”. Foi essa realidade que insti-

fica a expectativa para ver o resultado na telo-

a cidade parece ser pequena demais. E quem

gou os diretores a adaptarem o romance para

na. A estreia de As Horas Vulgares está prevista

vive da produção cultural no Espírito Santo

o filme, como conta Rodrigo: “Me parece que

para junho de 2011. Paciência! Já-Já chega!

sabe que atuar no meio não é fácil e, por

a ideia de ser jovem em Vitória, desde a época

@ashorasvulgares | ashorasvulgares.com

isso, muitos jovens saem daqui em busca de

de Reinaldo, não mudou muito”.

www.facebook.com/ashoras

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NOvELO

CAROLINA.RUASP@GMAIL.COM | @CAROLRUAS

s rua

foto Luara Monteiro

a olin car

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elas também dão o seu catuque. a participação feminina no funk capixaba Em um baile funk é comum o uso de ter-

amizade, futebol, namoros e do cotidiano do

mos não muito amistosos para se relacionar

povo. Reconhecimento ainda é difícil, princi-

com as pessoas. Quem costuma “quebrar

palmente, porque as rádios capixabas prefe-

tudo” é alguém que está arrasando no baile.

rem insistir no funk carioca, que já faz sucesso,

Uma “potranca” pode significar uma mulher

ao invés de oportunizar a produção local. “A

sensual. E “esculachar” o amigo é só uma for-

gente tem que crescer aqui, mas se o pesso-

ma bem humorada de interação. Essas expres-

al daqui não investe na gente eu vou ter que

sões podem até soar ofensivas, principalmen-

mandar minha música pra fora, pra Minas Ge-

te, se você for mulher, mas o que nem sempre

rais, pro interior do estado”, explica Malvada.

está claro é que existem muitas maneiras de

Quanto ao público, porém, elas garantem

fazer e cantar o funk. Apesar de todos os ma-

que a resposta é imediata. “Na minha comu-

neirismos e preconceitos que circundam essa

nidade, o pessoal sabe quem eu sou e valoriza

manifestação cultural, o que impera nos bailes

o meu trabalho”, diz Poli Bolada. Ela sente

é a brincadeira e a curtição.

orgulho por ter se tornado referência para

“Fazer funk é, acima de tudo, divertir-se”,

os jovens ao seu redor. “Quando você chega

defendem Patrícia Alves (22 anos) e Poliana

num baile e a galera reconhece seu trabalho,

Barreto (24). As duas, mocinhas de família e

é muito gratificante. O pessoal vê o que eu

trabalhadoras, escolheram seguir o complicado

faço e pensa ‘a Poli defende as mulheres, os

ofício de cantar em baile funk. Elas são a MC

gays, os negros’, e com isso olham pra mim

Malvada e a MC Poli Bolada e costumam “que-

com admiração. Isso te motiva a fazer coisas

brar tudo” com a galera, mostrando uma pro-

diferentes”, explica.

posta diferente de funk que adora “esculachar” com os garotos que acham que as “potrancas” só servem para rebolar em cima do palco.

funk da paZ O projeto Funk da Paz é uma iniciativa

As duas garotas são moradoras do muni-

que tem proporcionado a inserção e o reco-

cípio da Serra e fazem parte de uma nova leva

nhecimento de meninas no funk capixaba. É

de MC’s que quer levar o funk capixaba a outro

o caso de Jéssica da Silva Nunes (18) que diz

patamar, sem necessariamente envolver vio-

categórica: “Sou uma MC que não gosta das

lência, drogas e, principalmente, sem precisar

putarias não! Falta espaço para a mulher no

mostrar o corpo da mulher. “Às vezes a gente

funk ser representada com dignidade, porque

até canta putaria, porque o povo gosta. Mas

a mídia só investe em ‘proibidão’”.

é uma ou outra música só porque tá na boca

Isso talvez explique o preconceito que

do povo, mas a nossa proposta é outra”, diz

impede uma maior participação feminina na

Poli Bolada. Desconstruir o imaginário negativo

cena funk. Para os pais de Jenifer da Vitória, a

sobre funk não é fácil, mas as jovens funkeiras

MC Jenifer (16), não foi muito fácil aceitar a

tentam ao máximo trazer uma mensagem dife-

vontade da garota de integrar o Projeto. “Até

rente, principalmente, sobre a mulher.

hoje eles não gostam. Eu também achava que

Cansadas do preconceito contra quem faz

não era coisa de menina, mas depois fui vendo

ou curte funk, elas sabem do valor social que

que tanto homens quanto mulheres podem

a música pode trazer às comunidades. Poli ex-

fazer esse trabalho”, explica Jenifer.

plica que diversas vezes as pessoas a olharam

Atualmente, de um total de 17 jovens, o

torto quando souberam que ela cantava funk.

Funk da Paz conta com seis meninas que já

“Acham sempre que é coisa de bandido. Mas

fazem shows nos quais apresentam suas pró-

isso acontece em qualquer lugar: no pagode,

prias letras e passam uma mensagem de cons-

no forró etc. Se você parar pra pensar tem

ciência social a outros meninos e meninas. A

muita música aí que faz apologia às drogas e

iniciativa consiste na realização de oficinas de

ao sexo”, termina.

canto e rima nas comunidades de periferia

Para se contrapor ao estigma, as garo-

de Vitória, onde os jovens são estimulados a

tas decidiram que o funk do bem era o que

comporem sobre sua realidade e a se apresen-

queriam fazer da vida. Suas músicas falam de

tarem em público.

Para a produção desta matéria, contamos com a colaboração do MC Tim e do MC Popay.

17


NOvELO

BRUNAANDRADEMARTINS@YAHOO.COM.BR

bruna andrade

quando o cliente é a vitrine um panorama de como atuam os jovens tatuadores capixabas Pele e tinta. Pintura e vida. No corpo e na alma. Arte viva! Em vá-

atividade. Porém, o acesso ao material de trabalho foi apontado como

até hoje, expressa significados individuais e coletivos. Especialmente

a principal dificuldade no início da carreira, pois, há alguns anos, além

entre as juventudes a tatuagem tem, cada vez mais, se consolidado

do alto custo, não havia fornecedores especializados no Estado. Os

enquanto um produto de consumo e um campo de atuação profissio-

novatos também tinham que enfrentar a resistência dos tatuadores já

nal. Frente a isso, aventuramo-nos a conhecer um pouco sobre esse

estabelecidos no mercado.

mercado em ascensão no Espírito Santo. Nessa empreitada, contamos

Até conquistarem seu próprio espaço, alguns deles vivenciaram

com a contribuição de tatuadores de alguns municípios da região

situações pouco convencionais, como usar máquina caseira com agulha

metropolitana da Grande Vitória.

feita de corda de violão, pegar material emprestado e até tatuar em tro-

A entrada dessa galera no ramo da tatuagem tem relação com as

18

dentro de casa: poucos receberam apoio da família para investirem na

rios locais do mundo e por diferentes motivos surgiu a tatuagem que,

ca de objetos como bicicleta ou relógio. A chamada tatuagem de verão

suas habilidades para o desenho e, para a maioria deles, o interesse

traçada com canetas nanquim e a prática em pele de porco fizeram par-

pela arte surge após se tatuarem pela primeira vez. E a caminhada

te das estratégias de aperfeiçoamento usadas no início da carreira, sem

nessa profissão não foi fácil. Para muitos, o primeiro desafio estava

falar nos amigos que serviram de “cobaias” para os primeiros desenhos.


fotos Thalita Covre

empreender a arte A maioria dos tatuadores consultados vive exclusivamente da

três mil pessoas por dia, chegando a reunir quase seis mil pessoas no terceiro e último dia. Incrementando o encontro teve graffiti ao vivo,

body art, seja apenas tatuando, seja também com a colocação de

exposição de fotografias e esculturas, além de uma palestra sobre a

piercing e maquiagem definitiva. Graças à habilidade para desenhar,

importância da biossegurança para o exercício da atividade.

alguns desenvolvem outros trabalhos como graffiti, aerografia, pintura

Menguelle, organizador do Vitória INK, conta que a partir da 1ª

de telas, ilustração, criação de estampa para camisas e de logotipos.

Expo Tattoo percebeu o potencial que o Espírito Santo tinha para esse

Outra possibilidade de atuação é na produção e na venda de séries de

tipo de evento. Ele pulou de cabeça na ideia de fazer uma convenção

desenhos.

de tatuagem e no ano seguinte organizou os 1° e 2° Vitória INK.

Para todos eles, a paixão pela arte de tatuar, a paciência, a

A terceira edição rolou no final de 2009 e os números falam por si

humildade e a dedicação são as principais características para ser um

mesmos: 180 tatuadores inscritos, 11 categorias premiadas e um total

bom tatuador e permanecer no ramo. E ainda reforçam que, além

de seis mil pessoas durante três dias de convenção. A programação

de ser uma arte, tatuar é um empreendimento. Por isso, é necessária

contou ainda com a apresentação de bandas locais, exposição de

uma boa administração para manter o estúdio funcionando. É preciso

moda alternativa e graffiti, além do sorteio de tattoos e piercings.

ser diligente com os pagamentos, horários e outros compromissos.

Comparando com tempos atrás, está mais fácil o acesso aos ma-

Os clientes devem receber um bom atendimento, terem a escolha do

teriais e aos equipamentos necessários à body art, porém a profissão

desenho respeitada e sentirem-se seguros quanto ao uso dos materiais

ainda precisa ser regulamentada. A formalização legal da atividade de

e ao cumprimento das normas de biossegurança. O tatuador também

tatuador tem sido debatida por todo o Brasil. No entanto, a questão

deve saber executar uma boa pigmentação, conhecer técnicas de

carece de mais participação por pessoas da própria categoria. São

desenho e manter-se atualizado sobre as novidades do setor.

também necessárias a organização e a mobilização dos tatuadores

A internet foi indicada como a maior fonte de atualização, seguida

para defenderem direitos profissionais e reivindicarem capacitação

de outros meios como as revistas da área e do contato com outros

técnica e investimentos públicos que promovam o desenvolvimento do

tatuadores para observar suas técnicas. Da mesma maneira, as con-

setor. Para essa galera hábil com agulhas e pigmentos, esse trabalho

venções de tatuagem são espaços que proporcionam o intercâmbio

criativo exige grande responsabilidade e profissionalismo, pois não se

entre artistas e estilos diferentes, a divulgação de trabalhos e o acesso

esgota com o fim da sessão de tatuagem; permanece vivo e impresso

a novas tecnologias em equipamentos e materiais.

no corpo do tatuado.

Aqui no Estado, dois eventos desse tipo merecem destaque: a 1ª

Contribuíram para esta matéria: Aline Girl (ArtPele Tattoo Studio),

Expo Tattoo ES, realizada em 2007, e o Vitória INK, que em 2009 che-

Barraco, Bill Baumgarten (Bill Tattoo), Chinelo (Carlos Tattoo Studio),

gou à sua 3° edição. O idealizador da 1° Expo Tattoo, Márcio Villar,

Deivid Tattoo, Fábio Midgard, Felipe Tchulipa, Fuskão Tattoo, Gill

disse que percorreu vários estúdios de tatuagem do estado, ouvindo a opinião dos tatuadores, a fim de montar o evento. A Expo Tattoo aconteceu na antiga área de eventos do Shopping Praia da Costa e contou com 35 estandes, 50 tatuadores inscritos e um público de

Tattoo, Iran Tattoo, Japão Tattoo, Lindomar Reinholds, Marcelo Venturini, Márcio Villar (Tattoo Art Studio), Mazinho Tattoo, Menguele, MC Popay, Patrick (Studio Definitiva Art´s), Robinho (Tattoo Art Studio), Sandro Boca (ArtPele Tattoo Studio) e Wand Tattoo (Arte na Barra Tattoo Studio).

19


PRCJ

Em novembro, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) comemora o seu primeiro ano de existência e, ao longo desse período, buscou promover e tornar acessível a produção artístico-cultural das diversas juventudes capixabas. Foi um ano cheio de experiências criativas e potentes que continuam a motivar e a justificar as atividades do Programa enquanto um catalisador para a constituição da REDE CULTURA JOvEM. As propostas selecionadas pelos Editais Cultura Jovem são um panorama representativo de como o público do PRCJ vivencia a arte e a cultura. Foram escolhidas 45 iniciativas protagonizadas por jovens artistas e produtores culturais do Estado. A diversidade e a qualidade dos projetos demonstram o quanto as juventudes capixabas estão antenadas com as novas tecnologias e com a produção artístico-cultural contemporânea. Para o Subsecretário de Estado da Cultura do Espírito Santo, Erlon José Paschoal, as ações desenvolvidas pelo PRCJ potencializam o trabalho dos jovens artistas locais. “A cultura é um campo propício para promover o contato com a diversidade, a valorização da realidade local e a formação de cidadãos críticos. Por isso, a partir da experimentação artístico-cultural, investimos na atuação autônoma dos diversos grupos juvenis do Estado”, completa. Os objetivos do Programa vão além do incentivo aos criadores e produtores culturais. É preciso fazer circular essa produção; conectar as diversas juventudes; aproximar experiências e linguagens; e possibilitar a interação entre as diversas juventudes capixabas. Seguindo a lógica da produção colaborativa em rede, o PRCJ estimulou conexões entre as iniciativas a ele diretamente vinculadas e também junto a outros parceiros que fazem parte da Rede Cultura Jovem. Isso foi feito por meio de ações virtuais e presenciais, como a veiculação

20

de conteúdos midiáticos, a realização de encontros e a participação em eventos. Saiba mais sobre algumas dessas ações:


foto Wanderlan Oliveira

foto Gustavo Basílio

A conexão e a interação foram as marcas dos Encontrões

Um notebook, um tripé, uma webcam e acesso à internet.

Rede Cultura Jovem. As duas edições do evento foram sediadas

Pronto! Essa é a estrutura que o PRCJ usou para fazer transmis-

no Centro de Treinamento Dom João Batista, na Praia do Canto,

sões ao vivo de som e imagem para o Portal YAH!. Ao longo desse

em vitória, e aconteceram nos meses de maio e agosto. Esses mo-

ano, foi feita a cobertura e a divulgação de diversos acontecimen-

mentos serviram para promover uma considerável aproximação

tos como mostras audiovisuais, apresentações musicais, debates

entre a equipe do PRCJ, os Núcleos de Criação, os Bolsistas e os

e palestras. A maior parte dessas transmissões estão disponíveis no

Agentes Cultura Jovem.

Portal YAH!. Acesse www.portalyah.com.br e assista aos vídeos.

foto Ariny Bianchi

A valorização da realidade local das juventudes capixabas por foto Maira Rocha

Apostando na criação coletiva possibilitada pelo espaço es-

meio do audiovisual. Isso é que o acontece nas Mostras Capixabas de Audiovisual (MCA) que, em 2010, exibiram as produções feitas por jovens de 40 municípios capixabas.

colar, foram lançados os Núcleos Yah! Escola. A ação consiste na

Por meio das Mostras, muitos estudantes têm o seu primeiro

realização de propostas artístico-culturais protagonizadas por es-

contato com todas as etapas do fazer audiovisual. Além de con-

tudantes da rede estadual de educação. Música, dança, desenho,

correm em uma mostra competitiva, os jovens realizadores parti-

audiovisual, fotografia e grafitti são algumas linguagens experi-

cipam de oficinas, discutem as suas criações e trocam experiências

mentadas nesses espaços.

com outros jovens.

Os Núcleos são iniciados com a realização das Mostras YAH!

Em 2010, as MCAs seguiram as temáticas Etnográfica, Ambien-

Escola nas quais acontecem apresentações das atividades artístico-

tal e Rural. Cada versão englobou uma região do Estado e aconte-

-culturais já vivenciadas pela escola. A partir daí, os estudantes, de

ceram, respectivamente, nas cidades de Pancas, Guaçuí e Castelo.

modo autônomo, propõem e desenvolvem projetos culturais no espaço escolar.

Durante as Mostras, as cidades sedes recebem jovens de diversos municípios vizinhos e se transformam em um espaço de

A Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo é par-

intensa movimentação artística. Dessa forma, esses eventos con-

ceira do PRCJ na realização dessa ação. As escolas estaduais de

tribuem para a valorização da cultura local e, ao mesmo tempo,

ensino fundamental e médio Dom João Batista, na Serra, e Irmã

promovem a formação de polos de difusão da produção audiovi-

Maria Horta, em Vitória, foram as primeiras a constituírem seus

sual dentro de cada região.

Núcleos YAH! Escola.

21


PRCJ

FERNANDADECASTRO.B@GMAIL.COM REDECULTURAJOvEM.COM.BR/AGENTES

AGENTE SOMOS,

A GENTE É

fernanda de castro

os jovens por eles mesmos. os agentes cultura jovem vivenciaram e conectaram as mais diversas experiências artístico-culturais capixabas

A GALERA TEM FOME E TAMBÉM TEM SEDE! OS AGENTES TE CONVOCAM CAI COM TUDO NESSA REDE! VOCÊ JÁ ESTÁ NELA NÃO DEIXE DE PERCEBER! A GENTE SOMOS A GENTE É CULTURA JOVEM! ELE PROVOCA, VIABILIZA ELE É TRANSFORMADOR AGENTE CULTURA JOVEM POTENCIALIZADOR! * Trecho da letra de funk criado pela Agente Cultura Jovem Laíssa Gamaro.

que os próprios jovens para identificar, pensar e acompanhar as ações de sua geração. Afinal, eles compartilham das mesmas inquietudes, da

cionais, como a escola, a família e a religião, move os jovens na dire-

criatividade aflorada e da vontade de fazer acontecer. A ideia de cons-

ção de formar coletividades. Os diferentes interesses e afinidades, bem

tituir uma turma de Agentes Cultura Jovem segue essa perspectiva de

como a necessidade de afirmar o seu lugar e papel no mundo, dão

dar espaço ao protagonismo e à capacidade de articulação juvenil. Ao

origem às múltiplas juventudes que marcam o nosso tempo. Muitas

todo, 34 jovens de diferentes municípios do Espírito Santo passaram

vezes, esse comportamento é associado ao sectarismo, à formação de

pela experiência de ser um Agente.

guetos e à geração de incompreensões e de conflitos. Contudo, essa afirmação não reflete toda a potencialidade de articulação e realização do público juvenil. Essa disposição para estar junto deve ser considerada por todas as

22

a primeira experiência O encontro inaugural da ação aconteceu em novembro de 2009, antes mesmo do lançamento oficial do PRCJ. As expectativas eram

ações que buscam estabelecer interlocuções com as juventudes. Por

gigantes: 14 jovens de diferentes municípios foram identificados por

isso, para o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ), ninguém melhor do

meio de lideranças juvenis e de gestores municipais para comporem

Ilustração Marcelo Voodoo e Iran Soares

Redes sociais, coletivos artísticos, tribos, turmas... A necessidade de se criarem espaços de convivência para além das instituições tradi-


a primeira turma. As atribuições dos Agentes já nasceram audaciosas:

e novos olhares a partir da combinação de informações teóricas e

mapear os talentos juvenis e mobilizar e dinamizar a cena cultural

técnicas com experimentações e vivências.

da região. Durante três meses, foram discutidos vários temas que serviram de ponto de partida para a realização de atividades orienta-

A edição 2010 da ação é cheia de vida, sensações, interações, trocas e sabores... É a síntese do espírito do Programa!

das. Ao final da ação, os jovens envolvidos contribuíram com reflexões sobre as suas próprias atuações e o desenvolvimento dos conteúdos e das metodologias. As críticas, sugestões e elogios foram devidamente acolhidos e incorporados à nossa pauta. A experiência da primeira turma de Agentes foi fundamental para

diversidade, limites, potencialidades e expectativas A segunda turma dos Agentes foi composta por 20 jovens – escolhidos por meio de um processo seletivo – que residem nos municípios nos quais estão localizadas as iniciativas vinculadas diretamente ao

subsidiar os passos seguintes e apontou o desafio pela frente: elaborar

Programa. Eles representam múltiplas realidades e linguagens artísticas

um projeto mais consistente e, principalmente, articulado às outras

– reúnem cidade e periferia, urbanidade e ruralidade, contemporanei-

ações do Programa que estavam em pleno processo de execução.

dade e tradição, academia e rua. Em comum, possuem uma expressiva

Foram alguns meses de pesquisas, debates e reuniões até chegarmos a

experiência na articulação e na mobilização da cena cultural local,

um novo formato da ação.

ideias em profusão e muita sede de transformação.

Todo o esforço valeu a pena! A Formação Agente Cultura Jovem

No novo formato da ação, os encontros presenciais mensais pas-

foi reorientada para a promoção de uma rede de liderança juvenil, cuja

saram a ter a duração de um final de semana, ao contrário da primeira

atuação é voltada, prioritariamente, para o fortalecimento e o acom-

edição que durava apenas um dia. Outro diferencial foi a cessão de

panhamento dos projetos contemplados pelos editais Bolsa Cultura

máquinas digitais a todos, ferramenta indispensável para registrar os

Jovem e Núcleos de Criação. Uma proposta inovadora e – por que

processos criativos das iniciativas acompanhadas pelos Agentes.

não dizer – inédita, uma vez que não se trata dos tradicionais cursos

Para a primeira reunião dessa galera foi proposto um formato de

de gestão ou produção cultural, mas sim de uma ação que privilegia

imersão no qual os Agentes, ao compartilharem um mesmo espaço,

a ampliação do repertório cultural e estimula criticidade, criatividade

durante dois dias, pudessem estreitar os laços e estabelecer uma

23


PRCJ

24

vUDUzIM@GMAIL.COM IRAN.OS@HOTMAIL.COM


relação mais próxima, solidária e colaborativa. A cumplicidade entre os

o intuito de constituir um coletivo artístico. Essas interações não foram

Agentes marcou todos os encontros e garantiu a motivação necessária

reduzidas à região metropolitana. Pelo contrário, elas desafiaram e

para a realização dos debates sobre o universo da cultura, comuni-

superaram as distâncias! A ACJ Kamila Lübe (24 anos), de Domingos

cação e tecnologia; das discussões sobre estratégias de visibilidade e

Martins, por exemplo, foi convidada pelo ACJ Julio Dettmann (23),

conexão e, principalmente, da proposição e do incentivo de vivências

morador do município de Pancas, a repassar os seus conhecimentos

artístico-culturais. Esses momentos fortaleceram a ideia de grupo e

sobre danças alemãs ao Núcleo de Criação Edelstein. O resultado do

ampliaram a capacidade de intervenção dos ACJ, tornando-os mais

trabalho ela conferiu na Wurst Fest (ou Festa da Linguiça), em Afonso

aptos para atuarem junto aos Núcleos e aos Bolsistas.

Cláudio, quando todos estiveram juntos novamente. Kamila também

Por sinal, o acompanhamento das iniciativas se constituiu em um rico e divertido laboratório de aprendizagem e de experimentações, ao permitir que os Agentes conhecessem mais de perto a execução

se apresentou no município de Rio Novo do Sul por meio da indicação da ACJ Ariny Bianchi (19), de Vitória. O que falar então de wanderlan Xavier (26)? Desde a sua entrada

de um projeto e entrassem em contato com o processo criativo de

na ação, o agente tem dinamizado a cena cultural de Pinheiros e, a

jovens artistas. Ao se relacionarem com o diferente, os Agentes foram

partir do contato com a produção e a discussão sobre audiovisual,

tencionados a entenderem o outro, a reavaliarem princípios e valores,

proporcionada pelo PRCJ, habilitou um projeto para a realização de

a lidarem com o inusitado e com o imprevisto. Mais: registrar os bas-

um documentário sobre a Folia de Feis do seu município. Há ainda

tidores e propor estratégias de conexão exigiu dos ACJ mudarem de

casos curiosos, como o do ACJ e bailarino Allan Moscon (20), que se

lugar e reverem pontos de vista. É nesse movimento que reside toda a

tornou aluno da bolsista Alana Moreira de Aguiar (17), cujo projeto ele

complexidade e sabor dessa ação do PRCJ.

acompanhava, e da ACJ Drielly Rodrigues (23) que, ao representar o

Além dos encontros presenciais e do acompanhamento das

PRCJ nas Oficinas Galpão de Qualificação e Intercâmbio Audiovisual

iniciativas, os Agentes foram convidados a participarem de atividades

promovidas pela produtora Galpão, foi convidada para ser diretora de

complementares, como mostras audiovisuais, intervenções artísticas

arte de um vídeo produzido em Goiás.

e outros eventos culturais em que puderam exercitar vários papéis.

Nesses breves e intensos cinco meses, os Agentes promoveram vá-

Atuaram como jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, oficineiros,

rias conexões cujos resultados ainda não podem ser mensurados. Claro

apresentadores e até grafiteiros. O dia a dia e suas impressões foram

que nem tudo foi fácil. Pelo caminho, além das descobertas, surgiram

expressos, em textos e/ou registros audiovisuais, nos Diários de Bordo

obstáculos e questionamentos. Além disso, os Agentes experimenta-

– ferramenta virtual que substitui os relatórios e permite apreender

ram e vivenciaram a trajetória percorrida em diferentes intensidades.

dimensões e sutilezas que muitas vezes são subestimados pelos gesto-

Como qualquer outra atividade, a ação Agente Cultura Jovem

res das políticas voltadas para as juventudes. Os Diários têm o formato

não é um produto acabado e está sujeita a avanços e recuos, a novas

de blogs e permitem que as informações sejam atualizadas constante-

reformulações, a erros e a acertos. Seu atual formato foi concebido num

mente, o que confere frescor aos registros postados. Esse dinamismo e

contexto em que a Rede ainda era um embrião em fase de construção e

essa liberdade de expressar os momentos vivenciados produzem diver-

de fortalecimento. Após um ano de Programa, temos outro cenário que

sas interpretações e olhares que trazem à tona sensações e percepções

impõe novas demandas e influencia diretamente os rumos da Forma-

que muitas vezes se perdem (ou desbotam) nos relatórios comuns.

ção. Hoje, se a Rede Cultura Jovem é uma realidade, isso se deve, em

Com o tempo, os espaços de encontro promovidos pelo Programa

boa parte, à adesão, ao entusiasmo e à energia dos Agentes. De manei-

se tornaram insuficientes. Os Agentes, principalmente da região me-

ra criativa, desde a primeira turma, essa galera contribuiu para atar nós

tropolitana da Grande Vitória, passaram a se reunir semanalmente com

entre as diferentes juventudes capixabas que fazem parte da Rede.

25


DAMN.FERNANDES@GMAIL.COM revistagraciano.wordpress.com MAINALF@HOTMAIL.COM

CROCHÊ LITERÁRIO

Cronópio apresenta Mainá Loureiro Ferreira & Fernanda Barata O Cronópio é um projeto de extensão do Departamento de Comunicação da Ufes que edita mensalmente a revista online Graciano voltada para a literatura produzida no Espírito Santo. Uma das seções da revista é a Valise, que veicula textos inéditos produzidos pelos Cronópios. Aqui, apresentamos dois desses autores: Mainá Loureiro Ferreira (21 anos) e Fernanda Barata (20), ambas estudantes de Publicidade. A resenha sobre as duas autoras é de Daniel Fernandes Vilela (20), outro de nossos integrantes.

DANIEL FERNANDES Talvez seja isto: uma literatura embalada num formato cilíndrico em que a cada momento sejam retirados da embalagem textos de forma exata, mas de sabores distintos. Isso é o que eu entendo por Mainá e pelos seus poemas, todos muito breves e, em contraparti-

MAINÁ LOUREIRO

da, leitura longa. Explico: é tudo milimetricamente posto, colocado, aposto, de forma que cada leitura permite uma nova forma de compreensão, uma nova possibilidade. Sobretudo, aos finais. A própria autora, em conversas aqui e ali, define esses desfechos com uma onomatopeia ideal: blá. E é exatamente isso. São finais de conversa na ponta da mesa para a discussão que são abertos, indecisos, mas nunca indiferentes e que pontuam sua escrita e a tornam própria para o consumo imediato e compulsivo. Tão doce quanto essas pequenas doses de guloseima literária são os textos da Barata, ou melhor, Fernanda Barata. Precisos e

A mão desliga o despertador e os olhos abrem com má vontade. As olheiras e a boca se rabiscam antes de sair E os braços se preparam pra colidir, com quem quer que seja.

irrepreensíveis, eles trazem à tona encontros impensáveis de uma escrita madura, adulta, com uma gama de sensações e de sentimentos

Os dedos conhecem todos os caminhos que levam a Roma.

tão velozes quanto os de quem passa pela vida aos cinco anos.

Os pés não pensam,

Intenso, mas não fugaz. O que Fernanda constrói é um convite

Se carregam tortos e esquizofrênicos por lugar nenhum.

a passear por itinerário próprio, repleto das grandes paixões pela arte e pelo próprio homem, até os pequenos momentos de um

Os ouvidos, escondidos, espiam conversas mesquinhas.

cotidiano pleno, do gosto do arroz misturado ao feijão, do barulho

As papilas não têm consideração pelo estômago,

das garfadas e do atrito do sapato.

E o sangue sofre as consequências calado.

Creio que, aqui, não caiba um convite à escrita das meninas.

26

Não precisam de apresentações. Ao contrário, elas estão preparadas

Os ombros se dão às perguntas, nunca respondem.

para estamparem os muros de papel, concreto ou carne e osso.

O coração só quer quem não pode estar aqui

Irrepreensíveis, ou quase.

E o cérebro esquece as promessas que a língua fez.


FERNANDABARATA90@GMAIL.COM

CROCHÊ LITERÁRIO

FERNANDA BARATA

A CRISE DO SUJEITO Num belo dia de colorido céu, pince-

Propôs um brinde inusitado; entretan-

lado nervosamente com nuvens esfuma-

to, a surpresa ainda estava por vir – coisas

çadas, Joãozinho largou da casa determi-

de gente famosa...

nado a dar sua contribuição diária àquele

Decola, João! Passa sebo nessas cane-

alvoroço de azul com branco misturado no

las e pinta ligeiro! Se manda, rapaz, en-

cinza. Ajuntou amarelo-limão com laranja

quanto o negro ainda não secou! Acelera,

de cádmio, mais azul-cerúleo com verde-

senão! ... te pintam permanente escuro.

-inglês nº 05. Um tiquinho de lilás e tratou

Coberto mofo.

de explorar aquele mundaréu infinito des-

Quadriculado.

provido do receio de, por acaso, borrar um

O Sentir em Detrimento do Entender

pedacinho ou exagerar um tom. Rabiscava

Houve uma proposta de intervenção

tão abestalhado que mal percebeu ter se

coletiva em agradecimento ao artista.

deixado até aquela amarelice toda.

Muita gente que já admirava os traços

Terminado o serviço, enquanto reunia os trequinhos, percebeu estar sendo ob-

estava disposta a contribuir de alguma forma. E partiram para a ação.

servado e comentado, pelo visto há algum

A tela crua foi desvirginada sem prepa-

tempo. O grupo de observadores achegou-

ro algum: sem banho químico, sem conver-

-se e admitiu impressionado com a agili-

sa – ao que o burburinho coletivo deu lugar

dade e talento do moleque. Propuseram,

ao murmúrio ordenado: um de cada vez.

então, a Joãozinho, que voasse mais baixo,

Logo de início sobressaiu o avermelhado, a

bem discreto, em troca de cores especiais

que, aos poucos, se juntou o laca gerânio –

e ingressos para o cinema.

mais para o final consolidado em carmim.

Imaginou se não estava muito novo

Tons de roxo espalharam-se com rapidez:

para o risco da arte. Mas que mal fariam

a obra parecia pulsar. O vinho tinha até

algumas pipas?

gosto quente e o pretume soava frio.

O Mundo em rede

poro inexplorado.

Não houve fio descoberto. Nem houve Era dia de comemoração, pois João

Satisfeitos, deixaram a tela secar na

dispunha de novas peripécias, que fez

sombra, para, somente depois, dar os

questão de expor aos convidados. Com-

retoques finais.

pareceu gente de todo o tipo interessada em seu trabalho: amigos, desconhecidos de alguns conhecidos e até estrangei-

O Sujeito Fragmentado Ao final de três dias, tudo havia

ros de passagem pelo país. O anfitrião

ocorrido como o combinado. A encomen-

fazia questão de cumprimentar a todos e

da foi executada com maestria, esvaindo

oferecia peças raras a preços inicialmente

colorido. Van Gogh não ousaria tão vivo.

modestos. Estava orgulhoso de si mesmo,

Nem Picasso deformaria tanto.

mas preferia falar pouco sobre as dificuldades do ofício.

O artista estava sem condições de se manifestar.

27


OBSERvATÓRIO

HAROLDOLIA@GMAIL.COM | @HAROLDOLIA

haroldo lima

da página pontuam o texto fazendo com

além de trazer textos inéditos de autores, é

cerca de 70 milhões de usuários no país,

O brasileiro nunca pôde ler tanto. Com

que os conteúdos mais relevantes fiquem em

referência em jornalismo cultural de qualida-

a internet tem alterado significativamente

destaque.

de. Com uma proposta semelhante, a Escrito-

a forma como consumimos e produzimos

A quantidade de textos publicados, a

ras Suicidas veicula textos que tratam, quase

informação, seja por meio da leitura online de

multiplicidade de opiniões e a segurança das

sempre, do universo feminino – um projeto

jornais e revistas, seja por meio de redes sociais

informações postadas que passam por avalia-

vitorioso que deu origem ao livro Dedo

como o Orkut e o Facebook ou blogs (o Brasil

ção e que podem ser corrigidas, possibilitam

de Moça, compilação dos melhores textos

é o quarto do mundo em número de leitores

que o site reúna vasto material para pesquisa.

publicados na página. O mais importante:

de blogs), alimentados por novos produtores

www.portalliteral.terra.com.br

as duas não estão sozinhas – são diversas as

de conhecimentos e devorados por leitores vorazes. Não poderia ser diferente quando falamos em Literatura. Há onze anos os blogs contribuem com a produção literária brasileira lançando novos nomes. A internet nos tem feito acreditar em espaços de leitura que estavam deixando de existir, como os círculos do livro, e tem gerado ambientes que democratizam o pensamento crítico sobre literatura. Enquanto os veículos jornalísticos convencionais têm diminuído o espaço reservado à cobertura especializada de artes, o meio virtual tem se tornado referência para leitores que buscam análises mais profundas e guias para leitura e também para aquelas que fazem da literatura uma profissão e não se inquietam com as mudanças possibilitadas pelas novas ferramentas digitais. Como se não bastasse, hoje, qualquer um pode lançar seus escritos, seja por meio de um blog,, seja por meio de livros digitais que já circulam com facilidade pela rede. Conheça alguns desses espaços:

portal literal Criado em 2002, o Portal Literal conta com espaços para colunistas fixos, especializados em Literatura e para qualquer um que queira postar críticas, entrevistas ou textos literários. Conforme o grau de relevância e

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a qualidade do material postado, os leitores

blogs das editoras cia das letras e cosac naifY As grandes editoras têm possibilitado o debate entre os seus leitores e postado informações em blogs sitiados em seus portais. Exemplos disso são os da Cosac Naify e da Cia das Letras. Esses sites apresentam um ponto de vista mais pessoal e ganchos mais factuais sobre Literatura. Nesses espaços, os leitores não se cansam de discutir as novidades sobre a produção literária que não aparece na cobertura dos jornais.

www.blogdacompanhia.com.br www.editora.cosaicnaify.com.br/blog/

germina literatura e escritoras suicidas Um contraponto à escassez de material na mídia impressa, as revistas literárias há tempos têm feito bonito na rede. A Germina,

experiências como estas.

www.germinaliteratura.com.br www.escritorassuicidas.com.br

skoob – o que você está lendo? O Skoob é uma rede social totalmente dedicada à Literatura. Nela, os usuários compartilham experiências sobre suas leituras, postam críticas, sugerem livros aos amigos relacionados, montam sua estante e avaliam os títulos lidos. O mais: interessante é que o site é um ótimo espaço para fazer amigos com gostos afins e conhecer novos títulos em circulação.

www.skoob.com.br


CRÍTICA EMARANHADA

ADMONTEIRO@GMAIL.COM | @BUBOUS_IDEIAS

ADRIANO MONTEIRO Lembro-me bem, por volta de 2004 e 2005, como a Praia de Itaparica, em vila velha – mais precisamente no point conhecido como 1º Quiosque –, era movimentada nos finais de semana à noite. No entanto, não me refiro aos frequentadores noturnos da praia; pessoas que aproveitam o calçadão para caminhar, correr ou curtir a brisa. Refiro-me ao Bar Entre Amigos 2. O Bar foi um dos mais badalados da cena underground da Grande vitória. Eram shows todos os finais de semana com bandas dos mais variados estilos como punk rock, hard core, trash metal, heaven metal e por aí vai. Sendo espaço de toda essa movimentação, o Entre Amigos (como era mais conhecido) foi desativado devido à construção de condomínios residenciais em seus arredores e, desde 2008, passou a funcionar um restaurante no mesmo lugar. O início dos anos 2000 foi uma época em que a cena musical capixaba estava em ascensão e, consequentemente, bandas underground também começaram a ganhar representatividade e público. Em meio a essa efervescência de som pesado em que Stage dive, ReadWalk e Morsh eram ingredientes fundamentais de uma boa noite de rock, começaram a despontar também bandas cristãs underground. Claro que esse ambiente não era nada habitual para evangélicos transitarem. Os jovens que frequentavam esse tipo de show tinham um posicionamento muito crítico em relação a valores sociais mais conservadores. Eram donos de um estilo de roupa pouco convencional, com muitas tatuagens e piercings, e de uma postura radical que ia além do consumo deliberado de drogas. Era óbvio que ia haver discriminação com os “crentes” e entre os próprios “crentes”. Se levarmos em consideração os estereótipos, perceberemos esses universos como antagônicos. Há um imaginário sobre o jovem evangélico que o define como alguém que não curte rock, veste-se de maneira muito recatada, não possui um senso crítico sobre a sociedade, é careta e canta apenas “hinos” da Harpa Cristã. Obviamente tal percepção conflita com a imagem da galera metaleira que cultiva um visual mais “agressivo” e que, por vezes, defende o slogan “o diabo é pai do rock”, como cantou Raul Seixas. Para a galera cristã que fazia parte da cena underground, a escolha religiosa não interferia em suas preferências musicais. O negócio era fazer barulho, fazer som, tocar rock n’ roll, mas eles não abriam mão de expressar os seus valores religiosos nas letras. Dessa forma, a produção musical, além de abordar os temas de crítica social, tornou-se instrumento de evangelização, postura essa que demorou a ser reconhecida pelas igrejas mais tradicionais. No entanto, em 2000 surgiu em Vitória a Comunidade Milícia, igreja que, quando comparada às denominações mais convencionais, permite ao jovem se expressar mais livremente, visual ou musicalmente. O White Sheep foi uma das bandas que surgiram no período áureo do Entre Amigos 2. Todos os seus integrantes são membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e passaram por dificuldade de aceitação dentro e fora do meio cristão. Foram necessários alguns anos de labuta para conseguirem respeito e valorização de seu trabalho. Hoje, eles finalizam o segundo álbum da banda, previsto para ser lançado em 2011. Nessa trajetória as bandas cristãs ascenderam qualitativamente, ganharam espaço e começaram a dividir o palco com bandas não-cristãs. No início, foram recebidas com receio, mas hoje sua presença no meio underground é encarada com naturalidade e respeito. Alguns produtores de shows undergrounds enxergam nessa relação uma possibilidade de diálogo em que o que importa mesmo é o som. Independente da dicotomia suscitada, o fechamento do Bar Entre Amigos 2 contribuiu para um esfriamento da cena underground capixaba, mas como pra Deus nada é impossível, foi inaugurada uma nova casa de shows que pretende suprir essa carência: o bar Águia Marcante situado na Praia de Itapuã, também em vila velha. Estamos ansiosos por esse milagre! Contribuíram com esse texto Paulo Carvalho e Raphael Pegoretti.

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CRÍTICA EMARANHADA

MOYSESHOOTS@HOTMAIL.COM

MOISÉS NASCIMENTO O grupo Teatro Empório mais uma vez nos brinda com um belo espetáculo. Liderado por Leandro Bacellar, o grupo trouxe a lume ao palco do Teatro Galpão a peça Rosa Negra – do próprio diretor, cujo enredo se estabelece no caos apocalíptico, no fim do mundo pensado pelo cristianismo. Até agora, apenas a cidade de vitória contou com a montagem do texto: nos meses de Julho e Agosto, no Teatro Galpão, e em Outubro no Teatro José Carlos de Oliveira, no Centro Cultural Carmélia, durante o vI Festival Nacional de Teatro Cidade de vitória. Na trama, Céu e Inferno se juntam para tentar salvar o ser humano, que aqui faz parte de uma sociedade regida por um governo mundial e dividida entre os que seguem as normas do Estado e os que não concordam, mas que também não suscitam alternativas para se sair do caos. Nura (Luana Eva) e Pecamino (Leandro Barcellar), representantes de Deus e o Diabo, respectivamente, materializam esta cena no acordo que fazem logo no início do espetáculo. Não há dúvidas que se percebem alguns problemas de estrutura. E isso, acredito, faz parte de todo um desencontro que insiste em ocorrer entre a arte e a cultura, a arte e o poder público, que não brinda a cidade de Vitória com um teatro autêntico, com um núcleo de produção cênica que possibilite os elementos necessários para se fazer um espetáculo. Não temos isso no Espírito Santo: o incentivo é pouco, o aluguel dos espaços teatrais não costuma ser barato, não há um volume representativo de peças sendo encenadas na capital e, com efeito, não temos um público representativo e constante nos teatros da cidade. A consequência disso é a não possibilidade de se desenvolver espetáculos de conforto – tanto para a produção quanto para o público – com frequência por aqui. Rosa Negra possui méritos no espaço cênico, sobretudo, pela paixão pelo teatro visível em cada componente do grupo. O elenco se mostra apaixonado pela arte dramática ao debruçar-se sobre o texto com devoção e clareza, demonstrando fidelidade ao enredo pensado por Bacellar. Os personagens Pecamino, Nura, Morte (Camila Bautz) e Nogo (welersson Grassi) mostram não só o domínio do texto, mas uma completa sintonia com a ribalta, seja na interpretação forte, marcada pelo toque pessoal de cada ator, seja nos diversos diálogos com o público disseminados ao longo da encenação. A peça faz parte do teatro contemporâneo principalmente pela escritura não convencional, que inova a partir de temas já bastante encenados e, por vezes, batidos – como “Deus e Diabo”, “céu e inferno”, “bem e mal”. O texto mostra um autor empenhado em um exercício constante de trazer o novo. Ainda que por vezes a escrita pareça movediça, em raras desestabilidades, ela nos apresenta um exercício estético interessante, que pode nos apresentar a um grande dramaturgo num futuro bem próximo. Merece destaque o tratamento musical dado à peça. Com uma trilha sonora bastante contemporânea, marcada também pela sensação apocalíptica, a peça ainda traz a intercalação com tambores afros. Um músico toca congas em momentos pontuais – alguns cômicos –, criando uma atmosfera cênica bastante peculiar e própria. Iluminação e figurino não ficam para trás, distinguidos pela sintonia e ousadia, que dão ao espetáculo a sensação de se estar no fim do mundo – mas não aquele convencional, marcado somente

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pelo medo, a agonia, a dor. Por aqui, essas formas de recepção até são sentidas, mas numa busca incessante pelo não clichê.


JOYCECASTELLO@GMAIL.COM MARCOS@MARCOSRAMOS.COM.BR

Casé Lontra Marques é autor de quatro livros exaustivamente elogiados pela crítica: Mares Inacabados

MARCOS RAMOS

(Editora Flor&Cultura, 2008), Campo de Ampliação (Lumme Editor, 2009), A densidade do céu sobre a demolição (Confraria do Vento, 2009) e Saber o sol do esquecimento (Aves de Água, 2010). Em sua obra publicada, como em toda grande obra, a profusão de linhas mestras evita um delineamento muito pontual, uma definição que se encerra em um núcleo temático. O estilhaço existencial que se dilui na língua impede a fixação de um único pilar que sustente a potência dessa poesia. Supomos, entretanto, que a escrita de Casé Lontra Marques tenha como movimento maior o de intensificar uma desorientação (ou uma “reorientação dos atos de distração”); o passo que rompe o silêncio do sujeito (ora expressão minimalista da contenção da fala, ora uma repetição imoderada e tautológica) e conduz ao desconforto da proposição de novas estruturas de fala: uma possibilidade de alargamento da intensidade, a imposição dos ilimitados mares inacabados ou de um campo de ampliação. Encontramos na obra do poeta uma contundente proposição de fala; o poeta persegue “tanto ritmos quanto cores” e compõe – em movimento de procura por sintaxes, repetições, ressignificaçõe –, uma ácida e sofisticada crítica política da subjetividade: a poesia propõe uma extensão da experiência, a possibilidade de “conhecer com mais braços para criar”, como afirma em A densidade do céu sobre a demolição; e o leitor é com-vocado (convidado a tomar a palavra e romper a fala ausente). Nos livros de Casé Lontra Marques chama atenção uma subjetividade que, longe de toda assepsia impessoal, encena e é encenada, como garante Maria Esther Maciel, “ora através de um ‘nós’ cauteloso, ora através de um jogo de aparecimento/desaparecimento”, a consciência de uma “outridade” que se revela a) no edifício temático (violência, cidade, corpo, desconforto, apatia); b) na ressignificação e no diálogo com a tradição literária (há densos diálogos e discussões, principalmente, com a poesia de Fiama Hasse Brandão, Herberto Helder, Camões, João Cabral de Melo Neto); e c) numa arqueologia do sujeito – o “eu” na poesia de Casé Lontra Marques suscita demasiado interesse, pois se revela e se oculta com exatidão, ao mesmo tempo que se configura ciente da crise de uma subjetividade privatizada, é pós-cabralino, porque não nega um sujeito. Ao contrário, assume, pontualmente, uma subjetividade demarcada, como podemos observar nos versos de seu primeiro livro: “Aluguei um quarto, falta / agora a solidão. Serei / todo paredes / para o incêndio / prestes / a respirar”. Ou ainda, “Agora / que encontrei para onde / voltar, pretendo / apenas ter passos de prosseguir”. E em diversos outros momentos. Não é difícil perceber que, pelo menos em seu primeiro momento, a poesia de Casé Lontra Marques oferece elementos que apontam para uma íntima relação com o sujeito que se estabelece na escrita cabralina e essa pode ser uma interessante chave de leitura. O que significa, no verso, “o sol do sarcasmo”, “o sol (...) simulado na dispensa da distração”, “o sol (...) estritamente calcário”, “o sol inchado na palma do paladar”, “o sol do sexo”, “o sol do suor”? Qual sua relação com “o sol do deserto”, o sol que seca a flauta de Anfion, o sol que “não intumesce a vida / como a um pão”, o sol lúcido de João Cabral de Melo Neto? Enquanto o sujeito em Cabral silencia na assepsia da coisa, no texto de Casé a cidade se corporifica e goza de um rosto, de vários rostos: “Através da vidraça trincada, dá pra ver a cara calma \ da calçada” ou “Mas a língua vibra \ com o sol inchado na palma do paladar”. Entretanto, procurar na perseguição da metáfora uma chave comum de decodificação é neste último declinar em consumo – “O poema ensina a cair \ sobre os vários solos”, nos diz Luiza Neto Jorge. Não é outra coisa senão a própria escrita poética que indica o método, ou seja, o caminho de uma apreensão nunca exata, sempre uma “arquitetura da instabilidade”: Como sugere o próprio poeta: “Será preciso aceitar o movimento para talvez espetar a ponta da língua na fibra efêmera que dilata a potência do paladar”. Tatear o longo poema ora se aproximando do sarcasmo ora da atenção é como devemos aceitar esse movimento.

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CRÍTICA EMARANHADA

LELLISONAS@HOTMAIL.COM

LELLISON SOUZA

O nosso diálogo com a realidade é, em boa medida, intermediado pelo patrimônio cultural que ajudamos a construir e a manter. Isso nos incita a, cada vez mais, tomarmos consciência de que a preservação e a valoração da nossa cultura implicam, em última análise, a preservação e valoração de nós próprios. Atualmente, temos muitos espaços de cultura cujo acesso é um direito de todos. Entretanto, nem sempre foi assim. Da década de 1920 (quando foram apresentados os primeiros projetos de lei que visavam à preservação do patrimônio cultural no Brasil) à Constituição de 1988 (que forneceu um conceito bem abrangente do patrimônio cultural) um grande esforço foi feito para garantir a preservação e nosso contato com o patrimônio cultural. Vejamos como tem sido a promoção desse tipo de contato com os bens culturais em Vitória. Um bom exemplo é o Instituto Goia que, há alguns anos, prepara jovens para trabalharem na restauração de monumentos arquitetônicos. Igrejas coloniais e a Catedral Metropolitana são alguns dos imóveis contemplados pelas ações do Instituto. Outra faceta do Goia, desenvolvida em parceria com a Prefeitura Municipal de Vitória, revela-se nos roteiros do Projeto Visitar que, ao mostrar uma releitura da história da cidade a partir de construções de datações variadas, tem resgatado a relevância histórico-cultural do Centro da Capital. Muitas escolas têm utilizado o roteiro do Projeto como uma ação de educação patrimonial para os seus alunos. Em se tratando de escolas, os estudantes têm sido o público mais visado pelos programas ligados ao patrimônio cultural. Tal fato pode ser constatado pelas ações promovidas no/pelo Palácio Anchieta que desde o começo de 2009 tem recebido grandes exposições. Durante toda a semana, centenas e centenas de estudantes visitam o prédio para conhecerem o acervo do próprio Palácio, além das exposições itinerantes. Grande parte dos grupos escolares vem do interior do estado. Esse tipo de contato possibilita intercâmbios culturais entre o conteúdo das exposições e a bagagem cultural dos estudantes. Por vezes, essas visitas constituem a única oportunidade que alguns estudantes têm de conhecer o patrimônio cultural. Muitos sequer conhecem os espaços e patrimônios de suas próprias cidades. Percebemos que existe um fluxo grande de visitantes vindo do interior e dos outros municípios da Grande Vitória em direção à Capital, porém a recíproca não é verdadeira. É justamente isso que falta atualmente. A divulgação e o acesso a espaços culturais localizados fora de vitória ainda são deficientes. Naturalmente que há esforços para equilibrarem essa relação, que podem ser vistos em sites e blogs, mas esse tipo de mobilização ainda é, por demais, limitado e pontual. A preservação de elementos de nosso patrimônio cultural está diretamente ligada à divulgação e ao número de visitantes. Basta lembrar que o Palácio Anchieta, espaço cultural que mais recebe visitantes na capital, foi restaurado entre 2004 e 2009. O excelente estado do prédio após as obras, somado ao trabalho de divulgação e às exposições itinerantes, atrai muitos visitantes. A mesma lógica se aplicaria ao patrimônio cultural contido no interior do estado: melhor divulgação e acessibilidade atrairiam visitantes, o fluxo de visitação seria muito benéfico para o patrimônio e para grandes contingentes de visitantes que seriam cada vez mais atraídos pelo desejo e pelas oportunidades de conhecerem nossa cultura. E se, atualmente, constatamos que a maior parte do público que frequenta os espaços culturais da Capital

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são jovens estudantes, torna-se latente a necessidade de ampliarmos o contato com o patrimônio cultural contido fora de Vitória para que os horizontes desse grupo de visitantes sejam cada vez mais ampliados.


COSTURA A DOIS

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COSTURA A DOIS

yuryaires@gmail.com mizunda@hotmail.com

séculos. Por dentro todo o reboco havia desabado, tacos de madeira nunca mais pisados haviam perdido a função de chão e guardavam, quietos, seu potencial para afundamentos. A vida se reorganizava em novas disposições, explodia por entre vãos, brotava, impossível folha verde, dos interiores de canos empoeirados. Os buracos penetraram mais fundo nos tijolos, cavados por mãos invisíveis, até comunicar todos os cômodos com um profundo desdém Certa manhã acordou sozinha, com uma mancha verde entre

ao segredo imposto pelas antigas paredes. A ausência não quer

os dedos do pé. Ficou olhando. Levou o indicador até a mancha,

nenhum segredo pra competir com aqueles engendrados por si

sentiu a textura aveludada de musgo. Acolheu com inusitada ter-

mesma: a resposta misteriosa do eco, os bichos rastejantes que se

nura aquele verde bolorento, o corpo estranho que depois de dias

escondem bem, sua função mesma no mundo – disfarçada de falta,

tornou-se conhecido, familiar. A mancha alastrou-se pelo peito

casualidade. A ausência invisível e desencadeadora. Presença.

do pé com a candura e a vagareza de oceano que engole beiras de

Outro dos mistérios era aquele bater na porta, alguma porta

continentes cada ano uns centímetros mais. Deixou-a ser, passava

oculta, ou seria uma janela? Um bater insistente, de urgências. Em

as horas deitada de lado com os olhos fixos sobre o pé esquerdo,

primeira pessoa observam-se os cômodos, não se encontra a causa.

tentando divisar o preciso momento em que a coisa se alastraria

O barulho cada vez mais alto, menos espaçado. Continua a busca

mais um pouco rumo a tomar-lhe a perna inteira. Decidiu livrar-

daqueles olhos suspensos – olhos da própria ausência? Todos os cô-

-se das roupas, os cabelos cresciam, pelos, cutículas. Ficou assim,

modos giram ao redor deles, mais rápido, ainda mais. Foco no teto.

estática. Desabitou-se. Respirava silenciosa, casa abandonada de

Acordou sozinha, sobressaltada. E com uma mancha verde en-

janelas abertas. Desaprendeu a falar como se voltasse ao estado

tre os dedos. Passou os olhos do teto ao pé esquerdo. Ficou olhan-

primeiro dos seres todos, silêncio de matéria bruta. A ausência co-

do, levou o indicador até a mancha e esfregou bem até que tudo

meçou a descascá-la em vários pontos. A espinha dorsal vergalhão

saísse. Foi atender à porta.

escuro à mostra, e os joelhos, semi-dobrados, deixavam ver os tijolos sob a pele que se fora, como acontece com as quinas das pa-

34

redes quando o tempo passa demais. Na virilha brotaram liquens acinzentados, alguma lembrança de umidade, mar. Passaram-se

Texto Milena Paixão Fotografia Yury Aires


foto Ariny Bianchi

COSTURA A DOIS

Do contato com as imagens à criação literária. A ausência é o tema do projeto multimidiático do fotógrafo que inspira a escritora

sem uso ou esquecidos da Grande Vitória

a vídeos em stop-motion, que, por usa

como parte do seu projeto ] Ensaio sobre

vez, trazem uma música instrumental

ausência [. Parte desse trabalho mutimidi-

orientando a edição. O ensaio também

ático já foi disponibilizada sob a forma de

conta com ações de performance. Uma

quatro vídeos em stop-motion que resul-

vídeo-instalação será ainda outra forma

taram da produção fotográfica de algumas

de apresentar essa produção”, diz.

dessas visitas. Depois de produzir as fotos no Termi-

Segundo Yury, o desdobramento no campo da literatura já era uma potencia-

nal Aquaviário, o destino foi o terreno de

lidade almejada e percebida durante a

uma casa demolida na Av. Vitória. Ali é

concepção e o desenvolvimento inicial do

Manhã de domingo, a luz lembrava o

também outro lugar que deixou de ser, é

projeto e, de acordo com Milena, a temáti-

outono, mas já era o início da primavera,

um não-lugar – conceito perseguido por

ca do trabalho de Yury lhe instigou ainda

quando Yury Aires (23 anos) e Milena Pai-

Yury na sua criação.

mais a conceber tal produção literária. “É

xão (26) se encontraram. Ela, uma jovem

Na páginas 33 e 34 estão algumas das

desafiador escrever sobre algo que já es-

poetisa de Cachoeiro do Itapemirim, via-

imagens feitas por Yury para seu projeto

tabelecido, pois o meu processo de escrita

jou a Vitória para conhecer mais de perto

e na página 34 se encontra o texto de Mi-

é sempre muito espontâneo, é sempre

o trabalho dele, um fotógrafo e estudante

lena Paixão criado a partir do contato da

quando sinto a necessidade de escrever.

de Artes Visuais que busca a poesia, não

escritora com a obra do fotógrafo.

Confesso que o tema me atraiu bastante”,

nas palavras, mas em imagens de lugares que deixaram de ser.

Yury conta que o conceito de ausência é trabalhado e definido, paradoxalmen-

conta a escritora. Conhecer mais intimamente a propos-

te, de maneira muito ampla e particular

ta artística de Yury Aires naquela manhã

Aquaviário de Vitória. No imóvel, situado

pelos autores e artistas os quais acessou

de domingo foi uma forma de se “impreg-

à Avenida Beira Mar, não acontece mais

para subsidiar sua produção. “Isso torna o

nar desse sentimento”, diz Milena. Assim,

a atividade para a qual foi construído.

projeto potente para dialogar com outras

também paradoxalmente, trazemos im-

Desde julho de 2010, Yury tem feito

artes. Eu assumi isso na forma de mostrar

pressa nas páginas anteriores a presentifi-

imagens de espaços abandonados, vazios,

o trabalho: as fotografias dão origem

cação de toda essa ausência.

O local do encontro foi no Terminal

35


FABRICIONORONHA@YAHOO.COM.BR @FABRICIONORONHA

ARTIGO

onde um encontra o outro fabrício noronha

O

novo. A descoberta do novo. A arte como experiência transcendental. O contato com a produção artística como

O legado da gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura

determinante nos movimentos e nos pensamentos: cada

recoloca esse papo dez patamares acima: caminho que deve

qual. Relativo. Incrível. O prazer do gole do vinho ruim na praia

ser seguido no governo da presidenta Dilma. Democratizar e

da Barra do Jucu: tudo isso tem a ver com o mergulho na liberdade

desburocratizar o acesso aos recursos públicos, estimulando ações

– do corpo, agora suspenso, móvel na cidade e no planeta. Tem a

no calor de suas inspirações e seguir expandindo os conceitos de

ver com meus 16 anos.

cultura (games, rede social, cultura livre). Os editais da Secretaria

É indo e vindo que esse nosso rastro vai aos poucos nos redesenhando. Os espaços – os encontros. Estávamos em quatro

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risco e ousadia. Expor seu trabalho e suas ideias - ter ideias.

de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult) amadurecem a cena local nesse sentido.

ou cinco na porta da casa de shows de rock Gueto, em 1999,

Com relação ao processo de avaliação de propostas, os

conversando sobre o que seríamos. Somos onde vamos hoje. Somos

editais da Secult se mostram mais aperfeiçoados e são menos

a nossa mobilidade (fora das férias). Tem a ver com meus 26 anos.

burocratizados, o que facilita a elaboração de projetos. Também

N’hoje estou atento às grandes e pequenas aglomerações de

envolvem, na comissão de seleção, profissionais com isenção

gente querendo felicidade. Online e offline. Espaços espontâneos,

necessária para medirem a capacidade de plena realização e da

como atrás do Shopping Vitória, no Final Feliz, nas mesinhas do

pertinência das propostas concorrentes. Por vezes, chegou a

Restaurante Universitário da Ufes, na rua do Bar Bwana. Espaços-

realocar recursos de categorias onde nenhum inscrito atingiu o

espaços, como o Teacher´s Pub, Antimofo, Baile de Cobilândia,

mínimo esperado.

CEMUNI II, Cine Metrópolis. Lugares abertos ao trabalho autoral.

Modelo de mecenato caduco, a Lei Rubem Braga ensaia uma

Tão raros num Espírito Santo adolescente, vento e poupa –

reformulação ao passo que temos ainda quem defenda a criação

minguado de palcos livres.

de uma lei estadual baseada na velha troca de bônus – onde é

Precisa-se de produtor cultural atento à internet e honesto com

legado ao interesse da empresa o uso de dinheiro público nesse

o novo século. Inserir de vez os nossos assuntos culturais locais

ou naquele projeto. Retrocesso: nivela por baixo o trato artístico

no momento propenso do país. Isso é se mostrar, colocar a cara a

e a capacidade de um possível mercado autossustentável. Outro

tapa, circular com a sua produção para além. A rede é inteligente e

retrocesso: “distensiona” a rigidez do júri.

precisa ser alimentada com produção consistente; com qualidade,

(Os critérios de avaliação de projetos da Lei Rubem Braga são


ARTIGO

falhos e, por muitos, questionados, desde a composição do júri até a seleção de repetidos agentes culturais. Consequência: aprova-se muito projeto ruim.) Outras duas ações que vão dar o que falar: a chegada do primeiro Sesc Cultural no Espírito Santo e a implementação dos 20 novos Pontos de Cultura. De um lado, o primor do padrão Sesc, oferecendo aos artistas, aos produtores e, principalmente, ao público uma programação criteriosa com bom trato profissional e artístico. Do outro, os Pontos de Cultura que tocam e estimulam a espontaneidade do poder de transformação da cultura, instrumentalizando grupos e projetos potentes que vão reverberar ainda mais em suas regiões. O caminho está na rapaziada. As políticas públicas são um braço que deve estimular essa produção, quiçá sustentável e acessível à maioria da população. O que não pode é truculência: a reitoria da Ufes, há mais de cinco anos, proíbe shows no interior dos campi, uma afronta à importância histórica da Universidade na cena musical local, um desrespeito aos estudantes que são “obrigados” a organizarem suas festas na surdina. Os lugares/encontros não são para sempre. Com a rapaziada sem caretices e com uma queda para a pluralidade. Organizações coletivas, horizontais, troca de ideias, contato direto. O corpomuitos transbordando pela infinita arte. Sozinho até os maisdo-mesmo já sacaram que não se vai muito longe. Os lugares/ encontros são para sempre.

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ENTREVISTA

PGOISB@YAHOO.COM.BR | _@PAULOGOIS JORNALISMO@REDECULTURAJOVEM.COM.BR

PAULO GOIS BASTOS

Jovem usa habilidade com o desenho para promover a preservação das edificações dos emigrantes pomeranos no norte capixaba

Na infância, Rafael Schultz (21 anos) passava muitas horas desenhando ou

e arquitetônico para promover o resgate

construindo casinhas. Ele dedicou-se a

e a preservação da sua cultura e impedir

essa prática ao ponto de copiar as plantas

a perda do patrimônio arquitetônico pre-

baixas e croquis de imóveis veiculados em

sente nas casas dos colonos.

revistas. E o que era um capricho de crian-

Quando chegaram, os colonos tiveram

ça se transformou em uma ocupação pro-

que construir as suas próprias habitações

fissional e também em um instrumento

utilizando, principalmente, a madeira de

para a valorização histórica da emigração

lei existente em abundância nas matas da

pomerana no município de Vila Pavão,

região. A qualidade da madeira empregada

onde o rapaz nasceu e mora.

nessas construções faz desses imóveis uma

Descendente de pomeranos, Rafael

excelente fonte de material para a pro-

tem feito um trabalho de levantamento

dução de móveis artesanais rústicos. Em

dos imóveis construídos pelos seus ante-

virtude desse uso, desde a década de 1980,

passados, vindos do sul do Espírito Santo

muitas casas já foram demolidas na região.

para o município na década de 1940. Ele

38

usa sua habilidade com o desenho técnico

“Quando era criança, eu via o


município sofrendo essa degradação.

conta-nos Rafael. Por volta dos 11 anos,

desenhar aquela planta de casa. Quando

Frequentemente, a gente via caminhões

o rapaz participava de um grupo que

chegou o boletim, vi minha primeira

passando com material retirado a partir

fazia apresentações de danças folclóri-

nota vermelha e, por incrível que pareça,

da demolição dessas casas. Hoje, eu busco

cas pomerana, italiana e africana – as

era bem na matéria de Artes. Nem me

pesquisar quantas casas existem, qual

três expressões étnico-culturais mais

preocupei, pois, para mim, aquela planta

a situação delas a fim de preservá-las”.

presentes em Vila Pavão. Nessa idade, ele

era mais que uma arte, era o início de um

Estima-se que o município tenha cerca

também já trabalhava como vendedor de

sonho”.

de 100 imóveis construídos por colonos

picolé e de jornal e, ainda, como lavador

pomeranos. “Muitas e muitas casas foram vendidas a empresas, principalmente, de

de carros. Aos 15 anos, após assistir um comer-

Aos 16 anos, enquanto estudava à noite, o jovem trabalhou como caixa em uma sorveteria e lanchonete. No trabalho,

Minas Gerais, e transformadas em móveis.

cial publicitário sobre apartamentos na

aproveitava o tempo ocioso para dese-

Uma peça dessas chega a valer muito mais

TV, Rafael se aventurou a desenhar, pela

nhar. Essa insistência fez com que ele

do que aquilo que se paga pelas próprias

primeira vez, uma planta de casa. “Me

fosse descoberto por uma dupla de servi-

casas”. É para impedir o processo de de-

deu uma vontade de inventar como pu-

dores da Prefeitura na área de Engenha-

molição e conscientizar os seus proprietá-

desse ser uma casa para mim se eu fosse

ria, que frequentavam a sorveteria. Um

rios a respeito do valor histórico e cultural

construir. Fiz simples rabiscos. Nem ima-

deles viu os desenhos e resolveu investir

dessas habitações que Rafael tem feito o

ginava ser arquiteto ou engenheiro, mas

no talento do adolescente. Após isso, foi

desenho desses imóveis.

queria melhorar cada vez mais aquele

convidado a atuar em um escritório de

desenho. Assim, comprei várias revistas

arquitetura recentemente instalado na

sobre plantas de casas para aprender

cidade. “Nunca tinha feito um desenho de

sobre técnicas de desenho de uma planta

casa no computador, nem conhecia o pro-

arquitetônica”.

grama específico para isto. Mas comecei a

O ENVOLVIMENTO COM O DESENHO “Na minha infância, o que mais gostava de fazer era desenhar e brincar de construir casinhas de barro. Como meu

Rafael chegava a desenhar uma mes-

mexer no programa até aprender”. Graças

pai era pedreiro, gostava de acompanhá-

ma planta baixa por diversas vezes. “Em

a essa experiência, aos 18 anos, Rafael foi

-lo em algumas obras, para brincar, e com

uma aula de Artes, tinha um trabalho para

contratado para trabalhar como desenhis-

isso aprender vendo ele trabalhando”,

fazer, mas nem me preocupei, só queria

ta de projetos pela Prefeitura Municipal de Vila Pavão, função que exerce até hoje.

A DESCOBERTA DA ARQUITETURA POMERANA Rafael conta que, ao ver as casas modernas e futuristas em revistas de arquitetura, sentia-se incomodado por não encontrar aquele tipo de edificação onde morava, mas “com o tempo, percebi que nasci em lugar com uma arquitetura rica, porém pouco valorizada localmente”. Desde o início deste ano, o jovem tem feito o registro em desenho das habitações dos colonos pomeranos. Ele visita os imóveis e conversa com os proprietários sobre a importância de se preservar esse tipo de construção para a valorização da formação cultural e histórica do município.

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ENTREvISTA

PGOISB@YAHOO.COM.BR

Alguns desses desenhos são emoldurados e entregues aos moradores dos imóveis. Como trabalha durante a semana, Rafael faz essa atividade durante os sábados e os domingos de maneira voluntária. Parte da nossa entrevista aconteceu em uma dessas casas que foi descoberta enquanto Rafael fazia um trabalho para a Prefeitura naquela área. “Eu terminei meu trabalho e vim correndo pra cá. Eu tava doido para ver essa casa. É quase um tesouro, né, que estava perdido? Gostei muito e, nesse estilo, ela é a única na cidade”, revela-nos entusiasmado. A edificação possui dois pavimentos, o que a torna diferente da maioria das habitações já levantadas pelo desenhista. Estamos na sede do sítio do Seu Moacir Bening e Dona Irla Volz Bening, cuja propriedade é atravessada pelo Córrego Grande, que já deu nome ao distrito antes de se emancipar de Nova Venécia, em 1990, e passar a ser Vila Pavão. O riacho já não faz jus adjetivo. A aridez do noroeste capixaba certamente é bem distinta do clima da Pomerânia europeia. Por isso, os colonos fizeram adequações arquitetônicas para terem casas bem arejadas. A edificação suspensa e as frestas nos telhados são algumas dessas tecnologias. “Eles não estavam acostumados com esse calor. Então, acabaram fazendo uma arquitetura própria. As casas

“comecei a visitar essas casas e a pesquisar sobre elas para orientar aos moradores sobre a importÂncia de preservá-las” 40


ENTREVISTA

são suspensas do chão, o que possibilita a entrada de ventilação pelo assoalho. Os forros da casa também contam com sistema de ventilação”, aponta-nos Rafael. “As janelas são grandes e a maioria das casas pomeranas tem varanda na frente”. Rafael tem consciência de que o caminho até o reconhecimento oficial do valor histórico-cultural dessas casas ainda é longo. “Por enquanto, a gente quer saber quantas casas existem, qual a situação delas. As famílias devem saber que acabam ganhando ao preservar o patrimônio e que não irão perder a casa com esse processo”. A perspectiva é que esse levantamento seja o ponto de partida para o processo de tombamento dessas edificações. Essa ação de resgate do patrimônio pomerano ganhou repercussão na mídia e a comunidade local tem recebido positivamente a iniciativa. Alguns proprietários passaram a procurar Rafael para terem suas casas desenhadas, pois já conseguem perceber a importância que esses imóveis têm, tanto para a comunidade, quanto para eles próprios. “Quando eu chego na casa, os proprietários já sabem o que eu vou fazer. Pois já se comenta isso entre eles. Quem tem uma casa pomerana já fala um com o outro. A primeira coisa que eles comentam é sobre a recuperação dela mesmo. Por isso, a gente não chega falando do tombamento, mas eles já entendem que um dia pode ser tombado. Algumas famílias também estão reformando a suas casas por conta própria”.

OS USOS FUTUROS DO PATRIMÔNIO Rafael defende que a preservação patrimonial deve respeitar o uso atual

típica de pomerano. Outros até conhecem,

estabelecer diálogos com possibilidades

mas não dão a devida a atenção”.

tecnológicas da nossa época.

Talvez uma das maiores dificuldades

É nesse sentido que Rafael pensa o

dos imóveis, ou seja, as famílias devem

das culturas tradicionais seja a de desper-

impacto da sua ação para futuro: “Espero

continuar residindo em suas casas. Para

tar o interesse pela preservação de suas

que a gente possa conseguir recuperar es-

ele, o resgate cultural pode ser aliado a

tradições e pela valorização da história da

sas casas e que os jovens também possam

outras atividades, como o agroturismo,

sua comunidade nas gerações mais novas.

fazer construções pensando na cultura.

que possibilitem aos pequenos proprie-

Assim como Rafael, o que se percebe é um

Possam colocar traços da arquitetura

tários, a maior parte deles agricultores, a

engajamento cada vez maior dos jovens de

típica em novas construções deixando a

comercializarem a sua produção.

Vila Pavão nesse processo. O município

casa moderna”.

Outro aspecto a ser promovido com

tem se destacado pelos usos das mídias,

a preservação é o conhecimento desse

como o rádio e o audiovisual, para a pro-

patrimônio pela própria comunidade de

moção de aspectos histórico-culturais da

Vila Pavão, pois “tem muita gente aqui na

emigração pomerana numa clara demons-

cidade que nem conhece o que é uma casa

tração de que a cultura tradicional pode

Contribuíram com a concepção e produção desta entrevista a historiadora e integrante da equipe do PRCJ, Fernanda de Castro, a cientista social Gabriela Lacerda, e o Agente Cultura Jovem Julio Carlos Dettmann Sandro Silva.

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“essas janelas urbanas não mostram ruínas, mas um horizonte saturado. [...] no auge da visibilidade, a cidade tornou-se invisível”. nelson brissac

mariana de moraes | napaisagem.wordpress.com

na paisagem. na busca pela pa[ i ]sagem: da mais íntima e particular, aos espaços de convívio e de contaminações múltiplas. nos encontros: das pessoas e suas experiências, que sempre chegam contaminadas por memórias, hábitos, imagens, encantamentos de um cotidiano particular. no lugar do entre: entre o visível e o invisível, o dentro e o fora, entre o público e o privado, o real e a ficção. são nesses campos de intersecção que fazemos o convite: um [re]encontro com a paisagem.

janelas que apresentam o exterior. portas que abrem passagem para o fora. trânsitos que promovem encontros. agora encontramonos aqui para compartilhar a descoberta de paisagens nesse campo extenso e denso que conhecemos como cidade. nessa trama estão as visualidades do nosso cotidiano, a [geografia] dos nossos encontros. na fundação de um lugar para a experiência é preciso estar na paisagem.

na paisagem

NOSSA GALERIA


IGNEz CAPOvILLA

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Raphael Araújo

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vITOR SANTOS

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LUCAS ABOUDIB

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COLABORADORES Aline Alves Manauara e estudante de Jornalismo. Já desenvolveu atividades de rádio, internet, fotografia e TV. Trabalha no projeto Entre Jovens, do Instituto Unibanco. @alvesaline | alves.aln@gmail.com Adriano Monteiro Capixaba Roots e jornalista. Graduando em Ciências Sociais pela Ufes. De vez quando, poeta e cronista. É compositor e guitarrista da banda Redento. bubousideias.wordpress.com admonteiro@gmail.com Ariny Bianchi Graduanda em Artes Visuais pela Ufes, cursa Crítica Teatral pela Faculdade de Teatro e Dança. Trabalha como fotógrafa e faz parte da segunda turma de Agente Cultura Jovem. arinybianchi@gmail.com www.flickr.com/arinybianchi Andressa Reis Graduanda em Artes Visuais pela Ufes. Fotógrafa e arte-educadora. Desenvolve um trabalho Fotodocumental e um Projeto de Fotografia para Crianças. andyartesvisuais.blogspot.com andressa.es@hotmail.com Andrew Laureth Cantor e compositor. Cursa Música na Ufes. Participou da produção dos CDs das bandas Sexto Comando, Altitude e Talentos do Interior. Foi vocalista da banda holandesa Narrow e trabalha em um projeto solo. www.myspace.com/andrewlauret andrewlaureth@hotmail.com Bruna Andrade Bacharel em Serviço Social. É diretora administrativa do Instituto TamoJunto, associação criada por jovens para desenvolver intervenções urbanas por meio da arte, cultura, esporte e lazer. institutotamojunto.blogspot.com brunaandrademartins@yahoo.com.br Carolina Ruas Jornalista, pesquisa Cinema e gosta de revistas engraçadinhas sobre música e literatura. Integra o coletivo FoiaFeira e o Grupo de Estudos Audiovisuais - Grav. www.cruas.wordpress.com carolinaruasp@gmail.com Daniel Fernandes Vilela Jornalista, ilustrador e estudante de Comunicação da Ufes. Faz parte do Cronópio, tendo criado o projeto gráfico da Revista Graciano. No momento, rouba memórias alheias para escrever um romance. damn.fernandes@gmail.com www.musicademobilia.com/blog

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Fabrício Noronha Artista, escritor e realizador audiovisual. É vocalista da banda Sol na Garganta do Futuro e um dos fundadores do Cine Falcatrua e do Coletivo Multi. Autor do livro de poemas Sangue Som Fogo (2007). garganta.blog.br | fabricionoronha@yahoo.com.br

Fernanda de Castro Graduada em História pela Ufes. Desenvolve trabalhos sobre cultura afro-brasileira. Pesquisa a trajetória do Museu Capixaba do Negro (Muncane) e é coordenadora da Formação Agente Cultura Jovem. fernandadecastro.b@gmail.com acaocultural@redeculturajovem.com.br Haroldo Lima Jornalista e membro do Coletivo Foi à Feira. Integra o Grav – Grupo de Estudos Audiovisuais da Ufes. Escreve. haroldolia@gmail.com | @haroldolia Iran Soares Desenhista, graffiteiro e tatuador. É idealizador do Núcleo de Criação Graffiteria e rabiscou vários muros e corpos dessa Grande Vitória. www.flickr.com/irantattoo iran.os@hotmail.com Juliana Lisboa Designer e ilustradora. Mantém uma incubadora de design gráfico. Faz parte do Coletivo Foi à Feira. Desenvolve um projeto de fanzines com o público infantil. Foi selecionada para a 3ª Bienal Brasileira de Design (2010). www.juuz.com.br | infantozines.wordpress.com Juliana Colli Tonini Bolotas, designer e malabarista. Pesquisa a memória gráfica capixaba, participa do coletivo Foi à Feira e investe sua criatividade em uma incubadora de design. www.juuz.com.br | @bolotas Katler Dettmann Graduanda em Comunicação Social pela Ufes. Assessora de imprensa do Núcleo Afro Odomodê da Prefeitura Municipal de Vitória. Desenvolve um projeto de televisão sobre juventude e cultura da periferia. @katlerdw | katlerdw@gmail.com Kamilla Custódio Estudante do 3º ano do Ensino Médio. Twitteira assídua. Apaixonada por cultura japonesa e games. Geek em tempo integral e desenhista nas horas vagas. coffee-andmilk.blogspot.com millacustodio@hotmail.com Leandro Reis Cursa Jornalismo na Ufes e escreve na Revista Graciano. Mantém um blog pessoal onde tenta fugir das amarras do jornalismo tradicional. leandrosr.blogspot.com leandro.souza.reis@gmail.com Lellison Souza Cursa História na Ufes. Aprecia cinema. Ex-corneteiro de banda marcial, ama música. Ouvinte paciente e bom competidor em discussões. lellisonfunes.wordpress.com lellisonas@hotmail.com Luara Monteiro Fotógrafa e artista plástica formada pela Ufes. Participou das exposições Incomunni (2009) e Um outro Olhar (2008). Em 2010, teve o seu projeto Rota 101

contemplado pela Bolsa Cultura Jovem. monteiroluara@hotmail.com www.flickr.com/luaramonteiro Marcelo Hilarino (Voodoo) Aluno do curso de Artes Visuais na Ufes. Faz beatbox e participa dos coletivos Bolor e a Expurgação. Faz pate da segunda turma de Agentes Cultura Jovem. Teve criações selecionadas pelo site da Revista Zupi. flavors.me/vuduzim bolorarts.blogspot.com/ Marcos Ramos É pesquisador, poeta e editor da Água da Palavra – Revista de Literatura e Teorias. Tem textos publicados em diversas revistas literárias e periódicos. www.aguadapalavra.com marcos@marcosramos.com.br Mariana de Moraes Artista, pesquisadora, professora. Trabalha a partir do conceito de [HnA] molécula multiplicadora de arte. Compartilha encantamentos sobre arte, fotografia e moda. www.napaisagem.wordpress.com msamoraes@gmail.com Milena Paixão Professora de Língua Inglesa e graduada em Letras. Dedica-se à leitura por vocação e à escrita por necessidade. Autora do livro de poesias Catar-se (2009). É uma das organizadoras do Sarau Verbo Intransitivo e colabora com a revista Cachoeiro Cult. mizunda@hotmail.com Moisés Nascimento Graduado em Letras-Português e mestrando em Letras pela Ufes. Professor de Literatura, compositor e músico. É um dos fundadores da banda Zamba’Bem e faz parte da segunda turma de Agentes Cultura Jovem. redeculturajovem.com.br/agentes/diario-bordo-moises/ @moinascimento Rodrigo Hipólito Artista, crítico e poeta. É autor do blog Seleta Envelhecida e atua no Coletivo Monográfico. www.seletaenvelhecida.blogspot.com objetoquadrado@gmail.com Thalita Covre Fotógrafa, poeta, pintora, professora, musicista. Tudo pela metade. Uma curiosa em expansão. Possui um blog onde guarda palavras e silêncios e uma máquina fotográfica que tem nome de melhor amiga: Esmeralda. www.flickr.com/thalita_covre | thalitacovre@gmail.com Yury Aires É técnico em Comunicação Visual pela Contec e estudante de Artes Visuais pela Ufes. No audiovisual, atua como assistente de câmera e direção de arte. Também faz trabalhos como desenhista gráfico. www.youtube.com/user/yuryaires yuryaires@gmail.com


Governo do Estado do Espírito Santo

Revista Nós

Paulo César Hartung Gomes – Governador

Jornalista Responsável e Editor– Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530)

Ricardo Rezende Ferraço – Vice-Governador

Projeto Editorial – Orlando Lopes e Paulo Gois Bastos Projeto Gráfico Original – Alex Vieira e Vinícius Guimarães

Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo

Revista Nós – edição nº 2

Dayse Maria Oslegher Lemos – Secretária

Direção de Arte, Diagramação e Capa - JUUZ

Erlon José Paschoal – Subsecretário

Ilustração – Iran Soares, Juliana Colli Tonini, Juliana Lisboa e

Anna Luzia Lemos Saiter – Subsecretária de Patrimônio Cultural

Marcelo Voodoo

Instituto Sincades

Textos – Adriano Monteiro, Aline Alves, Andrew Laureth, Bruna

Idalberto Luiz Moro – Presidente

Andrade, Carolina Ruas, Daniel Fernandes Vilela, Fabrício Noro-

Dorval Uliana – Gerente Executivo

nha, Fernanda Barata, Fernanda de Castro, Haroldo Lima, Katler Dettmann, Kamilla Custódio, Laíssa Gamaro, Leandro Reis, Lellison

ONG Universidade Para Todos

Souza, Mainá Loureiro Ferreira, Mariana de Moraes, Marcos Ramos, Milena Paixão, Moisés Nascimento, Paulo Gois Bastos e Rodrigo

Ricardo Trazzi – Presidente

Hipólito.

Programa Rede Cultura Jovem

Revisão – Luiz Cláudio Kleaim

Erlon José Paschoal – Coordenador Vânia Tardin de Castro – Coordenadora da Plataforma de Projetos

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Marcelo Maia – Coordenador da Plataforma Digital

Fotos – Andressa Reis, Ariny Bianchi, Bianca Pimenta, Drielly

Roberto Alves Santos - Coordenador Administrativo-Financeiro

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Equipe Técnica Fernanda de Castro Barbosa Filipe Alves Borba

Conselho Editorial da Revista Nós

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Rua José Alexandre Buaiz, nº 160 – sala 703/705 – Ed. London Office Tower – Enseada do Suá – Vitória-ES CEP: 29.050-545 | (27) 3026-2507 | jornalismo@redeculturajovem.com.br | www.portalyah.com.br Vitória-ES Novembro de 2010

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ARREMATE

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ANIME FEST GO! Estas fotos foram feitas nos dias 18 e 19 de setembro deste ano, durante o 5º Anime Fest. O evento foi realizado no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Vitória, e contou com o público de 3.500 pessoas. Quem esteve lá conferiu a paixão dessa galera pela cultura japonesa e uma variada programação de apresentações, concursos e oficinas.


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