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Transcrição Mayra Siqueira

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

Transcrição Mayra Siqueira

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Vou fazer a primeira pergunta tá, pensando aí no meio esportivo enfim…É, você já chegou a sofrer algum tipo de preconceito só por, é.. só por ser mulher né ambiente que é majoritariamente de homens? Cê já chegou a sofrer algum tipo de preconceito por conta disso?

R: Sem dúvida nenhuma, mas acho que o grande ponto do, do, do machismo né, do preconceito dentro do, do… do jornalismo esportivo é… era uma coisa muito mais velada né, uma coisa é… muito mais difícil alguém virar e dizer… Você falou besteira porque você é mulher por exemplo ou… Sei lá (trecho não captado) todas as mulheres que trabalham no esporte, mas é… existe muito muito muito assim: Realmente corriqueiramente aquele, aquele preconceito velado, aquele preconceito que o… Principalmente o machismo né, que as pessoas não… não percebem o que, que tá acontecendo. Então vai virar e falar “Ah, é… A gente vê poucas mulheres falando de esporte porque tiveram é… não tiveram oportunidade crescendo quando criança não jogavam bola como os meninos e coisas do gênero né”. Fazendo esse tipo de associação é… que é uma associação preconceituosa porque cada um teve a infância que teve, a gente sabe que a sociedade é estruturada de uma forma que realmente as meninas não… Jogam menos futebol do que homens, se interessam talvez menos. Mas é… querendo ou não, é um, um… um preceito né, um pressuposto preconceituoso é… Até o, o simples fato de uma mulher estar comentando, incomodar muito né… Os homens, isso a gente percebia diversas… Eu participei bastante de mesas de debate principalmente na televisão e você via que tinha homens que ficavam incomodados é, e o meio (trecho não captado) que é uma das coisas que mais aconteciam o tempo todo né, você fala alguma coisa e alguém repete exatamente o que você disse com outras palavras e todo mundo fala nossa, realmente, você tem razão é… e o que você falou passou batido ou todo mundo faz cara de paisagem, tipo “Ai, lá vai a mulher falar” Então isso acontecia muito no dia a dia é… Entre, entre os comentários mais explícitos até os comentários mais

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velados comportamento velados e… Comparações com mulheres. Isso acontece muito e hoje eu acho que felizmente a geração atual é… Consegue perceber que acontece mais, então quando eu comecei, hã, mais de dez anos atrás, é… era muito comum as mulheres no esporte serem julgadas e assim “Ah, aquela lá… é, a gente sabe que ela tem relação muito próxima com jogadores, com os treinadores assim, era muita coisa subentendida, é… que a mulher precisava ter feito alguma coisa, ter, ter tido algum tipo de, de, de ato libidinoso com o personagem para que ela tenha conseguido aquela informação, aquela entrevista. É… Que hoje ainda está… Ainda existe, mas tá caindo um pouco mais por terra e existia muito uma competição entre as mulheres que eram obviamente comentada pelos colegas, então é… exatamente na comparação. Muitas vezes eu ouvia “Você é a melhor repórter mulher de rádio”. É… Isso implica que é, estão sendo comparada com outras repórteres mulheres e entre as mulheres, aquela pessoa tá me dizendo que eu sou melhor do que as outras. Mas por que que eu tenho que ser melhor do que as . É… eu sempre me questionava: Mas porque que eu não sou melhor entre os repórteres, ponto. Né… porque que eu tenho que ser a melhor repórter mulher, eu não quero ser a melhor repórter mulher. Dane-se ser a melhor repórter mulher, eu quero ser a melhor repórter. Porque que cê tá só me comparando só a uma outra mulher. Então esse tipo de coisa acho que a gente pode hoje fazer uma análise muito mais, hã, objetiva do que se fazia na época, não é tanto tempo assim, mas dez, quinze anos atrás e obviamente antes disso, também acontecia bastante e hoje as mulheres se unem muito mais, se comparam muito menos, porque, eu dentro dessa realidade me comparava é… Eu dentro dessa realidade julgava outras mulheres e, e parei para parar… Eu comecei a conversar mais com elas e eu falei “Nossa, a gente é tão parecida, e… porque as pessoas falam isso delas ou porque que eu estou me comparando com elas e por que que a gente tá competindo entre a gente. Então, hoje existe mais sororidade, mas realmente isso é, é algo que faz parte e ainda precisa ser muito desconstruída no, no meio é… esportivo.

É, boa noite Mayra! Muito obrigado pela presença e pela primeira resposta. É… Uma das outras vertentes que a gente tá falando nesse tema, que envolve também… sentido

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na parte LGBT, é… sobre o futebol em sua essência. É muito comum é… Ter no futebol feminino por exemplo mulheres, é, da comunidade LGBT. É bem mais comum do que no futebol masculino por exemplo, que nas grandes ligas no mundo e no Brasil principalmente, não temos nenhum caso né, um atleta assumido ou algo do tipo. Como você enxerga isso e o que você é, acredita levar a isso não acontecer. Provavelmente pode existir né, um atleta homem hétero… homem hétero não. Homem que seja homossexual, porém, ele não é assumido. O que você acarreta esse fato?

R: Bom, é… acho que até essa é relativamente mais fácil de, de responder é… Primeiro que estruturalmente a figura da mulher lésbica ou da mulher com mulher ou casal homoafetivo feminino, existe uma mística em volta né, é uma coisa que muitas vezes acaba sendo utilizado é… até pra… para erótica de ,hã, interesse masculino. Então já, já, já é uma coisa que é mais fácil de, de aparecer né. É, e também porque o peso em cima das mulheres homossexuais é muito mais leve na nossa sociedade, não quer dizer que não exista e obviamente existe muito preconceito e muita homofobia também. Mas entre as mulheres um peso muito mais leve e um peso muito, hã, mais “fácil”, também entre aspas [...] do que o peso entre os homens, porque a nossa sociedade, machista estruturalmente, mostra e,e,e… determina, que o homem tem que ser homem, como a figura que a gente conhece de, de homem né, do homem machão. Tem que ser forte, tem que, hã… Uma série de comportamentos que fazem com que não seja permitido que ele seja, hã, homossexual. É, é muito mais difícil para um homem sai do armário, hã, principalmente no meio extremamente machista do que é… As mulheres. É… sem, sem contar que o futebol por si só é um meio já muito machista, então, pegando um exemplo do vôlei, por mais que seja mais difícil, não é a coisa mais fácil do mundo um homem homossexual se assumir. É mais fácil um homem homossexual se assumir porque vôlei já é tido como um esporte um pouco menos másculo. Já o futebol não permite isso, além de ser uma paixão mundial, além de ser um dos esportes mais populares do mundo, o que faz com que as atenções sejam é, muito maiores para esse tipo de modalidade. Então tem uma série de fatores que faz com que para os homens seja muito mais difícil se assumir em um meio em que a represália vai ser muito grande. Se você

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parar para pensar é, na represália que o jogador, de novo, de vôlei ou de uma modalidade um pouco menor vai ter da, da torcida é, ao se assumir homossexual é um peso muito melhor do que se você falar de um jogador do Flamengo, de um jogador do Corinthians ou de qualquer grande clube do Brasil né, principalmente os grandes clubes, que tem uma torcida enorme e existe uma proporção de pessoas, hã, muito maior, que pode fazer qualquer tipo de agressão, linchamento virtual e etc… Então é muito mais difícil para o homem homossexual, hã, de uma maneira geral, entre as mulheres existe uma aceitação um pouco maior da sociedade ou até mesmo também não é só uma questão de aceitação, mas é uma questão de visibilidade, o futebol feminino está em um momento de grande crescimento, mas a gente sabe que historicamente foi um esporte de baixíssima visibilidade. É… falei do futebol feminino por que é um dos que tem, é… é um dos que até você citou né, que pode ser tido como caso de exemplo. Mas qualquer modalidade, as modalidades femininas em um geral, acaba sendo modalidades que.. é tem menos visibilidade do que as, as modalidades masculinas. Então, essa é uma outra briga (risos) que tem a ver também com a primeira pergunta de vocês. O… as mulheres no esporte como um todo… Tem menos visibilidade, é de menos atenção ou, ou recebe um pouco menos de, é, de, de… De atenção mesmo, mas enfim, acho que esses são fatores que contribuem pra, pra isso.

É… Mayra, a gente, estudando, a gente percebeu que principalmente na grande mídia, existem muito poucos, muito poucas reportagens falam sobre o tema LGBT e tal. E durante a experiência de jornalismo esportivo você viu algum movimento nos Bastidores para que existe algum programa pelo menos um quadro ou reportagem envolvendo esse tema?

R: Acompanhei muito pouco, sempre algo do meu interesse próprio, se não ter um quadro ou um programa específico, matérias específicas, então em alguns casos a gente chegou a ver algumas matérias é.. sendo feitas e geralmente focando na, na… em relações homoafetivas, o atleta é… assumidamente homossexuais mulheres, até por ser muito mais fácil de acontecer, mas é algo também que acaba sendo um assunto ainda

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tabu, um assunto que é, é difícil que apareça… Não vou dizer de cabeça assim “Nossa, nunca se falou sobre isso na Globo”. Talvez tenha e eu não, não, não lembre de cabeça. Mas eu lembro de alguns… Eu sei que alguns veículos tentaram. Eu mesmo quando trabalhei é, em rádio é… Na rádio, na CBN, na Rádio Globo tentamos emplacar algumas questões dessa ou é… o que a gente podia fazer, trabalho de formiguinha, que é tratar do assunto com a maior naturalidade possível. E isso eu percebo que não existe um quadro, não existe um programa específico pra tratar o assunto, mas é, existem convidados que são… de programas que assumidamente são homossexuais e falam sobre o assunto e existem matérias que cada vez mais estão saindo aí sobre esse respeito e que vai saindo sobre, sobre o assunto. Então, é hoje você vê com muito mais facilidade, na cobertura dessa última Olimpíada por exemplo, Ana Marcela Cunha campeã Olímpica da Maratona Aquática, dedicando a medalha pra namorada, citando a namorada ao vivo, entre outras atletas. No vôlei isso acontece também com, com mais frequência. É… senão atletas fazendo isso ao vivo, em entrevistas, ah, nas redes sociais, falando sobre o assunto né, falando sobre seus relacionamentos e isso virando a notícia como acontece é… Com muitos atletas. Atletas que tem a sua vida aí é, o tempo todo vigiadas é… quando tem uma declaração, quando tem uma foto, quando alguma delas é mãe ou coisas do gênero, acaba saindo bastante. Sempre é, no feminino. Muito mais difícil a gente ver casos é, entre os homens.

Sim! E já falando em profissional tá? É, atualmente a gente tem visto que nomes femininos vem surgindo aí, ganhando mais força né, no meio, no mercado de trabalho, enfim. E a gente trouxe aqui dois exemplos que é a Natália Lara e a Renata Silveira tá? E aí na sua percepção, é… cê acredita que finalmente essas mulheres estão ganhando força no espaço, na mídia esportiva ou não, são só alguns casos que vem aparecendo e para quantidade de leque né de mulheres que tem, que falam sobre o assunto de mídia, na mídia sobre esporte, elas não tem tanto espaço assim?

R: Eu acho que é um movimento para um equilíbrio de balança que a gente está vivendo. Não vai ser do dia para noite, não vai ser fácil, é… mas existe um movimento

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das emissoras, existe um movimento dos veículos que começou com mulheres escrevendo sobre futebol, aos poucos foi passando para mulheres sendo repórteres, é… depois a gente teve um passo para mulheres comentaristas, hã, e depois a gente… agora para as mulheres narradoras e ainda é um espaço ainda mais difícil do que de comentarista que também já é um espaço dificílimo, porque sempre foi ocupado por homens. No começo era, “Tá bom? Deixa a mulher falar de futebol como reportagem porque até aí tudo bem”. E também por muito tempo eram as mulheres bonitinhas, as que tinham… que tavam aparecendo, enquanto cê podia ver homem de todo tipo né? Mas bonitinha eu quero dizer dentro do padrão de beleza da, dessa sociedade. Então, é um movimento que tá acontecendo e infelizmente foi um movimento, hã… vou colocar aqui, não sei se é o termo mais adequado, mas o movimento por cotas,ou seja, a gente precisa colocar mulheres então vamos começar a colocar mulheres. Mas é um movimento que aconteceu e que conseguiram é, encontrar mulheres muito boas aí dentro desse mercado e conseguiram encontrar espaço e cada vez mais elas aparecem e comentam e a gente tem aí na TV Globo… Não só mulher narrando, raríssimo mas acontece com a Renata como você mencionou, como a gente vê comentaristas eventualmente em jogos do masculino e jogos de Futebol Feminino, mulheres comentaristas aparecendo e isso dentro da Globo foi uma mudança gigante de… falar de Globo porque a gente tá falando do maior canal de televisão é, do Brasil com uma audiência assim é… avassaladora. Então é um movimento sim para que isso esteja acontecendo, é… e, mas é um movimento que ainda vai demorar é… um pouquinho para a gente ver resultados, por quê? Porquê quando eu cresci, eu via é… Cléber Machado, Galvão Bueno, é…né, Milton Leite, hã, Luciano do Valle, entre outros grandes narradores, falando só dos de televisão ainda, é… por aí, e eu achava incrível, achava legal, sempre gostei de esporte, não tava envolvida mas tudo bem. Tô na rádio, hã, na época o Deva Pascovicci é… que trabalhava na CBN falava para mim muito, cê tem que narrar, cê tem voz pra narrar e eu sempre pensei “Não, o que que ele tá falando? Nada a ver eu narrar, nada a ver eu narrar”. E eu, porque eu cresci sem um modelo feminino narrando. É, e não segui essa carreira, por mais que alguns narradores tenham brincado né de me colocar pra narrar e falado que teria dado certo. E hoje a

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gente tem mulheres narrando na TV, na TV aberta e eu tenho certeza que é uma geração de meninas que estão crescendo, estão olhando e estão falando e podem crescer e falar: Eu posso ser a Renata. Assim como muitos meninos e convivi com muitos colegas que queriam ser narradores né, quando a gente trabalhou, quando eu trabalhei em rádio, que falavam: Eu queria ser o Galvão Bueno. E eu conheci o Galvão Bueno e era nossa, um, um sonho pra mim. E eu não tinha esse sonho porque eu não queria ser o Galvão né? Então talvez a gente tenha muitas meninas que cresçam falando “Eu quero ser a Renata, hã, como a Natália, eu quero ser como diversas outras garotas”, como, como a Ana Thaís, é, que tá comentando na TV. Então isso é um movimento por, hã, exemplo né, por representatividade, é muito importante, mas a gente tá falando de toda uma geração. Então aos pouquinhos isso vai acontecendo. Eu me inspirei na Natalie Gedra pra trabalhar em rádio, porque uma mulher na, na rádio é legal e eu pensei, talvez eu possa fazer isso. E espero que eu tenha sido exemplo pra outras meninas também, inspiração pra outras meninas, é… assim como uma nova geração vai vir crescendo diferente. Mas não vai ser do dia para noite né, Porque é… assim como no futebol feminino, a gente ralou muito para encontrar algumas mulheres que tinham muito talento e pouquíssimo desenvolvimento técnico, profissional, hã, ou mesmo de, de… preparo físico, porque não era uma coisa que é normal, você não cresce com… desenvolvendo futebol, esporte para as mulheres. Então não se cresceu é… desenvolvendo uma geração de mulheres para serem jornalistas narradoras, comentaristas. Isso está começando a acontecer agora, então é um movimento que a gente vai ver nos próximos anos.

É, Mayra, você acredita que a forma como a imprensa trata a pauta homofobia no futebol já teve muita mudança, se a gente pegar por exemplo, o começo da década passada para hoje?

R: Ah, sem dúvida nenhuma, hoje… Isso não é só no esporte né, acho que em qualquer movimento, em qualquer assunto que a gente assiste na mídia, hã, filmes ou em qualquer tipo de representação que você tenha de, de, da, da, de, é… de pessoas homossexuais e pessoas LGBT, isso mudou completamente, porque a cabeça das

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pessoas tá mudando e a gente tá falando de uma geração em que isso é cada vez mais natural, na verdade, hã, o homossexualismo é… homossexualidade é, são (risos) é algo que é até pequeno dentro da comunidade LGBT hoje né, a gente já tem pautas extremamente mais complexas que tá falando de gênero, a gente tá falando de transgênero, a gente tá falando de é, pessoas (trecho não captado), a gente tá falando de pessoas trans, então, é… a gente tá falando de, de, de identidade de é… de gênero como um todo assim. É um leque tão grande que, é fica até difícil da gente só falar de homossexuais. Então eu acho que sim, é… mudou completamente ,hoje, dentro do esporte, a gente tem a pauta de transgêneros no esporte que é muito complexa e essa ainda é muito maltratada, é, ainda existe um preconceito muito grande, ainda existe muita ignorância principalmente, então como a gente não sabe exatamente como tratar o assunto, é… acaba sendo, acaba… a gente acaba ouvindo muita besteira, a gente acaba, hã, ouvindo muita incerteza né? Então quer dizer que um atleta que era homem, um atleta trans que era homem e fez a, a, a… todo o processo para se tornar uma mulher, hã, ele pode competir entre as mulheres ou não pode. Nossa, essa é uma pauta que, é… você cutucar um vespeiro hoje em dia né, muito complicado. Então eu acho que sim, a gente evoluiu muito, mas a gente ainda tem anos luz pra gente é… cruzar, para a gente atravessar, para a gente chegar, hã, pra que o debate esportivo acompanhe os debates que a gente de fora do mundo do esporte. Não sei se ficou claro, se eu me enrolei aí, mas basicamente é isso.

É… Mayra, falando um pouco sobre a parte dos profissionais propriamente dito, é… envolvendo um pouco sobre discurso, como eles é, tratam hoje em dia que tá cada vez mais comum é, os profissionais levantarem algumas bandeiras é… falando sobre racismo, é, eles mesmos já opinarem sobre isso é… mais naturalmente em diversos programas, algo que não era tão comum e, por exemplo, teve um caso da Gabriela Moreira, ex ESPN que está atualmente na Globo, que ela tava numa reportagem numa, num pré-jogo e um torcedor falou “Ah, hoje vamos enfiar dois nos Bambis”. E ela já retrucou automaticamente o torcedor, falando que esse tipo de pensamento é algo muito antigo, que não deveria ser feito dessa forma, que ele estava totalmente errado. E

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retrucou novamente falando que não era para ele pensar assim ou algo do tipo e ele saiu andando como… resumidamente ela falou é… falou de certa forma mais explícita né, sobre é… o LGBT, um algo que não é tão falado, retrucando um, um… entrevistado. E se você enxerga por, por exemplo esse tipo de… é… um crescimento. Os profissionais cada vez mais falando sobre é, determinado assunto é… falando propriamente dito ó “ É, esse tipo de brincadeira é errada. Não é uma brincadeira, é uma ofensa”. Como você enxerga isso, se é algo positivo, se é algo que está realmente acontecendo.

R: Eu acho que tá acontecendo, mas muito timidamente. a Gabi que você deu o exemplo, é uma excelente profissional, uma cabeça incrível e que faz diferença né? Não é uma pessoa que é… estática ou apática, então… acho que ela é… até um ponto fora da curva mas extremamente positivo e que também impulsionou para que outros profissionais é… se comportassem dessa mesma forma hã, e,e, e… repreender esses comportamentos que… que não são mais aceitos, que foram brincadeira um dia e que hoje a gente entende que não é brincadeira, que não é legal, até como por exemplo, não me lembro qual foi a repórter é, do SporTV é, que, que teve um caso de um, de um, torcedor que tentou beijá-la ao vivo e esse tipo de coisa enfim, tem várias repórteres que passaram por isso. Mas, que hoje assim, é, é muito mais fácil a gente comprar essa briga e, e repreender essa atitude do que tratar como uma risadinha pra repórter ficar sem graça e segue o baile né? A gente não segue mais o baile, a gente para e fala. “Não é legal, você não vai fazer isso”. Então é, acho que é… isso são mudanças que a gente vem vendo é, é… são extremamente positivas. Eu acho que a gente vai continuar vendo cada vez mais, porque tudo isso trabalha junto com a conscientização da sociedade, então hoje, muita coisa socialmente é discutida, muita coisa socialmente não é mais aceita, muita coisa já não é mais vista como brincadeira, que era vista antes, é.. então hoje você não vai ver um comentarista numa bancada, um comentarista homem com uma mulher, fazer uma piadinha machista e passar batido. E antigamente isso seria né, todo mundo daria risada e a mulher ia ficar sem graça e ia seguir o baile. Então acho que hoje a gente não segue mas o baile né? Hoje a gente tem, hã, um comportamento muito mais diferente, ainda vai acontecer, ainda vai ter gente que não se conseguiu se

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encaixar nessa nova forma de pensar que a gente como sociedade está tentando construir mas é um caminho sem volta, acho que é, as próximas gerações vem com principalmente esses debates que vocês estão trazendo neste trabalho né, como LGBT, como machismo, como racismo são coisas que cada vez menos são aceitas é, e esses debates são cada vez mais frequentes e de maior concentração.

GRAVAÇÃO - SEGUNDO ÁUDIO

Então pensando aí, no último ponto que cê tava trazendo pra gente, pensando na empresa tá? Não só na questão da experiência. É… você já sofreu ou já viu alguma situação é, em relação a sede ou agressão contra mulheres? Então se trouxe ali no caso dos homens que iam lá e então tentavam beijar as jornalistas, enfim… Mas voltado a mulheres LGBT, então pelo fato dela ser LGBT ou não né, ela sofrer algum tipo de agressão ou assédio em eventos esportivos e como que a empresa reagiu essa situação? Então se caso você já vivenciou, da empresa deu algum suporte para essa profissional? Ou não? Finjiu demência e, e seguiu o baile também?

R: Eu confesso que tem um… é muito mais difícil encontrar profissionais LGBT. Assim, hoje em dia acho que até tem um pouco mais, mas dentro do jornalismo esportivo não, então eu não tenho nenhum caso de cabeça assim que eu, que eu possa falar, que eu me lembre. Assim, no máximo é… algum tipo de comentário negativo, de… enfim né? Sei lá? Chamar uma mulher de, de sapatão, alguma coisa assim. Mas é assim, não consigo nem lembrar nenhum caso de cabeça, então realmente não sei dizer. Com relação a assédio. Assédio mesmo de… por exemplo, uma jornalista ter sido muito ofendida, ameaçada ou de tentativa de, de, de… de beijar enfim, alguma coisa assim… É, eu lembro muito vivamente um caso com a Joana de Assis que… é… no estádio da Portuguesa, no Canindé ela.. é… tinha uns torcedores muito próximos ali na entrada do túnel por onde os jornalistas vão pra sala de imprensa né, para as entrevistas. E quando ela tava entrando lá, é… eles realmente assim, falaram ofensas muito pesadas para ela, assim… ameaçadoras né?! E assim, foi extremamente desconfortável, inclusive se não me engano, acho que o câmera até… dela conseguiu registrar, e… E aí ela processou,

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enfim, entrou na justiça, a… não necessariamente acho que a,a… a emissora chegou a, a fazer alguma coisa, mas teve um… rolou um apoio assim, acho que não… não fez nada publicamente, mas… ela foi apoiada ali na decisão dela de ir atrás inclusive usando as imagens que ela tinha pra, pra… pro caso. Mas assim, fora isso eu não consigo lembrar de nada mais específico. isso… é… principalmente dentro do cenário LGBT.

É Mayra, só para fechar agora a última pergunta. é você acha que no futuro tem alguma perspectiva para que a comunidade LGBT seja aceita e que o assunto seja considerado normal ou mais normal possível?

R: Sem dúvida! Eu acho que já é né como eu falei, já acontece isso é, aos poucos. A gente já vê uma mudança de tom nas matérias é… inclusive isso vira um assunto que é corriqueiro e que é complicado hã… sem que exista muita explicação, então tá tudo de uma forma mais naturalizada e quanto mais natural trata-se o assunto, mais natural ele parece para o público. Então vai deixando de ser um tabu, então, por exemplo, como eu falei: A Ana Marcela fazendo a dedicação da medalha dela e citar o apoio da namorada dela e isso não virar um assunto é… por si só, e sim estar inserido no contexto de… da medalha da Ana Marcela, é… já é uma vitória, porque ninguém ficou falando “Ana Marcela tem namorada, ela tem uma namorada”. Não, assim, ela dedicou para a namorada, assim como qualquer atleta de qualquer modalidade pode ter dedicado. Uma… um jogador de futebol dedicou um gol para esposa que tá grávida por exemplo. Então entrou dentro de um contexto de naturalidade, e isso é um movimento que a gente tá vendo cada vez mais, e eu acho que vai ver sim cada vez mais. Quando eu fui estagiária num… num dos meus primeiros estágios dentro do esporte, que foi é… no globoesporte.com, na época, a página dos clubes era sempre sempre todos os dias tinha a foto da musa do Paulistão, da musa do time. Então o São Paulo tinha musa, o Corinthians tinha musa. Sempre tinha uma mulher dentro de um corpo super padrão de beleza né, é… toda boazuda, gostosona e etc… e toda curvilínea, e toda página tinha uma dessa e tinha que ter a página… nas páginas do clube, porque era assim que a coisa

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era tratada e isso dava muitos clicks, e o jornalismo de internet né, o jornalismo online, ele, é… vive de clicks e de quantos acessos as matérias tem para que exista, é… para que a roda gire. Então isso era fundamental e hoje graças a Deus felizmente a gente não tem mais isso, não é mais necessário você colocar uma mulher com pouca roupa é, para que você tenha clicks, acessos e que isso seja uma coisa obrigatória digamos assim. Então esse tipo de pauta já não é mais uma coisa… não vou dizer que não existe mais. Existe ,mais uma coisa mais frequente, não é uma coisa que precisa ter, não é uma coisa que os grandes veículos apelam mais. Então, acho que as coisas vão mudando sim aos poucos e… e assim é… a comunidade LGBT vai ser cada vez mais representada de uma forma mais natural possível.

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