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Transcrição Gustavo Bandeira
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.
Transcrição Gustavo Bandeira:
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Você acha que a mídia trata como relevante a homofobia no futebol?
R: Eu acho que a mídia ignora a homofobia no futebol. Ela não entende a homofobia como um problema no futebol. Ela… Via de regra a gente tem um problema na nossa narrativa sobre violência no futebol que a gente só olha para a violência que inclui confronto físico e preferencialmente os que incluem os torcedores organizados. Das múltiplas violências que existem no futebol, essa é a violência eleita pelos meios de comunicação como a violência que importa, como a violência que precisaria ser combatida, né?! Tanto que se você olhar as notas de todos os jornais, claro, obviamente estamos falando do período ainda com pré-pandemia com torcidas, de torcidas adversárias nos estádios né?! Você vai ter episódios de homofobia e de racismo também né todos os jogos, sempre tem um jogo que o jogador ou é chamado de viado é chamado de macaco ou ambos né?! E no caso isso não aparece em nenhuma nota, não aparece nenhuma em observação de rádio em nenhum comentário de nada… Se tiver briga da torcida aí sim, aí é uma violência que tem que ser combatida e que ela aparece criminalizada. Um exemplo de um caso para mim bastante emblemático que eu acompanhei bastante perto, foi o caso do ex goleiro Aranha do Santos que sofreu foi vítima de racismo aqui na arena do Grêmio, estádio do time que eu torço né e depois, teve o episódio na Copa do Brasil, foi muito midiátizado, vocês provavelmene conhecem né, senão aí tem que fazer a pesquisa (risos) né e três semanas depois ele voltou a Arena pelo campeonato brasileiro e a torcida do Grêmio chamou ele de viado o jogo inteiro, todo o jogo… não há nota, não há comentário, não há… ao contrário, os comantários são dizendo: A torcida respeitou o Aranha, a torcida não repetiu a violência com o Aranha… Então não, me parece que a mídia, especialmente a esportiva ignora por completa a existência da homofobia nos esportes em geral e no futebol em específico.
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Boa tarde Gustavo, sou o Diego. Estou participando aqui com os meninos tudo bem? Qual foi sua maior motivação para levantar a bandeira contra essa homofobia que tá, que ainda existe hoje em dia no futebol?
R: Assim… é, eu sou torcedor de futebol desde muito cedo né?! Eu vou ao estádio de futebol vocês provavelmente não eram nem nascidos ainda né?! No final da década de 80… E por uma série de circunstâncias da vida eu virei… Acabei fazendo pesquisa na área de gênero né?! E eu ia estudar… Até não era meu objetivo, eu queria estudar cinema. Mas dada essa minha é… Esse meu lugar de torcedor de futebol muito relevante… Foi… Me foi sugerido por uma professora e eu topei! E bom, e se eu vou estudar gênero nos estádios de futebol, não tem como você não enxergar o machismo e a homofobia explícitas né?! É… Você tem um, uma forma… A formação do torcedor que inclusive é a formação que eu passei né?! Ela faz um esforço muito grande de separar os torcedores das mulheres e dos homossexuais e faz essa separação através da violência. Então foi à partir dessa… Desse olhar para o estádio para uma ótica diferente, eu já para o estádio de futebol a mais de… Aproximadamente 20 anos eu já ia a estádio, eu já tenho mais 14 de pesquisa né então é… Eu, eu realmente é… Foi uma lente que eu coloquei, foi um quadro teórico que me permitiu olhar para as práticas que eu já frequentava muito tempo e que não dava bola, eu, eu dividia com a imprensa esportiva a ignorância pela… Em relação a esse tipo de violência. Foi justamente quando eu mudei os óculos, foi quando eu fui olhar pra esse fenômeno de um outro lugar, é que eu consegui visualizar essas práticas por que o que que acontece: Espaços como no estádio de futebol, eles pegam uma prática que ela é arbitrária como qualquer outra né?! E acaba naturalizando-as, como se fosse assim o tempo todo, sempre fosse assim. E… e daí bom? Acontece que nesta última década a gente viu uma série de movimentos pleiteando essa existência. A Minha tese, a minha dissertação de mestrado, ela é de 2009. E naquela época eu falava que tinha homofobia no futebol sozinho. Eu não tinha os grupos queers, depois dos grupos anti-fascistas, é, a gente não tinha matérias de, de jornais, de revistas e coisa e tal… Agora não, agora tem um monte de gente que fala sobre isso, não tem nada a ver com meu trabalho (risos), um pouquinho só, mas tem a
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ver com esse fenômeno da cultura que não aceita mais essa violência que, que já existia, mas era tomado como naturalizado.
Gustavo, além desse caso que você citou do goleiro Aranha em 2013. Você já presenciou algum caso de homofobia de dentro do estádio?
R: Cara, assim. 2014 só o caso Aranha só pra registro tá? É… sim, é que assim, o que que a gente entende né?! É… o… são muitas as, as formas de olhar esse fenômeno tá? Um critério muito utilizado tem sido, é quando um jogador específico é chamado de bicha, de puto e o melhor exemplo talvez seja o legado da Copa de 2014 que é o tiro de meta, que é aquele lá, ah bicha, puto, sei lá o que. Aí as pessoas enxergam a homofobia. Só que assim, quem tem estrada de estádio de futebol sabe que o jogador adversário, especialmente o jogador adversário é, é… De destaque, o jogador adversário mais famoso. Eu assisti logo quando eu tava fazendo a pesquisa, inclusive essas, essas coisas que eu sempre fiz… Cê muda a lente, muda o foco aí cê vira outra pessoa em alguma medida né?! É, eu lembro do primeiro Gre-nal que eu assisti quando eu tava fazendo trabalho de campo e a torcida do Grêmio que óbvio pegou no pé a época do Fernandão, atacante do Inter que, que infelizmente faleceu tragicamente… E a torcida toda, ele reclama de uma falta: Fernandão viado, Fernandão viado. Isso simples, fácil, né?! O Renato, o Renato hoje técnico do Flamengo é, que, que é ídolo também do, do clube que eu torço, né? Ele por ser uma figura polêmica e de destaque, gostar da provocação e das brigas, todo estádio que ele vai é Renato viado, Renato viado, Renato viado. É… ou então as brigas de torcida, é… nós aqui do Rio Grande do Sul, a gente recebe o pessoal do Rio, de São Paulo gritando “paulista viado, carioca viado”, é… Com os gaúchos tem até a musiquinha do arerê né? “ Arerê, gaúcho dá o cu e fala tchê” coisas assim né?! Então o que acontece é que via de regra essas manifestações não são lidas como homofóbicas. Situação homofóbica é lida quando você xinga um jogador. Ah o Rogério Ceni ia bater o tiro de meta: Bicha. Ah então tem homofobia e aí o que que acontece, porque que se nega a homofobia e não se nega por exemplo o racismo? Porqu se parte do pressuposto de que o jogador não é homossexual, esse, esse é um pressuposto
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importante, no caso do racismo você não tem como dizer se o jogador, que o jogador não é negro, né? Então, um pouco, essa pode ser uma das diferenças na hora de, de olhar pra, pra esse mesmo fenômeno, né?! Então é… o que que, o que que eu me permito entender: Que quando você frequenta estádio, você aprende sobre a homofobia. Mesmo que não tenha exatamente um sujeito homossexual ofendido, você ensina todo aquele grupo: Jogadores, os dirigentes, os colegas jornalistas de vocês, os torcedores… De que xingar homossexuais é uma coisa bacana, é uma coisa que deve ser feita, é uma coisa que não gera polêmica, que não é um problema né?! Então se ensina desde muito cedo que essa identidade homossexual é uma identidade pior, é uma identidade que se possível você deve evitar, deve fugir e não assumir pra… para você.
A gente queria que você falasse um pouco sobre a relação com a Coligay né? Que é a torcida LGBT do Grêmio. Qual sua relação com a Coligay?
R: Nenhuma! A Coligay existiu dos anos 70 até o início dos anos 80 e apesar de eu ir desde muito tempo eu não era nascido ainda em 81 quando a torcida terminou. Né, tenho um trabalho muito legal sobre isso com a Luiza. A Luiza Anjos… Luiza Aguiar dos Anjos, trabalho maravilhoso, espetacular né sobre a Coligay. O que eu tenho são os relatos, são as memórias né e são os esforços da torcida do Grêmio, isso eu tenho! Eu tenho os relatos dos torcedores sobre essa memória. Por exemplo: em 2009, como eu havia dito pra vocês, eu fiz a minha dissertação sobre gênero nas torcidas do Grêmio e do Inter. Se vocês buscarem a minha dissertação na internet que tá disponível, não tem uma vez o termo Coligay citado, ele não aparece em nenhum momento, porque foi uma torcida que existiu, né, que teve uma durabilidade de uns quatro anos um pouco mais atuante até o final dos anos 70 depois um pouquinho menos né?! Mas que foi feito um esforço muito grande por parte do clube de apagar essa torcida da memória, tanto que se você conversar com torcedores do Grêmio mais ou menos da minha idade, tô com 38 anos, é… Alguns deles vão dizer “Ah, teve uma matéria’’, “Ah, teve um livro”, “Ah, teve uma reportagem na TV, no rádio coisa e tal”, mas as pessoas não conhecem, porque foi feito um esforço muito forte de apagamento. Hoje não, hoje um pouco dentro dessa
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lógica que a gente tem de entender a homofobia como um problema, de tentar colocar o esporte , o estádio de futebol um pouquinho bem pouquinho mais inclusivo pra, pra… Para as pessoas LGBTQIA+, você já tem no museu do Grêmio por exemplO, cê tem um cartaz lá da Coligay né?! Reforçando essa, essa participação, mas antes você não tinha, e não, não só no meu trabalho, como outros trabalhos de, de pessoas bastante conceituadas, né, não… não aparecia a Coligay, então a relação que eu tenho com a Coligay na verdade eu não fui testemunha ocular dessa história (risos), tem um esforço muito forte de apagamento dessa memória, que ela não existiu , de que ela foi pequena, de que é mentira, de que não sei o que e coisa que o valha né? Então essa é a relação que eu tenho. Depois obviamente, estudioso do tema, conversei algumas poucas vezes com alguns ex-integrantes, mas, mas é isso, não tenho, não tenho memória de estádio, não tenho, não tenho vivência. Não sei como, como eles viviam o estádio. Essa memória eu não tenho.
Gustavo, com o surgimento dos Canarinhos Arco-Íris, que é o observatório que reúne as principais torcidas LGBT do Brasil, é notório o crescimento de torcidas organizadas do gênero, principalmente nas redes sociais a gente percebe isso. Como você enxerga esse movimento?
R: Cara, eu enxergo como algo extremamente positivo, eu acho que a gente tem aí desde o… 2013 ali quando estouram as torcidas Queer primeiro, depois todos os seus… Eu acho que eles, que tem o movimento muito, muito forte que são de pessoas que tem interesse em torcer e que não se sentem contemplados pelos modelos de torcidas que existem. E isso é muito positivo né, isso é um debate democrático, isso melhora o espaço público, isso melhora o estádio de futebol também. Problema que eu verifico né? É muita torcida de rede social, que é ótimo né, que é uma forma muito importante de relacionamento contemporâneo, mas são torcidas que tem pouca memória, pouca vivência de arquibancada. E a culpa não é delas, tá? A culpa, absolutamente a culpa não é delas. Muitas dessa falta de vivência acontece, porque é um ambiente, era ainda mais e ainda continua… Não, não é um ambiente agradável ainda, mas era um ambiente
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absurdamente inóspito né pra essas pessoas, era um ambiente em que você no máximo… Isso uma diferença muito importante que existe especialmente na América do Sul entre performance e… e sexualidade, você pode… e os torcedores dizem isso: Você pode ter relacionamentos homossexuais coisa e tal e na hora de torcer cê tem que se “comportar”, né? Milhares de aspas aqui, mas é que o sujeito precisa performar, ele tem que fazer de conta que ele não é homossexual né? Então é muito, muito positivo esse tipo de, de reclamação, porque é um espaço, todo espaço social, é… Tudo que a gente vê no espaço social, ele é resultado de um consenso muito breve de disputa por significado, é… Se a gente pegar nós os quatro aqui, vamos combinar alguma coisa, é, não é porque isso é uma regra que tá definida, que foi assim, sempre foi assim, mas é porque a gente minimamente consensoou, mas daqui um pouco, um de nós não vai ter ficado satisfeito e aí vai tentar articular com os outros pra criar outras possibilidades e isso eventualmente vai poder ampliar o debate, vai poder deixar mais plural, vai poder deixar mais democrático e é sempre muito positivo.
Você acha possível um apoio da CBF sobre é… apoio de torcida organizada LGBT, alguma campanha para… Campanha ou tipo, uma motivação para os times apoiarem… Tipo alguma organizada por exemplo de uma torcida LGBT?
R: Ahh… Possível é porque… É possível e que… Vamos pensar que a CBF é uma instituição podre né? É… Então a gente… a gente não pode perder de vista, ela é uma instituição capitalista e tenta dar lucro, ok até aí tudo bem, eu vou gostar mais, eu vou gostar menos mais isso não é… Em si isso não é um problema né?! Mas ela sim, ela vem desse modelo FIFA, que é um modelo, é… de monopólio né, não existe clube profissional fora da CBF por exemplo. E a gente tem hoje um exemplo mais explícito impossível, onde finalmente depois de muitas décadas, né, de colocando… Colocando homens incompetentes pra gerir o… o futebol de mulheres, a CBF faz um movimento de colocar mulheres, mulheres reconhecidas né? Não são mulheres quaisquer, a Duda e a Aline por exemplo têm uma trajetória é… louvável no futebol de mulheres como atletas e como dirigentes né?! Ao mesmo tempo o presidente que em alguma medida
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proporcionou isso, está suspenso , veja que ele, que ele, ele não foi, ele não foi mandado embora, ele está suspenso, por assédio sexual, entende. É… a CBF tem campanha anti racismo, mas né?! É é complicado porque… e os dirigentes da CBF é… negros onde estão? Os treinadores da seleção brasileira negros onde estão? Né, é… campanhas de fato com os, com os árbitros, punições de verdade contra os clubes né, o… tô falando como um torcedor do Grêmio, que foi punido supostamente no caso Aranha com uma pena extremamente branda, ‘Ah foi eliminado da competição” sim, tinha perdido de 2x0 o primeiro jogo, por isso foi eliminado da competição, tá, cê pode apostar que se não tivesse perdido de 2x0 não teria sido eliminado. Então poder pode, mas vir da CBF eu não acredito. No máximo a CBF vai responder a uma demanda que é de fora dela né?! Que é a mesmíssima coisa que aconteceu com o futebol de mulheres, é a mesmíssima coisa que aconteceu com o caso do racismo. “Ah, isso é ruim”, então ok, se é o que temos, vamos com isso, antes isso (risos) antes uma campanha hipócrita da CBF do que nada né?! Mas eu não confio na, na… Nem na confederação brasileira, nem nas federações, é… regionais. Eu não confio nas… não é, não… eu não apostaria nessas instituições. STJD também, coisas que o valha, pra gente conseguir diminuir homofobia, machismo, racismo e todas as outras violências relacionadas nos estádios de futebol.
Você acha que se a gente tivesse se tivesse leis mais rígidas, seja regra da CBF ou lei mesmo, é… pra quando tivesse cantos homofóbicos e tudo mais…isso implicaria diretamente na presença da torcida LGBT nos estádios ou é um processo um pouco mais longo?
R: Assim, é… a gente já tem é… um movimento.. é curioso e é preocupante um pouco também tá? Com a elitização dos estádios, e aí obviamente nós estamos falando dos estádios da,da dos principais clubes da primeira divisão, a gente já tem uma possibilidade de, de que os agrupamentos consigam se segregar um pouco melhor através do consumo né do, do valor do ingresso, coisa que o valha, então a gente já consegue ver uma ou outra menção de uma bandeira do arco-íris, a gente já consegue
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ver uma ou outra faixa é… falando positivamente das experiências homossexuais. Lá, lá na Arena do Grêmio já se abriu faixa homenageando a Coligay né. Então é possível sim um ,um movimento nesse sentido, mas eu apostaria na… no relacionamento com os clubes, tá? Eu sou… de formação eu sou professor, e eu não gosto de pensar a punição como o elemento pedagógico, mas a punição também ensina e sim, punições importantes e no caso especialmente mexer em ponto, tirar ponto da tabela… pode permitir que o estádio seja mais plural sim, porque isso vai acabar fazendo com que os torcedores uns controle os outros. Se daqui um pouco gritar bicha no tiro de meta vai fazer o meu time perder ponto. Aí quando eu for gritar o torcedor do meu lado vai me, vai me cobrar que eu não grite porque afinal de contas precisa defender os pontos do, do time dele né?! Então é sim um é… Infelizmente, a, a poluição também é um mecanismo é… de educação. Sozinho não funciona né, mas… mas me parece nesse momento importante para gente conseguir colocar isso no centro do debate, não num debate marginal que… só quando temos um caso muito midiatizado isso parece ser um problema, quando todo mundo que frequenta estádio sabe que homofobia tem em todos os jogos.
É, Gustavo, futuramente você vê uma perspectiva de, de uma quebra de barreira para ser tipo comum torcedores da comunidade LGBT frequentar estádio normalmente sem ter nenhuma represália, tipo algum receio de frequentar pela própria organizada mesmo? Alguma coisa do tipo assim.
R: Sim. Algumas coisas. É, primeiro, é… há 10 anos atrás… pouco menos , talvez uns 8… 7, 8 anos atrás, eu te responderia que não. Que não é, não é um espaço que a gente conseguiria visualizar torcidas homossexuais é, presentes. Hoje eu te digo que sim. Me parece que, é… será possível ainda, ainda não mas está caminhando para isso, os clubes estão adotando é… eu entrevistei os torcedores pra, pra minha tese de doutorado em 2015/2016 e eles diziam não, o clube não tem como apoiar uma causa LGBT, e hoje, os clubes da série A. 18 dos 20 se manifestam com alguma recorrência em relação a pautas LGBT né?! De novo, pode ser muito parecido com o que eu tava falando antes da CBF,
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pode ser só marketing mas ok, marketing vente né?! É, pode vender mostrando uma bunda ou ele pode vender mostrando uma causa, defendendo uma causa social. Melhor que defenda uma causa social tá? Então… Talvez os clubes agora seja sim mais possível. A gente só tem que ter uma, uma coisa muito, muito explícita. Homossexuais sempre estiveram nos estádios de futebol, assim como as mulheres também. O que que acontecia e aí eu acho que pode ser um pulo de diferença. Eles tinham, como eu tinha te, é… eles tinham que se… Eles podiam estar dentro do estádio e dentro do armário né (risos). Tinham que performar heterossexualidade né, me parece que a gente a passos lentos, que não são passos contínuos. A gente vê hoje que é… alguns direitos que foram conquistados, a gente imaginava que os direitos iam se… as pessoas sempre teriam mais direitos, e quando a gente vê não é bem assim, às vezes a gente perde né, então é uma luta constante… me parece que sim, que um torcedor poderá ir com a camiseta é, do Grêmio, do Palmeiras, do Flamengo, do Fluminense uma bandeira do arco-íris. Me parece que sim, me parece que será possível. Quando não sei. É, vai ser tranquilo? Não, não vai, vai ser um ambiente de disputa né, vai ter que ser daqui um pouco vai ter que ter uma proteção, alguma coisa assim
É… Gustavo… uma, a gente tem uma vivência, uma experiência acompanhando a imprensa paulista basicamente quando fala sobre esse tipo de tema, é, é muito comum ainda hoje acontecer algumas brincadeirinhas de alguns comentaristas ou algo do tipo e passar de certa forma ainda como uma piada, porém como você mesmo disse, quando fala sobre racismo, um outro exemplo, não é tratado dessa mesma forma… nem ocorre hoje em dia mais, porque já considera como uma ofensa. Como é a imprensa do Sul, quando é esse tipo de tema é, também acontece disso, de ter é… piadinhas é… coisas de segundas intenções é… ou é diferente como é aqui.
R: Não, a, a imprensa do Rio Grande do Sul hegemônica, né obviamente, tem a imprensa alternativa que… Ela é o que nós temos de pior tá, em todos os aspectos, né, a… eu, a… É como eu tava dizendo a coisa da luta do, do esporte de… de direitos não direitos, cê falou… eu gostaria mas não posso porque não tem como de achar por
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exemplo que eu… na imprensa o racismo terminou ou diminuiu muito, mas o Willian do Corinthians foi questionado a sua qualidade de futebol a partir do seu penteado de cabelo. Isso é racismo né, o… os homens brancos que estão ali poderão até passar pano um pro outro mas hã… isso só tem um nome né?! Aqui no Rio Grande do Sul é comum, aqui no Rio Grande do Sul a gente tinha um comentarista, por exemplo, e falando dos ingressos caros, que ele dizia bom, com esse preço do ingresso a mulher já vem junto né, colocando, entendendo que isso é preço de, de, de… de zona, como a gente chama aqui os prostíbulos né?! É… a gente tem o, a gente tem o jogador do, do Grêmio que era bastante qualificado, mas que aparentemente dizem, era homossexual e o principal narrador aqui do Rio Grande do Sul num, num evento privado fazendo piadinha dizendo que a gente ruim ele era gay é… Então isso é muito, muito recorrente, muito, muito comum e aqui no Rio Grande do Sul, vocês sabem,até as piadas que, que existem muito é em cima disso. Existe uma representação do Gaúcho como um grande macho, uma coisa assim, a masculinidade aqui no Rio Grande do Sul é uma coisa muito forte, muito importante, provavelmente que é muito frágil né (risos) e… então esses são elementos que se, se, é que se catalisam, que ganham força. Além do que aqui, nós somos muito binários, a… a gente tem até um termo aqui na nossa imprensa e na nossa cultura, que é a grenalização, que tudo aqui é azul ou é vermelho de forma muito separada né?! Então como no esporte a gente briga por masculinidade, a gente precisa dizer que a gente não é gay, como é que a gente diz que não é gay em estádio? Dizendo que eles são né, então a gente tem esse tipo de enfrentamento muito forte né, a nossa imprensa é terrível, terrível e sim é tudo brincadeira e aí se você argumentar alguma coisa: Ah, é porque você não é do meio de futebol. Não, não sou. Eu tenho 38 anos de idade e 33 de estádio de futebol. Não entendo nada né, não sou do futebol, não, não, num entendo né, tenho uma dissertação, uma tese sobre futebol, mas não, quem é do futebol é esse pessoal… é o narrador, é esse que fica falando bobagem né, isso é muito comum, muito comum essa opção de dizer, “Ah, o pessoal que reclama não é do, não é do futebol”. Primeiro que tá errado, mas mesmo que não fosse, tá? O futebol não tá fora do, do mundo e eu usaria é… arriscar que algumas pessoas que, que talvez não estejam, não sejam no futebol, seja justamente em função desse excesso de violência que essas pessoas recebem conta,
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não sei é… eu não, não, não, não sou, eu sou branco né, então, eu não sou mulher, eu por acaso sou heterossexual, poderia não ser né, então pra mim o estádio de futebol é um ambiente muito confortável, muito confortável. Mas eu não sei, se eu fosse, ao estádio de futebol, fosse um homem preto e me chamassem o tempo todo de macaco todo mundo dizendo… eu não sei se eu ia querer ir. Não sei se sendo mulher, todo mundo “Ah, mulherzinha vagabunda não sei o que”. Não sei se eu ia querer ir né?! Se eu fosse homossexual, o tempo todo, todo mundo “Ah, esse bicha, sai daí viado e não sei o que”. Não sei se, se é um ambiente que me interessa né?! Então é… Não, não é, não é factual quando, quando a pessoa diz “Ah, isso aí é pra quem não é do futebol”. Não é factual. O jornalista tem uma parte do futebol, eu sou torcedor de estádio. Eu conheço muito mais de estádio do que… de comportamento de torcida do que qualquer um deles, tá? Assim como quem frequenta vestiário conhece de vestiário coisa que eu não conheço né, então não é, não é verdadeiro mas mesmo que fosse, mesmo que fosse. Não seria justamente em função dessas violência que essas pessoas tão reclamando que elas não participam desse espaço?