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3. REFERENCIALTEÓRICO - METODOLÓGICO
Foi produzido um podcast, com linguagem jornalística, trazendo essas reflexões e questões em pauta, onde foram apresentadas fontes convidadas, que falaram profundamente sobre conceitos, termos e os desdobramentos das internet na saúde mental, em relação ao jornalismo digital e a cultura do cancelamento. A meta era trazer uma reflexão e um estudo investigativo sobre a problematização que a pesquisa apresenta. O Jornalismo Digital, tendo como base de análise as notícias geradas pela plataforma Universa da UOL, divulgadas em seu perfil na rede social Instagram, causa alguma influência ou impacto na propagação da cultura do cancelamento? As opiniões geradas pelos leitores, que são expostas através de comentários, são moldadas pela forma que o conteúdo da matéria se apresenta? Podemos trabalhar com a hipótese de que um jornalismo feito com uma apuração corrida, pois a internet exige uma instantaneidade muito grande, pode gerar matérias não tão claras e de fácil entendimento para o leitor, o que pode acarretar a disseminação de Fake News, gerando alguma influência no feedback dos leitores. Porém, não podemos direcionar apenas a um setor a propagação da Cultura do Cancelamento. Ela acontece em várias áreas. O jornalista não tem controle dos comentários que podem ser gerados em seus conteúdos no Instagram, porque muitos fatores podem interferir neles. A distorção de notícias, a falta de interpretação do texto, ou simples fato de um usuário apenas querer criticar, julgar, sem nem ao menos se aprofundar no assunto, podem contribuir para a expansão da Cultura do Cancelamento.
REFERENCIALTEÓRICO-METODOLÓGICO
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O teórico McLuhan (1972) era muito visionário em relação às mudanças que a evolução tecnológica poderia causar nos meios de comunicação. A sua teoria de que o mundo se tornaria uma verdadeira aldeia global, que remete a ideia de que as pessoas poderiam se comunicar com facilidade, mesmo estando em partes diferentes do planeta, se mostra bem alinhada com o estilo de comunicação que temos hoje em dia. Os meios de comunicação foram se transformando, acompanhando o avanço rápido da tecnologia e se adaptando conforme as necessidades da sociedade. Hoje em dia temos canais para transmitir mensagens praticamente de forma instantânea e com alcance global, realizadas através de plataformas digitais que a cada dia que passa se tornam mais atualizadas. Como
Ferrari (2016) explica, a comunicação digital foi inserida no nosso cotidiano e cultura, através das mudanças de hábitos da sociedade, acompanhando a evolução da tecnologia. “O meio digital propicia a viabilização de produzir e distribuir conteúdo multimídia de forma rápida e precisa a fim de possibilitar a interatividade e com isso, despertar o interesse e a participação do público.” (RASÊRA, 2010, p.3). Ou seja, o jornalismo digital mudou a relação do público com as notícias, tornando-se muito mais acessível e participativo, do que quando era apenas impresso. E com a intensificação das redes sociais, essa relação alcançou outros níveis de interatividade dos leitores. O fluxo de informações e feedback ocorre de forma quase que instantânea. A plataforma digital abriu muitos leques com possibilidades de consumo de informação.
Como afirma RASÊRA :
[...]pesquisas mostram que as pessoas estão passando mais tempo consumindo notícias em diferentes formatos do que faziam antes em um único meio. A diferença então é que as pessoas não estão mais se prendendo a um só meio ou a apenas uma marca como fonte única de informação. Sendo assim, estas mudanças devem ser entendidas dentro do contexto do aumento do consumo de mídia, combinado com a diminuição da procura por um único canal midiático. Essa nova postura adotada pelo público são consequências do surgimento do jornalismo digital (RASÊRA, 2010, p. 7). De acordo com Holiday (2012), o conteúdo gerado na internet, tem um planejamento e técnica para causar esse comportamento na sociedade. Não percebemos que estamos consumindo informações a todo o momento, vivemos em uma bolha formada por redes sociais e interagimos de forma quase que imperceptível. Assis (2017) explica que a participação do público em matérias e compartilhamento de notícias nas redes sociais, é de relevância para o trabalho do jornalista, pois se cria uma rede de pesquisas e análises importantes, que podem contribuir para futuras pautas ou reparação na informação divulgada, caso esteja equivocada. “A circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores.” (JENKINS, 2006, p.30). Sem o público, o jornalista não tem para quem propagar a notícia. É importante ter alguém para compartilhar suas matérias e gerar engajamento sobre o seu trabalho, principalmente se a veiculação da notícia é feita através das redes sociais.
O pioneirismo na internet é um feito quase que impossível. Com diversos perfis de notícias sendo criados a cada dia, a concorrência é um dos grandes desafios dessa nova forma de disseminar informações. A credibilidade de uma plataforma jornalística deveria ser prioridade nas redações, mas com a necessidade de ser sempre o número um, isso pode acabar ficando em segundo plano, quando a questão é de quem consegue dar a notícia primeiro e atrair o público. “A preocupação da mídia já foi proteger seu nome; na internet a preocupação é construir um nome.” (HOLIDAY, 2012, p.37). Essa pressa em publicar a notícia com exclusividade, pode acarretar em erros jornalísticos. A falta de apuração correta e checagem dos fatos podem prejudicar, e muito, o nome e credibilidade do veículo em questão.
Segundo Moretzsohn apud Vieira (2014):
O ritmo veloz de produção gera ainda outras consequências importantes: obriga o repórter a divulgar informações sobre as quais não tem certeza; reduz, quando não anula, a possibilidade de reflexão no processo de produção da notícia, o que não apenas aumenta a probabilidade de erro como, principalmente e mais grave, limita a possibilidade de matérias com ângulos diferenciados de abordagem, capazes de provocar questionamentos no leitor; e, talvez mais importante, praticamente impossibilita a ampliação do repertório de fontes, que poderiam proporcionar essa diversidade (VIEIRA, 2014, p.41). O jornalista pode e deve fazer uma retificação se cometeu algum equívoco, isso demonstra humildade e profissionalismo, além do respeito e consideração com os leitores. Porém, pode gerar algumas sequelas em sua carreira e também no portal que está representando. “O erro jornalístico é um objeto de reflexão que localiza na confluência de ética, técnica e qualidade [...] pode ainda afetar reputações organizacionais e pessoais, disseminar falsos julgamentos e provocar incertezas sociais.” (VIEIRA, 2014, p.24). Essa citação nos leva a outro ponto da presente pesquisa. Vítimas de Fake News, matérias distorcidas pelos próprios internautas, instituições e figuras públicas que têm os seus nomes vinculados a conteúdos digitais, podem acabar sendo alvos da Cultura do Cancelamento. Mas, o que é essa Cultura do Cancelamento, afinal? Segundo Honda apud Campos (2020): “[...] consiste no ato de incentivar pessoas a não apoiarem pessoas públicas ou não,
bem como empresas, como resposta a um erro ou a uma conduta tida como reprovável pela sociedade.”
De acordo com Carmo, 2021:
O fenômeno da cultura do cancelamento no ciberespaço pode ser datada a partir do movimento #MeToo, que surgiu em outubro de 2017 em Hollywood por atrizes que tinham como objetivo denunciar casos de assédio sexual dentro do mundo do cinema. As histórias de assédio eram expostas no Twitter com a hashtag que deu nome ao movimento. Dessa forma muitas mulheres tornaram público vários casos que envolviam pessoas que faziam parte de Hollywood. A cada denúncia feita usando a hashtag, a pessoa pública que era exposta virava alvo de boicote, passando assim a ser cancelado. (BBC, 2018) (CARMO,2021. p.12). Dunker (2021) explica: “O sistema das redes sociais é movido por engajamento. Tudo o que falamos, postamos, compartilhamos tem um valor.” Por isso o nosso like é tão importante para os criadores de conteúdo, o compartilhamento de suas postagens e interação nos comentários. A própria massa acaba elegendo o seu líder, a pessoa ou canal que ela irá seguir e dedicar o seu tempo contribuindo para a circulação daquele conteúdo.
Segundo Morita, 2020:
Com o passar dos anos, os usuários das redes sociais ficaram mais críticos e passaram a tolerar cada vez menos comportamentos que ferissem movimentos de minorias sociais. Hoje, qualquer gesto, comentário ou like pode provocar um ataque virtual em massa, o qual não necessariamente apoia uma ação real e efetiva (MORITA,2020). De acordo com Busin (2020), na teoria a intenção de um cancelamento é a busca por justiça e correção de uma atitude ou fala que pode ser considerada problemática. Porém, esse movimento acabou perdendo esse sentido, por ser praticado de forma superficial e desenfreada. A intenção de uma rede social é promover a troca de experiências, mensagens, opiniões, informações e muitos conteúdos, que teoricamente nos aproximam de pessoas que em sua maioria nunca vimos na vida real. Porém, segundo Keen (2021) “A internet é uma rede social, mas acabou nos deixando antissociais, solitários e raivosos”. O sociólogo polonês Bauman (1999), nos apresenta o termo Modernidade Líquida, onde explica que assim como a água, nossas relações, empregos e comportamentos mudam a
cada minuto. Nada é feito para durar. E um retrato disso são as nossas relações através das redes sociais. Nós nos fechamos em uma bolha, onde seguimos correntes e ideologias que concordamos e quando nos deparamos com uma notícia ou informação que foge do nosso entendimento ou que diverge da nossa opinião, sentimos a necessidade de nos posicionar e comentar o que estamos pensando. E isso basta para que uma discussão comece, seja nos comentários de um veículo jornalístico ou até mesmo em nosso perfil pessoal. “Os usuários de redes sociais acreditam estar munidos do direito absoluto à liberdade de expressão, mas não percebem que ferem direitos inerentes ao alvo do ataque” (CAMPOS, 2020). E por esse sentimento de proteção, tanto pela liberdade de expressão, quanto por estar abrigado por uma tela de celular, é confortável a atitude de excluir uma pessoa, deletar ela da internet e também repercutir um discurso de ódio para que ela seja deletada da sociedade também. Dunker (2021) explica que essas atitudes, muitas vezes, são tomadas por um impulso, por um momento. Talvez você não agiria desse jeito na vida real. É bem mais fácil você lidar com os laços virtuais.
Como afirma Bauman:
Imagine que estamos falando não de amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas sim de conexões offline, conexões de verdade, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Neste caso, romper relações é sempre um evento muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que se explicar, você tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco etc. É difícil. Na internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto. Em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina os laços humanos. (BAUMAN, 2011).
Para Busin (2020), a cultura do cancelamento sofre com a falta de debates sobre as pautas que estão sendo abordadas. As pessoas não estão abertas para argumentos, explicações ou justificativas, elas apenas querem saber o seu posicionamento referente ao assunto em questão. Você é a favor ou contra? E por isso, seguindo o pensamento de Almeida (2020) “O cancelado e o cancelador se unificam na irresponsabilidade moral e política”, pois o único objetivo é negar a existência do
outro. O politicamente correto acabou se transformando em marketing, em um nicho do capitalismo. “O Cancelamento é decepção, é como se a gente hoje fosse tão intolerante ao erro do outro, que a gente se decepciona cem por cento e deixa de acreditar em qualquer coisa que aquela pessoa faça depois que ela comete um erro.” (PASSARELLI, 2020). O cancelamento está por toda parte, nós chegamos aqui, criamos esses monstros e costumes. Porém, terceirizamos os nossos atos, para que não sejamos responsabilizados. E isso nos faz voltar a problematização da presente pesquisa. Essa terceirização das consequências da cultura do cancelamento, acaba respingando no mensageiro da notícia? Qual o impacto do jornalismo digital nesse movimento, na visão do jornalista? É um desafio muito grande o profissional ter a opinião pública como uma das ferramentas mais importante em seu trabalho, principalmente nos dias atuais, onde tudo acontece de forma muito rápida e o feedback é quase que instantâneo. A informação é um artefato muito poderoso, que deve ser manuseado da forma mais cuidadosa possível.
Segundo Ferrari, 2016:
O jornalista, o produtor, o publicitário, o cineasta, entre outros, profissionais que lidam com informação como matéria-prima de seu trabalho, têm de aprender a disseminar a informação da melhor maneira possível. E ao profissional completo de comunicação não basta apurar. É necessário saber planejar, codificar metadados, editar e distribuir. (FERRARI, 2016, p.15). Investigamos, analisamos e comparamos dados, para que houvesse uma ideia mais clara e completa sobre os pontos e questionamentos desta pesquisa, que foram apresentados em nosso projeto experimental. O processo de construção do projeto foi iniciado através de levantamento bibliográfico e fichamento de obras literárias, teses, dissertações, artigos e matérias jornalísticas históricas e contemporâneas. Os conteúdos foram voltados para a proposta de investigação do problema de pesquisa. O intuito era enriquecer a pesquisa com argumentos acadêmicos e jornalísticos. O segundo passo foi praticar uma análise de conteúdo, através do objeto de estudo, a plataforma digital Universa, pertencente ao grupo UOL. O objetivo era observar como se dão as relações do público consumidor desse veículo. A técnica utilizada foi a de observação e documentação dos comentários que são gerados pelos leitores em matérias publicadas pela plataforma, através da rede social Instagram.