Revista Fraternitas nº 10

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Província La Salle Brasil-Chile ANO 6 Nº 10 OUTUBRO DE 2017

Chamados que

ultrapassam fronteiras #UMCHAMADOMUITASVOZES


Oração da Comunidade

Oración de la Comunidad

Obrigado, Senhor,

Gracias, Señor,

por nos convocar a ser homens de esperança, através do ministério apostólico da educação.

por convocarnos a ser hombres de esperanza, mediante el ministerio apostólico de la educación.

Fortalecei em nós a mística,

Fortalece en nosotros la mística

através da comunhão com Deus,

a través de la comunión con Dios,

das nossas práticas de espiritualidade

de nuestras prácticas de piedad

pessoais e comunitárias,

personales y comunitarias,

da vivência do espírito de fé e zelo,

de la vivencia del espíritu de fe y de celo,

da meditação diária, da partilha da Palavra de Deus

de la oración mental diaria,

e da Eucaristia.

del compartir la Palabra de Dios y de la Eucaristía.

Intensificai em nós as relações fraternas,

Intensifica en nosotros las relaciones fraternas

através da humanização

mediante la humanización

do nosso quotidiano,

de nuestro cotidiano,

da simplicidade, da acolhida,

de la sencillez, de la acogida,

da sensibilidade

de la sensibilidad

e do cuidado do outro.

y del cuidado del otro.

Iluminai-nos, Senhor,

Ilumínanos, Señor,

para que possamos assumir

para que podamos asumir

a nossa formação

nuestra formación

como um itinerário existencial de fé

como itinerario existencial de fe

e de construção de sentido,

y de construcción de sentido

para toda a vida.

para toda la vida.

E comprometei-nos

Y comprométenos

no desenvolvimento da cultura vocacional,

en el desarrollo de la cultura vocacional,

como sinal de esperança.

como signo de esperanza.

Ajudai-nos a partilhar alegremente

Ayúdanos a compartir alegremente

o carisma com os colaboradores leigos,

el carisma con los colaboradores seglares,

e ser com eles e para eles coração, memória e garantia do carisma lassalista,

y a ser con ellos y para ellos corazón, memoria y garantía del carisma lasaliano,

para responder com fidelidade criativa

para responder con fidelidad creativa

às necessidades das novas gerações.

a las necesidades de las nuevas generaciones.

Amém.

Amén.


VIDA RELIGIOSA APOSTÓLICA Síntese Reflexiva da Carta Pastoral “Um Chamado, Muitas Vozes” A Mística e a Espiritualidade Configuradoras da Vida e da Missão do Irmão Ser Irmãos Hoje e Amanhã: Homens Interiores na Simplicidade do Evangelho Só tu me Sondas e me Conheces

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SAUDADE Falecimentos de Irmãos da Província

MATÉRIA CENTRAL Missão: Um Chamado, Muitas Vozes

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ESPECIAL Eucaristía de los 140 años de presencia lasallista en Chile Novos Irmãos da Província Encontro Regional de Jovens Irmãos

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ACONTECEU NA PROVÍNCIA Resumo de alguns acontecimentos da Província La Salle Brasil-Chile

AGENDE-SE Cronograma de Atividades

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SUGESTÕES CULTURAIS Dicas de Leituras

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REFLEXÃO E PARTILHA Comunhão Fraterna e Reconciliação: Duas Faces da Mesma Moeda Mística y Espiritualidad en el Mundo de Hoy El Hermano Asesor Religioso de Guías y Scouts

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ENTREVISTA “La Salle nos lembra que somos embaixadores e ministros de Jesus Cristo”, diz Ir. Diego Muñoz

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PASTORAL VOCACIONAL Cultura Vocacional

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Estimados leitores: Assim como na edição passada (nº 9), a Revista Fraternitas dá sequência ao tema proposto pelo Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs na Carta Pastoral “Um chamado, muitas vozes”.

Capa: Setor de Comunicação e Marketing Imagem: shutterstock.com

Segundo o Superior Geral, Ir. Robert Schieler, que este ano esteve presente no Brasil participando da Assembleia de Irmãos 2017, “para escutar consciente e intencionalmente, precisamos oportunizar a nós mesmos um espaço para escuta”.

de Cultura Vocacional. Fraternitas compartilha ainda sugestões culturais e experiências vivenciadas pelos Irmãos na Província La Salle Brasil-Chile. Também é divulgada uma entrevista com o Irmão Diego Muñoz, responsável pelos Estudos Lassalianos do Instituto, que ministrou curso em agosto na Universidade La Salle, de Canoas/RS. Uma boa leitura a todos! Viva Jesus em nossos corações!

Por isso, nesta edição, Fraternitas apresenta artigos de reflexão que falam sobre essa temática e que vão ao encontro das perspectivas lançadas durante a Assembleia.

Irmão Marcelo Cesar Salami Diretor de Formação

Há uma síntese da Carta Pastoral; anexos trabalhados no Retiro de Irmãos relacionados ao 44º Capítulo Geral – Circular 455. Fala-se de Mística, de Espiritualidade e

Revista Fraternitas – Nº 10 – Ano VI – Outubro de 2017 Provincial: Ir. Edgar Nicodem Diretor de Missão: Ir. José Kolling Diretor de Formação: Ir. Marcelo Cesar Salami Diretor de Gestão e Ecônomo: Ir. Olavo José Dalvit Secretário Provincial: Ir. Marcos Corbellini

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REVISTA FRATERNITAS

Realização: Direção de Formação e Setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle Edição e Reportagens: Gabriela Boni – Mtb 15441 Revisão: Ir. Marcelo Misturini Diagramação: Setor de Comunicação e Marketing *Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.


Síntese Reflexiva da Carta Pastoral “Um Chamado, Muitas Vozes” Ir. Antônio Cantelli Vice-Diretor do Colégio La Salle Manaus e da Faculdade La Salle Manaus inovações radicais que seria o tal de “novo Irmão”. Nem por isso deixa de ser válido esse desafio feito aos Irmãos.

1. Considerações iniciais a) Para melhor entendimento desta Carta Pastoral, convém relacioná-la a outros dois documentos recentes do Instituto: a Carta Pastoral 2015 – UMA EXPERIÊNCIA EVANGÉLICA, ... que já antecipa o tema da Carta deste ano; e a Reflexão Lassalista 3, LASSALISTAS SEM FRONTEIRAS, que complementa e enriquece vários subtemas abordados nesta Carta. b) Uma segunda consideração é o rompimento que o Superior faz do esquema tradicional das Cartas Pastorais, que eram basicamente um relatório reflexivo dos eventos do Instituto e das visitas do Conselho Geral. Nesta, o Superior se foca prioritariamente no tema deste ano, estabelecido na circular 470, e só ao final escreve sobre a visita do Conselho Geral ao Oriente. c) Um terceiro diferencial da Carta deste ano é ela ser recorrentemente interpelativa, convocadora, incomodativa, algo como uma última chamada para a conversão do Instituto e de cada Irmão, como condição de sustentabilidade do projeto fundacional de João Batista de La Salle. d) Outra consideração é minha esperança de que eu esteja enganado ao pensar que a maioria de nós, Irmãos, fizemos só uma leitura transversal da carta e que os chamados do Superior não tenham “sacudido” nossas zonas de conforto. e) Por fim, considero que as provocações feitas pelo Superior aos Irmãos e Colaboradores apontam para um horizonte utópico cristão de difícil chegada. Baseado em mim e no pouco que conheço da Província, percebo que o “novo Irmão” desenhado na Carta requer uma elevada dose de motivação e despojamento do “antigo Irmão” para que surja essa nova criatura, à imagem e semelhança da Carta. O que pode acontecer, e tenho convicção que já está acontecendo, são pequenos “levantar-se” interiores/existenciais, mas que, na linguagem do empreendedorismo, seriam inovações incrementais, isto é, adequações ao projeto de vida do Irmão, e não

Isso dito, faço minhas reflexões sobre os principais subtemas da Carta.

2. O chamado fundacional e o chamado de hoje constituem uma das linhas dorsais sobre a qual converge o tema desta Carta.

Feitas as devidas concessões a meus frágeis conhecimentos da literatura sobre La Salle, considero inspiradora a leitura feita pelo Superior Geral sobre as muitas vozes que fizeram La Salle discernir a voz do Espírito no chamado fundacional.

O itinerário percorrido por La Salle para chegar ao entendimento do chamado fundacional é considerado pelo Superior como emblemático para o Instituto e sempre atual. E pede que os Irmãos busquem, a exemplo de La Salle, escutar as muitas vozes e realidades interiores e da missão que hoje nos falam e, na ambiguidade dessas vozes, ouvir o chamado do Espírito que nos chama a uma nova forma de ser Irmão, uma nova forma de levar a BoaNova aos necessitados e uma nova resposta do Instituto às urgentes necessidades dos mais vulneráveis. E essas novas respostas estão fazendo nascer um Instituto renovado.

Para poder escutar essas vozes, há que se criar condições. Uma delas já foi acenada na Carta de 2015, na qual o Superior nos propõe sair fora do acampamento: “Moisés tomou a tenda e armou-a fora, a certa distância do acampamento. Chamou-a “tenda do encontro”. Assim, todo aquele que quisesse consultar o SENHOR saía até a tenda do encontro, fora do acampamento (Ex 33,7). E continua o Superior: “Fora do acampamento” é que nós encontramos Deus: fora da instituição, fora das percepções e das crenças culturalmente condicionadas. Fora do acampamento Deus fala conosco “face a face” (Ex 33,11). É fora do acampamento onde nos deparamos com o outro, que é diferente, e descobrimos quem somos e onde nossa casa está realmente. A Carta atual retoma esse mesmo desafio existencial de ouvir o Espírito, porém com o mote de “ir além-fronteiras”. Mais adiante retomo essa reflexão.

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Para que essa dissonância me soe um pouco mais confortável, eu até ouso dar outra redação a certa frase do texto relativo aos pobres: “não vamos aos pobres para salvá-los, e sim para que eles possam nos salvar”. Preferiria dizer que “vamos aos pobres para nos salvar e para salvá-los. Mesmo porque, se eu vou ao mundo do pobre para me salvar e não para salvá-lo, nem evangélico é.

Na minha vida pessoal, foram relativamente poucos os anos em que estive a serviço direto no mundo dos pobres, e não percebo ter sido menos salvo durante os longos anos que estive a serviço da missão lassalista não diretamente a serviço dos pobres.

O que importa, Irmãos, é estarmos inteiros na missão que a Província nos confia, com o coração e a mente abertos para ouvir e escutar as vozes que emergem do “missioma” a que estamos a serviço.

Importa mais, para nossa salvação e daqueles que nos são confiados, a nossa atitude de levantar-nos e ir além-fronteiras, do que a classe social que atendemos. E o Superior expressa a mesma consideração a toda missão do Instituto, embora dê forte ênfase na opção preferencial pelos pobres, migrantes, abandonados.

Independente do espaço social e geográfico em que nos encontramos, o Superior exorta a toda a família lassalista a “buscar uma nova forma de levar a BoaNova aos marginalizados”; a “refundar o Instituto nas realidades de hoje”; e a “inventar um novo tipo de escola para o crescente número de jovens abandonados”. Esta última, no entanto, “continua sendo a primeira obrigação do Instituto”. Aplausos a essa reafirmação do Superior em relação à primazia da escola como o espaço preferencial da missão do Instituto.

Documento Carta Pastoral

3. O clamor dos pobres tornou-se, em nossa literatura lassalista, um mantra que vem sendo repetido desde as origens do Instituto e continua sendo uma pergunta com respostas ainda não tranquilizadoras. A Carta afirma a urgente necessidade de encontrar novos caminhos que encorajem a criatividade e a inovação na busca do bem comum, que é um crescimento e desenvolvimento inclusivo e sustentável nas esferas econômica, política, social e espiritual. E a inquietação com os pobres é um movimento impulsionado pelo Evangelho, para ir além-fronteiras.

Nesta Carta, também nos é feita a pergunta se podemos descrever experiências em nossa vida pessoal e comunitária de nos levantar e ir além-fronteiras. Esse tambor chamado “pobre”, que ecoa como um baixo contínuo ao longo de todo o texto da Carta, é um som que me incomoda, não pela má qualidade dele, mas porque desassossega meu conforto, minha apatia, minha acomodação, agride minhas justificativas, minhas racionalizações, meu bem-estar.

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4. Ir além-fronteiras é, na Carta, o horizonte para onde o Superior acena ser o “norte” da conversão. A meu ver, o “além-fronteiras” é uma formulação mais dinâmica, abrangente e contemporânea, da milenar palavra conversão. Pessoalmente, sinto-me mais animado em me imaginar numa dinâmica de ir além-fronteiras do que na dinâmica de conversão, embora não deixe de ser um vinho novo em odres velhos, e uma exigência não menos complexa que a conversão.

A metáfora da fronteira é até atraente, haja vista o desejo humano de buscar sempre novos horizontes. No entanto, a condição de vida ou morte para ultrapassá-la e passar a habitar em um novo mundo está, mais uma vez, na reestruturação de nossos corações.

Bem diz a Carta que o rompimento de fronteiras pessoais, sociais, culturais, geográficas, ou qualquer que


nossos corações: “Ao nos preparar para o futuro real, o que talvez seja mais difícil em nossas vidas é deixar ir algo precioso que nós mesmos tenhamos ajudado a criar, e permitir que isso tem que ser abandonado, não porque tenha perdido sua beleza, mas porque já passou seu tempo e porque outra nova beleza está sendo gestada”. Nós, os lassalistas, somos chamados a gestar essa nova beleza”.

Nessa ótica, vejo com uma certa reserva quantos de nós, junto com a transferência, levamos bagagens e bagagens dos “algos” que nos são muito preciosos. Pergunto-me: será que pensamos em reestruturar nossos corações para conseguirmos ouvir as vozes desse novo mundo em que vamos viver?

5. A escuta atenta das muitas vozes é hoje um componente essencial da nossa atenção aos sinais dos tempos e ao discernimento da vontade de Deus para nossa missão lassalista. Há motivos para nos alegrar e animar com o desenvolvimento que o Instituto e a Província vêm tendo na compreensão da missão partilhada, uma iniciativa ousada na vida do Instituto. Deus nos convida a rever nosso ¨chamado¨

seja o rompimento, todos eles são perturbadores, pois incomodam nossas zonas de conforto, abalam nosso esquema de valores, tradições culturais e religiosas e ameaçam nosso prestígio acadêmico e social.

O exemplo da dinâmica de ir além-fronteiras de La Salle por causa do Evangelho inspira hoje Irmãos, homens e mulheres lassalistas a fazerem seu êxodo, não porque é fácil, mas porque veem com os olhos da fé a necessidade de se comprometerem a melhorar a situação dos pobres.

Para nós, Irmãos, a mudança que deve ser feita é uma mudança interior, é uma reestruturação de nossos corações. A qualidade de nossas respostas pessoais e comunitárias ao apelo de Jesus “convertei-vos, ...” (Mc1,14) vai determinar o verdadeiro alcance da revitalização do Instituto. E o Superior é mais contundente ao dizer que ele e nós somos responsáveis pela vida ou o declínio do Instituto. Na voz do Fundador nos é pedido que o Instituto experimente uma vida nova. E a fidelidade ao tempo presente requer de nossa parte vontade de nos levantar e mudar. Sem essas atitudes, pouco valor têm as mudanças de estruturas, de estratégias, novos documentos, novas obras, ....

A Reflexão Lassalista 3 – LASSALISTAS SEM FRONTEIRAS – nos acena na mesma direção: “nosso destino comum, como nunca antes na história, nos chama a buscarmos um novo começo”. O mesmo documento expressa bem esse lado difícil da reestruturação de

E nós, Irmãos, para enfrentar o tempo presente, temos que estar dispostos a ouvir as muitas vozes – Jesus, o Evangelho, os nossos alunos, os pobres, nossos colaboradores, as novas realidades - por meio das quais Deus nos convida a rever nosso ¨chamado¨.

Essas muitas vozes têm de ser consideradas como “matéria-prima” de nossa oração e meditação. E então, sim, a Palavra vai aguçar nossa audição e capacitar nossos corações e mentes para discernir quais vozes vêm do Espírito que faz novas todas as coisas. A qualidade e pertinência de nossas respostas podem configurar um Instituto renovado.

De todas as vozes que estão sendo recomendadas escutar, quero dar um destaque à voz de nossos Colaboradores, à voz da família lassalista: Irmãos e Colaboradores. Juntos garantimos a vitalidade do carisma lassalista.

Vejo com otimismo o esforço da Província em criar estruturas de escuta e participação dos Colaboradores na missão. A Carta não poupa incentivos ao protagonismo da vocação dos Colaboradores Lassalistas na missão e na promoção vocacional. E nós, os Irmãos, somos líderes dos nossos Colaboradores, com quem partilhamos o carisma lassalista, e responsáveis por compartilhar com toda a família lassalista nossa herança pedagógica e espiritual. 6. A Comunidade Religiosa, pela sua consagração vivida em comunidade, dá uma contribuição específica para a missão. Como animadora da missão, ela é a garantia da vitalidade do carisma lassalista.

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Juntos, Irmãos e Colaboradores garantem a vitalidade do carisma lassalista

A meu ver, o documento apresenta uma releitura da identidade do Irmão, e por consequência, da comunidade. Chama-me atenção o alerta que o Superior nos faz de que nossa autoabsorção, nossas preocupações com a manutenção das instituições, com a preservação do passado podem cegar-nos ou dificultar o desafio de nos levantar, ir além-fronteiras e gestar uma nova beleza.

Na vida concreta de nosso dia a dia da missão, sou favorável a uma comunidade mínima, mas que esse “mínimo” seja visível e de excelência. A comunidade tem que ser inspiradora da comunidade educativa, dado que o testemunho de nossa vida consagrada em comunidade é um sinal e um instrumento do Plano de Deus.

Empolga-me a ênfase dada na Carta sobre a recuperação da centralidade do Voto de Associação em comunidade. Considero a associação em comunidade como a expressão mais atual e compreensível de nossa vocação lassalista. Mas não basta. Há outra condição que tem de ser melhor estruturada que é a comunidade reunida.

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Vejo a comunidade reunida como a representação plástica, visível e mais relevante de nossa associação em comunidade. A comunidade, para mim, é a primeira voz a ser ouvida, a primeira instância de reflexão e consulta sobre as decisões estratégicas e relevantes do projeto educativo da obra que anima. Sou radical em dizer que a Comunidade Religiosa é, sim, uma das vozes que, obrigatoriamente, tem que ser ouvida e escutada por parte dos gestores das obras e da Província. Não significa que essa voz deva ser, obrigatoriamente, implementada. Não, porque o processo decisório precisa também ouvir as outras vozes: os Colaboradores, os alunos, os pais, a realidade local, ... O que estou afirmando é a relevância da voz da Comunidade Religiosa no conjunto das vozes da Comunidade Educativa.

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Essa ênfase na comunidade reunida não contradiz minha proposta de comunidade mínima, por mim entendida como uma comunidade leve em sua normatização, que respeita o ritmo espiritual/existencial de cada um, com baixo nível de obrigações formais, preferentemente sem moralismos e dogmatismos. Ou seja, uma comunidade mínima, mais que um conjunto de práticas, é a atitude de cada Irmão, atitude com altos níveis de comprometimento, sensibilidade, flexibilidade, responsabilidade ... e que não se confunde com individualismo, desorganização, isolamento. No entanto, meu conceito de comunidade mínima é mais intuitivo, funcional que descritivo.

Essas são minhas ainda rascunhadas contribuições a uma possível constituição de comunidade mínima, comunidade alternativa ou, “comunidade sustentável”, proposta e definida na Reflexão Lassalista 3.

Como conclusão, deixo algumas perguntas feitas na Carta, para a reflexão do Irmão e da Comunidade Religiosa: • As vozes dos que estão me chamando a que acontecimentos nos convocam? •

Como você e sua comunidade estão respondendo, de forma ativa e concreta, à revitalização do Instituto?

• Nas profundezas de seu coração, você pode realmente se identificar com suas ovelhas? • Como você e sua comunidade estão conscientemente envolvidos na dinâmica da revolução espiritual? • Vocês podem descrever experiências em suas vidas pessoais e na vida de suas comunidades de levantar-se e ir “além-fronteiras”? •

Como vocês estão trabalhando para infundir vida nova no Instituto?


A Mística e a Espiritualidade Configuradoras da Vida e da Missão do Irmão* Ir. Waldemiro José Schneider Vice-Diretor do Colégio La Salle São João

O

retiro nos convocou a resgatarmos nossa espiritualidade, a mística da vida do Irmão, sopro de vida de Deus que nos anima. Nossa espiritualidade e mística lassalista têm como coordenadas a realidade em que estamos inseridos e a Palavra de Deus. Trata-se de ler a realidade à luz da Palavra, (cf. R. 64) que é parte de nossa rica herança lassalista.

Aqueles que escutam a Palavra de Deus e a praticam não têm necessidade do excesso das palavras. O místico é aquele que tem uma experiência viva do Mistério de Deus. A partir dessa experiência fundante, ele percebe, sente e vive esse Mistério e integra as demais dimensões da sua vida. Sem mística a vocação do Irmão, a experiência de ser chamado gratuitamente por Deus, mais cedo ou mais tarde, acabará sendo um fardo pesado e sem sentido. Para ser Irmão é preciso ter vocação ao entrar no Instituto e vocação para nele continuar. Sem mística é impossível superar a anemia evangélica que pode afetar tanto o Irmão individualmente quanto grupos significativos de Irmãos na Província.

Não somos uma ilha. Por um lado, somos afetados pelas contradições do contexto atual, tanto internas quanto externas; por outro lado, como as demais instituições da Igreja, somos chamados a renovar constantemente, à luz do Evangelho, o nosso modo de viver a consagração batismal que nos permite ser reconhecidos ad intra e que nos torna significativos ad extra. Uma questão óbvia, mas fundamental, é perguntar-nos como chegamos à situação atual. O discurso comum e corrente afirma que é uma consequência dos processos culturais da modernidade e da pós-modernidade. Realmente, não podemos desconhecer a força da dinâmica de desconstrução da cultura moderna e pós-moderna. Contudo, como afirma Carlos Palácio, as tentativas de enquadrar a Vida Religiosa Apostólica (VRA) em modelos teológicos estranhos à sua especificidade, é uma constante na história da Igreja, e constitui, muitas vezes, uma ameaça

Etimologicamente, mística (do grego mystikós = misterioso, oculto, secreto) derivado do verbo “muein”, que significa fechar os olhos e a boca. Refere-se à experiência do mistério. E mistério é algo que não falta na vida humana. Mística é o segredo que nos permite estabelecer uma relação íntima com Deus e ao redor desse eixo integrar as demais dimensões da vida. Sem mística não se vive, não se pode configurar ou recuperar o sentido de ser Irmão. As análises sobre situação da Vida Consagrada têm-se multiplicado nas últimas décadas. Para alguns, estamos diante de uma crise profunda; para outros, de futuro incerto. O horizonte que se vislumbra é uma oportunidade privilegiada para recuperar a síntese única e original da Vida Religiosa Apostólica, em outras palavras, a sua mística. Como essa situação afeta a nossa vida de Irmão?

Experiência fundacional lassalista é uma experiência mística

*Texto elaborado a partir de reflexão do Ir. Álvaro Echeverría no Retiro de Diretores de Comunidades Religiosas em Jundiaí SP, em 2017.

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intra) e torna-se significativo para os demais (ad extra). Sem muito esforço poderíamos mencionar nomes de religiosos ou religiosas que são uma inequívoca manifestação desta mística da Vida Religiosa Apostólica. Podemos correr o risco de vivenciar apenas um sentido pejorativo, de mística, que para alguns de nós, talvez, tenha raízes profundas. Em sentido pejorativo, diz-se que uma pessoa é “mística” quando é excessivamente piedosa, beata, carola, ou muito sonhadora, visionária, alienada, isto é, quando não tem os pés no chão ou está descomprometida com a realidade. Necessitamos de um sentido mais amplo e positivo, para designar mística como o ideal inspirador e impulsionador de uma pessoa, grupo ou atividade. É como diz Leonardo Boff, o motor secreto de todo compromisso, aquele entusiasmo que anima permanentemente o militante, aquele fogo interior que alenta as pessoas na monotonia das tarefas cotidianas e, por fim, permite manter a soberania e a serenidade nos equívocos e nos fracassos.

A Palavra como fonte Espiritualidade e da Mística

inspiradora

da

Trata-se de ler a realidade à luz da Palavra. A Regra nos diz que devemos encontrar na Sagrada Escritura a fonte primordial de nossa oração e a de toda nossa vida, que cada dia devemos ler e meditar a Palavra de Deus, porque neste mundo pluralista e, em muitos lugares, secularizado, os Irmãos sentem a necessidade de um contato diário com a Palavra de Deus. Ela lhes alimenta toda a vida e os ajuda a compreender as pessoas, os acontecimentos e o mundo, em relação ao plano de Deus (R. 64).

A Vida Religiosa Apostólica é uma forma específica de viver a consagração batismal na Igreja

mortal. É o que acontece, por exemplo, quando se procura enquadrar o modelo da VRA nos moldes da vida monástica. A síntese original e única da VRA perde a sua força mística. A mística constitui a síntese única e original da Vida Consagrada, de caráter existencial, e não se reduz a determinadas práticas espirituais, apesar de haver tentativas de identificá-la com isso. O que ocorre hoje é a desintegração da síntese original. A vida comunitária, como elemento constitutivo, passou a significar um espaço de convivência desconectado da missão e por vezes com pouca qualidade humana. E a missão, em meio a tantas exigências e atividades, foi transformada, em vários casos, em intermináveis escaramuças apostólicas. O que na realidade constituía uma síntese vital ou mística não passa, em muitos casos, de indiferenciados blocos erráticos sem conexão. No seu itinerário formativo, quem realmente consegue apropriar-se dela chega a ser reconhecido pelos seus (ad

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Karl Barth dizia que os dois principais livros de oração do homem de hoje devem ser a Bíblia e o jornal. A Escritura é um dinamizador essencial de nossa vida de Irmãos (cf.R. 8). Nessa experiência mística alguns elementos são essenciais para o fortalecimento de nossa própria consagração: A ORAÇÃO não brota do EU POSSO porque minha oração não vai depender fundamentalmente da capacidade de controle mental que eu possa ter. As técnicas de autodomínio podem ajudar-me, mas, não é, propriamente, oração, pois mesmo que seja uma tarefa humana é dom de Deus. A oração não se reduz ao EU PENSO, porque a oração não é o resultado de minha especulação intelectual, nem da lógica interna de meus pensamentos, nem da beleza estética dos mesmos. A oração ainda não se centra tão pouco no EU SINTO, porque os sentimentos podem ser úteis, mas a oração não é constituída por eles. Assim como dizia nosso Fundador, antes de buscar a Deus que me consola eu busco na oração os consolos de Deus. Nossa oração deve nascer do EU QUERO, um querer afetivo de abandono - “eu quero o que tu queres”. Não é um querer de envolvimento e, às vezes, até camuflado de poder.


Buscar o que Deus quer não é fácil e, justamente ali, está o segredo de uma consagração feliz vivida na intensidade do ser. A oração é centrarmo-nos em Deus e sairmos de nós mesmos, abrindo espaço para que Ele atue em nós e por meio de nós. Não existe lugar para o dualismo. O Deus que encontramos no silêncio da oração todas as manhãs é o Deus que continuamos a ver nos rostos de nossos irmãos, alunos e todos os que de nós se aproximam, especialmente os pobres. Nossa espiritualidade lassalista nos faz estarmos abertos à realidade e às suas necessidades, com o olhar de Deus que nos direciona a buscarmos, no cotidiano, estar em sua presença viva em tudo e em todos, sendo chamados a ser sacramento dessa presença junto aos jovens, prolongando no tempo e no espaço a obra salvífica da qual somos colaboradores. Direciona-nos a crer na dignidade da pessoa humana e criar fraternidade. Convida-nos ainda a reconhecer Deus presente na Igreja, na qual fazemos parte de sua construção. Estar autenticamente presente na oração, experimentando o Senhor, fará com que na mesma medida compreendamos melhor a nós mesmos. Podemos afirmar que nossas relações com Deus estão condicionadas por nossas relações com os demais. O homem que ora é o mesmo que ama se comunica, sofre, trabalha. Outra conotação é o orar juntos que é um elemento essencial para criar a espiritualidade da comunhão, assim como nos pede não somente a Regra, mas também a própria Igreja. (cf R. 47).

A vivência em comunidade Outro aspecto importante na vivência da mística de nosso ser Irmão é a vivência em COMUNIDADE que é Cristocêntrica e não egocêntrica. Onde a ACOLHIDA, a COMUNHÃO e a prática da MISERICÓRDIA são elementos essenciais para a vivência desse grande dom recebido: nossa consagração. Em sua grande misericórdia e sem nenhum mérito pessoal, é o Senhor que nos chamou e segue chamando a sermos totalmente DELE, vivendo a fidelidade ao nosso chamado. A consagração não é somente uma aliança com Deus, ela é também uma aliança com os homens, as mulheres que direta e indiretamente fazem parte de minha vida, da comunidade, da Província e do Instituto. Depende em primeiro lugar do compromisso pessoal de cada Irmão e de uma dinâmica comunitária que permita avançar em termos de novas fronteiras, periferias e desertos, assumindo a missão com criatividade. Essa vivência da mística nos coloca na sintonia de olhar tudo e todos à luz da fé, como lugares da manifestação do Senhor. Coloca-nos no caminho do discernimento, à luz da Palavra no que mais nos convém para a realização do Plano de

Salvação. Vivendo assim a contemplação, o discernimento e o abandono como pontos centrais para a vivência mística do Irmão. Creio que uma visão que nos ajuda a entendermos esse caminho, e como devemos entender a espiritualidade, é o que chamamos de uma mística dos olhos abertos, como nos disse J.B. Metz: Jesus ensinou uma mística dos olhos abertos, uma mística do dever absoluto de assumir o sofrimento dos demais… A oração lassalista faz sua a oração de Jesus que é, em um primeiro momento, abertura a Deus como seu Pai. Jesus o invoca de maneira pessoal, silenciosa e profunda: ABBA! O experimentamos como CAMINHO, VERDADE E VIDA. Ter Jesus diante dos olhos, olhar como Ele adora a Deus, como glorifica seu nome é uma atitude de adoração. É ao mesmo tempo a busca de cada um de nós, encontrando no silêncio do profundo de nosso ser a atuação interior do Espírito de Jesus. Ter Jesus no coração, e assim entrar em comunhão, em união com Ele. Nessa parte da oração, abandonamo-nos a Ele para participar daquilo que Ele é e por meio do qual Ele nos vivifica. Essa participação e comunhão que Deus nos concede, propriamente se chama comunhão, união, porque Deus fortalece nosso ser, por meio da atuação íntima de seu Espírito. Ter Jesus nas mãos é missão, é serviço, é cooperação do irmão, preferentemente com os mais pobres e debilitados. Deus e os pobres, mística e profecia são uma chamada a irmos ao essencial e aprendermos a fidelidade a Deus que é amor, a Deus que é fiel. Hoje vivemos um momento incerto, inseguro, em nossa história. Não temos clareza no caminho, não vemos claro o horizonte. Os sistemas políticos, sociais e econômicos vivem numa espécie de liquidez. Tudo passa muito rápido. Temos dificuldade de assimilar tantas informações. Em nível de Igreja, o abandono e a indiferença de muitos, particularmente dos jovens, sem dúvida, nos preocupam. Frente a tudo isso, somos convocados a recuperar nossa dimensão profética, a paixão de Deus que nos consagra e nos faz porta-vozes do povo, especialmente o povo mais fragilizado, pobre e explorado de todos os lados com o qual devemos nos identificar e amar profundamente. Nessa caminhada mística do Irmão Lassalista, menciono aqui o discernimento como um caminho espiritual que acontece na Comunidade (R. 18.1). Um dos ensinamentos espirituais mais importantes de nosso Fundador é o de viver movidos pelo Espírito. Isso supõe o discernimento que nos

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permite purificar nossas motivações, muitas vezes ambíguas, e buscar a vontade de Deus, além de nossos próprios interesses que, por vezes, são mesquinhos.

Os votos como Espiritualidade

caminho

de

vivência

da

Concluindo essa experiência mística, chamo atenção para a vivência de nossos votos, entre os quais a castidade que nos orienta para o horizonte da pessoa, com um amor sem fronteiras e universal; que nos abre à pluriculturalidade, cada vez mais presente em nossa Vida Religiosa Consagrada; que nos convida a amar com o Coração de Deus que nos ama na sua gratuidade e gratuitamente e que tem uma inclinação especial pelos menos amados. A pobreza que nos abre o horizonte do mundo que Deus tanto amou e ama, pelo qual entregou seu Filho. Esse mundo que deve ser a Casa de todos e onde os bens se partilham solidariamente e com moderação entre irmãos e irmãs, estando especialmente atentos aos pequenos, aos pobres, aos últimos. O voto de pobreza é um sinal visível do Reino, tem a ver com o Messianismo dos pobres, por meio do qual se deseja e se busca, ardentemente, sua libertação (Lc 4,18-20). A obediência nos abre ao horizonte da liberdade, essa liberdade para o qual Cristo nos libertou (Gal 5,1) de todo tipo de escravidão e nos permite viver a autoridade a partir do amor, como um serviço de escuta, atentos também aos que têm menos possibilidades de fazer com que suas vozes sejam ouvidas. O Irmão se consagra inteiramente à Santíssima Trindade para procurar a sua glória. É um ato livre, uma resposta ao chamado de Deus para assumir comunitariamente o ministério apostólico da educação cristã. É importante destacar a relação que a Fórmula de Votos estabelece entre consagração, missão e votos. Os Irmãos se consagram inteiramente a Deus para oferecer livre e generosamente suas vidas para o serviço educativo. A consagração está indissoluvelmente unida à finalidade do Instituto. Os Irmãos se consagram a Deus para manter “juntos e por associação” as escolas. Existe uma íntima união entre a dedicação à escola e a consagração a Deus. Os votos, particularmente o Voto de Associação, de Estabilidade e de Obediência têm por finalidade dar coesão e consistência a essa opção de vida. Podemos ainda ter um olhar aberto para a busca de vivenciarmos a experiência da mística psicológica, pela qual fazemos um mergulho profundo em nosso próprio eu. A experiência da mística cósmica, ecológica em que o mergulho se dá na realidade total do cosmo, e a mística cristã da libertação em que o serviço ao pobre é essencial. A mística entrelaça o profundo de meu ser, na sintonia do universo, servindo o outro. Por isso mesmo é uma experiência religiosa particular de unidade, comunhão, presença, saudade, amor.

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Às vezes, é tão difícil descrever aquilo que se experimenta ao estar com Deus! A essência dessa experiência não está em saber se Deus existe, se Ele está comigo, se é bom e se me ama, não consiste em falar ou escrever bonito sobre Deus e seus atributos. A experiência mística consiste em experimentá-lo, saboreá-lo na sua essência e essa experiência se concretiza no cotidiano de minhas relações, atitudes, valores, buscas, descobertas. A nossa experiência fundacional é uma experiência mística. É mística na medida em que Deus está presente desde o início, chama, reúne em comunidade e envia. É Ele quem nos ilumina a responder com criatividade as necessidades dos filhos dos artesãos e dos pobres. Existe uma tensão fecunda entre a experiência mística e a sua encarnação concreta no dia a dia da vida do Instituto. Tanto a fórmula de consagração de 1691 quanto a de 1694 expressam de maneira exemplar essa tensão que será recordada de forma magistral pelo próprio Fundador: “É boa norma de conduta não fazer distinção entre os deveres próprios do seu estado e a questão da salvação e perfeição próprias, e convencer-se de que nunca se cumpre melhor os deveres do cargo, com tal que se os cumpra com os olhos postos na vontade de Deus”. Não basta considerar isoladamente os elementos constitutivos da vocação do Irmão (consagração, missão e comunidade). O que realmente é específico da vocação do Irmão é a síntese viva, pessoal, realizada desde a perspectiva do amor. Redescobrir e assumir essa mística que constitui a Vida Religiosa Consagrada é fundamental para o Irmão configurar ou reconfigurar a síntese viva de sua vida. A Vida Religiosa Apostólica é uma forma específica de viver a consagração batismal na Igreja. É uma síntese original e única de seguir Jesus e participar na construção do Reino de Deus. Considerando a nossa vocação de Irmão, esse caráter único e original constitui a nossa mística que unifica a nossa vida e configura o nosso estilo de vida. Sem esse elemento específico, a nossa identidade perde o seu eixo integrador e articulador. Desprovida da mística fundante e descontruída pela cultura atual, a vocação de Irmão perde sentido, coerência e visibilidade. Sem recuperá-la, o futuro é uma incógnita.

Karl Rahner afirma que o cristão do futuro ou será místico ou nada será. E o Irmão do futuro como será? De qual mística deverá estar imbuído? Quais são os indicativos de que estamos assumindo uma mística dos olhos abertos?


Ser Irmãos Hoje e Amanhã: Homens Interiores na Simplicidade do Evangelho Horizonte: Irmãos espiritualmente significativos em comunidades proféticas. 1. Olhos Abertos São João Batista de La Salle foi um homem que se deixou impressionar e se comoveu diante da situação de abandono dos “filhos dos artesãos e dos pobres” ao contemplar o desígnio de salvação de Deus (Cf. R 11) É esta mesma espiritualidade de olhos abertos que nosso Instituto precisa cultivar nes-te início do século XXI. Uma espiritualidade que compreende que o mundo, as culturas, as ciências e as artes, a vida dos povos e das pessoas, especialmente se forem pobres, são pa-lavras com as quais Deus nos chama, nos interpela, nos busca e se mostra a si mesmo.

2. Realismo Místico Este é o realismo místico lassaliano, esse que tantos Irmãos viveram, como dizia o Ir-mão Michel Sauvage (CL 55, 105-125). Uma espiritualidade encarnada em cada uma de nos-sas terras e no momento presente. Um modo de sentir e ver a realidade com um olhar de fé que nos leve a trabalhar, junto com nossos Irmãos e outros educadores e agentes de pasto-ral, de modo que creiamos que possa redundar em algo mais agradável ao Deus presente e ativo na história. Uma sensibilidade que nos leve a descobrir que os direitos humanos, espe-cialmente os das crianças e dos jovens, são os direitos de Deus.

3. Seduzidos Como na vida de La Salle, a construção desta sensibilidade e desse impulso apostólico não é algo que acontece espontaneamente dentro de nós (Cf. R 81). Exige uma formação que nos leve a apaixonar-nos por Jesus, Encarnação de Deus, esplendor de sua força reden-tora no Mistério Pascal. Um apaixonar-se que vivenciamos como entrega pessoal, consciente e responsável, ao Espírito de Jesus Cristo que vive na Igreja e no mundo. Um estar apai-xonados que é sempre disponibilidade e busca, espírito de discernimento, sobretudo em tempos de perplexidade e de incerteza, como são os nossos. Estar apaixonados e, num único movimento, abertos em adoração a Deus e em amor serviçal aos homens e a toda a criação.

4. Oração: imperativo existencial Nessa formação, a oração mental ocupa um lugar de destaque, que levou nosso Santo Fundador a defini-la como o primeiro e

principal dos exercícios diários (Cf. R 69; 73). Essa oração não é possível como atividade cotidiana caso não haja em nós, os Irmãos, perguntas ativas acerca do sentido da vida, que se conectem com respostas que falem de Deus, de maneira simbólica e metafórica. Uma vida de oração cotidiana exige também que estejamos conscientes de nossa pró-pria inconstância na adesão ao bem, à verdade e à beleza. Um Irmão que ora todos os dias precisa ter autocontrole do corpo e da mente; um sentido de presença pessoal arraigado; uma autoestima sadia; uma progressiva unificação das sensações, das emoções, dos afetos, das ideias, dos valores e das decisões, em torno de um projeto de vida de fé; e uma crença em Jesus Cristo que se abra tanto a um desenvolvimento doutrinal personalizado quanto para uma relação de adesão amorosa. Somente assim viveremos a oração como um impe-rativo existencial e não como uma dependência infantil de horários e estruturas exteriores.

5. Comunidades de Oração Por esta mesma razão necessitamos de comunidades nas quais seja possível a vida de oração. Comunidades onde os Irmãos possam cultivar “juntos e por associação”, nosso rela-cionamento com o Deus de Jesus. O encontro cotidiano com Deus no Pão e na Palavra é o caminho. Palavra de Deus que não esteja encerrada na Escritura, mas que esteja livre e ati-va na vida dos povos e das pessoas. Nossa oração cotidiana terá que desenvolver-se, então, como um exercício de leitura orante da Palavra de Deus. Um tipo de leitura que nos leve a descobrir, por um lado, a rela-ção religiosa que existe entre a história e a situação socioeconômica de nossos povos – en-carnada na vida simples das pessoas com quem vivemos – e, por outro, as narrações bíblicas (Cf. MR 1-2 e 6). E encontrar qual relação tem ambas com nossa própria vida de consagrados, associados para buscar juntos a glória de Deus no ministério educativo e evangelizador. Deste modo, a Escritura será, com feição renovada, nossa primeira e principal regra (Cf. R 6).

6. Ser mais e ter menos Queremos ser mais homens de contemplação, de relação amorosa com Deus, com os outros e com toda a criação, porque ali onde está o nosso tesouro está o nosso coração. Por conseguinte, precisamos revisar nosso estilo de vida. Muitas comunidades e mui-tos Irmãos, temos coisas em

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Presença do Deus das Promessas e na Lei nova que Ele nos propõe para sermos livres. Não somos libertados para reproduzirmos uma nova situação de escravidão. Somos li-bertados para sermos profetas de um mundo novo. Por isso, a nossa espiritualidade é, tam-bém, uma espiritualidade de resistência. Nossas comunidades – e cada Irmão – temos que aprender a dizer “não”, a dizer “basta”, a dizer “isso não é o nosso”, a dizer “não em nosso nome”. E a estabelecer alternativas.

8. Comunidades alternativas Como comunidades de fé somos chamados a colaborar na construção de mais comu-nidades de fé (R 51 a), novas ilhas de esperança e de criatividade. Comunidades alternativas. Isto é, comunidades que busquem assemelhar-se à primeira comunidade de Jerusalém e à comunidade das nossas origens lassaliana. Comunidades de adultos que possam servir de referência a outros adultos, para jovens e para crianças, pela sua qualidade de vida interior. Grupos onde os jovens possam fazer um caminho de crescimento que os leve a também se-rem referência para adultos, jovens e crianças. Grupos de crianças que sejam promessa de alternativa para a vida da Igreja e da sociedade. Comunidades alternativas, núcleos eclesiais de rosto humano em nossa sociedade e em nossa Igreja que, muitas vezes, não o são tanto (Cf. R 17c. d.) São João Batista de La Salle foi um homem que se comoveu diante da situação de abandono dos “filhos dos artesãos e dos pobres”

demasia, fazemos demasiadas coisas, queremos coisas em de-masia, alguns de nós ambicionamos demasiado poder, estamos demasiadamente cheios de nós mesmos. Desse modo, nossa vida torna-se estranha aos pobres (Cf. R 32) e demasiadamente semelhante à dos ricos. Em decorrência, não somos significativos nem para uns nem para outros. A espiritualidade lassaliana é uma espiritualidade de simplicidade. Realismo místico significa consciência dos limites da possibilidade, uma consciência responsável acerca do necessário, do realizável, do desejável. Uma consciência humilde, comedida. Temos que elaborar uma visão participativa e de comunhão acerca dos bens materiais, uma visão coe-rente com o estrilo de pobreza que nossa Regra nos convida a viver.

9. Chamados Somos chamados a construir comunidades de Irmãos nas quais busquemos com ale-gria os momentos de oração comunitária. E isso tem a ver menos com a novidade de estilos do que com a seriedade da atividade, ainda que seja inegável a necessidade de tomar um tempo para revisar o que fazemos ao elaborar os projetos comunitários. Somos chamados a ser o rosto humano de Deus. O Deus da história nos chamou neste tempo para manifestar aos homens, especialmente aos pobres, sua presença neste mundo, a partir do trabalho educativo. Somos chamados a ser Irmãos dos demais em seus próprios itinerários de espirituali-dade. Necessitamos de Irmãos e de comunidades que vivam com autenticidade evangélica. Necessitamos de Irmãos e de comunidades que desencadeiem um processo irrefreável de conversão que nos ajude a responder àquilo que Deus nos pede!

7. Êxodo e resistência Esta é uma espiritualidade de Êxodo. Somos os escravos, e temos que deixar-nos liber-tar por Deus. Somos os escravos que temos que arriscar nossas falsas seguranças para en-frentar os riscos do deserto, confiados na

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Referência Anexo 8 a partir de reflexão do Ir. Álvaro Echeverría no Retiro de Diretores de Comunidades Religiosas em Jundiaí SP, em 2017. 44º Capítulo General, Cir. 455, pp. 11-17.


Ser Hermanos Hoy y Mañana: Hombres Interiores en la Simplicidad del Evangelio Horizonte: Hermanos Espiritualmente Significativos en Comunidades Proféticas Ojos abiertos San Juan Bautista de La Salle fue un hombre que se dejó impactar y se conmovió ante la situación de abandono de “los hijos de los artesanos y los pobres” al contemplar el designio salvador de Dios (Cf. Regla 11). Es esta misma espiritualidad de ojos abiertos la que nuestro Instituto necesita cultivar en el comienzo del siglo XXI. Una espiritualidad que comprende que el mundo, las culturas, las ciencias y las artes, la vida de los pueblos y de las personas, especialmente si son pobres, son palabras con las que Dios nos llama, nos interpela, nos busca, se muestra a sí mismo.

Realismo Místico Este es el realismo místico lasaliano, como decía el H. Michel Sauvage (CL 55, 105-125), ése que tantos Hermanos nuestros han vivido. Una espiritualidad encarnada en cada una de nuestras tierras y en el momento presente. Una manera de sentir y ver la realidad con una mirada creyente que nos lleva a obrar, junto a nuestros Hermanos y otros educadores y agentes pastorales, del modo en que creemos que puede resultarle más agradable al Dios presente y activo en la historia. Una sensibilidad que nos lleva a descubrir que los derechos de los hombres, especialmente los de los niños, son derechos de Dios.

Seducidos Como en la vida de La Salle, la construcción de esta sensibilidad y de este impulso apostólico, no es algo que resulte espontáneo en nosotros (Cf. Regla 81). Requiere una formación que nos lleve a enamorarnos de Jesús, Encarnación de Dios, esplendor de su fuerza salvadora en el Misterio Pascual. Un enamoramiento que vivimos como entrega personal, consciente y responsable, al Espíritu de Jesucristo, que vive en la Iglesia y en el mundo. Un estar enamorados que es siempre disponibilidad y búsqueda, espíritu de discernimiento, sobre todo en tiempos de perplejidad e incertidumbre, como son los nuestros. Estar enamorados y, en un único movimiento, abiertos en adoración a Dios y en amor servicial a los hombres y a toda la creación.

Oración: Imperativo Existencial En esta formación, la oración mental ocupa un lugar destacado, que llevó a nuestro Fundador a señalarla como el primero y principal de los ejercicios diarios (Cf. Regla 69; 73). Esta oración no es posible como actividad cotidiana si no hay en nosotros, los Hermanos, preguntas activas acerca del sentido de la vida que se conecten con respuestas que hablan de Dios de modo simbólico o metafórico. Una vida de oración cotidiana requiere también que seamos conscientes de nuestra propia inconstancia en la adhesión al bien, a la verdad y a la belleza. Un Hermano que rece todos los días requiere autocontrol del cuerpo y la mente; un sentido de presencia personal arraigado; una autoestima sana; una progresiva unificación de las sensaciones, las emociones, los afectos, las ideas, los valores y las decisiones en torno a un proyecto de vida de fe; y una creencia en Jesucristo que se abre tanto a un desarrollo doctrinal personalizado como a una relación de adhesión amorosa. Sólo así viviremos la oración como un imperativo existencial y no como una infantil dependencia de horarios y estructuras exteriores.

Comunidades de Oración Por esta misma razón, necesitamos comunidades en las que la vida de oración sea posible. Comunidades en las que los Hermanos podamos cultivar, “juntos y por asociación”, nuestra relación con el Dios de Jesús. El encuentro cotidiano con Dios en el Pan y la Palabra es el camino. Palabra de Dios que no está encerrada en la Escritura sino que está libre y activa en la vida de los pueblos y las personas. Nuestra oración cotidiana tendrá que desarrollarse, entonces, como un ejercicio de lectura orante de la Palabra de Dios. Un tipo de lectura que nos lleva a descubrir, por un lado, la relación religiosa que hay entre la historia y la situación socioeconómica de nuestros pueblos –encarnada en la vida sencilla de la gente con la que vivimos-; y, por otro, las narraciones bíblicas (Cf. MR 1-2 y 6). Y encontrar qué relación tienen ambas con nuestra propia vida de consagrados, asociados para buscar juntos la gloria de Dios en el ministerio educativo y evangelizador. Así, la Escritura será, de un modo renovado, nuestra primera y principal regla (Cf. Regla 6).

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Ser más y tener menos Queremos ser más hombres de contemplación, de relación amorosa con Dios, con los otros y con toda la creación, porque allí donde está nuestro tesoro está nuestro corazón. Necesitamos, por consiguiente, revisar nuestro estilo de vida. Muchas comunidades y muchos Hermanos tenemos demasiadas cosas, hacemos demasiadas cosas, queremos demasiadas cosas, algunos ambicionamos demasiado poder, estamos demasiado llenos de nosotros mismos. De este modo, nuestra vida se vuelve extraña a los pobres (Cf. Regla 32) y demasiado semejante a la de los ricos. De este modo, no somos significativos ni para unos ni para otros.

Una vida de oración cotidiana requiere también que seamos conscientes de nuestra propia inconstancia en la adhesión al bien

La espiritualidad lasaliana es una espiritualidad de sencillez. Realismo místico significa conciencia de los límites de la posibilidad, una conciencia responsable acerca de lo necesario, de lo realizable, de lo deseable. Una conciencia humilde, mesurada. Necesitamos construir una mirada participativa y de comunión acerca de los bienes materiales, una mirada consistente con el estilo de pobreza que nuestra Regla nos invita a vivir.

Éxodo y resistencia Esta es una espiritualidad de Éxodo. Somos los esclavos que tenemos que dejarnos liberar por Dios. Somos los esclavos que tenemos que arriesgar nuestras falsas seguridades para atravesar los riesgos del desierto confiados en la Presencia del Dios de las Promesas y en la Ley nueva que nos propone para ser libres. No somos liberados para reproducir una nueva situación de esclavitud. Somos liberados para ser profetas de un mundo nuevo. Por eso, la nuestra también es una espiritualidad de resistencia. Nuestras comunidades –y cada Hermanotenemos que aprender a decir “no”, a decir “basta”, a decir “esto no es lo nuestro”, a decir “no en nuestro nombre”. Y a construir alternativas.

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Queremos ser más hombres de contemplación, de relación amorosa con Dios

Comunidades Alternativas Como comunidades de fe estamos llamados a colaborar en la construcción de más comunidades de fe (Regla 51 a), nuevas islas de esperanza y de creatividad. Comunidades alternativas, es decir, comunidades que buscan asemejarse a la primera comunidad de Jerusalén y a la comunidad de nuestros orígenes lasalianos. Comunidades de adultos que puedan servir de referencia para otros adultos, para jóvenes y niños, por la calidad de su vida interior. Grupos donde los jóvenes puedan hacer un camino de crecimiento que los lleve a ser también referencia para adultos, jóvenes y niños. Grupos de niños que sean promesa de alternativa para la vida de la Iglesia y la sociedad. Comunidades alternativas, ámbitos eclesiales de rostro humano en nuestra sociedad y nuestra Iglesia que, muchas veces, no lo son tanto (Cf. Regla 17 c. d).

Llamados Estamos llamados a construir comunidades de Hermanos en las que busquemos con alegría los momentos de oración comunitaria. Y esto tiene que ver menos con la novedad de los estilos que con la seriedad de la actividad, aunque sea innegable la necesidad de tomarnos un tiempo para revisar lo que hacemos al elaborar los proyectos comunitarios. Estamos llamados a ser el rostro humano de Dios. El Dios de la historia nos ha llamado en este tiempo para manifestar a los hombres, especialmente a los pobres, su presencia en este mundo desde el trabajo educativo. Estamos llamados a ser compañeros de los demás en sus propios caminos de espiritualidad. Necesitamos Hermanos y comunidades que vivan con autenticidad evangélica. ¡Necesitamos Hermanos y comunidades que desencadenen un proceso irrefrenable de conversión que nos ayude a responder a lo que Dios pide de nosotros!

Referencia Anexo 8 a partir de texto utilizado por el Hermano Álvaro Echeverría em el Retiro de Directores de Comunidades Religiosas em Jundiaí SP, Em 2017. 44º Capítulo General, Cir. 455, pp. 11-17.


Só tu me Sondas e me Conheces

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caba de ser publicada uma obra de Filosofia, com o título provocador Tantos tópicos tontos. Seu autor declara que, neste momento, o que se pretende salientar é o “relativismo moral e cultural, o nivelamento de todos e em tudo, o recurso enganador ao direito para justificar nossa falta de virtude”. Na hora de falar da oração, e desta na vida consagrada, tampouco estamos livres dos tópicos que, mais que tontos, nos parecem típicos. Por exemplo: nosso consenso, nunca discutido, sobre o valor da oração, a centralidade dela, o alimento que supõe para que as ações não sejam apenas ações, mas expressão do Reino... Falamos e falamos de como a vida de oração é sustento dos Conselhos Evangélicos, da vida em comunhão e, com certeza, da missão. Além disso, entendemos porque o personalizamos, porque cada qual/um deve encontrar seu tempo, suas maneiras e seus horários. Compete a cada um deixar-se trabalhar pela Palavra escrita, proclamada e contextualizada nas fases da vida. E, então, quando quase chegamos ao clímax, chegamos a afirmações como: “tudo é oração”; “o importante é viver em estado de oração” e “tudo nessa vida é anúncio de transcendência”. É verdade, no entanto, pode encobrir uma realidade dolorosa, bem como constituir um manejo de alguns tópicos para não encarar a situação. Temos afirmado muitas vezes que as dificuldades da Vida Religiosa não provêm da carência de ideias, nem da incapacidade para enfrentar trabalhos, nem da falta de saúde ou que nos pesem os anos... O drama está em ter situado, como algo mais da vida, o diálogo com a transcendência. Um item a mais do dia, um momento, um tópico a mais na apertada jornada de um homem e de uma mulher que, diariamente, se queixa de que “não tenho tempo”. Peritos, e até meticulosos, nas artes da programação, nos esquecemos que a responsabilidade e possibilidade primeira de nossa vida passa, todavia, por ser pessoas de oração, pessoas de Deus. Isso sim, tido como sabido, que o primeiro é o primeiro, mas sem dar possibilidade para o primeiro. Promoveremos peritos na exortação sobre a oração sem fazer oração? Falaremos de algo e o proporemos sem que o tenhamos vivido? Parecem-me absolutamente injustas as referências à Vida Consagrada como sendo uma vida secularizada. Sobretudo quando essas referências se fazem a partir de obstáculos e apoiadas em elementos externos, ou como nostalgia de outro

tempo que não este em que vivemos. Concomitantemente, surpreendo-me vendo como estas críticas me doem como sal em ferida aberta. Mas, com a mão no coração, tenho que me perguntar se não estarei atuando, calculando e manifestandome ao modo de uma pessoa envolvida num sistema de produção e criação que domesticou a Deus, e não uma testemunha do Espírito para este tempo. São Bento, nas orientações que ofereceu aos mestres de noviços, dizia-lhes que deviam ater-se unicamente a que estes buscassem a Deus. Parece que, quando esse valor acontece, o outro virá por acréscimo. Quem sabe, nós, em meio à voragem do viver e significar, devêssemos perguntar-nos e oferecer; modernizar mensagens e reorganizar propostas, tenhamos que parar, sentar-nos, serenar-nos e perguntar-nos, uma e outra vez: Que buscas? Que esperas? Estás buscando a Deus? E desligando o computador, fechando o facebook, desconectando o iphone, omitindo o último contanto do twitter e deixando para depois a próxima estratégia da reunião, programação pastoral do colégio, encontro solidário da paróquia ou campanha da casa de acolhida ou hospital. Lembrar os nomes da própria comunidade, fazer silêncio, fechar os olhos e repetir apenas: Tu, só tu, me sondas e me conheces.

Que buscas? Que esperas? Estás buscando a Deus?

Referência Anexo 2 a partir de reflexão do Ir. Álvaro Echeverría no Retiro de Diretores de Comunidades Religiosas em Jundiaí SP, em 2017. DIEZ, Gonzalo Luis A. Vida religiosa, Monográfico: Orar como convém. Caderno 1/2012/vol. 112, pp. 1-2.

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Sólo tu me Sondas e me Conoces

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caba de salir una obra de filosofía con un título provocador: “Tantos tontos tópicos”. Su autor manifiesta que, en este momento, lo que se pretende subrayar es “el relativismo moral y cultural, la igualación de todos y en todo, el tramposo recurso al derecho para justificar nuestra falta de virtud”. A la hora de hablar de la oración y de ésta en la vida consagrada, tampoco estamos libres de los tópicos que, más que tontos, nos parecen típicos. Por ejemplo, nuestro consenso, nunca discutido, sobre el valor de la oración, la centralidad de la misma, el alimento que supone para que las acciones no sean sólo hechos, sino expresión del Reino... Hablamos y hablamos de cómo la vida de oración es sustento de los consejos evangélicos, de la vida en comunión y, por supuesto, de la misión. Todavía más, entendemos, porque lo hemos personalizado, que es cada quién, el que tiene que encontrar su tiempo, sus modos y sus horarios. Cada persona la que debe dejarse hacer por la Palabra, escrita, proclamada y contextualizada en los avatares de la vida... Y ya, cuando casi llegamos al clímax, llegamos a afirmaciones como: “todo es oración”; “lo importante es vivir en clave de oración” y “todo en esta vida es anuncio de trascendencia”. Y es verdad, pero puede estar encubriendo una realidad dolorosa y es el manejo de algunos tópicos para no encarar la situación. Lo hemos afirmado muchas veces, las dificultades de la vida religiosa no provienen de la carencia de ideas, ni de la falta de capacidad para afrontar trabajos, ni siquiera de que nos abandone la salud o nos pesen los años... El drama es haber situado, como una parcela más de la vida, el diálogo con la trascendencia. Un punto más del día, un momento, un apunte más en la apretada jornada de un hombre y una mujer que, a diario, se queja de que “no tiene tiempo”. Expertos y hasta meticulosos en las artes de programación, se nos olvida que la responsabilidad y posibilidad primera de nuestra vida pasa, sin embargo, por ser personas de oración, personas de Dios. Eso sí, dando por supuesto, que lo primero es lo primero, pero sin dar posibilidad para lo primero. ¿Nos estaremos haciendo expertos en la exhortación sobre la oración sin hacer oración? ¿Estaremos hablando y proponiendo algo que no vivimos? Me parecen absolutamente injustas las referencias a la vida consagrada como una vida secularizada. Sobre todo cuando éstas se hacen desde la barrera y apoyadas en

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elementos externos o con nostalgia de otro tiempo que no es éste. A la vez, me sorprendo de cómo estas críticas me duelen como sal en una herida abierta... pero con la mano en el corazón tengo que preguntarme si no estaré actuando, calculando y ofreciendo como persona envuelta en un sistema de producción y creación que ha domesticado a Dios y no como un testigo del Espíritu para este tiempo. San Benito en las orientaciones que ofreció a los maestros de novicios, les decía que únicamente se fijase en que éstos buscasen a Dios. Parece que cuando este valor se da, lo otro vendrá por añadidura. Quizá nosotros, en medio de la vorágine de vivir y significar; preguntarnos y ofrecer; modernizar mensajes y reorganizar propuestas, tengamos que pararnos, sentamos, serenarnos y preguntarnos, una y otra vez, ¿qué buscas?, ¿qué esperas?, ¿estás buscando a Dios? Y apagando los ordenadores, cerrando el facebook, desconectando el iphone, omitiendo el último contacto del twitter y posponiendo la próxima estrategia de la reunión, programación pastoral del colegio, encuentro solidario de la parroquia o campaña de la casa de acogida u hospital... recorrer los nombres de la propia comunidad, hacer silencio, cerrar los ojos y sólo repetir: Tú, sólo tú, me sondeas y me conoces.

Cada persona la que debe dejarse hacer por la Palabra, escrita, proclamada y contextualizada en los avatares de la vida

Referencia Anexo 2 a partir de texto utilizado por el Hermano Álvaro Echeverría en el Retiro de Directores de Comunidades Religiosas em Jundiaí SP, En 2017. DIEZ, Gonzalo Luis A. Vida religiosa, Monográfico: Orar como convém. Caderno 1/2012/vol. 112, pp. 1-2.


SAUDADE

Boas lembranças que ficam no coração Em 31 de março, a Província La Salle BrasilChile despediu-se do Ir. Sírio Lenhardt. Natural de Arroio do Meio/RS, o Irmão tinha 69 anos e dedicava-se à Comunidade La Salle de Pelotas/RS, onde era conhecido e reconhecido por sua alegria e atenção a todos. Cultivava hábitos alimentares muito saudáveis e logo pela manhã já estava informado sobre tudo. Mesmo sendo tão habituado ao rádio e à televisão, adaptouse facilmente ao Facebook, rede social em que cultivava amigos e fazia questão de responder a todas as mensagens que recebia. O velório e o sepultamento ocorreram no cemitério São Vicente de Canoas/RS. Já em 11 de junho, o Ir. Leôncio Hernández partiu para a casa do Pai. O Irmão chileno tinha 87 anos e desempenhava a sua missão no Colégio San Gregorio - De La Salle, no Chile. Passou por diversas Comunidades Educativas, sendo que a última foi a Comunidade San Gregório. As cerimônias de funeral foram realizadas no próprio Colégio, onde estava exercendo o seu ministério de ensino.

Em 15 de setembro, faleceu o Ir. Léo Inácio Knapp. O velório aconteceu em Caxias do Sul/RS e em Canoas/ RS. O Irmão nasceu em Cerro Largo/RS, no dia 30 de dezembro de 1967. Fez a sua primeira Profissão Religiosa no dia 21 de janeiro de 1990 e a Profissão Perpétua em 25 de janeiro de 1998. Vivenciou a sua vocação com alegria, fé e esperança. No exercício de sua missão, se destacou pela alegria e pelo zelo apostólico traduzidos de forma transparente no cuidado e no carinho dispensado aos educandos e aos colaboradores. Em sua trajetória como Irmão, passou por diversas escolas lassalistas, como La Salle Carmo, La Salle Carazinho, Escola Fundamental Pão dos Pobres, Faculdade La Salle Manaus e Colégio La Salle Caxias, entre outras. Com simplicidade, disponibilidade e dedicação, soube contribuir significativamente para a vitalidade da Missão Educativa Lassalista.

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MATÉRIA CENTRAL

Missão: Um Chamado, Muitas Vozes Ir. José Kolling Diretor de Missão da Província La Salle Brasil-Chile

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referência a um chamado é um convite para uma reflexão profunda sobre a própria vida e também sobre a opção vital de consagrar-se a Deus, para procurar sua glória, por meio do serviço educativo aos mais vulneráveis, vivendo em uma associação fraterna, uma comunidade ministerial.

“Um chamado e muitas vozes” é um lema que nos convoca a sermos partícipes de um Instituto, no qual os lassalistas se desafiam a encarnar esse chamado, cada um desde seu lugar, desde sua terra. Desafio de nos imbuir desse espírito com os olhos abertos e os corações sintonizados com nossa realidade, a tomar consciência de que viver uma vida de generosidade, de liberdade é o que pode satisfazer nossa profunda sede humana e, ao mesmo tempo, responder ao chamado do Espírito escutado e discernido na mais profunda intimidade de nosso ser. São João Batista de La Salle e seus primeiros Irmãos estiveram abertos à graça batismal. Atentos e impressionados aos sucessivos apelos do Espírito Santo, em atitude de discernimento em meio às “muitas vozes”, envidaram em um itinerário, mantiveram esforços para revestirem-se do “homem novo” e anunciar a Boa-Nova, oportunizando educação humana e cristã. Assim nasceu nosso Instituto. Hoje, em contrapartida, também envidaremos esforços para um Instituo renovado e diversificado em sua missão, pois o Espírito Santo continua a falar e a nos exortar a dar respostas criativas e inovadoras frente às situações de abandono, vulnerabilidade e exclusão de crianças, jovens e adultos, cuja dignidade e direitos fundamentais não são reconhecidos. Conjugando formação cristã e ensino de qualidade, e fazendo-o de modo fraterno e alegre, hoje, continuamos a missão do Instituto, partilhando-a com Colaboradores que reconhecem, identificam e se comprometem com a relevância do nosso carisma. Temos uma corresponsabilidade no exercício da missão, em que Irmãos e Colaboradores “garantem a vitalidade desse carisma, criando e desenvolvendo estruturas de animação, de formação e de pesquisa, nas quais cada um pode aprofundar a compreensão de sua própria vocação e missão lassalista”. Nossa missão a desenvolvemos, cada vez mais, em contextos secularizados, plurirreligiosos e multiculturais, o que nos

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desafia a uma revisão de nossas concepções e certezas. Frente a esses novos contextos, requer de nossa parte, uma atitude de abertura, de escuta e um empenho em estabelecer um diálogo respeitoso com os quais somos chamados a servir, para aprender e testemunhar os valores do Evangelho e anunciar a Palavra de Deus. No esforço de compreender a dinâmica desses novos contextos onde o Instituto e nossa Província estão inseridos, também estamos persuadidos da necessidade de uma educação que promova o desenvolvimento integral da pessoa, ajudando-a a apreciar e assimilar os valores humanos e evangélicos, desabrochando sua abertura à graça de Deus e à luz da fé. Inspirados em nosso Santo Fundador e nos primeiros Irmãos, somos convidados a discernir comunitariamente os apelos de Deus e a responder a eles na fé e no zelo. E em virtude de nosso Voto de Associação, participamos solidariamente da missão da Igreja e do Instituto, exercendo nosso ministério educativo, independentemente de quais forem as funções e atribuições que nos são confiadas.

O Discernimento a partir da Palavra Nossa espiritualidade e mística lassalista têm como referência ou coordenadas a Realidade e a Palavra de Deus. Trata-se de ler a Realidade à luz da Palavra. Certamente, uma das dimensões da nossa espiritualidade tida como a mais importante é a de viver movidos pelo Espírito. Viver movido pelo espírito requer um discernimento que nos permita purificar nossas motivações, sempre ambíguas, e buscar a Vontade de Deus, muito além de nossos próprios interesses. Ler a Realidade à luz da Palavra requer tempo significativo de oração e meditação. A oração é um diálogo, um diálogo de amor com Deus, no qual Ele tem a iniciativa. O Fundador nos convida a uma presença sempre viva, de um Deus sempre presente. Nesse sentido, na medida em que vamos nos aprofundando e crescendo no amor pela oração, esta converte-se na simples atenção amorosa do Deus presente. É a presença afetiva dos que se amam e se comunicam na intimidade interior, sem necessidade de muitas palavras e gestos. Colocar-nos na presença de Deus e reconhecer Deus em nossa história. Assim a espiritualidade lassalista é uma espiritualidade que gira em torno a uma presença que tem rosto, pois é uma espiritualidade unificadora, cujo centro de atenção cristológico está focado no serviço educativo, na solidariedade com os


MATÉRIA CENTRAL que sofrem, na entrega apaixonada pelas crianças, jovens e adultos que necessitam da nossa presença e da nossa missão. Provavelmente seja essa a razão pela qual o Fundador e os primeiros Irmãos identificaram a missão com a obra de Deus. É o mesmo Deus que encontramos no silêncio da oração, da meditação que continuamos vendo no rosto dos nossos Irmãos, nossos alunos, em todos os que se acercam de nós, especialmente os mais vulneráveis. Para o Fundador, não há oração que não parta de uma Presença. “O primeiro, que deve fazer-se na oração, é compenetrar-se interiormente da presença de Deus” (E.M.O 3). Por isso, a insistência de uma mística de olhos abertos. Fazer nosso, o olhar de Jesus e viver uma mística de compaixão, de sensibilidade frente ao sofrimento dos mais vulneráveis. A fé e a comunhão como critérios do Espírito e, ao mesmo tempo, frutos do discernimento impactam diretamente na missão. Outrossim, a falta de fé e a ruptura da fraternidade são indicadores de um discernimento mal elaborado e incompleto. O discernimento tanto pessoal quanto comunitário requer atitudes internas muito exigentes, tais como, abertura e disponibilidade para a escuta, ausência de apegos e ideologias, afinar-se com a música do Espírito, ser sensível e atento à realidade mais ampla. Conforme o Ir. Álvaro Rodriguez Echeverría, reside aqui a originalidade, a riqueza e a contribuição ao discernimento lassalista que nos leva a olhar a realidade com os olhos da fé, descobrir no rosto das crianças e jovens, especialmente dos mais vulneráveis, o projeto salvífico de Deus, bem como nos faz responsáveis de sua obra que também é nossa.

Carisma como dom Inspirados e nutridos pela fé e zelo, assumimos nosso carisma como dom do Espírito Santo dado à Igreja em vista da educação humana e cristã. Como “ministros de Deus e da Igreja”, solícitos em “tocar os corações” dos que a nós estão confiados, empenhamo-nos com “zelo ardente” na missão educativa, como a Obra do Senhor requer. Para tanto, colocamos generosamente à disposição nosso tempo, nossos talentos, nossas forças e todo nosso potencial criativo.

inseridos e a quem estamos confiados. Eleger Jesus é adentar em sua pedagogia salvífica que nos desafia a evangelizar a cultura, ser um ponto de contracultura e propor alternativas ante os sinais de desumanização e de morte. Esses sinais são as muitas vozes que nos interpelam e também nos revelam o rosto do Mestre. Essas vozes, que muitas vezes não tem voz, são fonte para o discernimento de nossa comunidade, chamada por Deus a seguir Jesus Cristo e a dar respostas a partir da leitura de fé, continuando a missão lassalista como testemunho, serviço e comunhão. Essas respostas devem ao mesmo tempo ser proferidas de forma “criativa e audaz às urgentes necessidades dos mais vulneráveis”, pois instigados pelo evangelista Mateus (25,31-46), nossa salvação depende da nossa relação pessoal com os famintos, os doentes, os sem-teto, os presos, os estranhos, os imigrantes, os refugiados. Em outras palavras, nosso compromisso lassalista é com o bem comum, com foco preferencial e prático nos vulneráveis e pobres. Esse compromisso nos impulsiona a ir para “além-fronteiras”. A conversão cristã e a ida “além-fronteiras” é envidar esforços para o rompimento de fronteiras pessoais, culturais, sociais e geográficas. É sair da zona de conforto do nosso “modus vivendi”, da cegueira da autoabsorção, do prestígio acadêmico e social, da supervalorização do “aqui e agora”. A superação desses aspectos pode nos motivar e, quando considerados pelos olhos da fé, podem acordar-nos para iniciativas emocionantes, por trazerem esperança cristã aos jovens abandonados e desesperados, assumindo assim nosso papel e missão profética. Ao mesmo tempo em que deve ser uma convicção, é um convite contínuo, para que o nosso testemunho como consagrados em comunidade seja sinal e um instrumento do plano de Deus. Recorda-nos a Regra que ao sermos Irmãos entre nós mesmos, com os nossos Colaboradores, estudantes, nós nos tornamos o Reino de Deus visível (Regra 15).

Escuta atenta

Esse zelo ardente, como decorrência, requer de nossa parte, esforço contínuo para crescer na competência, na qualidade dos relacionamentos, no testemunho alegre da vida e no vigor da fé, para estarmos transfigurados pela presença do Senhor que chama, consagra, envia e salva.

A exemplo do nosso Fundador, com o olhar da fé, estamos convocados a estar atentos aos sinais dos tempos e ao discernimento da Vontade e as sucessivas mensagens de Deus (R 18,1; 32,1; 65,2). Hoje, o Evangelho, os nossos alunos, os mais vulneráveis, os pobres e os Colaboradores estão entre as “muitas vozes” por meio dos quais Deus se manifesta.

Se na fé elegemos Jesus como mestre espiritual e referência para o nosso itinerário vocacional de identificação com Jesus Cristo, implica entrar em um movimento, em uma dinâmica de contínua conversão pessoal e comunitária, para que o Instituto experimente uma nova vida, transformada pela luz, pela plenitude da graça e ação do Espírito de Deus. Por isso, queremos como Ele, encarnar suas palavras em nossa vida, para assim ser sinal de esperança e de alegria, onde estamos

As “muitas vozes” pedem de nós que sintonizemos nossos ouvidos à sabedoria e nossos corações ao entendimento para que possamos perceber claramente o que Deus nos quer comunicar. O contato diário com a Palavra de Deus aguça nossa audição, capacita nossos corações e mentes a testarem tudo e ficarem somente com o que é bom (ITs 5,19). A escuta atenta da Palavra de Deus nos permite entender as

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MATÉRIA CENTRAL pessoas, os acontecimentos e as muitas “vozes” que clamam por solidariedade, respeito e justiça. Também nos renova e faz testemunhar a preferência de Deus pelos pobres, a fraternidade e a fidelidade, segundo as necessidades do Reino de Deus.

Associados para a Missão Educativa

Antonio Botana, fsc, apresenta quatro aspectos que dão um significado concreto à Associação Lassalista e que a diferenciam substancialmente das outras formas de entender esse conceito hoje. São: a) A comunhão que une essas pessoas que assinam a Ata (a de 06.06.1694);

São João Batista de La Salle e os primeiros Irmãos associaramse para estabelecer as escolas cristãs gratuitas, como resposta à contemplação do desígnio salvífico de Deus, frente à situação de abandono dos “filhos dos artesãos e pobres”.

b) O carisma ou espírito comum que se foi revelando entre eles;

Esse ato de associação, hoje reinterpretado como acontecimento fundacional e centro de gravidade, gerador de energia para a história lassalista e foco de luz para clarificar nossa identidade coletiva, “une o Instituto de hoje com as suas origens. Foi esse 06 de junho de 1694, quando São João Batista de La Salle e 12 de seus companheiros se associaram para consagrar suas vidas à educação cristã das crianças pobres” (Cir. 447).

d) A missão que tem sido o motivo dos outros três componentes, ou seja, a educação cristã dos pobres.

c) O compromisso entre si e diante de Deus; e, finalmente,

A pessoa que assume uma identidade coletiva é capaz de dizer “nós”, sentindo-se solidária com o conjunto das pessoas integradas a esse “nós”. A solidariedade é a atitude que une entre si os que participam de uma mesma identidade coletiva e projeta a responsabilidade que cada membro do grupo sente a respeito da finalidade ou missão comum.

Ao professar o Voto de Associação, o Irmão expressa que deseja entregar sua vida aderindo a essa identidade coletiva de comunhão para a missão. Aqui está o foco central da vida religiosa do Irmão. O objeto do Voto é a promessa da entrada num processo de comunhão, num sistema de relações fraternas que não estão fundadas na simpatia, nem no trabalho comum, mas sim na chamada do Senhor a formar uma fraternidade ministerial para a educação dos pobres. E cada novo associado ao Instituto, com seu gesto de adesão incondicional a essa fraternidade ministerial, torna-se um sinal do amor de Deus, como resposta às “muitas vozes”, sobretudo dos mais vulneráveis. E cada novo membro, ao decidir fazer parte do Instituto, participa dessa identidade coletiva, na medida em que vai internalizando e fortalecendo o sentimento de pertença que assegura a coesão grupal, o sentimento de corresponsabilidade que assegura a fidelidade à missão e, por fim, a atração ao projeto comum coletivo. Esses sentimentos tendem a comprometer a pessoa profundamente, e não somente em aspectos parciais ou acidentais da vida e missão do Instituto. Portanto, não podem ser resultado de pequenas experiências e envolvimentos superficiais, mas decorrência de um itinerário, de um processo de formação e de transformação da pessoa.

O sentimento de corresponsabilidade assegura a fidelidade à missão

MISSÃO ESCOLAS SERVIÇO EDUCATIVO

Quando esses sentimentos estão fragilizados ou ainda não foi assimilado suficientemente o espírito próprio do Instituto, nem a consciência do itinerário comum da missão, atendose somente ao institucional, com seus ritos e organização, perde-se as referências. Em casos assim, o itinerário pessoal permanece desprovido do significado original e a identidade desaparece. A pessoa que assume uma identidade coletiva é capaz de dizer “nós”

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Eucaristía de los 140 años de presencia lasallista en Chile

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lamados por el Arzobispo de Santiago de aquellos años, Monseñor Rafael Valentín Valdivieso, el 11 de abril de 1877 llegaron a Chile, procedentes de Ecuador, los primeros Hermanos de las Escuelas Cristianas, los Hnos. Amadeo, Donatoris, Jucondus y Théophile Justin, siendo nuestro país el segundo en contar con la presencia de la Congregación en Sudamérica. Hoy, 140 años después, queremos seguir con su testimonio en el anuncio del Evangelio para que la semilla que ellos sembraron continúe creciendo como un gran árbol que acoge y seguirá acogiendo a cientos de niños, niñas y jóvenes en el camino de la formación humana y cristiana; ruta que hemos realizado con el esfuerzo y colaboración de innumerables Seglares, Profesores, Asistentes de la Educación y Apoderados a los que hoy queremos recordar. Damos Gracias a Dios por la Espiritualidad dada a la Iglesia a través de nuestro Santo Fundador, y el esfuerzo entregado por cada uno de los miembros de la Familia Lasallista a lo largo de todos estos años. El día 13 de mayo de 2017 en el Colegio de La Salle La Reina se realizó la Misa en Conmemoración de los 140 años de presencia lasallista en Chile. La Misa contó con la participación de las distintas delegaciones lasallistas: Hermanos, Seglares, Profesores, Asistentes de la Educación, Centros de Alumnos, Centros de Padres, Signum Fidei, CORDAS, Scout, Ex alumnos, Consejos Directivos y representantes de los cursos, además de invitados especiales que han sido significativos dentro de las obras lasallistas.

Hno. Edgar Nicodem (Visitador), Santiago Amurrio e Hno. Eduardo Tillmanns

Publicaciones Nuestra presencia en Chile como Congregación Religiosa ha estado marcada por um árduo trabajo de evangelización y educación inspirados en la obra de San Juan Bautista de La Salle. Vea algunas publicaciones divulgadas este año con respecto a los 140 años de presencia lasaliana en el país:

Un Camino de Fe, Fraternidad y Servicio Org. Hno. Enrique García Ahumada

Revista Mensaje N° 68 Presenta un artículo del Hno. Enrique García Ahumada

De La Salle – Chile – 140 Años Hno. Gabriel González

Por La Senda de La Salle Diario Austral de Temuco

La misa contó con la participación de las distintas delegaciones lasallistas

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Novos Irmãos da Província

Novos Irmãos celebraram um importante passo em sua caminhada na VRC

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m 15 de julho, a Província La Salle Brasil-Chile celebrou, com alegria, os Primeiros Votos dos então Noviços Cleiton Luiz Kerber, Fábio Kolling, Gabriel Pôrto César, Jordan Rodrigo Carvalho Vilar e Taylon Amorim Torres. Houve Celebração Eucarística na Capela São José, em Canoas/RS. E em 16 de julho, aconteceu almoço festivo no salão do Colégio La Salle Santo Antônio, em Porto Alegre/RS. Após a profissão religiosa, os novos Irmãos passaram a integrar as seguintes Comunidades Religiosas e Educativas: Cleiton Luiz Kerber – Comunidade La Salle Toledo/ PR e Colégio La Salle Toledo; Taylon de Amorim Torres – Comunidade La Salle Toledo/PR e Colégio La Salle Toledo; Fábio Kolling – Comunidade La Salle Botucatu/SP e Colégio La Salle Botucatu; Jordan Rodrigo Carvalho Villar – Comunidade La Salle Botucatu/SP e Colégio La Salle Botucatu; Gabriel Pôrto César – Comunidade La Salle Lucas do Rio Verde/MT e Colégio La Salle Lucas do Rio Verde. Evento ocorreu em Canoas/RS

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Encontro Regional de Jovens Irmãos

Evento reuniu Irmãos em Zé Doca/MA

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e 23 a 29 de abril aconteceu o Encontro Regional de Jovens Irmãos da RELAL, em Zé Doca/MA. A programação contemplou sessões com foco especial no tema “O Religioso Irmão nas Periferias e Fronteiras”. Da Província La Salle Brasil-Chile participaram os Irmãos Acássio de Souza Ribeiro, André Luís D. Faralosso, André Carlos dos S. Oliveira, Carlos Andrés C. Caicedo (Distrito Norandino), Fabrício Miguel Heinzmann e José Roberto Oliveira.

Confira alguns depoimentos de Irmãos a respeito dessa experiência! “O Encontro de Jovens Irmãos da RELAL foi mais uma oportunidade de discutir sobre o que entendemos por fronteiras e periferias. Refletimos nos primeiros dias sobre as possíveis barreiras que nos distanciam do sofrimento do outro, por vivermos em uma sociedade da indiferença, em que tudo parece ser comum (morte no trânsito, assaltos, assassinato, corrupção). Além do mais, precisamos superar as nossas próprias barreiras; temos as nossas próprias fronteiras, existências. Teremos ações eficazes se estivermos realmente bem. Portanto, pensar as periferias e fronteiras nos exigirá um esforço psíquico, social, político, econômico e cultural. Ou seja, exige uma entrega total de si mesmo” - Ir. José Roberto Oliveira. “Participar do Encontro de Jovens Irmãos da RELAL, norteado com as palavras ‘fronteira’ e ‘periferias’, foi mais do que um convite: foi um tempo de ‘desafiar’ - de ir a uma

região castigada pela pobreza e pelo descaso público, falar uma língua diferente, mudar nossos hábitos, sair de uma situação de conforto, etc. Todavia, além das asceses foi uma rica oportunidade de crescimento pessoal, com momentos e experiências de muitas aprendizagens. Por meio desse encontro, percebemos que as fronteiras e periferias não são apenas geográficas ou físicas, mas também são pessoais. E, muitas vezes, para se chegar a tais ‘fronteiras geográficas’, no sentido de fazer uma verdadeira experiência apostólica, é preciso cruzar as fronteiras criadas por nós mesmos, as quais se localizam em nosso interior” – Ir. Fabricio Heinzmann. “O encontro proporcionou uma integração e uma troca de experiências entre Irmãos oriundos de vários países da América Latina. Minha experiência pessoal é que esse encontro despertou a alegria de servir, ver que tem muitos Irmãos em outros países apaixonados por esse trabalho com os pobres. Refletimos sobre como fazer a diferença onde atuamos” – Ir. André Oliveira. “Assim como La Salle saiu para conhecer as dificuldades, os sofrimentos e as necessidades de uma população, nós, Irmãos Lassalistas, também nos dispusemos a sair e a conhecer a realidade de Zé Doca. Com isso percebi que, enquanto religioso, tenho muito por fazer para ajudar socialmente, tenho muito por fazer para conseguir ser fiel ao legado que São João Batista de La Salle nos deixou, me deixou. Fazer missão é atravessar fronteiras, é fazer novas amizades e buscar sempre novos desafios” – Ir. Acássio de Souza Ribeiro.

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ACONTECEU NA PROVÍNCIA

Nuevo Doctor El 5 de mayo, en la Universidad Francisco de Vitória, de Madrid, defendió su tesis doctoral el Hno. Rodolfo Patricio Andaur Zamora, del Polo Chile de nuestro Distrito Lasallista Brasil-Chile. Bajo el título de Con la firmeza de padre y ternura de madre. El sentido del amor en el ejercicio de la docencia, a la luz de las Meditaciones de San Juan Bautista de La Salle, la tesis fue desarrollada entre marzo del 2014 a enero del 2017, contando con el apoyo, como director de tesis, de la Doctora Sra. Cristina Ruiz-Alberdi. El tribunal calificó la tesis con un “sobresaliente” (cum laude).

Encontro Provincial da Equipe de Formadores De 27 a 30 de julho, em Criúva/RS, aconteceu o Encontro Provincial da Equipe de Formadores. Os Itinerários Pessoais, a Matriz de Competência dos Trajetos Formativos e o Planejamento 2018 foram alguns dos temas. Participaram os Irmãos Abnailson Moreira dos Santos, Arno Lunkes, Clóvis Trezzi, Joneilton Araújo, Heider Lopes dos Santos, Paulo Dullius, Marcos Santos, Vicente Fialho, Marcelo Cesar Salami e Cláudio Dierings.

Curso de Formadores Foi concluída com sucesso a primeira de quatro etapas do Curso de Formação Humana & Desenvolvimento de Pessoas (Curso de Formadores). A iniciativa é uma realização da Província La Salle Brasil-Chile e da Universidade La Salle, de Canoas/RS. Participam religiosos(as) do Brasil, do México, do Paraguai e da Bolívia, de diferentes Congregações. As disciplinas ofertadas no primeiro módulo foram: Antropologia Filosófica; Antropologia Bíblica; Cristologia; Psicologia do Desenvolvimento. Representam a Província os Irmãos Abnailson Moreira dos Santos, Heider Santos, Marcos Santos e Vicente Fialho.

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ACONTECEU NA PROVÍNCIA

Espiritualidad Lasallista De 7 a 11 de agosto aconteceu na Universidade La Salle, em Canoas/RS, o curso “Espiritualidad Lasallista”. Conduzida pelo Hno. Diego Muñoz, a iniciativa manteve foco em Postulantes e Noviços, aberta também a Animadores de Pastoral. Hno. Diego, que atua em Roma, é responsável pelos Estudos Lassalianos do Instituto e esteve na Província até o final de agosto.

Reuniões de Diretores de Comunidades Religiosas O Irmão Diretor está a serviço dos Irmãos para ajudá-los na caminhada espiritual e na realização da vocação pessoal e comunitária. E entre agosto e setembro aconteceram Reuniões de Diretores das Comunidades Religiosas, com acompanhamento do Ir. Provincial e da Direção de Formação. No Chile, o acompanhamento é feito pelo representante do Ir. Provincial. O tema de reflexão proposto para o segundo semestre é “Ser Irmão no quotidiano da Comunidade Religiosa”.

Rito de Ingresso no Postulantado em Beira No dia 9 de setembro aconteceu o Rito de Ingresso no Postulantado em Beira, Moçambique. Após 8 meses vivendo com os Irmãos, atuando nos diversos trabalhos e participando ativamente da vida da comunidade e da missão, avaliaram suas experiências como positivas, solicitando seu ingresso oficial ao postulantado. São eles: Bonefácio Bernardo Namaja; Félix José António; Hilário Manuel Alexandre Nicotompuanha; Martinho Artur Atílio e Mossito Molipiha Saquine Guhua.

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Cronograma de Atividades

A Revista Fraternitas divulga alguns dos próximos eventos da Província La Salle Brasil-Chile, momentos para fortalecer o sentimento de pertença a partir da convivência, reflexão, partilha e oração. 21 de setembro a 21 de outubro de 2017 - Jornadas Internacionais Lassalistas pela Paz. Locais: Comunidades Educativas. Responsável: Equipe Provincial de Pastoral. 18 de outubro - Reunião da Comissão de Formação e VC. Local: Sede Provincial. Responsável: Direção de Formação. 21 de outubro de 2017 - Encontro Nacional de Crianças Missionárias Lassalistas. Local: Chile. Responsável: Representante do Ir. Provincial. 22 a 28 de outubro de 2017 – 4º Retiro Provincial. Local: Criúva - Caxias do Sul/RS. Responsável: Direção Provincial. 1º de novembro de 2017 - Reunião da Comissão de Pastoral Vocacional. Local: Sede Provincial – Porto Alegre/RS. Responsável: Coordenação de Pastoral Vocacional. 6 a 11 de novembro de 2017 - Encontro Regional de Formadores. Local: Medellín – Colômbia. Responsável: CAR. 11 a 15 de novembro de 2017 - XIV Conferência Regional dos Provinciais. Local: Medellín – Colômbia. Responsável: CAR. 24 a 26 de novembro de 2017 - Reunião da Coordenação de Pastoral Vocacional. Local: Altamira/PA. Responsável: Direção de Formação.

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1º a 12 de dezembro de 2017 - Retiro de Preparação aos Votos Perpétuos. Local: Guadalajara-México. Responsável: CAR. 1º a 3 de dezembro de 2017 - Retiro de Ingresso ao Aspirantado Zé Doca. Local: Presidente Médici/MA. Responsável: Direção de Formação. 8 a 10 de dezembro de 2017 - Retiro de Ingresso ao Aspirantado SMO. Local: São Miguel do Oeste/SC. Responsável: Direção de Formação. 18 a 23 de dezembro de 2017 – Retiro Especial. Local: Comunidade Nossa Sra. da Estrela – Porto Alegre/RS. Responsável: Direção de Formação. 27 de dezembro de 2017 a 2 de janeiro de 2018 – 5º Retiro Provincial. Local: São Roque/SP. Responsável: Direção de Formação. 28 de dezembro de 2017 a 3 de janeiro de 2018 – 6º Retiro Provincial. Local: Comunidade La Salle Ananindeua/PA. Responsável: Direção de Formação. 7 a 13 de janeiro de 2018 – 7º Retiro Provincial. Local: Criúva – Caxias do Sul/RS. Responsável: Direção de Formação. 15 a 20 de janeiro de 2018 – 8º Retiro Provincial. Local: Chile. Responsável: Direção de Formação.

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Confira as dicas culturais da Revista Fraternitas Livros Experiência de Deus e outros escritos de espiritualidade (Paulus, 2017) - Empresários, políticos, modelos, artistas e mesmo ateus, não há hoje quem não queira ser uma pessoa “espiritualizada”. Dentro do cristianismo, os movimentos mais dinâmicos são os que estão centrados na experiência espiritual: os pentecostais e os carismáticos. Mas o que é mesmo experiência espiritual? Quais são as armadilhas que se escondem atrás dela? Como crescer em espiritualidade? Questões difíceis, porém urgentes, a que o presente livro do teólogo Clodovis Boff procura dar respostas claras, seguras e práticas.

Conversas com um jovem professor (Contexto, 2012) - O professor entra na escola e parece que nasceu para dar aula: sabe como lidar com os alunos, faz camaradagem com os colegas, dialoga com os pais. Nunca comete um deslize, passa muito bem o seu recado e todos o adoram. Será que nasceu sabendo ou foi aprendendo ao longo de alguns sucessos e outros tantos fracassos? Nessas “conversas” o leitor não encontrará citações de grandes obras, mas conhecerá experiências em classe. Tanto as que deram certo como as que fizeram o autor se arrepender depois. Professor com vasta experiência, Leandro Karnal discute os problemas cotidianos daqueles que lecionam.

O que é gestão escolar? (WPensar/Unilasalle-RJ) - Atuar no ramo da educação não é tarefa fácil. Para que um estabelecimento de ensino seja bemsucedido, é preciso que ele seja administrado por uma equipe capaz de coordenar tarefas muito diferentes entre si. Nesse processo contínuo de gestão de uma instituição de ensino, podem surgir dúvidas e conflitos. Às vezes, pode parecer difícil conciliar questões pedagógicas, acadêmicas e financeiras. A intenção do ebook é esclarecer o que é gestão escolar, ou seja, quais são os pontos mais relevantes de se considerar quando se está administrando uma escola ou um curso.

A reforma de Francisco: fundamentos teológicos (Paulinas, 2017) - A presente obra oferece reflexões que ajudam a pensar os fundamentos teológico, histórico e eclesial das reformas encaminhadas por Francisco. Mario de França Miranda acolhe as chamadas do Papa e nos ajuda a participar com mais consciência desse projeto.

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Formação permanente: acreditamos realmente? (Paulus, 2012) A pergunta do título subentende outras: em que consiste a formação permanente? Consideramos que ela seja possível nas circunstâncias atuais? Estamos vivendo-a de alguma forma? Tais dúvidas estão na origem do livro de Amedeo Cencini, endereçado a presbíteros, religiosos(as), leigos(as) consagrados(as), bispos, reitores, pais espirituais, formadores(as) de seminários e noviciados.

Filme Quando Sinto Que já Sei (Despertar Filmes, 2014) - Direção de Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima. A proposta do documentário é levantar uma discussão sobre o atual momento da educação no Brasil. Carteiras enfileiradas, aulas de 50 minutos, provas, sinal de fábrica para indicar o intervalo, grades curriculares, conhecimento dividido em diferentes caixas. As escolas, como são hoje, oferecem os recursos necessários para que uma criança se desenvolva ou a transformam em um robô, com habilidades técnicas, mas sem senso crítico?

Documento do Instituto Reflexão Lassalista - O Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs compartilhou com Províncias Lassalistas do mundo todo um documento especial para o período 2017-2018. Com o tema “Lassalistas sem Fronteiras”, a Reflexão nº 3 analisa a criação de comunidades sustentáveis, fala das mudanças na demografia e no meio ambiente, sobre diversidade e sobre os chamados a que os lassalistas devem estar atentos nesse contexto para um mundo com mais paz, igualdade e justiça. No Portal da Rede La Salle, faça o download em “Publicações” acessando lasalle.edu.br. Acesse e conheça também o site do Instituto, em lasalle.org.

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Comunhão Fraterna e Reconciliação: Duas faces da mesma moeda Ir. Ivo Pavan Vice-Diretor Escola La Salle João XXIII

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oi-me solicitado o relato de uma boa prática de vida fraterna, com o objetivo de socializar as boas experiências que ocorrem em nossas Comunidades Religiosas, tendo como horizonte o tema da Carta Pastoral “Um Chamado, muitas Vozes” e o foco COMUNIDADE, da Assembleia de Irmãos 2017.

Creio que a Comunidade La Salle Beira goza de um lugar privilegiado para refletir sobre o tema da Carta Pastoral. Aqui, essa “boa semente caiu em terreno fértil”. Os filhos dos artesãos e dos pobres estão aí, bem à vista, e batem a nossas portas todos os dias. Mais que filhos de artesões, são filhos dos sem-emprego e desempregados, crianças órfãs, abandonadas, excluídas, sem-escola, em situação de vulnerabilidade. Esse contexto está contemplado no Projeto Comunitário (PC) e é tema frequente em nossas conversas, partilhas e decisões.

Tendo presente... o cenário de empobrecimento geral e degradação social caracterizado pelo aumento da fome, doenças, exclusão, violência, corrupção... que constituem a realidade do “abandono humano e espiritual dos filhos dos artesãos, os quais são, hoje, os pobres e excluídos que clamam por “meios de salvação.” (Projeto Comunitário 2017 - Comunidade La Salle Beira). Pode-se dizer que uma prática é boa ou significativa se for contextualizada, ou seja, que tenha a ver com o “texto” em que se desenvolve e caminhe de mãos dadas com ele. Para o Fundador, o abandono dos filhos dos artesãos e a carência de mestres e instituições adequadas para acolhê-los, a fim de lhes oferecer meios de salvação, constituiu o texto concreto e inspirador da criação da Sociedade dos Irmãos das Escolas Cristãs. Ora, o nosso texto atual, o cenário acima descrito no PC, é muito próximo daquele do Fundador. Ele teve que sair de si, romper fronteiras e ir além. Nós, Irmãos brasileiros e moçambicanos, integrantes da mesma Comunidade, sabemos e experimentamos em nossa pele, em nossas entranhas, a experiência de que os “Rompimentos de fronteiras pessoais, culturais, sociais e geográficas são perturbadores, pois nossas zonas de conforto são incomodadas, habilidades pessoais

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são transtornadas, valores e tradições culturais e religiosos são abalados, o prestígio acadêmico e social fica ameaçado” (Carta Pastoral p. 13). Acrescentamos outras fronteiras, de ordem política, social e coletiva. Deparamo-nos com a insuficiência e funcionamento inadequado das instituições sociais e oficiais, com a ineficiência do estado de direito, com a escassez de alimentos, de serviços e bens de consumo. Temos a impressão de que há gente demais, pois não há bens nem lugar para todos e o pouco que há é disputado de forma um tanto selvagem, para satisfazer minimamente as necessidades básicas, num “salve-se quem puder”, não importa com que meios, valendo a esperteza em benefício próprio e a justiça pelas próprias mãos. A instabilidade financeira e política, ameaças de retorno à guerra, a fragilidade dos contratos profissionais e legais, a incerteza da oferta dos serviços básicos – água, energia, saúde, telecomunicações, transporte, a insegurança de ser estrangeiro..., são tantas limitações que impõem fronteiras por todos os lados. Nisso tudo, nossa Comunidade é privilegiada. Nessas fraquezas, sentimo-nos fortes e fortemente desafiados. São experiências que mexem com nossas seguranças, poder e liberdade. “Mexeram no meu queijo”. Fronteiras internas na Comunidade Religiosa: somos Irmãos de culturas, nacionalidades e idades diferentes; voluntários e voluntárias de outros países convivem conosco por períodos mais ou menos longos; formandos e vocacionados; funcionários da comunidade... uma riqueza de cosmovisões, crenças, aspirações, ritmos, modos de ser, de interagir, não certos nem errados, nem inferiores ou superiores, porém coexistentes.Tudo isso precisa estar em diálogo constante para harmonizar as interações.

Como lidar com tudo isso? Não há uma prática comunitária específica, a não ser perceber, tentar entender e aceitar as diferenças pessoais e culturais como manifestações normais e peculiares de cada indivíduo ou grupo social, no seu contexto histórico e evolutivo. Conviver com essas diferenças, numa postura respeitosa, conciliadora e profética ao mesmo tempo, é o nosso grande desafio. A grande tentação é confrontar culturas e comportamentos, compará-los, classificá-los, julgar e condenar as práticas ou as pessoas que não se enquadram em nossos modelos mentais construídos desde a infância.


Em meio a essas fronteiras culturais, buscamos garantir uma linguagem comum, um divisor comum, comunitariamente definido, aceito e assumido como compromisso, de modo que as diferenças sejam respeitadas e integradas numa vida e missão em comum, como oportunidades de crescer pessoalmente e de contribuir gratuitamente com seus próprios dons e habilidades na construção do bem comum. Ser testemunhas visíveis de que é possível viver alegremente como irmãos que se entendem, na mútua confiança e corresponsabilidade, apesar das nossas diferenças. Isso é bonito e inspirador, como ideal, mas na prática é exigente e requer um jogo de cintura conciliador, não conflitivo, para manter a unidade na diversidade. Contribui muito para isso garantir os momentos de encontros informais nos finais da tarde, ao redor do chimarrão, nas refeições com a presença de todos, e os serviços comunitários partilhados com simplicidade. Além disso, destacamos as duas reuniões semanais formais, uma de caráter formativo e outra de organização e avaliação da vida comunitária e de nossa missão. Nesses encontros, tecemos os laços lassalianos da rede que nos une. Sem eles, as múltiplas vozes das redes sociais e outras influências abafariam a nossa opção de consagrar nossas vidas como associados, para manter o serviço educativo aos pobres. Esses encontros comunitários são importantes mas não suficientes, porque são momentos. Mais que momentos é preciso criar uma cultura de abertura receptiva e compreensiva face ao todo que se manifesta na multiplicidade. Tentar ser como um espelho, livre de imagens preconcebidas, de conhecimentos e verdades conclusivos, de dogmas inquestionáveis, de imperativos e julgamentos. Cultivar uma postura que se impõe pela simplicidade e escuta atenta dos valores que nos unem, sensibilidade e respeito frente às nossas divergências, buscando construir a comunhão fraterna, visto que somos filhos do mesmo Pai, misericordioso e compassivo, que acolhe com ternura o filho desviado e convida o irmão mais velho a ser irmão de seu irmão e a entrar na festa. Outra experiência que não pode estar ausente, em nível pessoal e comunitário, é a da reconciliação. Reconciliação no sentido de conciliar, aliar, criar alianças, alinhar forças e compromissos, alinhavar os termos de um acordo, buscar entendimentos de forma que o todo funcione bem. Reconciliar, não porque somos adversários, mas indivíduos afilhados a grupos socioculturais divididos entre “nós e eles”, desconfiados do outro que não é dos nossos, esquecendo-nos de que fazemos parte de uma mesma família, a família humana, chamada a viver em comunhão, sendo um com Deus, participando de sua obra criadora. Diz São Paulo que “Deus nos confiou o ministério da reconciliação ... e colocou em nós a palavra da reconciliação” (2 Cor 5,18-19). Comunhão e reconciliação andam juntas como as duas faces da mesma moeda.

Presença do Superior Geral em Moçambique, Ir. Robert Schieler

Mais do que o relatar uma prática, apresentamos o cenário onde vivemos e desenvolvemos nossa missão educativa. Entendemos que nossa primeira missão é converter-nos, ouvindo o chamado: “Precisais deixar a vossa antiga maneira de viver e despojar-vos do homem velho... Por outro lado, precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade”´ (Ef 4, 22-24). A Carta Pastoral insiste no caminho da conversão com referências concretas: o despojar-se do homem velho, ir além-fronteiras, sair das zonas de conforto, o relato do Juízo Final de Mateus 25 que explicitamente nos ordena a dar respostas concretas às necessidades básicas dos pobres. Nesse contexto, gostaríamos de citar o que fazemos como respostas a tantos apelos: oferecer lanche e almoço diário para 280 crianças no Centro Educativo e Assistencial La Salle com apoio de projetos; lanches diários a 140 professores e funcionários que vêm ao trabalho em jejum; adiantamentos salariais por motivo de doenças ou falecimentos de seus familiares, imprevistos de toda sorte, muitas vezes por falta de previsão; apoio à formação universitária; empréstimo para dar início à construção da própria casa; descontos nas mensalidades, e tantas outras necessidades de vida ou morte que nos são apresentadas nos contatos pessoais, frente às quais é impossível ficarmos indiferentes. Mesmo sendo práticas paternalistas, não deixam de ser formas concretas de sermos solidários e próximos dos mais pobres, percebendo seu mundo de incertezas e esperanças de um futuro melhor. Isso leva a questionar nossas seguranças e abrir caminhos de conversão. Uma conversão que nós, ocidentais, deveríamos fazer é mudar a estratégia de intervenção, à luz do que diz um provérbio africano: “If you want to go fast, go alone; if you want to go far, go together” (Se você quiser ir rápido, vá sozinho; se quiser ir longe, vá junto, com outros). É uma boa pedagogia, aberta a muitas interpretações.

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Mística y Espiritualidad en el Mundo de Hoy Hno. Nicolás Herrera Director de Comunidad – La Salle Talca

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n la realidad en la cual hoy estamos insertos muchas veces nos preguntamos ¿Qué es ser místicos o espirituales? Por lo general, se asocia a algo que es más bien de nivel religioso o que solamente cabe dentro de este contexto de vida o de personas dedicadas a la vida de oración o que adhieren a cierto carisma.

Dentro de nuestras vidas como personas únicas todos somos místicos o tenemos algún tipo de espiritualidad lo que no significa que una u otra religión o credo sea el correcto que hoy están presente en el mundo actual y en la sociedad, que a mi parecer son válidas, ya que el ser humano es un ser espiritual por esencia. Dentro de esta misma idea hoy nos cabe destacar que desde nuestra mirada como religiosos y que tenemos un carisma que supone está definido ya sea por nuestra regla o por los diferentes documentos tanto del fundador como otros, el saber cómo estamos llevando a la práctica estas vivencias o como compartimos nuestra mística o espiritualidad dentro de nuestra comunidad religiosa o en la comunidad educativa en conjunto con los seglares. Desde mí experiencia dentro de estos años que llevo en la congregación quizás ni yo tenga la receta de ello, pero creo que desde nuestra forma de vivir debemos ser personas que irradiamos en el día a día una forma autentica de espiritualidad, primero desde nuestra comunidad en la que nos encontramos en la cual todos somos diferentes como fue planteado anteriormente, pero desde esta realidad de la diferencia es lo que nos hace ser personas más auténticas porque la riqueza espiritual de cada individuo debe ser compartida con mi hermano que se encuentra a mi lado, inclusive respetando las diferencias que el otro tiene con sus virtudes y defectos porque desde allí podemos construir algo nuevo o que sea llamativo a los demás y poder enriquecernos mutuamente desde las experiencias del compartir con mi hermano. Para mí no se trata de ser alguien que vive casi en un mundo de fantasías y poca realidad; por ende nos dedicamos a educar a quienes más lo necesitan pero desde una mirada cristiana en donde realmente se refleje en nosotros ese

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sentido de personas realmente entregadas a nuestra institución y que vivimos una espiritualidad concreta demostrada también con hechos que sean concretos y verdaderos. Nuestra oración debe, por lo tanto, desembocar en un compromiso que esté presente dentro de la realidad, particular y eficaz, ya que no basta solo contemplar un misterio dentro de la oración diaria, sino en poder dejarnos conducir por el espíritu del amor que Dios nos tiene y nos regala gratuitamente. Lo dicho anteriormente lo podríamos graficar de igual manera que Aquel que dice amar a Dios, pero no ama al hermano sería un mentiroso, sino que el poder contemplar a Dios sin tener un real compromiso dentro de la misión que se nos ha encomendado sería un engaño a sí mismo como persona. El compromiso apostólico es y debe ser algo real y no una nota que es un añadido desde fuera de nuestra oración de comunidad y vida, más bien un integrante de la misma como algo realmente verdadero y de corazón. El encuentro entre hermanos debe ser una forma de compromiso y no sólo algo posterior a la oración diaria, en esta realidad se debe dar un movimiento dialéctico entre la oración y vida en el que la comunidad juega un papel de prioridad. Es más nuestra regla nos dice: “La obra del instituto es Obra de Dios: la oración y el apostolado son indisociables. Los Hermanos llevan a su oración todo lo que constituye su ministerio. En comunión con Jesucristo descubren la libertad interior, la gracia y el discernimiento espiritual que requiere su misión” (68). Por lo tanto, en este apartado podemos afirmar que nuestras relaciones con Dios están condicionadas por nuestras relaciones con los demás desde una mirada Cristiana, en donde debe “primerear” (tomar la iniciativa), la fraternidad dentro de nosotros como hermanos de un mismo cuerpo de la sociedad (instituto). En donde el mismo hombre que ora y se entrega a una misión debe ser él mismo quien ama a los demás de forma incondicional sobre todos quienes más lo necesitan de nosotros, o que se encomiendan a nuestras oraciones diarias; este mismo ser también se comunica, sufre y trabaja; pero desde una mirada de la fe interior en cada uno como hermano. Al mismo tiempo nuestra fe no debe por ningún motivo ser algo apartado de la realidad o cerrado a nuestras experiencias humanas, sino que nos


Estamos llamados a nivel personal y comunitario a seguir escribiendo el Evangelio

debe iluminar y dar un nuevo sentido a nuestra historia personal y dentro de nuestra propia vocación de hermano y a las relaciones que construimos en conjunto con otros.

propia consagración, donde la eucaristía es el compartir y el cuerpo y la sangre de Jesús como sacrificio de amor por nosotros.

El hacer oración en comunidad o juntos debe ser un elemento esencial para crear una espiritualidad de conjunto o comunión como lo hizo Jesús en su tiempo junto a los apóstoles formando una comunidad, y esto es lo que nos invita a vivir la Regla y también la Iglesia como una forma de sentirnos unidos a Cristo y a los demás.

Para ya finalizar este texto me gustaría plantear que la forma de vivir nuestra espiritualidad hoy y el ser místicos tiene que ver con lo que hacemos en nuestro cotidiano en las diferentes actividades y compromisos que tenemos dentro de nuestras obras educativas u otras instituciones en las que nos encontremos como hermanos de este instituto.

Es relevante también retomar al fundador cuando en sus escritos nos invita a tener presente siempre a nuestros hermanos en la oración según la meditación n° 39, 3. Este llamado es importante hoy porque también el evangelio nos invita a vivir de esta forma en donde las relaciones humanas nos deben enriquecer y al mismo tiempo deben reflejar el rostro de Dios en nosotros, ya sea por medio de nuestra fraternidad, o por medio de nuestra oración fraterna y así constituir un elemento sacramental del compartir nuestra fe en la presencia del Señor que se manifiesta por medio de nuestra alegría de vivir juntos y no como religiosos con cara de “Vinagre” como el papa Francisco lo expresó en una de sus conferencias en Roma a un grupo de religiosos.

Tanto como una comunidad trinitaria que nos hace ser fuente de fe, al igual como nos lo planteo la primera comunidad de Jesús con los apóstoles y luego después la comunidad de los hechos seguido de pentecostés que se envían a anunciar la buena nueva a las naciones, estos hechos deben ser un precedente para nuestras comunidades. Estos tres planteamientos nos hablan del mandamiento más grande que nos dejó Jesucristo el AMOR a los demás y al mismo tiempo también de ser misericordiosos y amar a nuestro prójimo.

Para terminar este apartado me cabe destacar hacer hincapié en que la oración es de gran relevancia dentro de la comunidad; la celebración de la eucaristía cuando podemos contar con un sacerdote para ello, ya que debe ser un tiempo fuerte en donde vivimos dentro de la celebración nuestra

Por tanto, estamos llamados a nivel personal y comunitario a seguir escribiendo el Evangelio porque este es nuestra principal regla, y el libro vivo de la misericordia de Dios Padre para con sus hijos, como nos lo invita el Papa Francisco en el capítulo general de los Dominicos en el año 2016, y que aún podemos seguir escribiendo y haciendo actual nuestra forma de ser y hacer comunidad en medio de la sociedad en que vivimos.

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El Hermano Asesor Religioso de Guías y Scouts Hno. Enrique García A. Comunidad La Salle La Reina – Chile

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l movimiento Scout no es evangelizador, sino educativo. No es para una selección de niños buenos. Sir Robert Baden Powell lo creó en 1907 en Inglaterra al ver aumentar los adolescentes delincuentes. Al notar la corrupción de niños cada vez menores, en vez de formar grupos desde los once años, creó los lobatos para niños desde los siete. Los atrajo con actividades físicas creativas según el modelo del explorador (en inglés, scout), les dio espíritu religioso y afirmó: “Todo scout debe pertenecer a una religión y seguir sus cultos”. Les dio como ley un decálogo de honor al cual se compromete cada beneficiario con una promesa oficial. El movimiento acoge y acompaña a los que comienzan sin mística e incurren en faltas, porque son los que más lo necesitan.

El Método Scout Los beneficiarios operan en patrullas de unos seis miembros, donde todos se van conociendo porque cada cual opina sin temor ante sus iguales. En la patrulla tienen edades parecidas y el mismo sexo. Si es necesario pueden mezclarse los sexos en algunas actividades, pero se prefiere en general no hacerlo. Las guiadoras preparan actividades femeninas para sus guías y los dirigentes de scouts, masculinas. La comunicación espontánea los alegra. Sus actividades son juegos tanto competitivos como colaborativos, jamás violentos. El movimiento es lugar de aprendizaje tanto para niños como para adultos. Los menores aprenden en un marco simbólico basado en El libro de las tierras vírgenes publicado por Rudyard Kipling en 1894 aceptado por Robert Baden Powell, y en Antú y Solsiré, resultado del primer concurso literario nacional realizado en Chile en 1997 para niñas y guiadoras de la Rama Golondrinas, que se puede conocer en Internet. Las unidades tienen distintos métodos según su edad, conservando la finalidad y los principios generales. En cada encuentro cada patrulla hace un Consejo en que con su dirigente evalúan si cada actividad gustó o sirvió, se sienten invitados mejorarlas, a sustituirlas o a inventar otras. Se van sintiendo capaces de aprender y de ejercitar capacidades nuevas. Cada patrulla, cada unidad de beneficiarios de casi la misma edad y también el grupo entero tienen su

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respectivo dirigente adulto voluntario encargado de motivar con actividades, evitando los discursos teóricos escolares. Beneficiarios y dirigentes tienen un lema: ¡Siempre listos (para servir)! Por eso scouts y guías obedecen a sus dirigentes. Los dirigentes cada semana preparan para su unidad un programa de actividades lúdicas con valor educativo: desarrollar agilidad, habilidad para no dejarse sorprender, actuar en equipo y otras, conforme a un proyecto educativo anual. Son admirables educadores voluntarios, generalmente antiguos beneficiarios que siguen cursos propios del Movimiento Scout. Cada mes tienen Consejo para evaluar sus actividades y atender necesidades de los beneficiarios. Es importante que el asesor religioso asista en cada encuentro a un Consejo de patrulla y cada mes al Consejo de dirigentes, examinando su coherencia con el método, la ley y la promesa scout, aportando lo que estime conveniente. En Consejo de dirigentes se atienden propuestas y reclamos de los padres de los beneficiarios y también de éstos. Si algún dirigente cometió un error o una falta en su acción, se examina, se busca solución, y cuando corresponde, se aplica la sanción reglamentaria. Los padres financian la inscripción anual y el costo de cada campamento del respectivo beneficiario, según presupuesto preparado por los dirigentes y aceptado por los padres en su Comité de Grupo. En éste los padres de los beneficiarios tienen algunos Consejos en el año y se les invita a presenciar las actividades semanales sin intervenir en ellas. Los beneficiarios se organizan para financiar gastos menores con propinas por trabajo, sin pedir limosna.

La Pastoral Scout El jesuita francés Jacques Sevin (1882-1951) en 1913 recibió gustosa aprobación del general Robert Baden Powell de su proyecto de grupos scout católicos. Cambió la promesa a Dios y al rey de los ingleses por una promesa a Dios y a la Iglesia, y en vez de sólo servir al prójimo y ayudarlo, propone servir al prójimo y salvarlo. En 1920 fundó la Asociación de Scouts de Francia, donde creó oraciones y cánticos para el movimiento, ahora usuales en muchas lenguas. Como símbolo del movimiento agregó a la flor de lis o lirio la Santa Cruz de Jerusalén. El mismo año, con el dirigente belga Jean Corbusier y el italiano Mario del Carpegna crearon la hoy Conferencia Internacional Católica de Escultismo, CICE. En 1935 Jacqueline Brière (1907-1989) conoció al Padre Sevin y la rama femenina de Guías, y en 1944 cofundó con él las Hermanas de la Santa Cruz de Jerusalén, al


en 1945 en el hoy Colegio De La Salle de Talca y en 1954 en el Colegio De La Salle de la hoy comuna de La Reina, donde como postulante a Hermano tuve el privilegio de ser iniciado por él en el Movimiento Scout. Al quedar libre de clases y de sus cargos de Provincial o de Director, la Asociación de Guías y Scouts de Chile en 1986 lo nombró Jefe de la Séptima Región. Allí dedicó el resto de su vida a formar dirigentes. Fue uno de los cuatro “insignia de madera” del país y el tercero de ellos más antiguo del mundo. A petición suya fue sepultado con el pañolín scout además del hábito de Hermano.

Robert Baden-Powell. Imagen de reproducción

servicio de los scouts y de las guías. En 2012 el papa Benedicto XVI reconoció la heroicidad de las virtudes del Siervo de Dios Jacques Sevin, ahora Venerable. Sobre Baden Powell y sus escritos hay material en Internet. Por ejemplo, para animar la pastoral scout se puede consultar del Pbro. Javier Galdona, Pedagogía de la Fe en el Movimiento Scout, publicado en Piriápolis (Uruguay) en 1992; de Rolando Salinas. ¿Qué son los valores? “Juventud, Evangelio y valores”, CICE América, 1994; del Primer Congreso Regional de Capellanes Scout, Diferenciación de roles en la tarea evangelizadora scout, CICE, Región América. Montevideo 4 a 8 de noviembre de 1996, y lo que vaya surgiendo.

El Hermano asesor religioso de un Grupo de Guías y Scouts Al recibir Pío XI en el Vaticano en 1923 a 1.200 scouts católicos, los obispos chilenos aceptaron el Movimiento Scout, reticentes antes por el predominio de masones entre sus promotores, aunque hay masones ateos de obediencia francesa y masones creyentes de obediencia escocesa, como lo fue Robert Baden Powell, ferviente cristiano anglicano. La literatura de pastoral scout sólo menciona capellanes presbíteros. En Chile el Hno. Juan Michelis, F.S.C. (1907-1997) después de sus primeros votos, como estudiante en Francia de 1926 a 1928 conoció el movimiento scout católico. Desde 1929 a 1933 como profesor de los aspirantes a Hermanos y de los Hermanos escolásticos, en vacaciones hizo con ellos campamentos con método scout. Se acompañaba de acordeón, cámara fotográfica, filmadora y grabadora. En el Instituto Zambrano en 1941 fundó la Brigada de Scouts con quince alumnos y con ellos creó un club de radioaficionados, porque prestan servicios en las catástrofes. Creó grupos scout en 1944 en el Instituto Ismael Tocornal de Puente Alto,

Como asesor de grupo scout un Hermano puede tener iniciativas al observar necesidades. Por ejemplo, al cantar Cumpleaños feliz agregamos en Chile una segunda estrofa: Nunca tengas temor – de ser siempre mejor – y al hacerte mayor - cuenta con nuestro amor. Los dirigentes y a veces los padres de los beneficiarios piden al asesor religioso la bendición antes de partir a un campamento. Al realizarla conviene explicar que quien bendice es Dios y que la bendición no es un rito mágico para evitar males. Quien recibe la bendición de Dios debe esforzarse por cumplir la voluntad de Dios reflejada en la Ley Scout y en la Promesa Scout, sin separarse de su patrulla durante el campamento ni cometer otras imprudencias. Hoy los scouts y las guías participan con gusto en eucaristías de campamento o de algún aniversario, pero pocos van a misa los domingos. He estudiado la disminución de la asistencia dominical a misa por los católicos de hoy y propongo solución teológica y pedagógica en mi librito: Espíritu y práctica de la eucaristía (Santiago, 2016). Un Hermano puede presidir la Celebración Eucarística en Ausencia de Presbítero (CEAP), como ya hemos hecho. Después de alguna jornada de medio día con ese librito, propongo que algunos dirigentes apostólicos tomen libremente el breve curso de la Iglesia para ser Ministro Extraordinario de la Eucaristía, ofrecido a varones y damas, y presidan CEAP los domingos en campamento. Esto los moverá a introducir en sus programas para beneficiarios alguna sencilla y motivadora educación eucarística. San Juan Bautista De La Salle señala al educador su rol al acompañar en la eucaristía a sus educandos: procurar que cada uno de ellos sepa comportarse en cada parte de la celebración y en eso consiste su culto agradable a Dios nuestro Señor.

Tenemos una Oración con La Salle y Baden Powell: Señor Jesús, que para extender el amor de Dios Padre inspiraste a San Juan Bautista De La Salle a fundar los Hermanos de las Escuelas Cristianas y a Sir Robert Baden Powell a fundar el Movimiento Scout, confórtanos con tu Espíritu Santo para cultivar como María la pureza de corazón, el cuidado de la naturaleza y el servicio a quien lo necesite. Amén.

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ENTREVISTA

“La Salle nos lembra que somos embaixadores e ministros de Jesus Cristo”, diz Ir. Diego Muñoz Entrevista concedida a Gabriela Boni, do setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle Apoio na tradução: Ir. Hugo Mombach

Ir. Diego realizou curso na Universidade La Salle e conduziu reflexão na Sede Provincial

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e origem venezuelana, o coordenador do Serviço de Investigação e Recursos Lassalianos, Ir. Diego Muñoz, concedeu uma entrevista para Revista Fraternitas. Nela, ele conta um pouco sobre suas atividades na nova função, seu interesse na pesquisa sobre La Salle para o desenvolvimento do seu trabalho, sua vinda para o Brasil para orientar um curso de estudos Lassalianos na Universidade La Salle e sobre os desafios da formação continuada de Irmãos e Leigos. Confira, na íntegra, a entrevista abaixo. R.F - Poderia comentar um pouco sobre suas atividades e atribuições na área dos Estudos Lassalianos do Instituto? Ir. Diego - Faz oito anos que fui chamado à Roma para assumir a coordenação do Serviço de Investigação e Recursos Lassalianos do Instituto. É uma instância criada a partir da experiência vivida desde os Estudos Lassalianos instituídos no ano de 1956, em Roma. No ano de 2007, o então Superior Geral, Ir. Álvaro Rodríguez, e seu Conselho

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Geral, pensaram que era melhor reunir, num mesmo serviço, a Biblioteca, o Arquivo Geral e o Museu de La Salle, com o Escritório de Investigação Lassalista que já funcionava no Instituto. Desta forma, se assegurava a relação entre as fontes primárias com a própria investigação. Atualmente, somos cinco pessoas: Uma profissional leiga italiana (Anna Cascone) e quatro Irmãos, um francês (Ir. Pierre Petitjean), um basco (Ir. Edorta Zabaleta), um malgaxe (Ir. Hilaire Raharilalao) e eu, venezuelano. Formamos uma equipe com a finalidade de dar conhecimento ao pensamento lassalista contemporâneo em diálogo com a realidade do Instituto, no século XXI. R.F - O que mais desperta o seu interesse nessa área para o desenvolvimento de seu trabalho e missão? Ir. Diego - Creio que o campo da investigação exige muita criatividade e proatividade neste momento. Não se trata de fazer uma pesquisa arqueológica de La Salle. Pelo contrário, a diversidade do Instituto de hoje nos convida a investigar


ENTREVISTA os desafios da educação, da pedagogia, da pastoral, da vida religiosa e do laicato cristão a partir do carisma que herdamos há mais de 300 anos. Reafirmamos que o Instituto existe “para o serviço educativo das crianças e jovens, especialmente dos pobres”. E isso exige um compromisso sério em oferecer linhas de reflexão e de ação a partir de uma investigação de qualidade. Desta maneira especial, estamos colaborando com o Conselho Internacional para a Associação e a Missão Educativa Lassalista (CIAMEL) no processo de elaboração de uma declaração da Pedagogia Lassalista no século XXI. Esta colaboração tem nos ajudado a abrir um novo diálogo com o mundo educativo atual. R.F - Em sua vinda ao Brasil, o senhor orientou um curso na Universidade La Salle de Canoas sobre os Estudos Lassalianos para Formandos. Poderia comentar como foi essa experiência? Ir. Diego - O trabalho com os jovens formandos da Província La Salle Brasil-Chile foi uma experiência maravilhosa. Tive uma impressão bem positiva ao conhecer um grupo de jovens brasileiros que assumiram com radicalidade a sua formação como Irmãos Lassalistas. Começamos analisando o contexto vivido por São João Batista de La Salle, na França, da segunda metade do século XVII e o relacionamos com o nosso contexto espiritual contemporâneo, que oferece diversas imagens de Deus. Depois passamos a considerar o itinerário espiritual de nosso santo Fundador e de duas de suas obras espirituais mais representativas, a Explicação do Método de Oração e as Meditações para o Tempo de Retiro. Finalmente, estudamos a Regra atual, especificamente o capítulo dedicado à vida espiritual dos Irmãos.

É muito importante continuar acrescentando este diálogo intergeracional, que enriquece o olhar do Instituto para o Fundador e para a forma como nós, Irmãos, compreendemos a nossa herança espiritual. Cada grupo geracional oferece uma sensibilidade nova e abre novos caminhos para a reflexão comum. R.F – Hoje, quais são os desafios da formação continuada dos Irmãos e dos Leigos? Ir. Diego - Este ponto me parece essencial para o futuro da missão lassalista na sociedade e na Igreja. A nova Regra nos convida, em sua constituição n° 19, a caminhar juntos, desenvolvendo estruturas de animação, formação e investigação para fortalecer o carisma e a missão comum. Irmãos e Leigos Lassalistas somos diversos em nossas vocações específicas. Os Leigos contribuem com a riqueza de sua vida familiar, profissional e social ao mundo lassalista; os Irmãos, por sua vez, continuam sendo garantia, coração e memória do carisma. Juntos estamos desenvolvendo a missão comum, porque entendemos que o mais importante é servir aqueles que o Senhor colocou sob os nossos cuidados. La Salle nos lembra que somos embaixadores e ministros de Jesus Cristo para os nossos alunos. Por isso, cada um vive a sua vocação particular para benefício da missão eclesial comum. Assim, nos dias de hoje, é essencial a formação continuada para assegurar que todos partilhem este horizonte que nos dá identidade e que nos ajuda a canalizar nossos esforços “para que a escola vá sempre bem”. É nossa maior contribuição para o crescimento da Igreja hoje.

Instituto existe para o serviço educativo aos pobres

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Agindo juntos pelo bem! Conheça o projeto de voluntariado lassalista Sou Solidário. Cadastre-se no site e ajude a transformar realidades vivendo uma experiência solidária!

ACESSE E SAIBA MAIS:

SOUSOLIDARIO.ORG #SOUSOLIDARIO

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Oração da Sensatez

(para não ficar rabugenta/o) Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia. Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião. Livra-me também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros. Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante. Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preserva os amigos e os filhos quando não há intromissão na vida deles. Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dê asas à minha imaginação para voar diretamente ao ponto que interessa. Não me permitas falar mal de alguém. Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa. Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência. Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errado em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que pensam que acertam sempre são maçantes e desagradáveis. Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço: mantém-me o mais amável possível. É difícil conviver com santos! Quero ser santo/a, mas que todos gostem de conviver comigo!

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Fonte: https://bloguinhocatequetico.blogspot.com.br/2012/06/oracao-para-nao-ficar-rabugento-a.html


Cultura Vocacional - “O milagre vocacional nasce de um encontro entre duas liberdades: Deus e o ser humano” Ir. Vicente Fialho Diretor do Aspirantado La Salle de São Miguel do Oeste/SC

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artimos do presuposto de que o milagre vocacional só nasce ou acontece quando somos chamados à vida. É aqui que surge um sinal da revelação divina, um chamado para manifestar o amor divino. Deus desde nossa concepção se comunica com cada um no intuito de revelar o amor que tem por nós. E assim, carregamos pontos essenciais de nossa própria vocação.

Com uma visão árdua e verdadeira, a Província La Salle Brasil-Chile em sua Assembleia de Irmãos no ano de 2017, em São Leopoldo-RS, refletiu sobre o tema “Cultura Vocacional”, ponto importantíssimo para o futuro de nossa Província. Os Irmãos, membros do Instituto, satisfeitos com a opção vocacional, sentem-se no direito de promover vocações, sobretudo as direcionadas à Vida Religiosa.

Quando Deus chama os Josés e as Marias é porque eles já são íntimos seus. “Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei” (Jr. 1,1-5). Com essas palavras, cada um – José ou Maria - é convidado a narrar a sua própria experiência com o Deus que chama e acolhe. Nessa mesma linha de pensamento, São João Paulo II, na Exortação Apostólica “Pastores Dabo Vobis”, chama atenção para “o cuidado que a Igreja deve ter com as vocações não seja uma simples parte de uma pastoral global, mas uma dimensão conatural e essencial de toda a evangelização”. O Santo Padre, na Carta Apostólica “Novo Millennio Ineunte”, volta a surpreender ao afirmar que a Igreja não deve apenas animar e promover vocações para o presbiterato, mas também motivar e incentivar cada uma, ou seja, todas as vocações (cf. NMI, 46). Nesse sentido, se a vocação nasce de um milagre – do encontro com Deus e o ser humano – é dever da família e da comunidade eclesial ajudar e cultivar, de modo que todas as vocações encontrem um espaço que leve à transformação da realidade local. Pelo milagre da vida, somos chamados a ser “discípulos missionários de Jesus Cristo em favor da vida”, já nos recordou a Conferência de Aparecida. Diante da realidade que se passa, as instituições religiosas têm manifestado certa preocupação quanto à questão da Cultura Vocacional. Sabemos que estamos vivendo em tempos particulares: tempo de complexidade, tempo político e políticas sociais, tempo da Igreja do Papa Francisco, tempo de positividade e negatividade, tempo de fidelidade e infidelidade que exige de cada um de nós o discernimento. Tempo que exige de nós escuta da pessoa que crê, que busca Deus a cada momento de sua vida.

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Temos o compromisso de realizar uma dinâmica de crescimento humano, espiritual e apostólico

Sabedores da resposta de nosso Fundador aos desígnios de Deus, temos o compromisso de realizar uma dinâmica de crescimento humano, espiritual e apostólico, a fim de que possamos chamar e acompanhar os jovens que desejam realizar discernimento vocacional em nossa instituição. É nosso desejo implantar e acompanhar a Cultura Vocacional com atividades sistemáticas nas comunidades educativas. Fazer animação vocacional nas comunidades supõe, antes de tudo, uma conscientização vocacional de que todos os colaboradores e Irmãos são chamados a despertar uma “Cultura Vocacional”, a qual podemos denominar de “vocacionalização” de pastoral. A província que tem investido nesse campo colherá muitos frutos: adolescentes e jovens que optam pela orientação e acompanhamento vocacional são acompanhados pela Pastoral Vocacional e, deles, alguns poderão ingressar em nossas casas de formação. Por fim, queremos ser mediadores consagrados que buscam os mesmos sentimentos do Filho na linda missão de educar e formar.


Santos Lassalistas História Irmão Salomão, nascido em 15 de dezembro de 1745, em Boulogne-sur-Mer, na França. No batismo recebeu o nome de Nicolau. Foi professor, diretor de escola, administrador e Secretário do Superior Geral dos Irmãos das Escolas Cristãs, Irmão Agatão. Em 15 de agosto de 1792, segundo carta à sua irmã, confessa-se disposto a sofrer por Cristo, apesar de ele mesmo se achar indigno desta honra. Por recusar-se a fazer juramento à Constituição civil do clero, foi masacrado, com outros religiosos e sacerdotes, a 2 de setembro de 1792, na igreja dos Carmelitas, em Paris, sendo beatificado em 1926. O Papa Pio XII proclamou Beatos o Irmão Salomão e seus companheiros mártires a 17 de outubro de 1926. A festa do Santo Irmão Salomão é celebrada a 2 de setembro. Foi canonizado em 16 de outubro de 2016.

Oração SANTO IRMÃO

SALOMÃO

Ó Deus, que concedestes ao Santo Irmão Salomão a graça da fidelidade e do perdão na dura prova da prisão e do martírio, concedei-nos, por sua intercessão, permanecer sempre fiéis à Igreja e dispostos a nos reconciliar com nossos Irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém

História O Santo Irmão Miguel (Francisco Febres Cordero y Muñoz) nasceu em Cuenca (Equador), a 7 de novembro de 1854. Durante muitos anos dedicou-se à educação da juventude, destacando-se na esmerada preparação de meninos à Primeira Eucaristia. Foi Diretor do Noviciado. Escreveu muitos livros para uso escolar e de investigação científica e literária. Pertenceu à Academia Equatoriana de Letras. Notabilizou-se na ciência e na santidade, na devoção a Maria e na refinada caridade cristã com seus Irmãos. Morreu santamente em Premiá del Mar (Espanha) a 9 de fevereiro de 1910. Foi beatificado por Paulo VI a 30 de outubro de 1977. João Paulo II canonizou- o a 21 de outubro de 1984.

Oração Deus eterno e todo-poderoso, que em terras equatorianas suscitastes o Santo Irmão Miguel, para que, com seu trabalho educativo e sua ação catequética, indicasse aos jovens o caminho que a vós conduz: fazei que seu exemplo nos ajude a seguir Jesus Cristo, nosso Mestre, a fim de alcançarmos com nossos Irmãos a glória de vosso Reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

SANTO IRMÃO

Miguel



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