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3.1 - O QUE UMA JOVEM LIDERANÇA PRECISA SABER FAZER

CAPÍTULO 3

Foto: Arquivo Rare Brasil

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O que uma JOVEM LIDERANÇA precisa saber fazer

3.1 - O QUE UMA JOVEM LIDERANÇA PRECISA SABER FAZER

Autor: Marcelo Andrade

Acreditamos que uma juventude esperta deve dar continuidade aos fazeres tradicionais. A pesca, a feitura de paneiros, o tecer de redes, a extração de óleos, a construção de ranchos, a produção de instrumentos culturais, o preparo de avoado, dentre tantas outras. Esse saber vem cheio de conhecimento que é repassado de geração em geração. Esses conhecimentos trazem usos valiosos da natureza para uma vida simples e digna. Imagina só, poder construir a própria casa, produzir o próprio alimento, ter o próprio remédio? Estamos com vocês na luta pela defesa desse modo de vida. Nesse capítulo, estamos falando de um outro fazer, o fazer de manter a comunidade unida e próspera! Sabemos que vocês já tem muitas ideias incríveis e aqui queremos te ajudar a dar forma a essas ideias.

3.1.1) Dando o bizu das Reuniões e Encontros

Reunir é mais que um ato de juntar um grupo de pessoas, seja de forma espontânea ou organizada, por um motivo específico. É um ato de animação, de permitir que todos os participantes tenham voz e possam debater temas de uma programação pensada e estruturada anteriormente. Refletir e organizar esse momento vai fazer toda diferença na participação do público que se pretende alcançar, por isso, maninho e maninha, solta a imaginação e constrói um espaço seguro, divertido e motivante para todos. Bora juntos nessa?!

a. Conheça o público da sua reunião... É sempre importante saber qual o público com o qual estou trabalhando, sendo assim, cabe a ti, como organizador (ou organizadora) pensar qual a faixa etária das pessoas para quem vocês dirigirão as atividades. Reúna o maior número de informações sobre o grupo que pretende atingir com a sua reunião. Garanto que vai fazer a maior diferença no momento de planejar a sua programação.

b. As reuniões podem ser realizadas de forma pre-

sencial e/ou remota (on-line)? Podem! Mas cada formato, exige uma preparação diferente, segue algumas dicas: ▶ Reunião presencial: deve contar com uma programação própria para o modelo presencial, onde o encontro deve acontecer em um local específico.

Use todas as possibilidades de interação: grupos de debate divididos em 5 ou mais participantes, momentos de interação entre os jovens, convide parceiros para contribuir com a formação pretendida, proponha um momento de animação. ▶ Reunião remota (on-line): reuniões remotas podem ser um desafio, levando em conta o acesso à internet em algumas localidades, entretanto podem ser feitas sem perder a qualidade. Então, organize a programação, assim como na reunião presencial, foque na organização da estrutura tecnológica que envolve a ação (e apoio no local), para que não haja problemas durante a transmissão. Pesquise plataformas de reuniões on-line, existem várias que podem dar conta das suas necessidades, inclusive gratuitas. Esse formato pode ser um bom momento para trocar com um grupo de jovens de outras regiões que não poderiam participar da sua formação devido à dificuldade de deslocamento. A reunião remota é uma grande oportunidade pai-d′égua de também alcançar um número elevado de participantes, tendo em vista a possibilidade de integração de indivíduos através de um computador ou celular.

c. Devo criar uma programação com os assuntos

e temas que pretendo tratar na reunião? Sim! Pode ser feito com a ajuda de todos ou um gru-

po de pessoas se encarrega de estruturar num documento cada momento da ação. O planejamento faz toda diferença na execução da reunião, contribuindo com o processo formativo, principalmente o entendimento e clareza dos objetivos que se pretende alcançar. Deixamos nos anexos um modelo de programação para te inspirar.

e. No processo de organização e implementação do encontro, a comunicação entre todos deve ser sempre colocada em primeiro lugar para que os jovens se sintam incluídos nas de-

cisões que envolvam o coletivo? A comunicação das reuniões pode ser feita através do Whatsapp, por exemplo, onde um grupo pode ser criado para comunicar o dia, local e horário da reunião; com-

d. Os temas que vão ser tratados na reunião podem ser debatidos pelos integrantes do grupo ou apontados por uma equipe organizadora com o consentimento de todos os participan-

tes? Com os temas organizados em tópicos é necessário pensar numa média de duração da reunião para que todos os assuntos sejam debatidos com a participação do grupo. É normal que outros temas possam surgir durante a ação, por isso vale estabelecer um tempo para cada demanda, contando com possíveis prolongamentos de alguns temas.

Título: Te liga! Sendo assim não esqueça: reserve sempre um tempo a mais na sua programação. Importante: Deixe claro o motivo da reunião. Pode ser um balão onde é colocado um ponto importante sobre a criação da reunião.

partilhar materiais (vídeos, textos, informações etc.); recolher propostas de assuntos e temas para a reunião e organização de ações futuras.

Título: Tecnologia do bem O uso de aplicativos de comunicação deve servir como uma ferramenta para nos apoiar na organização das nossas reuniões. Lembre-se de usar com responsabilidade!

f. Usar a criatividade para criar uma reunião que debate temas importantes e que seja ao mesmo tempo agradável para os participantes? Sim, sempre! Divida a reunião em momentos de discussão dos temas, sem esquecer de propor atividades artísticas e culturais (dança, teatro, música, artes plásticas, manifestações de cultura da região). Utilizando atividades lúdicas conseguimos criar um ambiente onde cada jovem pode expressar suas

origens, manifestações relacionadas ao território que habita, gostos pessoais e por que não conhecer uma nova modalidade artística? As possibilidades são infinitas, solta tua imaginação, mano/mana e busca atividades artísticas que os jovens possuam interesse e inspirem essa juventude.

g. Para tratar de um tema ou assunto específico precisamos de um especialista que pode participar da reunião de jovens através de uma pa-

lestra? Com certeza! Essa pessoa pode estar na comunidade através da figura de um pescador mais experiente ou mesmo um jovem que já possui participação em organizações sociais. Buscar apoio de instituições (universidades, ONGs, prefeitura municipal...) presentes na região também é um caminho para levar ao encontro de jovens debates técnicos, criando um espaço de trocas, envolvendo atores de diversas esferas da sociedade.

Título: Vamos fazer parcerias? Parcerias com instituições públicas e privadas é um caminho possível para implementação de ações e criação de uma rede de ajuda mútua entre diversos atores da sociedade. Sendo assim, não deixe de propor ações conjuntas com tais instituições, muitas delas estão abertas para o diálogo. Perceba qual entidade melhor se adequa às suas necessidades e proponha uma conversa.

h. Ao final de cada reunião é pai-d′égua realizar uma avaliação do encontro, onde os jovens possam relatar de forma livre suas impressões pes-

soais desse momento de partilha? Sim, sim e sim! Esse momento é importante para avaliar o andamento da reunião, assim como a recepção dos temas e assuntos tratados. Também funciona como momento de buscar ideias para próximas reuniões, sobretudo pontos que precisam ser revistos, melhorados ou mesmo se a programação contempla os envolvidos. Lance mão de dinâmicas, jogos e ouçam uns aos outros, pois a escuta é um dos caminhos para o fortalecimento do grupo.

3.2 Organizando eventos e campanhas

Mariana Guimarães, Ame o Tucunduba

Sabe aquele desejo de transformar aquilo que já não faz sentido? Esse desejo, muitas vezes vem com uma cuíra para botar logo a mão na massa e fazer a mudança acontecer. Alguns nascem com esse desejo, outros vão despertando devagar, perdendo a vergonha e assumindo sua identidade. Se tu chegaste até aqui nesse material, é porque provavelmente tens guardado em ti um espírito de guerreira e guerreiro da maré. Um baita sentimento de responsabilidade pela comunidade em que vives e pela natureza que habitas. Por aqui acreditamos nesse protagonismo, o que defende e representa o coletivo. Com tantos desejos de transformação nos perguntamos: como podemos fazer para as pessoas conhecerem e compartilharem nossos sonhos? Aqui, os nossos sonhos são os nossos projetos, as nossas causas coletivas. Como podemos organizar eventos e promover campanhas para transmitir os nossos projetos-sonhos? Acreditamos que a realização de eventos e campanhas trazem aquela animação necessária para dar visibilidade do projeto e/ou causa. Eles podem ser o primeiro contato de uma pessoa com o tema que está sendo trabalhado, por isso, é importante que nosso evento ou campanha seja feito de uma forma que cative nosso público-alvo.

1.2) Evento

Um evento é o momento em que várias pessoas, coletivos e organizações se unem, seja de forma presencial ou virtual, para divulgar ou discutir um assunto. Eles são interessantes justamente para promover

um encontro entre o teu projeto e o público, sendo também uma maneira de reforçar uma ideia. Independentemente do formato, proporcionar uma atmosfera durante o evento pode ser uma ótima forma de cativar as pessoas que se dispuseram a participar daquele momento. Por exemplo, se vamos fazer um evento pela defesa dos mestres de carimbó nas Reservas Marinhas, que tal decorar o ambiente com chita, espalhar cartazes com a imagem dessas e desses mestres e deixar a música tocando no fundo? Nesse momento, a imaginação pode correr solta, o que vai realmente te ajudar a bater o martelo serão duas coisas: tempo e dinheiro. Falando nisso, dá uma olhada nessas orientações e dicas sobre como montar o teu próprio evento.

a. COMO BOTAR DE PÉ O MEU EVENTO? • Tenha em mente a tua motivação

Planejar e realizar um evento dá bastante trabalho, então é importante ter clareza sobre o porquê achamos importante ele ser feito. Se queremos, por exemplo, que mais jovens participem da Resex, como que o nosso evento pode colaborar com esse propósito?

• Faça um planejamento

É normal acontecerem imprevistos, mas quanto melhor nos prepararmos para realizar um evento, menores as chances de estresse no dia em que ele ocorrer. Aqui separamos esse planejamento de duas formas:

• Planejamento estratégico

Sabe aquela motivação que falamos acima? Agora é a hora de deixá-la mais concreta, dividindo-a em algumas etapas, até que cheguemos no ponto desejável. Nesse ponto, é importante definir qual o objetivo desse evento: fazer as juventudes entenderem melhor sobre como participar da Resex? Promover uma conversa entre os representantes do governo e da comunidade para debaterem a questão? A partir daí, podemos construir um mapa de atores sociais (líderes comunitários, governantes, funcionários públicos, associações comunitárias etc.) que tenham a ver com a temática do evento e começar a investigar de que forma eles poderiam se envolver: com falas, apresentações artísticas ou mesmo mobilizando outras pessoas. E no embalo desse levantamento de atores sociais, já podes pensar no público que estás pensando em convidar para participar do evento (e não vale ser todo mundo (risos). Por fim, é importante escrever um relatório final do evento e depois compartilhar e discutir com as pessoas que ajudaram a realizá-lo, para identificar o que deu certo, se participaram o número esperado de pessoas e no que pode ser aprimorado para a próxima atividade.

b. PLANEJAMENTO LOGÍSTICO

Esse é o momento mais prático da produção de eventos e que muitas vezes passa despercebido, mas aqui precisamos definir:

• Local

Vai ser presencial ou virtual? Se for presencial, será que algum parceiro poderia ceder o seu espaço para o evento? E ao ar livre, em uma praça, será que funciona?

• Material

Se for físico talvez precise de um computador, projetor, microfone e caixa de som, apresentação de slides, cadeiras, lista de presença, alimentação para os convidados e participantes, material de apoio (cartilha, canetinha, papel) e o roteiro do evento. Se for on-line, é importante verificar o link e a plataforma da transmissão, o roteiro do evento e aparelhos como microfone (pode ser o do fone de ouvido), computador com câmera ou celular, além de um ambiente iluminado com internet minimamente estável.

• Recursos

Vai precisar desembolsar alguma grana? Se sim, como ela será arrecadada? Será que algumas coisas não podem ser conseguidas por meio de parceria?

• Cronograma e responsáveis

É importante fazer uma lista de todas as tarefas que precisam ser realizadas, antes, durante e depois do evento, para posteriormente colocar datas de entrega e as pessoas responsáveis por cada coisa.

c. CAMPANHA

A campanha envolve um conjunto de ações em volta de um tema e frequentemente fazem um chamado para ação. Ainda que seus efeitos possam acontecer a longo prazo, as campanhas normalmente têm um período delimitado para serem executadas. Quanto mais específica e direcionada, mais fácil fica de medir os seus resultados. Por isso, em vez de fazer uma campanha para que a sua comunidade diminua o uso de plástico, podemos criar uma para que em um ano as pessoas só usem sacolas de pano. Posteriormente podemos avançar para outra pauta dentro do mesmo tema.

• Como botar minha campanha na rua?

Imagine o que deseja alcançar e divida em etapas.

Tenha em mente que saber onde se quer chegar é muito importante e enxergar os passos que vão nos fazer chegar lá é primordial para que o público se envolva na campanha. Conseguir criar essa atmosfera é animador!

• Organize o processo

Agora que já temos em mente alguns passos mais bem definidos, é hora de decidir algumas coisas para seguir com a campanha e aqui dividimos em duas partes:

• Planejamento estratégico

Com os horizontes e as etapas bem definidas, é mais fácil traçar o objetivo e as metas da campanha. No exemplo que estávamos falando acima, podemos colocar como objetivo fazer com que a comunidade só use sacolas de pano para fazer compras e como uma das metas podemos pensar em ter 10 dos 20 mercadinhos locais parando de distribuir sacolas plásticas em um ano.

Além disso, é importante também analisar o cenário, tentando entender o que os atores sociais (líderes comunitários, governantes, funcionários públicos, associações comunitárias etc.) acham sobre aquela temática. Nesse momento pode ser interessante montar um mapa de poder, para ir decifrando quem está mais favorável ou não a se engajar na campanha e qual o seu nível de influência.

• Planejamento de comunicação

Com todas as informações anteriores no papel, agora é a hora de construir a identidade da campanha. ▶ Narrativa: É a história a ser contada a partir dessa ação. Lá iremos colocar o que nos motiva a fazer essa campanha e como pretendemos alcançar a mudança desejada. E como vamos envolver nosso público, seja mandando uma mensagem pelo celular ou apoiando um abaixo assinado, por exemplo. ▶ Divulgação para o Público da Campanha: como transmitir a mensagem da campanha? Podemos pensar, no Whatsapp, ou em fazer anúncios por bike som, participar de um programa em uma rádio comunitária ou colocar cartazes em um lugar que tenha muito movimento, por exemplo. Além do bom e velho “boca a boca”, e aí é legal ter uma lista de contato na mão e um convite impresso. ▶ Monitoramento e Avaliação: para garantir o sucesso da campanha é bom ir acompanhando o envolvimento das pessoas nas nossas ações. Já no final teremos uma avaliação mais ampla da nossa campanha.

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