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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura/ editora: Regina Lúcia Sugayama. Salvador, SBDA - Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária, 2014.
1. Agricultura. 2. Apicultura. 3. Polinizadores, 4. Polinização. 5. Sustentabilidade.
Prefixo Editorial: 68630 Número ISBN: 978-85-68630-03-7
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R E LA Ç Ã O P R O D U T I VA E N T R E A G R I C U LT U R A E A P I C U LT U R A
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2014
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W O R K S H O P R E LA Ç Ã O P R O D U T I VA E N T R E A G R I C U LT U R A E A P I C U LT U R A Campinas, SP, 30/10 a 1/11/2013
Realização: SBDA - Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária Diretoria 2013-2015: Presidente: Paulo Emílio Torres (ADAB) Vice-presidente (licenciado): Luís Eduardo Pacifici Rangel (MAPA)
Equipe de Produção dos Anais Coordenação: Regina Sugayama Compilação de conteúdo: Luíza Baggio, Giliardi Anício Alves, Andrea Ramos Stancioli, Sabrina Rita Resende e Sofia Kiyomi Iba da Gama Capa: Karyne Akemy Sugayama
Secretário-Geral: Nataniel Diniz Nogueira (IMA)
Fotos: Regina Sugayama e imagens de arquivo dos autores
Tesoureira: Suely Xavier de Brito Silva (ADAB)
Assessoria geral: Joenilma Nogueira Leite Gráfica: Scalla Gráfica
Coordenadores do workshop: Décio Gazzoni (Embrapa) Luís Eduardo Pacifici Rangel (MAPA)
Tiragem: 500 exemplares Belo Horizonte, Agosto de 2014
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A P R E S E N TA Ç Ã O Luís Eduardo Pacifici Rangel & Décio Gazzoni
Esta publicação é resultado de um workshop realizado em Campinas, de 30 de outubro a 1 de novembro de 2013, que tinha três objetivos prédefinidos: estabelecer uma agenda de pesquisa, estruturar uma rede de pesquisadores e definir estratégias para captar os recursos necessários para executar as ações propostas. O evento consistiu de nove sessões, entre palestras, mesasredondas e painéis abordando a relação entre apicultura e agricultura. O evento foi motivado pela reavaliação proposta pelo IBAMA de se reavaliar quatro produtos fitossanitários. Portanto, é natural que o direcionamento do evento tenha sido dado pelo IBAMA, que explanará sobre a fundamentação para a proposta de reavaliação, as medidas tomadas, os estudos que embasaram a tomada de decisão, os riscos identificados e, principalmente, as soluções possíveis para todas essas questões. Durante o workshop, os participantes foram instigados a construir uma visão de futuro sobre como conciliar as tecnologias correntemente usadas em programas de manejo integrado de pragas e a proteção a agentes polinizadores. Realizam o evento a Coordenação Geral de
Agrotóxicos e Afins do MAPA e a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA). A SBDA tem a importante missão institucional de coordenar ações da academia, setor privado e governo em prol da melhoria do sistema brasileiro de Defesa Agropecuária como um todo. É importante deixar claro que, dentro do governo federal, existe toda uma regulamentação que rege o registro de novas tecnologias para controle de pragas, sempre buscando alternativas que estejam dentro do nível aceitável de risco ambiental, incluindo o risco para organismos polinizadores. Não há, preconceitos de nenhuma espécie quanto ao tema em tela, devendo ser desenvolvido um projeto de gestão do risco que envolva aspectos agronômicos e ambientais, integrados e inspirados na realidade nacional e nas experiências internacionais. No entanto, o que se percebe é que há uma polarização na pesquisa, com especialistas voltados para a questão de fitossanidade e outros para o meio-ambiente. A relevância deste workshop se dá pela integração de opiniões e na busca um projeto de consenso. 7
Ao longo de nove sessões técnicas, entre palestras e mesas-redondas, foi discutida a relação entre a agricultura e polinizadores, buscando criar uma agenda de pesquisa e uma rede de pesquisadores.
O Brasil entende que importar decisões regulatórias é um assunto complexo pois há diferenças marcantes tanto do ponto de vista biótico quanto abiótico mas, para que possamos tomar nossas decisões com base em ciência, é necessário levantar o que já foi feito na pesquisa no Brasil, identificar lacunas e saná-las de maneira sistematizada.
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Felizmente, tanto o governo quanto o setor privado têm uma ampla revisão bibliográfica sobre o tema mas há, ainda, muito a ser feito, conforme poderá ser depreendido ao longo da leitura dos artigos que compõem esta publicação.
S UMÁRIO
LISTA
DE
A UTORES, 1 1
DEFESA A GROPECUÁRIA:
RESPONSABILIDADE
UMA
C OMPARTILHADA, 1 3 REAVALIAÇÃO A MBIENTAL C LOTIANIDINA ESTADO
F IPRONIL, 1 5
ARTE
DA
A VALIAÇÃO
E
TIAMETOXAM, I MIDACLOPRIDO,
DE
PESQUISA
DA
COM
ABELHAS
NO
B RASIL, 2 1
RISCO, 2 3
DE
A E XPERIÊNCIA INTERNACIONAL, 2 6 CRIAÇÃO MASSAL A
VISÃO DO
USO
DE
ATUAL
POLINIZADORES, 3 6
DE
S ETOR P RODUTIVO, 4 0
NEONICOTINOIDES
DOS
C ONVIVÊNCIA
PROGRAMAS
PIRAZOL
NO
B RASIL - SITUAÇÃO
PRODUTOS REGISTRADOS, 4 7
C ONVIIVÊNCIA
I NICIATIVAS
E
ENTRE ENTRE
DO DE
AGRICULTURA
E
A PICULTURA, 5 4
FRUTICULTURA
E
A PICULTURA, 6 4
SETOR
DE
MANEJO
I NSUMOS A GRÍCOLAS, 6 9 DA
RESISTÊNCIA
DE
PRAGAS
A
A GROTÓXICOS, 7 1 APLICAÇÃO AÉREA SITUAÇÃO ATUAL SIGLAS
E
E
DE
A GROTÓXICOS:
DEMANDAS, 7 4
A BREVIATURAS, 8 1 9
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L I S TA
DE
A UTORES
ALCINDO ALVES. Federação das Associação de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo (faamesp@gmail.com) CHRISTOPH SCHNEIDER. BASF SE, Crop Protection Global Ecotoxicoloty (christof.schneider@basf.com) CRISTIANO MENEZES. Embrapa Amazônia Oriental (cristiano.menezes@embrapa.br) DÉCIO GAZZONI. Embrapa Soja (decio.gazzoni@embrapa.br) EDIVANDRO SERON. Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (edivandro.seron@gmail.com) EDMUNDO MARCHETTI. Associação de Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz e Região (edmundo.marchetti476@vivointernetdiscada.com.br) EDUARDO DAHER. Associação Nacional de Defesa Vegetal (eduardo@andef.com.br) FÁBIO YOSHIO KAGI. Associação Nacional de Defesa Vegetal (fabio@andef.com.br) FABRÍCIO ROSA. Associação dos Produtores de Soja. (fabricio@aprosoja.com.br) FERNANDO HENRIQUE MARINI. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (fernando@sindiveg.org.br) GERALDO PAPA. Universidade Estadual Paulista (gpapa@bio.feis.unesp.br) JOÃO PAULO RODRIGUES DA CUNHA. Universidade Federal de Uberlândia (jpcunha@iciag.ufu.br) JOSÉ ANNES. Associação Nacional de Defesa Vegetal (annes@andef.com.br) JOSÉ FRANCISCO GARCIA. Global Cana (jfgarcia@globalcana.com.br) LEANDRO BORTOLUZ. Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (lebortoluz@uol.com.br) LEONARDO MACHADO. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (Leonardo.machado@cna.org.br) LOTHAR LANGER. Syngenta (lothar.langer@syngenta.com ) LUÍS EDUARDO PACIFICI RANGEL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (luis.rangel@agricultura.gov.br) 11
LUIZ GUSTAVO ASP PACHECO. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (luis.pacheco@agricultura.gov.br) MARCELO PEDREIRA DE MIRANDA. Fundo de Defesa da Citricultura (mpmiranda@fundecitrus.com.br ) MARCELO POLETTI. Promip (mpoletti@promip.agr.br) MÁRCIO ROSA RODRIGUES DE FREITAS. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (marcio.freitas@ibama.gov.br) MARCOS BOTTON. Embrapa Uva e Vinho (marcos.botton@embrapa.br) NELSON PAIM. Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (nelson.paim@terra.com.br) OSMAR MALASPINA. Universidade Estadual Paulista (malaspin@rc.unesp.br) PAULO EMÍLIO TORRES. Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (paulo.torres@adab.ba.gov.br) PEDRO TAKAO YAMAMOTO. Universidade de São Paulo (pedro.yamamoto@usp.br) RICARDO COSTA RODRIGUES DE CAMARGO. Embrapa Meio Ambiente (ricardo.camargo@embrapa.br) ROBERTO RAMIREZ. Bayer Crop Science (roberto.ramirez@bayer.com) SAMUEL ROGGIA. Embrapa Soja (samuel.roggia@embrapa.br) SÍLVIA FAGNANI. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (silvia@sindiveg.org.br) STEPHAN CARVALHO. Universidade Federal de Uberlândia (stephan.carvalho@iciag.ufu.br( TOM PRADO. Itaueira (tomprado@itaueira.com.br) ULISSES ANTUNIASSI. Universidade Estadual Paulista (ulisses@fca.unesp.br) VERA LÚCIA IMPERATRIZ FONSECA. Universidade de São Paulo (vlifonse@ib.usp.br)
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D EFESA A GROPECUÁRIA: UMA R ESPONSABILIDADE C O M PA R T I L H A DA Paulo Emílio Torres
A Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA) é uma associação civil, sem fins lucrativos, fundada em agosto de 2010. A entidade prima pelo incentivo e divulgação do desenvolvimento técnico-científico na área de Defesa Agropecuária. Tem como objetivo facilitar a interação de órgãos regulatórios, setor privado e academia, através da promoção de eventos, capacitação e discussão técnica. Acredita que a interação entre esses agentes permitirá um círculo virtuoso de pesquisa e desenvolvimento capaz de manter o Brasil dentro dos mais altos patamares produtivos da agropecuária mundial. A SBDA compreende a multidisciplinaridade como fator primordial para o desenvolvimento e a disseminação do conhecimento em Defesa Agropecuária. Também compreende que o compartilhamento de responsabilidades é a chave para o avanço da Defesa Agropecuária brasileira. Seu primeiro presidente foi o professor da Universidade Federal de Viçosa, Evaldo Ferreira Vilela, que percebeu a necessidade de uma maior
organização da sociedade civil em torno do assunto. Enquanto presidente da SBDA trabalhou para articular universidades, empresas, instituições de pesquisa e governo e criou a Conferência Nacional sobre Defesa Agropecuária, que é o maior evento da área no Brasil. As duas primeiras edições foram realizadas em Belo Horizonte (MG), nos anos de 2006 e 2010, a terceira em Salvador (BA) em 2012 e a quarta em Belém (PA) em 2013, quando - durante a Assembleia Geral - tive a satisfação de ser eleito para a diretoria da entidade, com a grata missão de suceder o professor Evaldo Vilela. Para a SBDA é motivo de orgulho lançar esta publicação, que resume as palestras e discussões realizadas durante o workshop “Relação produtiva entre Agricultura e Apicultura”. Trata-se de um tema extremamente atual e sensível, considerando que ele engloba dois grandes patrimônios do nosso país: sua megadiversidade biológica e a inegável importância que o agronegócio tem para o crescimento econômico 13
do Brasil. O desafio de conciliar exploração agrícola e proteção de polinizadores é imenso, mas, conforme se depreende a partir das páginas desta revista, importantes avanços foram obtidos durante o workshop. Expressamos nosso agradecimento a todos os profissionais que participaram do evento, especialmente aos palestrantes por haverem compartilhado sua experiência e suas expectativas quanto ao tema. Agradecemos, também, às entidades que viabilizaram sua realização: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Embrapa Soja, Associação dos Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz do
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Rio Pardo e Região, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal e Associação Nacional de Defesa Vegetal. Desde já, o convidamos para a V Conferência Nacional sobre Defesa Agropecuária que acontecerá em Florianópolis (SC), entre os dias 25 e 28/11/2014, bem como, a associar-se à SBDA. Para mais informações, acesse: www.defesaagropecuaria.net ou www.facebook.com/defesaagropecuaria
R E AVA L I A Ç Ã O A M B I E N TA L D E T I A M E T O X A M , I M I DA C L O P R I D O , C LOTIANIDINA E F IPRONIL Márcio Rosa Rodrigues de Freitas
O processo de reavaliação de três neonicotinoides (tiametoxam, imidacloprido e clotianidina) e um pirazol (fipronil) dentro do IBAMA está avançando dentro do que entendemos como nossa obrigação e as indústrias têm atendido às nossas demandas, entregando os estudos solicitados. O trabalho vem sendo desenvolvido dentro do cronograma previsto e estima-se que serão ainda três anos discutindo o assunto.
Os motivos que levaram o IBAMA a abrir um processo de reavaliação de neonicotinoides foram:
Não há, por parte do IBAMA nenhuma ansiedade sobre como proceder o trabalho de reavaliação mas o que se percebe é uma apreensão por parte do setor privado, que precisa de soluções para os problemas que nossa agricultura enfrenta.
Relatos de efeitos subletais, que podem afetar o comportamento, o desenvolvimento e a reprodução.
Assim como o registro, a reavaliação de agrotóxicos é feita conjuntamente pelo MAPA, IBAMA e ANVISA. Como o registro de agrotóxicos é feito sem prazo de validade, os três órgãos têm autonomia para iniciar uma reavaliação sempre que se detectar um problema de natureza agronômica, ambiental ou ligado à saúde humana associado a um determinado produto ou grupo de produtos.
Sua natureza sistêmica e tendência a se translocarem na planta; Alta persistência em campo; Meia-vida de degradação longa observada em solos brasileiros;
Essas características distinguem esse grupo de inseticidas de outros registrados no Brasil. Se, por um lado, conferem maior eficácia e efeito residual, por outro podem estar afetando polinizadores que visitam as culturas. Como esses efeitos crônicos e subletais não são considerados na avaliação ambiental realizada no momento do registro do produto, o IBAMA julgou que seria importante iniciar uma reavaliação. O pirazol pertence a outro grupo químico, mas é 15
altamente tóxico mesmo em doses subletais. Há dados da Europa que subsidiaram a decisão de restringir seu uso. Em abril de 2013, neonicotinoides e pirazol tiveram seu uso suspenso na Europa por dois anos e, no mês seguinte, houve um incidente em Lucas do Rio Verde, que foi a aplicação aérea de um dos produtos em reavaliação sobre uma escola durante o horário de aulas. Também em maio de 2013, foi publicado um estudo nos EUA relacionando a questão de mortalidade de abelhas aos neonicotinoides. O IBAMA tem sido pressionado no sentido de manter esses produtos pela sua grande importância para as cadeias de produção de algodão, soja, cana e citros, resultando em medidas que flexibilizam a proibição de aplicação aérea. Atualmente, estamos discutindo com o MAPA a elaboração de um termo de referência de curto prazo para tratar da questão do uso de neonicotinoides em algodão e um termo de referência de longo prazo que trata da indução de linhas de pesquisa que permitam levantar os subsídios necessários para uma tomada de decisão.
MÁRCIO FREITAS: Não há, por parte do IBAMA nenhuma ansiedade sobre como proceder o trabalho de reavaliação mas o que se percebe é uma apreensão por parte do setor privado, que precisa de soluções para os problemas que nossa agricultura enfrenta.
O
PROCESSO DE
REAVALIAÇÃO NO
BRASIL
A minuta da proposta de abertura de reavaliação foi realizada em fevereiro de 2011. O MAPA e o SINDIVEG foram contatados em abril de 2011, para dar início à reavaliação de fato em julho de 2012 pois estávamos aguardando a publicação de algumas metodologias europeias para avaliação de toxicidade sobre larvas de abelhas e monitoramento de resíduos em pólen, por exemplo. 16
No dia 12 de julho de 2012, foi publicado o comunicado com prazo de 30 dias para que as empresas apresentassem novos estudos relacionados à questão de toxicidade às abelhas, o que foi prontamente atendido. Foi solicitado também ao MAPA e às indústrias que apresentassem a listagem de produtos que poderiam ser usados em substituição aos neonicotinoides.
LINHA
DO
Mês/Ano
T EMPO Acontecimento
5 a 10/2009
Normativa de reavaliação e criação a equipe no IBAMA
2 a 3/2010
Levantamento de ocorrências de mortandade de abelhas no Brasil
7/2010
IBAMA contrata consultoria sobre efeitos de agrotóxicos sobre abelhas
10/2010
IBAMA contrata pesquisadores sobre mortandades de abelhas em SP
11/2010
IBAMA capacita seis analistas ambientais em avaliação de risco na EPA
1/2011
Brasil participa do SETAC, nos EUA
2/2011
Primeira versão do Comunicado de Reavaliação
4/2011
IBAMA contata MAPA e SINDAG sobre a reavaliação - proibição da aplicação érea
5/2011
Conclusão do trabalho sobre monitoramento de abelhas
6 a 11/2011
IBAMA participa de eventos no México e Holanda
1/2012
Primeiras avaliações de risco usando metodologia europeia
3/2012
Resultados do GEF valoração econômica do serviço de polinização
6/2012
Participação de pesquisadores brasileiros na OECD (Metodologia de testes em larvas)
7/2012
Início formal da reavaliação - Publicação do comunicado
7/2012
IBAMA solicita formalmente ao MAPA estudo de produtos substitutos
7/2012
Assessoria jurídica do SINDAG solicita bases da reavaliação
9/2012
IBAMA altera comunicado por solicitação das empresas
10/2012
Ato 1 IBAMA e MAPA flexibiliza proibição da aplicação aérea
11/2012
Reunião com especialistas internacionais a pedido da Bayer e Sindag
12/2012
Publicação da INC 01, com flexibilização e formulação dos estudos necessários à conclu-
4/2013
EUROPA suspende neonicotinoides por dois anos
5/2013
Acidente em Rio Verde (GO) com tiametoxam
5/2013
Estudo do USDA publica resultados da queda de população de abelhas e EPA associa que-
7 a 11/2013
Discussão dos TR para contratação de estudos sobre algodão e pesquisa da Embrapa 17
O Brasil é um dos países de maior biodiversidade do mundo e este é um patrimônio a ser preservado. Da mesma forma, temos uma das agriculturas mais pujantes do planeta e muito tem sido investido em pesquisa, tecnologia e inovação. (Foto: Agropec)
Recebidos esses estudos, compete ao IBAMA analisar e emitir um parecer técnico que justifique ou não a necessidade de se realizarem estudos adicionais. O que se constatou é a necessidade de estudos em condições naturais e semi-naturais, os quais estão sendo desenvolvidos pelas empresas com prazo para concluir no final de 2014. Concluídos esses estudos, as empresas apresentarão um parecer técnico, que é submetido a consulta pública por 30 dias para, então, o IBAMA emitir seu parecer técnico final. Esse parecer técnico é analisado conjuntamente pelos três órgãos envolvidos no registro e a 18
decisão é tomada de forma conjunta e quais serão os procedimentos a serem seguidos para, se for o caso, iniciar a mitigação de risco. Entre as possibilidades estão a alteração de doses, alternância de produtos, modificando o sistema de manejo ou, numa situação mais drástica, retirada do produto do mercado. O IBAMA tem consciência de que, além de produtos usados em agroecossistemas, um fator que pesa muito sobre a população de abelhas é a perda de habitats naturais, o que se agrava ainda mais com a expansão da fronteira agrícola. Todas as medidas adotadas pelo IBAMA são
pautadas em conhecimento científico. Em dezembro de 2012, publicamos a INC 01, que trata de medidas de flexibilização vigentes até hoje e que garantiram uma medida de segurança. Ou seja, a aplicação desses produtos somente fora do período de floração em todas as culturas para quais eles são registrados, com exceção do algodão pois o período de maior ocorrência de pragas coincide com o período de floração. Para o algodão, foi adotada a janela de um ano para que sejam gerados dados científicos para fundamentar a tomada de decisão. Esta expansão afeta não só as abelhas mas a biodiversidade como um todo. A modificação de habitat causada pela implantação de novas áreas agrícolas exerce uma pressão de seleção para todo tipo de organismo nativo, ou seja, ou as populações sucumbem ou se adaptam. As práticas de manipulação de habitat, tais como o uso de plantas atrativas nas bordaduras das áreas agrícolas, podem ajudar a manutenção da população de polinizadores. Portanto, é fundamental que tenhamos resultados de pesquisa sobre o comportamento de forrageamento dos polinizadores e sobre a maneira como eles se relacionam com o ambiente para que seja possível conciliar desenvolvimento agrícola com preservação da biodiversidade. O Brasil é um dos países de maior biodiversidade do mundo e este é um patrimônio a ser preservado. Da mesma forma, temos uma das agriculturas mais pujantes do planeta e muito tem sido investido em pesquisa, tecnologia e inovação. Por esse motivo, o IBAMA se propôs a conduzir o processo de reavaliação de forma a conciliar gestão ambiental e manejo agrícola, de maneira a evitar que uma medida de proteção à biodiversidade tenha um impacto deletério sobre a agricultura. A reavaliação está sendo feita de maneira criteriosa e ouvindo todas as partes
envolvidas. O IBAMA capacitou seis técnicos para conduzirem o processo de reavaliação de neonicotinoides e pirazol . Esse grupo foi responsável por identificar as rotas de exposição e os pontos de maior risco em relação à questão das abelhas forrageiras, que podem estar levando os resíduos para a colmeia. A primeira avaliação de risco foi a do imidacloprido, envolvendo 21 produtos comerciais e 220 indicações de uso. As avaliações foram feitas considerando três cenários e, a partir dessa avaliação de rico para pulverização aérea e considerando a deriva técnica de 8m que se proibiu o uso em aplicação aérea. Essa fundamentação técnica é o que deixa o IBAMA muito confortável para lidar com as cobranças que vêm de todas as camadas da sociedade.
NEONICOTINOIDES
E
CCD
O fenômeno de desaparecimento de colmeias foi constatado inicialmente na Europa em 1998 e, nos EUA, em 2006 e relacionado a um fenômeno que é o CCD. A mortandade de abelhas e a relação com o uso de agrotóxicos e perda de habitat são conhecidas há muito tempo. Nos EUA, até 1947, a taxa de declínio da população de abelhas era de 1% ao ano. Nos últimos quatro anos, subiu para 29-36%. Esses números são baseados em monitoramentos periódicos da população de abelhas, que é um procedimento que o Brasil não realiza. O Brasil não tem nenhum levantamento sistemático e de longo prazo para a produção de mel e tampouco sobre a criação de abelhas. Portanto, urge que o Brasil passe a documentar e monitorar suas colmeias para que 19
possamos ter números em cima dos quais trabalhar.
que podem desempenhar um papel mais importante na polinização do que A. mellifera.
Normalmente, a redução na população de abelhas é considerada CCD, o que não é verdade. Não há qualquer comprovação científica de que a CCD seja resultado do uso de neonicotinoides. No Brasil, há apenas dois casos suspeitos de CCD, sendo um em São Paulo e um em Minas Gerais, mas esse não é o foco do IBAMA no momento.
A realização deste workshop é louvável pois temos que estar preparados para reagir de maneira adequada quando o relatório técnico final da reavaliação de neonicotinoides e pirazol for publicado e os três órgãos registrantes tomarem as medidas cabíveis para mitigação de risco.
C ONSIDERAÇÕES
FINAIS
O processo de reavaliação de neonicotinoides e pirazol alerta o IBAMA para a importância de se rever o processo de avaliação para registro pois os estudos agudos não são suficientes frente à natureza de novos produtos que surgiram na última década. Efeitos crônicos e subletais podem e devem ser considerados. É necessário, também, definir que organismos serão considerados no futuro no processo de avaliação de agrotóxicos. Atualmente, trabalhamos apenas com Apis mellifera africanizada, mas esta problemática pela qual estamos passando alerta para a premência de incluir organismos nativos da fauna brasileira e
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O E S TA D O P ESQUISA
COM
DA
A RTE
DA
A BELHAS NO B RASIL
Osmar Malaspina, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca & Stephan Carvalho
O Grupo de Pesquisa Ecotoxicologia de Abelhas da Unesp é formado por pelo menos 20/25 estudantes de graduação e pós-graduação. A abertura de processo de reavaliação pelo IBAMA em 2012 desencadeou uma série de ações e avanços para o setor, entre eles, o aumento do nível de informação da população sobre a importância dos polinizadores. O serviço de polinização é fundamental tanto para a proteção dos ecossistemas silvestres quanto para a produtividade agrícola. Estudos realizados na Inglaterra mostraram o valor econômico do serviço prestado pelas abelhas na polinização, que é muito maior do que o valor de mel e outros produtos apícolas. A polinização aumenta a produtividade de sementes, a qualidade de frutos e a produtividade. Pode, portanto, ser considerada um serviço básico.
alterações climáticas interferem na distribuição das espécies, nos ciclos dos parasitas, das abelhas, na fenologia das plantas, na disponibilidade de néctar/ pólen e no regime de chuvas; · Modelagem ecológica, para analisar o efeito de fragmentação de paisagem e urbanização sobre rendimento agrícola e manejo de populações, como ferramentas para avaliar se a população é sustentável em função dos recursos disponíveis. Através destas técnicas, é possível gerar cenários mais otimistas ou mais pessimistas para fazer inferências sobre o futuro da produção agrícola;
As linhas prioritárias de pesquisa são:
· Genética de populações e conservação, lembrando que é necessário entender o sistema como um conjunto de metapopulações pois, na eventualidade de uma doença, as mudanças vão ocorrer em nível de comunidade e espécies;
· Efeito de mudanças climáticas e o impacto que elas terão sobre a agricultura e também sobre os polinizadores. Esta é uma grande ameaça, ois
· Implementação de coleções biológicas que possam ser usadas como padrões de comparação e também para obtenção de dados moleculares; 21
·
Produção em massa de polinizadores;
· Ecologia de interações, para definir os locais onde devem ser realizadas ações de conservação, combinando dados de distribuição geográfica de polinizadores e os recursos florais por eles explorados, já que a qualidade do alimento disponível vai influenciar as colônias, a população, os indivíduos . Os patógenos e agrotóxicos têm seus efeitos manifestados desde o nível de DNA até colônia.
VERA FONSECA: É fundamental que sejam tomadas ações no sentido de implementar políticas públicas de proteção aos polinizadores, partindo de uma análise já existente e conjugando-a a uma política para o setor de produção. A compatibilização de necessidades será o grande desafio.
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É fundamental que sejam tomadas ações no sentido de implementar políticas públicas de proteção aos polinizadores, partindo de uma análise já existente e conjugando-a a uma política para o setor de produção. Os dois temas precisam evoluir paralelamente pois há uma interface forte entre eles. O grande desafio é a agricultura utilizar a biodiversidade de polinizadores para aumento de produção e implementar boas práticas de manejoambiental amigáveis aos polinizadores.
A VA L I A Ç Ã O
DE
RISCO
Christof Schneider
Os produtos utilizados para controle de pragas são substâncias químicas introduzidas intencionalmente no ambiente, com o propósito de proteger as plantas cultivadas contra pragas. Portanto, eles têm atividade biológica contra uma certa praga e os estudos de Ecotoxicologia têm a função de avaliar os possíveis efeitos colaterais que eles podem ter no ambiente, bem como propor medidas para mantê-los em níveis aceitáveis. Uma das ferramentas mais importantes para esse trabalho é a avaliação de risco, que pressupõe a existência de informações sobre o perigo representado pela substância (ex.: toxicidade) e o grau de exposição. A toxicidade é uma característica intrínseca da substância, ou seja, não variável, enquanto a exposição pode variar em função das condições locais, formas de administração, entre outros. Resumidamente, a avaliação de risco consiste na comparação entre perigo e exposição, ou seja, se o perigo é mais alto do que a exposição, então não há risco significativo. Se você dividir a exposição pelo perigo e o valor for menor do que 1, então não há risco. Por outro lado, se você tem um perigo alto mas uma
exposição baixa, então também não há risco significativo. Há diferentes delineamentos na Europa e EUA para integrar essas informações e que dependem do conhecimento sobre toxicidade e exposição, de forma que é possível avaliar o risco. No que se refere a ensaios com abelhas, é utilizado o conceito de HQ (Hazard Quotient) e é calculado como taxa de aplicação dividido pela DL50. Tudo o que tiver HQ acima de 50 é considerado um risco para abelhas e tudo o que estiver abaixo de 50 é considerado de baixo risco para abelhas. Esse limiar não é arbitrário, foi validado usando dados de campo e é considerado bastante adequado. Considerando dois cenários com os conceitos de perigo e exposição: Se você tem uma substância com DL50 para abelhas definida em laboratório como 1 ug de ingrediente ativo e tem uma taxa de aplicação em campo de 100 g/há. O valor de HQ será de 100, significando que o risco não pode ser desconsiderado e que os estudos são necessários para avaliar perigo que a substância representa. No segundo cenário, a toxicidade permanece 23
constante mas a taxa de aplicação muda para 40 g/ha, o HQ será de 40 o que dispensaria estudos adicionais. A ideia é começar com um estudo simples de laboratório para eliminar as substâncias com baixo potencial de perigo e focar nas substâncias que podem vir a representar risco significativo para os polinizadores e realizar estudos mais realistas, já que os estudos de laboratório são muito artificiais. Em geral, inicialmente, são realizados ensaios simples, com 10 abelhas por repetição contendo água, açúcar e a substância testada. Então, é possível determinar a DL50. Se o valor de HQ fica acima de 50, podem ser tomadas ações de mitigação, como reduzir a taxa de aplicação se não comprometer a eficácia, aplicar em diferentes horas do dia, em determinadas épocas do ano ou fazer ensaios mais realistas, para verificar se há um potencial de 24
risco para as abelhas, colocando-as em situações mais realistas. Há várias diretrizes internacionais para este tipo de análise. Além da mortalidade, podem ser feitas observações sobre comportamento, comportamento de forrageamento, desenvolvimento da colônia de forma que não serão testadas abelhas individuais e sim colônias como um todo pois algumas substâncias podem afetar a colônia e não o indivíduo. Pode-se também avaliar o efeito sobre as larvas. Ensaios em túneis de vento e in vitro podem ser realizados. Para realizar ensaios em túneis de vento, com protocolos da EPPO e OECD, são instalados os túneis sobre a cultura atrativa para as abelhas, com três tratamentos para comparação: Não tratada (só água); Substância teste;
Ensaios em condições seminaturais são mais realistas e permitem avaliar alterações no comportamento de forrageamento e a mortalidade. (Foto: Basf)
Substância de referência, com efeito conhecido. São usadas colônias pequenas e sadias, com cerca de 6.000 abelhas com cerca de 3.000 células com larvas, a substância é pulverizada sobre a planta atrativa para as abelhas durante a florada ou quando as abelhas estão com atividade de forrageamento, o que representa a pior condição possível. A área é de 8 metros quadrados por túnel de vento e, por este motivo, devem ser usadas colônias pequenas. O ensaio dura cerca de 20 dias, com 2-3 dias de adaptação prévia das colônias. É realizada uma avaliação prévia da colônia para avaliar seu estado geral e, depois de aplicação, são feitas avaliações de mortalidade, comportamento, produção de larvas (dependendo do objetivo do ensaio).
o comportamento ou ação repente. Depois, são realizadas seis avaliações para analisar a colônia como um todo, levantando número de células com larvas, pupas, pólen e néctar. A condução destes ensaios é complexa e requer expertise sobre abelhas para poder interpretar os resultados pois as colônias estão sujeitas a variabilidade natural. Um novo ensaio será requerido pela Europa e EUA para testar o desenvolvimento larval no laboratório. Uma diretriz nova da OECD descreve a metodologia, que é bastante mais complexa, pois as larvas precisam ser colocadas sobre meio de cultura artificial contendo geleia real, açúcares, leveduras, etc. A confiabilidade desse método ainda é questionável, mas este método passará a ser exigido em breve.
Diariamente, é checada a atividade de forrageamento, antes e depois de aplicar o produto, para identificar se há algum efeito sobre 25
26
A E XPERIÊNCIA I NTERNACIONAL Lothar Langer, Roberto Ramirez, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca & Eduardo Daher
Conheça algumas iniciativas desenvolvidas em outros países relacionadas à preservação de polinizadores em consonância com o desenvolvimento da agricultura.
O PERAÇÃO P OLLINATOR Em 2013, os apicultores europeus foram entrevistados sobre os motivos que levam a mortalidade de colônias de abelhas. Os principais agentes de mortalidade são, segundo os entrevistados, a Varroa, o loque e outras doenças. Em segundo lugar, as perdas de colmeias são atribuídas a características intrínsecas, como a constituição genética e, em seguida, aspectos ambientais como a baixa disponibilidade de alimento e as práticas de manejo. O motivo menos importante, segundo os entrevistados, é o envenenamento por substâncias químicas, o contato com pesticidas ou outros agentes.
É interessante notar que eles não atribuíram a mortalidade de colmeias a perda habitats naturais. Em uma meta-análise, foi observada uma correlação entre perda de habitat e resposta das abelhas. Os resultados indicam que, quando há uma perda moderada de habitat, pode haver uma compensação tanto do ambiente quanto da população e, portanto, não há um impacto significativo. Por outro lado, quando a perda de habitat é grande, tanto abundância quanto riqueza são impactadas. A partir desses dados, podese concluir que as abelhas são negativamente afetadas pela atividade humana, então uma solução possível seria banir os seres humanos. A Operação Pollinator é um programa relacionado à biodiversidade e busca impulsionar populações de polinizadores em agroecossistemas. Conceitualmente, ele iniciou como um serviço de suporte para uma agricultura tensionada por pressões como a demanda aumentada por alimentos, as 27
A Operação Pollinator promoveu o aumento na população de abelhas, borboletas e outros polinizadores, protegendo a biodiversidade e aumentando o rendimento das cultivos. (Foto: Agropec)
exigências quanto à segurança do produto agrícola, a redução de áreas disponíveis para agricultura, a degradação dos ecossistemas e a perda de biodiversidade. Estes são desafios globais e o programa Operação Pollinator busca promover melhorias através do aumento da produtividade e do aumento de biodiversidade em ecossistemas. Esses dois Em 2013, os apicultores europeus foram 28
entrevistados sobre os motivos que levam a mortalidade de colônias de abelhas. Os principais agentes de mortalidade são, segundo os entrevistados, a infestação pelo ácaro Varroa, o loque e outras doenças. Em segundo lugar, as perdas de colmeias são atribuídas a características intrínsecas, como o estado das colônias, em seguida, aspectos ambientais como a baixa disponibilidade de alimento e as práticas de manejo. O motivo menos importante, segundo os entrevistados,
é o envenenamento por substâncias químicas, o contato com pesticidas ou outros agentes. É interessante notar que eles não atribuíram a mortalidade de colmeias a perda habitats naturais. Em uma meta-análise, foi observada uma correlação entre perda de habitat e resposta das abelhas. Os resultados indicam que, quando há uma perda moderada de habitat, não há um impacto significativo. Por outro lado, quando a perda de habitat é grande, tanto abundância quanto riqueza são impactadas. A partir desses dados, pode-se concluir que as abelhas são negativamente afetadas pela atividade humana, portanto uma solução é cuidar do ambiente e mitigar os impactos. A Operação Pollinator é um programa relacionado à biodiversidade do agroecossistema e busca impulsionar populações de polinizadores nestes ambientes. Conceitualmente, ela iniciou –se como um serviço de suporte para uma agricultura tensionada por pressões como a demanda aumentada por alimentos, as exigências quanto à segurança do produto agrícola, a redução de áreas disponíveis para agricultura, a degradação dos ecossistemas e a perda de habitats. Estes são desafios globais e o programa Operação Pollinator busca promover melhorias através do aumento da biodiversidade em ecossistemas, que tem como consequência maior produtividade. Esses dois aspectos devem caminhar de maneira combinada, para que se obtenha o melhor resultado. Quando se fala em ecossistemas agrícolas, associa-se imediatamente a ideia de perda de
habitats, ou seja, redução de disponibilidade de áreas adequadas para nidificação das abelhas ou redução da oferta de alimento, que podem ser considerados fatores decisivos para o declínio da população de polinizadores. Portanto, a premissa seria aumentar a abundância e a diversidade da flora melífera nos campos, para suportar comunidades mais diversificadas e maiores de polinizadores o que, em última instância, promoverá o aumento da atividade de polinização nos agroecossistemas. Portanto, os benefícios do Operação Pollinator são a proteção e aumento da biodiversidade, o aumento de rendimento das culturas e a sustentabilidade da produção agrícola. Ele foi iniciado no Reino Unido entre 2001 e 2004, visando ampliar as fontes de alimento para um polinizador nativo importante (Bombus) e o resultado foi: • Aumento de 600% na população da espécie que vinha declinando (no caso Bombus ruderatus) • Aumento de 12% na população de borboletas; • Aumento de 10 vezes na população de outros polinizadores. Os resultados foram tão promissores que o projeto se tornou um programa, denominado Operation Bumblebee, com adesão imediata de um grande número de produtores rurais que implantaram o programa em uma área de 1.000 ha. Foram iniciadas parcerias com cadeias de produção de alimentos e apoio do governo através de um mecanismo compensatório, ou seja, o governo passou a compensar financeiramente os produtores que deixassem de plantar uma área para manter a vegetação nativa. Rapidamente, o programa foi estendido para toda 29
Média annual de perdas de abelhas em colônias domesticadas devido ao ácaro Varroa. Fonte: Neumann et al. (2010)
a Europa. De 2009 a 2014, 14 países aderiram ao projeto, resultando em 10 mil hectares. As parcerias com governos, produtores de alimentos, grandes redes de produção de alimentos, centros de pesquisas, ONGs foram fundamentais.
Mais recentemente, os EUA aderiram ao programa , que está sendo implantado em áreas críticas para a polinização e que têm alta demanda pelos serviços de polinização. Foi criado um modelo matemático para avaliar a recolonização de uma área após a aplicação de glifosato e considerando a utilização de sementes de apenas uma espécie anual, uma mistura de espécies de plantas anuais, uma mistura envolvendo espécies anuais, perenes e em diferentes combinações. Os EUA conseguiram modelar o custo para implementação do programa e 30
também otimizar o processo conforme a época, a região e a espécie cultivada, de forma a suprir ou complementar as fontes de alimentos para os polinizadores existentes na região. O que se observa é que a vegetação morre após um período e, portanto, torna-se necessário obter uma área de alta biodiversidade coexistindo com a área plantada, onde cada tipo de polinizador responde à oferta de alimentos. Deve-se tomar as precauções necessárias nas situações em que um novo organismo é transportado de uma região para outra, como é o caso do transporte de colmeias de Apis. É preciso planejar a operação de acordo com a demanda observada, ou seja, não há uma receita pronta, todo o programa é customizado por país e cultura. O programa já conta com 15 misturas de sementes adequadas para uso em agroecossistemas da Europa e EUA e que já foram
implantadas em mais de 50 campos de demonstração, somando 2.500 ha plantados. Temos acumulado dados em função de clima, tipo de solo, cultura e benefícios multifuncionais, tais como os benefícios que as espécies plantadas têm ao servirem de alimento para pássaros, refúgio para pequenos mamíferos e corredores para fauna. Esse aspecto está representando no logotipo do Operation Pollinator, que passou a se chamar Multifunctional Landscapes ou seja, o desenvolvimento de habitats ou ambientes multifuncionais. Apesar do foco inicial ter sido a agricultura através do aumento da produção, depreende-se, hoje, uma entrega muito maior, calcada em ciência.
É importante determinar, entre outros aspectos, qual o mix de sementes vai prover o pasto apícola durante toda a safra. Afinal, não seria efetivo ter uma única espécie com florada numa determinada época do ano pois, uma vez encerrada a florada, os polinizadores têm que se deslocar para outros habitats para encontrar alimento. A faixa de Operation Pollinator deve ser determinada em função da extensão da área cultivada e também da dominância das espécies que ocorrem na região. É necessário definir as misturas de flores mais úteis em termos de resistência, pressão por ervas daninhas e custo. Então, a implementação tem um custo e, em função disso, pode ser interessante incluir espécies perenes, pois o custo se dilui ao longo do tempo. O ideal é que seja estabelecido um habitat que promova a manutenção de espécies nativas de polinizadores, de forma a dispensar o deslocamento de abelhas africanizadas ou manejadas para fazer o serviço de polinização. O Operation Pollinator valida o conceito de que
as práticas de conservação não impactam a produtividade e a rentabilidade da fazenda. Para ser convencido, o produtor precisa compreender como o sistema funciona e demonstrar os resultados posteriormente.
BAYER BEE CARE CENTER O Conceito de Bee Care da Bayer diz respeito à adoção de práticas para melhorar a saúde das abelhas, através de uma visão multidimensional. Ele engloba algumas áreas de importância para a empresa, como a Bayer Health Care Animal Health, que procura melhorar o estado de saúde para as abelhas e o Bayer Crop, que reconhece a importância das abelhas para a sustentabilidade do negócio, juntamente com a proteção dos cultivos. O trabalho é realizado buscando promover o diálogo entre agricultor e apicultor, pois ambos precisam trabalhar de maneira coordenada para prevenir os perigos e otimizar resultados. O conceito tenta, também, envolver áreas como jurídica, regulatória, relações públicas, comunicação e saúde animal em torno da discussão da saúde das abelhas, com vistas a propor medidas de prevenção e mitigação de risco. Assume-se que a saúde das abelhas é o ponto chave no processo, por esse motivo, são feitos investimentos em segurança ambiental e pesquisa sobre efeitos crônicos e subletais de defensivos, com vistas a obter produtos inovadores, mais seguros para as abelhas. O conceito de BeeCare Center surgiu em Monheim, na Alemanha, foi expandido para a América do Norte e poderá vir a ser aplicado também no Brasil. Para sua efetiva aplicação em campo, é necessário adotar um sistema de gestão ambiental e práticas agrícolas sustentáveis, como o trabalho de stewardship de custódia. 31
O Brasil precisa de uma estimativa mais precisa do número de colmeias existentes no país pois, na ausência desta informação, é impossível propor políticas eficazes para o setor. (Foto: DeviantArt)
Diversos agentes que possam afetar a saúde das colmeias são discutidos no conceito de BeeCare Center, como o ácaro Varroa, que é um problema sério na Europa. A discussão envolve parceiros como apicultores, agricultores e universidades. A pesquisa sobre outros fatores potenciais de mortalidade também é estimulada, juntamente com o desenvolvimento de produtos inovadores e soluções para controle do ácaro Varroa e avaliação de medidas de promoção de aumento de biodiversidade na paisagem agrícola. Neste 32
ponto, o Brasil tem uma vantagem sobre outros países, pela sua elevada biodiversidade. São realizados também: • Levantamentos globais para avaliar a atratividade e relevância de culturas agrícolas para as abelhas, pois nem todas se comportam da mesma maneira; • Estudos em campo de longo prazo sobre efeitos subletais de pesticidas;
• Atividades para apoio à criação de hábitats para forrageamento por abelhas em áreas urbanas; •
Publicações;
•
Campanhas de comunicação.
As medidas de stewardship devem ser promovidas, para garantir que os nossos produtos estejam sendo usados de maneira correta e para minimizar o impacto sobre o meio-ambiente e as abelhas. Isto é uma prioridade para a empresa. Em 1998, foi realizado um workshop internacional na USP, em São Paulo, sobre polinizadores e seu uso sustentado e conservação, no qual foi proposto um programa internacional sobre o assunto. Dele resultou a Declaração São Paulo sobre os Polinizadores que viria, após aprovação na Convenção da Diversidade Biológica, área de diversidade agrícola, se tornar a Iniciativa Internacional dos Polinizadores. A IPI é , coordenada pela FAO (Food and Agricultural Organization) e um plano de atividades foi desenhado para esta atuação. Algumas questões deveriam ser respondidas:
ROBERTO RAMIREZ: O conceito de Bee Care Center assume que a saúde das abelhas é o ponto chave do processo e, por esse motivo, são feitos investimentos em segurança ambiental e pesquisa sobre efeitos crônicos e subletais.
a) As populações de polinizadores estavam de fato diminuindo? b) Em caso afirmativo, o que estava contribuindo para essa diminuição? c) Como manter as populações dos polinizadores? d) Qual a importância econômica dos polinizadores? A partir da IPI outras iniciativas regionais de polinizadores foram criadas. Os EUA, por exemplo, estabeleceram uma parceria públicoprivada, com o objetivo de aumentar as bases de dados, envolvendo a população e conscientizando -a sobre a importância dos polinizadores. O site do
North American Protection Pollinator Campaign é referência no assunto e disponibiliza listas de plantas regionais que suportam a comunidade de abelhas ao longo do ano. Anualmente, eles promovem a Semana do Polinizador. Na Europa, um programa bem sucedido foi o Iniciativa Europeia de Polinizadores, o ALARM. Ele propos um programa de cinco anos em que se buscou estudar a população de abelhas e verificar quais os pontos que estariam atuando no desaparecimento das abelhas. A seguir iniciou-se o segundo ciclo de 5 anos, o STEP, com o objetivo de tratar da recuperação de polinizadores. O 33
Num cenário de escassez de áreas disponíveis para agricultura, as ações paliativas não são mais admissíveis.
estudo começou com 35 instituições de pesquisa e ensino de toda a Europa e envolveu, no final, 85 instituições. No Brasil, A Iniciativa Brasileira de Polinizadores promoveu a integração da comunidade científica em torno do tema . As reuniões bianuais dos Encontros de Abelhas de Ribeirão Preto sempre trouxeram a integração de pesquisa dores do Brasil e do exterior neste tema, mas não houve um programa nacional para implementacão dos polinizadores ate a criação da rede de polinização pelo CNPq em 2009. Um programa GEF/FAO/ MMA foi também implementado nesta ocasião. O livro Polinizadores no Brasil resume o estado da arte da pesquisa sobre o assunto e é o único documento em Português disponível para uma avaliação geral sobre o que temos em relação a 34
Polinizadores no Brasil. A Iniciativa de Polinizadores da África foi estabelecida desde o inicio da IPI e tem atuado em alguns países africanos, com destaque ao Quênia, África do Sul e Gana. A Iniciativa de Polinizadores da Oceania envolveu Austrália e ilhas oceânicas. É a mais recente. Outros países latino-americanos , como a Colômbia, iniciaram seus programas de proteção de polinizadores. Cada país tem suas particularidades e é razoável supor cada um encontre soluções diferentes em função de suas características ambientais e realidade agrícola. Obviamente, a experiência global é fundamental para oferecer um ponto de partida para resolução de problemas semelhantes e background técnico-científico, além de troca de
experiências. A importância dos serviços dos ecossistemas (entre eles a polinização ) para o bem estar humano foi o tema da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, uma encomenda do Secretario Gera da ONU para cientistas e tomadores de decisão que deveriam responder à questão sobre a importância do meio ambiente para o bem estar humano. O relatório, apresentado me 2005, foi todo baseado nos serviços de ecossistemas . O serviço de ecossistema de polinização é básico para a manutenção dos outros serviços de ecossistemas, pois através dele serão formados melhores frutos e sementes. O programa de Avaliação do Milênio foi muito importante, e precisava ser validado pelos governos . Finalmente, na mesma linha desta avaliação, foi criado em 2012 Painel Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas, que entrou em funcionamento em 2013. Uma das primeiras atividades desse painel será uma avaliação sobre os polinizadores e a produção de alimentos.
VERA FONSECA: Cada país tem suas particularidades e é razoável supor que cada país encontre soluções diferentes em função de suas características ambientais e realidade agrícola.
Três aspectos devem ser destacados: O conceito de que os polinizadores são importantes para a produção agrícola - Diversas análises já mostraram que a atividade de polinização aumentam significativamente a produção em algumas culturas. Por exemplo: a canola é polinizada pelo vento mas a presença de Apis em áreas de produção de canola aumenta em 20% a produção. b) A mudança da paisagem agrícola – a importância de se restaurar os ambientes foi demonstrada e é imprescindível que estas atividades sejam iniciadas, baseadas em pesquisas de flora (por exemplo, veja o herbário virtual) c) A importância de outros polinizadores – estudos demonstraram que as abelhas do gênero Apis e de outros gêneros se evitam nas flores e,
portanto, o rendimento da cultura aumenta quando várias espécies de abelhas estão presentes. As parcerias público-privadas devem ser estimuladas, observando-se sempre os escopos de atuação de cada partícipe. O Brasil precisa que haja um diálogo aberto entre o setor de agronegócios e o setor ambiental, com benefícios para toda a sociedade. As prioridades precisam ser identificadas para, então, criar um plano estratégico para o futuro, pois as ações paliativas não são mais admissíveis num cenário em que as áreas disponíveis para agricultura estão cada vez mais escassas.
35
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FOTO: CRISTIANO MENEZES
C RIAÇÃO M ASSAL DE P OLINIZADORES Cristiano Menezes & Marcelo Poletti
O projeto de criação de polinizadores em escala
melhores características morfológicas e também
industrial surgiu num cenário bastante favorável
sensoriais da fruta.
de disponibilidade do conhecimento científico necessário para entregar ao produtor rural uma tecnologia que promova aumento de produtividade e de maneira consonante com a tendência de adoção de práticas de manejo integrado. A Europa foi pioneira neste tipo de iniciativa, com abelhas do gênero Bombus. São abelhas grandes, com ferrão e que ocorrem tanto nas regiões temperadas quanto tropicais do mundo, inclusive no Brasil. Elas foram domesticadas e, hoje, há um conjunto de tecnologias para produção em
Indiretamente, a liberação de abelhas criadas em laboratório levou à adoção de práticas de manejo integrado e de controle biológico, pois o produtor passou a fazer intervenções de maneira mais criteriosa para proteger os organismos que havia liberado. De 1988 a 2004, a produtividade dessas biofábricas aumentou de menos de 100.000 colônias para mais de um milhão de colônias, as quais são comercializadas para produtores de tomate e de uma ampla gama de cultivos.
condições controladas em biofábricas, cujo
Ao adquirir uma colônia, os produtores recebem
produto final são colônias em caixas adequadas
uma listagem de produtos fitossanitários com
para o transporte.
dados sobre sua compatibilidade com os
As colônias são distribuídas a campo pelo próprio agricultor. Em 1998, a Holanda teve as primeiras
polinizadores e sobre o intervalo durante o qual os produtos permanecem perigosos às abelhas.
experiências e 5% dos produtores de tomate
Nos EUA, a experiência é com Apis mellifera e o
aderiram à nova tecnologia. Em quatro anos,
mais comum é o aluguel de colônias, que são
praticamente todos os produtores já estavam
transportadas de cultura em cultura ao longo do
adquirindo colônias de abelhas para polinização
ano. Em 2007, uma pesquisa estimou que o
de tomate, relatando aumento de produtividade,
aluguel de colônias de abelhas nos EUA movimentava cerca de 150 milhões de dólares, 37
Após a copula, as rainhas fisiogástricas são utilizadas para iniciar mini-colônias, cujo crescimento é acelerado com almentação controlada. (Foto: Cristiano Menezes)
que é o valor investido pelos produtores na
mellifera não realiza a polinização de forma
contratação das colônias. Esse valor é ínfimo
adequada pois é necessário que ocorra uma
quando comparado com os 19 bilhões de dólares
vibração da flor (buzz pollination), que é realizada
de prejuízo que o país teria caso as abelhas
pelas abelhas sem ferrão e também pelas abelhas
desaparecessem.
do gênero Bombus.
No Brasil, a expectativa é produzir massalmente
Um primeiro desafio enfrentado no Brasil foi a
as abelhas sem ferrão. São cerca de 200 espécies
modernização da meliponicultura, para maior
no Brasil, todas sociais, que formam colônias
eficiência do sistema de produção,
perenes e que podem ser manejadas para uso em
aprimoramento das tecnologias de criação e
polinização agrícola.
aumento da capacidade de produção.
Um exemplo de cultivo que pode se beneficiar é o
Hoje, o sistema é mais sofisticado e há um
morango, pois a falta de polinização leva a frutos
número expressivo de criadores com mais
malformados e à redução de produtividade da
colônias, o que já viabilizar pensar em um sistema
ordem de 40%. Outros exemplos são o tomate,
de produção em larga escala. Se no passado, as
pimentão, café e açaí. No caso de berinjela, a Apis
colônias eram divididas no meio, hoje é possível
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obter até 10 colônias filhas por ano a partir de
O projeto de criação massal será desenvolvido em
cada colônia.
Engenheiro Coelho, na sede da Promip, buscando
Foi necessário também definir metodologias para produção de rainhas in vitro que, hoje, está disponível e com taxa de sobrevivência de até 98%.
integrar a criação e liberação de polinizadores às práticas de manejo de pragas. Serão realizados também ensaios para avaliar o impacto de agrotóxicos sobre estas espécies de abelhas nativas, tais como Scaptotrigona depilis, que é
Um gargalo que ainda precisa ser equacionado é o
uma das espécies de maior potencial para criação
sistema de reprodução que, hoje, ainda é feito ao
massal.
ar livre. À medida que o conhecimento sobre a biologia reprodutiva avançar, será possível realizar toda a reprodução também em laboratório, possibilitando o melhoramento genético e a seleção de materiais com as características desejadas. Após a cópula, as rainhas fisiogástricas são utilizadas para iniciar mini-colônias, cujo crescimento é acelerado utilizando alimentação controlada durante alguns meses. Depois que as colônias estão bem formadas, podem ser liberadas em campo. O confinamento só se tornou possível à medida que as dietas artificiais foram aprimoradas para suprir as necessidades das abelhas quanto a pólen.
Finalmente, o projeto prevê a avaliação em campo. No caso, foi decidido realizar os ensaios em morango, pelo grande volume de informação já disponível sobre a polinização e pela disponibilidade de agentes de controle biológico já registrados para a cultura. Para tomate, a Scaptotrigona depilis não é muito eficaz na polinização e a proposta é trabalhar com abelhas do gênero Melipona. Para a região Norte, estão sendo pesquisadas alternativas para a polinização do açaí e cupuaçu. No longo prazo, o que se espera é oferecer alternativas ao produtor, para maior produtividade, sustentabilidade e competitividade.
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A V ISÃO
DO
S ETOR PRODUTIVO
Fabrício Rosa, Edivandro Seron, Marcelo Pedreira de Miranda, Leonardo Machado & Fernando Henrique Marini
O agronegócio é responsável por 30% da balança comercial brasileira e, sem ele, o Brasil sofreria um déficit de 60 bilhões de dólares anualmente. O PIB do agronegócio representa 22% do total e o setor é responsável por 37% dos empregos no país. Neste artigo, são apresentados os pontos de vista de três setores importantes do agronegócio brasileiro: citicultura, soja e algodão. A decisão do IBAMA de desautorizar uso de neonicotinoides em aplicação aérea de tiametoxam, imidacloprido, clotianidina e fipronil foi pautada no princípio de precaução e sem resultados conclusivos de pesquisa. A necessidade dessa medida é questionável e a base científica adotada pelo IBAMA foi composta por artigos de pesquisa realizada nos EUA e na Europa, em ambos os casos inconclusivos. Tanto são inconclusivos que o governo norteamericano não tomou nenhuma medida de restrição de uso de neonicotinoides e , na Europa, não há consenso sobre a questão e a autoridade do Reino Unido considera que os resultados não são suficientes para justificar uma restrição de uso. Os EUA, inclusive, concederam recentemente registro para neonicotinoides de quarta geração para uso agrícola.
Ao restringir o uso desses produtos em aplicação aérea alegando efeitos adversos sobre as abelhas, o IBAMA desconsiderou aspectos agronômicos e econômicos. Desconsiderou, também, uma série de peculiaridades dessa classe de produtos, como seu modo de ação extremamente diferenciado e segurança para vertebrados. Segundo dados da Embrapa Soja, se os neonicotinoides fossem retirados da lista de produtos autorizados para controle de percevejos em soja, o único ingrediente ativo restante seria o acefato. Em áreas de produção integrada de citros, está proibida a aplicação de neonicotinoides durante a floração e também a aplicação terrestre tem algumas restrições. A situação é mais crítica no algodão, pois as principais pragas da cultura ocorrem justamente no período da florada. Um detalhamento sobre o impacto que uma possível retirada de neonicotinoides e fipronil teria sobre sistemas de manejo integrado de pragas é apresentado em outro artigo desta publicação.
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O HLB é a principal doença dos citros no mundo e os neonicotinoides são os produtos para o controle de seu vetor, o psilídeo Diaphorina citri. (Foto: Henrique Santos, Fundecitrus)
CITRICULTURA O Brasil é, hoje, o maior exportador de suco de laranja do mundo, o que representa geração de renda e empregos para o país.
da doença, 40 milhões de plantas tiveram que ser erradicadas até 2013. O custo dessa medida é elevado por se tratar de cultivo perene e também pelo fato da doença poder permanecer latente por um longo período.
O principal problema fitossanitário enfrentado pelo setor hoje é o HLB ou greening. Trata-se de uma doença causada por uma bactéria detectada no Brasil em 2004 e transmitida por um inseto vetor que é o psilídeo Diaphorina citri. Esta é a principal doença dos citros no mundo e a forma mais eficaz de controle é o combate ao vetor.
O grupo dos neonicotinoides é o mais eficaz no controle de D. citri. Uma retirada desses produtos da grade de agrotóxicos autorizados para a cultura inviabilizaria a atividade no Brasil. Outros grupos químicos, como diamidas têm sido estudados como alternativas mas demonstraram eficácia menor do que os neonicotinoides.
O estado de São Paulo concentra 80% da produção de citros no Brasil e, devido à presença
Na eventualidade de retirada dos neonicotinoides, os produtores teriam que recorrer também a
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outros grupos químicos, como organofosforados e piretroides. O resultado disto seria um aumento na população de outras pragas como ácaros e cochonilhas. Nos últimos anos, houve avanços importantes no MIP em citros, tais como a redução de até 70% do volume de calda em aplicação terrestre. Um grande investimento tem sido feito também no sentido de isolar e sintetizar o feromônio de D. citri, para que o monitoramento do vetor possa ser feito de maneira mais confiável, aumentando a eficácia e reduzindo o número de aplicações.
motivos, como a extensão da área, as condições climáticas adversas à aplicação terrestre, etc. Para estas áreas, foram buscadas alternativas tais como a substituição de aplicação aérea por aplicação terrestre e a conclusão a que se chegou é de que seriam necessários cerca de sete anos para o setor absorver a medida. Posteriormente, foi esclarecido que a restrição não seria apenas para o uso em aplicação aérea, mas também a restrição de uso durante o período de floração, independente da tecnologia de aplicação utilizada.
O setor investe também em projetos de controle biológico, com liberação de parasitoies e fungos entomopatogênicos. Entre os parceiros da Fundecitrus, destaca-se a Esalq/USP, cujos projetos de pesquisa buscam sempre promover maior sustentabilidade da atividade agrícola.
A APROSOJA encomendou à Embrapa um estudo que resultou em uma nota técnica para a Câmara Setorial da Soja no MAPA, cuja conclusão foi de que havia duas alternativas para o manejo dos percevejos em soja: uma mistura de piretroide com neonicotinoide ou o acefato.
O setor busca conciliar o desenvolvimento econômico e a preservação das comunidades de abelhas.
Na impossibilidade de uso de neonicotinoides, o piretroide é pouco eficaz. Por outro lado, o acefato, embora eficaz, possui alta toxicidade. Ou seja, num cenário em que neonicotinoides tivessem seu uso proibido em aplicação aérea e durante a floração (independente da tecnologia usada de aplicação), o produtor de soja encontraria sérias dificuldades para controlar os percevejos.
SOJA Ao tomar conhecimento sobre a medida cautelar, o setor da soja, representado pela APROSOJA, passou a buscar argumentos para contrapor o que foi apresentado pelo Governo Federal. O setor não viu motivos concretos para a medida. Inicialmente, é importante destacar que o setor não tem nenhuma posição contrária aos apicultores, até porque muitos associados da APROSOJA são, também, apicultores. Foram iniciados estudos sobre o impacto da medida, focados na questão de aplicação aérea. Através de um estudo com a Embrapa, chegou-se à conclusão de que cerca de 27% da área de soja no Brasil é pulverizada via aérea, por uma série de
Estima-se que, na ausência de medidas de controle adequadas, os percevejos possam ter impacto de até 20% na cultura, o que representa um valor aproximado de 7 bilhões de dólares por ano, ou seja, um terço das exportações de soja do Brasil. Se forem incluídos os impactos durante a armazenagem, a perda seria da ordem de 30%. O estudo da Embrapa apontou também outros impactos, como a queda de arrecadação de impostos (que seria da ordem de 1 bilhão de reais por ano) e a redução de mais de 200 mil postos de trabalho. Setores estratégicos para o Brasil como 43
Num cenário de proibição de uso de neonicotinoides, o produtor encontraria imensa dificuldade para realizer o controle de percevejos em soja. (Foto: Agropec)
o de biocombustíveis e carnes seriam afetados, pela redução de disponibilidade de matéria-prima.
A LGODÃO
O produtor de soja conta, hoje, com um leque de alternativas reduzido para manejo de pragas e só concordaria com a retirada dos neonicotinoides mediante o registro de tecnologias são eficazes quanto esses produtos.
A ABRAPA foi fundada em 1999, com o propósito de incrementar a rentabilidade do setor de algodão por meio da união e organização de agentes, primando sempre pela sustentabilidade da cadeia de forma a torna-la cada vez mais competitiva, tanto no cenário nacional quanto internacional. A entidade representa 99% da produção de algodão do Brasil e 100% das exportações.
O setor considera necessário uma articulação maior, do ponto de vista de política agrícola. Considera, também, necessário avaliar os impactos para o setor e buscar alternativas embasadas em ciência.
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O algodão é produzido por mais de 60 países nos cinco continentes. O Brasil é o quinto produtor mundial e terceiro exportador, ficando atrás apenas dos EUA e Índia. O Brasil é, também, o
quinto maior consumidor mundial. O setor contribui com mais de 19 bilhões de dólares para o PIB e arrecada quase oito bilhões de impostos por ano. Nas décadas de 1980-1990, o algodão era produzido em regime familiar ou em propriedades de médio porte. Com a introdução do bicudo no Brasil, no início da década de 1980, muitas áras foram dizimadas, obrigando os produtores a buscarem outras alternativas e a investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. O algodão migrou para as regiões de cerrado do Brasil e MT passou a ser o maior produtor no país, com mais de 50% da produção nacional, seguido de BA e GO. Quem conhece a realidade agrícola do MT sabe que é inviável fazer o controle de pragas utilizando aplicações terrestres e o número de pragas que atacam o algodão é elevado, por exemplo: bicudo, ácaros, tripes, lagarta-da-maçã, Spodoptera, percevejos, lagartas, mosca-branca, pulgões, colchonilhas, além das lagartas de solo como elasmo, broca-da-rais e mais recentemente a Helicoverpa. Somem-se a estas as doenças que podem afetar a qualidade da fibra. O algodão foi uma das primeiras culturas a implantar o MIP e os produtores evitam o uso de piretroides antes dos 80 dias do ciclo da cultura justamente para evitar o desequilíbrio na população de ácaros predadores e outros inimigos naturais. O conceito de nível de dano econômico é seguido à risca e as intervenções com agrotóxicos são feitas somente quando o monitoramento indica a necessidade de aplicar. A cultura tem algumas particularidades, como o ciclo que varia de 130 a 200 dias e o ataque por pragas durante o período de floração. Algumas pragas chave atacam os botões florais, o que pode comprometer a produtividade. Portanto, o desafio
EDIVANDRO SERON: É contraditório que o mesmo governo que incentiva os investimentos através da concessão de crédito para aquisição de máquinas e equipamentos inviabiliza o uso de tecnologias imprescindíveis para o controle de pragas.
de conciliar o manejo de pragas com a proteção de polinizadores é maior. As proibições de uso de produtos e reavaliação preocupam os produtores, pois o governo comunica as reavaliações, o banimento de produtos ou restrições de uso sem dar ao produtor uma alternativa. É sabido que o registro de uma nova tecnologia pode demorar 5 ou 6 anos e o produtor não pode esperar tanto tempo. Cabe mencionar que alguns 45
produtos considerados antigos são importantes dentro do contexto do MIP de algodão, tais como endossulfan, metamidofós (que teve seu uso proibido) e acefato (que passou por reavaliações). Encarando a situação sob o prisma do produtor, é contraditório que o mesmo governo que incentiva os investimentos através da concessão de crédito para financiamento de máquinas e equipamentos inviabiliza o uso de tecnologias imprescindíveis para controle de pragas, algumas das quais fazem parte do atendimento a requisitos fitossanitários negociados com parceiros internacionais. A falta de consistência na política agrícola brasileira, causada pela falta de uma visão sistêmica, é um fator que preocupa o produtor. A substituição de tecnologias deve considerar também aspectos como a necessidade de ampliar o número de aplicações e de alterar as tecnologias de aplicação pois tudo isso incorre em custos. Deve, também, considerar se haverá aumento da exposição do aplicador e de polinizadores. Faz-se necessário também compreender um pouco melhor os impactos dos polinizadores para a cultura do algodão. O algodão não é plantado
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em terras de primeiro ano, ou seja, ele sucede plantios de culturas como soja, milho, etc. Portanto, não se pode atribuir o efeito sobre polinizadores como causados exclusivamente pela cultura do algodão, pois a exposição já vinha acontecendo em cultivos anteriores. É improvável que um produtor de mel busque parcerias com produtores de algodão para movimentar suas colmeias. Além disso, observadas as leis ambientais do Brasil e mantidas as áreas de reserva previstas, pressupõe-se que os polinizadores encontrem habitats adequados e não forrageiem nas áreas de algodão. A ABRAPA propôs ao MAPA e ao IBAMA um termo de referência para pesquisa sobre o impacto de neonicotinoides sobre polinizadores, os potenciais produtos substitutos e a adaptação do produtor às novas alternativas. A cultura do algodão exige que haja um leque de opções tecnológicas para controle de pragas, com custo compatível com os produtos atualmente utilizados.
USO
N EONICOTINOIDES NO B RASIL - S ITUAÇÃO A TUAL DOS P RODUTOS R EGISTRADOS DE
Luís Eduardo Pacifici Rangel, Marcos Botton, Geraldo Papa, Pedro Takao Yamamoto & Samuel Roggia
O impacto de neonicotinoides sobre polinizadores não é um assunto novo no Brasil, tanto a indústria quanto os agentes reguladores têm consciência desse impacto há um certo tempo mas, hoje, a sociedade tem colocado um peso muito grande sobre o impacto negativo, o que levou à abertura do processo de reavaliação, conforme descrito no primeiro artigo desta publicação. A reavaliação é absolutamente legítima, inclusive ao tratar a problemática das tecnologias de aplicação. O IBAMA considerou necessário restringir o uso de neonicotinoides de maneira cautelar e com base em avaliações iniciadas em 2009. Embora algumas pessoas questionem sobre a legitimidade de adoção de medidas de mitigação de risco sem a devida avaliação de risco que, via de regra, precede a decisão de gerenciamento. De fato, os riscos já eram bem conhecidos através de documentos da FAO e outros órgãos internacionais. Obviamente, o governo brasileiro está identificando lacunas na pesquisa realizada sob as condições locais para nortear a tomada de
decisão, mas este é um desafio a ser enfrentado de maneira coordenada. As restrições quanto ao uso de neonicotinoides suscitaram discussões entre os profissionais da Agronomia, principalmente aqueles com atuação em grandes culturas como cana-de-açúcar, soja, algodão, etc, que tiveram que buscar alternativas para manejo de pragas em regiões de cerrado. Neste artigo, será discutido o impacto que uma possível retirada dos neonicotinoides teria sobre a agricultura brasileira, considerando-se efeitos de longo prazo sobre os sistemas de manejo integrado de pragas e os programas e monitoramento e manejo de resistência de pragas a inseticidas e isso também tem a ver com a sustentabilidade de atividade agrícola.
Há uma pressão muito grande por parte da bancada ruralista do Congresso Nacional para que se flexibilizassem os contratos de forma a viabilizar que os insumos adquiridos com até oito meses de antecedência pudessem ser 47
Um produto não perde sua eficácia de maneira rápida, mas pode ter seu custo de oportunidade reduzido devido a um menor efeito residual quando comparado com outras alternativas disponíveis o mercado, resultando na necessidade de maior número de aplicações e maior custo de operação.
LUÍS RANGEL: A questão é, dentro da perspectiva de proteção a polinizadores, gerenciar o risco ambiental representado pelos agrotóxicos, integrando o conhecimento agronômico.
usados. Além disso, em estados em que a aplicação aérea de defensivos é rotina, como o Mato Grosso, é normal que os produtores rurais efetuem a contratação de horas de avião no início da safra. Portanto, o MAPA considerou que o sistema de produção não poderia ser drasticamente modificado e, através de negociação com o IBAMA, buscou gerenciar a medida cautelar do IBAMA para a safra 2013. Quando se fala em buscar alternativas aos neonicotinoides, além da questão agronômica, deve-se considerar também o aspecto econômico. 48
Por outro lado, um produto pode ser mais caro mas ser mais interessante por ser mais moderno, mais seletivo e mais tecnológico, características que o tornam interessantes em sistemas de produção altamente tecnificados com a soja e algodão no cerrado brasileiro. Além disso, é imprescindível que o agricultor possa contar com uma boa gama de ferramentas para manejar pragas. É consenso entre pesquisadores da área de MIP que a questão não é provar que os agrotóxicos não matam as abelhas e sim, dentro da perspectiva de proteção a polinizadores, gerenciar o risco ambiental representado por essas tecnologias. Integrar o conhecimento agronômico com a questão dos polinizadores é um desafio extremamente complexo e que depende, inicialmente, de um diagnóstico dos problemas reais, de uma mensuração de impactos, passando pela percepção de risco e envolvendo a Embrapa e outros órgãos de pesquisa em todas as etapas do processo, para que a ciência seja usada tanto para desenvolver metodologias que permitam conciliar o desenvolvimento agrícola e a proteção aos polinizadores quanto para pautar as decisões regulatórias. No que tange às alternativas de controle, é importante lembrar que o registro de agrotóxicos no Brasil está fundamentado em três aspectos: a avaliação toxicológica, a avaliação ecotoxicológica e a avaliação de eficácia agronômica. Todos os produtos registrados passaram, sem exceção, por
Numa reavalização, o foco será colocado nos alvos biológicos e serão resgatados os pilares do Manejo Integrado de Pragas, como o monitoramento. (Foto: Agropec)
essas três avaliações. Portanto, se ele está sendo comercializado no Brasil, é porque, em primeiro lugar, um engenheiro agrônomo estudou o produto em campo e verificou sua eficácia para controlar a praga para o qual o produto está registrado. A eficácia desse produto não tende a mudar, a não ser diante de algum fenômeno populacional como a seleção de populações resistentes devido ao manejo inadequado. A resistência a defensivos foi um dos fatores que provocaram discussões com o setor para se estimular uma possível reavaliação agronômica de algumas classes de produtos, algo inédito no Brasil e extremamente desafiador por ser totalmente diferente de uma reavaliação toxicológica ou ambiental. Os quatro produtos em reavaliação pelo IBAMA são moléculas de alta tecnologia, com efeito
residual específico e que dão ao produtor uma margem de oportunidade diferenciada. Em sistemas que utilizam um grande número de aplicações, como o algodão, essas características são altamente desejáveis. Por isso, quando o MAPA recebe laudos demonstrando a ineficiência de um agrotóxico, pode iniciar uma reavaliação agronômica e isso é complexo pelo fato dos laudos serem feitos por ingrediente ativo e não por alvo biológico. Numa reavaliação, o foco vai ser nos alvos biológicos e resgatando os cinco pilares do MIP. As recomendações do MAPA para esta questão são: Desenvolver alternativas de manejo e práticas agrícolas para mitigar o risco de exposição de polinizadores a neonicotinoides, tais como áreas de escape e bordaduras; 49
profissional que prescreve quanto o usuário final do produto não têm onde buscar informações. A interação com as entidades de representação de indústrias de agrotóxicos e de empresas de aplicação aérea de agrotóxicos é fundamental.
MARCOS BOTTON: O setor de frutas
Com relação ao fomento de pesquisa, os recursos financeiros necessários não estão disponíveis no MAPA de maneira previsível e continuada e, portanto, o setor privado poderia se comprometer como forma de garantir que as pesquisas necessárias para tomada de decisão por parte dos órgãos reguladores sejam executadas dentro de um cronograma previsto. Nós precisamos de trabalhos científicos isentos e sem viés ideológico ou preconceituoso.
subtropicais e temperadas no Brasil perdeu, nos últimos seis anos, pelo menos sete inseticidas que eram autorizados para controlar pragas- chave como a mosca-das-frutas.
Posicionamento adequado dos produtos em função da fenologia da cultura; Maior interação com apicultores e meliponicultores, no sentido de orientá-los quanto ao manejo de suas colmeias em áreas próximas a agroecossistemas; Orientação a profissionais responsáveis pela recomendação de produtos e práticas agronômicas. O MAPA reconhece, também, que o Brasil precisa avançar muito em termos de comunicação de risco de agrotóxicos, pois as bulas não cumprem esta função de maneira adequada e tanto o 50
VIDEIRA,
MACIEIRA,
MORANGUEIRO E FRUTAS DE CAROÇO
Os produtores de frutas subtropicais e temperadas no Brasil estão plenamente conscientes sobre a importância das abelhas pois são culturas que dependem amplamente da melitofilia para boa produtividade e qualidade. É normal, inclusive, que os produtores mantenham colmeias nas suas propriedades. Os dados sobre mortalidade de abelhas são circunstanciais e não há uma coleta sistemática de informações que permitam afirmar que as populações de abelhas estão sendo afetadas pelas práticas agrícolas adotadas. Faltam, também, informações científicas sobre o papel que as abelhas nativas desempenham nos nossos agroecossistemas. O setor de frutas subtropicais e temperadas no Brasil tem sofrido pelo reduzida disponibilidade deagrotóxicos autorizados para o manejo de
pragas. Nos últimos seis anos, os produtores perderam pelo menos seis inseticidas que eram autorizados para controlar pragas chave como a mosca-das-frutas e cochonilhas. Os fosforados foram retirados da grade de produtos autorizados e substituídos por piretroides e neonicotinoides, sendo que estes últimos são importantes o setor. No caso da cultura da videira, os neonicotinoides são fundamentais para o manejo principalmente de insetos sugadores sendo que as aplicações são realizadas principalmente via solo. Os neonicotinóides também são empregados para o manejo de tripes, porém, neste caso existem alternativas autorizadas para o controle Uma particularidade do sistema de produção de frutas subtropicais e temperadas no Brasil é que a cobertura do solo é mantida, como uma estratégia para manter a biodiversidade e as populações de inimigos naturais, principalmente de ácaros fitófagos. Alguns pesquisadores questionam que os neonicotinoides aplicados via aérea podem cair nas plantas em floração presentes na vegetação presente no interior do pomar e impactar as abelhas que venham a entrar em contato com estasflores porém, não há estudos conclusivos. Em 2010, entraram no mercado os produtos genéricos do imidacloprido, o que resultou na redução de preço do produto para cerca de 33% do valor e os neonicotinoides passaram a ser alternativas interessantes aos organofosforados. Hoje, o setor de frutas subtropicais e temperadas não tem mais produtos com ação de choque para insetos sugadores e mastigadores e a única opção disponível no momento é o imidacloprido e o thiametoam. Portanto, numa eventual suspensão de uso desses produtos, os setores da videira, macieira, frutas de caroço ficarão sem alternativas para controle de pragas chave. O uso de piretroides vem aumentando na fruticultura, o
que pode ser considerado um retrocesso. Trata-se de um grupo de produtos não seletivos e com forte impacto sobre populações de inimigos naturais e que, portanto, acarretam o aumento de importância de pragas secundárias como ácaros e cochonilhas. A liberação de polinizadores criados em laboratório nos agroecossistemas desponta como uma realidade possível e interessante e alinha-se ao objetivo dos setores mencionados, que é produzir frutas com respeito ao meio ambiente.
CITRICULTURA Para a citricultura, o MIP é a solução para conciliar a proteção dos polinizadores à atividade agrícola. Diferentemente das fruteiras de clima subtropical e temperado mencionadas anteriormente, a citricultura não depende da polinização por abelhas, mas a citricultura é importante para a atividade apícola, pois o mel da florada de laranjeira é um dos mais apreciados no Brasil. Um outro aspecto é que observações em pomares cítricos demonstraram é que a aplicação de neonicotinoides não causou a redução de visitas de abelhas às flores de citros. É importante mencionar que um sistema de produção que dependa de 28-30 aplicações de agrotóxicos por safra como a citricultura não pode ser considerado sustentável. Os neonicotinoides não são os únicos produtos utilizados, mas o que preocupa em relação a eles são os efeitos subletais que podem ter sobre as populações de polinizadores. Os estudos têm sido realizados na Europa, mas no Brasil há pouco investimento em pesquisa sobre efeitos subletais para, então, propor as estratégias de mitigação de risco adequadas.
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Europeia e EUA. Isso se faz necessário em função do Brasil ser o principal exportador de suco de laranja. Essa lista é muito mais restritiva do que a lista de produtos registrados pelo MAPA, ou seja, o leque de opções para rotação de ativos é restrito. Caso os neonicotinoides sejam retirados dessa lista, o produtor de citros precisará de um tempo para redefinir suas estratégias de manejo de pragas e isso não acontece em uma ou duas safras.
A LGODÃO PEDRO YAMAMOTO: O que preocupa em relação aos neonicotinoides são os seus efeitos subletais sobre polinizadores e é necessário investir em pesquisa nesta área para propor estratégias de mitigação de risco adequadas.
O setor de citricultura relatou problemas de exposição de abelhas a inseticidas, mas muitas observações são circunstanciais e não comprovadas cientificamente. Por outro lado, há experiências bem sucedidas de convivência entre citricultores e apicultores, nas quais os primeiros comunicam com antecedência sobre as datas em que serão realizadas aplicações de agrotóxicos. Os neonicotinoides fazem parte de uma lista de produtos autorizados para uso na citricultura validada por um comitê que se baseia em legislações internacionais, como da União 52
Quando comparados aos inseticidas convencionais, ou seja, organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretroides, os neonicotinoides apresentam a vantagem de ter uma DL50 mais alta, classificação toxicológica IV e maior segurança para mamíferos. Associe-se a isso a excelente ação sistêmica e maior efeito residual e o resultado foi um aumento no uso de neonicotinoides em diversas culturas no Brasil. Por esse motivo, quando se instaurou o processo de reavaliação desses produtos, o setor privado se viu sem opções de manejo. O fenômeno de colapso de colônias vem sendo verificado na Europa desde o início da década de 1950 e, provavelmente, como reflexo do aumento de urbanização e redução de hábitats nativos, mas não há dados conclusivos sobre o papel que os neonicotinoides podem ter nesse processo. No Brasil, não há serviços que monitorem as populações de abelhas e que permitam inferir que o mesmo fenômeno de colônias esteja acontecendo. O que realmente preocupa são as práticas agrícolas adotadas no Brasil que, ao permitirem o
uso do solo durante praticamente todo o ano, favorecem a proliferação de pragas como, por exemplo, a Helicoverpa armigera e o resultado é a necessidade de um número maior de intervenções com inseticidas. O ponto é que, devido ao número reduzido de ingredientes ativos disponíveis para manejo, o processo de seleção de linhagens resistentes é acelerado, fazendo com que produtos anteriormente eficazes venham perdendo eficácia. Como estratégias para mitigação de risco de resistência, apregoa-se o manejo e a redução de uso, além de métodos culturais e manipulação de hábitat. Na Austrália, a Helicoverpa foi manejada com medidas básicas como o vazio sanitário, a destruição de soqueira no momento adequado e a retirada de plantas voluntárias. Essas práticas reduzem os níveis populacionais e, consequentemente, a necessidade de aplicação de inseticidas. Este exemplo ilustra que o manejo adequado e a conjugação de métodos de controle químicos e culturais pode ser usada em favor da preservação das populações de polinizadores, sendo necessário conduzir estudos no Brasil para subsidiar o processo de reavaliação. Caso tiametoxam e imidacloprido sejam banidos da cultura do algodão, o primeiro impacto seria, provavelmente, um aumento populacional expressivo da população de mosca-branca (Bemisia tabaci). Trata-se de um organismo com alta plasticidade genética, ou seja, com alto potencial de desenvolver populações resistentes a métodos de controle. Além disso, são pragas polífagas. Um possível substituto poderia ser o
GERALDO PAPA: A adoção de práticas de Manejo Integrado de Pragas será fundamental para alcançar a preservação das populações de polinizadores.
dinotefuran, que também é um neonicotinoide. Organofosforados e piretroides não têm eficácia para o controle de insetos sugadores e, consequentemente, seria necessário realizar de 30 a 40% mais aplicações de inseticidas.
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C ONVIVÊNCIA ENTRE A G R I C U LT U R A E A P I C U LT U R A Alcindo Alves, Edmundo Marchetti & Ricardo Costa Rodrigues de Camargo
Neste artigo, serão apresentadas experiências, que demonstram como a relação apicultura e agricultura no Brasil ainda é incipiente e pouco integrada e desenvolvida, como ocorre em outras potencias agrícolas no mundo, como os Estados Unidos da América e alguns países da Europa. No contexto mundial atual da busca da sustentabilidade na produção de alimentos, o serviço de polinização por abelhas promove um ganho de 112 bilhões de dólares anualmente, onde as abelhas são responsáveis pela polinização de 70% das culturas agrícolas e por 85% de toda a flora existente na natureza. Em contraponto a esse benefício direto a partir do uso integrado de abelhas na agricultura, nos últimos 40 anos, houve um aumento de 700% no uso de agrotóxicos no mundo, o que tem gerado impactos extremamente severos para a manutenção dos polinizadores, fato já comprovado por inúmeras pesquisas e que levaram recentemente a proibição temporária (dois anos) de alguns desses produtos (neonicotinoides) na Europa. O declínio de polinizadores no mundo tem gerado
grande preocupação da classe científica e do setor produtivo internacional, sendo que os estudos internacionais relacionados com o “Colapso de Desordem das Colmeias” (em inglês CCD) ou simplesmente com o “desaparecimento das abelhas” indicam que não existe um único fator causando essa situação e que existe uma interação e sinergia entre os inúmeros fatores, mas que a contaminação pelos agrotóxicos e suas implicações, sem sombra de dúvida, é um desses fatores. Dessa forma, é importante que indústria de agrotóxicos e aplicadores estejam cientes de que é fundamental que sejam desenvolvidos sistemas de manejo de pragas, que preservem as abelhas e os polinizadores de maneira geral. Também se torna importante numa estratégia integrada de que os agricultores sejam mais bem orientados, quanto aos produtos usados para controle de pragas e perigos a eles associados, tanto para o ser humano quanto para as abelhas e ao meio ambiente em geral. Nesse cenário preocupante, é de fundamental importância para a sustentabilidade da agricultura brasileira, que os apicultores (criadores de abelhas 55
O apicultor e o meliponicultor precisam ser entendidos como elos fundamentais em sistemas de produção vegetal e não como coadjuvantes do processo. (Foto: Edmundo Marchetti)
com ferrão, africanizadas) e meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão) sejam valorizados, que suas demandas sejam consideradas e que essas cadeias produtivas sejam reconhecidas e apoiadas como estratégicas para o desenvolvimento sustentável de nosso país, pois são escassos nos modelos agrícolas de produção atuais, aqueles sistemas, que podem ser desenvolvidos de forma integrada a outros sistemas de produção vegetal, propiciando ganhos 56
econômicos diretos às culturas agrícolas associadas, gerando empregos e renda para os pequenos e médios produtores e ainda serem benéficos e fundamentais para a conservação de nossos ecossistemas e de nossa rica biodiversidade. Mesmo com toda a importância que vem sendo dada no mundo em relação ao papel dos polinizadores e a preocupação com seu declínio,
no Brasil as relações entre apicultores e outros produtores rurais ainda é pouco desenvolvida e muito distorcida e desequilibrada na relação de forças entre os apicultores e os atores do agronegócio. Enquanto em país com os EUA, a atividade historicamente é reconhecida e valorizada e os apicultores têm no aluguel de suas colmeias para polinização de inúmeras culturas (amêndoas, alfafa, frutas, etc.) sua principal fonte de renda, chegando ao ponto de que o mel se transforma em um subproduto da atividade, em nosso país essa relação é completamente inversa. No Brasil o apicultor na tentativa de encontrar um “pasto apícola” para suas colmeias e para a produção principalmente de mel, vislumbra a possibilidade de explorar áreas ocupadas com culturas agrícolas atrativas para as abelhas, como a laranja, café, etc. e em culturas florestais, como o eucalipto. Nessa necessidade de se obter novas áreas de produção para a atividade apícola, a partir da diminuição crescente das áreas florestais nativas, principalmente em estados com São Paulo, com grande ocupação de suas áreas agriculturáveis ocupadas com a cultura da cana de açúcar, os apicultores ainda enfrentam uma situação de desconhecimento generalizado por parte dos produtores rurais, a respeito dos benefícios que as abelhas podem gerar em determinadas culturas. Tal desinformação leva a uma situação completamente distorcida, onde o apicultor ainda tem que pagar um percentual de sua produção, pela liberação de áreas para o desenvolvimento de sua atividade ou até mesmo uma taxa por colmeias instaladas em sua propriedade. Nos EUA, os produtores de frutas (laranja, mirtilo, etc.) e outras culturas (amêndoas, alfafa, etc.) que dependem exclusivamente ou não das abelhas para polinização entendem que o ganho que se pode obter em produtividade e qualidade do
produto final é altamente compensatório e consideram esses custos adicionais, do aluguel de colmeias em seus sistemas de produção, como investimentos e não como gastos. Aliado a esse verdadeiro despautério que ocorre em nosso país, do não reconhecimento econômico e ambiental promovido por sua atividade, os apicultores e meliponicultores ainda sofrem um risco enorme da perda de suas colmeias e contaminação de seus produtos pelo uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos. Esses riscos tem se mostrado cada vez mais reais, na medida em que nos últimos anos inúmeros apicultores vêm perdendo suas colmeias, em várias regiões do país, como no Estado de São Paulo. Essa situação é agravada pela falta de uma política pública que investigue essas perdas e do apoio do poder público ou privado na recomposição desse plantel e na mitigação dos prejuízos causados por essas perdas, que tem sido exclusivos dos apicultores. Quem conhece a atividade apícola, sabe que um plantel formado e em plena produção não se recompõe da “noite para o dia” e serão necessários novos investimentos e alguns anos para se chegar ao patamar de produção original. Nesse sentido, é fundamental que esses fatores sejam identificados e considerados pelo poder público, pelas empresas de agrotóxicos e pelo agronegócio em geral, no sentido de que a partir de uma ação articulada entre todos os atores envolvidos, seja fomentado um programa estratégico de desenvolvimento integrado dessas cadeias produtivas e de um mecanismo de mitigação e ressarcimento das perdas e prejuízos ao meio ambiente e aos produtores, onde os apicultores e meliponicultores passem a ser valorizados e considerados como elos 57
A apicultura não é uma atividade viável se não houver união e cooperativismo. (Foto: Edmundo Marchetti)
fundamentais para a sustentabilidade de sistemas de produção vegetal e na conservação de nossos recursos naturais e não como coadjuvantes do processo, ficando a margem do desenvolvimento no meio rural, ou sendo considerados verdadeiros “empecilhos” para o desenvolvimento do agronegócio.
A Associação foi fundada em 1984 por um grupo de cerca de 20 produtores com o objetivo principal de promover a apicultura. Entre as prioridades, estava à implantação de um sistema para certificação do mel e, então, foi criado o SISP em 2003. Em seguida, houve avanços quanto à rotulagem do mel produzido pelos associados, ou seja, o produtor entrega, beneficia e envasa o mel na entidade e pode optar entre comercializar com o rótulo da Cooperativa ou com rótulo próprio.
A
Em 1997, foi firmada uma parceria com a CONAB, que foi decisiva: no primeiro projeto, foram envolvidos 40 produtores, com entrega de 23 toneladas de mel para entidades de assistência, beneficiando 10.554 pessoas.
FAAMESP -
EXPERIÊNCIA DA
FEDERAÇÃO DOS
DAS
ASSOCIAÇÕES
APICULTORES
E
M ELIPONICULTORES DE
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SÃO PAULO.
DO
E STADO
Isso desencadeou a fundação da COAPIS, uma
cooperativa com o objetivo de viabilizar a comercialização do mel para a CONAB, visto que a Associação é uma entidade sem fins lucrativos. A missão da COAPIS é “Ser uma cooperativa reconhecida nacionalmente pela comercialização e a qualidade dos seus produtos e serviços, através da satisfação de seus cooperados e clientes”, pautando suas atividades em transparência, ética e integridade. A experiência foi exitosa, levando ao crescimento do associativismo. Hoje, cerca de 300 produtores estão associados em 2010. Atualmente, a Cooperativa recebe o mel do produtor, realiza as análises e, uma vez aprovado o lote, realiza o envasamento de maneira manual. Recentemente, foram aprovados projetos junto à Fundação Banco do Brasil e ao Instituto Votorantim, da ordem de R$ 500.000,00, que viabilizarão a aquisição de equipamentos para envase e a ampliação do entreposto. A capacidade de produção que, hoje, é de 350 kg de mel por dia poderá chegar a 750 kg de mel por dia, para atender a CONAB e outros clientes. Para facilitar a distribuição do produto para cidades mais distantes, foi fundada uma central de cooperativas. A Central faz projetos para venda de mel para merenda escolar, recebe o produto e distribui para os municípios. Isto facilita o trabalho, pois, ao invés de uma prefeitura fazer contratos com várias outras prefeituras para fornecimento de mel, é feito um contrato único com a Central. Essa organização levou ao aumento dos volumes comercializados: somente para o município de São Bernardo do Campo, são entregues duas toneladas por mês de mel, por exemplo. Em 2011, foi fundada a Federação de Apicultores do Estado de São Paulo, um reflexo do aumento da demanda por produtos apícolas e da necessidade de se conhecer melhor o setor e
ALCINDO ALVES: É fundamental que os agricultores estejam melhor orientados quanto aos produtos usados para controle de pragas e quanto aos perigos a eles associados, tanto para o ser humano quanto para as abelhas.
defender os interesses dos apicultores e meliponicultores do Estado. Hoje, a Federação conta com 23 afiliados em várias regiões do Estado, totalizando 13.500 apicultores e meliponicultores, com um plantel de 540 mil colmeias. Em média, cada produtor tem 40 colmeias e entrega uma tonelada de mel por ano. Apesar de haver poucos dados estatísticos, o estado de São Paulo desponta como o principal exportador brasileiro de mel e, portanto, requer que a atividade seja fomentada e apoiada de forma sistêmica e não pontualmente.
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Desde sua criação, a Federação tem se feito presente nos principais fóruns de discussão e representação da apicultura nacional, se articulando politicamente com outras Federações e a Confederação Brasileira de Apicultura – CBA e os órgãos públicos, como a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e na esfera federal com ministérios, como o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA e tendo participação efetiva na criação da “Bancada do Mel” na Câmara dos Deputados em Brasília, que tem o Deputado Federal Assis de Carvalho do Piauí como presidente. Todo esse trabalho vem sendo reconhecido e surtido efeito e recentemente a FAAMESP passou a integrar a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Mel e dos Produtos das Abelhas ligada ao MAPA, como membro efetivo, passou a compor a Diretoria atual da CBA e a partir de seu esforço e empenho de articulação local foi decisiva para a recomposição da Câmara Setorial dos Produtos Apícolas do Estado de São Paulo, ação estratégia que será fundamental para um trabalho articulado com os órgãos públicos e todos os atores envolvidos na busca do desenvolvimento da apicultura e meliponicultura paulista. Com essa visão, comprometimento e trabalhando de forma organizada, foi possível aumentar a remuneração do produtor através da agregação de valor: o mel entregue em balde para o PAA é vendido a R$ 6,00/ kg mas, no sachê, é vendido a R$ 15,00 o kg. A entidade vem trabalhando também junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, especificamente na Comissão de Estudos Especiais - CEE-87 criada para apoiar a melhoria de qualidade de insumos, utensílios e equipamentos e dos sistemas de produção voltados à cadeia produtiva da apicultura.
SOBRE
A
AAPISC
A Mel Ouro Doce é um entreposto de mel sediado em Santa Cruz do Rio Pardo, SP, com a missão de “produzir mel com excelência, objetivando a satisfação plena dos consumidores e principalmente interagindo com o meio ambiente de forma sustentável e transparente, embasado em um processo evolutivo constante, objetivando a qualidade de vida do ser humano”. A empresa conta, hoje, com cerca de 1.500 colmeias em produção e uma unidade de beneficiamento de mel e toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da atividade. O entreposto atende também os apicultores associados e tem 350 m² de área construída de acordo com as normas do SIF. A produção anual chega a 40 mil toneladas de mel, comercializadas em potes de 500g, bisnagas de 270g, sachês para merenda escolar e tambores de 285 Kg, que são vendidos para outros entrepostos que exportam para Alemanha, Itália e EUA. A Mel Ouro Doce atua através de contratos de arrendamento com fazendas de citricultura, silvicultura e mandioca, bem como com fazendas que tenham fragmentos de matas nativas. O principal produto é o mel de laranjeira, obtido através de uma parceria que iniciou em 2005 com a Agroterenas com 30 colmeias e que, hoje, utiliza 1.500 colmeias, as quais são instaladas a pelo menos 50 m para dentro das áreas de reserva de mata. Essas reservas de mata são importantes do ponto de vista do apicultor, pois garantem a oferta de recursos para as colmeias fora do período de florada da cultura. Na ausência dessas reservas de mata, o apicultor precisaria movimentar suas colmeias na busca de pasto apícola para a sua manutenção. No estado de São Paulo, os contratos de parceria
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As parcerias com o Sebrae, Banco do Brasil, sindicatos e outras organizações foram fundamentais para estruturar a Associação dos Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz do Rio Pardo e Região. (Foto: Alcindo Alves)
preveem o pagamento de 10% da produção anual de mel ao custo de R$ 5,00 por colmeia instalada na área comercial por ano e, caso haja perda de alguma colmeia, o prejuízo é arcado integralmente pelo apicultor. Em Santa Catarina, há situações em que os produtores de maçã pagam pela instalação de colmeias nos pomares, mas isso porque a cultura depende da polinização por abelhas para produzir frutos de boa qualidade, o que não é o caso dos citros e nem do eucalipto. Independente do tipo de contrato, as colmeias são instaladas fora do período de colheita ou outras atividades que dependam da presença de trabalhadores rurais. A parceria com a Agroterenas tem sido positiva graças ao diálogo e respeito mútuo e, mesmo com
algumas situações ainda não favoráveis ao apicultor como o ônus exclusivo para o produtor no caso de perda de colmeias, vem sendo apontada como um caso de sucesso de convivência harmoniosa entre agricultura e apicultura. A fazenda comunica as datas em que serão feitas as aplicações de agrotóxicos, tanto por via terrestre quanto por aplicação aérea. Dado o grande número de colmeias, se torna completamente inviável retirá-las a tempo, fato que pode levar a mortalidade e a perda de colmeias. Através de parcerias com SEBRAE, Banco do Brasil, Sindicato Patronal dos Trabalhadores Rurais, CATI, Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo, Fibria e Associação Comercial de Santa Cruz do Rio 61
Como assinalou Albert Einstein: "Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana"
Pardo, foi estruturada a Associação dos Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz do Rio Pardo e região (AAPISC). A AAPISC conta com 30 associados trabalhando em conjunto para fortalecer a atividade na região e organizar a cadeia produtiva. Apesar de existirem algumas outras iniciativas promissoras em relação à integração agricultura e apicultura, como é o caso da produção de melão no Nordeste, abacate no interior de São Paulo e maça em Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ver 62
próximo artigo), tais situações são pontuais e não refletem o potencial de exploração que temos em nosso país e de forma alguma, indica a valoração dos serviços prestados pelas abelhas e pelos apicultores, pois mesmo nos casos onde existe pagamento pelo uso das colmeias por parte dos agricultores, os valores praticados estão muito aquém do que é praticado no mundo. Por exemplo, nos EUA nos tempos pré“desaparecimento das abelhas” os valores de aluguel por colmeias giravam em torno de 50 a 70 doláres, sendo que hoje pela falta de oferta e
crescente demanda esses valores estão na faixa de 150 a 200 dólares por colmeia. É claro que devemos sempre considerar as características e realidades de cada setor e o cenário onde está inserido, mas não se pode aceitar que os valores praticados nesses poucos exemplos de integração em nosso país, se prestem na maioria dos casos, apenas para cobrir os custos envolvidos no transporte e instalação das colmeias no campo, o que é ainda pior nos casos extremos onde o apicultor tem que “pagar” para prestar um valioso serviço à cultura associada e que ainda assuma todo o ônus e risco da eventual perda de seu plantel duramente obtido com trabalho árduo e penoso. Dessa forma, a mensagem que o setor de apicultura gostaria de deixar é que a apicultura não é uma atividade viável se não houver união e cooperativismo não só entre os produtores, mas como todos os atores envolvidos na cadeia. Juntos, temos muito mais condição de superamos os diversos desafios necessários para estruturar o setor e, colocar definitivamente a apicultura e a meliponicultura no lugar que merecem no cenário do desenvolvimento rural de nosso país. Só de forma integrada e onde todos os atores assumam seus respectivos papeis e suas responsabilidades, poderemos promover o desenvolvimento sustentável de nosso meio rural, integrando o crescimento da agricultura brasileira com a preservação de nossas abelhas e a conservação de nossos recursos naturais e da vida em nosso planeta.
terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana" Trechos da carta escrita em 1850 por um Chefe Indígena de Seattle ao Presidente dos EUA, quando ele lhes propôs comprar sua terra: “A Terra não pertence ao homem; o homem pertence à Terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a Terra recairá sobre os filhos da Terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.” “O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontecerá com o homem. Há uma ligação em tudo.” "Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da Terra" Para maiores informações sobre a relação abelhas e produção de alimento acesse: www.semabelhasemalimento.com.br. Campanha “Sem abelha, sem alimento”, que tenta trazer mais informações ao público em geral, sobre o importante papel que as abelhas desempenham e instiga os órgãos públicos e privados a fazerem investimentos mais consistentes na pesquisa e em ações de preservação das abelhas.
Nesse sentido, gostaríamos de deixar alguns pensamentos que podem trazer uma melhor reflexão sobre a preservação da vida em nosso planeta: Como assinalou Albert Einstein: "Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade 63
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C ONVIVÊNCIA ENTRE F R U T I C U LT U R A E A P I C U LT U R A Tom Prado & Leandro Bortoluz
FRUTICULTURA
TROPICAL
O meloeiro, assim como muitas fruteiras de clima tropical, é uma cultura de suporte fitossanitário insuficiente e o setor está muito engajado com a questão de rastreabilidade, tanto para garantir que os frutos cheguem ao consumidor com os níveis aceitáveis de agrotóxicos quanto para assegurar que bactérias como Salmonella spp. e Escherichia coli estejam contaminando o produto. É um setor que busca a qualidade em todas as etapas de produção e, como depende da polinização cruzada para produzir frutos, a questão de proteção de polinizadores é de alta relevância. A obtenção de frutos com boas características depende da ocorrência de 10 a 15 visitas por abelhas à flor. Cada planta tem, em média, 80 flores na proporção de uma flor masculina para cada 18 flores hermafroditas. As flores hermafroditas são produzidas durante um período de 16-20 dias, que é uma janela curta para que ocorra polinização. Elas recebem mais visitas por abelhas do que as flores masculinas, possivelmente em função da maior oferta de néctar. As flores são viáveis durante apenas um dia, das 5h da manhã até o início da noite.
A presença de um maior número de colmeias no plantio de melão levou a um aumento na produtividade. No entanto, um dos gargalos para o uso de abelhas em áreas de produção de frutas no Nordeste é a fuga dos enxames em função da baixa disponibilidade de água. Nos últimos dois anos, houve uma redução drástica no número de enxames e, consequentemente, na disponibilidade de colmeias para arrendar. É prática corrente remunerar o apicultor pelo arrendamento das colmeias e o mel fica para o apicultor. Durante o período seco, os enxames migram anualmente em busca de locais com maior oferta de água e de recursos florais. No ano seguinte, com o início da estação de chuvas (que coincide com o final da colheita), os exames chegam de outra região e formam-se novas colmeias. Como o plantio do melão ocorre no período seco, ocorre uma alteração na disponibilidade de pólen, o que acaba colaborando com a sobrevivência das colmeias na estação seca. Os neonicotinoides são usados na cultura para controlar a mosca-branca e não foram observados 65
feitas com tratores com pulverizadores com sistema vórtex, com jato dirigido para o solo para atingir as flores e folhas. Muitas aplicações são feitas durante a noite, até as 4h da manhã pois as flores se abrem às 5h e, assim, evita-se o contato dos órgãos reprodutivos da flor com os produtos agrotóxicos. Alguns produtores têm estruturas próprias para a produção de rainhas para reposição em casos de colmeias sem rainha. Podem também, produzir alimentos com xarope nos apiários para oferecer às colmeias em épocas de baixa oferta de flores.
TOM PRADO: O setor de frutas tropicais espera maior agilidade no registro de defensivos químicos e biológicos, ferramentas indispensáveis para realizar a rotação de ingredientes ativos preconizada pelo MIP.
casos de mortalidade de abelhas associados ao uso desses produtos. As práticas de gestão apícola têm se mostrado adequadas tanto para enfrentar um gargalo natural que é o período de seco quanto para garantir a sanidade vegetal e a sanidade apícola ao longo de todo o ano. Para evitar o uso de defensivos no início do ciclo, as plantas são cobertas com TNT (tecido-nãotecido) durante 21 dias, o que provê uma barreira física ao ataque por pragas. Passado esse período, são efetuadas até quatro aplicações de neonicotinoides por safra, sem repetir o ingrediente ativo. Todas as pulverizações são 66
As colmeias são instaladas nos quebra-ventos e é feito um monitoramento constante dos enxames e também a verificação de ocorrência de Varroa. São tomadas medidas de prevenção da saraça, uma formiga que ataca as colmeias. O sombreamento das colmeias é feito evitar o aumento da temperatura no interior das mesmas, quando necessário. A gestão de uso das colmeias é feita de maneira a respeitar um intervalo de 21 dias de descanso, para que elas possam recuperar seu vigor. Os apiários móveis colaboram também para reduzir o impacto sobre as colmeias. Toda a movimentação é feita durante a noite e em baixa velocidade, para evitar danos mecânicos. Caso as colmeias sofram algum dano, há infraestrutura para recuperação. Anteriormente, eram usadas 1 ou 2 colmeias por hectare de meloeiro e, atualmente, são usadas quatro. O setor espera é maior agilidade no registro de defensivos para a cultura, tanto químicos quanto biológicos, como ferramentas indispensáveis para realizar a rotação de ingredientes ativos preconizada pelos programas de MIP. Ferramentas para controle da mosca-minadora
No sul do Brasil, é comum que os produtores de maçã e pera paguem pela locação de colmeias durante a florada, pois são culturas que dependem da polinização por abelhas para produzir frutos de boa qualidade. (Foto: Leandro Bortoluz) são amplamente desejáveis pois a praga tem aumentado em importância devido às condições ecas nas últimas três safras. O desenvolvimento de cultivares resistentes a pragas e doenças e de alta aceitabilidade pelo mercado também seria uma estratégia. Finalmente, o incentivo a projetos como o Robot Bees e Micro Air Vehicle Projects. Todas essas ações contribuirão para o melhor manejo apícola e, portanto, promoverão a melhor convivência entre agricultura e apicultura.
FRUTICULTURA
TEMPERADA
O mundo produz, anualmente, 75 milhões de toneladas de maçã e o Brasil é responsável por 1,2 -1,4 milhões de toneladas, produzidas em 40 mil hectares plantados. Cerca de 3.300 produtores, principalmente nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, são os responsáveis pela obtenção de frutos de alta qualidade que já conquistaram diversos mercados internacionais. Com o desenvolvimento de variedades com 67
174 mil empregos diretos somente no setor da maçã. O uso de colmeias em pomares aumenta em 9099% a produção em maçã, sendo que Apis mellifera é, de longe, a principal espécie polinizadora. A recomendação técnica é de usar de 3 a 5 colmeias por hectare, buscando usar sempre enxames fortes (35-50 mil abelhas e em torno de 100 abelhas saindo do alvéolo por minuto).
LEANDRO BORTOLUZ: É importante conduzir estudos que evidenciem o efeito de cada produto agrotóxico sobre polinizadores, considerando efeitos de repelência, mortalidade de adultos e estágios imaturos e reprodução da rainha.
menor exigência em frio, a cultura tem se expandido também para São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. Trata-se de uma importante atividade para os estados do sul do Brasil, com geração de 1,5 empregos diretos por hectare. A pomicultura, ou seja, a produção de maçã e pera, é um setor que depende totalmente das abelhas. Portanto, pode-se dizer que as abelhas são responsáveis pela manutenção de pelo menos
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O setor é pioneiro na adoção da Produção Integrada. Os primeiros estudos foram realizados em 1996 e, em 1998, a norma técnica foi publicada e os primeiros pomares foram certificados em 2001. Isto foi muito importante para promover as boas práticas agrícolas, como a calibração e certificação de pulverizadores, o armazenamento correto de defensivos e outras técnicas que reduzem o impacto ambiental da atividade agrícola. A vazão dos pulverizadores foi ajustada para reduzir a deriva e economizar em até 30% o uso de combustíveis nos tratores. Seria importante conduzir estudos que evidenciem o efeito de cada produto agrotóxico sobre polinizadores, considerando efeitos de repelência, mortalidade de adultos e efeitos sobre estágios imaturos e reprodução da rainha. Essas informações seriam cruciais para um melhor posicionamento das aplicações e proteção dos polinizadores. Os produtores de maçã estão muito conscientes da importância de preservar as abelhas e usam somente produtos registrados para a cultura. Os apiários estão, muitas vezes, instalados ao lado do pomar ou até mesmo dentro deles. Finalmente, a exemplo do que é feito nos EUA, seria interessante para o setor que houvesse a possibilidade de comprar insetos polinizadores, tais como as mamangavas usadas em cereja.
I N I C I AT I VA S D O S E T O R D E I N S U M O S A G R Í C O LA S Sílvia Fagnani
O SINDIVEG constituiu um Grupo de Trabalho para
MAPA e órgãos de pesquisa. O grupo também
estudar a questão de polinizadores, que reúne
está envolvido na preparação de treinamentos
todos os atores da indústria de insumos agrícolas.
que serão ministrados pelas indústrias e pela
Esse grupo está dividido em dois subgrupos.
ANDEF, com edição de material educativo. Além
O Grupo de Trabalho Geral faz o acompanhamento da legislação nacional e internacional, levanta que produtos estão sendo banidos a nível internacional e acompanha os grupos de trabalho de reavaliação ambiental. Esse grupo tem ações coordenadas entre o setor
disso, o GT está realizando uma pesquisa de percepção de risco sobre o uso de defensivos agrícolas e a redução de colmeias. O que se pretende é levantar o grau de informação e também a percepção de risco por parte dos apicultores brasileiros.
produtivo e a indústria, com entidades de
O Subgrupo de Contingências é formado por
representação e apicultores participando da
profissionais preparados para se reunirem diante
elaboração de notas técnicas juntamente com o
de qualquer comunicação de incidentes
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O SINDIVEG promove a capacitação de pilotos agrícolas e agricultores sobre boas práticas de aplicação. (Fotos: SINDIVEG)
envolvendo morte de abelhas. Esse grupo foi
em outros países. Os resultados das coletas
constituído após o incidente ocorrido em Bauru,
realizadas em situações de mortandade
SP, e tem acompanhado as matérias publicadas e
permitirão um retrato mais preciso sobre a
realizado ações junto aos apicultores. Tem,
influência do uso de defensivos e comparar o
também, coletado amostras para análise
quanto eles são deletérios quando comparados
laboratorial para verificar se realmente houve
com outros agentes naturais de mortalidade, tais
envolvimento de defensivos agrícolas no
como a Varroa e Nosema. E, muito importante, os
incidente. Estão sendo acompanhados também os
dados serão obtidos com base em casos do Brasil.
inquéritos policiais. Ao Subgrupo de Relações Governamentais compete alinhar ações com os três órgãos registrantes, o MP e parlamentares.
O setor está trabalhando também em uma pesquisa sobre percepção de risco pelos apicultores. Houve um atraso na implementação da pesquisa pela falta de cadastros atualizados de
O Subgrupo de Contingência está preparado para
apicultores no Brasil e sobre o perfil desses
dar resposta em até 24 horas após o recebimento
apicultores, até porque as diferentes associações
de uma notificação de alta mortandade de
fazem a estratificação de produtores de maneira
abelhas. Se houver anuência do apicultor, a
não harmonizada.
equipe se desloca até a propriedade para coleta de amostras, as quais são enviadas para análise em laboratórios acreditados. Através destas iniciativas, o setor de insumos agrícolas demonstra seu comprometimento com a proteção de polinizadores, tanto no Brasil quanto 70
Os grupos e subgrupos trabalham de maneira coordenada, com reuniões periódicas e foco na sustentabilidade da atividade agropecuária brasileira.
M ANEJO DE R ESISTÊNCIA DE P RAGAS A A GROTÓXICOS Geraldo Papa, Pedro Takao Yamamoto, José Francisco Garcia, Marcos Botton & Fábio Yoshio Kagi
A prevenção de resistência de pragas a métodos de controle (químicos, biológicos, plantas geneticamente modificados, etc) é considerada uma questão crucial, tanto por produtores quanto por indústrias. Aos produtores, a resistência é impactante pois leva a falhas no controle e à indústria, ela representa a perda precoce de uma tecnologia que custou milhões para ser desenvolvida. Além disso, a redução do leque de tecnologias disponíveis para controle de uma praga pode levar ao aumento do custo das poucas opções disponíveis, com consequências diretas para o consumidor. Apesar disso, o manejo da resistência não tem sido tratado de maneira adequada, o que se reflete em relatos repetidos de perda de eficácia e falha de controle. A falta de percepção pelo produtor sobre a criticidade deste assunto é um problema a ser atacado, ainda mais em função da mudança observada nos inseticidas nas últimas décadas. Na década de 1960, os produtos eram de espectro mais amplo, tais como fosforados, carbamatos e piretroides e levava de 7 a 12 anos para que fossem documentados os primeiros casos de
resistência. Atualmente, os inseticidas são muito mais seletivos e têm toxicidade muito menor ao ser humano e organismos não alvo, mas a resistência tem aparecido em menos de quatro anos após a introdução. A recente detecção da Helicoverpa armigera no Brasil e a dificuldade encontrada para seu efetivo controle alertam para a possibilidade de ter ocorrido a introdução de linhagens já resistentes a inseticidas. Em algumas regiões, foi observado que os produtores estão fazendo de 3-4 aplicações em soja com menos de 25 cm de altura. A situação é semelhante ao que ocorreu na Austrália na década de 1980. Na ocasião, foi realizado um programa de rotação de produtos mas, ao invés de realizar a rotação por propriedade, foi estabelecida a rotação por regiões. O Brasil precisa estabelecer programas que sejam efetivos para evitar que tecnologias inovadoras sejam perdidas devido a problemas de resistência de pragas. Em alguns casos, as próprias indústrias retiram os registros de produtos em situações de risco de resistência, com o objetivo de preservar a molécula. Um segundo ponto de melhoria é a questão da 71
GERALDO PAPA: A recente detecção da Helicoverpa armigera no Brasil e a dificuldade encontrada para seu efetivo controle alertam para a possibilidade de ter ocorrido a introdução de linhagens já resistentes a inseticidas. (Foto: Agropec)
mistura de produtos, que se tornou prática corrente entre os agricultores. Afora os aspectos regulatórios, as questões técnicas envolvendo as misturas em tanque precisam ser abordadas de maneira a prover ao produtor a orientação necessária para evitar o surgimento da resistência. Quando comparada à rotação, a mistura é menos efetiva para prevenir a resistência pois depende da recessividade do gene para resistência a ambos os componentes da mistura. A aplicação de defensivos sem critérios, sem base em monitoramento e diagnóstico adequados, contribui para a seleção de linhagens resistentes não só dos organismos alvo mas também de 72
outros que, no futuro, podem vir a atingir status de praga. Com relação ao uso de neonicotinoides em canade-açúcar, estima-se que eles promovam um incremento na produtividade, da ordem de 7 ton/ ha o que, em uma área de 2,5 milhões de hectares quer dizer um ganho de 17,5 milhões de toneladas por ano no Brasil. A retirada dos neonicotinoides, portanto, teria um impacto da ordem de 1 bilhão de reais, o que corresponde ao que é produzido em 270 mil hectares de cana-de-açúcar, suficiente para manter nove usinas funcionando. Os ingredientes
ativos disponíveis para controle de pragas como a cigarrinha Mahanarva fimbriolata são poucos e, na ausência de neonicotinoides, torna-se inviável realizar um programa de rotação de produtos e manejo da resistência. É necessário realizar investimento em P&D para desenvolver produtos para controle biológico, como a Cotesia flavipes, que tem boa eficácia em combinação com neonicotinoides, e o Metarhizium para controle da cigarrinha, que tem sido menos estudado. Embora a cana-de-açúcar não dependa da polinização por abelhas, o setor sucro-energético está consciente de que a deriva nas aplicações pode ter impacto sobre esses organismos e está trabalhando para desenvolver soluções para minorar estes impactos. Mas o setor não concorda que apicultores coloquem suas colmeias em áreas plantadas com cana-deaçúcar. A perda de moléculas e de tecnologias em função de resistência pode vir a tornar a produção agrícola insustentável. Esta é uma lição que já deveria ter sido aprendida pelo Brasil nas décadas de 1940 a 1960, quando o uso intensivo levou a problemas de resistência de pragas. Hoje, apesar de haver muito mais tecnologia, os erros são os mesmos. Toda essa discussão tem como pano de fundo o manejo. Não precisaríamos nos preocupar com problemas causados aos polinizadores nem com a resistência de pragas se o manejo estivesse sendo bem realizado. Urge compreender os agroecossistemas como
GERALDO PAPA: O desenvolvimento da resistência não interessa a ninguém. Problemas técnicos são passíveis de resolução, mas a resistência genética a métodos de controle é difícil de resolver.
partes de um sistema maior, pois estamos diante de pragas polífagas e que, em função das práticas agronômicas, têm encontrado condições para manter a população ao longo de todo o ano. O produtor deve se preocupar, hoje, com o histórico de uso da terra, numa visão de áreas amplas.
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A P L I CA Ç Ã O A É R E A D E A GROTÓXICOS: S ITUAÇÃO A T U A L E D E M A N DA S Ulisses Antuniassi, João Paulo Rodrigues da Cunha, Luiz Gustavo Asp Pacheco, Nelson Paim & José Annes
A tecnologia de aplicação consiste no emprego de conhecimentos científicos que permitam a correta colocação do produto biologicamente ativo sobre o alvo, no momento correto, na quantidade adequada, de forma econômica e com a menor contaminação ambiental. Portanto, a tecnologia de aplicação compreende o equipamento usado na aplicação em si e os adjuvantes para redução de deriva, têm grande impacto na eficácia de agrotóxicos. Este é um debate atual, num contexto de restrições ou proibições de uso dessas tecnologias aliado à falta de informação e à mídia sensacionalista. São temas técnicos e que devem ser abordados tecnicamente, à luz do conhecimento de análise de risco s, para que a comunicação à sociedade seja feita de maneira adequada.
S ITUAÇÃO
ATUAL
agrícola desde a primeira aplicação aérea de agrotóxicos registrada no Brasil, que ocorreu em 1947, em um programa do MAPA para controle de gafanhotos em Pelotas, RS. Em 1969, foi promulgado o Decreto-Lei 917/69, que atribui ao MAPA as responsabilidades de coordenar e fiscalizar a aviação agrícola, além de capacitar todos os entes envolvidos na atividade. Em 1992, essa atividade foi repassada para o setor privado pelo presidente Fernando Collor de Mello. Além de ser um instrumento antigo, outro complicador no arcabouço legal de aplicação aérea é o fato de que o MAPA entende que, de acordo com a Lei Federal de Agrotóxicos publicada em 1989, foi repassada à esfera estadual a competência de fiscalizar a aplicação, mas com intercâmbio de informações entre as SFAs e OEDSVs, para evitar duplicidade de fiscalização. É inegável o preconceito que ronda o tema “aviação agrícola” no Brasil. A Coordenação de Mecanização e Aviação Agrícola do MAPA vem
O MAPA acompanha as atividades da aviação 75
A tecnologia de aplicação evoluiu muito nas últimas décadas, tanto nos equipamentos quanto nos adjuvantes, resultando em aumento na qualidade da aplicação.
empreendendo esforços no sentido de revisar a legislação, que é antiga, e de publicar um manual de fiscalização das atividades aeroagrícolas, que trará diretrizes como distâncias mínimas e outras orientações relevantes. O MAPA retomou também as fiscalizações, buscando coordenar esforços com os órgãos estaduais de fiscalização de uso de agrotóxicos nos estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso para o correto atendimento da Instrução nº 01 MAPA/IBAMA. Entre as dificuldades encontradas estão a falta de capacitação e a indisponibilidade de um banco de dados de apicultores. Para exemplificar, a 76
legislação exige que o piloto agrícola passe por um curso específico e que o técnico agrícola acompanhe todas as atividades, além de ser capacitado como executor em aviação agrícola (também um curso específico). É necessário revisar o conteúdo exigido e uma melhor interlocução com a ANAC, bem como lançar o SIPEAGRO, que será um sistema para registro de estabelecimentos de aviação agrícola alimentado pelos próprios usuários. A criação da ANATER, com gestão compartilhada pelo MDA e MAPA, é bastante oportuna pois espera-se que ela colabore para difundir as informações com vistas a proteger polinizadores.
Outras ações são o incentivo à agricultura de precisão, cursos à distância e presenciais, parcerias institucionais e convênios com o poder público municipal. A certificação aeroagrícola é um programa interessante, que será acompanhado pelo MAPA. A revisão do marco regulatório é premente e certamente contribuirá, também, para desmistificar a aplicação aérea de agrotóxicos.
TECNOLOGIA
DE APLICAÇÃO
É importante iniciar a discussão reconhecendo que a tecnologia de aplicação de produtos agrícolas evoluiu nas últimas décadas, tanto no que diz respeito aos adjuvantes e as formulações dos produtos, que são tecnologias usadas dentro do tanque do pulverizador, quanto nos dispositivos de aplicação (as pontas de pulverização e atomizadores, por exemplo). O resultado é a melhor qualidade de aplicação, com tamanho de gotas adequado para se obter a cobertura desejada, garantindo o controle adequado de pragas, doenças e plantas daninhas. Além disso, é possível reduzir hoje o impacto das aplicações através do ajuste do tamanho de gotas para reduzir a deriva. Orientar o produtor e o aplicador sobre a tecnologia de aplicação é fundamental para que se obtenham os melhores resultados, e isso só poderá ser atingido através de um processo contínuo de educação. O tamanho das gotas numa pulverização afeta a forma como elas serão depositadas dentro do agroecossistema. Por isso é necessário conhecer o comportamento das pragas, doenças e plantas daninhas a serem controladas para se chegar a uma decisão sobre o tamanho mais adequado de gotas visando o desempenho adequado e a segurança da aplicação. Ainda, é preciso
ULISSES ANTUNIASSI: Conhecer os fatores que levam à deriva pode ajudar a mitigar os riscos através, por exemplo, do uso de adjuvantes e aplicadores adequados.
dimensionar corretamente os pulverizadores e ajustá-los de maneira a otimizar o desempenho operacional da aplicação. Embora a redução de volume de calda seja considerada como desejável em muitos casos, é necessário avaliar a questão com critério técnico pois esta opção poderá acarretar maior risco de deriva, pois em geral a aplicação de volumes reduzidos se faz com o uso de gotas mais finas. Neste caso, a tecnologia de aplicação deve ser cuidadosamente planejada com base nas condições climáticas, com extremo cuidado quanto aos limites de temperatura, umidade relativa e velocidade de vento. É imprescindível que o profissional responsável pela 77
todas as tecnologias que possam levar à redução de riscos e tornar a aplicação mais sustentável e com menor impacto. Além das técnicas mencionadas anteriormente, vale relembrar a existência dos sistemas de navegação com controle automático da pulverização, que reduzem o risco de erro do operador, e os sistemas de controle da altura da pulverização, que colaboram para a redução do risco de deriva. Por fim, o correto gerenciamento operacional, através de ferramentas que geram mapas para mostrar onde já foi feita aplicação também é possível. NELSON PAIM: Através de uma parceria entre ANDEF e SINDAG, foi criado o Programa CAS Certificação Aeroagrícola Sustentável, para capacitar os operadores agrícolas e qualificar empresas de aplicação aérea.
Em resumo, o sucesso da aplicação vai depender de: Condições climáticas favoráveis; Técnicas compatíveis com o nível de risco admissível; Conhecimento das características do espectro de gotas em função das condições climáticas e operacionais; Uso de tecnologias também dentro do tanque, como adjuvantes e formulações seguras;
recomendação de produtos trabalhe de maneira técnica e consciente, tanto em situação de aplicação aérea quanto terrestre. A deriva pode se dar para dentro ou para fora da área e existem diversos fatores climáticos que podem levar a essa perda. Conhecer esses fatores pode ajudar a mitigar os riscos através, por exemplo, do uso de adjuvantes e o espectro de gotas adequado. A simples substituição de um atomizador convencional por um de baixa deriva pode reduzir em até 40% o risco de deriva. Ainda, a combinação de uma ponta de pulverização de baixa deriva com o adjuvante correto pode reduzir em até 80% os riscos de deriva. Portanto, é importante pensar na técnica como um todo, reunindo no pulverizador (terrestre ou aéreo) 78
Conhecimento do agroecossistema, respeitando as particularidades das áreas em que deve haver a restrição das aplicações. Através de uma parceria público-privada envolvendo a ANDEF e o SINDAG, foi criado o programa CAS- Certificação Aeroagrícola Sustentável, com o objetivo de capacitar os operadores agrícolas, qualificar as empresas de aplicação aérea de forma que a atuação delas se paute em princípios técnicos, com maior sustentabilidade e qualidade. A meta é atingir pelo menos 75% dos operadores de aviação agrícola no Brasil, o que corresponde a cerca de 200 empresas. Trata-se de um programa de adesão voluntária e que se pautará no incentivo à
responsabilidade, à legalidade e à sustentabilidade das atividades aeroagrícolas.
TÉCNICAS
PARA
R EDUÇÃO
DE
DERIVA Em tese, o ideal é que a deriva fosse nula, mas o cotidiano das aplicações mostra que a é extremamente frequente que numa situação normal de campo algum nível de deriva sempre ocorra. Por isso é fundamental respeitar as faixas de segurança, que representam a distância mínima entre o local da aplicação e as áreas que precisam ser protegidas do risco de deriva, de acordo com a legislação vigente A modelagem da deriva de aplicações envolve diversas variáveis: espectro de gotas, condições climáticas, altura de lançamento e propriedades físico-químicas da calda, entre outros fatores. Independente do método de aplicação (aéreo ou terrestre), esses aspectos devem ser considerados de maneira conjunta. Portanto, seria inapropriado dizer, de maneira simplista, que um método ou outro cause maior contaminação pois esta é o resultado da combinação das variáveis citadas. Existe uma norma ISO para avaliar a deriva, adotada mundialmente. São procedimentos complexos e não há na prática resultados de robustos sobre os índices de deriva obtidos em condições brasileiras. Utilizar simplesmente os modelos europeus ou norte-americanos, como feito pelo IBAMA, pode ser uma solução inadequada pois dados recentes de pesquisa mostraram que alguns dados obtidos no Brasil são significativamente diferentes daqueles descritos para a Europa. Portanto, é premente que sejam gerados dados de pesquisa sobre deriva para condições da agricultura brasileiras.
Embora haja metodologias para redução de deriva, é importante frisar que essa redução pode levar também à redução de eficácia de controle dos alvos biológicos. Uma ponta que gere gotas grossas é mais segura do ponto de vista ambiental, mas pode ter uma deposição inadequada na planta, dependendo do alvo da aplicação do produto aplicado. Como exemplo, gotas maiores apresentam dificuldades de penetração no baixeiro das plantas, por exemplo. Um outro exemplo é o mercado de adjuvantes, que vem crescendo mais depressa do que a capacidade da pesquisa em gerar resultados confiáveis para orientar a aplicação de maneira eficiente e segura. Por esta razão, é necessário que se estabeleça uma rede de pesquisa sobre tecnologia de aplicação, para atender às diversas realidades agrícolas de um país de dimensões continentais como o Brasil.
A VISÃO
DO
SETOR
DE
AVIAÇÃO
AGRÍCOLA O Brasil tem a segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo, ficando atrás apenas dos EUA e seria inviável manter a competitividade do agronegócio brasileiro num cenário de proibição de aplicação aérea. São 231 empresas prestadoras de serviço, com uma frota de 1.850 aeronaves (dados de 2012) e o Brasil é o único país do mundo que permite que os agricultores tenham seus próprios aviões. O maior número de empresas está no Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso, em função das grandes áreas plantadas com arroz, cana-deaçúcar, soja/algodão, respectivamente. Hoje, a pulverização aérea representa 24% do total de pulverizações de defensivos em grandes culturas e 79
isso é extremamente importante pois, em algumas situações, não há outra opção seja pela rapidez com que se deve efetuar a aplicação ou pelas características da própria cultura. Como exemplos, em arroz irrigado toda a aplicação tem que ser feita via aérea devido às condições do terreno, assim como na cana-de-açúcar a aplicação aérea é indispensável devido ao porte da cultura. Estudos realizados no Brasil mostram que os maiores índices de risco de deriva estão na faixa de 70 a 100 m de distância. Com a tecnologia atualmente disponível é possível efetuar o monitoramento das aplicações desde o momento da decolagem até a conclusão da pulverização. A aplicação aérea tem a vantagem de empregar menores volumes de calda (de 20 a 30 litros/ hectare), quando comparada com a aplicação terrestre (60 a 600 litros de calda/ hectare). No entanto, o setor de aviação agrícola tem encontrado resistência na sociedade por falta de informação e, por esse motivo, vem realizando ações em parceria com o setor privado e com órgãos de fiscalização. Essas ações incluem a capacitação, a publicação de manuais e o fomento a pesquisa sobre deriva em diferentes regiões e culturas. Afora as questões de rotina quanto à deriva, a discussão acerca do impacto de agrotóxicos sobre polinizadores vem a alertar para a importância de
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maior integração e comunicação entre aplicadores, agricultores e apicultores, com benefício para a agricultura brasileira e a comunidade em geral.
C ONCLUSÕES A SDC/MAPA tem por objetivo fomentar o desenvolvimento sustentável do agronegócio através de projetos próprios ou por meio de emendas parlamentares ou convênios. Seria desejável que se estruturasse um projeto para pesquisa visando gerar resultados locais sobre deriva e outros aspectos relacionados ao aumento de segurança de aplicação de agrotóxicos do ponto de vista ambiental. A regularização da atividade apícola e a formalização de contratos de parceria entre apicultores e agricultores para instalação de colmeias se fazem necessárias. Desta maneira os apicultores podem ser avisados com a antecedência necessária para retirarem as colmeias instaladas nas áreas de produção agrícola naqueles momentos em que as aplicações se façam necessárias.
S I G LA S
E
A B R E V I AT U R A S
AAPISC - Associação dos Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz e Região ABC Bio - Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico ABIFINA - Associação Brasileira das Industrias de Química Fina ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRAPA - Associação Brasileira dos Produtores de Algodão AENDA - Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos AGROFIT - Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil ANATER - Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APACAME - Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas Melíficas Européias APP - Área de Preservação Permanente APROSOJA - Associação Brasileira dos Produtores de Soja APTA - Agência Paulista de Técnicos Apícolas Bt - Bacillus thuringiensis 81
CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral CGA - Confederação Brasileira de Apicultura CCD - Colony Collapse Disorder CGAA - Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins CIDASC - Companhia Integrada Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COAPIS - Cooperativa dos Apicultores de Sorocaba e Região CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento CSFI - Culturas de Suporte Fitossanitário Insuficiente CTA - Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos DCC - Distúrbio do Colapso das Colônias DSA - Departamento de Saúde Animal EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPA - Environmental Protection Agency EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina EPI - Equipamento de Proteção Individual EPPO - European Plant Protection Organization ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz EUA - Estados Unidos da América FAAMESP - Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo FAO - Food and Agriculture Organization FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 82
FUNDECITRUS - Fundo de Defesa da Citricultura GBIF - Global Biodiversity Information Facility GPS - Geographic Positioning System HQ - Hazard Quotient HLB - Huanglongbing IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IN - Instrução Normativa INC - Instrução Normativa Conjunta IPBS - Intergovernmental Platform on Biodiversity & Ecosystem Service ISO - International Organization for Standardization LMR - Limites Máximos de Resíduos MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONG - Organização Não Governamental ONU - Organização das Nações Unidas PIB - Produto Interno Bruto PIC - Produção Integrada de Citrus PIN - Produção Integrada PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas PROMIP - Programa de Manejo Integrado de Pragas. RIISPOA - Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal SBDA - Sociedade Brasileira de defesa Agropecuária 83
SDC - Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry SFA - Superintendência Federal de Agricultura SIF - Serviço de Inspeção Federal SINDAG - Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola SINDIVEG - Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal SISP - Serviço de Inspeção de Produto UE - União Europeia UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná UFU - Universidade Federal de Uberlândia UNESP - Universidade Estadual Paulista USP - Universidade de São Paulo
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