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Parabéns, Zé

Há certas coisas no futebol que nunca foram ou serão colocadas em dúvida. Um jogador com certas qualidades técnicas, a elas adicionando uma dose extra de empenho, terá sempre lugar no coração de seu torcedor. Só há uma forma de essa relação passar a ser ainda maior: o atleta em questão ser torcedor do clube. Unido, esse trinômio provoca uma relação de aprovação incondicional. Foi assim que o torcedor corintiano recebeu um garoto capaz de emular em campo tudo aquilo que, das arquibancadas, os membros da Fiel gostariam de poder fazer: Zé Elias.

O garoto de estilo de jogo viril, mas capaz de protagonizar uma saída de bola limpa, com passes qualificados, não precisou de muito tempo para cair nas graças da torcida do Timão. Zé podia até ser violento às vezes e não o fazia por mal — mas por um excesso de uma vontade que podia cegar. Foi isso que Placar sinalizou em outubro de 1995: “Zé Elias não tem as características de um bad boy”.

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Outra verdade facilmente verificável nos gramados é o fato de que as cobranças são mais constantes que os aplausos. Justamente por isso, quando estes se notam, é porque se está diante de uma situação especial; trata-se de uma aprovação quase transcendental, reservada a momentos escolhidos a dedo.

Mais um lugar comum, esse da vida: o alcance da maioridade é o sonho de consumo de 99 entre 100 adolescentes. Tudo bem que logo acabam por perceber que a vida adulta não é isso tudo — muito pelo contrário. Mas se trata de um marco. Os parabéns e palmadinhas nas costas recebidas nesta data têm uma propensão consideravelmente maior de serem lembradas na posteridade do que os aniversários de 17 ou 19 anos. Isso, em condições, ordinárias, claro. Ante o extraordinário, a marca nunca se apaga.

Setembro de 1994, dia 25.

O momento corintiano pede cautela. Na Folha, o articulista Alberto Helena Jr. comenta que o treinador Jair Pereira fracassou na tentativa de propor um time ofensivo e vai retornar ao 4-4- 2. O Timão enfrenta o Criciúma, em casa, em um daqueles jogos

traduzidos pela expressão “ganhar ou ganhar”. Boiadeiro dá lugar a Marcelinho Paulista, que será o auxiliar de Zé Elias na contenção. O jornalista ainda afirma que “o seguro morreu de velho”.

Apesar disso, o tiro sai pela culatra. À edição do dia seguinte também da Folha, Zé Elias confirma que, por sua conta, decidiu arriscar: “Não [foi o Jair Pereira que pediu]. Eu é que resolvi arriscar por conta própria. Acho que vou levar uma chamada dele depois do jogo”. Talvez tenha levado, porque, apesar de ter acertado uma bola na trave, o time só garantiu uma suada vitória aos 32 do segundo tempo, com o zagueiro Henrique confirmando o 3 a 2.

No entanto, Jair pode ter sido benevolente. Era o dia do aniversário de Zé Elias. Naquela tarde, o jovem completou os 18 anos. E, dificuldades à parte, o clima foi de festa. “Vou me lembrar disso para o resto da minha vida”. Isso, a que Zé se refere, não é apenas a ocasião, mas o fato de ter sido celebrada de forma extraordinária, por meio de um sonoro “Parabéns pra Você”, entoado por 25.599 vozes presentes no Pacaembu. Quem pode dizer que viveu semelhante momento? Ali, a torcida do Corinthians confirmou a paixão por aquele jogador que, além de sua técnica, levava o coração na ponta da chuteira e, dentro dele, o amor pelo clube e as cores que representava.

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