Série Clubes da Esquina - a história do futebol amador de Belo Horizonte (Renan Damasceno)

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DOMINGO AZUL NO MINEIRÃO

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Éverton Ribeiro e cia. tentam vencer o Fluminense antes de dar a volta a olímpica com a taça pelo tetra do Brasileiro PÁGINA 5

ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

CLUBES DA ESQUINA OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR QUASE 4,5 MIL JOGADORES EM MAIS DE 80 CAMPOS DE BH SÃO MOSTRADOS DE HOJE A SEXTA-FEIRA EM SÉRIE SOBRE O FUTEBOL AMADOR

NA CAPITAL DOS

CAMPEÕES RENAN DAMASCENO

A cidade dos atuais campeões do Brasileiro (Cruzeiro) e da Copa do Brasil (Atlético) também é berço de outras 546 equipes de futebol – 234 delas em atividade –, que, longe do glamour e do alto investimento, sobrevivem graças ao esforço de diretores, jogadores e do apoio da comunidade. Apesar de esquecidos pelo poder público e espremidos pela especulação imobiliária, clubes amadores ainda movimentam os bairros de Belo Horizonte, especialmente à noite ou nos fins de semana, seja pelo Campeonato Mineiro (primeiro semestre), Copa Centenário (segundo) ou Copa Itatiaia (a partir do dia 14), que formam uma espécie de tríplice coroa da várzea. Em vez do tapete verde, são mais de 80 campos de terra, areia, saibro, areia com saibro ou grama sintética espalhados pela cidade. Pisos irregulares, esburacados e cheios de poças d’água – adversários extras para os cerca de 4,5 mil atletas registrados pelo Setor de Futebol Amador da Capital. Atletas que não encontraram espaço no profissional e dividem o futebol com rotinas pesadas de trabalho. Ao longo das décadas, os campos de terra batida forneceram craques para os principais clubes de BH e até para a Seleção Brasileira: Toninho Cerezo começou no Ferroviário, do Horto; João Leite calçou as luvas primeiro para defender a meta do Alvorada, da Nova Gameleira;

Paulo Isidoro iniciou a carreira no extinto Ideal, do Bairro da Graça; o ex-treinador Carlos Alberto Silva conheceu os segredos do futebol à beira do campo no Nacional do Carmo; e a cinco vezes melhor do mundo Marta foi convocada pela primeira vez quando defendia o Santa Cruz. A várzea é um manancial de contos e casos, que apesar das dificuldades sobrevive com bom humor e paixão. É quase um ritual universal: em qualquer campo, em um domingo de manhã, são disputados jogos em sequência, do mirim ao adulto, seguidos da resenha, com cerveja e tira-gosto. “Só paixão explica a gente continuar dando murro em ponta de faca, acordando cedo, tirando dinheiro do próprio bolso, sem apoio”, explica Nildo André, presidente do Cachoeirinha, enquanto ajeita a cal para fazer a marcação do campo de terra. “Muita gente não entende por que continuamos. Se a mulher da gente descobre que tiramos dinheiro do próprio bolso para o time, fica uma fera”, explica Mauro Mansur, vice-presidente do Ferroviário, um dos clubes mais antigos da capital, fundado em 1928, ajeitando os uniformes sujos de terra para lavá-los numa máquina comprada em prestações a perder de vista. O Estado de Minas apresenta a partir de hoje o especial Clubes da Esquina, com a história e as estórias do futebol amador de BH. Paixões centenárias que lutam para sobreviver e continuar construindo um dos maiores patrimônios da capital.

LEIA MAIS SOBRE CLUBES DA ESQUINA NA PÁGINA 3


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CLUBES DA ESQUINA O QUE TÊM EM COMUM JOÃO LEITE, PAULO ISIDORO, CEREZO, MARTA, DEDÊ E EVANÍLSON? TODOS SE REVELARAM NOS CAMPOS ESBURACADOS E LAMACENTOS DA VÁRZEA BELO-HORIZONTINA EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS

Paulo Isidoro chegou ao Ideal aos 12 anos, ao se mudar de Matozinhos para o Bairro da Graça, e só virou profissional aos 17, mas o aprendizado nos campinhos ruins foram fundamentais para que jamais se contundisse

ELES SONHARAM.

BETO MAGALHAES/EM/D.A PRESS

E SE DERAM BEM RENAN DAMASCENO

Se a grama não nasce onde o goleiro pisa, nos campos de terra a pequena área é sempre o lugar mais esburacado, traiçoeiro e, quando chove, um verdadeiro lamaçal. A lembrança do goleiro João Leite, um dos grandes ídolos da história do Atlético, é essa: pular para fazer uma defesa e acabar atolado no barro do campo do Alvorada, clube fundado em 1937 na Vila Oeste – hoje Nova Gameleira. Foi na várzea que o atleta que mais atuou pelo Galo na história (684 vezes, entre 1976 e 1992), aprendeu os atalhos e macetes da pequena área. “O futebol de várzea nos permite sonhar, o que as categorias de base profissionais não proporcionam. Foi no barro que comecei a imitar meus ídolos, a sonhar em ser um grande goleiro. A diferença é essa: eu aprendi um futebol lúdico”, lembra João Leite, que começou no pré-mirim do Alvorada, onde permaneceu até os 15 anos, em 1974, quando foi levado para o Atlético pelo técnico Barbatana. Dois anos depois, já estava no profissional, na reserva do argentino Ortiz. “A várzea é menos exigente, o que nos permite brincar mais de futebol. Hoje exigem muito da parte física e esquecem a habilidade, que é característica de quem joga futebol no terrão.” Ex-companheiro de João Leite, Paulo Isidoro também chegou ao Galo depois de passar pelo futebol amador, defendendo o extinto Ideal, do Bairro da Graça. Chegou ao time com 12 anos, quando se mudou de Matozinhos para a Sagrada Família. Foi para o profissional relativamente tarde, com quase 17 anos, mas nem sentiu a diferença. “Para quem

joga na terra, passar para a grama fica fácil, é mais leve, a bola corre. Por isso, nunca me machuquei ao longo da carreira. A preparação física é uma vantagem”, explica ele, que aos 61 anos ainda joga futebol pela Seleção Master de São Paulo. O ex-ponta de lança ágil e habilidoso se lembra dos clássicos Ideal x Brasilina, que parava a Zona Leste, e das boas histórias dos tempos da várzea. “Teve um jogo no campo do Brasilina que acabou em confusão, e só escapamos porque o time inteiro pulou de um barranco”, recorda.

REPRODUÇÃO BETO NOVAES/EM/D.A PRESS.

MELHOR DO MUNDO Muitos jogado-

res foram revelados para o futebol a partir dos campos de terra de Belo Horizonte. Outro ídolo alvinegro, Toninho Cerezo jogou no Ferroviário, do Horto. Cleison, que defendeu Cruzeiro e Atlético, começou no Santa Tereza, que também revelou o armador Irênio (ex-América e Atlético). Eleita cinco vezes a melhor do mundo, a alagoana Marta também lapidou seu futebol na capital mineira, atuando pelo Santa Cruz, último clube que defendeu no futebol brasileiro antes de partir para o da Suécia. “A Marta chegou aqui em 2002 por meio de um patrocinador. Ficou com a gente por três temporadas. Ao todo, sete jogadoras que defenderam a Seleção Brasileira passaram pelo Santa Cruz: Cristiane, Pretinha, Formiga...”, enumera o presidente Cláudio Henrique Soares. No masculino, o Santa Cruz, entre outros, revelou o lateral-esquerdo Dedê (ex-Atlético e Borussia Dortmund) e o lateral-direito Evanílson (ex-América, Cruzeiro e Atlético).

Marta lapidou em BH o futebol que a levaria a ser a nº 1 do planeta

LEIA AMANHÃ: O CLUBE QUASE CENTENÁRIO QUE LUTA PARA RECUPERAR O ESTÁDIO

VESTIBULAR PARA A FAMA

Foi à beira do extinto campo de terra do Nacional do Carmo, onde hoje funciona um hipermercado, no Belvedere, que Carlos Alberto Silva fez o seu vestibular para o profissional. Em 1967, o treinador que levaria o Brasil à prata olímpica em Seul’1988 ainda cursava a faculdade de educação física quando foi convidado por diretores do clube para ensinar “uma metodologia de futebol diferente” aos atletas, até então só acostumados “a gritos e palavrões”. Carlos Alberto Silva, aos 28 anos, aceitou o desafio de treinar um dos times mais queridos da Região Centro-Sul da capital, fundado em dezembro de 1945. Ele até hoje é grato pelo aprendizado. “Foi um laboratório, um alicerce fantástico. O jogador varzeano não tem conhecimento tático, e pude introduzir táticas, mesmo que superficiais, para organizar o time”, contou. Dos tempos de Nacional, Carlos Alberto se lembra dos bons resultados, do ônibus que levava os jogadores do Sion até o campo e dos esforços dos diretores para manter o time na ativa – hoje, o clube mantém apenas o feminino. “A gente tinha um diretor, o João Abóbora, que ia passando nos outros campos e pegando as chuteiras velhas, que não serviam mais, para reformar para os nossos jogadores usarem.” Aos 75 anos, Carlos Alberto é agora vicepresidente do Villa Nova. Ele não treina uma equipe desde 2004, quando teve rápida passagem pelo América. No ano seguinte, foi supervisor de futebol do Atlético. Em quase 30 anos de carreira, passou por quase duas dezenas de clubes e dirigiu a Seleção Brasileira em 1987 e 1988. Em seu currículo, ele pode se orgulhar de ter lançado, entre outros, Careca no Guarani, Ronaldo no Cruzeiro, Taffarel e Romário na Seleção. “Até hoje, adoro ver futebol amador. O profissional está muito melindrado. O amador é mais puro.”


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CLUBES DA ESQUINA COM AS ATIVIDADES ENCERRADAS DEPOIS QUE LINHA FÉRREA DA VALE CORTOU O MEIO-CAMPO, O QUASE CENTENÁRIO POMPEIA AGUARDA A CONSTRUÇÃO DO NOVO ESTÁDIO, AO LADO DO ANTIGO

ATROPELADO PELO TREM EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS

RENAN DAMASCENO

Perto de completar 100 anos, o Pompeia Futebol Clube não tem mais campo, time, móveis nem documentos. Fundado em 1921, ele teve todas as atividades encerradas em 2010 por causa da revitalização da malha ferroviária Horto-Sabará da Vale. Com a mudança, a linha férrea passou a cortar exatamente o meio do campo do clube alvinegro, na Avenida dos Andradas, no Bairro São Geraldo. A diretoria aguarda até hoje a construção do novo estádio, ao lado do antigo. “A comunidade cobra, mas a gente tenta apaziguar, para resolver pacificamente. Todo mundo se sente prejudicado e cobra muito”, explica Jairo Gomes, secretário do Pompeia. Em outubro de 2010, a Vale solicitou o terreno e acertou que tão logo as obras fossem finalizadas, em 2013, ela se responsabilizaria pela construção de nova praça de esportes. Em maio do ano passado, a empresa informou à Prefeitura de Belo Horizonte que havia limpado e desocupado o terreno. “Em audiência pública na Câmara, fomos informados de que a Vale repassou à Prefeitura os recursos para a reconstrução da Praça de Esportes. Passados meses, nenhuma providência foi tomada, o que vem nos preocupando”, explica Gomes. Segundo o secretário municipal de Esportes, Fernando Blaser, o projeto do estádio está pronto e terá a licitação aberta em fevereiro. “Fechamos o ano em setembro. E precisamos abrir pregão, esperar contestação. Por isso, tem de aguardar”, justifica. A obra, que contempla também a construção de um ginásio, gira em torno de R$ 3 milhões, segundo ele.

ROUBO O Pompeia, um dos times mais tradicionais da capital, viveu seu momento de

PERSONAGEM: O TIME DA PORTUGUESA

Secretário do Pompeia, Jairo Gomes se divide entre as cobranças da comunidade e a tentativa de solucionar o impasse pacificamente glória nos anos 1970, quando conquistou 13 títulos do Campeonato da Divisão Amadora, promovido pela Federação Mineira de Futebol. O último jogador revelado pelo alvinegro a ter sucesso como profissional foi o zagueiro Welton Felipe, ex-Atlético.

O terreno onde será erguida a nova praça de esportes está abandonado e serve hoje de pasto para cavalos. Como não há nada tão ruim que não possa piorar, o galpão em que o Pompeia guardava seus pertences foi roubado em agosto. “Levaram janelas, portas, portões...

Só não levaram os troféus porque a gente já os tinha tirado. Levaram tudo: móveis, arquivo, mesas, cadeiras, material esportivo. Nem uma bola deixaram”, enumera Gomes. Também neste ano, o clube teve de arcar com a taxa de incêndio cobrada pelo Estado, no

valor de R$ 17 mil. “A comunidade da Região Leste está ensaiando promover manifestações para acelerar a construção. O maior prejudicado não é o Pompeia, mas a própria população, que tinha o campo como único entretenimento”, lamenta o diretor.

O campo é o maior patrimônio que um clube amador pode ter. Seja de terra, areia ou gramado, é um fator agregador da comunidade e reduz custos significativos para os clubes. Mesmo sem uma base, muitos conseguem resistir, como a Portuguesa, do Bairro Providência, único time amador da capital a conquistar um título nacional: o da Copa Kaiser Brasil’2009. “Não temos campo, temos de alugar. Sai tudo do nosso bolso, por não termos renda nem patrocinadores. Hoje, para colocar o amador em campo, a gente gasta em média R$ 800 por semana, mais R$ 500 do júnior. Fora um especial. É muito pesado”, diz o presidente José Maris Filho, o Capitão. Fundada em 1975, a Portuguesa joga atualmente no campo do Racing, no Bairro Universitário, mas também usa o do Tupinense, no Tupi. São cerca de 20 jogadores no adulto e 20 nos juniores – a Federação Mineira de Futebol (FMF) exige pelo menos uma categoria de base para que o clube possa disputar campeonatos amadores. O time venceu três das últimas seis edições da Divisão Especial do Mineiro. Em 2009, ano em que conquistou a Copa Kaiser Brasil, a equipe conseguiu a façanha de vencer seis dos sete campeonatos disputados. “A única coisa que meu bairro tem é o time. Muita gente só conhece o Providência por causa da Portuguesa. Continuo por satisfação pessoal, sou aposentado. Domingo não tem nada melhor do que estar na beirada do campo”, destaca Capitão. (RD)

LEIA AMANHÁ: SEM DINHEIRO PARA PAGAR LAVADEIRA, DIRIGENTES LAVAM OS UNIFORMES PARA AJUDAR O CLUBE A SOBREVIVER


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GERARD JULIEN/AFP

RODADA DECISIVA NA LIGA DOS CAMPEÕES Já classificado à próxima fase, Real Madrid, de Carlo Ancelotti, recebe búlgaros com time misto PÁGINA 4

TERÇA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 2014

CLUBES DA ESQUINA SÉRIE PUBLICADA DESDE DOMINGO PELO EM MOSTRA COMO O FERROVIÁRIO, TIME QUE REVELOU CEREZO E É O MAIS ANTIGO EM ATIVIDADE ENTRE OS AMADORES DE BH, CONSEGUE SE MANTER

RENAN DAMASCENO

SOBREVIVÊNCIA À BASE DE ÁGUA E SABÃO

O clube amador mais antigo de Belo Horizonte em atividade só sobrevive porque os próprios diretores lavam o uniforme dos jogadores. É assim a rotina do Ferroviário, do Horto, fundado em maio de 1928 e responsável por revelar jogadores como Toninho Cerezo (Atlético, São Paulo, Cruzeiro, Roma, Sampdoria, Paulista, América e Seleção Brasileira). Ao fim de cada jogo, os irmãos Mauro, Evaldo e Gilmar Mansur se dividem: um recolhe o monte de roupas, outro joga tudo na máquina comprada em 12 prestações escorada no fundo do vestiário e o terceiro volta no dia seguinte para pendurar os uniformes alvirrubros no varal. “Tem hora em que você é roupeiro, massagista, gandula. Futebol amador é coisa de abnegados”, diz Mauro, que praticamente nasceu dentro da sede do Ferroviário, formado às margens da linha férrea e, até a década de 1980, com forte relação com o sindicato da categoria. Com a privatização da rede, o clube passou a ser gerido por membros da comunidade – entre eles, a família Mansur, que mora ao lado do campo, localizado na esquina da Avenida dos Andradas com a Silviano Brandão. O Estado de Minas apresenta desde domingo a série Clubes da Esquina, sobre o futebol amador de BH. Instituições quase centenárias, que lutam para sobreviver e continuar construindo um dos maiores patrimônios da capital: o futebol de várzea, que ainda hoje movimenta comunidades inteiras. A personificação, como no Ferroviário, é um dos fatores que mantêm muitos desses clubes de portas abertas. Não fosse a dedicação de presidentes ou de famílias inteiras, muitos já teriam seguido o caminho de mais de 300 agremiações registradas pela Federação Mineira de Futebol (FMF) que não existem mais. Segundo o Setor de Futebol Amador da Capital, das 546 equipes filiadas, 234 mantêm atualmente alguma atividade. “Às vezes, não tem dinheiro para pagar um menino para buscar as bolas, e a gente faz papel de gandula. Limpa chuteira, lava roupa, faz tudo. São poucos os clubes que conseguem patrocinador”, lamenta Mauro. “Não temos patrocinador, sai do nosso bolso, do bolso dos pais dos alunos da base. O poder público, os patrocinadores tinham de ver isso, pois a gente desempenha um trabalho social, de afastar muitos meninos das drogas”, comenta. O Ferroviário disputa atualmente a Primeira Divisão do Campeonato Mineiro Amador e a Copa Centenário, além das divisões de base. O principal título de sua história foi o Estadual de 1979.

EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS.

Nildo André, presidente do Cachoeirinha, cuida semanalmente da marcação do campo da equipe

NA MARCA DA CAL O apelido Nildão Só Alegria não reflete nem de longe as dificuldades de Nildo André, de 49 anos, presidente do Cachoeirinha, da Região Nordeste de BH. Muito antes de a bola rolar no campo de terra batida do clube, por volta das 6h, todo fim de semana, o presidente abre os portões do local e, com calma, gasta cerca de uma hora para fazer todas as marcações do piso com cal. “Se pensar em dinheiro, você pira. A gente não temnem livro-caixa, é só caneta vermelha. Se mexer com isso fico doido. Você arrecada R$800 e tem despesa de R$ 3 mil, R$ 4 mil”, comenta Nildo, que foi jogador do Cachoeirinha antes de se dedicar exclusivamente à direção, há 18 anos. Durante a semana, ele é funcionário de um escritório de advocacia. Aos sábados e domingos bate ponto no clube, quase nunca para jogar. “É só problema, mas pelo menos a gente sabe que está mexendo com coisa boa, ajuda muita gente, a comunidade gosta, apoia. Isso é gratificante”, comenta. Fundado em janeiro de 1951, o Cachoeirinha é um dos 16 times que disputam a chave Belo Horizonte da Copa Itatiaia, que começa no domingo. O último título importante do clube foi o troféu da Divisão Especial do Campeonato Mineiro Amador, em 1999.

LEIA AMANHÃ: PARCERIA PÚBLICO PRIVADA SALVA TRADICIONAL CLUBE DA FALÊNCIA Com a ajuda dos irmãos que comandam o clube, Mauro Mansur lava os uniformes, na falta de lavadeira


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RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS

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À PROCURA DE NOVO DIRETOR Alexandre Mattos confirmou sua saída da direção de futebol do Cruzeiro. Ele deve se transferir para o Palmeiras PÁGINA 3

CLUBES DA ESQUINA

COM MAIS DE 300 TROFÉUS EM SUA GALERIA, O QUASE OCTOGENÁRIO PITANGUI SE REINVENTOU PARA MANTER AS ATIVIDADES: ARRENDOU O ESTÁDIO PARA O JOGADOR CACÁ, IRMÃO DO EX-ATLETICANO DEDÊ

PARCERIA SALVADORA FOTOS: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

RENAN DAMASCENO

Quem chega ao Pitangui Esporte Clube, na Lagoinha, encontra hoje um campo muito diferente do terrão vermelho que caracterizava o estádio do alvirrubro desde a fundação, em 1936. Em vez da poeira, um moderno tapete verde de grama sintética, bem cercado por alambrados, arquibancadas e muros pintados, bar e cabine de imprensa. No gramado bem tratado, marcações em amarelo indicam a possibilidade de transformar o campo em quatro quadras de futebol soçaite, o que faz do local um dos mais procurados durante a semana para torneios empresariais. Apresentada desde domingo pelo Estado de Minas, a série Clubes da Esquina, sobre o futebol amador de Belo Horizonte, aborda hoje um dos mais tradicionais deles: o Pitangui, que precisou se reinventar para continuar existindo. Em 2013, ele recorreu à iniciativa privada para continuar arcando com as despesas das escolinhas de futebol, categorias de base e adulto. Hoje, a empresa do jogador Cacá – irmão do ex-lateral-esquerdo Dedê (Atlético e Borussia Dortmund) – gerencia a arena e repassa um valor mensal para que o Pitangui mantenha o futebol. “A gente tem um custo alto com inscrição de atleta, transporte, alimentação. Hoje, esse modelo que adotamos mantém quase 100% das nossas despesas. Foi o caminho que encontramos para continuar existindo”, explica o presidente do Pitangui, Carlos Antônio dos Santos. “É um projeto que deu certo, que estamos tentando levar para outros clubes. É uma forma de voltar a atrair a atenção dos jovens das comunidades.”

Dono de mais de 300 troféus de campeonatos amadores em diversas categorias, em quase 80 anos de história, o Pitangui foi fundado em 27 de maio de 1944, por Abraão Jorge e Lafaiete dos Santos, pai de Gérson dos Santos, ex-zagueiro de Cruzeiro, Botafogo e Seleção e ex-técnico da Raposa e do Galo. Dez anos depois, a direção do clube foi passada para Esmeraldo Botelho (que dá nome ao estádio) e Geraldino Marques, ainda vivo, com 97 anos.

HISTÓRIA VITORIOSA Muitos jo-

gadores fizeram história com a camisa vermelho e branca do Pitangui antes de ir para o profissional, como o atacante Lola, campeão brasileiro pelo Atlético em 1971. Mazinho também costumava jogar no campo de terra do clube antes de partir para o Santos, de Pelé, na década de 1970. Várias histórias também foram escritas no campo da Lagoinha, uma delas bastante curiosa: um ano depois de o ponta-esquerda Dalmar fazer nove gols na goleada do Cruzeiro sobre o Renascença por 16 a 0, pelo Mineiro de Aspirantes de 1966, um atacante do Pitangui, chamado Euller, marcou o mesmo tanto na goleada sobre o Santos, do Alto Vera Cruz, por igual placar. Jornais da época chegaram a registrar o feito como quebra de recorde. Atualmente, o Pitangui mantém cerca de 120 atletas, além das escolinhas de futebol. A equipe disputa o Campeonato Mineiro Amador. “A maior dificuldade é conseguir recurso: uniforme, transporte, manter o clube funcionando. A gente mantém porque está no sangue. A gente vive pelo amor que sente pelo futebol.”

Presidente da tradicional agremiação da Lagoinha, Carlos Antônio dos Santos destaca que o arrendamento da arena cobre praticamente 100% das despesas. Acima, como ficou o campo, com a grama sintética

ENTRE A BOLA E O CAFÉ Vestiário do São Bernardo: dirigentes recorrem ao próprio bolso

Conseguir dinheiro para pagar o café da manhã para os jogadores é apenas a primeira das várias dificuldades que o atual campeão juvenil da Copa Centenário e Departamento de Futebol Amador enfrenta ao longo do dia. Sem recursos e apoio, o Monte Verde, do São Bernardo, bairro da Região Norte de BH, resiste graças ao esforço de diretores e da própria comunidade.

“Tentamos fazer um trabalho diferente aqui. A gente não se preocupa só com a bola, mas também em oferecer café da manhã, almoço quando precisa, já que muitos meninos não têm condições e até chegam aqui com fome. A gente tenta ajudar até onde o bolsa suporta”, lamenta Fernando Moreira, supervisor do clube. Cerca de 80 jovens treinam no Monte

LEIA AMANHÃ: SEM ESPAÇO NA SUA CATEGORIA, JOGADORES PROFISSIONAIS REFORÇAM TIMES DE VÁRZEA

Verde, cujo time adulto está desativado por falta de recursos. As despesas não são altas – cerca de R$ 2 mil mensais –, mas saem integralmente do bolso dos diretores. “Futebol amador é paixão, entrega. O jogador profissional, chega o quinto dia útil do mês, saca R$ 600 mil, R$ 700 mil. Já o jogador, o dirigente da várzea, tira do próprio bolso para jogar. Às vezes da própria casa para ajudar o time.”


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JOSÉ LAGO/AFP

LIDERANÇA COM VITÓRIA

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Neymar marca nos 3 a 1 do Barcelona sobre o PSG, que garantiram primeiro lugar do grupo na Liga dos Campeões PÁGINA 5

CLUBES DA ESQUINA

A VAGA QUE NÃO EXISTE NAS AGREMIAÇÕES PROFISSIONAIS NUNCA FALTA NO FUTEBOL AMADOR, COMO PROVA EX-ZAGUEIRO ATLETICANO QUE JÁ FEZ GOL NO CRUZEIRO E HOJE ATUA NO RETIRO

SE FALTA TIME, O JEITO É SE VIRAR NA VÁRZEA

GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS

RENAN DAMASCENO

Sandro Barbosa toca a oficina para poder se sustentar. Para não perder o contato com a bola, defende equipe de Nova Lima... JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS

...bem distante dos tempos em que vestiu a camisa do Galo e até balançou as redes em clássico contra o maior rival

Zagueiro titular do Atlético na conquista da Copa Conmebol’1997, Sandro Barbosa encontrou na várzea uma chance de prolongar a carreira depois que o profissionalismo lhe fechou as portas, aos 37 anos, em 2008. Sem empresário e cansado de perambular por times do interior, ele resolveu se fixar de vez em Belo Horizonte, dividindo as atenções entre sua oficina mecânica, no Bairro São João Batista, na região de Venda Nova, e o futebol amador. Sandro joga pelo Retiro, de Nova Lima, que disputa a Copa Itatiaia. Seu último clube profissional foi o Formiga. “Que eu me lembre, foi lá”, brinca o jogador, que passou por vários clubes quando retornou ao futebol brasileiro depois de cinco anos na Europa – defendeu o português Santa Clara e o albanês Apolonia. “A idade me venceu. Eu tinha condição física de continuar jogando, mas sem empresário fica difícil. Ninguém quer contratar jogador depois dos 35 anos. Hoje em dia, futebol profissional está muito diferente. Sem boa indicação, ninguém entra”, lamenta. O zagueiro, revelado pelo Villa Nova e com passagens por Juventude, América e Vasco, jogou três temporadas no Atlético, de 1997 a 1999. Além da Conmebol, conquistou o Mineiro’1999. Em 95 jogos pelo Galo, marcou cinco gols, um deles contra o Cruzeiro, na derrota por 4 a 2 pelo Brasileiro de 2000, no Mineirão. Na conquista continental, foi

mente impossível. O Santa Cruz se mantém com contribuição de diretores. Este ano tivemos um patrocinador que nos ajudou e conquistamos dois títulos no feminino: o Campeonato Mineiro e a Copa Centenário”, diz o presidente Cláudio Henrique Soares, filho de um dos fundadores do clube, Claudionor Henrique Soares. Recentemente, com apoio de pais e da comunidade, a equipe juvenil fez excursão à Europa por três semanas. Cinco jogadores da categoria foram emprestados ao Mixto-MT

para a Copa São Paulo de Juniores. Na sala de troféus do clube, além das lembranças vitoriosas, um quadro de Marta enfeita a parede. Também passaram ou foram revelados pelo Santa Cruz Claudinei, Evanílson, Dedê e, mais recentemente, Adeílson (exIpatinga, América e Fluminense) e Moisés (ex-América). “A gente tenta manter o futebol do jeito que consegue. Às vezes, atrasa uma conta de água, luz, telefone. É dificuldade para tudo. Mas se a gente não fizer isso, acaba o futebol nas comunidades.”

MANTER A FORMA Dispensado do Boa

no primeiro semestre, o futebol amador foi a solução para o lateral-direito Cleiton, que recorreu aos campos de terra para manter a forma física. “Foi a opção que restou. Melhor estar aqui jogando do que em casa”, explica o jogador, de 19 anos, que foi vicecampeão da Copa Centenário pelo Santa Lúcia, perdendo a decisão para o São Luiz por 3 a 1, na Arena Pitangui.

BETO NOVAS/EM/D.A PRESS

BRILHO EM CAMPO, MAS DOR NO BOLSO Time que ajudou a lapidar o talento da cinco vezes melhor do mundo Marta, o Santa Cruz continua desempenhando bom papel em revelar novos jogadores, especialmente no feminino, mas esbarra na falta de apoio para arcar com as despesas, que giram em torno de R$ 20 mil mensais. O clube da Zona Noroeste, fundado em 1951, tem um dos melhores campos da capital, apesar do gramado irregular, com arquibancada para 5 mil pessoas. “Sem receita, sem parceria, é pratica-

titular nas duas partidas finais contra o Lanús (4 a 1 na Argentina, 1 a 1 na Pampulha), formando a zaga com Neguete. “Várzea é muito diferente do profissional: aqui eles tentam compensar a falta de técnica com disposição. Por isso, zagueiro tem de ficar atento o tempo todo.” Para um profissional disputar um campeonato amador, ele precisa fazer uma reversão na filiação à Federação Mineira de Futebol (FMF) e, nesse período, não pode assinar contratos nem receber salários – na prática, muitos clubes pagam uma espécie de “bicho” aos atletas, muitos dos quais vivem apenas de jogar na várzea. Apesar desse “bônus” oferecido a jogadores de renome, Sandro garante que não dá para viver do futebol amador. “É para manter o físico, porque dinheiro não dá. Por isso, tenho minha oficina. É uma diversão, uma forma que encontrei de me manter no futebol.”

Apesar do gramado irregular, Santa Cruz tem dos melhores campos de BH

LEIA AMANHÃ: CAMPEONATOS AMADORES MOVIMENTAM BELO HORIZONTE DESDE A DÉCADA DE 1940


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STEVEN TEE/MCLAREN MIDIA CENTER

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DUPLA DE PESO NA MCLAREN A escuderia, que terá motores Honda em 2015, confirmou a contratação de Fernando Alonso e a manutenção de Jenson Button PÁGINA 5

CLUBES DA ESQUINA HISTÓRIA DE BICAMPEÃO DA DÉCADA DE 1940, O TERRESTRE, FECHA SÉRIE DE REPORTAGENS DO EM E MOSTRA POR QUE OS TIMES DE BAIRRO JÁ FORAM UMA FEBRE NA CAPITAL MINEIRA FOTOS: EDMAR QUEIROZ/ARQUIVO PESSOAL - 1943

As partidas do Terrestre mobilizavam a comunidade e ganhavam destaque na cobertura da imprensa

NA POEIRA E NO CORAÇÃO RENAN DAMASCENO

No início da década de 1940, muitos fãs de futebol até poderiam dar de ombros para o campeonato profissional, mas era difícil encontrar, entre os pouco mais de 200 mil habitantes de Belo Horizonte, quem não se interessasse pelo resultado de duelos como Terrestre x Brasil – conhecido como o Fla-Flu da Lagoinha –, Independente x Ferroviário, no Horto; os embates entre Pitangui, Fluminense ou Tremedal, também na Lagoinha; Juventus x Vasco, no Carlos Prates; além de outros clubes populares como Matadouro, Santa Tereza, Parque Riachuelo e Pompeia, que lotavam os campos de terra por onde passavam. A popularidade do futebol amador era tanta que os jornais da época, muitas vezes, destacavam os scores do campeonato do Departamento de Futebol Amador – que passou a gerir os times varzeanos em 1942, substituindo a Liga Amadora, de 1933 – e relegavam a segundo plano os jogos do profissional. “Coube ao Terrestre o título de campeão do initium amadorista”, por exemplo, era o destaque do Estado de Minas de 27/4/1943 sobre o primeiro dos dois títulos consecutivos do rubro-negro. O Terrestre era conhecido como “o clube mais querido” pela popularidade em campo e pelos disputados bailes dançantes na sede social, à Rua Itapecerica, no limite entre a Lagoinha e a Pedreira Prado Lopes. Tanto que, no fim da década de 1930, surgiu em seu escrete o primeiro grande ídolo do futebol de várzea da ca-

pital: Edward Queiróz, conhecido como o Mestre Blatgé. Em agosto de 1939, o extinto Folha de Minas premiou o beque, então com 23 anos, com o montante de 3 contos de réis e o título de “Crack absoluto da várzea”. Em concurso promovido pelo jornal, Blatgé recebeu 35.741 votos, superando Barbosa, do Clube Gymnastico (21.037), e Esné, do Santa Cruz (17.298). Segundo o periódico, a cerimônia de entrega do prêmio, na sede do Terrestre, “constituiu um acontecimento de grande realce nos círculos amadoristas da capital”. A eleição mostra o envolvimento da cidade com o futebol amador: 74.076 votos em uma capital cuja população passava pouco dos 200 mil. Edward mudou de Juiz de Fora para a capital na virada dos anos 1920 para 1930 trazendo uma recomendação do Tupi ao Atlético para contratá-lo. Como precisava conciliar o futebol com o trabalho, não conseguiu espaço no alvinegro nem no América. Morador da Lagoinha, bairro operário, obteve emprego na Mesbla – loja de departamentos brasileira fundada em 1912, filial da francesa Mestre et Blatgé, de onde surgiu o apelido do craque.

SAUDADES E LEMBRANÇAS O Terrestre resistiu até

meados da década de 1970. Do rubro-negro resta a saudade da comunidade, o casarão da Rua Itapecerica – um sobrado onde hoje funcionam bares, borracharia e uma relojoaria – e uma das maiores heranças do carnaval de BH: o bloco Leão da Lagoinha, precursor da Banda Mole. “Era uma época muito

boa: assistir aos jogos no barranco do campo do Pitangui, dançar nos bailes, o carnaval...”, lembra Adélia Mendes, filha de um dos últimos presidentes do Terrestre, Paulo Mendes, conhecido como Paulo Açúcar. “Eu me lembro do meu pai subindo a Rua Itapecerica com os filhos pequenos. Todo mundo o tratava como ídolo. Parava e conversava com todo mundo. Era um gentleman”, lembra o filho Edmar Queiróz. Mesmo abandonado pelo poder público e espremido, a cada ano, pela expansão imobiliária, o futebol amador resiste ao longo das décadas. Depois do Terrestre, o Santa Tereza – que contava com um dos melhores campos da cidade, o Estádio Benedito Valadares – conquistou quatro títulos seguidos. Na década de 1960 e 1970, Tremedal x Rosário (do restaurante de mesmo nome, na Avenida Paraná) movimentava a cidade. A partir dos anos 1970, a Federação Mineira de Futebol passou a organizar a Divisão Especial do Amador, cujos clubes, como Mineirinho (Alto Vera Cruz), Ferroviária (Pedreira Prado Lopes), Portuguesa (Providência) e Pompeia, colecionam troféus. A competição, sempre no primeiro semestre divide atenção com a Copa Centenário, realizada desde 1997, no segundo semestre, e a Copa Itatiaia, disputada desde 1962, que começa amanhã. E em seus campos, boa parte de terra batida, times e comunidade vão resistindo. Por honra e amor a camisas que só aqueles que as vestiram e os que as conhecem de perto sabem do imenso esforço para manter vivo esse sonho.

Edward Queiróz, o Mestre Blatgé, foi eleito o craque por leitores em 1939

MANTER VIVO O SONHO

O Estado de Minas encerra hoje a série Clubes da Esquina, que desde domingo contou a história (e algumas estórias) do futebol amador de Belo Horizonte. Times quase centenários que lutam para sobreviver e continuar construindo um dos maiores patrimônios da capital. Em seis dias, as reportagens apresentaram jogadores, ex-jogadores e diretores que, longe do glamour, sem ajuda do poder público e espremidos pela especulação imobiliária, tentam manter viva uma das principais atrações das comunidades: a pelada de fim de semana, disputada em campo de terra, areia ou grama, com torcedores aglomerados em barrancos, bancos de tábua ou arquibancadas de cimento. Histórias que se repetem nas mais de 230 equipes amadoras em atividade e que os 4,5 mil atletas registrados pela Federação Mineira de Futebol sentem na pele. Uma paixão genuína que o profissionalismo perdeu com o tempo e que a população precisa lutar para não acabar de vez. (RD).


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