Rua José Bonifácio. Autoria própria.
Renan Santos Gomez
HABITAÇÃO E HÁBITAT
Refuncionalização de áreas ociosas contra a cidade especulada
Trabalho de Graduação Integrado . TGI II
Instituto de arquitetura e Urbanismo . IAU-USP
Grupo CAP Lucia Zanin Shimbo Joubert José Lancha David Moreno Sperling Luciana B. Martins Schenk
Coordenador GT Manoel Rodrigues Alves
Novembro de 2017
1
A convergência entre características físicas, usos e transformaões urbanas implica em produzir uma Teoria do Espaço urbano enquanto sistema de produção cultural de linguagem,que rompe com a característica idealista do espaço projetado, para transformá-lo em manifestação sociocultural que supera sua concepção abstrata, conceitual. (FERRARA, L. 1993, p. 19)
2
3
Galpões abandonados do Tecidão. Autoria própria.
Autorizo a reprodução e divulgação total e parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
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Banca examinadora:
Manoel Rodrigues Alves
David Moreno Sperling
Catherine Otondo
Conceito Final
Data
5
RESUMO O Tema desse trabalho trata de habitação social no centro da cidade, propondo uma intervenção urbanística na região da estação ferroviária e a antiga Tecelagem São Carlos, também conhecida como Tecidão. A proposta visa discutir e questionar as premissas mercantis que regem a produção da cidade brasileira e sua associação com os problemas de acesso crescentes relacionados ao transporte rodoviário e o subsequente aprofundamento das desigualdades e conflitos socioespaciais urbanos, usando como recorte a cidade de São Carlos. A resposta gerada pelo trabalho é um projeto de intervenção urbana localizada nas imediações da estação ferroviária de São Carlos, utilizando uma soma de espaços ociosos para estabelecer um programa de habitações de interesse social e de mercado popular vinculado a um conjunto de equipamentos e infraestrutura urbana existentes associados a outros complementares, inseridos para suprir as demandas geradas pela nova população habitante da intervenção. 6
Janelas do Tecidão. Autoria própria.
AGRADECIMENTOS Estrutura colapsada de um dos galpões do Tecidão. Autoria própria.
Aos professores que deram suporte à caminhada. Especialmente à Luciana, pelo carinho por seus alunos e por sua vontade de ensinar e nos fazer melhores profissionais e seres humanos. Ao Luciano e Manoel, por abrir novos horizontes com seus ensinamentos e saber como impulsionar uma pessoa muitas vezes exaurida. Aos amigos que acompanharam tudo desde muito antes daqui, Bh, Marçal e Suen, por estarem presentes e tornarem tudo mais leve, e aos que encontrei aqui e cresceram junto comigo, Anna, Barba e Paulete, pelos ótimos momentos e por sempre pacientemente me aconselharem em vão. À família maravilhosa que tenho: aos pais Hânia e Rodrigo, aos avós Milton e Claudete, ao meu irmão Diego. Obrigado por todo o amor e apoio incondicional. Sem vocês, eu jamais chegaria a lugar algum.
7
8
ÍNDICE
06.
Resumo
07.
Agradecimentos
10.
Cidade para quem?
12.
Análises cartográficas e contexto socioespacial urbano de São Carlos
22.
Análise Local: usos, conflitos, potências
34.
Desenvolvimento
70.
Recorte
86.
Bibliografia
9
Cidade para quem?
Desde a Lei de Terras, de meados do séc. XIX, o traçado urbano passa a sofrer alguma regulação governamental. A transferência da posse de escravos para a de terras na medida da riqueza repercute em uma série de mudanças políticas e econômicas no Brasil. A monetarização da terra exige medidas reguladoras que delimitem com alguma precisão os traçados urbanos e os limites dos lotes. Os processos de exclusão territorial do negro liberto na cidade e, mais tarde, do imigrante trabalhador das lavouras, se desdobra num panorama que, generalizadamente para o Brasil e América Latina, mantém a exclusão territorial 10
Portão dentro do terreno do Tecidão. Autoria própria.
das camadas economicamente desfavorecidas como parte compositora do abismo social existente no país. Aliada a isso, a pressão e poder dos interesses do mercado imobiliário, que vê a expansão espraiada como objeto de utilização estratégica de investimentos, ganha cada vez mais potência, estando atrelada às gestões públicas: com o avanço da república e o populismo tomando corpo no país, melhorias tornaram-se moeda de troca política. Relações de favor entre financiadores e governo fomentaram a utilização dos investimentos públicos para rentabilizar loteamentos e concessões, mas, em termos de otimização de infraestrutura e sustentabilidade, porém, a cidade horizontalizada se configura em um grande problema, uma vez que as distâncias aumentadas exigem uma potencialização dos gastos com construção e manutenção de infraestrutura viária, de luz, esgoto etc. e equipamentos públicos para servir à população. O desejo teórico de limitar a expansão horizontal urbana, vista em muitos planos diretores, inclusive no caso de São Carlos, é historicamente infrutífero pelo próprio sistema. A definição de um perímetro urbano para delimitar a invasão da zona rural que, ainda assim, é sistematicamente ultrapassada e reproposta, valorizando a terra e empurrando novas ocupações e arruamentos para fora da mancha urbana, demonstra que a cidade destina, para os pobres, a periferia. Essa lógica é vista dentro dos programas de construção e auxílio à moradia brasileiros desde a Cohab, cujas construções se davam, em maior parte na zona rural, longe das redes de infraestrutura e desconectadas da mancha urbana. Encontram continuidade no Programa Minha Casa Minha Vida: a solução do problema da habitação social ainda se limita a entregar uma residência mínima sem satisfazer particularidades das famílias contempladas e as outras atividades necessárias à vida urbana, em um tratamento automatizado e industrializado não só das residências, mas das vidas desses indivíduos. Esses conjuntos habitacionais, em muitas situações, encontram-se completamente isolados em sua realidade própria cujos únicos elementos compositores da sua configuração urbana são a malha de vias de tráfego e a repetição exaustiva de unidades padronizadas de habitação. Sem equipamentos de educação, cultura, saúde, parcas conexões com a mancha urbana e pontos de interesse da cidade, tais como trabalho, comércio e serviços, esses bairros são preenchidos de famílias que não têm como atender às suas demandas próprias sem grande deslocamento. Para suprir suas demandas cotidianas, os moradores desses conjuntos se veem dependentes de um transporte público geralmente escasso, que faz a transferência diária de ida e volta do centro, em um movimento pendular que setoriza a cidade e aprofunda suas distâncias, não somente físicas, mas também sociais. A crítica a esse sistema, portanto, se agrava com a sintomática guetização desses conjuntos, forçosamente fechados em uma bolha sem atrativos, sem qualidade dos espaços livres e sem variedade funcional ou social. Como suprir o déficit qualitativo associado à busca quantitativa do PMCMV e seu sistema que, em geral, submete-se de maneira exacerbada ao interesse econômico imobiliário e, por isso, fica muito aquém quando se trata de qualidade urbana e inclusão territorial?
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ANÁLISES CARTOGRÁFICAS E CONTEXTO SOCIOESPACIAL URBANO DE SÃO CARLOS
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Área da intervenção
Áreas Especiais de Interesse Social Ocupação Controlada Ocupação Condicionada Ocupação Induzida Qualificação e Ocupação Controlada Parque Ecológico
0,5km 1km
Fonte: Plano Diretor Estratégico de São Carlos 2016
Vista para o centro a partir do PMSC. Autoria própria.
Campus universitário
Zoneamento +AEIs Sociais Ao observar o zoneamento urbano proposto pelo Plano Diretor de São Carlos e as Áreas Especiais de Interesse Social, atenta-se ao posicionamento das AEIs sociais, a maior parte delas localizada a sul da cidade, em áreas periféricas e a sul da linha férrea, uma presença que, hoje, corta a mancha urbana de São Carlos e se constitui como uma barreira física entre dois lados da cidade. Dentre elas, é importante salientar a presença das demarcações de AEIs sociais de maiores dimensões, a sudoeste na mancha urbana, correspondentes a dois grandes conjuntos habitacionais de baixa renda construídos na última década através do “Programa Minha Casa, Minha Vida”, Residencial José Abdelnur e Residencial Deputado Jardim Zavaglia. Ambos tiveram uma aprovação conturbada, relacionada à situação de fragilidade ambiental de suas glebas, e sua diretriz de AEI Social se deu apenas com as modificações determinadas em 2016 e publicadas em 2017, através do site da prefeitura de São Carlos, alguns anos após sua aprovação e construção. As diretrizes de AEIs sociais 13
Área da intervenção
Até 1940 1940 - 1950 1950 - 1970 1970 - 1980 1980 - 1990 1990 - 2002 0,5km 1km
Expansão Urbana em áreas, muitas vezes, fora das regiões de ocupação induzida demonstram uma dinâmica de desenvolvimento do plano diretor que direciona as diferentes populações, baseadas em sua renda, a diferentes partes da cidade e concede, a cada revisão, um maior espraiamento da mancha urbana, movimento que gera uma dinâmica de valorização da terra em consonância com os interesses do mercado imobiliário. É possível, portanto, destacar como interesse da gestão urbana municipal um direcionamento da pobreza para longe do centro da cidade. O mapa de expansão urbana de São Carlos também demonstra a contradição do plano diretor com a realidade apresentada, em que é notável a mancha urbana aumentando a sul em uma situação de completo isolamento do resto da cidade, invadindo, com sucessões de loteamentos de grandes dimensões, a zona rural em uma área de pressuposta ocupação controlada. Hoje, essa mancha toma ainda mais espaço, com os conjuntos de habitação social supracitados que têm sido alocados nessa região. 14
Fonte: Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2002
Área da intervenção
Decréscimo>19% Descréscimo≤19% Acréscimo≤30% Acréscimo de 31% a 50% Acréscimo de 51% a 80% Acréscimo >80% 0,5km 1km
Fonte: Revisão do Plano Diretor Estratégico de São Carlos 2011
Acréscimo / Decréscimo Populacional Esse controle de ocupação previsto pelo Plano Diretor Estratégico, portanto, é ilusório. Existe um movimento consistente de “expulsão” das populações para fora do centro, ditado pela dinâmica de valorização do solo presente na cidade e agravado por sua manutenção e ganho de potência permitido pelas gestões governamentais, que exacerba as dificuldades econômicas de se obter acesso à cidade de forma gradativa e sistemática. Ao verificar-se o mapa de acréscimo/ decréscimo populacional, por exemplo, verifica-se que que os maiores acréscimos populacionais se encontram, naturalmente, nas novas áreas periféricas destacadas, uma vez que sua ocupação, antes da urbanização, era mínima, enquanto o centro, com teórica indução da ocupação pelo plano diretor, sofre um decréscimo populacional: o resultado concreto do sistema gerado pelo mercado imobiliário e deferido pelas gestões públicas é a exclusivização econômica das áreas centrais.
15
Área da intervenção
Até 50 hab/Ha 50 a 100 hab/Ha Mais de 100 hab/Ha 0,5km 1km
Densidade Demográfica O resultado, em termos de densidade demográfica, criado por essa “expulsão” das populações do centro para áreas cada vez mais periféricas, é uma compartimentação da cidade em regiões de baixo adensamento populacional em que uma fatia pequena dos usuários da cidade têm condições (e disposição) de pagar por moradia central, cedendo, ainda, espaço para outras espécies de fenômenos urbanos. Com a massificação de comércios e serviços nessas regiões exclusivizadas, ocorre a consequente criação de fluxos pendulares diários das populações para cumprir suas atividades cotidianas, de ir e voltar do trabalho, etc., obrigando-as a cobrir distâncias cada vez maiores e dispender cada vez mais tempo e dinheiro para esses fins. A fuga das áreas centrais tem consequências que requerem sacrifícios diários para toda a população atingida.
16
Fonte: IGBE/2000 apud Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2002
Área da intervenção
0 - 2,57 2,58 - 2,9 2,91 - 3,18 3,19 - 3,46 3,47 - 4,71 0,5km 1km
Fonte: IGBE/2000 apud Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2002
Média de Morador por Domicílio Ocupado Existe, também, uma diferença fundamental nos tipos de ocupação presentes nas diferentes regiões da cidade. As habitações centrais são formadas, em média, por núcleos familiares menores ocupando os domicílios. Os modos de ocupação periféricos e mais pobres são intensificados e chegam a abrigar mais de um núcleo familiar em uma habitação ou lote, fato verificado através de sucessivas pesquisas de campo. Na situação observada pelas habitações providas pelo “Programa Minha Casa Minha Vida”, muitas habitações sofreram modificações através de autoconstrução, criando extensões e “puxadinhos” para tentar, por vezes sem muito sucesso, abrigar de forma mais decente todos os moradores e agregados. Essa observação carrega a realidade do déficit de acesso à habitação pela população. Não, talvez, no sentido de afirmar que faltam tetos desocupados para se morar dentro da mancha urbana, mas a impossibilidade, por parte de uma fatia considerável da população, de acessá-los. 17
Área da intervenção
+70% >10 SM 30 - 70% >10 SM 50 - 70% <3 SM + 70% <3 SM 0,5km 1km
Concentração de Renda (chefes de família) A população de mais alta renda é a que ocupa boa parte das regiões de menor densidade demográfica e de ocupação, e que encontram-se mais densamente construídas e consolidadas, enquanto a população de menor renda aloca-se nas franjas da cidade. Trazer essa população para regiões centrais possibilitaria, de forma determinante, uma configuração mais otimizada e sustentável da cidade, e no alívio de uma série de conflitos e dificuldades impostas para as gestões urbanas e para os próprios moradores. O espraiamento da cidade define a necessidade de construir mais e mais equipamentos públicos para atender a populações afastadas, de forma que o governo, em certa medida, encontra maiores dificuldades de cumprir. Um aumento expressivo de cidade significa também degradação ambiental, na medida que se avança para fora da contenção da mancha urbana, e gastos expressivos com manutenção e construção de equipamentos e infraestrutura. O adensamento das cidades é, portanto, uma resposta importante para sua otimização e sustentabilidade. 18
Fonte: IGBE/2000 apud Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2002
Área da intervenção
+11 anos 9 - 11 anos 7 - 9 anos 5 - 7 anos - 5 anos 0,5km 1km
Fonte: IGBE/2000 apud Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2002
Escolaridade Uma ação desse tipo também criaria novas relações dos moradores da cidade entre si, permitindo maior contato das diferentes camadas sociais, e o acesso mais igualitário a serviços e oportunidades. Como é demonstrado no mapa de escolaridade: a renda, tanto em São Carlos quanto, em geral, em todo o Brasil, é parte determinante de uma variedade dos índices sociais: a dificuldade de acesso a equipamentos diversos pela população periferizada e a precarização desses equipamentos, potencializada pela já referida dinâmica de espraiamento da cidade, reflete em índices sociais cada vez piores para quem não consegue comprar sua educação, sua saúde e sua qualidade de vida.
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Área da intervenção
300<x<400 200<x<300 120<x<200 70<x<120 30<x<70 x<30 0,5km 1km
Planta Genérica de Valores Como já mencionado, um dos principais fatores da evolução contraditória da cidade para esse quadro é o interesse econômico imobiliário, que se beneficia do acréscimo do preço da terra quando urbanizada para torná-la mais rentável e, ao mesmo tempo, elevar os interesses nas terras centrais, onde se desenvolvem a maior parte das atividades, valorizando-a cada vez mais e acirrando a necessidade de uso de transporte rodoviário para as atividades do dia-a-dia. Lutar contra essa lógica é uma estratégia decisiva para favorecer o adensamento e o acesso à cidade, otimizando a infraestrutura existente e a vida das populações economicamente menos favorecidas: o cidadão empobrecido deve ter direito de acesso à cidade.
20
Fonte: Revisão do Plano Diretor Estratégico de São Carlos, 2011
Área da intervenção
0,5km 1km
Fonte: Google Maps e http://www.tudodeonibus.com/2011/08/ linhas-de-onibus-desao-carlos.html
linhas de ônibus municipais
Linhas de ônibus existentes Na situação atual, temos as linhas de ônibus fazendo um deslocamento geral dos moradores das periferias até o centro, cambiando através de dois terminais centrais. Associado a outras formas de transporte individual, denota-se o movimento pendular da população, já destacado nesse trabalho, para onde se aglutinam a maior parte dos comércios, dos serviços e equipamentos públicos urbanos. Essa caracterização do transporte público sancarlense é uma resposta à rotina diária que rege as vidas dos moradores, e é parte componente da estruturação desse trabalho.
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ANÁLISE LOCAL: USOS, CONFLITOS, POTÊNCIAS
22
10m 20m
Levantamento de uso do solo do entorno do terreno escolhido para a intervenção. feito a partir de visitas fotográficas e por imagens de satélite.
Travessia sob os trilhos do trem. Autoria própria.
A região alvo de interesse para a intervenção é adjacente às principais vias servidoras de São Carlos, por onde passam a maior parte das linhas de ônibus e se concentram equipamentos, comércios e serviços e onde a PGV aponta como área valorizada da cidade. A região do terreno da antiga tecelagem e da estação ferroviária e seus terrenos vazios adjacentes é a escolhida por satisfazer as premissas da discussão aberta por esse trabalho e abrir possibilidade de discutir e melhorar problemas particulares da cidade que fazem parte da dessa discussão: melhorias no tráfego de automóveis e pessoas e do acesso ao centro pela população que habita a sul da linha férrea, boa parte dela socialmente vulnerável e vítima das péssimas condições de acesso à cidade causadas pela expansão urbana dos últimos 15 anos.
residencial comercial industrial institucional indeterminado
23
10m 20m
Na imagem de satélite, podemos compreender melhor essa situação urbana, e a demarcação da linha férrea cortando a cidade e a escassez de travessias.
24
Imagem de satélite da parea da intervenção. Fonte: Google Earth
10m 20m
Diagrama com as edificações históricas utilizadas na intervenção
As edificações históricas, encontradas dentro do terreno escolhido, encontram-se em variados graus de utilização. A situação atual do Tecidão por exemplo, é de reforma, para um uso ainda não esclarecido.
eidifcações históricas utilizadas na intervenção
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A construção da ferrovia que corta a cidade de São Carlos se deve à necessidade de escoamento da produção do café e outros produtos agrícolas, e posteriormente à formação da indústria paulista, que se fundamentou, no início do século XX, associada a uma combinação de diferentes atividades econômicas alavancadas pela expansão da produção cafeeira. Suas atividades de transporte de carga e sua existência se configuram como uma barreira física imposta à região sul de São Carlos para o acesso ao centro e demais regiões da cidade. As grandes extensões de muros de arrimo para acomodação dos trilhos obrigam uma confluência de passagem da população para ir e vir de um lado a outro, criando situações de gargalo críticas e que causam conflitos viários e problemas de acesso, sendo uma dessas 26
Trem atravessando o PMSC. Autoria própria.
Pedestres dividindo espaço com o trem. Autoria própria.
situações a região do primeiro terminal rodoviário da cidade, em frente à estação ferroviária, hoje sede da Fundação Pró-Memória de São Carlos, importante base cultural e historica da cidade. Em São Carlos, a primeira indústria de fiação e tecelagem de algodão, para a produção de sacos para embalagem do café, a Fiação e Tecelagem Magdalena, foi montada em 1911, de propriedade de um fazendeiro de café. Foi incorporada pela Cia. Fiação e Tecidos São Carlos, que, além de produzir para o mercado interno, passou a exportar fios e tecidos para quase toda a América Latina, diversificando-se na metalurgia durante a 2ª Guerra Mundial. Posteriormente, o edifício foi adquirido pela Germano Fehr S/A. A fábrica foi desativada em 2005 e passou por estado de abandono até, recentemente, entrar em processo de refor27
28
Espera para travessia do trem. Autoria prรณpria.
ma, sem destino claro após uma proposta infrutífera de ser transformada em shopping. Intervir na indústria de tecidos é um problema que exige fundamentação teórica no que diz respeito ao patrimônio industrial da cidade de São Carlos. Com a demolição das indústrias, uma a uma, existe o risco do desaparecimento do registro físico desse tipo de construção, que fez parte da vida de muitas famílias e teve papel fundamental no desenvolvimento da cidade. Sua proposta de preservação na construção de um shopping é vazia e contraditória em termos de significação histórica, uma vez que se utiliza do elemento arquitetônico da indústria como uma máscara da cidade regida pelo capital, tendo o interesse patrimonial como forma de valorização, num discurso rentabilizador e que preencheria o espaço de apelo consumista, que se desfaz de outros embates para uma associação desconexa da memória operária e manufatureira a um lugar de consumismo e exclusão social.
Pró-Memória de São Carlos. Autoria própria.
É necessária uma estratégia de intervenção que respeite a essência do lugar, uma proposta de justaposição das camadas de tempo que ao mesmo tempo identifique os
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Vista do centro a partir do TecidĂŁo. Autoria PrĂłpria. 30
fragmentos urbanos e sua identidade própria, convivendo com uma nova camada escrita que preencha o terrain vague deixado dentro da presença do Tecidão. É preciso redirecionar o patrimônio industrial presente para uma inversão de funções e sentidos que tenha diálogo entre as temporalidades em que um local de trabalho, associado às relações opressoras da indústria e, ao mesmo tempo, lugar de grande importância para o crescimento e desenvolvimento econômico de São Carlos, possa ser comparado com a subsequente desindustrialização do país. Que ele seja entregue de forma a relacionar os contrastes entre os tempos e usos gerando novos significados, e que essa associação seja o elemento mais expressivo, estruturador de uma coesão urbana que mantenha – ou reavive – um senso de pertencimento da comunidade local e uma inserção satisfatória da nova comunidade, estabelecendo forma urbana e expressão arquitetônica no cotidiano através do conflito criado pela co-incidência de diferentes tempos históricos no mesmo espaço, pela conjugação entre o momento atual e a reminiscência do passado. A nova camada a ser inserida deve levar em consideração as anteriores, já existentes, identificáveis em seus próprios tempos e portadores de sua própria identidade, na metáfora do palimpsesto urbano: a escrita que mantém traços prévios, ao mesmo tempo que recebe novos escritos. É possível entender, dessa forma, a cidade como uma sobreposição de diferentes camadas.
Ruínas do Tecidão. Autoria própria.
A proposta, portanto, não é de puro preservacionismo, mas não pretende erradicar a memória da indústria. A memória do Tecidão, seu papel histórico, pedagógico e de pertencimento com a população adjacente, é a entidade sobre a qual a nova população irá se assentar, para incitar um entrelaçamento de distintos mundos.
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32
“(Terrain vague) um termo especialmente útil para designar a categoria urbana e arquitetônica com que a aproximamos dos lugares, territórios e edifícios que participam de uma dupla condição.Vago no sentido de vacante, vazio, livre de atividade, improdutivo, obsoleto. Por outro lado vago no sentido de indefinido, sem limites definidos, sem horizonte de futuro. (...) Terrain: caráter urbano da expressão, uma extensão de solo de limites precisos, edificáveis, está ligada à condição expectante, potencialmente aproveitável. A relação entre ausência de uso, de atividade e sentido de liberdade, de expectativa é fundamental para entender toda a potência evocativa, vazio como promessa, como expectação.”
Ruínas do Tecidão. Autoria própria.
(SOLÀ MORALES, 2002).
33
DESENVOLVIMENTO
34
30m 90m
Diagrama: Linhas de ônibus do entorno e conflitos viários relacionados à presença dos trilhos do trem Fonte: Google Maps e http://www.tudodeonibus.com/2011/08/ linhas-de-onibus-de-sao-carlos.html
Linha férrea na Rua Joaquim Evangelista de Toledo. Autoria Própria.
Justamente ao lado da intervenção ocorre um dos gargalos mais críticos da cidade com relação ao sistema viário. O terreno a se intervir, ainda com sua inclinação e sucessão de muros de arrimo, cria uma barreira física extensa à passagem de qualquer pessoa em qualquer meio de transporte terrestre. O viaduto, situado muito próximo ao terminal rodoviário, é participante de uma situação conflituosa de automóveis, ônibus, bicicletas e pedestres, uma vez que é uma das poucas possibilidades de travessia existentes para todos esses meios de deslocamento.
Travessias Linha férrea Linhas de ônibus
A Praça Antônio Prado posiciona-se ao lado do edifício que serviu como primeiro terminal rodoviário de São Carlos, oposto ao Pró-Memória de São Carlos, e hoje cumpre seu papel. Todas as linhas que passam pelo local circundam a praça, carregando e descarregando passageiros dentro 35
Diagrama do fluxo viário local. Fonte: Google Maps
General Osório
Câ
nd
R. Aquidaban
R. R.
M
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Pa
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co
lin
o
io tôn
R. Santa Cruz
m
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R. José Bonifácio
Pe
lic
R.
R. Bento Carlos
R. Primeiro de Maio
Bo
An
10m 20m
dela. Todas, sem excessão, vêm pelo viaduto ou pela Rua Riachuelo e do eixo principal de transporte de São Carlos, as ruas Episcopal, Alexandrina e Av. São Carlos, que corta o centro no sentido norte-sul. As opções de saída desses ônibus são sempre o viaduto ou na direção desse circuito estruturante de três vias que e que é responsável por escoar parte significativa dos fluxos de automóveis e pessoas da cidade. Os usuários do sistema de transporte público, para chegar ao terminal ou deixá-lo, obrigatoriamente enfrentam a travessia de uma das ruas que circundam a Praça Antônio Prado, lidando simultaneamente com problemas de visibilidade causados pelos ônibus, que estacionam e deixam o terminal de forma intermitente durante o dia e com os motoristas competindo por espaço entre si e com os ônibus. A somatória da presença de ônibus e carros, nessa conformação, sobrecarrega a malha viária de toda a região da praça: o gargalo criado pela falta de travessias da linha férrea soma-se à presença massiva de ônibus tentando servir ao terminal subdimensionado, ao mesmo tempo em que o desenho determinado para os fluxos de veículos cria 36
Existente
Diagrama das paradas e linhas de ônibus atuais sobrepostas ao fluxo viário local. Fonte: Google Maps e http://www.tudodeonibus.com/2011/08/ linhas-de-onibus-de-sao-carlos.html
Existente ônibus Paradas
10m 20m
cruzamentos e situações de conflito que geram disputas por espaço entre eles mesmos, os ônibus, os pedestres e outros meios de transporte individual, impondo travessias perigosas, engarrafamentos, colisões e problemas de diferentes ordens. Possíveis diretrizes que poderiam ser benéficas para essa situação são: .Aumento das áreas de parada dos ônibus, desafogando a situação da Praça Santa Cruz e permitindo um fluxo menos conturbado; .Retirada de cruzamentos de carros que travem o trânsito e obriguem os motoristas e pedestres a se atentarem com fluxos diferentes ao mesmo tempo em seu deslocamento; .Desobrigação de travessia dos pedestres na Praça Santa Cruz, que descem do transporte público municipal ilhados pelas vias que circundam a Praça Santa Cruz; .Simplificação do fluxo viário local, no sentido de remover direcionamentos diferentes de veículos ocupando a mesma via; .Transferência de parte do fluxo de veículos para outra área.
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Diagrama do fluxo viário local. Fonte: Google Maps
General Osório
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R. Primeiro de Maio
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Para cumprir essas premissas, prolongou-se a rua Marcolino Pelicano, conectando-a a uma nova rua que passa por debaixo do trilho do trem, de forma semelhante à que ocorre na travessia mais próxima, a aproximadamente 280m a sul da nova conexão proposta. Essa nova passagem interliga a Rua Anônio Botelho, na Vila Prado, à Rua Primeiro de Maio, em direção à Av. São Carlos, no centro. Essa medida transfere boa parte do trânsito para longe do terminal e do viaduto. Os fluxos, com essas intervenções, podem ser então direcionados para que o terreno da intervenção cumpra o papel de um pequeno anel viário local, transformando o viaduto em uma via de uma mão só, sentido Vila Prado, enquanto a nova via que atravessa o trlho leva o fluxo contrário para longe do terminal e direciona o tráfego diretamente para as três vias estruturadoras do trânsito sancarlense, em um ponto de distribuição para norte e sul: é no cruzamento com a Rua Primeiro de Maio que a Av. São Carlos tem duas mãos. Esse fator incentiva o uso da nova via pela ampla gama de opções que ela permite aos condutores de veículos.
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Novo Existente
Diagrama das paradas e linhas de ônibus atuais sobrepostas ao fluxo viário local. Fonte: Google Maps e http://www.tudodeonibus.com/2011/08/ linhas-de-onibus-de-sao-carlos.html
Existente ônibus Paradas
10m 20m
No caso das linhas do transporte municipal de ônibus, as alterações fundamentais ocorreram na utilização desse anel viário para expandir as paradas em torno da intervenção, ampliando espaço dado aos ônibus para descarregar e recolher passageiros. Dessa forma, ocorre uma desaglutinação de veículos que utilizam o mesmo espaço para oferecer o serviço de transporte público para a população. O sistema proposto não redefine as linhas originais, apenas alterando-as em nível local, direcionando as linhas para circundar a intervenção antes de seguir seu destino original. A Praça Santa Cruz sofre uma ampliação em seu calçamento, conectando-se diretamente ao Pró-Memória e possibilitando mais espaço para o usuário do sistema, deixando-o mais próximo do equipamento cultural, antes ilhado pela conformação do trânsito. Essa alteração também permite que o pedestre tenha opção de não atravessar nenhuma rua para deixar a parada de ônibus, contribuindo para sua liberdade e segurança.
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A intervenção, por ser voltada principalmente para contemplar um demográfico de habitação de interesse social, deverá possuir equipamentos de forma a atender uma faixa etária, em geral, diferente daquela que ocupa a região do centro, uma vez que o centro da cidade é desadensado e possui uma média de idade mais avançada que o resto de São Carlos. Em contraposição, o público direcionado para as moradias sociais a sul concentram, também, a população mais jovem da cidade. Isso significa uma nova demanda para a região por equipamentos de educação de diferentes faixas etárias. A intervenção procura prover equipamentos educacionais para todas as fases da formação de uma criança, prevendo uma creche, uma escola de educação infantil, de ensino fundamental e de ensino médio, todas públicas, comple-
0-5
40-44
6-15
16-19
45-49 menor concentração
50-54
20-24
55-59
25-29
60-79
30-34
80+ maior concentração
mentando os equipamentos já existentes nos arredores da intervenção. Uma vez que o público previsto para ser alocado na intervenção é de 637 famílias, os equipamentos existentes nas proximidades não seriam suficientes para atender à nova demanda, e a construção desses novos equipamentos se faz imprescindível. O programa ainda objetiva a relação de seus espaços livres com seus equipamentos próximos, direcionando os usos e a qualificação das áreas livres para atrair e incentivar a utilização do espaço público cedido no projeto pelos usuários desses equipamentos. Incorporando a presença das edificações de habitação social, esses equipamentos de educação, as ruínas do Tecidão, o terminal rodoviário e a Fundação Pró-Memória de 40
35-39
Densidade demográfica de São Carlos por faixa etária em 2010. Fonte: Revisão do Plano Diretor Estratégico de São Carlos - 2011 apud. IBGE, Censo demográfico 2010
Fundação Pró -Memória de São Carlos Jardim vertical
Convivência Restaurante popular Creche Educação Infantil
Anfiteatro Espaço lúdico Ensino Fundamental
Teatro Biblioteca
Quadras poliesportivas Pista de Skate Ensino Médio
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Diagrama: tipos de uso dos equipamentos construídos da intervenção
São Carlos, o terreno escolhido solicita um complexo que relacione a conexão com a cidade, o morar, educação, cultura e memória dentro de seu programa. Criar um sistema que funcione vinculando de maneira integrada todas essas questões é o grande desafio e grande norteador das decisões de projeto presentes na proposta.
Educacional
Prevê-se, reprogramando o abandono, tornar o conjunto um sistema de espaços vivos, que seja utilizado não só pelos moradores locais, mas também ser atrator de pessoas de toda a cidade. Foram inclusos no programa, em busca de satisfazer esses preceitos, também uma biblioteca pública, um teatro e um restaurante popular.
Contemplativo/estar
Cultural Lazer/esportivo
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Acessos do público aos equipamentos Fluxos no nível do chão Travessias elevadas Fluxos reservados de acesso às habitações
A interconexão entre os diferentes espaços e usos se dá através de diferentes camadas. No sentido norte-sul ocorrem as conexões a nível do chão. Através delas, existe uma gama de possíveis caminhos para se atravessar a intervenção e que fazem a distribuição entre os espaços criados e as edificações que, por sua vez, apoiam-se no chão ou pairam sobre ele para permitir direcionar fluxos e organizar as áreas livres que são contidas ou escapam por entre elas. O grande desnível do terreno e a já existente patamarização causada pela acomodação da linha férrea cria paredões nas travessias no sentido leste-oeste. A resposta gerada para solucionar essa limitação foi uma série de travessias elevadas, estruturalmente leves e marcadas por
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Diagrama: Camadas de fluxos peatonais da intervenção.
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Diagrama: relação das edificações de habitação e outras construções estruturantes da intervenção.
uma linguagem característica, que, alinhadas às ruas da Vila Prado interrompidas pela área da intervenção, cortam o terreno por cima e ligam-se através de escadas e rampas a pontos chave do projeto. Dessa forma, sua presença permite novas conexões urbanas e auxiliam na organização e produção de novas relações entre os espaços e os fluxos da intervenção. Por fim, uma última camada faz o acesso e a distribuição dos moradores para suas moradias, através de circulações verticais, corredores das lâminas de habitação e um sistema próprio de rampas e acessos com uma linguagem diferenciada daquele criado para servir ao público geral.
Edifícios de habitação Equipamentos propostos Rampas elevadas de acesso à intervenção Acessos direto às habitações ou seus espaços reservados
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Implantação
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Uma questão importante para a definição das decisões projetuais da intervenção é a necessidade de manter solo permeável e contribuir de forma decisiva para um projeto que mantenha boa drenagem e um ambiente saudável e confortável para os usuários. A dedicação do projeto às áreas verdes, também contribui para a construção de espacialidades dos diferentes lugares idealizados. Apesar de cada uma das áreas verdes ser pensada de forma individual, suas conformações podem ser agrupadas por categorias de densidade de vegetação, levando-se em conta o tipo de relações que se deseja que o usuário tenha com esses espaços verdes. Articular, de maneiras diversas, essas categorias de densidade e tipos vegetais, foi uma das preocupações da elaboração e conformação dos espaços. Gramíneas, vegetação rasteira e arbustiva e, generalizadamente, arborização composta por diferentes palmácias e árvores tropicais fazem parte da gama de tipos de vegetação compositora das áreas verdes do projeto. Diferentes predominâncias de cada um desses tipos de vegetação auxilia na contenção dos espaços e em uma gama de experiências espaciais singulares distribuídas pelo terreno do complexo.
Diagrama: Distribuição das áreas verdes na internvenção e esquematização dos espaços livres de todos níveis da intervenção 46
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O papel dessa vegetação também é de definir uma linguagem, em situações como os pátios elevados contidos sobre as escolas de ensino fundamental e médio, no centro e a sul da intervenção, ou, ainda, nos espaços que acompanham a face leste de algumas das lâminas que têm habitações que alcançam o chão, através de canteiros elevados que separam física e visualmente as janelas do térreo das lâminas de habitação do convívio público e conferem sombra, pousos e contém áreas de estar e lazer em sua configuração.
Arborização adensada Predominânica de arbustivas Vegetação rasteira Áreas livres de uso inespecífico Áreas livres de uso específico Áreas livres reservadas das habitações
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Para compreender melhor o projeto, foram elaboradas plantas que acompanham os diferentes níveis da intervenção. Para tanto, foram definidos 4 cortes horizontais, que, sobrepostos e inter-relacionados, devem ser determinantes para compreender como são as relações entre as edificações e os espaços que elas conformam. O primeiro corte ocorre na altura 831 (nível do mar), excluindo toda a informação da intervenção que ocorra acima desse corte. Nele, é possível visualizar a praça Santa Cruz e o terreno do Tecidão. A norte, na Praça Santa Cruz, o gazebo no centro da praça e a passarela de acesso elevado fecham o caminho transversal, determinando um fluxo que contorno a praça, determinando uma passagem não linear. Voltando ao tratamento da vegetação, procurou-se associar a presença das palmeiras com a questão da memória. Sua presença determina uma linguagem de associação com o passado, portanto. As palmeiras reais foram mantidas, e novas foram adicionadas, faceando o prédio da Fundação e Museu Pró Memória, demarcando o rtimo da estrutura do prédio. Evitou-se o uso excessivo de vegetação nessa região para evitar o excessivo cobrimento da fachada do préido histórico. por arborização. A região leste da intervenção pode ser acessada em nível através da rua Aquidabam, convertida em passeio na região da intervenção, e através de rampas, advindas da região oeste da intervenção, no nível acima, ou da rua José Bonifácio, que delimita a face leste da intervenção e passa alguna metros abaixo do patamar estabelecido pelo Tecidão. Aproveitou-se essa diferença de níveis e a presença das ruínas do tecidão para criar uma sucessão de espaços de menor escala, cada um com uma linguagem e características
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únicas: o acesso ao teatro sobe por uma rampa encravada no terreno e dando uma experiência de descoberta gradual da intervenção; o jardim vertical criado utilizando-se das ruínas do casarão abandonado; os canteiros arborizados delimitados pela biblioteca e a rampa de acesso elevada; a estufa que cria um jardim coberto para se acessar a biblioteca, pensado para abrigar um café; o gramado que faceia essas duas últimas situações, espaço propício para atividades relacionadas ao descanso, ao estar, à contemplação e à leitura incentivados pelas presenças que o circunscrevem; e, finalmente, a área de atividades esportivas, programada por duas quadras poliesportivas e uma pista de skate, relacionando-se diretamente à entrada da escola de ensino médio, público que deve utilizar mais ostensivamente esse espaço da intervenção. Vale comentar que, para a entrada da escola, um conjunto de tablados em madeira serve como pouso. A presença desses tablados se repete na entrada de outros equipamentos de educação, conectando, em linguagem, o tipo de uso das edificações com as quais eles dialogam, definindo uma área de espera, necessária nas entradas e saídas dos turnos dos horários letivos.
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No próximo nível, que visualiza o que ocorre entre as cotas 831 e 835, define-se um novo plano, causado pela acomodação da linha férrea, que corta a intervenção. O entendimento da linha férrea como parte integrante da cidade, levando-se ainda em conta o desejo do município de transformá-la em um canal por onde, no futuro, se passarão veículos leves sobre trilho para transportar a população, foi resolutivo para compreende-la como compositora da intervenção, e não como um corte, um empecilho a se transpor. O eixo indicado pelos trilhos convida à travessia de norte a sul, com difetentes possibilidades e caminhos. As edificações elevadas que pairam sobre o terreno possibilitam a configuração de espaços maiores e conexão plena entre eles. A rua General Osório, atravessando no sentido leste-oeste, a norte da intervenção, é interrompida, configurando um passeio e entrada peatonal do projeto, onde se configura um grande espaço de espera e convívio determinado pela extensão norte do terminal rodoviário e a saída do restaurante popular. A praça que serve de entrada para o restaurante e a escola de educação infantil tem cunho cívico. Ao reunir públicos e interesses diversos em sua relação direta com equipamentos tão diferentes, a praça volta-se, por resposta, à diversidade que dela se ocupará. Com a presença de um grande tablado fechado por uma parede curvada, a praça ainda potencializa um uso cultural do seu espaço, relacionando-e de forma indireta à categoria de programa sugerida pelo prédio da FPMSC, podendo servir de palco de diversas atividades culturais e artísticas, comícios, feiras, reuniões, etc. promovidos pela gestão municipal, da Fundação ou mesmo da própria população.
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O conjunto de tablados característicos dos espaços de acesso dos equipamentos educacionais se faz presente, convidando a um amplo uso da praça, servindo não só aos pais e crianças da escola, mas também aos usuários do restaurante e às atividades relacionadas ao anfiteatro. Um pouco mais a sul, temos um conjunto de espaços de uso lúdico voltado às crianças. Sua posição estratégica entre os equipamentos de educação define esse uso com ‘sprinklers’ no chão, um parquinho e uma área dos trilhos cuja diretriz é restaurar os carros de trem abandonados para ceder para as brincadeiras das crianças. Seguindo a sul, após atravessar a entrada da escola de ensino fundamental, a oeste dos trilhos, e a praça tombada da FPMSC, um passeio que ladeia o trem leva a um espaço que atravessa a linha férrea e que serve de mirante à área esportiva da intervenção e à cidade. Em seguida chega-se à entrada sul da intervenção e a um espaço próprio das habitações, que acontece sobre a escola de ensino médio, acessado através de rampas. Esse espaço, por conta da delimitação técnica de se colocar arborização sobre uma laje, utiliza-se de grandes vasos com espécies de pequeno porte, que por sua vez conferem uma linguagem própria da ocorrência desse espaço e uma vegetação de menor dimensão se comparada à que ocorre, em geral, no restante da intervenção.
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O nível que permite visualizar a cota 835 permite agora uma compreensão mais global da intervenção, embora o entendimento do projeto ainda não esteja completo. Aqui visualizam-se quase todas as passarelas de acesso elevado. Sua importância se dá pelos hábitos do trem e pela necessidade de se vencer grandes diferenças de altura utilizando-se de pouco espaço. Os 6m de desnível cobertos de uma ponta a outra da intervenção pelas rampas criam um novo sistema de conexões importantes na cidade, dado o tratamento atual da linha férrea como uma grande barreira que divide a cidade. As rampas também, como é possível denotar, propiciam acessos em um nível superior aos prédios de habitação, possibilitando maior verticalização e, portanto, mais unidades habitacionais para atender à população. Dessa forma, as lâminas que se distribuem pela intervenção também têm potencial de se tornar meios de conexão. Nesse momento, porém, é importante destacar que as rampas voltadas para uso dos moradores para acesso às suas unidades, acinzentadas, possuem uma linguagem característica daquelas para utilização do público geral e que fazem a travessia elevada, rubras, hierarquizando seus usos e definindo direcionamentos dos diferentes públicos. A creche aparece nesse nível, e alinha-se com o nível da rua Marcolino Pelicano, delimitadorea da face oeste do terreno da intervenção, depositando todas suas entradas e relações diretas com ela. Contida entre a rua e o galpão, sustentada sobre a escola de ensino fundamental, a creche tenta desenvolver seu programa estendendo-se para o limite do muro de contenção, buscando ganhar espaço para as crianças e para seu programa sem causar prejuízos aos outros equipamentos Um maior desenvolvimento sobre essas relações acontecerá mais à frente, na definição do recorte da intervenção.
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Outra ocorrência de espaço voltado aos moradores se mostra nesse momento, em cima da escola de ensino fundamental, carregando consigo a mesma linguagem vista no caso da escola de ensino médio. Já é possível identificar todas as tipologias de habitação que foram pensadas para a intervenção. Nas lâminas, temos Habitações de Interesse Social com 1, 2 e 3 quartos. Nas torres, foi criada uma tipologia de Habitação Popular de Mercado, que será explicado mais adiante. Nesse nível, para dar espaço à passagem do trem, os prédios de habitação se mantém fora do caminho dos trilhos.
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Aqui, a última camada, demonstra a sobreposição das lâminas de habitação por sobre a linha férra. O jogo de volumes que essa decisão de projeto acarreta denota a percepção da linha como parte componente da cidade e é responsável pela interligação formal entre os lados da intervenção num conceito de amarração/costura. As lâminas atravessam por sobre os trilhos, amparando-se em caixas ocas de concreto, que se estendem para também ter papel de criar espaços elevados de uso dos habitantes desses edifícios. Essa decisão de projeto contribui no adensamento populacional da intervenção. A defesa desse gesto é de otimizar a infraestrutura existente, utilizando o terreno de ótima localização de forma intensiva, em busca de agregar e atender ao máximo de famílias de forma a se manter um ambiente urbano confortável e sadio.
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Corte A
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Cortes urbanos
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Cortes urbanos
Pesa sobre a história da Habitação de Interesse Social no Brasil, em especial a partir do BNH, um caráter de ‘fábrica de unidades’, em que um desenho único de habitação é exaustivamente repetido, com pouca ou nenhuma consideração por fatores essenciais do morar, como qualidade de implantação e as singualridades e necessidades das diferentes famílias que ocupam essas unidades. O aparente tratamento que a habitação social tem, determina a pobreza urbanística e arquitetônica presente em conjuntos habitacionais espalhados por todo o país. Sua conformação pasteurizadora do meio urbano e homogeneizadora da vida e das populações define “clusters” sociais pela recorrente construção de intervenções de grande porte voltadas para uma única camada social, e modos de morar, por muitas vezes, indignos, por distribuir um produto idêntico para ser utilizado por famílias de tamanhos dos mais variados. A resposta da intervenção foi oferecer quatro tipologias diferentes, com foco em satisfazer as demandas encontradas em famílias de diversas formações e faixas sociais. O projeto das habitações, pensado dessa forma, é mais uma ferramenta da intervenção na busca de se dissociar das características socialmente homogeneizadoras dos últimos programas brasileiros de habitação social, procurando agregar de forma digna, no mesmo conjunto habitacional, famílias de realidades distintas. Optar pela diversidade é uma forma de se fazer cidade. As três primeiras tipologias são de habitação social, que foram projetadas para se conformar em edifícios de lâmina, 16 unidades com um quarto, 484 com dois e 47 unidades de três quartos, com áreas úteis de, respectivamente, 31,12m², 39,65m² e 54,72m². A quarta tipologia, que se conforma em torres, leva 4 unidades de Habitação de Mercado Popular de 55,95m² por andar, totalizando 90 unidades de HMP. Em números, a quantidade de famílias atendidas é, portanto, de 637. Para o caso das lâminas, a definição fundamental de implantação das unidades foi permitir boa insolação, mantendo as janelas dos quartos recebendo luz solar leste e norte, uma conformação feliz para o caso de São Carlos. O posicionamento das esquadrias e relação dos espaços internos das três tipologias de HIS permite também criar ventilação cruzada quando necessário.
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isomÊtrica de pavimento-tipo de uma lâmina demonstrativa de HIS e pavimento-tipo da torre de HMP.
Planta baixa de pavimento-tipo de uma lâmina demonstrativa de HIS e pavimento-tipo da torre de HMP.
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Foi julgado importante, para as lâminas de habitação, em sua distribuição pelo terreno, ater-se a soluções semelhantes, na conformação de uma linguagem própria do complexo de habitações e soluções projetuais, procurando ainda respeitar as especificidades inerentes ao espaço em que se encontram e/ou aos equipamentos lindeiros. Nesta página, são mostrados três cortes esquemáticos de situações a que se sujeitam as lâminas de habitação. No corte esquemático 1, abaixo, a lâmina toca o chão. A definição geral é de colocar um canteiro entre o edifício e as janelas dos quartos das habitações, criando uma separação física e visual com o espaço público limítrofe. No corte esquemático 2, à direita, a lâmina coloca-se a 4m do seu acesso mais baixo. A solução técnica pensada é uma ‘mesa’ estrutural que apoia as unidades construídas por cima. Essa altura permite uma passagem confortável para pessoas no vão livre criado, e um acesso intermediário propiciado pelo patamar mais alto, da rua Marcolino Pelicano, do qual saem uma série de passarelas elevadas. Por último, nas situações de passagem do trem, a lâmina subtrai dois andares de unidades, apoiando-se sobre uma caixa oca de concreto, que projeta-se criando uma sacada comum, extensão do corredor de distribuição de um dos andares da edificação.
Corte esquemático 1 - Lâmina que toca o chão 62
Corte esquemático 2 - Lâmina elevada do chão
Corte esquemático 3 - situação de sobreposição à linha férrea e travessia do trem 63
Recorte - Implantação Uma aproximação de uma região importante da intervenção é necessária para se obter certo controle e pensar novas camadas de uso da intervenção e atentar-se a alguns detalhes que, pela intervenção geral, não eram devidamente visualizáveis. A escolha dessa área do recorte se deu pela possibilidade de organizar e projetar, em uma situação desafiadora, debruçando-se sobre o programa de três equipamentos presentes na intervenção, e ter a oportunidade de mostrar com maior clareza questões chave do projeto. Aqui, o desenvolvimento dos espaços livres ocorre principalmente por conta da expansão do Terminal Rodoviário, ao vínculo da rampa e passarela de conexão elevada com o espaço cívico, à FPMSC e à Praça Santa Cruz. A relação que todos definem entre si é de separação e, ao mesmo tempo, conexão, de uma forma interessante. O prédio da estação ferroviária, hoje FPMSC, passou por expansões em diferentes momentos até encontrar-se em sua configuração atual. A passarela elevada corta a cobertura do pré-existente, pousando sobre a estrutura da primeira expansão e faceando a construção original. A sobreposição dos diferentes tempos, vinculados entre si, configurando novos usos e novas experiências a partir de sua relação. Outras formas de indicar entradas à intervenção, fora os portões e a escadaria do edifício do Pró-Memória, são postados em suas laterais, com uma exemplificação dada nesse recorte. Um grande pergolado de madeira, que se alinha às paredes do edifício, estabelece um convite ao usuário, para que ele compreenda a sua opção de fazer a passagem por baixo dele. Suas alternativas, em seguida, são de subir a rampa da plataforma, ou seguir até a expansão norte do terminal, onde ele encontrará uma travessia, controlada por pequenos gradis de correr acionados por sensores, com um tablado, do outro lado, acompanhado de um espaço de convivência dentro do antigo galpão, edifício agora utilizado para conter o programa do restaurante popular e parte do programa da escola de educação infantil.
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Recorte - Planta de piso O piso escolhido para a maior parte da intervenção é o paralelepípedo intertravado. Suas propriedades drenantes e a presença dessa espécie de pavimentação na região do galpão possibilitam conduzir os caminhos das pessoas sem impermeabilizar as superfícies por completo, mantendo ainda, e expandindo, uma presença anterior à intervenção. Nas diferentes regiões do terminal expandido, porém, a paginação do piso é feita em uma superfície de peças irregulares de pedra, e indica os espaços de espera e conectando visualmente seu novo uso com aquele feito na Praça Santa Cruz. A região entre o galpão e o viaduto é definida por uma confluência de diferentes fluxos, criados pelos novos interesses contidos dentro da intervenção, tais como a saída do restaurante e a expansão norte do terminal pelos novos acessos tais como a travessia do trem e o passeio criado a norte com o fechamento do trecho da rua General Osório. O arranjo criado pelos canteiros seriados demarca essa distribuição dos fluxos de usuário no sentido norte-sul e a afluência de pessoas para esse ponto da intervenção.
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3m 9m Para a situação do recorte, ainda, foram desenhados três dos equipamentos da intervenção. O espaço definido para projeto se limitou ao uso do galpão e uma faixa de 29 metros de largura contida entre ele e a contenção de arrimo, definindo relação com as tipologias de habitação propostas para ficar em cima desses equipamentos. Essa série de fatores a se correlacionar obrigou a enfrentar uma série de limitações de espaço e ordenação do programa. Para a creche, as diretrizes de projeto buscaram manter a vista comum para dentro da intervenção, devido a sua posição elevada, de onde partiu a decisão de colocar o corredor de distribuição voltado para leste. Esse fato permitiu estender, sem sérios prejuízos ao galpão,’braços’ com partes do programa do edifício para além da estrutura metálica que apoia as lâminas de habitação, apoiando-se diretamento sobre o muro de arrimo existente e tomando para si o vão de 5m formado entre a lâmina para acomodar suas demandas, levando em conta também o programa da escola de educação infantil abaixo. No caso desta última, também apertada entre o galpão e o muro de arrimo, reivindica para si uma parte do galpão, criando uma grande área para as crianças, que percorre todo o espaço contido por baixo do vão das habitações e se embrenha para dentro do edifício existente. O restaurante resolve-se na definição de um fluxo principal que toma o espaço dos trilhos, conferindo uma entrada separada, dado que o restante do seu programa ocorre sobre o patamar de 50cm de altura por cima do qual ergue-se o
Corte esquemático demonstrando as relações entre os equipamentos entre si e o terreno
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8 3m 9m galpão, estabelecendo mais facilmente uma hierarquização dos espaços, além de um corredor coberto para as filas de usuários até a bilheteria.
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As áreas de serviço, tanto do restaurante como da escola de educação infantil, se organizam a norte, voltadas para receber uma rua alimentadora compartilhada entre os equipamentos. Isso significa menos espaço tomado da intervenção para esses usos. Foi feita uma compartimentação, nos três projetos, buscando organizar os espaços. Na creche, o setor administrativo fica na entrada, seguido pelas salas de atividades das crianças mais velhas (de 2 a 3 anos), os berçários, com seus respectivos solários e salas de apoio, com o refeitório e setor de serviço concentrado no fundo, com um acesso próprio e entrada alternativa para os funcionários. Uma organização próxima ocorre na educação infantil, com seu refeitório e setor de serviços no fundo, com entrada de serviços própria. Os setores pedagógicos, com as salas de atividades, e a administração, se separam a partir da entrada, que funciona como um hall de distribuição.
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Programa Creche
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1. Vestiários dos funcionários 2. Lavanderia/armários 3. DML 4. Despensa 5. Roupeiro 6. Cozinha 7. Depósito de lixo 8. WC crianças 9. refeitório 10. Solário 11. Berçários 12. Fraldários e lactários 13. Espaço de uso múltiplo 14. Sala dos educadores 15. WC educadores 16. Salão de brincar 17. salas de atividades 1 18. salas de atividades 2 19. Administração 20. Almoxarifado 21. Recepção
Programa Escola de educação infantil 1. Vestiários dos funcionários 2. Lavanderia/armários 3. Depósito de gás 4. DML 5. Despensa 6. Depósito de lixo 7. Cozinha 8. WC crianças 9. refeitório 10. Pátio de brincar 11. Salas de aula 12. Espaço de uso múltiplo 13. Administrativo 14. Sala dos educadores 15. WC educadores 16. Secretaria 17. Recepção 18. Almoxarifado 19. Enfermaria
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Programa Restaurante Popular 1. Vestiários dos funcionários 2. Depósito de lixo 3. Lava-bandejas 4. DML 5. Depósito de bandejas limpas 6. Administrativo 7. Despensa 8. Higienização de matéria prima 9. Câmara fria 10. Nutricionista 11. Área de pré-preparo e cocção 12. Entrega de marmitex 13. WC usuários 14. Bilheteria 15. Distribuição das refeições 16. Refeitório 17. Salão de convivência
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3m 9m A preocupação com os fluxos determinou o programa, levando em conta os processos de produção, no caso do restaurante popular, e das relações entre crianças, educadores, administradores e outros funcionários, nos equipamentos de educação. O sistema que necessita comentários é o do restaurante popular, que associa o processo que passa o usuário para se alimentar e o do preparo e distribuição da comida. O usuário entra, compra seu bilhete, higieniza-se, pega a comida, alimenta-se, devolve a bandeja e sai para o espaço de convívio. Existe uma preocupação de evitar contaminação cruzada no preparo das refeições. O funcionário do restaurante deve higienizar-se antes de acessar os ambientes pelos quais passam alimentos, entrando pela administração, batendo o ponto, higienizando-se e indo cumprir sua função. A comida, por sua vez, deve chegar, ser higienizada, separada e armazenada. Esse processo gera lixo, que não deve passar por nenhum local em que também são transportados alimentos. Em seguida, ela vai à área de cocção, preparada e despachada como marmitex ou servida nas bancadas do salão de alimentação. O lixo produzido nesse processo deve ter o mesmo tratamento do último, assim como aquele gerado ao devolver a bandeja, que, após higienizada, também precisa evitar contaminação cruzada ao ser novamente levada ao salão para os usuários.
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Funcionários do restaurante popular Usuário - Marmitex Usuário comum bandejas limpas
Exclusivo restaurante popular
Matéria prima Matéria prima higienizada refeições lixo
presente em todos os equipamentos
Alunos educação infantil Funcionários - apoio/pedagógico
Exclusivo educação infantil
Crianças de 2 a 4 anos Crianças de 3 a 24 meses
Exclusivo creche
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