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SALVADOR, SÁBADO, 1 DE NOVEMBRO DE 2014

AS CORES QUE EU QUERO PINTAR

Além das palavras Insultar um grupo de pessoas por causa da cor da pele é considerado crime pela Constituição Federal. Mas como o racismo se manifesta? No Colégio Oficina e nas escolas Hercília Moreira e Mãe Hilda, algumas crianças deram sua opinião sobre o tema. Para Alex Azevedo, 10, racismo é quando alguém não gosta do outro apenas por ele ser negro. Já para Natália Miranda, 10, é quando alguém é discriminado por suas características físicas, como ter os cabelos crespos. Dandara Santana, 12, contou que já foi vítima do preconceito. “Disseram que meu cabelo era ruim. Mas não ligo, gosto de ser quem sou”, disse. Diego Polo, 11, também contou que ouviu um caso de ofensa. Ele ficou triste quando chamaram um dos seus amigos de “escravo”. A educadora Maria Aparecida Mesquita explicou que o racismo vai além dos xingamentos. Ele está presente no modo como a história do Brasil foi construída e hoje permanece porque ainda é pouco o acesso dos negros à educação e aos cargos de poder no país. “Nas novelas e nos livros há poucos negros, que não refletem nossa realidade. Me sinto mal com isso”, desabafou Lorena Pereira, 12. Amaro Costa, 12, disse que a cor da pele ou a condição social não devem ser desculpa para dizer que alguém é melhor que o outro.

No mês da consciência negra estudantes falam de identidade e racismo RENATA FREIRE

C

om apenas 10 anos, Cleidison Coutinho, aluno de uma escola pública do Rio de Janeiro, chamou a atenção para o racismo. Cansado de ver só pessoas brancas nos livros e revistas, ele transformou a Turma da Mônica em personagens negros. “Queria ver crianças iguais a

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Questão de cor

Para a socióloga Vilma Reis, as crianças negras precisam se sentir parte das histórias que são contadas no Brasil. E isso não vai acontecer se os livros continuarem tratando apenas de crianças brancas e de olhos claros. Daniel Lima de Eloy, 12, contou que em sua escola, Mãe Hilda, do grupo afro Ilê Ayê, os alunos aprendem sobre a cultura negra. “Na semana da Mãe Preta nós homenageamos mãe Hilda, que foi uma importante sacerdotisa do candomblé, religião que tem raízes africanas”, explicou. Segundo a pedagoga Ana Célia Silva, é importante que os livros usados nas escolas mostrem o papel da cultura negra na formação do país. No Brasil existe uma lei voltada apenas para isso. Mas, na avaliação da especialista, a lei ainda não é cumprida em todos os lugares. “A maior parte dos livros só mostra como a história foi construída com o que foi relatado pelos europeus”, criticou. Para ela, a nossa identidade não é só essa: “Os livros devem servir também como um instrumento para acessar o que é verdadeiro”.

BRUNO AZIZ

mim nos desenhos”, explicou. O protesto do garoto ficou conhecido em todo o Brasil, pois a professora dele postou o desenho em uma rede social na internet. Inspirado em casos como o de Cleidison, o escritor Aroldo Macedo criou a série de gibis Luana, para

serem lidos nas escolas. A menina negra conta histórias afro-brasileiras, junto com personagens reais, como Zumbi. Este líder do Quilombo dos Palmares lutou pela liberdade. Para o escritor, o racismo só vai desaparecer se falarmos sobre isso. “Não podemos esconder o problema”, disse.

A Turma da Mônica, de Cleidison Coutinho, 10

[ consciência negra ]

[ a lei ]

No mês de novembro, no dia 20, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida por ser o dia da morte de Zumbi. Essa data serve para lembrar a resistência dos negros à escravidão, mas sobretudo a luta por direitos sociais e contra o preconceito.

A Lei 10.634, de 2003, foi criada para tornar obrigatório o ensino da história da África e dos africanos, a cultura negra e o negro na formação da sociedade brasileira. Para isso acontecer, livros e educadores devem estar preparados para abordar esses temas nas aulas.

Gibis Luana, quadrinhos de Aroldo Macedo, são lidos em escolas de Salvador


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